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Naturale 21a edição Junho/Julho - 2013

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A música em sinergia com o meio ambiente Uma abordagem sobre Bonecos Reciclados em sala de aula As embalagens plásticas descartáveis Os catadores de materiais recicláveis e a coleta seletiva Trupe Sapucaiaços Ultrassom para repelir insetos A serviço dos animais O vestido de noiva dos seus sonhos Campos do Jordão, um Jardim Botânico disfarçado de cidade AENAI — 30 anos Encontro Nacional de Turismo Maior Pé-de-Moleque do Mundo

18 Barraca Vermelha — O tradicional Pé-de-Moleque de Piranguinho 20 Saúde Dental 22 Materiais odontológicos: possibilidades e benefícios para odontologia

expediente Naturale é uma publicação da DIAGRARTE Editora Ltda CNPJ 12.010.935/0001-38 Itajubá/MG Editora: Elaine Cristina Pereira (Mtb 15601/MG) Colaboradores Articulistas: Camilla Toledo, Celem Mohallem, Cleber Marinho, Gilberto Andreotti, Dra. Gracia Costa Lopes, Jairo Bueno Chaves, José Maurício Carneiro da Silva, Marco Antonio, Marcos E. C. Bernardes, Marina Zan, Miriam Matsuda, Paula Abreu, Rafael Sol, Rossano Gimenes e Walter Vasconcellos. Revisão: Marília Bustamante Abreu Marier Projeto Gráfico: Elaine Cristina Pereira Capa: Cleber Miranda (foto) Vendas: Diagrarte Editora Ltda Impressão: Gráfica Novo Mundo Ltda Tiragem: 4.000 exemplares impressos e 10.000 eletrônico Distribuição Gratuita em mídia impressa e eletrônica Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados. Para reproduzir é necessário citar a fonte. Venha fazer parte da Naturale, anuncie, envie artigos e fotos. Faça parte desta corrente pela informação e pelo bem. Contate-nos: (35) 9982-1806 e-mail: revistanaturale@diagrarte.com.br Acesse a versão eletrônica: www.diagrarte.com.br Impresso no Brasil com papel originado de florestas renováveis e fontes mistas.

Apoio para distribuição:

Foto: Jair Antonio

ISSN 2237-986X

Caro leitor No mês de junho se comemora o Meio Ambiente e muitas atividades e palestras são realizadas neste período para despertar a consciência da preservação. A bem da verdade deveríamos ter presente este espírito em todos os dias do ano. Moramos em um planeta que, apesar de não parecer, possui recursos naturais finitos, se não forem utilizados de forma correta. Nesta edição, a Naturale traz a questão da reciclagem na música, nas artes plásticas, em projetos educativos e na necessidade de fazermos nossa parte como consumidores conscientes, pois tudo o que produzimos não tem outro destino senão a própria Terra, ou seja, mesmo que não estejamos vendo para onde foi o "lixo ou resíduo" que descartamos, ele continua no planeta, e como tudo o que existe, continua com seu ciclo de vida e suas interferências no meio ambiente. Lembrei-me de um livro que li na infância "O menino do dedo verde", de Maurice Druon, escrito em 1957, ele conta a história de um menino que possuia o dom de transformar em flores tudo o que tocava, ele transformou a realidade de sua cidade. Hoje, ser o "menino do dedo verde" pode representar o ato de transformar os "resíduos" em bens de consumo, em arte, em formas de recriar os bens fabricados e não apenas descartá-los. Muitos países já despertaram para isto e creio que cada um de nós deveria descobrir e por em prática o nosso "dedo verde". Que maravilha seria... tenho certeza que teríamos uma cidade melhor de se viver, uma convivência mais feliz com as pessoas, além, é claro, de uma satisfação pessoal por colaborar de forma harmônica com o planeta. Talvez ai encontremos significado na frase "co-criadores com o universo". Aproveito para parabenizar a AENAI, nossa parceira, pelos 30 anos de existência e desejar-lhe muitos anos de vida com o trabalho sério e valoroso que desenvolve. Celebro também as novas parcerias firmadas com a Prefeitura de Campos do Jordão (SP) e com a Associação Comercial de Ouro Fino (MG). A todos os parceiros nosso agradecimento! Bem, deixo a você leitor, o prazer de folhear as próximas páginas e encontrar inspiração para o seu "dedo verde". Boa leitura. Elaine Pereira


A música em sinergia com o meio ambiente Por Marina Zan e Miriam Matsuda

A música é uma linguagem artística, uma manifestação cultural e étnica que tem culturas sonoras e instrumentos em sua estrutura relações com outras áreas do conhecimento. Quem aprecia ou estuda artesanais. música, desenvolve senso rítmico, percepção musical, harmonia e criatividade. Fernando Sardo ministra curso Hoje, a criatividade aliada à consciência ecológica une a música à preservação amde luteria e música experimental por biental e à consciência do reaproveitamento e da reciclagem. Assim, contribui para a todo o Brasil, em casas culturais, preservação do planeta e para o desenvolvimento humano. empresas, escolas e universidades A partir da utilização de materiais orgânicos como cabaça, bambu, madeira, pedra e de arte, para um público variamateriais sintéticos como plástico, papel, borracha, metal, sucata, utensílios domésticos, do, como crianças, adolescentes, garrafas pet e diferentes tubos e peças em PVC, podem ser criados diversos instrumentos adultos, artistas, educadores e musicais com uma grande variedade de sonoridades a serem exploradas. arte-educadores. Estes cursos têm O músico, compositor, multicomo objetivo incentivar a pesquiinstrumentista, luthier, artista plássa e a construção de instrumentos tico e arte-educador Fernando Sarmusicais feitos com matéria-prima do, nos apresenta uma gama de posalternativa, estimulando a criativisibilidades relacionadas à consciendade e a autoria. O trabalho convida tização ambiental por meio da recipara a busca coletiva por novas clagem de materiais para a construplasticidades, sonoridades e timção de instrumentos musicais e para bres. Para isso, Fernando propõe a musicalização das pessoas, o que em seus cursos que se criem e consvem transformando e aprimorando truam instrumentos com diferentes sistemas de aprendizagem da música materiais e que, posteriormente, para os mais variados públicos. os alunos façam suas próprias meO trabalho de Sardo é fruto de lodias, sendo sensibilizados para uma pesquisa iniciada em 1980, em explorar timbres nunca antes permúsica e luteria étnica de diversas cebidos. Assim, se dá o lúdico méépocas e culturas. Esta pesquisa só todo de musicalização criado por foi possível devido ao fato do artista ele. Seus cursos são multidisciplinaresidir na cosmopolita Grande São res, ou seja, a música, a luteria e as Paulo, que possibilita o contato com artes visuais são relacionadas com colônias e músicas de várias culturas, outras áreas do conhecimento coentre elas: japonesa, árabe, indiana, mo a matemática, a física, a história africana, europeia, latino-americana À esquerda violino confeccionado com lata, cabo de e os valores de consciência e prevassoura, colher e madeira. À direita violoncelo feito e indígena brasileira. Deste contaservação ambiental. com tubos, conexões e caixa de inspeção de PVC. to surgiu uma grande variedade de A partir dos anos 90, Fernando instrumentos típicos que o artista se dedicou a criar, além dos instrumentos musicais, esculturas sonoras que utilizou a reproduziu e estudou. A partir daí, princípio, em suas próprias composições musicais. No entanto, sua prática pedagógica foram concebidos e construídos apontou que as esculturas e instalações sonoras, por sua singularidade artística, seriam mais de 160 instrumentos musicais um ótimo recurso de interatividade, prática musical e convivência em grupo. Estas obras entre corda, percussão e sopro, com plástico-musicais são construídas artesanalmente e proporcionam ao público a apreciamatérias-primas alternativas orgâni- ção visual, aliada à interação artística e lúdica, por meio de fontes sonoras timbrísticas cas e sintéticas, além de esculturas e melódicas. As esculturas sonoras, instalações mue parques sonoros. Esta pesquisa se reflete constantemente em suas sicais e parques sonoros de autoria de Fercomposições musicais que contém nando podem ser encontradas em várias como característica sua extensa bus- regiões do Brasil. O “Sabina — Escola Parca por timbres e sonoridades pouco que do Conhecimento” em Santo André convencionais. Suas criações de- (SP), inaugurado em 2006, é exemplo de monstram diversas possibilidades um espaço multidisciplinar que privilegia de fazer música ou de simplesmente a popularização da ciência e das artes de perceber o som produzido, seja por forma interativa. Neste local está disposobjetos do cotidiano, por objetos ta a instalação sonora “Sons Recicláveis”, descartados (sucata), ou pelas es- que contém fontes sonoras de sopros,

