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Naturale Foto: Orlando Mohallem

26a edição Abril/Maio - 2014

Caro leitor Nesta edição propomos uma reflexão sobre a Água. Como nos relacionamos com este elemento que ao mesmo tempo é também nosso alimento, fonte de bem estar, pode ser utilizada para cura, mas se não for potável pode nos trazer doenças. Como a utilizamos, como tratamos os rios, lagos, cachoeiras, praias?... Em nossos passeios estamos atentos para deixá-los limpos, preservados? E quem tem o privilégio de ter uma nascente em sua propriedade, como a tem preservado? A água é um bem essencial à vida planetária, mantê-la viva e utilizá-la com consciência é tarefa de todos nós. Agradecemos a todos os apoiadores, pois atingimos a marca de 20.000 exemplares na distribuição eletrônica da Naturale, além da versão impressa! São nossos novos parceiros o Instituto Federal Sul de Minas que possui Campus nas cidades de Inconfidentes, Machado, Muzambinho, Passos, Poços de Caldas, Pouso Alegre e Polos em Andradas, Cambuí, Jacutinga, Ouro Fino, São Gonçalo do Sapucaí, São Lourenço, Itanhandu, Cambuquira, Caxambu e Três Corações; a KLA Educação Empresarial; o Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes que abrage 22 cidades (Alfredo Vasconcelos, Antônio Carlos, Barbacena, Barroso, Carrancas, Conceição da Barra de Minas, Coronel Xavier Chaves, Dores de Campos, Entre Rios de Minas, Ibituruna, Itutinga, Lagoa Dourada, Madre de Deus de Minas, Nazareno, Piedade do Rio Grande, Prados, Resende Costa, Ritápolis, Santa Cruz de Minas, São João Del-Rei, São Tiago e Tirandes); o Circuito Turístico Lago de Furnas que contempla 9 cidades (Alfenas, Areado, Fama, Divisa Nova, Monsenhor Paulo, Campos Gerais, Serrania, Paraguaçu e Elói Mendes); e a Fascínio Beleza e Arte. A Naturale amplia sua distribuição e a oportunidade de negócios para seus parceiros, que passam a ter muito mais visibilidade! Faça você também parte desta rede. Boa leitura! Elaine Pereira

ISSN 2237-986X 3 Uma reflexão sobre a Água 5 Minas Gerais adere ao Pacto Nacional pela Gestão das Águas 6 2014 Ano Internacional da Agricultura Familiar 7 Associação Terras Altas da Mantiqueira comemora 15 anos 8 A conexão do Homem com a Natureza 9 Pensamento sustentável e mobilidade urbana 10 A importância da imagem 12 Tuberculose, o velho fantasma ainda assom- bra o desenvolvimento de novos fármacos 13 Afinal, o que as pessoas buscam? 14 Doença de Alzheimer 15 A importância do exame oftalmológico em recém-nascidos e crianças 16 A medida da dor 18 Nova técnica para tratamento da ATM e Dor Miofascial — Agulhamento à seco 20 Sustentabilidade urbana

expediente Naturale é uma publicação da DIAGRARTE Editora Ltda-ME CNPJ 12.010.935/0001-38 Itajubá/MG Editora: Elaine Cristina Pereira (Mtb 15601/MG) Colaboradores Articulistas: Beatriz Ferreira Neves, Dr. Carlos Vinícius Ferreira Motta, Dra. Gracia Costa Lopes, Dr. João Batista Macedo Vianna, José Aparecido da Silva, José Maurício Carneiro da Silva, Dr. Maurício Frota Saraiva, Paulo José Braz Rosas, Raylton Alves, Renilson Assis e Tatiana Ribeiro. Revisão: Marília Bustamante Abreu Marier Projeto Gráfico: Elaine Cristina Pereira Capa: Foto cachoeira — Sthênio Maia (35) 9986-5306 Vendas: Diagrarte Editora Ltda-ME Impressão: Resolução Gráfica Tiragem: 3.000 exemplares impressos e 20.000 eletrônico

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Distribuição Gratuita - impressa e eletrônica Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados. Para reproduzir é necessário citar a fonte. Faça parte da Naturale e integre esta corrente pela informação e pelo bem.

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Foto: Jair Antonio

Uma reflexão sobre a

Água Por Elaine Pereira

A questão da Água tem feito parte frequente do noticiário nas últimas décadas, seja pela falta ou pelo excesso de chuvas. A seca ou as inundações transformam a vida de milhares de pessoas no mundo. Nosso planeta é formado por ¾ de água, e deste montante apenas “2,5% da água que cobre o planeta é doce, mas na prática, apenas uma fração mínima está disponível para a população de forma sustentável: ínfimos 0,007%”, afirma Benedito Braga, Presidente do Conselho Mundial da Água. Quando ouvimos a palavra água, instantaneamente nos vem à mente a água que bebemos, que utilizamos no preparo do alimento, no banho e para a limpeza geral, o que chamamos de necessidade básica. Para a sobrevivência não só humana como a de todo o planeta ela é indispensável, incluindo aqui o sistema atmosférico. Bem, segue então a seguinte reflexão: tirada a primeira imagem da necessidade pessoal básica, se perguntarmos uma segunda vez sobre a água, muitos poderão se lembrar de cachoeiras, rios, praias, piscinas, oceanos, lagos... Mas

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será que nos damos conta que este elemento está presente em nosso dia a dia em absolutamente tudo que utilizamos? Toda a rede industrial, independente do produto, seja ele uma folha de papel, um móvel, uma grade, a construção de uma casa, o automóvel, o tecido, enfim, tudo que temos a nossa volta, em alguma etapa de sua produção utilizou água. Nem precisamos ressaltar aqui os alimentos, que desde o sistema de irrigação até a produção final, seja industrializado ou não, a utiliza. Para o mundo moderno que tem acesso à água potável – benefício este que não é para todos, pois 13% da população mundial não tem acesso a ela (Estudo feito pela ONU entre 1990-2008) – é muito simples abrir a torneira, e se não houver água, ligar para a Companhia de Abastecimento e reclamar. Mas será que lembramos que se este precioso bem não for utilizado de forma correta poderá se extinguir? A natureza é sábia e, por muitas vezes, nos dá sinais sobre as mudanças climáticas. Hoje, presenciamos uma estiagem como não víamos há muitos

anos. Na região sudeste choveu pouco este ano, as chuvas estão abaixo da média para o período. Em São Paulo, por exemplo, o Sistema Cantareira que abastece milhões de pessoas está com apenas 12% de sua capacidade por falta de chuva, e este sistema utiliza água do interior do estado, ou seja, não basta apenas chover em cima da represa, vários outros rios e nascentes a abastecem e também tiveram diminuição em seus níveis. O Lago de Furnas em Minas Gerais também sofre com grande diminuição de sua capacidade. Não é apenas a água para consumo básico que começa a ser racionada, temos sim que aprender a economizar e respeitar este bem, levando em conta que toda uma cadeia produtiva pode ser afetada, inclusive a de geração de energia, da qual nos tornamos também tão dependentes. Para entender de onde vem a água, é preciso relembrar os estados físicos em que ela se encontra: ªª Água em estado gasoso – na atmosfera, proveniente da evaporação de todas as superfícies úmidas – mares, rios e lagos;

