Rastros 9.7

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Rastros - Revista do Núcleo de Estudos de Comunicação

Rodrigo Miranda Barbosa*

Pirataria on-line e a perspectiva da dádiva

Resumo O artigo busca fazer uma análise da Scene, uma organização formada por grupos de pirataria considerada como topo da cadeia de pirataria de produtos culturais pela internet. É a partir de Castells que percebemos seu contexto na cultura da internet e suas semelhanças com a cultura hacker. O compartilhamento feito pelos hackers em comparação ao compartilhamento de produtos culturais entre os grupos da Scene nos leva a estudá-la pela perspectiva do sistema da dádiva de Marcell Mauss devido a sua tripla obrigação de dar-receber-retribuir

Palavras-chave: Sistema da dádiva Cultura da internet

e é sob este aporte analisamos as formas de

Scene

organização da Scene e como os produtos

Pirataria

circulam na rede.

* - Rodrigo Miranda Barbosa é mestrando em Comunicação pela Universidade de Brasília, bolsista da Capes, graduado em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pelo Ielusc. 1- WELL. Community Memory. Disponível em: < http://www.well.com/~szpak/cm/>. Acesso em: 13 setembro 2007. 60


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O presente artigo é fruto de uma pesquisa que

as mensagens ficavam guardadas, podendo assim ser

visa fazer uma análise de uma organização formada por

chamado de fórum. Este foi o mais famoso método de

grupos de pirataria digital denominada Scene. Neste

comunicação da era pré-internet e que permitiu, em

artigo, especificamente, discutiremos a Scene sob o

termos tecnológicos, a possibilidade de existência de

prisma da cultura da internet e da perspectiva da dádiva

comunidades virtuais.

estudando sua organização em si e como os produtos

O próprio termo comunidade virtual cunhado por

circulam na rede, deixando para um trabalho futuro a

Howard Rheingold em seu livro “The Virtual Community”

discussão do caráter agonístico da Scene.

se deu numa análise de uma das maiores BBS da época,

Creio que o leitor deva estar em situação de

a WELL (Whole Earth ‘Lectronic Link). Essas comuni-

desconforto por talvez nunca ter ouvido falar em Scene,

dades contribuíram para moldar o comportamento e

e ainda mais de uma Scene pirata. Espero cessar este

a organização da rede, divulgando formas e usos da

desconforto com a contextualização dela em meio à

mesma e com isso, as primeiras formas de regulação e

cultura da internet para podermos nos concentrar em

autoregulação como a “netiqueta” para estes fóruns.

nossas questões teóricas que são o foco deste artigo. Dito isso, o primeiro passo para a compreensão do que visa ser a Scene é sua contextualização frente à cultura

1. CULTURA DA INTERNET

da internet. As comunidades virtuais através de uma rede

A cultura em Castells (2003, p.34) é vista como

telemática começaram a dar os primeiros passos a partir

uma construção coletiva e “que transcende preferên-

da Community Memory criada em 1972, considerada

cias individuais, ao mesmo tempo em que influencia

o primeiro fórum público computadorizado do mundo.

as práticas das pessoas no seu âmbito, neste caso os

Um experimento realizado para perceber como as

produtores/usuários da internet”. É sob esse olhar que

pessoas reagiam ao usar um computador para a troca

Castells percebe que a cultura dos produtores da in-

de informações, uma vez que poucas até então (1972)

ternet moldou a internet e suas práticas e foram esses

tiveram acesso aos computadores.

também os seus primeiros usuários.

1

Logo, seus agentes perceberam que aquele

Para ele, a cultura da internet possui quatro ca-

dispositivo poderia ser usado para a arte, jornalismo,

madas que se dispõem de forma hierárquica. A primeira

chat, literatura, entre outros. Essa experiência deu os

é a Tecnomeritocrática, a segunda a Cultura Hacker3,

alicerces para o desenvolvimento da BBS (Bulletin Bo-

em seguida a Cultura Comunitária Virtual, e por último

ard System), um sistema computadorizado provido de

a Cultura Empresarial. Juntas, elas contribuem para o

software, capaz de ser acessado a partir de uma cha-

que Castells vai chamar de uma “ideologia da liberdade”,

mada telefônica. Uma vez conectado, o agente poderia

que é amplamente disseminada na internet4.

2

enviar mensagens a este, que, diferente de um chat,

No que se refere à relação entre as camadas, o

2- O uso a palavra agente no lugar de usuário se faz devido à perspectiva de que o usuário usa algo. Quando um usuário interage com o outro, “quem usa quem?”, questiona Primo. Utilizo, portanto, a palavra agente ou, como alguns preferem, interagentes (Primo, 2006, p6). 3- Para Castells a cultura hacker “diz respeito ao conjunto de valores e crenças que emergiu das redes de programadores de computador que interagiam on-line em torno de sua colaboração em projetos autonomamente, definidos de programação criativa” (Castells, 2003, p.38).

