Naturale 18a edição

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Naturale 18a edição Dezembro/Janeiro - 2013

ISSN 2237-986X 2 A simbologia universal e os círculos nas plantações Wiltshire, jun 2008

Caro leitor Nesta edição trazemos uma reflexão sobre a simbologia universal. Ao observarmos as formas geométricas verificamos que elas estão inseridas o tempo todo a nossa volta, não só nos materiais que utilizamos como também na natureza, no universo e nas antigas civilizações. No estudo das proporções de formas geométricas chegouse ao “número de ouro” ou “proporção áurea”, designado como um dos números mais misteriosos e enigmáticos, que aparecem numa infinidade de elementos da natureza sob a forma de uma razão. Trata-se de uma constante real algébrica irracional e considerada, por muitos estudiosos do passado, como uma oferta de Deus ao mundo, pois está relacionada com a natureza do crescimento. Essa proporção aúrea aparece nas plantas, no DNA, no comportamento da refração da luz, dos átomos, nas vibrações sonoras, nas espirais das galáxias, nos marfins dos elefantes, nas ondas do oceano, nos furacões, no corpo humano, enfim, em toda constituição do universo. Se passarmos agora a olhar para tudo que nos rodeia identificando as formas geométricas e percebendo sua harmonia no que diz respeito às proporções, seja na folha de uma árvore, na anatomia do corpo humano ou de um animal, no formato de uma galáxia, em uma obra de arte ou de arquitetura, passamos a nos conectar com o sentido de “sagrado” e a despertar nosso interesse de como cada elemento repercute em nós. Interessante que a partir da década de 1980 apareceram em plantações da Inglaterra e em outros pontos do planeta, inclusive no Brasil, desenhos enormes, alguns com até 300 m de diâmetro, todos feitos com perfeição e precisão, sem interromper o crescimento de nenhuma planta, apenas a curvando. Não temos o objetivo de dizer como foram feitos, mas convidar você leitor, a estar diante destas formas geométricas. Perceber nossa ligação com o universo nos faz pensar que viver neste planeta transcende e muito a vida do nosso dia a dia. Chegamos ao fim de mais um ano, onde inconscientemente todos somos levados a refletir no que fizemos e no que queremos para o novo ano. Num momento da história em que nunca antes se falou tanto do final do mundo, talvez seja mais sensato considerarmos 2013 não só como o início de mais um ano, mas como o início de um período de maior clareza no que diz respeito à condução do ser humano neste planeta e nos destinos que como humanidade pretendemos traçar. Agradeço por poder trilhar este caminho com cada um de vocês, e que possamos juntos tornar realidade sonhos e projetos para um mundo de paz e harmonia. Feliz Ano Novo! Boa leitura!

Elaine Pereira

6 Natureza e deslumbramento: construindo nanoestruturas sintéticas biocompatíveis 8 Responsabilidade social: uma das premissas da Helibras 9 A vivência da arte 14 A participação dos Diplomados da UNIFEI nos 100 anos da Universidade 17 Alunos do G9 são medalhistas na Olimpíada Brasileira de Astronomia 18 Por que seguir doses e horários corretos no uso de medicamentos? 20 Refrigerantes podem corroer os dentes 22 Alimentação viva para todos 24 A importância do estudo dos problemas urbanos e suas soluções 28 Santa Rita do Sapucaí está habilitada e receberá o ICMS Turístico 2013

expediente Naturale é uma publicação da DIAGRARTE Editora Ltda CNPJ 12.010.935/0001-38 Itajubá/MG Editora: Elaine Cristina Pereira (Mtb 15601/MG) Colaboradores Articulistas: Aline Chaves, Alvaro Antonio Alencar de Queiroz, Ana Carolina Antunes Haddad, Bill Souza, Dra. Gracia Costa Lopes, Herika Nogueira, José Acácio Arruda, Marcelo Lambert e Rubens Pinto Pinheiro. Revisão: Marília Bustamante Abreu Marier Projeto Gráfico: Elaine Cristina Pereira Capa: “Rose” Galaxies (Hubble-Nasa) e Crop Circle de Wiltshire, 1996 Vendas: Diagrarte Editora Ltda Impressão: Resolução Gráfica Ltda Tiragem: 3.000 exemplares impressos e 10.000 eletrônico Distribuição Gratuita em mídia impressa e eletrônica Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados. Para reproduzir é necessário citar a fonte. Venha fazer parte da Naturale, anuncie, envie artigos e fotos. Faça parte desta corrente pela informação e pelo bem. Contate-nos: (35) 9982-1806 e-mail: revistanaturale@diagrarte.com.br Acesse a versão eletrônica: www.diagrarte.com.br Impresso no Brasil com papel originado de florestas renováveis e fontes mistas.

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A simbologia universal e

os círculos nas plantações Por Marcelo Lambert

Caros leitores, tenho imenso prazer em trazer para vocês uma reflexão sobre os famosos círculos que constantemente aparecem em plantações, serras e em rochas por todo mundo, fato que se repete há muitas décadas e que sempre nos intriga. Afinal, quem são os verdadeiros autores desses círculos? E mais, qual o sentido agregado à sua confecção? E quais são as mensagens contidas em sua simbologia? Vamos pensar um pouco sobre isso... É evidente que a proposta deste artigo não visa provar a origem desses símbolos. Não temos respostas objetivas ou provas contundentes quanto à procedência dos círculos, mas o inegável é que cada um deles possui um vasto universo simbólico. Em muitos casos uma perfeição assustadora em

sua confecção e no seu resultado estético. Antes de pensarmos diretamente a questão, é fundamental lembrar que várias civilizações antigas e grupos humanos sempre buscaram representar em forma de símbolos o seu cotidiano. Temos em quase todos os continentes esse tipo de manifestação e o que nos chama a atenção é o fato de que muitos desses círculos ou símbolos apenas podem ser vistos do céu, tornando a questão mais enigmática ainda, como o caso clássico do deserto de Nazca no Peru, onde observamos uma quantidade imensa de símbolos representando animais, estradas, círculos e todos eles são vistos apenas do alto, trazendo a nós uma profunda reflexão quanto ao sentido e a utilização daquela estrutura representativa.

Nazca no Peru

Relevante é a quantidade imensa de símbolos criados ao longo da história da humanidade para representar os anseios políticos, sociais, religiosos. Todos os dias a arqueologia encontra novos sítios que demonstram essas representações no solo, e na maioria das vezes, entender o sentido e o valor estético é muito complexo pois cada símbolo remete a uma mentalidade ou “universo” cultural daquelas pessoas que o criaram ou àquela civilização. Mas o que hoje leva a surgir da noite para o dia esses círculos em propriedades rurais? E não apenas isso, quais as verdadeiras intenções? E quem os confecciona? Ao que tudo indica e os registros demonstram, esses círculos em plantações começaram a aparecer a partir de 1980, tendo a Inglaterra a primeira indicação para o evento, seguida pela

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Escócia, Canadá, Alemanha, Rússia, Austrália, Japão e Espanha. Os desenhos possuem formas esféricas, círculos concêntricos, espirais, linhas retas e uma mecânica muito complexa. Sem contar a impressionante técnica utilizada que não danifica as plantações. Para que os símbolos sejam feitos, as plantas não são arrancadas mas sim dobradas de tal maneira que além de formar símbolos perfeitos nada é deteriorado, a planta continua seu desenvolvimento normal, incluindo também o fato que são feitos geralmente à noite. Até hoje, mediante várias investigações e pesquisas não se sabe como o fenômeno se realiza. Muitos estudiosos de símbolos identificam representações diversas como mapas astrológicos, mapas astronômicos, representações do DNA humano, mapas e plantas de cidades de antigas civilizações. O fato de que essas figuras representem manifestações ufológicas, como uma tentativa de comunicação ou até mesmo sinais deixados como profecias, ou códigos científicos para o avanço de nossa civilização e como muitos já afirmaram que as figuras eram representações do pouso de naves espaciais, é claro que tudo não passa de especulação e tais argumentos nunca foram provados de forma consistente. Em todo mundo, as pesquisas sobre esta questão não param de crescer, podemos ressaltar inclusive que na

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Inglaterra surgiu um grupo de pesquisadores chamados de cereologistas que pautam os seus trabalhos sobre esses círculos e símbolos que periodicamente são registrados em campos de todo mundo, principalmente na Europa. Depois de alguns levantamentos estatísticos, os pesquisadores chegaram a um número surpreendente. Em um prazo de 20 anos foi catalogado a incidência de mais de 10 mil círculos e símbolos espalhados pelo globo. Mediante essa imensa quantidade de representações, muitos testes foram feitos, inclusive em instituições extremamente respeitadas no meio acadêmico e científico. Em Cambridge, foram estudadas amostras de grãos de trigo tiradas de campos que sofreram as influências dessas manifestações e foram identificadas alterações celulares de grande relevância. Além disso, foram feitos testes eletromagnéticos e geológicos para criar padrões de análise em relação a toda a área pesquisada. Podemos afirmar que existe um número imenso de especulações sobre a questão e nenhuma resposta científica é conclusiva, o que cria uma atmosfera de grande mistério em relação a esses fenômenos. Entre os vários símbolos encontrados nessas representações, o círculo é o principal deles. Pela simbologia clássica, o círculo representa o Sol. Encontrado em todas as culturas, possui um sig-