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fios, do ponto de vista do abastecimento de água, consiste no fato dessa população estar concentrada em regiões onde ªª Água em estado sólido – nas regiões frias do planeta, nos polos. Toda a água do planeta se mantém em constante movimento, passando de um a oferta de água é mais desfavorável. estado (sólido, liquido, gasoso) a outro, promovendo assim a vida na Terra, dentro Apesar do Brasil possuir cerca de 12% do chamado ciclo hidrológico. As copas das árvores podem interceptar até 25% da da água doce superficial disponível na água que cai como chuva, o restante escoa pela superfície do solo ou nele se infiltra Terra, há uma distribuição territorial natural bastante desigual desses recursos. e segue os cursos d´água para chegar até o mar. A preservação da mata ciliar nas nascentes e beiras de rios precisa ser cada vez A região Hidrográfica Amazônica – que mais incentivada, é necessário que estas áreas estejam protegidas, bem como as en- abrange os estados do Amazonas, Amacostas, pois a água da chuva precisa ser absorvida pela terra para infiltrar e abastecer pá, Acre, Rondônia, Roraima e grande os lençóis freáticos, o que não ocorre em áreas descobertas (nos referimos aqui a parcela do Pará e Mato Grosso, – conáreas sem vegetação ou impermeabilizadas), pois a água da chuva cai e segue seu centra 81% da disponibilidade de água percurso levando tudo o que encontra pela frente e não se fixa no solo. Quem sabe em 45% da extensão territorial do País. agora, com o quadro atual, se entenda melhor o porquê da importância do Código Pouco mais da outra metade do territóFlorestal. Preservar as nascentes e as florestas é uma questão de sobrevivência da rio possui, portanto, menos de 20% dos espécie e não apenas para simplesmente frear o desmatamento e o uso irregular da recursos hídricos. Nesta outra metade água. Deixamos aqui um apelo aos produtores e proprietários de áreas rurais, a mina do País, temos um de nossos maiores d’água que está em sua propriedade é o bem mais precioso que há em suas terras, desafios: boa parte da população urbana está nas áreas litorâneas, como nas por isso preserve-a. Não pretendemos aqui parecer apoRegiões Hidrográficas do Atlântico (Sul, Embora exista muita água no calípticos, mesmo porque para quem Sudeste, Leste, Nordeste Ocidental e planeta, o maior volume, 97,5%, tem água mineral em sua propriedade Oriental), onde estão 45% da população está nos oceanos e é salgada: pode parecer que ela nunca acabará, que dividem apenas 3% da água dispomas precisamos sim acordar para a reaapenas 2,5 % é doce, mas está nível. A Região Hidrográfica do Paraná, lidade mundial e ver que a escassez é por exemplo, onde estão 36% dos braconcentrada nas regiões polares, um problema global e que este precioso sileiros, dispõe de apenas 6% dos recurcongelada. Resta à humanidade bem pode faltar... sos hídricos superficiais”. 0,7% da água doce da Terra, Vamos a alguns dados: No chamado “desenvolvimento urSegundo Vicente Andreu Guillo, dibano”, os rios passaram a receber todo armazenada no subsolo, o que retor-presidente da Agência Nacional de tipo de dejetos e a ação humana matou dificulta sua utilização. Somente Águas, “Nosso País tem características assim uma de suas maiores preciosida0,007% está disponível em geográficas e históricas que explicam a des: a água dos rios. A Rede das Águas rios e lagos superficiais. aparente contradição entre abrigar uma – SOS Mata Atlântica, relata que: “Dudas maiores reservas hídricas do planerante séculos o homem utilizou os rios ta e ainda assim enfrentar problemas como receptores dos esgotos das cidades e dos efluentes das indústrias que reúnem de escassez. Nossa expansão urbana grande volume de produtos tóxicos e metais pesados. Essa prática resultou na morte aconteceu de forma acelerada, recen- de enormes e importantes rios – no estado de São Paulo o maior exemplo é o rio Tietê te e desordenada, acumulando grandes que corta o estado de leste a oeste, com 1.100 km de extensão, seguido dos rios Jundéficits na prestação desses serviços, que diaí, Piracicaba, Pinheiros e outros bastante degradados e castigados pela poluição. atingem especialmente as populações Além da poluição direta, por lançamento de esgotos, falta de sistemas de tratamento de baixa renda em pequenos municípios de efluentes e saneamento, há a chamada poluição difusa, que ocorre com o arrasou nas periferias dos grandes centros ur- to de lixo, resíduos e diversos tipos de materiais sólidos que são levados aos rios banos. Hoje, 84% dos brasileiros vivem com a enxurrada. Ao "lavar a atmosfera", a chuva também traz poeira e gases aos nas cidades e um dos principais desa- corpos d'água. Nas zonas rurais, os maiores vilões da água são os agrotóxicos utiliªª Água em estado líquido – nos oceanos (água salgada), rios e lagos (água doce) e no subsolo, constituindo os chamados lençóis freáticos.

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zados nas lavouras, seguidos do lixo que é jogado nas águas e margens de rios e lagos, além das atividades pecuárias como a suinocultura, esterqueiras e currais, construídos próximos aos cursos d´água. Há ainda acidentes com transporte de cargas de resíduos perigosos e tóxicos, rompimento de adutoras de petróleo, óleo, de redes de esgoto e ligações clandestinas. Em algumas regiões, as fossas negras e os lixões podem contaminar os lençóis freáticos. A contaminação de riachos e rios e a falta de saneamento básico abriram as portas para as doenças de veiculação hídrica, transmitidas diretamente através da água, como a cólera, febre tifóide, febre paratifóide, desinteria bacilar, amebíase ou desinteria amebiana, hepatite infecciosa, poliomielite. E as transmitidas indiretamente, como a esquistossomose, fluorose, malária, febre amarela, bócio, dengue, tracoma, leptospirose, perturbações gastrointestinais de etiologia escura, infecções dos olhos, ouvidos, garganta.” Estes são apenas alguns dados que nos fazem refletir sobre nosso posicionamento perante a água, não apenas no que diz respeito ao nosso próprio consumo, que podemos rever e adquirir novos hábitos, mas também a observação, cobrança e colaboração em nosso município em ações práticas de políticas públicas sobre saneamento, cuidado com rios e nascentes e conscientização da população. Seja você um agente de mudança e da preservação da Água!

Minas Gerais adere ao Pacto Nacional pela Gestão das Águas Por Raylton Alves (ASCOM/ANA)

Minas Gerais é o mais novo estado a aderir ao Pacto Nacional pela Gestão das Águas com a assinatura do Decreto nº 46.465/2014, de 27 de março de 2014, pelo governador Antonio Anastasia. O documento confirma a adesão voluntária ao Pacto, o qual é uma iniciativa da Agência Nacional de Águas (ANA) que disponibilizará cerca de R$ 100 milhões nos próximos cinco anos para estimular a gestão de recursos hídricos na esfera estadual. A iniciativa da ANA prevê até R$ 3,75 milhões para cada uma das unidades da Federação que aderirem voluntariamente. Segundo o Decreto, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) foi a entidade indicada pelo governador para coordenar as ações do Pacto em Minas e fica habilitada a solicitar a inscrição no Progestão, que é o Programa de Consolidação do Pacto Nacional. Também já aderiram à iniciativa da ANA outros 22 estados: Paraíba, Acre, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Paraná, Piauí, Mato Grosso, Rondônia, Sergipe, Maranhão, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Goiás, Rio Grande do Sul, Amazonas, Rio de Janeiro, Tocantins, Pará, Pernambuco, Ceará, Bahia e Espírito Santo. Os recursos financeiros do Progestão só são liberados após o cumprimento de metas fixadas pelos estados e aprovadas por seus respectivos conselhos estaduais de recursos hídricos. Num primeiro momento, haverá o desembolso de até cinco parcelas de R$ 750 mil por unidade da Federação. Com isso, a ANA visa a incentivar o fortalecimento

dos sistemas estaduais de gerenciamento de recursos hídricos através de ações que melhorem a implantação dos instrumentos de gestão previstos pela Política Nacional de Recursos Hídricos e pelas políticas estaduais. O Progestão estimula os estados a adotarem várias ações, como: o aperfeiçoamento da rede de monitoramento quantitativo e qualitativo de rios, formação de banco de dados relativos à disponibilidade hídrica ou emissão de outorga (autorização) para uso dos recursos hídricos, elaboração de estudos e planos de bacia, capacitação ou implantação da cobrança pelo uso dos recursos hídricos. Além de buscar fortalecer institucional e operacionalmente a gestão de recursos hídricos em âmbito estadual e melhorar a articulação entre o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh) e os sistemas estaduais, o Programa tem o objetivo de construir um sistema nacional para a governança eficaz que garanta a oferta de água em quantidade e qualidade para os brasileiros no presente e no futuro. Sabendo das diferenças regionais entre as unidades da Federação, a ANA oferece uma metodologia para que elas possam aderir ao Pacto e se classifiquem de acordo com sua estrutura institucional e com a complexidade do processo de gestão local. Assim, cada estado pode definir suas próprias metas de acordo com as necessidades atuais na área de gestão de recursos hídricos, associadas a uma visão de futuro.

Mantenha-a viva!

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2014 Ano Internacional da

Agricultura Familiar O Ano Internacional da Agricultura Familiar (AIAF) 2014, decretado pela ONU (Organização das Nações Unidas), aumenta a visibilidade da agricultura familiar e dos pequenos agricultores, focalizando a atenção mundial em seu importante papel na erradicação da fome e da pobreza, da provisão de segurança alimentar e nutricional, melhora dos meios de subsistência, gestão dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e desenvolvimento sustentável nas áreas rurais. O objetivo do AIAF 2014 é reposicionar a agricultura familiar no centro das políticas agrícolas, ambientais e sociais nas agendas nacionais, identificando lacunas e oportunidades para promover uma mudança rumo a um desenvolvimento mais equitativo e equilibrado. O AIAF 2014 vai promover uma ampla discussão e cooperação no âmbito nacional, regional e global para aumentar a conscientização e entendimento dos desafios que os pequenos agricultores enfrentam e ajudar a identificar maneiras eficientes de apoiar os agricultores familiares. Por que a agricultura familiar é importante? ªª A agricultura familiar e de pequena escala está intimamente vinculada à segurança alimentar mundial. ªª A agricultura familiar preserva os alimentos tradicionais, além de contribuir para uma alimentação balanceada, para a proteção da agrobiodiversidade e para o uso sustentável dos recursos naturais. ªª A agricultura familiar representa uma oportunidade para impulsionar as economias locais, especialmente quando combinada com políticas específicas destinadas a promover a proteção social e o bem-estar das comunidades.

