Legionário 1930, números 50 a 71

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Orgam da Congregação Mariana da Legião de S. Pedro (sob o Titulo da Annunciação de Nossa Senhora ) Parochia de Santa Cecilia

QUINZENARIO com approvação ecclesiastica Redacção e Administração: Rua Immaculada Conceição, 6 — Caixa Postal, 3471

ANNO III

Director: JOSÉ FILINTO DA SILVA JUNIOR

Literatura immorai Km um artigo, para o “Diário da Noite”, de 27 de Dezem­ bro passado, o brilhante publicista que é o sr. Ágrippino Grieco, falando sobre a fabricação dos livros immoraes, affirma que “os autores frascarios parecem dispoôstos a interromper por algum tempo a sua industria literaria”. Para confirmar sua asserção, cita exemplos de Humberto de Campos que abandonou os “gansos do Capitolio”, pelos papagaios do senado, e o “mealheiro de Agrippa”, pelo da im­ prensa ; de Benjamim Costallat que também deixou as alcovas esconças, cuja immundicie sua penna retratava, para entregarse á lida dos jornaes, mais rendosa, ou, pelo menos, de remu­ neração mais segura; de Theo Filho que mandou ás urtigas os escândalos dá alta sociedade carioca para “redigir, nas horas vagas, um semanario de Copacabana, impresso em borracha, para que os banhistas da zona o possam lêr dentro da agua’... E o sympathico collaborador do “Diário da Noite” dá um sus­ piro de allivio por não termos “ultimamente soffrido o flagello da literatura libertina”. O articulista, porém, não tem razão em seu optimismo. O que houve foi apenas uma mudança de autores dessas collectaneas de obscenidades. De facto, aquelles escriptores cessaram sua actividade no­ civa, mas, outros lhes succederam na indigna tarefa de infestar o mercado com sua literatura de porta de engraxate. E nada ganhamos com a troca. Pelo contrario, sahimos perdendo na transacção. Os príncipes da libertinagem literá­ ria calaram-se; a ralé tomou-lhes o logar e berra á sua vonta­ de máu grado a lei de imprensa. Poderia citar vários exemplos comprobatorios do que affirmo. Não ha necessidade, porem: elles ahi estão á vista de todo o mundo. Os bons desejos do sr. Ágrippino Grieco enganaram-no em parte. Os livrecos immoraes pululam por ahi ao alcance de qualquer creança. E isso durará até quando? Só a policia poderá responder á pergunta.

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Através das múltiplas mérisagens e divinas co­ municações de que foi objeto è instrumento a felis Vidente, Venerável Catarina Éabouré, no decorrer do anno de 1830, aparecem assás claros e manifes­ tos os intuitos e amarosos desígnios do céo para com a misera humanidade, r í £ Nenhuma ocasião ou conjuntura tão favoravel como a da passagem do Centetfario Mariano da ma­ nifestação da Medalha Milagrosa, para salientar por estas colunas marianas, algumas dessas miras ou traças divinas, colimadas no desenrolar dos me­ moráveis acontecimentos a que nos referimos. Tres são, em nosso humilde entender, as faces precipuas ou privilégios extraordinários que dos mesmos derivam para Nossa Senhora e que a ma­ neira de pedras preciosissimas<;esmaltam a sua co­ roa augusta, reafirmadas e proclamadas á face do mundo pelas celebres aparições^ mensageira da rua du Bac, em Paris: l.°) — a ftfvelação do mysterio da Imaculada Conceição de Ngssa Senhora, repre­ sentado nas diversas atitudes >çj>m que se manifesta a Visão e nas palavras da inscfição ovalada — “Oy Maria, concebida sem pecado,; rogai por nós que

