Sarah MacLean - Escândalos & Canalhas 03 - Perigo para um inglês

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Perigo para um inglês Escândalos & Canalhas – Livro 03

O dia da duquesa


Sinopse A única mulher que ele nunca esquecerá ...

Malcolm Bevingstoke, Duque de Haven, viveu nos últimos três anos na solidão que se impôs, pagando o preço por um erro que ele nunca pode reverter e um amor que perdeu para sempre. O ducado não espera, no entanto, e Haven requer um herdeiro, o que significa que ele deve encontrar uma esposa até o final do verão. Há apenas um problema - ele já possui uma. O que ele viu ali, misturado ao desejo e à surpresa, foi seu futuro. Sua esposa.” Seraphina Talbolt é a mais velha entre as “Irmãs Perigosas” – título que ela e suas irmãs ganharam da Sociedade pela fama de fazerem de tudo para enlaçar homens da nobreza. Sera honrou o posto de perigosa quando conquistou o coração do Duque de Haven e o título de duquesa. Mas o que parecia ser a solução de todos os seus problemas e a realização de um sonho, se tornou tudo aquilo que ela jamais quis. Desde o momento em que a viu pela primeira vez, o Duque de Haven acreditou que Seraphina Talbot era a mulher de sua vida. Mas quando descobre que ela o enganou, e então casados, sente-se traído e faz de tudo para se livrar dela. Até que após um episódio traumático, Sera foge e ele deseja nunca tê-la afastado…


O único homem que ela nunca perdoará …

Depois de anos no exílio, Seraphina, Duquesa de Haven, retorna a Londres com um único objetivo – o de recuperar a vida que ela perdeu e encontrar a felicidade, livre do homem que quebrou seu coração. Determinado a pôr um basta nessa situação e a reconquistar sua esposa, o Duque de Haven arma um plano inteligente para tê-la de volta em seus braços. Haven oferece-lhe um acordo: Sera pode ter sua liberdade, assim que ela encontrar a sua substituta... – o que exige que ela passe o verão junto com o esposo que ela não quer, mas, que de alguma forma, não resiste

Um amor que nenhum pode negar ...

O duque tem um único verão para curtir sua esposa e convencê-la de que, apesar do passado quebrado, ele pode dar-lhe o felizes para sempre, fazendo todos os dias o dia da duquesa. Mas Sera estará disposta a abrir mão de sua liberdade para ficar com o esposo que a tanto magoou?


Duquesa Desaparecida Encontrada

A fofoca invadiu o Parlamento hoje, quando Seraphina, a DUQUESA DESAPARECIDA

DE

HAVEN,

reapareceu

fazendo

uma

entrada

escandalosa para surpreender a Sociedade e discutir com seu esposo no salão da Câmara dos lordes. A petição parlamentar da Lady desaparecida a tanto tempo? DIVÓRCIO!

Por todas as contas, o enganado HAVEN apressou-se a tirá-la da casa, cedendo o chão (mas não a guerra) para aquela que um dia foi sua amada, a FILHA perigosa e duquesa desprezada... e esposa agora disposta a liberdade! A dama não será ignorada, no entanto. Ela segue furiosa, prometendo acabar com o matrimônio por qualquer meio necessário.

Existe algo mais sensacional do que um escândalo de verão?

MAS QUEM VAI VENCER?


Capítulo 1 Duque Abandonado Desapontado! 19 de agosto de 1836 Câmara dos lordes, Parlamento.

Tinha-o deixado há dois anos e sete meses atrás, exatamente. Malcolm Marcus Bevingstoke, duque do Haven, olhou as diminutas rodas do calendário de madeira, incrustadas no mata-borrão de sua escrivaninha em seu escritório privado acima da Câmara dos lordes.

19 de agosto de 1836.

O último dia da sessão parlamentar, cheio de pompa e inatividade. E lembranças persistentes. Fez girar a roda com o seis gravados nela. Cinco. Quatro. Ele respirou profundamente. “Saia.” Ele ouviu suas próprias palavras, frias e irritadas com a traição, ecoando como uma ameaça silenciosa. "Não volte nunca.” Ele tocou novamente a roda. Agosto se converteu em julho. Maio. Março.

Janeiro do século XIX, 1834. O dia em que ela partiu.


Seus dedos se moveram sem pensar, encontrando conforto no clique familiar das rodas.

17 de Abril de 1833.

“A maneira como me sinto com você...” Suas palavras agora suaves e cheias de tentação. “Nunca hei sentido algo como isto.” Ele também não tinha. Como se a luz, a respiração e a esperança tivessem inundado a sala, preenchendo todos os espaços escuros. Preenchendo os pulmões e o coração. E tudo por causa dela. Até que ele descobriu a verdade. A verdade, que tanto importara até que não importasse mais. Onde ela tinha ido? O relógio no canto da sala marcou o tic tac, contando os segundos até que Haven estivesse em seu assento especial na sagrada Câmara dos lordes, onde homens de maiores propósito e paixão haviam se sentado antes dele por gerações. Seus dedos tocaram o pequeno calendário como um virtuoso, como se tivesse feito esta dança cem vezes antes. Mil. E eles tinham.

1 de Março, 1833. O dia em que se conheceram.

— Então, simplesmente deixam que alguém se convertesse em um duque, verdade? Sem deferência. — Brincadeiras, encanto e beleza pura, não adulterada.


— Se você acha que os duques são ruins, imagine o que pensam das duquesas? Aquele sorriso. Como se nunca tivesse conhecido outro homem. Como se ela nunca tivesse amado. Tinha sido sua no momento em que tinha visto esse sorriso. Inclusive antes disso. Imaginou, na verdade. E então ele havia se desmoronado. Ele tinha perdido tudo, e depois a perdeu. Ou talvez tenha sido o contrário. Ou talvez foi tudo o mesmo. Alguma vez houve um momento em que ele parou de pensar nela? Alguma vez, um encontro que não recordasse dela? Do tempo que se estendeu como uma eternidade desde que ela partiu? Onde ela tinha ido? O relógio bateu onze, os carrilhões pesados que soavam na sala, ecoavam por uma dúzia de outros espalhados ao longo corredor de carvalho que se estendia mais à frente, convocando aos homens de renome ao dever que tinham adquirido, inclusive antes de nascerem. Haven girou as rodas do calendário com força, as abandonando até que se detiveram. Novembro trigésimo sétimo, 3842. Uma boa data, uma em que não tinha nenhuma possibilidade de pensar nela. Ele se levantou, indo para o lugar onde sua túnica vermelha estava pendurada - seu grosso e pesado fardo significava coincidir com o peso da responsabilidade que representava. Ele sacudiu a roupa sobre os ombros,

o

calor

do

veludo

vermelho

o

esmagando

quase

que

imediatamente, enjoativo e sufocante. Tudo isto antes dele colocar sua peruca empoada, fazendo uma careta enquanto a acomodava sobre sua cabeça, a crina de cavalo lhe açoitando o pescoço antes de apoiar-se incomodamente, como um castigo por pecados passados.


Ignorando a sensação, o Duque do Haven abriu a porta de seus escritórios e caminhou através dos silenciosos corredores, até a entrada da câmara principal da Câmara

dos

lordes.

Ao

entrar,

inalou

profundamente, arrependendo-se imediatamente. Era agosto e fazia calor como no inferno no salão do Parlamento, o ar impregnado com suor e perfume. As janelas estavam abertas para permitir uma brisa no ambiente – uma agitação quase imperceptível que não fazia mais que exacerbar o fedor, acrescentando o cheiro do Tâmisa ao já horrendo aroma de seu interior. Em casa, o rio corria fresco e puro, sem ser tocado pela imundície de Londres. Em casa, o ar estava limpo, prometendo o idílio do verão e sugerindo mais. No futuro. Pelo menos, assim tinha sido. Até que uma parte da casa se afastou deixando só uma casca ao redor dele e ele ficou sozinho, sem ela. Agora, não era senão terra. A casa exigia mais do que um rio e colinas. A casa precisava dela. E então ele faria neste verão o que havia feito a cada momento que tinha estado fora de Londres durante os últimos dois anos e sete meses, exatamente. Ele a procuraria. Ela não estava na França, nem na Espanha onde tinha passado o verão anterior, perseguindo mulheres inglesas em busca de excitação. Ela não tinha sido nenhuma das viúvas falsas que ele havia encontrado na Escócia, nem a instrutora na imponente mansão do País de Gales, nem a mulher que ele havia rastreado em Constantinopla um mês depois de sua partida, que tinha sido uma charlatã, fingindo ser uma aristocrata. Tampouco era a mulher de Boston - que ele tinha tido tanta certeza - o que eles chamavam-na de: A Pomba. Não Sera. Nunca Sera. Ela desaparecera, como se nunca tivesse existido. Estava lá num momento, e no próximo, partira carregada de recursos suficientes para


desaparecer. Justo quando se deu conta do muito que a desejava. Mas, eventualmente seu dinheiro se acabaria, e ela não teria mais escolha do que parar de fugir. Ele, por outro lado, era um homem com poder, privilégio e riqueza exorbitante, suficiente para encontrá-la no momento em que ela se detivesse. E ele a encontraria. Ele deslizou-se para um dos longos bancos que cercavam o piso do púlpito, onde o lorde Chanceler já havia começado o discurso. — Meus lordes, se não houver mais assuntos formais, fecharemos a temporada parlamentar deste ano. Um coro de aprovação, com os punhos golpeando os respaldos dos assentos ecoou através da câmara. Haven exalou e resistiu o impulso de coçar por baixo de sua peruca, sabendo que, se cedesse ao desejo, seria consumido por seu grosseiro desconforto. — Meus lordes! — O lorde Chanceler chamou. — Existe, de fato, algum assunto formal adicional para a sessão atual? Um coro entusiasmado de — "Não!" — Ressoou no salão. As pessoas pensariam que a Casa dos lordes estava cheia de estudantes desesperados por uma tarde na piscina local, em vez de quase duzentos aristocratas pomposos ansiosos para chegarem às suas amantes. O lorde Chanceler sorriu, seu rosto corado e reluzente de suor sob sua peruca enquanto ele estendia suas mãos largas sobre a sua ampla circunferência estomacal. — Bem então! É a vontade e o prazer real de Sua Majestade...


As enormes portas para a câmara se abriram de repente, o som ecoando pelo salão silencioso, competindo com a voz do chanceler. As cabeças se voltaram, mas não a de Haven; ele estava muito ansioso para deixar Londres e sua peruca para se preocupar com o que estava acontecendo mais à frente. O lorde Chanceler recolheu-se, limpou a garganta e disse: — ...que este Parlamento seja prorrogado até quinta-feira, no dia sete do próximo outubro... Uma coleção de grunhidos desaprovadores começou quando a porta se fechou com um poderoso estrondo. Haven olhou então, seguindo os olhos dos homens reunidos, agora, dentro da câmara com a porta fechada. Não pôde ver nada estranho. — Ahran! — disse o Senhor Chanceler, o som cheio

de

desaprovação, antes de redobrar seu compromisso de fechar a sessão. Graças a Deus por isso. — ...Quinta-feira, no dia sete de outubro próximo... — Antes de terminar, meu lorde Chanceler, posso falar? Haven ficou rígido. As palavras eram fortes e, de alguma forma, suaves, vibrante e belamente feminina, tão desconjurado na Câmara dos Lordes, fora do alcance do sexo mais justo. Certamente foi por isso que sua respiração travou. Certamente foi por isso que seu coração começou a bater. Por que de repente ficou de pé em meio a um coro de indignação masculina. Não foi pela voz em si. — Qual é o significado disso? — O chanceler trovejou.


Haven podia vê-la então, a causa da agitação. Uma mulher. Mais alta do que qualquer mulher que ele conhecesse, com o mais bonito vestido de lavanda que tinha visto em sua vida. Estava perfeita, como se ela se dirigisse à sessão parlamentaria com regularidade. Como se fosse o primeiro-ministro em pessoa. Como se fosse mais que isso. Como se ela fosse da realeza. A única mulher que ele tinha amado. A única mulher que ele odiava. A mesma, e de alguma forma totalmente diferente. E Haven, congelou-se no seu lugar. — Eu confesso — ela disse, movendo-se pelo salão da câmara com facilidade, como se estivesse no chá de damas, — que temia perder a sessão por completo. Mas estou muito feliz de poder estar aqui antes que todos escapem para onde quer que vocês se aventurem... com prazer. — Ela sorriu para um velho conde, que corou sob o calor de seu olhar e se virou. — No entanto, me disseram que o que eu procuro requer uma lei do Parlamento. E vocês são… como sabem… o Parlamento. Seu olhar encontrou o dele, seus olhos exatamente como ele se lembrava, azul como o mar de verão, mas agora, de alguma forma, diferente. Onde eles alguma vez estiveram abertos e sinceros, eles agora estavam estreitos. Privado. Confidenciais. Cristo. Ela estava aqui. Aqui. Quase três anos procurando-a , e aqui estava ela, como se tivesse partido somente por algumas horas. O choque lutava contra a ira que não poderia jamais ter imaginado, mas essas duas emoções não eram nada comparadas com a terceira. O prazer imenso e insuportável que sentia.


Ela estava aqui. Finalmente. Novamente. Olhá-la era tudo o que podia fazer para não mover-se. Para não recolhê-la e levá-la embora. Para abraçá-la. Para ganhá-la de novo. Para começar outra vez. Exceto que ela não parecia estar aqui para isso. Ela o observou por um longo momento, sem pestanejar, antes de dizer: — Eu sou Seraphina Bevingstoke, Duquesa de Haven. E eu preciso de um divórcio.


Capítulo 2 Duquesa Desaparece, Duque Devastado! Janeiro de 1834 Dois anos, sete meses antes. Menos cinco dias. Highley Manor

Se ela não tocasse, ela morreria. Ela não deveria ter vindo. Tinha sido irresponsável sem medida. Tinha tomado a decisão em um ataque de emoção insuportável, desesperada por ter algum tipo de controle no momento mais fora de controle de sua vida. Se não estivesse tão frio, riria pela louca ideia que tinha tido de que poderia ter algum controle sobre sua vida, uma vez mais. Mas o único que Serafina Bevingstoke, Duquesa do Haven, foi capaz de fazer, foi amaldiçoar sua estúpida decisão de alugar uma carruagem, e pagar ao cocheiro uma fortuna para levá-la em uma longa e aterradora viagem através da chuva gelada de uma noite fria de janeiro e chegar aqui, em Highley, a casa senhorial de que ela era - pelo nome senhora. Embora esse nome, entretanto não lhe outorgava direitos. Não para as mulheres. E por esses mesmos direitos, ela não era mais que uma visitante. Nem sequer uma hóspede. Ainda não.


Possivelmente nunca. A carruagem desapareceu sob a chuva que ameaçava convertendose em neve pesada e úmida. Sera olhou para a enorme porta, considerando seu próximo movimento. Essa escuridão indicava que os servos fazia tempo que dormiam, mas não tinha mais escolha do que despertar alguém. Ela não poderia permanecer fora. Se o fizesse, estaria morta antes da manhã. Uma quebra de onda de dor aterradora se disparou através dela. Pôs uma mão em seu abdômen. Se dobrando e esperando a dor parar. Se ela não tocasse, eles estariam mortos. A dor desapareceu, e ela respirou mais uma vez, levantando a elaborada aldrava de ferro forjado um B fixado na porta. Deixando-o cair com um ruído surdo, como o som de um machado de carrasco, escuro e sinistro. Desesperada começou a preocupar-se. O que aconteceria se ninguém respondesse a seu toque? E se tivesse feito semelhante viagem, em contra do seu bom senso, para chegar e encontrar uma casa vazia? As suas preocupações eram infundadas. Highley era a sede do Ducado do Haven, e estava dotado para estar em perfeito funcionamento. A porta se abriu, um jovem lacaio com libré apareceu com os olhos semifechados, sua curiosidade dando lugar imediatamente ao choque quando a dor assaltou Sera mais uma vez. Antes que ele pudesse falar, antes que ele pudesse afastá-la e fechasse a porta, Sera entrou, com uma mão em seu volumoso ventre e a outra na ombreira do portal. — Haven... — O nome era tudo o que ela podia falar antes de se dobrar na dor.


— Ele... — O menino parou. — Sua Graça, quer dizer, ele não está em casa. Ela levantou a vista, seus olhos se encontrando com os dele na luz fraca. — Você me conhece? — Sob o escrutínio de seu olhar para seu abdômen inchado. Sua mão se estendeu amplamente para o menino — O herdeiro Ele assentiu, e o alívio a inundou, num um banho de calor. Ela cambaleou quando os jovens olhos se arregalaram, atraídos para o piso debaixo deles. Não era alívio. Era sangue. — Oh ... — ele começou, o restante de suas palavras roubadas por choque. Sera cambaleou no hall da entrada, alcançando-o, chegando até este jovem, que tinha sido tão desafortunado em seu posto essa noite. Ele tomou sua mão. — Ele está aqui, — ele sussurrou. — Ele está lá em cima. Ele estava aqui. O suficientemente forte para dobrar o sol a sua vontade. Isso pode ter sido gratidão se não fosse pela dor. Poderia ter sido felicidade se não fosse pelo medo. E pode ter sido vida se não fosse pelo que de repente ela soube que viria. “Saia!” Ela ouviu mais uma vez as palavras. Viu seu frio olhar quando a desterrou de sua vida meses atrás. E então, de alguma forma... “Venha aqui.” Esse olhar outra vez, mas desta vez com as pálpebras semicerradas. Desesperado. Quente como o sol. E então seus sussurros


suaves e bonitos em sua orelha. “Você foi feita para mim. Nós fomos feitos um para o outro.” A dor a devolveu ao presente, afiada e aguda, avisando que algo terrivelmente errado. Como se o sangue que cobria as saias e o chão de mármore não fossem suficientes anúncios. Ela gritou. Mais alto do que ela teria adivinhado, já que de repente havia alguém mais ali: uma mulher. Eles falaram, mas Sera não conseguiu ouvir as palavras. Então a mulher se foi, e Sera foi deixada na escuridão, com seus erros e a criança, seu querido e doce bebê, que se agarrava a ela. Ou ela a ele. — Ela foi buscá-lo. Era muito tarde, é claro. De muitas maneiras. Ela não deveria ter vindo. Sera caiu de joelhos, ofegando pela dor. Dor e tristeza além da compreensão. Ela nunca conheceria seu bebê. De cabelos escuro e sorriso amplo, e inteligente como seu pai. Solitário como ele, também. Se ao menos pudesse viver, poderia amá-los o suficiente. Mas ela ia morrer aqui, neste lugar. A poucos passos do único homem que ela tinha amado. Sem haver-lhe dito nunca. Perguntou-se se se importaria com ele quando morresse, e a resposta aterrorizou-a mais do que todo o resto, porque sabia, sem lugar a dúvidas, que este amor a seguiria até a outra vida. Ela apertou a mão do menino. — Diga-me seu nome. — Sua Graça? Ela segurou mais forte sua mão.


— Sera, — ela sussurrou. Ela ia morrer, e queria que alguém dissesse seu nome e não seu título. Algo real. Algo que parecia pertencer a ela. — Meu nome é Seraphina. O querido menino agarrou-se a ela. Assentiu. O nó em sua garganta tão estreita se balançava com o nervosismo. — Daniel, — disse ele. — O que devo fazer? — Meu filho, — ela sussurrou. — Dele. O menino assentiu, de repente sábio além de seus anos. — Há algo que você deseja? — Mal, — disse ela, incapaz de manter na raia a dor. Incapaz de evitar que a engolisse inteira. Apenas mais uma vez. Apenas o tempo suficiente para colocar tudo em ordem. — Eu desejo que chame Malcolm.

****

O Duque de Haven abriu a porta do quarto onde Sera estava deitada, silenciosa, imóvel, e pálida, a força da porta de carvalho ricocheteando na parede e surpreendendo aos que estavam dentro. Uma donzela soltou um pequeno grito de surpresa, e o ama de chaves levantou a vista de onde ela segurava um pano na testa de Sera. Mas o Duque não queria nada com as duas mulheres. Estava muito concentrado no cirurgião ao lado de sua esposa. — Ela vive? — grunhiu Haven, as palavras preenchidas de emoção que ele não sabia que ele podia sentir. Embora ela sempre o tinha feito se sentir assim. Mesmo quando ele estava desesperado por não sentí-lo.


O cirurgião assentiu. — Por um fio, Vossa Graça. É provável que mora antes do anoitecer. As palavras o atravessaram, frio e simples, como se o médico estivesse discutindo o clima ou as notícias da manhã, e Malcolm tentou se acalmar, o peso total de sua preocupação ameaçando derrubá-lo. Não passara nem uma hora, quando ele tinha tido sua filha morta em suas mãos, tão pequena que nem sequer as enchia, tão preciosa que não podia suportar devolvê-la à serva que a trouxera para ele. Em vez disso, ele enviou a serva para longe, e sentou-se em silêncio, segurando o corpo quase sem peso de sua filha, lamentando sua morte. E a sua vida. E todas as coisas que ela poderia ter sido. Sabendo que, apesar de sua riqueza, poder e posição quase ilimitados, ele não poderia trazê-la de volta. E quando ele conseguiu pensar além do sofrimento, encontrou consolo com fúria. Ele não perderia às duas. O olhar de Malcolm se estreitou no cirurgião. — Você está equivocado. — Ele caminhou para o médico, incapaz de deter-se. Levando-o pelas lapelas de seu casaco, o duque falou trovejando no homem mais velho, menor e mais fraco. — Você me ouve? Ela viverá. — O cirurgião gaguejou, e a raiva inundou Malcolm. Ele sacudiu novamente o médico. — Minha esposa viverá. — Eu ... eu não posso salvá-la se ela não estiver destinada a ser salva. Malcolm o soltou, não se importando que o cirurgião tenha tropeçado quando seus pés tocaram no chão. Ele já se dirigia para Sera,


se ajoelhou ao lado de sua cama, pegando sua mão na dele, odiando como ela estava fria, apertando-a , desejando que se esquentasse. Ele tomou um momento para olhá-la - ela tinha ido embora por tanto tempo, e antes disso, ele a tinha odiado demais. E antes disso, tinha estado muito desesperado para dar-se conta do que precisamente desejava dela. Como foi que só agora - que ela estava pálida e imóvel e ainda à beira da morte – que ele percebeu o quão bonita ela era? Suas maçãs altas do rosto e seus lábios cheios, e aqueles cílios pretos sujos de fuligem, incrivelmente longos, que jaziam sobre sua pele de porcelana. O que ele não daria para que ela levantasse esses cílios? Para olhar para ele com aqueles olhos que nunca deixaram de roubar sua respiração, azuis como o céu do verão. Ele os tomaria como viessem, cheios de felicidade. Com tristeza. Com ódio. Ele já havia dado tanto. Ela também. Que mais tinha? Que pobre sacrifício poderia oferecer? Nenhum. E assim, nisto, não retrocederia. Fechou os olhos e pressionou seus lábios nos dedos frios, flácidos e imóveis. — Você deve viver, Sera. Nem que eu tenha que puxá- la do próprio céu. Você deve viver. — Sua Graça. Ele calou-se ante as palavras, claras e sem emoções, pronunciadas da porta da câmara. Ele não se virou para encarar a mulher que estava parada ali; ele não conseguia encontrar a paciência para isso. As saias de sua mãe rangeram quando ela se aproximou. — Haven.


A fúria o atravessou pelo uso do título, aqui, neste momento. Sempre um duque, nunca um homem. Quantas vezes ela lhe tinha recordado seu lugar? Seu propósito? Os sacrifícios que ela tinha feito para assegurar esse futuro para ele? Sacrifícios que a converteram em uma das mulheres mais temidas de Grã-Bretanha. Uma palavra da Duquesa do Haven poderia arruinar a uma jovem antes de que tivesse qualquer oportunidade. Não a atual duquesa. A viúva com título de nobreza. Malcolm ficou de pé, voltando-se para olhar para sua mãe, bloqueando sua visão de Seraphina. De repente, desejando vivamente, que saísse desse quarto. Que se afastasse de sua esposa. Ele passou roçando pela mulher mais velha e o cirurgião, indo para o corredor, esquivando-se das servas dispersas com suas cabeças inclinadas e sussurros silenciosos. Ele engoliu o desejo de lhes gritar. Não podia ir contra décadas de treinamento em título e posição. — Você está sendo dramático, — disse ela. — O maior de todos os pecados. Seu coração começou a bater com força. — Minha filha está morta. Minha esposa quase morta. — Seu olhar não se aqueceu. Ele não deveria ter ficado surpreso com o fato, e ainda assim isso fez com que se enfurecesse. Mas os duques não se enfureciam. Em vez disso, encontrou-se com seu frio olhar azul e disse: — Sua neta está morta. — Uma menina. O calor o atravessou. — Uma filha.


— Não é um herdeiro, — ela apontou, com uma fria certeza . — E agora, se tiver sorte, poderá começar de novo. O calor se converteu em fogo, fluindo através dele. Agarrando sua garganta. Sufocando-o. — Se eu tiver sorte? — Se a moça Talbot morrer. O médico disse que, se ela viver, ficará estéril, por isso já não terá utilidade. Pode encontrar outra e produzir um herdeiro. Um com melhor pedigree. Seu olhar se estreitou, as palavras difíceis de entender soavam como um rugido em seus ouvidos. — Ela é a Duquesa de Haven. — O título não significa nada, se ela não puder produzir o próximo duque. Foi por isso que você se casou com ela, não foi? Ela e sua mãe colocaram-lhe

uma

armadilha.

Pegaram-no.

Mantendo-o

com

a

promessa de um herdeiro. E agora tudo se foi. Eu seria uma má mãe se não desejasse que se livrasse de uma mulher tão barata. Ele escolheu suas palavras cuidadosamente. — Neste momento, você não poderia ser menos mãe. É uma cadela fria e sem coração. E quero que tenha partido dessa casa quando eu tiver retornado. Ela levantou uma sobrancelha elegante. — A emoção é imprópria de você. Ele deixou sua mãe então, porque ele não confiava em si mesmo para não libertar cada onça de suas emoções impetuosas sobre ela. Ele deixou sua mãe e foi enterrar sua filha no frio chão de janeiro, enquanto rezava para que sua esposa vivesse.


****

Quando despertou, Sera estava sozinha, em um quarto cheio de luz cegante. Seu corpo doía em todos os lugares – nos ossos, nos músculos e em lugares que não podia nomear. No lugar que lindamente antes estava cheio de algo além da esperança, e agora estava devastadoramente vazio. Moveu sua mão sobre a colcha, seus dedos deslizando-se sobre o linho imaculado e trabalhado, trazendo-o para seu estômago, macio, inchado e vazio. Uma lágrima escorreu, correndo por sua têmpora, deixando um rastro de solidão, enquanto se deslizava por seu cabelo e desaparecia. Imaginou que ela carregava o último fragmento de sua felicidade. Além da janela, o céu azul brilhante reluzia, nublado por nada mais que os pesados cristais. Um ramo de árvore nu a distância parecia mal formado, com grandes mancha negras sobre ele. Não era má formação. Eram corvos. Um... para a tristeza. Dois... para a alegria. Sua respiração enganchada em sua garganta. — As lágrimas não o trarão de volta. Sera se voltou para a voz, temendo o que encontraria ali. Não era seu esposo, mas sua sogra, que parecia estar acostumada a transitar em quartos em que não era bem-vinda. De fato, a duquesa viúva de Haven estava agora presente no pior dos quartos. Os que destruíam sonhos. A mulher era um presságio de tristeza. Inclusive se Sera não tivesse sabido


em sua alma que a criança tinha desaparecido, a presença da viúva provava isso. Sera desviou o olhar para a janela, para o céu, brilhante e cheio de promessas roubadas. Para os corvos. Três... para um matrimônio. Quatro... para um nascimento. Ela não falou. Ela não conseguia encontrar as palavras, e mesmo que pudesse, não estava interessada em compartilhá-las com essa mulher. Entretanto, a viúva encontrou suficientes palavras para ambas, no entanto, aproximando-se mais, falando como se fosse do clima. — Você pode não gostar de mim, Seraphina, mas faria bem em ouvir-me. Sera não se moveu. — Nós não somos tão diferentes, você e eu, — disse a mulher mais velha. — Ambas cometemos um erro prendendo um homem em matrimônio. A diferença é que meu filho sobreviveu. — Ela fez uma pausa, e Sera desejou que ela deixasse o quarto, repentinamente exausta pela presença da viúva. — Se ele não tivesse sobrevivido, eu teria fugido. Fugir… era um pensamento glorioso. Ela poderia fugir mais rápido? Da tristeza? Da dor? Ela poderia fugir mais rápido que estes sentimentos? — Não houve nenhum amor em nosso matrimônio. Assim como não há nenhum no seu. Ela estava errada, é claro. O matrimônio de Sera fora por amor... perdido.

E

agora,

enquanto

jazia

sozinha

nesta

cama


deslumbrantemente branca, neste quarto deslumbrantemente branco, nesta casa opressivamente desalentadora, sabia que seu matrimônio jamais seria um amor recuperado. Porque nunca voltaria a haver amor. Não para Malcolm. Não para seu filho. Não para ela. Estava sozinha neste quarto e na vida. Se ao menos pudesse fugir. Mas ele roubara a sua liberdade tão bem quanto roubara seu coração. E sua felicidade. E seu futuro. — Você está estéril. Sera não sentiu nada diante das palavras, que não tinham nenhum significado neste momento. Não se importava com a notícia de futuras crianças, de fantasias, apenas da criança que ela havia perdido. A criança que tinham perdido. — Ele vai precisar de um herdeiro. Ele não queria um. Não o tinha deixado claro? Sua mãe não o sabia, ou não se importava. — Você não o pode dar. Alguém mais pode. Sera olhou para outro lado. — Se você desejar, eu posso ajudá-la. Ela olhou para sua sogra, nos olhos azuis acinzentados e frios como a alma da mulher. Sera não fingiu entender mal. Ela sabia que seu desaparecimento era tudo o que esta odiosa mulher tinha desejado sempre. A viúva havia detestado Sera desde o começo: odiava as circunstâncias de seu nascimento, que seu pai fora um plebeu, que tinha comprado sua entrada na aristocracia e que sua mãe, estava disposta a fazer qualquer coisa para subir na escala da nobreza, que


tinha feito seu caminho com unhas e dentes, contando a todos que sua filha mais velha havia capturado um duque. Claro, Sera acreditou que o tinha capturado. Acreditou nele. Desejou-o sem medida. Mas esta mulher, esta fria e envelhecida mulher, assegurou-se de que isso nunca acontecesse. Apesar da promessa de uma criança. Por causa dessa mesma promessa. Até esse momento, Sera tinha planejado ficar. Para ganhar o perdão de seu esposo. Para desafiar a fúria da viúva. Mas isso tinha sido antes. Tinha sido, quando pensava que algum dia poderiam ser uma família. Quando ainda tinha sonhos de felicidade. Agora, ela compreendia melhor. As grossas saias rangeram quando a outra mulher se aproximou. — Você poderia fugir. Começar de novo. Deixar que ele fizesse o mesmo. Era uma loucura. E mesmo assim, não pôde evitar dizer: — O que acontecerá a nosso matrimônio? Um músculo se contraiu na borda dos lábios da viúva. Ela sentiu triunfo. — O dinheiro compra tudo. Incluindo a anulação. Sera olhou para os corvos lá fora. Cinco... por prata. Seis... por ouro. A viúva continuou. — A ausência de crianças facilitará o caminho.


As palavras foram uma tortura fria e silenciosa. A ausência de seu filho nunca facilitaria nada. — Diga-me seu preço, — a viúva sussurrou. Sera ficou em silêncio, observando a porta atrás da mulher mais velha, desejando que ela se abrisse. Desejando que seu esposo entrasse, cheio de uma tristeza dolorida como a que a consumia. Desesperados por chorar a morte de seu filho. Seu passado. Seu futuro. Disposto a perdoá-la. Disposto a pedir perdão. A porta de mogno permaneceu firmemente fechada. Ele não a desejava. Então, por que sim, deveria querê-lo? Por que não deveria fechar ela mesma essa porta? Por que não deveria escolher um novo caminho? Quanto para fugir? Quanto para um novo futuro? Quanto para fazê-lo? Quanto por uma vida, em solidão, pálida em comparação com a que ele tinha lhe prometido? Um futuro sozinho, mas sendo ela mesma. Ela sussurrou um número exorbitante. Suficiente para partir. Nunca o suficiente para esquecer. Sete... por um segredo que nunca se contará.


Capítulo 3 Complica-se, Duquesa exige divórcio! 19 de agosto de 1836 Câmara dos lordes, Parlamento.

Ele estava tão bonito quanto tinha sido, sempre. Não sabia por que esperava que fosse de outra forma: tinham passado três anos, não trinta, mas ela tinha esperado que ele tivesse mudado. Ou possivelmente não deveria esperar, mas esperava. Tinha albergado um pequeno sonho secreto de que seria menos perfeito. Menos bonito. Menos atraente. Mas ele não estava de menos. Em todo caso, ele somava mais. Seu rosto era mais anguloso, seu olhar mais predador, era inclusive mais alto do que ela recordava. E tão bonito, que inclusive enquanto se aproximava dela, vestido com a velha toga parlamentar e a peruca empoada que deveria havê-lo feito parecer uma criança brincando com um disfarce elegante, mas em vez disso, fazia com que ele se parecesse como um homem de propósito. Ou seja, retirá-la do salão da Câmara dos lordes. Ele separou membros do Parlamento similarmente resmungões, como se fosse uma grande capa de veludo vermelho, mesmo estando rodeados pelos gritos e zombarias daqueles aristocratas ali reunidos, cujo desdém ela conhecia muito bem antes de fugir. Homens que poderiam arruinar uma mulher em um abrir e fechar de olhos. Destruir uma família e um futuro. E fazê-lo sem sequer pensar duas vezes.


Ela odiava todos, e a ele mais ainda. Mas não por muito tempo. Ela planejava deixar de odiá-lo agora que tinha retornado, pronta para esquecê-lo. Tinha imaginado este momento durante meses, desde antes de retornar a Grã-Bretanha, todo o plano arquitetado para enfurecê-lo até ao ponto de aceitar a dissolução de seu matrimônio. Porque, se havia algo que Haven mais detestasse no mundo, era ser feito de tolo. Não tinha sido para isso o seu desaparecimento desde o início? Ele se aproximou, a enorme câmara repleta de lordes, e ela aparecendo justo ali. Ela tinha sido apanhada por seus olhos. De algum jeito não eram marrons, nem verdes, nem dourados, nem cinzas, e de algum forma eram todas essas cores ao mesmo tempo. Fascinantes e cheios de segredos. O tipo de olhos que poderiam roubar a inteligência de uma mulher se ela não fosse cuidadosa. Mas, Sera era mais cuidadosa, agora. Cuidadosa e inteligente. Ela resistiu o impulso de afastar-se dele, ao mesmo tempo que se sentia temerosa do que poderia acontecer se ele a tocasse, e determinou nunca mais se intimidar. A nunca mais ficar louca por ele. Nunca mais fugir dele novamente. Ela não era mais a mesma mulher que tinha sido quando partiu. Voltou com uma única promessa para si mesma; quando ela o deixasse desta vez, faria isso com orgulho. Com um propósito. Com um futuro. Ela tinha planos. E estes homens não a deteriam.


E foi assim que os homens mais poderosos de Londres, reunidos para o último dia da sessão parlamentar, testemunharam uma Seraphina, Duquesa de Haven, com um sorriso vencedor enquanto enfrentava o duque com mesmo nome titular, pela primeira vez em dois anos e sete meses. Exatamente. E lhe disse: — Esposo. Outra mulher poderia não ter notado o ligeiro entrecerrar de seus olhos, o leve resplendor de seu nariz, o aperto quase imperceptível de sua mandíbula quadrada. Mas um dia, Sera tinha passado a maior parte de um ano fascinada pela forma como este homem orgulhoso e imperturbável revelava a si mesmo, diante dela, no infinitesimal. Ele estava zangado. Bem. — Então me recorda. — As palavras foram baixas e agudas. É óbvio que ela o recordava. Não importava quanto o tenha tentado, parecia incapaz de esquecê-lo. E ela o tinha tentado. Ela levantou o queixo, agudamente consciente de sua audiência, e lançou a flecha. — Não se preocupe, querido. Eu prevejo que não precisaremos recordar um do outro por muito tempo. — Você está fazendo um espetáculo de você mesma. Ela permitiu que o sorriso se alargasse. — Você diz isso como se fosse uma coisa ruim. Com uma sobrancelha levantada, sentindo-se superior como sempre, disse: — Você está fazendo um espetáculo de mim.


Ela não vacilou. — Você diz isso como se não merecesse isso. Não esperava que ele a agarrasse, ou teria estado preparada para o que acontecesse quando seus dedos se envolveram em seu cotovelo, firmes, quentes e de algum jeito inesperadamente suaves. Teria se armado de coragem ante o assalto de lembranças muito antigas, que a fez sofrer. “Nunca senti nada assim.” Ela resistiu à lembrança e deslizou o braço de seu aperto com uma força graciosa que só ele sentiria e se ninguém estivesse observando nunca notaria. O duque não teve escolha senão soltá-la, inclusive quando baixou a voz e falou, as palavras mal saíram. — Quem é você? Foi sua testa que se levantou desta vez. — Você não me reconhece? — Não, nesta encarnação. Encarnação. Não era a palavra equivocada, porque ela tinha reencarnado. Isso era o que acontecia aos que morriam e retornavam. Havia se sentido como morta, assim como esta manhã, neste lugar, com todo seu calor e fedor rançoso, piorado pelo conjunto de pomposa assembleia masculina, mas agora se sentia de algum jeito, notavelmente, como se tivesse revivido uma vez mais. — Eu não poderia provar minha liberdade então. Seus lábios se esmagaram. Antes de que ele pudesse responder, um homem gritou da assembleia mais à frente. — Hei! Haven! Damas não é permitido no salão!


Sera virou-se para o homem. — Meu lorde Conde, acredito que queria dirigir-se a mim como Duquesa. Os homens reunidos resmungaram quando o conde em questão, agora apresentava as orelhas escarlates, falou para Haven. — Controle sua esposa. Sera voltou sua atenção para o esposo, mas não baixou a voz. — É impressionante que ele acredite que você é capaz de fazer tal coisa. Os olhos de seu esposo se estreitaram e o coração de Sera começou a bater. Ela reconheceu o olhar. Um animal, desafiado. Deixe-o vir. Ela também tinha dentes. — Em meu escritório. Agora. — E se eu recusar? — Ela o viu perceber seu poder. Quantas esposas poderiam entrar aqui, diante de Deus, do esposo e da Câmara dos lordes, e dominar o medo das repercussões? Esse era o segredo, é claro. Se alguém temesse a ruína, não poderia ameaçar com ela. Como Sera tinha visto a ruína em todas suas formas, tinha-a enfrentado e tinha sobrevivido, não tinha medo e, portanto, ela não podia lhe fazer mais dano. Partira de Londres por quase três anos, sua reputação ficara em farrapos muito antes de ter posto os pés na carruagem que a tinha levado para longe da propriedade de Haven, naquele horroroso dia de inverno. Era notável o poder que alguém tinha, quando não tinha nada a perder. Pelo menos, quando se pensava que não haveria nada a perder.


E então, ela estava diante da assembleia mais poderosa da GrãBretanha, frente-a-frente com seu esposo, que sempre a tinha dominado. Com seu coração, suas mãos, seu corpo e sua identidade exposto. Iguais por fim. E então esperou que ele fizesse seu seguinte movimento. Ela não esperava que ele sorrisse. — Você não deve se recusar. — Por que não? — Ela perguntou, a incerteza queimando, embora seria condenada se o demonstrava. — Porque se quiser o divórcio, necessitará de minha ajuda para obtê-lo. Seu coração começou a pulsar com força. Ele a daria? O divórcio? A liberdade? Poderia ser tão simples? A emoção explodiu. O triunfo. E algo mais, algo em que não queria pensar. Em troca, agitou um braço com exagero. — É óbvio, Sua Graça. Lidere o caminho. Deixaram o salão principal da Câmara dos Lordes ante uma cacofonia de desgosto e julgamento. No tranquilo corredor, Haven ficou a seu lado e disse, brandamente: — Valeu a pena o constrangimento? Essa cena? — Você me julga mal se acredita que me envergonharei pelas opiniões desses homens, — ela respondeu. — Eu sofri antes com as opiniões dele e vou sofrer novamente. — E uma e outra vez, se conseguir o que deseja. Ele se referia ao divórcio. E que ela nunca mais seria recebida com a aprovação social. Ele não podia ver que não se importava? — Você quer dizer, quando eu conseguir.


Ele deteve-se diante de uma enorme porta, desenhada para impressionar, e a abriu, revelando a suíte extravagante que havia dentro, um reservado para o punhado de duques que decidiam manter o espaço na Câmara dos Lordes. A sala era ampla e luxuosa, em mogno, couro e dourado, e cada superfície estava assentada em privilégios e poder. Ela entrou, incapaz de evitar roça-lo ao passar por ele, odiando a forma em que o mínimo toque a alvoroçava. E isso foi antes de que viessem as lembranças. Ela tinha estado aqui antes. Furtivamente, oculta e misteriosa, para vê-lo. Para surpreendê-lo. Assim como ela o surpreendeu hoje. Não. Naquele dia não era nada como o de hoje. Tinha sido o oposto de hoje. Naquele dia, ela veio por amor. Ignorou a ideia e girou para olhá-lo, inquieta quando a porta se fechou. O ruído surdo como um disparo. Arrancou a peruca da cabeça, atirando-a a uma cadeira próxima com suficiente indiferença para trair sua calma exterior. Trabalhou nas abotoaduras de grossa túnica, e ela se encontrou incapaz de afastar o olhar dessa mão grande e segura, bronzeada e coroada de graça e força. Quando sua tarefa esteve completa, tirou-a dos ombros, a ondulação do pesado tecido escarlate a distraiu, levantando seu olhar para o dele, onde uma escura sobrancelha se arqueou, com um reconhecimento inquietante. Quando a túnica estava pendurada em seu lugar, junto à porta, ele entrou mais na sala. — Onde você esteve?


Ela se mudou para a enorme janela que dava vista para o leste, para onde a cúpula de São Paulo brilhava ao longe. Cruzando os braços sobre o peito com indiferença afetada, ela respondeu: — Isso importa? — Enquanto você fugia de mim, e metade de Londres acreditava que eu sou culpado de algum tipo de plano infame, sim, importa. — Eles acham que eu estou morta? — Eles não dizem isso, mas eu imagino que sim. Suas irmãs não ajudam, olhando-me furtivamente franzindo o cenho cada vez que nos cruzamos. Ela inalou bruscamente, odiando a maneira como seu peito se apertou ante a referência a suas quatro irmãs mais novas. Mais amores perdidos. — E a outra metade de Londres? O que eles pensam? — Provavelmente o mesmo, mas eles não me culpam por isso. — Eles pensam que eu merecia isso. Claro. — Ele não respondeu, não obstante escutou a asseveração. Ela mereceu por apanhar ao pobre e elegível duque para casar-se, e nem sequer teve a decência de lhe entregar um herdeiro. Ignorando a pontada de injustiça que surgiu com o pensamento, ela disse: — E aqui estou eu, muito viva. Imagino que isso impelirá mais as línguas. — Onde você foi? — A pergunta era suave e, se ela não o conhecesse melhor, Sera teria pensado que estava cheia de algo além da frustração.


Sua atenção caiu sobre uma fileira de corvos negros posados no telhado da ala oposta do prédio, cintilando com o calor de agosto. Ela tomou um momento, contando-os antes de responder. Sete. — Para longe. — E essa é toda a resposta que devo receber? Eu... — A resposta foi cortada e irritada, mas a dúvida foi o que chamou sua atenção. Ela virou. — Você? Por um momento, ele pareceu que ia dizer algo mais. Em vez disso, ele balançou a cabeça. — Então. Você está de volta. — Sempre problemática, não é assim? — Ele se encostou contra a sua escrivaninha de carvalho com as mangas da camisa semi arregaçadas, colete e calças, as longas e musculosas pernas cruzadas nos tornozelos, um copo de cristal pendurado nos dedos, como se não se importasse com o mundo. Ignorou a forma como seu peito se apertou diante do quadro que via, e levantou uma sobrancelha. — Você não oferece a sua esposa uma bebida? Sua cabeça se inclinou levemente, a única evidência de sua surpresa antes que se endireitasse e se movesse para uma mesa próxima adornada com um decantador1 e três copos de cristal. Observou como ele vertia dois dedos do líquido ambarino: moveu-o da mesma maneira que sempre fazia, com privilégio e graça, levantando o copo e entregando-o com um braço estendido.

1

Decantador - recipiente onde se coloca bebidas alcoólicas.


Ela tomou um gole, e ficaram em silêncio pelo que parecia uma eternidade, até que ela não aguentou mais. — Você deveria estar feliz com o meu retorno. — Eu deveria? Ela teria dado tudo o que tinha para saber o que ele estava pensando. — O divórcio lhe dará tudo o que você sempre quis. Ele bebeu. — Como você adivinhou que eu desejava ser ridicularizado em todos os jornais de Londres? — Você se casou com uma irmã Talbot, Sua Graça. — Cinco moças, consideradas infames pelos tabloides de fofocas de Londres, que as haviam apelidado de “As Cinderelas Borralheiras” ou “As Irmãs Perigosas”, filhas do Conde de Wight, que era minerador de carvão com uma habilidade para encontrar valiosas reservas de combustível. Habilidade suficiente para haver comprado um título. Com o condado ou não, o resto da aristocracia não poderia suportar sua família, odiando-os por sua notável habilidade de ascensão, rotulando-a s de “celebridades” por causa da fama. A ironia, é claro, era que seu pai havia trabalhado para obter seu dinheiro, não tinha nascido com o prestígio pronto. Quão atrasado era o mundo. — Meu destino, então, uma das filha perigosa. Sera reteve o encolhimento pelo uso do apelido – aquele herdado por todas as irmãs Talbot. “Você me apanhou.” “Eu o fiz.”


“Saia.” — Não apenas uma qualquer, — disse ela, recusando-se a se encolher. — A mais perigosa. Ele a observou por um momento, como se pudesse ler seus pensamentos. Ela resistiu ao desejo de mexer-se. — Se não quer me dizer para onde foi, então talvez me diga por que voltou? Ela bebeu, considerando a mentira que teria que contar. — Eu não fui clara? — Você acha que um divórcio é tão facilmente obtido? — Eu sei que não é, mas você preferiria... isso? Ele não desviou o olhar, que era tão perturbador, parecia ver muito mesmo quando ocultava tudo. — Não seríamos os primeiros a sofrermos um matrimônio sem amor. Nem sempre tinha sido sem amor. — Já sofri o suficiente. — Ela abriu as mãos. — E, ao contrário do resto da aristocracia, não tenho motivos para não acabar com nossa infeliz união. Não tenho nada a perder. Ele olhou-a fixamente. — Todos sempre tem algo a perder. Ela equiparou o olhar com o seu. — Você se esquece de algo, esposo. Eu já perdi tudo. Ele desviou o olhar.


— Eu não me esqueço. — Ele tomou um gole, e ela observou os músculos de sua mão apertar e tencionar-se contra o copo, uma pequena parte, secreta e trancada dentro dela estava se perguntando se ele realmente recordava. Essa parte poderia permanecer bloqueada. Ela não se importava com o que ele lembrava. Ela se preocupava apenas com o fato dele ser um homem muito poderoso, com recursos notáveis, e que a dissolução de seu matrimônio era essencial para a vida que havia escolhido para si mesma. Aquela que ela tinha construído em cima das cinzas da vida que tinha deixado para trás. — Deixe-me ser completamente clara, Haven, — disse ela, forçando a formalidade. — Esta é a nossa única chance de nos livrarmos um do outro. Para que possamos nos desfazermos do nosso passado. — Ela fez uma pausa. — Ou tem outros planos para exorcizar os demônios do nosso matrimônio? — Ele exalou, dirigindo-se a escrivaninha, como se essa conversa tivesse terminado. Ela o observou, considerando sua reação. Imaginando o que ele estava pensando. — Você tem? — Eu tenho, de fato. — A surpresa a assaltou. Havia apenas três maneiras de dissolver um matrimônio. E essa que ela planejara era uma e as outras... — A anulação não é possível, — disse e ela odiou o fio de tristeza que se ouvia nas palavras. Ante a ideia de que ele poderia insistir nisso. Tinha havido uma... Tinha havido uma criança. Ele encontrou seu olhar então. — Não haverá anulação. — Então tinha a intenção de que me declarassem morta. — Tinhalhe ocorrido isso, é claro. As noites, quando pensava na possibilidade de que ele pudesse desejar um herdeiro. Que ele poderia ter mudado de


opinião. Que ele poderia ter decidido que outra mulher e outra família eram mais desejáveis. Havia apenas uma maneira de limpar o caminho para um novo herdeiro. Com exceção do fato de que ela não estava morta. E uma outra questão menor. — Quatro anos apenas? — A lei exigia que sete anos se passassem antes que uma pessoa pudesse ser declarada morta. Ele desviou o olhar. — Ah. Mas você tem os recursos e o poder de contornar uma pequena coisa como a passagem do tempo, não é mesmo, Duque? Seu olhar se estreitou. — Você diz isso como se não pretendesse usar esses mesmos recursos para convencer o Parlamento em nos conceder o divórcio, algo tão exorbitantemente caro que houve, o que... duzentos e cinquenta autorizados? Na história? — Trezentos e quatorze, — respondeu Sera. — E, pelo menos, no final do meu plano, ambos estamos vivos. Eu devo morrer em breve? Tenho sorte de ter chegado antes do recesso de verão e não depois? Quando o Parlamento retornar do idílio de verão, descansados e prontos para fazerem desaparecer uma duquesa e abrir espaço para outra? — Já não importa, não é? — Ele disse, as palavras calmas o suficiente para tentá-la a enfurecer-se. Não deveria ter. Ela tinha um objetivo. The Singing Sparrow2, sua taberna. E com isso fundos, liberdade e futuro. Nenhum dos quais era dela até que ele cortasse as rédeas.

2

The Singing Sparrow - O Canto do Pardal


— Então, diga-me Sera. Qual é o motivo que dará para a dissolução de nossa outrora legendária união? Existem argumentos limitados para o divórcio. Então, qual é o nosso? Você deve dizer aos meus colegas que eu era intoleravelmente cruel? Declarar a todos em Londres que eu sou um lunático? Talvez você tenha sido forçada a se casar comigo? Não, — ele zombou. — Todos sabem que você veio de bom grado. Até trotava pelos corredores para me colocar os grilhões. — Que moça tola eu era, — ela retrucou. — Isso foi antes de saber a verdade. Seu olhar se estreitou. — E que verdade é essa? Que você nunca me quis. Que você se importou mais com seu título do que pelo seu futuro. Que nunca seríamos mais que um momento passageiro e fugaz. Que não se importou quando nossa família se tornou uma impossibilidade. — Não importa. — Eu nunca menti, — disse ele. Foi um eco de anos antes. "Mentiu." Ela ainda podia ouvir as palavras, como se ele tivesse dito ontem em vez de três anos atrás, quando se recusou a ouvi-la. Quando se negou a acreditar. Porque ela não tinha mentido. Não quando era importante. Ela ergueu o queixo, desafiador e defensivo. — Nisto, esposo, você esqueceu. Ele colocou o copo em sua escrivaninha com um baque sinistro, pontuando seu movimento quando se aproximou dela, um músculo crispando na bochecha era a única indicação de sua irritação.


Sera fez com que sua respiração e seu coração se acalmasse. Tinha a intenção de enfurecê-lo. Tinha a intenção de pô-lo nervoso, de levá-lo ao limite, para fazer com que ele desejasse ela fosse embora. Para lhe dar o que ela queria. Para liberá-la. Tinha planejado estar aqui. Planejado irritá-lo. Para deixá-lo com o gosto amargo do rancor durante todo o verão. Ela

simplesmente

não

esperava

estar

tão

presa

em

suas

lembranças. — Não o esqueci, Seraphina. Nem um só momento disso. E você tampouco. — Ele se aproximou, e ela não pôde deter o passo que deu para trás, em direção ao peitoril da janela, com vista para Londres, a cidade que se curvava ante ele como o tinha feito ela alguma vez. Ela respirou fundo, negando-se a deixar que ele a intimidasse. E ele não a intimidou. Ele fez algo muito pior. Estendeu a mão para ela, seus dedos tocaram brandamente a coluna de seu pescoço, mal roçou, um sussurro que deveria ter sido capaz de ignorar. — Acha que não te recordo o suficientemente bem para notá-lo? Acha que não vi as lembranças te assaltarem quando atravessou por essa porta? Nessa sala? Acha que não tenho essas mesmas lembranças? A última vez que você esteve aqui? Nesta sala? Ela engoliu saliva, não gostava da forma em que ele fechou o cerco sobre ela. — Não me lembro de ter estado aqui. — Pode mentir para o resto do mundo, Sera, — ele disse, seus dedos brincando sobre seus ombros. Ela não se afastaria. Não o deixaria ganhar. — Menta para si mesma, inclusive a mim. Sobre seu passado e


seus planos para o futuro. A respeito de seu passado e seus planos para o futuro. A respeito de onde estiveste e para onde pensa ir. Mas nunca, nunca, imagine que não conheço a verdade de suas lembranças. Seu toque se inverteu, voltando para seu pescoço, desta vez encontrando sua nuca, seus dedos se fecharam quentes e seguros, seu polegar acariciando sua mandíbula forte e familiarmente através dela, inclinando seu rosto para ele. Marcando-a com o passado. Com suas palavras, suave como a seda. — Nunca imagine que não sei o que sentia ao me ver tirar essa túnica, e pensava todo o tempo em sua consistência. Na suavidade dela contra sua pele. Na forma em que uma vez esteve nua sobre ela neste mesmo piso. Do jeito que eu deitei aqui com você. Ele estava tão perto agora, perto o suficiente para sentir seu cheiro – couro e terra, como se ele tivesse vindo do campo, em lugar da Sala do Parlamento – intoxicando-a com sua proximidade, mesmo enquanto suas palavras doíam. Mesmo enquanto dizia a si mesmo que não se importava. — Eu lembro, Sera. Lembro-me do seu sabor, como a luz do sol e a paz. Lembro-me da sensação de ter você, o calor e a seda. Lembro-me da maneira que você ofegava, roubando meu fôlego para você. Lembro como você se ofereceu como um prêmio, fazendo-me acreditar em você. Em nós. Antes que eu caísse e você triunfasse. A insinuação de que ela tinha arruinado o que poderiam ter tido, não deveria havê-la surpreendido, e mesmo assim o fez, mobilizando-a para encontrar uma resposta e lançar seu próprio golpe.


— Nunca foi um triunfo. Foi o pior erro da minha vida. Seu objetivo foi obtido. Ele a soltou. Graças aos céus. — Recebeu seu título, não? Suas irmãs, a escada que necessitavam para escalar as paredes da aristocracia. E sua mãe, a voz para levar seu triunfo ao mundo. Sua filha mais velha tinha apanhado um duque. Só porque nunca quis nada no mundo, como eu amei você. Ela sacudiu a cabeça, odiando-o por estar tão perto. Odiando-se a si mesmo por querê-lo, mesmo quando não queria ter nada que ver com ele. — Eu não quero mais isso. Ele se aproximou, com os olhos fixos nela, obrigando-a a inclinar sua cabeça para trás para seguir olhando-o. — Você deveria ter considerado isso antes de tomá-lo. — Mais perto ainda, até que ela pudesse sentir o calor suave de sua respiração em sua pele. Em seus lábios. — Você acha que não arruinou este lugar para mim? Este lugar é para homens de propósito? Os que fazem história? Por legado? Acha que não estou em constante lembrete de você? Do futuro que poderíamos ter tido? Era uma mentira, é claro. Ele não pensou em seu futuro. Se ele pensasse nela, era com raiva e nada mais. Mas até agora ele brincava com ela, procurando emocioná-la. Sempre tinha sido seu brinquedo. Nunca sua igual. Ela negou com a cabeça, negando-se a deixar-se influenciar. Negando-se a ser dissuadida de seu objetivo. — Basta, — disse ela. — É um passado antigo. Ele riu um pouco com isso, sem humor. — O passado é um prólogo, Anjo. Penso nisso todos os dias.


Os lábios de Sera se separaram em um suspiro silencioso. Ele estava perto o suficiente para beijá-la, e de repente ela também se lembrava. A sensação dele. O sabor dele. A forma como ele a fazia doer com vontade. Exceto que já não era mais uma moça tola e estúpida. Ela colocou as palmas das mãos contra seu peito, os nervos fortes e musculosos sob sua camisa se endureceram ante o movimento, ondulando enquanto ela as deslizava sobre seus ombros, seus dedos brincando com a cálida pele de

seu

pescoço,

provocando-o.

Ele

recuou

um

pouco,

quase

imperceptível. Sera detectou, no entanto. Sentiu vitória. Seu próprio sussurro ecoou na sala. — Sua lembrança falha, se pensar que causei tantos estragos sozinha, esposo. Havia dois de nós nessa túnica. Dois de nós em Highley no dia que te apanhei. Dois de nós em Londres no dia que te supliquei que me libertasse, no dia em que você jurou que tomaria sua vingança por meus pecados me negando o único que sempre quis — Estava orgulhosa do aço contido em suas palavras. De como ela pode falar sem que sua voz se quebrasse, a forma como levantou a cabeça, seus olhos, esses lindos e misteriosos olhos, encontrando os seus. Sem invocar a lembrança da criança e a esperança que ela havia perdido naquele dia. Orgulhosa o suficiente para manter seu propósito e anotar um ponto a favor. — Mas talvez você não se lembre dos detalhes tão bem como pensa. Certamente, é difícil lembrar-se de todo o tempo comigo, quando houveram tantas outras mulheres desde então. Ela se deleitou com sua resposta, a maneira como a cabeça se aproximou, seus olhos fixos nela. Ele a observou, sua raiva clara, e ela esperou seu próximo movimento. Ansiara por isso, mesmo enquanto se odiava por fazê-lo.


Sempre tinha sido assim. Intenso e uniformemente equilibrado. Tentador além de toda medida, inclusive até a dor. — E então chegamos a isso. Adultério — Passou-se uma mão pela parte posterior do pescoço enquanto olhava para o outro lado, exalando uma suave risada — Infelizmente, isto é Londres de 1836, e embora possa pensar que é uma verdadeira Boadicea3, esposa, a lei não considera assim. Minhas ações além de nosso quarto não são motivo de divórcio. Terá que seguir procurando. Ela limpou uma mancha invisível em sua manga, tentando demonstrar aborrecimento. — Não tema, Duque. Sempre existe a impotência. Seus lábios se esmagaram em uma linha fina e reta quando Sera passou por ele, em direção à porta da câmara, seu coração pulsava com força pela proximidade, pela lembrança, o pânico e por algo mais que não queria investigar. Soltou o fôlego que tinha estado contendo em uma longa e lenta exalação enquanto alcançava o trinco da porta. Voltou-se e descobriu que estava olhando pela janela, através dos telhados de Londres, a luz solar dourada e líquida brilhando ao redor dele como um halo, marcando os ombros largos, sua reta coluna vertebral, seus fortes braços e estreitos quadris. odiava-se a si mesmo por notar tudo isso. Por lembrar da sensação disso. O calor dele. — Malcolm, — ela disse, o trinco da porta girou em suas mãos. Ele se voltou-se ao escutar seu nome, mas não a olhou, nem sequer quando disse, orgulhosa e clara — Eu sinto que devo ressaltar que, enquanto as

3

Boadicea foi a rainha dos Iceni, uma tribo celta que liderou uma enorme revolta contra as forças de ocupação do Império Romano na Grã-Bretanha, nos anos 60 d.C. durante o reinado do imperador Nero


infidelidades de um esposo não podem ser motivo de divórcio, as de uma esposa é uma coisa completamente diferente. E com sua fala final, a duquesa de Haven deixou o escritório de uma das salas do Parlamento, com o escândalo tremulando em seu rastro. Escândalo e com um esposo tão furioso, que ela imaginou que seu divórcio chegaria rápido e sem vacilação.


Capítulo 4 Muito bem, Serafina! Os olhos do Duque encontram sua futura esposa. 1 de março de 1833 Três anos, cinco meses e duas semanas antes. Mayfair, Londres

— Certamente não há nada pior no mundo que o primeiro baile da temporada. — Haven abriu caminho para uma pequena varanda em House Worthington, agradecido pelo ar puro e frio de março, uma pausa bem-vinda do calor enjoativo e fedor dentro das salas, cheio de mais aristocratas do que ele poderia ter imaginado, todos desesperados para retomarem a vida da cidade depois de meses no campo, consumidos pelo tédio. — Não é tão ruim, — respondeu o marquês de Mayweather, fechando a porta atrás dele. Haven olhou para seu amigo com um olhar cético. — É impossível mover-se com todas as debutantes e casamenteiras ali dentro. Elas estão atrás de nós, como se fôssemos carne. Mayweather sorriu.


— Há o que, meia dúzia de títulos em jogo esta temporada? Quer dizer, títulos jovens e sem deficiências. Um marquês e um duque na cúspide da meia idade são excelentes partidos, Haven. — Trinta não é a meia idade. O marquês se dirigiu para a balaustrada da varanda, colocando sua bebida no balcão e contemplou os extensos jardins. — É velho o suficiente para que o matrimônio esteja em nossas mentes. Metade dos homens da aristocracia esperavam até os trinta anos para se casarem. Muitos até o final dos trinta. Haven não era um idiota, sabia que sua vida de solteiro estava com o tempo contado. Logo necessitaria um matrimônio e um herdeiro, mas sabia que não estava interessado nos bailes e longas caminhadas através de Hyde Park para encontrá-lo. A ideia era ridícula Quantas vezes Haven tinha ouvido do próprio Mayweather que afirmava que os herdeiros podiam ser acossados a qualquer momento? A não ser que... — Cristo, — disse Haven suavemente na escuridão. — Você foi apanhado. Isso era um rubor? Alguém tem seus belos anzóis em você. O marquês desviou o olhar. — Você não precisa fazê-lo parecer tão mercenário. Você mesmo disse que nossos títulos nos fazem parecer carne. Ela não pensa nisso assim. Haven apostaria tudo o que tinha que a mulher fizesse exatamente isso. Ele ergueu uma sobrancelha.


— Não, tenho certeza que não. Tenho certeza de que o seu é um adequado caso de amor. Mayweather franziu o cenho. — Você não precisa fazê-lo parecer tão improvável. Não, improvável não. Impossível. Talvez fosse razoável que os outros assumissem que suas esposas chegavam a eles com sentimento. Com desejos. Com algo mais. Mas se isso fosse verdade, era para os homens mais afortunados. Para homens nascidos além do jugo de título, fortuna e responsabilidade. Os cocheiros de Hackney e os varredores de rua e os marinheiros podiam se casar com paixão e até mesmo por amor. Mas homens como ele e Mayweather? Duques e marqueses, jovens e ricos e titulados? Para eles não havia tal coisa como o amor. Havia apenas dever, que exigia o matrimônio, mas, se Haven soubesse alguma coisa, era isso: que os homens deveriam entrar no matrimônio com os olhos bem abertos, conscientes do desapontamento que a instituição certamente colocaria sobre eles. Malcolm, Duque de Haven, sabia sem dúvida, já que foi o produto de uma decepção. Quantas vezes seu pai tinha olhado para ele, com o fracasso e algo pior em seu olhar? Não era lamento, embora isso também estivesse lá. Algo como uma aversão, como se estivesse disposto a apagar seu filho do tempo e do espaço, se isso lhe desse de novo a vida que tinha tido uma vez. Haven sempre tinha imaginado que seu pai havia sentido agradecido quando a morte veio, e com isso, a liberdade da horrível realidade com a qual ele tinha sido selado. E, então, havia a mulher com quem o duque tinha casado. A mãe de Haven. Nascida sem título ou fortuna, subiu ao mais alto nível da terra. Duquesa. E a maneira como ela lidava com seu filho, fria e


distante, com um pouco de orgulho, não pela criança que ela tinha gerado ou pela forma que ele crescera, a não ser para sua grande decepção, por ser o responsável por seu lendário triunfo. Graças a ele, ela tinha o título que tinha roubado. Então, não se enganaria. Haven conhecia bem a própria vida para acreditar que outros poderiam ter isso de forma diferente. E ele se preparou para seu futuro, sabendo que se as pessoas esperavam uma decepção, jamais poderia estar decepcionado. Aproximou-se de seu amigo, apoiando suas costas na balaustrada e olhando a luz dourada dentro do edifício mais à frente. — Estou simplesmente dizendo que o amor é uma grande falácia, — disse ele. — As mulheres estão atrás da estabilidade e conforto, nada mais. E se alguém está perseguindo-o, ela está atrás do seu título, amigo. Não duvide. Mayweather se virou para olhar para ele. — É verdade o que eles dizem sobre você, sabe. — O que é isso? — Você é um bastardo de coração frio. Haven assentiu com a cabeça e respirou fundo. — Isso não me faz mal. — Não, mas isso faz de você um asno. — As palavras vieram da escura escada de pedra que conduzia aos jardins, clara e segura, como se a mulher que as disse tivesse prática de espreitar homens aristocratas, para que dissessem algo, pelo qual, depois poderia castigálos. Mayweather não conseguiu conter sua risada surpresa.


— Da escuridão, surge a verdade. Ela respondeu ao marquês. — Se um de meus amigos me dissesse tais coisas, meu lorde, eu deveria procurar outro amigo. Um com melhores maneiras. Mayweather sorriu para Haven. — Não é uma ideia terrível. Haven entrecerrou os olhos para as sombras, mal podia distinguir a figura feminina ali, deteve-se a meio caminho nas escadas, apoiada contra o exterior da casa. Quanto tempo tinha estado escutando? — Considerando que você está espreitando e escutando conversas para as quais não está convidado, não tenho certeza de que se possa confiar em sua avaliação do estado de minhas maneiras. — Eu não estava escutando. — Não? — Não. Quer dizer, eu estava escutando. Mas não estava espreitava. Eu estava simplesmente aqui. O fato de que tenha eleito este preciso momento e lugar para se refugiar e dar sua conferência não solicitada, sobre a perversidade da mulher, é uma questão de minha própria e terrível sorte, devo acrescentar. Asseguro-lhe, senhor, que sou testemunha de suficiente calúnia da metade da população feminina em virtude de ser um ser humano vivo. Não precisava escutar às escondidas. Haven teve que esforçar-se para evitar que sua mandíbula caísse. Quando foi a última vez que uma mulher falou com ele assim? Quando foi a última vez que alguém falou com ele assim? Mayweather riu.


— Quem quer que você seja, deixou-o sem palavras. E serei o primeiro a dizer que pensei que isso era uma impossibilidade. — Uma pena… — ela disse arrastando as palavras das sombras. — Eu

esperava

que

ele

continuasse

sua

dissertação

edificante:

Manipuladoras mercenárias, uma meditação sobre o papel da mulher no mundo. É positivamente uma teoria digna do Wollstonecraft.4 Finalmente, Haven encontrou sua língua. — Os homens de Londres estariam melhores se prestassem mais atenção aos meus pontos de vista sobre esta questão em particular. — Sem dúvida, isso é verdade, — ela provocou, e ele descobriu que gostava do calor que alagava suas palavras. — Diga, bom lorde, como é que você é um especialista em mulheres ou em... como as chamou, belos anzóis? Por um momento, ele considerou a ideia de que os belos anzóis desta mulher poderiam ser... de unhas na sua pele, por suas costas. Seus dentes em seus lábios. Ele afastou os pensamentos. Ele nem a tinha visto. Não tinha necessidade de fantasiar com uma mulher na escuridão. Dirigiu seu olhar mais desdenhoso em sua direção. — Experiência. Ela riu, o som lambeu sobre ele como pecado. Ele se endireitou. Quem era ela? — Você é tão desejado assim? Para poder detectar uma benjamima de títulos a trinta passos? 4

Wollstonecraft. - Mary Wollstonecraft foi uma filósofa e escritora inglesa. Especificamente, as alusões de Mary Shelley ao que os radicais acreditavam ser uma revolução fracassada na França e as respostas de Godwinian, Wollstonecraftian e Burkean, desafiam" a fé do Iluminismo na inevitabilidade do progresso através de esforços coletivos.


Ela se moveu enquanto falava, subindo os degraus. Aproximandose. Ela não estava a trinta passos de distância. Ela estava a dez passos de distância no melhor dos casos. Cinco, se ele alongasse o seu passo. Seu coração se acelerou. E isso foi antes que ela saísse à luz, brilhando como uma maldita deusa. Ele saiu da balaustrada sem pensar, como um cão babando em uma coleira. Não a reconheceu, o que parecia impossível, já que ela era morena, tinha cabelos escuros e pele clara, com olhos de safiras. Era difícil acreditar que uma mulher tão perfeita, e tão inteligente, estivesse fora das normas da Sociedade. A mulher misteriosa flutuava ali, no lago dourado da luz das velas, seu olhar caindo sobre Mayweather, fazendo que Haven desejasse que seu amigo fosse embora. Deixando-o tão ciumento como o inferno. — Meu lorde, se me permite opinar, você não deve ouvir seu amigo insensível. Se a dama disser que se preocupa com você, acredite. Mayweather esqueceu seu conhaque na beira da varanda e se moveu em direção a ela. — Ela disse-me isso. — E você se importa com ela? — Sim, me importo, — ele disse com tanto fervor, que Haven se perguntou se o amigo tinha ingerido algo venenoso. Ela assentiu com convicção. — Muito bem então. O amor é tudo o que é necessário. — Então ela sorriu e Haven teve problemas para respirar.


Mayweather não parecia ter o mesmo problema com a respiração. Em vez disso, exalou, longo, dramático e ridículo. — Isso é o que todos dizem. — Nem todos. Seu amigo acredita que todas as mulheres estão no mercado para roubarem um título. Mayweather sorriu. — Ele tem um título particularmente desejável. Esse

olhar

cerúleo

caiu

sobre

Haven,

curiosa

e

sem

reconhecimento, e tão honesta que pareceu tê-lo visto pela primeira vez. — Ele? Bem, então será uma pescadora jovem e afortunada aquela que o enlace legalmente. Com isso, ela virou-lhe as costas, como se ele não existisse, e se dirigiu para a porta, como se ela não se importasse nem um pouco com ele. Como se não o tivesse reconhecido. Era impossível, é óbvio. Era um tipo de jogo o que ela estava fazendo, para tentá-lo. E apesar de sabê-lo, encontrou-se tentado de todos os modos. — Eu devo acreditar que você não me conhece? Calou-se

e

se

virou,

o

humor

ressaltando

suas

palavras,

desequilibrando-o. — Com o risco de parecer grosseira, meu lorde, eu particularmente não me importo com o que você acredita. Como nunca nos vimos, não sei como poderia conhecê-lo. Mayweather soltou uma gargalhada, e Haven teve

a clara

necessidade de empurrar seu amigo do balcão para as sebes abaixo.


— Ela pegou você. Ela não o tinha. Ele não deveria ser pego. — Sua Graça, — disse ele. Ela piscou. — Peço que me desculpe? — Você me chamou de "meu lorde". É "Sua Graça". Ela sorriu. — Como sabe o quanto as mulheres adoram serem corrigidas pelos homens? E sobre as formas de títulos, especialmente. É uma grande maravilha que nenhuma de nós tenhamos nos apaixonado por você. — Ela fez uma pequena reverência, o movimento o fez sentir como o traseiro de um cavalo. — Adeus, cavalheiros. E ainda assim, ele não conseguiu se deter. — Espere. Ela se virou, linda e equilibrada. — Cuidado, Duque. Ou eu começarei a pensar que é você o que está tratando de cravar seus bonitos anzóis em mim. A ideia era absurda. Não era? — Seus amigos. Ela levantou as sobrancelhas. — O que tem eles? — Alguma vez eles não me mencionaram? — Era honestamente possível que ela não tivesse ideia de quem era?


Seus lábios se contraíram com diversão. Ela estava fazendo dele um tolo. Não, ele estava fazendo um de si mesmo. Por ela. Como um imbecil. — Eu não tenho amigos. Eu tenho irmãs. E sigo sem ter claro por que deveriam saber ou preocuparem-se com você. Mayweather soprou diante disso, claramente desfrutando de vê-lo fazer o ridículo. E mesmo assim, Haven não parecia poder deter-se. Ele abriu os braços. — Eu sou Haven. Ela riu então. — Bem, você certamente tem uma alta opinião sobre você, Céu. Mayweather riu e Malcolm ficou irritado. — Haven. O Duque de... Não houve uma onça de reconhecimento em sua resposta. — Justo. Então... eu tomo tudo de volta. Não há dúvida de que é um espécime masculino jovem e bastante bonito que detém o que soa ser um título apropriado, deve ter cuidado. As mulheres, devem congregar-se a sua volta como rebanho. Isso. Ela finalmente entendeu. Espere! Ele piscou. Bastante bonito? Quem era ela? Além de ser a mulher mais enlouquecedora de toda a cristandade, isso era. Ela voltou sua atenção para Mayweather, descartando Malcolm. — Boa noite, meu lorde. E posso dizer… boa sorte? O marquês se inclinou levemente.


— Obrigado senhorita... — Deteve-se, e ocorreu a Haven que Mayweather não era tão mau depois de tudo, se descobrisse o nome da jovem. Um amplo sorriso, aberto e bem-vindo em seu rosto, Malcolm sentiu o calor dela como o sol. — Que estranho. Parece que você também não sabe quem eu sou. Ele piscou. — Nós deveríamos? — Não, — ela respondeu: — Eu não sou o céu, afinal... — Exceto que ela malditamente parecia um céu. Mas ela estava girando o trinco da porta. Ela estava deixando-o. — Detenha-se! — Ele disse, odiando o desespero em sua voz. Virtualmente podia escutar a cabeça de Mayweather que se virava para olhá-lo, e de repente, Haven não se importava nem um pouco. Porque ela se deteve, e isso era tudo o que importava — Não pode ir sem nos dizer quem é. Seu olhar brilhava à luz das velas. — Oh, acho que posso. — Você está errada, — ele insistiu. — De que outra forma Mayweather irá encontrá-la se tudo der errado com Heloise? — Helen, — interveio Mayweather. Haven acenou com a mão. — Certo. Ela parece adorável. Muito boa para este imbecil. Ele vai precisar do seu conselho se quiser ficar com ela.


— Desculpa!? — Protestou o marquês, mas ele não se importava. Porque a mulher riu, brilhante, ousada e linda, e tudo o que Malcolm queria fazer era aproveitar desde som. Do seu calor. Em vez disso, ele lhe ofereceu o seu sorriso mais encantador e disse: — Vamos começar de novo. Eu sou Malcolm. Por sua própria vida, não tinha ideia de por que acreditava que era necessário oferecer seu nome de batismo, que ninguém tinha usado em vinte anos. Suas sobrancelhas se ergueram. — Não sei por que deveria pensar que me importo com seu nome, Sua Graça, já que sou mulher, e portanto, já possuo toda a informação relevantes

relativas

a

você.

Ela

trocou

para

um

sussurro

impressionado. — Você é um duque. A provocação estava de volta, e ele adorava. Ela era notável. — No entanto, é costume que as mulheres se apresentem aos homens que pretendem caçar. Ela inclinou a cabeça. — Eu admito que nem sempre estive em círculos tão altos, mas estou bastante segura de que não é costume que uma mulher se apresentar à dois homens estranhos em uma varanda privada. — Não é estranho absolutamente, — ele disse. — Bem, talvez Mayweather seja, com sua obsessão com Hester. — Helen! — Interveio Mayweather, tirando outro pequeno sorriso da beleza.


— Parece que temos o mesmo desinteresse pelos os nomes de batismo, — disse ela. — Se você desejar, eu me lembrarei de tudo sobre ela, — ele respondeu. — Mayweather, conte-me outra coisa sobre a sua Helen. — Ela tem gatos. Ele se virou para o amigo dele. — No plural? Mayweather assentiu. — Seis deles. — Bom Deus. Não imagino que esquecerei disso. — Eu gosto de gatos, — disse o anjo. — Eu acho eles inteligentes e reconfortantes. Mayweather sorriu. — Como Helen. Ela combinava com a expressão de seu amigo. — Ela parece adorável. — Ela é. De fato... Não. Não mais Helen. — Na verdade, você deveria ir até ela e dizer-lhe isso, — Haven interrompeu, escutando a música que chegava do salão de baile para a varanda privada. Aferrando-se a isso disse: — E dançar com ela. As mulheres gostam de dançar. — As sobrancelhas do anjo se divertiram quando ele insistiu. — Parte, Mayweather.


Pela primeira vez em sua vida, o marquês de Mayweather entendeu o subtexto. E deixou os dois sozinhos, finalmente. Envoltos na escuridão e o frio, mas de algum jeito ela o esquentava como o sol. Haven se moveu para ela. Não desejando nada mais que estar perto dela. — Você está com frio? — Deixou que sua voz baixasse, querendo tentá-la como ela o tinha tentado. Desejando que o desejasse como ele a desejava. Mas principalmente, querendo que ela ficasse. Ela engoliu saliva, e ele pôde ver o movimento em sua garganta, sua boca umedecida pelo desejo de pressionar seus lábios ali, para sentir se seu pulso se acelerava como o dele estava. Para saborear a pele, salgada e doce. Quando ele ergueu o olhar para o dela, pôde ver que poderia permiti-lo. Que não estava impassível. — É hora de partir, — ela sussurrou. A ideia de que ela iria partir, e de que ele nunca mais voltasse a vêla novamente, de que nunca poderia conhecê-la o fez sentir coisas que não apreciava. Então, em vez disso, ele disse suavemente: — Você dança? Ela inclinou a cabeça. — Se eu gosto de dançar? — Sim. — Eu gosto, de fato. — Você gostaria de dançar? Comigo?


Seus perfeitos dentes brancos brilharam. É óbvio, seus dentes eram perfeitos. Tudo nela era perfeito. — Nós não podemos dançar. Não fomos apresentados. — Então dance comigo aqui. Em segredo. — Não. Era um jogo. Podia senti-lo em seu peito, faltava-lhe fôlego. — Por quê? — Isso poderia me arruinar. Se fôssemos encontrados. Ele se aproximou, o suficientemente perto para poder tomá-la em seus braços. — Eu nunca iria te arruinar. Isso deveria ter sido um flerte. Uma graça vazia e provocadora. Algo que os homens falavam às mulheres para atraí-las ao perigo. Mas não era isso. Era uma promessa. E mais do que isso, era a verdade. Ele nunca a arruinaria. Não seria uma ruína quando se casasse com ela. Ele se retesou. Cristo. Ele se casaria com ela. Ele se casaria com essa mulher. Essa revelação deveria havê-lo enchido de terror. Nem dez minutos antes, ele tinha amaldiçoado toda a instituição do matrimônio, sugerindo que todas as mulheres eram caçadoras de títulos e todos os homens que aceitavam careciam de senso comum. Mas agora, ele não estava cheio de terror. Estava cheio de algo um pouco completamente diferente. Algo como a alegria. Como a esperança. E, como resultado dessa compreensão, atraiu para seus braços esta mulher cujo nome ainda não conhecia. Ela ofegou, e ele se deleitou com


o prazer do som, que se correspondia com o seu, quando descobriu o que significava abraçar à mulher a quem estava destinado. Começaram a mover-se ao compasso da música, suave e distante, escondendo-os em privacidade. — Lembro-me de ter me recusado a dançar, Duque. — Malcolm, — ele disse, suave em sua orelha, amando seu arrepio ao nome dele. — Diga-me isso outra vez, agora que está em meus braços. Agora que estou nos teus. E me deterei. Ele não tinha certeza de como, mas o faria. Ela suspirou, seus lábios se curvando em um sorriso pequeno e adorável — Você é muito difícil. Ele poderia viver naquele sorriso. — Foi-me dito isso. — Eu pensei que os aristocratas deveriam ser complacentes. — Não os duques. Você não ouviu que somos o pior do lote? — Brincadeiras, encanto e beleza pura, não adulterada. — Então, simplesmente deixam que alguém se converta em um duque, verdade? Sem deferência? Ele a virou para a luz, revelando seu belo rosto. — Se você acha que os duques são ruins, Anjo, imagine o que eles pensam das duquesas? — Seus olhos se arregalaram ante as palavras, seus lábios desenharam um sorriso, cheio e encantador, toda segredo e pecado.