O que é agricultura familiar? A agricultura familiar inclui todas as atividades agrícolas de base familiar e está ligada a diversas áreas do desenvolvimento rural. Consiste em um meio de organização das produções agrícola, florestal, pesqueira, pastoril e aquícola que são gerenciadas e operadas por uma família e predominantemente dependente de mãode-obra familiar, tanto de mulheres quanto de homens. Tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, a agricultura familiar é a forma predominante no setor de produção de alimentos. Em nível nacional, existe uma série de fatores que são fundamentais para o bom desenvolvimento da agricultura familiar, tais como: condições agroecológicas e as características territoriais; ambiente político; acesso aos mercados; o acesso à terra e aos recursos naturais; acesso à tecnologia e serviços de extensão; o acesso ao financiamento; condições demográficas, econômicas e socioculturais; disponibilidade de educação especializada; entre outros. A agricultura familiar tem um importante papel socioeconômico, ambiental e cultural. (Fonte: ONU)

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Agência Nacional de Águas abre inscrições para

Prêmio ANA 2014 Até 30 de maio estarão abertas as inscrições para o Prêmio ANA 2014. Em sua 5ª edição, a premiação bienal busca reconhecer boas práticas relacionadas a água em sete categorias: Empresas; Ensino; Governo; Imprensa; Organismos de Bacia; Organizações Não Governamentais (ONG); e Pesquisa e Inovação Tecnológica. Os trabalhos devem contribuir para a gestão e o uso sustentável dos recursos hídricos do País. As inscrições são gratuitas e devem ser realizadas através do hotsite do Prêmio ANA: www.ana.gov.br/premio. A premiação também busca identificar ações que estimulem o combate à poluição e ao desperdício e apontem caminhos para assegurar água de boa qualidade e em quantidade suficiente para o desenvolvimento das atuais e futuras gerações. O Prêmio ANA 2014 terá uma Comissão Julgadora composta por membros externos à ANA e com notório saber na área de recursos hídricos ou meio ambiente. Um representante da Agência presidirá o grupo, mas sem direito a voto. Os critérios de avaliação dos trabalhos levarão em consideração os seguintes aspectos: efetividade; impactos social e ambiental; potencial de difusão; adesão social; originalidade; e sustentabilidade financeira (se aplicável).

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Foto: Orlando Mohallem

A Conexão do Homem com a Natureza Por José Maurício Carneiro

"Todos somos filhos da Terra e do Céu, do mar e das estrelas. Somos filhos da água e do vento, do ar e do fogo. Somos filhos do Sol e da Lua e devemos escutar a Natureza e a Terra como se fossem nossa Mãe." (Do livro Kin Forest, de Suryavan Solar.) Somos todos feitos de terra, água, ar e fogo. Repare bem: A Terra é o corpo físico, os ossos, músculos e órgãos, remete à nossa saúde física, bem-estar, prosperidade. A Água é o sangue, o corpo emocional remete aos sentimentos e relacionamentos com os outros homens e com a natureza. O Ar é isso – o ar que respiramos, corresponde ao corpo mental, remete aos conhecimentos, pensamentos, anseios, expectativas. O Fogo é a alma, o corpo espiritual, a Centelha Divina que nos conecta com o Criador do Universo.

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Há muito tempo a humanidade perdeu a conexão com a Natureza interna e externamente. Voltado somente para si, "o Homem inconsciente, que constrói cidades de zumbis consumidores, que seca a terra, contamina as águas, arrasa os bosques, que extermina a Natureza, assassina pessoas, animais e peixes para satisfazer sua fome descontrolada, muito em breve perecerá". (do livro Kin Forest, de Suryavan Solar). O século XXI teve início com um grito forte e ensurdecedor: a SUSTENTABILIDADE. Se o homem contemporâneo não escutar este grito, está fadado à extinção. Embora a palavra esteja desgastada, seu conceito original é ainda desconhecido por muitos e praticado por poucos. Relacionando os quatro pilares da

Sustentabilidade com os Quatro Elementos da Natureza, temos: 1. Sustentabilidade Econômica – Terra – o Homem e a prosperidade. Tratada com amor, a Terra devolve ao Homem a Abundância e à Natureza uma profusão de raízes, troncos, folhas, flores, frutos e sementes para alimentar todos os seres do Planeta. 2. Sustentabilidade Ambiental – Água – o Homem e o Meio-ambiente. Entender e preservar o bom relacionamento dos Homens entre si e com a Natureza. 3. Sustentabilidade Cultural – Ar – o Homem transmitindo, de geração em geração, seus fazeres, seus saberes e o processo histórico da Humanidade. 4. Sustentabilidade Social – Fogo – o Homem e seu papel na Comunidade. Despertar e orientar o Indivíduo para contribuir com a Coletividade, estimular a partilha dos Talentos com Bondade e Amor.

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Sobre Talentos, Mauro Press Maksuri (no livro A Era dos Talentos), dispõe quatro grandes grupos de Talentos Elementares, relacionados aos Quatro Elementos da Natureza: O Prático (Terra), o Sensível (Água), o Intelectual (Ar) e o Transformador (Fogo). Maksuri descreve cada um deles e também aborda os Talentos de Realização Pessoal e Profissional. Os talentos combinados entre si de infinitas maneiras, refletem a diversidade inerente ao Ser Humano, Único e Insubstituível, que pode promover uma mudança na Humanidade, à medida que cada um cumpre sua Missão no Mundo. Agora, sobre Missão Pessoal de cada Ser Humano, precisamos compreender que: 1. Ela deve ser profundamente reconhecida pelo Indivíduo; 2. Os passos para cumpri-la devem ser devidamente planejados, de preferência com o apoio de um Coach Consciente. 3. Suas tarefas e metas, determinadas ao longo do tempo, deverão considerar as 12 prioridades da Vida e ser cumpridas com a indispensável e boa disciplina.

As 12 prioridades, intrincadas com os Quatro Elementos, são as seguintes: Terra – 1. Saúde e imagem pessoal, 2. Trabalho, 3. Dinheiro, recursos materiais. Água – 4. Parceiro e sexo, 5. Família e lar, 6. Amigos e vida social. Ar – 7. Aprendizagem (estudos e especialização profissional), 8. Artes e viagens, 9. Comunicação e treinamento. Fogo – 10. Filantropia (doar ou patrocinar causas nobres), 11. Busca e desenvolvimento espiritual, 12. Ensinar e seu legado final. (Do livro Auto-liderança, de Suryavan Solar.) Seguindo essas dicas, você conquistará o Sucesso Integral, garantindo a Prosperidade, a Felicidade, a Consciência e a Liberdade que sempre buscou. "É questão de tomar consciência do respeito que merece a Mãe Terra e compreender que a necessidade mais básica é despertar o Verdadeiro Ser Humano, esse que nos fará levantar do lodo e voar até as estrelas do Céu." (Do livro Kin Forest, de Suryavan Solar) José Maurício Carneiro é Coach, Consultor e Gestor de Talentos, pela Academia de Talentos Cóndor Blanco.

Pensamento sustentável e mobilidade urbana: instituições de Pouso Alegre pedalam rumo ao futuro ACIPA e SINDVALE dão o primeiro passo, ou melhor, a primeira “pedalada” por uma Pouso Alegre com menos carros Pouso Alegre possui hoje uma das maiores frotas do Sul de Minas, com aproximadamente 70 mil automóveis. Este número representa não apenas a força da economia local, mas também muito tempo perdido diariamente em congestionamentos, além da contribuição contra o meio ambiente. Com um pensamento “na contramão” destes indicadores, duas instituições de Pouso Alegre se uniram e decidiram dar o primeiro passo para a mudança de pensamento na cidade: substituir o automóvel por uma bicicleta elétrica. A ACIPA e o SINDVALE que representam a indústria, o comércio e a prestação de serviços local, sentiram-se responsáveis por liderar o pensamento que em pouco tempo, pre-

tende contaminar toda a cidade. “Somos referência em diversos sentidos para a cidade de Pouso Alegre, por que não ser no sentido sustentável também?” questiona Alexandre Magno, presidente das duas instituições e que confessa ser apaixonado por esportes. “O esporte tem a missão de mudar a vida das pessoas e ninguém aguenta mais ficar parado no trânsito ou não encontrar lugar para estacionar. Com este pensamento chegamos ao consenso de que a bicicleta resolveria o problema.” O modelo possui uma bateria portátil e alcança até 25 km/h. No começo, Alexandre conta que sofreu certo preconceito quando chegava em algumas reuniões de

bicicleta, mas com bom humor e principalmente, sempre pontual em seus compromissos, a bicicleta elétrica conquistou a confiança dos parceiros. “Não queremos dispensar o uso dos carros, pelo contrário, queremos usar os carros apenas quando for extremamente necessário. Pedalar faz bem para a saúde, para a mente e agora para o meio ambiente!”