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autor descreve: A cultura tecnomeritocrática especifica-se como uma cultura hacker ao incorporar normas e costumes a redes de cooperação voltadas para projetos tecnológicos. A cultura comunitária virtual acrescenta uma dimensão social ao compartilhamento tecnológico, fazendo da internet um meio de interação social seletiva e de integração simbólica. A cultura empresarial trabalha, ao lado da cultura hacker e da cultura comunitária, para difundir práticas da internet em todos os domínios da sociedade como meio de ganhar dinheiro (CASTELLS, 2003, p.34).

Aqui, destaca-se a atenção para o perfil que este autor vai traçar da Cultura Hacker. Para ele, sem a cultura tecnomeritocrática, os hackers seriam apenas uma comunidade contracultural de geeks e nerds e sem a cultura hacker as redes comunitárias da internet não se diferenciariam de outras comunidades alternativas. Por sua vez, sem a cultura hacker e os valores comunitários, a cultura empresarial não poderia ser caracterizada como específica à internet. A articulação dessas quatro camadas apresenta a lógica inerente à internet. A cultura da internet é uma cultura baseada na crença tecnocrática, sendo que diversos hackers em comunidade compartilharam e aprimoraram seus projetos em um ambiente livre e aberto, que foi disseminada com o advento da internet e “materializada por empresários movidos a dinheiro nas engrenagens da nova economia” (CASTELLS, 2003, p. 53). As comunidades que se criaram em volta da BBS podem ser identificadas como a camada da comunidade virtual (3ª camada). Essa camada está baseada em duas premissas básicas: uma comunicação horizontal, que privilegia a liberdade de expressão e a formação autônoma das redes, e as BBSes permitiam isso. É a partir delas que passa a existir a pirataria distribuída em uma rede de computadores.

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2.SCENE: UMA INTRODUÇÃO A Scene pode ser considerada como uma organização de redes de pirataria, que distribuem através da internet produtos culturais como livros, filmes, músicas, jogos entre outros pela internet, e em muitas vezes antes destes produtos chegarem de fato às lojas. Em um artigo de Ben Garrett (2007) disponível na Defacto25, o autor declara, logo no seu primeiro parágrafo: “Desde que existe a habilidade de guardar informações em um computador pessoal e software comercial a venda, existe pirataria” (GARRETT, 2007)6. Aqui ele apresenta duas condições essenciais para a existência da pirataria: computadores capazes de armazenarem dados e softwares privativos. Apesar da pirataria já existir desde os primeiros computadores, é preciso deixar claro que estamos falando de uma forma de pirataria que passa a se organizar em grupos, formando a Scene. De acordo com Garrett, a Scene como organização internacional surgiu no final dos anos 70 ou talvez até antes disso com a plataforma Apple II e a plataforma PC, a partir de 87. Fala-se em plataforma justamente porque o produto cultural mais distribuído era software, que era específico para cada tipo de computador. Manter uma BBS com conteúdo ilegal era um negócio muito arriscado, pois ela funcionava na casa de seu administrador. Em decorrência disso, a segurança sempre foi importante a um nível em que um newbie7 raramente conseguia acesso até mesmo numa pequena BBS local. Garrett (2007) considera interessante o fato de que antes da introdução do Net Act8 nos Estados

4- Castells adverte que essa ideologia não é a cultura fundadora, porque não está ligada diretamente com o desenvolvimento do sistema tecnológico. 5- DEFACTO2, Disponível em: <http://www.defacto2.net/>. Acesso em: 15 março 2007. 6- Ever since there has been the ability to store data on a personal computer and commercial software for sale, there has been the existence of pirating. Tradução livre. 7- Sinônimo de novato.


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Unidos, durante os anos 90, não era considerado crime

(peer to peer), através de softwares como Napster,

piratear software. Assim, a maioria das prisões era por-

Bittorrent, Emule e KaZaA, entre outros. Essas redes

que os acusados estavam ganhando dinheiro a partir

estão abaixo na hierarquia da pirataria, sendo a Scene

de software ilegal, como diz o autor “eles poderiam

o topo desta pirâmide de distribuição.

prender você assim que dinheiro estivesse envolvido” 3.1 Releases, topsites e release groups

(GARRETT, 2007, p3)9. Segundo Garrett, o fim das BBSs para muitos foi a ação decisiva da campanha Cyberstrik, de fevereiro de

Antes de prosseguirmos é importante deixar claro

1997, na qual cinco das grandes BBSs foram fechadas

alguns termos que serão bastante vistos neste artigo

na mesma semana e o medo espalhado fez com que

e que o leitor pode não estar familiarizado. O que se

muitas outras também fechassem. Mesmo com a inter-

segue então é um pequeno glossário para que possamos

net tendo deslanchado naquela época a Scene nunca a

compreender melhor o que são releases, topsites e

utilizou como ferramenta séria, ao menos até o começo

release groups.

