Cartilha Semana do Patrimônio - O órgão de tubos e a preservação

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Semana do

PATRIMÔNIO Cultural São-joanense

Do

CASARÃO ÓRGÃO ao


Arquivo Público Mineiro

Casarão e aqueduto - 2ª metade do séc. XIX

Arquivo MRSJDR

Vista parcial da fachada do casarão quando comércio com tropeiros - Déc. 1930

Arquivo MRSJDR

Lateral do Casarão parcialmente demolido - 1946


Presidente da República Jair Messias Bolsonaro

Ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio

Secretária Especial de Cultura Regina Duarte

Presidente do Instituto Brasileiro de Museus Paulo César Brasil do Amaral

Diretora do Museu Regional de São João del-Rei Eliane Marchesini Zanatta

Arquivo MRSJDR

Recital de órgão de tubos - 2019


Arquivo MRSJDR

Lateral do CasarĂŁo parcialmente demolido - 1946

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O SOBRADO E O MUSEU Construído em 1859, o sobrado do Comendador João Antônio da Silva Mourão serviu de residência à sua família e também como seu comércio. Naquela época, a área escolhida pelo comendador, próximo ao Córrego do Lenheiro e ao recém-construído Chafariz da Legalidade, era o acesso, com paragens e currais, para os tropeiros que entravam na cidade pela estrada de São Paulo. Devido a isso, ainda nas primeiras décadas do século XX, após ter sido vendido para a família Resende, continuou sendo utilizado como armazém. A família que ocupava a casa apenas durante as festas religiosas, em razão de morarem em uma fazenda próxima a cidade, havia preparado um projeto arquitetônico de adaptação para o funcionamento de um hotel, pensando na lógica de modernização da região central, onde seria construída uma rodoviária. O projeto (1944), analisado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) seria aprovado, desde que não modificasse o seu exterior. No entanto, no início de 1946, em meio as negociações, parte da família, sob a insistência de empresários da Companhia Interestadual de Melhoramentos e Obras S.A. (Cimosa), vendeu o imóvel. A Cimosa tinha como objetivo a demolição do casarão e a construção, em seu lugar, de um prédio de 12 andares. Entretanto, para o Sphan o sobrado era de grande importância, pois, ao compor os bens do patrimônio, corroboraria com as políticas preservacionistas recém iniciadas. Por isso, tombou isoladamente o prédio em agosto de 1946, para impedir a sua destruição. Naquele momento, a empresa, que tinha ao seu lado a prefeitura e 5


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Vista do casarão - 2016

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a imprensa local, promoveu uma campanha difamatória contra o Sphan – na pessoa do Dr. Rodrigo de Melo Franco de Andrade – e começou a demolir o casarão. O edifício transformou-se em objeto de disputa entre um grupo de defensores do patrimônio e outro que almejava o progresso da modernização arquitetônica. O Sphan era apontado como responsável pela “fixação da cidade no passado”. A empresa continuou a demolir o sobrado, alegando a ilegitimidade do Sphan e com isso solicitando a revogação do seu tombamento. No entanto, o Conselho Consultivo do Sphan negou o pedido e manteve seu tombamento, o que não impediu que a demolição continuasse. Foi então necessário que o prédio fosse desapropriado por utilidade pública, para que começasse um longo processo de reconstrução e adaptação do espaço que durou cerca de dez anos, até 1956. Somente com a sua reconstrução foi possível a ocupação do espaço, com um arquivo histórico (1956) e abertura de um Museu (1963), criando assim uma instituição de conhecimento, memória e preservação, centro de referência para pesquisas. Esses 56 anos de preservação do prédio e de seus acervos (museológico, arquivístico e bibliográfico) e a contribuição de historiadores, museólogos, pedagogos, administradores e outros, fez com que o museu conseguisse atender os mais variados públicos. Seu acervo permite várias narrativas, tendo como um desses exemplos o seu Órgão de Tubos. Assim, a peça do século XVIII, que foi restaurada e hoje é tocada em recitais, representa também, como o prédio, a importância da preservação do patrimônio cultural tão importante para a preservação da nossa memória. 7


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CasarĂŁo - 2016


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Órgão antes da restauração - 2004

