Revista LaCreme 09

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EDITORIAL LACRÈME 01

Beleza

natural

A

rte e natureza formam o tom desta nona edição da LACRÈME. O destaque é a exposição retrospectiva do fotógrafo Robert Polidori, a partir de 3 de março, no IMS (Instituto Moreira Salles) de Poços de Caldas. A arte de Polidori é mundialmente reconhecida por uma característica aparentemente antagônica: apresentar beleza em situações trágicas nas quais o ser humano aparece como vítima (das forças naturais ou das ações violentas de seus pares) ou protagonista. Antes de vir a Poços de Caldas, a mostra, Robert Polidori. Fotografias, foi apresentada com sucesso de crítica e público no Rio de Janeiro e em São Paulo. Por falar em São Paulo, outra exposição, Joaquín Torres García: Geometria, Criação, Proporção, na Pinacoteca do Estado (a instituição museológica mais vibrante do país), é a dica cultural na capital paulista. As 150 obras do artista uruguaio mostram a transição do figurativismo para o ideário construtivista assimilado na Europa. Ou seja, no limite, mais um exemplo de integração entre arte e natureza, ou da estética que parte da necessidade de copiar o real para, depois, render-se à essência, ao “espírito”, como quis Torres García. O trabalho de um grupo de herpetólogos da Biotropica Consultoria Ambiental, de Poços de Caldas, também mistura arte e natureza. Parte das pesquisas realizadas por eles tem resultado na organização de um notável acervo fotográfico que, para nós, leigos, pode ser apreciado como ensaio artístico. A LACRÈME oferece, assim, imagens de campo que evidenciam os belos detalhes da anatomia de espécies como sapos, rãs e pererecas endêmicas do Planalto de Poços de Caldas. Arte e natureza também se fundem no maravilhoso poema “Para Fazer o Retrato de Um Pássaro”, do francês Jacques Prévert: “(...) Se o pássaro não cantar / é mau sinal / sinal de que o quadro é mau / mas se cantar bom sinal (...)” Esportes de aventura na região, turismo em Florianópolis, a revitalização do Grand Hotel Pocinhos, Poços de Caldas no rumo do comércio justo e um perfil de Lilia Carvalho Dias são outros assuntos que a LACRÈME 9 traz. Aproveite! Ricardo Ditchun e Valéria Cabrera, editores


02 LACRÈME LACRÈME 09 Fevereiro de 2012 Direção Cynthia Spaggiari Direção de arte Fernando Goulart Edição Ricardo Ditchun Valéria Cabrera Jornalista responsável Valéria Cabrera (Mtb 22.547) Design Fernando Goulart Thiago Pagin Fotografias Biotropica Consultoria Ambiental Emília Ferraz Fernanda Buga Manu Godfrey Ricardo Ditchun Robert Polidori Sílvio Leossi Thaty Naila Colaboraram nesta edição Chico Lopes Fábio Ribeiro Fabio Riemenschneider Fernando Goulart Giovanna Spaggiari Otto Goulart Pedro Dias Renato Gaiga Ricardo Couceiro Bento Roberta Ecleide Kelly Rodolph Christopher Loiola Stelio Marras Vanessa Schultz Agradecimentos Instituto Moreira Salles Museu Torres García (Uruguai) Publicidade contato@revistalacreme.com.br Parque Editora parque@parque.art.br Tel.: 35 3721-1572 www.revistalacreme.com.br O conteúdo desta e das demais edições está disponível em nosso site É permitida a reprodução parcial ou total do conteúdo somente se citada a fonte. A LACRÈME não se responsabiliza pelas opiniões emitidas por colaboradores em seus textos assinados.


SUMÁRIO 13 36 32 48 10 20 58 76

10 13 16 20 26 28 32 36 38 44 46 48 50

Negócios: Poçospel completa 20 anos Hora do Café Negócios: Poços de Caldas em busca do selo Fair Trade Fotografia: Poços abriga retrospectiva de Robert Polidori em março VERVE, por Chico Lopes STELIANAS, por Stelio Marras Gastronomia: Capitão Grill Sulfurosos da Gema: a elegância solidária de Lilia Carvalho Dias

53 Saúde: exercícios físicos melhoram desempenho escolar 54 Educação municipal em boas mãos: Maria Helena Braga 56 A arte de Joaquín Torres García é atração em São Paulo 58 Roteiro Cultural 64 Check-in, por Karen Venturelli 67 A nanoengenharia aplicada ao concreto 68 CRÔNICA, por Ricardo Ditchun 70 POESIA, por Jacques Prévert

Esportes de aventura: saiba onde praticar, em Poços e na região PSIU!, por Fabio Riemenschneider NEPE, por Roberta Ecleide Grand Hotel Pocinhos agora é Wine Spa Turismo: a paradisíaca Florianópolis

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CADERNO VERDE

72 Alimentos orgânicos. Vale gastar mais? 76 Joias vivas: um ensaio com sapos, rãs e pererecas endêmicos do Planalto de Poços de Caldas


CARAVELA

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Um

papel

e tanto

· Carlos Roberto no estoque da Poçospel: ‘Faço o que gosto!’; na página ao lado, linha de produção da empresa


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Poçospel completa 20 anos de atividades em 2012 e Carlos Roberto Ferreira, o proprietário, afirma: ‘Vale a pena ser empresário no Brasil’ texto Ricardo Ditchun fotos Sílvio Leossi

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ste é um ano repleto de significados para Carlos Roberto Ferreira, 48 anos, CEO de um grupo formado pelas empresas Poçospel Ltda. (Poços de Caldas), Dom Stephano – Embalagens & Descartáveis (Poços de Caldas), DUX Industrial (Poços de Caldas), DUX Brasil (Goiânia, GO) e CIPAC – Indústria de Papéis Cantagalo (Cantagalo, RJ). O motivo principal é o 20º aniversário da Poçospel, a empresa pioneira, responsável por 25% do faturamento do grupo e que atua no segmento de produtos descartáveis para as áreas de higiene e saúde. Também é um ano de consolidação, haja vista que, das cinco companhias mencionadas, três (CIPAC, DUX Brasil e DUX Industrial) foram adquiridas entre 2010 e 2011. “Temos motivos para celebrar, claro, mas não podemos esquecer que chegou a hora de honrar os investimentos feitos”, afirma o executivo. Mineiro de Bandeira do Sul, mas radicado em Poços de Caldas desde 1970, quando tinha apenas 7 anos de idade, Carlos Roberto conta que sente orgulho da cidade em que vive e trabalha: “Poços de Caldas me deu as oportunidades e eu tenho tirado proveito delas”. Formado em Administração de Empresas pelo Centro Universitário Newton Paiva, de Belo Horizonte, o empresário gera 430 empregos diretos e 1,3 mil indiretos. O trabalho desses colaboradores impacta famílias que somam pelo menos outras 5 mil pessoas. “Sempre que penso nisso me dou conta da minha responsabilidade. É por isso, também, que acho que vale a pena ser empresário no Brasil. Nosso

papel na sociedade é fundamental. Além do mais, faço o que gosto!”, afirma. Com aproximadamente 5 mil clientes/distribuidores, a Poçospel está presente em pelo menos 3 mil municípios brasileiros e exporta para a América do Sul. Atualmente, a empresa, que lidera a produção nacional de lençóis de papel para uso hospitalar, cumpre os procedimentos necessários para a obtenção da certificação ISO 9000, qualificação que permitirá o acesso aos sempre cobiçados mercados norte-americano, europeu e de países do Oriente Médio. A CIPAC, maior empresa do município fluminense de Cantagalo, destaca-se por liderar no Estado do Rio de Janeiro as vendas de papel higiênico de folha simples de boa qualidade por meio da marca BomBom. Uma curiosidade relacionada à produção mensal de papel da CIPAC é que esse volume poderia dar três voltas na Terra, considerando uma faixa contínua com um metro de largura! O variado mix do conglomerado inclui, entre outros itens, lençóis de papel para hospitais, sacos para lixo infectante, toalhas de papel interfolhas, toalhas de mesa, dispensers para produtos de higienização, uniformes profissionais, EPIs, (equipamentos de proteção individual) e papel higiênico. Na lista de clientes da Dom Stephano, empresa criada para atender de modo específico às demandas do mercado de licitações para organizações públicas e privadas, estão instituições como Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), USP (Universidade de São Paulo), UFMG (Universidade Federal


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de Minas Gerais) e Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) da Prefeitura do Rio de Janeiro. Carlos Roberto explica que a Dom Stephano é, hoje, o principal revendedor da linha de produtos gerada na Poçospel. Além da qualidade presente nos produtos, principal motivo para que a Poçospel mantenha sua situação de liderança, o empresário faz questão de garantir que os colaboradores de todas as empresas do grupo participem de processos de treinamento. “A constante melhoria dos mecanismos de produção, que inclui a renovação de equipamentos e a qualificação profissional, é, tenho certeza, a explicação para o sucesso dos nossos negócios. O treinamento é uma ferramenta poderosa que resulta na garantia da qualidade de uma linha de produtos que é planejada, produzida e consumida para garantir higiene”, revela Carlos Roberto. Ainda para os funcionários, o empresário garante participação nos lucros e resultados, convênio médico e odontológico, cesta básica e refeições, inclusive com café da manhã e da tarde. Outro aspecto importante no funcionamento das unidades do grupo é o cuidado com o meio ambiente. Por ser uma empresa transformadora, a Poçospel não polui e não utiliza água em suas atividades. Não há, por exemplo, descarte das sobras de papel e 100% da celulose virgem empregada na produção de seu mix é proveniente de florestas de eucaliptos cultivadas segundo rígidos padrões de manejo ecológico. Além disso, por meio de processos de reciclagem, cerca de mil toneladas de sobras de papel (3 mil m³) deixam de ser lançadas mensalmente na natureza. “A sustentabilidade é palavra de ordem em nossas empresas”, ressalta Carlos Roberto.◄

· Funcionários das empresas de Carlos Roberto têm direito a participação nos lucros e resultados, convênio médico e odontológico, cesta básica e refeições


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Safra 2012 deve ser

A

texto Valéria Cabrera fotos Divulgação

recorde

pesar das estimativas pessimistas sobre a safra 2012 do café, devido a fatores climáticos e a doenças que têm atacado os cafezais, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que a produção nacional fique entre 48,97 e 52,27 milhões de sacas beneficiadas. O resultado representa um crescimento entre 12,6% e 20,2%, quando comparado com a safra anterior, que foi de 43,48 milhões de sacas de 60 quilos. O aumento se deve, de acordo com informações da Conab, principalmente ao ano de alta bienalidade e ao investimento na lavoura pelo produtor. Caso seja confirmada, a safra 2012 será a maior já produzida no país, superando o recorde anterior de 48,48 milhões de sacas, do período 2002/2003. Em relação à safra 2009, último ano de ciclo positivo, a nova safra é 5,22% superior.

A espécie arábica, com produção estimada entre 36,41 e 39,02 milhões de sacas, representa em média 74,5% da produção nacional, e tem Minas Gerais como o maior produtor, com um volume de produção previsto entre 25,25 e 26,82 milhões de sacas. A produção da espécie conilon, estimada entre 12,56 e 13,25 milhões de sacas, média de 25,5% da produção cafeeira do País, tem o estado do Espírito Santo como o maior produtor, com a safra 2012 estimada entre 8,97 e 9,53 milhões de sacas Os dados foram divulgados pela Conab em janeiro e referem-se à pesquisa realizada no período de 8 de novembro a 17 de dezembro, quando foram visitados os municípios dos principais estados produtores (MG, ES, SP, BA, PR e RO), que representam 98% da produção nacional.


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Espressas Certificação - O número de propriedades cafeeiras aprovadas para certificação em Minas Gerais subiu para 1.438 em 2011, um aumento de 19% em relação ao ano anterior, de acordo com a Seapa (Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento). A certificação atesta a conformidade das fazendas produtoras com as exigências do comércio mundial, possibilitando ao café mineiro consolidar sua posição e conquistar novos mercados.

MP 545 - O governo federal suspendeu a cobrança do PIS/Cofins sobre a venda do café verde. Com a Medida Provisória 545, que já está em vigor, o recolhimento do imposto recai sobre o último elo da cadeia produtiva, ou seja, a empresa que faz o café torrado ou moído. Em compensação, esta terá direito a um crédito presumido equivalente a 80% do valor da compra. A medida visa incentivar as exportações de produtos com maior valor agregado.

Novo diretor - Edilson Alcântara assumiu no fim de 2011 o Departamento do Café, órgão ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Formado em Jornalismo e com especializações em Marketing (USP) e Administração e Economia (FGV), Alcântara trabalhou no Banco do Brasil, atuando na área de produção agrícola. O novo diretor substituiu Robério Silva, eleito diretor executivo da Organização Internacional do Café.

Agenda Feira A Fenicafé 2012 será realizada de 28 a 30 de março no Pica-Pau Country Club, em Araguari (MG). O evento receberá o 17º Encontro Nacional de Irrigação da Cafeicultura no Cerrado, a 15ª Feira de Irrigação em Café do Brasil e o 14º Simpósio de Pesquisa em Cafeicultura Irrigada. No ano passado, a feira movimentou mais de R$ 30 milhões e recebeu cerca de 20 mil visitantes. O objetivo principal da Fenicafé é levar informações sobre novos equipamentos e tecnologias para produtores e empresários do setor de café. Seminário Estão abertas as inscrições para o 19º Seminário Internacional de Café de Santos, que este ano será realizado nos dias 9 e 10 de maio no Guarujá (SP). O tema será Café do Brasil: Crescimento Planejado – Qualidade e Volume. O evento, promovido pela Câmara Setorial dos Exportadores de Café da Associação Comercial de Santos, pretende reunir produtores, distribuidores, comerciantes, exportadores, importadores e torrefadores. Mais informações no site www.acs.org.br ou pelo telefone 13 3212-8200. Feira A 6ª Fispal Café, Feira Internacional do Café, vai movimentar o mercado brasileiro de 25 a 28 de junho em São Paulo. Durante o evento, produtores, torrefadores, exportadores, distribuidores, baristas e donos de cafeterias conhecerão as tendências do mercado e poderão fechar negócios. Simultaneamente à Fispal Café, ocorrem nas dependências do Expo Center Norte a Fispal Food Service, Fispal Hotel, TecnoSorvetes e, pela primeira vez, o Sial Brazil, maior evento de alimentos do mundo. Cerrado Mineiro Já tem data o 20º Seminário do Café da Região do Cerrado Mineiro, em Patrocínio (MG). Será entre os dias 25 e 28 de setembro no Espaço Cultural Joaquim Constantino Neto. O evento, realizado pela Acarpa (Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio), busca a valorização do expositor e produtor. Estão previstas para este ano a realização da 3ª Rodada de Negócios e ampliação do espaço para os maquinários e da praça de alimentação. Informações: 34 3831-8080.