Asylo São Vicente de Faulo DOS POBRES

Desde o advento de Christo a cariade foi a virtude consoladora por excellencia. Na traducção dos actos de amor para com o proximo, os nossos corações se enchem de uma paz dulcíssima, mormente quando se trata de communicar um pouco de alegria, um muito 'de affecto, de ca­ rinho, de ternura áquelles que na vertente da vida se encontram ao desamparo, ao abandono, faltos de um ambiente amigo, amoroso, pro­ tector. Das virtudes theologaes, cujo objecto directo é o proprio Deus, a caridade somente é eterna. “ Nunc autem manent fides, spes, charitas, tria haec; major autem horum est charitasdiz o Apostolo (I Cor. XIII, 13). O amor a Deus e o amór ao pro­ ximo não são duas virtudes differentes, mas dois modos de exercício e de pratica de uma mesma virtude es­ sencial. (Mercier). O segundo deve ser o reflexo do primeiro. E’ o que vemos nas maneiras multiformes da pratica da caridade, atravez deste grande organismo calcado sobre ali­ cerce indestructivel, a Sociedade de São Vicente de Paulo. Nelia, se aprende a amar as creaturas, o orphão, o pobre, o doente ou o encar­ cerado, por meio da caridade, isto é, pelo amor de Deus. E‘ o que vemos sempre quando nos é dado apreciar o transbordamento deste amor revelado nas pessoas daquelles velhinhos que no Asylo de São Vicente de Paulo, na rua Turiassú, recebem o consolo salutar de mãos amigas e caritativas. No dia 6 o grande salão de jantar dos pobres asylados, festivamente ornado, era percorrido pela alacridade jovial das senhoras damas de caridade de Sta. Cecilia, a distribuir-lhes os saborosos pratos do jantar de anno novo. No olhar habitualmente morno e resig­ nado daquelles velhinhos que se ali­ nhavam em redor das tres grandes mesas, havia qualquer cousa de não commum, o brilho que alli fulgia era bem a expressão viva da grati­ dão votada áquelles anjos do bem, que lhes enchiam a alma de um amor, de um affecto, quem sabe, até então não sentido! Emquanto cá fóra os homens se

degladiam na ancia da conquistá do maior gozo material, esvurmando as paixões das chagas sociaes, alli naquelle templo da caridade, as piedo­ sas irmãs de São Vicente, se irniánarn, se confundem com os seus po­ bres, communicando-lhes o sopro quente do seu affecto, amando-os por este amor votado a Deus, que somen­ te a Santa Igreja de Jesus nos sabe communicar. Uma visita ao Asylo de S. Vicente não é só um acto de piedade, não é aii^da a satisfação de fagueira curio­ sidade, é mais, muito mais, é um acto de edificação própria. Lição su­ blime de apostolado, prova maravi­ lhosa de amor, nos offerecem as fi­ lhas de S. Vicente, as eleitas do Se­ nhor para cultivarem a sua seára en­ tre a velhice desamparada. Poucos, muito poucos, conhecem o asylo da rua Turiassú. Abrigando va­ rias dezenas de pobres, mantendo um externato para os pequenos desherdados da fortuna, é de se ver alli a ordem, a disciplina, os cuidados hygienicos, tudo revelando a efficiencia extraordinária da acção das pie­ dosas irmãs de S. Vicente. O asylo vive da caridade alheia, mas podemos dizer, que muito me­ nos da sobra dos opulentos e poten­ tados, que do sacrifício das abnega­ das damas de caridade de S. Cecilia. Este punhado de Senhoras devotadís­ simas, cheias do espirito vicentíno, tem luctado com energia, tem traba­ lhado com ardor ao lado do Rvemo. Monsenhor Vigário da Parochia, pa­ ra dar aos asylados um poucó de ;onforto, “ um pouco da impressão de que se encontram em suas pró­ prias casas”. Um casal de velhos ha pouco alli internado, disse-nos na expressão sincera do seu sentimen­ to: “aqui estamos no nosso paraizo”. Realmente, alli tudo se faz pe­ lo pobre; cada uma daquellas casas humildes, modestas, mas confortá­ veis, é, deveras, um pequeno paraizo para aquelles velhinhos que, cur­ vados para terra, vergados pelo pe­ so do tempo, de vez em quando vol­ vem para o alto um olhar de agra­ decimento. Saibamos nós auxiliar esta casa de caridade e então seremos “ Bemditos de Deus”. Paulo SAWAYA

Sobre o “INDEX LlBRORÜM PROHIBITORÜM,,

O centenário da Medalha Milagrosa e o reinado dos Sgdos. Corações de Jesus e de Maria 1830 — 1930 '• * f

