Travessia do bem: uma jornada de aprendizagem e conexão - Expedição de caiaque no Rio Paraná

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EXPEDIÇÃO DE CAIAQUE NO 2.º MAIOR RIO BRASILEIRO RIO PARANÁ





MARCELO FIGUEIRAL

TRAVESSIA DO BEM

U M A J O R N A DA D E A P R E N D I Z A G E M E C O N E X ÃO EXPEDIÇÃO DE CAIAQUE NO 2.º MAIOR RIO BRASILEIRO

RIO PARANÁ

Curitiba | 2023


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Nogueira, Marcelo Figueiral Travessia do bem: expedição de caiaque no 2.º maior rio brasileiro : rio Paraná / Marcelo Figueiral Nogueira. -- 1. ed. -Curitiba, PR : Farol dos Reis, 2023. ISBN: 978-85-69126-12-6 1. Comunidade ribeirinha - Paraná 2. Fauna e flora 3. Fotografia 4. Meio ambiente 5. Paisagem - Fotografias I. Título. 23-171248

CDD-779.9

Índices para catálogo sistemático: 1. Fotografias 779.9 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

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Projeto devidamente registrado na rede Blockchain


PATROCINADOR CULTURAL

REALIZAÇÃO


COORDENADOR E IDEALIZADOR DO PROJETO | Marcelo Figueiral FOTÓGRAFO DA EXPEDIÇÃO | Fabio Quireli

FOTÓGRAFO DA FAUNA | Giuliano Menegale Martinazzo

FOTÓGRAFOS PARTICIPANTES | Caroline Lopes Figueiral, Felipe Hutter, Giuliano Menegale Martinazzo, Michel Coelli e Tiago Lopes Figueiral

CAPTAÇÃO DE IMAGENS & AUDIO DOCUMENTÁRIO | Michel Coeli e Felipe Hutter BIÓLOGO | Giuliano Menegale Martinazzo

COORDENAÇÃO EDITORIAL | Núcleo de Mídia e Conhecimento TEXTO | Marcelo Figueiral

REVISÃO | Flavio Jacobsen

DIAGRAMAÇÃO | Mauricio Betti

TRADUÇÃO | Texto Ateliê de Redação

FOTOGRAFIA DE CAPA | Fabio Quireli

NEUTRALIZAÇÃO DE CARBONO DO PROJETO | Iniciativa Verde

R E A L I Z AÇ ÃO


PAT R O C Í N I O D O B E M


APOIOS DO BEM


APOIOS DO BEM



AGRADECIMENTOS Ao longo da preparação, planejamento, execução e pós-expedição, tivemos diversos amigos, parceiros e apoiadores que nos ajudaram a colocar em prática este projeto. Empresas do Bem e Pessoas do Bem. Nossos sinceros agradecimentos a Paula R. Ebeling, Natalia Caldeira Flor, Rodrigo Araujo, Mariana Olivio, Ronan Max Prochnow, Gustavo Matias Campiolo, Alef Alexandre de Sousa e Maria Eduarda Bezerra, pelo incrível apoio nos dados junto com a CTG BRASIL.

Ao Nicolas Landolt e Janaina Brasilio Carvalho e a todo o time da TILABRAS que nos apresentou as iniciativas de sustentabilidade do setor de aquacultura, assim como toda a equipe da BTJ ACQUA junto com a Manuela Bueno Junqueira Franco Pagano, Celso Torquato Junqueira Franco, Felipe Torquato Junqueira Franco, Thiago Torquato Junqueira Franco e Henrique Torquato Junqueira Franco, que nos receberam com imenso carinho, mostrando a força de uma família no setor. A Fernando Oliveira, Verônica Cardoso, Breno Cardoso e Maysa Leite Pedro Antonio, que estão à frente de uma das empresas mais arrojadas de artigos esportivos para atividades ao ar livre: a CURTLO.

A toda equipe da MITSUBISHI MOTORS DO BRASIL que nos apoiou com a parte de logística da expedição.

Não poderia deixar de agradecer àqueles que viram o projeto nascer e participaram ativamente: Alexandre Luís de Mari da Thapcom, Sarah Rezende Oliveira da SRO Marketing Digital, Raphael Primos da Ong Rio Paraná e Frederico dos Santos Gradella da UFMS, Fernando Paraíso da Iniciativa Verde. Ao casal da visão do futuro da sustentabilidade Gustavo Peixoto e Fabi Freire da Pangeia e, claro, ao Daniel Carocha pela conexão. A Fernando Ferreira do Senai Biomassa/MS, a Erik Caldas Xavier e o apoio de toda a comunidade da Rota dos Pioneiros, a Norton e Felipe da Nupelia. A Daniela C. Aquino Chiari e Stefano Ricardo G. Chiari do Rancho River. Ao Júlio Fiorin e ao João Brites pelas dicas e conexões. À bióloga Silvana Lima dos Santos da GEBIO e as pontes com a CORIPA. A Cezar Berger pela contribuição no projeto. A toda equipe da Alta Montanha de Curitiba, que nos orientou na escolha dos melhores equipamentos. Aos amigos da academia Carpe Diem. A Christian Fuchs da Eclipse Caiaques. Ao time da revista Go Outside pela linda matéria realizada e a Cris Alessi pela coragem de nos acompanhar. Não poderia deixar de citar a Carol, Kauê e Tiago, que fazem desses sonhos o meu núcleo de apoio para tais realizações. A todos, obrigado pelo apoio e pela honra de tê-los ao meu lado.

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DEVEMOS

CONSTRUIR REPRESAS DE

CORAGEM

PARA CONTER A CORRENTEZA

DO MEDO. Martin Luther King

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TRAVESSIA DO BEM: UMA EXPEDIÇÃO DE CAIAQUE PELO 2.º MAIOR RIO BRASILEIRO – RIO PARANÁ Para aqueles que lembram, os anos de 2019, 2020 e ainda boa parte de 2021, foram anos de escuridão para humanidade. Com o passar das semanas e dos meses e o isolamento cada vez maior da população, a sensação de desesperança, de “fim do mundo”, de que o Mal venceria o Bem, era cada vez mais latente. Além de toda a tragédia da perda de milhões de vidas em todo mundo, a sensação de modo geral era de que estávamos entrando em nova era; a era do medo, do distanciamento e do isolamento.