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percussão e cordas. A obra foi construída com plástico, latas e mangueiras, que proporcionam completa interação do público. Já na cidade de Ouro Preto (MG), o “Vagão Sonoro Ambiental”, localizado na estação de trem de Ouro Preto, é uma obra criada para o desenvolvimento de conteúdos artísticos, sociais e ambientais, que recebe estudantes de diversas idades, bem como o público em geral. O antigo vagão contém duas salas: na primeira está a instalação sonora “Sons Recicláveis” que oferece aos visitantes diversas possibilidades de interação com instrumentos musicais de corda, sopro e percussão, criados e construídos com sucata de plástico, madeira, papel e metal. A segunda sala, por sua vez, é devidamente equipada para a realização de cursos de música, criação e construção de instrumentos musicais. Os materiais utilizados nas oficinas são recicláveis e o Vagão Sonoro conta com um projeto educativo desenvolvido por monitores treinados pelo próprio artista para abordar conceitos de ecologia, música e luteria.

Vagão Sonoro Ambiental — Projeto Trem da Vale, em Mariana/MG.

Fotos: Fernando Sardo

Fernando projetou e construiu também “brinquedos sonoros” e instrumentos musicais para Parques Sonoros que possibilitam interatividade e proporcionam convívio com a música, as artes visuais e, naturalmente, sugerem lazer e recreação. Estes podem ser encontrados em espaços públicos ou privados e fazem parte de projetos educativos e sociais. Por meio deles são notados ganhos expressivos na educação musical, estímulo à criatividade e aprendizado na área de luteria, ciência, arte e ecologia. Um exemplo é o “Parque Lúdico Musical” que, assim como o “Vagão sonoro ambiental” citado acima, faz parte do “Projeto Trem da Vale – Fundação Vale do Rio Doce”, um projeto de revitalização das estações e linha de trem de Ouro Preto e Mariana (MG). Localizado na cidade de Mariana, o parque faz parte hoje da rota cultural da cidade. Parte do material utilizado na construção dos brinquedos musicais é sucata da própria ferrovia, o que demonstra que a preservação do meio-ambiente, as artes e a recreação podem ser atividades complementares. Já em São Caetano do Sul (SP) o “Parquinho Sonoro” foi construído para crianças com necessidades especiais. Alguns dos instrumentos foram concebidos para usuários com deficiência auditiva. Nestes, as mãos são posicionadas para que a vibração do som seja sentida pelo tato. Outros instrumentos foram projetados para crianças

Na móia o deficiente auditivo coloca as mãos nas laterais dos tambores para sentir a vibração sonora produzida pela mola.

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Gangorra pau de chuva com adaptação para cadeirante.

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Legenda: O “Quero-Quero” é feito com madeira de eucalipto e aço inox. Suas penas são representadas por 16 flautas, oito de cada lado, afinadas em uma escala de Dó Maior Diatônica. Cada flauta está conectada a uma bomba de ar que representa a cauda do pássaro. O público interage com a escultura tocando as flautas, movimentando as bombas de ar. Esta escultura está instalada no SESC Bertioga/SP.

com necessidades de locomoção. A gangorra, por exemplo, produz um som similar ao pau de chuva indígena, que ecoa de acordo com o movimento do brinquedo, e possui em um dos lados uma cadeira com encosto e apoio para os pés. Hoje, com mais de 160 diferentes instrumentos musicais e esculturas sonoras criados, Sardo os utiliza em suas composições para apresentações musicais e trilhas sonoras para espetáculos de dança, teatro, cinema e televisão, que realiza com o grupo GEM (Grupo Experimental de Música), fundado por ele em 2003. O grupo participou em 2011, do Festival Europália Brasil, na Bélgica, em Antuérpia e Gent, com a apresentação do show “O Som e a Matéria”. Este trabalho reproduzido em CD, assim como o disco “Bambuzais” (1999), é elaborado somente com composições musicais próprias, instrumentos e esculturas sonoras de sua criação.

Ideias simples para criação de brinquedos com materiais recicláveis

Carrinho de embalagem de desinfetante com rodinhas de PET.

Avião de pregador e palito de sorvete.

Fernando Sardo e suas criações.

Sardo também integra o projeto “Reciclar é show” que tem o apoio do Maestro João Carlos Martins e a participação da arte-educadora Flávia Maia do grupo Barbatuques. Esta é uma iniciativa da Tang, que inclui a fabricação de instrumentos musicais a partir de materiais reciclados e permite que os alunos aprendam a tocar os instrumentos fabricados por suas próprias mãos. Cerca de 50 mil estudantes de mais de 100 escolas da rede pública de ensino do Brasil participarão deste projeto. Muito se pode fazer pelo meio ambiente e pelo desenvolvimento humano. Fernando o faz pela música, pela criatividade e pela integração de diversos segmentos que resultam em obras de arte memoráveis.

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Carrinhos de rolo de papel higiênico.

Mobile de colher. Fonte: internet

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Uma abordagem sobre

Bonecos Reciclados em sala de aula Por Rafael Sol

processo de aprendizagem. Um instrumento importante para educadores, que podem propor temas que facilitem a explanação de matérias didáticas, provocando assim novos "capítulos" para a história em curso e facilitando o aprendizado, já que o mesmo se dá de forma interativa e lúdica. Ao observar e respeitar as diferenças nas elaborações coletivas, conviver com a diversidade, interagir com a individualidade do outro, este trabalho também é base para o desenvolvimento pessoal de cada um, tanto no que diz respeito aos seus valores como para a descoberta de sua vocação. Considerando a Educação responsabilidade de toda a sociedade, e sabendo que a criança precisa de instrumentos motivadores para uma aprendizagem mais prazerosa, este projeto contribui para despertar e criar bons hábitos. A conscientização e a educação ambiental abordadas de forma leve e integrada ao cotidiano, visam a diminuição de resíduos jogados pelas ruas e rios, a responsabilidade ambiental, o consumo consciente, a eficiência da coleta seletiva, dentre outros aspectos e são temas de diálogos durante a oficina. Assim, os participantes experimentam e criam novos brinquedos, imprimem seus valores, gostos, ideias e vivências, interagem com o restante do grupo e se beneficiam com a troca de experiências. A reciclagem traz em si inclusão social, desperta a criatividade e promove um mundo melhor.

O Projeto Pequenos Bonequeiros se dá através de oficinas onde as crianças iniciam o trabalho recolhendo materiais que possam ser reciclados e aprendem a confeccionar bonecos (fantoches) e brinquedos. Durante o processo de confecção, os alunos são convidados a pensarem em um nome para o boneco, sua profissão, idade, onde mora, o que ele gosta de fazer, assim, quando o boneco ficar pronto, já terá personalidade e contexto para criação de um enredo. Este personagem passa a interagir com o de outras crianças e uma história vem à tona com o objetivo de montar um espetáculo teatral. Assim, aspectos literários, artísticos, culturais, geográficos, ambientais e até matemáticos fazem parte do processo criativo. Um mundo de magia e encantamento revela-se onde o pensar e o fazer são a base para o desenvolvimento e continuidade do

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Foto: Rafael Sol

A educação ambiental hoje vai muito além de conscientizarmos as pessoas sobre o uso correto da energia e dos bens naturais, ela avança do campo teórico para o prático e interage de forma construtiva com a utilização de materiais recicláveis como forma criativa de aprendizado. O Grupo Tamanduá Sem Bandeira, de Belo Horizonte/MG, traz vários exemplos de como a reciclagem pode desenvolver a criatividade. Transformar garrafas pets, embalagens plásticas, Treta Pak e papéis em bonecos abre portas para a criação de textos, desenvolve a dramaturgia, a cenografia, a oralidade, o vocabulário, a concentração, a memória, a coordenação motora e a desinibição de forma lúdica e espontânea.