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nificado filosófico amplo, universal. O círculo representa o todo, o ser completo, a integridade, a iluminação, o ciclo da vida, o renascimento, a roda da vida, a Pedra Filosofal da alquimia e, em muitas tradições, ele é o que tudo vê, o olho que tudo sabe, determinando assim na sua simbologia os ciclos do mundo natural, como também a representação da igualdade. Para Carl Jung o círculo simbolizava o processo da natureza, o Cosmos e os ciclos do universo. Como está evidenciado aqui, o círculo traz um grande conteúdo de visões e interpretações, mas todas elas não estão apartadas da humanidade e de suas ansiedades. Dessa forma fica comprovada que uma das principais figuras representadas nessas manifestações é carregada de simbolismos e de abstrações filosóficas e mentais. Os círculos nas plantações, invariavelmente, são acompanhados no seu interior por outro símbolo considerado sagrado e extremamente antigo que é a figura da espiral. Temos provas arqueológicas da utilização dessa representação a mais de 5.000 anos, como foi caracterizada em algumas construções de Creta e Tibete. A espiral no sentido horário, principalmente no ocidente, está relacionada à água e ao seu movimento constante, caracteriza mudança e a migração de pessoas. Identificamos também que em outras culturas a espiral simboliza o Sol, para os irlandeses e para os Celtas significa expansão e crescimento, bem como energia cósmica. Como é possível perceber através desses exemplos, símbolos que são universais e que de alguma forma representam o imaginário global, possuem definições e especificidades regionais e culturais, transformando assim a interpretação dos círculos nas plantações um grande desafio. No Brasil, temos dados que re-

metem a situações semelhantes as da Europa, como os círculos encontrados em Ipuaçu-SC, Riolândia-SP, Buritama-SP, Mauriti-CE, e em outras regiões brasileiras, mas não tivemos respostas conclusivas sobre a questão. O que é fato e determinante é a incidência dessas manifestações em todo o globo.

Ipuaçu-SC, Brasil

Farei uma análise específica sobre os símbolos encontrados na cidade de Ipuaçu, onde é possível perceber uma relação direta simbólica com uma representação radiônica, pois existe uma conexão entre os dois elementos representados. Os 33 círculos menores ligados entre si abrigam em seu interior mais um círculo, que objetivamente caracteriza o sentido hermético do segredo, como também a conexão da energia cósmica e telúrica através dos ciclos. Outro elemento simbólico relevante em Ipuaçu é a ideia de movimento que as figuras agregadas representam, tra-

Ipuaçu-SC, Brasil

zendo a nós a construção metafórica do movimento, que através do seu ritmo faz com que a natureza se manifeste na sua totalidade. Agora é fundamental citar aqui que a maioria das figuras são carregadas de grande subjetividade simbólica. Quanto aos 33 círculos menores, podemos trazer à tona várias alegorias, afinal, desde a antiguidade existe uma problematização quanto ao valor místico desse número. Ele é agregado a personagens históricos, ordens iniciáticas, bem como ao seu “poder” energético de transformação, sabedoria e conhecimento. Na outra extremidade o círculo menor possui um ponto no seu centro que remete diretamente à representação do Sol. Temos documentos que provam que os alquimistas utilizavam em seus experimentos uma gama enorme de materiais, sendo que todos eles eram representados por símbolos. Muitos destes símbolos foram encontrados nos desenhos nas plantações, ou seja, são semelhantes às figuras utilizadas no processo alquímico. Apesar da polêmica quanto à veracidade da confecção dos círculos, chegamos a um ponto importante, independente das intenções escondidas por trás da realização dessas figuras, temos a manifestação notória e simbólica da história da humanidade. Percebemos que várias figuras são milenares e fundamentadas em uma geometria sagrada, que através do seu traçado, carregam uma gama de informações e códigos que nos desafiam. Infelizmente, existe uma exploração mercadológica que acompanha esses fatos, inclusive muitas vezes, tira a seriedade das pesquisas sobre os círculos, trazendo uma reflexão pautada no “achismo”, sem fundamentação e interpretação baseada em experimentos e metodologias científicas para uma análise racional do fato.

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Câmara da Mulher Empreendedora Com o objetivo de promover o fortalecimento e a união das mulheres empreendedoras, a ACIEI (Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Itajubá) deu posse em novembro à primeira Diretoria da Câmara da Mulher Empreendedora de Itajubá (CMEI) que traz o slogan “Saltos em Negócios”. Trata-se de um espaço dedicado ao desenvolvimento do talento empreendedor e da capacidade administrativa das mulheres de Itajubá e região. Com a proposta de elaborar planos de consultoria e educação gerencial, promover oportunidades que resultem em geração de emprego e renda, “serão realizados cursos e palestras para capacitar as empreendedoras”, afirma a presidente da Câmara da Mulher Empreendedora, Priscila Moraes de Carvalho. O presidente da ACIEI, Remy de Andrade Filho, lembrou o papel de destaque que a mulher vem conquistando ao longo dos anos, “de acordo com o governo brasileiro, em 2010, as mulheres já representavam 49,3% dos empreendedores do Brasil. Em números absolutos, 10,4 milhões de mulheres no comando de suas empresas. Em 2012, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que as mulheres já são maioria entre os empreendedores do país”, e chamou atenção para as conquistas a serem alcançadas: “Juntos, podemos mais. Já passou da hora de termos uma cooperação e participação mais efetiva de vocês mulheres em nossa entidade”.

Como historiador e pesquisador não tenho condições de fazer uma análise conclusiva sobre a questão, a não ser trazer a todos que privilegiam a leitura da revista Naturale, mais um grande mistério da história da humanidade, como tantos outros que, infelizmente, ficaram sem respostas ao longo de séculos. Temos inúmeras manifestações espalhadas pelo mundo que a ciência ainda não conseguiu entender, mas o mais importante é debater, discutir, constatar e pesquisar muito, sempre com seriedade e rigor. Não podemos, é claro, fechar os olhos, pois enquanto não tivermos respostas concretas, a nossa missão continua, no sentido de trazer à tona, as respostas mais próximas da possível verdade, pois afinal termino este artigo questionando: existe uma verdade??? Muita LUZ a todos, até a próxima edição.

O presidente da ACIEI e a Diretoria da Câmara da Mulher Empreendedora

Marcelo Lambert, Historiador, escritor e palestrante. www.marcelolambert.com Fonte das imagens: As fotos que ilustram a matéria são provenientes de vários sites, entre eles: www.temporarytemples.co.uk; www.cropcircleconnector.com/anasazi/ spiral.html; lucypringle.co.uk.

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Natureza e deslumbramento: construindo nanoestruturas sintéticas biocompatíveis Por Dr. Alvaro Antonio Alencar de Queiroz “O verdadeiro devoto tem de superar o difícil caminho entre o precipício da ausência de Deus e o pântano da superstição” (Plutarco)

A palavra religião vem do latim religare e significa “unir”, ligar coisas que foram separadas. No sentido de buscar as relações mais profundas entre coisas que na superfície da mente parecem dissociadas, que os objetivos da religião e da ciência quase se identificam, à exceção de suas diferenças no terreno das verdades declaradas e nos métodos de abordagem. A melhor forma de deflagrar a sensação religiosa é olhar para o céu em uma noite clara (Fig. 1). É nesse momento de fascinação que questões antigas nos atormentam através dos tempos. A verdade absoluta de nossa existência e do manto da consciência que cobre nossa visão do mundo ainda permanece totalmente desconhecida. Talvez a verdade ainda seja demasiado grande para que a mente humana a suporte.

mais nesse mesocosmos, na estrutura biológica celular, com o auxílio do microscópio eletrônico de transmissão (MET) descobre-se uma estrutura fantástica que confere às células o papel de reconhecimento, o glicocálice (Fig. 2).

Figura 2. Estrutura do glicocálice capilar do miocárdio (esquerda: adaptado de van den Berg B.M., Vink H., Spaan J.A. The endothelial glycocalyx protects against myocardial edema. Circulation Research 2003, 92: 592-594) revelada por microscópio eletrônico de transmissão (direita).

