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Reflexões sobre a pesquisa teórica em comunicação na América Latina Alberto Efendy Maldonado1

RESUMO

O artigo sistematiza o trabalho de reflexão epistêmica sobre a produção de conhecimento dos três principais autores que constituíram o campo teórico da comunicação na América Latina: Eliseo Verón, Armand Mattelart e Jesús Martín Barbero. Foca-se em apontar alicerces teóricos fundamentais para compreender a estruturação do pensamento comunicacional regional, suas contribuições e limites analisados de uma perspectiva crítica dialética. Palavras-chave: pesquisa teórica; América Latina; comunicação; autores paradigmáticos.

ABSTRACT

The article systematizes the epistemic reflexion work about production of knowledge of the three main authors who formed the theoretical field of communication in Latin America Eliseo Verón, Armand Mattelart and Jesús Martín Barbero. The focus is to point out fundamental theoretical foundation for understanding the structure of regional communicational thought, its contributions and limits analysed under a critical dialectic perspective. Keywords: theoretical research; Latin America; communication; paradigmatic authors.

1. Professor/Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação UNISINOS (doutorado e mestrado). Pós-doutor em Comunicação Universidade Autônoma de Barcelona(2004-2005). Coordenador do grupo de pesquisa Processos Comunicacionais (UNISINOS/CNPq).

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Aportes de Eliseo Verón Estruturações técnicas formais e modelos teóricos A problemática da comunicação, com Verón, deixou de ser um problema singelo para tornar-se crucial na práxis teórico-metodológica de importantes pensadores, pesquisadores e comunicadores críticos na América Latina.Tanto o modelo “ciespalino” de investigação funcionalista na América Latina quanto o modelo “frankfurtiano” foram seriamente questionados.O mérito de Verón não foi simplesmente trazer para a região os postulados e procedimentos da antropologia estrutural, da semiologia francesa e da psicologia da comunicação de Palo Alto.Sua característica fundamental, naqueles anos, era a utilização aprofundada e crítica desses e de outros modelos e sua coragem para propor inovações. Numa perspectiva metodológica é muito importante o diálogo estabelecido por Verón entre várias teorias; não obstante os problemas e limitações, é fundamental a perspectiva integradora de vários modelos para construir um objeto no caso da comunicação social, que se configura nos limites de várias ciências. Um problema metodológico importante, formulado por Verón em 1967, foi o deslocamento na problemática ideológica do estudo das abstrações teóricas para a pesquisa da vida cotidiana; do como essas estruturas ideológicas estão presentes no dia-a-dia dos telespectadores, dos leitores e dos radiouvintes. Verón, prematuramente, nas ciências sociais, formulava a necessidade de pesquisar e teorizar acerca dos meios de comunicação como produtores-chave de ideologias. A ideologia como uma dimensão central da produção de sentido começava a configurar-se, no pensamento de Verón, de maneira sólida e estratégica. Analisando, retrospectivamente, comprovamos que essas proposições mantiveram-se nos últimos trinta anos e são parte importante de sua concepção sobre discursos sociais. Verón organiza, assim, uma lógica mais complexa para o estudo ideológico, superando a noção básica de ideologia com conteúdo da mensagem: Cuando digo algo, el modo en que lo digo y lo que no digo y podría haber dicho son aspectos inseparables de lo que digo.La información transmitida no es, pues, como muy claramente lo ha señalado Ashby, una propiedad intrínseca del mensaje individual, sino que “depende del conjunto del cual proviene”(ASHBY, 1960, p. 172)2(VERON, 1971, p. 145).

Uma característica permanente na práxis metodológica de Verón é o método comparativo que aprendeu na antropologia estrutural. O estudo das fontes de informação, necessariamente, na sua perspectiva, com a qual concordo em todos os sentidos, deve considerar as operações de comparação e diferenciação. O ponto de partida de todas essas análises para os pesquisadores, na proposta do autor, tem que ser as mensagens mesmas, que permitem reconstruir o repertório e pesquisar as combinações.Só trabalhando com o material empírico, concreto, teremos possibilidade de compreender sua estrutura ideológica.Esse postulado de Verón o aproxima das propostas de Peirce e culmina com suas análises em produção.Numa perspectiva metódica, é fundamental reconhecer seu posicionamento a favor da pesquisa empírica como elemento imprescindível para qualquer interpretação teórica. Para Verón, o critério ideológico tem força metodológica singular porque participa na definição do corpus da pesquisa, tanto na seleção de mensagens quanto na definição dos critérios de homoge2. W. R. Ashby, ed. cast.Introducción a la cibernética, Buenos Aires, Nueva Visión, 1960.

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neidade.Esses critérios são exteriores ao método porque são construídos a partir do problema central que se vai investigar.Essa problemática define os métodos adequados ao objeto e não o contrário3.

Pesquisar o óbvio e o trivial Verón refletia sobre as escolhas metodológicas dos grandes pensadores em ciências humanas: Obsérvese que tanto en el caso de Marx como en el de Freud, la importancia del análisis no reposa en el “descubrimiento”de un campo desconocido o de un objeto nuevo existente en la realidad. El punto de partida está dado por objetividades familiares, cosas que, por decirlo así, están muy próximas a la conciencia subjetiva de la vida cotidiana. En efecto, qué más familiar que el trabajo, el dinero o los bienes materiales que consumimos diariamente?Son para usar la expresión de Marx, cosas “evidentes y triviales” (MARX., 1959, p. 36). Qué más inmediato y conocido, qué más próximo a nosotros que nuestra conducta, nuestros actos fallidos, nuestros sueños? Se trata de fenómenos “vulgares”, que se manifiestan “incluso en los individuos más normales” (FREUD, 1948, p. 96) (VERON, 1971, p.10).4

A opção por questões “evidentes” e “triviais” não é uma escolha particular da comunicação.As ciências sociais têm que estudar o homem e sua realidade concreta; elas devem compreender os elementos básicos, que são parte do dia-a-dia social, procurando sistematizar os saberes sobre as formas culturais de vida, como orientação metódica inquestionável no pensamento metodológico sério. Aliás, as declarações sobre “objetos nobres” e “objetos vulgares” não passam de expressões pomposas de intelectuais elitistas.