A PROPOSITO DE UMA NOTA NO “O ESTADO DE S. PAULO* Ha pouco, appareceu na secção — Tribunaes — do “O Estado de S. Paulo” com o sub titulo: “Varias”, uma nota sobre o “Index”. Alguém que não estivesse inteira­ mente em jejum na matéria, pode­ ria logo notar que o autor daquellas linhas não lera, nem siquer consulára, o famoso livro. Limitára-se, ape­ nas, a resumir algum artigo ou algu­ mas notas encontradas em jornaes estrangeiros. Assim é que ennumera nomes de escriptores e philosophos, collocando entre elles o de Calvino, para extranhar, ao final da nota, não encon­ trar também o nome de Luthero. En­ tretanto é necessário saber qüe real­ mente entre os nomes citados na nova edição do “Index” figura o de Jdhanne8 Calvinus autor de um “ lé­ xico jurídico de direito cesáreo e ca­ nônico” posto no “Index” desde 1659. Mas, trata-se de um certo Kahl que nada tem que ver com o herésiarcha João Calvino, que nunca es­ creveu nenhum léxico jurídico, por­ tanto, si não figura Luthero também Calvino não se encontra na nova edição do “Index”... e si o autor daquella nota tivesse lido o prefacio dessa obra, não encontraria do que se admirar pela omissão. Porque lá está escripto, cora todas as letras, — seja embora em latim — que a nova ediçãó do “Index” contem so­ mente os livros condemnados duran­ te os tres últimos secuiosll! Lê-se também na nota em questão, o now.és.rola. Seria, entre­ tanto, lealdade notar aquillo que o “Index” nota a respeito desse nome. Por Geronymo Savanarola, collocado no “ Index” pelos “ Opusculos inédi­ tos”, entende-se o pseudonymo de Nicolau Tomaseo e não o celebre dominicano de Florença.

Mas o grande cavallo de batalha, que faz com que se duvidç ^Ilus­ tração ou da boa fé de quem colligiu aquellas notas, é o ter elle encontra­ do no “Index” a “Imitação de Je­ sus Christo” de Thomaz de Kempis: “...e o que de certo causará es­ panto a muita gente, a imitação de Jesus Christo de Thomaz A. (Slc> Kempis...” (EurekaÜ!) A nenhuma creança de cathecisnu> isso causou espanto, esteja certo ogrande descobridor da polvora, por­ que qualquer menino de cathecismoestaria apparelhado para desmasca­ rar essa affirmação falsa e rir-se des­ se absurdo enormeDeve lembrar-se de que ha mui­ tas edições do precioso livrinho, en­ tre ellas, as mais numerosas talvez sejam as protestantes, que decapK tam-no, more solito, do quarto*livro, precisamente porque nas paginas do quarto livro trata-se da Eucharistia. Portanto não é a “ Imitação de Chris­ to” de Kempis qle figura no “In­ dex”, si bem que no “Index” leia-se o nome de Kempis. Mas esse não se chama Thomaz. Seu nome é Martin e a obra que escreveu não é nenhu­ ma “Imitação de Christo”, mas, um livro que tem por titulo: VINTE E (jJINCO DISSERTAÇÕES SOBRE O BEIJO!!! *

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Com razão podemos nos compade­ cer dos leitores desses jornaes orien­ tadores de opinião publica; são tão mal-vinformaéos •*esses‘ pebreis^ leito­ res sobretudo quando se trata de re­ ligião e de questões attinentes ao governo da Igreja... E assim vêmnos, também, instinctivamehte, aos lábios, aquellas palavras do Mestre: Nunquid potest coecus coecum ducere? Ncnne ambo in foveam cadunt?...

o mundo, vciu por modo admiravel, realizar o lema sagrado que hojç, felismente, acha-se inscrito na bandeira de ação e apostolado social catolico de to­ das as agremiações marianas-: “A Jesus por Ma­ ria”. “Ao Coração de Jesus pelo Coração de Ma­ ria”. “Logo, ao Reinado do Coração de Jesus pelo Reinado do Coração de Maria”. A consequência não pode ser mais lógica. E’ esse sublime ideal mariano que vem procla­ mar alto e bom som, todas as associações religio­ sas a que ultimamente tem dado origem a revelação da Medalha Milagrosa, como sejam; “A Associa­ ção das Filhas de Maria Imaculada”, a “Associa­ ção da Medalha Milagrosa”, erigida por um Breve de Pio X em 1 de Julho de 1907, a “Cruzada da Medalha Milagrosa” com o objetivo principal de propagar a devoção chamada da Visita domiciliaria por meio do “brasão” ou insígnia das Famílias, con­ stante de um quadro representando os dois lados da Medalha Milagrosa, e de modo particular, a “Guar­ da de Honra dos Cruzados Marianos” cujo fim pri­ mordial é trabalhar intensivamente pela ação católi­ ca, aliada á prece, na grande Obra do Reinado so­ cial dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria.