Figura 1. Nebulosa da águia (esquerda: adaptada de http://apod.nasa.gov/ apod/ap090208.html) e ressonância magnética nuclear funcional (RMF) do amadurecimento do cérebro (direita: adaptada de http://www.loni.ucla. edu/~thompson/DEVEL/dynamic.html). Na imagem RMF as regiões em vermelho indicam mais massa cinzenta e em azul, menos massa cinzenta.

O glicocálice é uma extensão da própria membrana celular, rica em polissacarídeos que se projeta da superfície fosfolipídica formando uma cobertura externa cujas funções são de reconhecimento celular, formação de aderências intracelulares e absorção de moléculas para a superfície celular desempenhando uma importante função na manutenção da integridade do tecido biológico, em especial as artérias e consequentemente da saúde humana (Fig. 3). Quando o glicocálice é alterado, desencadeia uma série de efeitos biológicos nocivos, entre eles, a aterosclerose e o infarto agudo do miocárdio.

Entretanto, não precisamos nos deslocar até galáxias distantes para enxergar a grandiosidade da natureza. Uma estrutura tão complexa quanto o universo que contemplamos com o auxílio de poderosos telescópios está dentro de nós, o cérebro humano (Fig. 1). Trata-se do mais complexo de todos os órgãos cuja base de funcionamento é a flexibilidade e a capacidade plástica que se manifesta mesmo nas idades mais avançadas, favorecendo assim constantes transformações. Estima-se que o número de neurônios no cérebro seja cerca de 86 bilhões, muito próximos dos 100 bilhões de estrelas que formam nossa galáxia, a Via Láctea. Todo um universo está em nós. Albert Einstein disse que o sentimento religioso cósmico é o motivo mais forte e mais nobre para a pesquisa científica. Voltando nossos olhos para uma estrutura biológica em escala mais reduzida, o mesocosmos, o mistério da vida nos causa uma forte emoção. Não parece haver no mesocosmos estruturas que cheguem sequer perto da complexidade dos sistemas biológicos de macromoléculas e células existentes no organismo humano. Várias evidências científicas demonstram que a superfície celular é dotada de tamanha especificidade que permite às células do organismo humano se reconhecer mutuamente e estabelecerem certos tipos de relacionamento. Mergulhando um pouco

Figura 3. Influência da estrutura do glicocálice (GC) no bom funcionamento do organismo humano. O glicocálice existente nas paredes de artérias, vasos ou capilares mantém o organismo saudável (esquerda). Quando o glicocálice é destruído, eventos indesejáveis “perturbam” a saúde. As siglas referem-se a várias células que coexistem em equilíbrio no glicocálice: MC = monócitos (leucócitos, defesa), PG = proteoglicanos (estrutural e transporte), SDE = enzima superóxido dismutase (defesa antioxidante da célula), PP = proteínas do plasma (transporte), vWF = fator de von Willebrand (fatores associados ao mecanismo da coagulação do sangue), PT = plaquetas (coagulação), TFPI = ativador tecidual do plasminogênio (coagulação), AT = antitrombina (enzimas desativadoras do processo da coagulação), ICAM = moléculas de adesão (promove a adesão celular). Adaptado de van Golen R.F., van Gulik T.M., Heger M. Free Radical Biology and Medicine 2012, 52: 1382-1402.

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Os pesquisadores do Centro de Estudos e Inovação em Materiais Biofuncionais Avançados (CEIMBA) da UNIFEI sintetizaram sob coordenação do Prof. Dr. Alvaro A. Alencar de Queiroz, estruturas poliméricas que mimetizam o glicocálice (Fig. 4). As estruturas poliméricas correspondem ao polímero poli (metacrilato de 2-hidroxietila) (PHEMA) enxertadas na superfície do polietileno. A síntese foi efetuada utilizando raios gama de uma fonte de cobalto-60 multipropósito em colaboração com o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN/SP). Tais estruturas, denominadas de polímeros com topologia tipo escova (polymer brushes) apresentam elevada compatibilidade com o tecido sanguíneo, similarmente à estrutura de um glicocálice biológico.

Figura 4. Fonte multipropósito de 60Co do IPEN/USP (esquerda) utilizado para a síntese de nanoestruturas sintéticas que imitam o glicocálice celular (direita). As micrografias à direita são referentes à microscopia eletrônica de varredura que ilustram as estruturas de glicocálice sintetizados na UNIFEI no CEIMBA.

A obtenção das estruturas de polímeros tipo escova utilizando a radiação ionizante tem uma finalidade específica. Esta técnica pode ser apontada como um procedimento de Química Verde ou Química Limpa, já que não são usados catalisadores ou solventes na reação. A técnica elimina a necessidade de reciclar, descartar e manipular um solvente orgânico (muitas vezes tóxico, inflamável e/ ou ataca a camada de ozônio). Ao mesmo tempo, as reações de polimerização conduzidas pela radiação ionizante mostraram grande vantagem em termos de rendimento, tempo e menor formação de subprodutos. A ausência de resíduos de catalisadores no produto final confere ao material a característica de biocompatibilidade com o organismo humano. Dois tipos de polímeros com topologia escova foram sintetizados: o polímero com topologia esférica e com topologia plana (Fig. 4). Agora os pesquisadores estão projetando com as estru-

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turas obtidas, revestimentos compatíveis com o sangue e biossensores implantáveis para a monitoração da dengue. Os revestimentos biocompatíveis com o sangue poderão num futuro próximo contribuir para a medicina cardiovascular, minimizando as interações entre esse fluído biológico e a superfície sintética (Fig. 5). Tais materiais poderão

Figura 5. Superfícies sintéticas após contato com sangue humano: superfície sintética não revestida (esquerda) e revestida pelos pesquisadores do CEIMBA/UNIFEI com glicocálice artificial (direita). Observa-se na superfície não revestida com o glicocálice uma grande quantidade de hemácias e plaquetas sanguíneas ativadas formando os temíveis trombos. A superfície revestida com o glicocálice artificial não apresenta adesão de trombos, o que a torna hemocompatível. A superfície sintética é o polietileno de baixa densidade. O glicocálice artificial é o PHEMA.

ser utilizados na fabricação de máquinas de diálise, cateteres e revestimentos que minimizam a formação de coágulos na superfície sintética. A descoberta das estruturas do glicocálice se deve a avanços tecnológicos que revelam maravilhosas formas de vida biológica. Por sua incansável busca pela verdade de nossa existência, a biologia merece uma declaração de amor. A teoria da evolução permeia também a geologia e a cosmologia. É oriunda da biologia a grandiosidade da visão de vida que, enquanto a Terra gira, de acordo com a lei imutável da gravidade, houve um começo muito simples onde formas de vida infindáveis, as mais belas e perfeitas, evoluíram e ainda evoluem. A biologia demonstra que toda a vida na Terra está intimamente interligada cuja evolução é um fato, não uma teoria. O conhecimento que emerge dos avanços tecnológicos aplicados ao estudo da estrutura celular (entre eles o microscópio eletrônico de transmissão) são ainda profundamente limitados. A evolução da estrutura do glicocálice e seu papel biológico não são compreensíveis em sua totalidade. E a incompreensão frustra e inquieta nossa mente. Mas, resta o consolo de que a verdade que emerge da biologia demonstra-se a si mesma no amor pela ciência. Nunca é propriedade nossa, um produto nosso, como também o amor nunca se pode produzir, mas só receber e transmitir como dom. Talvez não devamos perguntar por que a mente humana se inquieta com a extensão dos segredos da natureza. As diversidades de seus fenômenos são tão vastas e seus tesouros escondidos na vida biológica tão ricos, para que a mente humana nunca tenha falta de alimento. Dr. Alvaro Antonio Alencar de Queiroz, Coordenador Científico do Centro de Estudos e Inovação em Materiais Biofuncionais Avançados, UNIFEI.

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Responsabilidade Social: uma das premissas da Helibras O Instituto Helibras realizou diversas ações de Responsabilidade Social ao longo deste ano, com destaque para alguns programas que se estenderão para o futuro, além de eventos específicos para este final de 2012. Uma delas é o projeto Adote uma Criança, com mais de 10 anos de tradição na empresa e doa no Natal, um kit com roupas, itens de higiene pessoal e brinquedos para crianças de uma creche da cidade. “Todo ano escolhemos uma instituição e um bairro diferentes e, desta vez, a entidade selecionada foi a creche ‘Os Pequeninos’, situada no bairro Rebourgeon. Estamos contando com a participação de 70 funcionários para montar as sacolinhas de Natal das crianças”, explica Lia Maciel, gerente de Responsabilidade Social da Helibras. Durante a entrega, as crianças receberão os presentes das mãos do Papai Noel. Além dos kits para a creche, a empresa também recebe doações extras de brinquedos para serem doados a outras crianças carentes.