Cult Coffee Guinness Book – O artista albanês Saimir Strati entrou para o Guinness Book por fazer o maior mosaico com café. Para isso, utilizou um milhão de grãos do produto ou 170 quilos. Intitulada Um mundo, Uma família, Um café, a obra tem 25,1 metros quadrados e foi criada sobre uma plataforma sintética flexível. O desenho mostra cinco pessoas, em uma representação dos habitantes de África, Ásia, Europa, América do Norte e América do Sul.

Herança – Foi com o dinheiro da herança da maior fazenda de café da América Latina, que ficava na região de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, que Santos Dumont custeou as invenções que fizeram o primeiro avião levantar voo na Europa. Na fazenda de propriedade do seu pai, o brasileiro teve os seus primeiros contatos com o mundo das máquinas.

Variedades – Existem duas espécies principais de café que são cultivadas para fins comerciais ao redor do mundo: o Coffea arábica e o Coffea canephora (também conhecida por robusta). Cada espécie tem grande número de variedades e linhagens, que produzem bebidas de sabores e aromas diferentes.


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Muito além do cafezinho

Ingredientes

Preparo

Para a massa 4 colheres (sopa) de margarina 2 xícaras (chá) de açúcar 3 gemas 2 colheres (sopa) de café solúvel 2 colheres (sopa) de leite em pó 2 xícaras (chá) de farinha de trigo 1 colher (sopa) de fermento em pó 3 claras 1 colher (chá) de margarina para untar 1 colher (sopa) de farinha de trigo para polvilhar

Bata muito bem a margarina com o açúcar e as gemas. Acrescente o café solúvel dissolvido em três colheres (sopa) de água quente, o leite em pó dissolvido em meia xícara (chá) de água quente, a farinha e o fermento, batendo sempre.

Para a calda 1 copo de leite 1 colher (sopa) de café solúvel 4 colheres (sopa) de chocolate em pó 2 colheres (sopa) de açúcar

Para a calda, misture em uma panela o leite, o café solúvel, o chocolate e o açúcar. Leve ao fogo mexendo sempre até obter uma mistura homogênea. Corte o bolo em fatias e sirva com a calda, que pode estar morna ou fria.◄

Bata as claras em neve e acrescente-as à mistura anterior, mexendo com cuidado. Despeje a massa em uma forma redonda média untada e polvilhada com farinha de trigo e leve ao forno pré-aquecido (180º) por cerca de 30 minutos. Desenforme quando o bolo estiver morno.

Bolo de café solúvel e chocolate


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No rumo do

comércio

justo P texto Valéria Cabrera foto Emília Ferraz

· Poços de Caldas está prestes a se tornar a primeira cidade fair trade da América do Sul

oços de Caldas poderá ser a primeira Cidade Fair Trade da América do Sul. Em dezembro passado, a Prefeitura declarou apoio ao Comércio Justo (tradução de fair trade), que defende, entre outros pontos, a proteção ao meio ambiente, o respeito aos direitos humanos e o pagamento aos produtores de valores que permitam que eles vivam com dignidade e com boas perspectivas de futuro. Para que o município receba o selo Fair Trade é necessário o cumprimento de alguns critérios. O primeiro, já alcançado, é a publicação de um decreto que confirme que a Administração apoia o Comércio Justo. Em seguida, deve ser criado um grupo para fomentar o projeto. Essa equipe também já foi empossada e é formada por representantes da cadeia produtiva, do comércio, das universidades e do poder público (confira relação na página ao lado). O próximo passo é a realização das ações de divulgação do processo e, com isso, fazer com que a iniciativa privada passe a comercializar e consumir produtos Fair Trade, outros dois critérios exigidos para que o município receba o título. A Prefeitura de Poços de Caldas também tem de incluir em suas compras produtos do Comércio Justo. “Esse é um critério um pouco mais complicado, pois temos de fazer compras por meio de concorrência pública. Estamos trabalhando a questão legal, mas acredito que nas próximas aquisições já poderemos incluir produtos Fair Trade”, afirma o prefeito Paulo César Silva. Todo o processo para que Poços de Caldas se transforme na primeira cidade Fair Trade da América Latina é acompanhado pelo Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) de Minas Gerais. Foi a convite dessa instituição que Paulo César Silva participou, em novembro de 2011, de uma missão internacional de estudo sobre Fair Trade Town (Cidade de Comércio Justo), encontro realizado na Suécia e na Inglaterra. “Acredito que Poços será pioneira no processo de democracia econômica, que vai mudar a forma de agir da sociedade e pautar outras cidades do Brasil e da América do Sul”, diz Elbe Brandão, diretora de Operações do Sebrae-MG. Além do benefício direto aos produtores, toda a sociedade pode ganhar, pois o título é, em qualquer parte do mundo, fonte de atração para o turismo. “Será mais um potencial para a cidade explorar”, explica a secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Poços de Caldas, Cibele Mello Benjamin.


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Café sai na frente A Assodantas (Associação dos Agricultores Familiares do Córrego d’Antas), que reúne e defende os interesses de produtores de café, foi a primeira e continua sendo a única organização do município a ser certificada com o selo Fair Trade. “Desde a emissão do título, em 2009, a qualidade de vida dos produtores associados e de suas famílias já melhorou muito e vai melhorar ainda mais”, afirma João Piva, presidente da entidade. A associação conta hoje com 67 cooperados. Até o fim deste ano, esse número deve aumentar para 90 ou 100. “Isso porque o comércio do café com esse certificado apresentou um crescimento de 2% do total para 7% nos últimos cinco anos. Isso nos dá espaço para crescer também”, explica. O café produzido pelos associados da Assodantas é vendido na NYSE (Bolsa de Valores de Nova York) e, por ter o selo Fair Trade, alcança valores entre 20% e 30% maiores. Esse café é comprado por torrefadoras dos Estados Unidos e de países europeus, como Dinamarca, Suíça, Espanha e França. “Ainda não há torrefadoras certificadas no Brasil e, por isso, nosso café só é consumido fora”, esclarece João Piva. Além de ganharem mais pelo café, os produtores contam com outro benefício. O presidente da Assodantas explica que os importadores pagam um prêmio à entidade por saca vendida. Esse dinheiro tem de ser investido na comunidade, nas áreas social e ambiental. “Já construímos fossas sépticas, reflorestamos terrenos com minas d’água e fizemos bacias de contenção em lavouras. Tudo para preservar o meio ambiente”, conta. A associação também comprou uma área que abrigará um barracão para armazenar o café dos produtores antes de o produto ser exportado.

Grupo de coordenação do Comércio Justo Maria José Scassiotti – PUC Minas Andreza Aparecida Barbosa – Faculdade Pitágoras João Batista Piva – presidente da Assodantas (Associação dos Agricultores Familiares do Córrego d’Antas) André Carneiro – presidente do Poços de Caldas Convention & Visitors Bureau Benedito Coutinho de Almeida – representante da Acia (Associação Comercial, Industrial e Agropecuária) de Poços de Caldas Paulo Roberto Monteiro – representante do Sindicato do Comércio de Bens, Serviços e Turismo Mônica Miglioranzi Frizon – representante da Alcoa e da Associação Poços Sustentável Ivan Figueiredo – representante do Sebrae-MG Cibele Mello Benjamin – Secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Poços de Caldas


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Beleza

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· Interior de casa atingida pelo furacão Katrina em agosto de 2005, em Nova Orleans (EUA)

texto Ricardo Ditchun fotos Robert Polidori/Divulgação

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desordem, a tragédia, a desesperança e o caos flagrados em escala mundial. A arte do fotógrafo Robert Polidori é específica e, sempre, interrogatória. Diante de suas imagens, o observador frui bem mais que beleza estética, domínio técnico, enquadramentos perfeitos e riqueza de detalhes. Autor de ensaios que nos ajudam a entender e a questionar tragédias naturais ou provocadas pelo homem (reunido em pequenos grupos ou em sociedades complexas), esse canadense de 61 anos, e radicado nos Estados Unidos desde 1969, tem sido responsável pela manutenção do aspecto documental na agenda dos debates internacionais que têm a fotografia contemporânea como tema. Após Rio de Janeiro e São Paulo, a importante e elogiada individual Robert Polidori. Fotografias, com 39 imagens, chega dia 3 de março a Poços de Caldas, no IMS (Instituto Moreira Salles), onde permanece em cartaz, com entrada franca, até 27 de maio. A exposição tem caráter retrospectivo e resume os principais ensaios assinados pelo fotógrafo a partir dos anos 1980. É o caso, por exemplo, das emblemáticas séries dedicadas a Prypiat e Chernobyl, as fantasmagóricas cidades ucranianas imediatamente vitimadas pelo acidente nuclear ocorrido em abril de 1986, quando a Ucrânia ainda integrava a ex-URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), e a Nova Orleans, no sul dos Estados Unidos, devastada em agosto de 2005 pelo furacão Katrina. Havana (Cuba), Varanasi (Índia), Beirute (Líbano), Alexandria (Egito), Amã (Jordânia) e Nova York (Estados Unidos) são outras localidades presentes na mostra, cuja curadoria é assinada pelo próprio fotógrafo e por


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· Apartamento destruído por morteiros em Beirute (Líbano)

Heloisa Espada. Poderá ser visto ainda o notável ensaio que Polidori tem feito, há quase 30 anos, sobre a restauração do espetacular Palácio de Versalhes, símbolo da monarquia francesa e um dos atrativos turísticos mais visitados do mundo. O ser humano, responsável e/ou vítima nas situações de desesperança eleitas por Polidori, não é visto nos ensaios. A intenção do artista é apresentar consequências. A presença do homem, suas memórias e sofrimentos e a condição de ator ou espectador é intuída pelo público da exposição. São dessa ordem, por exemplo, as fotos em que Polidori nos mostra o interior de apartamentos de Nova York vandalizados após a morte de seus moradores, geralmente idosos solitários, ou as imagens de uma moradia civil de Beirute cravejada de balas de fuzil e arrebentada por morteiros. Em Havana, por sua vez, o fotógrafo só precisou escolher as fachadas decrépitas moldadas por décadas de ditadura e embargo econômico. ROBERT POLIDORI. FOTOGRAFIAS – Exposição retrospectiva com 39 fotografias do artista. No IMS (Instituto Moreira Salles) – Poços de Caldas. Rua Terezópolis, 90, Jardim dos Estados. Tel.: 35 3722-2776. Vernissage dia 3 de março, às 20h. De 4 de março a 27 de maio. De terça-feira a domingo, das 13h às 19h. Entrada e estacionamento gratuitos.


FOTOGRAFIA LACRÈME 23


24 LACRÈME FOTOGRAFIA · Apartamento de Nova York saqueado após a morte de seu proprietário nos anos 1980


FOTOGRAFIA LACRÈME 25 · A falta de planejamento urbano em Amã (Jordânia) também foi explorada por Polidori


26 LACRÈME VERVE

Recuerdos por Chico Lopes*

U

m dia bebi nos riachos do Éden. A lembrança da água primeira permanece em algum ponto escuro de mim. Nesta meia-noite em que me habito, tenho a impressão de ocultar um olho d’água daqueles tempos. De vez em quando, ouço o suspiro minúsculo, sino mal insinuado, pingo leve e leve trino, dessa fonte inesquecível. E então saio de meu quarto e me precipito na noite, morto de uma sede que só eu sei. Só encontro casas, postes de luz de mercúrio, automóveis, um que outro vira-lata e silêncio. O silêncio só contém silêncio. Torno a meu quarto e em devaneio escavo negros subsolos de mim à procura da água. Um dia vi um arco-íris em fim de tarde. Eu estava ungido de chuva, novo como tudo que fora molhado. Minha mais íntima substância era úmida. Eu vivia como parte inextricável do mundo, eu era o mundo. Vi o arco-íris de meu posto predileto – um tanque de lavar roupa próximo a uma trepadeira de maracujá. E isso não é irrecuperável, pois que o lembro. A memória é a única coisa que possui coisas porque não quer dominá-las, mas evocá-las. E a beleza espantosa do passado só obedece aos chamados humildes. Eu não quero reaver o que tive – o que desejo é lembrá-lo. Basta para que eu levite de ternura.

Um dia minha irmã Fuen Santa levou-me pela mão à casa de uma amiga, em tarde triste, numa rua boiadeira. Eu tinha muito medo de boiadas, mas sua mão pequenina e seus olhos verdes me infundiam confiança. Ela era medrosa também e se envergonhava disso, o que nos tornava iguais. No rádio, ouvia-se o tango El Panuelito. Até hoje o rádio não foi desligado. Um dia me escondi no pomar do quintal da primeira casa. Na noite, o cheiro dourado de tangerinas, altíssimas mangueiras de sonho, e eu a vagar pelas formas sombrias de luz, entre os pés de cidra, abacaxi e um exíguo milharal. Em dado momento, a lua apareceu por encanto (ou fui eu que por encanto a vi) e senti que começava a nascer um Destino. A qualquer instante posso ficar tomado por essa lembrança e entrar em transe no meio da rua. Os que me virem abstrato jurarão que sou louco. E eu serei apenas o que não pôde ir além do pomar de certo quintal, fascinado. A lua imóvel, o menino quieto, o laranjal soturno. O passado é saída para o futuro. As petrificações da memória, fixas quanto sejam, nunca deixam de palpitar. São monolitos de tristeza calma e certeza invencível.◄

*Chico Lopes é escritor e jornalista. É autor de Nó de Sombras (2000), Dobras da Noite (2004), Hóspedes do Vento (2010) e O Estranho no Corredor (2011).


