LIVRO DE ANAIS _ FEIRA DO PATRIMÔNIO 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ Reitor José Arimatéia Dantas Lopes Vice Reitora Nadir do Nascimento Nogueira Superintendente de Comunicação Jacqueline Lima Dourado Editor Ricardo Alaggio Ribeiro EDUFPI - Conselho Editorial Ricardo Alaggio Ribeiro (Presidente) Acácio Salvador Veras e Silva Antonio Fonseca dos Santos Neto Cláudia Simone de Oliveira Andrade Solimar Oliveira Lima Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Viriato Campelo Editora da Universidade Federal do Piauí - EDUFPI Campus Universitário Ministro Petrônio Portella - Bairro Ininga- CEP 64049-550 - Teresina - PI Elaborada pela bibliotecária Gabriela Freitas de Paiva CRB 3/1501


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© Copyright 2018 Áurea Pinheiro | Cássia Moura | Victor Veríssimo Feira do Patrimônio Créditos Este livro integra os resultados do projeto social, educativo e cultural “Feira do Patrimônio”, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Mestrado Profissional, da Universidade Federal do Piauí.́ Universidade Federal do Piauí ́ Reitor Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes Vice-reitora Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira Pró-reitora de Ensino de Pós-graduação Profª. Drª. Regina Lúcia Ferreira Gomes Diretor do Campus Ministro Reis Veloso Prof. Dr. Alexandro Marinho Oliveira Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia Profª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro Capa, projeto gráfico e editoração eletrônica Victor Veríssimo Guimarães Ficha Catalográfica Gabriela Freitas de Paiva Revisão Profª. Drª. Áurea da Paz Pinheiro


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Organizadores desta obra Áurea Pinheiro Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, Pós-doutora em Ciências da Arte e do Patrimônio, Universidade de Lisboa, Portugal. Professora da Universidade Federal do Piauí, Brasil. Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia (Mestrado Profissional), Professora Colaboradora no Mestrado em Museologia e Doutorado em Belas-Artes na Universidade de Lisboa. Diretora e Editora da Revista VOX MUSEI arte e patrimônio. Desenvolve pesquisas e estudos em Patrimônio, Museologia Social, Educação e Ação Cultural, Políticas Públicas, Cinema Documentário. É sócia correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).

Cássia Moura Doutoranda em Belas-Artes na Universidade de Lisboa, Portugal. Professora do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia (Mestrado Profissional). É fotógrafa e documentarista. Assina como produtora e fotógrafa still o documentário etnográfico Passos de Oeiras (2009) e como diretora o documentário etnográfico As Escravas da Mãe de Deus (2010) e Piauí: história, memória e patrimônio cultural [2008], realizado em caráter institucional para Superintendência Estadual do Iphan no Piauí. Na Série Literatura Brasil, que inclui os documentários: H. Dobal um homem particular [2002], O Sertão mundo de Suassuna [2003] e Marcos Vinícius Vilaça o artesão da palavra [2005] assina como produtora e fotógrafa still. Assina como produtora executiva o filme Cipriano [longa metragem, 2001]. No documentário Um corpo subterrâneo [DOCTV, 2007] assina como assistente de direção e fotógrafo still. É autora do livro Celebrações, que, em 2009, recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. Participou da Coordenação do INRC - Inventário Nacional de Referências Culturais da Arte Santeira do Piauí; produziu os registros audiovisuais do Inventário e do INRC - Celebrações no Piauí, Oeiras [2009]. É autora do livro Senhores de seu ofício: a arte santeira do Piauí [2010]; produziu as edições 2008, 2010 e 2012 do Congresso Internacional de História e Patrimônio Cultural. É curadora das exposições “Senhores de seu ofício: a arte santeira do Piauí (2014); Encontro entre dois mundos (2014); Caixas de Memórias e Por entre rio de mar (2018).

Víctor Veríssimo Guimarães Mestrando no Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí. Arquiteto e Urbanista pela UFPI. Especialista em Práticas Projetuais em Arquitetura e Engenharia - UFPI. Tem experiência nas áreas de Projeto, Patrimônio Cultural e Design Gráfico. Fez parte do grupo de Pesquisa Amigos do Patrimônio, Modernidade Arquitetônica - CNPq/ UFPI e Arquitetura e Lugar - CNPq/UFCG.


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Apresentação A Feira do Patrimônio é um projeto social, educativo e cultural realizado desde 2016 pelo Programa de Pós-graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia, da Universidade Federal do Piauí. Em 2017, a Feira do Patrimônio ficou entre as finalistas da 30ª Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para estimular o envolvimento da sociedade civil na busca pela salvaguarda e proteção dos bens culturais do país. O edital daquele ano celebrou os 30 anos do Prêmio e os 80 anos do Iphan. Foram selecionados trabalhos representativos, ações preservacionistas relativas ao Patrimônio Cultural. No dia 30 de agosto de 2018, na 10ª edição de Mestres e Conselheiros - Agentes Multiplicadores do Patrimônio, foi contemplada com o 1° lugar do Prêmio Mestres e Conselheiros, organizado pelo Instituto de Estudos do Desenvolvimento Sustentável – IEDS, no Centro de Atividades Didáticas II, da Universidade Federal de Minas Gerais. Trata-se de um evento único no Brasil que propicia um espaço de discussão, para abordagens de temas e problemas, de questões teóricas e práticas no campo da preservação do patrimônio cultural. Materializa-se em um conjunto de ações de pesquisa, documentação, informação e comunicação com o objetivo de sensibilizar comunidades ribeirinhas, praieiras e deltaicas, empresas públicas, privadas e sociais para o conhecimento, reconhecimento, preservação e promoção da rica e complexa paisagem cultural da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, o único a desaguar em mar aberto das Américas, um território que abriga um ecossistema manguezal, com populações que vivem da pesca artesanal, da cata de caranguejo; um território berçário de espécies marinhas em extinção, tartarugas, cavalos-marinhos e peixes-boi. Realizamos ações educativas e socioeconômicas de promoção do patrimônio cultural; estamos a criar uma economia da cultura, de sensibilização para a preservação, salvaguarda e promoção da rica e complexa paisagem cultural de um território vocacionado para um turismo cultural, que gere receitas e fomente emprego e renda, de forma a fixar as populações no território ancestral. Desde a 1ª Edição da Feira em 2016, foi possível congregar empresas públicas, privadas e sociais, o que nos motiva a avançar com a integração de outros públicos, o que inclui escritórios de arquitetura/design, operadores turísticos, projetos de base territorial, empresas de conservação e restauro e de reabilitação urbana, universidades e centros de formação especializada, artistas, artesãos.


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A Feira do Patrimônio se destina a públicos que se interessam por temas, problemas e abordagens relacionadas aos patrimônios, museus, turismo, empreendedorismos e outros negócios. Ocorre anualmente. Em 2016, na Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Reis Veloso; em 2017, no Conjunto Histórico e Paisagístico de Parnaíba, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2008; e, em 2018, no Museu da Vila, no bairro Coqueiro da Praia, Luís Correia, litoral do Piauí. Revela-se como um espaço de sociabilidade para sensibilizar empresas e pessoas no que refere à responsabilidade para a preservação e proteção da paisagem cultural da cidade, dos bairros, das comunidades ribeirinhas e praieiras da APA Delta do Parnaíba, que integra os Estados do Piauí, Maranhão e Ceará. Em 2016 e 2017, nas 1ª e 2ª edições, a Feira do Patrimônio recebeu um público de mais de 3.000 (três mil) pessoas, o que permite afirmar com segurança que a Feira é capaz de estabelecer conexões entre Universidades, Comunidades e Empresas, formar públicos capazes de se sensibilizarem para conhecer, reconhecer, divulgar e salvaguardar a diversidade cultural e paisagística do Meio Norte do Brasil. Ao longo da Feira do Patrimônio ocorrem atividades de educação e interpretação patrimonial, de percepção ambiental, exposições, comércio de produtos artesanais, apresentação de projetos de intervenção urbana, palestras, intervenções artísticas, conferências, rodas de conversa e de memórias etc. Empresas diversas apoiam ano após ano a Feira oferecendo infraestrutura para acolher residentes e turistas, que podem participar da programação que inclui gastronomia, música, dança, artes em palha de carnaúba, argila, linha madeira etc.; portanto, comerciantes e consumidores, oferecem um colorido e murmurinho à Feira, um lugar de celebração, de encontro, característico das feiras livres desde os tempos medievais. Por entre “comes e bebes”, músicas, exposições, oficinas vivas das artes associadas à paisagem cultural do Meio Norte, exercitamos a cidadania, a intervenção democrática no território de forma educativa, encantadora e lúdica. A viabilidade da Feira do Patrimônio a cada ano requer parcerias com empresas, o que inclui empresas sociais, como ONGs e públicas como as Secretarias de Educação, Cultura, Administração, Ação Social do Estado e municípios do entorno. São parcerias que ao celebrarem o patrimônio cultural têm as suas marcas associadas à Feira de Patrimônio, o que lhes confere uma imagem de reconhecimento da sociedade pela valorização e preservação do patrimônio cultural, contribuindo sobremaneira para o incremento de produtos e serviços que disponibilizam e prestam à sociedade.


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Nos dias que correm, o turismo cultural se afirma como elemento de sustentabilidade, gerador de emprego e renda, na medida em que há sensibilização dos visitantes e comunidades residentes para o conhecimento de produtos culturais singulares, a exemplo, aqueles associados ao Delta do Parnaíba. A construção sistemática de um trabalho de educação e interpretação patrimonial e museal, envolvendo a sociedade em sentido amplo na preservação e salvaguarda do patrimônio cultural, material e imaterial, é uma forma crítica e sensível para estabelecer uma rede de relações diretas com as comunidades residentes.


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Capítulo 01. Eixo_

artes + patrimônio


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CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE BENS MÓVEIS: desafios e perspectivas para a preservação do patrimônio cultural no Piauí Elenilce Soares Mourão Fernando António Baptista Pereira Áurea da Paz Pinheiro

Palavras-chave: Oficina de Restauração Conservação Piauí Patrimônio Cultural

Apresentamos os resultados de Pesquisa-ação, discorremos sobre problemas e abordagens no campo da preservação do patrimônio cultural móvel, nomeadamente, no Estado do Piauí. Usamos o método da História Oral para a reconstituição de histórias e memórias dos profissionais que fundaram e trabalharam por 30 anos (1987-2017) na única Oficina de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis do Estado. O problema revelamos nesta investigação foi a necessidade da antiga Fundação Cultural do Piauí, hoje, Secretaria de Estado da Cultura do Piauí (2015) investir na Oficina, o que inclui recursos humanos e financeiros, sob pena de contribuir para a sua extinção, um equipamento que presta relevantes serviços à sociedade. Na investigação usamos as teorias do restauro de BRANDI (2004) e VIÑAS (2010), que auxiliaram a compreender os processos de trabalho na Oficina. Como resultado realizamos um conjunto de ações, produtos e serviços: um texto sobre uma história da Oficina, acompanhado de um documentário, bem como um projeto de criação e instalação de uma Oficina de Conservação do Patrimônio Cultural Móvel, na Universidade Federal do Piauí, sob a gestão do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia na cidade de Parnaíba. Realizamos também na fase inicial deste trabalho, atividades teórico-práticas materializadas em cursos de capacitação em conservação e restauro ao longo de 2016 em Teresina e Parnaíba, com os servidores do Estado e comunidade em geral, trabalho que contribuiu para a sensibilização e atribuição de sentidos e significados à formação de seniores e novos profissionais, o que justifica a necessidade de serem realizadas outras ações dessa natureza de forma sistemática e continuada. Destacam-se, igualmente, a nossa própria formação no Programa de Pós-graduação e em Centros de Investigação e Laboratórios de Referência em Conservação e Restauro, a exemplo, o Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, Minas Gerais, Brasil; a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa; o Instituto José de Figueiredo e na Oficina de Restauro do Museu de Setúbal em Portugal.


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UM OLHAR ALÉM DAS LENTES: a importância da conservação de acervos fotográficos Cristiana Brandão de Oliveira Ana Maria Brandão de Oliveira Najara dos Santos Andrade

A fotografia desde o princípio de sua descoberta se defrontou com problemas de tipos e qualidades de materiais, formas de fixação da imagem nos suportes e das reações químicas provenientes dos componentes ao longo do tempo. Além desses indicadores, os fatores climáticos e formas de utilização como a exposição, manuseio e acondicionamento desse tipo de acervo, também contribuíram para a sua degradação. A conservação de fotografias está intrinsecamente ligada a estes fatores e muitas vezes numa investigação científica é tida como uma das principais fontes de informação no trabalho de preservação das memórias sociais do passado, que atestam o modus vivendi de uma sociedade ou hábitos específicos da cultura visual de uma época ou grupo social. As excepcionais capacidades informativas e didáticas da fotografia ampliaram o leque para novas perspectivas documentais e iconográficas, intensificando o valor dessa forma de registro. O presente trabalho trata de um estudo sobre situações e processos de conservação dos acervos fotográficos, que, por sua vez, ao longo do tempo e devido aos diversos fatores citados, necessitam desses tipos de procedimentos para um maior alcance da informação. Pretendemos discutir o conceito de conservação de acervo, a partir da tipologia que soube prolongar a aparência literal das coisas, chegando a ofuscar no entorno de sua descoberta, a existência da arte da pintura, a fim de fundamentar seu princípio e relevância no contexto imagético e documental. Apresentamos também algumas das principais condições que contribuem para a deterioração das fotografias, além dos métodos básicos recomendados na conservação cotidiana. Objetivamos fazer uma análise de temáticas relacionadas ao uso da fotografia e argumentar sobre a importância da sua conservação.

Palavras-chave: Fotografia Memória Conservação


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A ELABORAÇÃO DO PLANO DECENAL DE CULTURA DA CIDADE DE PARNAÍBA (2015-2025) Helder Souza

Palavras-chave: Políticas Culturais Plano Decenal Participação Social Parnaíba Piauí

O presente trabalho é resultado do processo de elaboração participativa e colaborativa do Plano Decenal de Cultura da cidade de Parnaíba (2015-2025), entendido como um instrumento capaz de provocar mudanças sociais na comunidade a partir do planejamento coletivo. Nesse sentido, o diálogo, a qualificação da gestão cultural e a ampliação da participação social dos sujeitos envolvidos são compreendidos como essenciais no processo de planejamento da cultura. A cidade de Parnaíba, Piauí, é detentora do título de Patrimônio Nacional, tombamento federal do Conjunto Histórico e Paisagístico conferido em 2008 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. No processo de construção deste o Plano de Cultura conseguimos dialogar com atores diversos – pessoas e instituições – fundamentais para aplicarmos técnicas e metodologias de reflexão institucional, promovida pelo Órgão Gestor da Cultura Municipal – Superintendência de Cultura de Parnaíba – no quadriênio 2013-2016, período relevante para criação de marcos legais e a articulação de políticas públicas de cultura na cidade. Nesse recorte temporal, realizamos uma cruzada corajosa ao debater o papel da cultura na legislação municipal; oportunizando a construção de canais de participação, tais como o Sistema Municipal de Cultura, Conselho Municipal de Cultura, Conferências, Fóruns, Fundos Públicos e o Plano Decenal de Cultura, instituído pela Lei Municipal n. 3.011, de 17 de agosto de 2015, fruto do processo o qual nos debruçaremos a narrar o percurso, trilhado com o anseio de criarmos juntos um novo ambiente para a gestão da cultura municipal. Mais que uma carta norteadora, com diagnóstico, metas, diretrizes, estratégias e leis, valorizamos o processo coletivo de criação e aprendizagem, momento histórico em que a cultura foi colocada no centro da estratégia de desenvolvimento local.