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Por Celem Mohallem

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Reciclagem O lixo brasileiro contém de 10 a 15% de plásticos, conforme o local. São materiais que, como o vidro, ocupam um considerável espaço no meio ambiente. O ideal seria se eles fossem recuperados e reciclados. A reciclagem do plástico exige cerca de 10% da energia utilizada no processo de fabricação original. Do total de plásticos produzidos no Brasil, só reciclamos 15%. Um dos empecilhos é a grande variedade de tipos de plásticos. Uma das alternativas seria definir um tipo específico nas embalagens descartáveis para facilitar a reciclagem. Outro fator determinante é o preço baixo da matéria prima virgem (polietileno) em relação à reciclada.

Plásticos recicláveis são potes de todos os tipos, sacos de supermercados (menos os chamados oxibiodegradáveis), embalagens para alimentos, vasilhas, recipientes e artigos domésticos, tubulações de PVC e garrafas PET que, convertidos em grânulos, são usados para a fabricação de cordas, fios de costura, cerdas de vassouras e escovas. A fabricação de plástico reciclado economiza 70% de energia, considerando todo o processo desde a exploração da matéria-prima primária até a formação do produto final. O plástico reciclado pode ser utilizado para fabricação de garrafas e frascos até de alimentos e remédios (recentemente liberado pela Anvisa); baldes, cabides, pentes e outros artefatos

Fotos: Universidade de Coimbra e google

Plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares chamadas polímeros, que, por sua vez, são formadas por moléculas menores, chamadas monômeros. A plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o inglês Alexander Parkes inventou o primeiro plástico, em 1862. Os plásticos são produzidos através de um processo químico chamado polimerização, que proporciona a união química de monômeros para formar polímeros. Os polímeros podem ser naturais ou sintéticos. Os naturais, tais como algodão, madeira, cabelos, chifre de boi, látex, entre outros, são comuns em plantas e animais. Os sintéticos, tais como os plásticos, são obtidos pelo homem através de reações químicas. O tamanho e estrutura da molécula do polímero determinam as propriedades do material plástico. A matéria-prima do plástico é o petróleo. Este é formado por uma complexa mistura de compostos. Pelo fato destes compostos possuírem diferentes temperaturas de ebulição, é possível separá-los por meio de processos conhecidos como destilação ou craqueamento. Da fração nafta do petróleo nasce o eteno. Este derivado está presente em praticamente todos os plásticos. Os plásticos são utilizados em quase todos os setores da economia, tais como: construção civil, agrícola, de calçados, móveis, alimentos, têxtil, lazer, telecomunicações, eletroeletrônicos, automobilísticos, médico-hospitalar e distribuição de energia. O setor de embalagens para alimentos e bebidas vem se destacando pela utilização crescente dos plásticos, em função de suas excelentes características, entre elas: transparência, resistência, leveza e quase total atoxidade.

As correntes marítimas levam o lixo descartado nos rios e praias para o centro dos ocean

Aves e animais marinhos confundem o lixo com alimento e morrem ao ingeri-los.

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Sobre as sacolinhas plásticas O Brasil é, definitivamente, o paraíso dos sacos plásticos. Todos os supermercados, farmácias e boa parte do comércio varejista embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. Não importa o tamanho do produto que se tenha à mão, aguarde a sua vez porque ele será embalado num saco plástico. O pior é que isso já foi incorporado na nossa rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo um saco plástico. Nossa dependência é tamanha, que quando ele não está disponível, costumamos reagir com reclamações indignadas. Quem recusa a embalagem de plástico é considerado, no mínimo, exótico, “ecochato ou biodesagradável”. O novo material sintético reduziu os custos dos comerciantes e in-

os e formam Ilhas de Lixo, como a do Pacífico.

AudubonZoo

O lixo também provoca anomalias no desenvolvimento dos animais, a exemplo desta tartaruga que quando jovem teve um anel metálico entalado em seu corpo.

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crementou a sanha consumista da civilização moderna. Mas, os estragos causados pelo derrame indiscriminado de plásticos na natureza tornou o consumidor um colaborador passivo de um desastre ambiental de grandes proporções. Como salientado anteriormente, esses sacos não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor na natureza. Usando a linguagem dos cientistas, esses saquinhos são feitos de cadeias moleculares inquebráveis e é impossível definir com precisão quanto tempo levam para desaparecer no meio natural. No caso específico das sacolas de supermercado, por exemplo, a matéria-prima é o plástico filme, produzido a partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD). No Brasil, são produzidas 250 mil toneladas anuais de plástico filme, que já representa 9,7% de todo o lixo do país. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, em 2011, foram produzidas 16 BILHÕES DE SACOLINHAS. Abandonados nas ruas, esses sacos plásticos impedem a passagem da água, retardam a decomposição dos materiais biodegradáveis e dificultam a compactação dos detritos nos aterros sanitários, quando existem. Outro aspecto nada desprezível é que os animais terrestres e aquáticos, principalmente aquáticos, confundem os plásticos com alimento. Sugerimos que os leitores vejam o vídeo disponível no link http://www.midwayfilm. com/. Também estão disponíveis na internet as informações sobre a “Ilha de Plástico” do Pacífico. Trata-se de uma porção daquele oceano em que flutua uma “sopa” de plásticos levados pelas correntes marinhas e oriunda do lixo gerado pelos países do hemisfério norte. A “ilha” tem o tamanho do Estado do Amazonas! Há indícios de formação de outra ilha no Atlântico Sul perto das Malvinas. Essa realidade que tanto preocupa os ambientalistas no Brasil, já justificou mudanças importantes na legislação – e na cultura – de vários países europeus. Na Alemanha, por exemplo, a “plasticomania” deu lugar à

“sacolamania”, ou seja, o consumidor leva sua própria sacola para colocar as compras. No Brasil, exemplos como o de Belo Horizonte precisam se multiplicar. Depois da aprovação de uma lei restritiva, só no comércio supermercadista, a redução das sacolas foi de 490 mil por dia para 30 mil! Não há desculpas para nós, outros brasileiros, não estarmos igualmente preocupados com a multiplicação indiscriminada de sacos plásticos na natureza. O país que sediou a Rio-92 (Conferência Mundial da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente) e que tem uma das legislações ambientais mais avançadas do planeta. Na lei federal 12.305/2010, que institui a logística reversa, reside a nossa esperança, já que a maioria dos municípios resiste em criar legislações restritivas. É preciso declarar guerra contra a plasticomania. Há muitos interesses em jogo. Qual é o nosso? O que pensamos deixar para as gerações futuras? Celem Mohallem, Técnico de Sistemas Industriais da Petrobrás aposentado, Secretário da Aearsi e Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí.

Faça sua parte! Utilize sacolas retornáveis quando for às compras. Assim, contribuirá ativamente para a preservação do meio ambiente, da vida marinha, de aves e animais silvestres.

Elaine Pereira

produzidos pelo processo de injeção; madeira-plástica; cerdas, vassouras, escovas e outros produtos que sejam produzidos com fibras.

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Os catadores de materiais recicláveis e a coleta seletiva Quando compramos algo, seja um eletrodoméstico, uma roupa ou um alimento, parte ou todo esse material em breve virará o que chamamos de “lixo”, algo sem valor aparente. Com a durabilidade cada vez menor desses produtos, eles se tornam cada vez mais descartáveis. Consequentemente, procuramos nos livrar desse “lixo” para adquirir mais e mais bens, que terão o mesmo destino dos demais. Esperamos que, como em um passe de mágica, esse material suma das nossas vidas o mais rápido possível. Entretanto, devemos nos lembrar que o que jogamos fora continuará a existir, em algum lugar, seja dentro de um rio, seja em locais como lixões e aterros sanitários. Será que esse “lixo” tem valor? E quem leva esse material embora? Para responder a estas perguntas, devemos nos lembrar que há várias respostas para cada uma das questões. Afinal, por um lado, pagamos pela coleta desse material na porta das nossas casas. Quem faz esse serviço normalmente são as prefeituras, que nos cobram impostos para contratar empresas que o realizam. Portanto, podemos imaginar que pagamos para enterrar riquezas, que chamamos erroneamente de “lixo”, pois nesse conjunto de materiais que descartamos, há desde aquilo que não pode ser reaproveitado, o lixo “úmido”, como material de higiene pessoal – papel higiênico, absorventes, até materiais recicláveis, como latas de alumínio, papel e plástico. Em outras palavras, na coleta convencional de “lixo”, todo esse material será transportado sem distinção, reduzindo a vida útil dos aterros sanitários e aumentando os custos da limpeza urbana. Mais uma vez, pagaremos a conta. Por outro lado, alternativas ao modelo de coleta tradicional passam por