Alexandre exibe com orgulho a responsável pela mudança de conduta em Pouso Alegre. A bicicleta tem até nome: MOBI


A importância da imagem Por Tatiana Ribeiro

“A beleza agrada aos olhos, mas é a doçura das ações que encanta a da produto ou serviço de uma empresa alma.” Lendo esta frase outro dia, me pus a pensar em como o mundo de hoje é bem como desenvolver estratégias para que o produto certo seja oferecido no carente de conteúdo... Temos visto campanhas publicitárias extraordinárias em todos os segmentos de momento exato e com preço adequado mercado. O apelo visual das mídias em geral desperta todo tipo de desejo em todo a cada grupo de cliente, é outro grande desafio do marketing. Aplicar esses e tipo de público. Diariamente nossas crianças são bombardeadas com propagandas que desper- outros conceitos do marketing na vida tam o consumismo às custas da fantasia infantil. O lúdico deixou de ser ferramenta pessoal é, certamente, desenvolver suas de ensino e aprendizado para ser, puramente, ferramenta de lucratividade. Homens relações profissionais e sociais de forma são instigados a “ter” a qualquer custo para “ser”, enquanto que o totalmente inverso eficaz, o que é conhecido como Markedeveria ser almejado. Mulheres de todas as idades são estimuladas a se enquadrarem ting Pessoal. Segundo o “pai” do marketing, Phiem padrões de beleza que nem ao longe podemos chamar de real em detrimento da lip Kotler, “marketing pessoal” é uma autoimagem e valor próprio. Contudo seria utopia ignorar a importância e o poder da imagem. Descartar isso nova disciplina que utiliza os conceitos seria, no mínimo, incoerente. Muito mais do que palavras, a comunicação humana é e instrumentos do marketing em benefeita através de gestos, tom de voz, aparência física, vestuário e até mesmo hábitos. fício da carreira e da vida pessoal dos Os autores do livro “A linguagem do corpo” afirmam que mais de 90% da comunicação indivíduos, valorizando o ser humano em todos os seus atributos, características e humana, e não menos, é não verbal. Pasmem!!! complexa estrutura”. Uma outra pesquisa sobre comporNum país ainda em desenvolvimenPense nisso: Palavras sem tamento humano coletou os seguintes to como o nosso, onde a educação de dados sobre em que focamos e a quais atitudes são apenas base deixa muito a desejar, infelizmenconclusões chegamos no que se refere à discursos vazios. te a maioria das pessoas simplesmente primeira impressão que uma pessoa tem desconhece esse tipo de informação. As pessoas irão “conhecê-lo” da outra: 55% aparência e ação, 38% tom Como já dito, marketing foi “reduzido” de voz e apenas 7% no que é dito. Ismuito mais pelo que à propaganda e o marketing pessoal so nos mostra que o ditado popular “a você faz do que parece ainda ser considerado por muiprimeira impressão é a que fica” carrega tos, assunto para grandes executivos ou pelo que você diz. em si uma verdade arrasadora: a maioria grandes corporações. das pessoas será “rotulada” com base na “A beleza agrada aos olhos, mas é a doçura das ações que encanta a alma.” aparência e não em seu conteúdo. Precisamos descobrir o ponto de equilíbrio entre a aparência e o caráter, entre Portanto, saber o poder da imagem e, principalmente, saber como usá-la a a embalagem e o conteúdo. Quando falo da mídia, é justamente porque hoje em dia o foco é o imediatismo, nosso favor nos garantirá, pelo menos, o abrir de portas para novas oportuni- o agora, o prazer já. Muitos vendedores, preocupados unicamente com o seu recurdades tanto na área pessoal quanto na so financeiro, vendem somente sonhos, esquecendo ou ignorando que haverá um momento em que o cliente acordará para viver a realidade. Fazer uma boa venda, um profissional. Nesse âmbito, conhecer, ainda que bom negócio, vai muito além de receber uma recompensa monetária, é uma questão basicamente, o conceito de marketing de caráter, de honestidade para com o cliente. Oferecer o produto certo, na hora dá ao indivíduo o poder de utilizar-se de certa e com preço adequado; essa sim é uma forma eficiente e, acima de tudo, ética ferramentas eficientes para o desenvolvi- para se concluir um bom negócio. Que imagem temos passado para nossos clientes, para nossos filhos, para as mento e aprimoramento de suas relações sociais. Marketing, vai muito além da me- pessoas com as quais convivemos? Se pensarmos que estamos o tempo todo cora divulgação de um produto ou serviço. municando algo e que a maioria das pessoas julga seus interlocutores pela aparência Em resumo, ele visa aproximar, ao máxi- e ação e isso nos primeiros 10 segundos de contato, precisamos começar a refletir mo, um cliente de um produto ou serviço melhor sobre nossa maneira de vestir, de falar, nossos hábitos e comportamentos em específico oferecendo a ele não somente geral, não para agradar as pessoas, não! Mas para comunicar exatamente o que deseuma “compra”, mas benefícios agrega- jamos sem correr o menor risco de sermos mal interpretados por quem nos observa. Pensar em marketing pessoal dessa forma nos dá a visão de que investir na dos a esta, a fim de satisfazer todos os aparência física e desenvolver o prazer em cuidar-se, estética e emocionalmente, não aspectos da aquisição. Descobrir o público-alvo para ca- é uma futilidade, mas sim uma das chaves para abrir portas e oportunidades nun-

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ca antes alcançadas e porque não dizer, almejadas e que repensar e desenvolver cada vez mais valores éticos e morais é respeitar o próximo e a si mesmo. Para entender a importância do marketing pessoal de maneira simples, basta pensar em uma perfumaria onde diversos frascos de perfumes estão expostos. Qual é a primeira fragrância a que somos despertados a experimentar? Aquela com um frasco bonito. É óbvio que nem sempre o conteúdo é o esperado, mas certamente a aparência foi o primeiro atrativo para se conhecer o conteúdo. Da mesma maneira, muitas vezes aquela embalagem desprezada a princípio é a que tem uma fragrância extraordinária, mas sem a visibilidade necessária para ser “experimentada” por não chamar a atenção. A questão é: se conseguirmos unir a beleza do frasco a um aroma agradável, teremos um conjunto perfeito. O grande desafio é cuidar da aparência, comportamento e hábitos, de forma a atrair os olhares na perfumaria da vida e aprimorar nosso aroma de tal maneira que “os compradores” a nossa volta não se decepcionem, mas desejem nos levar com eles, profissional ou socialmente. Sem dúvida nenhuma, o bom marketing pessoal está apoiado ainda em outros pilares que vão além do exterior e dão sustentação à imagem que se quer construir de si mesmo e passar para os outros: a autoestima, o carisma pessoal, a comunicação interpessoal, as competências profissionais e pessoais, a criatividade, o bom humor e a autoconfiança farão toda diferença para alcançar os resultados almejados. Pense nisso: Palavras sem atitudes são apenas discursos vazios. As pessoas irão “conhecê-lo” muito mais pelo que você faz do que pelo que você diz. Embalagem sem conteúdo não satisfaz. Por esse motivo, ter plena consciência de suas competências pessoais e profissionais é o primeiro passo para saber quais atitudes devem ser tomadas. Desse modo, invista no autoconhecimento e procure tratar suas debilidades de forma a serem eliminadas, tanto quanto possível ou, no mínimo, amenizadas e a seus pontos fortes, de modo a serem desenvolvidos, aprimorados e consolidados. Todo ser humano necessita sim de afirmação e elogio, mas à medida que

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crescemos e amadurecemos precisamos aprender a desenvolver autoconfiança e automotivação. Precisamos descobrir em nós mesmos meios de vencer os medos e superar as fragilidades. Assim, não espere pela empresa, pelo chefe, professor, governo ou por quem quer que seja para iniciar seu processo de crescimento. Corra mais riscos e aperfeiçoe sua tomada de decisões. Não se submeta aos sentimentos derrotistas e aprenda a acreditar que você é único e que veio ao mundo com um propósito especial. Por outro lado, as empresas que focam no bem-estar de seus colaboradores tanto quanto no sucesso de seus negócios, entendem esses conceitos, aplicam e investem em seus recursos humanos, desenvolvendo assim uma equipe muito mais disposta e comprometida com a missão, visão e metas da empresa, que gera consequentemente os recursos financeiros almejados por seus administradores. Em suma, a elaboração do marketing pessoal não é feita da noite para o dia. Tenha paciência e persistência. Preocupe-se com o todo e celebre cada objetivo alcançado. Compreenda que a autoestima exerce total influência nas escolhas que fazemos, nos hábitos que mantemos, na forma como nos portamos diante dos círculos que convivemos, na maneira como acreditamos que as pessoas a nossa volta nos veem e que por esse motivo precisamos trabalhar em nós mesmos de dentro para fora a fim de obtermos resultados consistentes e duradouros. Dessa forma você certamente terá sucesso em seus empreendimentos pessoais e profissionais. Tatiana Ribeiro, ministra cursos de Desenvolvimento e Aprimoramento Financeiro e Marketing Pessoal. É co-criadora dos cursos de Automaquiagem e Desenvolvimento da Autoimagem e Maquiagem Educativa da Fascínio Beleza e Arte onde é sócia.