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A FÉ QUE ABRAÇA A BARCA: A Celebração de Bom Jesus dos Navegantes, Luís Correia, Piauí, Brasil Alexsandra de Moraes Cerqueira Rita de Cássia Moura Carvalho

Ao longo dos anos 2016 e 2017 estivemos imersos no cotidiano de comunidades ribeirinhas e praieiras da Área de Proteção Ambiental APA Delta do Parnaíba, nomeadamente no município de Luís Correia, sede e bairro Coqueiro da Praia, em um trabalho pesquisa, documentação e registros sonoros, fotográficos e audiovisuais da celebração em louvor a Bom Jesus dos Navegantes, que ocorre no município de Luís Correia, um dos dez municípios que formam a APA, provavelmente desde o final do século XX, quando pescadores locais teriam encontrado no mar, no dia 29 de junho, tempo da celebração à São Pedro, protetor dos pescadores, a imagem de Bom Jesus dos Navegantes. Os relatos orais nos informam que desde então muitas famílias, principalmente de pescadores, passaram a fazer promessas ao santo, rogando por proteção e saúde. Os ritos religiosos e os espaços sagrados se apresentam, em sua maioria, indissociáveis dos tempos históricos, culturais e sociais das cidades, representam a memória individual e coletiva. Ao considerarmos a Museologia Social como “um fazer museológico”, comprometida com as comunidades a que serve, realizamos as fases desse saber-fazer: pesquisa, documentação e comunicação do patrimônio cultural imaterial - a Celebração em louvor a Bom Jesus dos Navegantes. Usamos como técnica de pesquisa o Manual de Aplicação, que se traduz em um conjunto de instrumentos de pesquisa, que orienta o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), disponibilizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A importância deste trabalho está em construir e comunicar fontes documentais da Celebração. Além do inventário, materializado em documentação textual, fotográfica, sonora, audiovisual, produzimos o documentário “A Fé que abraça a Barca”. Os registros em suportes diversos nos permitem o conhecimento e reconhecimento da Celebração como uma manifestação cultural ancestral, um patrimônio cultural religioso da APA Delta do Parnaíba, habitada por populações ribeirinhas, praieiras e deltaicas que vivem da pesca artesanal. Neste trabalho, oferecemos a nossa contribuição para o registro de formas de religiosidade e espiritualidade, democratização e fortalecimento de identidades locais, valorização, promoção e salvaguarda de memórias e histórias associadas à Celebração, destacamos as permanências e rupturas. Além do Manual de Aplicação nos valemos de procedimentos metodológicos da pesquisa-ação, história oral e a etnografia.

Palavras-chave: APA Delta do Parnaíba Inventário Celebração Patrimônio Imaterial Bom Jesus dos Navegantes.


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MUSEOLOGIA, AUDIOVISUAL E MEDIAÇÃO CULTURAL Fábio Estefanio Lustosa de Brito Lopes Rita de Cássia Moura Carvalho

Palavras-chave: Memória Audiovisual Mediação APA Delta do Parnaíba.

Para este trabalho defendemos a relação intrínseca, indissociável, uma via de mão dupla entre teoria e prática, entre museologia e mediação, que tem nos permitido construir um trabalho efetivo e sistemático de pesquisa, registros audiovisuais e comunicação, o que inclui educação-mediação e exposição, no campo de estudos, da memória e do patrimônio cultural no Território da Unidade de Conservação - Área de Proteção Ambiental APA Delta do Parnaíba. Este trabalho associa-se diretamente ao Projeto-matriz “Ecomuseu Delta do Parnaíba”, concebido como fenômeno cultural integral e integrador de comunidades ribeirinhas, praieiras e deltaicas, com as quais um grupo de pesquisadores dialoga há dez anos, a motivar diálogos sobre produção, registro de imagens e seu papel legitimador e formador de memórias e identidades, formando agentes transformadores capazes de produzir uma representação artística de si mesmos, de sua comunidade, da relação com o outro e o mundo através de artifícios educacionais ligados ao uso de ferramentas audiovisuais. Usamos métodos e práticas de educação e interpretação patrimonial com substrato na transversalidade; a arte e as mídias audiovisuais ordinárias nos serviram como ferramentas de pesquisa, documentação e comunicação; possibilidade para despertar os habitantes menos atentos para um olhar sensível sobre o território. Nesse contexto, a equipe do Projeto do PPGAPM constrói de forma participativa e colaborativa sua missão e vocação - atuar diretamente no registro, documentação e comunicação da Paisagem Cultural da APA, para conhecimento, reconhecimento, defesa e proteção da diversidade cultural e biodiversidade, de forma a contribuir para reverter a situação atual, marcada pela falta de conhecimento e reconhecimento da importância social, histórica, cultural e econômica dessa rica e complexa paisagem cultural.


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RETÁBULO DA CAPELA DO ANTIGO HOSPITAL DE CARIDADE: memórias de Oeiras no século XIX Pedro Dias de Freitas Júnior Elenilce Soares Mourão

A composição dos retábulos coloniais e barrocos brasileiros são inspirados nos modelos portugueses em forma e conteúdo, em sua maioria obedece, independentemente da caracterização estilística, uma estrutura de quatro elementos principais, no que se refere à configuração geral: o embasamento dos pés direitos, o corpo propriamente dito com a marcação do terço inferior das colunas e o coroamento. Constituem patrimônio sacro/litúrgico e artístico de uma tipologia já existente desde o século XII. O retábulo da Capela do Antigo Hospital de Caridade, objeto deste estudo, integra o patrimônio de Oeiras, Primeira Capital do Piauí, cidade tombada pelo Iphan em 2012, como Patrimônio Cultural do Brasil. Confeccionado em madeira entalhada e policromada, o referido conjunto ornamentou a Capela do primeiro Hospital de Caridade do Piauí, localizado ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Hoje, o retábulo se encontra na Capela de Nossa Senhora da Vitória, no sobrado capitão-mor João Nepomuceno Castelo Branco, sede do Museu de Arte Sacra de Oeiras, onde permanece recoberto por camadas de policromia, que contam uma história, mas ao mesmo tempo e segundo prospecções anteriores, escondem informações valiosas que poderiam identificar materiais e modos de saber-fazer, apresentando sobreposições cromáticas descaracterizadoras, não condizentes com a cor original do objeto. Neste estudo procuramos fazer um diagnóstico da situação do bem patrimonial com o objetivo de documentar, registrar a importância artística e cultural desse objeto sacro, no contexto social e religioso em que está inserido, bem como suscitar a necessidade de intervenção para a sua conservação e possivelmente restauro para garantir maior longevidade.

Palavras-chave: Museu de Arte Sacra Retábulo. Patrimônio Restauro


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O DESIGN DE MODA SOB A PERSPECTIVA DAS ARTES VISUAIS Lucélia Oliveira Guedes

Palavras-chave: Arte Moda Design

Neste trabalho apresentamos a correlação entre a arte e moda, são estudos para elaboração do trabalho final do curso de design de moda da UNINOVAFAPI; abordamos referencias plásticas na coleção, partindo do princípio que a arte está de alguma forma inserida no processo criativo da Moda. Usamos técnicas de pintura manual, métodos de artistas plásticos aplicadas em roupas e nos acessórios da coleção. Buscamos compreender a interação entre arte e moda, o que reforça a cumplicidade existente e inseparável entre as duas expressões. É notória a necessidade de uma reflexão e olhar crítico durante a criação dos produtos de moda, para que o público perceba que a moda não precisa ser efêmera, mas pode agregar um valor mais afetivo do que apenas mercadológico. A proposta da coleção é provocar um impacto através da linguagem visual, tendo as artes plásticas como principal fonte de inspiração para o trabalho. Nos valemos de produtos voltados para material têxtil na elaboração das peças do vestuário e das bolsas Clutches, usamos como fonte de inspiração as obras de vários mestres da pintura, dos quais foram adotados métodos e técnicas como Dripping (gotejamento), criada pelo artista plástico abstracionista Jackson Pollock, nas estampas das roupas. Os resultados obtidos durante as etapas da pesquisa bem como da elaboração, mostram a importante relação entre as duas áreas no que diz respeito ao processo criativo ao explorar cores, formas e linhas. Concluímos que apesar do produto de moda estar sujeito a todo sistema de comércio (e marketing), de fatores modernos como a fabricação em série, voltado apenas para o lado fashion, a moda pode ser um meio de linguagem visual tão forte quanto a Arte, podendo manifestar além do seu aspecto estético, um impacto artístico, capaz de trazer reflexões dando assim uma maior significância ao produto criado.


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A PRODUÇÃO ARTÍSTICA DE ZILDA VAZ COMO MARCAS IDENTITÁRIAS DO PATRIMÔNIO CULTURAL PARNAIBANO Zozilena de Fatima Fróz Costa

A produção artística feminina tem passado, quase despercebida, na história das artes plásticas mundiais, brasileira e piauiense. Razão pela qual torna-se de fundamental importância registrar a participação da artista parnaibana Zilda Barbosa Vaz, Zilda Vaz, nascida na atual cidade maranhense de João Peres, em 23 de julho de 1928, onde viveu até os quatro anos de idade. Com a morte prematura do pai, aos vinte e cinco anos, foi entregue a uma tia e madrinha, que residia em Parnaíba, Piauí, onde permaneceu até os 28 anos, quando se casou com o lavrador Vicente Vaz de Maria. Até então, gostava de modelar imagens de santos em gesso, confeccionar bonecas de pano e desenhar com lápis de cor, o que era admirado por seu padrinho. Foram doze anos compartilhando com o marido a vida e trabalho no campo, cujas imagens estão registradas nas suas pinturas, juntamente com as dos costumes, festas populares e religiosas que participava com fervor. A artista por não ter a oportunidade de frequentar a academia aprendeu sozinha, sua arte é resultado de suas vivências e sua observação da cultura que estava imersa. Na década de 1970, começou a pintar com materiais não convencionais e alternativos como algodão ou morim, usados como suporte nas suas pinturas, usou tintas acrílicas para tecido. Até nas molduras de suas obras, a artista utiliza o artesanato, técnicas de macramê e crochê em sisal. Por suas características formais e iconográficas Zilda Vaz pode ser considerada uma artista Naïf. Ressalta-se que não temos a pretensão em categorizar a sua arte como se fosse uma desvalorização, pelo contrário, a apreciação da sua arte nos possibilita identificar as marcas de sua relevante produção em profícuo diálogo com a cultura parnaibana, e, em especial, com a nordestina por desvelar marcas de sua identidade, como patrimônio cultural. As cenas de cotidiano atravessam sua obra: a procissão, a feira, o parto, dentre outras que povoam o cenário da arte tão bem evidenciam a presença do umwelt da artista, reconhecida no exterior pela divulgação de sua obra por padres italianos, residentes em Parnaíba. Com esse incentivo tem recebido apoio do Serviço Social do Comércio do Piauí, que providenciou para que seus quadros Casamento na Roça e Retirantes da Seca participassem da Bienal Brasileira de Arte Naïf, em Piracicaba, em 1994. Em 1997 foi escolhida a Festa Junina para ilustrar o cartão de Natal da Federação das Indústrias do Estado do Piauí, revelando sua arte fora do Estado bem como no exterior, como reconhecimento do patrimônio cultural Piauí e do Brasil.

Palavras-chave: Arte Patrimônio Cultural Zilda Vaz


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A RELAÇÃO ENTRE ARTESANATO E DESIGN DA REGIÃO DE ILHA GRANDE DE SANTA ISABEL-PI E A ECONOMIA CRIATIVA Iana Taise Portela Medeiros Maria do Rosário de Fátima Brito de Araújo

Palavras-chave: Artesanato Design Economia Criativa Museologia e Inovação Social Piauí

A nossa intenção é apresentar uma caracterização da relação entre o artesanato e o design na região de Ilha Grande de Santa Isabel (PI) com a economia criativa. Como objetivos específicos pretendemos conhecer o artesanato face aos modos de saber-fazer do trançado de palha encontrado naquela região, reconhecer o artesanato e o design como elementos da economia criativa, averiguar a economia solidária no artesanato e conhecer a respeito da economia criativa e a sustentabilidade. O trabalho apresenta, ainda, a identificação do local a ser estudado. Usaremos metodologias qualitativas, pesquisa bibliográfica e descritiva, observação do objeto considerado, e pesquisa de campo. No decorrer dos estudos e intervenções sublinharemos as relações artesanato-design, economia-criativa-sustentabilidade, economia solidária no artesanato. Apontaremos os resultados e discussões que apontam para a existência de uma economia criativa aliada à sustentabilidade. A relação entre o artesanato e design da região de Ilha Grande de Santa Isabel e a economia criativa confirma o uso de meios existentes, transformados e criativamente produzidos como manifestação cultural e de sustento, que podem ser considerados elementos de uma economia criativa já presente na ilha. Nas considerações finais será observada a existência de uma economia criativa associada a uma economia solidária, na existência de uma associação que preserva e resguarda os benefícios de todos os associados e, consequentemente, de toda comunidade que se reporta ao artesanato da ilha. Associado a isso, a ressalva vai para economia criativa e a sustentabilidade andando juntas, o que sugere um trabalho especifico sobre o assunto no campo de estudos da museologia e inovação social.