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Foto: Carolina Lima

Por Marcos E. C. Bernardes

programas de coleta seletiva, em que a sociedade assume um papel de dividir a responsabilidade pelos resíduos que gera. Até recentemente imperceptíveis pela maior parte da sociedade, os catadores de materiais recicláveis vêm se destacando como elo essencial na cadeia da reciclagem, demonstrando que há soluções mais sustentáveis, do ponto de vista financeiro, ambiental e social, no trato dessas riquezas que desperdiçamos diariamente. Os catadores simbolizam a possibilidade de reinserção social a partir daquilo que a sociedade descarta, pois mesmo antes da instituição da coleta seletiva país afora, eles já atuavam na seleção dos materiais recicláveis nos lixões. Assim, reinventam a si e a toda a sociedade, por nos ensinar como podemos gerar vida e bem-estar a partir de algo aparentemente inservível, exatamente como a natureza realiza seus processos de reciclagem de energia há tanto tempo. Ao mesmo tempo, esse caminho não é construído sem percalços ou desafios. Ao contrário da coleta tradicional, o serviço de coleta e transporte de material reciclável, prestado por esses agentes ambientais não é

remunerado na maior parte das cidades brasileiras. Portanto, a renda que os catadores obtêm para sobreviver é proveniente exclusivamente da revenda dos materiais recicláveis, mesmo que minimizem a quantidade de material que seria enterrado país afora, especialmente para a reciclagem de alumínio, plástico, papel e vidro. Essa coleta gratuita realizada pelos catadores explica parte da insatisfação da população, que por vezes se depara com alguém revirando o seu “lixo”, atrás de materiais recicláveis com maior valor de revenda. A ação dos catadores aumenta a vida útil dos aterros sanitários e reduz a chance desses materiais chegarem a locais inadequados, como ruas e rios. Em suma, com a contribuição dos catadores de materiais recicláveis, economizamos matéria-prima para produção de novos produtos e gastamos menos no gerenciamento daquilo que não nos serve mais. A relevância sócio-econômica dos catadores de materiais recicláveis no Brasil vem sendo impulsionada pela organização dos mesmos em associações e cooperativas. Desta forma,

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esses grupos organizados conseguem aumentar a quantidade e qualidade dos materiais recicláveis. Portanto, obtêm melhores valores pela venda e reduzem o grau de dependência em relação aos intermediários da cadeia da reciclagem. Paralelamente, políticas públicas têm tido um papel estratégico no fomento à organização desses grupos de catadores, pois em diferentes instâncias legais, tem se dado prioridade às associações e cooperativas de catadores para programas de coleta seletiva em municípios, órgãos públicos, etc., além de linhas de crédito e outras formas de apoio à formalização desses grupos. Instituições de ensino superior e organizações não governamentais têm sido fundamentais na capacitação e apoio à constituição político-administrativa de grupos formais de catadores. O exemplo mais abrangente e concreto desse apoio foi estabelecido pela PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), promulgada pela Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. A PNRS tem como um de seus principais objetivos estimular a implantação da coleta seletiva no Brasil, a partir da participação prioritária de cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda. De acordo com dados do IBGE, nos últimos 20 anos, a destinação adequada de lixo no Brasil passou, na média nacional, de menos de 30% do montante total gerado em 1989 para pouco menos de 70% em 2008, enquanto em Minas Gerais essa média ficou em torno de 58%. No ano 2000, apenas 8,2% dos municípios brasilei-

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Proporção de material reciclado em atividades industriais no Brasil, de 1993 a 2009 (Fonte: IBGE, 2012).

Fontes: Associação Brasileira de Alumínio (ABAL); Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA); Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (ABIVIDRO); Associação Brasileira de Indústria do PET (ABIPET); Associação Brasileira de Embalagem de Aço (ABEAÇO); Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV) e Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE).

ros possuíam coleta seletiva em pelo menos parte da cidade (por exemplo, zona urbana central), passando para 19,5% em 2008. Ou seja, observa-se que o Brasil ainda está distante de atingir níveis universais de coleta comum de resíduos em geral, e muito menos no tocante à coleta seletiva. Para o caso de Minas Gerais, observa-se que há apenas cinco anos, aproximadamente 6 em cada 10 municípios do estado ofereciam algum tipo de destinação adequada dos seus resíduos, enquanto apenas 2 em cada 10 municípios possuíam a coleta seletiva implementada, sendo que desses, menos de 0,7 (ou em torno de 30%) ofereciam coleta seletiva em toda a área de abrangência do município. Portanto, além de ser um desafio para o país, a gestão adequada e responsável dos resíduos coloca-se como um desafio estratégi-

co ao desenvolvimento do estado de Minas Gerais. Assim, percebe-se o papel imprescindível que os catadores de materiais recicláveis têm na base da cadeia da reciclagem no país. Por outro lado, é inegável que ainda há muito o que se aprimorar na coleta seletiva no Brasil e que tal mudança deve envolver o poder público, indústrias, comércio e a população em geral, o que inclui os próprios catadores. Afinal, todos nós devemos enfrentar o desafio da mudança de hábitos, de abandonarmos nossas zonas de conforto, de modo que entendamos que a sustentabilidade passa pela incorporação de práticas colaborativas e articuladas em detrimento da segmentação e do individualismo. Marcos E. C. Bernardes, Diretor de Tecnologias Sociais da PROEX/UNIFEI.

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repelir insetos Por Marco Antonio

Você sabia que podemos repelir pernilongos, morcegos, ratos, formigas e aranhas sem ter que utilizar inseticidas e venenos? A boa notícia vem da criação de um repelente eletrônico, fabricado pela Sisvoo, uma empresa itajubense, no Sul de Minas Gerais. O repelente eletrônico é um aparelho que utiliza tecnologia de ultrassom na frequência entre 55 a 65 kHz. O ultrassom gerado pelo aparelho não é percebido pelo ouvido humano e imita o som emitido pelo pernilongo macho, o que faz com que as fêmeas já fecundadas (as únicas que picam) se afastem do ambiente onde o aparelho estiver ligado. No caso dos morcegos, os mesmos perdem o senso de orientação devido à interferência causada pelo ultrassom, e acabam por abandonar o ambiente. Da mesma forma, ratos, camundongos, formigas e aranhas se afastam por causa do incômodo causado pelo ultrassom. Segundo o fabricante ele é inofensivo para os animais domésticos. O aparelho com baixo consumo de energia, deve ficar ligado o tempo todo e não utiliza refil, ou seja, veneno. Uma boa opção para manter os insetos longe de casa.

Trupe Sapucaiaços Por Paula Abreu

A Trupe Sapucaiaços de Pedralva/MG, apresenta, em sua brincadeira dançante, uma proposta de educação ambiental e valorização da cultura por meio das rodas, cantorias e histórias. O repertório é dedicado prioritariamente às músicas e histórias autorais, de compositores regionais ou folclóricos. O grupo formado por educadores e músicos (Dalton Hadd, Daniel Andrade, Fernando Carneiro e Paula Abreu), comprometidos em ensinar e aprender o Brasil, exploram o lúdico com elementos confeccionados a partir da reutilização e reciclagem de rejeitos caseiros, como o Boitatá feito de garrafa Pet e máscaras de animais Mata Atlântica feitas com papel machê. As crianças são envolvidas em um universo de magia, encantamento, respeito à natureza e espírito de amizade entre os povos, desenvolvendo assim, suas opiniões e sentimentos de responsabilidade moral e social. A partir desta perspectiva, a trupe deixa seu legado ao estimular crianças e adultos durante as apresentações, com uma mensagem para o bem comum, na busca de um futuro mais saudável e equilibrado. Em parceria com o Grupo GEMA (Grupo Estratégico de Meio Ambiente) formado pelas empresas Alfresa, Alstom, Balteau, Cabelauto, Fania, Helibras, Mahle, PKC Group e Stabilus, associadas ao SIMMMEI, a Trupe Sapucaiaços realizou na Praça Theodomiro Santiago, em Itajubá/MG, um trabalho de conscientização ambiental nas comemorações do Dia do Meio Ambiente. Este tipo de parceria com a indústria é um exemplo do bom desenvolvimento de ações sociais junto à comunidade.