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28 LACRÈME STELIANAS

Ecologia das

palavras


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texto Stelio Marras* ilustração Fernando Goulart

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sse congresso de 2036 promete! Frases entusiásticas como essa podia-se ouvir nos corredores do Palacial Hotel da pequena cidade balneária de Águas Virtuosas. O Congresso Transdisciplinar da Sustentabilidade Socioambiental (CTSS) está prestes a começar. O tema deste ano de 2036, já recorrente desde a primeira versão de 2017, é o da “Desaceleração e Decrescimento – desafios para um planeta sustentável”. São fóruns de discussão sobre alternativas para diminuir produção e consumo de produtos no planeta industrializado, mas visando causar menos impacto nos níveis de emprego e na estruturação geral do modo capitalista. Já faz década que se instalou o impasse entre diminuir o ritmo produtivo e seu consequente aumento de pobreza e desemprego no mundo. E como essa conciliação tem se mostrado mais e mais improvável, ativistas de todos os lados chegam exaltados ao congresso, pretendendo fazer muito barulho. Ano a ano proliferam os debates e pesquisas de toda ordem, com palestrantes e público de variada origem vindo apinhar em qualquer acomodação que houver disponível em Águas Virtuosas. O catálogo das conferências, palestras, mesas-redondas e similares é tão extenso, que só mesmo folheando é que se pode colher alguma impressão geral do congresso. Do contrário, tudo parece um matagal intrincado e sem fim. Em frente ao Palacial Hotel, sede das grandes conferências, descortina-se um majestoso jardim à inglesa – daqueles meticulosamente domesticados para parecerem selvagens. Num dos bancos do jardim, encontro um senhor absorto em calhamaços de papers. Eu não o incomodaria se não percebesse, ao passar, que o homem queria alguma conversa.

– Bonito dia, não? – ele pergunta à espera de reação. – Sim, muito bonito, repliquei e me vi premido a dar sequência. O senhor irá apresentar comunicação? Não foi preciso mais para que de imediato eu me acomodasse e encetássemos uma prosa. O homem explicou que não apenas apresentaria sua comunicação, mas tinha ainda o que chamou de “ingrato” papel, como coordenador de seu Grupo de Trabalho, de ler todas as comunicações enviadas e produzir comentários que estabelecessem conexão entre elas. Ele parecia exausto e terminava as frases bufando. Dei-me conta de que era de sua responsabilidade tocar o sub-tema que havia proposto e afinal sido

aprovado para constar no congresso. Chamava-se “Menos e Menor: por uma ecologia das palavras”. Mal informado, perguntei-lhe do que se tratava, já me desculpando por essa pergunta talvez pouco polida para quem, uma vez ali, decerto devesse estar a par dos assuntos que o congresso iria desenvolver. O intelectual foi gentil e, pondo de lado a quantidade de textos e anotações que produzia, dedicou-se a me expor a razão de sua proposta. Foram quase duas horas de argumentação a favor de um mundo não apenas menos proliferativo de bens de produção e consumo, que era enfim o tema geral do congresso, mas também mais econômico na produção de palavras. À ecologia da produção industrial ele queria fazer corresponder uma ecologia do conhecimento. Toda sua faina era provar que o atual estágio de avolumamento desenfreado de artigos, livros e toda sorte de texto, mas também de palestras e conferências nos infindáveis meetings e fóruns mundo afora (tudo “palavrório”, ele insistia), gerava um efeito contrário; isto é, ao invés de a produção do conhecimento trazer mais transparência e entendimento, o que ocorria era mais poluição e asfixia do conhecimento. E de tal maneira que já ninguém mais conseguia dominar o assunto que fosse. Seria preciso produzir menos palavras e textos menores. Livrar-se do cipoal labiríntico em que inadvertidamente o mundo se encontrava. Não só havia muitas coisas, mas também muitas palavras para as coisas. Pois que a ecologia alcançasse, aí também, suas promessas. Era assim ou estaríamos condenados a mais desentendimentos do que entendimentos. Ouvi mais do que falei. Na verdade, me restringi a poucas interjeições nas breves pausas que o conferencista fazia para respirar e logo emendar novas frases, todas muito inteligentes e acompanhadas de gráficos e estudos que ele ia sacando das pilhas de papel para demonstrar com a devida cientificidade as bases empíricas de sua argumentação. Foi preciso que um de seus colegas se aproximasse para introduzir outro assunto e assim dissipar o antigo. Ocasião para que eu me retirasse e os deixasse à vontade para deblaterar sobre algo que parecia importante. Então me transferi para outro banco no jardim e passei as próximas duas ou três horas admirando o olhar complacente de um velho gato fitando os movimentos do mundo ao seu redor.◄

*Stelio Marras é professor de Antropologia do IEB-USP (Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo). É autor de A Propósito de Águas Virtuosas: Formação e Ocorrências de uma Estação Balneária no Brasil (Editora da UFMG, 2004).


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32 LACRÈME GASTRONOMIA

· Evandro (à direita, de braços cruzados) com dois de seus irmãos na porta do casarão que hoje abriga o seu Capitão Grill; Nas fotos à direita, Evandro repete a mesma pose e prepara um dos pratos do restaurante

Sabores e muita história texto Fábio Ribeiro fotos Thaty Naila/Acervo pessoal


GASTRONOMIA LACRÈME 33

O

dia começa bem cedinho para o chef Evandro Mosca. Religiosamente, antes das 7h, ele já percorre os corredores do Mercado Municipal de Poços de Caldas em busca de verduras, legumes e carnes que vão satisfazer o apetite dos clientes do restaurante Capitão Grill, na rua Capitão Afonso Junqueira. Uma história que começou há pouco mais de 40 anos em um outro restaurante, na rua Junqueiras, onde dona Ana e seu Licurgo (conhecido como Buião), os pais de Evandro, já se dedicavam às artes da culinária. O antigo restaurante da família, com os tradicionais pastéis e pratos comerciais, fechou com a morte de dona Ana, em 1974. Foi quando a família se mudou para o mesmo endereço onde hoje Evandro recebe os amigos e clientes, na casa estilo chalé, reformada recentemente para proporcionar mais conforto aos visitantes. A cozinha também se destaca, pois pode ser vista através de enormes janelas de vidro que a separam do salão.

Mas nem sempre foi assim. Antes de se dedicar à cozinha, Evandro passou pela experiência de 13 anos como funcionário da empresa de telefonia, que começou como Telecaldas até ser encampada pela Telemig. Ao deixar a empresa, em meados dos anos 1990, começou de fato a vida dedicada à cozinha. Nesse período, Evandro associou-se ao irmão Danilo e a Benedito para fundar o Capitão Grill, onde já vinha funcionando outro restaurante, o Lilás. A inauguração foi no dia 30 de abril de 1995. A empreitada teve sucesso imediato, sobretudo entre o público jovem. Na sequência, vieram os carnavais. De 1996 a 2001, a esquina das ruas Rio Grande do Norte e Capitão Afonso Junqueira, onde Evandro passou parte da infância e adolescência, jogando bola e se arriscando no quintal do casarão onde viveu o escritor Antônio Cândido, transformou-se em um dos lugares mais badalados durante os dias de folia. A sociedade com Danilo e Benedito foi desfeita, mas o impacto maior


34 LACRÈME GASTRONOMIA · Todo o trabalho de preparo dos pratos pode ser acompanhado pelos clientes através das vidraças que separam a cozinha do salão

foi a morte do inspirador Buião, na terça-feira de Carnaval, dia 27 de fevereiro. Com a perda dele perdeu-se também uma parte da história construída até então. Mudou-se o foco: “Fiquei sozinho e comecei a entrar de verdade no fogão, a enfiar a mão na massa mesmo”, conta Evandro. Para tanto, o chef foi buscar os cursos de culinária no Senac, onde, por sorte, encontrou professores de alto gabarito. “Lembro do João Carlos e do Isaias, pessoas excelentes que hoje fazem muita falta na cidade”, recorda. O aprendiz virou professor e chegou a dar aulas para outros alunos no mesmo Senac que o formou para o mercado. Daí por diante, o Capitão Grill começou a funcionar também para o almoço. Em agosto de 2009, uma nova reforma transformou a casa no belo ambiente onde hoje o chef recebe os clientes e amigos. Aumentou ainda mais a identidade com o ambiente da cozinha, com as panelas, com o fogão. “Hoje posso dizer que isso aqui é a minha cachaça, meu fogão, meus clientes, minha vida, minha família, meu filho. E ele adora isso aqui, quer estar junto comigo. Minha esposa, Amanda, está sempre aqui também. É uma pessoa sensacional que abraçou essa causa junto comigo. Estamos aqui fazendo a nossa história”. A presença dos mesmos vizinhos de tantos anos motiva ainda mais a criação de pratos e temperos. Um universo de cores e sabores que são revelados aos paladares mais exigentes todos os dias. Segundo o chef, não é preciso inventar muito para atender ao gosto dos clientes. Uma cozinha básica, diz ele, aprendida desde menino quando ia com a família ao Restaurante Sem Sem. “Nós procuramos manter aquele padrão, de trabalhar com filés, com pescados, massas, aperitivos... Mantivemos a base de uma cozinha brasileira, com feijoada, salmão, filé mignon”. Evandro diz que os pratos mais pedidos são o estrogonofe de filé, o filé à parmegiana e o filé mignon ao molho madeira com arroz piemontês. Mas as saladas da casa também encantam os frequentadores, principalmente uma criada por ele para homenagear Amanda: “Salada da Patroa”. Um manjar dos deuses.◄


LACRÈME 35


36 LACRÈME SULFUROSOS DA GEMA/ LILIA CARVALHO DIAS

Essência

solidária texto Valéria Cabrera fotos Fernanda Buga

L

ilia Carvalho Dias é referência na cidade quando o assunto é elegância, boa educação e, principalmente, filantropia. Aos 82 anos, ela divide seu tempo entre a família (tem cinco filhos, 14 netos e 14 bisnetos – e outros dois a caminho), uma agenda social intensa e o trabalho voluntário no CEI (Centro de Educação Infantil) do Charque e na Associação dos Voluntários Amigos da Santa Casa, entidade que ajudou a fundar. Carioca de nascimento, mas mineira de coração, Lilia mudou-se para Poços de Caldas aos 17 anos, quando casou com Moacyr Carvalho Dias, o Xixo. “Minha família visitava Poços de Caldas por causa das águas sulfurosas. Meu pai buscava a cura para um reumatismo e frequentávamos a casa dos Carvalho Dias. Foi aí que conheci o Xixo”, conta. Mas foi em 1975 que ela começou a trabalhar com filantropia. “Depois de ter meus filhos senti a vida vazia. Então recebi um convite da Nini Mourão para trabalhar em uma das instituições mantidas pela Fundação Gota de Leite. E me apaixonei pelo trabalho com as crianças. Por isso estou lá há 36 anos.” A creche, que começou a funcionar com 40 vagas para atender famílias carentes da cidade, cuida hoje de 160 crianças de zero a 5 anos em período integral. No local são oferecidas todas as refeições, desde o café da manhã até o jantar. Para isso, conta com funcionários, a maioria contratada pela Prefeitura. Uma deficiência na creche que Lilia ainda espera resolver é a falta de voluntários para a realização de atividades extras com as crianças. “Precisamos de todo tipo de ajuda. Pessoas para contar histórias, ensinar brincadeiras... Enfim, qualquer coisa é muito bem-vinda”, afirma. Um pouco mais recente é seu trabalho com a Santa Casa de Poços de Caldas. “Há oito anos vi um cartaz que dizia ‘Doe lençóis para a Santa Casa’. Comecei então a arrecadar dinheiro entre conhecidos para comprar os lençóis. Depois veio a ideia de uma rifa”, conta Lilia. Com o dinheiro arrecadado foi instituída a Associação dos Voluntários Amigos da Santa Casa, entidade que, desde então, trabalha para conseguir doações para o hospital. O dinheiro angariado é empregado inclusive na compra de produtos para o café da manhã oferecido a pacientes que aguardam consultas. “Muitas vezes a pessoa sai de casa sem comer nada e precisa de um lanche para conseguir se manter”, explica Lilia, que reserva as manhãs das quintas-feiras para ajudar a servir o café. “O trabalho voluntário me completa!”, afirma.◄


SULFUROSOS DA GEMA/ LILIA CARVALHO DIAS LACRÈME 37

· Lilia Carvalho Dias no CEI do Charque: ‘O trabalho voluntário me completa!’