Essa sensação me impactava muito forte, visto que meu jeito de ser é o de uma pessoa cinestésica, que gosta de socializar e estar rodeado por pessoas, conhecendo novos ambientes, pois fazem parte da minha dinâmica ser social, visto que a veia empreendedora é bem evidente no meu dia a dia. Essa desesperança me afligia. E via isso refletido no núcleo mais próximo: minha parceira de vida e filhos.

Em um dia de insônia, assistindo a um documentário sobre uma expedição pelo interior do rio Okavango (nasce em Angola, percorre 1.400 quilômetros e derrama suas águas no deserto mais seco da África, o Kalahari em Botsuana) me veio uma frase do legendário Martin Luther King; “Devemos construir represas de coragem para conter a correnteza do medo.”

Com essa frase em mente, foi nascendo um sentimento de que precisava fazer algum movimento para despertar a coragem e a esperança nas pessoas ao meu redor, mostrando a visão de que o BEM tinha muito mais força que o MAL e que inciativas focadas neste propósito poderiam nos levar novamente a despertar o movimento nas pessoas, mesmo que fosse apenas os que estavam ao meu entorno (pois acredito que pequenos movimentos podem se tornar grandes, se propagado em ondas de boas ações e bons propósitos).

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2019 e 2020 o ano do COVID, da Pandemia e do Isolamento.


O NASCIMENTO DO PROJETO “Devemos construir represas de coragem para conter a correnteza do medo”. Com essa frase em mente e a ideia de que o projeto seria de uma expedição de caiaque, veio a pergunta básica: em qual rio? O maior (e claro, o mais desafiador) é o rio Amazonas. Mas organizar uma travessia pelo maior rio é complexo e demanda muito, mas MUITO tempo de expedição. A premissa precisava ser algo que pudesse durar no máximo 30 dias e fosse em alguma região que poderia gerar um impacto positivo. Por que não remar então o segundo maior rio brasileiro? Quando veio essa ideia, não imaginava que o segundo maior rio brasileiro fosse o rio Paraná. Imaginava alguns dos afluentes do Amazonas ou alguns dos belíssimos rios da região Norte e Nordeste, tipo Tapajós, São Francisco ou Solimões. E o mais incrível, além de ser o segundo maior rio brasileiro, a bacia do Paraná impacta diretamente a vida de mais de 60 milhões de brasileiros, abrange 10% do território e possui as quatro principais usinas hidrelétricas do Brasil, sendo uma delas a Itaipu. Seu potencial hidrelétrico representa quase 50% do potencial energético instalado no país. E nas pesquisas realizadas, ninguém havia feito uma expedição remando da sua nascente até a divisa do Brasil, com Argentina e Paraguai, em Foz do Iguaçu. Definido o rio, o nome TRAVESSIA DO BEM veio naturalmente como batismo do projeto.

A data escolhida de saída também foi definida, 22 de setembro de 2021. Dia da Primavera. E o porquê era simples: a primavera é o renascer da vida, época do florescer, da flora e fauna desabrocharem para uma nova etapa de vida. TRAVESSIA DO BEM

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SAÍDA

O PROJETO Ao longo do planejamento, o projeto foi se definindo e o mapeamento, locais e quantidade de pontos pelos quais passaríamos definiu o perfil do projeto. Teríamos o desafio de passar por:

28 CIDADES 24 PORTOS 14 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 04 REPRESAS

CHEGADA FOZ DO IGUAÇU/PR

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APARECIDA DO TABOADO/MS

E para realizar 830km de remada de caiaque, teríamos que realizar 21 etapas com média de 35km remados por dia, o que poderia representar entre seis horas em boas condições, e até 10 horas de remada por dia. A complexidade de organizar, planejar e — claro — executar, só aumentava dia a dia.


PERFIL DA EQUIPE A equipe foi composta por doze pessoas, sendo quatro remadores, dois film makers, quatro no apoio e dois capitães. E o interessante é que dos doze, apenas quatro se conheciam. Para os demais, era a primeira vez que estariam juntos. Isso trouxe um desafio e uma riqueza para o projeto, pois cada um tinha um tipo de vivência e experiência, e claro, o seu “jeito de ser”. Como toda expedição, meu papel como idealizador e coordenador era configurar no projeto a função de cada um em dois aspectos: na participação do dia a dia da expedição e na contribuição para o projeto. E ao conhecer cada um, ao longo da jornada, pude observar as nuances de cada elemento como ser humano único e singular. Assim como, também, me observaram, me questionaram e me ensinaram a entender e evoluir como ser humano. Tenho apenas uma frase curta para falar da equipe que me acompanhou neste lindo desafio: Foi uma honra ter cada um de vocês ao longo de 30 dias de expedição.

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EMADORE

Marcelo Figueiral

Função: Idealizador e Coordenador do Projeto. Responsável pelo planejamento de navegação da equipe ao longo da expedição.

Quem é: Empresário, conselheiro e mentor na área de inovação, tecnologia e ecossistemas inovativos. Atua no mercado corporativo liderando projetos estratégicos nas áreas de gestão e negócios há mais de 20 anos. Apaixonado por esportes de aventura, traz em seu DNA, a motivação para criar e executar projetos de expedição que possam impactar positivamente ações para o desenvolvimento do empreendedorismo ecossustentável. Singularidades: Apaixonado pela simplicidade da vida, empreendedor desde sempre!

Nos momentos em que precisa recarregar sua energia e sair da correria do dia a dia (suas férias), continua empreendendo; organiza expedições para poder se reconectar com aquilo que lhe é precioso, o contato com a natureza. Com seu olhar de empreendedor e sua paixão pelo caiaque, consegue conciliar as duas visões e transformar sua paixão sempre em um grande projeto. Com seu olhar crítico e virginiano, foi parte fundamental para a execução do planejamento e navegação deste projeto. (by: Carol Lopes Figueiral) 16

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Giuliano M. Martinazzo

Função: Biólogo, responsável pelos avistamentos de vida selvagem.