Modismos e superficialismos Verón está certo quando sublinha que Althusser, MacLuhan e Baudrillard permitiram o desenvolvimento de modismos e superficialismos de pensamento; não obstante, esses modismos também encontraram espaço, esquemas e condições adequados na semiologia e na semiótica. No caso de ensaios sem pesquisa, que retoricamente se apresentam como teorias, o autor precisa de um especial domínio retórico/literário para produzir um efeito de sentido social de transcendência; geralmente esses bens simbólicos produzem estragos nos modos de aprender, de pensar e de discutir dos estudantes e pensadores, levando-os para “doutas-ignorâncias”. As artes de fazer semiológicas e semióticas exigem um aprendizado, um referente técnico, conhecimento de esquemas descritivos, mas isso não significa que garantam uma produção aprofundada, criativa e inovadora. Acontece que a retórica, nesse caso, é formal, sustenta-se na força simbólica dos esquemas pseudo-matemáticos, o que tornava os sistemas profundos de comunicação especialmente adequados para criar uma imagem de legitimidade científica e de conhecimento afinado. O contraste entre a realidade, com suas exigências de renovação metodológica paulatina, e os esquemas e exercícios hiper-estruturados foi que eles, necessariamente, entraram em crise pelo seu formalismo impossibilitado de compreender a pertinência da dinâmica de transformação metódica. 3. Eliseo Verón, “Ideologías y comunicación de masas: la semantización de la violencia política”, In Lenguaje y comunicación social, 1971. p. 145: Los criterios de definición de la homogeneidad son, en sentido estricto, convencionales, o si se prefiere puramente formales en símismos, pero su especificación no deja por ello de ser importante, porque dichos criterios afectan la significación de lo que podamos encontrar cuando analicemos el corpus. Nada impide que constituyamos un corpus totalmente arbitrario: podemos por ejemplo reunir un conjunto de novelas de muy distinta época, y seleccionar fragmentos al azar para formar un corpus. Las reglas del método podrán serle aplicadas:lo que probablemente ocurra es que los resultados que obtengamos carecerán de toda significación y nuestro análisis será un juego puramente formal. Desde el punto de vista del investigador, las reglas para la selección del corpus (y por consiguiente, los criterios para su homogeneidad) dependen pues de consideraciones sustantivas, y estas determinarán la significación de los resultados que se obtengan. 4. As obras citadas por Veron são: Marx K., El Capital, México, Fondo de Cultura Económica, 1959, p. 36; FREUD, Obras completas, Madrid, Editorial Biblioteca Nueva,1948, vol.II, p. 96.

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Se partirmos do reconhecimento das limitações próprias do conhecimento humano, que compreende e aprofunda cada dia os saberes sobre o universo, devemos simultaneamente considerar que esse saber é enorme e ínfimo ao mesmo tempo; o mundo traz a cada dia novas informações, muda questões que pareciam definitivas, oferece novas problemáticas, fere profundamente os esquemas que se concebem como saberes “absolutos”, obriga a construir novos percursos de pesquisa e muda até o que parece mais sólido e forte5. O fundamental é reconhecer que, numa perspectiva metodológica, o objeto determina os métodos e os instrumentos técnicos de que precisamos para compreendê-lo.

Pesquisa teórica, originalidade e autonomia Apesar do significativo crescimento da pesquisa em comunicação durante os anos 1980 e 1990, a pesquisa teórica continua sendo um campo muito restringido trabalhado por poucos pesquisadores e com fortes problemas de circulação no meio acadêmico. Embora a disciplina de teoria da comunicação seja obrigatória na maioria dos cursos da América Latina, os textos teóricos de autores latino-americanos têm uma circulação restrita. Por outra parte, o trabalho teórico apresenta grandes dificuldades pela fragmentação e ambigüidade das proposições críticas. A crise dos paradigmas não foi um processo que afetasse os burocratas do pensamento; eles normalmente mudam de esquema de acordo com as modas ou conveniências econômicas. O pragmatismo, a aplicação quase mecânica de técnicas, a racionalidade instrumental continuam tendo hegemonia e sendo o referente, independentemente de o pesquisador ter mudado seu rótulo de “socialista” para “emergente global”, antes e hoje o modelo metodológico hegemônico foi e é esse, seja na esquerda ou na corrente funcionalista. O positivismo de fundo inspirou e motiva o desenho de currículos, projetos, pesquisas e quadros teóricos. Os postulados, proposições, conceitos pareceriam estar prontos em confortáveis pacotes acabados. É muito difícil inserir no pensamento de estudantes e pesquisadores a concepção de que o pensamento deve ser construído, aperfeiçoado, criticado, reformulado em cada pesquisa. É muito mais simples juntar questões elaboradas por autores de prestígio e de moda e redigir um quadro teórico agradável.

Construtor de métodos Verón tem como uma de suas facetas principais ter sido, também, um metodólogo: a importância que concedeu à pesquisa na sua atividade intelectual exigiu essa definição. Seus diagnósticos sobre a produção de conhecimentos não se limitaram a construir argumentos ou elaborar abstrações sobre temas determinados, periodicamente preocupou-se com a construção de procedimentos; a crítica das técnicas e a reflexãodos métodos têm sido uma característica do autor. Essa preferência pela dimensão metodológica está presente, a meu ver, também na sua escolha pela pesquisa administrativa de assessoria de comunicação para grandes empresas automotivas francesas6. A formulação de modelos de pesquisa foi continuamente uma de suas principais preocupações; parte de sua transcendência no campo da comunicação no continente tem como alicerce esse aspecto. Foi um dos pioneiros da pesquisa semiológica dos meios de comunicação na América Latina. Independentemente de seus formalismos, essa prática intelectual foi muito importante para começar a construir um campo de investigação crítico e sistemático na região. Além de classificar os tipos de pesquisa, Verón situava o modelo teórico-metodológico geral ao qual pertenciam, isto é, a sociologia do desenvolvimento norte-americana; também analisava

5. Karl Marx:(...) até as categorias mais abstratas, ainda que válidas -precisamente por causa de sua natureza abstrata- para todas as épocas, não são menos, sob a forma determinada desta mesma abstração, o produto de condições históricas e só se conservam plenamente válidas nestas condições e no quadro destas; In K. Marx, Contribuição para a crítica da economia política, São Paulo: Martins Fontes, 1977, p. 233. 6. Eliseo Verón: Trabajé por ejemplo en el análisis de las modalidades de percepción de las formas de automóviles.Se generaron modelos semiológicos de descripción de formas para Renault, para Peugot, y el análisis semiológico de las formas aparece como una fase esencial de la descripción de los nuevos productos; In revista Causas y Azares, # 3, 1995, p. 17.

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autores que elaboraram uma crítica aprofundada desse paradigma7. A força dos métodos descritivos espalhados extensamente pelo funcionalismo, paradoxalmente, deixaram uma marca no autor. A partir de uma perspectiva diferente do modelo desenvolvimentista, mas reconhecendo no plano metódico a importância da descrição, Verón construirá suas pesquisas inserindo essa fase. Parte de seu desencanto com a lingüística e a semiologia estruturalista foi a incapacidade desses modelos para fabricar descrições afinadas do real.