Av. Cel. Carneiro Júnior, 57 sala 1004 Centro ItajubáMG (35) 3012-1781


TUBERCULOSE, o velho fantasma ainda assombra o desenvolvimento de novos fármacos Pelo Dr. Maurício Frota Saraiva

Acredita-se que a tuberculose (TB) seja conhecida desde o antigo Egito. Esta é uma doença infecciosa, provocada pelo Mycobacterium tuberculosis ou Bacilo de Koch, nome atribuído em homenagem ao cientista alemão Robert Koch, que em 1882 isolou pela primeira vez o bacilo causador dessa doença. O sucesso dos primeiros medicamentos para o tratamento da TB, descobertos na década de 40, estimulou a opinião geral de que a tuberculose poderia ser mantida sob controle ou até mesmo erradicada. Entretanto, passados aproximadamente 70 anos da existência dos primeiros tratamentos medicamentosos disponíveis, a TB continua a se expandir. De acordo com dados apresentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de dois bilhões de pessoas estão infectadas pelo M. tuberculosis, ou seja, aproximadamente 30% da população mundial. Apesar de que, apenas uma pequena parcela das pessoas infectadas desenvolverá a forma ativa da doença, este número ainda é elevado, e de acordo com o último “Global Tuberculosis Report” publicado em 2012, aproximadamente 9 milhões desenvolveram a forma ativa da doença somente em 2011 e 1,4 milhões foram a óbito. No Brasil os índices são também alarmantes. De acordo com o ministério da saúde, ocupamos o 17º lugar no ranking dos 22 países que concentram 82% dos casos de TB no mundo, com cerca de 50 milhões de indivíduos infectados, tendo registrados somente em 2012, 70.047 novos casos e aproximadamente 6 mil óbitos. O tratamento que leva à cura existe para a maioria dos casos de tuberculose. Entretanto ele é longo, aproximadamente seis meses, levando assim muitos dos pacientes a abandonarem o mesmo nos primeiros 15-20 dias, quando geralmente desaparecem os sintomas. Esta conduta tem contribuído para o surgimento de cepas resistentes a muitos dos fármacos já existentes no mercado, situação que tem preocupado pesquisadores em todo o mundo. Dentro deste contexto, surge uma guerra silenciosa, na qual cientistas ao redor do mundo trabalham no desenvolvimento de novas “armas”, ou seja, novos fármacos que sejam capazes de combater de forma mais eficaz esse mal que dizima milhões de vítimas a cada ano. Atualmente dois fármacos da classe das fluoroquinolonas tem ganhado posição de destaque na busca por novos tratamentos contra a tuberculose; a Gatifloxacina e a Moxifloxacina (Fig. 1). Estes são fármacos atualmente disponíveis no mercado e aplicados ao tratamento de diversas outras doenças.

No LASIMBIO (Laboratório de Síntese de Moléculas Bioativas) da UNIFEI, em uma de nossas linhas de pesquisa, temos trabalhado no planejamento, síntese, purificação e caracterização (Fig. 2) de novas moléculas, análogas a estes fármacos, visando uma melhoria de algumas de suas propriedades farmacodinâmicas e/ou farmacocinéticas.

Fig. 2. Diagrama simplificado de etapas realizadas no LASIMBIO na busca de uma nova molécula bioativa.

As modificações moleculares em posições estratégicas das moléculas dos dois antibióticos supracitados, realizadas no LASIMBIO, visam dentre outros, facilitar a passagem do potencial fármaco através da parede celular do Mycobacterium tuberculosis (Fig. 3) proporcionando um acesso mais eficaz até o seu alvo final, podendo desta forma gerar compostos mais eficazes na batalha contra esse mal chamado Tuberculose.

Fig. 3. Bacilo do Mycobacterium tuberculosis e Fluoroquinolona modificada visando melhor penetração através da parede celular do M. tb. Adaptado de: http://drugdiscovery.com/ viewdetails.php?linkid=793&title=Potential-new-strategyin-anti-tuberculosis-drug-development#.UyoRKfldV8G.

Fig.1. Moxifloxacina e Gatifloxacina, dois fármacos promissores no combate à tuberculose.

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Dr. Maurício Frota Saraiva, Professor e Pesquisador do Centro de Estudos, Investigação e Inovação em Materiais Biofuncionais e Biotecnologia da Universidade Federal de Itajubá.

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Afinal, o que as pessoas buscam? Por Renilson Assis A maioria das pessoas buscam sucesso, dinheiro, independência, bens materiais, enfim, buscam conseguir cada vez mais coisas que irão deixá-las mais felizes. Será que tudo que buscam, e que, coincidentemente, são coisas “externas”, lhes trarão realmente a dita felicidade? Se a resposta for sim, o que elas irão realmente ganhar com isso? Será que esta busca incessante por coisas externas é realmente necessária? Conta-se que Alexandre, o Grande, à beira da morte, reuniu seus generais e relatou seus três últimos desejos: “Que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da época; que seus tesouros conquistados (ouro, prata, pedras preciosas) fossem espalhados no caminho até seu túmulo; e que suas mãos fossem deixadas para fora do caixão, balançando ao ar, à vista de todos”. Um dos generais perguntou a Alexandre quais as razões daqueles desejos insólitos. Alexandre explicou: “queria que os médicos carregassem seu caixão para mostrar que eles não têm poder de cura perante a morte; ao cobrir o chão com seus tesouros que as pessoas pudessem ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem, e que suas mãos, ao balançarem ao vento, mostrassem para as pessoas que viemos e voltamos de mãos vazias”. Verdadeira ou não, esta história encontra fundamento para um alerta: a mídia e grande parte da sociedade nos induz, diariamente, para que busquemos, a todo custo, conquistar mais e mais coisas, a maioria delas ligadas a status, e para mostrar “aos outros” do

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que somos realmente capazes. Esta busca desenfreada acaba fazendo com que nós mesmos venhamos a fabricar diversas patologias provocadas pelo desequilíbrio, muitas vezes inconsciente, do nosso sistema energético, oriundo de atitudes mentais erradas e de autocobranças para conseguirmos conquistar mais e mais coisas.

Com o entendimento e aprendizado de como funciona seu sistema energético e com o foco em sua essência divina, alimentando-a e expandindo-a, você passa a vislumbrar a vida como nunca vivenciou antes. O ser humano esqueceu-se de seu real papel perante o seu próprio processo evolutivo, sem entrar aqui em méritos religiosos ou de karmas e dharmas. Esqueceu-se de procurar “ser alguém”, ao invés de buscar “ter algo”. Esqueceu-se de que, dentro dele, independente de religiões, existe uma “essência divina” que precisa ser alimentada com informações para seu desenvolvimento consciencial, preservada e expandida, refletindo essa essência para tudo e todos ao redor, atraindo, aí sim, tudo aquilo o que realmente precisa para dar continuidade ao processo evolutivo nesta vivência carnal, e assim ter a possibilidade de atuar como “agentes de regeneração planetária”, contribuindo com “o todo” e melhorando o convívio com todos que estiverem ao seu redor.

Quando digo aos meus clientes: “Diga-me como você vibra, que te direi como é a energia ao teu redor”, eles, num primeiro momento, apresentam certa resistência em acreditar que se mudarem seus hábitos e atitudes mentais, tudo ao seu redor também se transformará. Com o entendimento e aprendizado de como funciona seu sistema energético e com o foco em sua essência divina, alimentando-a e expandindo-a, fazem a reconexão (religare) com sua mais íntima essência e passam a vislumbrar a vida como nunca vivenciaram antes, acalmando-se e sendo gratos por estarem no aqui e no agora, muito mais felizes do que eram anteriormente quando estavam “correndo atrás” da satisfação que, o tempo todo, estava dentro deles mesmos. Para esta reconexão e entendimento de como funciona nosso sistema energético, a técnica Reiki proporciona o acesso à captação de energia suficiente para nos nutrir de forma mais completa, equilibrando-nos a nível físico, emocional, mental e espiritual, mesmo não tendo vínculo com nenhuma religião. Essa técnica de canalização de energia e imposição de mãos resgata a capacidade que todos nós tínhamos, nas nossas origens, de canalizar energia para nos nutrir e para ajudar aqueles mais próximos a nós. Fazendo brilhar nossa luz, iluminamos melhor nosso caminho e conseguimos enxergar melhor as possibilidades e aquilo o que realmente vai nos trazer a verdadeira felicidade. Renilson Assis, Terapeuta Holístico, Mestre de Reiki, autor do livro “Revelações para o Despertar da Consciência” e Fundador da Escola de Conscientizadores HOLOS REIKI.