Quem é: Bacharel em Ciências Biológicas, atua principalmente nas áreas de zoologia e ecologia. Possui experiência em trabalhos de campo além de ser um entusiasta de aventuras, natureza e fotografia. Atualmente se dedica a consultoria dentro do âmbito do licenciamento ambiental.

Singularidades: Giuliano foi uma das figuras emblemáticas na expedição. Nunca tinha remado e muito menos participado de uma expedição de longo prazo. Tem uma força mental e física acima do comum. E seu olhar para buscar fauna é um olhar de águia. Remou no caiaque duplo justamente para ter a liberdade de poder fazer além do registro fotográfico, a contagem de avistamentos de vida selvagem. De todos, era o que mais fazia caricaturas de si mesmo. Não havia como não rir estando ao seu lado. Fazia caretas, vozes hilárias. Todo dia tinha uma história para contar das vivências de mato, dos projetos de resgate de fauna que participava. Indo das histórias tristes às com final feliz, passando sempre pelas engraçadas. Como falamos no Sul do Brasil: um guri sangue bom, e total do bem.

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Função: Fotógrafo Outdoor.

EMADORE

Fábio Quireli

Quem é: Fotógrafo outdoor, montanhista, canoísta, bacharel em história, atuou por 20 anos como empresário no setor metalúrgico, atualmente vive em um motorhome, em constante busca e mutação.

Singularidades: Fabio ou Fabão é um cara que na minha perspectiva lembra um monge oriental. Mantém seu semblante sempre calmo, quase ZEN. Passou pela carreira empresarial e depois largou tudo para seguir sua paixão, a fotografia. Consegue aliar a visão do empreendedorismo com o projeto de fotografar, trazendo com isso a objetividade e a disciplina de registrar tudo que a beleza natural lhe apresenta.

Tem uma remada elegante, inclusive era o único com um remo chamado groenlandês que permite uma remada silenciosa e extremamente eficiente. É um ser humano que busca constante evolução. Está sempre avaliando de forma muito sábia os contextos de cada um e contribuindo com suas falas para boas reflexões, sem deixar ninguém desconfortável. Nos momentos mais tensos era uma voz apaziguadora, trazendo pontos de vista que contribuíam para todos terem uma reflexão de forma positiva. Um verdadeiro monge. 18

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Pedro Botafogo

Função: Remador e Apoio à produção audiovisual.

Quem é: Consultor ambiental, esportista amador e viajante nas horas vagas. Guia de caiaque pela ACA (American Canoe Association), já realizou três expedições de caiaque, sendo duas solo.

Singularidades: Com sua habilidade de remada de outras expedições de caiaque trouxe para o projeto, uma maturidade na execução. Sua experiência ajudou a equipe em momentos específicos.

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Função: Coordenador de Navegação Fluvial/Capitão do Veleiro Black Fisk – 1ª Etapa.

VELEIR

Marcos Chiquetelli Neto | Chicão Pirata

Quem é: Doutor em Zootecnia e Bem-estar Animal, Docente e Pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Além de instrutor Náutico, credenciado pela Marinha do Brasil, Comodoro dos Grandes Lagos pela ABVC é também Instrutor de Vela na Piratas da Ilha e ainda Músico, Compositor e um apreciador das coisas boas da vida. Singularidades: Chicão, como chamávamos é uma figura. Mas daquele tipo de pessoa lendária que ficará na lembrança de todos até o final dos tempos. Tem um coração gigante, líder nato e um amor para ensinar e passar conhecimento acima da média. Mas nas horas críticas (como as quatro tempestades que enfrentamos) assume o controle do perigo com a sabedoria de quem sabe que a natureza é para ser respeitada e venerada. Foi peça fundamental nas orientações de navegação, pontos de parada e na segurança ao longo de todo o trajeto.

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Rodrigo Radominski Miguel | Boss Função: Capitão do Veleiro Black Fisk – 2ª Etapa.

Quem é: Empresário, piloto de parapente, mergulhador com uma longa trajetória de viagens, um aventureiro da vida.

Singularidades: Boss é o tipo de ser humano que nasceu em uma família de empreendedores e empresários, mas cujo coração bate para além do CNPJ. Sua curiosidade pela vida, pelas pessoas, o levou a trabalhar em locais remotos com pouca infraestrutura, lhe ensinando que a melhor forma de conectar é pela escuta e a melhor forma de liderar é pelo exemplo. Ao longo da sua navegação como nosso capitão, mesmo nos momentos mais críticos de navegação, tempestade e das divergências (que toda expedição tem) era o pilar da pacificação, do positivismo e de buscar sempre a decisão coletiva. Um gentleman no trato com qualquer um, seja conhecido ou desconhecido.

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Função: Saúde Física e Mental da Equipe.

VELEIR

Carol Lopes Figueiral

Quem é: Terapeuta Ocupacional com mais de 10 anos de experiência na reabilitação neurológica, física, mental, atuando principalmente com equipes multidisciplinares da área da saúde.

Singularidades: Carol, além de mãe, companheira e sócia da expedição, é uma mulher empoderada em suas visões e valores. Sendo a única mulher a participar com onze homens numa expedição onde se passa frio, calor, restrição alimentar, foi o elo de apoio e doação de atenção e cuidados a todos na expedição. Seja na hora das dores musculares dos remadores após remar mais de dez horas por dia, seja nos momentos de cansaço, nos quais com toda sua empatia, preparava junto com Chicão e o Boss um jantar diferenciado, mesmo estando esgotada após oito horas de navegação. Nunca tinha entrado em um veleiro, muito menos navegado. Aprendeu sobre hidrovia, como aportar e principalmente como se organizar em um espaço de cabine com 1,65m de altura e menos de 3m de comprimento. Trouxe poesia, alegria e calmaria a todos da equipe ao longo dos 30 dias de expedição.

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Michel Coelli

Função: Filmagem e direção fotográfica da expedição.