38 LACRÈME ESPORTE

· Turistas participam do programa Circuito das Cachoeiras – Trekking 7 Quedas, uma das modalidades oferecidas pela Prata Expedições Ecoaventura, na vizinha Águas da Prata (SP)


ESPORTE LACRÈME 39

Um tanto de

esporte;

aven tura outro tanto de

texto Valéria Cabrera fotos Divulgação


40 LACRÈME ESPORTE

O

verão é a estação mais convidativa para a prática de atividades físicas, principalmente ao ar livre. E os dias quentes são ideais para os esportes de aventura, seja em terra firme, no ar ou na água. Além de diversão, o praticante obtém benefícios para a saúde, pois esses exercícios promovem ganho de resistência e de força muscular e também ajudam a queimar calorias. Para ter acesso a toda essa adrenalina, os moradores de Poços de Caldas e de cidades vizinhas não precisam ir longe. As belezas naturais da região proporcionam a infraestrutura necessária para saltar de paraglider, enfrentar corredeiras em botes infláveis, descer cachoeiras e paredões por meio de cordas e fazer caminhadas classificadas nos mais diferentes níveis de dificuldade. São pelo menos três operadoras de ecoturismo que atuam na região: Trilha Radical Turismo e Aventura, em Poços de Caldas; Prata Expedições Ecoaventura, em Águas da Prata (SP); e Eco Pardo Turismo e Aventura, em Caconde (SP). Cada uma tem uma característica própria (confira a relação nas páginas a seguir). A Trilha Radical, por exemplo, mantém um parque de aventuras dentro do Hotel Monreale, que é aberto a qualquer pessoa, hóspede ou não. No local pode-se praticar de arvorismo a paintball, incluindo o slackline, uma novidade no Brasil, mas que já atrai vários adeptos nos Estados Unidos e na Europa. Outra atividade muito procurada pelos clientes da Trilha Radical é o trekking. “Cada vez mais gente está descobrindo os benefícios da caminhada para a saúde e o trekking é uma forma de sair da rotina”, afirma Ricardo Fonseca Oliveira, proprietário da agência. Água Os esportes de aventura praticados na água são as principais atrações oferecidas pela Eco Pardo, de Caconde, cidade a 45 quilômetros de Poços. A operadora aproveita o único trecho de corredeiras do rio Pardo, que corta o município, para a prática do rafting e do boia-cross. É um percurso de

aproximadamente 7 quilômetros que pode ser feito o ano todo, inclusive em épocas de pouca chuva, pois o nível da água é regulado pela usina hidrelétrica existente na cidade. A escalada esportiva faz parte da programação oferecida pela Prata Expedições Ecoaventura, de Águas da Prata, município distante 35 quilômetros de Poços. A atividade é realizada em rochas que variam de 15 a 30 metros de altura e é indicada para qualquer pessoa, até para marinheiros de primeira viagem. “Antes de cada aventura, a pessoa vive um pouco daquilo que está por vir”, explica Rafael Eduardo Gomes, proprietário da Prata Expedições. Outra modalidade muito badalada no município vizinho é a exploração de cachoeiras. Essa prática pode demorar entre três e cinco horas, dependendo do percurso escolhido, exige concentração e equilíbrio, estimula uma série de grupos musculares e, claro, é muito refrescante. “Nesta época de calor, é a atividade mais procurada”, conta Rafael. Para cada atividade existem recomendações diferenciadas que são dadas pelos profissionais das agências de turismo de aventura, mas nunca é demais lembrar que todas exigem disposição, uso de roupas e calçados confortáveis e de protetor solar. Também não se deve esquecer de levar água e uma câmara fotográfica para registrar as belezas naturais. Crescimento Apesar dessa boa oferta, o esporte de aventura é pouco procurado por moradores da região. A maioria dos praticantes ainda é turista. “O morador da cidade (de Poços) não sabe que existem essas opções tão perto dele. Mas, aos poucos, essa realidade está mudando”, diz Ricardo, da Trilha Radical. Para Rafael, da Prata Expedições, a região está começando a conhecer a capacidade da natureza local para os esportes de aventura. “Muitos ainda acreditam que têm de viajar para longe para ter exatamente o que oferecemos aqui, mas a propaganda boca a boca tem ajudado no crescimento do setor entre os moradores locais.”

Glossário da adrenalina Trekking - Caminhada por trilhas que, em geral, passa por caminhos tortuosos dentro da mata e por pedras e rios Rafting - Descida de bote em corredeiras de rios Boia-cross - Descidas em grandes boias redondas pelo leito de corredeiras de rios Arvorismo - Travessia em trilhas, passarelas e redes suspensas por cordas e cabos de aço nas copas das árvores ou em estruturas especiais Rapel - Descida com corda e equipamentos especiais de desníveis naturais ou artificiais, como rochas, paredões e pontes

Cascading – Descida com técnicas verticais pelo leito de cachoeiras Tirolesa - Travessia entre dois pontos de grande desnível por uma corda esticada entre eles Paraglider – Modalidade de voo livre onde o praticante decola de uma montanha com equipamento parecido com um paraquedas Slackline – Fita de equilíbrio Paintball – Esporte de combate, individual ou em equipes, que usa equipamento de ar comprimido que atira bolas com tinta colorida


ESPORTE LACRÈME 41

Trilha Radical Turismo e Aventura Trekking Pedra do Elefante (Andradas) Duração: 7 horas Nível de dificuldade: médio (exige bom condicionamento) Grupos: a partir de uma pessoa Preço: R$ 140 por guia (até 4 pessoas); não inclui transporte Trekking Pedra Branca (Caldas) Duração: 7 horas Nível de dificuldade: médio (exige bom condicionamento) Grupos: a partir de 1 pessoa Preço: R$ 140 por guia (até 4 pessoas); não inclui transporte Rapel Pedra Balão (Poços de Caldas) Duração: 6 horas Nível de dificuldade: fácil Grupos: a partir de 2 pessoas Preço por pessoa: R$ 80 Cavalgada (Poços de Caldas) Duração: 1 hora Nível de dificuldade: fácil Grupos: a partir de 2 pessoas Preço por pessoa: R$ 45 Rafting (Caconde) Duração: 7 horas Nível de dificuldade: moderado (não precisa saber nadar) Grupos: a partir de 6 pessoas Preço por pessoa: R$ 110 Vôo duplo (Poços de Caldas) Duração: 20 minutos (pode variar de acordo com as condições do tempo) Nível de dificuldade: fácil Grupos: a partir de 1 pessoa Preço por pessoa: R$ 140; não inclui transporte

Atividades no Centro de Aventura* Parede de escalada – R$ 7 por pessoa (duas subidas) Tirolesa – R$ 12 por pessoa Arvorismo – R$ 30 por pessoa Arco e flecha – R$ 15 (15 minutos); R$ 25 (30 minutos) e R$ 35 (1 hora) Slackline – R$ 15 (10 minutos); R$ 25 (30 minutos) e R$ 35 (1 hora) Paintball – R$ 30 por pessoa (100 bolinhas inclusas) *Atividades realizadas no Centro de Aventura localizado no Hotel Monreale Resort, a 10 minutos do Centro de Poços de Caldas e aberto a qualquer pessoa interessada.


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Prata Expedições Ecoaventura* Circuito das Cachoeiras – Trekking 7 Quedas Duração: 5 horas Nível de dificuldade: moderado a pesado Grupos: 2 a 10 pessoas Preço por pessoa: R$ 50 Circuito das Cachoeiras – Trilha do Serrote Duração: 4 horas Nível de dificuldade: moderado Grupos: 2 a 10 pessoas Preço por pessoa: R$ 60 Trekking – Mirante São Miguel Duração: 3 horas Nível de dificuldade: moderado Grupos: 2 a 10 pessoas Preço por pessoa: R$ 50 Cascading Cachoeira do Coqueiro Torto (60 metros) Duração: 5 horas Nível de dificuldade: moderado Grupos: 2 a 10 pessoas Preço por pessoa: R$ 80 Cascading Cachoeira 3 Batalhas (45 metros) Duração: 5 horas Nível de dificuldade: moderado Grupos: 2 a 10 pessoas Preço por pessoa: R$ 100 Rapel + Tirolesa Cachoeira Cascatinha Duração: 3 horas Nível de dificuldade: moderado Grupos: 2 a 20 pessoas Preço por pessoa: R$ 80 Escalada Garganta do Silêncio (30 metros) Duração: 4 horas Nível de dificuldade: moderado Grupos: 2 a 10 pessoas Preço por pessoa: R$ 80 Escalada Pedra do Boi (15 metros) Duração: 4 horas Nível de dificuldade: moderado Grupos: 2 a 10 pessoas Preço por pessoa: R$ 80 *Todas as atividades são realizadas em Águas da Prata


ESPORTE LACRÈME 43

Eco Pardo Turismo e Aventura* Rafting Duração: 4 horas Nível de dificuldade: moderado Grupos: 3 a 48 pessoas Preço por pessoa: R$ 68 Boia-Cross Duração: 4 horas Nível de dificuldade: elevado Grupos: 4 a 18 pessoas Preço por pessoa: R$ 68 Trilha do Pontal (com rapel opcional) Duração: 4 horas Nível de dificuldade: elevado Grupos: 4 a 40 pessoas Preço por pessoa: R$ 45 (praticando ou não o rapel) Cascading Cachoeira Cubatão ou Santa Quitéria (47 metros) Duração: 7 horas Nível de dificuldade: baixo Grupos: 3 a 30 pessoas Preço por pessoa: R$ 70 Cavalgada Sítio Macuco Duração: 2 a 4 horas Nível de dificuldade: baixo Grupos: 2 a 9 pessoas Preço por pessoa: R$ 45 *Todas as atividades são realizadas em Caconde e os preços incluem transporte

Agende sua aventura Trilha Radical Turismo e Aventura Rua Ceará, 495, Centro, Poços de Caldas Tels.: 35 3721-7510 e 35 9188-9596 Prata Expedições Ecoaventura Avenida Armando Salles de Oliveira, 93, Centro, Águas da Prata Tels.: 19 3642-1079 e 19 9651-9579 Eco Pardo Turismo e Aventura Praça Ranieri Mazzilli, 132, Caconde Tels.: 19 3662-1801 e 19 3662-1766


44 LACRÈME PSIU!

por Fabio Riemenschneider*

Sobre ídolos

D

esde os mais remotos tempos o homem busca compreender o que se passa na natureza, com sua vida e sua existência. Desenvolveu, por isso, sistemas de crenças para organizar tudo o que lhe era desconhecido. As religiões animistas identificavam os elementos da natureza com o divino, e assim a adoração ao sol, à lua, à chuva e aos animais permitia ao homem um canal de comunicação e também a sensação de proteção. Nas religiões politeístas alguns elementos anímicos ainda persistem, mas a ênfase maior é nas figuras humanas que representam algumas das principais características e paixões humanas. As grandes religiões monoteístas dotaram o divino de qualidades sobre-humanas, e condenam qualquer adoração que se contraponha a seus ritos e dogmas. De certa forma, cada ser humano repete em sua vida ordinária (por não ser extraordinária, que fique claro) tal desenvolvimento. As primeiras relações objetais são muito mais intensas do que o mero contato entre a criança e seus pais. Os pais têm papel fundamental na formação do universo infantil, e são toda a referência que a criança tem de mundo, vida, dor, medo, alegria... Enfim, os pais são o sustentáculo de tudo que cerca a criança. A partir desses referenciais a criança organiza suas identificações com seus pais, afirmando ou negando suas posições. Com o passar do tempo, a amplitude de relacionamentos da criança cresce, e consequentemente seus vínculos sociais. Além de outros membros da família, aparecem os amigos, colegas e a escola; isso implica em novas necessidades, novas construções identitárias e na busca por novos referenciais. Os heróis com seus superpoderes, que os pais não possuem, refletem algumas das soluções mágicas infantis para seus problemas com um mundo bem maior do que a proteção dos pais é

capaz de oferecer. Tornar-se o mais forte, o mais veloz ou ser invisível é quase uma necessidade de sobrevivência num mundo hostil; tais fantasias explicitam a eterna batalha que é a infância. Na adolescência constata-se que nem os pais nem os heróis têm superpoderes. A sensação de abandono e de perda é real. O questionamento – a valores e pressupostos adultos – talvez seja a mais aparente das características adolescentes. A identificação com ídolos contestadores que apaziguam tal angústia é, portanto, um processo rápido. O radicalismo, seja ele qual for, encontra combustível nessa situação. O ídolo é construído a partir de nossas necessidades e não se pertence, já que basicamente é constituído por nossas projeções e desejos. Tendemos, assim, a adorar desde bezerros e relíquias sagradas até boys-bands. A etimologia da palavra ídolo mostra que o termo grego eídólon indica uma reprodução de traços ou uma imagem refletida concebida pelo espírito. Ou seja: um reflexo daquilo que buscamos em nós mesmos. Não existem bons ídolos ou maus ídolos, já que tal construção é baseada em necessidades prosaicas do homem. O psicanalista inglês Donald Winnicott descreve certos objetos que representam a presença das figuras que nos dão segurança, quando essas se encontram ausentes. Os Objetos Transicionais permitem à criança suportar a ausência dos pais, por simbolizá-los, por exemplo, em fraudas e bichos de pelúcia; isso tem sido bem explorado em histórias em quadrinhos como Mônica e o coelho Sansão, Calvin e Haroldo e Linus com seu inseparável cobertor. Com o tempo, o uso de Objetos Transicionais é abandonado e, quando isso não ocorre, pode-se dizer que não foi criada uma identidade suficientemente segura para suportar as pressões cotidianas. Esse é o mecanismo para a produção de ídolos: oferecer condições para suportar nossas fraquezas. A cultura pop tem sido pródiga na produção de ídolos e isso se dá pela capacidade que esse universo tem de se atualizar e inovar, tornando-se uma das mais bem sucedidas indústrias da atualidade. Infelizmente, o mesmo tem ocorrido na política, religião, na psicologia, filosofia e em vários setores da vida humana. Cuidado com seus ídolos, pois eles são exatamente o que você espera deles e isso é potencialmente perigoso.◄

*Fabio Riemenschneider é psicólogo, professor universitário, conferencista, escritor, debatedor do Jornal do Sul de Minas e doutorando em Psicologia pela PUC-Campinas. É autor de Da Histeria... Para Além dos Sonhos (Editora Casa do Psicólogo, 2004).