— Imagino, de fato. — E ele não conseguiu se conter. Ele não queria. Casaria com ela, afinal. Eles passariam toda a vida se beijando, então por que não começar agora? Apenas um gosto. Ela suspirou quando ele fechou a distância, e escutou seus pensamentos em seus lábios. — Apenas um gosto. Ela era perfeita. Colocou seus lábios sobre os dela, o fogo se estendeu através dele quando ela conteve a respiração, logo suspirou, baixo e doce, enquanto lambia brandamente esse lábio inferior, o suficientemente suave e doce para fazê-lo doer. — Apenas um gosto, — prometeu ele a si mesmo. — Abra para mim, amor. E ela fez, deixando-o entrar, seus lábios macios e sua boca calorosa e bem-vinda, sua língua encontrando a dele, provando, testando, dançando perfeitamente, como se estivessem destinados a isso. Como se tivessem vivido toda a sua vida para se encontrarem aqui, nesta varanda escura, e se incendiarem. Não havia nada tentativo nesta formosa mulher, nada tímido ou pequeno. Ela era selvagem e apaixonada, e quando ficou nas pontas dos pés, com uma mão enluvada serpenteando pela parte posterior de seu pescoço, alcançando-o, puxando-o para baixo, aproximando-se mais, oferecendo-se a ele, reconheceu que não era ela quem estava arruinada. Era ele. Levantou os lábios ante a ideia, voltando o rosto para a luz, olhando para seus olhos fechados, seus lábios entreabertos, o rubor em


suas bochechas que se estendia mais abaixo, para a palidez de seus seios. Ela era um retrato do prazer. Seus cĂ­lios escuros se elevaram, e o que ele viu ali, misturado com desejo e surpresa, era o seu futuro. A esposa dele.


Capítulo 5 Seraphina - A protegida de um americano! 22 de agosto de 1836 The Singing Sparrow5 Covent Garden

— Então, esclareça-me isso, você disse que estava tendo uma aventura? Sera soltou a caixa de velas cônicas e olhou para o americano apoiado no bar do The Singing Sparrow, a mais nova taberna de Covent Garden. Ela descoberto Caleb Calhoun em uma taberna similar em Boston, Massachusetts, meio dia depois que seu navio de Londres atracou no porto. Ela estava em busca de comida real e quente, algo melhor do que a carne seca e vegetais escabeche6 que haviam desempenhado o papel de sustento durante a viagem transatlântica de um mês de duração e tinham-lhe indicado que fosse a Taberna "O Sino na Mão", a três portas da sala que ela saíra enquanto considerava seu próximo movimento. 5 6

The Singing Sparrow - O Canto do Pardal.

Tempero preparado com vinagre e condimentos vários, usado principalmente para peixe, mas que pode ser empregado também no preparo de carne


O americano se levantou da cadeira assim que ela tinha entrado, elevava-se imponente junto com outros poucos personagens menos perigosos e menos solenes, convertendo-se em seu protetor naquele dia. E no próximo. E no próximo... E logo, ele não era simplesmente um americano, mas seu empregador. Agora, seu sócio comercial. E então, o amigo mais querido que já teve. Agora, a única pessoa no mundo que sabia tudo sobre ela, e o único que não exigia nada dela em troca. Que ele fosse também, o único que a tinha mantido honesta, era um dos temas menores neste momento em particular. Entretanto, lhe mentiu. — Eu não disse isso a ele. — Sera não gostou do modo como Caleb lhe dirigiu esse franco olhar verde, como se fosse uma pergunta perfeitamente simples e ela tivesse fornecido uma resposta inaceitável. — Eu não fiz! — Ela insistiu. — Na verdade não. — Na verdade não? — repetiu Caleb. — Sera, eu não gosto da ideia de ser assassinado por algum aristocrata sem prévio aviso. — Você acha que muitas pessoas gostam da ideia de seu próprio assassinato? — Jogou-lhe uma olhada, dos que estavam reservados para suas irmãs mais insuportáveis. — Há dias que me oponho à sua ideia. Particularmente se o seu adorável e apaixonado duque vier atrás de mim. — Eu asseguro-lhe. Ele não é adorável. E não está apaixonado. Tinha visto justamente o contrário três dias antes. Ele achava positivamente impassível para que ela reaparecesse. Caleb grunhiu. Sera ignorou o desacordo tácito.


— Não é como se eu inventasse um homem e fornecesse uma descrição física. Simplesmente sugeri que se ele quisesse se divorciar de mim por motivos de adultério, não me oporia a essa solução. — Esse é o tipo de argumento significativo que uma inglesa usaria. Ela deu-lhe uma olhada. — Eu sou uma inglesa. — Ninguém nunca te disse que não pudesse te esforçar um pouco mais para tirar o jugo, querida. — Por favor. Todos sabem que a metade dos divórcios outorgados pelo Parlamento se fazem depois de que os esposos e as esposas confabulam. Estou mais que feliz de interpretar à adúltera se me ajudar a conseguir o que quero. E o conseguiria. No momento em que o matrimônio fosse dissolvido, The Singing Sparrow seria dela, e ela poderia começar de novo. Sem o passado e os fantasmas que a assombraram. — Tudo o que têm a fazer é se deixar ver bebendo uma taça ou duas, e todos acreditarão que você está devidamente acabada, — respondeu Caleb. — Uma jovem pode sonhar. — Ela brindou e bebeu — Não sou uma duquesa muito boa, sou? — Eu não sei muito sobre duquesas, mas o que posso dizer é que agora já não se parece em nada com aquela moça que vagava na rua como uma cordeira perdida, então ainda há esperança para você, — afirmou cruzando seus braços sobre seu amplo peito. — Mas, voltando ao tópico em questão, você insinuou que estávamos tendo uma aventura.


— Eu não fiz isso. Eu simplesmente confirmei um fato. Se ele deduziu tal coisa... Caleb riu. — Então, ele simplesmente agiu como você pretendia. E quando ele descobrir quem atracou nas docas ao seu lado... Estou na mira da ira do duque. E então teremos que lutar. E então... — Ele acenou com uma mão dramaticamente. — Não teremos escolha senão estarmos em guerra novamente. — Você percebe que não é um embaixador de qualquer tipo, não é? — Sera levantou a caixa de velas e andou entre as mesas espalhadas pela taberna vazia, endireitando as cadeiras. — Eu não posso ser responsabilizada pelo que o homem pensa, Caleb, — disse ela, as palavras suficientemente altas para percorrer a sala vazia. — Mas posso te dizer que não imagino que se preocupará o suficiente por minhas ações nos últimos três anos, para ser um grande problema. Caleb deu um pequeno resmungo incrédulo. — Isso é uma merda e você sabe disso. Sera ignorou o idioma grosseiro. — Se ele estiver com raiva, não terá nada a ver com você, e tudo a ver com a forma como arruinei seu precioso legado. Novamente. Eu não me preocuparia com seu rosto. O que não é realmente tão bonito, — ela provocou. — Ninguém gosta de seu nariz quebrado. — Toda mulher gosta de um nariz quebrado, gatinha. E além disso, posso agarrar a qualquer topetudo que se cruze em meu caminho — Sera sorriu ante suas palavras, e da descrição de seu esposo, que, apesar de ser o homem mais aristocrático que tinha conhecido, era decididamente antipático. Caleb continuou enquanto ela subia os


degraus para o pequeno palco na extremidade da sala. — Na verdade, estou ansioso para ver o bastardo. Eu gostaria de ensinar-lhe uma lição. Sera estendeu a mão para remover os tocos de cera de velas de abelha em um dos enormes candelabros que os ladeavam. — Infelizmente, Sr. Calhoun, duvido muito que você tenha uma chance de conhecê-lo. — Ele virá buscá-la. — Você gostaria de apostar? — Ela provocou. — Cinquenta dólares de que ele deixou a cidade como o resto de Londres, e eu terei que procurá- lo para conseguir minha taberna. — — Acredito que te refere ao resto do conjunto podre e mimado de Londres — Caleb abriu um pequeno compartimento secreto no bar e tirou uma caixa de tabaco e papéis, e começou a enrolar o tabaco no papel fazendo um charuto. — Os lordes se dirigem a suas fazendas para verem como estão seus servos? Sera riu suavemente. — Algo parecido. Embora escapar do cheiro de Londres, é provável que seja uma descrição mais precisa do que acontece. — Bah, — Caleb zombou. — O fedor de uma cidade é a forma de saber que está viva. Ela dirigiu-se ao candelabro que fazia jogo no lado oposto do palco, substituindo as velas com precisão. — Você seria um terrível membro da aristocracia. Sua risada retumbou pela sala.


— Não tenho dúvidas sobre isso, amor. Você tem uma aposta. Cinquenta dólares que seu homem atravessará por essa porta antes do fim da semana. Ela não gostava da certeza na voz de seu amigo. Como se já tivesse ganho a aposta. E gostou ainda menos do próximo ponto. — De qualquer forma, duquesa, é hora de começar a trabalhar, não acha? Necessita que esse homem esteja de acordo, e necessita que este lugar seja o melhor que Covent Garden tenha visto, então, no momento em que seja teu, será uma lenda. Então, como conseguirá que ele concorde? Teria que voltar a vê-lo, embora não quisesse. Inclusive se não quisesse

enfrentá-lo,

bonito

como

sempre

e

de

algum

jeito

completamente diferente. Caleb acrescentou: — Estamos aqui há sete semanas e já estou ansioso para voltar ao solo americano. Ela olhou para cima, fixando os olhos na escuridão. — Você poderá ir, sabe. Não é necessário... Ela deteve-se, sem saber como terminar. Caleb fazia muito por ela. Tinha-a protegido quando a encontrou destroçada e só em uma cidade, um país, um continente, em que nunca tinha estado. E ele a tinha ajudado a ficar de pé novamente. Com sua força. Tinha-lhe dado razões para sorrir outra vez. E também lhe tinha dado um propósito. E quando decidiu que era hora de que ela voltasse para a Inglaterra e começasse de novo, fez as malas sem duvidar e a acompanhou. Sera sacudiu a cabeça e repetiu-se.


— Não é necessário que fique por mais tempo. Ele acendeu o charuto, e a ponta laranja brilhava no espaço mal iluminado. — E, no entanto, aqui estou eu. Um homem notável, você não acha? Ela ergueu uma sobrancelha. — Um modelo de modéstia, certamente. — Então... Quando chutaremos o traseiro de seu esposo idiota? Ela riu das palavras e falou com pura alegria. — Sinto que possivelmente você não tenha essa oportunidade. — Não acha que te dará o divórcio? — Ela conseguiu ver sua larga e franzida testa, mesmo que estivesse longe. — Então você volta comigo e começa de novo em Boston. Se fosse assim tão fácil. Se ao menos ela estivesse conectada à cidade do outro lado do mar. Se somente estivesse desfrutando de cada nova vitória e da promessa de um país jovem. Ela adorava Boston por sua esperança, seu povo e Caleb. Mas nunca tinha sido Londres. Nunca havia se sentido como em casa. Agarrou o pesado e circular cabo de vela em sua mão, extraindo o pavio e rolando entre o polegar e o indicador, observando a marca negra manchar sua pele. — Ele vai me dar o divórcio, — ela disse, sabendo que Malcolm provavelmente não queria nada além de se livrar dela. — Mas eu imagino que ele que o fará aplicando uma boa quantidade de castigo.


Caleb saiu do bar, avançando para ela, com os ombros erguidos e a mandíbula larga que marcava sua educação tosca e colonial muito antes de que abrisse a boca e revelasse seu sotaque rústico. Era um animal em uma jaula aqui, neste mundo governado por regras, que ele achava, na melhor das hipóteses, inativo e, no pior, inconcebível. — Você não merece nenhuma punição. Ela levantou uma sobrancelha. — Eu o deixei, Caleb. — Ele deixou você primeiro. Ela sorriu para isso. — De qualquer maneira não importa. — Em todos os aspectos importam, — ele zombou. Ela suspirou. — Duquesas não vão embora, — explicou pela décima vez. Ou centésima. — Certamente não, sem proporcionar um herdeiro. Nem mesmo quando um herdeiro era impossível. — Deveriam fazê-lo, quando seus esposos as desterraram — respondeu — De outro modo seria uma tolice. — Tolice não, britânico. Ele amaldiçoou e praguejou. — Por isso, outra razão pela qual merece a patada no traseiro que lhe daremos. — Você deve adquirir uma passagem no próximo navio para casa. Você tem uma vida a que voltar. — Ela tentou pelo lado do humor . —


Não está ficando mais jovem aqui, amigo. É hora de encontrar uma mulher que te aguentar. — Como se isso alguma vez fosse acontecer. — Claro, que seria possível. Caleb Calhoun era um dos homens mais encantadores que Seraphina já conhecera. Ele parou na beira do palco, olhando para ela, seus olhos verdes sérios. — Eu cumpro minhas promessas, Pomba. Eu estarei com você durante seu divórcio. Verei este lugar bem sucedido e seu. E então irei embora, aceitando meus ganhos mensais, é óbvio. Ela sorriu. — Dormirei bem sabendo que meu dinheiro te servirá de consolo. — Nosso dinheiro, parceira. Um mês depois de conhecerem-se, Sera e Caleb compraram outro pub em Boston, e outro e outro. Entre o instinto de localização dele e o excelente bom gosto dela era impossível que as tabernas fracassassem, tinham posto fora do negócio a vários estabelecimentos mais antigos de Boston, antes de decidirem que a próxima conquista seria Londres. Tinham comprado o pub quarenta e oito horas depois de desembarcarem nas docas do Tamisa, logo depois de terem visto Covent Garden, um bairro dominado por dois irmãos e cheio de tabernas escuras e de baixa categoria que albergava um ring subterrâneo, onde se organizavam lutas. Embora Sera e Caleb não tivessem interesse em competir com um clube de luta, eles viram a oportunidade de um bom pub na área. Algo como os pubs que estavam triunfando em Boston e Nova Iorque. Algo com entretenimento. “The Singing Sparrow” era a resposta óbvia. Uma associação igualitária entre os dois, ou tão igual como poderia ser enquanto Sera estivesse casada. O que significava que era uma associação igualitária


entre Caleb e o esposo de Sera, embora o duque do Haven ignorava esta maravilhosa posse em particular. E que, sob a lei britânica, as mulheres casadas não podiam possuir propriedades ou negócios. Seus esposos possuíam tudo... incluindo elas. O divórcio era a única maneira para que Sera possuísse esse negócio, a única coisa que ela se importara em quase três anos e a chave para sua autossuficiência. De sua liberdade. A única forma em que ela recuperaria a vida que lhe tinha roubado. A vida da qual ele a tinha expulso. “Saia.” As lágrimas surgiram, espontaneamente. Não desejadas. Quantas vezes tinha recordado suas palavras, a cruel negação nelas, o distante desdém, como se ela não fosse nada para ele? E tinha tirado força delas? Quantas vezes tinha prometido reclamar seu futuro embora ele fosse o dono de seu passado? E de algum jeito, meia hora com ele apagou toda a força que tinha trabalhado para construir. Respirou fundo e olhou para outro lado, a um canto escuro do pub. — Estarei condenada se ele me tornar fraca. de novo Caleb não duvidou. Ele nunca o tinha feito. Era uma característica de ser americano. — Ele só pode torná-la fraca se você o permitir. — O olhar dela voltou para o dele. — Mantenha-se forte e recorde por que está aqui. E se ele te castigar, castiga-o em seguida. Mas te direi uma coisa, se ele for tudo o que me contou, ele vai lutar com relação ao divórcio.


Por tudo o que sabia sobre seu passado em comum, ele nunca o faria. Ela balançou a cabeça. — Ele me odeia. — Essas eram palavras honestas e reais que ela se agarrava a cada vez que tinha duvidado de si mesma nos últimos três anos. O que era frequentemente. — Isso não significa que ele não a queira. Em sua lembrança brilhou a lembrança, os dedos de Malcolm percorrendo sua pele a princípios da semana, o estremecimento de antecipação que vinha com o toque, a dor que sentia ao apoiar-se em sua mão, recordando a forma em que esses dedos uma vez a fizeram se sentir. À maneira como a fizeram sentir pela primeira vez em anos. Não que ela estivesse interessada em analisar esse sentir. — E, além disso, não vale a pena preocupar-se. — Deus sabe que isso é verdade — disse Caleb, sua voz seca como a areia — Mas ninguém nunca disse que os homens se preocupavam com a verdade. — Embora o ocultasse bem, Caleb cuidava de seu próprio coração partido. Um amor perdido, que nunca seria recuperado. — Eu não sei muito, querida, mas sei que você merece algo melhor do que te tenha dado esse nobre aristocrata. Caleb era um bom homem. Decente e orgulhoso e com um coração maior do que qualquer um que tivesse conhecido. Ela suspirou. — Por que não poderia ter sido você? Ele encolheu os ombros e deu outra longa tragada de seu charuto. — Foi a eleição do seu momento.


Ela sorriu. — Se você estivesse aqui há três anos atrás. Ele riu um pouco. — Eu poderia ter empregado você há cinco anos atrás. Sera alcançou o rosto de seu amigo, colocando a mão na sua bochecha forte e barbada, inclinando o queixo até o olhar dele encontrar o dela. — Se você pudesse apagar isso – tudo sobre ela – você faria? Ele não hesitou. — Claro que sim. Você aceitaria? Sua mão veio para cobrir a dela em sua bochecha enquanto ela considerava pergunta. Ela tinha perdido muito. Seu amor, sua vida, a promessa de um futuro. Tanta perda que seu coração doía, mesmo somente em pensar nisso. Se ela pudesse retomá-la, ela faria. Sem dúvida. Caleb viu a resposta em seus olhos e apertou sua mão em camaradagem. Ele ergueu o queixo na direção do centro do palco. — Mostre-me como se sente sobre isso lá encima, Pardal. Ela virou um círculo lento para o palco, tratando de esquecer os eventos do último dia, querendo perder-se al. — Não estou maquiada — Nunca cantava sem seu disfarce: inclusive em Covent Garden, alguém poderia reconhecer uma das perigosas irmãs Talbot — Não há plateia. — Outra razão para não cantar.


— Ora, — disse ele. — Você não precisa de uma plateia. Ela sorriu. — Isso ajuda. — Cante para mim, então. — De fato, tenho uma excelente para você. — Ela colocou uma mão na sua cintura e ficou de lado, cantou um estridente verso de uma canção que tinha aprendido dos marinheiros no navio que a tinham trazido para Londres. — “Deixe que cada homem aqui tenha sua taça cheia. Que todos os homens bebam de seu copo cheio.” Parou, mas Caleb não riu. Em vez disso, ele esperou, os braços cruzados, para que ela terminasse. Ela se endireitou. — “E sejamos felizes e afoguemos a melancolia, bebamos à saúde de cada bela e sincera moça.” Ele assentiu. — Será a proprietária de todos os corações de Londres em poucas semanas. O que mais você conseguiu? Ela não tinha planejado cantar. Não, honestamente. Não de seu coração. Mas ela o fez então, deslizando de uma para outra melodia menos lúdica, mais devagar, cheia da melancolia que acabava por jurar que a afogaria. — “Frequentemente na noite cerrada, antes que a cadeia do sono me tenha prisioneira, a meu redor, uma lembrança carinhosa me traz a luz de outros dias.” A canção era a favorito de Caleb e também dela: uma homenagem à lembrança e à infância, ao amor e a perda. E quando a cantava, sempre se tratava da vida que poderia ter tido, se as coisas tivessem sido diferentes. A vida que ela permitiu considerar apenas no sono.


Havia poucos lugares, melhores que uma taberna escuro e vazio para cantar, as notas claras no silencioso local, sem o impedimento de copos tilintantes, de cadeiras raspantes, a melodia ricocheteava nos lugares escuros da sala, desvanecendo-se em sussurros, deixando evocações nas paredes para serem recordadas por estranhos. Fechou os olhos e deixou que a sala se enchesse de sons. E durante breves momentos, o Pardal era livre. Caleb não aplaudiu quando ela terminou. Simplesmente esperou que voltasse para presente, e então ele disse: — Os bastardos que dizem que é melhor ter amado e perdido, nunca amaram ou nunca perderam. Ela riu das palavras grosseiras e veio em direção a ele. — Devemos beber por isso? — Com prazer. — Ele apoiou as mãos em sua cintura e a desceu do palco. Seus pés mal haviam tocado o chão quando a porta principal da taberna se abriu, deixando entrar uma corrente de luz solar de final da tarde. O olhar de Caleb pousou além dela para a imponente figura na entrada. — Você me deve cinquenta dólares, Duquesa. Ela conteve a respiração quando a ameaçadora sombra grunhiu: — Tire suas mãos de cima da minha esposa.


Capítulo 6 Calhoun fechou o tempo; Tory7 dândi é expulso da Taberna. Janeiro de 1835 Um ano, sete meses antes Boston, Massachusetts.

O Duque de Haven mal havia colocado seu pé no solo americano e já se dirigia para a fileira de tabernas com vista para o cais. O sal e o frio flutuavam no ar da noite, aferrando-se à incômoda lã de seu casaco, pesada e cheia do aroma persistente de semanas no mar. Houve um tempo em que se dirigiria diretamente a uma estalagem, depois de noites intermináveis a bordo de uma incômoda fragata e uma cama desconfortável, incapaz de dormir ou de desfrutar de uma polegada de ar seco, já que passava suas noites passeando pela coberta do navio, com frio e amargurado, olhando o interminável mar negro e o céu feito de estrelas brilhantes. Houve um tempo em que ele teria deixado o navio e no mesmo instante teria ido em busca de um banho morno, lareira aquecida e cama. Mas isso foi antes que ele a procurasse. 7

Tory Toff - Tory, membro de um partido Tory na Grã-Bretanha do século XVII-até o ano 1832 -

de ou relativo ao grupo político monarquista britânico do século XVIII e começo do século XIX


Antes que que tivesse passado meses arrastando-se pelas cidades do Norte da Europa depois de que ela partiu, certo de que ela fugira de Highley em um navio para Copenhague, acreditando em suas irmãs quando tinham devotado suas crenças sobre seu destino. Oslo, Amsterdam, Bruxelas. Tinha esquecido que, por muito que sua esposa o odiasse, suas cunhadas o odiavam muito mais. Assim foi, até que quem quase o arruinou, teve piedade dele e lhe havia dito a verdade. — Ela pode ter nos deixado, Duque, mas ela primeiro deixou você. E devemos honrar esse desejo acima de tudo. Malditas mulheres e sua lealdade. Elas não queriam que ela fosse encontrada? Elas não viam que ela poderia estar em perigo? Elas não viam o que poderia lhe acontecer? Ela poderia estar... Ele balançou a cabeça e deteve o pensamento. Ela não estava morta. Se ela estivesse morta, ele saberia. Mesmo agora, depois de tudo o que tinha passado, depois de toda a dor e ódio, ele saberia se ela estivesse morta. Mas ela desapareceu e era quase o mesmo. Pior, talvez, por causa da promessa persistente, cintilante, quase impossível. Por causa da lembrança que vinham com ela, impossível de esquecer. Ele não conseguiu esquecer um instante dela. Não desde aquela noite, quando ele saiu de um salão de baile lotado para uma varanda em busca de ar fresco, e lá estava ela. Como se estivesse esperando por ele. E ela tinha estado. "Não foi uma armadilha. Tudo foi real." Suas palavras ecoaram no vento frio. Ele não tinha acreditado nela. E agora, ele não se importava se ela estivesse esperando por ele. Ele só podia esperar que ela o esperasse agora. Aqui.


Tinha passado um ano desde que ela partiu, era quase a mesma data, e descobriu que, com o passar do tempo, só se tornou mais determinado em sua busca por ela. Não ajudou que a data de sua partida marcasse um aniversário diferente; um que lhe causava uma dor no peito que não podia aliviar. Uma dor que ele sabia que ela também sentia. Não pôde reter sua filha. Isso, Haven sabia, assim como sabia e sentia que nunca haveria outra. Ele não poderia trazer de volta sua filha. Mas ele poderia amá-la bem, e diria em voz alta. Ele poderia reparar o que tinha quebrado. E isso poderia ser suficiente. Fá-lo-ia. Seria suficiente. Levou mais tempo do que deveria para encontrar a taberna que ele procurava, The Bell in Hand,8 através das tortuosas e labirínticas ruas de uma cidade desconhecida. Não ajudou que seu sotaque e sua roupa revelassem seu país de origem; parecia que muitos americanos não se interessavam em ajudar a um inglês, assim Haven estava agradecido de que não identificassem imediatamente seu título. Tinha percorrido meio mundo por ela: países mais antigos, mais veneráveis e mais poderosos. Não estava disposto a deixar que os Estados Unidos o afastassem dela. Entrou na taberna ruidosa, que o surpreendeu imediatamente com suas tênues luzes e o barulho dos homens que elevavam suas taças. Não só homens, havia mulheres também, rindo e bebendo até o último gole de suas taças, Haven às seguia com olhos ansiosos, procurando uma mulher em particular. Sua mulher. Sua esposa.

8

The Bell in Hand - O sino na mão


Era uma sala cheia e mal iluminada, e não podia estar imediatamente seguro de que ela não estivesse ali. Havia uma mulher, haviam-lhe dito. Sua voz era como a de um pássaro do verão. Cabelo escuro e um rosto perfeito que fazia rumorejar que era francesa, as francesas não eram todas mulheres belas? Mas era possível que fosse inglesa. Ela tinha aparecido de um nada três meses depois que Sera o tinha deixado. Chamaram-na A Pomba. Tinha-a imaginado detrás desta porta, sozinha, congelada no tempo e espaço. O suficientemente perto para que ele a apanhasse pela cintura, jogasse-a sobre seu ombro, levasse-a de retorno ao navio e a passasse toda a viagem para casa desculpando-se com ela. Ganhando-a de volta. Amando-a até a distração. Mas os sonhos não eram realidade. Seraphina não estava nesta quarto. Haven comprou uma cerveja e, pondo suas costas no balcão do bar, estudou a clientela. O lugar era o correto. Possivelmente estava desesperado. Possivelmente estava zangado. Mas o lugar era o correto, e se parecesse justo quem procurava? Ela era morena e bela, alta e elegante, e cantava como um anjo. Seu olhar pousou em uma porta na parte posterior da sala, mostrando mais espaço, prometendo ter mais pessoas. Prometendo que ela estivesse ali. Ele se dirigiu para esse lugar. Poderia havê-lo alcançado, se não fosse pela pesada mão que o agarrou pelo ombro. — Parece que você perdeu o seu caminho, dândi.9 Haven tirou seu ombro da mão e se virou, com um punho apertado a seu lado, preparado para brigar. Um americano estava a centímetros de distância, uma ou duas polegadas mais baixo que Haven, mas uma 9

Dândi - aquele que se veste requintadamente, com elegância. Janota.


ou duas polegadas mais musculoso. Tinham passado alguns anos desde que Haven tinha derrotado a alguém deste tamanho, mas tinha sido um boxeador de primeiro nível em Oxford, e se preocupava pouco com a habilidade que retornaria agora, se fosse necessário. Antes que ele pudesse falar, o americano acrescentou: — Você não é bem-vindo aqui. As sobrancelhas de Haven levantaram-se. — Você desaprova os homens que tenham recursos para beber? Algo brilhou no olhar do americano. Algo como reconhecimento, tingido com algo parecido a aversão. — Eu desaprovo os britânicos que não conhecem seu lugar. — O americano fez um gesto com a cabeça para a porta. — Encontre outro lugar para beber. Haven esvaziou sua caneca e colocou-a no balcão, depois extraiu sua bolsa e retirou várias moedas, as estendendo ao outro homem, disse: — Me dê cinco minutos na outra sala. Eu não vou quebrar nada. O americano olhou fixamente as moedas antes de tomá-la. Haven resistiu o impulso de sorrir. Cada homem tinha um preço, e parecia que o deste homem era bastante baixo. O homem mostrou uma fila de dentes brancos e retos. — Bem, se você está pagando por isso. O que você está procurando? Haven olhou para a porta. — Uma mulher. O americano grunhiu.


— Isto não é um bordel. — Estou procurando uma mulher específica, — disse Haven. — Uma cantora. Disseram-me que ela canta aqui. O outro homem assentiu. — Está falando da Pomba. Ela está aqui — As palavras chegaram em uma onda de alívio. O coração de Haven pulsava mais forte e mais rápido. Era ela. Ele sabia sem duvidá-lo. Voltou-se para a porta, seu único pensamento era aproximar-se dela A mão de novo, no mesmo ombro. Desta vez mais firme. Desta vez, Haven atirou com força, voltando-se novamente. — Toque-me novamente, e não duvidarei em voltar a tirá-la. — Com essa resposta, não vou deixar que se aproxime dela. Malcolm respirou profundamente. Acalmou-se. Não. — Onde ela está? — Para que a quer? — Para... — Ele deteve-se. Para levá-la para casa. Para começar de novo. Para reencontrar o que uma vez tiveram. Para encontrar muito mais. — Para falar-lhe. — Quem é você? — Sou seu esposo. Quanto tempo tinha passado desde que havia dito essas palavras? Sentia-se, de alguma forma, indesejável até que ela voltasse para ele. Ele hesitou em sua resposta. O americano não hesitou. — O gato comeu sua língua, Vermelho?


Uma coleção de risadas seguiu às palavras, e Haven imaginou que tinha sido insultado, como se não tivesse passado meio século desde que os casacas vermelhas lutaram em Boston. Sou um maldito duque! Ele queria gritar, mas sabia que não lhe faria nenhum bem. Havia poucas portas que uma declaração assim não poderia abrir na Grã-Bretanha, e entretanto, aqui provavelmente pioraria as coisas. — Eu sou um amigo. Os inquietantes olhos verdes do americano se estreitaram. — Isso é uma mentira. As palavras foram o suficientemente baixas para que ninguém mais que Haven as tivesse escutado, mas pareceram silenciar o salão de todos os modos. E foi então quando a escutou. “Quando recordo de todos os amigos, tão unidos, que a meu redor vi caírem, como folhas no clima invernal. Sinto-me como alguém que está sozinha.” Reconheceria essa voz em qualquer lugar. A forma em que se ondulava como fumaça líquida através da sala, triste e comovedora, tocando mentes e corações, fazendo com que os homens se inclinassem e ofegassem. Ele a recordou cantando em seus braços uma vez. Antes que ela o traísse. Antes que ele a traísse. Ele encontrou o olhar do americano, os olhos verdes do outro homem brilhando no momento em que a escutou. Olhavam além dele. À porta da sala dos fundos. Haven viu o nervosismo neles, inclusive notou o leve tremor da cabeça do outro homem.


Ela estava ali. E ele rasgaria o lugar para encontrá-la se fosse necessário. Com uma maldição em seus lábios, virou e começou a caminhar para a sala, a multidão repentinamente mais espessa, menos fluída. Empurrou com os ombros e os cotovelos para tirar os homens do caminho. — Espere! — O americano gritou por trás, pegando-o pela manga, depois o braço, sem lhe deixar escolha. Haven virou, o punho já estava voando. Conectando-se com um ruído surdo, o nariz do outro homem cedeu sob seu punho. — Cristo! — O outro homem curvou-se, a mão voando a seu nariz, o sangue imediatamente cobrindo sua mão. Haven o tinha quebrado, e não se arrependia. Ele poderia sufocasse-se com seu sangue, e não se importava. Sacudindo o ardor de sua mão, disse, o suficientemente forte para que a sala o escutasse, — Qualquer que se interponha em meu caminho receberá o mesmo. Ele girou sob seus calcanhares, e o caminho para a sala de trás se abriu, os corpos ansiosos para saírem da frente. Tinha que chegar a ela. Ele se desculparia. Far-lhe-ia acreditar nele. Far-lhe-ia acreditar que poderiam começar de novo. Mas primeiro tinha que chegar até ela. Ele atravessou a porta, os olhos se ajustaram à luz mais tênue, encontrando o cenário insuficientemente iluminado no outro extremo da sala, enquanto os aplausos e os assobios soavam em seus ouvidos. Demorou um momento em ver a mulher parada ali e como ela era: bonita e morena, com um sorriso amplo e acolhedor.


Não era Sera. A mulher moveu sua mão em direção a um homem com um violino a um lado do cenário, e ele começou a tocar uma espécie de melodia comovedora, momento no qual levantou as saias mostrando os tornozelos com meias vermelhas, para prazer da multidão reunida. Haven a observou o que pareceu uma eternidade, sem acreditar. Poderia ter jurado que a tinha escutado. Ele teria reconhecido essa voz em qualquer lugar. Uma moça o empurrou com uma bandeja carregada de cerveja. Ele deteve seu movimento com um toque e perguntou. — Essa mulher. A cantora. Quem é ela? Seu olhar seguiu o dele. — A Pomba. As palavras, tão desinteressadas, tão diretas, eram uma faca em seu coração. A Pomba não era Sera. Nunca foi sua Sera.


Capítulo 7 O pardal canta a alma da cidade Ela estava em Boston, agora tudo se confirmava. Tinha percorrido meio mundo para encontrá-la, o eco daquela canção que se enroscava através dele, naquela taberna abandonada, naquela cidade esquecida de Deus, era um doloroso aviso de seu fracasso. Um arrependimento se abateu sobre ele. Deveria ter esmigalhado o maldito lugar. Mas havia sentido uma desilusão tão intensa, que tinha sido afligido pela inutilidade da busca, por sua ira, por Sera haver-se escondido tão bem, por suas irmãs, por sua própria mãe por havê-la ajudado tão satisfatoriamente, e por si mesmo, por sua incapacidade de encontrá-la. Exceto que ele a tinha encontrado. Tinha sido ela, o tempo todo. E também tinha sido esse maldito americano. O olhar de Haven pousou no nariz agora torcido do outro homem, o prazer que poderia ter sentido por ter sido o instrumento dessa fratura, estava opaco pela fúria que sentia por ver que este homem estava tocando Sera. Rindo, fazendo-a feliz. Fazendo-a se sentir cômoda. Quando foi a última vez que a tinha visto dessa maneira? Quantas vezes a tinha recordado dessa maneira?


Incontáveis vezes. Tantas vezes como ele tinha recordado a forma em que cantava, tão fora de ambiente nessa taberna escura e vazia em uma rua suja de Covent Garden. Porque ela cantava como um anjo, dolorosamente bela, cheia de tristeza, desejo e verdade. E enquanto permanecia de pé na entrada, olhando-a , a dor tinha retornado, embora em realidade, nunca tinha estado longe. Tinha-lhe doído por anos. Escutá-la o encheu, afogou-o, roubou-lhe o fôlego, marcando seu peito com sua cadenciosa e triste canção, tão real como se tivesse extraído uma faca e a tivesse esculpido com seu sangue, atraindo-o como uma sereia. Então ela se voltou, dando toda essa beleza a outro homem, e riu, o som livre, leve e malditamente perfeito: um golpe mais duro que a música. Recordava cada vez que ela rira com ele, fazendo-o o dobro do homem que era. Dez vezes. Fazendo-o um rei. Um deus. Não havia nada no mundo como a risada de sua esposa. Odiava que o desse a outro. E logo o americano pôs suas mãos sobre ela. Desceu-a do palco com tanta facilidade que não havia dúvida de que o tinha feito antes. Que a havia tocado antes. Que tinha o acesso permitido dela. O ciúme atravessou Haven, com fúria em seu rastro. Não havia forma no inferno de que o permitisse perdê-la para um americano. Não havia forma de que deixasse… ponto, mas que fosse pelo americano adicionava um insulto a sua ferida. Particularmente quando Haven considerou o fato de que o outro homem era mais musculoso,


mais audaz, e possivelmente mais bonito que ele, deixando de lado o nariz quebrado. Não é que nada disso importasse. Ela era sua esposa. E ele não ficaria quieto enquanto outro a tocava. De fato, se o maldito ianque não tirasse

suas

malditas

mãos

de

cima

dela

rapidamente,

Haven

provavelmente recordaria a seu oponente que tão bem podia romper um nariz. Faria isso assim que se esquivasse das mesas e cadeiras que os separavam para alcançá-los. Como se tivesse escutado a ideia, Sera se moveu para a frente ao outro homem, e Haven tratou de não se dar conta da forma como a ação o incomodava, espancando a inveja através dele: a visão de sua esposa protegendo outro homem. Um homem que continuava tocando-a com uma certeza que só podia significar uma coisa. Posse. Ele sabia que ela estava ali, com um americano. Tinha estado preparado para a ideia de que eram amantes. Mas a constatação visual foi um golpe perverso. — Ah, — disse o americano. — O duque chegou. — O esposo chegou, — respondeu Haven, sem poder conter a ira em seu tom. E depois, olhando para sua esposa — Ainda estamos casados, Seraphina. Como ela estava tão calma? — Não é de maneira nenhuma importante. De todas as maneiras, sim importavam. Ela acrescentou:


— As leis tolas desta nação podem me converter em sua propriedade, Duque. Mas nunca cumprirei o papel. Acredito que os últimos três anos foram um bom argumento. Ele resistiu o impulso de afastá-la e lhe mostrar quão bem poderia reclamá-la. Fazer-lhe amor tão profundamente que ela gritaria que era dele. Encerrá-la e lhe mostrar quão bem poderia cumprir o papel de esposa. Em troca, tomou o assento mais próximo, em uma mesa baixa no canto escuro, sabendo que ela não seria capaz de vê-lo tão bem quanto ele poderia vê-la. Desesperado por recuperar a vantagem, quis que sua voz se acalmasse. Seus músculos ainda não. Inclusive quando não queria nada mais que destroçar a taberna. — Eu não vou ser corno, — ele disse. Sua coluna vertebral se endireitou. — Se eu tivesse sido capaz de dizer o mesmo. A vergonha veio, quente e desagradável. Ele resistiu, redobrou sua convicção, dirigindo sua atenção para o americano. — Retire suas mãos. Por um momento, não teve certeza de que o outro homem responderia de maneira nenhuma, só o nivelou com um olhar longo e superior, um que Haven imaginou que tinham ensinado a cada jovem nas colônias, cheio de ódio. Entretanto, depois de vários segundos, soltou Sera, estendendo suas mãos com uma risada muito forte. — Longe de mim sofrer a fúria de um esposo desprezado. — Essa porta deveria estar trancada, — disse ela, Liberada do contato de seu amante, Sera se dirigiu ao bar ao final da taberna,


aparentemente desinteressada da postura masculina, em que Haven não podia deixar de participar. Como se fosse um homem muito mais jovem. Um muito mais estúpido. Mas não muito estúpido. Dirigiu seu desprezo para o outro homem, que tocou a sua esposa com tal comodidade informal, que não cabia dúvida de sua intimidade. Ela tinha sido infiel. Ele não deveria incomodar-se. Não deveria ficar surpreso com isso. Depois de tudo, tinham passado anos. E ele também foi infiel. Uma vez. E não assim. Não com emoção. Mentira. Tinha havido emoção. A ação tinha estado cheia de ira. Cheia de castigo. Tudo pela Sera. Ela era a única mulher que tinha tido suas emoções. Não que ela acreditasse nisso. Não que ela se importasse. — Não se preocupe, Caleb, — ela estava dizendo, — Malcolm não acredita ser desdenhado. Para que esse seja o caso, ele teria que ter querido o matrimônio desde o início. Ele tinha querido. Ele a tinha querido. Ele ficou em silêncio enquanto Sera se movia ao redor do balcão para colocar um copo pequeno no mostrador e verter uma bebida nele. — Como você nos encontrou? Malcolm odiou esse “nos”. A forma em que a unia a outro homem. Em lugar de lhe responder, ele fez uma pergunta própria.


— O que diabos você está fazendo aqui? Ela ergueu uma sobrancelha. — Aqui, em Londres? Houve um tempo em que desfrutava vê-la interpretando à ingênua. Quando o fazia se sentir mais homem. Já não mais. — Aqui, em um maldito pub. — Nós preferimos a palavra taberna. Nós. — Chame isso do que quiser, mas é um pub no coração de Covent Garden, habitado por uma duquesa com novas habilidades com a bebida. O ianque riu, e Malcolm o odiou um pouco mais. — Deveria havê-lo chamado "A Duquesa Bêbada!" E então Sera estava rindo e Malcolm tinha o claro desejo de queimar o lugar. — Estou mortalmente falando a sério, Seraphina. Por que está aqui? Ela se recostou contra a parede mais afastada, com os braços cruzados sobre o peito, o copo pendurando em uma mão. — Eu nasci aqui. — Não, você não nasceu aqui. Ela levantou um ombro. Deixou-o cair. — Nasci em uma cidade carbonífera no Norte do país e renasci em Boston. Covent Garden é um terço adequado para o trio, você não acha?


Ele estreitou seu olhar sobre ela. — Você é filha de um conde. Ela sorriu. — E você foi quem insistiu tanto em que o título de meu pai não valia, Sua Graça. Um título ganho nas cartas não tem nenhum tipo de sangue azul, nem sequer quando ganha do próprio Príncipe Prinny. As palavras picaram em sua lembrança. — Eu nunca... Ela deteve a mentira com um movimento de seu copo. — O mais importante, Haven, por que você está aqui? Para resgatá-la. Outra mentira. Essa mulher não precisava dele. Em todo o tempo que a tinha procurado, tinha-a imaginado temerosa. Débil. Arruinada. Esta mulher não era nenhuma dessas coisas. Não havia nada de covardia nela. Ao contrário, era toda uma força. Não se parecia em nada com a mulher que tinha conhecido naquela noite no baile de Worthington. Exceto que, sim, era ela. Essa mulher tinha sido atrevida e descarada. Enfrentou-o. Tinha-o atraído como uma chama cálida em uma noite fria. E durante semanas depois, sua boca e palavras inteligente o tinha tentado tanto como seu quente corpo. E então ele descobriu a verdade, que nada de seu cortejo tinha sido real, e então ela tinha mudado. Acalmou-se. Atenuou-se. Tinha empalidecido.


Ela se tinha convertido em outra pessoa, por completo. Por sua culpa. E agora, aqui, com a distância de anos entre eles, aquela noiva tranquila e serena tinha desaparecido, tinha retornado a mulher forte e audaz que tinha sido uma vez. Mais forte. Mais audaz. Mais linda. Não… por ele. Apesar dele. Ali, na escura taberna, olhando-a cantar, olhando-a beber, vendo-a enfrentá-lo, a verdade sussurrava através dele. Poderia ter passado três anos tentando encontrá-la e salvá-la, mas não precisava fazê-lo. — Por que você está aqui? A resposta foi simples o suficiente. — Nós não terminamos nossa conversa. Suas sobrancelhas se ergueram, a surpresa em oposição direta a suas palavras calmas. — Fizemo-lo, de fato. Dois anos e sete meses atrás. Antes inclusive. Ou não recorda haver-me dado as costas no momento em que se pronunciamos nossos votos? Devo recordá-lo? Devo te recordar de novo a forma como o fez, em um jardim de um baile, na frente de todos de Londres? E do que fez depois disso? Com outra? Claro que ele se lembrava. Recordava-o todas as noites, lutando por dormir, desesperado para voltar atrás no tempo e deter-se. Dizer-lhe a verdade, em lugar da mentira em que seu orgulho insistia. Se o tivesse feito, tudo teria sido diferente? Se o tivesse feito, viveriam felizes agora? — Como soube onde me encontrar, Haven?


— Eu não sabia, — disse ele. — Estava inspecionando as tabernas em Londres? E simplesmente aconteceu? — Não pode imaginar que o mundo simplesmente ignorou o espetáculo que deu no Parlamento. Viram-lhe saindo da Câmara dos Lordes em uma carruagem pertencente a um americano — Levantou-se, aparentando uma calma que não tinha sentido em três dias, e se aproximou, lançando um olhar para o homem em questão. — Caleb Calhoun de Boston. Conhecido dono de um pub, apostador e um canalha ordinário. Como um asno, o ianque se inclinou. — Eu gosto de pensar que sou mais um tipo específico de canalha. Malcolm ergueu uma sobrancelha. — E que tipo seria esse? — O que as damas adoram. Os punhos de Mal se apertaram, ansiosos por encontrar uma vez mais a satisfação na cara do americano. — Cuidado, Calhoun, ou você encontrará algo mais do que um nariz quebrado. O reconhecimento acentuou-se no olhar do outro homem, que piscou para Sera e se voltou para ele. E Haven viu a verdade. Sera não sabia que ele tinha ido por ela. O americano nunca tinha contado. Se o tivesse feito, ela o teria enfrentado? Ela teria deixado que ele a recuperasse? Ele abriu a boca, preparado para lhe contar tudo. Para ganhá-la aqui e agora. E então ela disse o nome do ianque.


— Caleb. — seu nome sussurrado brandamente, sua voz cheia com o pior tipo de censura, um tipo de amor. O pesar e a dúvida dispararam através de Mal. Ela não podia amar este homem. Não quando ela o tinha amado uma vez. Tinha-o amado, não? Afastou esse pensamento de sua cabeça, odiou-o e também a forma em que o fez titubear. Mudou o tema. — Calhoun possui duas propriedades em Londres. Uma é uma residência. Eu fui lá primeiro, só para que me dissessem que a duquesa não estava em casa. — Ele olhou para o americano, observando seus braços cruzados e seu sorriso satisfeito. — A propósito, ela está vivendo com outro homem. As sobrancelhas do americano se ergueram, seu olhar deslizando para Sera, que sorveu calmamente a bebida. — Desfruto do fato de que pense que você ou Caleb têm algo que dizer sobre o que faço. — A outra propriedade é uma taberna nova, de apenas algumas semanas, já elogiada como entretenimento noturno, seja o que for que isso signifique. Passa seus dias lá, com uma mulher. Alta, morena, linda — Aproximou-se, odiando-se a si mesmo por vir aqui. Desejando poder deixá-la. Desejando poder levá-la com ele — Espero que você pelo menos use uma máscara. — Por quê? Você tem medo de arruinar sua reputação? — Ela fez uma pausa e disse: — Vá para casa, Duque. Não há nenhuma razão para que esteja aqui.


Não havia razão, mas não tinha respirado por completo durante dois anos e sete meses, e agora, o ar tinha retornado, fresco e bem-vindo. E tudo o que queria era respirá-lo. — É natural que me preocupe. Ela estreitou seu olhar sobre o dele. — É óbvio, entenderá, por que não acredito nem por um momento que estivesse realmente preocupado. O americano ofereceu-lhe um pequeno grunhido de encorajamento, e Haven ficou com a boca aberta. Irritado com sua audiência, aproximou-se ainda mais dela, quase tocando o estreito balcão que os protegia um do outro. Ele repetiu, brandamente: — Nós não terminamos, Sera. Ela olhou por cima do ombro. — Caleb... Detestava o nome do outro homem em sua boca, aborrecia a confiança na palavra. A fé. A fé que nunca lhe tinha dado. A fé que nunca ganhou. Ele virou-se para olhar o americano, consciente de que os homens estariam dispostos a matar por Sera. Mas o outro homem não se moveu. Manteve-se a certa distância, com as mãos nos quadris, um soldado preparado para atacar. — ...deixe-nos, — Serafina terminou. Por um momento, Haven pensou que estava falando com ele. Ele deveria sair. Era o melhor para ambos. Mas, de repente, estava preparado para a batalha.


Entretanto, não houve batalha, estava olhando para Calhoun, o americano tranquilo e calado que parecia disposto a lhe dar tudo o que ela pedisse. Como Malcolm uma vez esteve. As sobrancelhas do americano levantaram-se. Sera assentiu com a cabeça. E isso foi o suficiente. Calhoun se voltou e saiu do salão como um idiota. Não. Não era um tolo. Como um rei. Porque nessa decisão de sair sem olhar para trás, havia uma quantidade insondável de confiança, nascida do conhecimento de que, quando ele retornasse, ela estaria lá, esperando por ele. Outra coisa que Malcolm uma vez teve para si mesmo. Calhoun saiu do salão e a cortina que tinha empurrado ainda se balançava atrás dele quando Mal disse: — Então, o americano é o seu cãozinho mulherengo? Vai onde você lhe diz? — Ele confia em mim, — disse ela. — É um luxo glorioso em um homem. — As palavras o envergonharam e o enfureceram. Ela continuou: — O que desejas? Covent Garden nunca foi sua zona. E mesmo que fosse, você sempre fez um esforço impressionante para evitar qualquer lugar que pudesse te sujar. — Isso não é verdade, — ele disse, desejando que eles estivessem em qualquer lugar, exceto aqui. — Lembro-me algumas vezes que não queria estar em nenhuma parte que não fosse contigo. — Foi antes de você decidir que não queria nada comigo, — disse ela.


Você mentiu, ele queria dizer. Mentiu e logo se foi. Mas não era tão simples. A verdade final era… eu te afugentei. Ele deveria deixá-la. Dar a liberdade que queria. Quantas vezes havia dito a si mesmo que deveria deixar de procurá-la? Quantas vezes não tinha podido fazê-lo? E agora que a tinha encontrado, sabia que nunca seria capaz de deixá-la. — Por que você está aqui, Malcolm? O nome estremeceu através dele. Ela era a única mulher que o tinha chamado por seu nome. Nem sequer tinha sido Malcolm para sua mãe, para quem não fora mais que um triunfo: o futuro duque. Mas a Sera sempre pareceu não se interessar o título. Mesmo quando parecia que o título era tudo em que ela estava interessada. E agora, ouvindo seu nome em seus lábios pela primeira vez em anos, sentiu-se desesperado pelo som, pelo homem que uma vez tinha sido dominado por esse eco, e cheio de ira pela forma em que ela exercia essa destreza. Suave, cadenciosa e totalmente pessoal. Como se ela fosse sua esposa na verdade. Ele apertou os dentes e respondeu a sua pergunta. — Estou aqui para buscá-la. — Não tenho interesse em que me levem , — disse ela. — Então você não deveria ter voltado. — Voltei para nos libertar. — Ela bebeu novamente, terminando o líquido âmbar no copo pequeno e pesado. — Eu tenho planos. Uma vida para viver. Eu poderia ter desaparecido para sempre.


— Por que você não fez? Por um momento, pensou que ela poderia responder. A verdade estava ali, de repente, em seu rosto. Mas não podia lê-la como o tinha feito alguma vez. E logo ela disse: — Suponho que pensei que você merecia algo melhor. Era uma mentira. Ele não merecia algo melhor; ele merecia algo muito, muito pior. O que significava apenas uma coisa. Ela estava escondendo alguma coisa. Seu olhar se concentrou nela. — Melhor, como a vergonha pública de ser um cornudo? Melhor, como uma esposa que me detesta e acha que o divórcio é mais agradável que um ducado? Ela sorriu. — Diz isso como se tivesse algum direito sobre o ducado. Deixou mais que claro que eu não era bem-vinda em seu mundo, Sua Graça. — Foi antes… — Deteve-se si mesmo antes de terminar o pensamento. Um longo momento passou, a emoção ausente de seu rosto. — Eu parti antes que você pudesse me mandar embora, como propriedade indesejada. — Eu o teria feito... — É óbvio que o faria. E eu não queria isso. Não queria a raiva. Já tive suficiente disso. E não queria me arrepender. Também tive o suficiente disso. E que mais podia haver ali? Lástima? Não, obrigada. Desejei um futuro livre de tudo isso. E você também deveria querê-lo.


As palavras se amotinaram através dele. Não queria mandá-la para longe. Ele queria ficar com ela para sempre. Entristeceu-se por ela, maldita seja. Durante anos, lamentou-se pelo que poderia ter sido. E quando ela se foi, nunca o admitiria diante de ninguém, compadeceu-se de si mesmo. Ela pegou uma caixa de pederneiras e rodeou o balcão, em direção ao palco. — Terminamos aqui, Duque. Retorne a sua propriedade e planeje seu brilhante futuro. Deixe-me com o meu e pense na sorte que tem de que lhe ofereçam uma segunda oportunidade. Encontre uma nova duquesa! — Ofereceu, como se a ideia fosse excelente — E quando chegar outubro, traga a petição de divórcio ao Parlamento. Me pinte como uma adúltera. E deixemos concluído este negócio. Maldição, não queria outro futuro. Ele queria o que tinha tentado anos atrás. Seu futuro com ela. Tinha-a procurado, maldição, por todo o mundo. Queria gritar a verdade a ela. Que tinha estado em Boston. Que a tinha procurado no continente. Que não tinha dormido direito em dois anos e sete meses. Que ele somente tinha desejado a ela. E poderia havê-lo conseguido, se não se parecesse que ela não queria ter nada que ver com ele. — Deseja que seu adultério se faça público? — Estava fascinado pela graça com que ela começou a acender as velas no palco. — A Câmara dos Lordes certamente não permitirá que a dissolução de nosso matrimônio esteja em suas ações, e eu não seria a primeira esposa que suportaria as consequências, para obter o que deseja. Mas isso não era o que ele desejava. Ele desejava o oposto. Um matrimônio na verdade.


— O poderoso Collude,10 Duque. Confabulam e extorquem para conseguirem o que querem — Ela o olhou, inescrutável — E a prova disso é quão bem eles suspeitam dos outros. Ele não se importava se ela tivesse planejado. Não mais. — Eu quero o meu divórcio, — disse ela. — Eu tenho um futuro diante de mim. — Com o seu americano? Ela não respondeu, e ele a olhou enquanto acendia as velas, a luz dourada se estendia como a luz das estrelas através de seus cachos de mogno, suas palavras ressoavam através dele. Ele queria ser seu futuro. O que significava que teria que ganhá-la. "Encontre uma nova duquesa". Aproximou-se dela uma vez mais, movendo-se entre as mesas. Ele encontrou seu olhar, inquebrável. Orgulhoso. — Saia, Haven. Caleb não ficará feliz se abrimos as portas e você estiver aqui. Não há nada pior para os negócios que um duque. "Encontre uma nova duquesa". — Irei com uma condição — ele disse, as palavras chegaram tão rápido como se formaram em seus pensamentos. Ela levantou uma sobrancelha. — Que venha comigo. Ela riu, suave e longamente, de algum jeito cheia de conhecimento, como se soubesse o que ele iria dizer antes que ele mesmo soubesse, sempre tinha sido assim entre eles.

10

Collude - Conluio - Pactuar algo [duas ou mais pessoas] em prejuízo de terceiros


— E depois o que? — Venha para o campo. Seis semanas. Até que o Parlamento volte a estar em sessão. Ela se voltou para as velas. — O que é isto, algum grande plano para me cortejar outra vez? Como se estivéssemos em uma espécie de novela romântica? Sim. Mas, ele era o suficientemente inteligente para permanecer em silêncio. — Não estamos em uma novela romântica, Haven. Isto não é uma história de amor. — Porque está em uma com seu americano? — Porque não desejo estar em uma. Outra vez. Outra vez? Pensaria nessas palavras em outra ocasião. Aferrar-se-ia a elas. — Bem — respondeu — Mas está casada comigo e prometeu obedecer. Ela olhou para ele. — E você prometeu me honrar. — Esta é a minha oferta. Seis semanas, e você se divorcia. — Era uma mentira, mas ele cruzaria essa ponte quando chegasse o momento. Seu olhar se estreitou. — O que você pretende fazer com seis semanas em minha companhia?


— Tenho a intenção de dar um bom uso — disse, e a ideia chegou inclusive enquanto falava — Tenho a intenção de que encontre sua substituição. Ele ouviu sua respiração aguda, e era sua vez de sentir-se satisfeito. Para sentir como se ele tivesse ganhado. Sua vez de sorrir. — O que isso significa? — Justo o que disse — ele respondeu — Vamos para o campo e você passará seis semanas procurando sua substituta. — Quer que eu procure uma esposa para você? Ele desfrutou da incredulidade em suas palavras, a forma em que o ajudou a recuperar seu equilíbrio. — Deve admitir que me economizaria um grande esforço. Ela estreitou seu olhar. — Não acha que um acordo assim seria… pouco prático? — Não. — Oh, não. Tenho certeza de que não seria nada incômodo para as pobres debutantes ansiosas pela atenção de um duque, que se encerra em uma casa de campo, jogando charadas com sua primeira esposa, de quem está a ponto de divorciar-se. — Acredito que seria muito mais provável que encontrem um certo alívio. Afinal, se formos capazes de coexistir, possivelmente possa evitar o pior do divórcio. Com uma elegante sobrancelha arqueada ela falou. — Você não acha que seu ducado será um bálsamo para sua miserável reputação?


— Eu gostaria que elas tivessem a prova de que eu não a maltratava. — O maltrato não é apenas externo — disse ela. A culpa o golpeou, marcada pela lembrança do som da porta da carruagem que se fechou com uma batida quando ele a mandou para longe. Do som de suas lágrimas no dia que retornou. Do som do silêncio que caiu quando ela o deixou para sempre. Mas não era para sempre, entretanto. Ela estava de volta. Ele engoliu a emoção e encontrou seu olhar. — Quer seu divórcio, não é assim? Ela

o

olhou

enquanto

parecia

considerar

suas

palavras.

Finalmente, disse com toda calma, — Quero-o. — Encontre sua substituta, Sera. E terá seu divórcio. Era um plano louco. Idiotice pura. E não se surpreenderia se ela o houvesse dito. Mesmo assim, conteve o fôlego, esperando sua resposta, observando a forma como a luz das velas piscava sobre sua pele, jogando na luz e na sombra, sua beleza notável. Mas não o disse. Em troca, assentiu com a cabeça. — Agora vai. Ele fez o que ela queria e saiu sem dizer uma palavra, fazendo preparativos para cortejar a sua esposa.


Capítulo 8 O escândalo mais lento da temporada: o tempo marca o tic tac Talbot! Abril de 1833 Três anos, quatro meses antes Londres

— Beethoven? Seraphina elevou a vista do piano para encontrar a sua irmã Sophie do outro lado da sala, uma peça de música em uma mão e um olhar espectador em seu rosto. Sera enrugou o nariz. — Muito pomposo. Sophie retornou à pilha de partituras. —Hinos? — Muito piedoso. — Baladas para crianças? — Sera negou com a cabeça — Mozart? — Mozart? — suspirou Sera. Sophie a olhou. — Oh sim. Ninguém gosta de Mozart.


Sera riu e brincou com as teclas do pianoforte,11 tocando uma pequena música improvisada. — Thomas Moore. Sophie revirou os olhos. — Sempre é Thomas Moore contigo. Honestamente, se não a conhecesse melhor, pensaria que desejaria se casar com ele. — Levantou uma partitura de música bem usada e caminhou pela sala, amontoandose no pequeno banco onde Sera estava sentada e punha a página no suporte para partituras ornamentado. Sera se inclinou para estirar amorosamente o papel. — Se ele não tivesse o dobro de minha idade e não estivesse casado com uma atriz, honestamente, inclinar-me-ia a fazer exatamente isso — Tocou as teclas e encontrou as notas de abertura da canção, amava a forma como a fazia se sentir. Não necessitava da partitura. Não para esta, nem para nenhuma das outras peças de Thomas Moore. Fechou os olhos e tocou de cor, enquanto sua irmã respondia: — Tolices. Nunca abandonaria o seu perfeito duque. Sera se emocionou com as palavras e perdeu uma nota. — Ele não é meu duque. Exceto que ela preferia pensar que era. Inclusive se não pensava nele como um duque absolutamente. Ele não era um duque. Ele era Malcolm. Seu Malcolm. Todos os sorrisos, toque e beijos, como uma promessa. E cada um deles para ela. Viram-se dúzias de vezes nas seis semanas transcorridas desde que se conheceram, em público e em

11

Instrumento de cordas percutidas e teclado, inventado no séc. XVIII, cuja evolução deu nascimento ao piano atual.


privado, e todas as vezes se sentia como se estivessem sozinhos. Como magia. — Eu gostaria que fosse meu duque — disse em voz baixa. — Então ele será. Sophie passou a página da partitura, apesar de que Sera não a necessitava, já que deixou que a música tomasse o controle. E cantou: — “É a última rosa do verão, deixada florescendo sozinha; todos seus adoráveis companheiros se desvaneceram…” — Essa canção sempre lhe causava dor. — "Nenhuma flor de sua parentela, nenhum casulo de rosa está perto, para refletir seu rubor, nem dar suspiro por suspiro.” — Lady Seraphina Eleanor Talbot! Ela deixou de cantar. Sophie a olhou. — Parece que está em problemas. E a porta da sala de música se abriu de repente, voando para trás para bater contra a parede mais à frente, revelando à condessa de Wight, antes a senhora Talbot. Sua mãe. A condessa brandia um periódico em uma mão, sustentando-o por cima de sua cabeça como uma bandeira heráldica, embora o pânico em seus olhos indicava que a bandeira em questão não era de nenhuma maneira de triunfo. As outras três irmãs de Sera seguiram de perto os calcanhares da condessa, a advertência em seus respectivos olhares, com os olhos arregalados, era uma clara indicação de que algo tinha acontecido, e não era algo bom. Sesily, a irmã mais próxima de Seraphina, sacudia dramaticamente a cabeça sobre o ombro direito de sua mãe, enquanto


Seleste e Seline, as número três e quatro do quinteto, contribuíam com olhares significativos. Embora Sera não entendia, qual o sentido desses olhares. Depois a condessa falou, a indignação sacudindo suas palavras. — Ele deitou com você? A mandíbula da Sera caiu com a pergunta grosseira. — O que?! Seline e Seleste contiveram a surpresa quando os olhos do Sesily se arregalaram. Por sua parte, Sophie se endireitou, aproximando-se imediatamente para tomar a mão de Sera. — Mãe! A condessa não olhou para sua filha mais nova, concentrou-se por completo em sua filha mais velha. — Agora não é o momento de correção. Responda à pergunta. Sera ficou sem palavras. A carinhosa Sesily, a leal Sesily, saltou à refrega. — Ficou louca mãe? A quem te está se referindo? A condessa não duvidou. — O Duque de Haven. E agora que está claro, me permitam perguntar de novo, e faria bem em me responder, Seraphina. Ele deitou com você? Sera fechou a boca. — Não.


A condessa a observou por um longo e interminável silêncio antes que Sophie estivesse de pé. — Eles estão apaixonados. A condessa riu, alto, estridente e desagradável. — Ele disse isso? — Pergunta chegou de um golpe. Sera pressionou seus lábios, e sua mãe leu a resposta sem que tivesse que ser dita. — É óbvio que não. A condessa deu meia volta com um giro violento. — Maldição, Sera. O que você fez? Ela sacudiu sua cabeça. — Nada! Sua mãe olhou por cima do ombro, o sol da manhã caindo em cascata através da janela destacava sua decepção. — Acha que não fui jovem uma vez? Acha que não posso ver a mentira? Sera estava de pé, com os punhos aos lados. — Ele se preocupa comigo. — Preocupa-se com o que você está lhe dando. — Mãe — disse Seline. — Não precisa ser cruel. — Parece que sim — disse a condessa. — Porque a nenhuma ocorre que possam se aproveitarem de vocês. — Voltou-se para Sera, que já cruzava a sala, rápida e furiosa. — A metade da temporada se foi, e ele não está cortejando-a. Ele estava, não era?


Antes que ela pudesse discutir o ponto, sua mãe pressionou. — Ele não falou com seu pai. Ela abriu a boca. — Ele falará. — Não, Sera. Ele não o fará. Teve seis semanas para fazê-lo. Teve seis anos para fazê-lo. Espera que acredite que, depois de seis anos de temporadas, de ser desdenhadas por pomposos aristocratas com mais dinheiro que o próprio céu, de pedir convites e suplicar atenção, o Duque de Haven sente simpatia por uma das Cinderela Borralheira? Sim. Não importava que todos tivessem tido problemas para encontrar pretendentes que não estivessem empobrecidos ou sem título. Não importava que ela e Malcolm nunca tivessem discutido sobre seu futuro. Tinha-lhe prometido que não a arruinaria, aquela primeira noite, na varanda. Ele a amava. Ela sabia. Ela o amava também. — É verdade. A condessa negou com a cabeça, e por um momento, Sera viu tristeza no olhar de sua mãe. Tristeza e algo como lástima. — Não, Sera. Ninguém tem tanta sorte — Uma pausa e depois continuou: — Os periódicos dizem que você foi indiscreta. — Eu não fui. Nós não fizemos nada de errado. Exceto, que quase o tinham feito. Um dia na carruagem. E os momentos roubados no baile de Beaufetheringstone. E o momento em


que ela penetrou escondida em seu escritório no Parlamento, mas nada tinha acontecido. Bom, nada sério. Nada irreversível. Sua mãe não acreditaria nisso. — Me deixe ser clara. Ainda é virgem? Suas irmãs ofegaram quando ela disse: — Mamãe! — Guarda sua surpresa para outra, Seraphina. É ou não? — Sim. — Mas ele se aproximou... — Sera vacilou, até que a condessa ladrou: — Seraphina! — Sim! — respondeu, voltando-se para sua mãe — Sim. E desejaria havê-lo feito. Oxalá eu não o fosse. Os olhos do Lady Wight se arregalaram quando as irmãs de Sera ficaram sem fôlego. — Não vai se casar contigo. — Por que não? — Porque as cinco estiveram fora durante anos, e nenhuma de vocês se aproximou de um duque. Eles nos acham toscas. Consideramnos indignas de seus nomes e seus títulos. — Fez um gesto com a mão a suas irmãs. — Seleste poderia converter-se na condessa de Clare, mas só porque o conde é virtualmente um mendigo e o dinheiro de seu pai vale mais que a vergonha que trazemos com um título. Mas recorde minhas palavras, nenhuma delas encontrará esposo se se deixar arruinar por este duque.


O rosto de Seleste caiu com as palavras, e Sera odiou sua mãe nesse momento. Ainda mais quando continuou. — Haven bem poderia ser uma estrela no céu, porque todas vocês o olharão e não o apanharão. A temporada tem seis semanas e o viu, o que? Uma dúzia de vezes? Vinte e seis vezes. Mas Sera permaneceu em silêncio. Não tinha que falar. — Mais que isso, provavelmente, com tudo o que estiveram dizendo às escondidas de você, enquanto eu olhava para o outro lado. — A condessa brandia o periódico. — Os tablóides de intrigas não estavam olhando para outro lado, Seraphina. Sabe o que dizem de você? O coração da Sera pulsava com força. — Eles não têm nada a dizer. Tomei cuidado. A condessa riu, o som sem humor. — Não o suficientemente cuidadosa, tic tac Talbot. Ela colocou o papel no suporte de música, cobrindo a canção. “Os sonhos de duquesa condenados à desilusão... O tempo viaja timidamente apesar de dúzias de atribuições aristocráticas... Tic tac Talbot não tem possibilidade de capturar Haven... embora, sim, tenha um sabor tentador (como de um bolo, inclusive!” As bochechas de Sera ardiam. Não tinham sido cuidadosos. Houve centenas de olhares através de eventos abarrotados, suas piscadas maliciosas, seus suaves sorrisos e todos os segredos que tinham contado sem sequer falarem. E tinha havido dúzias de pequenos toques, roce em seu cotovelo, dedos em seu braço, a forma como sua mão se detinha na dela quando se permitiam


saudarem-se em público. O dia quente na semana anterior, quando tinham caminhado por Hyde Park e ele a tinha ajudado com cada pedra e galhos diminutos, seu toque era um deslize lento e pecaminoso. Não tinham sido cuidadosos. — Um bolo, — explicou sua mãe, como se Sera não pudesse ler o insulto ela mesma — Chamam-lhe um bolo. E isso não é o pior. É absolutamente o pior, Sera deveria haver dito. Mas não pôde encontrar a voz. Não assim, a sua mãe. Ela continuou: — O pior é o horrível apelido. — Suja Talbot? — Interrompeu Sesily de seu lugar no canto. — Isso vem do negócio de papai. Do carvão. Não tem nada que ver com a Sera. — Tudo tem a ver com ela agora, mas essa não é a que me refiro — As palavras de sua mãe chegaram da distância, através do batimento do coração apressado nos ouvidos de Sera. Através da comoção, a ira e a vergonha — Sera sabe a qual me refiro. Sera assentiu, então sussurrou: — Tic tac. — Eles estão zombando de você. A forma em que o espera, o tempo que passa, outra metade de temporada e nem sequer procura homens elegíveis. Homens que poderiam tê-la. Tic tac Talbot — A condessa levantou os braços — E sabem que lhe deste tudo. Sera olhou para sua mãe. — Nem tudo.


— Oh, Seraphina, — a condessa disse, sua exasperação clara. — Não importa se o fez ou não. Eles pensam que sim. Está arruinada, menina. E é um dos duques mais ricos da Grã-Bretanha. — Nós... — Ela engoliu em seco. — Ele me quer. — Não tenho dúvidas disso. — Sua mãe balançou a cabeça, as palavras eram suaves. — Mas se ele tivesse planos de se casar com você, querida, ele teria vindo e falado com seu pai. Em vez disso, ele se aproveitou de você. Ele a selou com um nome horrível e também as suas irmãs em uma ruína por associação. — Fez uma pausa e cravou a punhalada final. — Você as sujou com isso. Sera olhou para as irmãs dela... as mulheres sujas, nunca eram bem-vindas

na

sociedade,

eram

sempre

sujeitas

ao

desprezo

e

especulação. Seleste e seu conde empobrecido. Seline, muito inteligente para seu próprio bem. Sesily, muito impetuosa para ser uma dama aristocrática. A pobre e calada Sophie, a quem todos viam como simplória. Quem cuidaria delas? A condessa irrompeu seus pensamentos. — Há outro homem. Um que está disposto a casar-se contigo. Para tirá-la desta horrível intriga. Talvez, se você se casar com ele rapidamente, o Tic toc Talbot seja esquecido. As Sujas irmãs serão esquecidas. Talvez, se casar-se com ele, possa salvar da vergonha a suas irmãs. — Essa não pode ser a única maneira, — declarou Sesily. — Não! — Disse Seline. — Mãe... — Sophie falou. — Sera não deve casar-se por nós. A única que permaneceu em silêncio foi Seleste.


Seleste, que estava sendo cortejada por um conde empobrecido. O melhor título que as irmãs Talbot poderiam ter. Muito por debaixo de um duque rico e perfeito. Um duque rico que nunca havia dito uma palavra sobre matrimônio. Sua mãe falou novamente, fria e séria, somente para Sera. — Você vai deter essa perseguição embaraçosa. Encontrará um homem que se casará contigo. E casar-se-á para assegurar o futuro de suas irmãs e o teu. Nesta temporada, antes que os tabloides de intrigas a arruíne para sempre. Porque o matrimônio é como as mulheres ganham. — Voltou-se para o resto de suas filhas. — É hora de que saibam disto, o título de seu pai nunca ganhará o respeito que merecem. E não têm um irmão que as protejam. Algum dia, quando seu papai se for, terão que valerem-se por si mesmas e para fazer isso, terão que casarem-se. E a única forma em que ficarão bem, é que sua irmã arrume o desastre que criou. Ela tinha criado um desastre? Era verdade? Ela olhou de uma irmã para a outra, cada uma com os olhos arregalados e cheios de tristeza e algo mais. Algo surpreendentemente parecido ao medo. Como ela detestava este mundo e a forma como atacavam as mulheres. Chegaram as lágrimas, quentes e cheias de ira, já que também se aborrecia por essa sua debilidade. Por que a fúria dos homens chegava em um frenesi de troca de murros, enquanto que nas mulheres chegava em uma corrente de lágrimas?


A condessa a observou por um longo momento, sem olhar para as outras filhas quando disse: — Agora, todas vocês. Deixe-nos. Suas irmãs titubearam e a olharam, cada uma esperando que ela concordasse com a partida. Ela assentiu, amando-a s, sabendo o que faria por elas. Preparada para afastar-se do homem que amava, por elas. Preparada para, como havia dito sua mãe, arrumar seu desastre. Sophie fechou a porta detrás dela, deixando Sera e à condessa juntas. Depois de um longo silêncio, Sera se desfez de suas lágrimas e pôs uma mão no pianoforte, como se pudesse tirar força do instrumento. E respirou fundo. — Quem é o homem com o que desejas que me case? O silêncio se estendeu entre elas antes que sua mãe se aproximasse, alcançando-a e colocando uma mão em sua bochecha, suave como uma firme promessa. — Desejo que se case com o homem que você deseja, Sera. Mas um duque... As lágrimas voltaram, e Sera não conseguiu segurá-las. — Eu não me importo que ele seja um duque. Isso nunca foi de meu interesse. — Eu sei. — Ele é Malcolm. Desejo que fosse Malcolm. A condessa sacudiu a cabeça. — Mas Malcolm é Haven antes de tudo, minha querida.


Sera fechou os olhos, tudo de repente, surpreendentemente, dolorosamente claro. — Ele Não se casará comigo, não é? — Não, — disse a mãe e Sera abriu os olhos, encontrando o olhar castanho escuro da mãe. — Não, ele não vai. Quanto mais resistisse a verdade, mais tempo poria em perigo suas irmãs. Sem um matrimônio, todas estavam perdidas. Era seu dever como filha mais velha assegurar-se de que isso nunca acontecesse. E logo sua mãe disse, em voz baixa: — A menos que... O coração da Sera saltou. Ela faria o que fosse. Se terminava com suas irmãs a salvo e com Malcolm, ela faria qualquer coisa.


Capítulo 9 Assédio no verão das Irmãs Sujas! 29 de agosto de 1836 Estrada de Highley Manor

— Graças a Deus. Ela trouxe comida. Seraphina se afastou da janela da carruagem quando sua irmã mais nova, Sophie, Marquesa de Eversley, anunciou sua chegada à casa de sua infância. Sorriu ante a declaração: Sophie sempre tinha sido aficionada à comida, e era lindo saber que algumas coisas não mudavam. — São apenas duas horas de viagem até Highley, Sophie. — Uma de nós tem que ser cuidadosa — respondeu sua irmã quando a porta se abriu, revelando que sua irmã do meio, Sesily, estava armada com uma cesta de vime — Tem bolos? — Não os tenho, de fato — disse Sesily, colocando e deixando a cesta no chão da carruagem, antes de levantar a saia e pôr o pé no degrau — Movam-se, moças. Sera se moveu para o outro lado da maior carruagem de Caleb, que felizmente lhe tinha emprestado para levá-la e suas irmãs ao campo. Para Haven. Ela adiou a viagem por vários dias, imaginando se por acaso ele pudesse esquecer seu acordo. Haveria ganhado mais tempo se tivesse


podido, mas Haven tinha-lhe avisado na taberna que se não chegasse hoje, dez dias depois do início de suas férias Parlamentares, iria retornar para procurá-la. Ele mesmo. Havia muitas coisas que Seraphina Bevingstoke tinha jurado não voltar a fazê-lo nunca mais, e certamente o fato de ser envergonhada publicamente por um homem, era a principal delas. Então foi ver Caleb e fez acertos para ausentar-se do The Sparrow durante várias semanas. E depois fez as malas. Mas não antes de convocar reforços. — Ai! — Sua irmã do meio, Seleste, moveu um cotovelo — Não há espaço, Sesily! Parecia que mesmo a maior carruagem que puderam encontrar, não estava feito para uma cômoda viagem. Inclusive com as janelas abertas para aliviar o calor. Sera suspirou. — Teremos que abrir espaço. Sesily tem que entrar. — Que se sente no piso — sugeriu Seline, a quarta do quinteto, no banco oposto da carruagem, agitando violentamente um leque — Como quando viajávamos com pai, ajustadas como baratas? Sera riu ante a lembrança de seu pai e das viagens de sua infância. Era improvável que cinco meninas e dois pais alguma vez se sentissem cômodos em uma carruagem, mas o tinham obtido. — Há dois problemas com essa linha de pensamento. Em primeiro lugar,

somos

maiores

do

razoavelmente no chão. E...

que

fomos

quando

podíamos

sentar


— E o traseiro de Sesily é grandemente maior do que era antes? — Interveio Seleste. Todas riram quando Sesily piscou e disse: — Raramente escuto queixa sobre o tamanho de meu traseiro. Ponto para Sesily, pensou Sera. Já que era, com muito, a mais voluptuosa das cinco irmãs Talbot, e de longe a mais cobiçada. Mas Sesily abraçava o escândalo mais que o resto das irmãs, fazia e dizia o que gostava e permanecia inalterável por causa disso, e apesar disso infalivelmente havia homens babando atrás dela. — Sem dúvida, a metade masculina de Londres tem medo de sentar-se contigo. Sente-se ali, — Seleste respondeu, apontando para Sophie e Seline. — Não. Sophie precisa de espaço. Está aumentando de peso. — Sabia que escolhi bem o lugar, — Seline se gabou de seu assento. — Ela não está aumentando nas próximas duas horas! — Seleste protestou, mesmo enquanto empurrava, pressionando Sera mais perto da porta. — Não sabemos! Sera inalou profundamente, tentando tornar-se menor, mas mesmo assim, enquanto o fazia, não podia encontrar desconforto no momento. Se havia algo no mundo que pudesse lhe impedir de pensar nas próximas seis semanas de sua vida, era o delírio constante de suas quatro irmãs, ligeiramente excêntricas, completamente enlouquecedoras e absolutamente maravilhosas. Com um impulso final, provocando um gemido frustrado de Seleste, e então Sesily disse ao lacaio:


— Feche a porta, William! Rapidamente, antes de explodirmos aqui e causemos uma cena! — Oh, sim, — disse Seline, seca como areia. — Ninguém esperaria algo assim de nós. Quando finalmente se acomodaram na carruagem soltaram um longo suspiro e Seleste disse: — É possível morrer esmagada em duas horas? — Oh, por favor. Você é tão larga quanto um galho, — disse Sesily. — É impossível te esmagar. Se mova. — Já… estamos… não… há… nenhum… espaço! — Protestou Seleste. Sesily suspirou. — Preciso te recordar o que acontece quando não estou cômoda em uma carruagem? Um gemido coletivo se elevou do resto das ocupantes, e Sera riu. — Essa era a segunda razão pela qual não podia sentar-se no piso. — Se você vomitar sobre mim... — Seleste advertiu. — Simplesmente digo que faria bem em recordar que sua amabilidade poderia modificar a direção da trajetória. E com Sophie esperando um bebê… Nunca se sabe, talvez poderia sentir necessidade de minha própria e desafortunada projeção. Seline enrugou o nariz e olhou para Sophie. — Não se atreva. Sophie encolheu os ombros, e com um brilho em seus olhos moveu seu leque velozmente no ar.


— A gente nunca sabe. Seleste gemeu. — Lembre-me novamente por que estamos todas nesta carruagem quando temos esposos e carruagens próprias? Quando Sophie, Seline e Sesily falaram, foi ao uníssono. — Por Sera. Seleste assentiu e suspirou. — As coisas que fazemos pelas irmãs. Sera olhou pela janela, incapaz de falar pelo nó que se formou em sua garganta diante das palavras. Partira por três anos. Partira sem dizer uma palavra, sem deter-se para contar a sua família, a quem sempre tinha amado além da razão, o que tinha acontecido. Tinha enviado uma nota dos cais de Bristol, através de suas lágrimas, dizendo somente, que seu bebê não tinha sobrevivido e que partia para a América. E uma vez em Boston, não tinha escrito, muito temerosa do que poderia sentir ao apoiar a pluma no papel. Dor. Pesar. Arrependimento. Manteve-se longe, e elas tinham vivido suas vidas. Mas quando retornou, não tinham duvidado. Tinham reatado sua fiel devoção, como se nunca tivesse partido. Tinha

sentido

tantas

saudades.

Tinha

perdido

tanto.