Peirce, Frege e o método “oblíquo” O quadro teórico de referência da formulação do modelo metodológico nomeado análise de discursos sociais (versão Verón) é a semiótica de Peirce e o modelo ternário de Frege. Vinculando esses dois discursos de produção com seu método analítico, observamos que o procedimento comparativo-diferencial fundamenta-se na noção de rede discursiva como condição necessária para poder falar de um texto (Peirce), na necessidade de contar com uma dimensão referencial na análise e na produção de sentido. O método diagonal de Verón fundamenta-se na proposição peirciana de que um signo não pode nunca representar a totalidade de um objeto, sempre o reproduz numa perspectiva determinada. A visão frontal do objeto (confusa) em Verón equivaleria ao objeto imediato de Peirce; o objeto dinâmico só pode ser enunciado e caracterizado no raciocínio Peirce-Verón a partir da interdiscursividade, a construção do objeto só é possível considerando os vários discursos ou perspectivas que o concebem. O objeto pensado necessita da semiose para sua existência; ele expressa na sua configuração a interdiscursividade que o simboliza. Na perspectiva dos efeitos de reconhecimento, se bem não temos um efeito único, também não são completamente indeterminados e é possível relacionar os efeitos de sentido com as propriedades do discurso. O efeito nunca é arbitrário e depende das estratégias de enunciação. Nesse sentido, a caracterização das operações de construção dos textos, das propriedades de seus elementos, oferece pistas para compreender o campo de efeitos de sentido. No modelo de Verón dos discursos sociais, a classificação das dimensões dos textos em indiciais, icônicas e simbólicas8, seguindo a de Peirce, permite-lhe organizar diversos tipos de características de apresentação dos signos. Verón apresenta uma distinção forte com relação à concepção de Peirce referente à ordem indicial, que na ótica de Verón é existencial, de contato, e na de Peirce é analógica, de similaridade. Por meio desse recurso Verón consegue descrever os comportamentos, os corpos e os gestos como signos. Seu velho problema sobre o significado da ação tem uma saída concreta nesse esquema: para Verón o indicial é existencial não-analógico, é da ordem do contato, 7. André Gunder Frank, “Sociology of development and underdevelopment of sociology”, Catalyst, University of Buffalo, 5 (1967): 2073;José Nun, “Los paradigmas de la ciencia política: un intento de conceptualización”, Revista Latinoamericana de Sociología, 2 (1966) 1: 67-97; Silvia Sigal, “Participación y sociedad nacional: el caso de las comunidades rurales latinoamericanas, Revista Latinoamericana de Sociología, 3 (1967) 1: 4-40;RodolfoStavenhagen, “Siete tesis equivocadas sobre América Latina”, Desarrollo Indoamericano, 1 (1966) 4: 23-27;Pablo González Casanova, Las categorías del desarrollo económico y la investigación en ciencias sociales, México, UNAM,1967. Essas referências estão em Eliseo Verón, Ideologia, estrutura e comunicação, 1977, p. 217-218. 8. Verón, 1977, p.88-89: Vamos a pasar a la cuestión de las materias, relacionada con la distinción entre símbolo, ícono e índice. Todo signo comporta tres dimensiones, un orden simbólico, un orden icónico y un orden indicial. No quiere decir que un signo sea símbolo o ícono o índice, sino que las tres dimensiones están presentes en cualquier signo (...) Desde el punto de vista de Peirce es el orden de relaciones de significación que implican relaciones existenciales. En el caso de la dimensión simbólica, es el orden del arbitrario lingüístico, que para Peirce es el orden de la ley, de la necesidad. El orden icónico es el de la imagen que funciona por similitud en una relación de representación y el indicial es el orden existencial-para dar un ejemplo banal- porque el humo es índice del fuego. Hay una relación causal de términos. Pero lo que parece importante es que el orden indicial es esencialmente todo el universo significante del comportamiento, el universo en tanto soporte de la discursividad. (...) Peirce habla mucho de ese orden indicial, pero por desgracia lo llama analógico, y de ese modo resulta muy confuso.(...) Todo el orden de los gestos, que los norteamericanos llaman “proxemia”, el orden de los códigos gestuales, pertenece a la esfera del índice, porque es el orden del contacto.Por eso elfactor fundamental de este orden es lo que puede llamarse el cuerpo significante, el orden de la corporiedade. (...)la relación indicial no funciona sobre el principio de la similaridad (...) Hay una relación existencial.Pero todas las relaciones (por eso hablo de “contacto”, que es en cierto modo el régimen topológico de la significación) de proximidad y alejamiento pertenecen al orden indicial.[Destaques em negrito são meus].

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da proximidade e do afastamento (tem a ver com sua antiga classificação de signos metonímicos). Esses elementos definem o “contato com o receptor”(VERÓN, 1977, p.90). Por isso, pensa em termos de dimensões e não de tipos; a ordem indicial historicamente é a mais arcaica, marca o ingresso dos sujeitos no universo simbólico. A dimensão indicial é condição histórica para a existência das outras dimensões, existe em todo tipo de discurso. Na escrita, Verón coloca a diagramação, os tipos de letra, os tamanhos, as cores etc. como elementos de contato com o receptor9. A importância que Verón outorga a esta ordem pensoestar justificada pelo alto investimento que observamos no indicial nos programas de TV, nos jornais, nos noticiários etc. As matérias significantes estão formadas por composições complexas das ordens indicial, icônica e simbólica, que adquirem importância dependendo do contexto em que se situam. No modelo metodológico de Verón, corpos, gestos, olhares, espaços, movimentos, cenários são inseridos na ordem do contato com o receptor. A força dessa ordem estaria na sua importância histórica, arcaica, que possui profundas marcas nos sujeitos, na sua estrutura cerebral e que condiciona o resto das ordens materiais. O alto investimento feito pelas indústrias de comunicação no contato com os públicos se explicaria desse modo. A partir daí, Verón argumenta a supremacia da enunciação (do modo) com respeito ao enunciado; em outras palavras, as operações de construção de um discurso devem considerar como básica para sua realização a ordem do contato, o modo e as formas de expressar um mesmo enunciado mudam profundamente seu significado. O percurso metodológico de Verón nos seus discursos sociais levou-o a procedimentos menos formais na dimensão metódica, mas simultaneamente exclusivistas na dimensão teórica (sobretudo Peirce). Sua cosmovisão reduziu-se a questões pragmáticas, a análises concretas e a problemáticas pontuais. Paradoxalmente, como sublinhamos em outras passagens, no plano metódico, suas análises são mais livres, não tem problema em construir conceitos operativos, define públicos como coletivos plurais (cidadãos, operários, elementos fragmentários), coletivos de identificação (vínculos entre o enunciador e o destinatário), coletivos singulares (não fragmentáveis: república, Estado, povo, tradição etc.). Observando os programas políticos e suas estratégias, Verón define componentes operativos muito interessantes numa análise discursiva: componente distintivo (dimensão histórica, enunciador depositário do saber do passado, presente e futuro; intervenção numa linha temporal); componente didático (função referencial; relação do discurso político com o real; anuncia as verdades absolutas, gerais); componente da ordem do dever (de modo explícito supõe a exortação); componente programático (ideal imaginário; o poder fazer)(VERÓN, 1977, p.116). Examinávamos nas pesquisas realizadas por Verón nos anos 1960 e 1970 umaforte dose de formalismo, expressa em esquemas semânticos e semiológicos de forte estruturação construtiva. Existia uma separação muito grande entre a dimensão teórica (que na época era pluridisciplinar, abrangente, macrossociológica e crítica) e a dimensão metodológica e técnica. Os métodos eram detalhistas, tecnicistas, especializados e não permitiam interpretações próprias a partir das suas descrições; nesse aspecto, os modelos de Verón eram profundamente contraditórios com seus postulados cientificistas, porque a fase descritiva da pesquisa não oferecia nenhuma ponte argumentativa para vincular-se à teoria. As interpretações sociológicas, muito importantes e abrangentes, partiam dos quadros teóricos que Verón paralelamente trabalhava, mas não possuíam uma continuidade lógica com a pesquisa. Do lado teórico, Verón era um autor aberto que combinava vários paradigmas com flexibilidade, procurava relações, vínculos, complexidades entre várias disciplinas e modelos de pensamento; do lado metódico, perfilava-se um estruturalista, semântico, que aprisionava as idéias em esquemas formais. A crise da semiologia, do marxismo, do estruturalismo e do funcionalismo, que explode em finais dos anos 60, leva Verón a um posicionamento teórico cada vez mais fechado, sua defesa 9. Não em nível de dimensão, mas de função, Roman Jakobson definiu a função factual da linguagem que servia para manter o contato; o exemplo típico na fala são os cumprimentos.

