ABC Design - Cartazes Poloneses

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CARTAZES POLONESES


HISTÓRIA DA ARTE

Breve histórico do cartaz polonês e seus designers CARREGADOS DE ESTILO, METÁFORAS, E ESTÉTICA EVOLUTIVA DAS ÉPOCAS PRODUTIVAS DA HISTÓRIA QUE ENVOLVE ESTA MÍDIA IMPRESSA, O CARTAZ POLONÊS ESTABELECE UM VÍNCULO DE RESGATE DA INFORMAÇÃO VISUAL QUE, POR MEIO DE SUBTITUIÇÕES COMPOSITIVAS NARRAM A VIDA DA NÇÃO, SOCIAL, POLÍTICA E CULTURAL POR MAIS DE UM SÉCULO. POR MARIA ELIANA FACCIOLLA PAIVA

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o final do século XIX até o seu ocaso, na década de 1980 - mas com reflexos até os dias de hoje, o estudo do design do cartaz desenvolvido na Polônia, em suas etapas e estilos, contribui para o entendimento do aprimoramento de códigos gráfico-visuais para as pesquisas sobre a história do cartaz brasileiro. Ditando a sequência de identidades factuais e nacionais, dentro de um universo gráfico, esse breve histórico explora a variedade de estilos e a mutabilidade dos registros comunicativos evolutivos, refletindo sobre os projetos do design e na

sua inserção e reflexão dos acontecimentos das sociedades por meio do pôster. Conhecida mundialmente, a escola do cartaz polonês desenvolve junto a seus artistas e designers, papéis específicos de propaganda e de arte centrados na eficacidade dos diálogos e apoios públicos. Dessa maneira funcionado como exemplo para o estudo e pesquisa no Brasil, é importante observar a constante maneira de sinalizar mudanças culturais e explorar a riqueza do design gráfico dos cartazes poloneses, que converte em linguagem simbólica a expressão da sociedade e a história de um país.



HISTÓRIA DA ARTE

lação de uma diversidade do passado comum, de trabalhos e saberes dos seres humanos. Tanto o artesanato como a pintura influenciam o design artístico do qual o trabalho do cartaz emerge em constante transformação. Numa sociedade que começa a dialogar e a se reunir em torno de sua identidade, aberta e à procura daquilo que auxilie o diálogo entre pares e grupos étnicos, o cartaz surge como mediador da própria história que se inicia. No fim do século XIX, com as cidades polonesas em plena expansão, os cartazes eram a expressão da vida econômica, social e cultural. Então, de 1890 até perto do início da 1ª Guerra Mundial, em 1914, na origem deste movimento estavam pintores notáveis influenciados pela arte popular. Artistas que também recolhiam temas daquilo que estava acontecendo ao seu redor. E a necessidade de seduzir e reunir o público por meio das artes gráficas encontra sua técnica no desenvolvimento da serigrafia feita pelo francês Jules Chéret, que ilustra perfeitamente a integração de uma produção artística e industrial.

A arte do cartaz polonês Na Polônia, no início os artistas escolhem o cartaz como meio de expressão pela facilidade da coisa feita a mão junto com algum conhecimento transmitido pelo artesanato. Para isso, se valendo do patrimônio cultural dos cortes de madeira dos artistas populares e pinturas desenvolvidas no campo: Objetos que serviram de referência do patrimônio material que congregam em uma acumu-

“Tanto o artesanato como a pintura influenciam o design artístico do qual o trabalho do cartaz emerge em constante transformação.”


Com a cidade de Cracóvia povoada por escritores, poetas e artistas que tinham viajado pela Europa, os cartazes absorvem a expressão e o relacionamento de temas como exposições, teatro e balé, ainda em formas dispersas dos desenhos e cores, letras e gráficos. Os projetos demonstravam um elevado nível artístico influenciados pelos estilos internacionais da época, principalmente o Art Nouveau, além de referências ao folclore nacional. Um dos primeiros pintores que se dedicou ao cartaz foi Stanislaw Wyspianski (1869-1907). No período entre as duas guerras a Polônia reaparece no mapa, marcando sua independência com crescimento econômico e cultural em todos os setores. Mas é especialmente como estância de turismo que se coloca para a mídia cartaz um desafio de realização, prevendo a indicação internacional e a afluência de público. Ainda vinculado à pintura, porém mais enraizado na representação de inspiração realista - que acompanhou grande parte dos designers de cartaz dessa fase - o artista Stefan Norblin (1892-1952) é nomeado para a criação se uma série de cartazes com esta finalidade gráfica da mensagem de informação-mercadoria. Na década de 20, Tadeusz Gronowski (1891-1904), conhecido como pai do cartaz polonês, absorve os ditames da rápida industrialização, desenvolvimento e comércio, dirigindo o projeto do cartaz para uma ordem criativa mais publicitária e de simples comunicação. Aluno de talento da Universidade de Varsóvia rompe com aspecto de pintura ao aplicar regras de geometria e incorporar o texto à imagem. Junto a uma corrente de arquitetos de Varsóvia, Gronowski se aproxima de novas ferramentas como o aerógrafo e desenvolve melhor o estudo da tipografia usando o desenho da letra como ilustração, tornando-a parte da composição e desenvolvendo temáticas bem humoradas.