Inclusão: o exemplo vindo de dentro

Outro projeto social elaborado em 2012 para ser colocado em prática no ano que vem é o Programa de Voluntariado, batizado de HeliAção. O Instituto Helibras procurou ouvir seus funcionários, por meio de uma pesquisa, para conhecer o perfil e disponibilidade deles e de seus familiares para participarem da iniciativa. A partir do estudo, serão desenvolvidos três projetos para 2013:  Agenda Anual do Voluntariado, com uma programação das ações sociais que ocorrerão durante o período em escolas públicas e entidades, atendendo o interesse dos funcionários em atuar nos campos educacional e esportivo;  Família Voluntária, projeto de incentivo à participação voluntária dos familiares de funcionários em projetos sociais da comunidade;  Campanhas, que compreendem as ações pontuais já realizadas, entre elas a do Agasalho, do Dia das Crianças, de Natal, etc. “Sabemos da importância dessas atividades em comunidades como as de Itajubá, e promover o trabalho voluntário de forma estruturada, com certeza trará ótimos resultados, além da satisfação em sermos facilitadores dessas ações”, conclui Lia.

A Helibras mantém abertas as oportunidades para Pessoas com Deficiência (PcD) que querem trabalhar na empresa. Porém, acredita que não basta contratá-las; é preciso criar uma cultura de inclusão dentro da fábrica, e também proporcionar um ambiente harmônico de convivência, por meio de orientação sobre como se relacionar com as diferentes necessidades destas pessoas. Para tanto, criou o programa Inclusão HB. A iniciativa visa criar oportunidades de inclusão e trabalho para PcDs, o que significa proporcionar a elas o desenvolvimento e a participação na busca por resultados pessoais e profissionais, além da possibilidade de convívio e aprendizado entre todos os funcionários. O projeto contempla três ações principais, entre elas a Campanha de Inclusão HB e a Semana da Inclusão, que será realizada em dezembro com atividades lúdicas para os funcionários. Outra meta do programa é eleger ‘padrinhos’ em cada área da empresa, pois estes poderão acompanhar o desenvolvimento e auxiliar os recémcontratados. A segunda iniciativa, em 2013, é o estabelecimento de uma parceria com o SENAI de Itu (SP), especializado em serviços de treinamento, conscientização e adaptabilidade, a fim de estruturar a Helibras para receber os profissionais com deficiência e integrá-los da melhor maneira possível.


Gonçalo Borges

Luisa Potl

Maria Goret Chagas

A vivência da arte A capacidade do ser humano de se reinventar através da arte e a busca de superação por quaisquer que sejam os limites impostos pela vida, faz da expressão artística algo muito mais valioso. Em 1956, foi fundada em Liechtenstein (Europa Central), por Erich Stegmann, a Associação dos Pintores com a Boca e os Pés. Atualmente, em mais de 70 países, tem proporcionado a 800 artistas que não têm o uso de suas mãos, uma vida independente. No Brasil, a sede fica em São Paulo/SP e conta com 48 pintores. Estes pintores são beneficiados com a satisfação de poder ganhar seu próprio sustento independente de caridade. Seu trabalho é avaliado e deve ter um padrão que possa competir em estética e base comercial com trabalhos de artistas convencionais. Uma vez aceitos como “membros”, é garantida a eles uma renda substancial por toda a vida, mesmo se forem incapacitados de continuar a pintar. Esta renda é proveniente da venda de seus trabalhos que são transformados em cartões e calendários. O sucesso das vendas dos produtos num mercado altamente competitivo ajuda a assegurar também bolsas de estudo para pintores que ainda não atingiram os padrões exigidos de um “membro”, assim, suas habilidades podem ser desenvolvidas e encorajadas. Além disso, subvenções são feitas para equipamentos especiais e tratamentos em alguns casos. A Associação é gerenciada e administrada sob o controle e supervisão de seus membros, todos, artistas sem o uso de suas mãos, que a entendem como um negócio e não como entidade filantrópica. Através do trabalho e da independência financeira a Associação abre portas para os artistas mostrarem sua arte no Brasil e no exterior, em exposições internacionais. Muitos ganham medalhas e outras honras por realizações artísticas e acadêmicas. Todos têm a oportunidade de uma vida digna e construtiva, com trabalho, estudos e esforço pessoal. Dr. Richard Hiepe, um eminente historiador da arte, disse uma vez: “Pela virtude do seu trabalho, os artistas se tornam seres novos e integrados... A Associação faz com que eles sejam independentes de toda a miséria da caridade publicamente conduzida. Mas, mais significante que isso, os inspira com a consciência de uma vida construtiva adquirida através do esforço pessoal e da construção de uma existência independente. Eles realizam isso através da sua arte – tendo novamente a condução de suas vidas em suas próprias mãos”. Para fazer parte ou conhecer a Associação dos Pintores com a Boca e os Pés, acesse www.apbp.com.br ou entre em contato pelo telefone (11) 5051-1008.

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Eliana Zagui

José Marcos dos Santos

Claudette Corpo


Pessoas com deficiência e o mercado de trabalho A inclusão no mercado de trabalho é almejada também por pessoas com deficiência e políticas públicas estimulam que isso aconteça. A Lei 8213/91, Lei de Cotas para Deficientes e Pessoas com Deficiência, dispõe no artigo 93 que “a empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou pessoas portadoras de deficiência, na seguinte proporção: até 200 funcionários: 2%; de 201 a 500 funcionários: 3%; de 501 a 1000 funcionários: 4%; e acima de 1001 funcionários: 5%”. Este sistema de cotas abriu muitas vagas de emprego, mas elas não estão preenchidas devido à falta de qualificação da mão de obra e pelo medo que os beneficiários do BCP têm de perder o benefício e não obtê-lo novamente caso o trabalho não dê certo. O Benefício de Prestação Continuada (BPC) faz parte da Política de Assistência Social, que integra a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (Suas), e assegura um salário mínimo mensal (R$ 622,00) aos idosos, a partir dos 65 anos, e às pessoas com deficiência, de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial. O benefício é individual, não vitalício e intransferível e, para acessá-lo, não é necessário ter contribuído com a Previdência Social. Deve ser comprovada mediante avaliação do serviço social e de perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a incapacidade de garantir o próprio sustento. A renda mensal familiar per capita deve ser inferior a um quarto de salário mínimo, ou seja, cerca de R$ 155,00. Segundo o Censo do IBGE de 2010, existem 45,6 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência. O Programa BPC Trabalho, lançado este ano, oferece acesso ao trabalho e a programas de aprendizagem e qualificação profissional às pessoas com deficiência. Ele intermediará a oferta e demanda da mão de obra dos profissionais com deficiência, levando em conta suas habilidades e interesses, e incentivando os trabalhadores autônomos, empreendedores e cooperativas por meio do acesso ao microcrédito. Os cursos de qualificação serão oferecidos pela rede federal de educação profissional e pelo Senai, Sesi e Senac. Segundo a portaria, os municípios e o Distrito Federal serão os responsáveis por executar o programa e deverão buscar e orientar

beneficiários interessados em participar, designar servidores, fazer o registro de encaminhamentos no âmbito do programa e garantir o acesso às pessoas com deficiência a serviços e benefícios. A proposta do BPC Trabalho é quebrar o paradigma de que pessoas com deficiência são incapazes de trabalhar. Segundo Elyria Credidio, coordenadora-geral de Acompanhamento dos Beneficiários do Departamento de Benefícios Assistenciais, a ação divide-se em duas etapas: a primeira, de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), prevê visitas domiciliares com objetivo de fazer um diagnóstico social dos beneficiários e de suas famílias. “Nessa fase, deixamos claro que participar dos cursos e trabalhar não é uma condição, mas uma opção, e que, ao fazer os cursos, as pessoas não perdem o benefício”. A partir dessa abordagem, os beneficiários interessados na qualificação são encaminhados a vagas em cursos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). O encaminhamento ao mercado de trabalho após o curso será responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego. Elyria avalia que o trabalho dos profissionais de assistência social na abordagem domiciliar é importante “Primeiro porque são pessoas que já têm a segurança da renda mensal e que, em geral, não costumam procurar essa qualificação. Segundo, porque é preciso deixar claro como devem proceder para ter acesso aos cursos e o que acontece se arranjarem emprego. Muitos receiam perder o benefício, mas, na verdade, ele fica apenas suspenso quando a pessoa comunica ao INSS que está trabalhando. Se ela perder o emprego, volta a receber o BPC sem necessidade de novo registro”. A garantia de retorno ao BPC se ampara em mudanças na Lei Orgânica da Assistência Social (Loas). As pessoas com deficiência também podem ser contratadas como aprendizes, independentemente da idade. Caso isso ocorra, elas podem acumular o salário e o BPC por um período de até dois anos. Além dos cursos ofertados pelo governo, lembramos que muitas Associações há anos trabalham para a inclusão de pessoas com deficiência, tanto no mercado de trabalho como na sua socialização. Hoje, contamos não só com pessoas que nasceram com alguma deficiência mas também com as que adquiriram já na fase adulta e precisam aprender a se locomover e adaptar-se a nova realidade. Em Itajubá (MG) o CAIDI (Centro de Apoio e Integração dos Deficientes de Itajubá), atende 50 pessoas entre deficientes visuais, intelectuais, auditivos e físicos, oferecendo cursos como: Braille e informática para deficientes visuais; orientação e mobilidade; boas maneiras e higiene pessoal; oficina de culinária; canto coral; dança; artesanato e promovem debates para estimular a formação de opinião, com o objetivo de dar mais independência a todos eles. Muitas pessoas com deficiência já abriram caminho no mercado de trabalho, mostraram que são capazes, superaram o preconceito e são reconhecidas. Hoje, a gama de oportunidades para aprender um ofício, um esporte e desenvolver um dom artístico está aberta. Sabemos que a questão da inclusão ainda tem um caminho a percorrer, mas a clareza na informação e a formação de todas as pessoas, deficientes ou não, se faz premente para que a inclusão seja uma realidade. (Com dados do MSD)