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em face da crise dos seus referentes teóricos levou-o ao “espaço seguro” da semiótica de Peirce. Teoricamente fechou seu leque para Chomsky, Frege e Peirce. Os referentes antropológicos, psicológicos, sociológicos foram deixados de lado.Verón torna-se o semiótico que afirma o social ao interior do discurso, porém rejeita as explicações sociológicas gerais. A semiótica é, na sua lógica, a dimensão fundamental constitutiva do social. Por isso, conseqüentemente, sua escolha para estudá-la. Na dimensão metodológica, suas análises da programação da mídia tornam-se mais interessantes, suas construções são mais livres dos esquemas, apesar de sempre ter um deles como referente. Penso que uma leitura crítica do método de Verón pode oferecer elementos importantes para a pesquisa em comunicação, inserindo orientações e procedimentos interessantes a partir de problemáticas e objetos com transcendência sociocultural e política abrangentes.

Contribuições de Armand Mattelart Atividades germinais Armand Mattelart começou sua trajetória de pesquisador como demógrafo. Contratado pela Escola de Sociologia da Universidade Católica do Chile, seus primeiros trabalhos são investigações administrativas, inseridas na metodologia da sociologia funcionalista das populações10. Sua reflexão, epistêmica na época, foi insistente acerca da importância da participação política na formação do pensamento e da consciência. O processo histórico de formação do pesquisador Armand Mattelart aconteceu do seguinte modo: partiu do método funcionalista de estudo da sociedade; ao perceber fortes contradições entre suas aplicações metódicas e a realidade social, foi adotando e construindo procedimentos críticos. É um fato que existiu na sua prática de investigação, nesses primeiros anos, um tipo de instrumentalização mecanicista dos procedimentos estruturalistas; no entanto essas características não configuraram um modelo definitivo. Como esclarece o autor, foram conseqüência da carência de uma metodologia crítica e da fortíssima exigência histórica que a conjuntura chilena de finais dos anos 1960 e começos dos 1970 marcava.

Economia política da comunicação Armand Mattelart não é o tipo de pensador dogmático que no convívio com um modelo teórico-metodológico fica obnubilado por ele. Prematuramente percebeu que a compreensão da complexidade dos processos de comunicação social precisava de um tecido teórico-metodológico muito mais abrangente. Foi por isso que estabeleceu a necessidade de estudar e aplicar a economia política dos meios: Agresión desde el espacio. Cultura y napalm en la era de los satélites (1972); La cultura como empresa multinacional (1974) e Multinacionais e sistemas de comunicação (1977). Para o autor foi fundamental caracterizar as condições de produção, circulação e consumo dos sistemas de comunicação hegemônicos. Para resolver essa problemática, optou pelo método marxista de estudo das políticas, das estratégias, das operações econômicas no capitalismo. Realizou um trabalho minucioso a respeito das inter-relações entre o sistema político e militar dos Estados Unidos e os novíssimos sistemas de informação e comunicação via satélite existentes na época. A militarização do espaço não foi uma invenção de Mattelart, mas sim uma condição estratégica para manter a hegemonia na época de uma aguda guerra fria. Por outra parte, os estudos de economia política dos meios também respondiam a uma demanda concreta do governo socialista de Salvador Allende no Chile (1970-1973), que comprovou no dia-a-dia uma agressão sutil e planejada contra seu projeto de transformação social.

10. Mattelart, 1980, p. 173 : “Cuando nos encontramos frente a los editoriales de El Mercurio (fui formado en la escuela funcionalista, si he cambiado es porque finalmente hay procesos sociales de por medio) estávamos vacíos de metodología crítica”.

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O percurso metodológico levou Mattelart a investigar os projetos e estratégias dos sistemas em funcionamento, a pesquisar a estrutura de poder das empresas multinacionais que controlavam o mercado das comunicações, suas relações com outros ramos da economia, os nexos com o Pentágono e a Casa Branca e sua participação na política internacional durante o século XX. Esses textos de Armand Mattelart são uma contribuição inestimável para o conhecimento da economia política dos meios transnacionais de comunicação porque eles não ficaram numa denúncia primária da exploração, pelo contrário, aprofundaram e sistematizaram informações interessantíssimas sobre o funcionamento das grandes empresas mundiais e do poder político hegemônico. O volume de informação, a qualidade dos dados, a variedade de fontes e a sistematização alcançada pelo autor são um conjunto de virtudes de procedimento científico poucas vezes encontradas no nosso campo.