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Foto: www.goolgle.com

Doença de

Alzheimer

(DA)

Por Dr. João Batista Macedo Vianna

A DA é a maior causa de demência da atualidade, afetando milhões de pessoas ao redor do mundo. O risco aumenta consideravelmente com o avanço da idade. É estimado que este risco dobre a cada 5 anos a partir dos 65 anos de idade. 50% dos pacientes acima de 85 anos manifestam a doença. Com o envelhecimento da população em países desenvolvidos estima-se que a DA quadruplique até a metade do século 21. O impacto econômico gerado pelas despesas com saúde, morbidade e mortalidade, aumentam substancialmente os custos ao sistema de saúde. O atraso no diagnóstico acontece devido ao consenso de que a demência é algo inevitável com o avanço da idade. Isso faz com que o diagnóstico da DA aconteça em pacientes com demência avançada. Esse conceito impede que a abordagem terapêutica seja instituída de maneira adequada. Outro fator, que muitas vezes, prejudica o diagnóstico é a falta de abordagem multidisciplinar, como a avaliação neuropsicológica e a realização de testes padronizados que avaliam as funções cognitivas. Menos de 50% das pessoas com demência são diagnosticadas de forma correta, destas, grande parte não recebe terapêutica adequada. Portanto, é imprescindível o conhecimento da história natural da DA, bem como seus efeitos sobre os pacientes e seus responsáveis, quanto ao uso correto das opções terapêuticas. A DA é um distúrbio neurodegenerativo causado pelo depósito anormal e excessivo da proteína ß-amiloide no cérebro, que é formada durante o metabolismo da proteína precursora do amiloide (PPA), composto que participa

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na regulação e manutenção da integridade das conexões entre os neurônios, provavelmente regulando a atividade tóxica do glutamato, que exerce atividade excitatória excessiva. A proteína precursora de amiloide – PPA é codificada pelo cromossomo 21 (mesmo cromossomo alterado na Síndrome de Down) e metabolizada pelas secretases na membrana celular dos neurônios. As pré-senilinas 1 e 2 também participam do processo. Resumindo: o ß-amilóide é um curto fragmento da proteína PPA, com cerca de 42 aminoácidos de comprimento, insolúvel em água, e devido sua estrutura terciária, cadeia ß-pregueada, acumulam-se do lado de fora da membrana durante o processamento da PPA de forma lenta, durante anos, no espaço extracelular, sendo ß-amiloide tóxico para os neurônios e para as sinapses, o que leva a destruição das conexões neuronais e a morte neuronal. As proteínas ß-amiloide formam placas difusas, que sozinhas não causam demência. Muitos idosos normais apresentam as placas difusas no cérebro levando a uma demência relacionada ao envelhecimento normal. A demência causada pela DA se torna frequente quando tais placas progridem para placas senis ou neuríticas, que contém outras substâncias além de proteína ß-amiloide, tais como proteínas inflamatórias (que levam à gliose – processo que leva à fibrose do tecido cerebral, causando alterações anatômicas e prejuízo da função cerebral), proteínas sinápticas (responsáveis pela perda das conexões Interneuronais), células gliais (responsáveis pela sustentação e estrutura do tecido cerebral – suas alterações levam a

atrofia do córtex cerebral) que ativam fibrilas neuríticas e outros componentes. Formadas por um núcleo central de ß-amiloide, são cercadas por inúmeras proteínas e restos celulares, de distribuição difusa no córtex. Os sintomas da DA e sua evolução insidiosa, fazem com que os primeiros sintomas não sejam identificados de forma correta. A evolução típica da DA As primeiras placas surgem no hipocampo (estrutura envolvida no mecanismo da memória recente), pacientes esquecem palavras e nomes, passando a depender de calendários, listas e familiares para se lembrar das coisas. Tornam-se desorganizados, repetitivos, fazendo as mesmas perguntas e conversas minutos após. Esquecem de transmitir recados, desligar o fogão, onde colocaram objetos, chegando até mesmo a se esquecerem deles. Muitas vezes os pacientes passam a desconfiar dos outros, afirmando até mesmo que foram roubados. O declínio cognitivo faz com que os pacientes esqueçam palavras, com uma dificuldade mais acentuada com nomes, perda da percepção temporoespacial. Nas fases iniciais, os pacientes apresentam dificuldade, mas conseguem esconder o déficit durante uma consulta com o geriatra. Um achado precoce na DA é a dificuldade com nomes, que tem como causa o envolvimento da parte superior do lobo temporal dominante. A patologia evolui com um quadro de afasia global (dificuldade de se comunicar) à medida em que os lobos frontal e parietal do hemisfério dominante sejam

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acometidos. Uma síndrome parkinsoniana surge com o envolvimento dos núcleos da base causando lentidão dos movimentos, tremores e dificuldade de esboçar emoções, com expressão facial, a chamada face marmórea, e modificações da marcha, que se torna lenta com passos curtos, além de riscos de queda. Muitos pacientes procuram atenção médica devido à preocupação dos familiares quando seus atos e sua variabilidade de humor geram situações desagradáveis. Os pacientes podem apresentar alucinações e delírios. Com a evolução da doença perdem a capacidade de vida independente. Os familiares devem sempre ficar atentos a alterações precoces: uso inadequado de medicações, descontrole financeiro, erros ao dirigir veículos, manutenção de objetos que podem colocar familiares e o próprio paciente em perigo... As crises convulsivas surgem em 20% dos pacientes e as mioclonias se mostram mais frequentes em estágios mais avançados da doença, evoluindo para perda do controle dos esfíncteres e passando a dependência total de cuidados especializados. Esse período pode durar 20 anos ou mais e o êxito letal sobrevem por pneumonia, devido à broncoaspiração. Importante ter o diagnóstico diferencial de outras patologias, tais como encefalopatia de Korsakoff, doença de Pick, demência vascular e demência pelo complexo HIV. Fatores de risco para doença de Alzheimer: idade avançada, história familiar, genótipo da apolipoproteína e (ApoE), altos níveis de homocisteína em jejum, hipertensão arterial sistêmica, história de acidente vascular cerebral. Os três últimos fatores podem ser modificados, diminuindo o risco de desenvolver a doença. O que está bem documentado na literatura relaciona-se com a idade. É difícil medir a incidência em pessoas com mais de 85 anos, pois neste grupo existe um aumento da mortalidade, e pessoas acima de 100 anos, não apresentaram evidências de DA na autópsia. A predisposição genética é difícil pois muitos pacientes podem ter falecido por outras causas antes de desenvolverem a DA. Formas pré-senis são raras e precoces, sua herança é autossômica dominante, sendo estas formas responsáveis por cerca de 5% dos casos. As formas hereditárias da DA de origem genética

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estão ligadas a mutações nos genes da PPA e das pré-senilinas, aumentando dessa forma a predisposição à deposição de amiloides nos indivíduos afetados, o que pode gerar o início precoce da doença. Os portadores da síndrome de Down (trissomia do 21) apresentam um aumento de deposição de ß-amiloide, desenvolvendo a doença aos 35 anos. O genótipo da ApoE é um importante fator genético. Existem cinco formas alélicas desse gene (épsilon 1 a 5) que são codificados no cromossoma 19 (ε3 e ε4 e ε2; ε1 e ε5 muito raros). A associação da ApoE e do alelo ε4 mostra uma maior especificidade e sua presença aumenta o risco de desenvolvimento da DA, não havendo uma associação deste com outras doenças neurodegenerativas. A genotipagem da ApoE está disponível, mas atualmente é mais utilizada em pesquisa. Estudos indicam resposta variável à medicação em função do genótipo ApoE. O diagnóstico da DA é sempre um desafio, pois a despeito de todo o avanço nos estudos de Neuroimagem, Ressonância Nuclear Magnética (RNM), a Ressonância Funcional – fRNM, Espectrocopia de Prótons, Cintilografia de Perfusão, não há até o momento uma bateria de teste padrão para o diagnóstico da DA. Níveis séricos de vitamina B12, TSH no soro podem revelar uma causa reversível de demência, afastando assim o diagnóstico de doença de Alzheimer. A tipagem da Apolipoproteína E não confirma o diagnóstico de DA e sua realização só irá causar pânico desnecessário aos familiares. Pesquisa de Proteína tau, amiloide 13, PPA e proteínas de filamentos neuríticos são promissoras, porém o seu alto custo torna o método proibitivo. O tratamento farmacológico é sintomático, não havendo até o momento terapias específicas disponíveis. O diagnóstico precoce e a instituição da terapêutica adequada ainda é a melhor estratégia na abordagem de pacientes com doença de Alzheimer. É importante orientar os familiares que o declínio cognitivo e funcional é progressivo. O acompanhamento neuropsicológico e a realização de testes psicológicos repetidos – teste do estado mental – é extremamente útil no acompanhamento evolutivo da DA, por exemplo, a taxa média de redução no escore do MMSE na DA é de três pontos ao ano. Dr. João Batista M. Vianna, Neurologista.