LACRÈME 45


46 LACRÈME NEPE

U Cuidado com o que você educa: você pode conseguir! por Roberta Ecleide Kelly*

*Roberta Ecleide Kelly é psicanalista, doutora em Psicologia Clínica, pós-doutora em Filosofia da Educação, coordenadora do NEPE. Informações sobre o NEPE (www.nucleodepsicanalise.com.br) às quartas-feiras, das 13h às 18h, pelo tel.: 35 3721-4469

m adulto chega aflito com uma filmagem: crianças de 4 anos destroem o bolo de aniversário na festa de um colega. A cena é dantesca, demorada, quase vinte minutos. Depois de me mostrar, acreditando que estava prestando um ótimo serviço ao fazê-lo, exclamou horrorizado: “Veja só como estão as crianças de hoje!”. Ficaram-me, de imediato, as seguintes questões: onde estavam os adultos? Quem filmou não interviu? Por quê? Meu colega adulto não soube responder, situação ainda mais preocupante. Se a festa era de crianças de 4 anos, elas não estavam sozinhas. Na filmagem, era possível ver os adultos sentados, conversando, rindo, mas não se envolvendo com a destruição. Ora, se as crianças estão como estão, há adultos que, de seu lugar de admiração ou horror, tornam-se espectadores passivos e, curiosamente, depois se assustam com o resultado. A sociedade do espetáculo, tantas vezes denunciada, chega, neste breve relato, a outro exemplo. Vamos assistir, pois é melhor ver de longe, sem implicação, sem responsabilização. Implicar-se e responsabilizar-se, verbos reflexivos que exigem a participação pessoal, não aceitam esquivas nem desculpas vagas – “eu não sabia...”. De certa maneira, as queixas dos adultos a respeito do comportamento das crianças denotam algum espanto, uma surpresa, como se as ações destas fossem independentes do comando daqueles. São os adultos que educam as crianças. É na interação relacional cotidiana que as personalidades se formam. Não é o videogame, a televisão ou o canal educativo que são os responsáveis por essa formação. E o miudinho de cada dia, como dizia meu pai, de acordo com as características de cada comunidade humana. Destaco, como exemplo midiático, o documentário Babies, de 2010, dirigido por Thomas Balmès. Quatro crianças criadas em comunidades diferentes, em países diferentes, desde dias antes do parto até começarem a andar. Chama a atenção a disparidade de condições de uma comunidade para a outra e, sem dúvida, encantamo-nos com as descobertas das crianças. Mas, olhando detidamente, o que faz a diferença – e, paradoxalmente, é igual em todos – é a presença e supervisão dos adultos. Os adultos devem assumir mais seus papéis de condutores, orientadores e supervisores das crianças e dos adolescentes. Não só os seus. Já que não há modelo ideal de educação, e que toda boa educação falha, é preciso ter mais claros os limites e parâmetros do que pode e do que não pode. Colocar limites nas crianças e adolescentes não é simplesmente ficar cerceando, nem sendo chato (embora eu concorde: educar é muito chato) e falar “não” o tempo todo. Colocar limites é ser claro: sim é sim. Não é não. E estes limites devem ser colocados por alguém presente, implicado e responsável. Há surpresas demais na educação dos pequenos, pois a vida dos humanos é cheia de imprevistos e erros. Mas há surpresas evitáveis. Outras, contornáveis. Não há modelo educacional. A vida não tem gabarito e nenhum sistema über-humano vai nos conferir e atestar se estamos certos ou não. É preciso fazer o melhor possível e bancar as falhas. Para isso, há que se estar presente. Nesse sentido, sim, um erro evitável: não se terceiriza a educação dos jovens. Acusar a mídia, a internet, o fim dos tempos são estratégias irresponsáveis dos que se sentem fragilizados nesta empreitada. Muitos de nós, adultos, não permitiríamos a destruição do bolo, nem fariam desta cena de destruição um espetáculo. Ainda bem.◄


LACRÈME 47


48 LACRÈME TURISMO

Wine spa

em

Pocinhos

texto Valéria Cabrera fotos Divulgação

O

Grand Hotel Pocinhos, em Caldas, considerado o mais antigo em operação ininterrupta no Brasil, enfrenta sua reforma mais significativa desde 1886, quando surgiu como uma modesta hospedaria. Além da revitalização estrutural e da renovação do mobiliário, o hotel muda o conceito operacional e passa a ser um wine spa. Na prática, isso significa que ele oferecerá tratamentos estéticos e de beleza com produtos feitos à base de uva, inclusive, é óbvio, o vinho. Para tantas mudanças, o investimento é de R$ 3 milhões, valor financiado pelo Fungetur (Fundo Geral do Turismo), uma linha de crédito da Caixa Econômica Federal. Após a reinauguração, prevista para abril, o empreendimento muda o nome para Wine Spa Grand Hotel Minas. Elias Guimarães Borges, proprietário do empreendimento, explica que o conjunto de obras é necessário para atender às exigências do mercado. “Poderemos oferecer mais conforto aos hóspedes, mas sem perder as características históricas do prédio.” Nos quartos, por exemplo, serão instaladas camas nos padrões queen e king size, além de frigobares, telefones e aparelhos de televisão com tela plana. O hotel também ganhará uma piscina coberta e aquecida e uma área de spa, onde serão oferecidos banhos de imersão e massa-

gens. “Todos os produtos usados nos tratamentos corporais e faciais terão a uva como base, fruta muito cultivada na região de Caldas e que é um antioxidante natural”, afirma Elias. A viticultura é uma atividade tradicional no Sul de Minas Gerais. O estabelecimento contará ainda com dois restaurantes, ambos abertos ao público. Um servirá pratos da tradicional cozinha mineira e, o outro, receitas do cardápio internacional. Tudo poderá ser harmonizado com vinhos de uma adega própria. A capacidade do espaço para convenções também será ampliada, de 100 para 180 pessoas. “A intenção também é investir nesse segmento”, explica o proprietário. Localização O hotel está situado em Pocinhos do Rio Verde, distrito de Caldas, município com pouco mais de 13,5 mil habitantes e que tem Poços de Caldas como um de seus vizinhos. É cercado por montanhas que abrigam uma série de cachoeiras e corredeiras. A Pedra Branca, a 1,7 mil metros de altitude, é um dos pontos mais visitados por quem aprecia caminhadas rústicas. Pocinhos do Rio Verde abriga ainda o Balneário Doutor Reinaldo de Oliveira Pimenta, onde o visitante pode fazer banhos de imersão em águas sulfurosas.


TURISMO LACRÈME 49

· Elias Guimarães Borges, o proprietário: ‘Mais conforto para os hóspedes’; obra vai preservar as características históricas do prédio; na página ao lado, a piscina que receberá cobertura e aquecimento

No começo, uma casa de pau-a-pique A história do Grand Hotel Pocinhos começou em 1886, quando o italiano Nicolau Tambasco estabeleceu-se em Pocinhos do Rio Verde e abriu uma pensão para atender às demandas de tropeiros e viajantes que passavam pelo local. Era, então, uma construção de pau-a-pique. Foi Tambasco que captou a primeira fonte de água sulfurosa local, fato que fez sua pequena hospedaria prosperar. Estudos realizados na época comprovaram a eficácia medicinal das águas e, assim, pessoas de várias localidades do país passaram a visitar Pocinhos e, consequentemente, o hotel. Em 1911, o estabelecimento foi vendido para Suzane Pellissier, uma francesa que também chegou em Pocinhos atraída pela fama das águas. Madame Suzane, como era chamada por todos, e seu companheiro José de Paiva Oliveira, engenheiro mineiro que explorava zircônio em Caldas, com-

praram, reformaram e ampliaram o Grand Hotel. O hotel passou a ter um pequeno balneário, restaurante e quartos considerados sofisticados para o padrão da época. Os tratamentos eram ministrados de acordo com a prescrição de seus próprios médicos. Entre os hóspedes famosos da época estão Plínio Barreto, Arnaldo Vieira de Carvalho, Menotti Del Picchia, rainha Silvia da Suécia (quando criança) e Getúlio Vargas, hóspede frequente do quarto número 7. Madame Suzane esteve à frente do empreendimento por mais de 30 anos e deixou Paulo Pellissier, seu sobrinho, como sucessor. Em 1986, a família Pellissier vendeu o Grand Hotel Pocinhos para o atual proprietário, Elias Guimarães Borges. Na época, o prédio passou por nova reforma porque se encontrava em péssimo estado de conservação.◄


50 LACRÈME TURISMO

Florianópolis: texto Valéria Cabrera fotos Divulgação

e muito mais

· Ponta das Canas, uma das praias do norte da ilha e muito frequentada por famílias e turistas estrangeiros

O

verão é a melhor temporada para conhecer e aproveitar as belezas naturais de Florianópolis, capital de Santa Catarina. A ilha é paradisíaca, cercada por 43 praias de tirar o fôlego, além de dunas que se movem com os ventos, cascatas, lagoas e riachos de águas límpidas. São tantas as opções de passeio que mesmo quem já conhece a cidade sempre terá novidades para incluir em seu roteiro de viagem. Partindo do Centro de Floripa, todos os caminhos levam ao mar. Pela avenida Beira Mar Norte, chega-se às praias do Norte e do Leste da ilha. As do Norte – Jurerê, Jurerê Internacional, Daniela, Canasvieiras, Ponta das Canas e Lagoinha –, com águas calmas e mornas, são mais frequentadas por pessoas de classe média alta, famílias com crianças e turistas estrangeiros. Em suas baías tranquilas e protegidas dos ventos, ancoram lanchas, veleiros e iates de todos os portes. Na costa Leste, nas praias de Lagoinha do Leste, Ingleses, Santinho e Brava, está o maior número de veranistas. A praia dos Ingleses é praticamente uma cidade. Tem vida noturna própria com bares, restaurantes e danceterias sempre lotados. A praia do Santinho ficou conhecida pelo mega empreendimento Costão do Santinho, um dos maiores resorts do país. Já a praia Brava é reduto de descolados e celebridades, de ministros a artistas

de televisão. As praias do Sul de Florianópolis estão fora do circuito dos grandes hotéis, mas concentram uma variedade de pousadas charmosas. A praia do Pântano é um dos lugares mais exóticos da ilha. É lá que fica o restaurante do Arante, que ocupa uma antiga casa açoriana e serve frutos do mar. Em suas paredes estão fixadas milhares de mensagens deixadas pelos visitantes. Do Pântano do Sul parte uma trilha até a praia da Lagoinha do Leste. No trajeto, contato direto com a vegetação nativa, riachos, fauna e flora locais. Com um pouco de sorte, dá até para ver as baleias francas nadando na baía com seus filhotes. Mas, no verão, Florianópolis não é só praia. Vários esportes radicais são praticados na ilha. Vão do vôo livre e sandboard nas imensas dunas da Joaquina e Santinho até trilhas na mata, sobre os costões, por vilas de pescadores, cachoeiras, inscrições rupestres e paradas para observação da flora e fauna nativas. Tem ainda passeios de barcos ou escunas em roteiros variados que incluem fortalezas do século 17 e as ilhas onde vivem aves e animais marinhos. Caso ainda tenha tempo, visite o centro histórico, onde está localizada a maioria dos museus da cidade. Também vale a pena conhecer o Mercado Público. É lá que fica o Box 32, um bar/restaurante que serve frutos do mar típicos da ilha e uma grande variedade de bebidas.

foto Beto Westphal

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praias


TURISMO LACRÈME 51

foto Iolita Cunha

· Lagoa da Conceição, referência fundamental para moradores e turistas

A Lagoa é encantada

É no Centro da ilha que fica um dos mais belos cartões postais da cidade: a Lagoa da Conceição. O local, que recebeu uma das primeiras povoações da ilha, é hoje um dos points mais badalados de Florianópolis. É também síntese dos contrastes da capital, o que dá um charme todo especial ao lugar. Abriga descendentes de açorianos, pessoas de vários locais do Brasil e do mundo, surfistas, executivos, pescadores e artistas. Oferece desde botecos até restaurantes de categoria internacional. Também dividem território mansões e barracos de pesca, boates e clubes, lanchas sofisticadas e baleeiras artesanais. Pela sua localização – os caminhos para as inúmeras praias se cruzam na Lagoa – e sua boa infraestrutura, o local é uma ótima opção para hospedagem. Fica bem próxima a duas praias badaladas da ilha, a Joaquina, muito frequentada por surfistas, e a Mole, conhecida como a praia dos corpos sarados. Para badalar ou simplesmente curtir a noite, o visitante não precisa ir longe. Uma série de bares, restaurantes e casas noturnas que funcionam até o amanhecer ficam na Lagoa da Conceição. O local também tem um comércio próprio, com shoppings e feiras de artesanato. Do alto do Morro da Lagoa tem-se uma linda vista panorâmica da região.