dos anos 90, e poucos naquela época perceberam a

Release é um pacote, que contém o produto

mudança que a internet iria trazer, levando a uma

cultural. Esses produtos são geralmente filmes, progra-

“nova geração da scene pirata” (GARRETT, 2007, p4) .

mas, jogos e músicas, e que são lançados por grupos

O modelo predominante pós-bbs é o IRC (protocolo de

denominados release groups13. Sua criação deve

comunicação, utilizado basicamente como bate-papo) e

seguir várias regras de padronização para que sejam

o FTP (protocolo para transferências de arquivos).

aprovadas pela Scene, incluindo a nomeação das pas-

10

tas e informações que devem estar contidas dentro do 3.ESTRUTURA E FLUXO

pacote e como ele deve ser feito. Topsites são servidores extremamente rápidos

Uma amostra da competência da Scene está no

e estão na ponta da hierarquia da Scene. A primeira

fato de seus grupos/membros lançarem na internet

parada de um release é feita nos topsites, sendo

materiais que ainda não foram distribuídos comercial-

disseminado para toda a rede. Esses topsites pos-

mente e o lançamento de grandes quantidades de novos

suem também largas quantidades de espaço a fim de

produtos culturais diariamente.

armazenar todos estes arquivos e são gerenciados por

Em apenas um dia, em um único site dupe-

pessoas conhecidas como SiteOps.

check11, procurando apenas por novos CDs de música

Um release group é um grupo de pessoas que

foram encontrados mais de 400 . E isso acontece todos

lança releases na internet. Os membros de um grupo

os dias abastecendo a Scene.

se contatam por meio de canais em servidores de IRC

12

É crença popular a idéia de que todos esses

(protocolo de comunicação, utilizado basicamente como

materiais sob copyright se originam nas redes P2P

bate-papo). Os grupos têm em média de 5 a 20 ou mais

8- The No Electronic Theft (“NET”) Act. Disponível em: <http://www.usdoj.gov/criminal/cybercrime/17-18red.htm>. Acesso em: 10 maio 2007. 9- Tradução livre. “They could arrest you as soon as money was involved”. 10- Tradução livre “new generation of pirate scene”. 11- Duplicate Check. Banco de dados com lista de releases feitos, utilizado ao fazer um release para verificar se algum outro grupo já não o fez.

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pessoas envolvidas14, sendo que a maioria dos membros

do da Scene que se participa, que a figura do cracker20

de um grupo não se conhece na vida real. Como as

faça a sua função de quebrar proteções anti-cópia (entre

atividades dos grupos são ilegais a segurança é uma

outras), para que o release seja totalmente utilizável.

das grandes preocupações de seus membros.

Após isso, surge o Packager21 que juntará todos os arquivos necessários em um pacote daí chamado re-

3.2O caminho que percorre um release

lease. Depois de concluído o pacote, entram em ação os racers/couriers e até grupos de racers/couriers que devem distribuir o release o mais rápido possível aos topsites afiliados e outros topsites para os quais existe um sistema de créditos22. O release, depois de enviado ao topsite, é analisado tanto pelas pessoas que controlam o topsite quanto pela nukenet/sheepnet23, sendo decidido se o release cumpriu todas as regras estabelecidas. Uma vez aprovado, o release que chegou antes é considerado vitorioso. Quando não aprovado é

Figura 1

dito que o release foi nuked. Se um grupo lança um release que já havia sido lançado por outro grupo, ele

O coração da Scene são os Topsites, é por eles

é definido como dupe (duplicado). Para saber disso,

que a grande maioria dos releases acaba passando e

existe o release database24, em que ficam gravados

se difundindo, devido as suas rápidas conexões, espaços

os releases lançados na Scene. Este lançamento será

em disco, contatos com racers/couriers15 e grupos afi-

nuked, detonado. Isso significa que irá ser marcado

liados. Estes servidores são abastecidos com melhores

como um release ruim. O grupo que tem seu release

equipamentos por hardware suppliers16, que nego-

nuked, perde credibilidade frente à Scene. Apesar das

ciam equipamentos em troca de privilégios, acessos e

várias funções exercidas para realizar um release, isso

afins nesses topsites. A primeira coisa que acontece

não significa que cada função deva ser executada por

é o grupo, por meio de um supplier/insider17 que faz

uma pessoa, muitas vezes uma única pessoa executa

parte de seu grupo ou conhecido de algum membro do

várias dessas funções e tem suas peculiaridades base-

grupo, conseguir uma fonte antes dos mais.

adas no tipo de release a ser feito também.