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O ATIVISMO POPULAR NA DEFESA DA MEMÓRIA PÚBLICA: o caso do Movimento Viva Madalena Luan Rusvell Em 2015, o Brasil passava por um intenso processo de democratização urbana; processo que ganhou corpo na atuação de inúmeros movimentos sociais que ocuparam diversos espaços públicos pelo país na luta pelo direito de decidir sobre a cidade. Entre os movimentos pode-se citar o Ocupe Estelita em Recife, Ocupe o Cocó em Fortaleza, Resiste Reis Magos em Natal e Organismo Parque Augusta em São Paulo. Todos tinham em comum a articulação de movimentos populares pela defesa de ícones urbanos, seja prédios ou espaços públicos, que expressavam o sentimento de pertencimento à cidade e que estavam ameaçados de sumir por conta do avanço do capital imobiliário. Naquele mesmo ano, o cenário em Teresina era semelhante. O Centro da cidade sofria com uma série de demolições de edifícios históricos, a maioria casarões que estavam sendo derrubados para dar lugar a estacionamentos. Com a iminente destruição de mais uma casa, localizada na rua Felix Pacheco 1799 e avaliada em 5 milhões de reais, um grupo de estudantes decidiu pela ocupação do imóvel, dado início ao movimento Viva Madalena (em homenagem à proprietária do imóvel, Dona Madalena). A ocupação que durou 13 dias, entre 01 e 13 de julho, serviu como gatilho para um intenso período de debates, tornando a casa um ponto de encontro e manifestação que unificou a comunidade teresinense em defesa do Centro histórico. Mais que uma luta em defesa de uma única casa, uma grande faixa pendurada na fachada principal do imóvel trazia o lema: “a saúde está matando a cidade” - tratava-se de uma denúncia à conspiração imobiliária que tomava conta da área demarcada como Polo de Saúde, onde o crescimento econômico é sustentado pelo apagamento da memória local. A diversidade de pessoas e entidades que construíram o movimento - composto por coletivos de artistas, movimento estudantil e professores, Sindicatos de Servidores Municipais, funcionários da Fundação Municipal de Cultural, Ministério Público, moradores do Centro, entre outros - serviu para dar dimensão à complexidade do problema que, em consenso, apontaram a ausência de políticas de proteção, o sucateamento dos serviços públicos voltados para salvaguarda e a negligência do poder público como principal indutor dos crimes ao patrimônio. Em nota o movimento denunciou que “juntamente com a ilegalidade das ações na calada da noite – como a demolição gradual de patrimônios arquitetônicos – encontra na negligência fiscal um incentivo, e na omissão dos órgãos competentes, uma proteção.” (MOVIMENTO VIVA MADALENA, 2015). Embora os donos tenham sido responsabilizados e obrigados a restaurar o imóvel, hoje a casa continua em precárias condições mesmo servindo de abrigo para moradores de rua. Nesta comunicação, pretendemos fazer uma narrativa dos 13 dias de ocupação, analisando as relações que foram amarradas entre patrimônio e participação política. Através do mapeamento de reportagens, vídeos, mídias sociais, documentos produzidos e a coleta de depoimento de diversos participantes buscamos entender como o Movimento Viva Madalena se constituiu como um dos mais importantes marcos do ativismo popular em defesa da memória pública de Teresina.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Ocupação Ativismo social Memória Social Teresina


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DOCUMENTÁRIO REALIZADO PELO ESCRITÓRIO MODELO DO INSTITUTO CAMILLO FILHO: conversas sobre patrimônio Alana Carine Carvalho de Siqueira Matheus Victor Alencar Borges Rebecca de Oliveira Lopes

Palavras-chave: Patrimônio Educação Patrimonial Documentário Teresina.

Por definição, patrimônio é todo bem material, imaterial ou natural, que possui qualquer significado para uma pessoa ou um conjunto delas. Ao se falar de patrimônio histórico, nos referimos aos bens que são de extrema importância para a representação da história de um povo, podendo ser de caráter religioso, artístico, cultural, documental ou estético. Sua preservação é de grande importância para manter viva a memória da sua população, porém, o que vemos, continuamente, no Brasil é um grande desconhecimento da nossa história, dos nossos bens, que estão cada dia mais depredados e abandonados. Uma das alternativas para tentar sanar esse descaso é a educação patrimonial, abordada na Carta de Olinda, que tem como objetivo criar canais de interlocução com a sociedade e com os setores públicos encarregados pelo patrimônio, além de estimular a cooperação social na gestão e proteção dos bens culturais. Neste sentido, Educação Patrimonial pode ser compreendida por um processo sistemático e permanente, por meio do qual os indivíduos se apropriam dos bens culturais e entendem a necessidade e a importância da valorização e preservação do patrimônio cultural. Pensando nisso, o Escritório Modelo do Instituto Camillo Filho, composto por alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo e coordenados pelas professoras Neuza Melo e Luciene Cardoso, realizou um intenso trabalho de pesquisa sobre as edificações relevantes do centro histórico da cidade de Teresina, localizadas no entorno de três praças e da Avenida Frei Serafim, com o objetivo de enriquecer e aprimorar a educação patrimonial, que entendemos ser de extrema importância para a cultura e conhecimento dos nossos cidadãos. Ao longo de seis meses, as edificações foram analisadas, pesquisadas e fotografadas, com o intuito de aumentar o acervo informativo sobre as mesmas e escrever uma cartilha, adaptada para o público infantil, composta de informações, atividades, fotografias e curiosidades, pois se acredita que a educação patrimonial deve se iniciar com as crianças, porque a chance das mesmas crescerem com uma ideia mais amadurecida sobre patrimônio é maior. Para auxílio dos professores de instituições de ensino que utilizarão a cartilha, e para o público em geral, elaborou-se um documentário contendo depoimentos de profissionais com imenso conhecimento sobre o assunto e imagens produzidas ao longo da pesquisa. Com duração de vinte e cinco minutos, o documentário, apresenta o depoimento de quatro arquitetas urbanistas, mestres e doutoras na área de patrimônio cultural e desenvolvimento urbano, abordando a história e conservação das praças Pedro II, Saraiva, Bandeira e da Avenida Frei Serafim, inserindo nas abordagens não somente os locais em si, como também seus entornos, constituídos de elementos urbanos intrínsecos à própria história, identidade e memória de Teresina. O documentário é um convite ao conhecimento e reconhecimento sobre o patrimônio arquitetônico da cidade, bem como essencial para entender e intervir nos seus processos de conservação.


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VER O MAR: entre a criação de moda e o patrimônio cultural da Vila de Pescadores Coqueiro da Praia Andressa maria dos Santos Lima Marinete Martins Vasconcelos

O Patrimônio Cultural na costa litorânea do Piauí é rico em formas, cores, texturas e sentidos. Transparecem identidades vinculadas à formação sócio histórica e os modos de ser e viver das populações. Neste sentido, propomos estabelecer conexões entre a criação de moda e o patrimônio cultural da Vila de Pescadores “Coqueiro da Praia” Luís Correia. Observando o crescimento da moda autoral no mercado piauiense e a necessidade de promoção do Patrimônio Cultural, objetivamos apresentar o desenvolvimento de uma coleção de moda inspirada nas paisagens e referências culturais da comunidade, o que inclui o cotidiano da pesca e da diversidade marinha. A coleção cápsula “Ver o Mar” traz a magnífica beleza presente no cotidiano do mar; nos faz lembrar as maravilhas do universo e as possibilidades fantásticas de ir além dos limites da praia a partir do olhar do pescador. Leva ao encontro da moda autoral e o artesanato, equilibrando as técnicas manuais e o design, ressaltando as referências culturais e saberes locais. Ressignificar peças do vestuário como ferramenta de promoção do patrimônio cultural significará representar os ricos detalhes das tramas em crochê em meio ao linho entrecortado por um design moderno. Entre as inspirações estão o universo marinho apreciado pelo cotidiano no mar do pescador: redes de pesca, peixes, algas, corais, cavalos marinhos, conchas e estrelas do mar. A reflexão teórica que subsidiará o exercício de criação se relaciona com duas frentes: As que dão conta do universo da Moda no campo Desenvolvimento de Coleção e do Patrimônio Cultural. Os procedimentos metodológicos estarão vinculados à pesquisa do tipo qualitativa que permitirá estabelecer conexões entre a observação direta e registros imagéticos para pesquisa de campo e para criação de moda método TREPTOW. (2013)

Palavras-chave: Coqueiro da Praia Patrimônio Cultural Moda Design


Feira do Patrimônio | 23

CAPELAS DOS PASSOS: a singela arquitetura religiosa de Oeiras, a capital da fé Carliene Lima e Silva Wanderson Luís Sousa e Silva Taianne Vanne Neco de Sousa Amanda Moreira

Palavras-chave: Piauí Oeiras Procissão do Bom Jesus dos Passos Capela dos Passos Turismo Religioso

A cidade de Oeiras, antiga Vila da Mocha, foi elevada a cidade em 1761 e, apesar de ter perdido o posto de sede do estado do Piauí para Teresina em 1852, é popularmente conhecida como “a capital da fé”. Essa autodenominação traz consigo um caráter tradicional de uma comunidade que se sente representada através da fé e da devoção na doutrina católica, além de reiterar uma colonização legitimamente portuguesa com a igreja como centro de desenvolvimento da cidade. Durante a Semana Santa, principalmente, a cidade se torna o destino principal de devotos de todo o estado e a matriz de diversas celebrações religiosas. Dentre estes eventos, encontramos a Procissão de Bom Jesus dos Passos, uma tradição iniciada na terceira década do século XIX e que ocorre sempre na sexta feira santa da paixão de Cristo, sendo, segundo Áurea Pinheiro uma das mais expressivas manifestações de fé do Piauí. O trajeto deste cortejo, que parte da Igreja do Rosário e finda na Igreja da Vitória – a igreja matriz da cidade –, passa por cinco singelas capelas (Passo do Rosário, Passo D. Filoca, Passo D. Lindoca, Passo do Engano e Passo D. Naninha) no interior do centro histórico da cidade de Oeiras, sendo estas os objetos de estudo desse presente artigo. Mediante o levantamento das fachadas e a pesquisa através de fontes bibliográficas e documentais, constatamos a importância dessa arquitetura extremamente simples, mas que, por meio da tradição religiosa, se mostra relevante dentro do contexto de um centro histórico, um conjunto urbano, tombado pelo Iphan em 2012, composto de 14 quarteirões com 235 imóveis, que possui edifícios de interesse patrimonial com características formais mais rebuscadas; e também, para o fomento do turismo religioso na cidade, uma das principais atrações de Oeiras.


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REFLEXÕES SOBRE ÉTICA NA RESTAURAÇÃO DE PEÇAS SACRAS: o caso do sacrário da catedral de Nossa Senhora da Vitória em Oeiras – PI Francisco Stefano Ferreira dos Santos Elenilce Soares Mourão

A Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória, um dos principais bens imóveis tombados da cidade de Oeiras, Primeira Capital do Estado do Piauí, na origem teria sido um retângulo de 100 x 60 pés. No final do século XVIII, apresentava-se com a frontaria constituída de duas janelas no coro e duas outras nas correspondentes prumadas, ladeando a porta principal, frontão reto, torre única, capela lateral e e adro. O Sacrário se encontra no conjunto da Capela do Santíssimo Sacramento da Catedral à esquerda do monumento. A obra de fina expressão artística, trabalhada à imitação de pequeno retábulo, em módulos limitados por colunas torsas que se destacam na porta em arco abatido. Os sacrários são peças importantes e centrais da liturgia arquitetônica da Igreja Católica. Na cultura religiosa de Oeiras, o sacrário tem especial significado, dando à capela em que está situado uma importância de maior reverência para os fiéis, sendo espaço também de adoração ao Santíssimo Sacramento. Restaurado em 1995 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Piauí, o sacrário da Igreja Catedral de Nossa Senhora da Vitória de Oeiras, primeiro templo regular do Estado do Piauí, sofreu prospecção e retirada de sete camadas de tinta, chegando à cor dourada, original da peça. O restauro da peça descortinou uma imagem não conhecida da peça pelos devotos e moradores da primeira capital, acostumados há décadas com a cor colocada na última intervenção. O presente trabalho visa refletir a ética na restauração da peça, que sofreu antes de um restauro mais técnico, uma intervenção sem critérios, que resultou na perda de parte do douramento original. Além disso, a retirada das camadas de tinta e a decisão pela cor original seguiram princípios do valor estético e histórico da peça sem um diálogo participativo sobre o processo com os fiéis e demais membros da comunidade local.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Ética Restauro Arte Sacra Oeiras


Feira do Patrimônio | 25

CENTRO HISTÓRICO DE TERESINA, PIAUÍ: o patrimônio cultural e a relação entre as memórias e valor afetivo. Thalia Ohana Monteiro Lima | Iasmin da Silva Queiroz João Markus de Melo Pereira | Águida Christina de Matos Cruz | Neuza Brito de Arêa Leão Melo

Palavras-chave: Centro Histórico Teresina Piauí Educação Interpretação Patrimonial

Neste trabalho abordamos o tema da educação patrimonial no Centro Histórico de Teresina, Piauí, evidenciando a diversificada identidade cultural. Como objetivo explorarmos o local de estudo para promover uma análise resultante de percepções da população em relação ao espaço, comparando memórias sobre o acervo histórico, lembranças diversas e novas vivências, destacando os bens patrimoniais e seu entorno, fomentando assim a participação direta popular. Além disso, ressaltamos os hábitos e costumes de um povo que, por sua vez, está diretamente ligados ao seu dia a dia. Com o passar dos anos, desde o decreto n.25 de 1937, houve questionamentos sobre o patrimônio cultural e suas variantes. O que preservar, como preservar e por que preservar? São perguntas recorrentes à medida que foi levantando questionamentos sobre identidade e a recuperação de vazios urbanos. A cidade com suas paisagens forma um conjunto que constrói a memória e referências pessoais e coletivas, é a partir do cotidiano e da vivência que a ideia de identidade cultural surge. O Centro Histórico de Teresina é um exemplar de um presente/futuro vazio urbano qualificado por uma área edificada com infraestrutura em estado de abandono. São diversas as justificativas que acarretam esse desuso de uma área tão consolidada, possuindo diversos acervos históricos arquitetônicos e urbanísticos em um ambiente que agrega todas as funções da cidade. Além disso, é uma região que possui uma pluralidade com suas praças, igrejas, ruas, casas, entre outras tipologias, e que está diretamente ligada a vivência social. Por ser um centro comercial, sofre por modificações constantes, mudanças que aos poucos descaracterizam a imagem que a população construiu ao longo do tempo. Isso ocorre por diversos fatores, como por exemplo, a falta de engajamento da população em relação à preservação patrimonial, a falta de políticas públicas e de conhecimento do bem patrimonial. Como solução, propomos a educação e interpretação patrimonial como metodologia de conscientização, associada à processos participativos de revitalização, objetivando uma troca continua de saberes entre profissionais e população, em uma constante relação e transformação de tempo e espaço. Com isso, potencializa-se a inserção de um projeto, respeitando o contexto histórico, tempo e espaço. Essa reativação deve ser planejada não apenas para o espaço, mas acima de tudo para os “espaciólogos”, caracterizadas por Milton Santos como pessoas que usufruirão do lugar, seus sonhos e desejos, objetos de projetos, que nele geram variações de usos e significados, potencializando, portanto, por meio da participação uma educação e consciência patrimonial. Em consequência ao exposto, faz-se necessário a utilização de métodos de pesquisa que revisassem as bibliografias, valorizando análises de Alcília Afonso com seu acervo pessoal sobre Teresina; Hugues de Varine e Carlos Lemos com noções gerais sobre patrimônio cultural e, não menos importante, Sylvia Pronsato, com seu projeto participativo e criação coletiva na arquitetura e paisagem. Além disso é necessário análises quantitativas e qualitativas, entrevistas e pesquisa de campo como forma de enriquecer o estudo.