· Fortaleza São José da Ponta Grossa; abaixo, praia da Armação; no pé da página, a paradisíaca praia de Pântano do Sul

foto Qlitoral

foto Qlitoral

52 LACRÈME TURISMO

foto Nicko Del Guercio

Conheça a história A Ilha de Santa Catarina foi uma das primeiras localidades do litoral Sul do Brasil a ser ocupada. Como forma de proteção, os portugueses construíram fortes e fortalezas ao redor da ilha e depois estimularam a imigração açoriana para garantir o território sob seu domínio. As fortalezas mais antigas, erguidas entre 1738 e 1744, são Santa Cruz de Anhatomirim, Santo Antônio de Ratones e São José da Ponta Grossa, que formavam um sistema de defesa triangular ao Norte. Ao sul, foi construída a fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, na Ilha de Araçatuba. Nas três décadas seguintes, para dar mais proteção à localidade e controlar o movimento de contrabando, foram construídos os fortes de São Francisco Xavier, Sant’Ana, São Luiz, Santa Bárbara, Nossa Senhora da Conceição da Lagoa (Lagoa da Conceição), São João (continente) e a Bateria de São Caetano, junto a fortaleza de São José. Apesar de bem fortificada, a Ilha de Santa Catarina foi tomada em 1777 pelos espanhóis, que a atacaram com 115 embarcações de guerra e mais de 800 canhões. Um ano depois, o comando da ilha voltou para as mãos portuguesas por força do Tratado de Santo Ildefonso. Parte desses fortes e fortalezas foi restaurada e está aberta à visitação pública. O Forte Santana, construído entre 1761 e 1765, é o mais acessível devido à proximidade do Centro (avenida Beira Mar, próximo à cabeceira da Ponte Hercílio Luz). Dele descortina-se um belo panorama formado pelo edifício, o canal entre as baías Norte e Sul e a Ponte Hercílio Luz. A Fortaleza de São José da Ponta Grossa, construída em 1740, também tem fácil acesso. Fica na praia de Jurerê (rodovia SC 401, km 13). Já as outras fortalezas abertas à visitação têm acesso pelo mar. A de Anhatomirim, construída entre 1739 e 1744, fica na ilha de mesmo nome. O acesso é feito por baleeiras que saem das praias de Governador Celso Ramos (continente) ou escunas na praia de Canasvieras. A Fortaleza Santo Antônio, construída em 1740, fica na Ilha de Ratones Grande. Escunas partem da praia de Canasvieras e baleeiras de Sambaqui.◄


SAÚDE LACRÈME 53

Maisatividade física; notas mais altas na escola

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studo feito na Universidade Vrije, de Amsterdam, mostra que crianças que se exercitam mais, seja no intervalo entre as aulas, no caminho para a escola ou em aulas de educação física, tendem a apresentar melhor desempenho escolar. Segundo os pesquisadores, isso pode ocorrer porque crianças se comportam e se concentram melhor quando se exercitam, ou porque a atividade aumenta o fluxo sanguíneo para o cérebro e melhora o humor de quem a pratica. Para chegar a esta conclusão, foram analisadas 14 pesquisas feitas nos Estados Unidos, Canadá e África do Sul que comparavam a atividade física dos estudantes com seus desempenhos em provas de matemática, linguagem, raciocínio lógico e memória. A maior pesquisa foi realizada com 12 mil crianças e adolescentes americanos, que tinham entre 12 e 18 anos. Eles foram acompanhados por até dois anos. O estudo mostra, segundo os pesquisadores, que as escolas devem priorizar tanto os exercícios físicos quanto os aspectos acadêmicos e que as famílias devem ter a mesma atitude em casa. Das 14 pesquisas analisadas, dez são de observação, ou seja, os pesquisadores fazem as perguntas aos pais, professores e aos próprios estudantes sobre o grau de atividade física e depois os acompanham em seu desempenho acadêmico. Nas outras, um grupo de crianças ganhou um tempo extra para aulas de educação física e teve seus resultados em testes comparados com os de um grupo que manteve o mesmo tempo de atividade.◄


54 LACRÈME ENTREVISTA: MARIA HELENA BRAGA

Trabalho de base texto Valéria Cabrera foto Fernanda Buga

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ducadora há 48 anos, Maria Helena Braga ganhou popularidade como secretária de Educação de Poços de Caldas, cargo que assumiu em 2009. Na entrevista que concedeu para a LACRÈME, Maria Helena faz um balanço dos três anos à frente da Pasta e conta qual é a prioridade para 2012. Afirma ainda que, apesar de todo reconhecimento público, não irá se candidatar nas próximas eleições municipais, no fim do ano. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

· ‘A Secretaria de Educação de Poços de Caldas tem uma equipe de excelência’

LACRÈME – A senhora ocupa o cargo de secretária de Educação desde o início da administração do prefeito Paulo César Silva, em 2009. Quais foram as ações mais importantes na área nesses três anos? MARIA HELENA BRAGA – Posso listar pelo menos três grandes ações que ajudaram e elevar o nível da nossa educação. Uma delas é a distribuição gratuita do material escolar para toda a rede escolar, trabalho que começou a ser feito em 2010. Também posso falar da inclusão de cuidadoras em salas de aula que têm alunos deficientes. E, por fim, a criação do Cedet (Centro de Desenvolvimento de Talentosos), que atende alunos que apresentam altas habilidades. Essas ações, acredito, são as mais importantes, mas existem várias outras que ajudaram nossa educação a ter a qualidade atual, reconhecida pela população. Digo isso porque sou constantemente abordada por telefone, por e-mail e nas ruas. As pessoas me parabenizam pelo trabalho na Educação. LACRÈME – Como funciona o programa de inclusão de alunos deficientes na escola regular? Qual é o papel das cuidadoras? MARIA HELENA – As unidades de educação especial indicam os alunos que têm condições de frequentar a escola regular. Eles são matriculados


ENTREVISTA: MARIA HELENA BRAGA LACRÈME 55 na unidade mais próxima de suas casas. Além da professora, esses alunos contam com a ajuda de um profissional que chamamos de cuidador. Hoje são 58, mas esse número pode aumentar à medida que outros estudantes deficientes sejam incorporados à escola regular. Esse cuidador dará atenção especial ao aluno deficiente. Eu, como professora de tantos anos, sei como é difícil um professor dar atenção a 25, 30 alunos, ainda mais quando um deles precisa ardorosamente de atenção. Foi por isso que implementamos o trabalho dos cuidadores. Começamos com estagiários, mas, como havia muita rotatividade, a Administração contratou funcionários para a função. LACRÈME – A senhora ressaltou a criação do Cedet como uma das ações importantes de seu trabalho. Como funciona? MARIA HELENA – O centro foi inaugurado em dezembro de 2010 e atende aos alunos que apresentam altas habilidades. Pelo método desenvolvido pela psicóloga Zenita Guenther, o aluno permanece na escola regular com os colegas da mesma idade e trabalha no Cedet em horário não escolar, participando de grupos com outras crianças ou adolescentes que também possuem altas habilidades. LACRÈME – A forma com que o material escolar tem chegado aos alunos é uma novidade. Qual o motivo da mudança? MARIA HELENA – Em 2010 e 2011 foram realizadas licitações públicas para a compra do material, que era entregue diretamente aos alunos das escolas. Mas o prefeito (Paulo César Silva) queria que o dinheiro gasto no material ficasse na cidade. Foi enviado então um Projeto de Lei para a Câmara (nº 8.807/2011), aprovado por unanimidade, para que fossem entregues vales para as famílias, no valor do kit necessário. Esses vales são trocados pelo material escolar em papelarias e outros estabelecimentos que se interessaram em participar do programa e que foram cadastrados na Prefeitura. LACRÈME – Mas esse sistema não elevou o valor gasto pela Prefeitura? MARIA HELENA – De jeito nenhum. Ficou muito mais barato e a qualidade melhorou. Antes de enviar o projeto para a Câmara houve uma negociação muito bem feita com as empresas interessadas em participar. Para se ter ideia, o kit mais caro, que é para os alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, sai por R$ 65. E o mais barato, para o berçário, custa R$ 15. LACRÈME – E para este ano, quais são os projetos? MARIA HELENA – Acredito que a principal ação será a abertura de três berçários na região central da cidade para o atendimento de crianças de zero a 3 anos. Temos hoje um déficit de vagas nessa faixa etária que está entre 300 e 400. Já abrimos uma nova escola de educação infantil em 2011, no Jardim Kennedy, que já acomodou algumas dessas crianças. Com os três novos berçários, daria para atender todas as crianças que hoje estão na lista de espera. Não posso falar em zerar o déficit, seria utopia, pois é grande o número de crianças que nasce a cada dia na cidade. Seria para atender pelo menos as mães mais angustiadas e que já aguardam vagas há algum tempo. Os detalhes do projeto, como onde as unidades ficarão e quantas vagas terão ainda serão anunciados pelo prefeito. Também serão construídos três CEIs (Centros de Educação Infantil) nos bairros Marco Divisório, Dom Bosco e Jardim Itamaraty, para atender crianças de zero a 5 anos. LACRÈME – Por que a região central da cidade foi escolhida para receber os novos berçários? MARIA HELENA – Escolhemos o Centro para abrigar as novas unidades

para que as mães que trabalham na região possam deixar seus filhos no berçário antes de seguirem para seus locais de trabalho. É uma forma de otimizar as vagas. Aproveito para avisar aos pais que o cadastro para as vagas é feito somente na Secretaria de Educação. Antes era feito nas próprias unidades, mas resolvemos mudar porque muitas vezes uma mesma criança era cadastrada em mais de uma escola. Por meio de um cruzamento de dados descobrimos crianças esperando vagas em até sete unidades. Por isso resolvemos centralizar o trabalho. LACRÈME – Hoje são quatro escolas de ensino integral na rede municipal. Existem projetos para a ampliação desse programa? MARIA HELENA – Nossa proposta é sempre ampliar o que está dando certo. Hoje existe período integral em três escolas do Programa Mais Educação, do Governo Federal, e em uma que funciona com verba municipal. Vamos ampliar esse número por meio do Recriança, um programa alternativo que faz parte do PMJ (Plano Municipal da Juventude) e funciona no contraturno da escola, ou seja, quem vai para a aula de manhã frequenta o Recriança à tarde e vice-versa. O que vamos fazer é anexar o Recriança, que hoje tem 13 núcleos e 1.130 matriculados, à unidade de ensino que está mais próxima. Com isso teremos mais escolas integrais. No Recriança, o jovem tem orientação de estudo e iniciação ao esporte e à cultura, por meio de arte, teatro e dança. LACRÈME – Qual a avaliação da senhora sobre o trabalho da Secretaria da Educação? MARIA HELENA – Conseguimos um resultado extremamente satisfatório. Não estou na Secretaria por motivação política. Estou realmente por opção e pelo respeito que tenho à proposta do Governo Municipal. O prefeito tem uma política de respeito à educação, pois nenhum secretário faz nada sem o respaldo do prefeito. Se a Educação tem hoje esse reconhecimento intenso da comunidade, não é apenas por mim, mas por causa da equipe que formei, que tive a liberdade de montar. É uma equipe de excelência. Os nossos professores, diretores e especialistas têm compromisso com o que fazem. São raras as exceções. A meta da Secretaria é voltada para o sucesso do aluno e para a melhoria do trabalho profissional. LACRÈME – Como é feito esse trabalho com os profissionais? MARIA HELENA – Trabalhamos a formação do professor por meio de cursos. Durante todo o ano letivo são oferecidos cursos para professores que são convocados e outros em que os professores são convidados. Procuramos abordar todos os assuntos que percebemos necessários e também aqueles indicados pelos profissionais. Para isso, temos um Centro de Referência do Professor, que fica na rua Rio de Janeiro. No local é trabalhado desde a capacitação para a tecnologia, com os computadores, até a metodologia de trabalho. LACRÈME – A senhora disse que tem grande reconhecimento da população por causa do trabalho desenvolvido na Secretaria de Educação. A senhora tem pretensões políticas? A senhora pretende se candidatar a algum cargo nas próximas eleições? MARIA HELENA – Não. Minha única pretensão política é apoiar o prefeito Paulinho na reeleição. Acho que ele precisa de mais quatro anos para solidificar seus programas. Reconheço sua administração, que é voltada para o ser humano. Ele tem, por isso, meu apoio incondicional para que seja reeleito.◄


56 LACRÈME ARTES PLÁSTICAS

naturezae espírito texto Ricardo Ditchun fotos Divulgação

U

ma oportunidade rara para conhecer uma amostra relevante da arte de Joaquín Torres García. É esse o principal apelo da exposição que a Pinacoteca do Estado de São Paulo abriga até 26 de fevereiro. Joaquín Torres García: Geometria, Criação, Proporção reúne 150 obras do artista uruguaio, um entre os importantes protagonistas do construtivismo mundial, a aventura estética surgida no começo do século 20, na Rússia, e que é, em grande medida, responsável pelo advento das vanguardas modernas. Além de pinturas, a técnica mais conhecida, a mostra paulistana exibe desenhos, afrescos, aquarelas, colagens, brinquedos, objetos e documentos. A abrangência temporal é tão ampla como o acervo. Vai de 1913 a 1943, com a produção europeia, norte-americana e uruguaia de Torres García. Engloba, portanto, o corte abrupto que o artista provoca, em 1929, em sua trajetória: do figurativismo, influenciado pela estética mediterrânea, pelos cartelistas franceses e pelo Noucentisme catalão, ao abstracionismo, primeiro com uma interpretação pessoal do cubismo e, depois, em definitivo, com o amplo leque de possibilidades do ideário construtivista. A exposição permite, assim, que o visitante observe uma série de influências mais ou menos marcantes na obra artística e na produção teórica de Torres García. Por exemplo, Antoni Gaudí (1852-1926), Miguel Utrillo (1862-1934), Piet Mondrian (1872-1944), Joseph Stella (18771946), Pablo Picasso (1881-1973), Theo van Doesburg (1883-1931), Georges Vantongerloo (1886-1965), Marcel Duchamp (1887-1968), Rafael Barradas (1890-1929, também uruguaio), Max Ernst (1891-1976), Joan

Miró (1893-1983) e Alexander Calder (1898-1976). O espectador poderá, ainda, confrontar as criações do artista com uma de suas definições para o sentido da arte: “É uma verdade inegável a de que, por trás da aparência do real, existe outra realidade que é a verdadeira e que não é outra coisa senão o que chamamos de espírito”. Escuela del Sur Nascido em 1874, em Montevidéu, capital do Uruguai, Torres García seguiu para a Europa com a família quando completou 16 anos. Até 1934, viveu entre França, Itália e Espanha, países responsáveis por sua formação e amadurecimento. Torres García também experimentou uma curta temporada (1920-1922) nos Estados Unidos e passou seus últimos 15 anos, de 1934 a 1949, em Montevidéu, onde fundou a Escuela del Sur, base para a instituição de um importante e sólido movimento artístico do século 20. O acervo em exposição, segundo Diaz e Jimena Perera, curadores da mostra, diretores do Museu Torres García (www.torresgarcia.org.uy) e bisnetos do artista, pertence a colecionadores públicos e privados de vários países. “Daí o caráter oportuno da mostra”, afirma Jimena.

JOAQUÍN TORRES GARCÍA: GEOMETRIA, CRIAÇÃO, PROPORÇÃO – Mostra individual do artista uruguaio. Na Pinacoteca do Estado de São Paulo (www.pinacoteca.org.br). Praça da Luz, 2, São Paulo. Tel.: 11 3324-1000. De terça-feira a domingo, das 10h às 18h. Ingressos a R$ 6 e entrada franca aos sábados. Até 26 de fevereiro de 2012.