Deslocamentos metodológicos A transdisciplinaridade passou a ter uma importância central para Armand Mattelart. Dessa maneira, construiu o caminho para refletir sobre a produção teórica em comunicação. Na primeira metade da década de 1980, ocorreu uma importante ruptura epistemológica em Mattelart; esse processo foi estudado com detalhes no capítulo 3.1. de seu livro epistemológico fundamental: Pensar sobre los medios/Comunicação y crítica social (MATTELART, MATTELART, 1987)11, obra que marca a necessidade do autor de concentrar-se na reflexão das teorias da comunicação. Aflito pela moda pragmatista vigente nas esquerdas francesas desde começos dos anos 80, nosso autor sentiu a necessidade de suprir a carência teórica que afetava as explicações, os projetos e as políticas de comunicação do governo socialista francês e das esquerdas, realizando uma reflexão aprofundada sobre os paradigmas de pensamento que têm relação com a problemática dos meios de comunicação. Um dos procedimentos centrais estabelecidos por Mattelart para realizar uma produção teórica crítica é interrogar-se sobre as condições de produção de toda teoria, de todo livro, de toda pesquisa. É importante compreender o processo de produção de uma investigação: quais fatores políticos, históricos, sociais, contextuais tornaram possível fabricar um produto de conhecimento. Desse modo, quem tenta realizar um trabalho teórico, deveria começar contextualizando seu objeto de estudo, quebrando o fetichismo da mercadoria-simbólica que recebe. Segundo Mattelart, só o pesquisador que indaga acerca dos objetivos, dos modos de realização, dos detalhes concretos que tornaram possível uma obra, pode definir-se numa perspectiva crítica inovadora (MATTELART, 1980, p.168). Longe de um determinismo e mecanicismo elementares, Mattelart relaciona as problemáticas políticas, financeiras, geopolíticas, sociais, religiosas, filosóficas e tecnológicas de forma plural. Nesse sentido, seu método de análise teórica mudou consideravelmente nos anos 80, passando de uma postura vanguardista e exclusivista revolucionária para uma maneira de pensar mais rigorosa, aprofundada, plural e abrangente. Os mesmos problemas e as mesmas problemáticas, estudadas nos primeiros anos só por meio de poucas perspectivas, na segunda época conservaram seu valor crítico, seu valor de denúncia, mas adquiriram fortaleza teórica incorporando métodos e visões mais afinados. É paradigmática sua passagem de Althusser para Gramsci, dos apocalípticos para Walter Benjamin, do estruturalismo para Michel de Certeau, do determinismo econômico-político para os estudos culturais. A preocupação crítica de Mattelart com a transformação do mundo guia suas propostas teóricas e metodológicas. A aplicação do método da economia política para pesquisar os sistemas e as redes de informação hegemônicos visa compreender de forma mais aprofundada o funcionamento do capitalismo e do poder da mídia no campo da comunicação social. Suas proposições metodológicas sobre a necessidade de utilizar métodos antropológicos, sociológicos, históricos, políticos e 11. Publicado no Brasil pela editora Loyola como Pensar as Mídias, São Paulo: 2004.

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econômicos no estudo dos processos de comunicação partem do fundamento essencial de subversão do sistema capitalista e, portanto, da necessidade de compreender da melhor forma os fenômenos comunicológicos das diversas classes, grupos, comunidades e sujeitos.

Os saberes antropológicos Desde sua primeira fase, como teórico e pesquisador, Mattelart salientou a importância da antropologia e de seus métodos para estudar o campo da comunicação social, versando sobre as alternativas metodológicas.A descrição detalhada das ações e das linguagens dos atores individuais rompe com o psicologismo comunicológico e responsabiliza os antropólogos pelo desenvolvimento de percursos interpretativos, sustentados previamente nas análises descritivas dos processos. Para o campo da comunicação isto é muito importante, porque a Cultura não é uma dimensão indefinida. Seguindo Geertz, a define como uma “rede complexa de significações”, na qual as relações entre enunciados discursivos e comportamentos sociais têm uma significação concreta. A análise cultural é, contudo, insuficiente para explicar os processos de comunicação; ela não dá conta das questões políticas, econômicas, sociológicas, psicológicas, filosóficas, históricas e semióticas na sua generalidade, por isso, Mattelart a considera fragmentária e incompleta. Na história recente, anos 1980 e 1990 do século XX, esse apontamento é visível nas pesquisas etnográficas dos autores que reduzem a problemática comunicológica aos problemas e características microssociais, pensando a sociedade como uma somatória linear de elementos micro. As problemáticas do poder hegemônico global, das relações de classe e da economia-política das comunicações são ignoradas. Os estudos reduzem-se a descrições pormenorizadas de assuntos sem nexos com o histórico e o social.

O cotidiano A problemática da comunicação para Mattelart, com a inserção da metodologia do cotidiano, aprofunda-se e amplia-se significativamente. O sujeito, membro de uma classe de seus primeiros escritos, torna-se concreto, inserido num grupo social, num contexto histórico, numa vida familiar, numa comunidade de vizinhos e em relações interclassistas cotidianas. Esses sujeitos estruturam, no dia-a-dia, complexidades de sentidos, de comportamentos e de construções materiais que devem ser compreendidas pelos comunicólogos. Mattelart amplia sua perspectiva de conhecimento porque sua problemática de transformação dos processos, dos modos e das formas de comunicação social não fica reduzida à contradição entre burguesia/proletariado ou às conjunturas pré-revolucionárias. O vanguardismo de um partido ou um bloco, que organizaria a produção cultural revolucionária, é superado mediante a construção de uma concepção que afirma a existência de culturas populares, independentemente da vontade, dos planos, dos programas ou dos desejos dos militantes de esquerda. Metodologicamente, Mattelart afirma a importância do estudo comunicológico do sujeito sem restringir essa pesquisa só aos sujeitos transcendentes (figuras históricas); é importante, seguindo a linha de pesquisa de Certeau, conhecer os indivíduos “ordinários”, pois são estes que constituem a grande massa que conforma as classes sociais subalternas, que produzem uma cultura qualificada por outros parâmetros e valores, distintos da lógica do mercado e do lucro.

Perspectiva histórica A pesquisa histórica para Mattelart permite questionar dois modelos que possuem muita força no contexto contemporâneo da comunicação: o comunicacionismo, que ele define como um tropismo inebriante, que tenta inserir na comunicação toda problemática central das sociedades, situando-a como eixo determinante das formações sociais. E a filosofia pragmatista, que ampliou, a partir dos anos 1980, as formas de pensar, pesquisar e realizar a comunicação social. Na realização

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de seu método histórico, Mattelart partiu do estudo do presente, construindo sua pesquisa: Comunicação mundo/ história das idéias e das estratégias, em que versa acerca da problemática da guerra: (...) redes técnicas de comunicação; multidões; as forças armadas e a pesquisa em comunicação e as grandes guerras mundiais e o desenvolvimento de tecnologias e métodos de investigação em comunicação; o choque das ideologias e as escolas da astúcia. A problemática do progresso: as metamorfoses conceituais, o otimismo modernizante do capitalismo hegemônico; a regulação internacional da informação e comunicação.Finalmente, a problemática da cultura: a função básica do Estado; o predomínio da geoeconomia: a busca da cultura global; mediações e mestiçagens: a desafronta das culturas (MATTELART, 1994) [Destaques em negrito são meus]