26 | Feira do Patrimônio

O MISTICISMO PIAUIENSE: desenvolvimento de produtos sustentáveis na disciplina de design de detalhes e acessórios Andrêina de Almeida Rabelo Fabíola de Almeida Rabelo

A produção de artefatos é um método produtivo que dá vida a objetos de desejo que na maioria das vezes não tem significado. Por meio de pesquisas de conceitos de moda, temos o propósito de usar resíduos têxteis, para desenvolvemos a problemática âncora nas questões sustentáveis e associadas ao design de produto. Os objetivos se ligam ao reaproveitamento de resíduos têxteis na criação de acessórios de moda, bolsas e sapatos, além de verificar a viabilidade dessa produção. Agregamos à pesquisa conhecimentos em torno de moda ética, reforçando as questões de sustentabilidade no desenvolvimento de produto. Para o desenvolvimento das peças produzimos bolsas e sapatos inspirados na temática Misticismo Piauiense, a partir de pesquisas realizadas acerca da cultura e turismo piauienses, como Encontro do Rios, Monumento ao Motorista Gregório, a Gruta de Nossa Senhora do Desterro, dentre outros, com o aproveitamento e reinvenção de materiais, tendo como propósito a inovação do produto, com aspectos sustentáveis. A metodologia utilizada foi baseada no reaproveitamento de resíduos têxteis, terceirização de mão de obra contemplando o processo criativo e geração de ideias dos alunos da disciplina do Design de Detalhes e Acessórios. Este trabalho permite que jovens pesquisadores conheçam ainda mais sobre o Estado e sua riqueza cultural, como transformá-la em produtos com histórias, memórias, sentidos e significados. Dessa maneira, este estudo aponta resultados relevantes no campo do design, sustentabilidade, patrimônio cultural, orientando processos criativos e produtivos de uma coleção de produtos de bolsas, sapatos ecologicamente viáveis e com propósito de afirmar a importância das relações entre moda, design e patrimônio cultural.

Palavras-chave: Processos Criativos Patrimônio Cultural Sustentabilidade Desenvolvimento de Produto


Feira do Patrimônio | 27

CASA DA DONA CARLOTINHA: um relicário da memória e da arquitetura eclética teresinense do século XIX Ana Clara Carneiro de Melo Camila Soares Figueiredo Vitória Isabelle de Sousa Oliveira Amanda Moreira

Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico Memória Teresina

Inserido na perspectiva de valorização da memória individual e coletiva, patrimônio arquitetônico piauiense, no presente trabalho relacionamos com o eixo “Patrimônio, sociedade e educação”, tendo como objeto de estudo a história e a concepção arquitetônica da obra conhecida como “Casa da Dona Carlotinha”, localizada no cruzamento das ruas Eliseu Martins e Sete de Setembro, n. 1426, no Centro histórico de Teresina, em frente à Praça João Luís Ferreira. O trabalho se desenvolve com o intuito de documentar o estado atual da construção, que se encontra sem uso, e questionar o descaso dos gestores responsáveis. Além disso, objetivamos explorar seu contexto histórico, bem como seu papel na memória social de Teresina. O imóvel consiste em um relevante exemplar da arquitetura desenvolvida no Piauí na segunda metade do século XIX, sob inspiração do ecletismo. Em sua concepção, remete-nos a traços marcantes da identidade arquitetônica local, como os avarandados das casas de fazenda, tipologia determinante para a construção da história arquitetônica local. Emprega materiais de maneira diferenciada, como os gradis nas fachadas e traz novas formas da construção relacionar-se com o terreno, revelando sua exemplaridade e singularidade. Atualmente, é tombada pelo Estado e está sobre cautela da Prefeitura de Teresina. O estudo foi viabilizado por meio de pesquisas em arquivos públicos e outras fontes bibliográficas, bem como através de levantamentos no local, registros fotográficos e entrevistas. A partir disso, foi possível constatar a necessidade da preservação desse imóvel, assim como de sua história, atualmente, ameaçados pelo notório desamparo da edificação. Contribuíram para o estabelecimento desse cenário a exponencial descaracterização do centro da cidade, que resulta no contínuo esquecimento de relevantes exemplares da arquitetura local, bem como de importantes personagens da sociedade teresinense, como a Dona Carlotinha e seu esposo, o escritor Anísio Brito, antigos proprietários da edificação. Observamos também que a deterioração da casa vem acontecendo de forma gradativa, determinada principalmente pela falta de uso, fato que, se continuado, acarretará no desaparecimento desse bem, ferindo a identidade do bairro bem como dos arredores da praça.


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CLICKS DE MEMÓRIA: boas práticas de conservação em acervo fotográfico no núcleo de pesquisa e memória das artes cênicas do Piauí João Carlos Araújo de Sousa Elenilce Soares Mourão

Neste trabalho, apresentamos resultados de atividades de pesquisa, conservação e comunicação do acervo documental em papel, especificamente em fotografia, do Núcleo de Pesquisa e Memória das Artes Cênicas do Piauí, vinculado ao Serviço Social do Comércio, Regional Piauí. Trata-se de pesquisa-ação desenvolvida no Programa de Pós-graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí. Construímos uma análise bibliográfica referente as boas práticas de conservação de acervo fotográfico como ferramenta de salvaguarda da memória imagética, objetivando formular estratégias de intervenção técnica para compor a práxis referente ao acervo do Núcleo de Pesquisa e Memória das Artes Cênicas, em Parnaíba-PI. A pesquisa visa constituir uma série de artigos que tencionam formular um diagnóstico e plano de intervenção, visando o aperfeiçoamento das práticas referente ao acervo em destaque, porém, não apresentando o acervo fotográfico neste momento, por tratar-se de artigo de cunho unicamente bibliográfico. Este artigo terá na conservação em acervos fotográficos, a base de seu direcionamento epistemológico na construção do discurso da pesquisa, onde não teremos a pretensão de destacar processos, porém, serão expostos na forma de atravessamentos informativos, pois sistematizar minimamente todos as etapas que envolvem a degradação da fotografia como elemento físico-químico, não contemplaria as limitações normativas referentes a um artigo. Nosso trabalho não busca contemplar tecnicamente todas as formas de intervenção em acervos fotográficos, porém, elenca as que julga apresentar maior pertinência na aplicabilidade da coleção fotográfica reunida no acervo pesquisado, evidenciando apenas os fatores de deterioração, e as técnicas aplicáveis que se relacionam as boas práticas em acervo segundo análise bibliográfica.

Palavras-chave: Acervo Conservação Fotografia Boas Práticas Museologia.


Feira do Patrimônio | 29

ANÁLISE DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA NO POLO CERÂMICO DO POTI VELHO E NA CENTRAL DE ARTESANATO MESTRE DEZINHO COMO VALOR AGREGADO A IDENTIDADE CULTURAL DE TERESINA-PI Samuel Cortez de Sousa Rufino

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Cerâmica Cultura Artesanato Teresina

Apresentamos estudo que tem o objetivo de analisar o valor cultural da produção artística no polo cerâmico do bairro Poti Velho e na Central de Artesanato Mestre Dezinho, um elemento de identidade do município de Teresina, Piauí. Para facilitar e gerenciar melhor o estudo na cidade divididos o espaço em dois lugares específicos: o Polo Cerâmico de Teresina, e a Central de Artesanato Mestre Dezinho. A central de Artesanato Mestre Dezinho, localizada na Praça Pedro II – centro da cidade foi fundada em 1980, no Prédio onde funcionava a sede do comando da polícia militar do Piauí. Atualmente na edificação funciona uma das maiores escolas de dança e música do Brasil e a oficina de artesanato Chico Barros. Ao fazer um passeio pelo centro da capital piauiense, não é difícil encontrar locais decorados com artesanato local, e que utilizam-no como forma de marcar a identidade do povo local, como O Convento São Benedito, a Residência Episcopal e o Metropolitan Hotel. Fazendo parte da história de Teresina, o Bairro Poti Velho, ou como era chamado inicialmente “Vila Velha do Poty” foi um dos primeiros entroncamentos comerciais da cidade de Teresina. Foi neste local que se iniciou toda a história da capital piauiense, e foi por volta da década de 1970, que se iniciaram os trabalhos com arte ceramista. Atualmente são centenas de famílias que sobrevivem do trabalho artesanal e o tem como única fonte de renda, por mais que este esteja em desvalorização e com pouquíssimos profissionais. O patrimônio deixado no Poty velho, é um dos maiores da capital piauiense, as peças cerâmicas feitas no mesmo carregam consigo uma história, um significado cultural local. Prosseguir e difundir essa atividade dentro da sociedade teresinense é de suma importância para preservar um trecho da história magnífica de um povo trabalhador que conseguiu através da arte conquistar os olhares não só da população teresinense, mas principalmente dos turistas que visitam a área. Nesta perspectiva, serão abordados vários pontos relevantes à produção artesanal, desde sua influência cultural, até a movimentação econômica que esta faz nos mercados os quais está inserida.


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ESQUINA DA MEMÓRIA: um patrimônio esquecido David Alisson da Silva Nathalia Gomes Freire O presente trabalho tem como tema a documentação patrimonial para salvaguarda de bem histórico teresinense, tendo como objeto de estudo o sobrado de estilo eclético construído no início do século XX, que serviu como residência familiar de João Pereira de Carvalho, primeiro Juiz de Paz de Teresina - PI, e sede do primeiro grande hotel da cidade. A edificação em questão se localiza no cruzamento das ruas Firmino Pires e Senador Teodoro Pacheco (antiga Rua Bela), importantes eixos do centro da cidade e serve, atualmente, ao uso comercial e residencial. Devido a marcante referência criada pelo prédio, o objetivo geral deste trabalho é realizar um remonte histórico da edificação, revelando seu processo de evolução desde o seu surgimento até os dias atuais, a fim de contribuir com a fundamentação de sua importância no âmbito da memória e identidade da cidade, se categorizando como um significativo bem patrimonial. Para isso, buscamos apontar a necessidade da preservação do imóvel como posição de respeito à história da sociedade piauiense; evidenciar a situação de descaso em que se encontra a edificação – o que se configura como uma ameaça à permanência da mesma, e a toda sua potencialidade de contribuição cultural. Além disso, produzimos uma documentação teórica e gráfica sobre o referido bem, onde perante a escassez de pesquisa, podemos contribuir com o registro para sua preservação. Portanto, em busca de identificação e estabelecimento de conhecimentos acerca da obra, desenvolvemos metodologias variadas para obtenção de informações relevantes a compreensão física e histórica do bem, assim como seu papel para a cidade. A investigação consistiu na realização de levantamento histórico, por meio de pesquisas em arquivos e órgãos públicos, produções acadêmicas, e entrevistas com proprietários e inquilinos da edificação; levantamento físico, com vistorias, fotos, croquis, esquemas e representações gráficas; e análise tipológica, identificação de materiais e sistemas construtivos. Por fim, como resultado de intenso labor, perante as informações – fragmentadas e dispersas – que se deram por vezes contraditórias, além da carência de bibliografia que envolva a edificação em questão, resultando em uma verdadeira peritagem, corroboramos com a necessidade de registro e preservação do bem. A destruição das representações materiais de nossa memória pode conduzir ao esquecimento de nossa identidade e cultura, e esquecer nossa cultura é esquecer quem somos. Devemos então de qualquer maneira, garantir a compreensão de nossa memória social preservando nosso Patrimônio Cultural.

Palavras-chave: Memória Preservação Patrimônio Cultural Teresina


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SANTA CARNAÚBA

Concepção e Produção de Exposição Coletiva

Douglas Brandão de Melo Cássia Moura

Palavras-chave: Arte. Exposição. Carnaúba. Patrimônio Cultural e Ambiental. Piauí.

Esta pesquisa de natureza ação, por conseguinte interventiva, materializa-se em uma exposição coletiva e colaborativa com 10 artistas brasileiros com temática associada à paisagem cultural da Carnaúba, palmácea, árvore repleta de símbolos, sentidos e significados para a memória individual e coletiva das populações que habitam o vasto território do Estado do Piauí. A Carnaúba foi referência em diferentes ciclos econômicos, históricos, sociais e culturais do território, usada ao longo do tempo desde a matéria-prima para artefatos domésticos e produtos artesanais a chips de computadores. A concepção deste trabalho surgiu ao longo das diversas atividades teórico-práticas, marca da identidade do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Mestrado Profissional, da Universidade Federal do Piauí. Partimos do princípio de que o planejamento e a programação de exposições constituem ações educativas e socioculturais capazes de mobilizar comunidades, formar públicos e fortalecer identidades; suscitam diálogos e trocas de experiências e vivências, permitem acesso a conhecimentos, aprendizagens, deleite, lazer e trocas de saber-fazer. Pretende-se com este projeto-ação dar visibilidade ao patrimônio cultural do Piauí, tomá-lo como um conjunto integrado no território, dotado de valor e geração de emprego e renda, capaz, sobretudo, de gerar autoconhecimento e autoestima. Trata-se de um exercício colaborativo e participativo entre o autor deste trabalho, 10 artistas e vários profissionais ligados à curadoria em instituições culturais, como galerias e museus. O fio condutor é a arte, a linguagem e a forma de expor. Este trabalho foi feito no itinerário de uma produção artística em várias mídias, formatos, técnicas e estilos que confluem entre a percepção dos participantes e a temática da exposição. É uma prática que possibilita ao expectador conhecer um universo bem peculiar, o mundo inspirador da Carnaúba. Será possível notar o que há de mais primitivo e puro através da produção artística, um convite à fruição, ao deleite e à reificação do imaginário criativo, que estimula os sentidos ao se entrar neste pequeno emaranhado criativo. Seguindo essa ideia, o produto final, a exposição coletiva, colaborativa e participativa, permite debates e atribuição de sentidos e significados às formas de expressão cultural desse patrimônio, marca da paisagem cultural do Norte do Piauí.


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Capítulo 02. Eixo_

museus + museologia


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ECOMUSEU DELTA DO PARNAÍBA (MUDE): um instrumento de valorização de uma rica e complexa paisagem cultural no meio norte do Brasil. Pamela Krishna Ribeiro Franco Freire Alcília Afonso de Albuquerque e Melo. Áurea da Paz Pinheiro

Durante os séculos XIX e XX Parnaíba recebia em seu porto, dezenas de navios vindos do Brasil e da Europa. Os galpões portuários desse período, voltados para o rio Igaraçu, encontram-se hoje desativados e, sem políticas efetivas de preservação, muitos estão em estado avançado de deterioração. Pode-se observar que, à medida que esta cidade se desenvolveu economicamente, afastou-se da relação sustentável com o rio e mar, distanciando-se das práticas tradicionais de subsistência que ainda são encontradas nas populações deltaicas das ilhas do Delta do Rio Parnaíba. Diante dessa realidade, o que se propõe é a valorização da relação entre as pessoas e essa paisagem do delta, por meio da transformação de um desses galpões em um Ecomuseu dedicado ao Delta do Parnaíba. A proposta é que as comunidades deltaicas e os moradores de Parnaíba se reconheçam nesse equipamento cultural, apropriando-se do lugar, para que haja uma estreita relação de afeto, e assim, serem igualmente gestores de seu patrimônio. Por sua natureza profissional, o mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia, exige a concepção, desenvolvimento e apresentação de produtos ou serviços como trabalho final, assim, será elaborado o projeto arquitetônico da sede e centro de gestão deste Ecomuseu, produto final deste projeto-ação, que deverá ter por princípio a valorização do patrimônio sob uma abordagem fenomenológica, adequando a edificação ao novo uso e facilitando a fruição do público por meio de uma proposta arquitetônica na qual a população possa se reconhecer. Busca-se a aproximação de parnaibanos, comunidades ribeirinhas, turistas, gestão pública, iniciativa privada e terceiro setor da realidade da paisagem do delta do Parnaíba, por meio de coleções que representem as histórias, memórias e vida dessas populações, de forma a comunicar e valorizar os patrimônios material e imaterial.