Após o material estar em domínio do grupo, entra em cena o ripper/encoder18, que transformará o ma-

4.A FORÇA MOTRIZ

terial original para os padrões19 da Scene. Para realizar

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o pacote ainda são necessários outros requisitos. Se o

Um sistema com esse nível de organização cola-

material for um jogo ou programa é preciso, dependen-

borativa nos leva a algumas questões pertinentes. Quais

12- DUPECHECK PROJECT. Disponível em: <http://www.doopes.com/?cat%5B%5D=11&num=5&mode=0&from=2007-06-12&to=2007-06-13&exc=&inc=&sec=1/>. Acesso em: 28 Maio 2007. 13- ABOUT THE SCENE. Disponível em: <http://www.aboutthescene.com/>. Acesso em: 10 dezembro 2006. 14- Ibidem. 15- O courier ou também conhecido como racer é o responsável pela divulgação dos releases que acabaram de ser lançados para os demais topsites.


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seriam os mecanismos que engendraram o sistema para

seu inverno em festa perpétua. As festas podem ser

chegar a este estado de complexidade organizada? O

banquetes, feiras e mercados. Nelas se misturam ritos,

que a faz um membro colaborar com o grupo? O que

prestações jurídicas, econômicas entre outras. Essas

está em jogo? Qual é o micro comportamento que faz

celebrações são seguidas por uma renúncia a todos

com que a Scene, enquanto macro comportamento/

os bens materiais acumulados pelo clã homenageado.

organismo, exista e perdure?

Estes bens recebidos como presentes são um sinal do

Castells ao se referir à complexa organização

prestígio do clã homenageado.

colaborativa dos hackers, afirmou que parecia haver

A Scene, assim como o potlatch, sustenta a

uma Economia do Dom, pois o prestígio, a reputação

posição de sistema de prestação total, no sentido que

e a estima social estavam ligados à relevância da doa-

é todo o clã que “contrata” por todos e por intermé-

ção feita à comunidade. Eric Raymond (apud SANTOS,

dio do chefe. Na comunidade dos hackers, como é o

2002), disse em determinado momento que “a cultura

caso de Linus Torvalds, não são chefes vitalícios que

hacker é o que os antropólogos chamam de cultura da

exercem sua autoridade de forma desmedida, eles são

dádiva” (2002, p.87).

chefes porque a comunidade confia neles. Quando se

O texto “Ensaio sobre a dádiva” de Marcel Mauss

trata da Scene, a mesma coisa procede. Os chefes dos

(2001) pode contribuir para esclarecer o que vem a ser

grupos procuram elevar cada vez mais seu grupo em

este sistema, sendo aqui relacionado à comunidade

reputação para estar entre os melhores. Nesse sentido,

dos hackers devido a sua aproximação com a Scene.

as prestações/dádivas entre os grupos têm um caráter

Mauss analisou, nas sociedades da Melanésia e da

agonístico assim como o potlatch.

Polinésia, um sistema de trocas que se diferenciava do

Nestas sociedades Mauss percebe que o siste-

realizado por nossa sociedade, caracterizando-se como

ma da dádiva repousa sobre uma tripla obrigação de

um tipo de mercado que existe antes das instituições

dar-receber-retribuir. A dádiva é um sistema em que

de mercadores e da moeda. Um sistema de trocas que

há a prestação e fornecimento de bens sem que haja

fazia parte de toda a vida social, o qual ele denomina

a garantia de retorno. O que é dado deve ser dado

“sistema de prestação total”. Para Mauss, “há pres-

de forma desinteressada, pois dar esperando receber

tação total no sentido em que é realmente todo o clã

degrada a dádiva, a torna inútil.

que contrata por todos, para tudo o que ele possui e

A doação então é em tese uma ação espontânea

para tudo o que ele faz, por intermédio do seu chefe”

e marcada por uma incerteza, mas na verdade obri-

(MAUSS, 2001, p.57).

gatória. A dádiva é obrigatória, esperada e deve ser

Na região da Melanésia e em duas comuni-

equivalente ou superior a dádiva feita outrora. Essa

dades norte-americanas, na Tlingit e na dos Haïda,

obrigação de dar é a essência do potlatch. Os grupos

Mauss percebe que existe uma forma típica de troca,

da Scene são filiados a Topsites porque é para onde

de prestações totais, o potlatch. Essas tribos passam

devem enviar seus releases. Não enviá-los para este

16- “Existem pessoas que ficariam muito felizes em pagar e ter um computador enviado para você apenas para você hospedar um site que eles não terão absolutamente nenhum lucro. O uso comercial de acessos a sites não é algo comum, a maioria das pessoas o faz apenas por diversão, não para fazer dinheiro”. Matéria publicada por b-bstf na revista hacker 2600 Verão Trimestral de 2004. B-BSTF, Where’s The Beef?.Disponível em: <http://web.archive.org/web/20070221045619/ http://old.wheresthebeef.co.uk/show.php/guide/2600_Guide_to_Internet_Piracy-TYDJ.txt>. Acesso em: 15 março 2007. Tradução livre.