Dois

matrimônios. O nascimento de quatro crianças. Aniversários, bailes, escândalos e

tantas

coisas

que

pareciam menos

importantes

e

imensamente mais transcendentes. Com o peito apertado pela emoção, Sera inalou bruscamente na silenciosa carruagem, nada mais que as ruidosas rodas sobre os paralelepípedos, para cobrir o som.


Sophie se inclinou para frente, estendendo a mão para colocá-la sobre a suas que estavam descansando nas suas saias. — Sera. Sera sacudiu a cabeça, incapaz de encontrar palavras. — Você não precisa dizer nada, — disse ela. — Estamos ao seu lado. Sera olhou para sua irmã, recordava havê-la sustentado quando era um bebê. A querida Sophie, que sempre tinha sido a mais tranquila. A mais modesta. A fora do lugar. Exceto nunca despretensiosa. Quando chegava o momento de mostrar lealdade, Sophie era quem sempre estava disposta a lutar. Tinha sido Sophie quem tinha empurrado Haven diretamente sobre seu traseiro em um lago cheio de peixes quando o encontrou no jardim, em uma festa, com outra mulher. Ele acreditava que Sera o tinha traído. Acreditava que ela tinha mentido, e não só em omissão. Tinha sido Sophie quem a tinha defendido, mesmo que ela não se defendeu por si mesmo. Essas ações tinham arruinado a reputação de Sophie rapidamente. Uma mulher não golpeava um duque sem repercussões, nem sequer um com quem estava relacionado por parentesco. E mesmo assim, sua irmã não tinha duvidado. E para falar a verdade, a imagem de Haven afundado até a cintura em um lago cheio de peixes foi bem-vinda nas noites mais escuras de Sera. Mas Sophie estava equivocada. Tinha que falar agora. Mesmo que apenas para dizer:


— Estou muito feliz por estar... Deteve-se, insegura do final da frase. Parecia possível que ela pudesse terminar com... “em casa”. Certamente, uma cena como esta, amontoada em uma carruagem com suas irmãs, a quem antes a conheceram melhor que ninguém no mundo, tinha sido: estar em casa. Mas as coisas tinham mudado. E então houve um tempo, fugaz e desastroso, em que sua casa tinha sido em qualquer lugar que estivesse Haven. Então tinha tido a esperança de voltar para casa, mas a tinha perdido junto com a criança que trouxera um mundo tão cheio de promessas. Agora, na verdade, o lar era algo estranho e efêmero. Era possível que ninguém conhecesse honestamente seu alcance? Não. O lar não era o que a fazia feliz neste momento. Ela forçou um sorriso. Olhou para cada uma de suas irmãs pirmãs e disse: — …com vocês. Essa era a verdade. Inclusive enquanto avançavam lentamente para Highley, onde uniria seu esposo com outra mulher. Como se fosse uma coisa perfeitamente comum para uma esposa encontrar sua substituta. Como se não se incomodasse que ele claramente tivesse estado planejando substituí-la todo o tempo. Não é que deveria se importar. E não era assim. Realmente não. Era somente... orgulho. Isso era tudo. Olhou para a janela outra vez.


— Assim… — Começou Sesily, e Sera se preparou para a pergunta, sabendo que, sem dúvida de que tinha pensado em um dilúvio delas. E era justo, não era? Estavam ali, amontoadas em uma carruagem sem virtualmente nenhuma informação sobre, por que e onde, simplesmente porque ela tinha pedido. Certamente mereciam algumas respostas. Ela olhou para Sesily, que, é óbvio, foi primeira em saltar a brecha. Sesily nunca em sua vida se calou, sobretudo quando havia algo importante a dizer. — Sim? — Caleb é muito bonito? Houve uma exclamação grupal, quando a pergunta caiu na carruagem, surpreendendo todas. Seleste sorriu. — Você terminou com os homens da Inglaterra e prefere a América? — Não estou pensando em considerar essa possibilidade. — Mamãe ficará louca se você se casar com um americano! — Disse Sophie. — Lembra-se de como ela ficou furiosa quando Seline se casou com um criador de cavalos? — Primeiro… — chegou a resposta exasperada de Seline — Mark não é qualquer criador de cavalos. É mais rico que a metade da aristocracia. — O que significa praticamente nada, — interveio Sesily. — Todo mundo sabe que a metade da aristocracia são pobres como ratos de igreja. — Segundo… — Seline continuou. — Mamãe sabe que não deve interpor-se em outro matrimônio. Ela não esteve nada bem no passado. Dirigimo-nos ao campo para assegurar o divórcio de Sera, pelo amor de


Deus. — Era difícil argumentar sobre isso — O que me leva ao terceiro lugar, nossa mãe estará encantada além das palavras de ver Sesily casada com alguém. Inclusive um dono de cantina… da América. — O último foi dito da mesma maneira em que alguém poderia pronunciar uma terrível enfermidade. Praga. Ou lepra. — Não é um dono de cantina — Sera disse, suavemente. Entretanto, todas escutaram, o amplo sorriso de Sesily, que foi a única indicação de que estavam ansiosas por sua contribuição. — O que me traz de volta à importante pergunta em questão. Seline falou ao mesmo tempo. — Proprietário de pub, então. — Nós preferimos taberna, — disse Sera. Sophie se lançou para frente outra vez. — Nós? Preferimos? — Ela olhou para as outras. — Ela disse “nós?” — Que absurdo, — disse Sesily, alcançando a janela estreita no lado da carruagem e empurrando-a para abri-la tudo o que dava, infelizmente, não o suficiente para remover o ar interior. — Suponho que a questão mais importante não é se o Sr. Calhoun é bonito, mas sim, se ele já foi reivindicado. — Ele não... — Sera sacudiu a cabeça. — Bonito? — Sesily provocou. — Que pena. — ...Reivindicado. — Sera riu, desfrutando da sensação, estranha e bem-vinda — É bastante bonito, de fato. Os olhos do Sesily se iluminaram. — Excelente!


— Você tem certeza de que ele não foi reivindicado? — Seline perguntou pensativa. — Você não... Sera sacudiu a cabeça. — Não… Eu não fiz isso. — Absolutamente? — Disse Seline, cheia de incredulidade. — Absolutamente. — Sabe que nenhuma de nós te julgaria se o tivesse feito — soltou Seleste. — É óbvio que não. O que, mas horrível que Haven, deve ser... — Seleste disse, cortando antes que pudesse terminar a frase, resultado nos olhares combinados e assassinos de suas irmãs — Não importa. Exceto que ele não tinha sido horrível. Ela não disse as palavras. Odiava que elas inclusive pensassem. Mas em todos os anos que tinha estado longe dele, não tinha tido um amante. E pensar nele tinha sido o motivo. — Bem, — disse Sesily. — Ele é grande e brutal? Do tamanho de Warnick? Não se deve rechaçar a alguém do tamanho do Warnick.12 Os suspiros ofegantes e as gargalhadas em torno da carruagem tiraram Sera de seus pensamentos. — O duque de Warnick? — Se ela se lembrava corretamente, o escocês havia herdado um ducado anos antes e nunca vinha a Londres. — Ele está na sociedade agora?

Warnick – duque Escocês (Personagem de Amor Para Um Escocês Escândalos e Canalhas 2 - Sarah MacLean). 12


— Raramente. Ele é o amigo mais querido de King — disse Sophie, referindo-se a seu esposo com um gesto de sua mão. — E se casou com uma de nossas amigas mais queridas. Conhecerá Lily muito em breve. Prometeu que voltariam para a cidade no outono. — Oh, — respondeu Sera, incapaz de encontrar outras palavras. Odiava que uma pessoa tivesse entrado em suas vidas enquanto ela estava fora. Era um pensamento tolo, é óbvio. Sem dúvida, dúzias de pessoas tinham feito exatamente isso. Além disso, ela tinha Caleb, não? — Você vai adorá-la, — disse Sesily. — Todos o fazem. — Todos pensam que foi um escândalo apropriado — disse Seline, olhando para Sera. — Ela pousou nua para um pintor retratá-la, enquanto estava ausente. Pôs em vergonha os dramas de Sesily. — Bem. Amamo-la. Amamos a qualquer pessoa com um passado escandaloso. — Ela sorriu. — É por isso que nós gostamos de você, Sera. Agora. Ao ponto. Ele é muito grande? Sera sorriu. — Muito. Não tão alto como Haven. Ela ignorou em pensamento. — Excelente. — E muito impetuoso. Odeia os ingleses. Sesily sorriu. — Então ele odiará Haven. — Ele já odeia. — Ela fez uma pausa, depois acrescentou: — Ele é um bom amigo. Sesily a observou por um longo momento.


— Você merece um desses. Ela não estava segura de merecê-lo, sinceramente. — Todas nós daremos bem, então — disse Sesily. — Unir-se-á a nós? — Não — respondeu Sera, muito rápido, quase revelando a mentira na verdade. Caleb não se uniria a elas. Devia ficar em Londres para manter o The Sparrow em ordem. Mas isso não significava que Sera abandonasse a taberna por completo. —Não, não virá. — Sera, nós acreditamos que ele virá. — Sesily ofereceu um movimento da mão extremamente claro, com um sentido duplo e pícaro, provocando várias risadas — Mas é possível que… você quer? Todas estavam interessadas em suas façanhas sexuais. E nenhuma entendia que não existia nenhuma façanha. Que não as queria. Nunca mais. — Não, não é possível. Caleb não se unirá conosco. E isso é tudo. Uma pausa de novo. E então: — Haven sabe que estamos indo com você? Sera hesitou, e o silêncio se estendeu pela carruagem. — Não... exatamente. — Bem. É isso, então — disse Sophie, com total naturalidade. — Perguntava-me por que estava disposto a abrir as portas seu lar para mim. Considerando… Seline riu. — Considerando a última vez em que ele a viu, você o derrubou em seu próprio traseiro dentro de um tanque.


— Era um lago, — apontou Sophie, orgulhosamente. — Um lago coberto. — Oh, sim. Isso é muito melhor, — disse Seleste. Sophie rechaçou as brincadeiras e olhou para Sera. — Então, podemos pegar a estrada de volta uma vez que cheguemos ali? — Não vou passar um minuto a mais do que o necessário nesta carruagem apertada — gemeu Sesily. — Faz muito calor e está horrível aqui. Seleste se apertou chegando mais perto de Sera. — Oh, não. — Estou começando a me sentir mal, — disse Sesily. — Nem sequer tenho que olhar pela janela para saber que deixamos a cidade. É somente uma questão de tempo antes que Sesily arroje seu vômito. — Seleste virou-se para Sera. — Alguém disse ao cocheiro que se detenha para empurrá-la pela porta a fora? — Eu não sou tão insensível para fazer isso, mas sim. — Insensível? Ela é humana, adulta e não pode viajar em uma carruagem sem estar enferma? Sesily gemeu, e Sera notou que ela parecia um pouco verde. — Eu não sei como o seu conde te aguenta Seleste. Ela sorriu. — Ele gosta de um desafio. — Não olhe pela janela, Sesily, — pediu Sera. — Ugggh.


— Com toda a honestidade, é... — Sophie mudou o assunto, procurando a cesta que Sesily havia trazido com ela. — Se não há bolos, o que há na cesta? — Não é comida. Sophie suspirou. — Você não tomou café da manhã? — Perguntou Seline. — Eu sim. Mas certamente já é a hora do almoço. — São nove e meia. — Oh. — Bom senhor. Seu estado está fazendo-a mais faminta do que o normal, verdade? Sophie assentiu, alcançando a cesta. — Comer por dois e tudo isso. Você tem certeza de que não há bolos aqui? Fruta? Pão? Oooh. Existe queijo? — Uuuughhh. Não diga queijo. — Não importa. Eu vou olhar por mim mesma. — Ignorando o gemido de Sesily, Sophie pressionou o fecho da cesta. Sesily sentou-se em linha reta. — Espere! Não... Um uivo selvagem se levantou da cesta, seguido imediatamente pelo chiado de surpresa de Sophie quando saltou para trás e uma enorme bola de pelo branco disparou sobre o regaço de Seleste, que gritou também, seus braços subiram para proteger seu rosto, enquanto o animal subia por seu torso para chegar ao respaldo do assento, arqueando as costas e aferrando-se ao estreito espaço.


— O que é isso? O que é? — Seleste cruzou a carruagem, cobrindo os olhos com uma mão e parou entre Seline e Sophie, provocando um coro de desaprovação por parte do dueto que antes estava muito cômodas. — Pelo amor de Deus, Seleste, — disse Seline. — Pare de gritar. Seleste parou de gritar. Sophie encontrou sua voz. — Isso não é queijo. O gato soltou um grunhido baixo. — Agora, nunca mais o devolveremos a cesta, — gemeu Sesily. Sera começou a rir. A risada chegou larga e bem-vinda, com grandes ofegos. Seline soltou o próximo, e depois Sophie. E logo, o trio não conseguia parar, a maré de risos rapidamente ultrapassados por gargalhadas, e outras, até que perderam o controle total de si mesmas. — Não é engraçado! — Protestou Seleste. — Essa coisa me atacou! A coisa em questão sibilou. A carruagem diminuiu a velocidade e um golpe chegou do teto. — Minhas damas? Está tudo bem? — E agora o cocheiro acha que ficamos loucas! Sera encontrou o suficiente fôlego para gritar: — Tudo está bem, obrigada! — antes que Seline e Sophie estalassem em gargalhadas uma vez mais, levando-a consigo. Quando diminuíram as risadas uma vez mais, Sesily falou, uma mão sobre seus olhos.


— Se não sentisse que minhas vísceras logo estarão fora de mim, tenho certeza de que acharia todo este cenário terrivelmente divertido. Sera se engoliu um soluço de risada. As náuseas de Sesily não eram divertidas. — Sesily —disse ela, tratando de recuperar a calma — por que trouxe um… — ela sorriu, incapaz de deter a diversão — …gato? — Por que não? As pessoas trazem animais para o campo, — disse com um débil gesto da mão. — Por todos os Santos — interrompeu Seleste — Animais como cavalos! Cães de caça! Não gatos! — Por que não os gatos? — Perguntou Sesily. — Porque não é como se pudéssemos selar um gato ou sair para cavalgar com ele pela tarde, ou lhe atirar um pau para que o traga de volta. São terrivelmente antissociais. — Não Brummell — Todas piscaram quando o enorme gato branco em questão miou e golpeou sua cabeça contra o queixo de Sesily — Brummell é todo encanto. — Oh, sim. Essa é a primeira descrição que eu usaria. Brummell estreitou seus olhos amarelos em Seleste e miou no que só poderia ser descrito como uma afronta felina. — Brummell?13 — disse Sera. — Bastante. — Eu, de minha parte, acredito que se orgulha de seu nome — disse Sophie. 13

George Bryan Brummell, conhecido como «o belo Brummell»—(Londres, 7/6/1778 – Caem, 30/03/1840), foi o árbitro da moda na Inglaterra da Regência e amigo do príncipe Regente.


— Obrigada, — disse Sesily. — Vendo que o resto de vocês estão emparelhada, pensei que era justo que me fosse permitido um cavalheiro bonito, meu próprio pretendente. — Fez uma pausa. — Nenhuma de nós está emparelhada, — ressaltou Seleste. — Não neste momento preciso, mas são praticamente aves canoras o resto do tempo. Grasnando como pombas. — As pombas gorjeiam — apontou Sophie. — O que quer que seja. — Sesily agitou uma mão. — Perfeitamente emparelhadas. Como uma maldita pintura a óleo. — Soa a uma pintura terrivelmente chata, — disse Seline. — Suficiente. Você sabe o que quero dizer. E Sera, sim, sabia. — Eu não estou emparelhada como uma pomba. Sesily olhou para ela. — Então, por que nos dirigimos para seu esposo? — Porque me está obrigando a vir aqui. — Assim como te obrigou a retornar a Londres? Como te obrigou a entrar no Parlamento como uma tempestade e exigir o divórcio? — Sesily — A amável advertência de Sophie foi ignorada. — Como te obrigou a partir? À defensiva, Sera entrecerrou seu olhar em sua irmã. — O que você está dizendo? Por um momento, pareceu que Sesily poderia responder à pergunta com sinceridade. Como se pudesse dizer todas as coisas que deveria ter


estado pensando há tempo. Que todas deveriam estar pensando. Em troca, suspirou e recostou sua cabeça contra o assento. Brummell aproveitou esse momento para descer de sua posição e sentar-se em seu regaço. — Só que parece que você está por lutar com um urso, Seraphina. por que de outra forma se armaria até os dentes? — Como eu me armei? — Do que outra maneira se arma uma Perigosa Talbot? Isto, foi o que disse Sophie. Com o resto de nós. Ao lugar onde ela perdeu a si mesmo. De onde ela mesma o perdeu. O lugar de onde ela tinha fugido, para começar de novo. Não de novo. Novamente. — E parece um gato — adicionou Seleste. Sera ignorou o intento de aliviar o estado de ânimo. — Eu devo a todas muitas respostas. Sophie sacudiu a cabeça. — Não nos deve nada. Mas se quiser nos dizer seja o que for, e o deseja, estamos aqui para ajudar a obtê-lo. Exceto não podiam lhe dar o que desejava. Não podiam lhe devolver o passado nem a catapultar para o futuro. Não podiam restaurar o que tinha perdido, nem lhe dar de presente o único que podia imaginar que curaria suas feridas. Ou lhe fazer esquecer que alguma vez esteve casada. Ironicamente a única pessoa que podia fazer isso era seu esposo. Por isso se dirigia para ele. Para encontrar sua substituta. E obter seu divórcio.


Obteria sua liberdade. Seria a proprietária do Sparrow. Cantaria e e viveria uma nova vida. E seguiria adiante. Não negava que parecia ser mais fácil com suas irmãs a seu lado, devido a sua lealdade. E ali, na elegante e estrondosa carruagem, cheio de mormaço e um gato travesso, decidiu lhes contar a verdade. — Não estive com o Caleb. — Não sabia por que tinha começado por ali, mas parecia um ponto importante. — Não estive com ninguém após…

Suas

irmãs

assentiram

compreensivamente.

Não

compreendiam, é óbvio. Mas ela apreciava o esforço — Bem, — disse Seleste. — Uma vez que tenha recebido seu divórcio, encontrará outro homem e construirá sua vida. Esposo, crianças, todo o lote delas. Elas não sabiam. Esse era o segredo que guardava. Por isso ela tinha fugido e pelo qual nunca esqueceria. — Quando fui, no dia que fui… — Ela se apagou. Tentou de novo. — Não posso ter mais filhos. O silêncio na carruagem era ensurdecedor, e Sera o odiava. Odiava que suas irmãs, que nunca pareciam lhes faltar palavras, pareciam não encontrá-las. Levantou a vista, negando-se a encolher-se. Os olhos de Sophie brilhavam. A boca de Seleste estava entreaberta, sua surpresa era clara. Inclusive Seline, a menos emotiva de todas, parecia horrorizada pela confissão. Sera assentiu. — Agora sabem. Meu futuro, não é uma família — Entretanto, reinava o silêncio. Sera olhou Sesily, querendo a conforto que só sua irmã poderia dar. — Fale agora, Ses. Nem mesmo você pode encontrar algo para dizer?


Sesily encontrou seu olhar sem hesitação. — Você não mereceu nada disso. Cinco palavras, que de alguma forma ninguém lhe havia dito. Sera nunca as tinha pensado sequer. E agora, ali estavam, como uma ferida perfeita, bem-vinda, roubando seu fôlego. Apertou os lábios, recuperando a compostura. — Ninguém merece. Sesily assentiu. — Deus sabe que isso é verdade. Mas você não merece. E deve saber disso. Sem uma resposta, Sera olhou pela janela, surpreendida, de alguma forma, ao ver as chaminés de Highley aparecendo pelo horizonte. — Estamos quase lá. Seu coração começou a pulsar com força. A última vez que tinha estado em uma carruagem aproximando-se de Highley, mal tinha notado a casa, a forma em que se elevava imponente, em sua majestosa magnificência, falando da venerabilidade do ducado que pertencia. Era enorme, uma imensa casa com terrenos que se estendiam ao longo de centenas de acres de exuberante vegetação. Projetada para impressionar. Intimidar. Para separar os que eram ricos dos que não eram. Ela imediatamente a odiou e a amou, porque este lugar tinha gerado seu esposo, como se não tivesse gerado de um homem, mas sim, da mansão. Quando ela tinha visto Malcolm sorrir aqui, o havia sentido mais poderoso que em qualquer outro momento de sua vida.


Tocou com seus dedos a janela, inclinando-se para ela, imaginando que assim poderia captar o doce aroma da terra mais à frente. Imaginando que poderia apanhar o passado e o futuro que prometia. Sacudiu a cabeça. Esse futuro não era possível. Mas isso não significava que um novo não fosse. Um novo, onde fosse livre. Onde só se preocupasse com ela mesma. Onde teria êxito por seu próprio mérito e não pelo capricho de seu aristocrático esposo. Não importava quão diferente parecesse. E ele parecia diferente, embora não poderia dizer como. Supunha que ela também era diferente. O suficientemente diferente para saber que deverá manter o rumo. A carruagem reduziu a marcha para percorrer a estrada da entrada de quilômetros de comprimento, oscilando poderosamente no terreno menos transitado, e Sera voltou sua atenção para suas irmãs, cada uma olhando-a , uma reunião de soldados com espartilhos e anáguas. A espera de suas ordens. Olhou de uma a outra, cada uma orgulhosa e preparada. Não pôde evitar sorrir. — Vai ficar lívido quando desembarcarmos. — Bom, — Sophie disse, e Sera se maravilhou com sua irmã mais nova, forte e orgulhosa. Pela forma em que tinha crescido e florescido. — Eu raramente fiz a vida de duque de Haven agradável, e não pretendo começar agora. Ele tem uma dívida enorme a pagar.


A casa surgiu a sua vista e imediatamente se deu conta de que ele estava parado sozinho na parte superior dos degraus que conduziam à entrada principal. Ficou rígida, e Sophie olhou pela janela. — Bom Deus. Ele está esperando por você? — Sem dúvidas tinha medo de que não atendesse a seu chamado. — Ele é horrível, — disse Seline. — Ainda há tempo para que demos volta a carruagem, — ofereceu Seleste. Por um momento, Sera o considerou. — Acha que esteve ali toda a manhã? — perguntou Sophie. — Possivelmente, — gemeu Sesily. — Sem dúvida, fez um acordo com o diabo para ter uma resistência infinita. Seraphina poderia ter pensado em agradecer ao céu por suas irmãs leais, cada uma mais disposta a trespassar Haven que a anterior. Mas, em troca, estava paralisada olhando o homem. Parecia razoável que tivesse estado parado nas escadas toda a manhã, quieto e forte, perfeitamente vestido com um casaco, uma calça impecável e botas polidas até quase a chegar ao brilho de um espelho, como se pudesse permanecer felizmente ali até o anoitecer… Mais tempo, se fosse necessário. Sera odiava quão tranquilo parecia, como se fosse perfeitamente normal que um duque se demorasse na entrada de sua propriedade, esperando seus convidados. Convidados não. Sua esposa. A proprietária da casa.


Houve um tempo em que tinha esperado por ela ali por uma razão diferente. Porque não podia suportar outro minuto sem ela. Não pôde evitar a pequena gargalhada que surgiu ao pensar nisso. A carruagem entrou na lateral redonda, e seu olhar encontrou o seu através da pequena janela. Ela resistiu ao instinto de afastar o olhar. Quando a carruagem se deteve, ele se adiantou e Sera franziu o cenho. Qual era seu jogo? Onde estava o lacaio de libré tão necessário para abrir a porta com um florescimento aristocrático? O Haven que tinha conhecido nunca teria sonhado fazendo o trabalho de um servo. Não é verdade. Tinha realizado esta tarefa somente uma vez antes. Suas sobrancelhas se levantaram interrogativas, e ele levantou uma sobrancelha insolente, como dizendo: Atreve-se a me questionar? Ela mudou de parecer. Este homem não era tão diferente do Haven que tinha conhecido. Não podia esperar para ver sua resposta quando abrisse a porta e se encontrasse com as cinco Sujas Talbot. Não. Ele nunca as tinha chamado assim. Sempre as tinha chamado com o outro nome. O pior. As perigosas Talbot. — Sera? — Sesily perguntou. — Hmm? — Ela não desviou o olhar dele. Ela não podia. Sempre foi mais bonito no campo, maldita seja. Não gostava de perder o equilíbrio. Não gostava da sensação de que tudo isto estava muito mal. — Haven gosta de gatos? Olhou para Sesily, sentada a bordo de seu assento, com Brummell em seus braços, como se estivesse preparada para a batalha. Sesily


estava acostumada a ser primeira na refrega, inclusive quando tinha dor de garganta. — Não sei. Mas o duvido. — Excelente — disse ela. Haven abriu a porta, e Sesily voou da carruagem, empurrando o gato aterrorizado em seus braços. — Segure isso! Surpreendentemente, fez-o, de alguma forma controlando sua própria

comoção,

que

não

pôde

controlar

ao

animal,

que

imediatamente ficou selvagem, miando, arranhando, agitando e se debatendo para ser libertado. Tudo

enquanto

Sesily

derramava

vômito

sobre

as

botas

perfeitamente polidas do duque. A mão de Sera voou para a boca, como tratando de capturar seu grito de assombro. Como se pudesse esconder o prazer que a atravessava. Mas não pôde. Ele levantou a cabeça ao ouvir o som, olhou-a nos olhos, ao mesmo tempo furioso e chocado além das palavras. Sera baixou sua mão, revelando seu amplo sorriso, ao dar-se conta de que tudo, de fato, tinha sido de forma terrível. Para ele.


Capítulo 10 A filha perigosa embosca Duque! Abril de 1833 Três anos, quatro meses antes Highley Manor

Malcolm não podia acreditar sua boa sorte. Ela tinha vindo. Tinha-lhe pedido que viesse, e ela o tinha vindo. Ele dirigiu-se até a carruagem, ignorando o frio vento de abril, olhando para o cocheiro enquanto este abria a porta e baixava os degraus. — Você não foi seguido, não é? Se a tivessem seguido, estaria arruinada. E ele não a desejava arruinada. Ele somente desejava a ela. Em privado. Não havia privacidade em uma temporada em Londres. — Não, Sua Graça — disse o cocheiro, seu tom quase ofendido — Segui suas instruções ao pé da letra. Haven

estava

olhando

para

a

carruagem,

respirando

com

dificuldade quando apareceram as saias, vermelha como uma amora madura, a cor do desejo. Do pecado. Do amor. A cor do amor.


Tomou

suas

mãos,

enluvadas

na

mesma

cor

perversa,

desaparecendo sob seu manto de viagem cinza perfeitamente ajustada, abotoada até o pescoço com total propriedade. Odiava esse casaco, e jurou eliminá-lo logo que estivesse dentro da casa. Logo que estivesse em terreno firme, em seu terreno. Assim que pedisse que ela se casasse com ele. Ela sorriu para ele. — Espero que entenda o muito que confio em você, Sua Graça. Alguns poderiam dizer que aceitar uma viagem de uma hora em carruagem, sozinha, só Deus sabe onde é uma ideia terrível. Ele levantou sua mão enluvada para seus lábios, desejando que o tecido desaparecesse. Desejando sua cálida pele contra a sua. Em breve. — Sua confiança é valorizada além da medida, minha lady. Seu olhar se deslizou além dele para a casa senhorial. — Esta é uma cabana de campo impressionante. Ele não se voltou para olhar a enorme estrutura, de frias pedras e centenas de anos, que tinham visto gerações de duques antes dele. Baixou a voz em um sussurro, mal reconhecendo-se quando disse: — Oxalá fosse uma cabana. Seus olhos se iluminaram com prazer zombador. — Então o que seria? Você, um humilde pastor? E eu, uma leiteira de bochechas rosadas? Colocando sua mão no oco de seu braço, guiou-a pelos degraus de pedra e pela enorme entrada, sem servos. Tinha lhes dado o dia livre, estava sozinho. Ele não teria que bancar o duque. Não com a Seraphina. Ele falou baixinho no ouvido, no entanto.


— É o que você gostaria? Ela olhou para ele. — Pastor, lenhador, açougueiro, caçador de ratos. O que seja que escolha, isso é o que eu gostaria. Ele acreditou nela. Houve alguma vez alguém que o tivesse querido por ser ele mesmo, e não por seu título? Nenhuma das mulheres que o perseguiram nos salões de bailes por Londres… nenhum dos homens que se inclinaram por sua amizade e seu respaldo financeiro… nem sequer sua mãe. De fato, sua mãe só tinha querido o título. O menino gerado para assegurá-lo tinha sido um lado inconsequente. Mas Seraphina, ela queria a ele. Não ao título. Ele a guiou em seu escritório particular – o único ambiente na casa onde ele se sentia realmente confortável – onde ardia um fogo no lareira. — Caçador de ratos? — Perguntou, virando-a para olhá-la quando a porta se fechou atrás deles, sua cercania o relaxava, esquentando-o. Ela sorriu. — Podem ser terrivelmente úteis. — E o que quanto a você? — atraiu-a para si. As mãos ergueram-se, ao redor de seu pescoço, seus dedos se deslizaram em seu cabelo, e lutou contra o impulso de fechar os olhos e desfrutar do contato. — O que você gostaria que eu fosse? — Ela perguntou, seus belos olhos azuis se encontraram com ele, olhando-o


Ele não queria uma versão de fantasia dela. Ele não precisava disso. Ela era a fantasia. Com o coração palpitando, sacudiu a cabeça. — O que quer que você queira ser, — ele sussurrou. — O que te faça feliz. — Uma costureira então, — ela sussurrou, seu olhar caindo sobre a malha de seu casaco, deslizando uma mão para baixo para acariciar o tecido. — Consertaria as roupas à luz de velas, cantando na janela, esperando que você volte para casa. Ele queria essa vida. Trocaria tudo por isso. Por qualquer vida que lhe desse. Mas não teria que fazê-lo. — O que cantaria? Ela sorriu. Então, que Deus o ajudasse, ela cantou. Como o céu . “Aqui jaz o coração, o sorriso e o amor, aqui jaz o lobo, o anjo e a pomba. Deixou de sonhar e colocou de lado os brinquedos, e nasceu nesse dia, no coração de um menino.” Ele a puxou para perto, incapaz de fazer qualquer outra coisa. Incapaz de olhar para qualquer lugar além de seus lindos olhos azuis, incapaz de pensar em nada mais que no som de sua voz. Em seu aroma. Na sensação de estar com ela. — Não estava a par de que sabia cantar. Ela se ruborizou. — Requer-se que todas as damas bem-educadas o façam. Mas assim não. Seus braços se apertaram ao redor dela. — Mas não é uma dama. É uma costureira na janela. Com a voz mais linda que jamais tenha escutado.


Ela suspirou ante a ideia. — Só em meus sonhos. Ele balançou a cabeça. — Tente outro sonho. Ela riu, o som o encheu de luz, como sempre o fazia. — Parece que sou uma tola neste jogo. — Não — disse, pondo a mão em seu queixo e inclinando seu rosto para ele. — Você é muito boa nisso. Mas eu tenho uma imagem melhor para imaginar. Suas sobrancelhas se ergueram. — Ah, sim, você tem? — Você é uma duquesa. — Seus olhos se arregalaram ao ouvir as palavras, e viu o desejo ali. Não pelo título. Por ele. Ela queria a ele. Então continuou. — É perfeita e tão fora de meu alcance que nem sequer posso te olhar. — Ele a olhava, é óbvio. — Nem sequer deveria pensar em você. — O rubor voltou, e ele passou seu polegar pela pele rosada de suas bochechas. — Certamente não deveria tocá-la. — Seus lábios se separaram, e não pôde resistir a inclinar-se, mais perto, agradecendo ao céu que estivessem sozinhos — Definitivamente não deveria te beijar. — Tolices — disse, ficando nas pontas dos pés — Do que serve ser duquesa se não puder insistir que me beije? — Ela fechou a distância entre eles, e ele gemeu de prazer ao entregar-se a essa boca suave, doce


e perfeita, com sabor de hortelã. Sempre tinha sabor de hortelã, como se estivesse constantemente preparando-se para ele. Passou a língua por seus lábios, mergulhando em sua boca, deslizando-se, acariciando-a e saboreando-a até o momento que ela se entregou a ele, à ilicitude do ato. E, então, ela estava respondendo, golpe por golpe, suas mãos seguravam sua capa, rapidamente empurrando-a sobre seus ombros e por seus braços. Ela não duvidou em ajudá-lo, e ele considerou como se fosse um milagre até que se afastou, deixando-os ofegando. Ela piscou. — Malcolm? Fechou os olhos ante seu nome, ante o prazer que se desatou através dele quando ela o disse. Sacudiu sua cabeça. — Não tinha intenção disto… — Ela sorriu. — Eu sim. As palavras audazes e descaradas foram demais. Quem era essa mulher? Como ela era tão corajosa? Tão segura? Como o controlava tão bem? Como o queria tanto? E então ela sussurrou: — Não temos muito tempo. Ela tinha razão. Tinha que retornar a Londres em poucas horas. Havia a trazido aqui para ter um momento a sós, sem olhares indiscretos e intrigas ruidosas. Não para comprometê-la, a não ser para perguntar algo a ela.


Deveria ter ido a seu pai. E lhe perguntar corretamente. Ele era um duque, maldição. Havia todo um processo para pedir uma mão em matrimônio. Mas não queria a outros nisto. Ele queria perguntar somente a ela. Queria somente sua resposta, honesta, e não por seus títulos, negócios, finanças, terras ou porque seu pai o decretasse. Sem importar o que o ancião quisesse. Somente importava o que ela quisesse. O que ela escolhesse. E

estava

escolhendo-o.

A

ele.

Era

a

única

pessoa

que

verdadeiramente, realmente, o tinha eleito. Haveria tempo suficiente para perguntar a seu pai. Ele não diria que não. Ninguém rechaçaria um ducado. Mas, e se ela o fizesse? Seu coração pulsou com força, inclusive enquanto sorria, curiosa, e estendia a mão para ele, uma mão com luvas vermelhas deslizando-se por seu braço, deixando fogo em seu rastro. — Malcolm? Ele capturou essa mão. — O que você contou a sua mãe? Suas irmãs? Como você escapou delas? Mais tarde, sua hesitação o consumiria. Mas no momento, ele mal percebeu isso. — Eu disse que iria visitar uma amiga doente. Que voltaria pela tarde. Ele assentiu. A desculpa, não era perfeita, mas tampouco era horrenda. Deixava-lhes uma hora ou duas, talvez. Tempo suficiente para que lhe perguntasse.


Tempo suficiente para que ela dissesse que sim. Agora, o que aconteceria se ela não dissesse que sim? Ele passou uma mão pelo cabelo, repentinamente inquieto. A dúvida não era uma emoção com o que estivesse familiarizado. — Nunca esteve em minha casa, — disse ela, afastando-o de seus pensamentos. — Eu… — deteve-se, sem saber o que dizer. Ela sacudiu sua cabeça. — Não importa. Mal teve a clara impressão de que sim importava. Não queria sentar-se em um sofá incômodo e sofrer com os sorrisos e os olhares de sua mãe e irmãs, elas o viam nada mais com um título. Era o que sofria cada vez que estava em público: um duque solteiro, como um touro no mercado. Olhou nos olhos de Sera e lhe disse a verdade. — Sou muito ambicioso contigo — disse-lhe. — Quero você, mas só para mim. E quero ser somente teu. Uma pausa, silenciosa e pensativa enquanto o considerava. Sentia como se pudesse ver dentro dele. Ela respirou fundo, soltando-o, como se tivesse tomado uma decisão. E ela tinha. — Bem, — disse suave e seriamente — Estou aqui. Sem dama de companhia. De acordo com o seu pedido. Ele não tinha o direito de fazer esse pedido. Ela nunca deveria ter estado de acordo. Mas ela o desejava tanto quanto ele a desejava. Ele via isso cada vez que a olhava nos olhos, cada vez que apanhava seu olhar através de um salão de baile com centenas de pessoas separando-os.


Ele agora sabia, enquanto ela procurava seu rosto com sua mão livre, a pelica bloqueando seu toque, fazendo-o desejar não estar usando as luvas. — Sou tua — sussurrou. — Pastor, duque, caçador de ratos… — Ela sacudiu a cabeça com um sorriso — O que queira ser. Ele baixou a testa para a dela. — Sou teu para fazer comigo o que deseje — sussurrou. Sua respiração veio em uma onda de prazer. Ela diria que sim. Mas se ele fizesse amor com ela, teria que dizer sim. E então seus lábios estavam sobre os dela, e ela era dele. Em seus braços, seus dedos trabalhavam nos laços de seu corpete, dando espaço para o seu toque, deleitando-se com os pequenos suspiros e ofegos que lhe oferecia, cada um era outro presente, só para ele. Particular. Cristo, amava a privacidade disto. A ideia de que ninguém sabia que ela era dele. Que ninguém imaginava este momento. Que inclusive depois de hoje, quando todo mundo soubesse que se casariam, esta tarde era somente deles. Compartilhado com ninguém. E então seu corpete estava aberto, e estava quase nua para ele, e seus dedos, esses malditos dedos enluvados, guiavam-no, e ele estava saboreando sua pele morna e suave, seu nome em seus lábios como uma prece. Assim era como seria para sempre. Sem títulos. Sem exigências. Nada mais que eles, juntos. Feliz.


Querido. Amado. Deslizou sua mão até a bainha de suas saias, alcançando, levantando e encontrando a pele incrivelmente suave de sua perna. Não estava usando meias. Era magnífica. Passou os dentes pela pele de seu seio, sabendo, de alguma forma, que isso a prenderia em chamas. Seu ofego o pôs em movimento, movendo-se mais abaixo, inclusive quando suas saias se deslizaram mais para cima, suas coxas se abriram sem vacilar, como se soubesse o que ele tinha planejado. Como se quisesse, ainda mais do que ele queria dar-lhe. E ela queria. Ele sabia, e deleitava-se enquanto ela se arqueava, oferecendo-se a ele, rendendo-se a ele. E ele tomou sem duvidá-lo. Sem culpa nem vergonha. Eles estavam sozinhos, isto era para eles e para ninguém mais. Não era para seus pais, que sem dúvida celebrariam seu matrimônio com o resto mundo, nem para às intrigas, que seguiriam imediatamente cada um de seus movimentos. Ninguém saberia o que lhe permitiu provar essa tarde, em seu escritório privado, com nada mais que as paredes para presenciá-lo. Ninguém saberia o que lhe permitiu tocar. O que lhe permitiu tomar. Ninguém escutou sua pequena exclamação de dor, os suspiros de prazer que surgiram depois, a forma como se desmoronou com a liberação, o tempo de um pulsar do coração antes que ele a seguisse, incendiando-se, agradando-se, com seu amor secreto e perfeito. Justo por isso não ouviu a porta do escritório se abrir.


Justo por isso não escutou os chocados murmúrios das mulheres reunidas mais à frente. Justo por isso não se deu conta do que tinha acontecido, até que Seraphina ficou rígida sob seu toque, afastando-o dela, subindo para trás, tratando sem sucesso cobrir-se. Até que a condessa de Wight ladrou horrorizada: — Seraphina! — seguida de um: — Bruto! Tira suas mãos de sua pessoa imediatamente! O que ele fez, instantaneamente. Ainda não sabia que era a última vez que a tocaria com total confiança. Ainda não entendendo o alcance completo da situação. — Minha lady — disse, recolhendo imediatamente seu casaco para cobrir Seraphina, para protegê-la. Primeiro Sera. Sempre. — Você não entende. — Entendo que é um descarado, Haven. O pior tipo de canalha. — Não do pior tipo — disse ele. — Tenho a intenção de me casar com sua filha. Mesmo com os desastrosos acontecimentos da tarde, as palavras o aliviaram. A condessa insolente, certamente se acalmaria uma vez que escutasse isso. Não era a circunstância mais ideal, e ele e Sera provavelmente não poderiam verem-se em privado até o dia de suas bodas, mas ririam disto nos próximos anos, até altas horas da noite, enquanto uma leva de crianças dormiria nas câmaras do andar de acima. Olhou para Sera. — Casar-nos-emos.


No entanto, não havia felicidade em seus olhos. Havia outra coisa. Algo como... Culpa. A confusão apareceu e lançou um olhar sobre a sala, surpreso de encontrar outra mulher ali, na entrada. Outro par de olhos, cheios de ira e onipresente desdém. Sua mãe. Sua mãe, que deveria estar em Londres. — O que está fazendo aqui? — perguntou-lhe. Ela não respondeu, mas Haven não precisava escutá-la. Ele sabia. Quando olhou para a condessa de Wight, o confirmou. Não houve arrependimento nos olhos da mulher. Sem culpa. Sem irritação. Só certeza. Não tomou muito tempo para juntar todas as peças: era a história mais antiga que havia no mundo. A condessa tinha recolhido sua mãe e tinha seguido sua filha até Highley. Não por um instinto maternal preocupada com o perigo em que poderia estar, mas sim, porque sabia o que estava por vir. Porque elas tinham conspirado para apanhá-lo. — Não. — Olhou a Seraphina. À mulher que amava. Induzindo-a a negá-lo — Não? Ele resistiu à verdade mesmo que soubesse que era verdade. E então ela assentiu e tudo caiu ao redor dele. Ele não era o caçador de ratos. Ele era o rato.


Capítulo 11 Talbot assume o controle; Haven horrorizado! 29 de agosto de 1836 Highley Manor

Ele deveria ter sabido que ela traria reforços. Deveria ter imaginado que traria alguma de suas irmãs. Mas não tinha lhe ocorrido que traria todas. Fê-lo, entretanto, e eram reforços de primeira ordem, já que não havia quatro pessoas no mundo que o odiassem mais que suas cunhadas. Mais tarde, quando recuperasse o juízo, não poderia culpá-la. depois de tudo, este era o lugar que tinha lhe prometido que seria seu santuário. O lugar que deveria ter sido seu lar, onde sua família não só seria bem-vinda, mas sim cresceria. E, em troca, era um lugar que a tinha deixado com nada mais que dor e ira. Um lugar do qual ela tinha fugido. Os reforços por que havia sentido que eram necessários. Ele entenderia em um momento. Mas nesse momento, Haven não estava contente. E isso foi antes que a mais escandalosa delas, depositasse o que parecia ser um gato selvagem, em seus braços e rapidamente vomitasse sobre suas botas.


Gostava de pensar que era um homem inteligente, mas não tinha nenhuma

ideia

de

como

proceder

nesse

curso

preciso

dos

acontecimentos, exceto olhar às quatro mulheres que permaneciam na carruagem, cada uma obviamente resistindo ao impulso de rir. Correção. Três resistiam ao impulso de rir. Pois sua esposa estava rindo. Com o que parecia ser um imenso prazer, e maldito fosse se não adorava aquele som, um de seus favoritos. Inclusive não lhe importava a situação que o inspirou. Haven ajustou seu aperto sobre o animal selvagem que estava em seus braços, colocando uma mão com firme controle sobre o lombo da besta que se retorcia desejando arranhá-lo. — Basta, besta — disse, enviando um silencioso: "Vamos, gato, ao menos me deixe demonstrar, que posso conduzir qualquer felino". Surpreendente e felizmente, a muda mensagem em questão, foi atendida pelo exasperante animal, o que permitiu a Haven voltar-se para a proprietária do mesmo e dizer: — Posso ser de alguma ajuda, Lady Sesily? Sesily se endireitou e o fulminou com um frio olhar. — Um cavalheiro decente já teria devotado seu lenço. Nunca a tinha agradado. A nenhuma delas em realidade. Não é que merecesse seu agrado na época. — Não queria dar razões para me achar em falta, mas… — Não havia muito que pudesse fazer com uma besta selvagem em seus braços. — Não tem com que preocupar-se, Haven — disse Sesily, seu espírito claramente restaurado. — Acho-te imensamente provido delas, sem nenhum motivo adicional.


Ele piscou. — Alegra-me ver que se sente muito melhor. — Saber que arruinei suas botas ajuda muito. — Vejo que segue tão encantadora como sempre, — disse secamente, levantando o animal em seus braços, — muito mais que seus gatos. O gato protestou com um poderoso miado. Tanto quanto mais satisfatório para os deuses felinos. Sesily alcançou o animal. — — Somente um monstro castigaria um gato por uma infração inevitável do dono. — Oh, pelo amor de Deus — disse ele — não castigarei ao maldito gato. Se pegá-lo, buscar-te-ei um lenço. — Não. Ninguém tomará ao gato. Ele voltará para sua cesta até que Sesily o tenha em seu quarto. — Sera desceu da carruagem, com o cesto na mão, indo diretamente para eles. — E um banho. Nesse momento as outras mulheres pareciam desvanecer-se, pequenas e diminuídas por Seraphina, alta e linda, com seus olhos azuis claros e tranquilos, inclusive quando sabia que deveria estar pensando em todas as coisas que odiava deste lugar. Estava absolutamente perfeita, inclusive com a transpiração que cobria a ponta de seu nariz e a ampla extensão de pele descoberta sobre o corpete de seu vestido. Não é que ele notasse a pele ali. Mas a saliência de seus seios. Simplesmente percebia de que na carruagem devia fazer calor, pela forma em que se ruborizava e transpirava sobre o tecido cinza-


esverdeado do vestido. Era quase muito apertado para ela. Talvez deveria tirar-lhe.... Para o seu próprio conforto. Ele limpou a garganta. — Sua Graça. Haven engoliu bruscamente, e seu olhar imediatamente se dirigiu ao dela, que parecia estar esperando que ele agisse. Ela havia dito algo? Ele abriu a boca, disposto a dizer qualquer coisa. Mas o que lhe saiu foi: — Er — O qual não era uma palavra absolutamente. Um rubor rosado e perfeito subiu até seu rosto. Pigarreou de novo, mas se negou a falar e, portanto, ficou com um tolo. O silêncio não pode ser criticado. A irmã mais nova das Talbot, Sophie, riu desde seu lugar a vários metros de distância. Ela sempre tinha sido considerada a mais tranquila. Isso tinha sido até três anos atrás, quando o atirou ao fundo de um lago de peixes e arruinou suas melhores botas. Depois disso, tinha encontrado um bastardo como esposo e sua própria voz, que não duvidou em usar nesse momento. — Talvez o gato tenha comido sua língua? Um lado da boca de Sera se contraiu. — Uma mulher pode sonhar. Suas sobrancelhas se juntaram. — O que você quer? Seus lábios vermelhos se curvaram.


— O gato, Haven. — Ela estendeu a cesta aberta para ele. — Eu quero o gato. É óbvio que sim. Ela havia dito isso. Milagrosamente,

o

animal

aceitou

seu

encarceramento

sem

discussão, após Haven extraiu seu lenço e o ofereceu a Sesily, que o tomou sem vacilar. Foi sozinho então, quando o silêncio caiu no lapso de um ou dois pulsar do coração, que Haven se deu conta de que seus melhores planos tinham sido totalmente desperdiçados. Sera pareceu notá-lo também. — Onde estão? Ele fingiu ignorância. — Quem? Ela franziu o cenho. — As moças, Haven. Onde estão as minhas substitutas? Como se pudesse ser substituída alguma vez. Ignorou a ideia. — É uma sorte que não estejam aqui, tendo em conta que vamos ter que encontrar quatro dormitórios adicionais para as hóspedes inesperadas de hoje. Quanto tempo ficarão? — Onde está seu amor fraternal, Duque? — Perguntou a que estava casada com o Conde de Clare. Ele ignorou a pergunta. — Quanto tempo, Seraphina? Ela sorriu, toda serena, e lhe deu uns tapinhas na bochecha. — Há trinta quartos nesta monstruosidade de casa — zombou ela. — Acredito que poderá encontrar espaço para a família.


— Monstruosidade? — Ninguém necessita de um lar tão grande. — As palavras estavam cheias de distração enquanto olhava uma árvore velha e maciça, carregada com o verão. Um único corvo estava sentado em um galho baixo, e parecia que Sera estava olhando o pássaro negro. — Houve um momento em que você gostava — ele disse. Então ela o olhou e disse em voz baixa: — Não mais. É óbvio que não. Ele era um idiota por fazê-la vir aqui. Para fazê-la recordar tudo o que tinham perdido. Ela continuou, sem dar-se conta do alvoroço de seus pensamentos. — Você está dizendo que não tem quartos? — Claro que temos quartos. — Ele se virou e começou a subir as escadas, de repente percebendo que a última vez que Sera esteve aqui, tinha-o deixado. E ele merecera isso. Ele resistiu ao desejo de voltar e agarrá-la. Para evitar uma repetição dos acontecimentos do passado. — Onde estão? — Sera repetiu sua pergunta e o seguiu até a entrada principal, ladeada por suas irmãs, cada uma mais selvagem e mais forte que a outra, e seus planos para a noite eram repentinamente escandalosos. Equivocados. Impossíveis. — Por que você me convocou aqui com tanta insistência? E se ele lhe dissesse a verdade? — Elas estão aqui?


E se ele lhe dissesse que esperava que ela viesse sozinha? — Haven? O que aconteceria lhe dissesse que tinha planejado reconquistá-la? — E por que não há pessoal de serviço? — Ele voltou-se para olhála, preparado para lhe dizer a verdade, mas quando a olhou nos olhos, viu que ela já sabia a verdade — Onde está os servos? — Eu dei-lhes a tarde de folga, — ele disse, injetando as palavras com suficiente força ducal para inibir qualquer outra pergunta. Não recordou que as irmãs Talbot nunca tinham sido intimidadas pela força ducal. Cinco pares de olhos conhecidos se cravaram nele, despindo-o. — Por quê? — Lady Sesily disse, o lenço ainda em seus lábios. Malcolm ignorou a pergunta e desviou o olhar para o corvo na árvore, que já não estava sozinho. Ainda havia pássaros negros ali, que pareciam olhá-lo. Endireitou os ombros, canalizou sua linha ducal e, concentrado, voltou sua atenção a Seraphina. Erro. O olhar de sua esposa era estreita e sábio. — Onde estão as moças? — Foi o seu tom que não aceitou nenhum rechaço no final, toda uma duquesa, ironicamente. — Chegam em três dias — A casa estava preparada, cada cama feita, cada comida planejada. Ela assentiu, e ele pôde ver a pergunta em seus olhos, a que continha: por que estamos sozinhos?


Ele se perguntou por um momento o que ela poderia dizer se ele respondesse honestamente. Se ele lhe dissesse a verdade que todos pareciam já suspeitar. Se ele dissesse: Porque te queria somente para mim. Porque queria desfazer-se tudo, por você.” Parecia um plano ridículo agora. Em vez disso, encontrou uma resposta no momento, uma invenção que, uma vez pronunciada em voz alta, felizmente parecia legítima. — Nosso acordo foi que se faria de anfitriã e casamenteira, não? Com isso em mente, não deveria estar aqui adiantado tudo? Para fazer o que for necessário e o que fazem as anfitriãs e as casamenteiras? Malcolm estava orgulhoso do tom desdenhoso que de alguma forma tinha encontrado, um tom que parecia irritar suas cunhadas, mesmo quando sua esposa permanecia imóvel. — Isto é uma loucura, Haven, entende isso, não? — Disse Sesily. — Tê-la aqui, só colocará as outras moças no limite — falou a Marquesa de Eversley. — Ninguém se sente cômoda com as irmãs Talbot, e isso foi antes que uma de nós se casasse com um possível pretendente — Isto, veio da esposa de Mark Landry. Ou talvez da condessa de Clare. Ele nunca poderia distinguí-las. — Bom Deus. Mesmo dizê-lo em voz alta soa a loucura — disse a outra. Tinha esquecido que suas cunhadas podiam ser urracas14 faladoras. Mas qualquer uma que disse isso não estava equivocada. Todo o plano estava arruinado.

14

Urracas – pássaros.


Não olhou às mulheres reunidas, mas sim se concentrou por completo em sua esposa, que o observou durante um longo momento antes de dizer: — Bom, então. Imagino que há muito o que fazer. Seraphina levantou a saia com uma mão e, agarrando a cesta do gato na outra, com a mesma graça que levaria um cetro, subiu os degraus da casa do qual era senhora. Ele permaneceu no caminho, olhando-a , paralisado por seus movimentos fluidos e suaves, inclusive quando ela se deteve na soleira, voltando-se para olhá-lo. — Por que sua mãe não está interpretando este papel? Ele não hesitou. — A viúva está morta. Seraphina não revelou nenhuma emoção. — Sinto muito. — Sente-o? — Ele não pôde evitá-lo. — Não, realmente não. Suas irmãs soltaram uma pequena coleção de ofegos surpresos ante a resposta franca. E, pela primeira vez desde que viu a carruagem subir pela estrada, Malcolm entendeu que inclusive elas estavam intrigadas por esta nova e forte Seraphina. Mas ele também tinha mudado. Ele já não temia a verdade. Por isso assentiu uma vez. — Não, e eu tampouco. Não sabia o que esperava que ela dissesse. Não sabia o que esperava dela absolutamente: de suas ações, de suas palavras, ou de


nenhuma das duas. Ela não falou. Em troca, tomou o que parecia ser uma respiração longa e cheia, e lhe deu as costas, entrando na casa. Malcolm se deu conta de que ela nunca faria o que esperava dela, nunca mais.

****

Deveria ter eleito um dormitório diferente. Nesse momento, com suas irmãs conversando como urracas, era o mais natural no mundo subir pela longa escada central de Highley e dobrar à esquerda na enorme asa familiar, atribuindo a cada uma delas os quartos mais luxuosos da casa senhorial, como recordou que estavam acostumadas a chamá-la. Uma vez que terminou a tarefa, deu-se conta de que o único quarto que restava perto de suas irmãs era a câmara que lhe tinham atribuído anos antes, quando era duquesa. Quando ela era a duquesa. Sera sempre vinculava o título com o passado, já que o relacionava com Haven. Depois de tudo, tinham passado dois anos e sete meses da última vez que se viram, e mais de três desde que realmente tinham compartilhado uma conversa civilizada, por isso o passado parecia ser o melhor lugar para esse título. Inclusive agora, enquanto permanecia de pé na janela das acomodações reservadas para a Duquesa de Haven, olhando o sol aparecer pelo bordo oriental do imóvel, perseguindo o céu negro cinzento que poderia ter sido lavanda.


Seraphina preferia a segurança do cinza. E o quarto era cinza, depois de tudo, como lembranças apagadas e envelhecidas e com elas, as promessas, como se tivessem passado décadas em lugar de anos. Tinha sido um erro escolher este dormitório, porque uma vez tinha sido dela. E ela já não era essa mulher. De fato, em somente algumas semanas, ele estaria livre dessa mulher, e este quarto pertenceria a outra. O quarto. A casa. O esposo. A cama. Mas três noites de sono intermitente e agitado nessa cama tinham feito pouco para dissuadi-la do fato de que deveria ter eleito outro quarto. — Está acordada. Sera se virou em direção às palavras, pronunciadas da porta que se conectava com o dormitório ducal, onde Haven estava parado como se o tivesse convocado com seus pensamentos, perfeito, brilhando como se fosse meia amanhã em lugar do amanhecer. Parecendo uma cor no cinza. Ela entrecerrou seu olhar sobre ele. — Essa porta estava fechada, Duque. Não está convidado a usá-la. Levantou uma sobrancelha e fez uma elaborada demonstração de alisar a manga de sua camisa. — Não sabia que necessitava de um convite, já que é minha porta. — Como é a porta de meu quarto, prefiro que pense que é minha propriedade. Um lado de sua boca se levantou, e ela odiava seu aspecto. Bonito, jovem e completamente perigoso.


— O que diz se o compartilhássemos? Algo a atravessou pela brincadeira em suas palavras. Algo como lembrança. O eco do que parecia uma eternidade passada, quando ele era seu homem, ela sua mulher e isso era tudo o que parecia importar. Qual era seu jogo? Ela endireitou seus ombros. — Digo que está louco se acha que estou interessada em compartilhar qualquer coisa contigo. Particularmente tão perto. — Você escolheu o quarto, Anjo — disse ele, com a voz baixa e ainda rouca pela falta de uso no sono — Esqueceu que tinha a porta? Seus lábios se esmagaram em uma linha fina quando as palavras se enredaram nela com uma emoção desagradável e longamente fora de uso. — Não me chame assim. — Houve uma época em que você gostava. Há uma vida atrás. — Eu nunca gostei. É um nome tolo. — Os serafins são a ordem mais elevada dos anjos — recordou-lhe — Deram-lhe o nome por eles. — Conhece o suficiente a minha mãe para saber que ela nunca em sua vida teve um pensamento espiritual, e acha que me chamou assim por causa de um anjo? Apoiou-se contra o marco da porta, cruzando os braços sobre o amplo peito, como se fosse perfeitamente normal que conversassem a


primeira hora da manhã. Por acaso. Como esposo e mulher. Com esse meio sorriso e piscou novamente. — Entretanto, acredito. Ela soltou uma pequena gargalhada e devolveu sua atenção à janela. — Asseguro-te que o angélico não estava na mente de minha mãe quando me deu o nome. Ela pensou que soava aristocrático. Esse era seu objetivo. Sempre. — Deteve-se, e logo adicionou: — Conhece esse objetivo intimamente. O silêncio que caiu entre eles deveria ser incômodo, cheio de lembranças daquele dia há muito tempo atrás, nesta mesma casa, quando ela e sua mãe tinham emboscado um duque. Mas não era incômodo, nem sequer quando invocou a lembrança do horror em seu rosto, quando se deu conta, de que tinham lhe estendido uma armadilha. E o tinham apanhado. Ela o tinha apanhado. Porque nunca tinha desejado nada mais que a ele, e ela tinha acreditado que ele não a queria. Que ele era muito valioso e ela muito tosca, e que a felicidade não era para eles. E a felicidade, ao que parecia, não era para eles. "Eu teria casado contigo. Poderíamos ter sido felizes". As palavras explodiram a seu redor, cheias de fúria e traição. E no tempo passado. Tudo entre eles, sempre era no tempo passado. E efêmero. — Por que está acordada?


A mudança de assunto não a inquietou. Tinha sido o selo distintivo de sua efêmera relação, o movimento rápido do pensamento, raramente sem que o outro o seguisse facilmente. — Levanto-me cedo. — Ou era isso, ou permanecia na cama e deixava que a lembrança a embalasse — E sua futura esposa chegará hoje. — Não até dentro de algumas horas. O céu se tornou cinza e rosado, uma cor profunda e magnífica que parecia muito brilhante para ser natural. — Vai chover — disse, lamentando as palavras no momento em que ele se moveu, parando detrás dela e dirigindo seu olhar para o céu. — Não por horas — ele repetiu. Ele cheirava como antes. Como terra fresca e especiarias escuras. Tratou de não respirar muito, temerosa do que esse aroma familiar poderia lhe fazer. — Logo. O clima. Discutiam sobre o clima. — Venha cavalgar comigo. — Nunca tinham cavalgado juntos. Falaram sobre isso, anos atrás, promessas de que passariam o verão aqui, em Highley, que cavalgariam, descobrindo-se juntos. E depois se casaram, e não tinham podido suportarem-se. Ou, melhor dizendo, não tinha sido capaz de suportá-la. Ela não podia culpá-lo por isso, supôs. Exceto, que o tinha culpado. Mesmo antes quando ele procurou outra a quem pudesse suportar melhor. Ela o olhou. — Por que?


Ele levantou um ombro. Deixando-o cair. — Porque você gosta de cavalgar e ainda não chove. Ela sacudiu sua cabeça. — Que jogo está fazendo? — Não há jogos — ele disse. — Desfruto das manhãs. — Desfrute-o, então — disse ela. — Vou tomar o café da manhã com minhas irmãs e me preparar para suas pretendentes. — Fez uma pausa — Pretendentes? Suplicantes? Há alguma palavra para as mulheres jovens que competem pela atenção de um duque? — Wisteria.15 Ela elevou uma sobrancelha ante a palavra, o mais amável dos nomes sussurrados que ela e suas irmãs tinham pensado para ele. Bonito, cheirava bem e era muito bom se confrontando. — Não tão rápido, Duque. Não as vimos nem sentimos o perfume ainda. Ele sorriu com isso, presunçoso e bonito, e ela odiava a insinuação de prazer na curva de seus lábios. Odiava como a sombra desse sorriso corria através dela e a envolvia tão rapidamente, que nunca o teria notado se não fosse tão consciente dele. E por que? Ele não era mais que uma barreira entre ela e a liberdade. — Suas irmãs não podem protegê-la todo o tempo, e você sabe. Teremos que interagir em algum momento. 15

Wisteria - é um gênero de plantas com flores na família das leguminosas, Fabaceae (Leguminosa), que inclui dez espécies de videiras de escalada lenhosa nativas do leste dos Estados Unidos e da China, Coréia e Japão.


Ela se enclausurou com elas depois de sua chegada o outro dia, tratando de esquecer que ele estava na casa, inclusive enquanto se preparavam para o que estava por vir. — Não temos que estar sozinhos para interagir. Ele levantou uma sobrancelha. — Tem medo de estar a sós comigo? — Estar a sós contigo nunca funcionou do modo que eu imaginava — disse ela, sabendo que as palavras seriam um golpe. O golpe não doeu como se esperava. — Acredito que funcionou bastante bem, uma ou duas vezes. Quem era este homem? Tentou-o de novo. — Oh, sim, Sua Graça, estar casado com você foi a grande maravilha de minha existência. Olhou pela janela. — Preciso te recordar que quatro mulheres querem uma vida comigo tão desesperadamente, que estão vindo para cá e devem competir por ela? Sera soltou uma pequena gargalhada. — Acha que elas o querem? Elas não. Simplesmente pensam que não têm mais remédio que competir por sua atenção — Ela duvidou, então. — Como selecionou essas pobres moças? — Não é tão difícil encontrar mulheres solteiras interessadas em casar-se com um duque.


— Nem sequer com um duque que esteve amarrado ao escândalo durante anos? — Surpreendentemente, nem sequer por isso. Entretanto, não era surpreendente. Era bonito, jovem, rico e com títulos, qualquer mulher sensata o quereria. Não foi o que ela quis. — E estavam dispostas a esperar até que me declarassem morta? A caçada de um esposo requer mais paciência do que me lembro. — Você era uma caçadora surpreendente. Ele não se referia literalmente ao que significavam essas palavras, ela sabia. Mas, não obstante lhe doeram, sobretudo o aviso da armadilha que lhe tinha estendido. O engano que tinha cometido. Ela afastou a vista, voltou-a para o sol e para os campos. — Pouco sabem que em questão de semanas, sua atenção vagará para outros lados. Odiava a si mesma pela amargura nas palavras. Depois de todo o acontecido, era como tropeçar com ele junto de outra mulher, seria o único que parecia importar? Odiou-o ainda mais quando disse: — Você deixou-me... — Você me expulsou! — Disse ela, incapaz de evitar que elevasse sua voz. — Estávamos na casa onde poderíamos construir um lar, nosso café da manhã de bodas mal se esfriara, quando me disse que partisse. — Quando ele abriu a boca para responder, ela descobriu que não tinha terminado. — E sabe qual é a grande ironia de tudo isto? O mundo inteiro acredita que me arruinou antes de se casar comigo, quando a


verdade é que, de fato, não o fez até depois das bodas. Arruinou minhas esperanças. Meus sonhos. Meu futuro. Arruinou minha vida. E já tive suficiente disso. Estou aqui só por uma razão, Sua Graça. Quero minha vida de volta. A que você roubou. Ela respirava pesadamente, já que estava cheia de ira e que raramente permitia sua liberação. E maldita seja se não se sentia bem. Inclusive quando encontrou seu olhar e reconheceu sua frustração. Sua irritação. Bem. Ela o preferia zangado. Preferia ver seu inimigo. E eram inimigos, verdade? — Se te roubei a vida, o que você fez com a minha? Desapareceu, deixando todos perguntando-se onde tinha ido. Imaginando que eu poderia havê-la mandado para longe. Ela se voltou de novo. — Mandou-me para longe. — Era uma mentira, mas o disse de todos os modos, esperando que o machucasse. Fez-se silêncio, e ela o ignorou, negando-se a olhá-lo, inclusive quando ele disse: — Preocupava-me que você estivesse morta. O médico me disse que poderia morrer. Tem alguma ideia de como me sentia ao saber que poderia ter morrido? Ela não hesitou. — Eu só posso imaginar que desejou essa possibilidade com esperança, considerando que já tinha um plano tão claro para me substituir.


Esperava muitas respostas inteligentes à réplica: ira, sarcasmo, rechaço. Mas em seu lugar recebeu honestidade pura, sem restrições. — Nunca a desejei morta. As palavras enviaram uma quebra de onda de vergonha através dela antes que pudesse detê-la. Inclusive quando resistiu à ideia de lhe permitir constrangê-la. — Não — disse ela. — Só mandar-me para longe. Então, deixe vir minha substituta. E te darei o que deseja. Com muito prazer. Só então se deu conta de que uma pequena parte dela desejava que ele reconhecesse o fato, de que tinha respirado aliviado, no dia que ela desapareceu. Ele não o fez. — Depois que você se foi, eu… — deteve-se, depois começou de novo. — No último dia, quando… — Deteve-se no momento em que Sera fechou os olhos ante as palavras e a lembrança que as acompanhava. A aguda sensação de perda. O bebê que não podia esquecer. O futuro que ela tinha perdido. O amor desaparecido. Ela deveria haver lhe agradecido por deter-se, mas não lhe deu tempo, mas sim, mudou de tática. Repetindo: — Nunca te desejei morta. Ela sabia disso, é óbvio. — Disse-o porque me fez zangar. — Era o mais perto que chegaria a soar como uma desculpa por agredi-lo. Malcolm riu então, o som baixo e cheio de encanto, tal como o recordava. — Sempre o fiz bastante bem. Ela não pôde evitar um sorriso como resposta. — Isso é verdade.


— Venha cavalgar comigo — repetiu a sugestão — antes que cheguem as outras. Ele disse "outras" como se fosse perfeitamente normal que um grupo de mulheres estivesse a ponto de chegar para competirem pelo papel de duquesa, o papel que atualmente desempenhava ela. Negou com a cabeça uma vez mais. Ele era muito tentador, inclusive agora. Mesmo quando sabia a forma como isto acabaria. — Eu poderia insistir — ele disse. — Fazê-lo uma condição do divórcio. — Poderia — respondeu ela. — Mas não o fará. — Como sabe isso? — Porque não quero. E não me forçará. — Obriguei-te a vir aqui para encontrar sua substituta. — O que beneficia a ambos. Mas passar o tempo contigo é uma tolice. Nós sempre gostamos de alguns momentos, Malcolm. E nunca foram suficientes para compensar a forma em que ferimos um ao outro. Ele olhou para outro lado, pela janela, e ela quase silenciosamente lhe suplicou que a deixasse. Ele não saiu. Em troca, disse, com toda a calma: — Não poderemos cavalgar, de todos os modos. Ela seguiu a direção de seu olhar para a distância, onde apareceu uma carruagem, enorme e negra como um escaravelho do verão, puxado por quatro cavalos e um par de cavaleiros a cavalo. Seu coração começou a pulsar com força. — A primeira chega.


As palavras mal tinham saído de sua boca, quando uma segunda carruagem se materializou ao longo da estrada. — E a segunda. Sete veículos vinham rodando pela estrada, negras e sombrias, como carpideiras indo para o cemitério16, e Sera se voltou para seu esposo. — Todas se conhecem? Ou são excessivamente coincidências? Ele a olhou. — Asseguro-te que não tinha intenção de que o dia começasse às sete horas em ponto da manhã. — Então marcaram a uma com a outra sobre a hora de chegada. Ele pigarreou ante as palavras. Quando levantou uma sobrancelha inquisitiva, adicionou: — O mais provável é que as mães pensassem que "o pássaro madrugador se apropria do verme". Sera não pôde evitar sorrir. — Bem, Sua Graça, devo admitir que você é um verme terrivelmente gordinho. Ele a ignorou. — Mas por que oito carruagens? Só convidei a quatro — Sua confusão se converteu-se quase imediatamente em terror. — Querido Deus. Não acha que trouxeram irmãs, verdade? — Não se atreveriam. Irmãs, são as minhas armas. Estas moças deverão encontrar as suas. 16

carpideira - mulher paga pra chorar em velórios.


— É isso o que é? Uma batalha? Ela o olhou. — É um matrimônio, Duque. É óbvio que é uma batalha. Um lado de sua boca se levantou. — Sempre foi assim conosco. Ela se virou ante as suaves palavras. — Desde o começo. — Observou a linha de carruagens aproximarse. — As segundas carruagens vêm com necessidades variadas. Nossos pertences devem chegar hoje também. Suas sobrancelhas se juntaram. — É a maior casa de campo e melhor abastecida da Grã-Bretanha. Elas têm medo de que não as alimente? — Não. Elas temem que você não tenha donzelas ou criadas que sejam peritas em penteados. E que não tivessem dúzias de vestidos de noite perfeitamente feitos sob suas medidas. E sapatos. E roupa interior. — Têm razão sobre isso. — É óbvio que tenho. É um homem solteiro. Esta casa requer… um toque feminino. A qual é uma de minhas provas para você… vamos conformarmo-nos com a palavra suplicantes por enquanto. — Que certamente, não requer toque feminino. — Ela nunca o ouviu tão ofendido. — Pensou em que provas? — Pediu-me que te encontrasse uma segunda esposa, Duque. Tendo em conta a confusão que fez com a primeira, acredito que estaria agradecido pelas provas. — O que? Como corridas a pé? E adestramento?


— Você não está longe, de fato. — Suas sobrancelhas se levantaram, e ela recompensou sua curiosidade. — Lawn Bowls17 na grama, sem dúvida. Ele quase riu entredentes, e Sera esteve quase agradada. Quase recordando quão bonito era. Quase lembrando-se de quão maravilhoso era ser o centro de seu prazer. Quase. Soou um forte golpe na porta, seguido imediatamente pelo bramido de Sesily. — Sera! chegou o Harém de Haven! Seus lábios se crisparam, e estava muito orgulhosa de si mesmo pelo olhar sério que dava a seu esposo. O duque. Isto seria muito mais fácil se ela deixasse de pensar nele como seu esposo. Ele não o era, depois de tudo. Realmente não. Não desde suas bodas. Não desde antes. Não é que fosse difícil para ela, depois de tudo. Ela somente estava pensando nas outras mulheres. Em sua substituta. Pigarreou e gritou: — Sim! Vejo-as Ses! — Bom, deveríamos descer e dar uma olhada, não acha?

17

Lawn Bowls - também chamado lawn bowls é um esporte de precisão no qual o objetivo é colocar uma bola assimétrica (chamada bowl) mais próxima de uma bola branca (chamada jacky ou kitty ou sweetie). Muito parecido com Bocha. Bocha (português brasileiro) ou boccia (português europeu) é um esporte jogado entre duas equipes, cada qual tendo direito a seis bochas (bolas) na modalidade trio, quatro bochas na modalidade de duplas - duas para cada atleta -, e quatro também na modalidade individual.


— Sim, deveríamos — respondeu Sera, desfrutando do desconforto de Malcolm. — Neste momento! — Disse Sesily alegremente. — Só direi a Sophie que arrume o vestido que está horrível na parte que está em expansão. — Ouvi-te! Estou parada aqui mesmo! Usando um vestido que se adapta bastante bem, muito obrigada! E você não pode falar, já que tem o seu coberto de pelo de gato. Você não está trazendo ele, não é? — Claro que o levarei. Será a primeira prova de sua coragem! Além disso, Brummell tem um gosto exigente. — Como a fera gosta da sua companhia, não posso dizer que acredito nisso — Seline tinha chegado no corredor mais à frente. — Vamos, Sera! — Meu Deus, há muitíssimas delas. E você acha que a casa não é suficientemente feminina? — Perguntou Haven. Ela sorriu. — Não, quase não. Grunhiu sua frustração, ele voltou-se para a porta de seu quarto. — Não as assustem. — As minhas irmãs? — Perguntou, toda inocência. — Não se assustam facilmente. — Sabe exatamente as quais me refiro. Se alguém pode aterrorizar a um grupo de debutantes, são vocês. — Não nos chamam as Irmãs Perigosas Talbot por acaso, Sua Graça.


Ele não riu, e ela se deu conta de que a réplica não era divertida. Não para ele. Não para ela, tampouco. Não quando se voltou, lentamente, ele disse: — Você nunca veio com essas coisas. Ela se acalmou. Não tinha vindo com essas coisas. Não com um enxoval, nenhuma criada, com nada, realmente. Nada disso importava se se casasse com ele. Mas ele tinha estado muito zangado para dar-se conta disso. — Eu era diferente. Esperava que deixasse a resposta sem comentar mais nada. Mas ele não o deixou. — Porque veio por mim. Toda e cada vez. Ela poderia ter mentido, mas não queria fazê-lo. Não queria ser assim nunca mais. — Sim. Ele assentiu e cruzou a soleira, fechando a porta detrás dele. Só então Sera disse o resto. — Assim como eu parti por você, vim por você. Justo quando você não me quer mais aqui. Alisou as saias e foi conhecer as mulheres que esperavam casar-se com seu esposo.


Capítulo 12 Escândalo delicioso! Serafina seleciona sucessora! 1° de setembro 1836 Highley Manor

As irmãs Talbot conheceram as suplicantes candidatas de Haven na entrada da casa, junto com a coleção de seus acompanhantes secundários: quatro mães, um pai e três cães salsicha que não se importavam com Brummell, quem miou com ardor da segurança dos braços do Sesily. Na frenética cortina de fundo do pátio da casa senhorial, além da coleção de convidados, os criados da casa e os de fora chegavam correndo, descarregavam baús, chapeleiras, sela de montar e... isso era uma banheira? Por que iriam necessitar uma banheira? O quarteto de moças foram empurradas para frente para a inspeção da Seraphina, cada uma aparentemente com menos conhecimento do protocolo requerido para a situação, que a outra. Não é que este cenário em particular fosse o suficientemente comum para receber uma menção no "Livro de Maneiras para Damas" da Sra. Coswell. De fato, Sera pensou que a senhora Coswell poderia morrer rapidamente se se inteirava do que acontecia em Highley.


Entretanto, não havia nenhuma razão para que não pudessem tirar o melhor de uma situação tão estranha. Se estas quatro jovens, era o único que se interpunha entre Seraphina e sua liberdade, ela certamente estava disposta a fazer sua parte. Com um amplo sorriso e inclusive com os braços abertos, disse: — Bom dia, miladies — As moças se congelaram, com os olhos muito arregalados, olhando-se entre elas primeiro e depois suas respectivas mães, claramente sem saberem como responderem. Sera deixou que seu sorriso chegasse a seus olhos. — Sou Lady Seraphina — usou deliberadamente o título que tinha antes de seu matrimônio. Uma pequena morena, a menor das quatro, deu um passo à frente, vestida de rosa e com características delicados que recordavam a Sera um camundongo, embora não totalmente desagradável. — Chamamos-lhe Sua Graça? Era decidida. Gostava desta que não teve problemas em ir diretamente ao grão. — Confesso-o, preferiria que não. Depois de tudo, estamos todas aqui para nos assegurarmos de que não serei Sua Graça por mais tempo do que seja absolutamente necessário. As mães e filhas reunidas riram. — Isto é muito irregular — disse uma das mães. — Onde está o duque? É muito inapropriado que envie precisamente você para nos receber. — Perdão? — Disse Sera. — Precisamente? A mulher mais velha levantou o queixo e olfateou o ar. — Você sabe o que quero dizer.


— Temo que não. Uma das outras mulheres moveu uma mão na direção de suas irmãs. — Você e suas irmãs não são exatamente beau monde18 nestes dias. — Sou uma condessa! — Protestou Seleste antes de apontar para Sophie — E ela é a marquesa de Eversley e a futura duquesa de Lyne! — Sim — aceitou a mulher, como se falasse com uma menina. — Mas nenhuma de vocês nasceu com esses títulos… Sesily franziu o cenho. — Diga algo mais, e volta para sua carruagem, bruxa. As palavras foram interrompidas por um miado selvagem de Brummell, e Sera resistiu ao impulso de sorrir ante a lealdade eterna de sua irmã, que tinha seu lugar, mas neste caso, não era do todo útil. Olhou à mulher mais velha com as sobrancelhas levantadas, a boca formando um O perfeito, antes que a furiosa mãe pudesse falar, Sera saltou, colocando-se entre as duas mulheres. — Entretanto, seu títulos não são de interesse, verdade, minha lady? O meu sim, é. Eu se fosse você recordaria por que está aqui e o prêmio que quer ganhar. A mulher vacilou, logo assentiu. Sera se voltou para as jovens mulheres. — Bem. Como sabem, estive fora da cidade por várias temporadas. Começaremos com as apresentações. 18

Beau monde - francês significa belo mundo. Frase usada na época da regência designando as características tidas como ideal para os britânicos.A alta sociedade tinha rígidos conceitos de classe e hierarquia social.


Outra mãe disse entredentes: — Simplesmente não faremos. Sera baixou a voz e se inclinou para as moças em conspiração. — Descobrirão que tenho pouco interesse no que elas farão ou não. Em troca, eu gosto de fazer as coisas a meu modo. Quatro pares de olhos voaram para encontrarem-se com os seus, uma miríade de expressões ante sua afirmação, cada uma demonstrando uma expressão diferente: comoção, confusão, diversão e, em última instância, admiração. Sera fez uma nota mental para investigar a Admiração, a primeira vista era a mais corajosa do grupo, e claramente nada simples em absoluto. Malcolm poderia lhe gostar dela. A ideia não lhe produziu a satisfação que deveria haver sentido. Diversão, o Camundongo minúsculo, foi primeira em falar, dando um firme passo adiante. — Sou Lady Lilith Ballard, a filha mais nova do conde de Shropshire — Apontando à mulher de lábios franzidos que tinha falado antes: — Essa é minha mãe, a condessa. — Baixou a voz. — Bem feito para ela, certamente. Sera sorriu. Sim. Ela gostava muito desta. Assentiu com a cabeça. — É um prazer — Olhou para Admiração, que a observava com olhos penetrantes, mas que não demonstrou interesse em apresentar-se. O pareceu ser bom, porque o duque aproveitou justo esse momento para chegar.


— Bem-vindas a Highley, miladies — Sua voz era profunda e encantadora, enchendo a madrugada com aristocracia. Sera ficou rígida quando o grupo voltou sua atenção para ele, o único homem do grupo, escolheu esse momento para mover-se, avançando com um pigarro muito forte na garganta. — Haven. É estranho tudo isto, não acha? Malcolm estreitou a mão do homem. — Brunswick — Baron Brunswick, pobre como um camundongo de igreja, recordou Sera, mas com um título apropriado e respeitável. — Algo em meu passado recente foi menos que estranho? — Apontando para Sera. — Já conhece a minha futura ex-esposa, como deve conhecer suas irmãs. O barão grunhiu seu acordo e apontou a Confusão, uma ruiva com enormes olhos verdes. — Essa é minha moça. Não escapou a Seraphina que a menina em questão seguia sem nome. O que importava se uma moça ou a seguinte, tivessem nomes únicos? Malcolm retificou a situação. — Lady Emily, é um prazer conhecê-la. Lady Emily, por sua parte, não parecia sentir o mesmo. De fato, parecia como se pudesse explodir em lágrimas a qualquer momento. Entretanto, foi salva da vergonha pelo forte e insistente, — Mary — de uma das outras mães. Comoção pareceu cobrar vida nesse momento, dando um passo adiante e virtualmente abrindo passagem com os cotovelos para parar frente de Haven. Ela era loira e adorável como uma boneca de porcelana. E parecia que seu nome era Mary.