Quem é: Diretor, documentarista e fotógrafo. Formado pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro, é um dos diretores e apresentadores das séries “Que Mundo é Esse?”, da GloboNews e “Não Conta Lá Casa”, do Multishow. Já viajou o mundo documentando importantes eventos como as guerras do Iraque e Síria, a crise dos refugiados na Europa e questões de desastres ambientais, como o acidente de Chernobyl e os incêndios do Pantanal.

Singularidades: Michel é um gigante, literalmente. Com quase dois metros, se destaca facilmente na multidão e no veleiro era um desafio se movimentar. Mas como dizem: “mares calmos não formam bons marinheiros”. Em pouco menos de uma semana já estava “vestindo o barco”. Sua mente processa informações de forma muito rápida e isso faz buscar perspectivas e nuances de fotografia e filmagem de forma diferenciada. Mesmo em uma paisagem que aparentemente é apenas de água e margens de mata, conseguia tirar perspectivas poéticas. O mato e a natureza batem forte dentro deste ser humano e seu conhecimento de várias aventuras realizadas pelo mundo lhe trouxe a sabedoria de ser muito prático para qualquer situação, sempre buscando a simplicidade na resolução dos problemas e nas ideias em diversos contextos.

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Função: Filmagem – 2ª Etapa.

VELEIR

Felipe Hutter | Hunter

Quem é: Jornalista e film maker, atua há mais de 20 anos no mercado audiovisual como diretor, diretor de fotografia, montador e roteirista, em produções nacionais e internacionais para TV e streaming, além de obras publicitárias para grandes marcas mundiais.

Singularidades: Foi batizado carinhosamente pela equipe de Hunter. É um ser humano diferenciado, tem a fala calma com uma comunicação sempre empática. Sua playlist de músicas foi uma das mais escutadas na expedição. Como todos, sua energia é do bem de alma branca. Além de film maker, seu talento com o drone para as cenas aéreas eram diferenciadas, assim como suas fotografias, que fazem parte deste livro. Nunca tinha encarado uma expedição de longo prazo e surpreendeu a todos por suas habilidades de ser sempre o primeiro a montar a barraca e o primeiro a desmontar. Conviveu com todos por mais de quinze dias e deixou saudades quando partiu, pelos bate-papos de assuntos aleatórios, aos quais sempre tinha uma contribuição. Sua visão para fotografia e filmagem tem a singularidade de poesia e a perspectiva da boa estética.

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Tiago Lopes Figueiral | De Menor Função: Apoio para qualquer coisa.

Quem é: Estudante, amante de games, um curioso pela vida, além — é claro — de ajudante e estagiário de imediato. Singularidades: No primeiro dia da expedição, ganhou o apelido “De Menor”. Com seus dezesseis anos, ia ser a sua primeira expedição conosco. Foi uma oportunidade que visualizei de levá-lo para sentir um pouco da vida fora dos games, das aulas virtuais de um mundo pandêmico. Surpreendeu a todos com sua agilidade e praticidade de carregar tudo que a equipe da expedição pedia: faca, tesoura, fita ou qualquer outra coisa. Tudo estava sempre à mão ali na sua bolsa preta que levava a tiracolo, ou sabia exatamente onde estava guardado no veleiro. Chicão Pirata, o Capitão, o foi treinando como imediato. Tudo do barco, cabos, equipamentos, arrumação ou até mesmo na hora de aportar, estava lá o De Menor à frente agilizando. Conquistou o coração e admiração de todos por ser tão novo, mas sempre disposto a ajudar e aprender. Como quase todos, aprendeu inclusive a tirar fotos e até contribuiu com algumas imagens para o livro.

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TERR

Antonello Bonnacorssi | Anto Função: Logística por terra.

Quem é: Empresário, é especialista em produtos com baixo impacto ambiental para área de construção civil e outros mercados.

Singularidades: Antonello é aquele ser humano que mesmo em qualquer situação se mantém com o mesmo jeito singular. Ninguém jamais vai vê-lo de mau humor ou com um viés pessimista em relação a qualquer situação. Como todo bom descendente de italiano, tem a praticidade fincada em sua personalidade, com seu jeito sério e brincalhão de ser. Nos acompanhou até a metade da expedição provendo todo o apoio com os equipamentos e mantimentos que ficavam de backup da expedição. Um guardião do bem.

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Gabriel Sobottka Spini | Gabi

Função: Logística por terra – equipe veleiro.

Quem é: Formado em Gastronomia pelo Senac de Campos do Jordão, empresário e marinheiro de bordo formado pela Marinha do Brasil. Nas horas vagas marinheiro, navegador e apoio a expedições pelo rio Paraná.

Singularidades: Gabi foi uma daquelas pessoas que é o “agilizado do rolê”! Impressionante sua capacidade de estar 100% disponível em qualquer situação. Ele faz parte da equipe do Capitão Chicão, os Piratas da Ilha. Conhece toda a região, e claro todos os que ajudam nesse tipo de jornada. As mudanças de rota, as mudanças de pontos de parada, ele sempre dava as dicas de quem procurar, e como resolver. Fazia como um bom maestro a coordenação entre equipe de terra, equipe do veleiro e equipe de navegadores. Um ser humano que topa qualquer desafio para quem tem alma e coração do bem.

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OS OBJETIVOS E OS IMPACTOS Como a linha do projeto era para despertar a coragem e o bem, o propósito e os objetivos não poderiam ser diferentes. Registrar em Fotos e Vídeos as boas ações de pessoas, comunidades e empresas que fazem a diferença na preservação ambiental da região, como estavam as situações das reservas e unidades de conservação ao longo do rio, e por último um dos objetivos mais legais que conseguimos incluir: fazer uma contagem dos avistamentos de fauna ao longo do trajeto. Um projeto com um propósito do bem.

Mas apenas objetivos não fechavam os anseios de fazer algo a mais. Com isso, nasceu a ideia de levarmos alguns impactos para a região, pautada em duas premissas: ambiental e econômico.