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Alunos do G9 são medalhistas na Olimpíada Brasileira de Astronomia Por Bill Souza

Dois alunos do Ensino Médio do Curso G9 são medalhistas da edição 2012 da OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica), organizada anualmente pela Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB) e com a Eletrobrás/Furnas. São eles Mateus Figueiredo da Silva, do 2º ano (turma M21) e Jonas de Souza Faria Floriano, do 1º ano (M11). Mateus conquistou Medalha de Ouro – a primeira do G9 na olimpíada – e Jonas de Souza, a de Bronze. Mateus Figueiredo também foi chamado para participar de uma pré-seleção que irá garantir vagas a duas olimpíadas internacionais de astronomia: uma é a Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA) e, a outra, a Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA). “Eu estou muito feliz com esse resultado. A prova não é difícil, mas é muito trabalhosa”, comemora Ma-

Jonas de Souza e Mateus Figueiredo da Silva

teus. Ele diz ainda que a pré-seleção será um desafio ainda maior e vai exigir uma dedicação enorme. “Disputar uma olimpíada internacional será, com certeza, uma experiência única e muito interessante”, completa o aluno. Esta é a quinta vez que Mateus Figueiredo participa da OBA. Foi Medalha de Prata nos três anos do Ensino Fundamental (2008, 2009 e 2010) e Bronze no 1º ano do Ensino Médio, em 2011.

Jonas Floriano também se diz surpreso com sua classificação, embora também seja um “veterano” em olimpíadas. “A prova estava muito difícil e complexa”, ressalta. Ele também conquistou a Medalha de Bronze quando estava no 6º ano (em 2008). Já as medalhas de prata vieram nas edições de 2009, 2010 e 2011. Para a professora Estela Maria de Oliveira, coordenadora do Ensino Fundamental II e das provas da OBA no G9, “um aluno que se propõe a participar de uma Olimpíada está buscando a avaliação de seu conhecimento, principalmente numa área em que tem interesse”. “A cada ano, a cada nova prova, busca-se a superação por melhores resultados. Ele é seu próprio adversário. Isso contribui para a formação de competências que serão decisivas no momento de tomadas de decisões na sua vida”, explica.


Dica de leitura Lume Cultural

Por que seguir doses e horários corretos no uso de medicamentos? Por Ana Carolina Antunes Haddad

A revolta de Atlas Escrito a mais de 50 anos “A Revolta de Atlas” continua mais atual do que nunca. Na mitologia grega, o titã Atlas recebe de Zeus o castigo eterno de carregar nos ombros o peso dos céus. Neste romance de Ayn Rand, os pensadores, os inovadores e os indivíduos criativos suportam o peso de um mundo decadente enquanto são explorados por governantes que não reconhecem o valor do trabalho e da produtividade e que se valem da corrupção, da mediocridade e da burocracia para impedir o progresso individual e da sociedade. Dividido em três volumes, a autora apresenta os princípios de sua filosofia e valores segundo os quais o ser humano deveria viver: honestidade, justiça, independência, integridade, racionalidade e produtividade. Com a construção de personagens marcantes e um enredo que faz com que o leitor se envolva na trama, Ayn Rand reforça sua mensagem transformadora e sempre em pauta: de que cada indivíduo deve ser responsável por suas ações e por buscar a liberdade e a felicidade como valores supremos.

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É muito comum, ao sairmos do consultório médico, surgirem dúvidas sobre como tomar os medicamentos prescritos na receita. Isso acontece, pois prestamos mais atenção no que o médico tem a dizer sobre a nossa doença do que na receita. Ao passarmos na farmácia para comprar os medicamentos, temos a oportunidade para esclarecer nossas dúvidas com o farmacêutico, afinal, ele é o profissional que conhece bem os remédios e pode nos explicar sobre cada item da receita. Por que é tão importante seguir as orientações médicas, quanto ao uso dos medicamentos? Por que devemos seguir rigorosamente horários e doses corretas? Os medicamentos são formados por substâncias químicas que foram testadas antes de serem utilizadas. Cada uma tem um comportamento diferente e passa por diversas etapas no nosso corpo, desde quando é absorvido, até fazer o efeito desejado e por fim, ser eliminado. São estas etapas que definem qual dose devemos tomar e qual espaço de tempo ela deve ser repetida. Por exemplo, alguns medicamentos são metabolizados lentamente e demoram para serem eliminados do organismo. Outros, ao contrário, são eliminados mais rapidamente e por isso, o intervalo entre uma dose e outra pode variar. Os antibióticos utilizados para in-

fecções bacterianas devem ser tomados na hora certa, pois se houver intervalo de tempo superior ao indicado, as bactérias voltam a crescer e se tornam mais resistentes, dificultando o processo de cura. Os anticoncepcionais também exigem horário rigoroso, se um dia for esquecido, a eficiência não é mais a mesma. As concentrações hormonais do corpo da mulher se alteram e ela tem mais chances de engravidar. Os anti-hipertensivos, muito utilizados atualmente, se ingeridos fora da hora, podem causar alterações na pressão arterial. Uma dica para lembrar-se de tomar o medicamento na hora certa é adaptar o tratamento à rotina diária, ao acordar ou na hora do almoço, dependendo da prescrição. Lembre-se que alguns alimentos interferem no efeito dos remédios, por isso, converse com seu médico antes de iniciar o tratamento, ele irá dizer se devem ser tomados junto ou separado das refeições. Anote na caixa os horários e dosagens. Uma prescrição médica poderá ser em vão se não seguirmos corretamente suas orientações. Esse pode ser um dos motivos do insucesso no tratamento. Precisamos estar atentos e seguir o modo indicado para tomar os medicamentos e assim contribuir para o restabelecimento de nossa saúde. Ana Carolina Antunes Haddad, Farmacêutica, CRF-MG 24.310

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Refrigerantes podem corroer os dentes Pela Dra. Gracia Costa Lopes

O consumo de refrigerantes pela população brasileira aumenta em proporções alarmantes com consequentes efeitos drásticos sobre a dentição. Os nossos dentes, quando em contato frequente com ácidos através de fatores intrínsecos como a xerotomia (diminuição da saliva), regurgitações, vômitos e fatores extrínsecos como o vinagre, água aromatizada com limão, suco de laranja, fanta laranja, coca-cola, bebida isotônica, pepsi e vinho branco sofrem EROSÃO. A erosão é a perda irreversível da superfície do dente devido a um processo químico decorrente da atuação de

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ácidos cujo pH é inferior a 4,5 causando dissolução da camada de esmalte do dente. Ácidos são os principais desmineralizantes, enquanto que a saliva é a maior remineralizadora dos dentes: por conter propriedade protetora, dilui, remove e neutraliza os ácidos e fornece cálcio e fosfato, mas seu efeito é limitado.

Abrasão por bebida carbonada e atrição por bruxismo. Desgaste provocado por consumo excessivo de refrigerante à base de cola.