A globalização é estudada nas suas vertentes teórico-militares, políticas, financeiras, geopolíticas e sociológicas, explicitando de maneira aprimorada os elementos, os processos, as ideologias, os projetos, as estratégias, os paradigmas políticos e de pensamento que sustentam o modelo global capitalista de organização do mundo. Mattelart partiu do presente para formular suas perguntas-chave, porque para ele a motivação teórica, a transcendência social, o valor histórico e a coerência ética estabelecem uma estreita relação entre produção de conhecimentos e militância transformadora. Armand Mattelart é um dos mais destacados historiadores internacionais do campo das teorias, dos métodos, das estratégias, das culturas, das idéias, das políticas, dos sistemas e das tecnologias de comunicação. Tem aprofundado, também, os conhecimentos econômicos, trabalhando uma economia política específica sobre a problemática dos meios, das formas, dos modos de comunicar que configurou um quadro de relações substanciais dos processos internacionais de informação e comunicação contemporâneos. Mattelart é, da mesma forma, um relevante sociólogo da cultura, que tem estudado as principais problemáticas culturais vinculadas à comunicação; são singularmente importantes suas pesquisas metodológicas acerca das propostas de Antonio Gramsci sobre as culturas nacionais e populares, de Walter Benjamin sobre a estética da época industrial, dos Cultural Studies ingleses acerca das culturas operárias e de recepção dos meios, do Colégio Invisível sobre a problemática do espaço em comunicação, de Paulo Freire a respeito da profunda relação entre comunicação e educação, de Michel de Certeau acerca da crítica às estratégias ortodoxas e totalitárias sobre a cultura cotidiana. Finalmente, Armand Mattelart é um eminente estrategista político do campo comunicacional, tendo desenvolvido, durante as três últimas décadas, numerosas pesquisas e estudos a respeito das políticas internacionais de informação; sua crítica às estratégias norte-americanas é especialmente transcendente pela riqueza dos seus dados e a profundidade das suas reflexões. Posso afirmar com base nas minhas pesquisas da obra desse autor e do seu percurso histórico no campo comunicológico que ele constitui um autor/paradigma, um fundador12 de proposições fundamentais para as teorias críticas e os métodos transformadores na América Latina e no contexto internacional. Suas sistematizações sobre as problemáticas abordadas são um exemplo de trabalho sério, de tenacidade, de compromisso ético com a humanidade e com o conhecimento, situação raramente observada no contexto comunicológico. Transdisciplinaridade teórico-metodológica, posicionamento crítico radical, pluralidade de perspectivas e diálogos,trabalho incansável e militância conseqüente caracterizam este grande mestre de nosso tempo. 12. Defino Armand Mattelart como um fundador porque ele gerou uma obra científica que tem um amplo reconhecimento nas comunidades de pares na América Latina. Motivou, concomitantemente, uma corrente crítica de pensamento e pesquisa em comunicação que constitui um dos referentes obrigatórios da história do campo na região. Formulou um conjunto de obras essenciais para a reflexão e a investigação na área. Desenvolveu estratégias de ação transcendentes no Chile de Allende, em Moçambique, na República Dominicana, na Nicarágua sandinista, em Cuba, nos Estados Unidos, na Venezuela e na maior parte de países latino-americanos, produzindo importantes projetos de comunicação.

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Propostas metodológicas de Jesús Martín Barbero Rupturas cruciais Jesús Martín Barbero vem atuando como um distinguido metodólogo no campo da comunicação social na América Latina; suas propostas, orientações, projetos e reformulações influenciaram consideravelmente as principais comunidades de pesquisadores na região. Podemos situar como um primeiro momento-chave de sua contribuição metodológica a apresentação do trabalho “Retos a la investigación de comunicación en América Latina”13, em 1980, na ALAIC. Nesse trabalho questiona o lugar a partir do qual se praticava a pesquisa em comunicação na América Latina; para situar essa problemática, estabeleceu primeiro o contexto político-econômico em que se inseria a atividade dos investigadores naquela época: transição de ditaduras para democracia restritas e controle crescente do poder transnacional das políticas nacionais. Jesús Martín apontou, com singular propriedade, como a transculturação denunciada e caracterizada por importantes autores críticos, desde os anos 1920, era produzida como retórica pelos intelectuais orgânicos do sistema (mídia) e se convertia em intercâmbio de relações interculturais. No caso da comunicação social, veio a impressionar como a problemática da Nova Ordem Internacional da Informação e a Comunicação (NOIC), um campo de estudos, formulações e políticas renovadores em que a participação latino-americana revelou-se importantíssima, foi anulada pela retórica do free flow ofinformation (MATTELART, MATTELART, 1997, p.100-101); até hoje a ofensiva nesse campo têm os EUA que, logo da expansão da Internet, fortaleceu enormemente a ideologia de que realmente existe um fluxo livre de informações no mundo. Os incautos, que se contam em centenas de milhões, pensam que todo tipo de informação está à disposição de todas as pessoas; supõem que as informações e conhecimentos estratégicos não são parte fundamental do capital e da formação de mais-valia relativa nos dias atuais (HARVEY, 1992, p.174). O mito da tecnologia como elemento que resolverá todos os problemas econômicos, sociais e educativos do presente é uma fonte de retórica, que nesta fase histórica continua quase que inesgotável. De fato, a hegemonia do meio técnico-científico informacional na configuração das formas de produção é incontestável.

Importância da pesquisa teórica Jesús Martín Barbero desde seus primeiros anos no campo da comunicação foi um autor que defendeu incansavelmente o direito de as comunidades do Terceiro Mundo desenvolverem pesquisa teórica: Tema-trampa, la problemática del hacer teórico sigue mirándose en América Latina como algo sospechoso. Desde la derecha porque hacer teoría es un lujo reservado a los países ricosy lo nuestro es aplicar y consumir. Desde la izquierda porque los problemas “reales”, la brutalidad y la urgencia de las situaciones no dan derecho ni tiempo al quehacer teórico (MARTIN BARBERO, 1983, p. 84).

A pesquisa teórica em comunicação, passados 18 anos e meio desse diagnóstico de Jesús Martín, continua sendo um ramo de investigação muito restrito até mesmo entre os pesquisadores da área; a situação, nos meios profissionais, de professores e alunos é ainda mais precária. O triunfo conjuntural do modelo informacional constitui um contexto hegemônico muito difícil de ser su13. Jesús Martín Barbero, “Retos a la investigación de comunicación en América Latina”, comunicação apresentada na Assembléia de ALAIC (Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación), realizada em Bogotá-Colômbia, julho de 1980; publicada nas mais importantes revistas de comunicação da região.Cf. Procesos de comunicación y matrices de cultura/ Itinerario para salir de la razón dualista, p. 82-97.

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perado; as ideologias do saber-fazer e do pragmatismo impregnam a atividade de pesquisa com força abrangente e poderosa. A dimensão teórica é considerada, especialmente no nosso campo, como um lugar estranho e enigmático, quase sem importância para as sociedades, os grupos humanos e os sistemas de comunicação em funcionamento.

Perspectiva histórica A sua obra-prima, Dos meios às mediações, em muito é uma pesquisa histórica sobre essas formas históricas de longa permanência que são as matrizes culturais; tanto nos seus livros quanto nos artigos, comunicações, palestras, cursos e seminários, essa linha metodológica de pensar historicamente (MARTIN BARBERO, 1998, p. 25). é uma característica que Martín Barbero manteve durante toda sua trajetória intelectual14. A orientação metodológica de pensar historicamente a problemática da comunicação permitiu-lhe o desenvolvimento de questões sumamente importantes como a caracterização dos espaços cotidianos como pontos de encontro de vários tempos históricos. Na cotidianidade as pessoas misturam elementos do seu próprio passado, matrizes culturais antigas transmitidas pelos seus grupos de pertença, resíduos que constituem parte de seu presente, formas temporais atuais e expressões de temporalidades de outras culturas, raças, continentes ou etnias. Esses destempos, presentes num mesmo espaço cotidiano, são um elemento fundamental para pesquisar a problemática da produção de sentidos, os tipos de usos dos meios pelos públicos; as memórias e os imaginários.