IMPACTO AMBIENTAL Em parceria com a ONG RIO PARANÁ (formada por estudantes, aposentados, ribeirinhos, filhos de pescadores, biólogos, jornalistas, advogados, fotógrafos e ambientalistas) e a UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul) fechamos uma parceria pata realizar a coleta de amostras de água da nascente até Foz do Iguaçu, algo inédito para as pesquisas e estudos da UFMS.

Foram coletadas mais de 60 amostras no trajeto, com objetivo de levantar a qualidade da água ao longo do rio Paraná. E a conclusão foi a de que existem trechos do rio em que há uma alta concentração de sedimentos inorgânicos, principalmente nos trechos onde a mata ciliar tem uma faixa muito pequena ou quase inexistente de proteção do rio. O trecho mais aberto — ou seja, com baixa densidade de mata ciliar — foi entre as cidades de Panorama/SP e Primavera/SP. Trecho de difícil remada devido a entrada de ventos fortes, justamente por não contar com esse tipo de proteção em suas margens.

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IMPACTO ECONÔMICO No mapeamento dos possíveis impactos econômicos, destacamos três pequenos portos fluviais os quais vivem comunidades de pescadores, e que possuem excelente potencial para o desenvolvimento do turismo sustentável. Porto Floresta para baixo de Porto Rico/PR, Porto Brasílio e Porto Natal em Querência do Norte/PR. São três regiões com fauna e flora bem preservadas e diversas ilhas, as quais geram excelentes oportunidades para turismo sustentável.

E quem está puxando o desenvolvimento na região é uma iniciativa do pessoal da Rota dos Pioneiros que tem um projeto da maior trilha aquática do mundo, com o ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e o projeto brasileiro Rede de Trilhas (http://www.redetrilhas.org.br).

A Rota dos Pioneiros é uma trilha aquática de longo curso com quase 400 quilômetros, criada com o objetivo de conectar as unidades de conservação do rio Paraná e de seus afluentes. É dividida em três regiões: rio Paranapanema, conectando o Parque Estadual do Morro do Diabo e a Estação Ecológica do Caiuá; rio Paraná conectando a Estação Ecológica do Caiuá ao Parque Nacional de Ilha Grande, passando pelo Parque Estadual das Várzeas do rio Ivinhema — região que está sendo implantada nesta primeira etapa — e, finalmente, o lago de Itaipu, conectando o Parque Nacional de Ilha Grande ao Parque Nacional do Iguaçu. Na foto, com um dos membros e promotor da Rota dos Pioneiros, Anderson Pachamama.

ROTA DOS PIONEIROS

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Outro impacto mapeado foi em Três Lagoas, onde nos conectamos com uma das figuras mais singulares da expedição, o Fernando A. Ferreira. Um ser humano pra lá de inovador e curioso. Fernando é pesquisador do Instituto SENAI de Inovação em Biomassa de Três Lagoas, e desenvolveu um projeto que resolve um dos grandes problemas de impactos ambientais em rios que são represados: a proliferação de plantas aquáticas, as chamadas algas macrófitas. E o que ele conseguiu com sua pesquisa é algo surpreendente. Transformar esse excesso de matéria vegetal em biomassa, conseguindo produzir bióleo (biocombustível), bioherbicidas e bionutrientes para aplicação agrícola e até base para fabricação de cervejas.

E todo seu projeto envolve mão de obra local de ribeirinhos e comunidades que vivem do rio, dando uma excelente perspectiva de geração de renda de baixo impacto ambiental e solucionando um problema econômico para as regiões de barragem. Sua adesão à expedição, e obviamente a visibilidade do seu projeto, poderá com a divulgação deste livro, assim como o documentário, elevar sua pesquisa a novos patamares.

ISI BIOMASSA

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PROJETO COM NEUTRALIZAÇÃO DE CARBONO Atividades humanas como produtos, serviços, construções, eventos e até uma expedição de caiaque, como a TRAVESSIA DO BEM, emitem direta ou indiretamente uma quantidade de gases de efeito estufa (GEE) que pode agravar o aquecimento global. O Programa Carbon Free foi desenvolvido pela Iniciativa Verde para que as emissões de GEE decorrentes de qualquer atividade humana possam ser compensadas ou neutralizadas por meio de recomposição florestal. Essa neutralização é direcionada via recomposição de mata atlântica, com plantio de árvores nativas de um dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo gerando assim, a compensação ou a neutralização dos GEE.

O projeto da Travessia do Bem teve sua pegada de carbono neutralizada via parceria com a Iniciativa Verde e seu Programa Carbon Free. Nossa Pegada: 25,19 ton de emissão de CO² equivalente.

Compensação: Plantio de 642m² com um total 107 árvores (um hectare de floresta no bioma mata atlântica sequestra na média 320 toneladas de carbono da atmosfera).

Certificado de Compensação Carbon Free 32

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GRANDES NÚMEROS A Expedição Travessia do Bem rompeu algumas barreiras de ser a primeira equipe a realizar a remo a descida do rio Paraná desde a nascente até a tríplice fronteira — Brasil, Argentina e Paraguai. Mesmo tendo seus 4.880 km entre a nascente e a foz, o trajeto que ele corre pelo território brasileiro é exatamente 830km. E após os 30 dias de expedição, o balanço de resultados foi o seguinte:

115 AVISTAMENTOS DE FAUNA REGISTRADOS 830 KM REMADOS 30 DIAS DE PROJETO 28 DIAS DE RIO 25 DIAS DE ACAMPAMENTO 23 DIAS DE REMADA 22 LOCALIDADES VISITADAS 08 PORTOS FLUVIAIS APORTADOS 04 TEMPESTADES 04 REPRESAS ATRAVESSADAS 02 ECLUSAS

e 07 divergências de decisões (porque nem tudo são flores e nem tudo sai como programado).

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INÍCIO DA JORNADA Onde tudo começa

Após mais de seis meses de preparação e planejamento, estávamos entrando na cidade onde oficialmente nasce o rio Paraná: Aparecida do Taboado no Mato Grosso do Sul. A região faz divisa com estado de São Paulo e Minas Gerais. Ali iniciaria a jornada de remar os 830km do Rio Paraná até Foz do Iguaçu. O início da primavera estava chegando, e com ela nossa partida em direção a Foz do Iguaçu.