ARTES PLÁSTICAS LACRÈME 57 · Calle de Barcelona, 1917

· Arte constructivo, 1943


58 LACRÈME ROTEIRO POÇOS

Novidades no

Studio 1.3 texto Valéria Cabrera fotos Divulgação

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otografias, peças de tapeçaria e desenhos podem ser vistos na nova exposição do Studio 1.3, em Poços de Caldas. Desde 25 de janeiro, o espaço recebe trabalhos de Danilo Heleno Mônaco, Eduardo Aragão, Robin Seir e Marcelo Abuchalla. De acordo com Abuchalla, idealizador do projeto que trouxe um “braço” do Studio 1.1, de Londres, para Poços de Caldas, o mote principal da exposição é a fotografia, já que foi inaugurada a Sala Sinval Garcia, uma homenagem ao fotógrafo que morreu em outubro passado. Abuchalla, que já atuou no mundo da fotografia, irá expor parte de seu acervo. Também estarão expostos quatro trabalhos de Robin Seir, fotógrafo suíço que mora atualmente na Inglaterra. Os visitantes poderão ainda ver quatro desenhos e um vitral do artista plástico Danilo Heleno Mônaco, de Rio Claro, e peças de tapeçaria de Eduardo Aragão, que confeccionou uma obra inédita para a exposição. Natural de Belo Horizonte, Aragão mora atualmente em Poços de Caldas. Studio 1.3. Avenida João Pinheiro, 351. De quarta a sexta, das 14h às 18h; sábado, das 9h às 12h. Até 5 de março. Entrada franca. Informações: 35 9135-9795 e 35 8437-3031.


ROTEIRO POÇOS LACRÈME 59

Show Nando Reis – O cantor e compositor Nando Reis apresenta o show MTV ao Vivo em Poços de Caldas no dia 17 de março. No repertório, músicas como O Segundo Sol, Relicário, Por Onde Andei e Marvin. No Ginásio Poliesportivo Arthur de Mendonça Chaves, em Poços de Caldas. Dia 17 de março, a partir das 22h. Ingressos: R$ 35 arquibancada e R$ 50 área vip (preços válidos para ingressos do 1º lote).

Exposição Flieg Fotógrafo – Mostra da obra do fotógrafo alemão que registrou o desenvolvimento industrial brasileiro por quatro décadas, de 1940 a 1980, além de ter documentado o design, a arquitetura e a publicidade no Brasil. No Centro Cultural do IMS (Instituto Cultural Moreira Salles) – Poços de Caldas. Rua Teresópolis, 90, Jardim dos Estados. Tel.: 35 3722-2776. De terça a domingo, das 13h às 19h. Até 26 de fevereiro. Entrada e estacionamentos gratuitos. Rogério Barbosa - Fronteira Movediça – Retrospectiva com 50 telas feitas nos últimos dez anos pelo artista plástico Rogério Barbosa, nascido em Pouso Alegre. Seu trabalho mescla a pintura com o desenho, que se afirma ser quase abstrato. No Centro Cultural do IMS (Instituto Cultural Moreira Salles) – Poços de Caldas. Rua Teresópolis, 90, Jardim dos Estados. Tel.: 35 3722-2776. De terça a domingo, das 13h às 19h. Até 26 de fevereiro. Entrada e estacionamentos gratuitos.

Festa de Momo invade praças As praças da área central de Poços de Caldas serão tomadas de alegria durante o Carnaval, que este ano ocorre entre 18 e 21 de fevereiro. No Parque José Affonso Junqueira, sempre das 16h às 19h, os foliões podem se divertir ao som da Banda do Miguelzinho e acompanhar os Bonecos de Olinda e a Charanga dos Artistas. No mesmo local, das 19h às 23h, o Regional do Lira anima a festa. Outro ponto de diversão é a Praça D. Pedro II (dos Macacos). Todos os dias, a partir das 21h, quem se apresenta no palco é o Frevo na Fo-

bica. A tarde de segunda-feira, dia 20, está reservada para o tradicional Banho à Fantasia, que ocorre nas piscinas do Country Club de Poços de Caldas. As escolas de samba entram na avenida Francisco Salles no sábado, dia 18 (grupos A e B) e no domingo, dia 19 (grupo Especial e Blocos Caricatos). A apuração ocorre na segunda-feira, dia 20, às 10h, na antiga Estação Ferroviária Fepasa. As vencedoras voltam a desfilar na terça-feira, dia 21, a partir das 19h.


60 LACRÈME ROTEIRO SP

É tempo de Osesp

A

Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) inicia 2012 com uma série de concertos a preços populares: R$ 15. A pré-temporada, nos dias 24 e 25 de fevereiro, na Sala São Paulo, terá como regente Frank Shipway. No programa, Fantasia Sinfônica Sobre a Mulher sem Sombra e Sinfonia Alpina, Op.64, de Richard Strauss. A temporada 2012 da Osesp terá início em março, de 8 a 10, também na Sala São Paulo. Será a estreia da maestrina norte-americana Marin Alsop como regente titular do grupo. Com David Fray no piano, a Osesp apresentará Terra Brasilis – Fantasia Sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Clarisse Assad. A obra, que será apresentada pela primeira vez, foi encomendada pela Osesp. Na programação também estão Concerto nº 22 para Piano em Mi Bemol Maior, KV 482, de Wolfgang A. Mozart, e Sinfonia nº 5 em Ré Menor, Op.47, de Dmitri Shostakovich. Os ingressos para as duas apresentações já estão à venda. Em 2012, a Orquestra Sinfônica do estado de São Paulo fará 282 apresentações, sendo 124 na Sala São Paulo. Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Na Sala São Paulo. Na Praça Júlio Prestes, 16, Centro, São Paulo. Informações: 11 3367-9500. Pré-temporada: dias 25 e 26 de fevereiro, às 19h30. Ingressos: R$ 15. Início da temporada 2012: Dias 8 e 9 de março, às 21h, e dia 10 de março, às 16h30. Ingressos: de R$ 26 a R$ 149.

Teatro Babenco dirige Bárbara Paz em ‘Hell’ - A primeira adaptação para o teatro do romance Hell, fenômeno editorial na França e best-seller em dezenas de países, reestreia em São Paulo com Bárbara Paz e Paulo Azevedo. Bárbara é Hell, uma garota rica, fútil e arrogante que se apaixona por Andrea (Azevedo), um jovem tão rico e tão imerso no desespero quanto ela. A experimentação de um afeto verdadeiro e a total inabilidade para lidar com esse sentimento constitui o fio narrativo principal deste romance. A adaptação do livro escrito por Lolita Pille foi feita por Hector Babenco, que também dirige a peça, e por Marco Antônio Braz. No Teatro Eva Herz. Livraria Cultura / Conjunto Nacional. Avenida Paulista, 2.073. Informações: 11 3170-4059 e www.teatroevaherz.com.br. Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h. Até 15 de abril. Ingressos: R$ 70. Vendas antecipadas pela internet (www.ingresso.com) e por telefone (11 4003-2330).

Cássio Scapin volta com ‘O Libertino’ - A peça O Libertino, com direção de Jô Soares, retorna após grande sucesso em 2011. A comédia traz Cassio Scapin no papel principal do romance originalmente escrito por Eric-Emmanuel Schmitt, um dos maiores nomes da dramaturgia contemporânea. Na trama, Denis Diderot (1713-1784), um dos ícones do pensamento na França do século 18, vai para um retiro em um castelo na área rural de Paris. Mas seu descanso é interrompido quando pedem que ele escreva o verbete Moral, para A Enciclopédia. No Teatro Cultura Artística Itaim. Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 1.830, Itaim Bibi. Quinta e sábado, às 21h; sexta, às 21h30; e domingo, às 18h. Ingressos: R$ 40 (quinta), R$ 50 (sexta e domingo) e R$ 60 (sábado). Até 1º de abril. Vendas antecipadas por telefone (11 3258-3344) e internet (www.culturaartistica.com.br).


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62 LACRÈME ROTEIRO BH

Arquitetura

em exposição A Galeria Genesco Murta, no Palácio das Artes, recebe a exposição Arquitetura Brasileira – O Coração da Cidade – A invenção do espaço de convivência. Com curadoria do arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo), Julio Katinsky, a exposição representa o segundo momento do programa Arquitetura Brasileira, iniciativa do Instituto Tomie Ohtake. A mostra reúne pouco mais de 100 projetos e exibe fotos, maquetes, desenhos originais, projeções, reproduções e plantas. ARQUITETURA BRASILEIRA – O CORAÇÃO DA CIDADE – A INVENÇÃO DO ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA – No Palácio das Artes, Galeria Genesco Murta. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, Belo Horizonte. Terça a sábado, das 9h30 às 21h; domingo, das 16h às 21h. Até 18 de março. Entrada gratuita. Informações: 31 3236-7400.

Exposição ENTREMUNDOS – Gravuras, colagens, livros de artista e reflexões de Maria do Céu Diel – Retrospectiva de 20 anos de pesquisa sobre os lugares da memória e a pedagogia visual da artista Maria do Céu Diel. São apresentadas obras tanto do início da sua trajetória artística, como as gravuras, cadernos de desenhos, colagens e pinturas, quanto da atualidade. Estão também as novas colagens influenciadas pela cultura árabe, realizadas a partir da sua viagem de pesquisa à Granada, na Espanha. No SESC Palladium. Galeria de arte G.T.O. Avenida Augusto de Lima 420, Centro, Belo Horizonte. Terça a domingo, das 9h30 às 21h. Até 29 de março. Entrada gratuita. Informações: 31 3214-5350.


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64 LACRÈME CHECK-IN


check-in Nova York

por

O olhar curioso sobre o que foi o World Trade Center e suas mem贸rias

Karen Venturelli, arquiteta, urbanista e fot贸grafa


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ARTIGO/

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A nanoengenharia aplicada ao concreto texto Ricardo Couceiro Bento*

O professor Franz-Josef Ulm e o pós-doutorando Georgios Constantinides, pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), em Cambridge, nos Estados Unidos, têm efetuado pesquisas promissoras quanto à influência na resistência e na durabilidade do concreto devido à organização de suas nanopartículas. O nano é um termo técnico utilizado como uma unidade de medida, que por sua vez equivale a um bilionésimo dessa unidade. Por exemplo: um nanômetro equivale a um bilionésimo de um metro (1nm – 1/1.000.000.000 m) ou à distância em linha reta de aproximadamente 5 a 10 átomos. Por meio da análise de várias pastas de cimento ao redor do mundo, surpreendentemente descobriram que o bloco elementar de cimento hidratado se comporta sempre da mesma maneira, mostrando uma única nanoassinatura, as quais chamam de código do genoma do material. O estudo prova que tudo depende essencialmente da estrutura organizacional das nanopartículas que compõe o concreto, ao contrário do material em si. Por meio de seus estudos, os pesquisadores descobriram que no nível nano as partículas de cimento se organizam naturalmente no mais denso arranjo estrutural natural para objetos esféricos, que é similar a uma pilha de laranjas em forma de pirâmide. Caso as pesquisas futuras possam encontrar um mineral diferente para ser usado na pasta de cimento, que tenha o mesmo arranjo estrutural, mas não necessite das altas temperaturas durante a produção, como para o cimento convencional, as emissões de dióxido de carbono poderão ser consideravelmente reduzidas. O mineral que está em estudo como possível substituto no lugar do cálcio do pó de cimento é o magnésio. Simultaneamente, John Harrison, especialista em tecnologia de Hobart, na Tasmânia, defende que a substituição do cimento baseado em carbonato de cálcio por carbonato de magnésio seja capaz de reduzir, em mais ou menos 50%, a emissão de CO² relacionada à energia necessária para acionar os fornos para a sua fabricação. O material ainda tem a capacidade de absorver maior quantidade de CO² do que o concreto convencional, que absorve quantidades de CO² com o tempo. Harrison estima que seria possível eliminar mais de um bilhão de toneladas de CO² ao ano. As alternativas e opções no setor da construção que visam uma maior sustentabilidade estão em desenvolvimento. O que se percebe é que o problema ainda é o comportamento conservador do setor de materiais e construção.

· Estrutura de hotel em Poços de Caldas

*Ricardo Couceiro Bento é engenheiro civil, mestre em Habitação pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo), professor da PUC Minas do Curso de Arquitetura e Urbanismo, membro da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos) e membro do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto). bento@pocos-net.com.br · 35 3721-1243


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Saudade do que ainda não vi

C

por Ricardo Ditchun

atas Altas da Noruega. Conhece? Eu também não, mas gostaria. Trata-se de mais um entre os tantos pequenos, médios e grandes municípios mineiros que foram batizados com nomes tão curiosos como poéticos e inspiradores. Os exemplos parecem não ter fim e as explicações são as seguintes: 1) Minas Gerais tem o maior número de cidades do Brasil (são 853); 2) o Estado é farto em ocorrências históricas relevantes, sua geografia é ímpar e bela, a natureza é pródiga e as manifestações culturais são autênticas e diversas; 3) boa parte dos mineiros professa com fervor o catolicismo; 4) o sentido da regionalidade é intenso; 5) as entranhas do território mineiro parecem ser fonte inesgotável de riquezas minerais. A reunião de todas essas características, ao longo do tempo, resultou na formação de núcleos rurais e semiurbanos que evoluíram até a constituição das atuais 853 cidades. Seus nomes refletem, portanto, uma fração das aventuras históricas e civilizatórias em que essas organizações sociais estiveram enfiadas em algum momento. Mas eles também homenageiam belezas e riquezas naturais, fauna, flora, personagens religiosos, mártires, políticos, referências arquitetônicas, crenças, orgulhos, anseios coletivos... Como disse, os exemplos são muitos, mas não resisto a uma boa listagem. Minha seleção, em ordem alfabética, é: Abadia dos Dourados, Araponga, Carneirinho, Cascalho Rico, Claro dos Poções, Comercinho, Curral de Dentro, Desterro de Entre Rios, Diamantina, Dores de Campos, Entre

Rios de Minas, Espera Feliz, Ervália, Ferros, Fervedouro, Fruta de Leite, Funilândia, Inconfidentes, Itabirito, Jenipapo de Minas, Juiz de Fora, Ladainha, Lavras, Luminárias, Malacacheta, Mamonas, Maravilhas, Mar de Espanha, Materlândia, Matutina, Minas Novas, Mirabela, Moeda, Ninheira, Nova Era, Nova Porteirinha, Novo Oriente de Minas, Olhos-d’Água, Onça de Pitangui, Oratórios, Ouro Branco, Ouro Fino, Ouro Preto, Ouro Verde de Minas, Papagaios, Patos de Minas, Periquito, Pedras de Maria da Cruz, Pescador, Piedade dos Gerais, Pimenta, Pingo-d’Água, Pintópolis, Piracema, Planura, Poço Fundo, Ponto Chique, Ponto dos Volantes, Pouso Alegre, Pratinha, Quartel Geral, Recreio, Reduto, Resplendor, Ressaquinha, Riachinho, Rio Doce, Rio Manso, Rochedo de Minas, Romaria, Salto da Divisa, Santa Fé de Minas, Sem-Peixe, Senhora do Porto, Sericita, Serra Azul de Minas, Sete Lagoas, Soledade de Minas, Tabuleiro, Tiradentes, Tiros, Tocos do Moji, Três Corações, Três Pontas, Turmalina, Uberlândia, Vazante, Veredinha, Vermelho Novo e Viçosa. Cinco cidades têm nomes que, lidos em sequência, e com a entonação devida, revelam uma consistência poética instigante e plena de ritmo: Passa Quatro, Passa-Vinte, Passa Tempo, Passabém, Passos.