Malcolm tomou o momento com calma, todo um cavalheiro. — Deve ser a senhorita Mary Mayhew. Sera inclinou sua cabeça com surpresa. Senhorita. O duque de Haven, considerando inclusive a uma mulher sem sangue azul? Foi um choque, considerando o desdenhoso que ela e sua mãe tinham sido com respeito às raízes mineiras de seu pai. — Seu pai é um dos homens mais poderosos da Câmara dos Comuns — Sophie lhe sussurrou ao ouvido. Um político. Pior ainda. — Sua Graça — disse a beleza, caindo em uma profunda reverência, sua voz sem fôlego, sensual e muito provavelmente a coisa mais feminina que Seraphina tinha escutado. Não pôde evitá-lo. Seu olhar voou para o rosto de Haven, que olhava Comoção com cortês interesse. Não havia nada que indicasse algo mais que uma cortesia comum, mas isso não importava para Sera. Não. Não importava, absolutamente. Devia deixá-lo apreciar outra mulher. Não havia nenhuma razão absolutamente, para que a Sera incomodasse se a considerava linda. Não havia razão para que sequer o notasse. De

fato,

não

tinha

percebido

que

ele

a

estava

olhando,

absolutamente. Afastou seu olhar, porque o longínquo som de estrepitosas rodas a distraiu,

enquanto

outra

carruagem

negra

subia

pelo

caminho.

Aparentemente, uma das moças não tinha podido acomodar todos seus pertences em dois transportes, e necessitava de um terceiro. Parecia algo


desnecessário, mas Sera sabia melhor que a maioria que apanhar um duque era uma tarefa muito sacrificosa. Não é que ela tivesse necessitado algo muito extravagante para fazê-lo. Esclareceu a garganta e olhou para Admiração, lamentando imediatamente seu tom agudo e a forma em que insinuava seus pensamentos não desejados. — E você é...? A moça não se alterou ao responder: — Felicity Faircloth. Sera piscou. — Rogo-lhe me desculpe? Admiração sorriu. — Ridículo, não é assim? — Um pouco. O sorriso se converteu em uma risada. — Ajuda se lhe disser que sou Lady Felicity Faircloth? Sera soltou uma risadinha. Admiração era sua favorita. — Não. — Que pena — disse Felicity, sem mostrar nenhuma decepção. — E se te dissesse que meu pai é o Marquês de Bumble? Sera inclinou a cabeça. — Há um Marquês de Bumble? — De fato, há. Ancião e venerável.


— Bom, como Haven a trouxe aqui, não estou surpreendida por isso. — Felicity olhou ao Sesily. — É um gato encantador. Brummell miou e Sesily se preparou. — Obrigada. — É selvagem? Sesily piscou. — Não. — Lástima. Esperava que pudesse cuidar dos cães de minha mãe. — Os três cães salsicha estavam, debaixo de uma sebe próxima cavando um grande buraco, outro aliviando-se e o último mordendo um galho. Felicity seguiu o olhar da Sera — São horríveis. — Então suponho que não vem com eles? — Bom Deus. Não. São de minha mãe. — Mas, sim, vem com ela. Felicity piscou um olho. — Está tão desesperada que eu seja duquesa, que isso poderia ser negociável. Sera riu. Esta moça se assegurava do primeiro lugar, e ainda não estava dentro das paredes de Highley. Divorciaria-se em pouco tempo. Ignorou a forma em que a ideia a alterou, embora a mitigou um pouco, pensando no Sparrow e em seu futuro. O divórcio significava liberdade.


Se Haven gostasse de Lady Felicity Faircloth, ou qualquer das damas, sinceramente, a liberdade era dela. Esse pensamento lhe pareceu um pouco melhor. Olhou para Haven, que a estava observando com atenção. — Duque. Venha conhecer Lady Felicity Faircloth. Enquanto o fazia, a última carruagem chegou, detendo-se justo sobre o grupo reunido, e Sera se voltou para os convidados, com os braços abertos, tratando de movê-los para a entrada da casa senhorial, fora do caminho do transporte. — Meu lorde, ladies, miladies e senhorita Mayhew, bem-vindos. Vamos acomodarmo-nos, e planejamos um almoço prolongado durante o qual possamos nos conhecermos melhor. Haverá jogos e, é óbvio, uma bebida decente. — Ela tinha a atenção de Lorde Brunswick então. As palavras puseram o grupo em movimento, uma das mulheres disse em um forte sussurro: — É um pouco descarado trazer três carruagens, não acham? A pergunta, destinada a minar às demais, pôs Sera a bordo dos nervos, servindo como um agudo aviso de que odiava estas pessoas e esta vida, e que não podia esperar para desfazer-se dela, e do homem que tinha atada a ela. Não suportaria falações. Esta manada de trepadeiras, intrigantes, traficantes de títulos, podiam mostrar os dentes ou ser civilizadas. Seraphina ainda era a proprietária da casa e a proprietária do título, então ela estabeleceria as regras.


— De fato, acredito que o transporte extra mostra uma preparação minuciosa que é admirável em alguém que dirigirá um lar de tão larga estirpe. — Olhou ao Malcolm. — Não é assim, Sua Graça? Não duvidou em mentir, o que foi surpreendente, considerando o fato de que minutos antes tinha expresso os sentimentos opostos sobre a massa de carruagens que chegavam pelo caminho. — De fato. — As bochechas da senhora Mayhew ficaram vermelhas quando o duque olhou às jovens. — Qual de vocês é tão minuciosa? As moças, por sua parte, olharam-se com uma mescla de curiosidade e pesar em seus rostos. Finalmente, Lady Lilith falou. — Parece que nenhuma de nós pensava nesta prova em particular, Sua Graça. E para provar o argumento da mulher, a porta da nona carruagem se abriu de repente, ricocheteou na lateral até quase fechar-se novamente, antes de ser apanhada e controlada, nesse momento uma perna grande, longa e coberta de couro apoiou no chão. — Oh, Deus querido. — O que significa isto? — A pergunta de Malcolm foi áspera e rápida. Sera não teve tempo de dar mais detalhe quando uma cabeça escura apareceu sobre a porta da carruagem, seguida de ombros largos com um casaco azul marinho perfeito e feito à medida. Os que estavam reunidos pareciam conter a respiração ante a aparição deste impetuoso intruso. O que ele estava fazendo aqui?


— Ding-dong — disse Sesily, nesse momento. Sera estava bastante segura de ter escutado Haven grunhir. Este não era o plano. Algo tinha saído mal. — Melhor que não seja... — Haven deixou a frase sem terminar quando

o

homem

se

voltou, revelando

um rosto

maltratado e

machucado, com o que Sera só podia imaginar ser uma habilidade malvada. Caleb Calhoun sorriu, mostrando seus dentes, de alguma forma intactos, e fechando a porta com um movimento suave e singelo, aproximou-se como se tudo fosse perfeitamente normal. Ela já se estava movendo para ele. — O que está fazendo aqui? — Bom dia para você também. — Tirou o alto chapéu e disse: — Bom, este lugar está mais concorrido que o mercado de peixe de Faneuil Hall às cinco e meia. As mulheres reunidas deram um pequeno suspiro ante as palavras. Bem, a maioria das mulheres suspiraram. Sesily soltou um pequeno chiado de alegria. — O americano veio! Sera deslizou um olhar para Haven, para descobrir que a estava observando, sem sequer um intento de sutileza. — Temo que não por muito tempo, querida. — Caleb tirou o chapéu da cabeça e se inclinou com um grande gesto. — Que lindo grupo de mulheres. Não tenho certeza de poder escolher a mais bonita de vocês. — Levantou a vista para Sera, com os olhos brilhantes, um deles estava negro e quase inchado, e disse: — Bem, além da Duquesa, é óbvio.


Ela levantou uma sobrancelha. Isto nĂŁo ia fazer as coisas mais fĂĄceis.


Capítulo 13 Sparrow caia fora! — Se nos desculparem por um momento? — Disse Sera, antes de abrir a porta mais próxima e empurrar Caleb a uma das numerosas salas de recepção de Highley. Murmúrios como: "Tudo isto é muito irregular" e "Quem é esse homem?" mesclaram-se com os intentos de suas irmãs de levar o grupo a suas respectivas câmaras. A voz de Sophie soava por cima de todos. — Certamente que todos gostariam de refrescarem-se depois de uma longa viagem. — Não quero me refrescar! — Respondeu uma das mães com afronta. — Sua graça! Não deixarei que minha filha seja nem sequer um pouco influenciada por sua… esposa!

****

— Ugh — disse Sesily de uma distância mais próxima do que Sera teria esperado. — Podemos eliminar a ficha de Mayhew da concorrência o quanto antes possível? Sua mãe se zanga por tudo. Sera se virou para enfrentar a sua irmã. — Sesily!


— O que? — Sesily fingiu inocência. — Pensei que poderia necessitar de uma carabina.19 — Aplicando seu sorriso mais belo, mudou sua atenção para Caleb. — Nunca se sabe com os americanos. Caleb a olhou com avaliação. — Se alguém tiver sorte. Sera resmungou seu desgosto. — Ambos são insofríveis. — Girou sobre seu amigo. — Que diabos está fazendo aqui? E que demônios passou com o seu rosto? — Deveria ver os outros homens. — Caleb sorriu e logo fez uma careta, quando a expressão repuxou seu lábio. — Ai! — Que isso te sirva para pensar e encontrar a forma de sair disto — disse, sem maldade. — O que aconteceu? — Repetiu a pergunta, levantando sua mão para a bochecha forte e machucada de seu amigo, dirigindo-a para a borda de seu olho. Inalou bruscamente ao contato. — Não posso voltar. Não agora. Sesily ofegou. — Planejou escapulir de Londres? Que emocionante! Sera olhou para o teto e pediu paciência a seu Criador. Tinha planejado uma noite clandestina ou duas, só para ver Sparrow. — Não é emocionante, Sesily. São os negócios. — Diz isso como se tampouco soasse emocionante — respondeu Sesily. — O que, na verdade é. Não é todos os dias que uma mulher tem uma… 19

Carabina - acompanhante.


— Nãooooo! — Tanto Caleb como Sera cortaram Sesily antes que pudesse dizer taberna, Sera olhou para a porta para assegurar-se de que ninguém estava o suficientemente perto para escutar. Malcolm estava no vestíbulo mais à frente, e a olhou nos olhos, mas a fúria neles provavelmente tinha mais que ver com o glamoroso grupo de mães que objetariam sua conduta toda a manhã, e sem dúvida por muito tempo mais. Ele não tinha escutado nada, era tudo o que importava. Se ele soubesse que tinha a possibilidade de ter uma taberna, teria muito poder sobre ela. Como se não tivesse suficiente poder como sua esposa. — O ponto é — continuou Caleb — que você deve ficar aqui. Ela piscou. — Por que? Sesily sabia quando não era necessária. — Irei procurar algo para o olho do americano. — Tenho um nome, sabe. Sesily deu uma piscada. — Mas "o americano" soa muito mais sinistro, não acha? — Vai — disse Sera. Sesily o fez e Caleb disse: — Porque você é um problema. — Serei muito mais problemática se não me disser o que está acontecendo. — Não se preocupe.


— Se os homens entendessem o terror desenfreado que essas três palavras em particular, instala nos corações das mulheres... — golpeou-o no braço. — Me diga. — Ooh! — Gemeu, agarrando o ombro e ficando pálido. — Agora ela o golpeou! — Escutou-se um ofego generalizado no corredor. — Deve e enviá-la para longe, Sua Graça. Este não é o lugar adequado para uma jovem inocente! Sera ignorou as palavras, concentrada em seu amigo. — Caleb. O que te aconteceu? — Está tudo bem. Foi um ombro deslocado, mas encontrei um açougueiro decente que o colocou de volta. Está um pouco lhe dolorido neste momento. Suas sobrancelhas se ergueram. — Quem deslocou isso? — Os bastardos. Os Bastardos Bareknuckle, a dupla de irmãos que dirigiam o Covent Garden subterrâneo. Até agora, tinham deixado tranquilo tanto Caleb como Sera, já que não fazia muito tempo que o Sparrow tinha aberto as portas, mas eles sabiam que quando seu êxito fosse notado, aos bastardos não iam gostar disso. — Aconteceu algo ao Sparrow? — Nada que não possa arrumar-se em um dia ou dois. — Não gostou como isso soava. — Queriam uma troca. Dinheiro por amparo. Disse-lhes que não necessitava de amparo de um grupo de casacas vermelhas. — E eles tentaram provar que você estava equivocado.


Tentou esboçar um sorriso. — Recebi alguns bons golpes. Ela sacudiu sua cabeça. — Você é uma criança. — Não lhes pagaremos para não termos temor. Ela estreitou seu olhar. — É óbvio que não. — Excelente. Então considere esta reunião de negócios postergada. Vai ficar aqui para se divorciar e eu cuidarei do resto. Sua frustração explodiu. Se não a tivesse obrigado a vir para o campo, teria podido ajudar em Londres. Teria podido proteger Sparrow. Ironicamente, ela não tinha estado na taberna para protegê-la de seus inimigos, porque estava muito ocupada protegendo-se aqui. De um inimigo completamente diferente. Se perdesse Sparrow, perdia a única razão para ter retornado a Grã-Bretanha. Tudo pelo que estava lutando. Estava aqui pela promessa de liberdade que lhe daria Sparrow. Por seu futuro. E por ela. Mas, não tinha sentido proteger a taberna, em teoria, se não podia protegê-la na prática. — Como há um inferno. Vou contigo. — Não. Ela o olhou. — Diga-me. O que, precisamente, o faz acreditar que pode me dizer o que fazer? — Ele suspirou. — Certamente, não nossa história. — Não — ela esteve de acordo. — Certamente, não.


— E se voltar, o que acha que pode fazer? — Qualquer coisa! — Insistiu ela, com frustração. — O Sparrow não é nada sem seu homônimo. — Tolices — disse Caleb. — Fique aqui. Eu me encarregarei dos Bastardos. Contratei segurança, para me assegurar de que entendam que não tolerarei que se interponham em nosso caminho. Não preocupe sua bonita cabeça com essas coisas. Ela estreitou seu olhar. — Golpear-te-ei na cabeça se continuar me tratando como uma preciosa pomba. Eu voltarei. — Por que? — Porque é minha — sussurrou, — e a confiei a você. — Até que consiga seu divórcio, não. E é por isso que você está aqui. — O que não significará nada se no final não tenha uma taberna de pé. Olhou para o teto e exalou sua frustração. — Quer seu nariz metido no negócio. Ela assentiu. — Agora mais que nunca. — Bem. Então passarei dias aqui. Era uma ideia tão terrível que riu. — Não, não passará. — Pela primeira vez, estamos de acordo, esposa. — Haven entrou na sala como se fosse o dono. O que é óbvio era. Que homem irritante.


— Agradecer-te-ia que não escutasse às escondidas minhas conversas — ele disse. — Enquanto continuemos casados, as conversas que tenha com cavalheiros solteiros, são meu assunto, tesouro. Os homens eram insofríveis. — Me chame “tesouro” de novo, e verá o que acontece. Ele não se alterou. — O que? Far-me-á o mesmo de como seu americano descarado está? — Olhou para Caleb — Má sorte. Só desejaria havê-lo feito isso eu mesmo. — Se tivesse sido você, Duque, estaria assustado, com seu próprio aspecto e não o meu. Haven sorriu com isso. Como se fosse gracioso. — A história sugere o contrário, Ianque. Sera fez uma pausa. O que significava isso? Não importava. — Haven, devo retornar a Londres. — Não. — Ela imaginava que a nenhum dos dois gostava de estar de acordo com o outro. Não pôde conter seu gemido de frustração. — Nenhum de vocês tem voz na decisão. — Temos um trato, Sera — disse Haven. — E esse trato não inclui viajar a Londres com algum americano. — Irei onde seja e com quem eu queira — replicou ela, de repente incrivelmente irritada por tudo. — Não é meu dono. — Mas ele é — disse Caleb. Ela piscou.


— Rogo-te que me desculpe? Haven também lhe disse: — Desculpa? O olhar do Caleb encontrou a seu, e odiou o significado nele. — Ele te possui, Duquesa. É sua esposa. Ele é seu dono e de todos seus pertences. Ele é dono de seu futuro. A mensagem era clara. Para manter seguro Sparrow e seu futuro, tinha que ficar ali. Tinha que se assegurar de seu divórcio para assegurar seu futuro. Franziu o cenho para seu amigo. — É um maldito traidor. — Fazemos o que temos que fazer. Não se preocupe, Duque. Não voltará para Londres. — Sera engoliu a urgência de lhe fazer um dano adicional à cara do Caleb, e acrescentou: — E acredito que passarei mais tempo aqui. Todos nos converteremos em amigos, tenho certeza. Que absurdo. Tinham um plano, ela e Caleb. Ele não ia ficar aqui. Quando abriu a boca para dizer-lhe, Haven interveio, com aspecto de querer fazer mais machucados a Caleb. — Asseguro-te de que não o seremos. E não é bem-vindo aqui. Tinha decidido que Caleb não ficaria um segundo a mais em Highley, até esse momento. Em que se converteu em um motivo de orgulho. Assim como sempre tinha sido tudo entre o Malcolm e ela. — Ele ficará se eu desejar. — Já desejou o bastante, Seraphina. Não estou pensando em seguir te mimando como a uma menina. Não há lugar para ele aqui.


— Como uma menina? — A quem, precisamente, pensava que estava falando? — Oh, agora você fez isso, Duque — disse Caleb. Sera se voltou para ele e levantou um dedo. — Pisa sobre gelo muito fino, Calhoun — Caleb estendeu suas mãos para cima e voltou sua atenção a Malcolm. — Há uma dúzia de quartos e um será para ele. — Estão em construção — ele disse. Ela sorriu. — Então posso compartilhar meu quarto. Sera poderia ter considerado que a contração na mandíbula de Haven assinalando sua fúria, era uma vitória apropriada em sua batalha, mas não pôde celebrar porque ouviu um grito de assombro coletivo que vinha do corredor. Quando se voltou para o som, descobriu uma coleção de olhos arregalados que os observavam há vários pés de distância. — Bem, esta é, a melhor festa de campo que participei — disse Sesily, com um grande pedaço de carne na mão. Depois de dar a carne a Caleb com um sussurro: — Para seu olho — voltou-se para o resto das mulheres. — Não estão de acordo? — Certamente que não estou — disse a Sra. Mayhew. Sempre era a senhora Mayhew, ao que parecia. — Isto é completamente inapropriado. — Oh, por favor — disse Sera, exasperada com a extravagante pomposa. — Então pode partir, Sra. Mayhew. Mas não o fará, verdade? Porque quer um ducado, tanto como qualquer outra mãe em Londres. E isto é o mais próximo de um que estará. — A Sra. Mayhew fechou sua


boca. — Agora. Como sigo sendo a senhora de Highley até que uma de suas filhas assuma o posto, devo insistir em que encontrem suas câmaras e se instalem. Espero com muito interesse que nos vejamos para o almoço. Seline, querida? Sua irmã imediatamente se lançou à ação. Enquanto o grupo se internava na casa senhorial, Sera se voltou e olhou para seu esposo. — Ele fica. — Ele não é bem-vindo. — “Ele” está parado aqui — disse Caleb. — Agora você prefere o americano? — Perguntou Sesily. Caleb sorriu. — Sabe, poderia ser. Estou feliz de ficar, Duquesa. Mas quem vai lidar com seu homem? Não é que não possa, — apressou-se a adicionar — estou em boa forma. Entretanto, Haven não estava prestando atenção a ninguém mais que a Sera. Aproximou-se, suficiente para inquietá-la. Mas ela não se sentiu inquieta. Sentiu algo mais, completamente diferente. Seu coração vibrou e ela encontrou seu olhar com orgulho, antes de responder a seu amigo. — Eu vou lidar com ele. Haven a observou durante um longo momento, fazendo-a se sentir como se fosse a única pessoa na terra. Finalmente, ele falou. — Isso te vai custar muito caro.


— É óbvio que sim — disse. — Esse é o jogo que fazemos. Ela o surpreendeu, mas se recuperou quase imediatamente. Ele não afastou o olhar quando falou com Caleb e Sesily. — Nos deixem. Essas únicas palavras fizeram com que o pânico corresse através de Sera. Ou talvez foi emoção. — Uhh — Sesily não parecia saber o que fazer. — Duquesa? — Tampouco Caleb. Sera não retrocedeu e sem olhá-los, disse-lhes: — Sesily, por favor, leve Caleb a um dos quartos na asa familiar. — Não — corrigiu Haven, forte e firme, com todo o poder ducal que possuía. — Quarto andar. Asa Oeste. No final. Tão longe de sua câmara como é possível. Ela sorriu. — Posso subir escadas e atravessar corredores, esposo. Ignorou as palavras, em lugar disso, repetiu. — Nos deixem — Sesily e Caleb a olharam, e a irritação de Haven se converteu em um grunhido. — Cale a seus cães, esposa. Sera assentiu, e eles giraram seus corpos, Sesily fechou a porta com um estalo silencioso. Ela inalou profundamente, desejando estar o suficientemente calma, o suficientemente forte, para o que estava por vir. — E agora estamos sozinhos. Tome cuidado, esposo, ou fará com que as línguas se movam. À mãe de sua futura esposa não se importará que na aparência, isto pareça... compreensível. — Não me importa o que pensem.


Por um momento, acreditou-lhe. Mas sabia melhor que ninguém. Era uma bonita mentira, mas uma mentira definitivamente. Enfrentou-o com toda a força que pôde reunir. — Tolices. Sempre se importou com o que o mundo pense. Então levantou uma mão, e seu fôlego ficou apanhado em seu peito ante a antecipação de seu toque. E mal a estava tocando, seus quentes dedos percorrendo brandamente sua bochecha, como se pertencessem ali. Exalou ao sentir seu calor. Sua força. Ele também exalou. Longa e maravilhosamente sensual, como se estivesse tão devastado pelo sentimento como ela. Pior, como se tivesse sido devastado pelo toque. Ela fechou os olhos, resistindo ao impulso de apoiar-se no cálido berço da palma de sua mão. Por favor, suplicou em silêncio a quem pudesse estar escutando. Por favor, que esteja devastado. Porque inclusive agora, anos mais tarde, depois dos eventos irreparáveis de seu passado, não pôde evitar sentir-se atraída por ele, este homem a quem uma vez tinha amado tanto. — Importou-me — disse, e sua voz era irregular, como rodas no cascalho. — Uma vez me preocupei muito pelo que pensavam os outros. E agora, parece que me importa muito pouco. Parece me importar só o que você pensa. Não pôde resistir em olhá-lo e, como sempre, foi instantaneamente sua escrava. Negou com a cabeça, apenas. O suficiente para que ele o visse.


— Mal — sussurrou. — O que é Anjo? — Seu sussurro a tentou como nada que tivesse experimentado em anos, enquanto se inclinava mais perto. — Dar-te-ei tudo o que me peça. Nunca fui capaz de te negar nada. Não era verdade. Houve um tempo em que lhe suplicou que a perdoasse. Quando desejava com todas suas forças que acreditasse nela. E ele se negou. Mas já não era aquela moça, e ele não era aquele moço. E agora, ele prometia não rechaçá-la, e ela descobriu que tampouco podia rechaçá-lo. Foi sua vez de levantar a mão. Sua vez de pôr a palma em sua bochecha. sua vez de fazer estragos. E fê-lo, sentindo-se mais poderosa que nunca ao escutá-lo exalar. Amando o fôlego que açoitava seus lábios, e se mesclava com sua lembrança. Como se ela o estivesse queimando. E o fazia. Sempre tinham sido azeite e chamas. Por que não aceitá-lo? Só uma vez? Só por um momento? Só para ver se ainda existia a combustão. Ela se inclinou para ele. Ou ele se inclinou para ela. Não importava. Ele estava sussurrando em seus lábios, e ela não sabia se falava com ela ou com um poder superior. — Me perdoe — disse. A quem ele estava falando? Por que? Ela descobriu que não se importava. O beijo a libertou, abriu-a, deixando entrar a luz e o ar na escuridão, nos lugares úmidos nela. Roubando o amparo que tinha construído durante meses e anos, derrubando essa parede e deixando-a sem nada para mantê-lo afastado. E mesmo assim, não se importava.


Sempre e quando ele não se detivesse. Não estava pronta para que se detivesse. Tinham passado anos desde que a havia tocado, e ainda mais desde que a havia tocado assim, com desejo, paixão e uma promessa de puro prazer. Suspirou no beijo, e ele também se abriu, moveu-se, sua mão forte e cálida se deslizou para trás, os dedos se enredaram em seu cabelo, aproximando-a mais, enquanto pressionava sua boca contra a dela, de alguma forma girando o relógio para outro tempo, em que tudo o que havia entre eles era isto, nada mais. Seu sabor era o mesmo, como uma especiaria misteriosa e tentadora, e não pôde evitar envolver seus braços ao redor de seu pescoço e pressioná-lo mais perto dela. Lambendo seus lábios, audaz e desesperada por revivê-lo. Ele grunhiu ante a sensação, o som baixo e malvado, e logo seus braços estavam ao redor de sua cintura e a estava levantando, girando-a , pressionando-a contra a porta fechada, graças a Deus que estava fechada. Ele era dela. Como se os anos nunca tivessem passado, e estivessem aqui, apaixonados, uma vez mais. Meu Deus, como tinha amado isto. Tinha acreditado que esse elo tinha se quebrado há tantos anos, arruinado pela dor e a perda. E talvez tivesse quebrado. Mas não estava completamente. De alguma forma, em seus braços encontrou tudo de novo. Exceto que não era uma surpresa. Sempre o tinha encontrado nele. Ela afastou a boca da sua, procurando ar, e ele se afastou para observá-la durante um longo momento, seu olhar percorrendo seu rosto, fazendo-a tremer. — Meu Deus — sussurrou. — É mais linda agora do que antes.


E então ele estava inclinando seu queixo para cima para expor seu pescoço e pôr seus lábios em sua carne, antes que ela pudesse ruborizar-se ou virar-se. Ofegou ante a sensação, deliciosa e familiar, e foi recompensada com outro grunhido como de animal, profundo, como se não fosse capaz de manter seu desejo na raia. Os dedos de Sera se enredaram em seu cabelo, pressionando os cachos de sua nuca, riscando círculos lentos e alentadores, justo como ele gostava. Outro grunhido. Senhor, como amava esses grunhidos. E então suas mãos estavam em seu corpete, abrindo os botões de seu casaco, abrindo de dois em dois e encontrando o silvestre franzido do vestido, mais baixo do que deveria ter sido, e muito apertado, enquanto lutava

por

respirar.

Em

seu

ouvido,

disse

coisas

perversas

e

maravilhosas. O tipo de coisas que não se permitiria recordar em noites escuras e solitárias. — Lembra como encontrávamos o prazer, Anjo… — seus dedos longos e destros encontraram seu caminho em seu corpete, deslizandose como uma deliciosa promessa. — Lembra como tentávamos alcançálo. — Deteve-se justo sobre um mamilo tenso, o que a fez querer gritar. — Lembra como se dobrava e arqueava-se, fazendo todo o possível para evitar me dizer o que queria. As palavras dispararam através dela, lhe recordando à mulher que tinha sido, mesmo quando tomou o suave lóbulo de sua orelha entre seus dentes e mordeu brandamente, ameaçando destruí-la de prazer. Ele estava correto. Ela sempre tinha estado nervosa quando estava com ele,

temerosa

de

falar

desavergonhada. De perdê-lo.

muito

por

temor

de

parecer uma


Mas mesmo assim o tinha perdido. E ele a considerava uma libertina. Ele a tinha feito uma libertina. Então quando se lançou para trás para olhá-lo nos olhos, selvagem sob as pálpebras pesadas pelo desejo que sabia que corria através dele, não se ruborizou e não duvidou. Puxou o pequeno laço que mantinha seu vestido ajustado a sua pele, afrouxando o tecido o suficiente. E logo pressionou sua mão na dele, onde permaneceu imóvel e cheia de promessas, e a moveu. Apertou-a contra si mesmo. Instou-o a tomar o que ela queria lhe dar. Outro grunhido, enviando um prazer inimaginável diretamente a seu núcleo. — Sera — disse, com incredulidade e desejo em luta nestas duas palavras. Ela roçou seus lábios sobre a bochecha dele, enquanto ele levantava um seio, provando seu peso. — Lembra como você encontrava o prazer, Duque — repetiu suas palavras. — Lembra como o alcançava. Devo te dizer o que quero, desta vez? Ele amaldiçoou, baixo, infame e ela tomou como um sim. — Quero seu toque — e ele o deu, deslizando lentamente seu dedo polegar sobre seu mamilo, que se endureceu imediatamente. — Quero sua boca. Ele não duvidou, se inclinando e levando a ponta de um seio à boca. Trabalhando em excesso com lábios e língua até que ela pensou que poderia perecer por tanto prazer. O chupou até que a teve ofegando e


retorcendo-se contra ele, uma perna o envolveu, enquanto o atraía para a porta. Quando sua mão chegou a seu tornozelo e ele se ajoelhou, ela sabia que deveria detê-lo, mas tinha passado tanto tempo, desde que a haviam tocado. Tanto tempo desde que ele a tocara. Então suas saias estavam levantadas e sua perna estava sobre seu ombro, seus dedos se agarravam em seus cabelos e a boca dele estava sobre sua intimidade com gloriosa certeza. Gritou pelo seu toque, pela força e o prazer de fazê-lo, por sua promessa, não só nesse momento, mas sim por todos os momentos que estavam por vir. O grito foi interrompido por seu gemido ali, contra seu suave e úmido centro de prazer, onde estava tão tenra, tão preparada, tão desesperada, tão molhada. Sua língua... quantas vezes tinha permanecido na escuridão pensando em sua língua? Golpeava-a, segura e firme, encontrando todos os lugares que tinham doído, enquanto seus dedos se apertavam fortemente em seu cabelo. — Malcolm — ela sussurrou. — Querido Deus. Sim. Aí. — Eu sei, Anjo — disse contra ela. Ele sabia. Ele sempre tinha sabido. Nisto, nada tinha mudado. Ele tinha retornado, este homem a quem ela tinha amado tão profundamente, este homem que sempre tinha feito com que o prazer fosse a parte mais importante de seu amor. Inclusive no final. Ele retirou-se nesse momento, como se tivesse escutado seus pensamentos, levantou seu olhar para ela, seus belos olhos a encontraram,

capturaram-na,

enquanto

um

dedo

se

deslizava

profundamente em seu ser, encontrando-a úmida e disposta. Ambos


gemeram ante a sensação, e quando Malcolm começou a movê-lo, a escorrer prazer de seus lugares mais secretos, não pôde manter os olhos abertos. Ele se deteve. — Não. Ela abriu os olhos. Rogando. — Mal. — Dar-te-ei tudo o que queira, amor. Mas você me dará o que eu quero. — Ele se moveu de novo, e ela se ergueu para ele. — Sim. — Mantenha os olhos abertos — ele disse. — Quero ver-te. Quero uma nova lembrança. Ele estava o suficientemente perto para sentir suas palavras sobre ela, sua carícia onde estava aberta e dolorida. Nem sequer estava segura de que houvesse um som que igualasse a essa sensação, mas de todos os modos ela o entendeu. Dar-lhe-ia tudo o que quisesse, sempre e quando ele não se detivesse. E ela o deu. Soprou uma larga corrente de ar onde ela o necessitava mais, provocando, tentando e fazendo promessas que sabia que ele poderia cumprir. Deliciosamente. Ele queria destruí-la com a tentação. Para castigá-la com o prazer da espera. Mas ela já tinha esperado o suficiente.


Deslizou os dedos em seu cabelo outra vez, deixando-os apertar-se contra seu couro cabeludo até que a olhou de novo, até que se encontrou com seu olhar. O universo lhe tinha dado tanto poder sobre ela, além desta sala. Além desse momento. Mas nisto, eram iguais. Nisto, ela se deleitou com seu poder. — Eu também quero — disse ela. E tomou seu prazer. Ele o deu, sem vacilar, sabendo como fazê-la retorcer-se e chorar, lento e depois rapidamente, flexionando os dedos e a língua até que perdeu sua força e ele a sustentava com suas mãos e seus fortes ombros, tomando cada centímetro de seu prazer. Pareceu um século antes que ela voltasse para momento. Mas só tinha sido um instante. Sentiu quando ele se voltou e pressionou seus lábios contra o suave interior da sua coxa, detendo-se ali até que ela o empurrou, tirando a perna do seu ombro e baixando suas saias, alisando-as com cuidadosa precisão, enquanto desejava que seu coração freasse sua louca corrida. Queria-o de pé. Odiava-o ali, de joelhos, como se pedisse desculpas. Como se as quisesse pedir. Como se as fosse ter. Como se ela se as fosse dar. — Sera… — Não — Ela o interrompeu. Não podia deixar que terminasse a frase. Tinha medo do que poderia dizer.


— Não — repetiu. Mais forte. Mais claro — Não, Duque. Isto não muda nada.


Capítulo 14 Um moderno “encontro com o Duque!” Depois de tê-lo de joelhos e desesperado por ela, sua esposa o evitou durante uma semana completa. Oh, sentava-se nos cafés da manhã, almoços e jantares, tomava seu xerez e jogava croquet na grama. Cumpria com seu dever sem sinais de vacilação ou desgosto. Inclusive leu dossiês que esboçava com uma minuciosidade impressionante e que eram entregues com regularidade mecânica por ela, das respectivas qualidades e interesses de todas as damas. De fato, uma vez que recebesse seu divórcio, Sera poderia encontrar facilmente trabalho como casamenteira profissional. É óbvio, ela não receberia um divórcio. Nunca tinha planejado dar-lhe, mas agora não havia forma de que acontecesse. Não quando a havia tocado de novo. Quantas vezes tinha tratado de recordar esse som exato que fazia quando encontrava seu prazer? Seu gosto exato. A sensação exata de seus lábios contra os dele, de seus dedos em seu cabelo, do peso dela em seus braços? Era tudo igual, e de alguma forma, totalmente diferente. Ela era completamente diferente. "Isto não muda nada", havia-lhe dito. Tinha razão. Não mudava nada. Ele ainda a desejava. Ele ainda ia ganhá-la. A única diferença era a urgência em seu desejo de fazê-lo. Tinha sido paciente como Job,


maldição. Tinha-lhe dado uma semana para encontrá-lo de novo. Para procurá-lo. Sentou-se às refeições, como o correto duque, no extremo da imensa mesa da sala de jantar. Tinha saudado as suplicantes, iriam ter que encontrar um melhor nome para elas, era agradável quando cruzava com elas pelo corredor. As vezes que ele tinha ido procurá-la, tinha sido encurralado por uma coleção de mamães enjoativas. Até tinha requerido Lorde Brunswick para ir caçar uma presa mais fácil, um homem que era decente com um tiro, mas muito disposto diante da perspectiva de disparar em algo. Durante os últimos sete dias, Haven fazia todo o possível para tropeçar acidentalmente com sua esposa. Ou, melhor, para assegurar-se de que ela tropeçasse com ele. E ela não o tinha feito. Era como se tivesse olhos e ouvidos em toda a casa, e talvez os tivesse, considerando que suas loucas irmãs pareciam estar em todas as partes. A marquesa de Eversley tinha estabelecido sua residência em sua biblioteca, a esposa de Landry não podia deixar de dizer a seu moço de estábulo como fazer seu trabalho, e essa manhã, quando Malcolm se vestiu, havia uma estranha quantidade de pelo branco em suas calças. O maldito gato de Sesily. Por não mencionar ao asno de Calhoun, rondando pelo terreno como um maldito pirata, inclinando seu chapéu ante qualquer coisa com saias. Calhoun. Inclusive

nas

refeições,

Sera

e

Haven

estavam

separados,

apropriadamente sentados nos extremos opostos da formal sala de


jantar, uma sala em que não podia recordar a última vez que tinha estado, e ela desaparecia imediatamente depois do jantar. Malcolm estava envergonhado de admitir que tinha passado três noites escutando o silêncio ao outro lado da porta contígua a seu quarto, antes de dar-se por vencido e interrogar aos servos sobre as atividades noturnas de sua esposa, desesperado para saber se ela estava, de fato, com Calhoun, que desaparecia nas noites, tão frequentemente como sua esposa. Foi somente, então, que lhe disseram que o Sr. Calhoun saía da casa depois de jantar e retornava à manhã seguinte ao amanhecer, antes que a maioria da casa despertasse para tomar o chá com torradas. O que significava que Sera de noite estava sozinha. No quarto do lado. Seu silêncio o estava enlouquecendo. Ele tinha-lhe dado espaço, maldita seja, seguro de que ela voltaria com ele. Seguro de que o buscaria, mesmo que fosse, para agradar. Derreteu-se em seus braços, forte, rápido e com uma intensidade que o tinha levado com ela. Tinha-o deixado de joelhos, enquanto ela se endireitava, girava e partia. Ela tinha saído daquela sala como se Lúcifer tivesse estado pisando nos seus calcanhares. Covarde. É óbvio, ele não a tinha perseguido. Agora mudando de ideia, Haven se levantou da escrivaninha em escritório privado, decidido a procurar a sua esposa. Desta vez, encontrá-la-ia. E desta vez, ela não poderia evitá-lo.


Estava na cozinha, rodeada de suas possíveis futuras esposas e suas mães, como se as mulheres não fossem hóspedes, mas sim estivessem de turismo por Bath. — Agora — estava dizendo, — como senhora de Highley e Duquesa de Haven, espera-se que organizem as refeições para o duque e qualquer um de seus convidados. — Como se Seraphina Bevingstoke nunca tivesse sido a duquesa de Haven, — Malcolm não pôde conter o pequeno grunhido de surpresa que se produziu ante suas palavras; o som foi mais forte do que o esperado, claramente, já que atraiu a atenção de todo no grupo. O rosto da Sera estava completamente tranquilo, inclusive quando Malcolm notou a forma em que seus olhos brilharam com ira. — Sua graça? Necessita de algo? Sim. A ti. — Não — disse — Por favor continua. Houve uma pausa, e ele pôde ver que ela queria discutir. Levantou uma sobrancelha convidando-a a fazê-lo. Deixe-a que discuta. Se isso era quão único ele podia ter dela, que assim fosse. Seus lábios se pressionaram juntos, com chateação, ele queria beijá-la

de

novo.

Queria

beijá-la,

sinceramente

sempre,

particularmente quando estava irritada. Começou de novo. — O duque gosta de gamo, cordeiro e pato. Ele riu disso. Que jogo ridículo que todas se prestavam.

mas


A irritação de Sera se converteu em raiva, e se voltou para ele outra vez. Ele a olhou fixamente. Queria beijá-la especialmente quando estava zangada. Era mais linda então. — Sua Graça — disse, sem ocultar a desaprovação nas palavras. — De novo, podemos te ajudar de alguma forma? — Não — disse, cruzando os braços e apoiando-se contra a ombreira da porta. — De fato, estou achando isto supremamente edificante. — Surpreende é descobrir que gosta de pato? — Surpreende-me descobrir que é consciente de que gosto de pato. — Ela elevou as sobrancelhas. — Estou equivocada? — Não — disse. — Mas nunca planejou uma refeição para mim em sua vida. Ele sabia que a tinha irritando. Mas se isto era o que ele poderia ter dela, tomaria. Ela sorriu. — Considerando que estamos em processo de divórcio, acredito que deve se sentir feliz de que não tenha tentado envenená-lo. Ele piscou. As moças reunidas riram. Por diversão? Por surpresa? Malcolm não se importou. O único que importava era que Sera se mobilizou. O suficiente para desafiá-lo. Isso era familiar. E bem-vindo. Deus, ela era bem-vinda como o sol na primavera inglesa. Enquanto se aproximava, seu coração começou a pulsar com força, suas palmas ansiavam levantá-la em seus braços e levá-la com ele. Encontrar uma cama e mantê-la ali até que aceitasse começar de novo.


Em troca, obrigou a si mesmo, inclusive quando ela se deteve a escassos centímetros, a dizer o suficientemente alto para que todas o escutassem: — Devo te dizer que mantimentos gostaria de combinar com arsênico? — Ele levantou uma sobrancelha. — Além disso deve perceber que

se eu aparecer morto agora, teremos uma

sala

cheio de

testemunhas? — Uma pena, já que agora percebo de que deveria ter considerado este curso de ação antes. Uma viúva recebe um terço da herança, não é verdade? — Cristo, amava a forma como discutiam. Continuou — Pato com cerejas. Hortaliças salteadas ao estilo português. Batatas novas com molho de nata salgada. Cordeiro com geleia feita com hortelã de Highley. Até esse momento, nunca lhe tinha ocorrido que seus pratos favoritos poderiam ser usados contra ele na batalha. — Feijão20 e pêras assadas, figos e porco. Alcachofras com vinagre. Nem bife, nem as aves domésticas são de sua particular preferência. Sua Graça não gosta de doces, mas se deve escolher uma sobremesa, será framboesas com um fio de creme fresco. — Ela arqueou uma sobrancelha. — Tem algo que adicionar, Duque? Tinham-lhe dado uma aula de culinária. Esclareceu garganta. — Eu gosto muito de aspargos. Ela viu a mentira. Detestava aspargos. Mas inclinou a cabeça e disse: — Que edificante. Ele gosta de aspargos. Recordem-no, damas. — Observou que várias mães estavam rabiscando notas, como se estivesse recebendo uma lição de anatomia macroscópica, em lugar de planejar 20

Sprouts - que são feijões germinando.No original foi usado a palavra Sprouts que traduzido seria brotos, na pesquisa em imagens é feijão em fase de germinação.


uma refeição. — Se tiver terminado, Sua Graça, estamos um pouco ocupadas, e você é uma distração. Deu-lhe as costas despedindo-o. Como se não fosse o dono de casa e o senhor da casa senhorial. Como se fosse uma distração menor, mesquinha e irritante. Maldição. Elas eram a distração. Não tinha intenção de casar-se com nenhuma dessas moças, por isso Sera não só estava perdendo o tempo com discussões sobre as refeições e a arrumação da mesa, os guardanapos de linho e como se fazia o sabão de Highley, mas sim também estava perdendo seu tempo. Tempo que poderia ter gasto cortejando-a. Esse era o plano. Embora o plano parecia desmoronar-se, e tinha passado somente uma semana. Era um plano idiota, obviamente. Com uma reverência e um: — Bom dia — o mais ducal que pôde reunir para as mulheres presente,

retornou

a

seu

escritório,

sentindo-se

insultadamente

superado e não pequena quantidade, ele era responsável por isso. Fazendo caso omisso do gato de sua cunhada, que estava tirando uma soneca em sua escrivaninha, Malcolm tentou concentrar-se no seu trabalho, que tinha feito pela metade, até que bateram na porta e suas cunhadas entraram prometendo piorar o que já era, mau dia. — Brummell! — Sesily se lançou para levantar o descontente animal de sua posição e sufocá-lo com uma vergonhosa quantidade de afeto. Uma vez que terminou, devolveu o gato a escrivaninha, onde procedeu a banhar-se sobre uma pilha de relatórios agrícolas.


Mal franziu o cenho para o animal, sem sucesso. — Oh, parece que está de mau humor. — Ninguém nunca acusaria Sesily Talbot de ter meias palavras. Ele reclinou-se em sua cadeira. — Não é nada. — Mmm — disse ela. — Mas parece que sim, verdade, Sophie? Sophie, sua nêmesis, sorriu e disse: —

Não

saberia,

que

parece

estar

carrancudo

comigo

perpetuamente. Procurou uma réplica, mas tudo o que pôde dizer foi: — Oponho-me à palavra carrancudo, sobre a base de que me faz soar como um menino petulante. — Sophie lhe dirigiu um olhar que confirmava sua crença de que era, de fato, um menino petulante. Ele franziu o cenho. — Não estou zangado. Ela estendeu suas mãos, brandindo um quadrado de papel. — Longe de mim dizer o contrário. — O cenho se fez mais profundo e apontou com a mão para o sobre. — O que é isso? Ela olhou sua mão, suas feições imediatamente se suavizaram. — Uma carta de meu esposo — Ela a entregou. — Para você. — Por que? Ela fingiu ignorância. — Quem pode saber?


Haven suspirou e aceitou a missiva, procurando um um abridor de cartas e soltando-a para revelar a mensagem:

"Haven, Tal como estão as coisas, não estou gostando nada de que minha esposa tenha decidido passar o verão contigo e suas irmãs, em vez de passá-lo comigo, mas eu não gosto de discutir com ela quando se encontra em sua condição, e o que ela deseja, obtém-no."

Haven levantou a vista para encontrar o olhar de Sophie, com as mãos sobre sua barriga em expansão e um sorriso sereno em seu rosto. Retornou à nota.

"Então, me conformarei te dizendo que, sabendo que há pouco amor entre vocês… altere-a e responderá ante mim. O qual me agradará sobremaneira. (Altere a sua própria esposa e responderá ante suas irmãs, que são, em massa, tão temíveis como eu poderia ser). Eversley"

— Ele fez um excelente ponto. — Malcolm levantou a vista da nota para encontrar Sesily a seu lado, debruçada sobre os cotovelos, lendo por cima de seu ombro. Arrebatou o papel para ocultar-lhe. — É bastante grosseiro. — Ela sorriu. — Ah, Porque você sempre foi o retrato de boas-maneiras? — Voltou-se para Sophie. — King te ama loucamente.


A marquesa de Eversley levantou um ombro como dizendo: eu sei. Sesily revirou os olhos e se voltou para Malcolm. — Enviaram-nos para te dizer que o jantar é às oito. Ele olhou seu relógio. Havia suficiente tempo para barbear-se e vestir-se. Assentiu. — Obrigado. — Moveu-se para sair de atrás da escrivaninha, consciente inquietantemente, de que estava muito ansioso por deixar estas mulheres. Não era que o assustassem. É óbvio que não. Eram mulheres, pelo amor de Deus. Mal tinha chegado ao canto da grande escrivaninha de carvalho quando Sophie negou com a cabeça. — Embora você não deve sair ainda. — Primeiro, temos algo para dizer — adicionou Sesily. Ele meditou novamente. Eram aterradoras. — Está claro que tem em marcha um plano idiota. Malcolm negou com a cabeça. — Não sei o que você… Sophie o cortou com uma mão no ar. — Não perca nosso tempo, Haven. Suas sobrancelhas se elevaram. — Não entendo por que, todos diziam que você era a mais tranquila. — Ela sorriu.


— Bem, tem um par de botas arruinadas que demonstram o contrário, não? Ele as tinha, efetivamente. De fato, quando pensou cuidadosamente nisso, ainda podia recordar a grande vergonha que sentiu ao ser posto de traseiro em um lago por esta mulher. Não que fosse a dizer tal coisa. — Em qualquer caso — continuou — todas nos perguntamos qual é o plano. Não iria dizer nada, mas parecia que não teria que fazê-lo. — Começamos um livro de apostas — Sesily anunciou, como se estivessem discutindo sobre o clima. — Você gostaria de saber sobre isso? Apoiou-se em um lado da escrivaninha, fingindo desinteresse. — Por favor. — Seline acredita que buscas o dinheiro de papai outra vez. — Não o busquei a primeira vez. — Não — disse Sophie, — até que esteve atolado em sua ruína. Não estava orgulhoso disso. Tinha estado cego de raiva, frustração e traição, pensando que ela nunca se interessou por ele. Depois desesperado porque ela se interessou. Então tinha ido atrás de seu pai. Em realidade o teria feito, em colapso, se não tivesse sido Eversley, que interveio e o tranquilizou. — Não o estou procurando tampouco, desta vez. Sophie pareceu não estar convencida, mas Sesily continuou. — Seleste acredita que é um espião. Isso sim que era inesperado.


— Com que fim? Sesily deixou o periódico que trazia na mão e a agitou no ar. — Algo que ver com o Sr. Calhoun e sua taberna — isso não tinha nenhum sentido. Mais tarde, perguntar-se-ia a respeito dessa referência sobre a taberna. Pensaria nela. Mas Sesily ainda estava falando. — Agora eu… — Fez uma pausa com um dramatismo inquietante. — Me ache romântica, mas acredito que está tratando de recuperá-la. Seu coração quase se deteve. Reforçou suas feições enquanto sua cunhada o olhava intensamente, felizmente sem dar-se conta do efeito do que acabava de dizer, do que tinha caído sobre ele. — O qual é uma ideia terrível, eu sei. Quero dizer, não se necessita de uma mente brilhante para ver que nunca o aceitará de novo. As palavras foram tão diretas, que não pôde evitar sentir seu aguilhão. E dizer: — Mesmo se eu tiver mudado? — Não mudou — disse Sophie. — Poderia havê-lo conseguido — disse, defendendo-se como um imbecil, — passaram-se muitos anos. — O tempo está irrelevante — disse Sophie. — Leopardos e manchas. Abriu a boca para discutir novamente, de alguma forma incapaz de evitar a inutilidade da ação, quando Sesily o interrompeu. — Vale a pena dizer neste ponto, que Sophie pensa que está tratando de obter uma vingança adicional. Sophie assentiu e apontou com a mão a carta que agora estava aberta em seu escritório.


— Por isso, a missiva de King. Malcolm resistiu ao impulso de lhe recordar que os esposos ameaçadores atemorizavam menos quando faziam suas ameaças por cartas. — Não estou exigindo vingança. — Entretanto, isso é exatamente o que diria se estivesse exigindo vingança — apontou Sesily. Realmente não era de estranhar que ela permanecesse solteira. Era candidata perfeita para o Bedlam.21 Haven a ignorou e olhou firmemente para Sophie. — Não estou. Ela estreitou seu olhar. — Esquece que fui testemunha de sua irritação, Haven. Vi as coisas que fez. Escutei as coisas que disse. Todas pelo qual daria qualquer coisa para não ter feito. — Eu era… — Foi um asno absoluto. Ele piscou. Sesily riu dissimuladamente. E logo lhe concedeu o ponto. — Sim. Sophie o observou por um longo momento, e depois disse: — Sinto que devo te dizer que te odeio. Mais que o resto delas.

21

Bedlam - casa de confusão.


Ele assentiu. Todas as irmãs de Sera eram francas, mas Sophie era a mais sincera. Sempre o tinha sido. Iria ter que reconquistá-la também. — Sabe como me chamam agora, Sophie? Desde nosso último encontro? Ela sorriu. — O Duque Molhado. Estou totalmente orgulhosa disso. Ele inclinou a cabeça, incapaz de esquecer a forma como ela o tinha deixado com seu traseiro em um lago de peixes. Tampouco podia esquecer o fato de que o merecia. — Deve estar. É um nome bastante vergonhoso — Outra longa avaliação, de novo. E depois: — Vejo o que está fazendo Duque. Não funcionará. — Possivelmente não. Mas valia a pena tentá-lo — E além disso, não é comigo com quem deveria preocupar-se. Não te odeio mais do que Sera o faz. Então, se Sesily tiver razão, e está tratando de recuperá-la, vai necessitar de um pouco de sorte.

****

Ele golpeou bruscamente a porta que dava ao quarto de sua esposa às quinze para as oito daquela noite. Ela abriu imediatamente, como se o estivesse esperando do outro lado, abriu a porta e deu um passo atrás para deixá-lo entrar. Mantendo distância, inclusive enquanto lhe facilitava olhá-la. Por um momento, descobriu que não podia respirar.


Estava mais linda que nunca, com um impressionante vestido ametista, quer dizer púrpura azulado, desprovido das mangas largas, dos babados e a frivolidade que adornavam cada vestido que se usava na atualidade. Em sua simplicidade, o vestido o devastou, marcando suas formas do torso até a cintura, onde caía em linhas magníficas, nem uma dobra que se pudesse encontrar como restante. Sempre tinha sido capaz de roubar seu fôlego. E agora não era diferente. Ela encheu o silêncio que tinha entrado com ele. — Vejo que minhas irmãs lhe deram minha mensagem sobre o jantar. Por que não o havia dito ela mesma? As palavras de sua irmã ressoaram através dele. “Não te odeio mais que Sera.” Empurrou esse pensamento para um lado. — O seu e os delas mesma. Ela tinha cruzado o quarto até sua penteadeira, levantando um botão para prender na sua casa. Foi então quando se deu conta de que uma longa luva de ametista estava desabotoada. Estendeu um longo braço para a luz, revelando uma larga linha de botões desabotoados, e começou a trabalhar para segurá-los. — Escutei que havia uma mensagem de King — disse, quase ausente. King era o marquês de Eversley, um homem cuja exasperante superioridade lhe tinha sido inculcada junto com o nome ao nascer. Chiou pelo uso do nome informal, sem duvidar. — Ameaçou me desafiar, se fizesse mal a sua irmã. Ela sorriu ante isso, sem levantar a vista de sua luva.


— A ama absolutamente. As palavras foram suaves e cheias de cálida satisfação. E nesse momento odiou seu cunhado. Odiava-o porque queria essa satisfação para si mesmo. Ele queria dar-se a ela. Deu um passo para ela, que ficou rígida imediatamente, ele se acalmou. — Não deveria ter uma criada para isso? — Estou compartilhando a de Sesily. Não trouxe uma própria. Ela era a duquesa. Toda a casa estava a sua inteira disposição. — Não precisa compartilhar; há uma dúzia de servas abaixo que… — Não necessito de uma — disse, abotoando habilmente a luva. — Tornei-me bastante hábil para me vestir. — Para o palco. Ela assentiu. — Entre outras coisas. Não gostava da referência de seu passado sem ele. Não gostava da forma em como o fazia desejar fazer uma dúzia de perguntas, nenhuma das quais ela responderia. Tratou de trazer um tema um pouco mais leve. — Sabia que suas irmãs estão fazendo apostas sobre o por que de que a trouxe aqui? Não levantou a vista de sua tarefa. — Pensei que estava aqui para encontrar para minha substituta? — Seleste pensa que sou um espião.


Ela soltou uma risadinha, e de repente ele se sentiu mais quente do que tinha estado em anos. — Seleste lê muitas novelas de aventuras. — É a melhor teoria de todas. — Quais são as outras? De repente, parecia que o tema tinha sido uma má eleição. Sera escutou sua vacilação. — Devo adivinhar? Possivelmente ela as interpretaria mal. — Por favor. — Seline se preocupa muito com nosso pai, assim suponho que pensa que está procurando o dinheiro de papai. O qual, é óbvio, não é assim. — Como sabe?" — Porque nunca procurou seu dinheiro; sempre foste rico como um rei. Você estava detrás de mim — disse ela, levemente, como se estivessem discutindo algo mais que a ruína de sua família em suas mãos. — Sophie pensa que você é mais ruim que uma sujeira, por isso provavelmente acha que está em busca de vingança. Odiava a maneira como suas bochechas se ruborizaram de vergonha. E com vergonha, pela forma em que o disse, como se fosse perfeitamente razoável que Sophie pensasse assim. O que era. Mas demônios, não era razoável. Se pudesse apagar tudo, fá-lo-ia. Ele esclareceu-se garganta, mas antes que pudesse falar, ela disse: — É óbvio, ela também está equivocada.


— Está? — Ele disse, sua voz uma oitava mais alta do que teria desejado. — Não está tratando de me castigar. Sabe que é impossível. — Ela elevou a vista e seus olhos azuis se encontraram com os seus. — Não se pode castigar a alguém que não tem nada que perder. As palavras lhe doeram. Tinha-as ouvido quando o havia dito em seu escritório no Parlamento, mas agora doíam mais. Exceto aqui, ele estava mais perto. E a estava olhando com mais cuidado. Foi então quando o viu. A verdade e a mentira. Ela tinha algo a perder. Mas o que? — Tem razão. Não estou procurando vingança. — Ela então desviou o olhar, como se soubesse que ele podia ver mais à frente, e queria proteger-se. Malcolm seguiu adiante — Você gostaria de saber o que pensa Sesily? Perdeu o botão no qual estava trabalhando. — Não. Viu-a agarrar o gancho de botão com mais firmeza. Tentá-lo-ia de novo. De novo. Ele se aproximou, lhe tirando o gancho da mão. Sera girou para ele e arrebatou o braço. — Não necessito de sua ajuda. — É óbvio que não — disse. — Nunca me necessitou. Sempre fui eu quem necessitou de você. Deixou essa parte, estendendo sua mão para ela. — O jantar nos espera. — Não é que lhe importasse. Ficaria parado junto a ela, respirando o mesmo ar, pelo resto de sua vida se ela deixasse.


Será exalou com muita dureza e lhe deu uma palmada no braço com a mão estendida. — Bem. Ele moveu o gancho sobre os botões, ignorando a irritação em sua voz. — Sesily acredita que a quero de volta. Ela sacudiu sua cabeça. — Sesily não sabe nada sobre o matrimônio. Ele bem pensou que ela sabia o bastante. Terminou com os botões e passou o polegar sobre a suave seda. — Terminei. — Ele não a soltou, mas tampouco a abraçou. Em troca, deleitou-se com a sensação que lhe produzia, esta mulher a quem tinha procurado durante anos. A quem tinha desejado durante anos. Quero-te de volta. O que aconteceria se o dissesse? O que faria ela? Seus olhos se elevaram para ele com suas pestanas negras, impossivelmente longas. Por um momento, pensou que diria algo. Algo importante. Algo que poderia mudar tudo. Mas não o fez. Em troca, extraiu seu braço de seu aperto e disse o menos importante que poderia dizer. O que ele acabara de dizer. — O jantar nos espera. Nunca diziam as coisas que eram importantes. Estavam descendo as grandes escadas do salão principal quando ela voltou a falar. — É hora de que participe deste processo, Mal. Tem que escolher.


A você, pensou. Escolho você. Mas engoliu as palavras. — Então a competência começa a sério esta noite? — Ela assentiu. — Assim é. — Com o que? Esgrima? Luta? Uma charada desumana? — Seus lábios se crisparam com um pequeno sorriso, e se sentiu bastante orgulhoso de si mesmo. — Nada tão... prosaico. — Não haverá combates? Que pena. Ela riu. — Começaremos com a refeição. Deve ser capaz de manter sua casa. A não se importava nada com a refeição, mas podia fingir. — Ah. Do pato. Foram para a sala de jantar. — Sei que você gosta de pato. Lançou-lhe um olhar a suas insistentes palavras. — Não deveria haver dito o que disse. — Passei meses aprendendo o que você gostava antes que nos casássemos e depois, inclusive quando não era bem-vinda em sua casa — Não podia afastar a vista de Sera, mesmo quando ela olhava para frente, negando-se a olhá-lo nos olhos. — Tinha toda a intenção de planejar suas refeições. De manter você, a casa. De ter sido sua… Ela deteve-se, mas ele escutou a palavra: Esposa. E também escutou o pretérito.


Por que sempre estavam no passado? — Além disso, sei que detesta aspargos — disse, e as palavras foram injetadas com algo parecido a um triunfo petulante. — Eu sei, — disse ele. — Você só queria me afrontar. — Esteve me evitando. — Não é que fosse uma desculpa, mas era a verdade. — Nunca disse que tínhamos que interagir — ele suspirou, e ela o interpretou como irritação. — Sabe, você trouxe isso sobre você, Haven. Decidiu que queria uma nova esposa. Decidiu que queria que eu a selecionasse. Este é o processo. Tente-o. Pode ser que você goste de alguma delas. Mas ele não queria a nenhuma delas. — Não necessito que gostar para me casar com uma delas — ele disse, sabendo que soava como uma besta. — Embora ajude, não acha? — Não saberia — respondeu. — Nunca nós gostamos. — Tolices — disse enquanto se aproximavam da sala de jantar. — Se não nos tivéssemos gostado tanto, talvez não tivéssemos feito tudo tão errado. — Antes que ele pudesse responder, ela disse: — Sentei-o junto à senhorita Mary. Seja amável — e assentiu com a cabeça ao lacaio de guarda fora da sala de jantar. O menino abriu a porta e revelou o heterogêneo conjunto de convidados, que se voltaram para verem chegar ao duque e à duquesa.


— Espera — ele disse, e ela teve que voltar atrás, arriscando-se a que a censurassem se o ignorasse. Tinha benefícios ser um duque. Baixou a voz e disse: — Por que acha que te trouxe aqui? Tinham falado das teorias de suas irmãs. Mas a ele somente importava a dela. Olhou-o

durante

um

longo

momento

antes

de

dizer,

o

suficientemente baixo para que somente ele pudesse ouvir: — Acredito que estou aqui para ser seu brinquedo. — Que demônios significa isso? — Não me quer, mas tampouco quer que ninguém mais me tenha. Nunca me quis. — Isso não era verdade, mas as palavras lhe doeram por sua brutal honestidade, porque ela acreditasse nisso. E logo adicionou: — Não queria ser parte de uma vida comigo. As palavras lhe causaram calafrios, evocando uma lembrança que tinha esquecido. Uma lembrança que queria expulsar imediatamente. Dizer adeus ao jantar e a todos na sala de jantar. — Sera… Ela sacudiu sua cabeça. — Sua graça, estive nesta posição em particular antes — já estava girando para a sala, onde uma coleção de mulheres de rostos surpresos estavam esperando. Em uma mesa carregada de... aspargos. Olhou para sua esposa, que tinha um sorriso nos lábios. Estava equivocada. Ele queria a ela. Ele queria uma vida com ela. E, desta vez, não se deteria até que a tivesse.


Capítulo 15 Tic tac Talbot triunfa! Abril de 1833 Haven House, Mayfair

Ele escutou no momento exato em que ela entrou na casa. Se Haven fosse honesto, tinha-a escutado no momento em que sua carruagem se deteve na rua, em frente a sua casa. No momento em que ela tinha descido, como uma maldita rainha. Não podia vê-la desde seu escritório, mas podia senti-la, trocando o ar do parque mais à frente. Roubando-o. Ouviu-a golpear bruscamente a aldrava da porta e, por um segundo, considerou dizer ao lacaio que não respondesse. Mas aí estava o problema que sempre existiria entre ele e Seraphina Talbot: ele sempre responderia a sua chamada. Como um maldito marinheiro a uma sereia. Tinham passado três dias desde que tinham sido flagrados, e devia passar outra semana antes que estivessem atados para sempre. E só pioraria depois de casarem-se. — Onde está ele? — A pergunta foi bastante grosseira, a frustração e a ira nas palavras dispararam através dele em uma corrente de emoções similares. E antecipação.


E desejo. A vergonha o alagou com essa última sensação. Não deveria desejála. Deveria querer desfazer-se dela. Deveria querer não voltar a vê-la nunca mais. Queria que a castigassem pelo que tinha feito, emboscandoo nesta farsa de matrimônio, o qual não era uma farsa absolutamente, porque toda a aristocracia e todos os fofoqueiros da Grã-Bretanha pareciam saber a verdade. — Ficarei aqui todo o dia até que ele me receba, então seria melhor que me levasse até ele. — Haven parou, dizendo a si mesmo que se dirigia à porta de seu escritório porque queria proteger seu servo dela. Por ira, e não porque estava amarrado a ela como um cão em uma coleira. — M-minha lady — gaguejou o lacaio. — Devo ver se o duque está em casa. — Não é necessário — disse ela. — Minha lady! Não pode simplesmente… Mas ninguém tinha contado a Seraphina Talbot o que podia ou não podia fazer, e certamente não ia começar a receber instruções de um lacaio, quando não o aceitava do amo do lacaio. — Oh, mas posso! Não leu os periódicos? Vamos casarmo-nos! A ira se acendeu ante suas palavras e Mal pôs sua mão no trinco da porta de seu escritório, preparando-se para sair rapidamente. Abriu a porta quando ela chegava. — Ainda não estamos casados, Lady Seraphina. Ainda tenho uma semana antes de usar minha licença especial. Uma sobrancelha mogno se levantou em um perfeito arco.


— Asseguro-lhe, sou muito consciente de que meu jugo se tensa cada vez mais, Sua Graça. Foi sua vez de parecer surpreso. — Sou eu quem ameaça sua liberdade, então? — Essa é a forma em que o fazem homens e mulheres, não é assim? — Ela o golpeou no peito com um periódico — Pode me castigar tudo o que queira. Essa é a cama que eu me deitei. Mas deixa a minhas irmãs fora disto, bastardo. Ele tomou o periódico. — Tenho certeza de que nós dois estamos um pouco tristes pelo fato de que não sou, de fato, um bastardo. Se o fosse, não estaríamos nesta situação. — Quando ela não respondeu, ele olhou o periódico, sabendo imediatamente a que se referia. Mesmo assim, não pôde resistir de irritá-la — O rei está de férias em Bath. — Eu gostaria de inundá-lo em um desses banhos — disse, colocando um dedo sobre o papel. — Aqui. Ele tinha lido a notícia no início do dia. "Haven apanhado por uma caçadora!" Sua irritação se inflamou quando a olhou novamente. Irritação e vergonha. Ela não esperou que ele se recuperasse. — Devo recitá-lo de cor? Homens! Advertem os claramente preocupados editores do News Times. “Cuidem-se! Damas de baixo nível espreitam em toda Londres, desejando sua generosidade!” — Mal fez uma careta com a aliteração. Ela percebeu. — Oh, não se importa a linguagem exagerada? Deixe-me seguir, já que piora significativamente!


“Prestem atenção à dilaceradora história do duque de Haven! Não caiam vítimas de uma perversa Wisteria sem sentido… não importa que não estejam dispostos! Estas são as perigosas Talbot. Todas! “ Olhou para Sera. — Deseja que eu esteja em desacordo? Parecia desejar a morte dele. — Nem sequer conhece minhas irmãs. — Elevou a voz. — Nem sequer veio a minha casa para tratar de conhecê-las. — Não as conheço — disse. — Mas como é meu nome que está miseravelmente arrastado pela lama e você é que o arrasta, não estou disposto a confiar nelas se relacionando com homens solteiros. — Oh, sim. Pobres homens solteiros, moços voluntariosos, de vontade débil, sem controle nem inteligência. Tão facilmente marcados e arruinados

pelas

mulheres,

cada

vez

mais

poderosas.

Não

me

surpreenderia se todas descendêssemos de bruxas. Ele levantou uma sobrancelha. Ela continuou: — Pobres homens tristes, tão amáveis e inocentes, perambulando pelas ruas com impotência impressionável. Devem estar protegidos das artimanhas das mulheres, que não querem nada mais que sua destruição. — Fez uma pausa. — Essa é nossa história, não é assim? Você, o tragicamente heroico Sansão, e eu, a tentadora Dalila, roubando seu poder? O olhar do Mal se estreitou. — Diga-me isso você. Dalila tomou dinheiro e terra. — Eu não te tirei nada.


— Não — disse ele — fez algo pior. Não houve nenhum roubo de honra em suas ações, fez um intercâmbio por um botim. Ela ofegou. — Está-me chamando de puta? — São suas palavras, Sera. Não as minhas. Ele nunca deveria havê-lo dito. Por um momento pensou que ia golpeá-lo. Ele o teria aceito. O teria merecido, inclusive. Mas ela não o fez. Endireitou-se, enquadrou os rígidos ombros e seus dedos se enroscaram em punhos. Ele se levantou, preparado para o golpe. Sabendo que o merecia e de alguma forma não podia desculpar-se por seu comportamento. Era muito orgulhoso e estava muito zangado. Como ela. — Algum dia, terá que me escutar, Malcolm. — Mas não hoje. — Pedi desculpas. — Me perdoe, mas três dias não forem suficientes para que tome consciência de que minha futura esposa me apanhou no matrimônio. Ela não afastou a vista. — Você também estava lá, Sua Graça. — Sim. Mas com diferentes intenções. — Deu a volta, sem querer ter essa conversa. Não querendo recordar. Apontou à porta. — Pode ir. — Não temos que nos casar — disse Sera.


Ele também o havia dito, uma dúzia de vezes nas horas posteriores ao descobrimento. Outra dúzia no dia seguinte. É óbvio, tinha que casarse. Por desgraça ela continuou — Cometi um erro — adicionou, brandamente. — Nunca deveria ter concordado… — Detenha-se. — Não queria ouvir a confirmação de que ela o tinha apanhado. Não desejava reviver o momento em que o tinha feito. Mas não se deteve. — E se eu te dissesse que não foi uma armadilha? Não no princípio. Não em nenhum dos dias prévios do final. Porque não foi um erro, Malcolm. — Cristo, ele queria acreditar nela. — Tudo foi real. Eu era eu, você era você e todos diziam que o nosso relacionamento não poderia ser... — Basta. — Mal que podia conter sua ira. — Até agora, tece sua bonita história. Não me importa. — Tomou fôlego, forçando a si mesmo a acalmar-se. — Apanhou seu duque, como minha mãe apanhou meu pai antes. Pensei que estava nisto por mim, e estava nisso por um título. Deveria havê-lo visto isso, mas não quis vê-lo. Fez-se silêncio, espesso e desagradável enquanto considerava suas próximas palavras e desejou que não fossem outra mentira. Não acreditava que pudesse suportar outra mentira. Não desta mulher que pareceu tão autêntica por tanto tempo. Finalmente, falou, com algo parecido a pânico em suas palavras. — Eu pensei sobre isso; se eu partir, se eu desaparecer, dou a minhas irmãs a oportunidade de um futuro livre de meu escândalo.


— Não pode liberá-las do escândalo — ele disse. — Elas já o ostentam, já que levam seu sobrenome. Serão para sempre as Perigosas Irmãs Talbot. Assim como eu sempre serei o Enganado Haven. Engoliu saliva e olhou para outro lado. — Nunca foi minha intenção que passasse por isto. Simplesmente pensei que nos encontrariam e nos casaríamos. E seríamos felizes. Ele não pôde conter a risada sem humor ante suas palavras. — Essa é a ironia, não é assim? Que tivéssemos sido felizes. Seus olhos se arregalaram. — E por que não podemos sê-lo? Cometi um erro! Eu amo… — Não! — A palavra, fria e cheia de ira, deteve o resto de sua frase. Graças a Deus. Quanto tempo havia dito a si mesmo que o amor não era algo que jamais teria? Quanto tempo tinha acreditado que não era real? E depois conheceu Sera, e tudo tinha trocado. Tudo e nada. Cruzou a sala e se serviu uma bebida do aparador. — Não o diga nunca. Não a mim. Não há lugar para isso aqui. Já não mais. — Malcolm — ela disse, suave e dolorosamente linda, negou-se a olhá-la por medo do que encontraria. Mas não precisava voltar-se. Podia escutar a dor, apesar de seu silêncio. Cristo, ele queria acreditá-la. Ele queria lhe acreditar. Ela inalou, um pequeno sorvo a única pista de que ele poderia havê-la incomodado. — Se me deixar falar, deveria… — Fez uma pausa, considerando o resto de suas palavras. Quando voltou a falar, ele escutou a verdade. — Eu gostaria de te dar um bom futuro. Um que poderia ter felicidade.


Certamente não pode desejar um matrimônio para nos castigar para sempre. — Não o vê? — Disse ele. — Sou o produto de um matrimônio como este. Vi meus pais castigarem-se durante anos. Minha mãe, a caçadora, meu pai, o caçado e eu, o prêmio na balança, — adicionou, ignorando a dor que o atravessava enquanto falava. — Isso é “um” matrimônio. E parece que também será “o” matrimônio para mim. — Então, por que escolhê-lo? — Perguntou, com frustração e confusão em suas palavras. — Por que não encontrar outro? Não havia outro. Não o via ela? Assim era como terminava, os pecados cansados sobre o pai, recaídos sobre o filho. — Tudo sobre o matrimônio é miserável — disse ele. — Isso foi o que me ensinou. — Seus olhos se arregalaram. — Como? Não havia nenhuma razão para lhe mentir. — Quando te conheci, Sera, tinha a esperança de algo diferente e novo. Tinha a esperança de que forjássemos nosso próprio caminho através do matrimônio e destruíssemos o que meus pais tinham forjado. Confiei em você para me ajudar a fazê-lo, Deus sabe que não tenho nem ideia de como é ter um matrimônio feliz. Meus pais não podiam suportar estar na mesma sala um com o outro. — Mal... — disse em voz baixa, detestava a simpatia nas palavras. A pena nelas. Ele não queria sua amabilidade. Ele queria recordar sua traição. Era mais fácil dessa maneira e não parecia difícil absolutamente. E depois disse: — Não quero isso para meus filhos. — Não haverá crianças.


Ela ofegou. — O que? Os filhos já não estavam em seus planos. Não tinham estado desde a tarde em Highley, quando ela o apanhou. Não estava interessado em torturar outra criança com uma vida como a que ele tinha vivido. — Tenho primos. Eles podem ficar com o título. — Não deseja um herdeiro? Então a olhou, encontrando-se com seus belos olhos azuis, amplos e honestos. Quantas vezes se perdeu nesses olhos nas últimas semanas? Quantas vezes tinha acreditado no que via neles? — Já não. Não me interessa um menino que seja somente um peão na partida de xadrez de seus pais. Ela guardou silêncio por um longo momento, sua garganta trabalhando enquanto procurava palavras. — É esta sua forma de me castigar? Ele levantou uma sobrancelha. — Deseja filhos? — É óbvio. Eles são parte da vida. Imaginou seus filhos, uma linha de pequenos com cachos cor mogno e brilhantes olhos azuis, pestanas longas e amplos sorrisos. Ela faria belas crianças. Ele fariam. Exceto não o fariam mais. Deu meia volta, para a janela que mostrava o jardim que se estendia mais à frente.


— Não quero nenhuma parte desta vida. — Apenas três meses atrás, teria sido mentira. Apenas três dias atrás, era uma verdade. Hoje não sabia o que era. — Comigo — ela esclareceu. — Não quer nenhuma parte de uma vida comigo. — Não — sentiu-o como uma mentira. Ele tinha querido uma vida com ela. Tinha a intenção de casar-se com esta mulher vibrante, divertida e linda, que parecia saber mais sobre alegria, amor e família que ninguém mais. E logo se deu conta de que não era real, e tampouco o era o que eles tinham. — Então, por que não me deixa partir? Porque ainda te amo. — Porque esta é a cama que nos deitamos. Ela guardou silêncio durante um longo momento, o suficientemente longo para pensar em olhá-la, inclusive quando se negava a si mesmo esse presente. A dor nisso. Essa era a batalha que lutavam. — Que deseja? Deseja que me ajoelhe? Que te rogue por minha liberdade? — Fá-lo-ia? Seus olhos, cerúleos e deslumbrantes, mataram-no com a surpresa refletida neles. Havia-o dito como exagero. E agora, de repente, pendia entre eles. — É isso o que devo fazer para ganhar minha liberdade? Para ganhar a liberdade de minhas irmãs?


— Se fosse assim? Imploraria? — Odiou a si mesmo pela pergunta. E logo a odiou, quando disse: — Fá-lo-ia — faria qualquer coisa para desfazer-se dele. E não podia culpá-la. — Saia — disse, voltando para a janela. — Sabe que poderia partir. Poderia fugir. — Ela cuspiu as palavras. Agitou sua mão para a porta uma vez mais. — Saia. Não podia fugir, entretanto, não sem destruir suas irmãs, e sabia disso. Ele também sabia. Sera sempre tinha sido nobre. Inclusive no erro. Suas saias rangeram contra o tapete, e por um momento, ele imaginou que ela poderia havê-lo feito, ficado de joelhos, lhe oferecendo uma súplica como um servo a um rei. Em troca, ela falou muito perto. — Não pense que não sei o que faz — disse ela. — Expulsa o cão da manjedoura. Você não me quer. Mas tampouco quer que ninguém mais me tenha. — Ele a olhou, odiando a culpa que se cruzava entre as palavras. — Está me castigando. E o está fazendo maravilhosamente. Tinha razão. Era um ou o outro, embora também podia ser ambos. Mas estava tão cego pela traição e a ira, que não podia dizer qual. Tudo o que sabia era que não a deixaria partir. Inclusive quando sabia que isso o convertia no pior tipo de homem. Entretanto, pareceu vê-lo, respirou fundo e se aproximou dele como uma caçadora, colocando um só dedo sobre seu peito, forte como o aço. como sempre tinha sido.


— É muito justo. Faça o que deve fazer, Malcolm. Culpe-me por minha traição e pelos restos destroçados do que uma vez nos prometemos. — Culpo-te — disse, afastando-se dela. — Não se equivoque. Ela o perseguiu. Nisto, não estava disposto a deixá-la escapar. — Então me castigue, mas minhas irmãs não têm nada que ver com isto. E espero que arrume isso. Era uma petição impossível. Uma vez que os tabloides de intrigas quando tinham seus dentes em uma história, agarravam-se a ela até que morresse. Ela sabia. Ela e suas irmãs tinham sido chamadas as Sujas Talbot desde que seu pai, o barão do carvão, tinha descido do Newcastle com cinco belezas nas costas. — Talvez devesse ter pensado nisso antes, Sera. As palavras foram um erro. Ela se voltou, e ele viu a fúria em seu rosto. — Antes? Antes do que…? Antes de tropeçar na varanda naquela noite? Antes que me pedisse que dançasse contigo? Antes que me tivesse beijado? Antes que enviasse uma carruagem para me buscar para ir a sua casa de campo? Porque, conforme recordo Duque, havia dois de nós no piso de seu escritório. Não só estava Dalila, com sua perversa espada. A irritação de Malcolm também se elevou, junto com a culpa, a frustração e o maldito desejo. Então se aproximou dela, cercando-a . — Você era Dalila — grunhiu. — Dalila, Salomé e Diana… a deusa da maldita caça. — Fez uma pausa. — E eu o cego e gordo touro. — Tolices! — cuspiu, enfrentando-o sem medo. — Acha que não recordo como abriu meu vestido, como levantou minhas saias? Quem


suplicou então, Duque? — Ela riu, e o som foi um aguilhão. — Desejaria poder voltar o tempo atrás. Que erro cometi! Ele a tomou em seus braços e a atraiu para si, ela se inclinou para trás, afastando-se, seus lábios quase roçando sua pele, amando o calor, o aroma e a sensação dela, inclusive enquanto odiava a si mesmo por sentir-se atraído. Por desejá-la tão desesperadamente. Por não poder renunciar a ela. Inclusive quando ele a odiava por querer partir. — Diz que cometeu um erro. — Seu fôlego acariciava a garganta dela, e imaginava que podia ver o orgulhoso batimento do coração de seu pulsar debaixo. — O pior de todos. — Me diga exatamente qual deles. Foi a armadilha seu erro? Ou o fato de que ao apanhar seria para sempre? Faria-o de novo se pudesse ter certeza de que alguma vez não perceberia que o tinha planejado? Ou o erro foi como o orquestrou? Ou como me apanhou? Seu olhar voou para o seu e viu a dor em seus olhos um instante antes de confessar. — É óbvio que sim. Pelo resto de sua vida, perguntar-se-ia por que a beijou, esmagando sua boca com a dele, até que ambos estiveram sem fôlego. Até que os braços dela se envolveram ao redor de seu pescoço, compartilhando cada toque, cada gemido, cada carícia. E ele se perguntaria por que lhe devolveu o beijo em lugar de afastá-lo e deixá-lo para sempre. Talvez fosse porque na paixão, viram a verdade, que estavam perfeitamente emparelhados em força, poder e desejo. Talvez foi porque, nesses momentos, havia um pequeno fio de esperança, de que pudessem


encontrar-se

de

novo,

quando

sua

irritação

tivesse

encontrassem espaço para outra coisa. Ou talvez fosse porque a amava, e ela o amava também.

passado

e


Capítulo 16 Lawn Bowls na grama? Ou objetivos de cortejo? — Vamos, Emily, atira para o gatinho! — Ai! Não a apresse! Tome seu tempo, Lady Emily. Mas faça-o bem. — Oh, por todos os céus, é bola de boliche, não cirurgia, Emily! — De acordo! — Lady Emily encontrou sua voz, e Sera não pôde evitar sorrir. — Estou atirando-o. — Lançando-o — corrigiu Seline, adicionando rapidamente quando todo o grupo a olhou. — O que? Assim é como se diz. — Acrescentou em voz baixa: — Não é minha culpa estar casada com um esportista. Sera resistiu à tentação de sugerir que Lawn Bowls de grama não eram precisamente esporte, e definitivamente não eram, quando jogavam oito mulheres nos jardins de uma casa senhorial de Essex. Levantou-se uma ovação quando Emily arrojou a pequena bola a dez jardas mais ou menos necessárias para começar a seguinte rondada de Lawn Bowls, acompanhada por uma cacofonia de latidos dos cães salsicha da marquesa de Bumble. — Latidos! Tem um bom braço, Emily! — Disse Sesily. Lady Emily se ruborizou com graça e baixou a cabeça, incômoda com os elogios.