Assim, o ideal é fazer o uso racional das bebidas ácidas, através da diminuição

de sua ingestão entre refeições. Além disso, deve-se ingerir bebidas em canudos, para diminuir o contato do ácido com o esmalte dentário. Outra medida é a estimulação da salivação pelo uso de chicletes ou ingestão de alimentos alcalinos e ricos em cálcio (queijo e leite), após o consumo de bebidas ácidas e vômitos. Também, é aconselhável esperar pelo menos uma hora para escovar os dentes, após a ingestão de bebidas ácidas e ocorrência de vômitos, permitindo que a saliva possa remineralizar a lesão de erosão e assim minimizar a ação somatória da erosão e abrasão. Caso você já apresente erosão em seu dente, procure tratamento com um dentista, pois elas podem provocar dor e fratura do dente. Fonte: Arquivos Int. Otorrinolaringol. Vol.16 no.1, São Paulo Feb./Mar. 2012

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Alimentação viva para todos Por Aline Chaves

Na década de 80, surgiu na Califórnia, um movimento de retorno aos primeiros ciclos alimentares humanos... A vida como ela é: quando ainda não havia o fogo, comia-se tudo cru. Aliás, tirando os seres humanos e os animais domésticos, a regra universal é que todo mundo come cru! Não é mesmo? Sob a orientação da pesquisadora e dona de casa Ann Wigmore, teve início um movimento pela vida e para a vida, que mais tarde inspirou o trabalho de descobertas científicas sobre o funcionamento do corpo humano como a leucocitose digestiva e a substância acrilamida (neurotoxina presente nos amidos cozidos), além da transmutação biológica, o poder da clorofila e a importância dos alimentos biogênicos para uma vida mais saudável. O princípio básico da Alimentação Viva é considerar alimento tudo o que irradia vida: ambientes saudáveis, contato com a terra, sol, ar e água pura, relações construtivas, atividades criativas... A Alimentação Viva é um movimento de reconstrução de estilos de vida, uma combinação de hábitos e práticas alimentares que valorizam o alimento do modo como é oferecido pela natureza: sementes germinadas, brotos e vegetais crus in natura se organizam em uma combinação de cores, afetos e sabores. Hipócrates, o pai da Medicina, já recomendava alimentos crus para a limpeza do organismo pelo controle da acidez na manutenção do equilíbrio vital humano. Há 2.500 anos, suas sábias palavras permanecem atuais: “Que teu alimento seja teu remédio e teu

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remédio seja teu alimento”. Hoje, há depoimentos de pessoas do mundo inteiro confirmando que o uso da Alimentação Viva é uma fonte inesgotável de saúde, força física, claridade e concentração mental e alegria de viver. Na culinária viva são dispensados o cozimento e o resfriamento, pois estes provocam a perda da vitalidade contida no alimento, de modo a eliminar enzimas digestivas necessárias à assimilação pelo organismo humano. Cada vegetal é um ser vivo composto por fótons (LUZ) armazenados durante a fotossíntese. Nosso corpo é um sistema vivo que se conecta, reconhece e assimila internamente esta corrente de biofótons como verdadeira fonte de vitalidade. Da luz do sol para o centro do nosso corpo, sucessivamente em uma comunicação ancestral... estamos todos ligados na Grande Teia da Vida. Alimentamo-nos da força reconhecida pelos biofísicos como energia vital, presente em cada vegetal: vivo, cru, fresco, sempre que possível diverso e, de preferência, orgânico. Muito mais do que uma dieta, a Alimentação Viva traduz uma escolha pessoal de entrar em consonância com os ritmos ecológicos e devolver legitimidade aos nossos instintos corporais. Vitalidade é a palavra mais expressiva que esta escolha reflete no sistema corporal humano. A força vital é encontrada em maior quantidade nas sementes, especificamente quando estão no início do processo de crescimento. Passado, presente e futuro seguem juntos como

fragmentos do tempo na memória viva da natureza. As sementes germinadas e os brotos concentram em si todo material disponível para se tornar uma planta adulta. Estes reservatórios de sabedoria e eternidade trazem consigo as informações necessárias para completar a cadeia que rompe o ciclo da vida. Como germinar sementes no ar O ideal é germinar 1 xícara de sementes por pessoa. O planejamento da germinação orienta o cardápio do dia seguinte, pois este processo demora, em média 24 horas, dependendo do clima e da temperatura. Quanto mais frio, mais tempo leva. Passo 1 - Pela manhã, coloque as sementes dentro de um vidro. Tampe a boca do vidro com filó e elástico. Laveas bem, pelo menos 5 vezes...

Encha o vidro com água e deixe as sementes de molho, por 8 horas. Passo 2 - Ao anoitecer, passado o período do molho, escorra a água e lave as sementes novamente, pelo menos 5 vezes. Coloque o vidro de cabeça para baixo no ângulo de 90º em um escorredor de pratos, por mais 8 horas (está na hora de respirar e escorrer o excesso de água que ficou no fundo do vidro). Passo 3 - Na manhã seguinte, lave a semente e a deixe durante mais algumas horas no escorredor de pratos... Veja se

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as sementes estão germinadas e, principalmente, se estão saudáveis e com um cheiro agradável. O ponto ideal é quando a semente coloca para fora um narizinho chamado radícula. Lave bem antes de consumir! Sugestões de sementes para germinação no ar: trigo em grão, centeio em grão, gergelim, amendoim cru, grão de bico, lentilha, girassol, alpiste, senha, feijão azuki (atenção: as demais variedades de feijão são tóxicas). Observe sempre o resultado de sua germinação. O melhor lugar para germinar é bem longe do forno micro-ondas e da geladeira. É importante que seja um lugar à sombra, coberto, arejado e com claridade. Não precisa ser um espaço muito grande para receber um vidro de sementes e um escorredor de louças. Que tal a pia da cozinha? A prática da Alimentação Viva nos orienta a germinar sementes diariamente. Não produzimos para colocar na geladeira, nem para comer amanhã. Nossa escolha é o presente, germinamos sementes suficientes para saciar a nossa fome. O gesto de produzir um alimento de cultivo biológico e orgânico dentro da própria casa é revolucionário, a ponto de considerar que as sementes são portadoras da mensagem que nos reconecta a um antigo referencial da humanidade, perdido há mais de 10.000 anos. Suco de Clorofila: primeira receita da Alimentação Viva Para quem não sabe, a Clorofila é o sangue das plantas e está presente em qualquer folha verde comestível. Quando ingerido em jejum, este suco colabora para a desintoxicação das funções corporais, regeneração dos tecidos, liberação de radicais livres, o que favorece nossos estados de saúde e bem-estar. Proporciona vitalidade, disposição física e alegria de viver.

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Como fazer? Tudo depende do seu planejamento, se você quer tomar suco pela manhã, comece germinando sementes na manhã do dia anterior...

Ingredientes: 2 maçãs, folhas verdes comestíveis, 1 xíc. sementes germinadas. As folhas verdes comestíveis são aquelas que você encontra no mercado ou hortifruti: alface, acelga, brócolis, chicória, couve. Quanto mais verde, mais clorofila tem. É interessante usar folhas aromáticas em pouca quantidade, pois são medicinais: hortelã, salsa, alecrim, menta, capim limão, entre outras. 1. Germine 1 xícara de sementes (as mais indicadas para o suco são as sementes com casca, pois serão coadas: girassol, alpiste, painço, senha...) 2. Corte as maçãs em quadrados pequenos. Tire as sementes. 3. A medida de folhas é 1 copo de liquidificador cheio por pessoa. Lave e rasgue as folhas. 4. Bata as maçãs no liquidificador com o auxilio de um pepino ou uma cenoura. Soque o pepino no liquidificador com as maçãs no fundo, como se fosse um pilão (o pepino não é um ingrediente). À medida que as maçãs forem se dissolvendo, junte as folhas e soque-as com o pepino. 5. Com o auxílio de uma bacia, despeje a mistura batida no liquidificador em um coador de voal. O objetivo é espremer o coador para retirar a água de dentro dos vegetais frescos.

6. Com o líquido obtido pelo coador, bata as sementes germinadas no liquidificador e coe novamente. Está pronto! Experimente fazer todos os dias...

Por que o suco não leva água? Pesquisadores descobriram que a clorofila das plantas consiste em uma composição química muito semelhante à nossa hemoglobina. Esta composição se desestrutura quando adicionada água ou qualquer fruta que não seja a maçã (possui pH neutro). Desse modo, um suco de clorofila emite a mesma resposta que uma carga de hemoglobina sendo ingerida pelo organismo humano. Por que tomar o suco pela manhã? Absorvemos os alimentos que consumimos entre 10h e 18h. Metabolizamos, das 18h às 5h. Eliminamos entre 5h e 10h. Durante a manhã, portanto, devemos equilibrar os nossos ritmos internos, canalizando-os para eliminação, o que o Suco de Clorofila colabora e muito!!! (Dr. Soleil, 2006). Por que se chama suco da Luz do Sol? O processo de fotossintetizar a Luz do Sol (fotossíntese) é traduzido na planta pela produção de clorofilatra. Por isso, o suco também é conhecido como Suco da Luz do Sol. Por que devemos germinar sementes para o suco? O suco de Clorofila é altamente desintoxicante, porém, não basta desintoxicar, é preciso se alimentar. Nesse caso, as sementes germinadas correspondem ao alimento que dará sustentação e permitirá que o suco seja ingerido e mantido no nosso corpo em jejum durante a manhã. Aline Chaves, educadora ambiental, pesquisadora do estilo de vida ecológico com a Alimentação Viva e coordenadora dos Programas de Estágio e Imersão Agroecológica da Reserva Bom Retiro. Aldeia Velha-RJ.


