CAIPORA - Comadre Fulozinha

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intenções?

“Ignoratus tuunz vos assignaturum meo”.

- Me desculpe. É que... E se você for casada e seu marido entrar por aquela porta querendo me matar? – Respondeu Carlos tentando fazer piada.

Quando ela parou, Carlos esperou um pouco mais e saiu do banheiro. Foi quando olhou para a estante e viu o pote.

- É isso que você pensa de mim? É isso que dá... Não gostei do que você falou – repreendeu Carlos com ironia.

- O que é que tem aqui dentro desse pote? – Perguntou Carlos o segurando.

- Perdoe-me! Estou brincando. - Vou perdoá-lo só dessa vez! Quer beber alguma coisa? Uma cerveja? - Aceito o que você me der. Carlos não tinha lembranças nítidas quando entrou no apartamento de Sandra pela primeira vez. Lembrava de um e outro detalhe, mas não tudo. Era como se tivesse apagado aquele primeiro momento. Lembrou que abaixo do quadro, cuja figura parecia se movimentar, havia um pote azul claro, que Sandra tinha dado a ele para cheirar. Não lembrava qual era o cheiro. Depois da terceira cerveja, Sandra perguntou se ele queria tomar um banho. Ele até perguntou a ela se estava fedendo, e ela respondeu que só um pouco e riu. Quando Carlos foi saindo do banho, escutou Sandra declamando alguma coisa que agora lembrava com nitidez. Parou dentro do banheiro com a porta entreaberta e ficou prestando atenção. - “Vidro sagrado, que pela minha própria mão foi preparado, o meu sangue está preso no seu interior. Toda a pessoa que o cheirar há de ficar por mim encantado. 216 | Caipora - Comadre Fulozinha

- É uma essência mágica – responde Sandra rindo. - Você é uma bruxa? Se for, é a mais bela que já vi. Quando saiu do banho, não estava com sono. Daí tudo o que acontecera até acordar pela manhã não lembrava. Uma voz ecoou na cabeça. Era a cigana falando para ele ter cuidado com ele. Seus pensamentos voltaram para frente do cemitério no dia anterior. - Senhor, gostaria de falar – repetiu a cigana, dessa vez sendo notada por Carlos, que teve um sobressalto. - Me perdoe, mas hoje não é um dia bom para adivinhações. Se você não incomodar-se, peço que vá embora – falou Carlos se esquivando e com aspecto não muito acolhedor. - Peço que me dê um momento da sua atenção. Vocês estão correndo perigo. O senhor tem de me escutar – respondeu a cigana, agora segurando com as duas mãos a porta do carro. - Já lhe disse para ir embora. Você não tem respeito pelo sofrimento dos outros? Sem contar que não a conheço. Se você não desaparecer agora, vou ter que partir para a ignorância – falou Carlos, fazendo menção que sairia e a colocaria para correr dali. Nascimento

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