A importância do exame oftalmológico em recém-nascidos e crianças Por Dr. Carlos Vinícius Ferreira Motta

Há necessidade de se examinar os recém-nascidos de baixo peso e com partos distócicos, pois em muitos casos os mesmos apresentam alterações oftalmológicas, que só são detectadas pelo teste do olhinho e fundoscopia indireta, que deverá ser feito na primeira semana de vida. Esses exames feitos preventivamente permitem o diagnóstico de tumores, cataratas congênitas e retinopatia da prematuridade. Com o diagnóstico precoce, essas patologias são passíveis de tratamento com boa eficácia visual. Nos pré-escolares é mandatório o exame de acuidade visual e refração para eliminar e identificar a ambliopia, que é a baixa de visão em um olho ou em ambos. Com o diagnóstico precoce a ambliopia deve ser tratada através de oclusão e correção óptica para a melhora do campo de visão e da acuidade visual, necessária, no futuro, para exercer atividades profissionais.

Toda criança com estrabismo deverá ser examinada precocemente para correção do desvio de forma óptica ou cirúrgica a fim de melhorar sua visão e profundidade de foco. Os professores deverão ficar atentos com as crianças que apresentam baixo rendimento escolar orientando a família a procurar atendimento oftalmológico. Dr. Carlos Vinícius Ferreira Motta, Oftalmologista, Especialista em Visão Subnormal e Estrabismo.

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A medida da Dor Por Beatriz Ferreira Neves e José Aparecido da Silva

Por que é importante medir a dor? Medir, enquanto determinar e avaliar, por meio de instrumentos ou técnicas de medida, o que quer que seja, é fundamental para toda investigação científica. E, talvez por isto, ao longo da história da ciência, tanto filósofos, quanto cientistas destacaram a importância da mensuração. Para Protágoras, o homem era a medida de todas as coisas. Para Galton, sempre que pudéssemos, deveríamos contar. Para Lord Kelvin, quando não pudéssemos medir, em nada contribuiríamos para o avanço da ciência. Para Thurstone, se alguma coisa existia, ela existia em certa quantidade e podia ser mensurada. Logo, medir era, e continua sendo, essencial para a pesquisa e tomada de decisões em diversas arenas da vida. Mas, afinal, por que é importante medir a dor? Porque decisões terapêuticas, diagnósticos e responsividades às terapias dependem da identificação correta da presença e severidade de uma desordem, a qual, usualmente, vem acompanhada pela sensação dolorosa. Por isto, o tipo, a quantidade e a qualidade desta, uma vez mensurada, permitem, fidedignamente, ao médico, ter referenciais para adotar determinadas intervenções terapêuticas. Em sua ausência, torna-se difícil, inclusive, determinar a durabilidade e os riscos de uma conduta, sem falar na impossibilidade de acompanhamento e análise da ação de diferentes drogas analgésicas. Por sua natureza subjetiva, a sensação de dor não pode ser diretamente determinada por instrumentos físicos que, usualmente, mensuram a temperatura, o peso corporal, a altura, a pressão arterial e a glicose sanguínea. De fato, nós temos o termômetro para medir a temperatura, a balança para medir o peso, o metro para medir a altura, o esfigmanômetro para medir a pressão sanguínea e o glicômetro para medir a glicose sanguínea. Comum, a todos estes, é o conceito de emparelhar números ao fenômeno mensurado, tendo como propósito graduá-los. Todavia, quando a mensuração é aplicada mais a sintomas, do que a resultados físicos, patológicos ou laboratoriais, como por exemplo, acontece com a dor, o alto registro é o padrão ouro de avaliação de percepção dolorosa de um indivíduo, seja no contexto clínico ou hospitalar. Dor é tudo o que a pessoa que a vivencia diz que é. E existe todas as vezes que a pessoa diz que existe. Portanto, é a autoavaliação o indicador mais confiável da existência e da intensidade da dor. A dor como quinto sinal vital A partir dos anos 90, à dor foi dado o “status” de “quinto sinal vital” no domínio médico. Seu registro rotineiro, após a temperatura, pulsação, pressão arterial e respiração, constitui-se numa imprescindível responsabilidade dos clínicos para minorar, adequadamente, o sofrimento dos pacientes que estão aos seus cuidados.

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Por causa disso, escalas de mensuração de dor, especialmente, as de categoria numérica, visual, verbal, facial, analógica visual foram incorporadas aos variados contextos clínicos, tornando-se, muitas delas, populares para os diferentes profissionais da saúde que frequentemente usam-nas para mensurar a dor. Exemplos destas escalas estão representados nas figuras ilustrativas abaixo. Dor esta que, registrada como “quinto sinal vital” de acordo com os registros dos pacientes, varia em severidade ao longo do tempo, pareando o fenômeno com outros parâmetros clínicos objetivos.

Vários métodos têm sido utilizados para mensurar a percepção/sensação de dor. Alguns consideram a dor como uma qualidade simples, única e unidimensional que varia apenas em intensidade, mas outros a consideram como uma experiência multidimensional composta também por fatores afetivo-emocionais. Os instrumentos unidimensionais são designados para quantificar apenas a severidade ou a intensidade da dor e têm sido usados frequentemente em hospitais e/ou clínicas para se obter informações rápidas, não invasivas e válidas sobre a dor e a analgesia. Os instrumentos multidimensionais, de outro lado, são empregados para avaliar e mensurar as diferentes dimensões da dor a partir de diferentes indicadores de respostas e suas interações. As principais dimensões avaliadas são a sensorial, a afetiva e a avaliativa. Algumas escalas multidimensionais incluem indicadores fisiológicos, comportamentais, contextuais e também os autorregistros por parte do paciente. Como descrever a dor? Por ser a dor uma experiência subjetiva, torna-se muito difícil ser “compartilhada” com outros, por isso sua avaliação e/ou mensuração é baseada, significativamente, na “linguagem” através da qual

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ela é “comunicada”. Este é, portanto, um importante aspecto para entender e avaliar a dor do outro. Usualmente, descrições verbais da dor, conhecidas como “descritores”, contribuem para o entendimento da experiência dolorosa de um paciente. Exemplos são: dor latejante, pontada, perfurante, lancinante, formigamento, penetrante, alucinante, entre outros. Recentemente, grande número de pesquisas tem tentado, utilizando tais descritores, verificar se há diferenças na dor vivenciada por homens e mulheres. Neste sentido, tanto aspectos biológicos quanto sociais da percepção de dor possam ser entendidos baseando-se na utilização masculina e feminina de tais descritores. Como exemplo cita-se a literatura indicando que fatores psicossociais podem influenciar a percepção e a resposta à dor, bem como identificar, muito mais da variabilidade associada à dor do que variáveis como hormônios, neurotransmissores e, até mesmo, fatores anatômicos e fisiológicos. Estudo recente, explorando diferenças de gênero na linguagem utilizada para descrever um evento dolorido relembrado, e no qual as pessoas deveriam fornecer descrições escritas deste evento relatado, revelou que mulheres foram significativamente mais prováveis de comprovar tarefas descritivas relatando a dor, do que os homens. Usando linguagem mais evocativa e descritiva, ao passo que os homens utilizaram menos palavras e linguagem menos gráfica. Além disso, relataram com mais objetividade suas lembranças sobre o evento ocorrido. Em outras palavras, mulheres foram mais hábeis em expressar graficamente a dor que os homens. Focalizando, tipicamente, aspectos sensoriais da dor, ao contrário dos homens, que focalizaram mais as emoções e os eventos relacionados à dor. Aspectos comuns, em ambos os sexos, foram as limitações funcionais causadas pela dor, assim como, dificul-

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dades em descrevê-la e sua natureza dual (quantitativo, qualitativo). Entretanto, quais são as aplicações clínicas de tais elementos? A consciência destas diferenças pode orientar os profissionais de saúde quando eliciando descrições de dor, bem como, em diagnosticar e tomar decisões acerca da avaliação, tratamento e controle da dor ou em intervenções sobre tal tratamento. Todavia, é importante também que, embora os descritores verbais possam fornecer informações valorosas sobre a experiência da dor, é muito difícil diferenciar os mecanismos de dor baseando-se simplesmente nestes descritores. Dor é tudo aquilo que o paciente relata, e como relata. Menosprezar isso é minorar o bem-estar subjetivo do paciente, assim como, sua qualidade de vida. Como a face expressa dor Além de sua natureza essencialmente subjetiva, a dor é uma experiência multidimensional, envolvendo componentes sensoriais, afetivo-motivacionais e cognitivos. Os componentes sensoriais incluem a percepção da localização, intensidade e qualidade da dor, enquanto que os componentes afetivo-motivacionais referem-se ao desprazer provocado pela dor e às emoções relacionadas às suas implicações. Neste contexto, embora os componentes sejam intimamente relacionados entre si, a distinção entre eles tem se mostrado útil para descrição da dor experimental e clínica. A expressão facial da dor tem, atualmente, recebido considerável interesse dos pesquisadores na área de dor, pois, tem sido mostrado que tais expressões faciais desempenham um papel muito importante nas interações sociais, bem como, de grande relevância clínica para o diagnóstico da dor. Com o propósito de revelar quais dimensionamentos da dor (sensorial e