ERRATA

A Prefeitura de Piranguinho faz um complemento ao crédito da foto da Praça, na página 12 e da Apiarte, na página 13, da 19a edição da revista Naturale: "Fotos: Arquivo da Prefeitura de Piranguinho/ADITIM/ Hérika Nogueira".

A Trupe Sapucaiaços e integrantes do Grupo GEMA.

Foto: Elaine Pereira

A Prefeitura de Piranguçu faz um complemento aos créditos das fotos da capa e das página 1, 3 e 15, da 19a edição da revista Naturale: "Fotos: Arquivo da Prefeitura de Piranguçu/ADITIM/Hérika Nogueira".

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Foto: Bill Souza

Ultrassom para


Foto: Gilberto Andreotti

A serviço dos animais Por Gilberto Andreotti

A associação RESGACTI (Rede Solidária entre Grupos Ambientais, Culturais e Trabalhos Intelectuais), com sede em Itajubá, atua também nas cidades de Piranguinho, Piranguçu e São José do Alegre, no Sul de Minas Gerais. Trata-se de uma instituição sem fins lucrativos e sem vínculos políticos partidários, que tem como uma de suas atividades mestras o cuidado e a preservação da vida animal. Há quatro anos, a Resgacti trabalha com animais de rua e promove campanhas de castração e de doação de cães e gatos, com o objetivo de diminuir, e se possível “zerar”, o número de animais abandonados. A associação oferece à população de baixa renda, o trabalho de negociação de castrações com custo baixo, para evitar que crias indesejadas sejam abandonadas nas ruas. Além deste trabalho preventivo, socorre animais abandonados e lhes oferece abrigo. Como órgão do terceiro setor, a Resgacti conta com doações financeiras e trabalho voluntário. Vale ressaltar que além da ajuda financeira a Ong precisa de pessoas para visitar e limpar os canis e gatis, ou ainda, abrigar em seus lares um animal, enquanto este aguarda adoção. As doações de ração são de suma importância para atender os animais sob custódia. Hoje, são 55 cães que consomem mensalmente 500 kg de ração e 47 gatos que consomem 150 kg. Além do alimento, estes bichanos necessitam de vacinas, medicamentos e de serem castrados, juntamos aqui as despesas operacionais. Este montante não tem sido coberto pela arrecadação mensal dos contribuintes, então, caso você possa contribuir com ração ou de outra forma entre em contato pelo telefone (35) 9945-0494 ou pelo email: resgacti@yahoo.com.br Neste período de inverno, a Resgacti recebe também doações de madeira, materiais afins e mão-deobra para confecção de bancos, para que os animais possam dormir sem a friagem do contato direto com o chão.

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A Resgacti promove eventos culturais e gastronômicos para arrecadar fundos para as castrações, iniciativa muito bem-vinda, pois coloca em evidência grupos ligados à música, dança e cultura local. Outra forma de ajudar, é na produção de mudas de árvores, de preferência nativas, em seu domicílio. Em parceria com os CODEMAs dos municípios e com alunos e professores da UNIFEI, a Resgacti gerencia o plantio destas árvores em locais adequados. Desta forma cumpre a missão de ajudar os animais, de proteger a natureza e de melhorar as relações entre as pessoas. Faça você também parte deste trabalho!

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Foto: WX Fotografia

O vestido de noiva dos seus sonhos Por Camilla Toledo

Para escolher o vestido de noiva você deverá observar o horário e o local da cerimônia, a estação do ano, os tecidos, suas características físicas, mas o principal sempre será sua preferência pessoal. Cerca de um ano a onze meses antes do casamento, comece a pesquisa, analise os modelos e as possibilidades de corte e cores adequadas. Marque alguns dias para conhecer as lojas especializadas e selecione as que possuem o estilo próximo ao que procura. Na hora de experimentar e realizar a decisão final, leve sua mãe ou outra pessoa intima que respeite seu gosto e peça opiniões. Imagine-se na situação e como se sentirá com o modelo. O vestido deve ser bonito, mas principalmente confortável. Preste atenção em todos os detalhes, estude o caimento e se o modelo realça suas qualidades. A suavidade da noiva está associada à utilização de tecidos mais finos, leves e delicados. Por isso, mesmo no inverno, as soluções ficam por conta das mangas longas, feitas em tecido com tramas um pouco mais fechadas, mas que permitem que a noiva conserve uma aparência final de delicadeza. Respeitar suas características físicas é fundamental para a escolha certa. Se for baixa e magra, dê preferência para modelos sem mangas com corte evasê e cintura alta. Este tipo de vestido deixará a silhueta mais esguia e valorizará suas medidas. Procure tecidos de tramas verticais e véus longos, eles alongam o visual. Se você for baixa e estiver acima do peso, evite modelos volumosos com saias franzidas, eles acentuam as formas. Prefira uma opção em crepe ou cetim com corte evasê de cintura baixa. O véu deverá ser simples e com caimento reto. Se pertence ao grupo das mulheres altas e magras, a variedade de opções é maior. Tanto vestidos volumosos quanto os justos têm um bom caimento. Os modelos de saias mais amplas e com cintura marcada são mais indicados. Aproveite para usar caudas longas e tecidos mais encorpados. Se for alta e estiver acima do peso, escolha tecidos mais firmes como zibeline ou gorgurão de seda. Os vestidos com corte evasê ou reto, que acompanham a silhueta de seu corpo, são ideais. Apenas evite modelos volumosos, saias rodadas e corte sereia, que costuma evidenciar quadris. Outra sugestão é escolher uma modelagem com recorte abaixo do busto e saia fluída em corte godê ou evasê. Ela vai disfarçar os volumes do abdômen e afinar a silhueta. O horário da cerimônia também influi na escolha. Nas cerimônias matinais predominam os vestidos de noiva com clima de romantismo. O comprimento pode ser curto, chanel ou longo e de preferência sem cauda. A discrição é um ponto forte neste horário, tome cuidado com os tecidos, bordados e brilhos. À tarde é indicado manter o romantismo em seu vestido de noiva, porém permite um pouco mais de liberdade para ousar. Já é possível utilizar tecidos mais sofisticados, bordados e um pouco de brilho, sem abusar. Já à noite, entra em cena todo o glamour que a ocasião merece. Tecidos, brilhos, bordados, refletem sofisticação e requinte. Vestidos de noiva longos, rodados, caudas e véus longos e tecidos mais nobres. Tudo deve obedecer ao gosto e estilo da noiva e do noivo. Penteado, maquiagem e acessórios acompanham a sofisticação e estilo do vestido e do horário. Penteados incrementados com grinaldas e coroas podem levar strass, pérolas e outros tipos de pedrarias, assim como jóias. Bem, como viu são vários os ítens a serem obervados para a escolha do vestido de noiva de seus sonhos, e certamente ele tornará seu dia ainda mais inesquecível!

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Encontro Nacional de

Turismo Por José Maurício Carneiro da Silva

Foto: Zeca Maurício

O Presidente do Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas (CTCSM), Zeca Maurício, participou em Brasília do Encontro Nacional de Turismo, dias 15 e 16 de maio de 2013, realizado para comemorar os 10 anos do Ministério do Turismo e para apresentar as diretrizes do Programa de Regionalização do Turismo, que passou por um processo de avaliação e reformulação.

Zeca Maurício, Jussara Rocha, Gláucia Oliveira e Francisco Melo, na abertura do Encontro Nacional de Turismo.