— Obrigada — disse em voz baixa. — Foi um bom lançamento, não? — Ninguém gosta de uma dama com confiança, Emily — expressou sua mãe de onde as mulheres mais velhas estavam reunidas debaixo de vários toldos, abanando-se e olhando o jogo com enfoque de frustração. — Nunca ganhará os cuidados do duque se a considerar orgulhosa. O rosto de Emily se entristeceu e respondeu: — Sim mãe. — Refere-se se alguma vez víssemos o duque — disse a senhora Mayhew antes de ladrar. — Ombros para trás, Mary. Ele poderá chegar a qualquer momento. Sera não acreditava que Malcolm se aproximasse do Lawn Bowls na grama, mas evitou dizê-lo, dando as costas às mães dedicou um sorriso brilhante a lady Emily. — Penso que foi um lançamento excelente. — Lance — disse Seline de novo e ignorando os gemidos que seguiram, disse: — Concordo. Além disso, nunca escute a sua mãe, Emily. Os homens decentes respeitam uma mulher que reconhece seu valor. — Fez uma pausa, e logo continuou: — Embora admitirei que não vimos evidência de que Haven seja um homem decente. Sera suspirou. — É um homem decente. — Deveriam exigir prova disso antes de uma de vocês aceitar casarse com ele, moças — disse Sophie de seu lugar perto de uma pilha de Lawn Bowls azuis.


De fato, suas irmãs eram um perigo. Se não deixassem de fazerem seus comentários sarcásticos, Haven bem poderia terminar sem uma prometida no final, o que faria com que todo seu trabalho tivesse sido em vão e para o cúmulo a deixaria sem seu divórcio. Estaria condenada se estivesse passando estas semanas em Highley, com suas lembranças em cada canto, para não obter seu encargo. — É um homem decente — confirmou, cravando olhares de advertência a suas irmãs. — Deveriam acreditar em minha palavra. — Sem ânimo de dizer o contrário, minha lady — interveio lady Lilith, — mas… não o abandonaste? — Lilith! — Ladrou a condessa Shropshire. — Isso é suficiente. — Você é quem me disse que deveria fazer todo o possível para entender o homem — apontou Lilith. — Não assim! — Protestou sua mãe. — Seja mais sutil! Lilith sorriu em direção a Sera. — A sutileza nunca foi meu forte. — Não se preocupe, Lady Lilith, a Duquesa tampouco é muito sutil — Caleb tinha chegado, parecendo descansado e recém banhado. Levantou uma sobrancelha em direção a Sera. — Depois de tudo, esteve a ponto de derrotá-lo no Parlamento várias semanas atrás. Sera o olhou e fez o possível por trocar o assunto. — Senhor Calhoun! Que amável de sua parte unir-se a nós. Sei como gosta de jogos ao ar livre. — Prefiro algo onde haja um pouco mais de perigo.


— É que não jogou Lawn Bowls de grama com as Sujas Talbot — disse Sophie alegremente. — Isso é bastante justo. — Olhou para o terreno. — Um lançamento excelente. — Piscou um olho para Lady Emily, que imediatamente se ruborizou. — Emily! — A condessa Brunswick ladrou de novo, e sua ruiva filha se moveu para unir-se a sua equipe. — Basta — disse Sera, aproximando-se de seu amigo. — Afugentou a todas. O orgulho masculino de Caleb era evidente. — Se pensa que essa moça quer fugir de mim, é que está perdendo sua compreensão em sua velhice, das mulheres jovens. — Perdão — disse ela. — Tenho apenas vinte e nove. — Virtualmente com um pé na tumba — respondeu. Ela soprou com irritação. — Como está minha taberna? Ele levantou uma sobrancelha. — Minha taberna está bem. Reparada. O entretenimento é passável. — Dirigia-se a Londres todas as noites para fiscalizar o negócio do pub, para assegurar-se de que os artistas estivessem seguros e que estivesse bem abastecido de licor. Ela assentiu. — Mas? Ele inclinou a cabeça. — Mas sem Sparrow, é um cocho.


Uma pontada de remorso a atravessou. Sentia falta do lugar, o aroma de madeira e licor recém servido, a fumaça das velas e do tabaco, e o som da música, a melhor de Londres, tinha certeza. Mas sobretudo, sentia saudades de si mesmo ali. A forma em que se perdia com a música e se convertia nela mesma. O Sparrow. Livre. — Como vai seu divórcio? — Se ele passasse algum tempo com as moças, ajudaria. — Talvez não queira essas moças. — São as que selecionou. — Talvez somente as selecionou porque não acreditava que fosse uma opção. — Ela franziu o cenho. — Irei logo que escolha uma esposa. — Caleb grunhiu, e não gostou do significado que se vislumbrava no som. — O que foi? Ele se balançou sobre seus calcanhares, com os dedos na cintura de suas calças. — Nada. Somente que não tenho certeza de que volte se não puder enfrentar seu duque. Entrecerrou o olhar com um sussurro zangado. — O que significa isso? — Acha que não sei o que acontece cada vez que está sozinha? — Disse seu amigo, com tranquila indiferença, como se discutissem sobre o clima. — Acredito que não sabe nada a respeito, e não deveria se importar, de fato.


— Sparrow, esse duque a teve desde o momento em que a conheceu. E você o teve. E nem os anos separados, nem o divórcio mudará a forma como a olha. Ou a forma como não o olha. — Não sabe do que está falando — disse, afastando-se e aplaudindo para chamar a atenção das moças. Caminhou para o lugar onde a pequena bola branca jazia feliz na exuberante erva verde. — Qual equipe vai primeiro? "A forma como a olha." Ele não a olhava. Ele não a queria. Ele nunca a quis. E se ela não o olhava, era porque apenas tinha olhos para ele desde que chegaram. Não porque não queria vê-lo olhando-a . Como a olhava? Não. Tolices. Caleb não sabia absolutamente nada sobre olhar. Felizmente, sempre se podia confiar em que Sesily o distraísse. — Como ganhamos a última ronda… — Fez uma pausa triunfante, enquanto suas palavras eram acompanhadas por uma série de aplausos de parte de suas irmãs, zombando-se das quatro candidatas a duquesa, e dos latidos dos sabujos na linha lateral. — Lançamos primeiro! Preparem-se para perder! Várias das mães se zangaram pela grosseira atuação de Sesily, mas como se deram conta rapidamente de que as queixa pela presença das irmãs Talbot não causavam mais que a irritação de Sera e, o aumento da impopularidade das irmãs, permaneceram caladas. Não ajudava tampouco, imaginou, que suas filhas gostassem das Sujas Talbot. Lady Lilith e Lady Felicity Faircloth, ninguém parecia capaz de referir-se a ela se não fosse por seu nome completo, pareciam


inclusive mais que impressionadas com elas. Até pareciam influenciadas por elas. Sesily se inclinou para ir procurar uma pesada Lawn Bowls azul e Lady Lilith gritou: — Eu, por minha parte, já estou impressionada por esse vestido, Lady Sesily. Sesily se endireitou e olhou os quadris no vestido, que alguns diriam que era muito apertado, e certamente assim o faziam as mulheres mais velhas reunidas ali. — Estarei feliz de te recomendar a minha costureira, Lady Lilith. — Possivelmente para seu enxoval! — Brincou Sophie. — Ora, ora — disse Sesily, depois de que a risada. — Todo mundo sabe que Haven tem afinidade pelas mulheres que podem mandar uma Lawn Bowls em linha reta. — Isso é verdade? — Perguntou a senhorita Mary, preocupada com suas palavras. — Verdade — disse Sesily. — Pergunte a Sera. Ela sabe tudo sobre seu interesse em… bolas. Ouvia-se um som de sete mulheres rindo juntas, em um aspecto que abrangia desde risadinhas até gargalhadas. Caleb piorou quando inclinou o chapéu de Sesily e disse: — Tinha razão. É problemática. Sesily deu uma piscada. — Sou do melhor tipo, americano. Caleb riu, muito forte e com vontade, Sera não pôde evitar unir-se a eles e sentiu que essa pausa era bem-vinda, já que lhe ajudava a


esquecer, por um momento, a verdadeira razão de sua permanência em Highley Manor. Até que a senhora Mayhew recordou a todos, fechando seu leque e golpeando-o contra sua coxa. — De verdade! Isto já é muito inaceitável! Sesily piscou inocentemente com os olhos muito arregalados para a mulher mais velha. — Não sei a que acredita ao que me refiro, senhora Mayhew. Haven gosta das bolas. — Olhou para Sera. — Não é assim? — Muito, em realidade é para ele uma questão extremamente importante — disse, bastante orgulhosa de sua capacidade para reforçar o raciocínio de sua irmã. Sesily Talbot não só estava à altura das expectativas para as irmãs Talbot, mas sim as superava. E Sera sempre a tinha adorado por isso. Talvez pudessem envelhecer juntas, sócias, ou irmanadas na ruína. — E o que acontece com o fato de que seja uma coquete malvada? — A senhora Mayhew falou com indignação. — Não vejo nenhuma razão pelo qual isso impeça um jogo de Lawn Bowls — disse Sera encolhendo-se os ombros. — Excelente! — Disse Sesily. — Está decidido, então! Se ganhar, obtenho o americano. — E se alguém mais ganha? — Caleb disse com um sorriso. — Não é que espere que as derrote, Lady Sesily. Sesily sorriu amplamente. — É óbvio que sim, futuro esposo. Não sei… se alguém mais ganha, pode ter o Haven. Não é para isso que estão todas aqui?


As irmãs de Sera riram, como Lady Lilith e Lady Felicity Faircloth, enquanto que a senhora Mayhew e sua pobre filha pareciam estar doentes. Lady Emily não respondeu absolutamente. Sera tinha decidido intervir e deter a atuação de sua irmã, quando Sesily dirigiu seus olhos em um ponto atrás de seu ombro e sorriu amplamente. — Não acha que é uma ideia genial, Sua Graça? — Certamente faria as coisas mais fáceis. — Deteve-se atrás dela, seu calor era tudo o que podia sentir. — Boa tarde, miladies. — As suplicantes fizeram reverências em bloco, e Haven adicionou: — Sinto que deveria me desculpar por minha distância desde que chegaram. Um imóvel deste tamanho requer mais que um pouco de atenção até que retorne à cidade. Era uma mentira. Haven tinha o melhor administrador de terras da Grã-Bretanha trabalhando para ele: um cavalheiro mais velho com uma imensa habilidade sobre a terra. Haven somente se preocupava com a arquitetura. Sera nunca tinha visto um homem tão orgulhoso quando falava das salas únicas da casa principal, ou da casa de Dower, uma loucura que se encontrava nos pastos do Este. — Em qualquer caso, deveria desfrutar de passar um pouco de idílio com vocês. As Lawn Bowls na grama parecem encantadoras. — Estava perto dela, perto demais, considerando que estava falando com um grupo de uma dúzia de pessoas. Logo se voltou para ela, a pergunta que lhe fez tocou sua pele como uma carícia: — Está jogando duquesa? Os olhos de Sesily se iluminaram. — Você gostaria que ela estivesse? "Sesily acredita que a quero de volta."


Nada disso. separou-se do Haven, luzindo equilibrada e perfeita ocupou discretamente o lugar detrás de lady Emily, que estava fazendo todo o possível para fingir que não estava ali. — Não estou jogando — disse ela. — Eu sou o árbitro. Ele assentiu e olhou por cima do campo. — E as equipes? — Perguntou, o suficientemente alto para que todos o escutassem, e não pudessem evitar voltarem-se para olhá-lo. Ele soava contente. Como se estivesse procurando algo que fazer com seu tempo, e as Lawn Bowls na grama fossem uma opção perfeitamente razoável. A suspeita a atravessou, junto com uma pequena quantidade de pânico. O que estava tramando? Seline saltou para responder. — As solteiras versus as casadas. E Sesily... Sesily suspirou dramaticamente. — Sempre uma dama de honra. — Olhou para Caleb — Quer uma noiva americano? Caleb se pôs-se a rir descaradamente a gargalhadas, e a senhora Mayhew pigarreou de novo dos bancos. Haven ignorou a interjeição, enquanto arregaçava suas mangas e considerava as equipes em questão, que, para qualquer um, pareceriam terrivelmente desiguais. À esquerda do campo do jogo havia quatro mulheres bonitas, frescas e jovens, vestidas em tons pastéis, cada uma com uma combinação de esperança, emoção e terror em seus olhos, cada uma


provavelmente mais ansiosa que a seguinte, para impressionar o Duque de Haven e caçar um esposo aristocrata adequado. E à direita estavam seus opostos. Em todos os sentidos. As irmãs Talbot nunca se vestiram em tons pastéis em suas vidas; não seguiam a moda, ao contrário inventavam elas mesmas. Vestiam cores brilhantes e lindas que pareciam capturadas nos jardins de veraneios e em seus cabelos criavam elaborados penteados. Acreditavam na honestidade impetuosa acima da pálida cortesia, e tudo isso em conjunto, davamlhes a graça e o tato de uma carruagem desgovernada. O que se confirmou quando Sesily gritou de fora, — Hey! Haven! Se fosse você me moveria, antes que minha pobre pontaria te envie uma Lawn Bowls diretamente na tíbia. — Aqui há acidentes felizes! — Gritou Sophie da mesa próxima, onde tinham servido limonada e o almoço. — Odeia-me — disse Haven em voz baixa. — De fato, odeia — respondeu Sera, e se surpreendeu pela pontada de desconforto que lhe produziu pensar nisso. — Alguém mais está morrendo de fome? — Adicionou Sophie. — Não estávamos comendo, Sophie — gemeu Sesily. — Estávamos jogando. — Não pensem que esta obsessão com o almoço só é pela gravidez — explicou Seline às suplicantes. — Sophie esteve faminta em cada momento de sua vida. — Verdade! — Acrescentou Sophie, levando um bolo à boca. — E ninguém se importa se eu começar, verdade?


As mães nos bancos pareciam incapazes de decidirem se estavam mais ofendidas pela referência de Seleste ao estado de Sophie, ou pela disposição de Sophie de começar a comer sem permissão do duque ou da duquesa, um fato que só servia para recordar a Sera, quanto adorava a suas irmãs. — Farei todo o possível por ser um cavalheiro e me unir a você — interveio Caleb, — depois de tudo, sou um menino em crescimento. — Genial! — Respondeu Sophie. — Como eu sou a quem está crescendo uma criança no ventre, seremos um bom par. As mães sussurraram detrás dos leques, quando a marquesa de Eversley uma vez mais, demonstrou sua reputação como uma mulher com uma inclinação pelo descaramento. Haven observou Sophie durante um longo momento. — Ela pode ser conquistada? — Sophie? — Sera o olhou, surpreendida. — Por que se importa? Algo brilhou em seus olhos, algo que se parecia notavelmente à verdade. — Você pode ser conquistada? Seu coração começou a pulsar com força. Estava-o fazendo de novo, tratando de conquistá-la quando ele não a queria. Tentando mantê-la a seu lado quando não desejava tê-la. Quando ela não desejava ser mantida. Ela tinha sido sua posse antes, uma vez. E não tinha terminado bem para nenhum dos dois. Encontrou seu olhar. — Não. — A palavra apagou a franqueza de seu olhar e tratou de ignorar a decepção que a envolveu. Então disse para que todos


escutassem: — Não me preocuparia tanto, Duque, Sesily é bastante terrível neste jogo. É pouco provável que o golpeie. — Pelo menos, não a propósito! — apontou Seleste de seu lugar no campo. Haven levantou uma sobrancelha. — Agora não tenho certeza para onde ir. Sesily respondeu sem vacilar. — Sempre poderia tentar te golpear, Haven. Se isso pudesse fazer você se sentir melhor. — Sera sorriu e o olhou. — É sua decisão, é óbvio, como dono do campo que equipe você gostaria de escolher? — Agitou uma mão sobre a coleção de Lawn Bowls. — Somente lance a bola, Sesily — ele disse. Sesily assentiu uma vez e fez o que lhe indicaram, a Lawn Bowls rolou pela grama e aterrissou, brandamente, junto ao pequeno gatinho branco. Alguns aplausos provinham das suplicantes de Haven, mas as irmãs Talbot não foram tão educadas. — Oh! — Suspirou Seleste. Seline espetou: — Meu Deus! Quase o golpeia! — Esteve praticando? — Sophie olhou para Sesily com olhar cético. — Não o tenho feito! — falou Sesily. — Mas me condenarei se não for natural neste jogo! — As mães começaram a sufocarem-se de novo, o que aumentou quando Sesily adicionou: — Disse-te que devíamos apostar em nós mesmas. É claro que sou uma sábia. — Ah, claro — disse Sophie secamente, enquanto Sera ria. E logo a senhora Mayhew disse:


— Perdão, disse que apostou? Certamente não está apostando pelo resultado das Lawn Bowls na grama com moças inocentes. — Certamente poderia ter imaginado que temos feito o necessário para fazer com que as Lawn Bowls na grama das moças inocentes, fossem mais interessantes, verdade, senhora Mayhew? Além disso, estará muito feliz com o resultado se sua filha se aproximar mais do gatinho. Haven imediatamente suspeitou. — O que ela ganhará? Sera levantou um ombro e o deixou cair. — Não — ele disse, e de repente se sentiu como se estivessem sozinhos nos jardins. — Não encolha os ombros. O que ela ganha? — Bom, se as irmãs ganharem, aquela se aproxima mais do gatinho pode retornar a Londres — disse Sera. — Não se sentirá sozinha? O melhor seria enviar todo o lote para casa com ela — Sera franziu o cenho. — E o que há se as suplicantes ganham? — Uma excursão privada. — Com quem? — Contigo, é óbvio. — Oh! — A Sra. Mayhew falou por todas as mães e, pela expressão de seu rosto, pelo Haven também. Sera pensou que sentiria mais prazer com sua surpresa. Ela baixou a voz. — Deseja uma esposa, Sua Graça. Assim é como obtém uma.


Ele a observou durante um longo momento, e depois disse: — Está usando lavanda. A mudança de tema a desestabilizou. — Eu estou. — As palavras saíram mais como uma pergunta, como se ele não tivesse olhos no rosto e nenhuma compreensão do espectro de cores. — Ontem foi ametista. No dia anterior, um cinza como a urze no inverno. — Ela sentiu frio. — Eu gosto do púrpura. Ele sacudiu sua cabeça, os olhos escuros pelos segredos. Ela sabia, porque os seus mostravam o mesmo. — Não, não acredito. Ela não queria discutir. Não agora. Não quando estavam ali com o que parecia ser a metade das mulheres de Londres olhando. Não queria discutir com ele. Nunca. E o odiava por apontar sua roupa. Púrpuras e cinzas. As cores do luro. Malcolm não disse nada mais, voltando-se para olhar às moças no outro extremo do campo, e Sera teve a clara impressão de que assim era como se viam os homens que partiam para a batalha. — Então acredito que deveria ficar neste extremo e me assegurar de que seja imparcial. Ela forçou um sorriso. — Teme que blefe no jogo para manter as minhas irmãs? Ele baixou a voz. — Temo que organizará o blefe no jogo para se desfazer de mim. Ela se acalmou. Esse era o ponto, não? Tinha estado muito relaxada com as moças e com ele. Tinha que encontrar-lhe uma esposa.


Uma destas mulheres iria tomar seu lugar. E Sera recuperaria sua liberdade. Conseguiria sua taberna, seu futuro e se afastaria deste lugar, deste homem e de todas as lembranças que a atormentavam. Ela o olhou. — Haven — disse ela. — Deve… Ele a interrompeu, afastando-se. — Senhora Mayhew. Vejo que algo deve havê-la incomodado se saiu ao sol. — De fato assim é — disse a irritada mulher. — Sua graça! Devo objetar! Estas... — Fez um gesto com a mão para as irmãs de Sera, — …mulheres, suponho que terei que chamá-las assim, são terríveis influências. Você foi absolutamente invisível durante quase uma quinzena e, francamente, tudo isto parece uma terrível perda de tempo. — Mãe — Mary entrou na conversa agora, gritando de sua posição com as outras jovens solteiras. — Suponho que deveria tomar minha oportunidade — disse Lady Lilith. Levantou a Lawn Bowls no alto, enquanto a senhora Mayhew continuava. — Meu esposo é bastante poderoso e Mary é muito procurada. Nós descartamos vários convites para outros eventos com outros homens elegíveis que, terei que admiti-lo, são muito mais elegíveis que você, tendo em conta suas circunstâncias. Sera teve que admitir que a senhora Mayhew era uma excelente mãe. Sabia que touro desejava para sua filha e não estava disposta a ficar quieta quando podia agarrá-lo pelos chifres.


Era difícil não ver os ecos de sua própria mãe na mulher. E, nesses ecos, as bases do que seria um grande êxito ou um fracasso absoluto. — Senhora Mayhew — disse Haven — Acredito que possivelmente… — Mãe, por favor! — Mary estava aproximando-se pelo jardim. A Sra. Mayhew não estava tomando em conta os rogos da filha. — Devo acreditar que não seria difícil para você, encontrar tempo para passear com minha filha, para poder conhecê-la, além de seu enorme dote! A mulher era impressionante. E Sera mentiria se dissesse que não gostava que Haven se visse acossado. — Está louca? — A Tranquila Mary já não estava tão tranquila. De fato, parecia que a maçã não estava longe da impressionante árvore. Haven estava em apuro e instintivamente tentou reverter qualquer situação vergonhosa que a anciã Mayhew pudesse ter causado a mais jovem. — Asseguro-lhe, senhorita Mayhew, que seu dote não tem importância. Mary prestou pouca atenção a Haven. — Mãe! Não pode simplesmente enfurecer um duque e esperar que ele termine um matrimônio, que você deseja para mim! — Não só um matrimônio que desejo para você, querida, mas um matrimônio que você deseja para si! As outras mães tinham deixado de abanarem-se e fingirem que não olhavam. As três damas aristocráticas olhavam com os olhos e a boca muito abertas.


Caleb, de sua parte, estava alimentando com um pedaço de ganso assado, a um dos cães. — Hey! Fora do caminho! — gritou Sesily. — Lilith está atirando! — Lançando! — interveio Seline. — Posso sugerir que levemos esta conversa para a casa? — Perguntou Sera, tentando acalmá-los — Ou pelo menos longe da audiência? Sera escutou um: — Oh, não — de Sophie junto com um: — Cuidado! — Do Seline e se voltou bem a tempo para ver que a Lawn Bowls avançava para eles. Saltou de seu trajetória, mas a senhora Mayhew não teve tanta rapidez. A bola bateu contra seu pé e ricocheteou ficando muito perto do gatinho, enquanto esta gritava de dor e quase caia em cima de Haven. — Sinto-o tanto! — Exclamou Lady Lilith de seu lugar no final do jardim. — Absurdo! Foi um excelente lance! Olhe o perto que o deixou! — Golpeou a uma mulher, Seline — apontou Sophie. — Oh, não é como se ela não o merecesse. Oxalá pudéssemos golpear a todas as mulheres que se comportam tão abominavelmente. Lady Lilith, é possível que seus serviços estejam de aluguel? Haven se engasgou, Sera o olhou. — Você está rindo? Ele negou com a cabeça e tossiu. Óbvio. Ele ria. Sera se aproximou da mulher que coxeava, dobrada de dor e vergonha.


— Oh, Meu Deus — disse ela, surpreendida e incapaz de conter a risada entre as palavras, enquanto ia ajudá-la. — Senhora. Mayhew, está muito... A mulher se endireitou de um salto. — Oh, você se cale! — gritou — É o escândalo aqui. Deveríamos ter sabido que o faria cair sobre todas nós. Deveria ter ficado na América e deixado seu pobre esposo com um futuro. Com uma mulher decente. Uma com graça, honra e fidelidade. O silêncio caiu assim que disse a última palavra, em um ataque agudo e irado, e Sera não pôde resistir ao impulso de olhar para Malcolm, perguntando-se se ele também sentiria a vergonha que ela sentia agora. Odiava o que havia trazido sobre todos eles. Sobre suas irmãs, sobre as jovens e sobre ele, sobretudo, sobre ele. Exceto de que não foi vergonha o que viu em seus olhos, nem sequer um rastro de risada que tinha estado ali antes. Era raiva. Era amparo. Era lealdade. Por ela. E, antes que pudesse proteger-se disso, antes que pudesse evitar sentir prazer e orgulho e algo muito mais aterrador, enroscou-se através dela. Algo com um eco de dor que tinha jurado não ressuscitar. A lembrança do Malcolm que ela amava. Mas antes que ele pudesse soltar sua fúria, a senhorita Mary falou, dando rédea solta a sua própria ira: — Eu gostaria que notasse que arruinou isto, Mãe — disse, levantando a voz e um longo dedo no nariz de sua mãe. — Estava


disposta a fazer seu jogo tolo, vir aqui e competir pelo título deste homem, porque sempre fiz o que você e papai pensaram que deveria fazer. Mas estas mulheres são diferentes, são interessantes e valentes, por isso acredito que eu deveria sê-lo também. Não vou me casar com o duque, embora não possa acreditar que em algum momento estivesse na corrida, já que não posso imaginar por que um homem como ele se ataria a uma sogra como você. Vou para casa. Para me casar com Gerald. Os olhos da Sera se arregalaram. — Gerald? — Quem é Gerald? — perguntou Felicity Faircloth. — Felicity! Não interfiramos nos assuntos pessoais dos outros! — Parecia que finalmente a marquesa de Bumble encontrava sua voz materna. — Alguma vez entenderei essas regras, sabe? — disse-lhe Lady Lilith a sua amiga. — Quero dizer, este assunto pessoal é muito público, não? Mary ignorou às outras moças, em troca se voltou para Sera. — Sinto muito. Nunca deveria ter vindo aqui. Tenho um amor em casa. Gerald. E ele é maravilhoso. Sera não pôde conter seu sorriso. Esta moça tinha voz. E era notável. — Eu imagino que ele é se a ganhou. — É um advogado! — Exclamou a senhora Mayhew. — Papai também era antes que estivesse no Parlamento! — Apontou Mary.


A Sra. Mayhew começou a ruborizar-se. — Mas agora… poderia ter um duque! — Mas não quero um duque — então sorriu para Malcolm. — Desculpe, Sua Graça. Malcolm negou com a cabeça. — Não estou ofendido. — Tenho certeza que você não entenderá, mas não me importa que seja um duque. E não me importa que ele seja um advogado. Amo-o apesar do que seja. O olhar de Malcolm piscou passando de Mary para Sera. — Um caçador de ratos. Sera deixou de respirar. Mary sorriu. — Você entende. — Sim, entendo — disse ele, e mesmo assim olhou para Sera, parecendo entender como ela lutava com o eco de sua lembrança. Quando finalmente olhou para Mary, e disse: — Lamento não ter tido a oportunidade de falar com você. — A jovem sorriu. — Acredito que não teria gostado de mim, de todos os modos. — Aí, está equivocada, senhorita Mayhew. Lerei os periódicos para ver o anúncio de seu matrimônio. E em troca de que tire sua mãe de minhas terras, enviarei a você e a Gerald um presente muito generoso para celebrar seu matrimônio.


Baixando a cabeça para ocultar seu sorriso, Mary fez uma pequena reverência. — Parece um excelente acerto. Desculpe-nos, Sua Graça? Não escapou a Sera que esse particular Sua Graça, não estava dirigido a Haven, a não ser para ela. — Não há nada por que desculpar-se — disse Sera, ansiosa por esquecer o rastro de verdade nas palavras da Sra. Mayhew. Para esquecer e deixar atrás deles todo o episódio. — Há tudo pelo que pedir desculpas — disse Haven, com uma fria fúria que aproximava sua voz a de um tenor, que Sera conhecia muito bem. Ela viu o medo no rosto da senhora Mayhew. — Ninguém fala com minha esposa como o fez, senhora Mayhew. Sairá desta casa e nunca voltará. Não se equivoque, nunca mais será bem-vinda sob o teto de Haven. — A mulher ficou branca como um lençol quando ele terminou. — Houve um tempo em que poderia pensar em lhe arruinar. Teria lutado por vingança. Deveria subir em sua carruagem e agradecer a Deus que já passei desse tempo e que parece que gosto muito da companhia de sua filha. A mulher mais velha abriu a boca para falar, talvez para defenderse, mas Malcolm levantou uma mão e disse: — Não. Você faltou com respeito a minha duquesa. Saia de minha casa. Já. Logo depois de dizer isto, deu as costas às mulheres, claro sinal de que tinham sido dispensadas, e rapidamente. Tendo estado alguma vez no extremo receptor dessas geniais dispensas, Sera sabia que nisso ele era melhor que ninguém. Particularmente quando se voltou para o grupo e disse:


— Lady Lilith, devo dizer que a física de seu lançamento foi bastante notável. — Lilith sorriu e respondeu: — Desejaria poder me dar crédito por isso, Sua Graça. Mas somente foi muito boa sorte. — Era mentira; todos podiam ver que Lilith tinha lutado por sua amiga. Lilith era uma boa partida. Ela seria afortunada de ter Haven. Quer dizer, Haven seria afortunado de tê-la. E mesmo assim, o eco de suas palavras consumiu a Sera. "Minha duquesa." É óbvio, referia-se a sua esposa nos termos mais vagos e mais amplos. Ele não se referia a Sera. Quantas vezes tinha-lhe deixado claro que não a queria? Quantas vezes havia dito ele que não o queria? E ela agora não o queria. Antes, nenhuma vez tinha deixado de querê-lo. Nenhuma vez até que partiu. Tinha passado quase três anos sem querê-lo. Orgulhosamente não querendo-o. Orgulhosamente planejando um futuro sem ele. E agora… com um punhado de palavras, palavras como "minha duquesa" e "o caçador de ratos", lhe recordava os sonhos que alguma vez tinha tido. As expectativas, pouco realistas ao extremo. As mulheres não ganhavam amor nem felicidade. Pelo menos, Sera não o tinha feito. Esses prêmios estavam fora de seu alcance. O suficientemente longe para ter se focado em outros objetivos mais acessíveis. Como a liberdade. Os recursos. E um futuro. Deixar o amor aos outros.


Como se tivesse falado em voz alta, Malcolm atuou sobre as palavras. — Lady Lilith, quase se sente que deveria ganhar o prêmio, em virtude de ter êxito em uma missão tão valiosa. Não é que seja nenhum tipo de prêmio, tenho certeza de que lady Eversley dará testemunhoé. Sophie sorriu. — Com gosto, Duque. Lilith fez uma reverência. — Tenho certeza de que isso não é verdade, Sua Graça. Sera, então, odiou à linda jovem. Odiava-a por sua confiança, seu aprumo e sua maldita habilidade para lançar às Lawn Bowls. E odiava Haven pela forma como a olhava, a forma como lhe sorria com amabilidade aristocrática, como se não houvesse nada no mundo que quisesse fazer, mais que felicitar a Lady Lilith, por quase romper o tornozelo a uma terrível anciã que o merecia. Era irrelevante que ela mesma, quando aconteceu, estivesse disposta a levantar Lilith sobre seus ombros, em triunfante glória. Mas sobretudo, Sera odiava a si mesmo, por preocupar-se tanto ao notar que Malcolm gostava totalmente de Lilith. Da mesa do almoço, Caleb esclareceu garganta, atraindo a atenção de Sera. Olhou-a por um longo momento antes de arrojar outra parte de ganso aos cães que aguardavam debaixo dele e elevou uma sobrancelha em pedante zombaria masculina, como dizendo, vejo o que está acontecendo.


Maldição, estava equivocado. Nada estava acontecendo nada. Sera tinha vindo por seu divórcio, e o ia conseguí-lo. Devia apagar seu passado. Escrever seu futuro. E forjar uma nova vida. A vida que Malcolm não pôde lhe dar. A vida que tinha que conceber por si mesmo.


Capítulo 17 As artimanhas das mulheres os esperam! Tomem cuidado, homens! — Ama minha irmã? Caleb Calhoun se voltou e olhou o último cabresto que conectava sua carruagem aos quatro cavalos que, em minutos, levá-lo-iam a Covent Garden. Sesily Talbot se apoiou na carruagem, com os braços cruzados sobre o peito, seios belamente exibidos por um deslumbrante vestido dourado que brilhava como o fogo ao pôr-do-sol. O vestido provavelmente era muito decotado e apertado, mas Sesily Talbot não parecia o tipo de mulher que se importava o que se pensava dela. E não importava, sinceramente, já que não era o fogo no tecido de seu vestido o que fazia com que a jovem fosse perigosa, a não ser o fogo em seus olhos. Não, perigosa não parecia a palavra adequada para Sesily. Perigosa parecia muito gentil. Ela era positivamente ruinosa. O qual era um problema, já que Caleb sempre tinha sido partidário da ruína. E ser a ruína da irmã de sua amiga mais querida, não era uma opção. Ignorando o fio de prazer que o atravessou ao vê-la, voltou sua atenção aos cavalos, fazendo um escândalo por um arnês afivelado. — Lady Sesily, posso ajudá-la? 22

Arnês - Equipamento completo de um cavalo de sela ou de tiro.

22perfeitamente


— Não está me respondendo porque acha que te julgarei por isso? Não o farei. As pessoas sempre amaram Sera. É particularmente adorável. A mais linda das Perigosas Talbot, sem dúvida. — Caleb não tinha certeza de nada, com essa afirmação. — Somente pergunto porque se a amas, tem um problema. Ela tinha razão sobre isso. Haven claramente desejava Sera, com uma intensidade que Caleb nunca tinha visto. Quando estavam perto um do outro, o duque não podia dirigir sua atenção a ninguém mais que a sua esposa. E Sera... bem, nunca tinha deixado de amar o seu duque, sem importar quão horrível fosse o seu passado e quão impossível fosse o seu futuro. E Caleb sabia muito sobre horríveis passados e futuros impossíveis. Teve um e estava conversando com outro. — É óbvio que a amo — ele disse. — Mas não na forma como você se refere. Não tenho nenhum interesse em seduzi-la. — Ama a outra, então? Aparentemente ninguém tinha ensinado tato a Sesily Talbot. — Não vejo como isso seria teu assunto. — Ah, isso é um “sim.” — O amor é uma tolice. Basta olhar para Sera e seu duque para sabê-lo. — Pareceu não escutá-lo. — Não é correspondido? A irritação se acendeu nele e Caleb se virou para olhá-la nos olhos, claro, direto, e... Deus! Tinha os olhos mais belos que jamais tinha visto, azuis com um magnífico aro negro ao seu redor. O suficientemente belos para que fosse essencial que ele dissesse em voz alta.


— Sua irmã é a melhor amiga que tenho — para recordar a si mesmo onde estavam sua lealdade. Então fez uma pausa. — O que significa que tampouco tenho nenhum interesse em te seduzir. Queria que as palavras a aguilhoassem, o suficiente para afastá-la dele, mas não pareciam fazê-lo. Pareciam deslizar-se justo além dela. De fato, sorriu. — Não acredito que tenha pedido para ser seduzida, senhor Calhoun. Ele era um touro, e ela era uma impressionante bandeira vermelha. Aproximou-se dela. Não poderia ser detido nem por todo o ouro do mundo. — É óbvio que sim — disse ele. — Pede-o cada vez que me olha. — Você confunde flertar com desejo, senhor. — Não confundo seu audaz flerte com nada mais do que é, Sesily Talbot. Ela levantou o queixo, expondo um milímetro a mais de pele. Tentando-o com isso. — E o que é isso? Diversão? Ele deixou passar um batimento do coração, enquanto olhava uma moça que nunca em sua vida enfrentou um homem adequado. — Disfarce. Tinha-na escandalizado. Ela descruzou os braços e se afastou um pouco da carruagem, inquieta por sua habilidade de ver a verdade. — Não sei a que se refere.


— Quero dizer que é uma coquete, Sesily, e uma muito boa. A maioria das pessoas não vê o que você é, porque está sempre cheia de arrogância. — E você o vê? — Vejo-o — disse ele. — Reconheço-o. Ela piscou e logo riu, muito audazmente para que um homem comum não escutasse o nervosismo oculto nessa risada. — E o que reconhece, Caleb Calhoun? Uma falta de vontade para comprometer-se? — Uma falta de vontade para arriscar-se. Ela estreitou seu olhar. — Não sabe muito sobre mim, se acha que não me arrisco. Não tenho feito mais que me arriscar desde que tive minha primeira temporada. Sou um escândalo há anos. — Não, somente é um escândalo para que não percebam que é a menos escandalosa do grupo. Suas sobrancelhas se elevaram. — Nunca diga a uma das irmãs Talbot que não é escandalosa, senhor. Arrisca-se que nos ofendemos. Ele sorriu. — Passei três anos com Seraphina, amor. Eu sei a verdade. Você usa suas roupas bonitas e fala inteligentemente, mas quando se trata disso, quer só uma coisa. E não é o que quer que eu pense ser. Seus lábios se pressionaram em uma linha reta.


— Eu gosto quando um homem me conta sobre mim mesma. É positivamente afrodisíaco. — Sou americano, minha lady. Não me assusta com todas suas pomposas palavras. — Seus olhos brilhavam com humor. — Então devo te dizer o que penso de você, Calhoun? Não tema. Usarei palavras simples para que entenda. Não. Ele não queria que lhe dissesse nada. Já tinham levado isso muito longe. Sera chutaria seus ovos se a tocasse. Destruiria Sparrow até os alicerces só para vingar-se. E logo subiria a um navio que a levasse a Boston, para fazer o mesmo com todas as propriedades que possuía ali. O caso é que poderia valer a pena. Estava tão distraído pensando no muito que valia a pena perder tudo por um momento com Sesily Talbot, que esqueceu de lhe dizer que deixasse de falar. — Acredito que está aqui com minha irmã no campo, no país, que devo acrescentar, que é tão maçante como a sordidez que você conhece, e por isso todas as noites foge para Londres para respirar o glorioso odor da aventura, porque estar com Sera o mantém a salvo. Seu coração começou a pulsar com força. — Estar com sua irmã me mantém em constante ameaça de ser golpeado por seu cunhado. — Isso pode ser verdade — disse Sesily. — Mas é preferível sentir qualquer quantidade de punhos no seu rosto, que sentir algo realmente perigoso. Ele já tinha tido suficiente dela.


— E você é uma perita no assunto? — Sobre evitar as emoções? Sou. — Ele não sabia o que responder a isso. — E então um dia desperta e descobre que seu futuro está definido. — Por favor — ele zombou. — Você é uma criança. — Tenho vinte e sete anos. Não negociável por muitas razões, a menor delas é o escândalo e a pior das coisas é a minha trágica descendência para a velhice. Se isso não era uma tolice britânica, ele não sabia o que era. Sesily Talbot não poderia dar um passo em uma rua de Boston, sem que meia dúzia de homens a olhassem, a desejassem. Somente em pensar o enfurecia. Ele tinha terminado com esta conversa. — Bem. Isto foi divertido, Sesily, mas... — Você e minha irmã formam um bom par, um excelente na verdade. Ambos aterrados do que poderia acontecer se realmente tomassem a decisão mais importante de suas vidas. Ele franziu o cenho. — Não sabe nada sobre mim. Ela levantou uma sobrancelha. — Sei que é um covarde, americano. Estava-o perseguindo. Ele sabia, e mesmo assim queria lhe demonstrar que se equivocava. Ele queria fazer mais que isso. Queria arrojá-la na carruagem e lhe mostrar precisamente como era um covarde.


Em troca, abriu a porta da carruagem para arrojar sua bolsa dentro. Só para ser atacado por um violento projétil branco e peludo. — O que… — Ele saltou para trás, a besta peluda aparentemente não se deu conta de que tinha cedido a carruagem, já que se aferrava a seu casaco com um poderoso miado. Foi quando percebeu que Sesily estava rindo. E isso soava como um maldito pecado. Até este preciso momento, Caleb não tinha imaginado que era possível, simultaneamente, ser atacado por um gato e ficar duro como uma rocha. Mas Sesily Talbot era o tipo de mulher que ensinava coisas a um homem, isso estava muito claro. Incluindo o quão enfurecido podia sentir-se. Agarrou o animal quando este começou a escalá-lo como no tronco de uma árvore, e Sesily imediatamente gritou: — Não! Não o machuque! E então estava o suficientemente perto para tocá-lo. E depois o estava tocando. Como se alguém pudesse fazer a eliminação de garras, com um toque. Caleb estava sentindo algo, tendo em conta que os suaves movimentos e os tranquilizadores estalos de língua que Sesily oferecia à pequena besta, lhe dava vontade de arranhar algo, ele mesmo. Tinha que afastar-se dela. O qual era difícil, já que tinha um gato agarrado a ele. Finalmente, ela embalou o animal em seus braços, e, além do sombrio ciúmes que sentiu pela maldita criatura, Caleb escutou a risada em sua voz.


— Ele gosta de você. Ele encontrou seu olhar. Eu gosto de você. Bem, certamente não iria dizer isso. Então se decidiu por: — Mmm. E por que ele está em minha carruagem? Ela levantou um ombro e o deixou cair, seus lábios se torceram com diversão. — Por minha avançada idade, às vezes esqueço onde deixei as coisas. Esta mulher era um problema. Do tipo que não tinha tempo ou inclinação. — Assim que este era seu plano? Que seu gato me atacasse e esperar o melhor? Ela piscou, seus grandes olhos azuis fazendo com que ele quisesse beijá-la sem importar as consequências. Entretanto, esse era o problema. Definitivamente haveria consequência. — Está funcionando? — Não. — Muitas consequências. Arrumou sua bolsa na carruagem e fechou a porta. — Solteirona ou não, Lady Sesily, quer amor. E sei que é melhor não me aproximar disso. Com ou sem seu gato de ataque. Pensou que ela pudesse negá-lo, mas pelo que parecia Sesily Talbot não esperava nada, e certamente, e sobretudo, quando se tratava de despedaçar os homens. — Sabe, Caleb — disse em voz baixa, seu nome em sua língua era uma arma. — Se decidisse me seduzir… — Afastou-se dela, incapaz de permanecer quieto enquanto falava, enquanto as palavras gravavam imagens sobre ele, imagens que sabia que não deveria gerar e que não


poderia resistir. Quando terminou a frase, foi com um sorriso nas palavras — …bem, o veria tão claro como eu. Ele se virou como se estivesse sob um maldito feitiço, só para descobrir que ela tinha recuperado seu preguiçoso lugar contra sua carruagem. Arruinando-o, para sempre, porque nunca seria capaz de olhar essa porta sem pensar no momento em que Sesily Talbot, envolta em um pôr-do-sol, tinha-o acossado a fundo, mesmo quando permanecia completamente relaxada contra o lado de sua carruagem, como se não tivesse outro interesse nesse momento que não fosse o de brincar com ele. — O que veria? E logo ela sorriu, e não era a forma como sorria quando flertava. Não era a forma como sorria no jantar ou quando jogava na grama. Era privado. Pessoal. Como se somente estivesse sorrido para ele. Como se fosse seu próprio maldito sol. E quando falou, foi com perfeita simplicidade. — Você sabe… quão bom seria. Sentiu que sua mandíbula caía e não pôde evitá-lo, nem sequer quando ela, sem duvidar e com o gato em suas mãos, deixou-se cair em uma perfeita e pura reverência que o fez ter pensamentos sujos e impuros. Quando se ergueu por completo, disse: — Que tenha uma boa viagem, senhor Calhoun — girando e dirigindo-se para a casa com longas e frouxas pernadas. Sem preocuparse sequer por ter destruído um homem tão somente dez segundos antes. Cristo. Passaria o resto da noite imaginando "quão bom seria", como ela havia dito. E sofreria pelo desejo que não cederia até que voltasse com ela e a tirasse de seus pensamentos. O qual nunca aconteceria.


****

Haven encontrou Sera na galeria além das janelas da biblioteca essa noite, depois que o resto das mulheres se retirou a seus aposentos. Estava sentada na parte superior dos degraus de pedra que conduziam aos jardins, onde tinham acontecido as Lawn Bowls na grama e as revelações dramáticas, com um copo em uma mão, um lampeão e uma garrafa de whisky a seu lado. A mulher que conheceu anos atrás, bebia champanhe e tinha escandalizado à sociedade com seus contos sobre os seios de Maria Antonieta moldados em vidro. Tinha bebido vinho e, de vez em quando, um pouco de xerez, embora recordava que mais de uma vez tinha enrugado o nariz ante o aroma muito doce. Nunca tinha bebido whisky. O whisky tinha chegado quando estiveram separados. E de alguma forma, mesmo agora que brindava com a escuridão, tinha-o sentido. Ela também tinha melhorado com os anos, como um bom whisky. Mais gostosa, mais morena, mais perfeita. Mais embriagadora. Os segundos se converteram em minutos enquanto Malcolm a observava, evitando a tentação de aproximar-se, escolhendo, em troca, guardá-la em sua mente. Sua bela esposa, a mulher mais linda que tinha visto em sua vida, enfrentando à escuridão do campo, vestida com um suave vestido de seda cor de berinjela, que no jantar brilhava à luz das velas e que agora se tornava negro à luz da lua. Doía-lhe o peito ante a visão dessa mulher, sua mulher, impressionante, estática e perdida em seus pensamentos.


Houve um tempo, muito longínquo, em que poderia ter ido sentar se a seu lado e lhe teria recebido bem. Um tempo em que ele não teria duvidado em interromper seus pensamentos. Para poder ser o centro dos mesmos. Mas agora, vacilava. Ela falou sem olhar atrás. — Tem um copo? A pergunta o despertou. Aproximou-se, sentando-se a seu lado nos degraus de pedra, como se não estivesse com roupa de dormir. Como se ela não estivesse rodeada em seda. — Não. — Olhou seu perfil iluminado pela lua. — Deverá compartilhar o seu. Olhou para baixo, o copo que se pendurava de seus longos e elegantes dedos e logo passou para ele. — Fique-o. Bebeu, incapaz de conter o fio de prazer que o percorreu pela familiaridade do momento. — Não pensei que você viria me procurar. — Não pensei que te encontraria sozinha. Ela olhou para ele por um instante, depois, voltando sua atenção para o terreno sombrio mais além. — Ou talvez tivesse convocado seu americano para te proteger? Ela soltou uma pequena gargalhada, sem humor. — Meu americano está a caminho de Londres. Sem dúvida para cuidar de sua taberna. Caleb Calhoun era muitas coisas, mas não era um mau homem de negócios.


— Ele deveria ficar ali. Sera ficou em silêncio, por tanto tempo que ele não pensou que responderia. Mas o fez. — Ele pensa que sou incapaz de arrumar tudo isso aqui. Suas sobrancelhas se levantaram. — Arrumar isso o que? — Contigo, imagino. — Eu preciso que arrume isso? Ela soltou uma pequena risada. — Honestamente, nunca sonharia tentá-lo. — Acredito que poderia, sem muita dificuldade. Observou a escuridão durante um longo momento e logo disse: — Caleb está disposto a ser o amante na petição de divórcio — ela adicionou. Mais tarde, ele odiar-se-ia a si mesmo por dizer: — É um bom amigo — em lugar de dizer: Não haverá um divórcio. — Ele é — respondeu ela. — Está disposto a fazer qualquer coisa por minha felicidade. — Ele não é o único. — Ela então o olhou, encontrando seu olhar, procurando algo. Finalmente, ela olhou para outro lado. — O que quer, Sua Graça? Queria tantas coisas que se surpreendeu com sua resposta. — Quero que não me chame Sua Graça. Ela se virou diante disso, seus olhos azuis cinzento na escuridão.


— Segue sendo um duque, verdade? — Nunca me tratou como a um. Um lado de sua boca se elevou em um pequeno sorriso. — Que tolo Haven. Não me deixou porque sabia muito bem sobre o valor de seu título? Odiou suas palavras. Odiava que inclusive nesta escuridão tranquila e privada, estivessem envoltos pelo passado. Mas, sobretudo, odiava a verdade nelas. Tinha-a deixado porque acreditava que ela se preocupava mais por seu ducado que com ele. Mas quando descobriu que não se importava por que o tinha apanhado, e sim, que somente importava que o tivesse apanhado, ela partira. E com ela, seu futuro. Finalmente ela falou, como se tivesse escutado seus pensamentos. — Não tinha a intenção de te apanhar, sabe? Não no princípio — Respirou fundo, olhando ao céu. — Essa é a verdade, se te importar. Ele deixou o copo e tomou o lampião enquanto ficava de pé, lhe estendendo uma mão. — Venha. Sua resposta foi tão cautelosa como o olhar que deslizou para sua mão. — Aonde? — Passear. — É muito tarde. — São dez em ponto.


— É o campo — replicou ela. — Se for de noite, estará morto. Ele riu disso. — Pensei que você gostava do campo. — A cidade tem seus benefícios. Eu gosto de poder ver as coisas que podem me matar na escuridão — disse com certeza. Recordou disto, da forma como brincava com ela. Como se nunca tivesse havido um homem e uma mulher tão bem emparelhados. — Há algo que teme, espreita sigilosamente na escuridão? — Poderia haver qualquer coisa. — Por exemplo? — Ursos. Ele franziu o cenho. — Passou muito tempo nos Estados Unidos, se acha que os ursos virão por você. — Poderia ocorrer. Ele suspirou. — Não. Realmente não poderia. Não em Essex. Mencione uma coisa que poderia te matar na escuridão de Essex. — Uma raposa zangada. A resposta chegou tão rápido que não pôde evitar sua risada. — Acredito que está a salvo. Não tivemos uma caçada de raposas em vários anos. — Isso não significa que as raposas não estejam procurando vingança por seus antepassados.


— As raposas estão mais gordas que as perdizes para terem muita ira. E se vierem por você, Sera, prometo te proteger… — Seus votos não foram muito prometedores no passado — disse, e notou a forma como ela tratou de evitar o final da oração, como se não tivesse querido dizê-lo mais do que ele tivesse querido escutá-lo. É óbvio, merecia escutá-lo. Ignorou o aguilhão das palavras e as enfrentou. — Esta noite, passarei uma nova página. Estendeu-lhe a mão outra vez, ela a considerou por um momento, antes de suspirar, recolher a garrafa, levantar-se e erguer-se magnífica. Então baixou a mão que ela não tinha tomado. — Não tenho o calçado apropriado. — Não estava planejando dar um percurso pelos pântanos — disse, descendo os degraus. — Não se preocupe, proteger-te-ei das criaturas nefastas. — Quem me protegerá de você? — Perguntou inteligentemente antes de adicionar: — E aonde me leva? — Vê? Não deveria ter caluniado tão rápido às raposas. Poderiam ter sido sua única salvação. — Então isso é tudo? — Perguntou enquanto partiam para seu destino. — Será você quem me faça morrer na escuridão da noite? Ignorou o comentário, diminuindo a velocidade para lhe permitir uma oportunidade de alcançá-lo. — Vamos ao lago. — Na escuridão?


Mal estendeu uma mão para a garrafa que ela sustentava. A entregou e ele bebeu profundamente, secando-a boca com a mão antes de dizer: — Estou agarrando o touro pelos chifres. Ela recuperou a garrafa. — Um de nós é um touro neste cenário? — Sabia que Lady Emily não toma sopa? Sera lhe lançou um olhar. — Perdão? Ele sorriu. Tinha-na. Sera nunca tinha estado interessada em outra pessoa. — Sentou-a junto a mim no jantar. Havia sopa, o que proporcionou uma conversa interessante. Sera piscou. — Não posso imaginar como. — Me acredite, eu também estava surpreso. Pensei que teria que evitar torpemente o assunto da saída brusca das Mayhew. De fato, os eventos da tarde não surgiram, graças à sopa. — Malcolm, me perdoe. Mas, está bem? — Estou-o, de fato. É a dama que parece um pouco… estranha. — Porque não tomou sopa? — Não era “essa” sopa. Qualquer sopa. Ela parou. Ele a tinha. — Não toma sopa?


— Isso é o que tratei que te explicar. A mulher não toma sopa. — Não toma? Não gosta? Ou ambos? — Isso é o que não posso entender. Não sabe se gosta, Seraphina. Nunca a tomou. Ela piscou. — Isto é uma espécie de brincadeira? Toma meu whisky, arrastame na escuridão e me conta histórias ridículas de pessoas que nunca tomaram sopa? Ele levantou uma mão. — Por minha honra, Sera, pelo pouco que você e suas irmãs acreditam que resta, Lady Emily nunca tomou sopa. Houve uma pausa, e Sera disse: — Como é possível? — Esse é exatamente meu ponto. Um batimento do coração. E logo, ela riu. Magnificamente, Como se o céu baixasse à terra, o som os envolveu, antes de estender-se na escuridão, Malcolm meio esperando que aparecesse um sol. Porque se sentia como o sol. E tudo o que queria era desfrutar dela. Inclusive enquanto a risada se desvanecia, dissipando-se em pequenas risadas entrecortadas, ela começou a caminhar de novo, e ele se uniu a ela, os dois em agradável silêncio pela primeira vez e possivelmente para sempre. E era glorioso. Talvez houvesse esperança, depois de tudo.


Subiram uma pequena colina, Malcolm a ajudou a atravessar um terreno rochoso, Sera tomou sua mão como se fosse a coisa mais natural do mundo, o calor o alagou ao tocá-la, junto com o desejo. E a esperança, uma palavra perigosa. Liberou-o no momento em que chegaram ao topo, e a decepção que sentiu por essa ação, foi intensa. Depois de um longo momento, ela se voltou, ele conteve a respiração, perguntando-se o que poderia dizer. — Acha que é mantimentos líquidos o que ela teme? A volta ao estranho tema de Lady Emily, provocou sua própria risada, alta e desconhecida. — Não sei. — Não lhe perguntou? — Ela negou com a cabeça com zombadora decepção. — Não. — Suponho que pensou que seria grosseiro bisbilhotar. — Eu sei que teria sido grosseiro bisbilhotar. Ela assentiu. — Tem razão, é óbvio. Mas realmente deveria haver um protocolo especial permitido para estes casos. Não havia se sentido livre assim em anos. Não desde a última vez que riram juntos. Antes que ficassem noivos. Então a culpa o golpeou. Tinha-lhe tirado tanto, tanta vida. Não era de estranhar que o tivesse deixado. Não era de estranhar que não desejasse voltar. Ele deveria deixá-la partir.


Mas é óbvio, não o faria. Sem dar-se conta de seus pensamentos, Sera adicionou: — Entre a sopa e as Lawn Bowls na grama, foi um mau dia para suas suplicantes, Duque. — Tem razão — disse, incapaz de ocultar sua frustração. — Enviemos todas para suas casas. — Por que faz soar como se eu fosse responsável por estas moças? Foi você quem planejou uma reunião no campo para encontrar a minha substituta. Você as convocou sem mim. Deveria ter estado aqui sozinho, de todos os modos, escolhendo a sua próxima esposa. Simplesmente estou presa aqui com elas. Não podia lhe dizer que estas moças tinham sido convocadas em um frenético período de vinte e quatro horas, imediatamente depois de sua decisão de recuperá-la. Não a deixaria feliz a revelação, isso sabia muito bem. — Eu posso ter cometido um erro de julgamento. Ela riu entredentes. — São mulheres encantadoras, Malcolm. Bons partidos. — Ele a olhou. — Uma nunca tomou sopa. Ela sorriu. — Pensa em como poderia mudar sua maneira de ver e interpretar o mundo! Não desejou que eu fosse menos mundana? Nunca. Nenhuma só vez.


— Ah sim — disse, ignorando o pensamento. — Que encantadora base para um matrimônio, poderia ser uma sopa. Ela riu disso, e logo disse: — Ela não seria sua eleição, de todos os modos. Nunca iria sê-lo. É óbvio que não. Nenhuma delas seria. — Estou bastante seguro de que Felicity Faircloth preferiria ter seu americano que a mim. Sera não duvidou. — Ele não é meu americano, e você sabe. Ele sabia. Sera nunca lhe teria permitido tocá-la se estivesse comprometida com Calhoun. Mas isso não significava que... Antes que pudesse pensar, Malcolm perguntou: — Ele a teve alguma vez? — Importa-se? — Perguntou ela, enquanto olhava seus pés movendo-se através da erva — Importaria se tivesse havido uma dúzia? — Não lhe deu tempo para responder — É óbvio que se importaria. Este é o mundo no que vivemos, onde devo seguir sendo casta como uma monja, e você… é bem-vindo a fazê-lo com todas — Fez uma pausa, recuperando a calma. Logo, disse brandamente: — Ele nunca foi meu. Mesmo se eu pudesse amá-lo… ele merece filhos. Malcolm não duvidou. — Seu amor seria suficiente. Ela guardou silêncio durante um longo momento, enquanto procurava as palavras corretas, em vão. Depois levantou a garrafa e bebeu.


— Não importa. — Importava. Importava mais que nada, e de alguma forma, como todas as coisas que importam muito, não podia encontrar as palavras para dizê-lo. — E você? — Perguntou ela — Quantas "americanas" tiveste? Ele disse a verdade. — Uma. A que você presenciou. Ela riu então, oca e tão diferente da felicidade anterior que sentiu o som como um golpe. — Devo acreditar nisso? — Não espero que acredite — ele disse. — Mas é a verdade. — Esse é o problema com a verdade; muito freqüentemente deve confiar na fé para alcançá-la. — E não tem fé em mim. — Lamentou as palavras no momento em que as disse, desejando imediatamente poder recuperá-las. Ele não queria que respondesse. O silêncio que se estendeu entre eles como resultado de suas palavras, era bastante claro sem sua resposta. Sem mencionar que não era nada surpreendente. E logo disse, tão suave que quase parecia que estava falando com outra pessoa, — Deus sabe que quero. — Foi uma vez, Sera. Uma única vez. — Tinha a intenção de me castigar — respondeu, as palavras simples e vazias de emoção, enquanto olhava para o lago que abaixo se estendia como tinta negra. A contrição e a vergonha o queimaram. Quantas vezes as havia sentido? Quantas vezes o tinham consumido na escuridão, enquanto a


buscava? Mas nunca as havia sentido assim. Sem ela, tinham sido uma emoção vaga, ondulante, presente, mas nunca verdadeiramente forte. Mas agora, frente a ela, com a aceitação tácita de seu passado, de suas ações e de seus erros, eram um golpe perverso e malvado. Que fodido asno tinha sido — Não posso voltar o tempo atrás. Se houvesse alguma forma, fálo-ia… — Sera soltou o fôlego como uma corrente de frustração e então disse: — Me diga, foi o ato o que não te orgulha? Ou as conseqüências dele? Então se voltou para ela, incapaz de encontrar as palavras adequadas para responder. — As consequências? — Minha irmã o atirou sobre seu traseiro frente a toda Londres, Malcolm. Não se importou com nada e castigou toda a família depois disso. A vergonha de novo, crua e ardente, junto com um instinto agudo de amparo para defender-se de suas ações. Mas não havia defesa possível. Nenhuma digna do que tinha feito. Nenhuma que tivesse eliminado seu pesar por isso. Sinto muito, seria um escapamento simples. — Receberia o ataque de Sophie cem vezes mais. Mil. Se pudesse apagar o resto daquela tarde. Sera guardou silêncio, e Malcolm teria dado qualquer coisa por saber o que estava passando por sua cabeça. Finalmente, ela disse: — Como eu, ironicamente.


Ele

fechou

os

olhos

na

escuridão.

Tinha-na

machucado

abominavelmente. Estiveram em silêncio por um longo momento enquanto considerava suas seguintes palavras. Mas antes que pudesse encontrá-las, ela disse: — E o que faria de todos os anos após? Ele a olhou, a escuridão de alguma forma, liberava-o. Fazendo-o honesto. — Também os apagaria se pudesse. Ela se voltou para ele, lenta e brandamente, como se discutissem sobre o clima. — Eu não o faria. — A dor que acompanhava à confissão era esmagadora, negra como a água que se estendia diante deles, eterna como o silêncio que acompanhava. Finalmente, Sera olhou para o céu iluminado pelas estrelas e disse: — Então, este era seu plano? Me trazer para escuridão e me fazer recordar o declive de nosso matrimônio? Ele exalou, olhando à água, negra e brilhante à luz da lua. — Não era, de fato. — Começou a descer para o lago, enquanto dizia: — Tinha planejado te mostrar algo. A curiosidade se apoderou dela, como sempre. — O Que? Ele poderia afastá-la das lembranças do passado? Levá-la para algo um pouco mais prometedor? Valia a pena tentá-lo. — Venha e olhe. Durante um longo minuto, não a escutou, e se armou de coragem para o pior, a possibilidade de que não houvesse esperança para eles.


E logo suas saias rangeram na erva.


Capítulo 18 Arquitetura espetacular submersa: Refúgio secreto de Highley. — Isto é belo. — Sera estava parada dentro de uma pequena e impressionante estrutura de pedra, rodeada de seis janelões de vidro, que representavam uma série de mulheres em vários estados de celebração, rodeadas de estrelas formadas por pedacinhos de vidro incrustados na pedra a seu redor, como se dançassem no céu noturno. Malcolm estava a seu lado, com o lampião no alto, revelando as gloriosas estrelas de pedra e o céu que subia pelas paredes entre as janelas e se estendia através do teto abobadado. Sera inclinou a cabeça para trás para contemplar a lua e o sol em pleno relevo quando ele disse: — Os janelões são mais belos à luz do dia, obviamente. Ela o olhou. — Acredito-te. Não tinha sabido o que esperar quando o seguiu, com um lampião na mão, enquanto descia pela ladeira até a borda do lago. Nem sequer deveria havê-lo seguido, porque qual era seu objetivo? Passar tempo com ele somente ressuscitava o passado em formas que nunca mais desejava voltar a fazer. Passar tempo com ele somente lhe recordava que uma vez tinha querido passar toda uma vida a seu lado.


E mesmo assim, tinha-o seguido, na noite, atraída como uma mariposa pela chama. E, como a uma mariposa, o fogo dele ameaçava consumi-la . Como sempre. Nunca tinha estado nas terras de Highley; ele tinha falado do lago uma dúzia de vezes, ocupava um lugar importante nas histórias de sua infância, mas nunca tinha tido a oportunidade de vê-lo. E agora, enquanto olhava uma das mulheres, cada uma tão belamente esculpida que parecia como se estivessem presas no vidro, Sera se perguntou por que não a havia trazido aqui, a este belo lugar que dava ao lago. Ela o olhou: — Quem são? Vacilou, apenas um momento, nem sequer o suficiente para que outro o notasse. — As Plêiades. As Sete Irmãs, filhas de Atlas. Ela olhou para as janelas, contando. — Só há seis. Ele assentiu e se voltou para o centro do quarto, onde havia um corrimão circular de ferro forjado. Abriu uma porta incrustada no corrimão e agitou o lampião para a profunda escuridão de abaixo. — A sétima está debaixo do lago. Sera se moveu para ele, segura de que tinha escutado mal, seu olhar se fixou na escada que se internava naquela terrorífica escuridão. E ficou paralisada. Não havia luzes abaixo, os primeiros degraus davam passagem a uma espantosa escuridão. Olhou para trás para Malcolm. — Não vou entrar ali.


— Por que não? — Bem, antes que nada, porque a parte "debaixo do lago" soa terrivelmente sinistra e, em segundo lugar, porque está mais escuro que a meia-noite e não sou imbecil. Seus lábios se crisparam em um pequeno sorriso. — Estava planejando ir diante de você. Ela sacudiu a cabeça. — Não obrigada. Estarei bem aqui. Ignorou-a, voltou-se para a parede, tomou uma tocha apagada, abriu o lampião que levava e a acendeu com uma habilidade impressionante. Sera retrocedeu um passo quando a levantou por cima de sua cabeça, projetando em seu rosto uma luz brilhante e sombras nítidas. — Se pensa que uma tocha em chamas me fará sentir mais disposta a ir ali, está muito equivocado — ela disse. Ele riu. — Não confia em mim? — Não sei, de fato. Ele ficou sério. Ou talvez fosse um truque da luz em seu rosto, fazendo-o parecer como se nunca tivesse sido mais honesto que nesse momento. — Manterei-te a salvo, Sera. Antes que pudesse responder, antes que pudesse deter o instante e o pânico refletido nos vertiginosos batimentos de seu coração, Malcolm


tinha partido, sendo devorado pela escuridão. Ela chegou a bordo do corrimão, e observou enquanto a luz dava voltas pelos estreitos degraus. — Que tão abaixo chega? — gritou para o abismo. — Não se preocupe, Anjo, não te levarei ao inferno. — De todos os modos, prefiro não seguí-lo — respondeu-lhe. — Pense em si mesma como Perséfone23. — É verão — replicou ela enquanto uma luz cobrava vida, revelando o final da escada. — Perséfone estará sobre a terra em setembro. Ele olhou para cima, com seus belos olhos que pareciam negros na escuridão e com um amplo sorriso em seu rosto. — Seguir-me-á. Ela soltou uma pequena risada. — Não tenho ideia por que pensaria isso. — Porque isso é o que fazemos, — ele disse, — seguimo-nos na escuridão. — E logo passou através de uma porta escura e fora da visão. E maldita fosse se ele não tinha razão. Seguiu-o, levantando as saias e avançando lentamente pela sinuosa escada, resmungando pelas más decisões e os irritantes duques durante todo o caminho. Quando chegou abaixo, levantou a vista, a abertura circular na parte superior das escadas estava a grande distância, os janelões na pedra e as partes de vidro picado pareciam, de repente, como se fossem um friso pintado no teto, em lugar de uma sala inteira.

23

Perséfone: filha de Zeus e Deméter. A jovem donzela, é raptada por Hades que a obriga a casar-se com ele, e se converte na rainha do submundo.


Era uma arte linda, um domínio da perspectiva como ela nunca tinha visto alguma vez. O ar fresco zombava de suas saias, e era bem-vindo a parada do enjoativo calor de acima. Isso consolou Sera por um momento, antes de dar-se conta de qual era a razão de uma temperatura tão confortável. Estava no subsolo. A idéia a fez olhar para a porta em forma de lágrima por onde Haven tinha desaparecido. Ali estava ele a pouca distância, parado com a tocha na mão e um grandioso sorriso em seu belo rosto. — Disse-te que me seguiria. Ela franziu o cenho. — Posso partir fácil. Ele sacudiu a cabeça. — Não se quer vê-la. — Agitou sua luz mais profundamente no espaço, revelando o que parecia ser um túnel estreito, em forma de lágrima, trabalhado por todos lados com o mesmo motivo que o quarto de acima, céu escuro e uma paisagem estelar com pedacinhos de vidro, assemelhando ao céu noturno. Seus olhos se arregalaram. — Até onde chega? — Não muito longe — disse. — Tome minha mão. Ela não deveria. — Não.


Parecia que queria discutir, mas em troca assentiu e seguiu adiante, acendendo outra tocha fixa na parede, e logo outra, cada uma revelava alguns metros mais do túnel. — Estamos sob o lago? Outra tocha. — Estamos tecnicamente dentro do lago. — Por que? E outra: — Conhece a história das Plêiades? Havia momentos em que podia esquecer que Haven era um duque, e momentos nos que seu passado, criado em um constante capricho aristocrático, demonstrava-o sem lugar a dúvidas. Invariavelmente, esses momentos eram os deste tipo, quando ignorava as perguntas e trocava de assunto sem desculpar-se. Não ocultou sua irritação. — Sei que eram irmãs e que eram filhas de Atlas. Outra luz brilhou ganhando vida. — E uma vez que Atlas foi castigado e forçado a manter a terra separada do céu por toda a eternidade, elas ficaram sozinhas, sem ninguém que as protegesse de deuses ou homens. Sete irmãs. Tendo somente uma à outra. Não gostou da sutil coincidência que atravessava suas palavras. A familiaridade da história: seu pai, feito aristocrata sem prévio aviso, ela e suas irmãs se meteram no mundo da aristocracia londrina sem ajuda. Nunca aceitas por suas baixas raízes, nunca admiradas pela forma em que tinham conseguido sua ascensão à aristocracia. Afetou uma bravura falsa a suas palavras.


— As irmãs perigosas devem permanecer juntas. — Algumas mais que o resto. — Uma labareda laranja, projetou-se sobre os ângulos e sombras de seu sério rosto. Continuou, sua voz baixa e sombria como o interminável corredor em forma de lágrima. — As seis Plêiades mais velhas, eram lindas, e cada uma seduziu um deus. Cada uma casada no céu. Mas a mais jovem, Mérope, a mais bela, a mais graciosa, a mais valorada, chamou a atenção de um pretendente perigoso, alguém nascido na terra. — Não é sempre assim? Suas irmãs obtêm o que desejam seus corações, e ela obteve um simples mortal. — Outra tocha. Este túnel era interminável. — Estamos cruzando todo o lago debaixo d'água? Como se ela não tivesse falado, ele continuou: — Não era um simples mortal. Orión era o melhor caçador que o mundo já tenha conhecido, e perseguiu Mérope implacavelmente. E ela foi seduzida. — É óbvio que sim. Tenho certeza de que era bonito como o demônio. — Era, de fato. — Ah… então ele estava escutando. — Ela fez todo o possível por esconder-se dele, sabendo que não havia esperança para eles. Ela também estava escutando, as palavras "não havia esperança" cravaram-se com uma forte dor em seu peito. — Amparou-se em suas irmãs, que se uniram, como somente as irmãs podem fazê-lo, para protegerem a mais nova do caçador mortal que nunca seria o suficientemente bom. Começaram por cegá-lo...


— E você que pensou que minhas irmãs eram más. — Acendeu uma tocha final, revelando outra porta escura, como insinuação de algo mais à frente. Um lado de sua boca se inclinou, inclusive enquanto permanecia emoldurado na escuridão, olhando-a . Parecia uma espécie de deus, um deus moderno. Alto e belo, com um rosto cinzelado em mármore, ainda mais divino à luz piscante da tocha que sustentava, como se pudesse invocar as chamas a vontade. — Sua cegueira não foi dissuasiva. Era um mestre caçador, criado assim pelos próprios deuses. E então perseguiu Mérope, cada vez mais desesperado pelo que poderiam chegar a ter juntos. Pela possibilidade de um futuro. — Qualquer um pensaria que, por seu claro desinteresse, ele deveria tê-la deixado. A resposta foi mais grunhidos que palavras. — Ah, mas não era desinteresse. Era medo. Medo do que poderia ter sido. E, como ele era um mortal, ela tinha medo do que sem dúvida perderia se sucumbisse. Seu coração. A ele. Sera permaneceu em silêncio, e ele continuou, suas palavras suaves e claras neste íntimo espaço deserto. Eram tão secretas como o lugar em si mesmo. — Orión não temia à cegueira. Somente temia não encontrá-la jamais. Nunca teve a oportunidade de convencê-la de que eram um para o outro. Mortal ou não, ele poderia lhe dar tudo. O sol, a lua e as estrelas.


— Exceto que não pôde — sussurrou Sera. Ele vacilou ante as palavras, e ela notou seu punho apertado ao redor do cabo da tocha, a forma em que a luz tremia ali, no corredor fracamente iluminado, como se suas palavras pudessem manipulá-lo. — As irmãs se aproximaram de Ártemis, a deusa dos caçadores, pensando que ela dissesse a Orión que abandonasse sua busca, ele a escutaria. Em troca lhe prometeram sua lealdade. E então Ártemis o buscou. — Mas ele se negou — disse ela, de repente sabendo a história sem havê-la escutado. Aproximou-se de Malcolm, desesperada para conhecer o final. Intuindo que seria trágico. Querendo que fosse feliz. — É óbvio que se negou — disse Malcolm, aproximando-se dela. — E esse foi seu erro. — Nunca desafie uma deusa — sussurrou Sera. Ele

então

soltou

uma

pequena

gargalhada,

e

os

anos

desapareceram como as rugas nos cantos de seus olhos, sua risada a atraiu, fazendo com que desejasse a forma em que esses olhos a viam, conheciam-na e a evidenciavam. — Como se eu mesmo não tivesse aprendido essa lição. Ela escutou suas palavras e olhou seus lábios, a lembrança de sua suavidade e sua força a assaltou. E se o beijasse? Não como o tinha feito a última vez, com irritação e frustração. Com prazer. O que aconteceria se beijasse esse sorriso? Poderia apanhá-lo? Guardar-se para ela, por todos os momentos que esteve sozinha e que desejou poder recordá-lo? Não.


— Me conte o resto. Ele levantou sua mão, seus dedos junto com seu olhar se moviam sobre sua pele sem tocá-la e a espera a consumiu pela promessa não cumprida. — Ártemis procurou Zeus, pai dos deuses e dos homens, que governava os deuses do Olimpo. Isso não acabaria feliz. Malcolm respirou fundo e exalou. Sera sentiu o ar quente em sua têmpora. Doendo-lhe. — E lhe pediu que ocultasse Mérope. Para castigar o homem. Para castigar os dois. — Como? O olhar de Mal permaneceu paralisado em seus dedos, a nos fios de cabelo que caiam em sua bochecha. — Primeiro, converteu-a em pomba. Ela ficou sem fôlego, e ele então a olhou, como se soubesse o que estava pensando. Ela também tinha sido convertida em uma pomba. E não tinha sido suficiente para esconder-se dele. Mas Malcolm não sabia que Sera tinha sido uma vez uma pomba. — Mas encontrar sua pomba não foi um desafio para Orión, nem sequer cego. Nem sequer zangado. Ele conhecia sua canção. Não significava nada. Era só uma história. — Além disso, como pomba, Mérope estava angustiada. As pombas, como você sabe, emparelham-se com o mesmo par por toda a vida. E ao lhe pedir que a salvasse de uma vida com um mortal, Ártemis tinha submetido a sua protegida ao pior tipo de dor: a dor da saudade por seu


companheiro. Orión sabia, e não descansou, negando-se a deixar de procurá-la. Viajou aos limites da terra para encontrá-la. Para amá-la. — Ele a olhou em silêncio, e passou um longo momento antes que dissesse: — E a procurou. Seu fôlego era superficial e incômodo, Malcolm nunca a tinha encontrado. Nunca a tinha procurado. Ela o tinha encontrado. No Parlamento. Já não era uma pomba em busca de um companheiro, a não ser uma Sparrow em busca de sua liberdade. — O que aconteceu? — Perguntou. — Quase a encontrou. Estavam quase reunidos. A tristeza a percorreu e disse: — Não era o suficiente. Seus dedos finalmente, assentaram-se como um beijo em sua bochecha. Ligeiro, perfeito e efêmero. — Nunca desafie a uma deusa. Ártemis voltou a procurar Zeus. Sera exalou, odiando a forma em que sentia falta desse fugaz toque... ali, em sua bochecha. — Maldito Zeus. — Zeus concedeu a Ártemis seu desejo. — Mas não da maneira que alguém quisesse. Mal se virou. — Sem dúvida, não na forma em que eles queriam. — Entrou no quarto escuro que estava mais à frente, e Sera o seguiu como se


estivessem unidos por uma corda, desesperada para conhecer o final da história. Ele cruzou o quarto, com a tocha na mão, um atoleiro de luz seguindo-o, mantendo-a a salvo da escuridão mais à frente. A escuridão que a consumia. — Mérope não estava destinada a casar-se com um deus, mas Zeus, entretanto, colocou-a nos céus, junto com suas irmãs. — As palavras ressonaram no quarto, instantaneamente inquietando-a por seu forte som oco que reverberava contra as paredes. Ele deu a volta em um círculo

completo,

olhando

para

cima,

desconcertada

por

sua

incapacidade para situar-se no espaço. E Malcolm continuou: — Colocada no firmamento. Olhou para ele e viu dois dele, de costas para ela e seu reflexo na parede do quarto do outro lado. Era um espelho imenso. Uma cúpula de espelhos. Buscou-o, olhou-o no espelho, seus olhos negros enquanto levantava sua chama para acender outra tocha no outro extremo da quarto. — E Orión, desesperado para estar perto dela, suplicou para unirse a ela. Acendeu outra tocha no extremo oposto do quarto. Não eram espelhos. Vidro. Acendeu outra. E outra, até que finalmente colocou sua tocha em um lugar perto da porta do quarto, os reflexos de luz se irradiaram no quarto, banhando-os no resplendor dourado de cada peça de vidro grosso e temperado, interrompido por ferragens de uma qualidade que Sera nunca tinha visto. E ali, no chão, estava a irmã desaparecida da pracinha de acima, Mérope, maciça e gloriosa, retorcendo-se em um impressionante mosaico de azulejos.


E mais à frente do cristal, a água, iluminada pelas estrelas com a tocha de seu esposo. As palavras de Haven interromperam seu assombro. — Assim é como Orión a persegue. Para sempre. Sera foi consumida nesse momento por todas as coisas que não deveria fazer. Não deveria haver ficado, mas como não poderia havê-lo feito? Ela estava agora no centro de um éden sob a água, como algo saído de um mito que ele acabava de lhe sussurrar. Entretanto, ficar era uma coisa, mas avançar para ele era outra completamente distinta. Tampouco deveria ter feito isso. Deveria haverse mantido firme em um extremo do magnífico espaço, recuperando o sentido e lhe dizendo, categoricamente, que deveria convidar às candidatas restantes a ser sua substituta, a virem aqui, para ganhar seus corações e suas mentes. Porque sem dúvida, este lugar era o suficientemente mágico para fazer isso a quase qualquer pessoa. Provavelmente por isso Sera se moveu para ele, surpreendida por este lugar que nunca tinha imaginado, que mal podia imaginar que estava dentro dele, intoxicada por sua magnificência. Resistiu à ideia que ele devia mostrar às outras este lugar, odiava a ideia de compartilhá-lo com elas, odiava a ideia de que vissem esta versão dele, manipulando a água e o ar com sua força e propósito. Força e propósito que a tinham intoxicado antes. E que ainda a embriagavam. Deteve-se a escassos centímetros. O suficientemente perto para que, se ele desejasse, pudesse estender a mão e tomá-la em seus braços. Se ela desejasse, poderia estender a mão. E tomá-lo. Não é que quisesse. Mentirosa.


Sacudiu sua cabeça. — Este lugar… Não tinha palavras para expressar o que este lugar lhe produzia. O que suas palavras tinham produzido nela. Este lugar era um mito feito carne, colocando-a no firmamento, certamente como se ele fosse Zeus. É óbvio, ele não o era. — Construí-o para você. — A confissão foi tão suave que quase não a escutou, mas em seguida veio mais, uma rajada de palavras que soltou antes que pudesse deter-se — Construí-o para que houvesse algo para você quando retornasse. Alguma coisa… nova. Algo que não tivesse sido quebrado pelo passado. Como que tinha perdido. Sua filha. Seu futuro. A tristeza chegou como um golpe e ela fechou os olhos, antes de tomar uma respiração profunda e olhar para a magnífica cúpula, centenas de quadrados de vidro negro que a refletiam. Convertendo-a na luz das estrelas. E a ele, também, a parte superior de sua cabeça se refletia dúzias de vezes, seus cachos de mogno era o único que podia ver enquanto falava, as palavras sussurradas ecoando a seu redor em uma perfeição acústica. — No dia em que terminou, fiquei aqui, sozinho, pensando em você. — Então levantou o olhar para o espelho negro perfeito da cúpula, encontrando seus olhos imediatamente. Mantendo sua atenção enquanto dizia. — Sonhei contigo aqui. Na canção... Ela girou seu olhar para ele, sem a segurança do espelho. — Construiu-me um cenário. Levantou um ombro e o deixou cair.


— Você adorava cantar — ele disse, simplesmente, como se fosse suficiente. — E eu adorava te escutar. Sabia o que ele queria. Podia escutar o eco da canção em sua cabeça que tinha cantado há uma eternidade para ele. Antes que suas mães tivessem chegado e ele tivesse descoberto seu tolo plano, um que tinha sido tão infame como errôneo. E maldita se ela não o quisesse também. — Eu sinto falta. — Me ouvir cantando? Cantando para você. A ideia a surpreendeu e procurou uma resposta diferente. — A atuação se converte em vício. Alguém se encontra ansiando por aplausos como amostra de afeto. Desejando canções, como ar para respirar. — Seu coração começou a pulsar com força e imediatamente lamentou as palavras. Conhecia bem seu desejo. Quanto tempo tinha sonhado com este homem? — E assim nasceu o Sparrow. Ela assentiu. — Cantando, encontro liberdade. — Está tão enjaulada? Somente está aqui há três semanas. Eu estou aqui há três anos. Não deu voz às palavras, mas sim disse: — Três semanas sem aplausos é uma eternidade, Sua Graça. Por um momento, pensou que ele brigaria, empurrá-la-ia à seriedade.


