O que é uma prisão? Percepções ambientais em uma penitenciária

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165 diz, que pra dar maior conforto, mudanças estruturais aqui no presídio poderiam ser feitas. Eu acho que o problema é muito complexo, porque o sistema_penitenciário do estado está ruim, mas a gente sabe, pelas redes sociais, que o problema não é local. O problema é todos os estados, o problema é nacional. Então falta o Ministério_da_Justiça e os órgãos que cuidam do sistema_penitenciário, de um modo geral, reformularem o que eles pensam a respeito do direito do trabalho, do trabalho dos operadores de segurança pública, pra poder melhorar. Parece ser uma cópia, o estado faz de um jeito, o outro faz do mesmo jeito. Não muda. O tempo vai passando, a gente só vê as coisas piorando. Inclusive eu fiz um trabalho sobre o sistema_penitenciário, usando como base científica, coisas que aconteceram ali nos anos 2000, até 2010, falando sobre a falência do sistema_prisional no país, e a gente vê que as coisas não mudam. A gente vê que a corrupção está envolvida com tudo isso, porque o dinheiro público está passando nas mãos deles, e é cruzado pra outros fins que não é bem público. E se fosse usado da forma correta, a realidade seria outra. Nosso país é rico, isso é fato. É noticiário internacionalmente, [que] nós somos um país de muitas riquezas naturais, mas que o dinheiro não é aplicado da forma correta. Aí falta na segurança, na saúde, falta na educação. Nosso país era pra ser equiparado a EUA, aos países da Europa, em termos de qualidade de vida, se a corrupção não fosse tão enraizada. Ela vai lá do pequeno, até o grande. Muito complexo esse problema. Tem que partir lá de cima, mudança política mesmo, social, mudança de atitude do eleitor na hora das votações. Mudança de atitude nossa na hora de reivindicar direitos e tirar lá de cima quem quer nos representar. O país agora que está começando, na minha visão, a perceber que não dá mais. Mas ainda falta muito. O povo tem medo. A lei só beneficia quem é grande.

O Experiente (Agente) Hoje estou lotado aqui no presídio da Pacatuba. Na época do meu concurso, no finalzinho de 2006, início de 2007, fui lotado no IPPS. Meu primeiro plantão foi traumatizante, porque eu nunca havia entrado numa delegacia, até então. Aí quando você entra no sistema_penitenciário, o primeiro impacto é muito forte, porque é uma realidade que você não tinha consciência. Quando eu entrei no IPPS o primeiro impacto foi aquele mau cheiro. É impactante o mau cheiro do local. No meu primeiro plantão, (...) mais ou menos umas 3 horas da manhã, a gente havia recebido uns internos pra triar, colocamos esses internos na triagem, que é o local que eles chegam, onde é feita a vistoria e eles vão pra cela. Quando foi mais ou menos umas 3 horas da manhã, a gente escuta umas batidas na cela. Quando a gente chega lá perto pra ver, lá tem um corpo estendido, dentro lá da cela, [com] a cabeça esmagada. Aí, nós chamamos os outros agentes pra poder controlar o pessoal da triagem, [pois] tinha muita gente. Chamamos o pessoal da PM e tiramos o corpo. O cara ainda estava respirando, pra você ter ideia. A cena foi, pra quem nunca tinha visto, bem forte. E no IPPS sempre tinha isso, era uma particularidade do local. Havia sempre um ajuste de contas. No IPPS, também, cheguei a ver o pessoal eletrocutado, cortado, pessoal que havia sido queimado, ou com cadeado na boca, várias coisas. Depois do IPPS, eu fui destacado para Sobral. Sobral já era uma unidade, assim, bem mais nova. Era administrado pela CONAP. Na época que a gente estava entrando, a CONAP estava sendo fechada. E foi uma outra realidade. Você sai de um sistema que não funciona, que era o IPPS, de uma certa forma, por vários motivos, [como] falta de material, falta de agente e o próprio suporte do estado [que] quase não


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