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servidor, significa depreciá-los. É não estar de acordo com as regras do jogo, é não retribuir uma dádiva.

Nesse sentido, uma dívida jamais é zerada, ela

O chefe, para manter sua autoridade, deve

acaba por sempre deixar resquícios, porque quando é

oferecer o potlatch, pois é assim que demonstra estar

retribuída é também transferida para o doador e aos

“assombrado e favorecido pelos espíritos e pela fortuna”

pares. Como opera em ciclo, ela cria um estado que

(Ibidem, p.116). Os prestígios tanto do chefe quanto

sempre tem alguém que recebeu mais do que doou.

de seus membros estão, assim como no potlatch,

Para o autor, é dessa situação que a relação meio-fins

“intimamente ligados ao gasto, e à exatidão na retri-

se torna problemática.

buição com juros que se faz devido às dádivas aceites” (Ibidem, p.109).

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sobre o beneficiário, pois ele o persegue.

Há então sempre uma obrigação de retribuir a dádiva, e isso não se aplica somente para a retribuição,

Estes objetos, conforme Mauss, são confundidos

mas uma obrigação de dar e receber também (SANTOS,

com o seu uso e efeito, pois são “igualmente objeto

2002), pois deixou de ser possível dar esperando como

de entesouramento e de potlatch alternados” (Ibidem,

fim receber. Isso não se deve porque a dádiva traz

p.139). O release possui a mesma característica, sendo

outros benefícios, mas sim porque o fim não é rece-

entesouramento, pois é algo de propriedade do grupo,

ber “mas criar uma obrigação da qual receber é mera

confere-lhe prestígio e tem ainda o seu valor de uso

conseqüência”. (SANTOS, 2002, p.89). Não se dá para

como filmes, música, software, entre outros.

receber, mas para obrigar o outro a dar.

Castells, sobre a comunidade dos hackers, diz

As dádivas assim não param de circular tanto

que “não se trata apenas de retribuição esperada

no interior dos grupos quanto em relação aos demais

pela generosidade, mas da satisfação imediata que o

grupos, topsites e afins. Cria-se uma corrente contínua

hacker tem ao exibir sua engenhosidade para todos”

de “dádivas dadas, recebidas, retribuídas, obrigatoria-

(CASTELLS, 2003, p.43). Mais do que isso, a doação

mente e por interesse” (Ibidem, p.97).

não tem apenas valor de troca, acaba por ter valor de

A obrigação de receber não é menor que a de dar

uso e, além disso, conta com a produção de um objeto

ou a de retribuir, pois não se tem o direito de recusar

de valor.

um potlatch. Para Mauss, “agir assim é manifestar que

O taonga é descrito por Mauss como sendo ob-

se tem medo de retribuir, é recear se rebaixado quando

jetos que podem ser trocados e de compensação, que

não se retribui” (MAUSS, 2001, p.120), e o medo de

são poderosos e fazem as pessoas ricas. É através dos

retribuir, devido à possibilidade de ser rebaixado, é já

releases que o grupo ganha prestígio e honra frente

ser rebaixado e humilhado.

aos demais, assim como os taonga quando trocados

Quando se lança um release, sempre se passa

deixam o espírito do hau, uma dívida que deve ser

por uma checagem, a dádiva aqui pode ser negada se

“quitada”. Aceitar uma dádiva/taonga é aceitar a es-

não se encaixar nas diretrizes. É como se nas sociedades

sência espiritual de sua alma, assim o hau tem poder

primitivas como a Maori, uma determinada tribo resol-

uso comercial de acessos a sites não é algo comum, a maioria das pessoas o faz apenas por diversão, não para fazer dinheiro”. Matéria publicada por b-bstf na revista hacker 2600 Verão Trimestral de 2004. B-BSTF, Where’s The Beef?.Disponível em: <http://web.archive.org/web/20070221045619/http://old.wheresthebeef. co.uk/show.php/guide/2600_Guide_to_Internet_Piracy-TYDJ.txt>. Acesso em: 15 março 2007. Tradução livre. 17- É a fonte do grupo. A maioria consegue os materiais através de supliers que trabalham em lojas de DVD, em produtoras de DVDs, em uma revista, entre outros. Assim ele que consegue o material e repassa para outros membros de seu grupo.