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Essa época do ano (setembro), de mudança de estação entre inverno e primavera, faz com que a meteorologia tenha uma tendência a mudar rapidamente, com grandes flutuações de pressão. Ou seja, alteração muito rápida entre tempo bom e tempo ruim. As previsões para saída não eram muito favoráveis. Mesmo assim, no dia da saída, abriu uma janela de tempo que nos permitiu iniciar a expedição dentro do programado.

No dia 22 de setembro de 2021 estávamos finalizando as arrumações do caiaque para iniciar a expedição Travessia do Bem com histórias e experiências que mudariam a percepção de todos.

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Daqui em diante, o que será lido e visto foi dividido em duas partes: na primeira, as fotografias do rio, suas paisagens, pessoas e fauna. E na segunda, mais da expedição com a queimada que pegamos, as tempestades que passamos, os acampamentos que realizamos e — claro — as imagens das remadas em diversos cenários. Espero que goste e assim como todos da equipe, possa ser transportado para uma visão poética, inspiradora e de impacto sobre um dos rios mais relevantes do Brasil, mas até então menos divulgado. Seja bem-vindo à expedição Travessia do Bem.

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O RIO PARANÁ O rio Paraná faz parte da história dos povos indígenas, exploradores espanhóis, bandeirantes portugueses e jesuítas. Foi palco de batalhas, rota de acesso, perseguição e de grandes escapadas. Esta região pertenceu à coroa espanhola até meados do século 17. Em 1556, junto à foz do rio Piquiri no Paraná, foi fundada Ciudad Real del Guairá, uma das primeiras cidades coloniais espanholas que possuía na exportação da erva-mate a principal atividade econômica. Para evitar a destruição das cidades no Guairá e diminuir os conflitos, em 1588 foram enviados padres jesuítas pelo império espanhol, que se deslocavam pelo rio Paraná e afluentes na evangelização, e a partir de 1610 criaram missões fixas, como as primeiras fundações de San Ignacio Mini e Loreto, nas margens do Paranapanema. O Guairá chegou a contar com 18 missões jesuíticas, abrigando cerca de 200 mil indígenas dos povos guaranis e jês. Uma das maiores epopeias fluviais foi o êxodo guairenho, em 1631, quando cerca de 12 mil indígenas e 700 embarcações viajaram, rio abaixo, pelo Paranapanema e, em seguida, pelo Paraná, fugindo de um grande ataque de bandeirantes. No século XVIII, os portugueses ergueram o Posto Militar de São José da Pedra Furada do Piquiri (17721773), junto às ruínas de Ciudad Real del Guairá, abandonada em 1632, com o avanço dos limites geográficos de Portugal que configuraram o Brasil.

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O rio Paraná (que significa “como o mar” ou “parecido com o mar”, em Tupi) é o principal formador da bacia do Prata. Quando considerado em sua extensão total até a foz do rio da Prata, na cidade de Buenos Aires, é o oitavo maior rio do mundo em extensão (4.300 km) e o maior da América do Sul depois do Amazonas. É, ainda, o décimo maior do mundo em vazão, drenando boa parte do centro-sul da América do Sul, incluindo parte de cinco estados do Brasil. Sua bacia hidrográfica abrange mais de 10% de todo o território brasileiro e impacta a vida de mais de 60 milhões de brasileiros. O rio Paraná constitui uma das mais importantes hidrovias do Brasil, que é a Tietê-Paraná. Essa via integra duas das maiores regiões produtoras de grãos do país, que são o Centro-Oeste e o Sul, e auxilia no escoamento de mercadorias para outros países do Mercosul, além de realizar o transporte de passageiros. Fonte: Erick Caldas Xavier e Cláudia Inês Parellada Movimento Rota dos pioneiros.

DADOS RIO PARANÁ Comprimento do rio Paraná: 4.880 km

Trecho em território brasileiro: 830 km

Nascente do rio Paraná: confluência entre os rios Paranaíba e Grande. Principais afluentes do rio Paraná: rio Tietê, rio Paranapanema, rio Iguaçu, rio Pardo e rio Verde. Foz do rio Paraná: rio da Prata.

Onde o rio Paraná deságua: estuário do rio da Prata, na Argentina. Caudal médio: 16.000 m³/s.

Caudal máximo: 17.290 m³/s.

Área da bacia: 1,5 milhão km² (820.000 km² em território brasileiro). 40

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AS PAISAGENS Podem pensar que as paisagens em rios represados não têm muito atrativo ou são meio que “padronizadas”.

Mas ao longo da remada, encontramos nos recantos e até mesmo nas margens, paisagens singulares. De modo geral os locais estão bem preservados tendo somente um trecho de aproximadamente 170km (20% do trajeto) com pouco ou nenhuma mata ciliar, o que deixava claro o poder dos ventos e do rio na erosão e exposição da terra, tendo em alguns momentos áreas com o mínimo ou quase nenhuma cobertura vegetal. Até nas áreas onde o impacto do represamento criou os chamados “cemitérios de árvores”, a natureza com toda sua força, acha um caminho para sobreviver, criando uma simbiose entre o impacto e a resistência.

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PESSOAS Onde há água, há vida. E onde há vida, geralmente encontramos pessoas. O rio Paraná passa por mais de 28 cidades, algumas mais outras menos urbanizadas. Ao descermos o rio com os caiaques, sempre avistávamos pessoas no rio ou em suas margens acenando. Em alguns momentos conseguíamos interagir, e em outras apenas devolver o aceno. Existem diversas praias recreativas ao longo do trajeto e em todas, quando conversava com os moradores da região, todos tinham um imenso respeito e amor pelo rio que eles chamam carinhosamente de “Paranazão”. Mas a beleza de quem vive próximo ao rio e o utiliza, seja para o sustento ou apenas para recreação, é marcada pelos sorrisos e olhares de quem sabe o privilégio de estar conectado com toda a vida que há no entorno.