Crítica do instrumentalismo Outra orientação metodológica importante em Jesús Martín Barbero tem sido sua crítica à concepção instrumentalista dos métodos e das técnicas; desde seus primeiros anos no campo, criticou os cursos universitários que ensinam Método como um conjunto de receitas sobre “funcionalismo-estruturalismo-marxismo”, sem aprofundar as características epistemológicas de cada paradigma. Na sua crítica sistemática ao funcionalismo o autor analisa a presença da concepção pragmática nos pensamentos, nas pesquisas e nos projetos críticos: Pragmatismo que se alimenta de aquella concepción espistemológica según la cual investigar se reduce a operativizar un modelo, a aplicar una fórmula, y en la que la objetividad se confunde con la estadística. Frente a esa concepción instrumentalista es necesario hacer hoy hincapié en que un método no es sólo una herramienta para abordar un objeto-problema, es también un punto de vista sobre el objeto que impide o posibilita que algo sea considerado problema (MARTIN BARBERO, 1983, p. 8).

Para o autor está muitíssimo bem definida a relação entre teoria e método. É curioso como até hoje, passados quase vinte anos dessas propostas de Jesús Martín, a maioria dos cursos 14. No Seminário Avançado de Pós-graduação que ministrou na ECA-USP entre 18-22 de agosto de 1997,Jesús Martín retomava seus postulados sobre a importância da História nos saberes em comunicação dizendo: Creio que necessitamos pensar o futuro, mas quem sabe, não a partir do presente, mas do que chamava Raymond Williams de formação social residual ou o que Benjamin falou fortemente sobre o passado redimido.(...) Das coisas que mais nos interessa em Walter Benjamin foi esta concepção que ele teve da história, de que não há um passado que acabou e depois o presente e depois o futuro.(...) Há um passado que ele chama [R. Williams] de residual que de alguma maneira é o passado não do que foi, mas do passado do qual estamos feitos(...) diz ele: “parte desse passado foi já recuperado pelo poder hegemônico”.É toda a dimensão do passado que serve à reprodução, mas há uma parte do passado que não pôde ser recuperada, cooptada pelo poder e que continua livre, continua tendo possibilidades de possibilitar um olhar distanciado do presente.Eu creio que isto eu devo a meu amigo Héctor Schmucler, resultado de um debate muito forte que tivemos sobre a nostalgia: o direito à nostalgia; era uma discussão e ele me fez entender como há nostalgias puramente idealistas, que idealizam o passado, qualquer tempo passado foi melhor.Más há nostalgias que são essa parte do residual que não foi cooptada pelo poder e que serve para tomar distância do presente, de um presente absorvido pelo progresso.Benjamin foi o primeiro intelectual de esquerda que não reclamou do progresso e disse que todo documento de cultura é ao mesmo tempo documento de barbarie.

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sobre metodologia e dos pensamentos de professores e pesquisadores na área conserva esse traço instrumentalista com respeito ao que é Método. O pragmatismo e o funcionalismo nestas duas últimas décadas tiveram uma presença muito forte na dimensão metódica; o instrumentalismo que as novas tecnologias de comunicação facilitam difundiu-se amplamente. Numerosos pesquisadores que em termos teóricos assumem posicionamentos críticos adotam modelos e estratégias metódicas funcionalistas. A essencial relação entre teoria (noções, postulados, hipóteses, conceitos, proposições, argumentos e problemas teóricos) e construção de métodos continua atualmente muito pouco compreendida (OROZCO GÓMEZ, 1997, p.132-133). Na prática, estabelece-se uma falsa dicotomia entre teoria e método, formulando problemáticas teóricas críticas divorciadas do desenho metodológico definido para desenvolver a pesquisa. Não existem métodos “prontos” para uma imediata aplicação, toda problemática exige construções e combinações metódicas que dependem da realidade, do processo ou do fenômeno que vamos pesquisar. Por conseguinte, os métodos devem ser reconstruídos e combinados de acordo com cada pesquisa. Por outro lado, não existem objetos “ prontos” presentes na realidade que simplesmente precisam ser reconhecidos; os nomeados objetos de pesquisa na verdade são problemáticas construídas de acordo com a perspectiva da comunidade de cientistas que estão interessados em pensá-las. Para nossa intranqüilidade, tampouco existem teorias “prontas”; as construções teóricas, às vezes muito elaboradas, representam, contudo, um estado histórico e um limite do conhecimento que devem ser aprofundados, ampliados, questionados e desenvolvidos mediante um grande esforço de reflexão teórico-metodológica e uma práxis de pesquisa sistemática. Jesús Martín, no início dos anos 80, foi considerado um dos principais autores a inserir na América Latina postulados semelhantes para as concepções metodológicas em comunicação social. Essa tendência metodológica, com paradigmáticos antecedentes entre os grandes pensadores da humanidade, encontra, paradoxalmente, muitas dificuldades para expandir-se entre os pesquisadores de todas as áreas porque supõe uma alta dose de esforço inventivo, situa o pesquisador num estado similar ao do artista, que deve criar cada vez que começa um novo projeto, requer um caráter audaz e ao mesmo tempo rigoroso e equilibrado.

Dos meios às mediações O reconhecimento da obra principal de Jesús Martín, Dos meios às mediações, no contexto da teoria e metodologia da comunicação tem uma singular importância pelo fato de ter um significativo número de referências de caráter metacomunicacional15. Considerando as características previamente anotadas sobre a generalizada limitação dos estudos teórico-metodológicos na nossa área, constitui um fator animador saber que se trata de um texto epistemológico que questiona os procedimentos tradicionais de pesquisa em comunicação, propondo como métodos: a crítica da razão dualista, pensar a comunicação a partir da cultura, a elaboração de mapas noturnos para explorar o campo e a pesquisa do popular que nos interpela a partir do massivo (MARTIN BARBERO, 1997, p. 258-334). Martín Barbero rompeu radicalmente com a lógica dos estudos dos mass media, que centrava a compreensão dos processos sociais de comunicação nos meios de comunicação industrial e nos “efeitos” que produziam nos públicos radiouvintes e telespectadores. Os esquemas funcionalistas lineares que centravam suas preocupações na pesquisa quantitativa de “efeitos” de campanhas publicitárias e eleitorais, de conteúdos manifestos e de número de aparelhos eletrônicos em possessão foram profundamente questionados. O autor mudou a concepção do campo, inserindo a história, a cultura e a política no pensamento e na pesquisa em comunicação. O campo ampliou-se 15. Fuentes Navarro, 1990, p. 188-189: Pero el hecho de que el grupo de referencias temáticas que hemos llamado “metacomunicacionais” represente el 38% de las contenidas en los artículos que citan De los medios a las mediaciones, es un indicador más elocuente aún de la influencia del texto, considerando que los análisis del campo académico y las reflexiones teórico-metodológicas no son tan frecuentes en las publicaciones latinoamericanas.

