111 Caio Prado Jr. explica as questões implicadas na estruturação do capitalismo dependente das economias de exportação das periferias e enfatiza o quanto o “espírito de exploração” foi fundamental, não apenas por ter marcado a presença do homem europeu nos trópicos, mas, principalmente, por ter determinado a totalidade das características da estrutura econômica, sociocultural e política que se desenvolvia ao longo dos séculos nas “colônias de exploração”. Em suas palavras, […] se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamante; depois algodão, e em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. E com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras (Prado Jr., 2000: 20).
Autores como Florestan Fernandes analisaram as conexões dessa estrutura econômica das periferias do capitalismo com um regime político autoritário. Seus estudos mostram bem como o traço colonial de opressão política e exclusão da participação cidadã da maioria da população permanece existindo mesmo depois de o Brasil se constituir como um Estado–nação com sua “própria” burguesia nacional. Ao contrário de representar os interesses da população, essa burguesia é vital para a continuidade da “subordinação das economias periféricas das ‘nações emergentes’ às economias centrais das ‘nações dominantes’” (Fernandes, 2008c: 95). Não há interesse em romper com a satelitização, ou seja, com os mecanismos de expropriação dos excedentes econômicos nacionais, articulados interna e externamente: “dependência e subdesenvolvimento são um bom negócio para os dois lados” (Fernandes, 1973: 26). Há tão somente uma abertura estratégica de espaço ao desenvolvimento induzido3 pelo “progresso importado”, que só aparentemente se dá endogenamente e para os interesses internos da economia e da sociedade brasileira. Portanto, também não há nenhuma ruptura com o modelo autoritário de política que essa estrutura demanda. Antes de ter um compromisso democrático com as necessidades da maioria da população, essa burguesia nacional, que comanda de forma articulada com os donos do poder do capitalismo global, tem o máximo de interesse em reproduzir a submissão econômica e política do país e em manter o seu povo numa condição de pura força de trabalho para alimentar o mercado mundial. “Ingênuos”, e principalmente cúmplices, são os líderes políticos e governos que se acham acima dos condicionantes da histórica divisão internacional do De acordo com seu conceito de modernização dependente, no capitalismo periférico são os “dinamis mos externos [que] decidem as transformações [internas] decisivas” (Fernandes, 1973: 79). 3