Na ocasião, o Ministro de Estado do Turismo, Sr. Gastão Dias Vieira, assinou a portaria nº 105 de 16 de maio de 2013, que institui o Programa de Regionalização de Turismo, aprovado pelo Decreto nº 7.994, de 24 de abril de 2013, cujo objetivo é promover a convergência e a articulação das ações do Ministério do Turismo e do conjunto das políticas públicas setoriais e locais, tendo como foco a gestão, a estruturação e a promoção do turismo no Brasil, de forma regionalizada e descentralizada. Foram considerados oito eixos de atuação do Programa de Regionalização do Turismo: gestão descentralizada do turismo; planejamento e posicionamento de mercado; qualificação profissional, de serviços e da produção associada ao turismo; empreendedorismo, captação e promoção de investimentos; infraestrutura turística; promoção e apoio à comercialização; monitoramento e avaliação. O modelo de gestão descentralizada adotado pelo Programa foi destaque neste evento. Este modelo está alicerçado sob a ótica da gestão compartilhada, descentralizada, coordenada e integrada, proporcionando a participação, democratização, consensos e

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acordos, envolvendo a multiplicidade e diversidade de empresas e entidades, instituições de ensino, agentes econômicos e sociedade civil organizada. As estratégias de implantação do Programa de Regionalização do Turismo são: o mapeamento em parceria com os Estados, que identificará as regiões e municípios turísticos brasileiros; o diagnóstico, com base numa matriz, para identificar o estágio de desenvolvimento turístico das regiões e municípios; a categorização, em níveis, de acordo com o estágio detectado no diagnóstico; a formação, ou capacitação, através de ação articulada entre as entidades do Sistema Nacional de Turismo e as instituições de ensino; o fomento, principalmente por meio de chamadas públicas de projeto, orientadas pelos Eixos de Atuação citados anteriormente, considerando a categorização definida; a comunicação e a divulgação, através da produção de instrumentos e ferramentas que promovam o Programa como instrumento político essencial à consolidação dos destinos turísticos; o monitoramento e a avaliação, fundamentados nos seus Eixos de Atuação, acima descritos. A revisão do mapeamento das regiões turísticas brasileiras foi considerada primordial, bem como o estabelecimento de critérios para a definição e categorização dos municípios e regiões turísticas. Assim, os indicadores gerados serão as ferramentas de apoio à tomada de decisões técnicas e políticas. Com isto, fica clara a proposta do Programa de Regionalização do Turismo de fortalecer a base operativa, ampliando e melhorando a interlocução entre os entes federados e a capacidade técnica e operacional dos atores – públicos e privados. A promoção de qualificação, a troca de experiências e a implantação da cultura de monitoramento e avaliação visam integrar os colegiados, em seus diversos níveis, aprofundando o entendimento para a elaboração e a implantação de políticas públicas com um plano de desenvolvimento sustentável do turismo, promovendo a compreensão dos papéis dos diversos setores – público, privado e comunidade organizada – alinhando suas respectivas políticas para o turismo, com o olhar voltado para o Município e sua Região de abrangência. Outro importante resultado será diminuir os efeitos dos discursos dissociados de ações práticas. Uma dica do Ministério do Turismo para os presentes no Encontro foi ressaltar a importância da articulação dos colegiados locais e regionais com os políticos, que tem emendas parlamentares para o turismo e cuja base eleitoral esteja no Município ou em sua Região, apresentando projetos que comprovem a necessidade desses recursos para aumentar a atratividade e o desenvolvimento sustentável do turismo. Finalmente, foram apresentadas ações emergenciais, para os próximos meses: 1. Sensibilização dos gestores públicos e privados; 2. Oficinas de cooperação e trabalho em rede; 3. Criação e fortalecimento da rede; 4. Levantamento e análise da situação atual dos destinos e roteiros; 5. Realização de pesquisas presenciais; 6. Elaboração de diagnóstico; 7. Elaboração de plano de inteligência mercadológica; 8. Melhoria da gestão empresarial dos empreendimentos turísticos; 9. Realização de campanhas locais de sensibilização para formalização classificação e qualificação; 10. Implantação de novas experiências em empreendimentos turísticos dos destinos; 11. Realização de cursos de qualificação de gestores públicos, privados e de profissionais da linha de frente; 12. Ações de benchmarking (boas práticas); 13. Infraestrutura (especialmente centros de informações); 14. Melhoria da acessibilidade. Concluindo, percebemos a preocupação técnica, mercadológica e política do Ministério do Turismo para que o Brasil possa se destacar nacional e internacionalmente no desenvolvimento sustentável através da atividade turística. Por isto, o foco das ações serão os Municípios, os gestores e os empreendedores que participam do processo ‘na ponta’, onde e com quem o turista vivencia e avalia sua experiência fora do lar. Este é o momento de focar os investimentos públicos e privados em ações que favoreçam o bem-estar, a felicidade e o encantamento daquele que vem nos visitar. Assim, estarão investindo diretamente na qualidade de vida daqueles que moram no Município, das comunidades locais e regionais.

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Maior Pé-de-Moleque do Mundo é atração em Piranguinho

Por Cleber Marinho

Ao misturar a tradição das festas juninas e o símbolo maior da cultura gastronômica do município, Piranguinho realiza entre os dias 14 e 16 de junho a VIII Festa do Maior Pé-de-Moleque do Mundo. O sabor tradicional do famoso pé-de-moleque encontrado em barracas coloridas ao longo das rodovias BR 459 e MG 295 durante todo ano, é destaque nesses dias através da confecção do maior pé-de-moleque do mundo, saboreado por todos os presentes, enquanto apreciam as apresentações culturais, danças típicas e shows diversos realizados na Praça Cel. Braz.

Fotos: Jarbas Carneiro

O ápice da festa acontece no sábado, dia 15, quando é confeccionado em praça pública o Maior Pé-de-Moleque do Mundo. Uma exposição na Casa da Cultura traz objetos que fizeram parte da história do município. Estrutura de parque de diversão com brinquedos infláveis fará a diversão das crianças. A noite será animada por shows musicais. Piranguinho tem se destacado no cenário turístico e cultural na região do Sul de Minas, é referência regional na promoção de eventos, na valorização da cultura local e na preservação da história e da memória de seu povo. O maior pé-de-moleque é feito em praça pública por integrantes das várias barracas que produzem o doce.

Barracas com comidas típicas da cultura mineira são montadas na praça de alimentação, com o que há de melhor em nossa culinária. O artesanato local também se faz presente, oferecendo aos visitantes belíssimos produtos. Piranguinho recebe nos dias da festa milhares de visitantes, o que leva o nome do município e sua tradição para todo Brasil, seja através dos turistas que por aqui passam ou pelas reportagens exibidas pelas emissoras de televisão que se fazem presentes na festa. O envolvimento de 11 produtores de pés-de-moleque é o que faz a atração principal da festa. No ano de 2006, quando realizou-se a primeira edição, o pé-de-moleque gigante contou com 11 metros, sendo um metro doado por cada produtor. Desde então, a cada ano, foi-se aumentando o tamanho do doce em um metro e a festa cresceu mais que a proporção do doce. Em 2010, o pé-de-moleque gigante foi homologado pelo Rank Brasil, o livro dos recordes brasileiro, como o maior pé-de-moleque do Brasil, tendo 15 m de comprimento, 60 cm de largura, 2 cm de altura com 232 kg. Para 2013, segundo os produtores do doce, chegará a marca dos 18 metros. Pelo forte apelo cultural e atrativos oferecidos aos turistas que buscam apreciar apresentações e gastronomia típica regional, o Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas denominou a Festa do Maior Pé-de-Moleque do Mundo como um evento âncora para o desenvolvimento turístico regional, tendo como principal fator o aspecto econômico.

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Fotos: Arquivo Barraca Vermelha



Saúde Dental Pela Dra. Gracia Costa Lopes

A busca de um sorriso atraente e agradável tem levado as pessoas a procurarem, cada vez mais, os profissionais de Odontologia; obter um belo sorriso, além de melhorar a autoestima, é considerado uma característica estética de extrema importância para a sociedade. Conheça algumas dicas para preservar um sorriso harmonioso e saudável. Como prevenir as cáries e ter dentes saudáveis

ªª Hemorragias internas no dente causadas por quedas ou batidas podem acarretar manchas nos dentes. ªª Outro causador de manchas nos dentes são os tratamentos de canal caso tenham apresentado algum problema. ªª As microfissuras provenientes da mastigação de gelo ou outros objetos duros podem provocar manchas que são difíceis – ou geralmente, impossíveis – de serem retiradas.