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FAUNA Quando criamos o projeto da Travessia do Bem, um dos propósitos que pulsava muito forte dentro da jornada era poder fazer um breve inventário dos avistamentos de vida selvagem. E com qual objetivo? Perceber ao longo da descida do rio que tipo de vida encontraríamos, sendo que a região conta com quatro grandes usinas hidrelétricas. Para esse desafio, não poderia deixar de trazer um profissional especializado em vida selvagem, e o BEM me trouxe o Giuliano. Um biólogo com larga experiência em resgate e monitoramento de fauna silvestre.

O desafio era grande, afinal nunca tinha participado de uma expedição de caiaque. Mas tinha uma paixão e uma devoção por sua missão (a preservação ambiental) que o objetivo do projeto o motivou a aceitar remar e documentar os avistamentos.

Athene cunicularia (coruja-buraqueira)

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Anhinga anhinga (biguatinga)

Anhima cornuta (anhuma) 86

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Ara ararauna (arara-canindé)


Alouatta caraya (bugio-preto fêmea com filhote)

Alouatta caraya (bugio-preto fêmea com filhote)

Alouatta caraya (bugio-preto macho) TRAVESSIA DO BEM

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Alipiopsitta xanthops (papagaio-galego)

Ardea alba (garça-branca-grande) 88

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Ara ararauna (arara-canindé)


Anhinga anhinga (biguatinga)

Aramus guarauna (carão)

Ardea cocoi (garça-moura) TRAVESSIA DO BEM

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Nannopterum brasilianum (biguá) e Egretta thula (garça-branca-pequena)

Athene cunicularia (coruja-buraqueira) 90

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Bothrops sp. (jararaca encontrada morta)


Busarellus nigricolis (gavião-belo)

Cacicus haemorrhous (guacho)

Cacicus haemorrhous (guacho) TRAVESSIA DO BEM

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Empidonomus varius (peitica)

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Egretta thula (garça-branca-pequena) TRAVESSIA DO BEM

Glaucidium brasilianum (caburé)


Dendrocygna autumnalis (marreca-cabocla)

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Choroceryle americana (martim-pescador-pequeno)

Cairina moschata (pato-do-mato) 94

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Choroceryle sp. (martim-pescador)


Coragyps atratus (urubu-de-cabeça-preta)

Crax fasciolata (mutum-de-penacho)

Cyanocorax chrysops (gralha-picaça) TRAVESSIA DO BEM

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Jacana jacana (jaçanã-comum)

Herpailurus yagouaroundi (gato-mourisco) 96

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Lontra longicaudis (lonta-neotropical)


Dryocopus lineatus (pica-pau-de-banda-branca)

Himantopus melanurus (pernilongo-de-costas-brancas)

Guira guira (anu-branco) TRAVESSIA DO BEM

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Myrmecophaga tridactyla (tamanduá-bandeira)

Icterus croconotus (joão-pinto) 98

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Jacana jacana (jaçanã)


Nycticorax nycticorax (socó-dominhoco jovem)

Parabuteo unicinctus (gavião-asa-de-telha)

Phaetusa simplex (trinta-reis-grande) TRAVESSIA DO BEM

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Nycticorax nycticorax (socó-dorminhoco jovem)

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Nannopterum brasilianum (biguá) TRAVESSIA DO BEM

Nyctibius griseus (urutau)


Pandion haliaetus (águia-pescadora)

Ramphastos toco (tucano-toco)

Pteroglossus castanotis (araçari-castanho) TRAVESSIA DO BEM

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Rostrhamus sociabilis (gavião-caramujeiro)

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Psittacara leucophtalmus (periquitão-maracanã)

Phylohydor lictor (bentevizinho-do-brejo) 104

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Potamotrygon sp. (arraia)


Sapajus nigritus (macaco-prego)

Rhea americana (ema)

Paroaria capitata (cavalaria) Passer domesticus (pardal) TRAVESSIA DO BEM

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Thraupis sayaca (sanhaço-cinzento)

Tachycineta sp. (andorinha-do-rio) 106

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Syrigma sibilatrix (maria-faceira)


Vanellus chilensis (quero-quero)

Zenaida auriculata (avoante)

Tigrisoma lineatum (socó-boi) TRAVESSIA DO BEM

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Tropidurus torquatus (calango)


RESULTADOS Ao longo da travessia foram registradas 115 espécies da fauna silvestre. E aqui cabem algumas observações: o projeto teve como principal objetivo, nestes levantamentos, documentar de forma simples (e não metodológica) a fauna da região ao longo da descida de caiaque pelo rio Paraná, da sua nascente em Aparecida do Taboado/MS até Foz do Iguaçu/PR, percorrendo 830km de navegação fluvial. O processo de levantamento foi realizado ao longo da remada por avistamentos, sendo registrada, quando possível, por meio de fotografias e/ou por meio de marcação em diário da expedição.

Callithrix penicillata (sagui-de-tufos-pretos)

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A QUEIMADA Ao entramos na água logo após a Barragem de Jupiá em Três Lagoas/MS, já tínhamos visto ao longe uma fumaça escura subindo no horizonte. Iríamos passar por alguma queimada. À época que estávamos navegando — primavera de 2021 — o rio Paraná estava passando por uma das maiores secas dos últimos 100 anos. A região de modo geral estava bem seca, e qualquer fagulha ou raio, poderia catalisar um incêndio de grandes proporções na região.

A poucos quilômetros da cidade, pelo rio, existe um local bastante frequentado pelo pessoal para lazer e pesca esportiva que é a Ilha Comprida. São mais de 30km² e de ponta a ponta em torno de 12km de distância. Pela média levaríamos em torno de umas três horas para atravessá-la. Mas não foi isso o que aconteceu.