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vesse, ao invés de retribuir com um taonga legítimo, dar algo que não tem este valor e não é reconhecido

Uma outra mensagem enviada após o mesmo acontecimento dizia:

pelas outras tribos. Mas é claro que nós não podemos parar isto facilmente... mas nós iremos tornar mais difícil, para que nós não tenhamos uma próxima geração com péssimos usuários FXP-board ...e sceners reais com Respeito e Amor pelo hobby serão mais difíceis de serem encontrados (talvez já sejam :<).29

Os bens que participam das trocas entre coletividades, segundo Mauss, não são úteis economicamente (Ibidem, p.55). Na Scene os bens têm um valor comercial para os que não participam dela, ou os que não jogam de acordo com as regras. Vender um release ou o acesso a eles é passível de punição como percebido em algumas mensagens: Existe uma sessão especial que lida com pessoas que estão vendendo FTP leech slots. Eu apenas gostaria de dar uma olhada se isto poderia potencialmente colocar o resto nós em risco, e com certeza pode. Quando você vê, faz você ficar doente enquanto essas pessoas se beneficiam desta merda, cobrando de $50-$150 por mês por uma leech. O preço depende de o quão rápido você pode efetuar downloads.25

E como hobby, muitos hackers compartilham seus conhecimentos e em muitos casos sem querer ganhar dinheiro com isso, sendo que os que ganham, em muitas vezes não tiveram em um estágio inicial o dinheiro como objetivo principal (HIMANEN, 2001). O próprio Linus, quando distribuiu o a primeira versão do GNU/Linux, a colocou sob a licença GPL30, que foi desenvolvida por outro hacker Richard Stallman. Mais do que dinheiro, o hacker visa reconhecimento de seus pares. Esta parece ser também a postura dos

e:

membros da Scene. POR FAVOR, BANAM ESTES DOIS FODIDOS QUE VENDEM LEECH NESSES SITES. ESTE É O TIPO DE COISA QUE FAZ COM QUE OS FEDERAIS SE ENVOLVAM COM A SCENE. 26

E outro:

Na Scene não existe dinheiro envolvido e não há uma contagem de pontos e sim um valor simbólico que o grupo ganha ao fazer um lançamento, tudo parece indicar que o produto oferecido é um presente, uma

Dumbfuck quem está vendendo as suas contas de sites por dinheiro! BANAM DO SCENE ESTE CUZÃO, ESCÓRIA COMO ESTA NÃO DEVERIA ESTAR VIVA!27

doação. Na comunidade das ilhas de Trombriand, percebe-se uma outra característica do potlatch, a de

A Scene, em relação aos hackers, parece ter al-

minimizar a importância do seu ato de doar. Segundo

gumas semelhanças que podem nos ajudar. Os hackers

Santos, isso adquire uma forma de representação,

consideram o que fazem um hobby, podemos perceber

“Como se estivesse desobrigando quem recebeu de

essa noção sendo atribuída pelos membros da Scene

qualquer retribuição” (SANTOS, 2002, p.89).

também, como nessas mensagens enviadas à Scene,

Santos enfatiza que essa lógica tem uma “simpli-

um dia depois de várias prisões acontecerem no dia 22

cidade quase infantil”, pois “se o que foi dado não tem

de abril de 2004. Uma delas: “A Scene é um lugar de

valor, tampouco precisa ser retribuído; quem recebeu

amizade e para a maioria um hobby, não um negócio

o que não é nada, está, por isso mesmo, liberado da

para lucrar (note que eu disse ‘maioria’)” 28.

obrigação de retorno” (Ibidem.). Isso acaba deixando

18- O encoder ou ripper é a pessoa que faz o “rip”, que nada mais é do que o processo de copiar áudio e vídeo de uma mídia, sendo assim apenas grupos relacionados a filmes, música e afins possuem alguma pessoa com esta função no grupo. 19- Cada material específico (filmes, jogos e músicas) da Scene possui um conjunto próprio de regras para se lançado. 20- O cracker é quem consegue quebrar a segurança. A quebra é necessária para jogos e programas, contudo nem todos grupos possuem um cracker como membro.

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o receptor numa posição de liberdade de decisão sobre

hipótese é a de que o valor do release em si, não é o

o que fazer depois de ter recebido a dádiva. Fazendo

item mais importante. O valor estaria em lançá-lo antes

isso, o doador acaba constrangendo o receptor a fazer

dos demais? Mas se considerássemos somente isso,

uma verdadeira dádiva em retorno, ou seja, a recomeçar

descartaríamos os valores entre os vários lançamentos.

o ciclo. Este esquema o autor chama de “a obrigação

Quanto mais conhecido o software/artista/filme, mais

da liberdade”.