A importância do estudo dos problemas urbanos e suas soluções Por José Acácio Arruda

A urbanização é um fenômeno moderno gerado pela revolução industrial. A substituição da economia agrária pela economia industrial provocou o êxodo rural e fez as cidades se expandirem. O Brasil viu essa mudança no século XX. Antes de 1940 havia 30% da população vivendo nas cidades e 70% no campo. Depois veio o êxodo rural e esse percentual se inverteu. Após 1980, passamos a ter 70% da população nas cidades e 30% no campo. Ao contrário dos países desenvolvidos, a urbanização do Brasil não acompanhou o desenvolvimento e o país se urbanizou antes de se desenvolver. Com isso, a urbanização se tornou um problema. As cidades cresceram desordenadamente e o ambiente urbano foi deteriorado, provocando desorganização social, carência de habitação, desemprego, problemas de higiene e de saneamento básico, mudanças na utilização do solo e modificações insalubres na paisagem urbana. Quando se fala em melhorar a zona urbana de uma cidade para aumentar a qualidade de vida da população, a maioria das pessoas pensa em asfaltar ruas, construir mais praças e áreas de lazer, aumentar a iluminação pública, diminuir o número de veículos transitando nas ruas, obras que evitem inundações, etc. Essas e outras ideias semelhantes são uma noção superficial do que sejam melhorias na zona urbana de uma cidade. Para uma maior compreensão, é necessário o conhecimento de dois conceitos aplicáveis ao urbanismo.

O primeiro é o de adensamento. Este termo deriva de “densidade” que corresponde à quantidade de alguma coisa em uma área determinada. Por exemplo: a densidade populacional indica quantas pessoas vivem numa área. Já o adensamento corresponde ao aumento do número de pessoas que residem em determinado bairro; o aumento de estabelecimentos comerciais em determinada rua; o aumento do número de indústrias em determinada região.

“O ambiente urbano também é protegido por Lei, até porque é nas cidades que vive a maioria da população.” Nas áreas urbanas, o adensamento, seja de pessoas, de estabelecimentos comerciais, de indústrias, de veículos, causa impactos no ambiente urbano. Procuremos entender isso com um exemplo simples. Imaginemos um lote urbano de 400 m² no qual é edificada uma casa residencial para morar uma família formada por um casal e dois filhos, e na qual trabalhe um empregado doméstico. Nessa área viverão cinco pessoas. A demanda de suprimentos (água, luz elétrica, gás) e serviços (esgotos, coleta de lixo) será pequena. Para essa área convergirão dois veículos e cinco pessoas diariamente, com pequeno impacto no trânsito.

Agora tomemos esse mesmo lote de 400 m² e vamos construir nele um edifício com 10 andares, com dois apartamentos por andar. Nessa área irão viver 80 pessoas em média e para ela convergirão diariamente 40 veículos e mais de 100 pessoas. A demanda por suprimentos e serviços será 20 vezes maior do que a da casa residencial. O impacto no ambiente urbano será significativamente maior. Assim, quando se constrói um edifício de apartamentos no lugar de uma casa residencial, se diz que a área está adensando, isto é, está aumentando a densidade de habitantes daquela área. O adensamento populacional é um fenômeno a que estão sujeitas todas as cidades. No Brasil, cujo crescimento vegetativo da população ainda não se estabilizou (a previsão é de que isso só ocorra após 2020), a tendência é de que quase todas as cidades cresçam. O que irá diferir de uma cidade para outra é a taxa de crescimento anual. Grandes cidades terão um novo bairro a cada ano, as pequenas só algumas casas a mais por ano. E mesmo quando o crescimento populacional se estabilizar, não se pode esquecer que a migração e a imigração poderão afetar o seu crescimento. O adensamento provoca impacto na zona urbana, afetando a demanda por suprimentos, serviços, tráfego de pessoas e veículos e afeta até mesmo parte do ciclo hidrológico. Por esse motivo é uma questão para a qual não podem ficar alheios os administradores públicos

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e privados, porque deverão saber planejar corretamente os empreendimentos para que não causem impactos prejudiciais à qualidade de vida; e à população porque ela será afetada pelos impactos. Um bairro originariamente planejado para ter residências unifamiliares (casas residenciais), não pode sofrer um processo de verticalização (construção de edifícios de apartamentos) de forma desordenada, de acordo com a demanda do mercado imobiliário. Se isso ocorrer o processo de adensamento causará impacto negativo, em que a demanda por suprimentos, serviços e corredores de tráfego, será maior que a capacidade instalada. Uma só região da cidade não pode concentrar todo o setor de comércio de produtos e serviços, senão diariamente convergirá para ela grande parte da população, congestionando as ruas. Tomemos como exemplo a cidade de Itajubá (MG). O adensamento da área central é causador de impacto negativo no tráfego de veículos por quase toda a cidade. A zona central concentra tudo aquilo que atrai pessoas, e por consequência, veículos. Nela estão instaladas as agências bancárias, lojas de grandes redes, farmácias, órgãos públicos e seu centro comercial. No entorno estão os dois maiores hospitais da cidade e as lojas das redes de supermercados. Para piorar a situação, a cidade está dividida em duas partes pelo Rio Sapucaí, e os locais que atraem pessoas em busca de produtos e serviços ficam no lado da margem direita. Quem mora no lado da margem esquerda do rio tem de atravessá-lo, e para isso existem poucas pontes. Por isso em determinados horários dos dias úteis, o trânsito de veículos não flui com rapidez e Itajubá adquire uma “cara” de metrópole. Este problema nos remete diretamente ao segundo problema: falta de simetria no traçado urbano. Se observarmos o mapa de Itajubá veremos que seu traçado urbano é assimétrico. Para perceber essa assimetria basta atentar para o número elevado de ruas sem saída que a cidade possui e para a maneira como uma rua muda de direção abruptamente num ponto em que poderia continuar reta. Isso fica claro no traçado do bairro da Medicina. Há muitas ruas que terminam ou mudam de direção sem que exista um fator

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topográfico que impeça o seu prosseguimento. Na expansão da zona urbana da cidade não houve preocupação com os problemas do adensamento e da falta de simetria de seu traçado. A zona urbana se expandiu atendendo somente às exigências do momento, sem qualquer previsão para o futuro. Os bairros da periferia foram surgindo e sendo agregados segundo a conveniência do incorporador imobiliário, e não segundo a conveniência urbana. Não houve preocupação de instituir a obrigatoriedade de vias coletoras amplas para atender a cada novo bairro, ligando-os até ao centro da cidade. Um exemplo claro são os bairros Santa Luzia, Santa Helena, Jardim Bernadete e Rebourgeon, que dependem de ruas com uma só pista de mão dupla. Por elas tem de passar todo o fluxo de veículos e pessoas vindas desses bairros em busca de produtos e serviços disponibilizados no centro e do outro lado do rio. A impermeabilização do solo é uma questão a ser considerada na expansão da zona urbana. Nas áreas construídas, o solo fica impermeabilizado e a água da chuva não se infiltra, mas escoa para as galerias pluviais e por elas até os rios e córregos. Com isso se aumenta os riscos de inundações. Exemplo claro é o Ribeirão José Pereira, que atravessa o bairro Pinheirinho e o centro da cidade até desaguar no Rio Sapucaí. A contínua impermeabilização ao longo de suas margens, a montante, aumentará a vazão na época das cheias, tornando mais frequente seu transbordamento ao longo da Av. BPS. Sua canalização no trecho entre as ruas Olavo Bilac e Cel. Carneiro Júnior, subdimensionada, é outro fato de impacto negativo. Esses são alguns dos problemas que os administradores públicos e privados e a população vão se deparar. Não são apenas problemas de engenharia e de urbanismo, mas também político e legal, porque a expansão urbana, o uso e parcelamento do solo urbano e o direito de construir são regulamentados por leis que impõem diretrizes e restrições à incorporação imobiliária, ao direito de construir, ao direito de instalação e localização de equipamentos urbanos. O ambiente urbano também é protegido, até porque é na cidade que vive a maioria da população, afastando a ideia de que a proteção legal ao ambien-


te é só para as florestas, para os animais silvestres, rios, lagos, etc. A Constituição Federal dispõe no artigo 182 que a política de desenvolvimento urbano será executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes fixadas em lei, com objetivo de ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, e estabelece que o Plano Diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, seja o instrumento básico da política e da expansão urbana. O Plano Diretor também é exigido para as cidades turísticas, mesmo que não tenham mais de 20 mil habitantes. Não é concebível pensar numa cidade turística crescendo desordenadamente, sem cuidados com a estética urbana e com equipamentos urbanos adequados para a sustentação do turismo. A diretriz constitucional foi regulamentada pela Lei Federal nº 10.257, de 10/07/2001, conhecida como Estatuto das Cidades. Esta Lei fixa os parâmetros gerais para a política urbana e para a expansão urbana, determinando que os Municípios estabeleçam seus Planos Diretores, com participação da população na sua elaboração. O projeto de lei que cria o Plano Diretor Municipal deve ser debatido em audiências públicas com a população. E mesmo depois de instituído, deve ser revisto a cada 10 anos, também com participação da população. Outro instrumento preconizado pelo Estatuto das Cidades, e que deve ser regulamentado pelo Município, é o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), que deverá ser obrigatório para todo empreendimento urbano gerador de impacto. Este instrumento veio se alinhar aos já conhecidos EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e RIMA (Relatório de Impacto no Meio Ambiente). Enquanto o EIA e