Foram mais de seis horas de remada. E o motivo foi simples. Estávamos vendo boa parte da ilha pegar fogo e vendo muito bicho fugindo. O que mais nos impressionou (e está no filme documentário da expedição) foi uma família de macacos bugio (Alouatta caraya) fugindo com seus filhotes por cima das árvores e sabíamos que não teriam muitas chances, visto que sendo uma ilha, a possibilidade de escaparem seria mínima, mesmo sabendo que macacos bugio sabem nadar, a chance de sobrevivência era muito baixa. Se não morressem pelo fogo, morreriam de fome, devido aos seus recursos básicos de alimentação terem sido queimados.

Paramos na ilha, e a devastação do local era impressionante. Tudo queimado, acinzentado e um silêncio incomodador. A sensação em todos era de tristeza, desolação e impotência. Era um paradigma vermos uma Ilha cercada de água, sendo consumida pelo fogo. Porém, encontramos uma única árvore com sua copa de folhas verdes, que resistiu ao fogo. Uma ponta de esperança e de poesia num cenário apocalíptico. A tarde foi chegando e com o sol baixando, conseguíamos ver as chamas por cima das copas das árvores e das palmeiras. Labaredas com mais de 15 metros. E o crepitar do fogo reverberou por toda a noite.

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AS TEMPESTADES Durante a jornada, vivenciamos quatro tempestades, sendo que uma delas foi um ciclone bomba que atingiu a região com rajadas de vento mais de 100km/h, levantando uma areia vermelha e transformando o dia em noite. Na água, nós remadores sentimos a força dos ventos, das ondas e o poder da natureza. Pela dimensão do rio Paraná, tempestades fortes com rajadas de vento criam ondas que podem chegar a mais de dois metros de altura. Como são ondas picadas e constantes, são capazes de virar embarcações, causando naufrágios e mortes. Neste dia específico, do ciclone bomba, quatro pessoas que estavam no rio faleceram. Devido às condições de tempo, demoramos cinco dias para atravessar um trecho que, em condições favoráveis, seria feito em três.

Pegamos outras três tempestades, uma em seguida e outras duas ao longo da travessia. Dias de vento forte, chuva, frio e muito esforço. Um bom teste de força mental e física para todos da equipe.

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REMADA Foram 23 dias de remada ao longo dos 830km. Convivemos com este organismo vivo chamado rio Paraná. E foram muitos aprendizados e desafios. E a beleza de remar com caiaque é que por sua velocidade, podemos ver os detalhes e as sutilezas das mudanças, acompanhando de perto toda a vida que há no entorno do rio.

Navegamos por vários tipos de ambientes passando pelos chamados “cemitérios de árvores”, ilhas com matas verdejantes, recantos com revoadas de pássaros, trechos em que a calmaria da água parecia um espelho, barrancos com nuances de cores que contam a história da sua formação, e muito pôr do sol. Deslumbrante. E claro, trechos nos quais o concreto encontra o rio e suas pontes ligam cidades.

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OS ACAMPAMENTOS Fizemos 25 acampamentos ao longo da expedição. De bancos de areia, a praias selvagens, passando por áreas de lazer e até em um banheiro em um parque municipal (na cidade de Guaíra/PR), onde pegamos uma tempestade violenta que chegou a carregar uma barraca com um dos integrantes da equipe dentro e o único local para nos abrigar era o banheiro. Por incrível que pareça ficamos três dias aguardando o tempo melhorar.

Mas o melhor de acampar durante um longo período é que, como tudo na vida, vira uma rotina. E esta por acaso nos trazia uma rotina de atividades, mas com um diferencial: a cada dia um local novo, com novas luzes no céu e novos sons da mata. Em cada ponto de parada, cada um tinha seu ritual, mas todos cadenciados numa mesma frequência: descarregar os caiaques, armar barraca, tomar um belo banho de rio, vestir aquela roupa seca após mais de oito horas de remada e preparar um belo jantar, às vezes coletivo, às vezes individual. E ao olhar em torno, a sensação no ar, entre todos, era simples; uma sensação de gratidão, de bem querer e de mais uma etapa concluída. Dias de risadas, dias de contemplação, dias de memórias.

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EQUIPE DO BEM Não há como deixar de destacar cada um que se conectou com o projeto e seu propósito. Reunir pessoas que não se conheciam para realizar uma expedição longa, complexa e ainda topar remar 830km não faz parte do dia a dia da maioria. Mas acredito que iniciativas que têm sua energia focada no BEM, atraiam pessoas, empresas e visões dentro de um mesmo alinhamento de propósito. O impacto emocional dos desafios e até mesmo das divergências (porque sim, há divergências em projetos de expedição) nos colocam em situação de reflexão e aprendizados. E não há evolução sem que sua visão ou de qualquer um, seja em algum momento debatida, pois como já dizia Platão: “não existe a verdade absoluta”, e assim sendo podemos divagar, questionar e até mesmo mudar nossas visões sobre o mundo e sobre os contextos, a fim de evoluir. E essa TRAVESSIA não foi somente para mim, mas acredito que para todos, um marco de mudanças de percepções e de memórias que serão carregadas até o final dos tempos, refletindo assim como a água de um rio, um novo ser, um ser diferente. Não se sai de uma expedição como essa do mesmo jeito que chegou. Sai movimentado (assim como o rio). Horas mais agitado, outras mais calmo. E no final, como todo rio, continua a fluir pela jornada da vida, desaguando em você mesmo ou naqueles nos quais reflete.

Não poderia deixar de trazer para o fechamento deste lindo livro feito por doze pessoas o dia a dia de convivência, descontração e de bom humor. Porque no final o que vale em sua caminhada, em sua navegada, não é o destino final, mas a jornada que percorreu.

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GIULIANO MENEGALE MARTINAZZO

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TIAGO LOPES FIGUEIRAL

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FELIPE HUTTER

MICHEL COELLI

CAROLINE LOPES FIGUEIRAL

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ESFORÇO E CORAGEM NÃO SÃO SUFICIENTES SEM

PROPÓSITO E DIREÇÃO.

John F. Kennedy

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U M A J O R N A DA D E A P R E N D I Z A G E M E C O N E X ÃO EXPEDIÇÃO DE CAIAQUE NO 2.º MAIOR RIO BRASILEIRO

RIO PARANÁ

MARCELO FIGUEIRAL





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