Palavras-chave: Ecomuseu Paisagem Arquitetura Patrimônio.


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PESQUISA, DOCUMENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO DO ACERVO DO ECOMUSEU DELTA DO PARNAÍBA Gabriela Freitas de Paiva Elenilce Soares Mourão O presente trabalho, inserido no âmbito do Projeto Matriz Ecomuseu Delta do Parnaíba do Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, da Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Reis Velloso, Parnaíba, Piauí, está atravessado pelo conceito de rede de museus, de natureza poli nuclear, museus de território e de base comunitária. Usamos como sistema de documentação museológica para registro e gestão do acervo da Rede de Museus, com recorte nas Artes de Pesca do Bairro Coqueiro da Praia, em Luís Correia, Piauí, um dos dez municípios que integram a Unidade de Conservação Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba. Em 2017, sob a orientação das professoras Áurea Pinheiro e Cássia Moura, 15 alunos da terceira Turma do Mestrado, realizaram um exercício de Inventário do Ofício e Modos de Fazer das artes de pesca no bairro Coqueiro com base nas orientações do orientações do Manual de Aplicação do Inventário Nacional de Referências Culturais do Iphan. Esse exercício ainda que de forma preliminar permitiu o contato direto os mestrandos com a comunidade, com os pescadores; bem como a elaboração de um conjunto de informações, que serão revisadas, completadas e sistematizadas neste trabalho. A realização do inventário representa um passo inicial e significativo para a salvaguarda do patrimônio imaterial. Porém, é de suma importância que não seja o único nível da documentação. A partir dessas questões, apontamos os problemas: Como gerir e tratar as informações de um acervo etnográfico vivo e operacional do Ecomuseu? Como promover, salvaguardar, apresentar e divulgação esse Patrimônio Cultural? O objetivo é gerir as informações recolhidas, a fim e dar-lhes coerência conceitual, definindo categorias e um vocabulário controlado por meio da elaboração de um Thesaurus das Artes de Pesca Artesanal, e organização em uma base de dados utilizando o software Tainacan – criado em parceria pela UFG, com apoio do Ministério da Cultura por meio do Instituto Brasileiro de Museus. Usaremos para gestão e compartilhamento de informações dos acervos museológicos. Pretendemos, a partir da cadeia operatória da museologia, formada pela pesquisa, documentação e comunicação, permitir o registro, preservação e comunicação da rica e complexa Paisagem Cultural da APA Delta do Parnaíba. As metodologias utilizadas são de gestão da informação e a pesquisa-ação social qualitativa com métodos e técnicas da documentação museológica, bem como da etnografia e história oral. O público focal são 15 pescadores, em atividade artesanal, proprietários de canoas e apetrechos de pescas, residentes no bairro Coqueiro. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados serão fichas de documentação dos objetos, formulário de entrevistas, rodas de conversas com os pescadores e a comunidade local, caderno de anotações de pesquisa de campo. Para construção do tesauro será necessário também pesquisa bibliográfica sobre as artes de pesca artesanal.

Palavras-chave: Documentação Museológica Patrimônio Cultural Imaterial Ecomuseu Delta do Parnaíba Piauí


Feira do Patrimônio | 35

REPOSITÓRIO DIGITAL TEMÁTICO DA PAISAGEM CULTURAL DO DELTA DO PARNAÍBA Cátia Regina Furtado da Costa Elenilce Soares Mourão

Palavras-chave: Paisagem cultural APA Delta do Parnaíba Repositório Digital Piauí.

Apresentamos o projeto de pesquisa-ação em andamento, no âmbito do Programa de Pós-graduação, Mestrado Profissional, em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Reis Veloso, localizado na cidade de Parnaíba, um dos municípios que integram a Área de Proteção Ambiental APA Delta do Parnaíba, Unidade de Conservação, criada pelo decreto n. de 1991. A proposta é criar um repositório digital da Paisagem Cultural do Delta do Parnaíba com a missão de reunir, classificar, preservar, identificar e divulgar estudos e ações que envolvam a paisagem cultural – o território, as pessoas, os patrimônios de forma participativa e colaborativa, envolvendo diretamente empresas públicas, privadas e sociais, comunidades locais, nomeadamente jovens entre 15 a 21 anos, residentes no Bairro Coqueiro da Praia, Luís Correia, igualmente município que integra a APA, que concluíram o ensino fundamental, que cursam ou concluíram o ensino médio ou mesmo que já tenham ingressado no ensino superior, um grupo formado inicialmente por 6 jovens. Realizaremos oficinas de acesso à comunicação e informação com destaque para os repositórios digitais, uma estratégia para os sensibilizar, envolver e os formar, de maneira a permitir que esses jovens investiguem, conheçam e reconheçam os patrimônios que detêm e que podem gerir; uma forma de conhecer a realidade local, com referência à cultura, economia, política; permitir atitudes e comportamentos de investigação, registros, defesa e promoção da paisagem cultural do território que habitam. Para dar início a formação do acervo, a proposta é utilizar o ‘Tainacan - tecendo constelações de memória em cultura’ um software desenvolvido pela Universidade Federal de Goiás. Uma ferramenta inovadora, simples, mas extremamente potente, que consegue responder de maneira efetiva a grande parte dos requisitos técnicos específicos apresentados pelo desenho de uma política de acervos à partir da perspectiva da cultura digital brasileira.


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MUSEU VIRTUAL DELTA DO PARNAÍBA Coleção Cidade de Parnaíba Ivanilda Sá Quixaba Ferreira Áurea da Paz Pinheiro

O presente documento partiu de ações desenvolvidas no âmbito do curso do Mestrado em Arte, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí. O objetivo é desenvolver práticas museológicas utilizando as histórias e memórias dos moradores do bairro São José em Parnaíba. A cidade no ano de 2008 teve o seu centro histórico tombado e seis áreas foram registradas devido à sua relevância histórica e sua paisagem natural. O tombamento promoveu a proteção pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Para esta pesquisa selecionamos a área seis, nomeadamente a área de Habitações Tradicionais Populares que alcança o bairro São José e Mendonça Clarck que foram inseridos como região do entorno do sítio tombado. Como metodologia utilizamos a História Oral e apresentamos como fonte as histórias de vida dos moradores do bairro São José. Como problema da pesquisa recorremos a historicidade proposta pelo próprio território para conhecer a história de vida da senhora Maria Jose Oliveira Silva, moradora do bairro há mais de cinquenta anos. Como resultado, a entrevista fará parte do acervo digital do Centro de Interpretação da Cultura Material, Imaterial e Paisagísticos - Museu Virtual – da cidade de Parnaíba (PI), ligado ao Mestrado em Arte, Patrimônio e Museologia, ligado a UFPI. Como objetivos específicos pretendemos conhecer a história de vida de nossa colaboradora e interpretar como a história da colaboradora se aproxima da história do bairro São José. A pesquisa faz-se relevante devido ao caráter metodológico utilizar além da História Oral, a Museologia e as Tecnologias Sociais, possibilitando futuras intervenções sociais no território, especialmente nas escolas no bairro. A prática museológica voltada à valorização das pessoas e suas vivências cria expectativas positivas nos colaboradores que, ao participarem das entrevistas e da criação do acervo deixam de apresentarem-se como expectadores e passam a ser sujeitos de suas histórias.

Palavras-chave: Parnaíba Museologia História Oral Histórias de vida.


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DIAGNÓSTICO MUSEOLÓGICO DO MUSEU DO PIAUÍ Samila Sousa Catarino Áurea da Paz Pinheiro

Palavras-chave: Museologia Patrimônio Cultural Diagnóstico Museológico Museu do Piauí

Apresentamos o relatório do projeto de pesquisa: Diagnóstico Museológico do Museu do Piauí, realizado ao longo de dois anos (2016-2017) no âmbito do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí. Narramos o percurso teórico-metodológico para desenvolvimento da pesquisa no Museu do Piauí. O trabalho foi realizado de forma colaborativa envolvendo diretamente os funcionários da Instituição. Reconstituímos uma história do museu, a situação do acervo, pesquisamos e coletamos dados, materializados em pesquisa bibliográfica e documental, registros fotográficos do acervo e documentos históricos, um trabalho de imersão no Museu do Piauí. Além dessa pesquisa prospectiva, registramos os relatos dos funcionários, importante pra compreendermos como funciona uma instituição da natureza do Museu do Piauí. O uso de metodologias participativas, como dinâmicas de sensibilização, rodas de conversas, intervenções no espaço museológico. O problema da pesquisa esteve associado a ausência de um diagnóstico museológico da real situação da instituição, documento fundante para construção de um Plano Museológico, indispensável em um trabalho de gestão de um museu. A obrigatoriedade desse documento está regulamentada na lei n.11.904 do ano de 2009, que determina que todas as instituições museais devem possuir um Plano Museológico, portanto um documento obrigatório, que consiste no mapeamento da instituição, projetos, programas e ações. Apesar de sua importância, percebemos ao longo da pesquisa um cenário adverso no Estado do Piauí, onde nenhum equipamento museu tem um Plano Museológico. No trabalho, relatamos a vivência desses dois anos, identificando os principais problemas do Museu e suas necessidades, porém destacamos o trabalho realizado pelos funcionários, um trabalho árduo de dedicação e amor pela Casa, apesar de todas as limitações apresentadas ao longo dos anos. A instituição faz parte da história da cidade, está localizada no Centro Histórico de Teresina, capital do Piauí. O Museu do Piauí é a mais importante instituição museal do Estado, tanto por seu caráter arquitetônico e urbanístico como pelas histórias e memórias que abriga materializadas em seu acervo.


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DIREITO À CULTURA E A DEMOCRATIZAÇÃO NOS MUSEUS: o caso do museu municipal de Arte Sacra Dom Paulo Libório Sâmya Kelly Alexandre Pires Artemísia Lima Caldas

Apresentamos um estudo a cerca da democracia e democratização do direito à cultura nos museus, tendo como problemática o papel dessas instituições no acesso ao direito à cultura e sua democratização. Tomamos como referência leis e regimentos sobre direitos culturais, a partir da análise sobre a implementação de um museu na cidade de Teresina, capital do Piauí - o Museu de Arte Sacra Dom Paulo Libório, museu municipal, que tem sob sua gestão cerca de 2.000 peças religiosas dos séculos XVII a XX. O Museu foi inaugurado em 15 de agosto de 2011 pela Prefeitura de Teresina. A sede do Museu foi a última morada de Dom Paulo Libório, primeiro arcebispo teresinense e grande parte das peças expostas pertencia ao religioso, assim como os dois mil livros disponíveis na biblioteca do museu. O acervo é composto por aproximadamente 2.000 peças dos séculos XVII a XX. São imagens sacras, alfaias, oratórios, paramentos e mobiliário. O objetivo principal foi compreender o direito, democracia e democratização da cultura nos museus, fazendo relação com o estudo de caso do Museu Municipal de Arte Sacra Dom Paulo Libório, localizado na Rua Olavo Bilac, Teresina-PI. Para tanto, foi realizamos uma pesquisa bibliográfica sobre a legislação vigente, que versa sobre o direito à cultura e à relação da democratização, assim como, sobre as políticas públicas culturais em Teresina, com base nos museus espaços de educação e cultura para a cidade. Fizemos uma revisão de literatura e consultamos a legislação brasileira. Os principais resultados demonstram que a cultura, apesar de muito valorizada em nível de direito, um direito fundamental e regulamentado pela lei maior que é a Constituição Federal, há ausência de vontade política para a sobrevivência dos museus e diretos culturais. No referido Museu observamos um esforço administrativo financeiro, dos funcionários para mantê-lo ativo. Concluímos que as ações são ineficientes devido ao reduzido público do museu, no entanto, constatamos que existem projetos em curso que propõem melhores resultados.

Palavras-chave: Cultura Memória Legislação Museu


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MUSEU DO VAQUEIRO | ALTO LONGÁ | PIAUÍ: Diagnóstico e Documentação Museológica e Propostas de Expografia, educação e ação Cultural: pesquisa, inventário e documentário sobre Reisado.

Palavras-chave: Museu do Vaqueiro Museologia e Expografia Reisado de Alto Longá. Piauí Educação e Ação Cultural

Maria do Amparo Moura Alencar Rocha Rita de Cássia Moura Carvalho

Este trabalho é resultado de Projeto-Ação, realizado no Museu do Vaqueiro, localizado no município de Alto Longá no Estado do Piauí. Os estudos e intervenções materializaram-se em diagnóstico e documentação museológica e propostas de expografia, educação e ação cultural, o que incluiu um inventário da Celebração do Reisado, um documentário etnográfico e uma exposição de curta duração associados à Celebração no Museu. A exposição sobre o Reisado e as atividades de educação e ação cultural estiveram associadas diretamente à concepção, montagem e mediação da exposição que nomeamos “Reis e Caretas”. A intervenção direta no Museu foi um meio de dar vida ao equipamento e devolver a pesquisa-ação para a comunidade, interagir com diversos públicos e permitir a visibilidade do Museu para que cumpra a sua função social, tornando-o um lugar privilegiado de fomento à educação, cidadania e cultura, de maneira agradável, informal e lúdica. O projeto expográfico contempla a história da cidade a partir do personagem do vaqueiro, homem religioso e devoto. O centro da narrativa da nova exposição é o Reisado, celebração emblemática para os habitantes da cidade. No desenho da Exposição Reis e Caretas usamos objetos e fotografias identificados e recolhidos ao longo do inventário e um documentário etnográfico de 10 minutos sobre a Celebração. O trabalho direto no Museu do Vaqueiro teve início com um Diagnóstico Museológico da Instituição, que contou com a participação da servidora e diretora do Museu, o que lhes permitiu compreender a importância e responsabilidade do planejamento e gestão de um equipamento cultural, suas potencialidades, fragilidades, ameaças e oportunidades criar o conceito da Exposição “Reisado e Caretas”. Portanto, Diagnóstico e Documentação Museológica e Projeto Expográfico para o Museu do Vaqueiro; Inventário da Celebração do Reisado, Documentário Etnográfico, Exposição Reis e Caretas e Educação e Ação Cultural são produtos e serviços que apresentamos como Trabalho Final do Mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí, uma contribuição para a revitalização do Museu do Vaqueiro.