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ÓRGÃO DE TUBOS O Museu Regional de São João del-Rei possui, em seu acervo, diversas peças da região de Minas Gerais, entre essas, o órgão de tubos, o qual foi doado pela Ordem Terceira do Carmo. Aqui ele ficou em silencio até 2010, quando foi reinaugurado, após passar por restauro durante dois anos o qual teve o envolvimento de uma grande equipe. Assim, em 2020 comemoraremos dez anos de sua reinauguração, tempo durante o qual seus sons harmoniosos ecoaram pela cidade e foi apreciado por visitantes das mais diversas origens: alunos de escolas públicas e particulares, da cidade e seus distritos; alunos das Universidades de diversas cidades; alunos, professores e profissionais da música e muitos outros. Visitantes que se encantaram com seus sons maravilhosos e ficaram curiosos com a sua origem. O instrumento, a princípio, pertencera a uma fazenda chamada Bela Vista na localidade de São Miguel do Cajuru, distrito de São João Del Rei. Provavelmente, era utilizado na capela e espaços abertos da fazenda, em festividades religiosas. O dono da fazenda, o Padre Jerônimo Pereira de Carvalho, deixou-o em testamento para a irmandade da Ordem Terceira da Igreja do Carmo, para onde o instrumento foi levado, logo após a morte do religioso. Lá, ele ficou por um longo período. Por um bom tempo foi tocado nas missas e cerimônias, porém a partir de 1925 ficou sem uso e praticamente foi esquecido. Durante esse período, perdeu suas cores originais, a maioria das flautas e silenciou-se por um longo período. Nos anos 40 foi doado ao Museu Regional cujo diretor, naquele momento, era Monsenhor José Maria Fernan11


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Órgão após a restauração - 2020

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des, pároco da referida igreja. Aqui, ele permaneceu sem uso até 2010 quando foi restaurado, sob o patrocínio da Petrobrás e Itaú Cultural. A elaboração do projeto foi da Associação dos Amigos do Museu Regional e execução do Bureau Santa Rosa, com apoio técnico de Elisa Freixo. Já o restauro da caixa foi realizado pela Anima Restaurações. Desde sua restauração, o órgão não mais deixou de ser ouvido. O museu promove, periodicamente, concertos com entrada gratuita, para que todos possam usufruir desse belo exemplar pertencente ao patrimônio de todos os brasileiros. A acessibilidade a um bem tão peculiar nos faz refletir na importância de sua preservação e conservação e nas implicações que medidas de valorização do patrimônio têm sobre uma comunidade, pois foi a partir do tombamento do casarão, sua preservação e criação do museu que foi possível a restauração e preservação do órgão do século XVIII, tão relevante para a memória e a identidade nacional.

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EQUIPE Direção Eliane Marchesini Zanatta

Apoio Operacional

Adauri da Páscoa Rios Alexandro Geraldo B. dos Santos Chefe de Serviço Aline Maria Rodrigues Diego Felipe Garcia Aline Nazarethe de Abreu Clebson Marcio da Cunha Responsável Administração Djalma dos Santos Souza Tânia Maria de Freitas Barcelos Edílson Reinaldo Isabela Cristina Martins de Castro Responsável Arquivo Histórico Jéssica Mariana Souza Oliveira e Biblioteca João Victor Vilas Boas Militani Maria de Fátima Loureiro Vasconcelos Magno de Souza Gomes Marlon de Oliveira Gouvêa Responsável Setor Educativo Mark Lane Rios de Carvalho Ana Maria Nogueira Oliveira Roberto Carlos Tavares Rosane de Freitas Vieira Rosimeire Conceição Silva Santos Samuel Cláudio do Nascimento Silvano Ribeiro dos Santos Victor César Silva Walquimedes de Alcântara Moreira Estagiários Augusto Lemos da Silva Brenda Guerra Ribeiro Heloísa Cristina Gonçalves Dalpiaz Jéssica de Cássia Bento Monalisa de Aguiar Bento Polyana de Almeida Firmino

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Arquivo MRSJDR

Interior do órgão antes da restauração - 2004

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Restauração do órgão - 2010

Arquivo MRSJDR

Detalhes dos tubos do órgão após a restauração - 2020


2020


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