Mas em troca, deu um passo atrás e disse: — É óbvio, então, cante. — E aplaudirá? — Já veremos. — Era magnífico em sua arrogância, sempre tinha sido capaz de ganhá-la com isso. Ela sorriu e levantou as saias, mostrando seus tornozelos enquanto fazia uma pequena inclinação. — Longa vida às mulheres, lindas pernas ao piso. Longa vida a duquesa, ao Sparrow, ao... Ele fechou os olhos antes dela chegar ao final da oração, e se deteve, a última palavra flutuando entre eles, primeiro uma brincadeira, logo uma espetada, e se arrependeu de evocá-la, essa palavra que tinha flutuado entre eles antes, muitas vezes. Deixou cair suas saias, e Malcolm abriu os olhos quando o som se apagou. — E então? Aprova este espaço? Tinha construído este lugar para ela, ele afirmou. Para o futuro e não para o passado. E embora soubesse que era impossível esquecer o passado que os separava, encontrou-se achando capaz de tentá-lo. Ela assentiu. — É perfeito. — Você cantaria para mim? Ela sabia que ele queria. — Não acredito que seja uma boa ideia. — Provavelmente não — ele disse. — Mas isso não muda o desejo.


E assim, deu-se conta de que ela também o queria, como se cantar a canção que lhe tinha cantado anos atrás, de alguma forma a liberasse. Liberando-os. Para algo novo e fresco. Não a tinha cantado em três anos. Não desde que a tinha cantado a ele. Mas recordava cada nota, cada palavra, como se fora uma prece. E talvez o era. Possivelmente poderia exorcizar o passado com isso. Fechou os olhos e cantou, forte e livre, a perfeita cúpula, enviando o som de volta para eles. — Aqui jaz o coração, o sorriso e o amor, aqui jaz o lobo, o anjo e a pomba. Deixou de sonhar e colocou de lado os brinquedos, e nasceu nesse dia, no coração de um menino. Quando abriu os olhos, ele a estava olhando com um prazer brilhante, a cor em suas bochechas e a respiração forte. Aproximou-se dela, as últimas notas formaram redemoinhos a seu redor, e estendeu a mão, empurrando um cacho solto detrás de uma orelha. Deveria haverse afastado, mas estava fascinada com sua cercania. Tão decidido — Diga-me, Seraphina. Se não houvesse ninguém, nenhuma irmã, deus ou deusa, nenhum americano para te proteger, nenhuma aristocracia que observe e julgue. O que faria se te perseguisse? Seus olhos se escureceram com suas palavras e ela não pôde afastar o olhar. Quantas vezes lhe tinha falado assim? Poesia líquida e lânguida? Quantas vezes tinha sonhado com ele? Ele seguiu adiante. — Se te prometesse o sol, a lua e as estrelas? Se prometesse sempre te caçar, voaria? Ou escolheria que a apanhasse?


Estava o suficientemente perto para poder ceder. Para poder alcançá-lo e pressionar seus lábios contra os seus. Para poder atirar a precaução ao vento e tomar o que ele oferecia. Assim ele poderia apanhá-la. Mas Malcolm não o faria, não sem seu consentimento. — E se eu pudéssemos recuperá-la, Sera? — O sussurro a destruiu, a dor nas palavras, correspondia-se com a dor em seu peito — E se pudéssemos começar de novo? Ela sacudiu a cabeça. — Nunca deveria haver me trazido aqui. Ele deu mais um passo para ela. Ignorando suas palavras. — Você aceitaria? Ela engoliu saliva, sabendo que não deveria. Ele viu a vacilação. inclinou-se ainda mais, sua força de vontade não lhe permitia beijá-la. Como se detinha quando notava que tudo o que ela queria era que a deixasse partir? Ele se detinha por ela. — Me tome, Anjo. Uma vez. Só desta vez, e depois o deixaria. Permitir-lhe-ia encontrar uma nova esposa. Poderia perseguir sua liberdade. Mas desta vez, somente desta vez, tomaria o que ele lhe oferecia. O que desejava. Logo o tiraria de sua mente para sempre. Uma única vez.


Ela ficou nas pontas dos pés, fechando a distância entre eles enquanto Malcolm sussurrava, mais um sussurro do que som, duas palavras devastadoras, duas palavras que ressonavam em seu coração. — Por favor.


Capítulo 19 Haven fisgado pela caçadora. Não havia nada suave na forma em que se agarraram, nada silencioso ou vacilante. Fundiram-se entre si como se a cúpula a seu redor pudesse implodir e despedaçá-los, e se este fosse seu último momento juntos, por que não deixá-lo ser de fogo e paixão, sem arrependimento? Por que não ter um único momento em que não houvesse nada entre eles, sem armadilhas, sem irritações, sem frustrações ou súplicas por algo mais, nada entre eles, somente o desejo que sempre os tinha consumido? O prazer que sempre haviam sentido? As mãos de Sera estavam instantaneamente no cabelo de Mal, enroscando-o entre seus dedos e atraindo-o para ela. Enquanto seus lábios estavam abertos para ele, sentia as forquilhas, voando pelo cabelo que se esparramavam soltos ao redor de seus ombros, antes que os fortes braços a rodeassem, levantando-a e esmagando-a contra ele e roubando sua respiração. Como ela roubava o dele, como ela o reclamava. Houve uma época, há muito tempo, em que o teria seguido aonde ele a conduzisse. Mas não agora, não quando tinha sonhado com ele durante tanto tempo e não agora que ela tinha mudado tanto. Agora, ela era igualmente como ele. Ambos se conduziam, ambos se seguiam. E era glorioso.


As mãos de Malcolm estavam desatando os laços de seu corpete, enquanto ela começava a trabalhar em seu casaco, deslizando-o por seus ombros. Ele fez uma pausa em seus laços, somente para arrojar a peça através do quarto, sem sequer liberá-la de seu beijo. Suas mãos já estavam percorrendo a frente de sua camisa, deleitando-se com o duro e quente peito musculoso que e apreciava por debaixo, enquanto ele continuava puxando os laços de seda que os mantinham afastados. Depois de um longo momento, ele separou seus lábios dos dela. Então, embriagada pelo beijo e desesperada para que a tocasse de novo, abriu os olhos. Agora era sua vez de suplicar. Quando o fez, sentiu seu desejo estremecendo através dele. Com uma sonora maldição, ele agarrou a borda do tecido onde os laços pareciam resistir, então puxou, forte e rápido, fazendo com que as finas tiras de seda já não fossem necessárias, já que o tecido se partiu em dois e a deixou exposta. Outra maldição. Talvez dela, já que estava perdida em seus gemidos quando sentiu seu calor corporal colado contra ela e então voltaram a beijarem-se, larga e desesperadamente, repletos de tudo o que tinham passado anos negando. Logo ele afastou os lábios dos seus e os passou por sua mandíbula, sua bochecha, sua orelha, pela coluna de seu pescoço, lhe dizendo todas as palavras que sempre tinha sonhado ouvir, perversas e maravilhosas. — Sofri por você por tanto tempo — confessou sobre sua pele, os lábios brincando com os lugares secretos que somente ele tinha tido acesso uma vez. — Sempre foi você, todas as noites, Anjo. Sua língua desenhou um pequeno círculo onde o pescoço se unia com o ombro, e quando ela ficou sem fôlego, disse-lhe:


— Permaneci acordado todas as noites, com visões de você me atormentando, até que não tive outra opção… — deteve-se, seus lábios se deslizaram para baixo em direção aos seus seios até o lugar onde se encontravam com a parte superior do espartilho. — Visões de sua pele, com sua perfeição; com seus lábios belos; com seus olhos profundos como o pecado; de seus seios… — então estava ali, liberando-os de seu espartilho, deslizando seus lábios sobre a pele delicada que estava desesperada

por

seus

beijos,

desenhando

círculos

pequenos

e

zombadores ao redor de seus mamilos. — Antes você gostava quando eu te chupava aqui — sussurrou, as palavras enviaram calor e um intenso desejo percorreu seu corpo. — Faça-o — ela sussurrou. — Tudo o que você queira — sussurrou, sua língua encontrando a ponta de um seio — Tudo o que deseje, amor. Amor. A palavra carinhosa a percorreu internamente, e ela a afastou, em lugar disso, apoiou as mãos nos cachos de seus cabelos, impossivelmente suaves e lhe mostrou justo onde o queria. — Eu gostaria disso — ela disse, e seus lábios tomaram um mamilo em sua cálida e gloriosa boca. Ele tremeu sob seu toque, ou talvez foi ela quem tremeu. Então se deteve esperando que ela mesma dissesse sua palavra de ordem: — Chupe-o. E ele o fez, lhe dando tudo o que tinha desejado em suas próprias noites. Em sua própria escuridão. O prazer se apoderou dela ao sentir seu contato, primeiro em um seio e depois no outro, até que seus joelhos se debilitaram e ele teve que agarrá-la e deitá-la no chão de ladrilhos. Desatou rapidamente as fitas de seu espartilho, enquanto ela afastava sua camisa e percorria com suas mãos a cálida e áspera pele


que havia debaixo, ao senti-lo com as gemas de seus dedos, as lágrimas ameaçaram cair. Tinha esquecido. Tinha sido uma eternidade, e ela o tinha desejado tanto, tão completamente, e mesmo assim, tinha esquecido a sensação. E agora, as lembranças retornaram e não pôde manter a glória, a dor e a emoção na raia. Não desejava fazê-lo. Tampouco ele. — Quantas vezes sonhei com isso — sussurrou Malcolm, tirando sua camisa por sobre a cabeça e enviando-a ao piso onde já estava seu casaco, antes de tirar e arrojar também seu espartilho e depositar suaves beijos entre seus seios, pela delicada pele que lhe cobria as costelas, falando com seu corpo de uma maneira em que, possivelmente, alguma vez tivesse falado com ela. — Quantas noites tenho eu mesmo me satisfeito com a mão, pensando nisto? — Continuou, as palavras ecoando a seu redor na cúpula iluminada pelas estrelas, o impacto de sua

verdade

acendendo-a.

Quantas

noites

passei

sozinho,

envergonhado, desesperado por você? — Não mais que eu — ela sussurrou, lamentando imediatamente a confissão. Ele levantou a cabeça e seus olhos encontraram os dela na escuridão. Recusando-se a deixá-la afastar o olhar. — Sonhou comigo? Era uma noite. Uma noite para a verdade. Uma noite para exorcizar o passado e aplainar o caminho para um futuro livre de demônios. A mão da Sera se deslizou para seu rosto, à sombra da barba, em sua forte e firme mandíbula.


— Cada dia. Seus olhos se fecharam ante a confissão, como se o tivesse golpeado no estômago. — Sera — sussurrou. — Atormentou-me — disse as palavras liberadoras — Tenho me sentido enfeitiçada e assombrada por você, todos os dias, desde que parti. — Desejaria havê-lo feito — ele disse. — Eu adoraria me haver convertido em espírito para velar por você. Cristo, sofri por você. Sofria por isso. Ele passou o vestido pelos seus quadris, seguindo-o com seus beijos, e percorreu as marcas que havia pelo ventre, nesse lugar que uma vez tinha sido duro, liso e ideal. Sera cobriu o suave e redondo volume de seu ventre com as mãos. Silenciosamente, ele beijou o dorso de seus dedos, deslizando sua língua ao longo da zona que ela escondia de sua vista, lhe fazendo cócegas, o suficiente para que as movesse, para que ele pudesse chegar a esse lugar privado e secreto. E logo disse: — É tão linda aqui, mais que nunca. As lágrimas voltaram a ameaçá-la ao recordar como, de alguma forma, esse lugar pertencia a ele, e nunca estaria livre dele, onde estava marcada com estrias brancas e enrugadas de seu passado. Ele se deteve, e ela o olhou, encontrando seus olhos, cheios das mesmas emoções que a consumiam: muitas para dar um nome, e dominadas por uma compreensão intensa que nunca tinha pensado


encontrar em um outro. Mas é óbvio, ela encontrou nele. Sempre tinha sido ele. Ele se elevou sobre ela, seus fortes braços o sustentavam, os músculos de seus ombros lhe recordavam sua imensa força. Beijou-a de novo, longa, suave e belamente, até que ficou sem fôlego e esteve consumido de agonia e prazer. Levantou suas mãos para seu rosto, seu suave toque terminou com o beijo, Malcolm se inclinou para trás para olhá-la com olhos escuros e cheios de pecado. — É perfeita — ela fechou os olhos. — Estou profundamente viciado. — Ele ficou quieto e em silêncio até que ela abriu de novo os olhos. — Seus defeitos são perfeitos para mim. É um mapa de onde estivemos — Ela conteve o fôlego ante isso, já que queria que fosse verdade. Ele continuou: — Sonhei contigo aqui. Juntos. Nos olhando. Olhando a linda que você é. Você olhando como te adoro. Seu olhar passou além de seu ombro para o teto abobadado, negro e brilhante com sua imagem refletida, enquanto voltava para a adoração, a sua adoração, o roce de seus dentes e a seda de sua língua ao longo desse lugar imperfeito, enviando calor através dela, agonia e prazer, arrependimento e promessa, as emoções se chocavam dentro dela enquanto o olhava pelo teto abobadado, consumida por seu reflexo, uma mão estendida sobre suas costelas, mantendo-a quieta. Moveu-se mais abaixo, suas amplas e musculosas costas, escondendo seu ventre e suas coxas, mas a ela via claramente, seus cabelos estendidos, seus seios e ventre nus. — Vê, Sera? — Perguntou, as palavras baixas e roucas. — Vê como nos complementamos?


Ela respirou fundo, o ar a estremeceu. Mordeu o lábio. Suas palavras prometiam muito e a tentariam para sempre. Mas isto não era para sempre. Isto era só esta noite. Ele mordiscou a suave pele de seu ventre e suavizou a mordida com sua língua. Ela ofegou. — Vê? — Ele repetiu. — Sim — ela sussurrou. Ele moveu-se mais abaixo, falando próximo a penugem escura que cobria o lugar que tinha sido somente dele. — Que vê?" —

Mal

A

palavra

soou

como

súplica.

E

talvez

fosse.

Simplesmente não sabia o que estava rogando. Entretanto, ele sim sabia, separou suas coxas e se colocou entre elas. — O que vê, Anjo? — Vejo... — Seus dedos roçaram seu quente e firme núcleo, e ela ofegou de novo. — Mal. Ele se deteve. — Diga-me. Ela olhou para o teto. — Vejo… Eu vejo você. Ele abriu as suaves dobras de seu sexo, como uma recompensa por sua honestidade. — Sim — ele disse, sua palavra lambendo-a como uma chama contra ela. Não pôde evitar elevar-se para ele. — E que mais?


O desejo se agrupou, espesso e desesperado. — E a mim — Ele pôs dois dedos no centro de sua vulva, deslizando-os para cima e para baixo, novamente para cima e para baixo, uma e outra vez, até que ela pensou que poderia morrer de prazer. Pela brincadeira de seu toque. Sera se retorcia contra o tato, desesperada para que ele encontrasse o lugar onde pulsava, o lugar onde ela o desejava. Onde ela o necessitava — Mal… Ele retirou sua mão. — Diga-me o que vê. — Já já disse isso, maldição. Ele riu ante essa resposta, o bastardo. A sensação quase a fez implorar. — Diga-me mais. — Vejo-te — disse bruscamente, com irritação e desejo nas palavras — Vejo como me toca. — E, como por arte de magia, tocou-a. Um dedo, dando voltas ao redor desse magnífico lugar onde estava desesperada por tê-lo. Ela ofegou de prazer. — Oh, querido Deus. — O dedo ficou lento, e ela protestou imediatamente, desesperada que continuasse: — Vejo que me toca — ela repetiu. — Me explorando. Encontrando todos os lugares onde te necessito. E ele a atendeu deslizando um dedo em sua quente e úmida vagina, a sensação a fez arquear-se contra ele enquanto seus olhos se arregalaram, cravados na travessa e devassa Sera projetada acima no teto. Foi então quando viu e entendeu o que estava fazendo. — Mérope — suspirou.


Malcolm grunhiu interrompendo outro deslizamento longo e lânguido, desta vez deslizando com um segundo dedo, o som profundo, escuro e exigente para que dissesse mais. — Vejo-a ela também — disse Sera bastante ofegante. — Você planejou isso. — Sim, fiz — disse ele, estava tão perto, sussurrando as palavras próximo ao lugar que mais o necessitava. — Queria-te aqui. Tão linda como ela. — Queria-me nua como ela. — Sempre te quero nua, amor. As palavras enviaram um calor que se enroscou através dela e se enterrava profundamente. — Entendo-o — ela disse, seu olhar se deslizou sobre a ninfa do mosaico, os seios nus como os seus, retratada no azulejo como se Malcolm tocasse a ambas. Como dando prazer a Sera, agradasse também Mérope. Acreditava-lhe, já que seus dedos estavam realizando sua magia… o que poderia ser suficiente para agradar até a uma deusa. — Mal — ela sussurrou, incapaz de evitar seu contato enquanto acariciava profundamente dentro dela uma, duas, uma terceira vez. Incapaz de evitar dizer mais. Incapaz de não tomar tudo o que lhe oferecia. — Vejo como me olha — disse, e ele ficou quieto, retrocedendo e olhando-a, esperando que dissesse mais. A emoção do momento era inegável. Seu poder, inconfundível. Ela poderia lhe pedir tudo, e ele daria. — Vejo que me quer, — ela sussurrou.


Sem romper o contato visual, ele pressionou um beijo em seus suaves cachos escuros. — Mais do que sempre quis alguma coisa. Ela entendia isso, sentia o mesmo, desejava percorrer seu próprio corpo, dolorida por ele. Girou seus quadris, e mesmo assim ele esperou, como se pudesse aguardar uma eternidade para que ela lhe pedisse que a tocasse. Para que lhe permitisse tomá-la. Ela sussurrou seu nome, e mesmo assim ele permaneceu congelado, encerrado em sua atenção absorta, esperando sua permissão. — Vejo que me beija — ela disse, as palavras surgiram mais firme do que tinha imaginado. Houve um baixo gemido outra vez, como se lhe tivesse permitido fazer o único que sempre tinha desejado. Logo ele moveu sua mão, abrindo-a amplamente e revelando seu rosado e inchado clitóris. Sera deixou de respirar, ante a insuportável espera. — Diga-me isso outra vez — ele disse. — Quero que tenha certeza. Todo seu corpo se esticou ante suas palavras. Ante a promessa nelas. Ante o significado nelas. Nunca faria o que não lhe permitisse. Seguiria-a, como Orión a Mérope, mas somente enquanto ela desejasse ser perseguida. Essa compreensão lhe deu a liberdade que jamais havia sentido. E foi por isso que não duvidou ao lhe dizer: — Beije-me. Recompensou-a com sua gloriosa boca, tomando suas coxas e levantando-a para ele, seus lábios e língua tomando-a com total certeza e


sem vacilação. Ela gritou ao sentir a forma em que saboreava cada uma de suas curvas, sua língua a explorava, enquanto seus dedos a acariciavam e ela se abria, alargava-se, oferecia-se a ele sem pausa. Malcolm tomou sua oferenda, fechou os lábios ao redor de seu sensível clitóris e chupou, atraindo-a para ele com uma habilidade magnífica, até que seu nome ecoou sob a abóbada quando ela cedeu ao prazer, rebolando-se contra ele, chocando-se contra ele, deslizando seus dedos por seu cabelo para guiá-lo e lhe mostrar onde mais o necessitava. Sua língua formou redemoinhos de sensações sobre ela, lhe dando tudo o que ela pedia. Então fechou os olhos, mal consciente das lágrimas que brotavam, devido ao puro e selvagem prazer que lhe causava. Todo seu corpo se sacudiu e se contorceu contra ele, enquanto este realizava sua adoração implacável, ela ofegava, uma e outra vez, com a emoção agitando-se através dela até que se deitou debaixo dele e chorou, sem querer deixá-lo sair. Este homem, a quem uma vez tinha amado tanto, que sempre tinha sabido como extrair o prazer dela. Este homem, que lhe dava um poder além de seu conhecimento. E mesmo através de suas lágrimas, ele não se deteve, os círculos lentos se fizeram mais rápidos, sua língua contra seu clitóris, lambia e chupava com movimentos exuberantes, enquanto deslizava suas mãos debaixo dela e a levantava para ele como se fosse um festim. Redobrava seus esforços. Reclamava-a. Ofegou, tensionando-se ante a ideia, quase temerosa do que estava por vir, de como seria se o deixava possuí-la. Mesmo assim, ele insistiu, sem lhe dar nenhuma oportunidade, adorando e acariciando com a língua o palpitante e magnífico lugar onde ela o queria, fazendo-lhe amor


até que choramingou com seu nome nos lábios, a única palavra que podia encontrar na capacidade de dizê-lo. Sustentou-a, enquanto ela voltava para a terra, nesse magnífico lugar onde a cúpula submarina se elevava sobre eles como se fosse o céu. Quando ele levantou a cabeça, e seus belos e selvagens olhos a observaram intensa e insuportavelmente, o desejo que tinha mantido na raia ameaçou consumí-la e sua face se ruborizou. Não. Ela não o queria. Ela não podia tê-lo. Ela agora o conhecia melhor. Afastou-se de debaixo dele, empurrando-o, e ele se afastou instantaneamente, liberando-a como se somente tivesse estado ali para cumprir

suas

ordens.

Compreender

isso

ameaçava

destroçá-la

exatamente como seu toque. Então, Seraphina fez o que pôde, deslizando-se pelo chão procurou seu vestido, e agarrando-se a ele disse: — Não podemos ir mais à frente. Malcolm não se moveu de onde estava sentado, nu da cintura para acima, usando uma calça escura e macia, um braço apoiado em uma de suas pernas dobrada. — Não pedi para ir mais à frente. — Mas você quer. — Sou um homem adulto, Sera, e esperei por isso, por você, durante anos. É óbvio que desejo fazê-lo. — Seu olhar era cálido e honesto. — Mas esperarei. Até que esteja preparada.


Odiava suas palavras. Odiava a forma em que a tentava. A forma em que sussurrava uma promessa que ela entendia, mas que é óbvio, não podia aceitar. — Nunca estarei preparada. — Talvez não. Mas talvez, em algum momento estará. E quando você estiver, eu estarei aqui. — Disse-o como se não tivesse nada mais que fazer, salvo morrer ali, em sua guarida submarina, esperando que ela entrasse e lhe pedisse que fizesse amor. E algo sobre isso, sobre a certeza em suas palavras, sobre que poderia esperá-la para sempre, inquietava-a mais que qualquer outra coisa. — Nunca estivemos bem nesse ato em particular — ela disse em voz baixa. — Ou não se lembra? — Odiava as palavras, aborrecia dizê-las em voz alta, fazendo referência de uma maneira vaga e sutil, a seu passado em comum. Ao bebê que não tinham planejado. Ao bebê que ele não tinha querido. E a todos os outros que nunca poderiam ter. Ela ficou de pé, muito nua e exposta para permanecer quieta, deulhe as costas, colocando o vestido pela cabeça e unindo as duas metades do corpete, em um infrutífero intento por apagar a última hora de sua vida. — Tome isto. Quase

saltou

pela

surpresa.

Ele

estava

detrás

dela,

o

suficientemente perto para tocá-la, sustentando seu casaco para ela, como se tudo fosse perfeitamente normal. Tomou o casaco e se obrigou a acalmar-se enquanto o colocava, os largos ombros do tecido, diminuíram ainda mais os seus. Cruzou a fronte sobre seu peito, e seus braços sobre ele, como uma armadura. Mal


deu um passo atrás, com as mãos em alto e abertas, para lhe mostrar que estava desarmado. É óbvio, não era verdade. Sempre tinham estado armados um contra o outro. — Recordo-o, Sera — ele disse, e as palavras, também, pareceram ser arrancadas dele, o que era impossível. Ainda podia escutar sua promessa de que nunca teriam um filho. Ainda podia sentir o aguilhão da mesma, agora, anos mais tarde, e a dor que sentiu quando descobriu que, entretanto, esperava um. Assim como ainda podia sentir a tranquila felicidade que a tinha embargado quando compreendeu que nunca estaria sozinha, mesmo quando nunca tinha estado. E logo, a devastação que sentiu quando se deu conta de que nem sequer isso poderia ter. — Deixe-me ir — ela sussurrou, as palavras roucas saíram com medo, de que ele quisesse resistir, de que queria tratar de mantê-la ali. De que ela pudesse escolher ficar. Deu outro passo atrás. E outro, até que o caminho para a saída ficou claro para ela. — É livre — ele disse. — Nenhum de nós é livre — ela disse — Mas poderíamos sê-lo. Mentira. Observou-a, imóvel, com seu largo e belo peito dourado à luz do fogo, sua face era todo luz e sombras. E logo arrojou sua arma. — Sera nunca pedi para sê-lo.


Seu objetivo pareceu ser verdadeiro, felizmente, empurrando a tristeza e enchendo-se de ira, lhe recordando seus planos. Do Sparrow. De seu futuro sem ele. Sem seu passado. Sem as lembranças dos quais não poderia escapar estando ali. — Isso é mentira — disse entrecerrando seu olhar sobre ele, e deixando voar sua irritação. — Foi você quem terminou tudo, Duque. Não eu. E antes que ele pudesse responder, ela escapou.


Capítulo 20 A surpresa chocante do enganado Heaven Três anos antes Londres

Ele a sentiu antes de vê-la. Deveria ter suspeitado que a condessa de Liverpool as convidaria para sua famosa noitada de verão. Deveria ter sabido que as Perigosas Talbot seriam recebidas na festa nos jardins da mulher, com sua decoração com temas da China e a própria anfitriã vestida como um dos peixes de seu famoso lago de peixes. Lady Liverpool nunca se esquivou de algo dramático, e as irmãs Talbot não eram nada mais que dramáticas. Menos Sera. Não se virou para olhá-la, sabendo que todos estavam observando-o e sussurravam em voz baixa e atrás de leques que abanavam velozmente. Resistiu a tentação de puxar sua gravata, que sentia muito apertada ao redor de seu pescoço, na cálida umidade do verão, sabendo muito bem que ele era o centro da atenção. "Haven caçado por uma das Perigosas Talbot", ele era o bobo dos tabloides de intrigas, serviria de exemplo para o resto dos homens elegíveis da alta sociedade. Para nunca ficarem cegos pela beleza.


Deus sabia que tinha sido cego. Como o maldito Orión. Condenado. Tinham passado mais de dois meses desde que a tinha visto pela última vez; tinha-a deixado, sumariamente, apenas poucos minutos, após seu matrimônio, em que tinha estado quase ausente, e tinha se entregado a seu trabalho, fazendo todo o possível por esquecer o fato de que tinha uma esposa. Uma esposa cuja cercania fazia em pedacinhos sua calma, e a quem sabia que estaria mais linda que nunca, se tão somente se voltasse para olhá-la. Covarde. A ideia o mobilizou e, endurecendo suas emoções, imediatamente, voltou-se, procurando-a com o olhar, como sempre. Estava a vários metros de distância, em um grupo suas irmãs reunidas a seu redor como um escudo protetor, vestida de vermelho e usando joias. Claro que Sera estaria de vermelho com fios de ouro. Não havia nada no mundo mais desejável que Seraphina Talbot, não, Seraphina Bevingstoke, duquesa de Haven, sua esposa, sua duquesa, vestida de vermelho. Não importava. O daria qualquer coisa para não desejá-la mais. Venderia sua maldita alma para esquecê-la. Então as galinhas que revoavam a seu redor se separaram, e ele pôde vê-la por completo, parada sobre a verde grama do jardim, uma brisa fresca nesse dia quente de verão. Começou a passar o olhar por seu lindo rosto, passando por seu sensual e esbelto pescoço, descendo


pela linha de seus seios e foi então quando chegou o golpe, perverso e inesperado. Ela estava grávida. Ela estava grávida e não o havia dito. As emoções que correram através dele foram inumeráveis. Incredulidade. Prazer. Esperança. E fúria. Sentiu uma raiva aguda e inflexível ao comprovar que mais uma vez ela lhe tinha ocultado a verdade. Ele ia ser pai. Ele ia ter um filho. E como castigo pelos pecados do passado, ela tinha ocultado. Ele endureceu seu semblante, negando-se a lhe demonstrar como a verdade o tinha afetado. Era um castigo devastador. E o tinha surpreendido e se sentia como uma merda. Logo girou sobre seus calcanhares, e foi procurar uma maneira de sentir-se diferente e de poder castigá-la também.

****

Setembro de 1836 Na manhã seguinte, sua esposa casamenteira, informou-lhe que ele ia sair para cavalgar, com Lady Lilith e Lady Felicity Faircloth por suas terras. Sem dúvida, Seraphina pensou que já era hora dele conhecer as duas candidatas restantes para ser a futura duquesa de Haven, já que a


senhorita Mary partira para os quentes braços de Gerald, e a aversão à sopa de lady Emily era um traço de caráter muito entristecedor. Não é que tivesse intenção de casar-se com nenhuma das mulheres. De fato, o aviso de sua esposa, superficial e sem uma mísera alusão a noite anterior, tinha-o considerando irromper na sala do café da manhã e se despedir de todos os convidados, descartando finalmente o estúpido plano que tinha inventado para ter Seraphina à mão. Para no fim poder cortejá-la mais uma vez. Decidiu que já tinha terminado com os planos. Estava preparado para quando sua esposa retornasse. Estava preparado para ganhá-la a sério. E isso requeria que estivessem a sós, maldita seja. Necessitava de tempo, espaço e honestidade para fazer que acreditasse certo. Para fazer que acreditasse nele. Neles. Estas mulheres, simplesmente, estavam em seu caminho. Não cabia dúvida de que, do quarteto original de suplicantes que tinha convocado para convencer a Sera de que estava interessado em outra esposa, Lady Lilith e lady Felicity eram as mais adequadas para ele. Lilith era inteligente e graciosa, apaixonada por viagens, e Felicity tinha cérebro dentro de sua cabeça, o que seria para qualquer aristocrata inteligente uma companheira decente. Mas Haven não queria uma companheira decente. Ele queria sua esposa, à mulher que amou desde o momento em que a conheceu em uma varanda, o que parecia ter sido há uma vida. E isso tinha sido simplesmente assim. Entretanto, não podia desfazer-se delas, não sem que ficasse claro que todo o plano tinha sido somente isso, um ardil desagradável, que zangaria metade da aristocracia londrina e terminaria na ira de sua esposa quando percebesse as intenções que o tinha motivado. Ou a falta delas, já que não tinha a intenção de lhe dar o divórcio, que Sera tinha


manifestado que desejava, tão publicamente. Um divórcio que, ela logo veria, também não queria, se tão somente pudesse lhe demonstrar que seu passado não tinha nada que ver com seu futuro. E então, o único que pôde fazer quando recebeu a nota da Seraphina sobre seus acompanhantes para o passeio da manhã, foi responder, que insistia em que ela atuasse como dama de companhia. Nem por um momento pensou que ela estivesse de acordo. De fato, tinha acreditado que teria que procurá-la, uma eventualidade que fez com

que

seu

coração

se

acelerasse

com

prazer

antecipado,

e

provavelmente foi a razão pela qual Sera não discutiu sobre sua insistente solicitude. Quando a viu sair da casa senhorial, às cinco para as onze, vestida com um belo traje de montar berinjela, com o chapéu pousado harmoniosamente sobre sua cabeça e, Deus o salvasse, com o chicote de montar na mão, perdeu o fôlego ante a imagem representada, linda, forte e poderosa, como se a noite anterior não tivesse acontecido, ou melhor, como se a noite anterior tivesse acrescentado algo a mais no seu propósito. Podia ver a determinação em seu belo olhar azul, imediatamente compreendeu qual era esse propósito; ela queria que ele correspondesse de uma vez por todas. E brevemente. Ele resistiu o impulso de rir ante a inutilidade de seu plano. Nesse instante a ideia de rir desapareceu, porque o trio de acompanhantes saiu pela porta principal, apesar de que não tinham sido convidadas. É óbvio, Seraphina chegava armada até os dentes, com seu batalhão privado de mulheres guerreiras. Menos uma, porque Sophie, a Marquesa de Eversley, estava grávida, portanto, não cavalgava.


Graças a Deus pelos pequenos favores. Ele negou-se a mostrar sua frustração, em lugar disso, deu as costas ao bando de irmãs e se moveu para ajudar lady Lilith e lady Felicity, a montar em seus cavalos. Nenhuma das duas pareciam necessitar de sua ajuda, ambas eram, claramente, excelentes amazonas, e lhe ocorreu que em algum momento poderia ter desfrutado de um passeio com elas. Em vez disso, agora, temia o que estava por vir. Depois de ajudar suas convidadas, voltou-se para ajudar sua esposa, que, é óbvio, já tinha montado em sua sela. Não o surpreendeu o fato de que tinha eleito uma de suas éguas mais apreciadas, o animal que ele eria feito selar especificamente para ela. Malcolm levantou a vista para Sera, com os dedos ansiosos por tocá-la, por deslizá-los sob a borda de seu traje e encontrar a suave pele sobre suas botas de montar. — Seu cão de guarda americano não se junta a você hoje? Ela levantou uma sobrancelha e o olhou. — O senhor Calhoun retornou a Londres definitivamente, — ela disse. — Somente posso supor que o fez por sua insistência. A surpresa o golpeou, seguida pelo rápido alívio de que o protetor de sua esposa tivesse desaparecido. — De fato, não tive nada que ver com isso, embora Deus sabe que estou agradecido. — Maldito covarde — grunhiu Sesily, e todos se voltaram para olhála. — O que foi?! Isso é o que ele é.


Haven ignorou sua cunhada zangada e se dirigiu a seu cavalo, montando e sua sela. — Dirigimos a "torre oriental". — Não é assim como chamamos o seu matrimônio, Sera? — perguntou secamente uma de suas irmãs, rindo-se de sua própria pergunta. Sera respondeu secamente: — Não se preocupem, damas; Haven certamente prefere um matrimônio melhor com alguma de vocês do que o que teve comigo, e imagino que será exatamente o esposo ideal. Os dentes do Malcolm se apertaram ante as dolorosas palavras que ela disse tão facilmente, quando nele ainda estavam frescas as lembranças da noite anterior em que a despiu e se perdeu em seus braços. Frustrado, esporeou seu cavalo e o grupo o seguiu, o suficientemente longe para evitar ouvi-la. Levaria às mulheres para dar um passeio, devolvê-las-ia, e logo encontraria uma maneira de tirá-las de sua casa. Depois de meia hora de cavalgada, reduziu a velocidade ante o grande folly de pedra no extremo oriental do imóvel, era uma torre medieval que tinha sido construída várias gerações atrás. Desmontando, moveu-se para ajudar às damas a descer de seus respectivos cavalos. Não a Sera, é óbvio. Ela desmontou por sua conta, afastando-se rapidamente do grupo, seguida por suas irmãs como se estivessem atadas com cordas. Deixando-o a sós com Lady Lilith e Lady Felicity, ambas com uma atraente cor nas bochechas, resultado do passeio. Poderia considerá-las


bonitas se reparasse nisso, coisa que não fazia. Estava muito ocupado olhando para sua esposa. Entretanto, ele não era um monstro, nem estava interessado em discutir com suas cunhadas, por isso guiou às moças à entrada da torre, lhes indicando que deveriam entrar. Quando o fizeram, apontou para tortuosa escada de pedra que conduzia à torre. — Há uma vista notável de todo o imóvel na parte superior, se não se importarem com a ascensão. Lady Lilith já estava subindo os degraus, e lady Felicity a seguiu rapidamente, Haven atrás. Quando chegaram à parte superior da torre, saindo à luz do sol, ambas se dirigiram imediatamente para os parapeitos de pedra para aparecer nas janelas e examinarem a terra que se estendia milhas e milhas em todas direções. Haven se dirigiu ao extremo da torre, olhando para baixo para encontrar a Sera e a suas irmãs, em uma profunda conversa. Endireitouse, as olhando, desejando poder ouvir o que diziam, enquanto suas companheiras comentavam sobre a vista, em grande parte uma à outra. — Realmente, isto é belo — disse Lady Felicity depois de um longo suspiro. — O melhor de toda a festa, não acha? — Replicou Lilith, com emoção em sua voz. — Foi construída em 1750 — ele interrompeu-as, dizendo-se a si mesmo que se participasse da conversa com as jovens, não se sentiria como um menino tolo atrás de sua esposa três andares mais abaixo. — Um presente de meu bisavô à mulher que amava. Lilith se voltou.


— Não para sua bisavó, suponho? Ele sorriu sem humor ante isso. — Não. Os Duques do Haven não se casaram por amor. Não até ele. E, mesmo assim, tinha-o arruinado. As mulheres haviam tornado a olhar a paisagem. — Há uma casa da viúva! Sabia que havia uma casa de viúva? — perguntou Lilith. — Não sabia! E olhe o lago. É belo — fez uma pausa — Meu Deus, essa é uma estátua no centro? Que maravilhosa! Simplesmente surgindo da água! É Orión, Sua Graça? — Felicity Faircloth o olhou procurando uma resposta. Malcolm ignorou a pontada de decepção porque estas mulheres tinham descoberto a estátua que marcava a sala debaixo da água, antes de Sera. Seu olhar se dirigiu para sua esposa que se achava abaixo, e respondeu: — Sim, é. "Se prometesse sempre te caçar, você voaria?" Ontem à noite ela tinha voado e o tinha deixado imóvel, com a certeza de poder fazê-lo a sério e em qualquer momento: converter-se em uma pomba e deixá-lo, para sempre. E se ela não o quisesse? E se ele nunca pudesse tê-la? Odiava as perguntas que surgiam com a dura lembrança da noite anterior, quando tinham voltado para o passado, invocando sem


palavras o bebê que tinham perdido. À história que nunca tinham podido escrever. Entretanto, podiam escrever um futuro. Ele acreditava. Tinham uma oportunidade, verdade? Cristo, por favor, oxalá pudessem ter uma oportunidade. Sera, então, levantou a vista, como se tivesse escutado seus pensamentos três andares mais acima. Ele encontrou seu olhar e sustentou, não disposto a deixá-la desviar a vista. Ela olhou para o outro lado. Lady Felicity apontou uma casa senhorial ao longe. — E o que é aquilo ali? Separou a vista de sua esposa e seguiu a direção que a jovem lhe assinalava. — É a sede do Ducado de Montcliff. — Felicity assentiu. — Nunca gostei desse homem. Suas sobrancelhas se elevaram ante a franca avaliação de seu solitário vizinho. — Não, nem muitos gostam. — Nem a muitas pessoas gostam de você, tampouco — disse Lilith. As palavras sinceras o sobressaltaram, e se voltou para olhar às moças: Lilith, com um sorriso de cumplicidade nos lábios, e Felicity, com os olhos muito arregalados, mas que somente se podiam notar faíscas de alegria. Deixou que reinasse o silêncio por um momento antes de inclinar a cabeça. — Isso também é verdade.


— Por que? — Perguntou Felicity. — Vocês estão trabalhando juntas? — olharam-se uma à outra e compartilharam um sorriso, Haven decidiu que gostava delas. — É este o ponto em que eu sou julgado? — É uma boa pergunta, não acha? — apontou Lilith. — Deveríamos saber com precisão que tipo de peixe estamos comprando. — E se desejamos ter o peixe absolutamente. Ignorando a estranha metáfora, Haven estendeu suas mãos amplamente. — É óbvio, então. Lance sua pergunta. Nunca tinha visto tanta alegria em suas faces, Lady Lilith em realidade estava esfregando as mãos. Lady Felicity se moveu para sentar-se sob o muro de pedra, no espaço entre os parapeitos, logo se inclinou para diante com os cotovelos nas coxas, a postura ao vento, como se tivessem sido amigas de toda a vida. — Elas dizem que você é um esposo terrível. Mal levantou o queixo ante a impactante declaração. — Bom Deus, Felicity — disse Lilith, devagar e cheia de assombro — Sua mãe pereceria no lugar, se a escutasse dizer isso. — Minha mãe não tem que casar-se com ele — disse Felicity, sem afastar o olhar de Malcolm. — Por isso — disse Lilith secamente.


Ninguém diria que Felicity Faircloth não era uma digna oponente. Malcolm se apoiou contra o parapeito, cruzou os braços sobre seu peito e confessou, as palavras se voltaram surpreendentemente fáceis. — Não fui o melhor dos esposos. — Dizem que é infiel. — Seus lábios se aplanaram em uma linha longa e fina, mas não assustou a esta corajosa jovem. Em compensação, Felicity Faircloth continuou: — E é por isso que Lady Eversley o atirou dentro de um lago cheio de peixes. — Está correto. — O nariz de Lilith se enrugou, e ele não podia culpá-la. — Foi somente uma vez. Acabava de descobrir que Sera… — Deteve-se. Não era assunto delas. — Eu estava zangado. Nunca voltei a fazê-lo. Elas ficaram em silêncio durante muito tempo, e logo Lilith disse: — Sabe? acho que acredito em você. Felicity assentiu. — Eu estranhamente, também. Milagroso. Agora… se somente pudessem convencer Seraphina para que fizesse o mesmo. Felicity continuou. — Devo lhe dizer o que eu gosto de sua esposa? Não precisava escutar uma lista das qualidades de Sera. Conheciaas bem. Tinha-as enumerado mais de uma vez. Mais de mil vezes, e mesmo assim, queria escutá-las. Queria falar dela com outras pessoas, como se invocando-a ali pudesse senti-la mais perto. — Não imagino como poderia detê-la, minha lady.


Ela sorriu. — Isso provavelmente seja verdade. Sou terrível para me calar. É por isso que minha mãe estava tão emocionada de receber seu convite. É sua última grande esperança. — Não tenho nenhum interesse em impedir que dê sua opinião — el disse. — Os Duques, por si, já obtêm muito disso. Felicity assentiu. — Muito bem, eu direi. Eu gosto que Seraphina saiba o que quer. E eu

gosto

que

não

tenha

medo

de

persegui-lo.

Mesmo

quando

definitivamente está custando tanto fazê-lo. O divórcio era para isso. Ele assentiu. — Ela sempre foi assim. — As mulheres nem sempre podem ter o que querem — disse, e havia uma melancólica insinuação em seu tom. — Com muita frequência nos julgam por perseguirmos o que queremos. As palavras lhe causaram calafrios. Ele tinha feito isso. Tinha-na castigado por persegui-lo. E logo, finalmente, tinha-na castigado por negar-se a persegui-lo. — Persegui-lo? — foi Lilith, desta vez. — Sim, ela o fez — ele disse, odiando a dor que o apanhou ante as palavras. A forma em que suas vísceras se retorceram. — Dizem que o caçou. O enganado Haven e tudo isso... Estas mulheres careciam de medo, e Haven não pôde evitar admirar isso. — Isso é o que dizem.


— Mas não poderia ter sido pelo título — apontou Felicity. — Do contrário, por que fugir? Por que não ficar e ostentá-lo? Com que frequência tinha feito a mesma pergunta? — Com toda esta perseguição de sua liberdade, parece que já não o quer muito, Sua Graça — adicionou Lilith. — Não, ela não quer — disse. — Isso estava claro para todos. — Eu gosto disso nela — disse Felicity em voz baixa. — Eu gostei de saber que quando se fez evidente que você não a queria por perto, ela não ficou ao seu lado. Exceto que ele, sim a tinha querido. Ainda a amava. Não é que houvesse dito alguma vez a ela. Em vez disso, envergonhou-a por ela demonstrar sua paixão. Por conduzir-se sozinha. Por alcançar o que queria de qualquer forma. Ele, em troca, tinha ocultado tudo. A ambos. — Eu gosto que ela conheça si mesmo. Que acredite em si mesma. Que não se permitiu ter menos do que merece — adicionou Felicity. — Eu gostaria muito de ser como ela. — Então possivelmente não deveria se casar com o Duque de Haven — disse Lilith, com secura. — A história sugere que ele não é o homem mais atento quando se trata de ajudar sua esposa a alcançar seus objetivos. As palavras não eram para ele absolutamente. Mas, ainda assim, coçavam como urtigas dentro de suas calças. — Mmm — disse Felicity, pensativa. — Acredito que esse poderia ser o caso.


Cristo. Por que se necessitariam de duas jovens solteiras para lhe ensinar o que deveria ter visto anos atrás? — E isso foi antes do outro problema — continuou Lilith, devolvendo a Mal, no momento, o assunto. — Que outro problema? — Perguntou ele, mais contundentemente do que tinha planejado. As mulheres continuaram conversando, como se ele não estivesse ali. Como se estivessem discutindo a herança. Ou o clima. E não seus defeitos pessoais. — Oh, certamente, essa parte está clara como o cristal. — Que parte? — Ele exigiu saber. Lilith se voltou para ele, observando-o por um longo momento. — Como todo este cenário é pouco comum ao extremo, Sua Graça, pergunto-me, poderia encontrar-se disposto a responder uma pergunta bastante inapropriada? Ambas as damas riram e Lilith com um sorriso nos lábios, disse: — Provavelmente não, de fato… — Esperou que ela encontrasse as palavras adequadas. — Deseja, de fato, uma nova esposa? E ali estava, sua saída desta encrenca. — Não, não quero, de fato. Ela assentiu e olhou para Felicity. — Bom, isso é tudo, então. — De fato — Felicity saltou de seu lugar no parapeito. — Muito obrigada, Sua Graça. Esta é uma torre encantadora. A melhor que vi.


— E o imóvel… — Lilith saltou para adicionar, cortesmente — …essa estátua de Orión no lago é particularmente linda. A confusão explodiu nele, e também uma, não pequena esperança. Eram todas as mulheres em todas as partes tão inquietantes? Ou era específico das mulheres com quem tinha entrado em contato? — Vocês estão indo embora? — Perguntou, bastante angustiado. — Faremo-lo — disse Felicity, fazendo uma breve reverencia. — Estamos seguras de que você entende. — Não, não o entendo, de fato — ele apontou. — Nunca em minha vida conheci mulheres tão dispostas a dizerem tanta quantidade de verdade. Lilith sorriu. — Possivelmente deveria conhecer mais as mulheres. Não somos tão pouco comuns. — É óbvio que agora não estão aqui. Há outras cinco mulheres nesta propriedade que tampouco parecem ter problemas para lhe dizer a verdade, Sua Graça — disse Felicity. — E isso sem contar à senhorita Mary Mayhew, que disse tanta verdade que terminou partindo para procurar seu Gerald. Lilith sorriu. — Pergunto-me que classe de homem será esse tal Gerald. E assim, foi deixado, as duas jovens partiram cercando uma feliz conversa, com as saias roçando brandamente o chão de pedra, enquanto se dirigiam para as escadas. — Esperem — chamou, a tarde parecia afastar-se dele. Elas se voltaram.


— Não há necessidade de preocupar-se, Sua Graça — disse Lilith. — Somos livres. Fique aqui e faça o que fazem os homens quando não estão obrigados a interpretar o papel de pretendente. — Não me disse qual era o outro problema. — Voltaram-se, com curiosos sorrisos em suas faces, grandemente diferentes. Ele esclareceu: — O que está claro como o cristal? — Ah — disse Lilith. — Hmm — adicionou Felicity. — Ladies. — A palavra saiu mais ameaçador do que pretendia. — Imagino que é algo com o fato de que sou um esposo terrível. — Sabe, não tenho certeza de que seja um esposo terrível absolutamente — disse Lilith pensativa. — Oh não. Não o é — Lady Felicity se apressou a responder. — Quero dizer, não assim que você descubra o quanto a ama. Ele poderia estar envergonhado. Pôde estar à defensiva. Mas em vez disso, as palavras de Lady Felicity, o enchia de verdade, fizeram-no se sentir aliviado. Finalmente, pensou. Finalmente alguém o via. Alguém acreditava nele. Duas pessoas. Duas pessoas que lhe escutaram dizer: — Sei o quanto a amo. Sei há anos. Olharam-se uma à outra, logo a ele, seu julgamento claro. Consideravam-no um imbecil. — Deveria dizer-lhe então.


A frustração explodiu em seu interior. Honestamente acreditavam que não desejava fazê-lo? Acreditavam que era tão simples? Um brilho de violeta apareceu atrás das mulheres, um brilho profundo e rico. Sera. Maldita seja, fá-lo-ia agora se pensasse que isso mudaria as coisas. Ele se acalmou. Isso mudaria as coisas? Mas seu coração começou a pulsar com força novamente quando ela passou pela porta, e viu o interesse desenhado em seus olhos e a curiosidade em seu rosto. — Isto é uma torre encantadora — ela disse. Ele o faria agora. Aqui, neste lugar que seu antepassado tinha construído para a mulher que amava além da razão. Ele o faria na frente destas mulheres, e terminaria com este plano idiota. Não havia dito a si mesmo essa manhã que tinha terminado com esses planos? A consciência, o prazer, a excitação e o desejo lhe tiraram as palavras, como se fosse um colegial muito ansioso. — Fá-lo-ei agora. Ele não viu a surpresa instantânea e a clara dúvida nos olhos de Lilith e Felicity. Estava muito ocupado olhando para sua esposa, que entrou pela porta, interessada na conversa que acontecia ali. Não viu Lilith negar com a cabeça. Não viu Felicity abrir a boca para falar, nem viu a forma como franzia o cenho quando Sera perguntou: — O que é fará agora?


Se tivesse visto algo disso, possivelmente não houvesse dito o que disse, imediatamente, na frente daquela que parecia ser todo um mundo. Ele talvez não a tivesse olhado nos olhos e dito, sem pensar no que poderia acontecer, como se fosse a coisa mais comum do mundo: — Dizer-te que te amo.


Capítulo 21 Corrija seu cortejo: Lições de amor de autênticas ladies. Para ser justo, deu-se conta imediatamente de que tinha cometido um erro. E, surpreendentemente, não foi quando sua esposa se virou e desceu as escadas por onde tinha vindo. Tampouco foi quando Lady Lilith soltou um suave: — Oh, não. Tampouco foi quando lady Felicity Faircloth francamente disse: — Bem. Isso foi mal feito. Percebeu que tinha cometido um erro no momento em que escutou a si mesmo pronunciar as palavras, tão pouco familiares, e descobriu que nunca antes as tinha pronunciado em voz alta. É óbvio, ele as havia dito milhares de vezes em sua cabeça. Na escuridão, enquanto tinha sentido saudades pelas noites. Mas nunca em sua cara. E agora, enquanto a seguia pelos pastos orientais de Highley, arrependeu-se por havê-lo dito frente a lady Lilith e lady Felicity, a alguns passos de distância de Sesily, a quem Sera quase tinha derrubado da escada ao passar correndo próximo a ela, e de Seleste, que se apertou contra a parede do piso da torre, enquanto Haven saiu correndo atrás de sua esposa. E de Seline, cujo forte:


— Oh Haven!! O que fez de errado agora? — Foi interrompido pelo salto de Sera na sela de montar, antes de gritar ao cavalo um poderoso: — Hyah! — E dar à besta rédeas solta. — Maldita seja, Sera — Mal a chamou. — Espere! É óbvio que não esperou, então se dirigiu para seu próprio cavalo, e quase tinha chegado ali quando um objeto pesado lhe golpeou diretamente entre os ombros. Virou-se para olhar para sua cunhada, que estava se endireitando, provando o peso de outro projétil. — Que demônios?! Acaba de me arrojar uma rocha? Seline parecia estar calculando a distância entre eles. — Não sei se usaria a palavra rocha. — Pedra, é bem melhor! — Gritou Sesily Talbot do alto da torre, onde três cabeças com capuz apareciam pelo parapeito. — Apenas um cascalho. — Seleste apareceu na entrada da torre, as mãos nos quadris, pronta para lutar como uma maldita Amazona. Ele balançou a cabeça para a cunhada que estava armada. — Percebe que atirar rochas é perigoso? Seline arrojou seu novo projétil ao ar e logo o acertou. — Não para mim — ela disse — Tenho um bom braço. Ele sacudiu novamente a cabeça. — Está louca. — Não, sou leal. Que é algo que você nunca foi. Uma negação instintiva ficou presa em sua garganta quando a Condessa de Clare disse de onde estava:


— E amém a isso! Golpeia-o na cabeça desta vez! Por um momento, perguntou-se se Seline realmente poderia fazê-lo. Ele estendeu suas mãos abertas. — Ficará zangada. Mas vou atrás de sua irmã. — Ainda não, não irá. — Seleste se deteve junto da irmã armada. — Parece-me que a tem feito bastante infeliz. Tão infeliz que não deseja vêlo. — Ele disse-lhe que a amava! — Gritou Sesily de onde estava, muito alto, seu tom era o mesmo que alguém poderia usar se estivesse dizendo que tinha encontrado um rato, em alguma drenagem em algum lugar da propriedade. Todas as outras mulheres fizeram uma careta. — Merece outra pedra por isso — apontou Seline. — E quatro a mais pelas jovens com quem estiveste brincando, enquanto tratava de cortejar a nossa irmã. — Não é este o problema, Duque! — disse Lady Lilith. — É óbvio que este é um problema! Estarão no mercado de matrimônios por um longo tempo… — disse Sesily — … agora que vocês duas foram vistas com Haven! — O qual não é exatamente o pior do mundo — apontou Seleste. — Já que ele é terrível. — E está a ponto de obter mais uma pedra na cabeça — adicionou Seline. Malcolm apertou os dentes. — Eu amo a sua irmã — ele disse. — Talvez não deveria havê-lo dito, embora Deus sabe por que não disse antes, mas é a verdade. E que


me condenem se for deixar que um grupo de bruxas impeçam que o diga corretamente. — Ah! Percebem que isto significa que eu ganhei a aposta, não é assim? — Sesily gritou inclinada do espaço entre os parapeitos da torre. Ocorreu a Mal que talvez ela estivesse inclinada demais sobre o parapeito, mas descobriu que não podia encontrar a energia ou a decisão para lhe dizer que tomasse cuidado. — Sabemos, Sesily. — Dez libras cada uma! — Gritou ela. — Sophie ficará furiosa. — Houve uma aposta? — Perguntou lady Felicity. — É óbvio! Sempre há apostas. Deveria nos visitar uma temporada! — Sesily fez uma pausa, logo se voltou para Lilith e Felicity. — Ver-nosá, muito em breve! Nosso livro de apostas compete com o do White's! E é muito mais interessante. — Estou feliz de que todas desfrutem de uma linda amizade e de recursos, ao mesmo tempo que me separam de minha esposa, mas estou farto disto agora. — Olhou para Seline. — Confio em que não me deixará inconsciente em minha busca para recuperar sua irmã. — Não o farei — admitiu Seline, — porque se usar a palavra recuperar, Duque, ela mesma te deixará inconsciente. Não te quer, não importa que Sesily tenha ganhado. — As palavras de Seleste eram frescas, impassíveis e inquietantes pela maneira em que deixavam traslucir a verdade a seu redor. — Arruinou tudo anos atrás, quando te negou a reconhecer que ela existia além de você. Ele se tranquilizou e respondeu. — Nunca refutei isso.


— Oh? — gritou Sesily de muito acima — Devemos ter perdido todas as vezes que você veio para o almoço e o chá. — E quando pediu a nosso pai sua mão — disse Seleste. — E as vezes que fez público seu cortejo por ela — adicionou Sesily. — Oh, e nós aqui, pensando que estava envergonhado de seu brinquedo. O sangue rugiu em seus ouvidos. — Ela nunca foi meu brinquedo. — Mas as palavras de Sera ressoaram através dele. "Você não me quer, mas tampouco quer que ninguém mais me tenha. Você nunca me quis." Cristo. O que tinha feito? Olhou para as irmãs de sua esposa. — Somente amei a ela. — Mas não a ela em sua totalidade — disse Seleste. — E não é suficiente — adicionou Seline. Anos atrás, Malcolm teria argumentado esse ponto. Ele teria deixado que sua irritação e frustração o superassem. Em vez disso, nesse momento, olhou de uma irmã à outra, e retornou a olhar outra vez, e em seguida disse, com firmeza: — Eu a amo. A ela toda. Duquesa ou Pomba. Com ou sem seu grupo de bruxas. Seline o observou durante um incômodo período antes de atirar sua pedra no chão. — É óbvio, então… vá convencê-la disso.


Malcolm

não

perdeu

o

significado

das

palavras,

a

clara

incredulidade de que conseguiria convencer sua esposa de algo desse estilo. E mesmo assim, subiu à sela de montar, e a seguiu a uma velocidade vertiginosa, seu coração se acelerou ao dar-se conta da direção que ela se dirigia, desesperado por alcançá-la antes que ela descobrisse... Fustigou com os calcanhares seu cavalo e se dirigiu para o pequeno círculo de árvores que marcava o centro do extremo Norte da propriedade, gritando seu nome ao vento. E ali estava ela de pé, arrastando sua montaria enquanto o olhava, com os ombros rígidos e sua coluna vertebral reta. Ela estava quieta, esperando-o, a brisa do verão agitando suas saias com um movimento longo e lânguido, mesmo enquanto permanecia congelada na exuberante erva verde. Seu cavalo arremeteu-se para ela, mas não se moveu, permaneceu em uma postura perfeita, como se as mil libras de músculos do cavalo não estivessem se aproximando. O medo bateu contra ele, enquanto puxava com força as rédeas, o cavalo se deteve a escassos metros de Sera, como se o tivesse freado com a mera força de sua vontade. Desceu da sela antes que o cavalo se detivesse, sem se importar que o chapéu da cabeça caísse, enquanto cortava a distância entre eles, querendo alcançá-la, tocá-la e, maldita seja, amá-la. Era como cão de caça correndo atrás de uma raposa, e esperando que ela fugisse.


Exceto que ela não o fez. Em vez disso, deixou-o vir por ela. E ocorreu que de repente ele compreendeu que de fato, poderia ser a raposa. Quando ele a alcançou, seus dedos a tocaram, enroscaram-se ao redor de sua nuca e ela inclinou seu rosto para ele, tocando-o com sua própria mão. Seus dedos se encresparam. E, Deus no céu, seus lábios estavam sobre os dela e era sua... todo o fôlego e tato em um beijo longo e glorioso. Não podia detê-la, nem sequer quando sabia que deveria fazê-lo. Porque deveria. Porque este não era o momento nem o lugar para beijála, não quando ela tinha fugido e ele tinha se deslocado atrás dela e quando não necessitavam nada além de falarem. Era hora de que detivesse isto. Ela se afastou, o suficiente para sussurrar seu nome, e esse pequeno e suave "Mal", foi o suficiente para matá-lo, tentá-lo e atraí-lo de novo para ela. Somente por um momento. Somente até que a provasse e a tocasse. Só até que se tornasse forte de novo ante sua presença. Tinha passado muito tempo desde que tinha sido forte. E então, Sera o afastou, pondo distância entre eles, com as bochechas coloridas e os lábios vermelhos pelo beijo. Ela negou com a cabeça, e ele abriu a boca para dizer as palavras, uma vez mais , somente uma, a sós, com ela. Aqui. Mas Sera não lhe deu a oportunidade de falar, só levantou seu queixo.


— O que, então, deveria me ajoelhar e te agradecer por sua condescendência em me oferecer seu amor? Malcolm congelou, boquiaberto, as palavras perdidas. Nunca parecia ter as palavras corretas com ela. Com muita freqüência eram mentiras, e quando eram verdade, nunca eram suficientes. — Ou, o que? — Ela insistiu — Confessar meus próprios sentimentos? — Isso não foi desagradável. E poderia te recordar que alguns segundos atrás, seu beijo fez sua própria confissão. — Os beijos nunca foram nosso fracasso. — Então o que? — Cutucou-a. Sabendo que não deveria — Qual foi nosso fracasso?" — O que não foi? — Ela estendeu os braços — Honestidade? Confiança? — As palavras eram como uma queimadura gelada, acertando com a precisão adequada. E mesmo assim ela continuou: — Quando as convidou para vir aqui? — Sua vacilação foi suficiente para que soubesse a verdade, e mesmo assim o pressionou: — Quando, Malcolm? — No dia que você chegou ao Parlamento. Ela desviou o olhar, em direção à casa senhorial, elevando-se na distância. — Nunca pensou em me dar o divórcio, verdade? É óbvio que não. Tinha-a procurado por todo o mundo. Nunca tinha ficado tão emocionado como no momento em que ela irrompeu no Parlamento e virtualmente incendiou o lugar. Ela era dele. — Não.


— Por que mentir? Para mim? Para estas mulheres? Para suas famílias? — Antes que pudesse responder, continuou: — Foi um castigo? — Não. — É óbvio que sim — ela disse. — Segue sendo o gato e eu o camundongo. E tudo o que sabe fazer é brincar comigo. — Não — disse, aproximando-se dela, com um braço estirado como se quisesse tocá-la. Ela deu um passo atrás, retrocedendo ante seu avanço e envolvendo os braços ao redor de sua cintura como se pudesse protegerse, como se tivesse que proteger-se dele. Mal deixou cair sua mão como se estivesse chamuscada, nunca tinha pensado lhe dar o que ela tanto desejava. Procurou as palavras corretas, as que mudariam tudo. Simplesmente. Perfeitamente. É óbvio, nada entre eles era simples. — Devo dizer-lhe como me sinto, Malcolm? — Ele esperou, e ela continuou: — Sinto-me zangada. Sinto-me traída. Sinto-me zombada e enganada. Conhece muito bem essas emoções, verdade? Certamente me arrojaste isso com suficiente frequência na cara. Ele deu um passo para ela. — Já não mais. Ela levantou uma mão, defendendo-se novamente. — Suponho que é irônico, não é assim? Aqui estamos, exatamente na mesma situação de como começamos anos atrás, um de nós apanhado em um matrimônio que não deseja. — Não era verdade. Realmente não. Não podia ser. Mas ela continuou, arrojando seu


passado como flechas. — Exceto que desta vez, não é você quem questiona minha honestidade, a não ser ao contrário. — Quanto mais honesto posso ser? — Perguntou ele, com frustração em seu tom. — Amo-te. Ela fechou os olhos e olhou para outro lado. — Suponho que também me amava naquele momento. — Sim, eu amava — confessou. — Amei-a desde o começo e nunca acreditou em mim. — Quando foi isso? Quando me roubava beijos e derrubou minha reputação frente a toda Londres? Um punho bateu em suas vísceras. — Sim — ele disse. — E quando me fez o amor aqui? Em Highley? — Sim, Sera. — E quando forcei sua aceitação ao matrimônio? Ele tinha estado tão furioso na época. Mas não tinha mudado nada. Realmente não. — Sim. — Não acreditou em mim na época. Que eu te amava. Que tinha medo por minhas irmãs e por mim mesma. Que tudo o que você e eu tínhamos feito até aquele momento tinha sido tão clandestino. E que eu te adorava. Mas, o que aconteceria se tudo saísse à luz? — Ela negou com a cabeça. — Lamentei tudo o que fiz naquele momento. Uma vez te disse que faria de novo se tivesse a oportunidade de te caçar. Em realidade não o teria feito novamente. Se pudesse reviver um só dia de


minha vida, seria aquele dia, aqui. Em Highley — afastou a vista, olhou os cavalos, o prado, a propriedade, toda a perfeição do final de verão. — Arrependo-me disso. Ele assentiu. — Eu sei. Ela voltou rapidamente o rosto, seu olhar era tão claro e honesto. — Disse a mim mesma que o fiz por minhas irmãs. Assim é como me mantive sã. Mas também o fiz por mim mesma. Fiz-o por mim mesma,

e

ponto.

Porque

te

amava

e

temia

que

nunca

seria

suficientemente boa para você. — Você era — ele disse, alcançando-a novamente, roçando brandamente seus braços e tomando suas mãos entre as suas. — Era mais do que eu poderia sonhar. Tinha passado a maior parte de minha vida acreditando que o amor era impossível, que quando o tivesse em minhas mãos, seria tudo somente para mim, simplesmente. E essa avareza foi minha perdição — Sacudiu a cabeça. — Eu te amava. Nunca deixei de te amar. Ela desviou o olhar, afastando-se como a brisa do verão que percorria o prado mais à frente. — Então parece que o amor não foi o suficiente. Ele detestou essas palavras, porque podia ver para onde ela se dirigia. E como uma carruagem desbocada não se deteria. — É. Sera soltou um sopro de risada sem humor e olhou para a casa senhorial na distância.


— Entretanto, não o é. Ainda não me conhece o suficiente para ver a verdade, Mal. Ainda vê a mesma moça dos anos anteriores. A que pensou que te amava o suficiente para ganhar você… seu coração. A que pensou que poderia te convencer de que a perdoasse. — Perdoei-te — ele disse. — Não, castigou-me — ela respondeu. — Castigou-me por te apanhar, e nunca acreditou que te cacei porque te amava, maldito seja, e não pelo título, pelo maldito título que pendura como um maldito jugo em meu pescoço. — A maldição o destroçou, uma prova mais da vida que tinha tido sem ele. Dos anos em que foi livre. — Negou-se a me liberar, mesmo quando vim a você, te oferecendo também sua liberdade. Te oferecendo um futuro. Inclusive, quando me ofereci em me joelhar e rogar por isso. De todas as coisas que lhe tinha feito, essa ainda era a mais vergonhosa. — E tudo isso antes que me impor o pior de seus castigos. Nunca se perdoaria aquele momento, tomar a outra mulher como amante, mesmo que uma única vez, para vingar-se de sua esposa. — Não posso voltar o tempo atrás. Somente posso te dizer que eu... — Eu sei — Ela o interrompeu — Estava zangado. — Estava mais que zangado. — Ele estendeu a mão para ela, tratando de explicar-se. Ela retrocedeu para as árvores, e ele se deteve. Se não desejava seu toque, ele não o daria. — Estava destruído. Você não me havia dito: Cristo, Sera. Eu ia ser pai. Ela sacudiu sua cabeça. — Você não a queria.


As palavras lhe roubaram o fôlego. — Eu nunca disse isso. — Disse-o! — A acusação chegou com uma corrente de angústia. — Disse que não queria uma vida comigo. Que não queria uma família. Que não queria filhos. — Estava equivocado. Estava zangado e me equivoquei — disse apressado por esclarecer-lhe. — Eu queria essa vida. Eu queria esse bebê. — Cristo, como tinham arruinado um ao outro. Ele seguiu adiante. — Queria esse bebê, e te desejava. Mas estava muito zangado, era muito covarde, muito temerário para entender isso. Nunca quis machucar tanto alguém como desejei naquele dia. Pensei que tudo o que havia entre nós era uma mentira. Sera assentiu. — Não era assim. — Não. Não era assim. — Ela tampouco foi uma mentira. — Não. Ela não foi. — Passou uma mão por seu cabelo, era o único podia fazer para evitar tocá-la. — Sera, se pudesse recuperar todo… Ela sacudiu sua cabeça. — Não o faça Mal. Não pode recuperá-lo, inclusive se tivéssemos podido… se tivéssemos permanecido juntos, algo mais nos teria separado. Não o vê? Não. Ele não o via, maldição. — Esse é o ponto — continuou Sera. — Nunca quis te beijar, Mal. Nunca estive disposta a rogar por seu toque. E nunca foi suficiente.


Nunca saberia por que escolheu esse momento para lhe contar tudo. — Fui a Boston. As palavras foram tão inesperadas que a moveram fisicamente para trás, para as árvores. — O que? — Fui detrás de você — ele disse. Ela sacudiu sua cabeça. — Quando? — Imediatamente — ele disse, a palavra rápida e cortante, como se estivesse envergonhado dela. — No dia que partiu. Mas tinha partido deixar rastro. Ela não estava de acordo, mas não obstante, ele sabia que era verdade. Ela não tinha retornado a Londres. Nem sequer tinha se despedido de suas irmãs. — Fui a Bristol. — Assentiu. — E depois a América. A incredulidade e a incerteza era clara através de sua resposta. — Se sabia, e foi a Boston, por que não me encontrou? — Encontrei-a, maldição — ele afastou a vista, sua garganta se movia com frustração, raiva e anos de arrependimento. — Encontrei-a. Levou-me um ano chegar ali. Comecei na Europa. Passei meses perseguindo loucas possibilidades, de que estivesse em meia dúzia de lugares, muitas das quais vieram das bruxas de suas irmãs. Fui até Constantinopla antes de dar a volta e retornar. E quando voltei para Londres, consumido na sujeira e no cansaço, escutei a história de uma bela inglesa em Boston. Uma cantora. A pomba.


Seus lábios se abriram e ele viu a surpresa, que era a confirmação final de que o americano tinha ocultado sua viagem, dela. — Sabia antes de reservar uma passagem no maldito navio que me levaria a América de que era você. E te encontrei no momento em que desembarquei, fui direto a taberna de Calhoun e fiquei como um tolo te buscando. Perguntando por você. Então a escutei, maldição. Escutei-a cantar, e sabia que era você. E mesmo assim, estava tão desiludido porque tinha fugido de mim e de nossa vida, que acreditei quando me disseram que não era você, eu acreditei neles — afastou a vista outra vez — Não era por decepção. Foi por medo. Por temor de que não quisesse retornar comigo. Por temor de que não me quisesse. Por medo de que chegássemos a este ponto, como aqui, agora. Fez-se o silêncio e depois: — Caleb sabia quem você era? — Ele sabia que eu tinha me deslocado a longa distância atrás de você. Ele a escondeu de mim… Não antes que lhe rompesse o nariz — adicionou, evocando o único momento de luz naquela escuridão. Seus olhos se arregalaram. — Você era o dândi? — Ele nunca lhe disse isso? — Não. — Ela negou com a cabeça, e ele pôde ver o impacto em seus olhos enquanto adicionava brandamente: — Nunca me ocorreu que fosse você. Eu tinha… admiradores. Para isso havíamos combinado um sinal. — Fez uma pausa, perdida em seus pensamentos. — Ao detectá-la, eu saía do palco, e quando os homens… muito interessados em mim se acercavam do palco, já não me encontravam.


Ele queria matar alguém por isso, mas engoliu a ira. — Você não sabia que era eu. Ela sacudiu a cabeça. — Ele nunca me disse isso. Se o tivesse sabido, eu haveria… Seu olhar encontrou a dela nas palavras que se desvaneciam. — O que teria feito Sera? A brisa do verão era o único movimento a seu redor, suas saias açoitavam suas pernas, aferrando-se a elas, a ele, como se sua roupa soubesse a verdade que ela negava. Ele desfrutou de um roce, um pedaço dela que poderia roubar. — Não sei o que teria feito — Sera disse, e se aferrou a essa honesta incerteza. Não disse que o teria ignorado. Não disse que o teria enviado como um pacote de volta a Londres. — Você era o passado, e eu não queria ter nada que ver com isso. — Deixou-me — ele disse, estendendo suas mãos. — Deixou-me aqui,

para

viver

do

passado,

congelado

no

tempo,

cheio

de

arrependimento, e levou com você o futuro. — Cheio de arrependimento porque não podia ganhar-me? — Perguntou em voz baixa. — Sempre fui um prêmio para você, Mal. Mesmo quando queria me castigar. Isso era verdade. Ele suportaria toda uma vida de dor, por um momento de prazer com ela. Seguiu adiante e pressionou-a: — Mas não encontrou o futuro, verdade?


— Porque não sou livre, por isso! — Ela argumentou. Talvez tenha sido a lembrança do passado que o fez dizer. Talvez fosse a recordação da forma em que tinha sofrido por ela. O desespero que havia sentido. O desejo de encontrá-la para ganhá-la de novo. Isso não importava e disse: — Por cada momento que não a libero, Sera, há uma parte de você que não quer se libertar. Acha que não vejo? Sempre te vi. Sempre foi de vivas cores para mim. Uma brilhante safira na primeira noite que me encontrou. Esmeraldas, ouros, pratas e vermelho, Cristo, esse vermelho. Estou obcecado com essa cor. O vermelho da tarde em que veio aqui. O vermelho na festa no jardim de Liverpool, quando pairou como uma maldita rainha e me olhava arruinando-me como um maldito tolo. — Deteve-se amaldiçoando o vento, enquanto inclinava a cabeça para trás com a lembrança. — Não estivemos arruinados então — Sera disse. — Não, não estivemos. Arruinaram-nos muito antes. — Antes que nos conhecêssemos. Um músculo palpitou em sua mandíbula enquanto a olhava, enquanto considerava o que dizer a seguir. — Não pense nem por um segundo que não a vi desde que retornou, que não a vi em uma cor igualmente vívida. Ardósia, ametista e lavanda. Hoje, em berinjela. O fôlego ficou entupido na garganta enquanto dizia: — Não. — Ontem à noite me disse que a consumia. Acha que não me consumo também? Acha que não vejo que você sofre por isso? Por nosso


passado? Acha que não me dói, por tudo que uma vez nos prometemos? — Ele fez uma pausa, olhou para as árvores, e logo disse suave como a seda: — Acha que não lamento, também? Ele a alcançou, pegou-a pela mão com firme e inquebrável resolução, puxando-a, levando-a para as árvores. Rodearam a clareira, onde um belo e pequeno jardim estava escondido em um atoleiro de luz dourada. Ali, deixou-a livre, observando-a enquanto se movia para o monumento no centro da clareira. Para o anjo de pedra que estava ali, sentado em uma pedra de granito gravada com duas simples palavras: Amada filha. O silêncio se estendeu, até que já não pôde suportá-lo mais. Ela se agachou, passando seus dedos pelas letras. — Você fez isto. — Eu fui vê-la depois de trazê-la aqui — ele disse. — Ainda tinha as mãos congeladas pelo frio. Minhas botas estavam cobertas de neve e barro. Eu fui para dizer-te que desejava começar de novo. Estava adormecida, mas já não corria perigo. Disse a mim mesma que haveria tempo para falarmo-nos, para conquistarmo-nos, para ganhá-la. Para te amar. Ela o olhou por sobre seu ombro, instando-o a continuar. — Dormiu este dia e a maior parte do dia seguinte. E no dia seguinte, você tinha partido. Ela assentiu com a cabeça, as lágrimas roubando suas palavras, se enganchando na parte posterior de sua garganta. — Tive que partir.


— Eu sei, — disse ele. — Acreditava que você teria partido quando retornei. Mas quando descobri que minha mãe tinha dado o dinheiro para que fugisse, enlouqueci. Desterrei-a da casa e nunca voltei a vê-la outra vez. — Aproximou-se, ficando de joelhos junto dela. — Pode ser que tenha sido melhor que não a encontrasse naqueles dias. Não tenho certeza de que tivesse podido ganhá-la então. Suas irmãs leram isso em mim. Enviaram-me ao Leste quando deveria ter ido ao Oeste. Calhoun, também, a ocultando de mim como um osso de um cão. E todos poderiam ter tido razão. — Estendeu uma mão para ela, uma cálida e grande mão encontrou o contorno de sua mandíbula. — Eu te amava. Desesperadamente. Eu queria você. Suas lágrimas estavam caindo em quantidade agora. Fechou os olhos, à dor das lembranças e o momento gravado a fogo. — Estou obcecada com os janeiros. — Eu sei — disse. Ele também estava. — Tive que partir Doía-lhe ver esta linda mulher. E não queria nada mais que detê-la em seus braços. Ele a atraiu para si. — Eu sei. — Nunca a terei de volta. E nunca mais terei outros filhos. As palavras o devastaram. — Eu sei. Sera permaneceu rígida em seu abraço por um momento, sua bochecha pressionada contra seu ombro, suas mãos aos lados, seus únicos movimentos eram as pequenas respirações que pareciam arrancadas dela.


Também arrancadas dele. E então ela se entregou, entrando em colapso contra ele, lhe concedendo seu peso e sua dor, sua força e sua tristeza. E Malcolm a acolheu, sustentou-a, abraçou-a e a deixou chorar pelo passado, por esse passado pelo qual ele também tinha chorado. Pelo passado que, finalmente, choravam juntos. Suas lágrimas chegaram como as dela, de um lugar profundo e silencioso, cheias de remorso e frustração, com a compreensão de que não havia forma de apagar o passado. Que a única possibilidade para seu futuro, residia no perdão. Se ela um dia pudesse perdoá-lo. Se um dia pudesse perdoar a si mesmo. E então fez o único que podia fazer, abraçá-la durante longos minutos, cheios de dor, até que ela se acalmou, e suas lágrimas diminuíram, ficaram sem nada entre eles exceto o sol, a brisa e o passado. Ele se afastou o suficiente para olhá-la, o suficiente para embalar seu rosto, mais belo do que nunca tinha visto, tingido de lágrimas e marcado pela dor, e a olhou nos olhos profundamente. — Cheguei tarde, Anjo — disse, as palavras chegaram quase rogando, sem vergonha. — Sempre muito tarde. Sempre senti falta de você. Não tinha planos de vir a Highley durante o verão. Estava por viajar para te procurar de novo. Nunca deixei de sentir saudades suas. Tomou seus lábios, o beijo foi suave e persistente, como um bálsamo. Ela sempre tinha sido seu bálsamo.


Malcolm rompeu o beijo e pressionou sua testa na dela, amando a larga exalação de seu suspiro, como se tivesse estado esperando durante anos por este momento. E ele também não tinha estado esperando? — Não faça com que sinta saudades hoje — ele sussurrou. Sera fechou os olhos ante as palavras, e por um momento pensou que ela não sentia essa necessidade aguda e insuportável, como de ar, de comida, deles, aqui. Agora. Logo abriu os olhos, e ele viu ali, que ela também o necessitava. Necessitavam-se um do outro. Levantou-a em seus braços, subiu-a a seu cavalo e a levou a casa.


Capítulo 22 Matrimônio em vias de recuperação? Talvez! Não falaram no caminho de retorno a casa, e Sera estava agradecida por isso, agradecida pela oportunidade de ficar no regaço de Malcolm, o aroma dele consumindo-a, terra fresca e especiarias, rodeando-a com seus fortes braços, como uma promessa. Sabia que não havia forma possível de que pudesse cumprir essa promessa. As promessas nunca foram suas para cumprí-las. Nem sequer agora, envoltos um no outro, o movimento de seu cavalo debaixo deles como único aviso do mundo mais à frente. Sera virou seu rosto para seu peito, amando sua cálida força concentrada ali, amando, também, a forma em que a aproximou mais e pressionou seus lábios em sua têmpora, sussurrando palavras que o vento levava. Não se importava se voaram; estavam melhor ali, porque se as tivesse escutado, poderia havê-las amado, e então ela poderia havê-lo amado. Mas não havia espaço para isso. Tudo o que tinha amado se arruinou. Por isso sabia que não devia deixar-se levar pela emoção outra vez. Amaram-se no princípio e, entretanto, tinha sido uma batalha. Sempre seria uma batalha entre eles. Sempre um jogo. E nunca seria suficiente.