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MUSEU COMUNITÁRIO DA BOA ESPERANÇA: uma estratégia de resistência Luan Rusvell Desde de 2007, com o anúncio do Programa Lagoas do Norte, cerca de 3 mil famílias que vivem na região das Lagoas do Norte de Teresina, capital do Piauí, foram notificadas para desapropriação. Com o objetivo de ser um projeto de revitalização urbana, orçado em mais de 900 milhões de reais e com financiamento do Banco Mundial, o Programa prevê obras que envolvem saneamento básico, drenagem urbana, construção de moradias, pavimentação, construção de equipamentos públicos etc. Porém, todas essas melhorias trazem consigo um ônus, anunciado dentro do Marco de Reassentamento Involuntário, que ganha forma como o maior processo de gentrificação urbana em curso hoje na capital; trazendo danos irreparáveis ao patrimônio histórico local, isso porque a região sobre a qual se está implantando o PLN se constitui como um grande território habitado por comunidades tradicionais da cidade; trata-se do primeiro núcleo de povoamento da região da Chapada do Corisco, anterior mesmo a fundação da capital em 1852; essa região, conhecida como Barra do Poti (hoje bairro Poti Velho), era antes terra de domínio dos índios Potis. Entre os moradores muitos ainda preservam consigo práticas culturais caras à identidade local: são oleiros, vazanteiros, rezadeiras e brincantes de Bumba Meu Boi que convivem harmonicamente com o cotidiano da cidade. A região ainda abriga a maior concentração de terreiros de religião de matriz africana da capital, pelo menos 400 destes tem seus fundamentos enterrados nas terras do Norte. Hoje, tudo isso está ameaçado devido o avanço das obras que desenham a região como um grande complexo turístico. Em resposta à iminente ameaça de remoção, as comunidades auto organizadas em torno do Centro de Defesa Ferreira de Sousa e unificadas no movimento Lagoas do Norte Pra Quem?, iniciaram suas estratégia de resistência com o objetivo de fincar ainda mais suas raízes em seu território de origem e questionar o modelo de cidade imposto pelo Programa. Alguns anos mais tarde, no ano de 2015, e com pelo menos 1.000 famílias já desterritorializadas pelo Plano, decidiram iniciar uma nova batalha: a criação do Museu Comunitário da Boa Esperança, localizado na avenida de mesmo nome, no bairro Olarias. Iniciaram então a coleta de objetos pessoais, fotografias, cartas e memórias que fazem parte da história das pessoas que pertencem aquele território. Hoje esse conjunto de peças faz parte de um acervo guardado em um cômodo da casa de uma das famílias da comunidade - a família Ferreira de Sousa, uma das primeiras a construir moradia na região e que vive ali há mais de 50 anos. Este trabalho pretende servir como documentação do processo de constituição do Museu Comunitário da Boa Esperança, apresentando reflexões sobre as ações, motivações e desafios que impulsionam a articulação das comunidades atingidas pelo PLN em torno da autogestão deste projeto museológico, e investigar os saberes populares locais sobre pertencimento territorial e o que pensam sobre patrimônio.

Palavras-chave: Museu comunitário Comunidades tradicionais Gentrificação urbana Desterritorialização Resistência popular.


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DO PLANO AO PROGRAMA: a possibilidade de criação de uma proposta educativa para o museu do Trem do Piauí Sabrina Araújo Castro

Palavras-chave: Museu do Trem Piauí Plano Museológico Educação Museal

Tratamos da possibilidade de criação de uma proposta educativa para o Museu do Trem do Piauí a partir de constatações observadas durante a elaboração, em construção, de um Plano Museológico para o Museu, uma construção coletiva, inclusiva, participativa do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí. Conforme o Caderno da Política da Educação Museal do Ibram (2018), o Plano Museológico é um documento basilar da concepção e atuação do museu, que deve estar em permanente diálogo com o seu Programa Educativo, documento no qual é definido a missão e os objetivos educacionais. O procedimento de pesquisa foi a observação participante durante as oficinas da elaboração do referido Plano, realizamos registros das informações em diário de campo. Uma dessas oficinas tratou da didática dos objetos e do potencial educativo do acervo do museu. A interpretação dos dados envolveu pressupostos da Nova Museologia associados a concepções da Educação Popular, por isso, se destaca o papel social e educativo dos museus. Nesse sentido compreendemos que a pesquisa participativa, a gestão museológica e os processos educativos podem ser construídos coletivamente através do diálogo, conforme as ideias educacionais e sociais de Paulo Freire. Através das observações e do contato com os colaboradores na elaboração do Plano Museológico foi possível encontrar percepções e pensamentos de sujeitos que compartilham uma vontade de museu, emergida de uma memória social e afetiva da presença da ferrovia em Parnaíba, no Piauí. Isto traduz a noção de patrimônio comunitário proposto por Hugues De Varine (2013), o patrimônio que emerge de um grupo complexo que compartilha histórias, memórias e esperanças. Observamos que nos diálogos desses colaboradores há enunciados que citam a vocação educativa do Museu do Trem e a necessidade de desenvolvimento de atividades para a construção de conhecimentos, como o incentivo à pesquisa e a atrativos para as visitas escolares. Logo, há um potencial educacional que indica ser possível e necessária a construção de um Programa Educativo para o museu do Trem do Piauí, partindo do interesse de um grupo colaborativo que pode estar em parceria com a municipalidade, em função do compartilhamento de uma memória social que pode contribuir para o desenvolvimento local.


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IMPLANTAÇÃO DO ESPAÇO DE CULTURA E MEMÓRIA DO COLÉGIO TÉCNICO DE TERESINA-UFPI Julinete Vieira Castelo Branco | Ana Célia Assunção Leal Dayana Ramos Rodrigues | Giovana Gomes Batista Joany Maria da S. Mariano | Raffaela Leite Santana Esse estudo constitui os primeiros resultados do Projeto de Pesquisa para implantação de um Espaço de Cultura e Memória do Colégio Técnico de Teresina. A proposta é a criação de um núcleo museológico com acervo documental, virtual e iconográfico sobre a importância do trabalho docente e discente realizado Colégio. Nesse sentido, o interesse consiste na coleta de fontes históricas e do registro de práticas que foram e são desenvolvidas por professores e alunos, em todos os cursos oferecido pela instituição, ao longo do tempo. A metodologia consiste na sua primeira etapa, a observação, registro e seleção de fontes que possibilitem o acúmulo de um considerável número de informações históricas sobre esta instituição. Para tanto, o objetivo é a construção de um acervo histórico, que venha proporcionar ao Colégio, bem como à Universidade Federal do Piauí, um espaço concreto e virtual de mostra e produção do conhecimento para os docentes e discentes, sobre o patrimônio e as práticas de ensino e aprendizagem que foram e são realizadas no CTT. O fundamento teórico baseia-se em Castelo Branco (2008), Pinheiro (2010), LE GOFF (2003), entre outros autores. O Colégio, com 64 anos, inicia seu espaço de memórias concreto e virtual onde, futuramente, a sociedade terá acesso às suas histórias e memórias. Assim, objetiva-se incentivar docentes e discentes com o trabalho de registro de suas práticas diárias, a valorização da área arquitetônica e patrimonial do CTT, assim como à visitação do espaço institucional escolar da EBTT. O Projeto está em andamento, na fase de implantação. Para a realização da pesquisa, esse estudo conta com cinco (5) bolsistas PIBIC-UFPI, quatro (4) do Curso Técnico em Agropecuária e uma (1) do Curso Técnico em Informática, orientadas pela coordenadora do Projeto, assim como, cada uma, conta também com o auxílio de um Professor colaborador de cada curso, para orientações específicas dos cursos. Portanto, torna-se necessário o reconhecimento de um espaço de pesquisa histórica que venha possibilitar a exposição, o registro e preservação dos instrumentos, artefatos, memórias, práticas e vivências dos docentes, discentes e técnicos, para a valorização da história do CTT e da UFPI. Nesse sentido, o Projeto, visa a sua legitimação, enquanto espaço de práticas museológicas. E, futuramente, após, a concretização da pesquisa e organização do Espaço, o próximo passo será, a aplicação da Legislação sobre a construção dos museus, adequação da sua estrutura, afim de que se torne o primeiro museu de práticas da EBTT da cidade de Teresina e do Estado do Piauí.

Palavras-chave: História Memória Educação Patrimônio Cultural


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A CRIAÇÃO DE UMA REDES DE EDUCADORES EM MUSEUS NO PIAUÍ Aurea da Paz Pinheiro Suzana Maria Araújo Veras

Palavras-chave: Museu do Trem Piauí Plano Museológico Educação Museal

As Políticas Nacional de Museus e de Educação Museal surgiram como programas e se consolidaram como política pública. A sigla que inicialmente se referia apenas ao Programa Nacional de Educação Museal passou para Política Nacional de Educação Museal. Neste artigo propomos discussões e reflexões sobre essa Politica Pública no Brasil, com foco na criação de redes de educadores museais no Piauí, com o objetivo de criar um instrumento de conhecimento, reconhecimento, valorização, promoção de relacionamentos comunidades – patrimônio cultural, com respeito à diversidade, à promoção da participação social, atendendo, assim, aos princípios do órgão federal responsável por essa Política, qual seja, o Instituto Brasileiro de Museus. O que objetivamos é criar uma Rede de Educadores Museais do Piauí, a iniciar pela sensibilização de educadores dos diversos níveis e instituições educacionais e culturais na Área de Preservação Ambiental APA do Delta Parnaíba, por meio de atividades de formação continuada, promovidas pelo Programa de Pós-graduação, Mestrado Profissional em Museologia da Universidade Federal do Piauí, com sede no Museu da Vila, Bairro Coqueiro, Luiz Correia, um dos dez municípios que formam a APA Delta do Parnaíba. Pretendemos nos aproximar de jovens entre 12 a 18 anos da comunidade e de professores da escolas local em uma ação experimental, capacitando-os como agentes multiplicadores para pesquisa, documentação e comunicação do Ecomuseu Delta do Parnaíba, em um de seus núcleos, o Museu da Vila, localizada em um dos bairros mais emblemáticos do município, um território berçário de espécies em extinção, a tartarugas e cavalo marinhos e o peixe-boi. Conhecer esse território e suas potencialidades para criação, divulgação e consolidação de uma Rede de Educadores em Museus no Piauí, com a participação direta da comunidade, um trabalho de educação para o patrimônio e museus, colaborativo e participativo, permitindo que jovens em situação vulnerabilidades social conheçam o lugar onde vivem e lhes proporcione acesso a novos repertórios de condições de vida, de acesso a novos conhecimentos para uma formação junto com seus educadores, uma reflexão-ação sistemática e atravessada por sinergias professores-estudantes e comunidade escolar, o que inclui as famílias, em usa maioria vivendo da pesca artesanal, pequenos serviços em residências de veraneio, comércio ambulante, serviços público etc. Nesse sentido, valorizar e fortalecer políticas públicas que se afirmam na sustentabilidade ambiental, social e econômica, permitir acesso ao poder por comunidades locais, é proporcionar acesso ao conhecimento e reconhecimento de saberes e trocas de vivências e experiências em rede, com acesso a outras Redes constituídas em várias regiões do Brasil e em outros países, é uma forma de educação e proteção do rico e complexo patrimônio cultural da APA Delta do Parnaíba. A política de educação em museus é resultado de um processo iniciado pelo Instituto do Brasileiro de Museus ainda em 2010, com o objetivo fortalecer a função social dessas instituições, valorizando a sua natureza educativa, de equipamentos culturais que devem estar atentas às potencialidades da educação museal, fator preponderante na mediação com públicos diversos, suas memórias, identidades; é fortalecer o relacionamento das comunidades com o patrimônio cultural.


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EDUCAÇÃO E AÇÃO CULTURAL NO MEMORIAL DA BALAIADA Vanda Marinha Silva Gomes Aurea da Paz Pinheiro Apresentamos os resultados de pesquisa-ação desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Mestrado Profissional, da Universidade Federal do Piauí, Meio Norte do Brasil. Trata-se de estudos e intervenção em ações educativas, nomeadamente, Educação e Ação Cultural no Memorial da Balaiada em Caxias no Maranhão. O produto deste trabalho foi um Catálogo de Educação e Ação Cultural para o Memorial, instrumento didático-pedagógico, aplicado com alunos e professores da escola básica do município de Caxias – MA, com foco no patrimônio, na história e diversidade cultural. Um documento que apresenta contribuições para o estreitamento das relações entre escolas e Memorial, proporcionando reflexões, trocas de conhecimentos, e experiências salutares, ampliando a compreensão sobre educação patrimonial a partir de vivências no Memorial da Balaiada, contribuir com diálogos e partilha de múltiplos olhares sobre as histórias e memórias de suas gentes, que evidencie a construção de conhecimentos possibilitando a consciência coletiva entorno do patrimônio da cidade a partir do Memorial da Balaiada. O catálogo de Educação e Ação Cultural subsidiará professores e alunos, oferecendo ações artísticas e culturais associadas à Revolta da Balaiada no Maranhão, além de difundir as práticas educativas desenvolvidas no museu, através de atividades e/ou ações que fortaleçam a identidade cultural e patrimonial da cidade, de residentes, famílias e de alunos que visitam o espaço museológico. Destacamos as contribuições da arte nas atividades educativas do Memorial, apresentando-se de forma significativa como fator de inserção educacional, social e política, possibilitando a interação com a pluralidade cultural, com a construção de valores que preservam o patrimônio histórico-cultural do território. Ciente da responsabilidade em subsidiar o trabalho de educadores, propomos como instrumento didático-pedagógico um catálogo composto por peças do acervo do memorial, acompanhando de sugestões de atividades a serem desenvolvidas, com linguagem acessível e lúdica, que estimulando a curiosidade em conhecer o Museu Memorial da Balaiada. O material é um recurso de apoio didático que constrói uma relação entre exposição e o visitante, de forma a despertar nos residentes e público geral a responsabilidade em preservar os patrimônios de qualquer natureza. A pesquisa baseou-se na metodologia pesquisa-ação por intervir em algumas atividades desenvolvidas no lugar, pesquisa de campo, por compreender que as ações educativas foram o norte de interesse em pesquisar o Memorial da Balaiada e na fundamentação teórica, usamos para balizar as práticas vivenciadas no momento das visitas e mediações. Utilizamos Cândido (2013), Barbosa (2008), Brasil (2006), Gaioso et al. (2013, entre outros. Importante salientar, os resultados das observações e as mudanças acontecidas no período de Setembro a Dezembro de 2016. Os resultados finais do processo das atividades, revelaram valores significativos na perspectiva educativa, corroborando nas mediações e intervenção técnica e artística no desenvolvimento das atividades as quais o Memorial se propunha a realizar mediante suas ações educativas existentes, contribuindo no fortalecimento das propostas de compartilhamento de ideias, colaborando para uma nova dinâmica de aprendizagem em espaços museológicos.

Palavras-chave: Ação Cultural Memorial da Balaiada Educação Patrimonial


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MUSEU VIRTUAL POVOS DO DELTA: comunidade, hiperconectividade e museologia social Hanna Morganna de Deus Alves Áurea da Paz Pinheiro

Palavras-chave: Delta do Parnaíba Piauí Museologia Socia Museu Virtual.

