‘Eu confio muito na criação da universidade brasileira, porque entendo que a universidade significa centralização e governo em toda a sua universalidade, abrangendo todas as doutrinas, todos os estudos, desde a mais humilde escola primária até a mais sublime academia’ 10.
Depois, em 1847, Visconde de Goiana apresentou à Câmara dos Deputados um projeto de criação da universidade e, ao mesmo tempo, ao invés de propor a extinção das faculdades, subordinava-as à instituição central que funcionava na Corte. Com isso, atenuava a centralização, no entanto, não permitia total liberdade. Mas, o projeto também não obteve êxito. Entre 1847 e 1870 foram feitas reformas nas faculdades de Direito e de Medicina, mas não se apresentou nenhum novo projeto para criar a universidade. Para além dos defensores da centralização, a partir de 1868, um grupo cada vez maior de liberais voltase para a defesa da universidade tendo como exemplo o modelo alemão. Tobias Barreto, Vieira da Silva, Teixeira de Macedo e outros, tendo conhecido o modelo germânico através da França com Renan e Paul Bert, começam a propugnar a criação da universidade no Brasil de acordo com esse modelo. Mas, em 1870, coube ao Ministro do Império Paulino José Soares de Souza apresentar um novo projeto de criação da universidade. Propunha a criação de uma universidade com quatro faculdades: de medicina, matemática, ciências naturais e letras. Contudo, apesar das simpatias do ministro pelo germanismo, diz que seu projeto não acompanharia ‘cegamente o movimento da opinião que preconiza hoje o regime das universidades alemãs’11. Nos quadros deste projeto, Paulino de Souza não se fecha na centralização conforme os projetos de 1823 e 1842. Aproxima-se do modelo germânico e procura conciliar a ideia de universidade com a de liberdade de ensino. Porém, diz Roque Spencer, ao invés de uma verdadeira universidade, o ministro projetou um simulacro, pois num momento em que a consciência liberal começava a reclamar a separação entre a Igreja e o Estado, não constava a Faculdade de Letras e Filosofia, mas estava presente a de Teologia. Não cuida de uma faculdade de letras, nem de uma faculdade de filosofia, fundamentais, as duas, separadas ou reunidas numa só estrutura para a criação de uma elite intelectual, para o progresso da ciência e da cultura, para o desenvolvimento da pesquisa e do ensino, bem como para a instituição de um verdadeiro ensino secundário no país12.
Esse projeto também não prosperou. Quando caiu o gabinete ao qual pertencia o ministro Paulino de Souza, o projeto foi esquecido. Em 1881, Homem de Mello apresentou mais um projeto com a mesma finalidade. Nele procurou conciliar a ideia de liberdade de ensino e a criação da universidade. Mas na disputa entre a afirmação de uma e outra, “é a liberdade de ensino que importa, com universidade ou sem ela. Aquela, e não esta, acredita-se, é a viga mestra do ensino superior”13. 10 Cf. HAIDAR, Maria de Lourdes Mariotto. O ensino secundário no Império brasileiro. São Paulo: Grijalbo/Edusp, 1972,
p. 103. 11 BARROS, Roque S. M. de. A ilustração brasileira e a ideia de universidade. São Paulo: Convivio, 1959, p. 235. 12 Idem. p. 237. 13 Idem. p. 240.
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