Reverso da celebre Medalha Milagrosa revelada em 1830

“Signum magnum apparuit in coelo” : Um grande sinal foi visto rebrilha#' no azulado firma­ mento. recorremos a Vós” — reveladora da consoladora, verdade que vinte e cinco annos após seria defini­ da como dogma de fé por S. S. Pio IX e decorridos quatro annos a partir dessa Venturosa efemeride teria a confirmação divina nas aparições de N. Sra. de Lourdes; 2.°) — a prerogativa da mediação uni­ versal de Nossa Senhora, dispénsadora de todas as graças, afirmação mariana, prestes a ser definida como artigo de fé e que Nossa Senhora da Medalha Milagrosa dignou-se de manifestar á sua fiel serva e confidente por dois modos ou atitudes differentes quaes foram, a da prece, segurando com as mãos á altura do peito o globo, qual $i o quisesse acalen­ tar com o fogo sagrado do seu„Imaculado Coração, chamando sobre o mesmo a divina misericórdia e a de Bainha meiga e clemate, com as mãos extendidas a espargir raios de graças e favores sobre todos os mortaes; 3.°) — a união e harmonia que deve sempre existir na devoção e rio culto a serem tri­ butados aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, o que muito claramente se colige pela simples con­ templação do reverso da Medalha Milagrosa. “O M e os dois Corações são bastante signi­ ficativos” disse a SSma. Virgem á sua fiel confi­ dente, Catarina Labouré. Em essas doze estrelas rutilantes que os circun­ dam, acaso não estarão representados os esforçados apostolos ou cruzados modernos da Realeza dos SS. CC, a irradiarem por tocto o mundo a luz de suas virtudes heroicas, brilhandp a modo de astros de primeira grandeza no céo da igreja militante? Não padece duvida; um dos desígnios amoro­ sos da Província no desenrolar dos extraordinários acontecimentos cujo centenário ocorre no fluente anno, foi o de revelar ao mundo os sublimes mysterios de amor encerrados nos Sacratíssimos CC. de Jesus e de Maria e por ahi apressar o advento do reinado do seu amor nas almas e nos corações de todos os mortaes. “Venha a nós o Vosso Reino”. Está na consciência de todos os que acompa­ nham de perto e sabem observar imparcialmente o evoluir dos factos, que, a manifestação da Medalha -------

NUM. 50

CARLOS SIMON POYARES

í

O que •podiamos fazer, jáfizen^ O ^ pfccèricía^ cfòs "áíixiliáres do sr. Mario Bastos Cruz.

O JANTAR

Gerente:

SÃO PAULO, 12 DE JANEIRO DE 1930

Extrahimos do “Compromisso” dos Zeladores ou Guardas de honra da Medalha Milagrosa:

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“Olhae, Guardas de Honra, e meditae em vossa medalha; o seu reverso vos apresenta o Coração Immaculado de Maria, ao lado do Coração de Jesus, e vos lembra que esses dois corações palpitam sem­ pre unisonos, que um amor o mais ineffavel os re­ teve para sempre na mais intima união, e que vosso dever é procurardes approximar-vos o mais possível do sublime ideal, por Elles realizado. Vereis ainda dominando esses dois Corações e estreitando ainda mais por assim dizer a união desses dois Corações a lettra Mea Cruz que a encima, e reconhecereis não somente o symbolismo da participação da SS. Virgem no sacrifício do Cal vario como tereis a me­ lhor lição de abnegação que para a alma de um Guarda de Honra santamente ambiciosa de ser tam­ bém coredemptora com Maria, com Jesus, e por Je­ sus immolado”. Por diversas vezes, segundo pode ser compro­ vado por nossos amaveis leitores, nos temos pronun­ ciado desde estas colunas, a favor da entronisação,' simultânea ou não, dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. Aprazando para ulterior oportunidade o exame c enumeração das' múltiplas razoes, de ordem teologico, historico e liturgico, que confirmariam a sobredita pratica da Realeza social dos SS. CC. nos lares christãos, sejamos licito brindar aos nossos caros leitores com uma passagem que traduzimos


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