O Museu Virtual Povos do Delta é um projeto de pesquisa, documentação e comunicação do patrimônio cultural da Área de Proteção Ambiental APA Delta do Parnaíba. O trabalho tem natureza de estudos e intervenções em fase inicial, identificação, leitura e análise da literatura disponível sobre os museus virtuais, e faz arte do projeto-matriz Ecomuseu Delta do Parnaíba do Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí, com sede no Museu da Vila, localizado no bairro Coqueiro da Praia em Luís Correia - Piauí, um dos dez municípios que formam a APA Delta do Parnaíba. Com o objetivo de dar visibilidade à riqueza cultural e natural da região e ter um espaço virtual de conhecimento interdisciplinar, o Museu Virtual Povos do Delta tem a missão de comunicar a públicos diversos o rico e complexo patrimônio cultural de comunidades ribeirinhas e praieiras que habitam o único delta a desaguar em mar aberto das Américas. O seu acervo será composto de uma variada tipologia de acervo, de patrimônio cultural, de um acervo institucional e operacional, que apresentará conteúdos produzidos de forma participativa e colaborativa com as comunidades detentoras do patrimônio cultural. Usaremos metodologias participativas para estudos e intervenções como oficinas de documentação museológica, informática, tecnologias. sociais, exposições, rotas temáticas do patrimônio imaterial, o que inclui modos de saber-fazeres, celebrações, lugares, formas de expressão. O Museu Virtual disponibilizará além acervos digitalizado, artigos científicos das diferentes áreas, documentários feitos por profissionais da região e informações sobre eventos, estabelecimentos, roteiros e passeios. Além de informar, o espaço virtual orienta, divulga, interage e faz conexões com maior riqueza de detalhes escritos e audiovisual, assim, o uso da Internet como meio de divulgação e comunicação possibilita aos museus uma interação maior com os utilizadores e uma montagem de rede de conexão com várias instituições afins e com objetivos convergentes. Inserido na Museologia Social, o ciberespaço ocupado pelo museu, possibilita a troca de informações, experiências e discussões sobre temas entre os profissionais, estudantes e públicos os mais variados.


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MARCENARIA DA VILA: inovação, empreendedorismo e museologia social Mariana Luiza Bezerra Sampaio Áurea da Paz Pinheiro O projeto de inovação e museologia social MARCENARIA DA VILA nasce como uma proposta de empreendedorismo e economia criativa no contexto do Projeto Matriz Ecomuseu Delta do Parnaíba, que cria uma rede de museus de território, de comunidade, a exemplo do Museu da Vila, no Bairro Coqueiro da Praia, Luís Correia, que tem como um de seus núcleos expositivos a Marcenaria da Vila, que tem dentre os seus objetivos envolver jovens em situação de vulnerabilidade social no Bairro, uma comunidade habitada em sua maioria por famílias de pescadores artesanais. O mestrado profissional em artes, patrimônio e museologia, da Universidade Federal do Piauí, por meio deste projeto, seguirá construindo para gerar emprego e renda para as comunidades ribeirinhas e praieiras da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, colaborando para o conhecimento, valorização e preservação do patrimônio cultural. Assim como o museu da vila, uma das funções da Marcenaria da Vila, será sensibilizar para o conhecimento e potencialidades do patrimônio cultural como elemento econômico, educação, gerador de emprego e renda, promotora de criação de modos de saber-fazer associados ao uso da madeira, uso tradicional com design de produtos, promotora de novos repertórios e experiências sociais e educativas, empreendedoras. O objetivo deste trabalho criar com a comunidade do bairro Coqueiro da Praia uma experiência inovadora de trabalho com a madeira e o design, integrando dentre outras necessidades a da comunidade ter um ofício para seus jovens em situação de risco, desemprego, violência, drogas, prostituição, dar-lhes uma opção de saber-fazer que um trabalho de Marcenaria poderá proporcionar. O projeto se inicia como uma pesquisa-ação, identificando membros da comunidade que demonstrem o desejo no aprendizado desde novo ofício e também na identificação de membros que tenham já habilidades com o manuseio das ferramentas e matéria prima. Um projeto de arquitetura para um espaço que possa se tornar uma marcenaria/escola, para que implantação de cursos e oficinas preparando futuros marceneiros-designers. Construir junto com a comunidade uma coleção de peças de design que possam ser úteis e belas, valorizadas dentro e fora do Bairro, um equipamentos cultural e de trabalho como parte dos serviços educativos e culturais do Museu da Vila, um espaço onde se crie mobiliário urbano que permita criar um lugar emblemático no contexto da APA Delta do Paraíba. Sugerimos vinculação da Marcenaria em termos jurídicos ao Museu da Vila e Associação de Moradores, para gerar renda para os participantes, além de despertar e estimular a criatividade, num ambiente preparado para a experiência do aprender fazendo.

Palavras-chave: História Memória Educação Patrimônio Cultural


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MUSEU CAJUEIRO DA PRAIA Aurea da Paz Pinheiro Danilton Nobrega dos Santos Rita de Cássia Moura Carvalho

Palavras-chave: Museologia social, Delta do Parnaíba, Cajueiro da praia Litoral do Piauí

Esta proposta se insere no conceito de Rede de Museus, que se firma na existência de equipamentos culturais autônomos, que somam esforços e otimizam recursos humanos e materiais de forma a permitir organicidade no planejamento e execução de programas, projetos e ações conjuntos. As redes favorecem a existência sistemática e qualificada dos equipamentos culturais – neste caso os museus de território, cuja natureza é a participação das comunidades locais e agentes públicos e privados, que formarão a rede de museus Delta do Parnaíba, concebido como um instrumento integral e integrador de comunidades ribeirinhas e deltaicas, que habitam a Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, bioma marinho costeiro, com 307.590,51 hectares, criada por decreto federal em 1996, coordenada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, CR5, Parnaíba, Piauí. Na APA Delta do Parnaíba estão inseridos os municípios de Barroquinha e Chaval, no Estado do Ceará; Araioses, Água Doce, Tutóia e Paulino Neves, no Maranhão; Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba e Ilha Grande, no Estado do Piauí. Pela natureza do território, optamos pelo conceito de rede e de ecomuseu, uma natureza de museu polinuclear. Essa tipologia nos serve como base de integração entre agentes públicos e privados a serviço do desenvolvimento educacional, sociocultural e ambiental para a região, em uma perspectiva mais ampla no campo da museologia de cariz social - uma museologia de território. A missão e vocação de um museu, nesse caso de um Ecomuseu, é desenvolver programas, ações e projetos de preservação, salvaguarda, documentação, pesquisas, educação, comunicação etc., da paisagem cultural, o que inclui os patrimônios cultural e natural de um dado território, para conhecimento, reconhecimento e valorização, promovendo a atribuição de sentidos e significados das histórias e memórias pelas comunidades ribeirinhas e deltaicas, com estímulo às reflexões sobre formas de se garantir a sustentabilidade social, ambiental e econômica, com o envolvimento das populações residentes na constituição do Ecomuseu; uma natureza de museu que necessariamente deve servir como instrumento de informação e educação às populações, para que possam vir a participar ativamente da gestão de seus patrimônios; a entenderem e valorizarem o espaço modificado cotidianamente em suas relações como o meio ambiente. Nosso trabalho em particular está no campo de estudos da educação e interpretação patrimonial e será realizado com diferentes públicos no município de Cajueiro da Praia, litoral norte do Estado do Piauí. O objetivo é sensibilizar a comunidade local, turistas, empresas públicas, privadas e sociais para a relevância do conhecimento, reconhecimento, preservação, valorização e promoção do patrimônio cultural, marcador de identidades, que podem potencializar o desenvolvimento sustentável. As atividades e ações, que já realizamos nas condições de residente do município, no área da história e arqueologia, nos revelam os sentidos e significados atribuídos pelos diversos atores sociais à cultura ancestral. Trabalhamos com ações educativas em sítios arqueológicos; com conceitos, métodos e técnicas associados a patrimônio cultural, arqueologia e ecoturismo, promovemos diálogos com educação e museologia social na construção coletiva de sensibilidades com a natureza, na produção de sociabilidade, dirimindo conflitos e fortalecendo laços pertença.


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MOBILIDADE, ACESSIBILIDADE E DIREITO PATRIMONIAL NO MUSEU DO PIAUÍ Ana Élida Damasceno Saraiva Leal Tayna Rodrigues Martins Inara Carlos Santos Silva No presente estudo abordamos as dificuldades que as pessoas com deficiência (PCD’s), bem como aqueles com mobilidade reduzida, idosos e crianças, enfrentam no acesso ao Patrimônio Cultural Edificado, através de uma análise das práticas existentes de caráter inclusivo para resolução desse problema. Mobilidade e acessibilidade não são temas de ordem meramente técnica, exigem militância ao revés, são temas de caráter social: o pleno uso da cidade. O campo da cultura é ambivalente, carrega em si não só valores estéticos e plásticos, mas também sociais, visando assegurar a sociedade como um todo, portanto, a garantia de acesso aos espaços culturais para todas as pessoas, é uma preocupação global, pois o conhecimento histórico do local em que vive, traz a valorização do cultural e do regional, na busca pela própria identidade. Vale ressaltar que as calçadas, as ruas, as praças e as edificações, sejam elas públicas ou privadas, devem, em prol do bom funcionamento do meio urbano e dos direitos dos cidadãos, oferecer percursos francos, seguros e agradáveis para toda a coletividade, inclusive para os que possuem limitações ou restrições temporárias. No Museu do Piauí e no seu entorno são perceptíveis os percursos íngremes, passeios estreitos, degraus e trajetos inseguros, nos quais os pedestres, sejam eles PCD’s ou não, cada vez mais disputam espaço com os automóveis e os feirantes. Inicialmente, utilizando-se de registros fotográficos, foi elaborado um levantamento das problemáticas no percurso que os PCD’s possuem para embarcar e desembarcar do Transporte Inteligente e se locomoverem até o Museu fazendo o devido uso de seus ambientes. O objetivo principal constitui-se na reintegração da pessoa com deficiência (PCD’s), por meio de sua inclusão como membro efetivamente participativo do contexto sócio urbano do patrimônio cultural edificado, em especial, no tocante ao Museu do Piauí. A proposta consiste em uma nova adequação do meio urbano ao entorno do Museu a partir do ponto de ônibus que recebe o “transporte eficiente” (coletivo para cadeirantes) até o acesso da edificação em estudo. Para a entrada e permanência no museu são apresentadas duas possibilidades de acessibilidade, cujos detalhes encontram-se no desenvolvimento da pesquisa. Uma das referencias em bibliografia para o estudo o Cadernos Museológicos-Volume 2 que tem como titulo Acessibilidade a Museus , conclui-se que o recorrente desafio de acesso e fruição dos portadores de necessidades especiais ao patrimônio cultural edificado não é somente de ordem arquitetônica, mas, sobretudo de aplicação de práticas socioculturais e/ou normas inclusivas. A intenção deste estudo visa, a garantia ao direito patrimonial igualitário para toda a sociedade, através de uma percepção de direito social que busca permitir que a pessoa com deficiência, tenha acesso, percorra, veja, ouça, sinta e toque a cultura edificada e disponibilizada para toda a população.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Turismo Caxias Preservação Maranhão


Feira do Patrimônio | 49

EDUCAÇÃO E MEDIÇÃO CULTURAL NA EXPOSIÇÃO CAIXA DE MEMÓRIAS Isa Marília Silva de Oliveira Cristiana Brandão de Oliveira Suzana Maria Araújo Veras Aurea da Paz Pinheiro Rita de Cássia Moura Carvalho

Palavras-chave: Museu do Trem Piauí Plano Museológico Educação Museal

A Exposição Caixa de Memórias teve curadoria de Áurea Pinheiro e Cássia Moura. Narra a cultura escolar dos anos 1960 a 2005 da União Caixeiral, que comemorava 100 anos de existência, como a primeira escola de formação profissional de contadores (caixeiros) do litoral do Piauí, região que no século XIX e XX se destacou por ter um intenso comércio regional, nacional e internacional. Em 2018, a União Caixeiral completa 100 anos. Nesse contexto comemorativo, o Mestrado Profissional em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí e o Centro Cultural SESC União Caixeiral apresentaram a Exposição “Caixa de Memórias: a Caixeiral que vivi”, cujo conceito centra-se nas histórias de vida de alunos, professores e funcionários, que estudaram e acompanharam a trajetória da Escola entre os anos de 1960 a 2005. A pesquisa histórica, os depoimentos orais permitiram às curadoras conhecer e refletir sobre as vivências na Escola, bem como conhecer como a Instituição dialogava com a vida sociocultural brasileira e como o Centro Cultural dialoga nos dias que correm com uma sociedade global e mundializada, atravessada pelo acesso à comunicação e informação, com permanências e rupturas nas formas de ensinar e aprender. A Exposição é parte do Projeto Exercícios Museográficos, que permite aos alunos do Mestrado vivenciarem atividades desta natureza. Igualmente, a Exposição se inseriu no contexto das comemorações do dia internacional de Museus | ICOM e 16. Semana Nacional de Museus | IBRAM, cujo tema para este ano foi “Museus hiperconectados: novas abordagens, novos públicos”, que nos permite refletir sobre as diversas formas de interação dos museus com as novas tecnologias, com seu entorno e com as comunidades de forma participativa e colaborativa. A mediação cultural proporcionou aos visitantes conhecerem as narrativas da escola que não estavam visíveis de forma imediata, narrativas sensoriais que contavam mais que registros impressos no edifício, mas narrativas que reconstruíram um tempo repleto de alegrias, curiosidades, cheiros, sensações e pessoas que povoaram aquele espaço de forma plena no exercício cotidiano de alunos, professores, funcionários e familiares. A mediação educativa e cultural foi planejada para ressignificar esses espaços de vivências da escola, um interação face-to-face, de troca contínua de experiências inter gerações entre públicos diversos, muitos dos quais retornando ao lugar onde viveram momentos significativo de suas vidas, um espaço repleto de sentidos e significados, em um trabalho de memória facilitado pelas mediadoras. Foram jogos alusivos ao recorte temporal da exposição, brincadeiras, rodas de conversa e memórias, objetos de uma caixa de memórias, narrativas educação e interpretação patrimonial, narrativas de histórias, ficção, uma mediação educativa que permitiu o encontro das pessoas umas com as outras.