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Deveriam ser cidades irmãs. São igualmente encantadores, ainda, os nomes do Estado, Minas Gerais, da capital, Belo Horizonte, e de nosso município, Poços de Caldas. E Catas Altas da Noruega? Lembrei desta cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, com pouco mais de 3,4 mil habitantes, por ter visto em Poços de Caldas, dia destes, um carro com placas de lá. É impossível não reparar nos atributos de um nome como esse. Ele é sonoro, curioso e incomum. E se pode parecer difícil encontrar em Poços de Caldas um Volkswagen Gol com placas de Catas Altas da Noruega saibam que, há três anos, quando eu ainda morava e trabalhava em São Paulo, conheci um catas-altense em uma cafeteria da fervilhante região da Avenida Paulista. Eu lia uma revista e, na mesa ao lado, um rapaz de mais ou menos 30 anos fez um comentário qualquer sobre a reportagem de capa. Comentei também e começamos a conversar. Em dado momento perguntei de onde ele era. “#?!%&*@*, Noruega”, disse, com uma risadinha. Pelo menos foi isso o que eu entendi ele dizer. Pensei: “Deve ser uma cidade qualquer da Noruega”. Lugares como: Nesoddtangen, Noruega; ou Knarrevik-Straume, Noruega; ou Orkanger-Fannrem, Noruega; ou Âmot-Geithus, Noruega... Ou seja, para quem entende 0% de norueguês, qualquer coisa que ele dissesse antes de Noruega estaria valendo. Minutos depois a confusão foi desfeita. O rapaz, José, explicou que havia abraçado São Paulo como moradia por absoluta falta de opções pro-

fissionais (lidava com informática) lá em, para os íntimos, Catas. Perguntei sobre a cidade e ele falou e falou. Lembrou de capelas, igrejas, fazendas, paisagens, montanhas, riachos, cachoeiras, bichos e da gente pacata e religiosa que “dorme cedo e acorda mais cedo ainda”. Falou com entusiasmo sobre Nossa Senhora das Graças, reverenciada como padroeira desde 1949, quando uma pequena imagem dela foi atirada de um avião cargueiro que, em pane, sobrevoava o território catas-altense. A pequena estátua não se quebrou, ao contrário de toda a tralha que a tripulação mandou pelos ares na esperança de aliviar o peso da aeronave. “E esse nome?”, eu quis saber. José explicou que os primeiros mineradores que chegaram à região, no fim do século 17, buscavam o ouro por meio do sistema de trabalho das catas – retirada do cascalho do fundo dos rios para depois batear o conteúdo nas margens. Altas, a parte adjetivada do nome, diz respeito à configuração geográfica do município, sua altitude. “E Noruega?”. A explicação do ex-morador foi a seguinte: muitos dos exploradores iniciais eram, é óbvio, de fora da região, um pessoal que teria se espantado com o clima frio e com a constante neblina que dominava a paisagem e que lembrava a Noruega. A hipótese parece leviana, mas não invalida a carga épica que permeia esse passado. Nunca estive em Catas, mas, tenho certeza, isso é apenas uma questão de oportunidade. Quero ir lá para conhecer seus moradores, ruelas, igrejas, capelas, belezas naturais... Não vejo a hora de visitar o terreno que teria amortecido a notável queda da padroeira local.◄


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Primeiro pintar uma gaiola com a porta aberta depois pintar qualquer coisa de bonito qualquer coisa simples qualquer coisa de belo qualquer coisa de útil... para o pássaro depois pendurar a tela numa árvore num jardim num bosque ou numa floresta esconder-se atrás da árvore sem dar um pio sem mover um dedo... Às vezes o pássaro chega sem demora mas pode também levar longos anos até se decidir Não se abater esperar esperar anos e anos se preciso pois a rapidez ou a demora do pássaro não têm nada a ver com o sucesso do quadro Quando o pássaro chegar se chegar manter o mais profundo silêncio esperar que o pássaro entre na gaiola e quando entrar fechar suavemente a porta com o pincel depois apagar uma a uma todas as grades tomando cuidado para não tocar sem querer nas penas do pássaro Fazer depois o retrato da árvore reservando o galho mais belo de todos para o pássaro pintar ainda a folhagem verde e o frescor do vento a poeira do sol e o rumor dos insetos na relva no calor do verão depois é só esperar que o pássaro comece a cantar Se o pássaro não cantar é mau sinal sinal de que o quadro é mau mas se cantar bom sinal sinal de que pode assiná-lo então você deve arrancar devagarinho uma das penas do pássaro e escrever seu nome num canto do quadro.

Para fazer o retrato de um

pássaro por Jacques Prévert*

*O francês Jacques Prévert (1900-1977) foi poeta, roteirista, dramaturgo e músico. Escreveu pelo menos 20 livros de poemas e o roteiro de 45 filmes dirigidos por cineastas como Marcel Carné, Jean Renoir e Jean Grémillon. Sua obra, repleta de efeitos cômicos, metáforas e traços do surrealismo, é considerada revolucionária. Para fazer o retrato de um pássaro (Pour faire le portrait d’un oiseau) é um dos poemas de Paroles (1946), o primeiro livro do autor.


VERDE CADERNO


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Orgânicos: vale a pena pagar mais? por Vanessa Schultz* fotos Manu Godfrey**


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S

ão seis horas da manhã. Cedo para muitos. Para outros, o dia já começou faz tempo. Principalmente para aqueles que trabalham na terra. Se já não estiverem lá, estão a caminho. Hoje é dia de eu ir até a horta local, em Águas da Prata, São Paulo, em busca de produtos para montar as cestas naturais. Os legumes e as verduras são orgânicos, mas não posso dizer, oficialmente, que são. Por que? Porque a horta ainda está em fase de transição e não possui certificação oficial. A certificação orgânica é feita por empresas particulares. O custo é de total responsabilidade do agricultor. Muitas vezes, vários se juntam para dividir o custo da certificação, formando associações. É o caso, por exemplo, da Associação Verde Vivo, da qual a Fazenda Recanto Feliz, de Águas da Prata, faz parte. O ponto ruim de ser associado é que, na inspeção anual feita pela certificadora, caso um dos produtores não esteja de acordo com as normas, todos podem perder o direito de usar o selo que indica produção

orgânica. Para se conseguir a certificação são necessários alguns anos. A terra precisa estar limpa de qualquer produto químico não aceito por pelo menos três anos. As regras são muitas e, geralmente, as informações de como fazer para se tornar orgânico é restrita às visitas dos técnicos. Os procedimentos são sérios. Esses são alguns dos motivos que fazem os produtos orgânicos custarem mais. Além do tempo gasto pelos produtores (eles têm de garantir mais atenção ao processo), existe a perda para a natureza. A produção, assim, é mais limitada. Então, vale a pena pagar mais? Meu interesse pelo consumo de produtos orgânicos começou em 2007, quando ainda morava na Escócia. Lá, um país frio com produção limitada, há uma campanha imensa para as pessoas voltem a comer produtos locais, que não tenham viajado muito para chegar às mesas. É o Movimento Slow Food, que não prega comer exatamente somente orgânicos, mas que reco-


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menda que seja dada preferência a produtos locais. Tudo começou na Europa, em 1989, quando produtores se juntaram para impedir o crescimento das redes de fast food em suas cidades. De volta ao Brasil, em 2008, fiquei indignada por ser tão difícil falar com as pessoas sobre o assunto. Justamente aqui, onde há produção o ano inteiro e grande possibilidade de se plantar sem produtos químicos. Fizemos a nossa horta e dela não cresceu muita coisa. Plantar sem produtos químicos não é fácil, principalmente quando todos ao seu redor usam pesticidas. As pragas tendem a migrar para a sua plantação. Por outro lado, observamos que é um trabalho de paciência. Aos poucos, o equilíbrio ecológico volta e, em uma manhã, você se depara com presentes da natureza. A satisfação é imensa! OLHOS ARREGALADOS Começamos a perguntar na feira local de onde vinham os produtos e o que era usado no plantio. A reação da maioria: olhos arregalados. Vez ou outra encontramos quem tenta seguir esta filosofia, mas que não tinha como financiar uma certificação. A dona Elisa da feira, os amigos que plantam uma coisa aqui, outra ali. Até chegarmos ao certificado Sítio Boa Terra, de Itobi, São Paulo, que vende grande parte da produção da região, como da Fazenda J. Ida., localizada em Águas da Prata e Andradas. Na região de Águas da Prata, o interesse pelo plantio orgânico só tem aumentado. O Sindicato Rural de São João da Boa Vista promove todos os anos um curso de capacitação de horta orgânica. Aos poucos, produtores percebem que, além de ser melhor para o meio ambiente, o manuseio sem produtos químicos significa também mais saúde para aqueles que colocam a mão da terra, o que quer dizer, na maioria das vezes, a própria família. Já ouviu a frase “Se fôssemos pensar em tudo que comemos, não comeríamos”? Bem, não acredito que isso seja verdade. Se pensássemos de onde saiu a comida que está no nosso prato, reverenciaríamos mais o que comemos e teríamos mais saúde. E, quando esta jornada de questionamento começa, podemos ficar surpresos. Por exemplo: eu não sabia que nem todo queijo é vegetariano. Alguns possuem renina, um coalho de origem animal. Outros, a enzima quimosina, proveniente de estômago de bezerros ou de outros animais. Se pensarmos que a nossa energia vital vem dos alimentos, iríamos escolher melhor o que colocamos em nossa boca. Quanto mais próximo de sua origem for o alimento, mais dessa energia é carregada para dentro de nós. Minha família experimenta a sensação de comer algo que acabou de ser colhido. Vejo as mãos que plantam, cuidam e colhem. E a satisfação de comer algo assim é incrível. Sim, vale a pena gastar mais tempo e dinheiro cuidando da sua saúde e daqueles que amamos.◄ *Vanessa Schultz é formada em jornalismo pela Umesp e gosta de explorar novas culturas. Investiga constantemente como levar uma vida saudável, balanceada, sem radicalismo. Adora morar perto da terra. ** Manu Godfrey sul-africano vivendo no Brasil. Artista plástico, especializado em fotografia, seu meio de expressão varia de trabalhar com madeira a desenhar e criar estruturas e espaços de vida ecológicos.


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Para saber mais sobre produtos locais e orgânicos, acesse os seguintes sites: planetaorganico.com.br; slowfood.com; slowfoodbrasil.com; aboaterra.com.br; jida.com.br; fazendarecantofeliz.com.br


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· Fêmea de Hypsiboas beckeri, endêmica do Sul de Minas Gerais


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Joias

vivas


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· Scinax ranki jovem e, abaixo, adulta; espécie endêmica do Sul de Minas Gerais.


CADERNO VERDE LACRÈME 79 · A Bokermannohyla vulcaniae foi registrada pela equipe da Biotropica nas áreas do Instituto Jardim Botânico de Poços de Caldas e Parque Municipal da Serra de São Domingos

texto Ricardo Ditchun fotos Biotropica Consultoria Ambiental

O

s anfíbios possuem características biológicas que, aos olhos da ciência, fazem deles bons modelos em pesquisas ambientais. São qualidades como pele com alta permeabilidade e ciclo de vida bifásico (aquático e terrestre). Na prática, isso significa que cobras-cegas (Gymnophiona), salamandras (Caudata), sapos, rãs e pererecas (Anura) apresentam grande sensibilidade a alterações em seus habitats. Em situações de equilíbrio, os anfíbios desempenham uma função nada menos que fundamental na cadeia alimentar: consomem grande variedade de insetos e servem de presas para muitos vertebrados. No mundo, os anfíbios somam 6.771 espécies. Deste total, 877 são

do Brasil, o país com a maior diversidade. Na Mata Atlântica, bioma que em Minas Gerais ainda possui fragmentos significativos e bem preservados, existem 280 espécies, sendo 253 endêmicas. Áreas remanescentes de Mata Atlântica da Serra da Mantiqueira, situadas a partir de 800 metros de altitude, são consideradas prioritárias para a execução de inventários sobre essas espécies. Renato Gaiga, Pedro Dias e Rodolph Christopher Loiola, da Biotropica Consultoria Ambiental, são herpetólogos envolvidos em pesquisas sobre os anfíbios do Planalto de Poços de Caldas. Eles são responsáveis, por exemplo, pela descrição de oito anuros endêmicos.A pedido da LACRÈME, os pesquisadores apresentam algumas imagens feitas em campo durante o trabalho realizado na região.◄


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· Scinax caldarum (1), Hylodes gr. lateristrigatus (2) e Phyllomedusa ayeaye (3), espécies descritas para o Planalto de Poços de Caldas

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