A Necessidade de uma Organização Internacional Revolucionária

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A Necessidade de uma Organização Internacional Revolucionária Ernest Mandel e John Ross A construção de organizações revolucionárias em escala nacional e a batalha por uma internacional revolucionária são tarefas complementares e conjuntas 1. A internacionalização das forcas produtivas Deste seu nascimento, o capitalismo orientou-se para o mercado mundial. A especialização do comércio internacional, a exportação de produtos manufaturados pelos primeiros países capitalistas industrializados, a importação de bens provenientes dos países "subdesenvolvidos", a conquista de mercados nestes países, acompanharam cada passo dado pelo modo capitalista de produção. O imperialismo levou esta tendência a um nível mais elevado. Pela sua própria natureza expansiva, o capitalismo criou um sistema mundial. Qualquer sistema social superior que o substituir deverá, necessariamente, ter a esse respeito um caráter ainda mais internacional que o sistema imperialista. Não somente do ponto de vista político, mas também do ponto de vista diretamente econômico, qualquer teoria do "socialismo em um só país" é ao mesmo tempo reacionária e utópica. Entretanto, a ascensão mundial do capitalismo caracterizou-se pelo desenvolvimento desigual e combinado. A indústria de massa dos centros capitalistas desenvolvidos destruiu a produção pré-capitalista dos países que eles dominam (indústria a domicílio, indústria camponesa, primeiras formas de manufatura) sem, no entanto, criar um desenvolvimento massivo da indústria moderna nestes países. Na época imperialista, a exportação de capitais, a aparição, a nível internacional, de enormes grupos de capital financeiro que controlam o mercado financeiro de quase todas as regiões do mundo, o controle político e militar, direto ou indireto, dos países subdesenvolvidos pelas potências imperialistas, impedem estes países, mesmo com alguns decênios de atraso, de seguir o modelo geral de industrialização, de desenvolvimento econômico e de modernização estabelecido pelos países que primeiramente se industrializaram. Seu desenvolvimento orgânico é desviado sob o peso da dominação imperialista. O progresso da indústria moderna coincide com a manutenção, e mesmo a consolidação, de formas de produção e de exploração pré-capitalistas: usura e condições de semi-servidão; elevadas rendas fundiárias, prestações de serviços semi-feudais, peso preponderante dos proprietários fundiários, comerciantes e banqueiros estrangeiros dominando a política comercial, etc. Mesmo onde, após a II Guerra Mundial, uma industrialização capitalista mais intensa teve lugar, ela foi realizada às custas de desproporções e desequilíbrios enormes, que acentuam a desigualdade e a desagregação sociais. Decorre desse processo que a economia capitalista internacional tornou-se uma unidade estruturada em favor dos centros imperialistas. Hiper-especializadas na extração e exportação de matérias-primas, tendo uma indústria cada vez mais orientada para o mercado de exportação, as economias dominadas pelo imperialismo estão à mercê de subidas e quedas bruscas dos preços das matérias-primas no mercado mundial. Mesmo as economias que atingem um desenvolvimento industrial relativamente importante permanecem submetidos à situação que prevalece, nos centros imperialistas (endividamento enorme, dependência tecnológica, etc), enquanto as economias neo-coloniais mais fracas sofrem golpes que condenam as massas de camponeses pobres e trabalhadores a viverem no limite da miséria, senão na verdadeira fome. As desigualdades sociais e os desequilíbrios crescentes têm por conseqüência a instabilidade política e crises freqüentes. É esse o processo que se desenrolou ao longo de todo o período


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