Mas essa tarde, como tinham liberado seu passado e confessado seus pecados e seus remorsos, não parecia importar que o amor não fosse seu futuro. Em troca, tudo o que importava era que cada um, de alguma forma, entendia ao outro. Foi esse entendimento o que os empurrou para Highley, Malcolm escolheu a entrada traseira da casa senhorial, ajudou-a a descer do cavalo e a guiou sem falar e sem titubear, tomando-a pela mão e levando-a pela cozinha, ignorando os servos pretendiam não demonstrar que notavam sua presença, enquanto subiam pela escada traseira e percorriam o longo, largo e escuro corredor, para os quartos. Seus quartos Tudo sem falar, como se dar voz às palavras, desse voz a todo resto: à dúvida, o medo, à luta e ao mundo mais à frente. Mas ali, em silêncio, quando ela entrou em seu dormitório e ele fechou a porta, somente estavam os dois. Sozinhos, finalmente. Juntos, finalmente. Só uma vez. Caminhou para o centro do quarto, seu coração pulsava com força, sabendo que deveria falar. Sabendo que deveria lhe recordar quem eram, onde estavam e o que lhes proporcionava o futuro. Exceto quando ela se voltou para olhá-lo, e o viu com suas costas pressionada contra a porta fechada e seu olhar inquebrável, já não queria falar. Somente queria tocá-lor. Somente queria amá-lo. Só uma vez. E então ela avançou para ele. Ele já vinha em direção a ela, mas não fez o que esperava. Ele não tomou a iniciativa, não a incendiou com seus beijos, não lhe roubou o fôlego com a paixão que com tanta frequência os consumia. Em vez


disso, ajoelhou-se e inclinou a cabeça para suas mãos unidas, como um cavaleiro que prometia lealdade a sua rainha. E ali, de joelhos, pressionou beijos em seus dedos entrelaçados, e sussurrou seu nome até que ela já não pôde suportá-lo, então tomou seu rosto entre as mãos, inclinou-o para cima e o olhou profundamente nos olhos antes de unir-se a ele, ajoelhando-se diante dele. Então a beijou, seus dedos se enredaram em seus cabelos, derrubando as forquilhas pelo piso, enquanto chovia beijos sobre suas bochechas, sua mandíbula e seus lábios, ansioso por ela, depositando um beijo após o outro, e outro, e outro, até que ela se encontrou acariciando-o, atraída para ele, morrendo de fome por ele. O beijo era belo e sincero, nem frenético nem zangado. Uma união de lábios, uma suave e sedosa lufada de ar. Seu nome. O dele. Seu suspiro. O dele. Ele separou os lábios, somente o suficiente para sussurrar: — Amo-te. E, pela primeira vez desde o começo de seu tempo juntos, ela deixou

que

se

aproximasse,

deixou

que

a

envolvesse.

Que

compartilhassem as dores gêmeas de sua tristeza e prazer, passado e presente, ela tomou tudo o que um dia tinha sonhado. E ele deu, como se nunca tivessem compartilhado outra vida. E era glorioso. Seus dedos se apertaram em sua cintura, atraindo-a para ele. Ou talvez ela o estava atraindo. Durante todos os dias e semanas de perseguição, de batalha, de fingir que não o desejava, que não a desejava, de fingir que não o queria, que não a queria, era um presente encontrarem-se no meio do quarto, aqui, de joelhos.


Só uma vez. Ele inclinou seu queixo e pousou os lábios em sua bochecha, em sua orelha, e seguindo em direção de sua mandíbula, chegou até a coluna de seu pescoço, alcançando o lugar onde se encontrava com seu ombro, deixando suaves e esperados beijos ali, onde sua língua formava redemoinhos até que ela suspirou, e sua mão pousou em sua cabeça, encontrando seu suave cabelo e sustentando-o contra ela. Ele levantou a cabeça e tomou seus lábios outra vez, com beijos longos, lentos e pecaminosos, como se tivessem passado toda uma vida beijando-se e tivessem outra vida para fazê-lo. Seguiu-o, beijo a beijo, suspiro a suspiro, até que chupou seu lábio inferior, retendo-o entre os dentes, mordendo-o brandamente, antes de suavizar a pequena dor, com uma devastadora lambida de prazer. Ela ofegou ante a sensação e ele a soltou, beijando sua bochecha e sua orelha, onde tomou o lóbulo entre os dentes, enviando um calafrio através dela. — Mal — sussurrou, a primeira palavra desde que a tinha subido a seu cavalo e havia-a trazido aqui. Ele então se deteve, querido Deus, e tremeu,

como

se

seu

nome

nesse

momento,

em

seus

lábios,

proporcionasse-lhe um prazer incomensurável. O qual era possível, é óbvio, já que sentia o mesmo. — Diga-o de novo — ele pediu. Ela o fez, sussurrou seu nome contra seus lábios antes que se perdesse em outro beijo selvagem, este acompanhado por suas mãos trabalhando em excesso no fechamento frontal de seu traje de montar, enquanto a consumia com carícias. Ficou de pé, levando-a com ele, girou-a com um movimento fluido e soltou seus lábios só para acomodá-


los em sua nuca, enviando calafrios através dela enquanto seus dedos encontravam a longa linha de botões na parte posterior do vestido. Ele começou a despi-la, seu nome era uma litania em seus lábios, enquanto afrouxava o vestido com movimentos rápidos e eficientes, até que se soltou em uma liberação gloriosa, caindo ao chão em um atoleiro de linho e rendas. Logo trabalhou com eficácia em seu espartilho, puxando as fitas com movimentos longos e fluídos, enquanto sua língua riscava

padrões

sobre

sua

pele.

Então,

o

espartilho

também

desapareceu, junto com seus calções, e ficou somente com suas meias, e nada mais. Deveria se sentir envergonhada quando se voltou para olhá-lo, mas o prazer supremo em seu rosto não se parecia com nada do que tinha presenciado, e o único que queria era desfrutar disso. Desfrutar dele. Mal estendeu a mão para ela, mas a deixou no ar, a uma pequena distância de sua pele, seu olhar percorreu por seu corpo nu pelo que pareceu uma eternidade. Finalmente, ela sussurrou seu nome, incapaz de manter o prazer, o orgulho e a autossatisfação de suas palavras. Seus olhos dispararam para os dela, que sorriu e lhe disse: — Está planejando me tocar? Ele amaldiçoou, rude e profundo no quarto silencioso, e se moveu a uma velocidade impressionante, levantando-a em braços, levando-a à cama e deitando-a sobre ela, olhando-a e refletindo em seus olhos suas malvadas intenções, enquanto tirava o casaco, a gravata e liberando a camisa de suas calças, enviando tudo voando através do quarto. Em seguida se deitou na cama, pressionando Sera contra o suave colchão, seu peito quente e maravilhoso contra o dela, a trilha de pelos


sedosos que a seduzia em todos os lugares e que tinham estado restringidos durante todo o dia. Toda a vida. Abriu as pernas, ansiosa por senti-lo entre suas coxas outra vez. Tinha passado tanto tempo. Ele encontrou o espaço, estava duro e ficou perfeito no entalhe entre suas coxas, e ofegou ante a sensação, seus olhos se fecharam pelo prazer que sentia. Sera também fechou os olhos e levantou seus quadris para encontrar-se com ele, seu corpo dolorido por ele. Rogando por ele. Como se soubesse aonde pertencia. Combinavam seus movimentos. Emparelhavam seus batimentos cardíaco. Uma vez. Duas vezes. Seus corações pulsavam juntos. Seguindo o mesmo ritmo. Eles estavam fodendo. A palavra suja e erótica, sussurrada no passado, quando os movimentos a faziam sentir a dor da necessidade, e descobriu que não podia evitar abrir mais as pernas, e sussurrou: — Mal — seu nome soava obsceno e erótico. — Por favor — rogou Ele apanhou as palavras com seus lábios. — Tudo o que desejar. Peça. Ela elevou seus quadris para ele. Ele

entendeu.

Pressionou-se

contra

ela.

Esfregando-se.

Seu

membro duro fazendo promessas maravilhosas para ela, e não pôde evitar inclinar-se para ele e apanhar seu lábio inferior com os dentes, chupando até que sentiu seu gemido de prazer. Então o soltou, retrocedeu um pouco, e olhando-o nos olhos, pediu-lhe o único que quisera desde o momento em que se conheceram. — Quero minha noite de bodas. As palavras saíram antes que ela pudesse imaginar seu impacto, em ambos.


Ele congelou sobre ela, a sinceridade da declaração, a promessa do momento, a lembrança do passado, tudo estavam ali, flutuando entre eles. Ela não pôde evitar continuar. — Casamo-nos, mas nunca fui sua noiva, Mal. É óbvio, era muito tarde para isso. Sera não era uma virgem ruborizada, e tampouco o tinha sido naquela noite. Mas ela, entretanto, desejava-o. Queria sua noite de bodas, com as esperanças, as promessas e tudo o que nunca tivera. Sera queria a fantasia. Malcolm abriu a boca para falar, e ela se aterrorizou imediatamente pelo que ele poderia dizer. Então, em lugar de permiti-lo, deslizou uma mão por seu cabelo, ancorando-se em sua nuca, enquanto levantava seus quadris, e se lançava contra ele uma vez, duas vezes e uma terceira vez antes de grunhir com desejo: — Me dê tudo essa noite. Talvez se o tivesse, poderia encontrar a coragem para partir novamente. Ela afastou o pensamento de sua mente, enquanto tomava seus lábios outra vez, lhe prodigalizando beijos lentos e longos, aqueles que o faziam querer fazer qualquer coisa por ela. Era uma sensação gloriosa e embriagadora, saber que logo ele faria o mesmo por ela… mas, então, ele se afastou e a empurrou, movendo-se até a borda da cama e sentando-se ali, com o peito agitado pelo esforço. Não. Ele não ia deixá-la assim. Não depois da tarde que tinham compartilhado. Não, depois de suas confissões. Não, depois de despi-la e


deitá-la na cama, fazendo-a sentir a dor da necessidade por ele. Ela ficou de joelhos detrás dele. — Mal? Inclinou a cabeça, sustentando-a entre suas mãos, enquanto lutava para respirar. — Mal. — Isto tem importância? Ele não estava olhando-a quando perguntou, e por um momento, ela não entendeu seu significado. — Eu… não… Então se voltou, seus belos olhos quase negros de emoção. — Não quero somente fodê-la. Quero te amar. Seus lábios se separaram ante as palavras. A forma que falou. A forma que enviaram um prazer perverso através dela. Deveriam havê-la surpreendido, não tê-la comovido. Mas somente fizeram com que o quisesse mais. — Não posso ter as duas coisas? — Perguntou ela. — Deus me ajude, mas não acredito que possa me deter — ele disse, e ela escutou o ódio para consigo mesmo em suas palavras. — Acredito que você poderia me dizer que não importa. Acredito que poderia me dizer que não significa nada, e eu o faria de todos os modos. Nunca fui capaz de resistir a você. Ela sacudiu a cabeça. — Não é necessário que resista. Ela deixou o resto sem dizer. Você me importa. Isto importa.


Nada disso tinha estado em discussão. Por um longo instante pensou que, depois de tudo, ele poderia resistir. E então ele se moveu, inclinou-se para tirar as botas, antes de ficar de pé, e dirigindo as mãos para o cós24 de suas calças, desabotoou os botões e deslizou o tecido por suas pernas, voltando-se para ela, duro e perfeito. O prazer a envolveu como a seda, ante a imagem que estava desfrutando. — É belo — ela o disse. — Sempre o foste. Desde o primeiro momento em que te vi. As palavras coloriram suas bochechas, como se nunca ninguém houvesse dito ao duque de Haven que era bonito. Fez um intento de alcançá-la e ela negou com a cabeça, querendo olhá-lo um pouco mais, querendo explorá-lo. Querendo dá-lo a si mesma. — Espere — sussurrou, e esse magnífico homem atendeu-a, um músculo pulsava como louco em sua bochecha, os músculos de seus braços e coxas se retesaram quando ela se sentou sobre seus calcanhares e separou as coxas, testando sua determinação, amando a forma em que seu olhar fixou sobre o lugar que tão descaradamente ela revelava. Instantaneamente

afastou

sua

atenção

dela,

como

se

se

envergonhasse ver-se preso da inspeção, mas ela viu a forma em que ficou tenso. Sabia o que ele queria. Esteve a ponto de saltar de sua pele quando ela o tocou, passando os dedos pelos músculos de seu peito, explorando as ondas e elevações

24

Cós - Tira de pano que remata peças do vestuário no lugar em que cingem a cintura.


de seu corpo quente e definido, deleitando-se ao sentir como lhe custava respirar sob seu toque. Deixou que seus dedos percorressem pelas ondas definidas de seu torso, mas segurou sua mão antes que ela pudesse tocá-lo no membro, onde o via, orgulhoso e deslumbrante. — Não — ele disse. Ela o olhou, desfazendo-se de sua sujeição. — Sim. Ele sacudiu a cabeça, como se seu toque doesse. Sera ficou de joelhos e o beijou, longa, lenta e exuberantemente. — Disse que me daria qualquer coisa que pedisse. — Ele gemeu. — É muito boa neste jogo. Foi sua vez de negar com a cabeça. — Não é um jogo, Mal. Isto é o que merecemos. — Sua mão se deslizou mais abaixo, encontrando seu pau quente como fogo e duro como o pecado. Ambos suspiraram ao tato. — Mostre-me como faz — ela sussurrou. E ele mostrou, sem vergonha, envolvendo sua mão na dele, lhe mostrando como gostava que o tocassem. Ela se inclinou para frente, seus lábios se deslizaram sobre seu peito, enquanto suas mãos aprendiam a dar-lhe prazer. Deleitou-se fazendo-o, até que ele a soltou com um gemido. — Não mais. Ela não se deteve, mas sim o olhou, capturando seu olhar. — Não o deseja?


Ele riu, o som saiu dele com incredulidade. — Desejei-o por três anos, amor. Por três longos anos. — Ela continuou acariciando-o, longa e profusamente, amando a forma como ele respondia, a forma como ela o controlava. — Como eu — observou sua mão trabalhando sem cansaço sobre seu pau, hipnotizada na força de sua virilidade, pelo modo como ela podia controlar sua emoção e respiração, sob a suavidade do seu toque. — Mas desejei mais que isto. Ela inclinou-se e lhe deu um beijo na cabeça de seu membro, sentindo-se muito poderosa quando o escutou amaldiçoar, duro, zangado e cheio de desejo. Suas mãos, deslizaram-se entre seus cabelos enquanto dizia: — Você não deveria… Mas ele não a deteve, e embora o tivesse tentado, ela nunca teria permitido. É óbvio que tinha que fazê-lo. Se esta era a única vez que poderia desfrutar deste prazer, deste poder, é óbvio que o faria. Não pôde conter-se e o lambeu, ele ficou tenso como o couro de um tambor e suas mãos tremendo mal se moveram, mal tocando-a , como se temesse que ela se afastasse. Adorava tê-lo no limite de seu controle, deleitava-se com isso, brincava com a mão, o hálito, os lábios, deslizando-se sobre seu membro com um toque leve, reclamando seu tamanho, força, espessura e desejo. Marcando-o como dela. Tanto era assim que sussurrou: — Meu. — Sempre — respondeu ele sem duvidá-lo, — para sempre.


Ignorou-o, sabendo que não era verdade, mas querendo acreditar nele nesse momento. Em resposta o lambeu, provando seu sal e sua doçura, sentindo-se repentinamente selvagem com isso. Ele gemeu, suas mãos se adiantaram para sustentá-la mais firmemente, mas ela as deteve antes de tocá-la, evitando que ele tomasse o que tanto desejava. Ela sorriu contra ele. — Me mostre como você gosta, esposo. As palavras o transtornaram, como ela agora o fazia, quando separou seus lábios e tomou-o longa, lenta e profundamente em sua boca, ele estava duro e quente enviando quebras de onda de prazer a seu núcleo, enquanto perdia o controle de suas palavras, amaldiçoando e rogando ao mesmo tempo que ela o lambia, chupava e o atraía para o mais profundo de sua garganta, sem querer nada mais que lhe dar prazer e tirar o seu próprio. Houve momentos em que tinha sonhado estar assim com ele, tinha fantasiado em como seria enlouquecê-lo, enviando-o ao limite do prazer. Tinha imaginado como teriam encontrado todas as maneiras de separarem-se entre si, no ato sexual, para logo se juntarem de novo. Noite após noite. Justo como ele havia dito. Para sempre. Mas ela não tinha o "para sempre". Ela tinha o "agora." Suas mãos se apertaram no cabelo de Sera, enquanto soltava outro gemido, mais forte e mais selvagem que o anterior, e uma quebra de onda de prazer a percorreu. — Sera... Anjo… Não posso… — Fez uma pausa e respirou fundo enquanto ela o tirava de sua boca, lambendo-o, saboreando-o e olhandoo com os olhos entrecerrados. Vibrou com a paixão dele, enquanto ele


continuava: — Amor, esperei muito tempo. Quero estar contigo, dentro de você, quando ocorrer. As palavras, lindas e sinceras, detiveram-na, então o liberou, passando o olhar por seu forte, grosso, musculoso e belo membro, gravando-o em sua mente e desejando recordar cada centímetro dele. — Quero estar contigo, também — sussurrou, erguendo-se em seus joelhos e beijando-o longa e profundamente. — Quero cada polegada de seu membro em cada polegada dentro de mim. Sem dúvidas. Sem medos. Sem penas. — Sim. — Ele a apanhou, tomando seus seios, esfregando seus polegares contra as pontas duras de seus mamilos, até que ela suspirou e se balançou contra ele, fazendo-o gemer: — Deus, sim. O que você queira. Essas palavras, de novo. Tão diferente do que lhe tinha devotado tempo atrás. Tão diferente do que ela tinha pedido. — Eu quero você. Suas mãos subiram, embalando seu rosto, mantendo-a quieta para poder olhá-la. — Já me tem. — Ele parecia tão claro. Tão sincero. Tão tarde. Lágrimas salpicadas com o passado. Com o sussurro suave e inquietante de uma pergunta, e se ele tivesse se devotado a ela há anos? O que teria acontecido se tivessem tido outra oportunidade? — Amo-te — sussurrou Mal. O que aconteceria tivessem uma oportunidade agora? Mas não tinham. Não havia forma de superar o passado. De esquecer a forma em que enfrentaram um ao outro. E não havia forma


de apagar a verdade mais básica: a vida que nunca poderiam ter, porque a única possibilidade tinha desaparecido na fria noite de nevasca de janeiro, três anos antes. Sera o beijou, porque não pôde encontrar outra resposta. Porque não queria pensar em uma, agora. Ele se afastou quase imediatamente, seus lábios aferrando-se aos dela, mesmo quando a afastava, como se soubesse o que estava pensando e queria discuti-lo. — Sera — disse, e escutou a intenção em seu nome. Ela sacudiu a cabeça. — Não agora, Malcolm. Não aqui. Não quando estive esperando por tanto tempo. E você também. Depois se deitou, ficou estendida na cama, com um joelho dobrado e os braços abertos. Acolhedora. Desejosa. Seus olhos brilharam com avidez e seus lábios se achataram em uma linha fina. — Depois. Ela assentiu. — Depois. Sera teria prometido qualquer coisa nesse momento. Qualquer coisa para se assegurar que ele cumpriria sua promessa. Então, gloriosamente, ele estava sobre ela, tal como tinha desejado. Cada centímetro dele sobre cada centímetro dela, a gloriosa e tensa longitude de seu membro acoplado contra o calor úmido dela, pressionando perfeitamente, provocando-a. Seus braços se levantaram


para entrelaçá-la entre eles, suas mãos acariciando seus musculosos ombros, enquanto ele esfregava seu pau contra ela, contra o lugar onde o desejava mais que a nada. O prazer a atravessou e ela ofegou ante a repentina e desesperada dor que sentiu. Sera o necessitava. Imediatamente. Ele repetiu o movimento, provocando-a, seu membro duro e firme contra o lugar onde sempre tinha sido capaz de enlouquecê-la. — Você gosta, verdade, Anjo? — Sim, gosto — sua resposta chegou em um gemido que se negava a envergonhar-se. Beijou-a profundamente e se moveu de novo. Uma recompensa por sua honestidade. — Me diga como — ele sussurrou. — Me diga como desejas. E ela o disse. — Mais rápido — insistiu ela. — De novo. — Então o fez, e foi perfeito. — Mal. Ele se esfregou novamente contra ela, pressionando firmemente, encontrou seu ponto mais sensível e tocou-a ali, demoradamente; levando-a quase até o fim e logo trazendo-a de volta, até que ela mordeu o lábio e se debatia na cama, rogando por sua liberação. — Mal... dentro de mim. Ele não obedeceu. — Não. Quero vê-la gozar. Ela abriu os olhos, encontrando seu olhar. — Pode olhar enquanto está dentro de mim, maldito seja.


O bastardo pôs-se a rir, rude, grosseiro e perfeito, como se ela não estivesse morrendo de necessidade pelo tê-lo onde o desejava. Imediatamente. — Agora… — ela ofegou. — Mal, não quer me sentir ao redor de seu membro? Ele fechou os olhos e se deteve sobre ela. — Cristo, sim. Ela abriu mais suas coxas e disse: — Eu também o desejo. Faça-o. E o glorioso e maravilhoso homem o fez, deslizando lentamente, assombrosamente e perfeitamente, um grosso membro de puro prazer que os fez gemerem, antes que se detivesse. — Sera? A preocupação visível na palavra era sua perdição. Ela girou seus lábios para encontrarem-se com os seus, deslizando sua língua profundamente, raspando com suas unhas por suas costas, levantando seus quadris para ele, forçando-o a aprofundar-se mais. Ele gemeu ante o movimento, e tomou o ritmo enquanto tomava o beijo, reclamando-a como dele de todas as maneiras possíveis, rebolando mais e mais até que se sentiu cheia de prazer e dele. Sera afastou seus lábios dos seus. — Todo o tempo que estivemos separados… Ele assentiu. — Eu sei Mas, entretanto, ele não sabia.


— Tudo o que eu imaginava era que isto poderia ser… —

Eu

sei.

Beijou-a

de

novo,

deitando-se

sobre

ela,

impulsionando, procurando e alcançando o lugar sensível pouco acima de onde estavam unidos. Quando ela saltou quase se afastando da cama, arqueando-se como uma corda de arco, ele a puxou pela cintura, levantando-a para que se sentasse sobre ele, em uma nova posição ficando cara a cara, para terem mais acesso a seus corpos. Ele inclinou-se, tomando a ponta de um seio em sua boca, chupando lenta e longamente enquanto seus dedos se esmeravam magicamente entre suas pernas, tudo isto enquanto continuavam se movendo ao ritmo de seus corpos, demonstrando que ela era sua lenta e perfeita destruição. Sera subia e descia contra ele, que inclinava-se para agarrar seu pulso e lhe mostrar todas as formas em que podia tocá-la, todos os caminhos para seu prazer. — Mais rápido — sussurrou. — Mais forte. — Embora não soubesse se estava falando com ele ou com ela mesma, já que também se movia mais rápido, também descia sobre ele mais forte e com mais potência, como se pudesse imprimir este momento em suas lembranças. Para sempre. Então o olhou nos olhos, desesperada por liberar-se, e reconheceu que ele também estava no limite, viu a forma em que ambos se impulsionavam para a liberação, e lhe sussurrou: — Mal. Amo-te. As palavras os destroçaram, derrubando-os sobre aquela borda magnífica, profunda, rápida e poderosa. Sera deslizou os dedos por seu cabelo.


— Me olhe — ela sussurrou. — Mostre-me seu prazer. Malcolm o fez, e ela o observou encontrar seu prazer antes de tomar o seu próprio, mostrando-se a ele, sem se importar se alguma vez retornava ou não, porque não havia nada no mundo que quisesse tanto como esta liberação magnífica, insuportável e aterradora. E pela primeira vez desde que o tinha deixado, Sera encontrou a paz. Caíram um contra o outro, respirando com grandes ofegos que fizeram impossível saber onde terminava ela e onde começava ele, e realmente não importava. Não importava. Sera não podia deixar de tomar o sol que lhe brindava este momento, simplesmente quando não eram nem os dores do passado, nem a promessa imperfeita do presente, a não ser todos os magníficos momentos intermédios. Passaram longos minutos enquanto sua respiração voltava para a normalidade e Sera retornava ao quarto, ao dia e à vida que tinham construído. E à promessa que tinha feito a si mesma: que depois disto, ela partiria. Porque nada tinha mudado. Estava muito afligida por ele, pela sensação dele, pelas promessas tácitas dele. Mesmo agora, quando se abraçavam como casal, como amantes, como se o futuro fosse deles, ela lutava por encontrar a si mesmo nesse futuro. Amo-te. Sem separar-se dela, ele arrastou-a para a cama, beijando-a, longa e exuberantemente antes de acomodá-la no oco de seu braço e lhe sussurrar por entre seus cabelos:


— Quero que seja minha. Quero-te para sempre. E, maldita seja, eu a tenho. A tive todo o tempo. Nunca deveria ter duvidado de você. Deveria ter te dado tudo. O título, o matrimônio, tudo. Queria-a. Queroa, ainda. Quero voltar contigo e começar de novo. Nunca imaginou que poderia amar e odiar tanto algo, como amava e odiava essas palavras. Ao mesmo tempo, que queria tudo o que lhe oferecia, sem vacilar, a promessa de algo novo, fresco e imaculado pelo passado. E mesmo assim, não podia confiar nessa promessa. Nada belo tinha saído estando junto dele. Não havia um novo começo. Não podiam apagar o passado e não podiam mudar o futuro. Não podiam ter a promessa que pairava sobre eles. Mas podia fechar a porta. E dar a ambos a oportunidade de algo novo. Poderia ter Sparrow, e a liberdade do que vinha com isso. E ele poderia ter uma família, uma que o amasse tanto como merecia. As lágrimas se juntavam atrás dos olhos, e não teve mais remédio que colocar o rosto em seu peito e esconder-se dele. Como sempre, escondeu-se dele. Porque sempre tinha podido ler sua alma. Suspirou, notando que a luz do exterior escurecia rapidamente o quarto, percebendo que tinham perdido o jantar. Que as mães e as filhas que tinham sido parte de seu elaborado estratagema voltariam a serem mais uma vez desprezadas. Pressionou a orelha contra seu peito, escutando como sua respiração se acalmava. Brandamente. Até que ele dormiu.


Ela seguia ali, dividida por seu amor por ele, que a tinha reclamado, tal como o tinha feito anos antes. E pela lembrança do que tinha acontecido antes. Dividida pelo medo do que poderia acontecer se se permitia amá-lo. E pela tentação de fazê-lo. Mesmo no sono, ele a tinha envolta firmemente em seus braços, quente e bem refugiada. Em uma cama que deveria ter sido dela, em uma casa que deveria ter sido seu lar, com uma família que nunca teria. Foi então quando lhe respondeu, sussurrando em seu cálida pele: — Não me ame, Mal. Não há futuro para nós. A aguda compreensão dessa verdade a tinha levado a cruzar o oceano e apresentar-se no Parlamento. Tinha perdido tudo o que tinha amado: seu bebê, sua família, sua vida. E ele. Primeiro o perseguiu, e depois fugiu dele. E talvez houvesse covardia em esperar até que ele dormisse para dizer a verdade. Não, talvez. Havia covardia. Furiosa e insuportável. Mas quem era ela se não a soma total de seus defeitos? Pelo menos se fugisse, ambos teriam a oportunidade de serem livres.


Capítulo 23 Déjà Vu? Duquesa desaparece (Parte Dois)

Malcolm despertou por um golpe seco na porta de seu dormitório. Ele inclinou-se, inquieto pela escuridão, inconsciente da hora, da data ou de nada mais que o profundo e entorpecente sono que o tinha consumido. Tinham passado anos desde que tinha dormido tão profundamente. Três anos. Mais. É possível que nunca tivesse dormido tão bem, já que nunca se deitou com ela. Procurou instintivamente por Sera, descobrindo aborrecido que, uma vez mais, estava sozinho. Em sua cama e entre lençóis frios. Com um pequeno grunhido, olhou para as janelas, a intensa escuridão mais à frente indicava que tinha dormido por várias horas. Sentou-se no beira da cama, querendo levantar-se por uma só razão: procurá-la e arrastá-la de volta a sua cama. Fazer amor outra vez, e voltar a dormir com ela entre seus braços até o amanhecer. Até a saída do sol dentro de uma semana, se pudesse. Os golpes chegaram de novo, impaciente e urgentes. Ficando uma bata, dirigiu-se à porta. Tinha-a travado quando entraram, sem querer arriscar-se a ser interrompido, é provável que Sera


tivesse escapado pela porta contigua a seus quartos. Estava na metade do quarto quando o som começou de novo. — Sim. Estou indo! — Disse contendo-se, já que sabia que sua irritação por despertar só e a essa hora, não era culpa de quem estava do outro lado da porta. Claramente tinham assuntos urgentes, maldição. Abriu a porta. — O que aconteceu? — Fechou a boca ao ver a estranha comitiva que se formava a frente a seu quarto, no corredor com pouca luz. Estavam as três suplicantes restantes, cada uma mais mortificada que a outra por estar ali. Bem, não tanto como suas respectivas mães, também presentes,

que

pareciam

confabular

na

concretização

de

algum

desatinado plano que tivessem posto em marcha e que aparentemente envolvia também Lorde Brunswick, dois dos cães de Lady Bumble e, de alguma forma, o gato de Lady Sesily. Quando abriu a porta e apareceu um Malcolm parcialmente vestido, o grupo ofereceu uma miríade de exclamações: duas mães se moveram imediatamente para ocultar dos olhares de suas filhas, o estado de semi nudez do duque; as filhas em questão faziam todo o possível por fingir inocência e olhar entre os dedos de suas mãos; e a última moça, Lady Felicity Faircloth, é óbvio, olhava com descarada diversão, apesar de que sua mãe gritava claramente, — Meu Deus, Felicity, olhe para outro lado! É óbvio, esta não afastou o olhar, e Malcolm se deu conta de que estava sustentando o gato, que piscou e lhe ofereceu um miado baixo. Nunca se tornariam amigos, ele e esse gato. O Barão Brunswick, por sua parte, parecia ter sido enviado para bater na porta, mas tinha pouco interesse no que se supunha que


ocorreria uma vez que se abrisse. Piscou, deu um passo atrás, olhou Malcolm de acima a abaixo, e logo disse: — Tudo bem, Haven? Nós o perturbamos? — É claro que sim. Ocorreu a Mal que grande parte do trabalho feito pela aristocracia estava em mentir para as pessoas sobre como se sentia, tanto, que agora, quando respondeu uma pergunta diretamente, ninguém no grupo sabia o que fazer a respeito. Bem, quase ninguém. depois de um momento de silêncio, Lady Lilith e lady Felicity riram. Ele fez uma nota mental: fazer todo o possível por conseguir candidatos para essas moças, assim que retornassem à cidade. Ele e Sera as receberiam para jantar e as apresentariam a cada aristocrata rico da cidade. Perdeu-se por um momento, na domesticidade do pensamento. A ideia de passar o resto de suas vidas repartidos entre a cidade e o campo, construindo uma gloriosa vida de risadas e relaxamento, entretendo seus convidados antes de retirarem-se a seu dormitório para fazer amor até o amanhecer. O que lhe recordou que tinha que desfazer-se desta coleção de pessoas. — Bem, — disse o barão, como se tudo estivesse em ordem. — Poderia… quer dizer, poderia, se desejar, colocar alguma calça? Mal não se moveu do lugar, somente se cruzou os braços, apoiou-se na ombreira da porta e disse: — Como imagino que algo que leva um grupo de convidados a golpear a porta do quarto do dono de casa, deve ser terrivelmente


importante, — disse arrastando as palavras, — não me atreveria a adiar em ouvir o que quer que seja. Por um momento, pareceu que ninguém lhe responderia, nem reconheceria suas afirmações. Mas logo, a mãe do Felicity deu um passo adiante, claramente disposta a sacrificar seu orgulho por sua filha. — Terminou então? Malcolm piscou. — Minha sesta? Sim. O grupo pigarreou, mas a marquesa de Bumble não se acovardou. De fato, não foi difícil ver de onde provinha a língua direta da jovem. — A competição. Você selecionou uma esposa? — De fato, tenho-o feito. — Não é que pudesse ver por que a situação lhes parecia tão urgente. Somente podia supor que Lilith e Felicity tinham informado ao resto do grupo sobre o que tinha acontecido entre ele e Sera na "torre oriental". Lady Brunswick soprou com desagrado. — Viu? Disse que já o tinha feito — ela disse à filha. — Disse-te que esfriou contigo. Poderia ter trabalhado com mais afinco. Mal não se importava com as palavras da baronesa, mas sim se importou com a forma em que parecia culpar Lady Emily pelo fato de que tinha eleito amar sua esposa e renunciar por completo em encontrar uma substituta. É óbvio que era estranho que a jovem não tomasse sopa, mas não era motivo para que a tratasse com crueldade. Convidariam-na para jantar junto com Lilith e Felicity e não serviriam sopa. Além disso, estava seguro que poderia encontrar um homem a quem não se importasse com sopa, absolutamente.


Por isso afirmou: — Asseguro-lhe, lady Emily, foi um prazer conhecê-la. Lady Brunswick continuou como se ele não tivesse falado. — Não é de admirar que as Perigosas Talbot, partiram tão rápido, mas pelo menos, poderia ter mandado alguém que nos dissesse que já tinha eleito a substituta, e não nos deixar sozinhos no jantar, esperando que anunciasse sua decisão. Ele se acalmou, inclusive enquanto ela o pressionava. — Em vez disso, meteu-se na cama na metade do dia! Espero que você e as Perigosas fiquem muito bem. Nossa família merece algo melhor — disse, enquanto agarrava o braço de Emily e lhe dizia: — Vamos, Emily. A pobre moça, parecia como se quisesse que a terra a engolisse, mas isso não foi o que preocupou Haven, a não ser uma parte do que essa odiosa mulher havia dito. Ele levantou uma mão para deter sua fuga e perguntou: — O que disse? Que as outras se foram rapidamente? — As irmãs! Como ladras! Fugindo na escuridão da noite! — disse a baronesa. Essas palavras desbloquearam às outras mães, que demandaram: — Há uma hora, aproximadamente, as irmãs Talbot subiram em sua carruagem e partiram. — Sesily deixou seu gato — adicionou lady Felicity, como se fosse importante. E logo acrescentou Lilith, suave e séria, como se entendesse as implicações de suas palavras:


— Tinham muita pressa. Elas tinham partido. Certamente, Sera não. Não depois de tudo o que tinham experimentado essa tarde. Não depois de prometerem que discutiriam o futuro. Depois, como ela havia dito. Malcolm sacudiu a cabeça, olhando de Felicity a Lilith, uma e outra vez. — Todas elas? — É óbvio que todas elas! — Grasnou a baronesa. — Conseguiram o que queriam, as dementes! — Voltou-se para sua filha. — Vamos, Emily, devemos nos deitar, já que amanhã nossa busca começará de novo. — Deu um golpezinho no ombro de seu esposo. — Você também, Barão. Brunswick fez uma careta ante a ordem, mas a seguiu de todos os modos; pelo menos, isso é o que assumiu Haven, que não se demorou na porta, mas sim, virou sobre seus calcanhares e se dirigiu à porta que conectava seu quarto com o de Sera. Irrompeu através dele, meio esperando que estivesse ali, na cama, adormecida. Ou na penteadeira, utilizando um gancho de botão. Ou na cadeira junto à lareira, lendo. Ou rindo de suas irmãs. Qualquer coisa. Mas não estava. O quarto estava escuro e vazio. Ela o tinha deixado. Novamente. Inspecionou o guarda-roupa, encontrando-o cheio de suas coisas, uma dúzia de vestidos em distintos tons de púrpura e sapatos amontoados mais abaixo. Sobre a penteadeira, pó e escovas para o


cabelo, forquilhas e adornos, um bracelete que tinha usado no jogo das Lawn Bowls na grama. Brincos que reconheceu de um dos jantares. Ela tinha deixado tudo, e rapidamente. Maldita seja, havia dito que o amava, e tinha saído correndo da casa como se o inferno a estivesse perseguindo. Como Mérope e as Plêiades tomando vôo como pombas. E Malcolm, o cego e desesperado Orión, obrigado a caçá-la de novo. Como um tolo. Conteve o grito de raiva que tinha vontade de lançar no escuro quarto. Aproximou-se da janela, aberta para deixar entrar a brisa noturna do verão. A vista dava ao pátio de entrada, a frente um caminho longo e sinuoso que conduzia à estrada principal e depois a estrada que levava a Londres. Não havia nem rastro da carruagem, nenhuma lanterna piscando na distância, nenhuma indicação de que tivessem passado por ali. Pôs suas mãos no batente da janela, agarrando-o até que a pedra e a madeira se cravaram em sua palmas, sussurrando seu nome com toda a raiva, desespero e o amor que pôde invocar. Tinha-o deixado, como uma maldita covarde. E logo surgiu a ideia, fria, dura e aterradora. E se ela tivesse fugido de novo? Ele descartou rapidamente a ideia. Não fugiria de novo. Não como tinha feito antes. Desta vez se foi com suas irmãs. Não a deixariam partir, verdade? Em sua cabeça ressoaram as palavras e a lembrança do dia em que ela apareceu no Parlamento e lhe pediu o divórcio, que nunca teve intenção de lhe dar:


"Não tenho nenhuma razão para não terminar com nossa infeliz união. Não tenho nada a perder." Portanto, não havia razão para que fugisse. Não havia nada a perder. Ela não tinha nada a perder, assegurou-se disso. Tinha retornado a Londres ao braço do americano, de quem era amiga e nada mais. Cantava em uma taberna. Bebia whisky como um barman? Tinha dinheiro, de seus pais e não tinha nada que a prendesse a Londres. Mas sim, ela o tinha, maldição. — Disse que me amava! — Seu áspero e triste sussurro cortou a escuridão, e fechou os olhos, com os punhos apertados aos lados. — Como pôde me deixar? O amor não é suficiente. — Sua graça? Girou, com o coração na garganta, para ver lady Felicity Faircloth, emoldurada na soleira, com um lampião em uma mão e o maldito gato de Sesily no outro braço. Ele balançou a cabeça para limpá-la. Não tinha tempo para estas moças. — Nunca foi real, Lady Felicity — ele disse. — Vocês eram um ardil. Ela assentiu. — Eu sei. Qualquer que tenha olhos na face poderia ver que você e a duquesa são um para o outro e para ninguém mais. — Acredito que se refere a qualquer um que poderia vê-lo, exceto a duquesa. — Não pôde evitar a frustração em seu tom.


— Acredito que ela também vê, sabe? — ela disse. — Mas não queria me envolver. — Está parada em meu dormitório, sustentando o gato de minha cunhada, então acredito que já está bastante envolvida — apontou Malcolm. Ela assentiu e um sorriso se desenhou em seus lábios. — Poderia estar certo. — De fato, não posso pensar em um lugar menos apropriado para você, que em meu dormitório com o gato da irmã de minha esposa. O sorriso dela se alargou. — Está planejando me desonrar de alguma forma? — Não. — Bem, então acredito que estou perfeitamente segura. Além disso, o gato parece te detestar. Mal olhou o animal branco, que parecia perfeitamente satisfeito nos braços de Lady Felicity Faircloth. — Honestamente, pensei que tínhamos chegado a uma conclusão. O gato miou. — Oh, sim, isso parece. — Fez uma pausa. — O ponto é que acredito que minha pessoa está a salvo com você. — Houve um tempo em que eu teria me decepcionado com essa avaliação. Felicity sorriu.


— Imagino que você era mais jovem. E estava menos apaixonado por sua esposa, o que coloca um obstáculo considerável à periculosidade de um homem. —

Definitivamente

mais

jovem,

provavelmente

não

menos

apaixonado por minha esposa. — Isso parece ser um problema para você. — Tendo em conta que regularmente a perdi, teria que concordar — respondeu, incapaz de encontrar humor na situação. Felicity Faircloth, então, teve piedade dele. — Temo que tenho algo a lhe dizer, Sua Graça, e não acredito que goste de escutá-lo. Ele dirigiu-se à prateleira junto à janela e acendeu um lampião ali, fazendo com que o quarto fosse, ao mesmo tempo mais acolhedor para a jovem e mais devastador para ele. Havia uma caixa de chapéu no pé da cama de Sera, aberta e vazia, como se ela não tivesse tempo nem inclinação para preenchê-la e levá-la com ela. Ao lado, um pedaço de papel. Dobrado ao azar, com uma M rabiscado como único adorno. Ele o abriu, seu coração pulsando com força.

"Não posso ficar. Espero notícias do Parlamento. S."


Amaldiçoou, forte e desagradavelmente, esmagando o papel em sua mão. Olhou para Felicity. — É mais ou menos agradável, que escutar que minha esposa me abandonou… de novo? Teve que admitir que a pausa da jovem o inquietou. Mas logo disse: — Bem, para ser honesta, é menos agradável, imagino, tendo em conta os acontecimentos desta manhã. — Fez uma pausa, apressando-se a esclarecer. — Dos que fui testemunha, óbvio. O estômago de Mal se revolveu. — Continue então. Ela suspirou e se agachou, deixando ao gato no chão, que sem vacilação, saltou na caixa de chapéu se instalou cuidadosamente dentro, olhando aos dois com olhos sérios e inquebráveis. O duque fez todo o possível por ignorar à criatura, voltando-se, para olhar lady Felicity, que tinha tirado um pedaço de papel de alguma parte e agora o estava desdobrando. — Preparou um discurso de algum tipo? — Perguntou, sabendo que estava sendo intencionalmente duro. Olhou-o, mas ignorou a pergunta. — Isto chegou através da donzela de minha mãe há uma hora. Mal não gostou como isso soava. Seu olhar pousou na escrivaninha do canto, onde papéis e uma pluma estavam desordenados, como se sua esposa tivesse escrito uma carta antes de fugir. Uma carta a esta mulher, por alguma razão. — Continue.


Felicity assentiu e procedeu a ler em voz alta. "Querida lady Felicity, deve saber que a tenho em alta consideração. É inteligente, direta e, sobretudo, forte. Tem uma mente própria e não tem medo de falar todas as coisas que acredita lhe servirão bem" Fez uma pausa, olhou para Mal, e ele leu o nervosismo em seu rosto. Reconheceu-o e ele mesmo o sentiu, odiando a antecipação nas palavras que estavam por vir. Repugnando as próprias, inclusive antes que lady Felicity as lesse. Querendo detê-la, mas sabendo que o que tinha que dizer devia ser dito. Ela continuou: "Todas essas coisas também servirão para Malcolm." — Não — ele disse, incapaz de impedir que a palavra explodisse de seu peito. Felicity Faircloth o olhou com clara afronta. — É óbvio que não. — Então por que…? Ela levantou um ombro, deixou-o cair e simplesmente disse: — Não parece se importar como nos sentimos a respeito, Sua Graça. Isso parecia ser verdade. Lady Felicity continuou. "Ele é um bom homem, Lady Felicity, alguém que sabe sobre a vida e o amor. Um homem que demonstra uma notável lealdade a sua esposa” Lady Felicity se deteve — Então ela corrige a si mesma. "Para suas esposas".


— Maldita seja. — Meus pensamentos, precisamente — disse Lady Felicity. "Será um bom esposo. E fará de você um boa esposa...” A frustração se converteu em incredulidade. — Está me dando de presente para você? As sobrancelhas de Felicity dispararam ao considerar a carta em sua mão. — Não está claro, sinceramente, eu temo que ela esteja me dando de presente a você. — Fez uma pausa, respirando profundamente, como se tivesse que fortalecer-se para ler o resto. "Algumas coisas que você deve saber: primeiro, ele odeia espargos" Deteve-se — Sua Graça, tenho certeza de que me compreenderá se disser que não tenho nenhuma ideia terrestre, por que sua afinidade ou falta dela pelos aspargos seja relevante de alguma forma para um matrimônio? E muito menos o suficientemente relevante para ser o ponto número um em uma lista de outros pontos importantes. — Não é — disse. — Bem, os outros pontos também são muito estranhos, então… — Felicity devolveu sua atenção à carta. "Está fascinado pelos mitos gregos. Leia e aprenda. Ele estará agradecido por ter a alguém com quem falar deles". As

palavras

pareciam

uma

permaneceu em silêncio. Lady Felicity seguiu sua leitura.

traição

a

sua

confiança.

Mal


— E este é o mais estranho de todos. "Busque um vestido vermelho e faça o melhor que possa para encontrá-lo sozinho uma vez que o tenha vestido. Se puder fazer isso em seu escritório privativo, muito melhor". Foi então quando surgiu a fúria. Moveu-se pela carta, como se de alguma forma pudesse usá-la para fazer retroceder o relógio e detê-la da loucura que claramente a tinha consumido ao escrever tudo isso. — Que diabos? Lady Felicity levantou o olhar, com os olhos muito arregalados por sua proximidade. — Concordo — disse ela. — Não entendo o que está tratando de fazer. — Eu sim, entendo — ele disse, com a lembrança gravada a fogo, da última vez que ela se vestiu de vermelho nesta casa, em seu escritório privado. Quantas vezes tinha recriado esse momento em sua mente? Quantas vezes tinha baixado seu corpete? Levantado suas saias? Tinhalhe feito amor? Quantas vezes ele imaginou fazê-lo novamente? Agarrou a carta da mão de Lady Felicity Faircloth, desfrutando da liberação de ira que surgiu quando a dobrou e começou a rompê-la em pedaços. — Ela quer que você me seduza. Ela piscou. — Bom, pois não quero. — O qual é excelente, já que não tenho nenhuma intenção de ser seduzido por ninguém mais que minha esposa. — Assim que deixasse de estar furioso com ela.


Lady Felicity assentiu. — Isso soa extremamente razoável. Embora, se puder…? Ele assentiu. — Por favor. — Parece que sua esposa, segue sem estar interessada em ser sua esposa, Sua Graça. As palavras não deveriam haver explodido contra ele. Não deveriam havê-lo afetado tanto. E mesmo assim o fizeram. Afastou-se dela então, odiando que entendesse a interação de seu matrimônio melhor que ele. Não. Não o entendia melhor. Simplesmente estava mais disposta a aceitá-lo. Mas ela não se casou com Sera. Não pôde evitar caminhar até a borda da cama, onde tinha estado parado há quase três anos, desejando que sua esposa vivesse. Rogando poder afastá-la da morte, jurando que lutaria por ela e por um futuro juntos. Que a amava e que a perseguiria até o céu se fosse necessário… Aonde tinha chegado esta tarde, somente para dar-se conta de que tinha fugido a noite. Foi então quando Malcolm compreendeu que sempre fugiria dele. Para longe do amor. Longe da promessa de um futuro juntos. E que ele sempre a perseguiria. Cego e quebrado. Seria seu castigo por nunca ser digno dela. Estaria condenado se ela se divorciasse dele.


Capítulo 24 Sucessora selecionada? As irmãs perigosas aparecem na cidade! As irmãs Talbot tinham ficado espremidas na carruagem durante mais de duas horas; as estradas noturnas requeriam mais tempo do que habitual para levá-las de volta a Londres. Mas não era o conteúdo da carruagem que era digno de nota. Afinal, elas tinham passado a maior parte de suas vidas viajando juntas. O notável era o silêncio. As cinco irmãs nunca tinham passado muito tempo sem falarem. Nem sequer nos ritos da igreja. As cinco tinham estavam mais silenciosas que nunca em suas vidas, algo que Seraphina apreciou. E, foi assim, até que quando Seleste finalmente rompeu o silêncio, com um franco e simples, — Bem, então… — todas saltaram em seu lugar. — Foi interessante, não é assim? — Isto veio de Sesily. — Eu, de minha parte, não esperava por isso — respondeu Seleste. — Tinha pensado que Haven tinha uma melhor oportunidade para convencê-la de que ficasse. — Estava disposta a lhe lançar uma pedra à cabeça — apontou Seline. Se não estivesse tão desesperada para sair da carruagem, Sera teria encontrado energia suficiente para olhar para sua irmã. Mas, em vez


disso, ela permaneceu concentrada em seus dedos, estreitamente entrelaçados em seu regaço e como não usava luvas, ainda estavam manchados de tinta pela nota feita às pressas para Lady Felicity. A nota destinada a encorajar à próxima esposa de Mal. Se ele, pudesse ver que seu matrimônio estava condenado, poderia ser feliz com outra. A ideia enviou um raio de dor através dela, constrangendo seu coração e dificultando a respiração. Obrigou a si mesma a acalmar-se, inalando profundamente e devolvendo sua atenção a suas irmãs. — É, Ses foi uma boa coisa que a aposta se centrasse nas intenções de Haven, e não nas ações de Sera, do contrário deveria ao resto de nós uma importante quantia de dinheiro, — apontou Seleste. Sesily negou com a cabeça. — Oh, nunca teria apostado em Sera querendo reconquistá-lo. — Eu o teria feito. — Sophie falou. Sera levantou a cabeça, seu olhar imediatamente encontrou o de Sophie, que a tinha observando desde que entraram na carruagem, mostrando preocupação e interesse em seu lindo rosto. — O que disse? — Nunca teria apostado que você não queria Haven. — Por que não? — perguntou Sera. Sophie levantou um ombro e o deixou cair. — Não faz muito tempo me ensinou uma lição sobre o amor, irmã. A lembrança veio de muito longe. Sera, na fronteira escocesa, sentada com Sophie, que se sentia desamparada e estava desesperada


pelo homem que eventualmente se converteria em seu esposo. Mas nessa noite, o marquês de Eversley tinha sido um problema impossível, até que Sophie se aproximou dele e lhe disse a verdade. Por sugestão de Sera. Sophie parecia recordá-lo perfeitamente, também. — Você contou a ele? — perguntou-lhe sem deixar de olhá-la. — Contou-lhe o que? — Interrompeu Sesily, mas ninguém lhe respondeu. "Nunca disse a Haven que o amava", havia dito Sera, tratando de convencer Sophie para que não fizesse o mesmo. "E olhe o desastre que que fiz." Sera olhou pela janela, para o escuro negrume mais à frente. Sophie não lhe permitiu o silêncio. — Sera — insistiu. — Disse-lhe? "Amo-te". Ela assentiu com a cabeça, sua irmã mais jovem se estirou e tomou sua mão com força, sem duvidar. Sera a olhou. — E? Sera negou com a cabeça. Não importava. Não mudava nada. Tudo seguia sendo um desastre. Retirou sua mão de Sophie. Engolindo sua emoção. — E… o amor não é suficiente. O silêncio se somou às palavras, até que Seleste soltou um pequeno suspiro e disse: — Pode ser que não seja o suficiente, mas é algo de fato, se todas tivemos que fugir para Londres na escuridão da noite. — Agitou uma


mão no ar. — Passei a metade de meu matrimônio discutindo com Clare. Isso torna as coisas interessantes. Seline revirou os olhos. — Você e Clare não são uma comparação adequada para os outros, sabe. — E você e seu cavalheiro, sim o são? — Seleste defendeu seu matrimônio. — Não há duas pessoas no mundo que compartilhem interesses similares da forma em que vocês dois o fazem. É terrivelmente aborrecido. Seline encolheu os ombros. — Não é aborrecido para nós. — Inclinou-se para olhar pela janela — Já quase estamos em casa. — Sera não deixou escapar a emoção na voz de sua irmã. Estava contente de voltar para seu aborrecido matrimônio e a seu similar esposo. — Mark estará surpreso. Seleste suspirou feliz e recostou sua cabeça contra sua bochecha. — Clare também — disse. — Será melhor que não esteja em seu clube. Tenho um trabalho para ele esta noite. Todas as irmãs grunhiram ante as palavras, Sesily sorrindo, deu em Seleste um rápido golpe no ombro — Por favor. Não enquanto estou ocupada tratando de manter o jantar em seu lugar. — O que? — Seleste riu. — Surpreende-se com o fato de que estou esperando uma noite íntima com meu esposo? — Não — apontou Sesily. — Mas poderia ser um pouco mais discreta a respeito.


— Ora — disse Seleste. — As mulheres estão presente durante o ato, Sesily. É justo que também gostemos. — Maldição — adicionou Seline. — Todas sabemos que você também gosta, Seline. Lembro de uma ópera que todas tivemos que ir, porque mamãe descobriu você e Mark em uma situação flagrante detrás de uma cortina. Seline sorriu com ar de suficiência. — Pelo menos estávamos atrás de uma cortina. Além disso, olha quem fala, todo mundo sabe o que acontece dentro da livraria quando King chega e fecha a porta durante horas e horas para aproveitar de um prolongado almoço, ao meio-dia. As bochechas de Sophie se avermelharam, e Sera não pôde evitar o pequeno sorriso que surgiu em seus lábios. Por isso tinha retornado a Londres. Não por Malcolm, nem pela família que lhe tinha prometido, nem pelo título ou para recuperar a vida que tinham tido. Mas sim por estas mulheres, leais, queridas, audazes e melhores que todas as demais. E por ela. Por ela insistiria em seu divórcio. Assim estaria livre de seu passado e Mal poderia casar-se com Lady Felicity, que era uma excelente eleição, que seria uma boa companheira e que lhe daria bonitos filhos. A ideia não a fez se sentir mal absolutamente. A náusea que subiu rapidamente a sua boca, foi pela viagem em carruagem. Semelhante à doença de Sesily. De fato, esse espasmo não veio por uma corrente de desejo por seu esposo. Não desejava nada dele. Tinha um plano, e o cumpriria. Teria sua taberna. Cantaria. E seria o suficiente.


Teria que sê-lo. Algo em sua vida tinha que ser suficiente. — Não parece justo que todas fôssemos enviadas ao campo por um mês, e Sera fosse a única que teve permitido… vocês sabem… — disse Seline. Quatro pares de olhos procuraram por Sera na escuridão que fez todo o possível por manter sua atenção na janela, repentinamente muito interessada nos edifícios que passavam. — Bem, não sabemos se ela teve... — apontou Seleste. — Não? — foi a resposta. — Que mais poderia ter acontecido que a fizesse fugir dele na escuridão da noite? — Eu nunca quis fugir, você quis verdade? — Perguntou Seline. — Bem — disse Seleste, sorrindo. — Então voltamos para a teoria original sobre Haven. — E qual seria? — Sera não pôde deter a pergunta. — Que ele é terrível fazendo amor. Todas riram. Todas menos Sera, que estendeu a mão e desenhou um círculo lento e decididamente na janela. — Não é terrível nisso. A carruagem voltou a sumir-se no silêncio antes que Sophie suspirasse e dissesse: — Sera, por que estamos aqui? A irritação flamejou nela, quente e irracional, mas Sera não se importava.


— Porque, contrariamente às crenças de todas vocês, o fato de que meu esposo seja um excelente amante, não implica em um matrimônio perfeito — Quatro séries de sobrancelhas se enredaram nos cabelos de suas cabeças, e a resposta fez com que Sera estivesse ainda mais zangada — Não precisam ficarem tão surpreendidas. Nenhuma de vocês tem ideia do que é estar em minha situação. — Você gostaria de nos contar? — Sophie sempre estava tão tranquila. Tão imperturbável. E Sera nunca tinha estado tão zangada como nesse momento. — O que vocês gostariam que eu dissesse? Não há nada a dizer! — disse, sua voz elevando-se a um tom febril. — Suas vidas são perfeitas. Seus matrimônios? Perfeitos. Seus filhos... — Sua voz se deteve, seu coração se contraiu, e engoliu saliva, empurrando a sensação para baixo. Negando-se a permitir que a tristeza a cobrisse. — …são perfeitos. E nunca terei nada disso. — Sera — nunca tinha escutado Seline ser tão amável. — Não. — Virou-se para sua irmã, com um dedo levantado. — Não te atreva a sentir lástima por mim. Eu tomei minhas decisões. Poderia ter seguido fugindo, mas voltei, mais forte que nunca. Não necessito de sua pena. — Tem certeza? — Perguntou Sophie, e todas se voltaram para olhar a mais jovem e a mais tranquila das irmãs Talbot, a que todos chamavam "menos interessante". Todos os que não a conheciam, obviamente. Sera se inclinou para sua irmã. — O que quer dizer?


— Somente que parece necessitar de nosso apoio e nosso amparo, só quando te é conveniente. E nós a demos. Nossa lealdade eterna. Porque as Perigosas Talbot se mantêm unidas. Mas nunca nos ofereceu sua honestidade. Assim que minha pergunta é a seguinte... — A carruagem começou a diminuir a marcha e se deteve ao chegar em Eversley House, onde Sophie desceria. Mas não antes de esclarecer seu ponto de vista. — É simplesmente porque se nega a ser sincera conosco? Ou porque se nega a ser honesta consigo mesma? — Havia coisas que somente as irmãs podiam dizerem-se. Às vezes somente as irmãs sabiam como enfurecer uma mulher. — Sempre fui sincera com vocês. — Que mentira total — zombou Sophie. — Deixou-nos. Sem palavras. O que houve de honesto nisso? Houve, Sera? Estava de luto pelo bebê que perdeu e sofrendo pelo homem que amava. E você jogou tudo fora. Incluindo a nós. Estava inclinada a ser compassiva. Mas, agora, já é hora de que veja que está fazendo um grande dano a si mesma. Deus sabe que nunca gostei muito de Haven, mas o homem te adora, e está disposto a te dar tudo o que você deseja. Tudo o que necessita. Embora, mesmo agora, não posso imaginar por que? — Sera se recostou em seu assento. — Ô ô. Isso foi um pouco duro — disse Seline em voz baixa. — Bem, talvez ela precisasse escutar isso — retrucou Sophie. — Eu não precisava, de fato. Porque não é verdade. — Sophie elevou uma sobrancelha quando Sera continuou: — Pedi-lhe uma coisa, só uma coisa. Um divórcio. Minha liberdade. A sua também, devo adicionar, e ele não quer me dar.


— Talvez ele não queira lhe dar, porque tem algum tipo de estranha fantasia sobre o que é liberdade. Sera entrecerrou seu olhar sobre sua irmã. — E suponho que você sabe? — Eu sei e muito claramente — disse Sophie quando a carruagem se deteve. Alisou as saias e o cabelo, enquanto um lacaio com libré se aproximou para abrir a porta. Olhou para Sera, antes de tomar a mão do criado e descer da carruagem. Dando a volta, disse: — Amo-te, sabe — As lágrimas vieram, instantâneas e indesejadas, e Sera desviou o olhar para o outro lado, o qual era melhor porque as dela se derramaram quando Sophie adicionou, brandamente: — Oxalá você pudesse encontrar, no equilíbrio, uma maneira de amar a si mesma. Sera não olhou para sua irmã, até que a porta da carruagem se fechou com um suave estalo, consumida pela ira, a tristeza e a frustração que não podia expressar. Com uma mão apoiada em suas ancas, Sophie se dirigiu lentamente para a porta de sua casa na cidade, que estava aberta mostrando um quente brilho alaranjado e acolhedor que a recebia com boas-vindas. A culpa se acendeu nas vísceras de Sera. Sua irmã estava grávida, e provavelmente teria ficado mais feliz em uma cama que metida em uma carruagem no meio da noite. Mas Sophie estava em casa agora, e seu esposo logo apareceu na soleira e se recortou na porta dourada, detendo-se por breves momentos antes de se dirigir a sua esposa, levantá-la em seus braços e beijá-la profundamente. Os servos que se encontravam nas proximidades estavam impecavelmente treinados, ou estavam tão acostumados ao


afeto entre o marquês e sua esposa que eram imunes ao escândalo. Sera imaginou que era o último. E então, King cruzou com Sophie nos braços pela soleira e entrava na casa, detendo-se somente para fechar a porta de um golpe atrás deles. A carruagem entrou em movimento, e Sera apoiou a cabeça no respaldo de seu assento com uma expressão frustrada: — Maldição. — Suas irmãs não responderam, e ela sabia por que. Estavam de acordo com Sophie. Sera abriu os olhos e as olhou. — Suponho que também querem explicações. — Sabia que estava sendo difícil. — Não me importo muito, sinceramente — respondeu Seline. — Mas se tiver a possibilidade de escolher entre você estar aqui ou não, prefiro-te aqui em Londres. Então, se planeja repetir suas ações passadas, e minha opinião for importante, por favor abstenha de fazê-lo. — É verdade? Planeja partir? — Perguntou Sesily de seu lugar no canto mais distante da carruagem. Sera manteve silêncio por um longo instante e sacudiu a cabeça: — Não sei. Estava planejando minha vida. Meu negócio. — Ela desviou o olhar e disse ao lado da janela. — Isso é tudo o que queria. Seleste e Seline não responderam, e Sera tomou o silêncio como uma aprovação tácita. Possivelmente era meramente lealdade, mas ela preferia o silêncio. Era melhor que a verdade. Mas uma vez que a carruagem as tinha deixado em seus respectivos lares, com seus respectivos esposos, ficou sozinha com Sesily, e então ficou nervosa.


Sesily era a mais direta de todas as irmãs Talbot e, à luz dos acontecimentos decorridos durante a viagem, poderia ser uma verdade particularmente inquietante. — Preferiria que não vá — disse Sesily, enquanto a escuridão da carruagem se fechava a seu redor, as rodas estalavam sobre os paralelepípedos, enquanto a carruagem avançava através de Mayfair para Covent Garden. Sera respirou profundamente. — Não tinha a intenção de fazê-lo. — E Haven? Ela assentiu. — Ele não deseja o divórcio. — E você, sim? Sim. Não. Ignorou a pergunta, odiando a resposta estranha e imprecisa que veio com ela. — Se me for permitido posso te dizer algo? — Não acredito que possa detê-la. — Não, provavelmente não — disse Sesily, indiferente ante a azeda resposta. — Sophie não está equivocada, Sera. A liberdade vem em muitas formas. E inclusive os Pardais devem descansar. Sera olhou pela janela. — A carruagem a levará para casa com mamãe e papai, quando tiver me deixado. — Deseja vir conosco? Mamãe estará encantada de vê-la.


O tema deveria ter sido fácil e seguro. Mas, em vez disso, trouxe azedas lembranças de sua mãe que, apesar de seus terríveis planos, amava suas filhas além da razão. Sacudiu a cabeça negando. — Ela aprendeu a lição, sabe? — disse Sesily. — Quase nunca me olha com lástima e decepção. Suponho que deveria te agradecer por isso. Sera forçou um sorriso. — De nada. Virei vê-los outro dia, mas esta noite devo retornar a minha casa. A si mesmo. À mulher que tinha sido quando chegou a Londres semanas atrás, antes que Malcolm mudasse tudo. antes que a tentasse com um futuro diferente de que tinha imaginado. Então iria a taberna, se serviria de sua bebida, cantaria suas canções e esperaria que a noite a engolisse. — Irei contigo — disse Sesily. Sera olhou para sua irmã. — Não, não irá. Estava muito escuro para ver o rosto de sua irmã, mas Sera sabia que nada evitaria que Sesily fizesse o que queria. — Por que? Porque está planejando fugir, depois de tudo? Não quer uma testemunha? Ou não quer por perto alguém de quem deverá se despedir? — Não vou fugir, Sesily. Não esta noite.


— Não tenho certeza se devo te acreditar — respondeu Sesily. — Fugir da casa de campo, pareceu ser um costume. Sera notou a irritação nas palavras. — Fugir de Highley? — Esta semana, foi uma espécie de divertimento. Os olhos de Sera se arregalaram na escuridão. — Refere-se a Caleb? Sentiu o desdém de Sesily. Meu Deus. O que ela tinha perdido? — Ses, aconteceu algo? — Não — disse Sesily. — Simplesmente desejo ver esta legendária taberna. Obviamente, era uma mentira. — Sabe que Caleb é o dono. — Oh — disse Sesily vagamente, — isso significa que estará lá? Sera não pôde evitar rir por sua terrível atuação. — Não virá comigo. — Por que não? — Bem, em primeiro lugar porque é uma dama solteira e muito reconhecível. Sera podia ouvir o beicinho na voz de sua irmã quando respondeu: — Há uma grande parte de Londres que discordaria da afirmativa de "uma dama" nessa frase. Sou a última das Perigosas Talbot, Sera. A antiga amante do ator mais famoso de Drury Lane. — Entretanto, não vou deixar você se arruinar. Nem sequer Caleb.


— Isto não tem nada que ver com Caleb. — Está falando com alguém que anseia por um homem há anos. Sesily a olhou na tênue luz dos pubs e teatros que passavam. — E então? Você permitiu que ele a arruinasse sem pensar? — De fato, isso foi exatamente o que fiz. E esta tarde, de novo, pensou. — Não tenho intenção de me arruinar. — Isso é excelente, já que não tenho intenção de permitir que aconteça. — Não pode simplesmente retornar a Londres e assumir o papel da adequada dama de companhia. Sera perdeu os estribos. — Pelo amor de Deus, Sesily. Uma de nós terá uma vida feliz! — Sim, e a este ritmo, será você, porque pelo menos tem um homem disposto a deitar contigo! As palavras saíram disparadas pela boca de Sesily, impactando Sera, que lhe deu uma resposta inesperada: — Sabe que ir para cama nem sempre é a solução. Fez-se silêncio, e Sera se consumiu de curiosidade. Esperou, sabendo que Sesily não poderia deixar a questão suspensa. E tinha razão. Finalmente, sua irmã cheia de honestidade, disse: — Tenho planos. — Envolvem Caleb? — Sim.


— Ele arranjou algum tipo de relação? — Era difícil para Sera evitar soar surpreendida. — Não. Pior. Bom Deus. Matá-lo-ia. — O que ele fez?! — De repente, Sera se desgostou com o homem que chamado de amigo por tanto tempo. Uma coisa era meter-se em sua vida, mas outra muito distinta era seduzir sua irmã. — Nada. — Um pequeno suspiro. — Esse é o problema. Fugiu de Highley quando lhe pedi que fizesse alguma coisa. Bom Deus. — Sesily, ele é... — Disse que nunca tinha se envolvido com ele. Disse que não estava interessada. — E tudo isso é verdade. Eu ia dizer que ele é… velho. Sesily sorriu. — Não é tão velho. — Não é velho em corpo. Velho em espírito. É um bastardo. — E alguém que mereceu um forte golpe no nariz, aparentemente. — Sim, escutei isso. — E então? Sesily se apoiou no assento, o brilho de seu branco sorriso apenas se via a tênue luz da rua. — Então acredito que ele merece uma bastarda em troca, não acha?


Que enforquem a todos os homens por fazerem às mulheres se sentirem assim. Sera desfrutou da ideia de vingança simples e ideal no momento… e do castigo que receberia pela interferência de Caleb em sua própria vida, por manter em segredo a presença do Mal em Boston. Ele merecia uma bastarda, e Sesily era mulher mais do que suficiente para desempenhar o papel. Mas sua irmã não merecia um homem que tinha uma visão tão fria do amor. — Caleb… Sesily, Caleb não é o tipo de homem que possa ser para sempre. Sesily olhou para a escuridão mais à frente da carruagem durante um longo tempo, o suficiente como para que Sera imaginasse que sua irmã não falaria. Finalmente, fê-lo: — Ninguém é para sempre… até que sejam. — A simples declaração impactou Sera mais do que imaginava que poderia ser, e ficou suspensa no ar entre elas, causando estragos silenciosos, até que Sesily a olhou e disse: — Você é para sempre? E Haven? A pergunta a destroçou, e se encontrou incapaz de responder. Aterrorizada de qual poderia ser a resposta. Em vez disso, olhou para sua irmã, através da escuridão que as rodeava, que tinha tomado Londres de assalto, que estava de pé, corajosa, alta, linda e audaz, disposta a aceitar a vida como se apresentava, sempre que ela tivesse escolhido. Uma heroína entre as mulheres. Sesily merecia a oportunidade de ter a vida que desejava, embora o escândalo fosse condenatório. Não eram todas?


É possível que Sera não pudesse ter o futuro que tinha sonhado um dia, mas poderia ajudar sua irmã ao ter o dela. Se este era seu papel, ajudá-la a ter o futuro que queria, isso seria suficiente. Teria que sê-lo. — Então ao Sparrow? Alguém deveria encontrar seu futuro ali.


Capítulo 25 A taberna mais tórrida da cidade! — Americano, há mulheres. Caleb não levantou a vista do whisky que estava servindo. — Diga-lhes que procurem outro lugar. Não somos um bordel. O guarda que tinha contratado para abrir a porta de "O Canto do Pardal" várias semanas atrás, tentou-o de novo. — Elas não parecem prostitutas, americano. Caleb apertou os dentes ante o apelido qualitativo, o que ele parecia incapaz de impedir. De fato, parecia incapaz de convencer qualquer um nesse país para chamá-lo de qualquer coisa, exceto… americano, incluído o homem em questão, um samoano que tinha sido contratado nas docas de Londres, junto com meia dúzia de homens, decentes e fortes. — Bem, então as deixe entrar — ele disse. — O dinheiro das mulheres servem tão bem como os dos homens. Fetu sorriu, seus dentes brancos eram brilhantes nas sombras. — Já estão dentro. Não pensei que pudesse mesmo rechaçar Pardal. As palavras captaram sua atenção. Caleb olhou para a porta, incapaz de ver muito no aglomerado de corpos empilhados no espaço, sem se

importarem com o

calor do verão, não

quando havia


entretenimento e bebidas alcoólicas. Então, deixou a garrafa e se inclinou sobre o balcão. — Ela está de volta? — Linda, alta e zangada como uma raposa, quando questionei sua identidade. Não tinha nenhuma dúvida sobre isso. Que demônios estava fazendo ela em Londres? O duque já tinha eleito uma esposa?... Foi quando o que dissera o guarda, penetrou em seu cansado cérebro. "Mulheres". Sera certamente não teria feito isso. Não teria arriscado a reputação de uma de suas irmãs. A reputação de… sua irmã. Golpeou com sua mão o balcão. — Disse mulheres? Maldita seja. Sera não havia a trazido aqui. — Há duas delas. — Como é a outra? Singela e erudita? — Talvez fosse Sophie. — Alta como uma árvore? — Ou Seleste. — Nadando em joias? — Seline, talvez. — Fêmea. — O que significa isso? O sorriso de Fetu apareceu outra vez, desta vez, reforçado por enormes mãos riscando uma figura escandalosamente curvilínea no ar. — Fêmea.


Caleb agarrou a camisa de Fetu em seu punho, puxando-o o suficientemente perto para ver a tinta da tatuagem que cobria a coroa da careca do homem. — Nem pense em ter isso em conta. Ela não é fêmea para você. As sobrancelhas do outro homem se elevaram sobre sua cabeça calva, mas foi interrompido antes que pudesse responder. — E sou fêmea para você? Caleb soltou Fetu e girou para a proprietária dessas palavras. Para essa fêmea. Maldita seja, não queria que fosse tão feminina. — Não. É um incômodo. Ela riu. O som do pecado e do sexo, bem-vinda como o maldito sol. Mas ela não era bem-vinda. Ele não a queria ali. Mesmo que ela fosse como uma brisa fresca no salão quente e esfumaçado, com o cabelo recolhido por forquilhas que tinham estado muito tempo em sua cabeça, deixando que os cachos largos e suaves se retorcessem e se colassem a seu pescoço, a seus ombros, a ponta de um penetrando na borda de seu decote. Com as bochechas ruborizadas e um brilho úmido sobre essa pele linda e lisa. Com esses lábios, rosados, cheios e perfeitos. Ela levantou uma sobrancelha. — Não pode escapar. Não, a menos que esteja disposto a saltar sobre o balcão e chocar-se contra algumas dúzias de homens que clamam por conseguir um lugar decente para verem Sparrow cantar. Dirigindo-se a Fetu ordenou: — Volte para a porta.


Fetu executou uma breve reverência em direção a Sesily. — Um prazer te conhecer, irmã de Sparrow. Ela sorriu e se inclinou para fazer uma pequena reverência. — E eu a você, protetor do americano. Caleb queria romper algo. — Não é meu protetor — disse, odiando a necessidade de dizer algo. Não importava o que ela pensasse. Seus pensamentos não eram para que ele se preocupasse. — Não necessito um protetor. Sesily se voltou para ele. — Oh? Então, por que o emprega? — Porque ele necessita de um protetor — interveio Fetu com um sorriso. — Volte para a porta — disse Caleb, recolhendo uma garrafa e fingindo servir whisky aos homens que não esperavam beber. Uma vez que Fetu se foi tranquilamente, girou por acaso, olhando para Sesily uma vez mais. Não era fácil, já que era muito linda para olhar sem temer às repercussões — Não deveria estar aqui. — Não teria tido que vir se tivesse sido menos covarde. Ele ferveu pela frustração. — Um homem sentiria o peso de meus punhos por tal sugestão. Ela sorriu. — Bom, como já estabelecido, não sou um homem. Assim acredito que me arriscarei. Quase com um grunhido, arrojou a garrafa sobre uma mesa baixa e saiu de detrás do balcão, tomando-a pelo braço e guiando-a através da


multidão, para a sala atrás do pub, onde não havia nada mais que whisky e gim para servir de testemunhas. Soltou-a e fechou a porta atrás dele. Sesily estava muito segura, deu um grande passo para ele, e Caleb teve que esforçar-se para não retroceder. Ela destilava perigo. E isso foi antes que dissesse, baixo e sensualmente, como se estivesse provando as profundidades de seu descaramento. — Talvez não seja tão covarde, depois de tudo. O que pensa fazer comigo aqui? A pergunta produziu tantas respostas vívidas, deslumbrantes e devastadoras que necessitou um momento para pensar. É óbvio, não tinha a intenção de atuar sobre uma dessas respostas, mesmo quando ele desejava desesperadamente. Afinal, era um homem com sangue nas veias. Esclarecendo sua cabeça, procurou um tema seguro. E se aferrou a ele. — Onde está sua irmã? Ela se aproximou mais, suas abundantes saias cerúleas roçando contra suas pernas. Não é que as sentisse. Não é que ele sofresse por elas. — Desapareceu no momento em que chegamos. Discutiu com o Sr. Fetu, ganhou a entrada ao salão principal, e se foi para o palco, murmurando algo sobre o entretenimento. — Não deveria havê-la trazido. — Tem medo de que me arruíne? — Alguém deveria ter.


Ela inclinou a cabeça. — Sera não disse que minhas irmãs e eu estávamos arruinadas antes mesmo de começar? Somos as perigosas Talbot. Curiosamente, estamos tão arruinadas que não podemos impressionar à sociedade. Podemos fugir de nossos esposos. Atirarmos duques em lagos de peixes. Participarmos de corridas de cavalos. Irmos a Escócia em carruagens com homens que não conhecemos. E o único que fazemos é provocar o ponto de vista que afirmam todos. Uma de minhas irmãs é uma duquesa. Outra uma marquesa. Outra uma condessa. E a última mais rica que as outras três juntas. A ruína nos serviu bastante bem. Ele estreitou seu olhar. — Mas, entretanto, a você não. Algo brilhou nesses olhos, azuis como o tecido brilhante de seu vestido. Algo que teria chamado tristeza se estivesse disposto a prestar atenção. O qual não estava. — Não, eu não. Mas talvez simplesmente não me esmerei nisso. E então ela colocou as mãos sobre ele, sua palma no seu peito, sobre o colete de linho abotoado que usava sobre a camisa quando trabalhava. O toque foi como fogo. Agarrou essa mão criminosa e gloriosa, seguro de que iria tirá-la dele. Era uma coquete, da pior classe, do tipo que fazia com que um homem quisesse ajoelhar-se e suplicar. Ele não moveu a mão. Em vez disso, apertou-a mais forte contra ele. Os olhos azuis capturaram os dele. — Seu coração pulsa rápido, americano.


— Acidental — ele respondeu. — Pensei que tinha deixado claro que não sou um homem com quem deveria brincar. — Me diga por que, e aceitarei. Não pôde evitar rir um pouco ao escutá-la. Como se todos se inclinassem a seus caprichos. Como se ela e sua classe governassem como se fossem da realeza. E talvez fossem. — Porque dispenso mulheres como você. Sua voz suave e sensual perguntou: — Mulheres como eu? — Do tipo perigosa. Ele estava se inclinando para ela? — Nem todas nós somos? Possivelmente ela se estava aproximando dele. — Deus sabe que a maioria de vocês são. Ela estava ali, com os lábios separados como uma promessa. Como um segredo. — Você parece ser um homem que gosta de um pouco o perigo. — As palavras foram um sopro contra sua pele, a mão deslizando-se até seu ombro, até seu pescoço. Caleb apertou suas mãos aos lados. — Não do tipo que se leva ao altar. Ela o olhou, linda, com um desafio nos olhos. — Nunca disse que queria me casar contigo. Ele merecia uma maldita medalha por não beijá-la. Por não aceitar a oferta tácita que ela expressou sem dizê-lo: "me beije". "Me toque". E era


tudo o que Sesily Talbot, a mais perigosa das Perigosas Irmãs Talbot, queria. Ele merecia que o presidente Jackson entrasse na maldita sala e lhe oferecesse um posto no gabinete. Merecia ser renomado cavalheiro pelo maldito rei. Riquezas e poder além de seus sonhos. Tudo isso. Porque, certamente, afastar-se dela seria o ato mais nobre que alguém tenha realizado alguma vez na história. De fato, foi ainda mais nobre quando disse: — Vá para casa, para seu gato, gatinha. Os lábios do Sesily se fecharam em algo como decepção, e logo suspirou: — Meu gato ainda está em Highley. — Por que? Decidiu que não queria um companheiro selvagem? Ela respondeu, seca como a areia. — Brummell se escondeu depois que você fugiu. — Não fugi — retrucou Ela o ignorou. — Ansiava pelo seu coçador americano. Ele franziu o cenho. — Possivelmente deveria ir buscá-lo, então. Não me importa muito o que você faça, francamente, sempre e quando encontre outra árvore para miar e coçar-se. — Sua habilidade para misturar metáforas verdadeiramente é incomparável — ela disse.


— Parece uma razão bastante boa para que encontre outro homem com quem brincar, Sesily — disse Caleb, reforçando seu tom. — Não sou o suficientemente inocente para ser tentado em seu jogo. Se a cor que alagou suas bochechas fosse uma indicação, tinha-a zangado. Mas antes que pudesse responder, o ar mudou. No salão mais à frente, que parecia estar a uma imensa distância, caiu o silêncio, suave e pesado de antecipação. Sesily olhou para a porta, escutando o silêncio. — O que está acontecendo? — Sua irmã está a ponto de cantar. Ela voltou-se para ele. — Não irei escutá-la. — Fique se quiser — disse ele, afetando o desinteresse. Esperando por isso. — Mas não espere que eu fique contigo. Levantou uma sobrancelha e endireitou os ombros. — E, então, eu tinha razão. — Equivoca-te. Não sou o outro homem para ser enfeitiçado por você. — Talvez se o dissesse, ela acreditaria. Possivelmente ele acreditaria. Ela não acreditava. De fato, parecia completamente impassível às palavras. Ao insulto que pretendia impregnar a elas. Em lugar de dar meia volta e sair, sorriu-lhe, audaz como sempre. — Não, Caleb, eu tinha razão. É um covarde. Não está disposto a ver a verdade.


Ela havia dito essas palavras antes. No campo. Não teve que lhe pedir que se esclarecesse, já que estavam gravadas em sua lembrança. O que bom seria. Sacudiu a cabeça. — Vá para casa, pequena, antes que se meta em problemas. Olhou-o por um tempo suficiente para desestabilizá-lo, antes de lhe sorrir. — Não acredito que esteja em perigo para me colocar em problemas, americano. — O mundo pensará que a arruinei se não tomar cuidado. — Eles não pensarão em tudo se você for... cuidadoso. Odiava a forma como ele respondia a seu audaz descaramento. Odiava suas palavras, tão impactantes e tão malditamente bem recebidas. Ele há muito tempo não havia se sentido desta maneira: acordado, ardendo, duro. Tentando ignorar tudo isso, falou, reforçando sua voz. — O que você quer, Sesily? Devo retornar a taberna. — Quero que me beije. Ele sacudiu a cabeça. — Não. Ela se moveu em direção a ele. — Por que não? — Porque não beijo meninas. — Como te disse, não sou uma menina.


Ele aferrou-se à ira dela, esperando afastá-la, o suficientemente longe para que nunca retornasse. — Mas é jovem e mimada, verdade? Sempre foste. — Então eu deveria obter o que desejo, não? — Não me interessa. — Me malcriar? — Te beijar. As palavras ao fim a tocaram e doeram. Viu-o em seus belos olhos azuis, por um ínfimo momento, antes que fechasse à emoção e assentisse. — Então encontrarei a alguém mais. — Para te malcriar? É um plano excelente. — Não se importava. Ela não era seu problema. Ela se virou sem dizer uma palavra, dirigiu-se para a porta, abrindo e dando meia volta da soleira antes de responder: — Não. Para me beijar. Ela misturou-se com a multidão de homens mais à frente, antes que ele pudesse apanhá-la. Ele ficou olhando seu rastro, durante um momento, muito depois de que ela desaparecesse entre a multidão. Ela estava a salvo, e não era seu problema. Ela não partiria sem Sera. De fato, provavelmente se dirigiria para trás do palco para encontrá-la. Ela estava a salvo, e não era seu problema.