ªª Comece a limpar a boca do bebê mesmo antes do primeiro dentinho nascer, assim ele já vai se acostumando. A limpeza pode ser feita com gaze ou uma fraldinha de pano molhada em água filtrada. Esta é uma boa maneira de habituar seu filho a esse ritual e evitar que ele recuse a escovação no futuro. ªª Escove os dentes da criança desde o aparecimento do primeiro dente na arcada Sensibilidade dentária; e após cada refeição. como previnir ªª Evite dar comida para a criança na mesma colher que você ou outra pessoa esteja Sensibilidade dentária é um probleusando, evite beijá-la na boca, estes procedimentos podem ser formas de contágio da cárie e outras doenças. A cárie é uma doença infecto-contagiosa e portanto facil- ma que afeta 25% da população adulta. Se após comer ou beber algo quente ou mente transmissível. Escovação muito forte e frio, doce ou amargo, você ficar com uma ªª Tenha cuidados ao comprar a escova sensação dolorosa nos dentes é porque consumo excessivo de de dentes (dê preferência para escova sofre de sensibilidade nos dentes. macia, ou a recomendada pelo seu denrefrigerantes, frutas cítricas As causas da hipersensibilidade tista). e bebidas isotônicas são dentária são variadas, mas têm um faªª Use sempre creme dental com flúor os principais vilões da tor em comum: a exposição da dentina, e menos abrasivos (com poucos grânuhipersensibilidade dentária. camada do dente que normalmente fica los), para não desgastar o esmalte dos As frutas cítricas são boas protegida pelo esmalte. dentes. para o organismo, mas, ªª A erosão do esmalte do dente, que ªª Dê preferência a alimentos saudáveis protege a dentina é uma causa comum se consumidas em excesso, como queijo, leite, cereais, frutas e verpara ter dentes sensíveis (hipersensibiliduras. fazem mal para o dente. dade dentária). Escovação muito forte e ªª Evite alimentos que aumentam o risconsumo excessivo de refrigerantes, frutas cítricas e bebidas isotônicas são os princo de cárie (cariogênicos), carboidratos cipais vilões. As frutas cítricas são boas para o organismo, mas, se consumidas em conhecidos como açúcares. Exemplos: excesso, fazem mal para o dente. refrigerantes, chicletes, melado, balas, ªª Outra causa frequente de hipersensibilidade dentária é a retração gengival (quanmel, sorvetes, chocolates e outros. Caso do a gengiva se desloca, deixando a dentina exposta). venha a comer algum destes alimentos, ª ª O esmalte também pode ser desgastado por microfraturas. O bruxismo (hábito de procure sempre escovar os dentes logo apertar e ranger os dentes), por exemplo, pode ser outro responsável por casos de em seguida. dentes sensíveis. Hábitos que escurecem os dentes! ªª Desgaste na superfície dos dentes devido à idade, com o passar dos anos existe uma perda natural da camada de esmalte do dente. ªª Chocolate, café e refrigerantes a baªª Doenças periodontais (gengivais) e escovação inadequada com escova de cerdas se de cola, podem ajudar a manchar os muito duras ou usando muita força, fazem com que a gengiva se retraia. Com a idade, dentes por conta dos corantes. também é comum haver uma retração fisiológica leve ou moderada. ªª O Flúor quando aplicado em excesso

em crianças e adolescentes, causa fluorose dental, que provoca manchas em tons amarelados. ªª As pessoas que respiram com a boca aberta tem uma probabilidade maior de ter manchas nos dentes; por conta da desidratação da boca, o esmalte fica mais poroso. ªª A Nicotina do cigarro faz mal para milhares de coisas como sabemos, inclusive para os dentes.

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ªªÉ comum também que as pessoas se queixem de dentes sensíveis após passarem por tratamentos clareadores. Os clareadores contêm ácido e, se usados em concentrações altas por um longo período, podem causar uma sensibilidade passageira, que em pouco tempo, volta ao normal. Portanto, procure sempre seu dentista. A idade ideal para a primeira visita ao dentista é por volta dos três anos, quando poderá ser feita a primeira aplicação de flúor gel e começar a se familiarizar com o consultório dentário. A visita periódica ao dentista (de seis meses a um ano) é importante porque só ele é capaz de detectar lesões nos dentes e gengiva e avaliar as condições de sua saúde bucal. Nessa ocasião aproveite para fazer a limpeza dos dentes e aplicação de flúor gel.

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Materiais odontológicos: possibilidades e benefícios para odontologia Por Dr. Rossano Gimenes

Embora possamos imaginar que nossa arcada dentária sofreu profundas modificações durante nossa evolução, possuímos uma dentição muito parecida aos nossos ancestrais primatas. Por exemplo, chipanzés também possuem 32 dentes em duas arcadas, com caninos maiores e mais especializados na função de cortar e rasgar. Pequenas diferenças como essas são contrastantes se considerarmos a grande diferença nos hábitos, principalmente nos alimentares. No entanto, grande diferença há de se notar nos quesitos de higiene bucal e na possibilidade de reparar os dentes quando algo errado ocorre... afinal, não é comum se deparar com um primata sentado numa cadeira de dentista. Enquanto a perda da totalidade ou parte dos dentes para a maioria dos animais culmina com sua morte, o homem usou a sabedoria para moldar os materiais disponíveis e substituir ou restaurar os dentes prolongando sua existência. Neste sentido, é inegável a contribuição da odontologia para o aumento da expectativa de vida do ser humano, bem como para proporcionar menos dor, maior conforto, evitar doenças e até mesmo melhorar a estética dos dentes. Muitas vezes, atribuímos somente aos dentistas o rótulo de dentes perfeitos, mas existem centenas ou milhares de profissionais das mais diversas especialidades (engenheiros, químicos, físicos, biólogos, médicos e, claro, dentistas) envolvidos na formulação e validação de produtos destinados à odontologia.

Fig. 1. Imagem comparativa das arcadas dentárias de chipanzé (esquerda) hominídeo A. Afarensis (ao centro) e do homem moderno (direita). Nota-se que os caninos são mais prolongados nos nossos ancestrais, provavelmente devido à função de rasgar alimentos mais duros e não cozidos, além da necessidade de serem imponentes nos primatas como animais altamente competitivos e territorialistas. Outra pequena diferença é vista nos molares: nos humanos estes dentes possuem cinco saliências, enquanto que nos macacos quatro saliências são encontradas. O tamanho da mandíbula também difere, principalmente devido aos hábitos alimentares. Adaptado de <http://www.wwow.com.br/portal/revista/revista.asp?secao=6&id=18 >.

Muito antes de Fauchard (16781761), considerado por muitos como o “pai da odontologia”, publicar um tratado descrevendo vários tipos de restaurações dentárias em 1728, materiais odontológicos foram utilizados por povos antigos, tais como fenícios (2.500 a.C.) e etruscos (800 a.C.) que utilizaram fragmentos e fios de ouro para confecção de dentaduras parciais. Existem registros do uso de implantes confeccionados pelos Maias utilizando conchas marinhas datando de cerca de 600 d.C. Aliás, Maias e Astecas tinham por hábito decorar os dentes utilizando ouro martelado e pedras. Incas dominaram a arte

de manipular ouro para construir próteses dentárias. Pouco se evoluiu desde os Astecas, Maias e Incas até as próteses de Chamant, patenteadas em 1792, as quais utilizavam peças cerâmicas de porcelana para confeccionar dentes. Mas o grande salto da odontologia teve início no século XIX quando a amálgama dental foi introduzida, uma liga metálica (a base de mercúrio) que apresenta grande adesão à polpa e cumpre os principais requisitos de esforços mecânicos do processo de mastigação. Nessa época, em 1895, G. V. Black iniciava seus trabalhos que iriam dar início à odontologia restauradora e a avanços tecnológicos fantásticos que culminariam em centenas de produtos odontológicos.

Fig. 2. À esquerda, retrato do Dr. Pierre Fauchard (1678-1761), considerado por muitos como o pai da odontologia. À direita, uma estátua em homenagem ao Dr. Greene Vardiman Black (1836-1915) localizada no Lincoln Park em Chicago. Adaptado de: <http://www. fauchard.org/history/articles/bdj/v199n09_ nov05/fauchard_obturators_bdj199_9.html> e <http://www.galter.northwestern.edu/gvblack/testgv4.htm>

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Minha empreitada nesta área começou numa conversa com a dentista durante um procedimento onde ela ironizando disse: “Você deveria inventar um zíper para boca, isso sim iria facilitar minha vida”. Esta brincadeira protagonizou meu interesse por desenvolver materiais que cumpram diversos requisitos para serem aplicados na odontologia: propriedades mecânicas adequadas para suportar cargas aplicadas durante a mastigação, resistência química para suportar o ambiente quimicamente agressivo da boca, biocompatibilidade, afinal um material odontológico não deve liberar substâncias ou fragmentos nocivos à saúde, ou ainda que liberem íons que ajudem a manter a saúde bucal e evite surgimento de cáries e que apresentem estética semelhante às estruturas naturais (dentes, gengiva)... e ainda, com custo acessível. Para cumprir estes requisitos, cientistas do mundo todo, associados a escolas de odontologia ou a fabricantes de materiais odontológicos conduzem intensas rotinas baseadas na formulação de materiais e ensaios (clínicos ou laboratoriais) a fim de validar materiais para aplicações específicas. Os materiais dentários são empregados para substituir ou tratar dentes ou partes específicas como a dentina, o esmalte, o cemento, o tecido pulpar, o ligamento periodontal, a cartilagem e o osso alveolar. Os empregos destes materiais vão desde a obturação com a prevenção de cárie dental, tratamento de canais, terapia das doenças periodontais até a reconstrução total ou parcial de estruturas orais ausentes (dentes extraídos) danificadas ou comprometidas, oferecendo desde dentes artificiais cerâmicos a pinos de ligas metálicas específicas com revestimentos que mimetizam o osso a fim de esta-