ou afetivo) são codificados na face, pesquisadores usaram uma estratégia cognitiva bem conhecida (sugestionamento) para, diferencialmente, modular as dimensões sensorial e afetiva da dor e analisar o efeito desta manipulação nas respostas faciais à dor experimental. Para isso, 22 voluntários saudáveis (10 mulheres e doze homens) tiveram avaliadas, e estimadas, antes e após as sugestões, suas expressões faciais, intensidade e desprazer de dor, bem como, respostas condutivas da pele, sendo, estas últimas, provocadas pelo calor, com as expressões faciais analisadas através de um sistema de codificação da ação facial. Os principais resultados revelaram que sugestões designadas para aumentar o componente sensorial da dor produziram um aumento seletivo nas estimativas da intensidade da dor, enquanto aquelas designadas para aumentar o componente afetivo da dor produziram estimativas elevadas de desprazer e de respostas condutivas da pele. Ademais, as sugestões ou aumentaram o componente afetivo da dor, ou o componente sensorial da mesma, produzindo modulações seletivas nos padrões de respostas faciais, com movimentos ao redor dos olhos, codificando principalmente os aspectos sensoriais. Já movimentos das sobrancelhas e pálpebras foram mais associados aos componentes afetivos da dor. Globalmente, os dados deste estudo fornecem clara evidência de que as expressões faciais da dor é um sistema de resposta multidimensional, que codifica tanto as dimensões afetivas quanto as sensoriais da dor. Logo, as respostas faciais que acompanham a sensação de dor não se associam apenas à dimensão afetiva da dor, como a maioria das pessoas supõe, pois, elas refletem, também, seu componente sensorial. Beatriz Ferreira Neves, UniSEB-Ribeirão Preto. José Aparecido da Silva, Departamento de Psicologia Campus da USP-Ribeirão Preto.

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Nova técnica para tratamento da ATM e Dor Miofascial Agulhamento à seco — "dry needling" Pela Dra. Gracia Costa Lopes

A Síndrome Dor Miofascial (SDM) e a Disfunção Temporomandibular (DTM) são consideradas como uma das causas de dor de cabeça e de pescoço. A Dor Miofascial é caracterizada por pontos-gatilho e condição dolorosa que afeta os músculos esqueléticos, suas fáscias associadas, tendões e ligamentos. Esta dor pode acometer um músculo ou um grupo de músculos e piora com atividade ou esforço, podendo ser local ou irradiar para outros locais. Aparece alguns nódulos ou pontos-gatilho que se desenvolvem a partir do excesso de uso de um músculo, no caso da DTM devido ao bruxismo, apertamento dental, hábitos parafuncionais (roer unhas, mascar chicletes, morder caneta, dormir com a mão debaixo da mandíbula, etc), trauma, má postura, falta de exercício físico, distúrbios do sono, deficiências vitamínicas, artrite comum ou nervos sendo comprimidos na coluna e outros locais. Essas áreas dolorosas contém bioquímicos que modificam o ph dos nervos locais, diminuindo o fluxo de oxigênio (isquemia), causando mais dor, resultando em fibras musculares tensas e rígidas. O ponto-gatilho normalmente pode ser localizado pelo dentista es-

pecialista em DTM através do exame físico e a palpação. A desativação dos pontos-gatilho é o principal tratamento na Síndrome de Dor Miofascial. O tratamento deste ponto-gatilho tem o objetivo de restaurar a função normal do músculo através do chamado agulhamento à seco ("dry needling") que é uma técnica na qual agulhas de acupuntura são inseridas em pontos-gatilho a fim de diminuir ou atenuar a Dor Miofascial e a Disfunção Temporomandibular e

melhorar o movimento dos músculos. Este tratamento permite que a contratura do músculo libere e que esse volte ao seu tamanho normal, a circulação melhora, diminuindo o inchaço e dispersando os produtos químicos, eliminando assim os seus efeitos nocivos sobre os nervos locais. A técnica de agulhamento à seco se diferencia das técnicas de acupuntura porque no agulhamento à seco o objetivo único é a inativação dos pontos dolorosos ("trigger points") e interrupção do ciclo da dor. A acupuntura se utiliza de pontos clássicos da medicina tradicional chinesa, e a terapêutica parte de uma avaliação que envolve conhecimentos de fisiologia energética e semiologia específica. A razão pela qual esse método é tão eficaz é que ele corta o ciclo vicioso de uma forma muito direta que outros métodos não podem realizar. Muitos métodos de tratamento são aplicados aos músculos doloridos, mas nenhum é tão eficaz, de ação rápida e de longa duração como o tratamento de agulhamento à seco. O tratamento utiliza agulhas estéreis de monofilamento fino para atingir seu objetivo. A técnica é geralmente rápida, com limiar de dor muito baixo, ocasionando após aplicação uma redução da dor e melhora da função.

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Sustentabilidade urbana O crescimento demográfico do globo terrestre tem atingido dimensões nunca antes observadas. A cada minuto, a população mundial aumenta cerca de 140 pessoas, ou seja, 6 milhões por mês. Nesse ritmo a população do planeta, que tem atualmente cerca de 7 bilhões de pessoas, deverá atingir mais de 9 bilhões no ano de 2050. Quanto maior a quantidade de habitantes, maior a demanda por recursos naturais, essenciais à vida humana. Com o passar dos tempos, a paisagem de um planeta totalmente coberto por árvores, rios limpos e solo fértil foi desaparecendo com a degradação do meio ambiente. Ao contrário do que se acreditou no passado, os recursos naturais não são infinitos e seu consumo, a continuar nos níveis atuais, poderá levar a terra à exaustão, afetando diretamente as chances de sobrevivência das gerações futuras. A cidade é onde vive, ou gostaria de viver, a maioria dos seres humanos. A população que reside nas cidades que, em 2008 totalizava 3.4 bilhões deverá chegar a 6 bilhões em 2050, ou seja, dois terços da população mundial estará ocupando a zona urbana das cidades. O crescimento acelerado das cidades gera mudanças radicais e negativas para o planeta e se não for bem planejado poderá provocar uma verdadeira bomba relógio. Por serem as maiores consumidoras mundiais de energia e de matérias primas, as cidades provocam grande contaminação no meio ambiente. Os centros urbanos são considerados um dos lugares mais sujos da natureza. Produtora de lixos, contaminação atmosférica, concentração de

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Por Paulo José Braz Rosas

edifícios, substituição de superfícies permeáveis por asfalto e concreto, redução de áreas verdes, enchentes, as cidades possuem problemas constantes em manter a natureza em equilíbrio. O baixo desempenho ambiental das cidades contemporâneas indicam a necessidade de se buscar novos paradigmas para o desenvolvimento urbano. Por esse motivo, a sustentabilidade urbana é um dos temas mais estudados no momento. Uma cidade sustentável é aquela onde a mobilidade é mais suave, mais coletiva e menos poluente; é uma cidade que consome bens cuja produção e distribuição é mais cuidada, mais próxima e mais orgânica; é uma cidade que trata com cuidado os seus detritos; é uma cidade que atende e cuida com atenção das suas fontes energéticas. Cidades sustentáveis são aquelas que adotam uma série de práticas eficientes voltadas para a melhoria da qualidade de vida da população, desenvolvimento econômico, social e preservação do meio ambiente. Geralmente são cidades muito bem planejadas e bem administradas.

O Plano Diretor de desenvolvimento das cidades brasileiras tem sido um importante instrumento legal para planejar o crescimento urbano de forma sustentável. Atualmente, existem várias cidades no mundo que adotam práticas e ações sustentáveis, embora ainda não possamos classificar uma única cidade que seja 100% sustentável. Barcelona (Espanha) – é a cidade que está a caminho da sustentabilidade devido à aplicação de alto investimento em transporte público eficiente e em energia renovável; Copenhague (Dinamarca) – onde 40% da população utiliza a bicicleta como meio de transporte urbano é a cidade que emite menos CO2 do mundo; Estocolmo (Suécia) – é considerada a capital verde da Europa; Malmo (Suécia) – é a cidade que recicla mais de 70% do lixo coletado e os resíduos orgânicos são reaproveitados para a produção de biocombustíveis; Freiburg (Alemanha) – tem um bairro especialmente projetado para ser abastecido por energia solar; Yokohama (Japão) – é reconhecida como cidade verde, inteligente e a cidade do futuro. No Brasil, apesar de estarmos ainda muito atrasados no quesito sustentabilidade urbana, temos a cidade de Curitiba (Paraná), que é reconhecida mundialmente como um exemplo de soluções de urbanismo, educação e equilíbrio com o meio ambiente. Se é ao homem que compete a responsabilidade da sustentabilidade do planeta, é na cidade onde estão os maiores problemas a serem equacionados. “Queremos ou não deixar um mundo sadio para as futuras gerações?”

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