HISTÓRIA DA ARTE

Os anos 1950 e 1960, a era de ouro do cartaz polonês

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enryk Tomaszewski (1914-2005), professor na Academia de Belas-Artes de Varsóvia, retoma o design gráfico polonês definindo melhor o papel único do cartaz na vida cultural do país. Como importante meio de comunicação, comparado ao rádio e tele difusão ocidentais, os cartazest servem para divulgação de eventos, circo, filmes e também política. Com a atenção internacional voltada para a brilhante evolução e inserção na estética de massa do cartaz polonês, nos anos 1950, Tomaszewski consegue retrabalhar o formato da composição e do desenho, distanciando das lembranças sombrias da guerra e da ocupação para buscar um universo mais luminoso de cores e formas. Isto porque em meados da década de 1950 as regras e códigos stalinistas tinham amainado, dando espaço para maior criatividade da expressão artística. Reconhecida a importância social da mídia, a postagem do cartaz procurava preservar a originalidade criativa dos designers, quando então o Estado Polonês já não se preocupava tanto com o direcionamento da mensagem visual. No entanto, por ser esta uma indústria de controle estatal da produção, ajudou n a sua ma-

nutenção e no desenvolvimento da expressividade do artista, quando a produção acontecia fora das disputas comerciais de uma economia capitalista. A profissionalização de designer do cartaz era assim sustentada pelo Estado polonês, que dava seu aval para que a dedicação e o trabalho fossem exclusivos. O cartaz ligado à indústria cinematográfica e outros eventos culturais como o circo deu individualidade aos projetos, diversificando os estilos. O Departamento de Artes Gráficas na Academia de Belas Artes de Varsóvia se esmerava em selecionar disciplinas na área das Artes Plásticas ligadas à comunicação visual, e a arte do cartaz. Os artistas usam cada vez mais a metáfora para a comunicação com o público, exigindo deste uma maior participação. O que podia ser feito por causa da sedimentação histórica na cultura visual do cartaz produzida por anos de produção e relação social da mídia impressa e informativa.

Rumo à metafísica e ao surrealismo dos anos 1970 Chegamos ao ponto em que o cartaz polonês parece falar por si próprio, ter vida própria no seio da população, usando de seus próprios recursos expressivos, tal a inclusão da mídia no gosto e compreensão social. Trazendo ainda a pintura como base formal, o cartaz torna-se mais ilustrativo. Auxilia-se da limpidez da caricatura, conquistando a significação direta pela simplicidade formal do conteúdo de concisão da mensagem comunicada visualmente, para o teatro e o cinema especialmente. Foi na década de 1970 que uma nova geração de artistas, saídos das faculdades, ingressa na produção do cartaz. Eles fazem parte do movimento estudantil e se concentram em estudar o conceito da mídia. O vigor e a interpretação mais reflexiva da realidade acrescentam e desenvolvem uma


sensibilidade de engajamento dos processos sociais, acolhendo o jovem inconformismo e agregando as divergências de opinião. Além disso, essa espécie de segunda geração de designers do cartaz polonês, mais determinada, manteve em comum o gesto pessoal e único, com cada qual se distinguindo do outro. O que é uma característica que somente a riqueza da história evolutiva da mídia cartaz na Polônia consegue realizar, por meio também do apoio do público consumidor que sempre acompanhou as mudanças e características de épocas. Podemos ver que é o meio cultural e sua multiplicidade de fatores que gera aspectos da divulgação informativa por meio da mídia impressa e que amplia a necessidade de pesquisa da temática pictural para a pro-

dução do cartaz. Os códigos gráfico-visuais procuram representar a mensagem visual de divulgação do cinema, das artes visuais, da música, do teatro, do circo e das artes cênicas em geral. O que é igual para outros países como no Brasil. Porém, na Polônia, por diversas épocas de sua história, o cartaz toma o mote de uma expressão de

idéias sociais de cunho ideológico. Mas na maior parte do tempo a especialidade polonesa teve inspiração na pintura e na arte popular, evitando a utilização da fotografia. O que vem a ser diferente no Brasil que utiliza mais a tipografia industrial e a fotografia ampliada ou recortada, sem tanta interferência do público e seus anseios sociais em suas temáticas projetivas. Com o cartaz se tornando, no correr dos anos, uma forma de expressão artística forte e bastante trabalhada pelo designer polonês, de maneira muito especial ele teve um papel importante como um agente na construção da identidade nacional de um país novo, por várias vezes ocupado, destruído e reconstruído. Através das imagens podemos perceber que o designer polonês esteve sempre em busca da síntese visual e própria e dentro de um padrão informativo que tinha como pano de fundo a sociedade polonesa retratada pela pintura e a arte.


HISTÓRIA DA ARTE

A tipologia, o texto no caso, normalmente é parte incorporada do desenho e raramente ela é buscada industrialmente fora do próprio projeto proposto. O cartaz polonês forma uma paisagem única, com respostas muito elaboradas sobre a sua existência enquanto fenômeno de divulgação pública da cultura. A energia e a multiplicidade de seus designers criaram um fato irreversível na história da produção midiática daquele país, com o controle próximo da arte por meio de suas escolas. Atualmente o cartaz polonês sobrevive na Internet, como item de colecionadores e da curiosidade internacional. Obras que antes estavam expostas gratuitas nos tapumes e muros das cidades polacas, hoje em dia são peças de disputa comercial. O que fora construído por meio de uma força cultural, plena de legitimidade e marcante para um país, torna-se agora objeto de museu e que também transita no mundo virtual.



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