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belecer integração óssea da mandíbula com a peça implantada. Certos materiais específicos, tais como membranas periodontais, quando associadas a osso desmineralizado ou apatitas (minerais ricos em fosfato) podem promover o crescimento do osso da mandíbula, propiciando volume ósseo suficiente para integração de pinos e próteses. Sintetizamos em nosso laboratório na UNIFEI em parceria com a Universidade Estadual Paulista uma membrana periodontal baseada num compósito (material que associa polímeros e cerâmicas) constituído dos polímeros PVDF-TrFE, PCL, PHB e das cerâmicas BaTiO3 e BKBT. Esta incrível membrana (ilustrada abaixo) tem a capacidade de liberar cargas elétricas que estimulam a adesão, reposicionamento e proliferação de células ósseas jovens (osteoblastos) quando esta membrana é implantada sobre osso (alveolar). Ensaios in vitro realizados na faculdade de odontologia de Ribeirão Preto (USP) utilizando osteoblastos humanos evidenciaram o potencial desta membrana em favorecer a expressão de genes relacionados ao processo de diferenciação osteoblástica, tais como Run2, BSP, ALP, OC, BAX, SUR. Estes interessantes resultados demonstram que esta membrana apelidada de MPiezo poderá ser empregada no tratamento de defeitos e doenças periodontais tais como defeitos de furca, fenestrações, aumento de rebordo alveolar ou na técnica cirúrgica de regeneração óssea guiada. Estamos também estudando a possibilidade do emprego deste material para correção do retrognatismo (tipo de patologia caracterizada pela diferença no tamanho e posição do maxilar superior). Outro material odontológico sintetizado em nosso laboratório trata-se de

Fig. 3. Fotografia da membrana Mpiezo em embalagem estéril ao lado de um dos precursores utilizados em sua composição, a cerâmica BaTiO3. Abaixo, imagem de tomografia da calota craniana (calvária) de ratos oito semanas após a cirurgia de implante. Na primeira, o defeito ósseo crítico não foi regenerado pelo organismo, mas na segunda, é possível observar a regeneração do osso cobrindo totalmente o defeito ósseo que recebeu a MPiezo. Experimento realizado na Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, pela equipe do Prof. Márcio M. Beloti.

uma resina composta fotocurável baseada nos monômeros (precursor de um polímero) Bis-GMA, TEGDMA e vidro alumino-boro-silicato silanizado. A mistura destes componentes com um composto fotoativador, a conforo-quinona permite, após incidir luz ultravioleta sobre o material que ocorra uma série de reações químicas envolvendo radicais livres as quais conduzem o processo de polimerização dos monômeros e

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endurecimento do compósito dentário. Este tipo de material é amplamente utilizado por milhares de dentistas no mundo todo em restaurações. A inovação realizada por nosso grupo, com a participação da aluna de mestrado Aline Aguiar e do estudante de engenharia química Guilherme Limeira envolveu a síntese das partículas de vidro por métodos alternativos aos utilizados na indústria de materiais odontológicos. Este método apelidado de química doce emprega precursores que possibilitam a síntese do vidro em temperaturas brandas... também utilizamos microondas (igual a estes que temos em casa) com pequenas modificações para sintetizar estes vidros. As resinas compostas ou resinas odontológicas foram propostas por Bowen em 1962, e apresentam uma vantagem enorme em relação à amálgama dentária quando consideramos aspectos estéticos e tóxicos, pois não há como negar que as restaurações realizadas com amálgamas apesar de funcionarem muito bem, ficam horríveis principalmente se realizadas nos dentes anteriores. Estas resinas são atualmente uma espécie de “pau para toda obra” no consultório do dentista, já que podem ser aplicadas em praticamente qualquer tipo de restauração com ótimo resultado estético, facilidade de manipulação do material, boas propriedades mecânicas e muito menos tóxicas que as amálgamas. Apesar destas resinas compostas serem amplamente empregadas pelos dentistas, são recorrentes as reclamações destes profissionais e de pacientes em relação à durabilidade das restaurações utilizando resinas. Não é à toa que a indústria de materiais odontológicos investem milhares de dólares no mundo todo para desenvolver materiais quimicamente mais ativos na união dente-material ou esmalte-material. Afi-

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nal, durante o processo de mastigação podem ser aplicadas cargas mecânicas da ordem de 700 N (força equivalente a levantar um bloco de 70 kg) são aplicadas nos dentes diariamente, num ambiente hostil (corrosivo). Aliado a isto, este supermaterial deve ser fácil de ser manipulado e moldado pelo dentista e deve apresentar suas propriedades mecânicas finais em poucos minutos ou segundos após sua aplicação... afinal, ninguém quer ficar com a boca aberta por horas a espera do material endurecer.

Fig. 4. À esquerda acima, fotografia do gel precursor do vidro alumino-boro-silicato obtido pelo método de síntese denominado química doce. O gel é queimado em temperaturas da ordem de 400ºC para se obter partículas micrométricas e nanométricas de vidro, as quais após a silanização (reação química entre vidro e silano) são incorporadas aos monômeros Bis-GMA e TEGDMA e canforoquinona resultando no compósito dentário mostrado na foto à direita. Este compósito é então acondicionado em embalagem que evita o contato com a luz (bisnaga), já que a mesma pode endurecer o produto antes do consumo e está pronto para uso pelo dentista, que pode aplicar o mesmo diretamente à cavidade preparada. A fotografia inferior da esquerda são corpos de prova destinados a ensaios mecânicos de tração e compressão obtidos pelo endurecimento da resina composta fotocurável utilizando luz halógena irradiada durante 45 segundos.

Neste movimento, nosso grupo tem procurado desenvolver uma resina utilizando polímeros alternativos aos comumente empregados (BisGMA, UDEMA, DMAEMA, TEGDMA). A aluna de doutorado Lidiane Gomes e o Eng. Quí-

mico Raphael Felca vem desenvolvendo uma nova classe de polímeros hiperramificados repletos de grupos químicos funcionais (ativos quimicamente) que prometem aderir com maior intensidade ao esmalte e dentina, propiciando uma restauração estável por vários anos. Outro material interessante no qual trabalhamos recentemente em colaboração com o Dr. Marcio Bertolini (UNESP) são os chamados cimentos ionômeros de vidro. Os ionômeros são muito utilizados nas restaurações em crianças já que apresentam boas qualidades estéticas, mecânicas e liberam íons Fluoreto (flúor) continuamente, evitando assim o surgimento de cárie. O ionômero desenvolvido por nosso grupo leva na composição do pó, um vidro aluminosilicato niobato de potássio e fluorsilicato de cálcio sintetizado pelo método da química doce (que empregam temperaturas brandas de síntese). No líquido, a composição leva uma mistura de ácido poliacrílico, ácido tartárico, e ácido itacômico. Quando misturados ocorre uma reação tipo ácido base e a presa inicial (endurecimento) do material ocorre 3 minutos após a manipulação, tempo suficiente para o dentista moldar o material na cavidade. Na rotina de busca por propriedades específicas para desenvolver certos materiais odontológicos, lembro-me muitas vezes da minha dentista, aquela que propôs ironicamente inventarmos um zíper para boca... pois estamos diariamente tentando formular e modificar quimicamente os mais diversos tipos de materiais (polímeros, vidros, cerâmicas, monômeros) em busca de preencher os requisitos impostos por nossos maravilhosos colegas dentistas. Dr. Rossano Gimenes, Professor da Universidade Federal de Itajubá e Pesquisador do Centro de Investigação e Inovação de Materiais Biofuncionais Avançados

Naturale junho/julho - 2013




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