Havia meia dúzia de homens nesse salão que tinham sido contratados para manterem a paz. Ela estava a salvo, e não era seu problema. Acabava de convencer-se desse fato quando começou a briga.

****

Malcolm

tinha

cavalgado

diretamente

para

Covent

Garden,

recuperando grande parte da vantagem que Sera levava, ao chegar em "O Canto do Pardal" encontrou lampiões em chamas e uma multidão de farristas estridentes bloqueando a rua, amaldiçoando e gritando de prazer e álcool. Atou seu cavalo, lançou uma moeda a um menino para se assegurar do amparo a besta e se dirigiu para a porta, desesperado por chegar a Sera, que sabia sem dúvida, que ela estava lá dentro. Mal empurrou o enorme porteiro, agradecido pelo óbvio sentido comum do americano, pelo menos no assunto de contratar um segurança, já que poucos se arriscariam à ira dessa montanha de massa de músculos, em um salão escuro, esfumaçado e com o aroma de Londres em pleno verão. O salão estava estranhamente silencioso, a antecipação e a emoção flutuavam no ar. Seu olhar foi imediatamente para o palco vazio, mas perfeitamente iluminado, com longas e parpadeantes velas, como se elas também tremessem com a excitação do salão. — Escutei que ela retornou — anunciou um homem a um grupo sentado a sua esquerda.


— Certo — foi a resposta zombadora. — Estiveram dizendo isso todas as noites desde que ela partiu. Escutei que voou de volta a América. Pardal não gosta das coisas daqui. Outro interveio. — Sim, dizem que veio procurando instalar-se como amante de um aristocrata rico, mas nenhum deles a quer. — Você a quereria? Não é como se fosse uma dama. Haven apertou os dentes, odiando esses homens, o lugar e tudo o que representavam: a vida que ela tinha eleito sem ele. Como o odiava para escolher esta vida. Tinha que chegar a ela. Antes de poder avançar, o primeiro homem falou de novo, pontuando suas palavras com um rude movimento da mão. — Razão a mais para tê-la. Seguro sabe como fazê-lo. Os homens riam às gargalhadas quando Haven se voltou para eles, tomando nota das grandes canecas de cerveja sobre a mesa, enquanto se agachava e apoiava sua mão no ombro de que tinha falado: — Diga-o outra vez. As palavras eram profundas e sinistras, mas os homens estavam suficientemente bêbados para não verem o perigo existente nelas. — O que? Que Pardal tem um bom lugar onde enterrar o arado? Foram as horas de frustração, cavalgando sozinho na escuridão, desesperado por chegar a ela. Foram as semanas de frustração, desejando que ela estivesse com ele, mesmo que estivesse a centímetros de distância, era impossível alcançá-la.


Foram os anos de frustração, sabendo que tinha cometido todos os possíveis erros. Temendo nunca encontrá-la. Sem tudo isso, talvez não tivesse virado a mesa aplicando toda sua fúria e força, fazendo com que o quarteto voasse para trás, estampandose contra paredes e mesas. Talvez não tivesse agarrado uma caneca de cerveja virtualmente do ar e não a teria destroçado contra o lado da cabeça do homem que tinha falado de Sera, e talvez não tivesse desfrutado do poderoso golpe, mais do que deveria. O homem aterrissou no chão com uma maldição selvagem, então a multidão que pareciam densas e imóveis se dispersaram abrindo um amplo espaço, enquanto alguém gritava: — Briga! O salão explodiu em atividade, a antecipação e a emoção pela apresentação da volta de Sera, transformou-se em uma onda selvagem pela briga que tinha começado por sua culpa. As mulheres gritavam e levantavam suas saias, fugindo do campo de ação, enquanto os homens começavam a apostar. Mal, entretanto, não se deteve para apreciar o êxito de suas ações. Estava

muito

ocupado

lutando,

seus

punhos

voavam

rápido

e

poderosamente, castigando os três membros restantes do grupo que tinham ofendido Pardal. — Não vai falar dessa maneira dela — disse, ensangüentando o nariz de um homem antes de girar para bloquear uma cadeira que o outro lhe atirou. A cadeira explodiu contra seu braço, cobrindo-o com uma chuva de lascas, um segundo antes que Mal detonasse um forte golpe na mandíbula de seu atacante.


— Não falará dessa maneira de nenhuma mulher — ele rugiu. — Escute! — Chegou-lhe a réplica do primeiro homem, uma vez mais de pé, com a bochecha ensanguentada. — Direi o que eu gosto, onde eu gosto! Mal foi até ele outra vez, tomando-o pela gola da camisa imunda e lançando-o, pelo ar, para o enorme guarda, que parecia menos interessado no repugnante lixo humano a seus pés, e mais interessado em chegar até ele, sem dúvida para deter seu ataque de fúria. O duque levantou suas mãos em sinal de rendição. Não queria problemas com os homens que protegiam Sera. — Não estou aqui para… Não pôde terminar a frase já que um grito feminino soou detrás dele. Ele voltou-se, sem saber o que esperar. Certamente, não esperava encontrar seu oponente, que ele tinha golpeado, a escassos centímetros dele, agitando os braços no ar, pelos golpes que a mulher tinha dado no cretino por trás. Sesily. Sua cunhada, que o olhou diretamente e disse: — Vá em frente, tome essa oportunidade! E ele o fez. Deu-lhe um brutal gancho de direita, que teria deixado imensamente orgulhoso o seu instrutor de boxe em Eton. O homem caiu como uma árvore e Sesily se sentou em cima dele, notavelmente rápida, e com um gesto impressionante, como se lutar com bestas no chão, usando saias, fosse um talento particular. Ela sorriu para ele. — Acredito que estamos com problemas. Sesily, como sempre, subestimava a situação.


O salão estava desenfreado, a multidão assoviava e dava alaridos, aclamando e exaltando os competidores de forma grupal, trocando o dinheiro de mãos, até que um coletor de apostas muito empreendedor gritou: — Como ninguém apostou que uma moça entraria na refrega, ninguém venceu! Basta dizer que aqueles que se reuniram esperando seus lucros não estavam satisfeitos. Enquanto lutavam entre eles, vários homens enormes saíram de um escritório para tirar os quatro infratores. Mal se inclinou, oferecendo uma mão a sua cunhada e ajudando-a a levantar-se. Ela sorriu. — Sabia que viria, mas não esperava uma entrada tão espetacular, confesso-o. Ele franziu o cenho. — Não sei se ela se sentirá da mesma maneira. Sesily sacudiu sua cabeça. — Não seja tolo. As mulheres amam um grande gesto. Grande gesto… Mal não tinha certeza de que destruir uma taberna e ensanguentar quatro homens, fosse o mesmo que uma sala cheia de rosas de estufa, mas o guarda o alcançou antes que pudesse discutir o ponto de vista, as grandes mãos pousaram nos ombros do duque e o empurraram para a entrada. — É hora de ir, lorde. — Espere! — Disse Sesily, adiantando-se. — Ele é…


— Em que maldito inferno você estava pensando? — Mal de alguma forma tinha esquecido o americano, o que foi um choque, honestamente, considerando quão feroz estava o homem nesse momento em particular, fazendo Sesily se virar para enfrentá-lo. — Acaba de se lançar em uma maldita briga de taberna? Não havia nenhum pingo de temor em Sesily. De fato, parecia que sua cunhada estava agradada além da medida pela fúria de Caleb Calhoun. Nesse momento ele compreendeu, enquanto observava como ela girava com total calma. — Qual é o seu problema? Parecia que as perigosas Talbot tinham atacado de novo, e pela primeira vez desde que despertou horas antes e soubera que Sera tinha desaparecido, Malcolm se encontrou pensando em algo mais que recuperar sua esposa. Calhoun se voltou para ele. — Por que está sorrindo Vermelho? Mal sorrindo lhe respondeu: — Somente que é bom vê-lo caído por uma delas, também. — Saia — disse Caleb, assinalando-o com um dedo, antes de agitálo na frente do nariz de Sesily. — E leve esta contigo. Os olhos de Sesily se arregalaram. — Esta? — Destruiu minha taberna, bruxa! — Não fiz tal coisa! Apenas algumas cadeiras. — Malcolm lançou um olhar aos destroços. — E além disso — ela continuou, — não é sua taberna. É de Sera.


Mal ficou quieto. — O que você disse? Caleb amaldiçoou, e os olhos de Sesily se arregalaram, como se acabasse de dar-se conta do que havia dito. As implicações nisso. Imediatamente quis retratar-se. — Oh… quer dizer… — Não é de Sera — disse Caleb. — Não é — mentiu Sesily. Muito rápida. Malcolm se esforçou por encontrar sentido no descobrimento através dos eventos dos últimos dez minutos, das últimas doze horas, das últimas quatro semanas. Através da dor em seu braço onde tinha sido golpeado com uma cadeira, em sua mandíbula onde tinha sido golpeado por um punho, e o que estava em seu peito, onde tinha sido golpeado com a verdade. Depois, de maneira impossível, o salão ficou em silêncio, tendo em conta a luta, a bebida, o calor e a grande massa de humanidade, todos os olhos postos na mulher de máscara que, no centro do pequeno palco, aguardava, brilhante e linda. A briga fora esquecida. Ela

ficou

em

perfeita

quietude,

como

se

simplesmente

se

materializou ali, no atoleiro da luz dourada das velas, como uma deusa. — É ela — alguém suspirou, com adoração nas palavras. Mal entendia a adoração, porque ali, no palco, estava a mulher que amava. A teria reconhecido, mascarada ou não, coberta de maquiagem ou não. Teria reconhecido suas longas linhas de expressão, suas sensuais curvas, seu suave fôlego.


Como reconhecia a luz, o ar, o pecado e o amor que a rodeava. Levava um vestido impressionante, da mais intensa cor púrpura, uma delicada máscara, que chegava até abaixo de seu nariz em filigrana torcida em vibrante vermelho e azul, brilhando como o metal, com um elaborado padrão e um penacho de plumas em seu pequeno chapéu, deixando um espaço entre a ponta da máscara e seus lábios perfeitamente pintados, cheios e deslumbrantes. O vestido era muito ajustado no corpete, mas descia abaixo do seio em uma caída suave que era a perfeição. Então, silenciosamente, levantou os braços, estendendo suas mãos para sua audiência, com graça, como se os estivesse convidando a aproximarem-se, para poder lhes contar seus segredos mais íntimos, para que a amassem, como ela merecia. Para que pudessem amá-la, como ele amava. Todo o salão pareceu mover-se, inclinando-se para ela, e Mal foi junto com eles, como se o tivesse puxando por uma corda. Não havia nada que pudesse afastá-lo desse salão nesse momento. Nada que pudesse afastá-lo desta mulher. Ela era magnífica. — Bem-vindos, amores! — disse ela, seus lábios curvados ao redor das palavras cheias e orgulhosas, sua voz baixa e lânguida. Familiar, e de alguma forma completamente estranha. — É encantador estar livre esta noite com vocês. E foi então quando Malcolm se deu conta da verdade. Isto poderia ser parte de sua atuação, sim. E poderia ser algo que ele nunca tinha visto ou conhecido, mas era ela. Uma parte dela. E não


era por obrigação. Deleitava-se com o que fazia. Elevava-a. E então, quando ela abriu a boca e começou a cantar, percebeu que todos estavam elevados por ela. Não foi surpresa o que cantou. Mesmo ali, na escuridão, onde sabia que não podia vê-lo, sabia que ela cantaria para ele, essa canção que tinha ecoado em sua lembrança durante anos. — Aqui jaz o coração, o sorriso e o amor, aqui jaz o lobo, o anjo e a pomba. Deixou de sonhar e colocou de lado os brinquedos, e nasceu nesse dia, no coração de um menino ". Mas o que ele não sabia, era que havia mais, versos adicionais que eram melancólicos, belos, e que doíam. — "A flor foi embora e o corvo partiu; se foi o futuro que prometeu fazerem juntos. Adeus ao passado, ao presente e ao agora; adeus à nave, à âncora e ao arco". E então, encontrou-o no salão escuro, voltando-se para ele, conectados agora, como sempre. Como tinham ficado naquela primeira noite, cem anos atrás, em uma varanda na escuridão, destinados um ao outro. Aquela noite e para sempre. — "Então, assim que nos deitamos e colocamos nossas cabeças no travesseiro; nos deitamos na frieza de nossas camas. Deixamos de sonhar, e deixamos de lado os brinquedos; e recordaremos de nossos dias no coração de um menino". A taberna estava quieta e silenciosa como as nevascas, as notas enchiam cada canto do salão, todo o público cativado por sua linda voz. Mas somente Mal estava devastado pela canção.


Porque finalmente entendeu tudo. O Sparrow não era um Pardal. Era uma fênix. Ressuscitada das cinzas do passado. De seu passado. Nenhuma das coisas que eles tinham destruído estava aqui. Nenhuma das coisas que eles tinham perdido. Quantas vezes ela tinha falado da liberdade? Aqui, neste salão, que ela era livre? Ele finalmente entendeu. Quando a música terminou e ela se inclinou, o salão explodiu em aplausos ensurdecedores e gritos de aprovação que fizeram tremer as paredes. Entretanto, ela não se entreteve com o brilho dos aplausos, em vez disso, voltou-se e empurrou uma pequena cortina ao lado do palco, mal perceptível. É óbvio, todos os homens reunidos, e várias das mulheres, queriam mais dela. Malcolm se moveu para evitar que a seguissem, quando uma mão o deteve. — Há segurança — disse Calhoun. — Ela está a salvo. Dois homens enormes se localizaram na frente da cortina, preparados para lutar por Sparrow, por sua Rainha. Não lhe importava. Ele queria protegê-la. — Possivelmente deveria esperar — adicionou Sesily. Mal ouviu o significado nas palavras. "Ela não te quer". A ira o fez dizer para Calhoun: — Esta ainda não é sua taberna. Foi isso o que queria dizer. Não? — Não quis dizer nada. — O americano franziu o cenho para Sesily. Sesily levantou um ombro e o deixou cair.


— Tinha-me feito zangar. E além disso, é hora de que alguém a persuada a ficarem juntos. — Junto, onde? — Grunhiu Caleb. — Ele não está se divorciando dela, americano — disse Sesily. — A ama profundamente. Sua cunhada não estava equivocada, mas essa conversa não o estava ajudando. Mal resistiu ao impulso de dizer aos dois que se calassem, por isso disse: — Tenho razão, não é assim? A taberna será dela. O americano cuspiu a resposta. — Será dela quando puder assumí-la. Malcolm negou com a cabeça. As mulheres casadas não podiam ter propriedades. E não podiam ser proprietárias de negócios. — O que nunca acontecerá. Enquanto esteja casada comigo. Calhoun não teve que responder. Para ter um futuro, ela tinha que esquecer seu passado. O qual era impossível, se ele estivesse com ela. Olhou para Sesily, a única irmã que parecia remotamente disposta a perdoá-lo. — Por que ela não me disse isso? — Calhoun tampouco teve que responder a isso. Malcolm respondeu por ele — Porque não confiava que eu ajudasse no jogo dela. — Ela não confiava nele, ponto. E não tinha feito nada mais que demonstrar que ela tinha razão, intrigando, planejando e organizando uma maldita farsa de festa no campo, para atraí-la para ele em lugar de lhe dizer a verdade. E arriscar tudo. Tudo o que tinham perdido de todos os modos.


Nunca lhe tinha dado razões para confiar nele. Suas palavras essa manhã, tinha sido essa manhã? Cristo, sentiase como se tivesse passado uma era, ecoavam através dele como sua canção, doce, honesta e melancólica. "O amor não é suficiente". Houve um tempo que deveria havê-lo sido. Quando ele tinha sido tudo o que ela tinha desejado um dia. Tudo o que ela um dia tinha necessitado. Mas ele estava muito cego para ver que tudo o que ela tinha feito, tinha sido por ele. Por sua família. Por seu futuro. E quando ele tinha entendido, ela tinha desaparecido. Ele assentiu, sabendo o que tinha que fazer. Sabendo que se não funcionasse, perdê-la-ia para sempre. E sabendo que não tinha outra opção. Voltou-se para partir, e Sesily o deteve. — Espera! Haven! O que lhe dizemos? Ele respondeu sem olhar para trás. — Diga-lhe que não vou me casar com Felicity Faircloth. Cruzou rapidamente o salão e saiu à rua, necessitando de ar e um momento

para

pensar.

Apoiou

as

costas

na

parede

curva

de

paralelepípedos, fechou os olhos e respirou fundo várias vezes, a dor forte em seu peito ameaçava consumí-lo. Quando os abriu, foi para encontrar dois homens brutais de pé diante dele, um alto, magro, com uma cicatriz perversa na bochecha e uma bengala que não fora projetada para ajudar no equilíbrio, e sim para ajudar em uma briga, e o outro mais baixo, mais amplo, e com um rosto que evocaria uma escultura romana, se não se parecesse tão cruel.


Pareciam treinados para ladrões de carteira ou brigões ébrios, mas isso era Covent Garden, por isso disse: — Se estão procurando briga, cavalheiros, devo lhes advertir que estou mais que disposto a dar-lhes. Encontrem outro sujeito para incomodar. O homem alto não duvidou em sua resposta. — Não estamos aqui por você, Duque. — Malcolm não estava surpreso de que o conhecessem. Pareciam o tipo de homens que sabiam o bastante. — Pelo menos, não viemos por você. Mas agora que vimos a forma como luta… — O homem marcado deslizou sua aprovação. — Mas suponho que não estaria interessado em lutar para nós. Bom, isso foi contundente. — Eu não estou. O outro, o do rosto bonito e cruel, falou nesse momento, sua voz grave e baixa, soava a desuso. — Não. Você seria um perdedor nisso. — Por que seria? O alto outra vez. — Meu irmão quer dizer que há dois tipos de lutadores; os que se destacam na luta aconteça o que acontecer, e os que somente se destacam quando algo que amam está em jogo. É dos últimos. Assim, soube quem eles eram. — Vocês são os irmãos que golpearam Calhoun. O alto tocou a boina e sorriu amplamente.


— Somente um pouco, tudo bem? Demos-lhe as boas-vindas à vizinhança. Calhoun se defendeu, e é bom. Somos amigos, agora. Malcolm assentiu, mesmo quando duvidava de cada palavra. Fez uma pausa, considerando os dois homens e todas as formas em que poderia destroçá-los se se atrevessem sequer a olharem para sua esposa. Finalmente, soltou um pequeno grunhido e se inclinou. — Têm razão, sabem. Não sou imparcial quando algo que amo está na linha de fogo. E suponho que podem dizer isso porque estão no mesmo corte de um tecido similar. Os homens o observaram com atenção, mas não disseram nada. O duque manteve sua fúria e frustração em um rígido controle. — Me escutem. Tudo o que amo está dentro deste lugar. Se algo lhe acontecer, virei por vocês. Houve um batimento cardíaco no silêncio, depois o homem silencioso grunhiu e o homem alto disse: — Cristo, oxalá pudéssemos conseguir um round com você. Pense no dinheiro que nos daria! — Ele tem outras lutas em mente. — demandou seu irmão Deus sabia que isso era correto. Até esse momento, Mal tinha lutado por si mesmo. Era hora de que começasse a lutar por ela.


Capítulo 26 Divórcio Ducal: Dia da Decisão! 12 de outubro de 1836 Câmara dos Lordes, Parlamento

— Não o vejo. Sesily se inclinou sobre o corrimão da galeria de observação e contemplou a procissão de membros do parlamento que estavam se apresentando na Câmara dos Lordes, Sera ignorou a pontada de decepção que surgiu nela e falou: — Não, não acredito que esteja ali. — Bom, todos podem vê-la, então isso é o que importa. — Seline apontou secamente quando Sesily se endireitou e deu as costas à sala. — Não me inclino a mostrar deferência para um monte de homens arcaicos e veneráveis, sabe? Não, a menos que deem a Sera o que ela quer. — O que não acontecerá — respondeu Seleste, colocando seu traseiro perfeito no corrimão e cruzando os braços sobre seu peito. A posição colocou sua parte posterior à vista de todos os homens que estivesse abaixo, coisa que ela não pareceu se importar. — Clare disse que ele tem uma boa autoridade na câmara e que você não tem os votos suficientes, Sera. Embora, é óbvio, tem o de Clare. — E o de King — interveio Sophie.


Sera sabia que não iria se divorciar. De fato, ainda estava surpreendida de que tivesse dois votos. Afinal, Mal tinha passado semanas riscando planos para evitar a dissolução de seu matrimônio, arruinando o verão de meia dúzia de mulheres e o seu também. Mentira. Ela ignorou o sussurro e a verdade que veio com ele. Era mais fácil se imaginasse o verão arruinado. Se fingisse que não se importava. Então, talvez, não lhe doesse tanto que ele tivesse feito o que tinha prometido: manter seu matrimônio e manter-se afastado. Durante três semanas, manteve-se afastado, sem contatar-se e sem outra mensagem do que deu a Sesily para "Sparrow" depois de quase destruir o lugar. Não se casaria com Felicity Faircloth. Parecia que tampouco se casaria com Lady Lilith, considerando que ambas as mulheres, junto com Lady Emily tinham retornado a Londres e ao mercado matrimonial com o início da nova sessão do Parlamento. Surpreendentemente, a coluna de intrigas de "Notícias de Londres", já as tinham proclamado como três das jóias mais brilhantes da temporada. Então, ao que parecia, Mal não se casaria com outra e, portanto, não tinha intenções de divorciar-se dela. Três dias depois que seu esposo deixasse "Sparrow", sem dizer uma palavra, Sera recebeu notícias do Lorde Chanceler, indicando que: "O assunto da dissolução de seu matrimônio com o Duque de Haven, por divórcio, será debatido no salão da Câmara dos Lordes. No décimo segundo dia de outubro de 1836, às onze e meia da manhã." Ela não foi convidada a fazer uma declaração sobre o seu pedido e nem lhe permitiu contratar um advogado para o processo. As esposas


não eram entidades legais, por isso simplesmente recebiam um aviso da data e da hora. — Bem — tinha declarado Seline quando Sera tinha lido para suas irmãs a missiva. — Pelo menos não perderemos nosso passeio da manhã. E por isso ali estavam, cada uma das Perigosas irmãs Talbot que tinham permitido entrar na galeria de observação, para sentarem-se junto a sua irmã, já que ali, duzentos homens nascidos com pompa e o privilégio, decidiriam seu destino. Bem, quase duzentos, já que seu pai, tinha ganho seu título nas cartas, o que, se alguém pensasse muito na situação atual, poderia ter sido a razão pela qual elas estavam sentadas ali. Os homens abaixo formavam grupos, aparentemente inconscientes de que seu futuro dependia do equilíbrio de seus trabalhos legislativos. Entravam e saíam por duas portas, uma a cada lado do estrado. A porta da esquerda conduzia ao lobby do conteúdo do pedido, onde os senhores a favor do divórcio do Duque e a Duquesa de Haven emitiam seus votos por "Contido".25 À direita, ao Lobby "Sem contido", onde ocorria o contrário. — Então, você tem pelo menos dois votos a favor do divórcio — apontou Seleste. — King e Clare estão de seu lado. O problema é que nenhum desses homens anciãos com títulos, estão interessados em que as esposas infelizes possam simplesmente pedir o divórcio. Nossos esposos, entretanto, sabem reconhecer um erro.

25

Content (inglês) - Contido ou conteúdo - Dicio; O que está contido no interior de algo, significado, sentido,

profundidade, substância. Tema, tópico abordado num livro ou em outro modo de divulgação; assunto, pedido, solicitação.


— Nunca o considerei um erro — Sophie sorriu, olhando por cima da galeria de observação. — E, além disso, não tenho nenhum interesse em lhe pedir o divórcio. — Fez uma pausa, e logo disse sem fôlego: — Nunca tinha visto King com sua peruca. É bastante… — Estranho? — Perguntou Sesily. — Eu ia dizer curioso. Mas agitado é também uma opção interessante. — Ela inclinou a cabeça. — Estou agitada? É possível. — As perucas fazem isso? — perguntou Seline, secamente. — Crina de cavalo empoadas, passadas através das gerações. Muito elegante. E perfumada. As irmãs riram as gargalhadas. As Perigosas Talbot, eram isso, mas Sera, não podia ignorar o premente debate do dia, o que fazia sentido, considerando que esse debate impactaria diretamente em seu futuro e em sua liberdade. Não importava que, de repente, com Mal desaparecido de todos os lugares, exceto de seus pensamentos, ela estivesse muito mais interessada em uma das portas do que na outra. Por isso perguntou: — Tem certeza que ele não está ali abaixo? Sesily girou e observou os homens que estavam abaixo, uma vez mais. — É difícil de dizer, com todas essas perucas e túnicas, mas não acredito que esteja — Olhou para Sera. — Na verdade não acreditou que olharia para aqui? Não é? Ou melhor ainda, viria buscá-la? Quero dizer, todo este procedimento parece projetado para demonstrar isso. Ele não vai dar o divórcio, de modo para que serviria que estivesse aqui? — Prometeu-me um voto.


— Ele também te prometeu amor e honra, e isso não funcionou bem. — Seline — disse Sophie bruscamente. — Ela não necessita de lembranças de seu passado. — Também lhe prometi essas mesmas coisas — apontou Sera. — Ora — Seleste agitou uma mão, — também prometemos obediência, e alguma de nós cumpriu ao pé da letra? A questão é que isto é humilhante. Se ele insistir em te manter como esposa, então deveria ter cancelado a votação, em lugar de fazer com que todos vejam como você perde. Sera não podia discordar da declaração, não importava se tinha a intenção de passar o dia regozijando-se sobre sua vitória, se ele não se manifestasse em sua vitória. O que faria? — Bem, em qualquer caso, você pensava que ele viria — respondeu Seleste, unindo-se a Sesily para olhar para baixo no salão do Parlamento — Surpreendentemente, Sera, parece que você recebeu mais votos que simplesmente os de nossos estimados cunhados. Oh! Aí está Pai, vem do lobby do "contido". Bom trabalho, papai! — Gritou, aplaudindo e recebendo a atenção e a clara desaprovação de uma parte da Câmara dos Lordes. — Papai votou a seu favor, Sera. Sesily se somou ao espetáculo e gritou: — Votem em Seraphina! — Ela se voltou. — Deveríamos ter feito chapéus e pôsteres. E uma caminhada. Sera resistiu ao impulso de ocultar seu rosto entre as mãos quando Seline adicionou: — Não acredito que uma caminhada tivesse ajudado.


— A gente nunca sabe — disse Sophie, com um sorriso. — Todos sabem — disse Seline, com a voz seca como a areia. — Ninguém gosta de uma mulher intrépida. — Bem, por isso nossas reputações saltam pelas janelas e caem no Tamisa, — disse Sesily, seca e divertida, tomando assento junto à Sera e adicionando, brandamente: — seja o que for que façamos. As Perigosas Talbot riram em massa. — Para todas as mãos que ele vai estreitando, qualquer um pensaria que estaria que é mais um a favor de um divórcio — disse Seleste, um pouco alto, a julgar pela forma pomposa em que se esclareceram garganta vários dos cavalheiros abaixo, devido a sua avaliação inapropriada e extremamente apta de Lorde Grabeham. Ela também piscou e sorriu para seu lindo esposo. — Oh, sim, eu gosto dessa peruca. — Seleste! Seleste baixou a voz a um sussurro. — Bem, é verdade. — Que parte? — Perguntou Sera. Suas quatro irmãs a olharam surpreendidas por um instante, antes que Seleste respondesse, cheia de sinceridade. — Ambas. Suas risadas coletiva ressoou pelo corredor, e Sera descobriu que não se importava. Se Malcolm não podia apresentar-se para à maldita votação, poderia passar a manhã divertindo-se. Afinal, ele ainda ganharia no final, não era assim? Também posso ganhar, disse a si mesma


Ela engoliu a ideia, já que não gostava do mal-estar que a percorreu. — Meu Lorde Chanceler! — Oh! Olhe! Lorde Heiferbetter tem algo a dizer! — anunciou Sesily, e baixando a voz, adicionou: — Homem odioso. Sera não esteve em desacordo com a avaliação. — O Chanceler concede-lhe a palavra Lorde Hoffenbetten, — entoou o homem que presidia a sessão. — Solicito humildemente que recorde aos que estão na galeria de observação, que estamos em um lugar de grande importância, decidindo sobre uma questão que afeta gravemente a um de nossos membros, e que bem poderia influir no resto de nós de uma maneira que somente se pode descrever-se como… — Grave? — Perguntou Seline, e a palavra caiu no salão como chumbo. Lord Hoffenbetten olhou para Seline com pura irritação e disse: — Séria. O Lorde Chanceler respondeu com total aborrecimento: — Silêncio, por favor, aos que estão na galeria. O quarteto de irmãs fez o que ele disse, notavelmente, tomando seus assentos em uma linha surpreendentemente tranquila e colorida de mulheres, vendo os membros da Câmara dos Lordes entrarem e sairem através de suas respectivas portas para emitir seu voto, e possivelmente terminar com a esperança de sua irmã de um futuro que não vivesse à sombra do passado.


Depois de longos minutos de silêncio observacional, Sesily disse em voz baixa, — Sera, há muitos mais homens votando "Contido" do que teríamos esperado. Seleste se inclinou e sussurrou: — Estive contando, e… bom, não desejo te dar falsas esperanças… mas acredito que poderia ter uma oportunidade de lutar, Sera. Sera assentiu, incapaz de afastar sua atenção da porta do vestíbulo de "contido", onde um fluxo interminável de cavalheiros, os mais jovens que podia recordar de suas primeiras temporadas, voltavam depois de terem votado a favor de seu divórcio. Seu coração começou a pulsar com força. — Pode acontecer — disse em voz baixa, mais para si mesmo que para as demais, mas as irmãs Talbot sempre tinham estado conectadas por algum tipo de vínculo inquebrável em momentos como este. Sophie tomou sua mão, apertando-a fortemente. — Sera. E foi então quando viu o marquês de Mayweather. A lembrança golpeou contra ela, tão desgastada, que parecia ter acontecido há décadas e não só três anos atrás. A noite que conheceu Mal, na varanda da casa Worthington, ele tinha estado com Mayweather, lamentando-se pelas falhas dos matrimônios, repreendendo o marquês por haver-se apaixonado. Ela olhou para suas irmãs. — O Marquês de Mayweather está casado?


A confusão floresceu em seus rostos antes que Sesily dissesse, tão delicadamente quanto ela podia dizer algo: — Talvez devesse esperar até que esteja realmente divorciada, antes… — fez um gesto com a mão no ar, — …de olhar para outro homem tão fixamente como pretendente. Sera negou com a cabeça. — Não quero me casar com ele, Sesily. Tenho curiosidade. — Oh. Bem. — Está casado — respondeu-lhe Sophie. — A marquesa frequenta a livraria. — Helen — disse Sera. — Seu nome é Helen. — Bom, somente a chamei de lady Mayweather, mas sim, acredito que sim, é Helen. Conhecia-a? Desde quando? Ela negou com a cabeça, mal falando em um sussurro, distraída pelo homem de baixo. — Soube dela. Sabia que ele estava apaixonado. — Distraiu-se pelo fato de que o marquês ingressou no Lobby de "contido". O votou pelo divórcio. Por que? Não deveria estar do lado de seu amigo? — Ela gosta de gatos — disse, vagamente. Quase sem notar o que estava dizendo. Se Malcolm não queria o divórcio, não pediria a seus amigos que votassem nele? — Eu também gosto de gatos — disse Sesily. — Alguém viu Lady Felicity desde que retornou à cidade? Fiquei tão feliz que ela devolvesse Brummell. Deveriam convidá-la para jantar. — Você poderia convidá-la para jantar — disse Seleste.


Sesily negou com a cabeça. — Ninguém permitirá que sua filha solteira ficasse minha amiga — depois dos eventos em "Sparrow", o nome de Sesily tinha aparecido nos periódicos, e seus pais ameaçavam enviando-a para longe de Londres para restaurar sua reputação. Como se tal coisa fosse possível. — Sophie deveria convidá-la. Ela é a mais respeitável de todas nós. — Oh, sim — sorriu Seleste. — Ela nunca fez nada escandaloso. — Bem, seu escândalo terminou em um marquesado. Enquanto Sera observava, outro homem saiu do Lobby de "contido", detendo-se para falar com outros em um grupo muito fechado. Não podia distingui-los, mas pareciam terrivelmente familiares. — Sera? — disse Sophie em voz baixa, como se pudesse sentir o que Sera estava pensando. — Quem é esse homem? — perguntou. Sophie se voltou para olhar. — O alto é o duque de Lamont. O ruivo alto é o conde de Arlesley. E o bonito é o marquês de Bourne. Eles têm um clube. Não qualquer clube, eles eram donos do Clube de Haven. E estavam votando pelo divórcio. Algo estava acontecendo. Sua respiração disparou em seu peito. Algo estava em andamento, e não podia descobrir o que era. Onde estava Mal? Não daria seu voto? Por que não? Ppor que a deixou sentar-se na galeria e esperar os resultados como estivesse esperando a guilhotina? Tinham passado três semanas desde que o tinha deixado, dormindo em Highley, e ele a tinha deixado em "Sparrow". Sera o tinha visto ali,


entre a audiência. Tinha sido impossível não vê-lo, e não só porque ele e sua irmã haviam conspirado para destruir uma mesa e várias cadeiras do salão, e tinham enviado quatro homens surrados e machucados ao chão. Tinha-o visto no momento em que entrou. Mal tinha desaparecido, como se essa noite nunca tivesse acontecido. Que era, supôs Sera, o que ela sempre tinha esperado que ele fizesse. Exceto, uma vez que aconteceu, ela parecia não querer isso absolutamente. Ele tinha desaparecido e, de alguma forma, tudo o que ela queria, era vê-lo. Por que ele não estava aqui? — Sera — Sophie disse seu nome pela terceira vez. Quando a olhou, descobriu que sua irmã mais nova, olhava-a cuidadosamente. — Você ainda quer isso? A pergunta-a era demais. É óbvio que queria, não? Tinha querido por anos. Tinha sido o que prometeu a si mesmo nos anos em que não tinha tido nada. Depois de ter perdido tudo, o matrimônio que tinha sonhado, o esposo que tinha amado, a filha que tinha dado a luz, o futuro que tinha imaginado. E quando tinha fugido, inclusive tinha perdido estas mulheres, suas irmãs. O divórcio era para fechar a porta de todas essas perdas e lhe dar a oportunidade de começar de novo. — Tudo o que amei se converteu em lixo. Tudo menos "Sparrow". Durante quase três anos, as únicas vezes que Sera tinha sido feliz tinha sido no palco, primeiro, em Boston como A Pomba e aqui, como Pardal. No palco, ela sempre encontrou a si mesma.


E se não tinha nada mais, ao menos tinha isso. — Não posso ser Sparrow e a Duquesa. Eu nunca quis sê-lo. Mas agora… — Deixou que as palavras se desvanecessem. — Mas agora…? — Sophie sempre viu a verdade antes que o resto delas. Sera olhou o salão abaixo, ausente de Mal. Pensou nas últimas três semanas, ausentes de Mal. Onde ele tinha estado? Por que tinha decidido não estar aqui? Por que não a tinha perseguido? Tinha passado os últimos três anos perseguindo-a. Tinha viajado pelo continente. Tinha navegado cruzando o oceano até Boston. Tinha-na procurado. Ele a amava. Mesmo quando acreditava ter perdido tudo, amava-a. E agora, ele tinha partido. E sentia, de alguma forma, como se estivesse perdendo tudo de novo, e desta vez, não tinha certeza de que "Sparrow" salvasse-a. — Meus lordes, os votos se contaram — a voz do Lorde Chanceler retumbou em seu lugar no outro extremo da sala. — E estou surpreso, mas não tanto de que o resultado seja um empate. Oitenta de meus lordes emitiram um voto de "contido" e oitenta votos "sem contido". Sera conteve o fôlego em estado de choque, enquanto os aristocratas reunidos ali, pigarreavam, tossiam ou emitiam dissimuladas gargalhadas e vários gritavam seu descontente para quem quisesse escutá-los. — Um desonroso empate? — Como se não fosse suficiente que desperdiçássemos um dia votando um maldito divórcio!


— O homem deveria encerrar sua esposa, isso é o que ele deveria fazer! — Quem disse isso? — Seline se inclinou sobre a borda do corrimão — Quero ter certeza de convidar sua pobre esposa para tomar chá, talvez possamos convencê-la de que a dissolução matrimonial é uma meta digna! Os homens que estavam abaixo golpearam e berravam, não gostavam das mulheres descaradas que estavam acima. — Alguém já se perguntou por que Haven quereria ter algo que ver com vocês?! Como poderia qualquer homem compartilhar sua sorte com um grupo tão horrível?! O esposo de Sophie ficou de pé e saltou para a refrega, o marquês de Eversley, com a túnica e a peruca, era intimidante. — Diga-o outra vez! — Trovejou. Continuaram os gritos, o salão explodiu com a loucura restritiva que provém somente das sessões Parlamentares. E todo o tempo, Sera se perguntava chocada: — Como que é um empate? — Olhou para suas irmãs. — Asseguraram-nos que tinham os votos necessários! — Seu olhar pousou no Marquês de Mayweather, que parecia estranhamente tranqüilo. Como os proprietários do clube de Malcolm e vários outros membros do lobby do "contido". Sesily Talbot não estava contente, entretanto. Ela ficou de pé, agarrando-se ao corrimão que a protegia de cair sobre a multidão de lordes abaixo.


— Oh, pelo amor de Deus, Lorde Chanceler diga-nos! O que acontece agora? O que acontece é que Mal chegará. E como se Sera o tivesse convocado com seus pensamentos, as enormes portas no outro extremo do salão se abriram de repente, o som ecoou através do silencioso corredor, apaziguando o distúrbio. E ali estava Mal, tranquilo, imperturbável, como se esse fosse um dia perfeitamente normal, e sua esposa não estivesse sentada na galeria esperando ouvir sobre seu futuro. — Se me permitir, Lorde Chanceler? Sera o devorou, maravilhada de como poderia ter passado anos sem vê-lo e agora, três semanas a tinham feito se desesperar por ele. — Chega tarde, Duque Haven — declarou o orador da mesa. — O qual não é um pequeno deslize, tendo em conta o tema do dia. Além disso, sua vestimenta é inapropriada, insulta os costumes da Câmara dos Lordes. Ele não estava usando sua túnica. Ou sua peruca. — Desculpo-me — ele disse. — Estava caçando votos. Sera esfriou seu ardor ao escutar essas palavras. — Bem, fez um mau trabalho, já que a contagem deu um empate. Esse era um sorriso em seus lábios? Não podia afastar o olhar dessa expressão, nem feliz nem triste. O que estava acontecendo? — Ah. Bem. Talvez, como agora estou aqui, posso emitir um voto verbal? O Chanceler fez uma pausa


— Isso é pouco ortodoxo. O salão explodiu em um coro de punhos e silvo. — Deixem que o homem fale — ouviu-se um grito de algum lugar abaixo dela. E Mayweather disse: — Tem direito a votar sobre seu próprio matrimônio, não? — Ele tem — disse ela em voz baixa. Suas irmãs a escutaram. Sophie se virou para olhá-la. — Quer que vote. Se ele votasse, seria para manter seu matrimônio intacto. Sim. O choque a percorreu, e assentiu, o movimento mal estava ali, tão pequeno que ninguém deveria havê-lo visto. É óbvio, suas irmãs viram, e começaram a gritar e silvar, golpeando com suas mãos o corrimão de observação e chamando a atenção de Mal para o nível superior do Parlamento. Quando a encontrou, olhou-a nos olhos sem dúvida, e ela viu ali, tudo. Amor. Paixão. Convicção. Ele a queria e faria qualquer coisa para retê-la. E nesse momento, deu-se conta, que ela sentia o mesmo. — Não acredito que agora obtenha seu divórcio — disse Sophie, apertando sua mão. — Mas parece que você poderia estar recebendo um grande gesto — disse felizmente. — Disse-lhe que gostávamos de grandes gestos. — Muito bem então, Haven, siga adiante — disse o Lorde Chanceler com mais do que um fio de irritação em seu tom. Parecia ter aceito a informalidade Parlamentar.


Haven se moveu ao centro da câmara, elevou a vista, seu olhar se cravou nela, e de alguma forma, todo o Parlamento desapareceu, como se estivessem somente os dois, a sós, em algum lugar privado e perfeito. O salão de estrelas sob as águas do lago de Highley. O palco de Sparrow na madrugada. Em algum lugar onde o mundo não podia vê-los. Ela conteve o fôlego, esperando que ele falasse. — Eu te amo. Um coro de “hamham” irritados soaram ao redor do salão, enquanto os lordes de toda Grã-Bretanha percebiam o que estavam presenciando, mas Sera descobriu que não se importava nem um pouco. Ela ficou de pé, agarrando-se ao corrimão da galeria de observação em busca de apoio, desejando estar o mais perto possível dele para o que estava por vir. Especialmente quando ele seguiu falando. — Soube que queria me casar contigo do momento em que a conheci, quando me deu uma lição por insultar os motivos pelos quais as mulheres queriam o matrimônio. Estava magnífica — ele apontou. — Mayweather estava ali. Ele também pensaria, só que já estava apaixonado por Helen. Suas irmãs ofereceram pequenos suspiros de prazer, por isso Sera supôs que o marquês tinha feito algo belo a respeito, mas estava muito ocupada olhando para seu esposo, que se movia para ela, como se não estivesse a quatro metros abaixo. — Recorda o que te disse naquela noite? — Disse que o amor é uma grande falácia. Vários dos homens reunidos pareciam estar de acordo.


Mal assentiu. — Sim, isso eu disse. E nem dez minutos depois, tinha-me arrependido. Seu coração pulsou com força. Ela também o tinha feito. Tinha estado planejando caçar este legendário duque elegível, e então tinha tropeçado com ele, que era tão perfeito. E quase tinha ficado decepcionada de que ele fosse o mesmo homem que tinha pensado em caçar. — Recorda a primeira canção que me cantou? É óbvio que sim. E ele sabia. Tinha-a cantado na última noite em "Sparrow". — Lembro. Mal tinha chegado à primeira de várias filas de assentos que os separavam, todos povoados de lordes vestidos com túnicas. — Cuidado, Haven — grunhiu um deles. Ele não pareceu escutá-lo. — "Ela nasceu aquele dia no coração de um menino." Sempre pensei que era sobre você. Que se encontrou em mim. — As lágrimas inundavam seus olhos. — Mas à medida que passaram os anos, percebi que era um pensamento tolo. Porque ele? O que há com o menino, nascido aquele mesmo dia, no coração de uma menina? As palavras estavam cheias de emoção, e os nódulos de Sera estavam brancos com a força que usava para agarrar o corrimão. — O menino que não tinha conhecido o sol até que a viu? Nem a lua? Nem às estrelas? — Ele ficou quieto, olhando-a, seu olhar


rastreando cada centímetro de seu rosto enquanto ela fazia o mesmo, desejando estar mais perto. Ele deve ter desejado o mesmo, porque se moveu então, subindo nos pesados bancos de abaixo, sem preocupar-se com os veneráveis móveis, nem pelos veneráveis aristocratas que tiveram que se afastarem do caminho ou seriam pisoteados pelo duque de Haven. Parecia que somente se importava em aproximar-se dela. — Aqui vem ele — sussurrou Sesily. Sera se inclinou para observá-lo, enquanto ele alcançava os pilares incrustados na parede de abaixo e, sem vacilar, começou a escalar a parede. O salão soltou um ofego de choque coletivo, uma dúzia de homens no térreo explodiram em uma furiosa censura, e dois diretamente trataram de alcançá-lo, como se pudessem detê-lo. Não podiam. Era muito rápido, muito forte, e muito perfeito, jogando uma perna sobre o corrimão, enquanto Seleste e Sophie retrocediam para abrir-lhe espaço e Sesily gritava sua emoção a vários metros de distância. Pelo menos, Sera estava bastante segura de que era Sesily. Ela não estava disposta a afastar o olhar de Mal para ter certeza. Então ele parou de frente para ela, com a respiração agitada depois do esforço por... meu Deus… ter escalado uma parede do Parlamento inglês. O duque estendeu uma mão para sua duquesa, seus dedos tremiam, enquanto colocava um cacho rebelde atrás de sua orelha, deixando um rastro de fogo com seu toque. Quando falou, sua voz estava carregada de emoção. — E o menino que não podia deixá-la partir?


Surgiram lágrimas, quentes e inesperadas. — Esse sempre foi o problema — disse-lhe ela. — Ele não me deixava partir. — Ou talvez era porque ele não a mantinha o suficientemente perto. Já nada fazia sentido. Exceto isto. Ele, aqui, tocando-a. Ele balançou sua cabeça. — Eu fui um bastardo. Não percebia que quanto mais perto te mantinha segura, para mais longe queria voar. Não compreendia que queria tomar vôo. Eu era jovem, estúpido, e Deus sabe que fiz coisas de jovem estúpido, uma das mais graves foi jurar que nunca te deixaria partir. Ele fez uma pausa, ela sofria por desejar os belos e inquietantes jovens que tinham sido, mas que tinham feito tudo errado. — Mesmo quando voltou, jurei que nunca a deixaria partir, Sera, porque nunca deixei de desejar que você tivesse ficado. Mas ela teve que partir, e assim tinha arruinado tanto. Era como se ele pudesse escutar seus pensamentos. — Sei que acha que falhamos, meu amor, mas não o fizemos. Eu falhei. Eu falhei com você. Sera negou com a cabeça, as lágrimas chegaram velozmente. — Não. Não era verdade, é óbvio. Ambos tinham fracassado, e ambos tinham triunfado. Eram melhores agora por suas perdas, por seus riscos, pelo mundo que tinham deixado para trás e pelo novo que tinham construído.


Em realidade não tinham fracassado. Porque eles tinham amado. Se amavam. Ele levantou sua outra mão, sustentando firmemente seu rosto entre as palmas da mão, e falou como se o mundo inteiro não estivesse olhando e ouvindo. — Pensei que se te perseguisse o tempo suficiente, e a obrigasse a manter-se o suficientemente perto de mim, poderia convencê-la de que tinha mudado. Que poderíamos começar de novo. Mas não posso fazer isso e te dar sua liberdade, que é tudo o que sempre me pediu, e tudo o que sempre te neguei. Porque fui um bastardo desde o começo. Nunca, nem uma vez te mereci. — Não, Mal. — Sim amor. Estou farto de te perseguir. Serei feliz de encontrá-la a noite, nas estrelas. — Fez uma pausa, e ela ofegou, dando-se conta do que ele estava a ponto de fazer. — Nunca haverá outra para mim. Mas não é minha decisão a que importa: é a tua. E se não quer o que posso te oferecer, prefiro te dar a liberdade, a que desejou desde o começo. A que necessita para começar de novo. Para conseguir sua felicidade em outro lugar. Com… — Fez uma pausa, e logo adicionou: — …com alguém mais. Alguém em quem pode confiar. Alguém em quem acredita. Ele roubou sua respiração; suas lágrimas agora corriam, caíam por suas bochechas e não podia detê-las. Eu acredito em você. Isto é suficiente. É você.


Mas o acrescentou em um sussurro: — Como ainda estamos casados… — então a beijou, na frente de suas irmãs e do Parlamento, em meio de assobios aprovadores e gritos de desaprovação que para eles, desvaneceram-se com uma carícia, longa, persistente, belamente suave. E triste. Porque sentia que era o último beijo. Sentia que era um adeus. Quando terminou, pressionou sua testa contra a dela. — Somente quero que seja livre, amor. Somente quero que seja feliz. Somente quero que escolha seu caminho e que saiba que a amarei mais por isso — ele disse em voz baixa, como se pudesse libertá-la, como se ela fora um pássaro entre suas mãos, e a deixasse voar para o céu. — Amar-te-ei para sempre. O que ele estava fazendo? E então a soltou, voltando-se com total convicção e elevando sua voz à Câmara dos Lordes. — Meu Lorde Chanceler, eu voto "contido". E, assim, estavam divorciados.


Capítulo 27 Cada duquesa tem seu dia Duas horas mais tarde, Malcolm ingressou em seu escritório Parlamentar para descobrir que sua ex-esposa estava acampada dentro. Ele deteve-se um passo dentro da sala, a porta aberta e o trinco na mão. Então a observou, aconchegada no assento embutido na janela com vista para St. Paul, com os joelhos dobrados para o peito, envolvidos com seus braços. Olhando para fora. Quieta e linda à luz do perfeito dia de outubro. Neste lugar. Graças a Deus, ela estava aqui. Quando falou, não afastou o olhar do horizonte, da cidade, com o rosto nesse ângulo podia desfrutar de seu perfeito e dourado perfil. — Imagino que hoje os membros da Câmara dos Lordes não estão felizes contigo, Duque. Ele fechou a porta e lhe deu as costas, temeroso de que se se aproximava mais, ela desaparecesse e ele estaria sozinho outra vez. Afinal já não estava atada a ele. Podia sair e nunca retornar. — Não, muitos deles não estão. — Mal tinha passado as últimas duas horas enfrentando a ira e a desaprovação dos oitenta membros da aristocracia que tinham votado contra a dissolução de seu matrimônio. — Acreditam que desrespeitamos à instituição. — À instituição do matrimônio? Ou à instituição do Parlamento?


— Um pouco de ambas. Sua pequena exalação poderia ter sido uma risada. — Só um pouco? Esteve vestido vergonhosa e inadequadamente no salão da Câmara dos Lordes, Sua Graça. — Curiosamente, ninguém parecia estar interessado nisso. — Suponho que estavam mais preocupados que tenha escalado a parede e que tenha me beijado. — Sim — ele respondeu. — Mas era minha esposa até esse momento, então acredito que estavam mais irritados porque quando publicarem as notícias, todos terão que fazer algo similar com suas próprias esposas. — Não o recomendaria, — ela disse — tais gestos grandiosos frequentemente terminam em divórcio. — Muito frequentemente? — Ele daria qualquer coisa para que ela o olhasse. Para que se voltasse, enfrentasse-o e lhe dissesse tudo o que estava pensando. Então ela o fez, olhou-o e o capturou. Como o tinha feito algumas vezes e disse: — Cem por cento do tempo. Tomou todas suas forças não ir até ela. Tinha prometido deixar de persegui-la. Tinha prometido deixá-la fazer suas próprias eleições. — Que terríveis probabilidades. Ela então sorriu, um sorriso pequeno e perfeito. — Está louco.


— Não é primeira em fazer essa avaliação no dia de hoje. Ela se virou novamente, levantando uma mão para a janela, riscando com um de seus dedos um círculo no cristal. Ficou em silêncio tanto tempo que Malcolm não tinha certeza se voltaria a falar, e se deu conta de que não se importava se ficassem a viver ali, para sempre, em silêncio, conquanto vivessem ali, juntos. E então disse: — Os marinheiros no navio que se dirigia a Boston me chamavam "A Pomba". — Ele inalou bruscamente ante as palavras, suaves e lindas, nebulosas de sua lembrança. Ela sorriu, melancólica à luz do sol. — Eles gostavam de mim. — Disso, não tenho dúvidas — ele disse, odiando esses homens por tê-la no momento em que a estava procurando desesperadamente. Ela sacudiu sua cabeça. — Não é assim. Eu estava… — deteve-se, procurando o final correto, — …estava triste. Ele não poderia deixar de mover-se para ela, embora tivesse que lutar contra a força de dez homens. Mas, milagrosamente, quando chegou à janela, encontrou uma maneira de resistir em tocá-la, ficou apoiado na ombreira, em lugar de sentar-se na cadeira junto a ela, querendo reclamá-la, mas sabendo que não devia fazê-lo, sabendo que se o fizesse, poderia deter seu relato e estava disposto a fazer qualquer coisa para evitá-lo. Sera não afastou o olhar da cidade além da janela. — Estava triste e mal dormia, então caminhava. As primeiras noites me disseram que não podia ficar na coberta, que era muito perigoso.


— Era uma viagem pelo Atlântico em fevereiro. — Mesmo ao dizer essas palavras o pôs nervoso. Poderia haver adoecido horrivelmente. Ou pior. Detestava a ideia dela nessa aterradora viagem, jogada pelo mar, ameaçada pelos elementos. Sozinha. Ele deveria ter estado com ela. Para começar, ela nunca deveria ter estado ali. Se ele tivesse sido menos tolo. — Soas como eles — ela sorriu. — Não sou tão frágil. — Não — ele concordou — Você é beleza e aço. Ela reatou sua história. — Principalmente, não me queriam na proa porque eu era uma mulher, e as mulheres trazem má sorte perto das velas. — Imagino que não acreditou nessa superstição. Ela então riu, sensual e brandamente, Mal sentiu o som em seu estômago. — Não acreditei, de fato. Eu queria estar ao ar livre. Eu gostava do frio, era intumescedor. Então, resisti que me obrigassem a me manter na cabine. O prazer o percorreu por dentro. É óbvio que sim. Corajosa e forte, como sempre. — Não tenho dúvidas a respeito. — Então, cantei. — "A Pomba". — O nome que os marinheiros lhe tinham posto. — Eles disseram que era porque eu cantava como se estivesse de luto.


Ele fechou os olhos, odiando as palavras e o conhecimento que vinha com elas. Conhecimento, lembrança e arrependimento. Deveria ter estado ali para abraçá-la, enquanto ela chorava. Para amá-la através de sua dor. Eles deveriam ter amado um ao outro através da dor. Ela continuou. — Logo desembarquei em Boston… encontrei Caleb, ante a insistência de alguns marinheiros que o conheciam, e sabiam que ele e eu faríamos uma boa equipe. — Abriu os olhos, e encontrou seu olhar cravado

nos

dele,

impressionantemente

azul,

brilhando

com

conhecimento e algo mais, algo como uma promessa. — Você gostaria de saber por que conservei o nome? — Sim — Mais do que tudo. — Porque as pombas se acasalam com um único companheiro por vida, e sabia que nunca haveria outro para mim. As palavras o debilitaram, empurrando-o para ela, desesperado por estar mais perto, e mesmo assim, temeroso de tocá-la. Apavorado de apressá-la. Apertou os punhos com a força suficiente para esticar os músculos de seus dedos. Ele podia esperar. Esperaria toda a vida se tivesse que fazê-lo. Sera não afastou o olhar, parecia tirar forças da verdade. Era a liberdade para ela mesma. — Quando fizemos a viagem de volta a Londres, sentia-me mais feliz. Mais confiada. Mais poderosa. E quando subi a coberta, ignorando a superstição uma vez mais, cantei, e minhas canções não eram tão melancólicas. Os marinheiros me ensinaram suas canções do mar, quanto mais picantes melhor. Ampliando meu repertório.


— Eu gostaria de escutá-las. — Era verdade. Queria deitar-se na erva de Highley, deixar que a brisa do verão os banhasse e levasse suas canções obscenas a todos os lugares da terra. — Conheço uma sobre um moço de Glasgow que o fará ruborizar. — Sorriu melancolicamente e olhou pela janela. Depois de uma pausa, disse: — Também me deram um nome no navio de volta. — "Pardal". — Disseram que os fiz sonharem com as moças que os esperavam em casa. Mas o lar não é quão único representa Sparrow. — Ela o olhou — Os marinheiros jovens frequentemente tatuam pardais em seus braços. Representando a liberdade. — Seu fôlego ficou preso em sua garganta. — Liberdade para ir aonde escolher e ser livre. Liberdade para fechar uma porta e abrir uma nova, para fazer seu lar no lugar que escolher. — Fez uma pausa. Então, brandamente, disse: — Liberdade para esquecer. Ele esperou, mordendo a língua, negando-se a falar, desesperado para que ela continuasse. Finalmente, fê-lo. — Meu Deus, Malcolm. Não o vê? Não escolhi Sparrow por você. Ou pela América, ou pelo Caleb, ou por qualquer outra coisa. Escolhi-o porque não o tinha. Porque não pensei que voltaria a tê-lo nunca mais. — Ele escutou as lágrimas em sua voz quando acrescentou: — Porque não pensei que um dia me perdoasse, assim tratei de esquecer. — Suspirou longamente, tremendo, enquanto lutava contra a lembrança. — Tentei com todas minhas forças me esquecer de tudo. E o único que fazia era te recordar mais. Disse-me que "A Pomba" era o vestígio de meu passado. E prometi a mim mesma que "Sparrow" seria a promessa de


meu futuro. — Então, olhou-o, seus olhos brilhando com lágrimas derramadas. — Quando todo o tempo, eu era ambas. Malcolm não pôde conter-se mais, sentou-se a seu lado, estendeu a mão para ela e a colocou em seu regaço, entre seus braços. Ela se deixou ficar, sem duvidar. — Mal, — sussurrou em seu peito, enquanto ele a envolvia, pressionando beijos em seu cabelo. — Sinto-o muito — disse ela. — Por tudo. Ela estava chorando e ele não podia suportá-lo, levantando seu rosto para ele, beijando suas bochechas, bebendo suas lágrimas lhe sussurrou, — Não, Anjo. A culpa é minha. Arrependo-me de tudo. Nunca te disse quanto a amava. Nunca te demonstrei o quanto ansiava conhecêla. Nem sequer fiz amizade com suas irmãs, que por sinal, eu gosto mais do que deveria. Ela riu entre lágrimas ao ouvir isso. — Elas são gigantes em lealdade e cresceram como pessoas. Ele se afastou, encontrou seu olhar e sério lhe disse: — Houve muitas coisas que nunca te disse. Tantas que desejo te dizer agora. Para sempre. — Então ele lhe disse, sussurrando, todas as coisas que queria lhe falar. Que era linda, que era perfeita, como a amava. Beijou-a entre as palavras, suave e docemente, secando suas lágrimas com os lábios e os polegares, cobrindo sua face de beijos, até que encontrou seus lábios novamente, suaves, doces e perfeitos. Demorou-se ali, pressionando seus lábios longa e docemente, enquanto a enchia de promessas.


— Amo-a — sussurrou como em uma prece. Um beijo. — Necessitote. — Outro beijo. — Fica comigo. — Outro, outro, e outro mais, até que as lágrimas de Sera desapareceram e ela se aferrou dele, obrigando seus lábios a pressionar-se com mais força, e que seus beijos durassem mais tempo, que a queimassem mais. Entretanto, antes que pudesse consumi-los por completo, Sera o deteve, respirando pesadamente, afastando-se, muito pouco, até onde ele a deixava ir. — Divorciou-se de mim. Ele assentiu. — Eu queria… Ela deteve suas palavras com um beijo. — Eu sei o que queria. Queria dar minha liberdade. Queria me dar minha eleição. — E agora, quero me pôr de joelhos e te rogar que me escolha. Ela o olhou profundamente nos olhos, sorriu, pura e sincera, enviando alegria e prazer através dele. — Essa é uma oferta linda e tentadora. Mas temo que não desejo escolher. Porque quero tudo. — Pode ter "Sparrow", Sera. É seu agora. Calhoun tem os papéis. Tudo o que precisa fazer é assiná-los. Ela sacudiu sua cabeça. — E quanto a você? — Não necessita de papéis para me possuir. Simplesmente, pertenço-te. — Ele a beijou de novo, longa e persistentemente, até que


seus lábios se separaram e continuou: — Tem-me. Aqui. Agora. E sempre. Como quiser. — Você torna tudo muito difícil para uma moça te caçar. As palavras, seu significado nelas, vibraram através dele. — Quer me caçar? — Se não se importar muito, Duque. — De modo nenhum, Duquesa. Ela

se

afastou

instantaneamente,

demonstrando

falsa

desaprovação. — Ex-duquesa. Agora, sou uma simples dama. E inclusive esse título é questionável. — Baixou a voz a um sussurro. — Sabe, sou uma mulher divorciada agora. E sou proprietária de uma taberna. — Ah — disse Malcolm, aproximando-se novamente e mordendo sua mandíbula, enquanto ela envolvia os braços ao redor de seu pescoço. — Isso soa terrivelmente escandaloso. — Oh, absolutamente. Bem, esta manhã escandalizei à Câmara dos Lordes. — Que coincidência, eu também o fiz! Ela sorriu. — Surpreender-se-ia ao saber o que o divórcio pode fazer a uma pessoa boa e honrada. — Tenho certeza de que ficaria — ele brincou, amando o sorriso em seus lábios, — por que não me mostra isso, agora? — Ao seu devido tempo. Mas primeiro, deveria te dizer que estive lendo um pouco desde que me abandonou.


— Abandonou-me primeiro — ele disse. — Sim, mas você destruiu minha taberna e depois me abandonou. — Tinha que convencer a oitenta membros do Parlamento para que ficassem do lado de uma duquesa, em um processo de divórcio. Essa não é uma tarefa muito fácil. O número de promissórias que descartei é assombroso. Ela riu. — Discutiremos tudo isso mais tarde. Mas primeiro, quero te contar o que aprendi. Enquanto ela permanecesse entre seus braços, podia lhe recitar as atas das resoluções das sessões Parlamentares da temporada passada, que era tudo o que lhe importava. — Diga-o por favor. — Estive me torturando lendo a respeito das Plêiades — ele estava fascinado. Seus dedos brincavam com seu cabelo, enquanto ela continuava: — Veja, Mérope é a única das Sete Irmãs que não se pode ver sem um telescópio. Sabia disso? Seu coração começou a pulsar com força. — Sim, sabia. — É óbvio que sim. E te digo que gostaria de muito ter um telescópio e dar uma olhada — Ele compraria um telescópio esse mesmo dia. Ele construiria um maldito observatório. — Dizem que está ocultando seu rosto envergonhada porque todas suas irmãs se casaram com deuses e ela amava um mortal. Ele assentiu. — Sim.


— Mas… acredito que estão equivocados. Acredito que não se vê, porque ela está olhando para o outro lado, para sua felicidade. Acredito que está procurando-o no céu, esperando que ele possa encontrá-la. E… — Fez uma pausa, as palavras o apanharam, — ...se somente se voltasse, veria que Orión esteve ali, todo o tempo, esperando para fazê-la feliz. Ele assentiu, as palavras raspando em sua garganta. — Ele somente quer sua felicidade. Seu olhar azul encontrou o dele. — E seu amor, espero. — Cristo, sim. Seu amor. As lágrimas brilhavam em seus olhos. — Devo te dizer que estou aqui para mais que isso. Qualquer coisa. Ele lhe daria qualquer coisa. Ela se desceu de seu regaço e ele lamentou pela perda, até que parou na frente dele, e se deu conta do que estava usando sua túnica. Como não tinha notado antes? E como era que agora tinha notado, tinha certeza de que nunca tinha visto algo tão impressionante em sua vida? — Eu não queria ir para casa para encontrar algo para vestir. — Lembro que usava um vestido perfeitamente respeitável antes — ele disse, inclinando a cabeça. O que ela estava fazendo? Um sorriso tímido brincou em seus lábios, enquanto tocava a abotoadura da túnica. — Sim, mas pensei que algo vermelho seria mais apropriado.


E assim, Mal estava desesperado por ela, voltou o olhar para seu rosto, estendeu a mão, tomou-a pela cintura e a colocou, entre suas pernas, roubou-lhe seus lábios uma vez mais, enquanto procurava a abertura da túnica. E logo, grunhiu: — Isto me recorda que estou muito zangado porque disse a outra mulher sobre minha fascinação pelo vermelho. Terá que se desculpar por isso mais tarde. Ela ofegou ante as palavras. Ou talvez foi pelo roce de suas mãos, acariciando o veludo da túnica, atraindo-a para ele. — Sinto muito — sussurrou. Suas mãos contendo sua mandíbula, inclinando-se para seu rosto e beijando-o. Tomou sua desculpa, desfrutando além disso do deslizamento longo e lento de suas mãos sobre o suave veludo da túnica. — Ajuda que te diga que quero ser a única mulher que use vermelho para você novamente? Ele ficou sem ar. — Sim, ajuda. — É verdade, — disse ela. — Quero ser a única mulher em sua vida. Para sempre. As palavras rugiram em seus ouvidos. — Para sempre como? — Para sempre, como companheiros. Para sempre, como iguais. — Fez uma pausa. — Para sempre, apaixonados. Para sempre, casados. Ele não pôde conter-se. — Tem certeza?


— Eu tenho, — ela e com uma pequena risada. — Em realidade, já estava esta manhã, mas então você se divorciou de mim, antes que pudesse lhe dizer isso. Mas… tudo funcionará bem. Se estiver comigo . Ele riu também, incapaz de deter-se. A ideia de não tê-la era ridícula. — Funcionará, acredito. Ela sorriu, mas se afastou antes de poder desfrutar de seu calor. — Tem certeza? Não terá… não teremos… — Ela respirou fundo e o soltou de repente, ele escutou as lágrimas entre as palavras. — Não terá um herdeiro. Então, ele pôs as mãos em seu rosto. — Ter-te-ei. Amar-te-ei. E envelhecerei em seus braços. Ela fechou os olhos e uma lágrima rolou. Mal a perseguiu com seu polegar. Beijaram-se, lenta e perfeitamente, e ele desejou que ela acreditasse nele. Que entendesse que não era nada sem ela, e que ela era tudo o que sempre desejara. Ela deve ter acreditado, porque quando separaram seus lábios para tomarem ar, se afastou dele, os dedos se aproximaram da abotoadura da túnica de veludo vermelho. Afrouxou a fita, moveu para seus ombros e o veludo se acumulou ao redor de seus pés, lhe roubando a respiração. Estava nua debaixo da túnica. Estava nua, e imediatamente em seus braços. Sentou-a em seu regaço, sem dúvida, amando a forma como ela se sentou escarranchada sobre ele, amando a sensação de sua pele e o som de seu suspiro de prazer. Amando-a . — Lady Seraphina, você escandaliza este lugar.


— O que você me disse da última vez que estivemos aqui? Que este era um lugar para homens de propósito? Beijou seu pescoço, fazendo pequenos círculos com a língua no lugar onde se unia com o ombro, onde era o suficientemente sensível para poder fazê-la suspirar com um simples toque. Mal sorriu ali, contra essa pele incrivelmente suave, suas mãos encontrando o volume redondo de seu traseiro. — Parece-me que recordo dessa descrição. Sua mão tomou um seio, apertando-o, provando seu grande peso, ela gemendo brandamente ao toque. — E o que você tem a dizer a respeito? — Tenho um propósito neste momento, não acha? — Seus lábios rastrearam o volume generoso desses seios. Ela explodiu em gargalhadas, e o som desconjurado e perfeito, percorreu as dignas e veneráveis salas do Parlamento. Malcolm começou a fazê-la rir uma e outra vez, até que estava fazendo sons completamente diferentes. E, então, ele também os estava fazendo. Quando retornaram à terra, no piso de seu escritório, envoltos nas pesadas vestimentas de veludo, vestimentas que nunca mais voltaria a usar sem convocar sua esposa a seu escritório para ajudá-lo a removêlas. Deu-lhe um beijo na têmpora e disse brandamente: — Suponho que hoje tenho que ir ao periódico. Ela levantou a cabeça, a confusão franzindo seu cenho. — Por que? Ele sorriu para sua ex e futura esposa.


— Devemos anunciar nosso compromisso, não acha? O Duque de Haven e a Sparrow? Essa risada outra vez, linda, perfeita e dela. — Definitivamente. Não queremos que as pessoas falem demais.


Epílogo Bebê Bevingstoke: Haven não pode esperar!

Seis anos depois.

— Sua Graça, simplesmente não pode entrar! Malcolm ignorou à parteira, enquanto entrava no quarto, tirava as luvas e os enviava junto com seu casaco ao piso, olhando somente nos olhos de sua esposa enquanto subia na cama. Sua esposa, que parecia muito serena, considerando que estava a ponto de dar a luz, disse-lhe: — Você vai dar a parteira os vapores. — Ela vai estar bem — ele respondeu, tomando sua mão e levandoa até sua boca para lhe dar um firme beijo. — Nunca mais voltarei a te tocar. Sera riu, como se estivessem dando um passeio. — Isso é o que disse das outras vezes. — Desta vez, digo-o a sério. — Também disse isso da última vez. Ele não se recordava, mas imaginava que sim. Três meses depois de suas segundas bodas, um glorioso espetáculo que metade de Londres participou ante a insistência de suas cunhadas, Sera e Malcolm descobriram em proporções iguais de surpresa, deleite e terror que ela estava grávida.


Milagrosamente, um nascimento que produziu um filho saudável, Oliver, agora com cinco anos apaixonado pelos cavalos e a pintura. Dois anos depois, tinha nascido Amélia, tão brilhante como sua mãe, e cheia de opinião. Justo hoje, no café da manhã, olhou para seu pai nos olhos e pronunciou: — Se mamãe e você podem ter um bebê, é justo que Oliver e eu tenhamos um gatinho. Mal tinha passado a manhã nos estábulos, selecionando a dupla perfeita de gatos para viverem na casa senhorial. Afinal como tinha evidenciado Amélia, o bebê deveria receber um presente com sua chegada. Isso tinha sido muito generoso de sua parte. Não era necessário dizer que o médico que tinha declarado que Sera estava estéril depois do nascimento de seu primeiro filho se equivocou. E a feliz vida que Sera e Malcolm se estabeleceram, converteu-se em um caos igualmente feliz. — Alguma palavra de Sparrow? — Perguntou Sera, como se estivesse nos jardins jogando cricket e não se preparando para dar à luz um filho. — Caleb chegou ontem — respondeu seu esposo — Sua taberna está em boas mãos, enquanto você atende outros negócios. A família vivia a maior parte do ano em Londres, o suficientemente perto de "Sparrow", para que Sera pudesse administrar as operações diárias, e também para que Pardal, pudesse encontrar tempo para cantar em raras e maravilhosas ocasiões, sempre com a presença do Duque de Haven. Mas seus dois filhos tinham nascido em Highley, e este não seria diferente. Uma onda de desconforto golpeou Sera e ela ofegou.


— Está na hora. Malcolm arregaçou as mangas e se colocou atrás de sua esposa. Enquanto ele era incondicionalmente apaixonado por seus filhos, e agradecido a Deus por eles, todos os dias de sua afortunada vida, não mudava o fato, de que, não tinha amor pela forma de como eles chegavam ao mundo. — Isto me recorda que eu não gosto de nenhuma forma deste momento. — Mas você gosta bastante, das brincadeiras que nos levam a este momento, esposo — disse secamente. — Tanto quanto eu. A parteira os olhou com desaprovação e o Duque levantou uma sobrancelha. — Sabe que dizem que agora sou um escândalo, verdade? E aqui está você, escandalizando todos com sua conversa sobre nossos momentos íntimos. Ela sorriu. — Tendo em conta meu estado atual, Mal, estou bastante segura de que todos estão a par dos momentos íntimos. Ele riu, sua selvagem esposa, como sempre era beleza e aço. Então uma onda de dor a golpeou, e ele fez todo o possível para manter a compostura, enquanto a parteira olhava para Sera. — O bebê já vem, Sua Graça. — Ela olhou para o duque então. — Tem certeza de que deseja ficar? Sera apertou sua mão. — Ele tem certeza.


Como se houvesse qualquer outro lugar aonde ele estaria. Ele ofereceu a sua esposa suas mãos e suas forças, enquanto ela fazia o imenso e magnífico trabalho de trazer seu filho ao mundo. Não é que ela precisasse dele. De fato, era Mal quem requeria a força de Sera quando, minutos depois, que ela deu à luz, os saudáveis gritos de seu segundo filho encheram o quarto e o coração de Malcolm, e ela entregou-lhe também sua terceira filha. Horas mais tarde, enquanto o sol se pôs à distância, tingindo o quarto em uma

rica

tonalidade

dourada, o

duque

entrou

nas

dependências Ducais e encontrou sua esposa na cama, brilhando como um anjo, com os cabelos caídos sobre os ombros e rodeada de seus filhos. Sustentava um dos gêmeos, e o segundo estava adormecido a seu lado, ambos felizmente inconscientes das inspeções exaustivas que recebiam de seus irmãos mais velhos. O olhar azul e cheio de amor de Sera o buscou, um sorriso se desenhou em seus lábios antes de dizer, contendo a diversão em seu tom: — Estamos considerando nossas opções. Ele aproximou-se, sentindo como se o coração pudesse explodir no peito com a imagem de sua família, estas crianças, esta mulher. Seus amores. Amélia estava sobre suas mãos e joelhos, observando o bebê deitado na cama. — Prefiro esta. Oliver negou com a cabeça, com toda seriedade.


— Eu não. As irmãs podem ser muito problemáticas. — Isso é verdade — concordou Sera, falando por uma vasta experiência. — Mas também podem ser terrivelmente leais. — E excelentes na batalha — adicionou Malcolm, piscando um olho a sua esposa. — Entretanto — disse Oliver, — prefiro ficar com o menino. O duque levantou as sobrancelhas. — Perdão? Sera sorriu. — Parece que somente tinham um nome selecionado, por isso devemos escolher qual dos dois bebês conservar. Ele combinou o sorriso com o de sua esposa. — O nome ajuda com a decisão? Ela sacudiu a cabeça. — Temo que não. Ele olhou para seus filhos mais velhos. — Qual era o nome? — Frango — disse Amélia, simplesmente. Mal riu forte por um bom momento, antes de tomar seu lugar na cabeceira da cama, do outro lado de sua filha mais nova — Bem, acredito que manteremos os dois, se vocês não se importarem. — Oliver suspirou. — Sim, devemos. Mal inclinou-se para beijar sua esposa, suave e persistentemente.


— Você é magnífica. — Eu sou, sim, não sou? — Disse ela, feliz. Ele riu entredentes e se inclinou para colocar um beijo na testa do bebê em seus braços, e outro na menina adormecida na cama. — E eu! — Gritou Amélia, lançando-se em seus braços. Ele a abraçou contra seu peito e a beijou na testa, enquanto Oliver corria e se escondia debaixo do braço livre da Sera. A família permaneceu junta até que o último raio de sol dourado se dissolveu em nervuras vermelho-alaranjado, desvanecendo-se em negro, revelando estrelas e uma faixa de lua no céu noturno, além da janela. Mal levou seus filhos a suas respectivas câmaras e colocou os bebês no quarto contiguo. Os quartos reservados para a Duquesa de Haven tinham sido convertidas em berçário, já que nem Sera e nem ele desejavam dormirem separados. Uma vez que acomodou as crianças, voltou para sua câmara, para encontrar sua esposa de frente à janela aberta, um rouxinol cantava na escuridão mais à frente. Por trás, pressionou um beijo sobre a suave pele de seu pescoço, envolvendo os braços a seu redor. Sera se inclinou sob a carícia, entregando-se durante longos minutos. — Você vai pegar frio nesta janela, esposa. — Você o vê? — Ela apontou. — Ele está aqui. Seguiu a direção de seu olhar. — Orión. Pobre amigo, sempre perseguindo. — Acredito que quer dizer: pobre moça, nunca apanhada. — Sera se voltou para ele, inclinou seu rosto, deslizando uma mão para sua


nuca para lhe baixar o rosto e lhe dar um beijo, profundo, lento e cheio de amor. Quando se separaram, adicionou: — Ela deveria tomar o assunto em suas próprias mãos. Ele nunca saberia o que o atingiu. — Tolices — Levantou-a em seus braços e a levou de volta à cama. — Se ela o perseguisse, ele faria todo o possível para que o apanhasse. E bem apanhado. Sera sorriu diante disso, apertando-se contra ele. — E o que aconteceria depois que ela o apanhasse? Beijou-a brandamente, maravilhado pela vida que compartilhavam. — Viveriam felizes para sempre, é óbvio. Ela sorriu, com os olhos fechados, o sono chegando rápido. — Recebendo finalmente o que sempre tinham merecido.

FIM


Nota da autora:

A história do Haven e Sera me perseguiu por mais tempo do que posso dizer, desde muito antes que tivessem nomes e tomassem o centro do palco em The Rogue Not Taken "Como agarrar um marquês" como o catalisador da história de amor de Sophie e King. O Dia da Duquesa é uma história de encontrar a esperança pela dor, de um matrimônio que nunca funcionaria e uma perda que nunca poderia superar-se, e quando me sentei para escrevê-la, não tinha ideia de que se converteria na história

de

tantas

mulheres

que

conheci,

mulheres

que

me

surpreenderam com sua fortaleza e sua capacidade para enfrentar um futuro incerto. Não poderia haver predito que, enquanto escrevia este livro, estaria tão inspirado por tantos amigos, familiares, leitores, estranhos, todos feitos de beleza e aço. Sera é como todas vocês. Embora pode parecer que o divórcio de Sera e Haven foi obtido com muita facilidade, os acontecimentos na história são um reflexo surpreendentemente próximo dos processos de divórcio na Câmara dos Lordes a princípios do século XIX. Até 1857, as mulheres foram excluídas, em grande medida, de solicitar o divórcio, já que as esposas não tinham personificação jurídica. Além disso, as esposas não podiam testemunhar em seu próprio nome no Parlamento, o que fez difícil o divórcio com base em qualquer outra coisa que não fosse o adultério feminino. No final do século XVIII, entretanto, produziu-se uma mudança na forma em que o Parlamento e a sociedade viram o matrimônio, como menos exigência de propriedade e mais uma possibilidade de felicidade, e as petições de divórcio aumentaram significativamente…

juntamente

com

a

colusão

do

cônjuge.

Essencialmente, os homens e as mulheres presos em matrimônios


infelizes

trabalharam

juntos

para

obter

seu

objetivo

comum,

generalmente com um espectador inocente sendo arrastado para o ardil como testemunha do adultério de uma esposa. Um voto parlamentario rápido (embora custoso) resultava na dissolução do matrimônio, e todos podiam partir e casar-se com seus amantes. Surpreendeu-me quão facilmente um casal rico e poderoso poderia obter o divórcio, e me fascinou a ideia de que esposos e esposas trabalhassem juntos para obtê-lo. Para uma história de divórcio rica e fascinante na Inglaterra, recomendo o Caminho ao divórcio - “Road to Divorce” - de Lawrence Stone, que foi meu companheiro constante enquanto escrevia, para grande inquietação de meu esposo. As extensas coleções Parlamentares na Biblioteca Britânica também foram essenciais para esta parte da história. Uma nota sobre a música da Sera: "The Spanish Incline" - "As senhoras espanholas" - é uma antiga barraca da marinha, anterior à década de 1700 quando finalmente foi escrita. Também utilizei "Oft in the Stilly Night" do Thomas Moore e "The Last Rose of Summer". "Ela nasceu naquele dia no coração de um menino" é minha, muito agradecida a uma barraca de café francês, que vi há muito tempo e que me deu a inspiração titular. Algumas vezes, uma parte da história te apanha e não te solta. Durante vários anos (e vários livros), procurei uma forma de pôr um salão sob a água em uma história. O salão submarino é real! Há um quase idêntico em Witley Park em Surrey, uma enorme propriedade construída a finais do século XIX pelo Whitaker Wright, um canalha milionário excêntrico. Enquanto que o salão de Witley foi construído na década de 1890, não há razão pela qual não poderia ter existido na década de 1830 pelas mãos de um homem desesperado por um


monumento a seu amor, já que os submarinos metálicos e de vidro tinham sido inventados mais de um século antes. Embora troquei o Netuno

de

Witley

pelo

Orion

de

Highley,

tomei

emprestado

generosamente as fotos e relatos em primeira pessoa das visitas ao salão de baile Witley, que, notavelmente, permanece intacto. Estou em dívida com Atlas e numerosos usuários do Reddit por seu compromisso com a compreensão da física e a engenharia do salão sob a água. Ah, e quanto a Sesily e seu americano, estejam atentos.


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