é valioso. O reconhecimento está intimamente ligado

A desvalorização feita pelo doador acaba por ser um artifício de generosidade que cria no receptor

ao status de popularidade e ao valor comercial do que se está lançando na Scene.

um acréscimo na obrigatoriedade. Nessas relações de

Há outra relação de valores, porque esse status

interesse-desinteresse, liberdade-obrigação, a dádiva se

é para a Scene e não para fins pessoais. Muitas vezes

mostra trabalhando numa dinâmica que é simultânea e

se fazem releases em que a pessoa que está lançando

inextricavelmente interessada e desinteressada, livre e

não possui qualquer simpatia sob aquele determinado

obrigada (Ibidem).

produto cultural. Desta forma, se a Scene busca derrotar a in-

4.1 Direito autoral

dústria distribuindo pela internet todo esse conteúdo gratuitamente está se contradizendo. A indústria dita

Muitos releases feitos por grupos, em seu arqui-

os valores simbólicos dos releases para a Scene, ela

vo NFO contém dizeres como: “SE VOCÊ GOSTA DESTE

diz, por exemplo, que o cd da Madonna é mais valioso

PROGRAMA VOCÊ DEVERIA COMPRÁ-LO! “31 e:

que o cd de uma banda local. Se não há indústria e

Apóie as companhias de software! Se você gosta de usar um programa ou usar um aplicativo, considere comprá-lo! Alguém tem que fazer valer a pena o esforço dos programadores para manter altos padrões. Eles o fizeram, então eles MERECEM!32.

O fato de dizer algo como “se você gostar desse software compre-o, ajude os desenvolvedores”, apresenta uma problemática. Se eles mesmos são os que publicam algo que tem valor comercial, de forma gratuita, por que eles se importariam em comprar o que já se possui? Mesmo que levantássemos a hipótese de estarem na verdade difundindo cultura a pessoas menos assistidas, isso não se validaria, pois a Scene se apresenta como um ambiente fechado e a divulgação de produtos para fora não é bem vista na Scene. A segunda

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direito autoral, não há Scene, pois isso atinge uma das premissas da sua existência, como disse Garrett: sem software, música, filme comercial para ser vendido, não existe pirataria. Mas aqui nos deparamos com um outro detalhe. 4.2 O círculo fechado Muitos hackers têm a visão de que estão fazendo algo bom para o mundo, como por exemplo, quando Linus criou o GNU/Linux, sob a licença GPL e liberou a todos. Mas é preciso ter cuidado com este tipo de afirmação. A comunidade dos hackers sobrevive/existe por causa da livre distribuição do código fonte e sua

21- O packager é a pessoa que junta o rip com os demais arquivos necessários como o .nfo, .sfv entre outros. 22- Os sites trabalham com um sistema de créditos, baseado em uma proporção. A mais comum é de 1:3, onde você envia 1MB para o site e pode fazer o download de 3MB. 23- Uma rede de pessoas especializadas que conferem o release. A qualidade dos releases e o seu afinco as regras depende deles. Da estrutura da Scene conhecida, esta é a que menos se tem informação na internet. Para efeito de número, uma busca no Google com o termo “Nukenet Sheepnet” retornará apenas 5 registros e com quase nenhuma informação útil.


Ano IX - Nº 9 - Agosto 2008

ética de liberdade em relação às demais coisas da vida.

ramente. Primeiro, porque eles não são a oposição ao

Mas poucos têm a consciência política que tem Richard

mercado; depois, porque não há um espírito contra o

Stallman, por exemplo.

direito autoral, sendo que suas ações não podem ser

Castells percebeu bem o enclausuramento dos

interpretadas como uma tentativa de divulgar produções

hackers quando se questionou por que o GNU/Linux não

culturais aos que não possuem o acesso. Eles querem

estava tendo aceitação nas camadas de usuários não tão

continuar apenas entre eles, jogando entre eles34. O

experientes de computadores. A promessa era de que o

objetivo principal parece ser o de bater com mais folga

GNU/Linux varreria o mundo dos sistemas operacionais

possível o street date, ou seja, o dia em que ele foi

que possuíam código-fonte proprietário e fechado. No

oficialmente divulgado e antes dos outros grupos. Tudo

início, o GNU/Linux era um sistema complicado demais

indica que a Scene parte do pressuposto de que tudo

para usuários comuns e sem interface gráfica amigável.

que a rodeia é um jogo.

A principal causa dessa situação era a própria “falta de interesse dos programadores de computador, eles mesmo sofisticados, em desenvolvê-las” (CASTELLS,

5. CONSIDEDERAÇÕES FINAIS

2003, p.42). Ou seja, parece não haver, para a maioria do hackers, aquela visão fantasiosa de querer fazer um

A comunidade que envolve a Scene compartilha

sistema usável para os menos experientes. A comunida-

de vários aspectos a Cultura Hacker, assim demonstra-

de parece girar em torno de si mesma. Castells (Ibidem.

se a verdadeira dinâmica que Castells percebe entre as

p.44) vai mais longe em sua análise quase psicológica

quatro camadas da cultura da internet, uma vez que a

dos hackers quando diz:

camada Comunidade Virtual possui certos elementos

É verdade que há entre os hackers um sentimento generalizado de superioridade em relação ao resto do mundo analfabeto em computadores e uma tendência a se comunicar com o computador, ou com outros seres humanos via computador, centrando-se essencialmente em questões de software incompreensíveis para o comum dos mortais.