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o RIMA se aplicam a empreendimentos potencialmente danosos ao meio ambiente, o EIV se aplica na zona urbana a todo empreendimento, ainda que não poluidor. A razão disso é determinar qual impacto, positivo ou negativo, um empreendimento terá na sua vizinhança. Tomemos como exemplo o novo prédio da Caixa Econômica Federal, ninguém afirmará que esse empreendimento é poluidor, e de fato ele não é. Mas causou um impacto na vizinhança, onde já existe o Fórum Wenceslau Braz, o Fórum da Justiça do Trabalho, o Edifício Athenas (comercial). Estes três estabelecimentos atraem centenas de pessoas diariamente e o número de pessoas que convergem para aquele ponto da cidade dobrou e a procura de vagas de estacionamento aumentou proporcionalmente. Os carros passaram a estacionar por várias quadras ao redor deste núcleo, o que gerou um impacto negativo para aquela área que é predominantemente residencial, provocando um adensamento que a capacidade instalada não suporta. Um prévio estudo de impacto de vizinhança teria previsto isto. O EIV deve analisar: adensamento populacional; equipamentos urbanos e comunitários; uso e ocupação do solo; valorização imobiliária; geração de tráfego e demanda por transporte público; ventilação e iluminação; paisagem urbana e patrimônio natural e cultural. Itajubá já tem seu Plano Diretor estabelecido pela Lei Complementar Municipal nº 8, de 30/12/2003. Esta Lei fixa o perímetro urbano, as áreas de expansão urbana, o macrozoneamento, as zonas urbanas e as diretrizes de cada uma delas, o sistema viário, e outras regras que se aplicam diretamente sobre a expansão urbana, loteamentos, edificações, localização de empreendimentos e equipamentos urbanos, etc. Porém o município não cumpriu com a obrigação

de regulamentar o Estudo de Impacto de Vizinhança, com o que está desatendendo ao direito da população a um ambiente urbano equilibrado e saudável. O arquiteto e urbanista francês Gaston Bardet (1907-1989) usou o termo urbanificação para designar a aplicação dos princípios do urbanismo, advertindo que a urbanização é o mal e a urbanificação é o remédio. Itajubá não está conseguindo superar os desafios impostos pela urbanização e não avançou no processo da urbanificação. Em 2013, o Plano Diretor Municipal deverá ser revisto. É a oportunidade de atualizá-lo e melhorálo, inclusive de regulamentar o Estudo de Impacto de Vizinhança. A questão do adensamento é primordial, porque sem resolvê-la não se avançará na solução dos problemas do tráfego e a questão da expansão urbana deverá ter atenção especial porque os futuros bairros periféricos não poderão ficar dependentes da centralização comercial atual. É certo que a topografia local não ajuda. Itajubá cresceu comprimida no vale do Rio Sapucaí e a cidade se rendeu à montanha. Isso seria desculpa válida nos meados no século XX, mas no XXI, com tecnologias à disposição para um planejamento bem feito, não há razão para a expansão urbana da cidade não incorporar os valores urbanísticos da integração social e da qualidade de vida urbana. A revisão do plano diretor será uma ocasião de conflito entre os interesses de melhorar a cidade e os interesses da especulação imobiliária, que visa somente o lucro. Caberá à população participar ativamente das audiências públicas, fazendo pressão sobre os poderes Legislativo e Executivo para que não cedam aos interesses da especulação imobiliária. Será isso ou o que já é ruim, ficará pior. José Acácio Arruda, Promotor de Justiça, área criminal e defesa do meio ambiente.

Naturale

dezembro/janeiro - 2013



Santa Rita do Sapucaí está habilitada e receberá o ICMS Turístico 2013 Por Herika Nogueira

Santa Rita do Sapucaí, município integrado ao Circuito Turístico Caminhos do Sul de Minas (CTCSM) está habilitada e receberá o ICMS Turístico com base na arrecadação estadual de 2013. O município é o primeiro do CTCSM a conquistar o ICMS Turístico, tendo cumprido todos os requisitos para a habilitação, sendo eles: Participar de uma Associação de Circuito Turístico reconhecida pela SETUR/MG, nos termos do Programa de Regionalização do Turismo no Estado de Minas Gerais; ter elaborada e em implementação uma Política Municipal de Turismo; possuir Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) e Fundo Municipal de Turismo (FUMTUR) ambos em funcionamento. Também é desejável que o município participe nos critérios ICMS Meio Ambiente e Patrimônio Cultural da Lei Robin Hood. “Com o recebimento dos recursos oriundos do ICMS Turístico, o COMTUR, em parceria com a Divisão de Turismo e Lazer, poderá elaborar o plano de aplicação, visando o desenvolvimento do turismo. Este plano deverá ser elaborado de acordo com os objetivos propostos no Plano Municipal de Turismo, consolidando objetivo proposto, ação prevista e ação realizada. Estes recursos poderão ser investidos em programas e projetos voltados para o desenvolvimento turístico do Município, promover melhorias nos serviços, aumentar o potencial turístico e para oferecer mais atrações, assim, conseguir manter os visitantes por mais tempo na cidade”, comentou a Secretária Municipal de Esporte, Cultura, Lazer e Turismo, Rosângela Vilela da Costa.

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Santa Rita do Sapucaí desenvolveu um trabalho conjunto entre Prefeitura, através da Secretaria Municipal de Esporte, Cultura, Lazer e Turismo, COMTUR e membros da comunidade. As ações contaram com apoio técnico do CTCSM para a estruturação do turismo no município com a realização de uma Oficina de Planejamento Estratégico em outubro de 2009, envolvendo a comunidade. As ações de estruturação do sistema turístico tiveram continuidade em 2010. O resultado foi a elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo Municipal 2010-2013, reestruturação do COMTUR e planejamento das Leis para o FUMTUR e Política Municipal de Turismo. Neste processo, houve a revisão do Plano e dos resultados obtidos, alinhando-os para o exercício no ano seguinte. Em 2011, com o COMTUR em plena atividade, as ações integradas dos representantes da comunidade e do poder público resultaram na operacionalização e fortalecimento do FUMTUR, nova revisão do Plano e alinhamento das diretrizes. Esta dinâmica de trabalho se repetiu em 2012, com a orientação permanente do CTCSM, fortalecendo e consolidando o sistema de organização do desenvolvimento sustentável do turismo (COMTUR – FUMTUR – Política Municipal de Turismo e Plano Municipal de Desenvolvimento Sustentável do Turismo). “Maior que a conquista do ICMS Turístico é o sucesso alcançado por todos na organização do município para o desenvolvimento

do setor, com destaque para o envolvimento da comunidade neste processo. A equipe entendeu a importância do sistema organizacional para o desenvolvimento da atividade turística, aprendeu a planejar e a colocar em prática o que foi planejado. Parabéns a todos!”, expressou o Gestor do CTCSM, Walter Santos de Alvarenga, que orientou e apoiou o processo. O CTCSM trabalha ativamente para que todos os municípios associados implantem o sistema de organização para o desenvolvimento sustentável do turismo. Várias oficinas e consultorias já foram realizadas e nos meses de outubro e novembro deste ano, mais cinco municípios receberam as Oficinas de Planejamento Estratégico. “Destaco e parabenizo o pioneirismo de Santa Rita do Sapucaí, primeiro município de nossa microrregião que galgou todos os passos e alcançou esta vitória com o envolvimento da equipe da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer, com o protagonismo do Conselho Municipal de Turismo e com total apoio e consultoria do CTCSM. Com certeza, Santa Rita do Sapucaí será referência e estímulo aos demais municípios integrantes do CTCSM para alcançarem os mesmos resultados de sucesso”, falou o Presidente do CTCSM, José Maurício Carneiro da Silva. Neste ano, 119 municípios estão habilitados a receber o repasse em 2013, no ano passado foram 63 cidades, o que demonstra um crescimento de mais de 88%, segundo informou o Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Turismo.

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dezembro/janeiro - 2013




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