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e aprofundou-se por meio das matrizes culturais populares; das miscigenações raciais, étnicas, religiosas, políticas, como também pela inserção de gêneros e narrativas populares e pelo deslocamento da pesquisa centrada nos meios para as mediações.

A concepção do tempo A problemática do tempo em Martín Barbero é fundamental para definir que tipo de saberes são importantes em comunicação. Metodologicamente, na sua perspectiva, devemos romper com a concepção linear ocidental do te mpo e situar o futuro como elemento fundamental da construção de nosso presente, da vitalidade de nosso presente, das heterotopias-utopias e sonhos de nossa existência. Dessa metáfora - no sentido de Ricoeur - surge a orientação metódica de trabalhar pela construção de novos mapas, o que significa desenvolver métodos exploratórios sem se preocupar em estabelecer limites definitivos dos territórios de nossos saberes, mas concentrando as energias cognitivas na compreensão das profundas transformações que a atual conjuntura histórica nos permite viver. O estudo da realidade cotidiana torna-se fundamental porque nela observamos os detalhes de variações importantes nos modos de se comunicar das pessoas: novas formas de encontro, de intercâmbio, de juntar-se, de imaginar novos horizontes vitais16. A revolução tecnotrônica mudou significativamente os hábitos de milhões de pessoas na América Latina, cada vez mais a influência das transformações ocasionadas por ela se exerce sobre a vida das grandes maiorias. Nos últimos trinta anos, a profunda transformação espacial que representou o processo de urbanização17 do continente modificou radicalmente os fluxos, as rotinas, os costumes, os tempos18, a psique das novas gerações. As mitologias camponesas, étnicas, raciais, regionais, religiosas, políticas, nacionais e seculares misturaram-se nas cidades19. O tempo cotidiano acelerou-se significativamente com relação ao passado imediato; as mudanças na aceleração temporal20 são cada vez mais freqüentes, condicionando profundamente os comportamentos das pessoas. Lamentavelmente, nos países do Terceiro Mundo, as transformações do espaço vital não atendem aos requerimentos básicos de uma 16. Clifford Geertz, “Géneros confusos: la reconfiguración del pensamiento social”, In El surgimiento de la antropología postmoderna, México, Gedisa, 1991, p. 76: (...) lo que estamos viendo no es simplemente otro trazado del mapa cultural -el movimiento de unas pocas fronteras en disputa, el dibujo de algunos pintorescos lagos de montaña- sino una alteración de los principios del mapeado. No se trata de que no tengamos más convenciones de interpretación, tenemos más que nunca pero construidas para acomodar una situación que al mismo tiempo es fluida, plural, descentrada. Las cuestiones no son ni tan estables ni tan consensuales y no parece que vayan a serlo pronto. El problema más interesante no es sin embargo como arreglar este enredo sino qué significa todo este fermento. 17. Maria de Azevedo R. Brandão, “Brasil: uma urbanização sanguinária”, in Milton Santos et. al. (orgs.) Globalização e espaço latino-americano, p. 188,191. 18. Milton Santos, 1994, p. 45: A idéia de tempos hegemônicos supõe também a idéia de tempos hegemonizados. Vejamos por exemplo.Podese falar de um tempo único da cidade, ou de um tempo único regional, como se falaria de um tempo universal único? Grupos, instituições, indivíduos convivem juntos, mas não praticam os mesmos tempos. O território é na verdade uma superposição de sistemas de engenharia diferentemente datados, e usados, hoje, segundo tempos diversos. As diversas estradas, ruas, logradouros, não são percorridos igualmente por todos. Os ritmos de cada qual-empresas ou pessoas- não são os mesmos. Talvez fosse mais correto utilizar aqui a expressão temporalidade em vez da palavra tempo. 19. Eric Hobsbawm, 1995, p. 445-446: Contudo, há outro motivo para a revivescência das massas: a urbanização do globo, sobretudo no Terceiro Mundo.(...) No fim do século XX, tirando umas poucas regiões retrógradas, a revolução mais uma vez vinha da cidade, mesmo no Terceiro Mundo. Tinha de vir, tanto porque a maioria dos habitantes de qualquer grande Estado agora vivia na cidade, ou parecia provável que vivesse, quanto porque a grande cidade, sede de poder, podia sobreviver e defender-se contra o desafio rural, não menos graças à tecnologia moderna, contanto que as autoridades não perdessem a lealdade de sua população.(...) As revoluções no fim do século XX têm que ser urbanas, se querem vencer. Revoluções continuarão ocorrendo? As quatro grandes ondas do século XX, de 1917-1920, 1944-62, 1974-78 e 1989- , poderão ser seguidas de outras rodadas de colapso e derrubada? Ninguém que olhe em retrospecto um século em que não mais que um punhado de Estados hoje existentes passou a existir, ou sobreviveu, sem passar por revolução, contra-revolução armada, golpes militares ou conflito civil armado ** apostaria seu dinheiro no triunfo universal da mudança pacífica e constitucional, como previsto em 1989 por alguns eufóricos crentes na democracia liberal. O mundo que entra no terceiro milênio não é um mundo de Estados ou sociedades estáveis. (...) O mundo do terceiro milênio portanto quase certamente continuará a ser de política violenta e mudanças políticas violentas.A única coisa incerta nelas é aonde irão levar. [**] Omitindo-se os mini-Estados de menos de meio milhão de habitantes, os únicos Estados consistentemente “constitucionais” são os EUA, Canadá, Nova Zelândia, Irlanda, Suécia, Suíça e Grã-Bretanha... 20. Milton Santos, “A aceleração contemporânea: tempo mundo e espaço mundo”, In Milton Santos et al. (orgs.), Fim do século e globalização, São Paulo, HUCITEC-ANPUR, 1993, p. 15-16.

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vida digna. O cotidiano na América Latina é um cotidiano que combina múltiplas temporalidades, mas expressa uma hegemonia perversa.

A telenovela Para estudar a problemática comunicacional no continente, Jesús Martín seleciona como objeto-chave de pesquisa a telenovela21. Ela é pensada como um lugar complexo, onde é possível encontrar elementos culturais, políticos, sociais e comunicacionais importantes da realidade contemporânea. Na telenovela, concentram-se os esforços industriais de produção de imagens para os grandes públicos. Esses produtos, que da perspectiva econômica-política geram os maiores lucros para as redes transnacionais com centro no México e no Brasil, na dimensão comunicativa, constituem-se num tempo-espaço privilegiado de formação da hegemonia. As lógicas e os interesses do capital misturam-se com os últimos recursos de informática digital audiovisual para produzir mensagens complexas com um potencial considerável de inserção nos públicos. Os milenares gêneros-estratégias de comunicação, que as culturas populares contemporâneas mantêm como parte de seu presente simbólico, embaralham-se com as últimas inovações técnico-enunciativas, produzindo as telenovelas como tipos de discursos sociais de singular poder. O método de pesquisa para telenovelas na América Latina, elaborado em 1986, constitui um referente obrigatório da metodologia regional em comunicação.

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