que provêm de camadas anteriores como a camada da Cultura Tecnomeritocrática e a da Cultura Hacker. O compartilhamento de releases entre os grupos e suas organizações sem ter como motivação o dinheiro revelam um sistema de troca em vigor. O sistema da

O objetivo da Scene não é difundir seus releases

dádiva de Mauss nos ajuda compreender a Scene como

ao mundo. Em vários recados a Scene se diz muito

um sistema de prestação total tendo como força motriz

aberta e com raiva de outras formas mais populares

a tripla obrigação de dar, receber e retribuir, em que a

de pirataria, pois elas estão a ameaçando33. Um dos

dívida criada no receptor o obriga a fazer uma doação.

fatores que podemos apontar é o desejo de segurança

Assim o grupo sempre deve distribuir seus releases

que faz com que os releases fiquem somente entre os

a todos e com isso obriga os outros a fazer doações

seus membros. Não há interesse nenhum em divulgá-los

também criando um ciclo, um estado que sempre tem

para fora da Scene, como poderíamos pensar primei-

alguém que recebeu mais do que doou. O resultado

24- Quando um grupo lança um press-release, ele é armazenado no banco de dados de press-releases. A scene possui um banco de dados com todos os lançamentos feitos na Scene, nesse banco de dados consta o nome do release, nome do grupo que o lançou, data, e outros dados. Esse enorme banco de dados é utilizado pela scene afim de que não sejam lançados releases que já foram lançados anteriormente, evitando o dupe (duplicate). Tudo isso é feito de forma automática, onde o sistema varre os Topsites atrás de novos lançamentos para colocar em seu banco de dados. 25- scene.notice.people.selling.leech.read.nfo. Tradução livre.

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Rastros - Revista do Núcleo de Estudos de Comunicação

disso é que sempre há um grupo com mais prestígio do que o outro, o que acena para um caráter bastante agonístico da Scene. É esse caráter agonístico que nos chama a atenção para um próximo texto estudando o elemento do jogo. Por fim podemos dizer que a Scene se apresenta como uma rede de pirataria descentralizada, de certa maneira fechada e que partilha de vários conceitos da comunidade hacker. É formada por centenas de grupos auto-organizados e que, ainda que hierarquizados, têm como microcomportamento ativador o sistema da dádiva, bastante agonístico.

Notas 26- Scene.Notice.SELLING.LEECH.On.Sites.READ.NFO-iND. Tradução livre 27- selling.and.sharing.account.info.read.nfo-ind.nfo. Tradução livre. 28- BUSTS.AND.FUTURE.OF.THE.SCENE-SCENE. Tradução livre. 29- FUTURE.OF.THE.SCENE.EXTRA-SCENE. Tradução livre. 30- General Public License (Licença Pública Geral), Disponível em: < http:// www.magnux.org/doc/GPL-pt_BR.txt>. Acesso em: 05 novembro 2006. 31- from.the.real.lmi.founder.to.the.scene.read.nfo.plz-lmi.zip. Tradução livre. 32- Pwa.the.end.final.goodbye.message.from.pwa-pwa. Tradução livre. 33- “Ele comanda um site de bit torrent chamado ‘alimente as massas’. Onde ele tem sementes dedicadas... São pessoas assim, que estão distribuindo massivamente releases da scene em sites públicos”. llllllllll.aka.lines.aka. xONe.seeding.torrents.from.sites-READNOW.nfo. Tradução livre. “Se jludka do grupo FQM estiver no seu site, por favor, o delete, ele utiliza a banda do SEU site para ajudá-lo a rodar sua porcaria de canal #tvtorrents na efnet/ website”. to.the.relevant.sites.that.affil.us-cheetah-tv.nfo. Tradução livre. 34- Dentre as mensagens após várias prisões, uma mensagem enviada a Scene recomendava: “- Não formar Aliança/Afiliação com novos grupos a não ser que eles tenham provado seu valor ou ser formado por membros que já eram sceners. - Maior respeito aos grupos de longa-data em todas as sessões cujos seus velhos membros podem ser descartados de ter qualquer ligação com qualquer agente federal.” fastlink.scene.busts.nfo Tradução livre.

Bibliografia ABOUT THE SCENE. Disponível em: <http://www.aboutthescene.com>. Acesso em: 10 dezembro 2006.

PRIMO, Alex. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. In: XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2006, Brasília. Anais, 2006. Disponível em: <http://www6.ufrgs.br/limc/PDFs/web2.pdf > Acesso em: 28 maio 2007. CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. DEFACTO2, Disponível em: <http://www.defacto2.net/>. Acesso em: 15 março 2007. DUPECHECK PROJECT. Disponível em: <http://www.doopes.com/?cat%5B%5D=11&num=5&mode=0&from=2

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