50 | Feira do Patrimônio

ATELIÊ ESCOLA DO MUSEU DA VILA Gizela Costa Falcão Áurea da Paz Pinheiro Neste estudo e intervenção estamos a construir desde janeiro de 2018, com um dez mulheres entre 30 a 60 anos, residentes no Bairro Coqueiro da Praia em Luís Correia no Piauí, e com cinco profissionais do design de moda e produto um ateliê-escola no Museu da Vila - o Ateliê da Vila, espaço o Mestrado Profissional em Museologia da Universidade Federal do Piauí e da Associação de Moradores do Bairro Coqueiro da Praia estão sediados. No Ateliê da Vila está sendo construída de forma participativa e colaborativa a coleção moda-praia “Navegar é preciso”. O processo iniciou com oficinas de design de moda e produto em local adaptado, na residência de uma das moradoras do Bairro, apenas com uma máquina de costura, com tecidos e outros materiais que adquirimos. Hoje, o Ateliê já ocupa uma das salas do Museu da Vila, e recebe diariamente as mulheres do Bairro que estão a construir a coleção com o uso de seis máquinas industriais e tecidos doados por empresas parceiras. O ateliê-escola e a coleção moda-praia têm o objetivo de pesquisar, documentar e comunicar a paisagem cultural da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, que abriga uma população detentora de um rico e complexo patrimônio cultural, é um território berçário de espécies em perigo de extinção como as tartarugas marinhas, o peixe-boi e cavalo marinho. No Bairro vive uma população cuja marca de identidade são as artes de pesca, o artesanato em taboa, carnaúba, barro, linha, madeira. Os homens exercem o ofício da pesca artesanal e as mulheres são domésticas, professoras e têm habilidade para o artesanato. Nos últimos 30 anos, as artes de pesca e o artesanato são patrimônio em risco, as canoas começam a desaparecer da orla da praia do Coqueiro e o artesanato local praticamente não existe mais, sendo possível encontrar poucas senhoras, com idade bem avançada (50 a 80 anos), no referido Bairro, a manterem os modos de saber-fazer dos trançados em taboa, carnaúba e crochê. Há uma quantidade significativa de população entre 18 a 30 anos sem emprego ou subempregada, portanto, uma população vulnerável, que necessita de emprego e renda, solução que pode estar na museologia e inovação social, no empreendedorismo, que permita o conhecimento e reconhecimento do valor do patrimônio cultural e natural como elemento econômico e sustentável, e o design de moda e produto é a expressão cultural do grupo social que o criou e consome. Assim, construir um ateliê-escola, uma coleção de moda é imergir na cultura local, perceber costumes, tradições, valores, códigos de convivência de uma comunidade. Neste trabalho, abrimos mão da autoria e dividimos a capacidade criativa com o grupo de mulheres, no preocupamos menos com os detalhes técnicos e mais com a estética sensível da construção do processo, que nos movimenta e nos envolve enquanto mulher trabalhando como tantas outras mulheres, criando uma coleção atenta à modelagem, tecidos, produção e, sobretudo, no ambiente sócio, histórico e cultural da comunidade de onde ela emerge.

Palavras-chave: Patrimônio cultural Design de moda e produto, Economia Criativa Sustentabilidade


Feira do Patrimônio | 51

MUSEU COMO LUGAR DE MEMÓRIA E RESSIGNIFICAÇÃO DA HISTÓRIA Geane Alves Sousa

Palavras-chave: Museu História Memória Balaiada

Esta pesquisa se constitui em uma análise de cunho etnográfico acerca da importância do Museu Memorial da Balaiada para a cidade de Caxias no Maranhão. Ressaltamos a relação da cidade e com o museu como marco histórico, educativo, cultural, que apresenta os discursos sobre os balaios recontados do ponto de vista dos excluídos, bem como as ações educativas oferecidas pelo Memorial aos visitantes da instituição. Inicialmente a pesquisa foi fundamentada em textos bibliográficos de teóricos como Astolfo Serra (1946), Mathias Assunção (1998), Regina Abreu (2005), Castro (2007), e outros. Fez se necessária por entender que o trabalho educativo desenvolvido por uma instituição museológica permite a criação de uma identidade histórica e cultural de um povo. Nesse entendimento, buscou-se analisar a relação dos sujeitos sociais com a instituição museológica, bem como a exposição narrativa nos espaços do Museu como representações que constroem leituras sobre a memória histórica e cultural da cidade de Caxias - MA. Metodologicamente a pesquisa se organizou seguindo as etapas de análise bibliográficas de caráter qualitativo, visitas ao museu, observação e descrição das peças, entrevistas e questionários com museólogos e guias que descrevem a coleção dos artefatos e recontam a História da Balaiada contrastando a história oficial. Nessa perspectiva Museu torna-se uma fonte de saber, um espaço de produção e socialização do conhecimento, de identificação do sujeito com a sua história e de conscientização da preservação do patrimônio cultural. Assim, percebe-se o papel significativo que o Memorial da Balaiada exerce sobre a cidade Caxias enquanto centro cultural de preservação da história da cidade.


52 | Feira do Patrimônio

IMPLANTAÇÃO DO ESPAÇO DE CULTURA E MEMÓRIA DO COLÉGIO TÉCNICO DE TERESINA-UFPI Maria de Jesus Farias Medeiros Gizela Costa Falcão Antonio Gonçalves Mineiro Filho

O objetivo neste trabalho remete à cultura e a memória do tecido de chita, um material têxtil de tecedura simples, de baixo custo e de pouca qualidade, com estampas de cores fortes, geralmente florais, também associado à tradição na cultura das festas juninas. Amparado neste argumento, este tema de inspiração abarca o valor material e imaterial da chita, elaborado ao estilo da alfaiataria, desde a criação até a produção de uma coleção de moda. A alfaiataria exibe um traço marcante pela perfeição da forma denotando exclusividade, conforme as preferências do usuário. São peças impecáveis percebidas na modelagem e na confecção de materiais nobres, com esmero de qualidade e conforto, para satisfazer as particularidades, sob medida, de cada cliente. A alfaiataria é um ofício secular, particularmente dotado de técnicas e saberes perpetuados pelos alfaiates de maneira singular na hierarquia de suas organizações, na particularidade dos métodos de ensino e aprendizagem empregados e por meio de suas práticas. A relação entre o mestre e o aprendiz, responsável por manter o ofício através de inúmeras gerações, relação que se apresenta na condição de pai para filho ou por meio de acordos estabelecidos entre as famílias dos aprendizes e os mestres. No contexto contemporâneo, este resgate deu-se na relação entre professor e alunos. O desafio foi resgatar a chita e exalta-la com a beleza estética, conferindo o requinte da alfaiataria. Esta modalidade diz respeito a evolução do traje masculino durante toda à evolução da indústria do vestuário. No novo tempo, do século XXI, a alfaiataria se molda ao estilo de vestir os diversos tipos de gêneros, com elegância ao estilo do pret-a-porter. Portanto, neste trabalho, tem-se uma coleção feminina e, experimentou-se os métodos tradicionais de modelagem plana e tridimensional no estudo da forma, para a materialização de peças, com realce dos elementos do design na composição de texturas, silhueta e linhas, aplicadas à produção. A pesquisa deu-se como atividade coletiva realizada com alunos na disciplina de Modelagem Especial, 8. semestre, do Curso de Moda-Universidade Federal do Piauí, ancorada em vários aportes teóricos na condução do ensino e aprendizagem, com resultados de uma produção apresentados também em formato de exposição.

Palavras-chave: Chita Cultura e memória Coleção de moda


Feira do Patrimônio | 53

O PROCESSO PARTICIPATIVO DE CONSTRUÇÃO DA MARCA MUSEU DA VILA Víctor Veríssimo Guimarães Rita de Cássia Moura Carvalho

Palavras-chave: Branding Museu da Vila Design Piauí

A proposta desta comunicação é apresentar o percurso de construção de um espaço de natureza museal, não em seu caráter construtivo e edifício, mas sua definição, uma identidade institucional visual, que estruture simbolicamente o posicionamento de gestão das atividades do espaço sobre sua comunidade de interesse. Para o caso, estamos tratando do Museu da Vila, localizado no a 10km do centro da cidade de Luís Correia, no Piauí-BR. O Bairro Coqueiro da Praia assume uma indenidade particular para a construção de um espaço museológico não apenas pela beleza paisagística natural e seu potencial turístico, mas principalmente pelas relações socioculturais e simbólicas que permitiram a sobrevivência e permanência de uma comunidade baseada na coleta e na pesca. Nesse sentido, observa-se nesse lugar um conjunto de hábitos tradicionais, relações e saberes peculiares que ao longo do tempo, em meio as transformações urbanas, econômicas e políticas se tornaram fragilizados, o que serviu para o desenvolvimento de exigências museais desde a instalação de um núcleo projeto MUDE (Rede de Museus de Território do Delta Do Parnaíba), pelo mestrado em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí. A proposição do Museu da Vila, envolve de forma essencial a Museologia Social, uma modalidade de prática museal derivada da Nova Museologia que extrapola o padrão tradicional de uma instituição entre paredes e envolve o seu território e que delineia o estabelecimento de um museu integral que proporciona a comunidade uma visão conjectural do seu meio material e cultural. A vocação para um Museu dá a partir da provocação do que é ser um indivíduo de cultura tradicional, e da compreensão de que viver na subsistência da vida mar acima ou mar abaixo traz experiências afetivas e intelectuais que merecem ser anunciadas, refletidas e ressignificados. É necessário promover esse tipo de espaço para facilitar a compreensão da participação que a comunidade pesqueira teve e tem na formação do território do Bairro Coqueiro, bem como observar seus aspectos ocultos ou silenciados pelo apelo turístico, tão evidenciado na região. Em toda a costa brasileira existem comunidades tradicionais com os mais variados costumes e identidades que tem suas relações baseadas na cultura pesqueira que não merecem ser ignoradas e esquecidas. A participação desse grupo de tradição na constituição do Bairro do Coqueiro da Praia em Luís Correia (PI), todavia, é única, logo, um espaço institucional que se proponha revelar as peculiaridades locais precisa de um elemento específico de identificação e diferenciação. Para o momento, nesse sentido, foi obrigatório criar um meio de comunicação (marca) que seja capaz de contribuir de forma eficaz no reconhecimento tanto do centro de interpretação quanto de seus espaços, bem como a construção de uma estratégia de comunicação (branding) que promova vantagens competitivas de mercado quanto ao consumo de serviços, cultura e arte e sua notoriedade. Neste contexto, esse trabalho trata do processo de construção da identidade visual do museu da Vila na defesa e apresentação das referencias da identidade local do Bairro Coqueiro da Praia em Luís Correia.


54 | Feira do Patrimônio

PAISAGEM E PATRIMÔNIO CULTURAL O caso do museu do divino em Amarante | Piauí Mônica Alves Edilson Melo Silva João Angelo Ferreira Neto Amanda Moreira

Amarante, cidade do Estado do Piauí, tem seu processo de formação datado do período Colonial. Sua criação foi resultado da concentração de fluxos comerciais na área do Rio Parnaíba, nas divisas com o Estado do Maranhão, tendo como marca de consolidação a presença ativa do comércio. Apesar disso, a religiosidade, como em muitas cidades brasileiras, se apresenta como outro aspecto de influência sobre a composição da paisagem urbana e cultural da cidade, que não pode ser desconsiderada em numa compreensão mais abrangente. Em Amarante, a religião católica é um dos elementos marcadores de identidade, a destacar as comemorações da Festa do Divino Espírito Santo, uma celebração de cunho religioso, ligada à tradição cristã, que acontece em alguns estados brasileiros, em comemoração da descida do Espírito Santo. A festa ainda é celebrada em outras cidades do sul do Piauí. Neste trabalho temos o propósito de refletir um espaço de memória da celebração religiosa na cidade nasceu - o Museu do Divino, que abriga uma coleção de peças relativas à religiosidade popular, com foco na temática da Festa do Divino. O edifício do museu é um casarão de feições coloniais integrante do conjunto arquitetônico do centro histórico e tem forte ligação histórica com as comemorações da festa. A partir desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar o equipamento cultural – o Museu do Divino, como parte da composição formadora da paisagem cultural da cidade de Amarante, discutindo sua relevância enquanto espaço de interação entre a dimensão tangível (o acervo em exposição) e a dimensão intangível (memória, religiosidade e cultura locais) da Festa do Divino. A partir dessa abordagem, é possível uma leitura mais ampla e complexa dos diversos significados e interações que se somam na composição das paisagens culturais urbanas. Desse modo, compreender o valor histórico e cultural da paisagem e de suas edificações também evidencia a importância de sua preservação enquanto patrimônio cultural da cidade.

Palavras-chave: Paisagem Cultural Patrimônio Cultural Museu do Divino Amarante


Feira do Patrimônio | 55

DIÁLOGOS ENTRE MUSEOLOGIA E MODA NO MUSEU DE PERYPERY Maria Jade Martins Viana Sabrina Pereira dos Santos

Palavras-chave: Moda Museu Cultura História

No presente trabalho tratamos de uma pesquisa em desenvolvimento no Museu de Perypery da cidade Piripiri. Fundado em 1987, o museu é segundo mais antigo do estado do Piauí e possui um importante acervo histórico e cultural sobre a cidade. O interesse pela temática se deu a partir do início de um estágio não obrigatório no Museu de Perypery, que teve como ponto de partida a idealização de uma ilha de etnias com base nos resultados da disciplina Projeto Integrador I do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda do Instituto Federal do Piauí – Campus Piripiri. Além da estruturação da ilha de etnias, o desenvolvimento dessa pesquisa tem como finalidade contribuir para a implantação do espaço destinado a história da moda em Piripiri, uma vez que o município possui o maior de polo de confecção de moda íntima do interior do estado, responsável pelo desenvolvimento socioeconômico da região. Sendo assim, para a realização deste trabalho, utilizou-se como aporte teórico os autores que dialogam a cerca das relações entre museologia e moda: Baia, Merlo, Botallo e Benarush, enfatizando que essa relação, faz a abordagem da moda como instrumento de transmissão de aspectos culturais e patrimoniais, a mesma visa a museologia como um campo do saber e do fazer. A metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa foi observação in loco, com abordagem do tipo qualitativa. Quantos aos procedimentos técnicos utilizados para o desenvolvimento da mesma, foram realizadas de pesquisa de campo e pesquisa documental, a fim de reunir, classificar e distribuir os documentos que podem contribuir para a pesquisa. Dessa forma, pretendemos apresentar os resultados iniciais alcançados por meio dos instrumentos de coleta de dados. Através das observações iniciais realizadas no decorrer do estágio, foi possível perceber que o Museu é uma fonte de pesquisa fundamental para a área da moda, principalmente para os estudos de história da indumentária e história da moda.


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VESTÍGIOS DO (IN) VISÍVEL: história, memória e patrimônio no museu de Piracuruca-PI Paulo Tiago Fontenele Cardoso Pedro Pio Fontineles Filho O presente estudo tem o objetivo principal de compreender a Casa de Cultura, localizada na cidade de Piracuruca, Piauí, como espaço de preservação da história, da cultura e da memória daquela cidade. O local é considerado, pelos moradores da região, como um Museu, pois abriga um variado acervo, que retrata a vida política e econômica da cidade, bem como o cotidiano de políticos e intelectuais que viveram ou passaram pela cidade, sobretudo nas esferas administrativas. O prédio, um Casarão construído em 1899, que pertenceu ao terceiro intendente de Piracuruca, Coronel Luís de Brito Melo, está localizado em frente à Praça José Brito Magalhães. Na Casa de Cultura, é possível encontrar vários registros de famílias tradicionais da cidade, tais como Melo, Magalhães, Brito, Fortes e Morais, que mantiveram relações e entrelaçamentos, na manutenção do poder e da cultura do século XIX. Metodologicamente, o trabalho se constituiu pela análise do espaço da Casa de Cultura, em sua relação com a história do patrimônio arquitetônico e cultural da cidade. Além disso, o seu acervo é tomado como os indícios da história, da cultura e da memória, transitando entre os aspectos econômicos, políticos e sociais da cidade e do estado. O arcabouço teórico-metodológico que sustenta o estudo é constituído pelas discussões sobre as inter-relações entre História e Museus, feitas por Ulpiano de Meneses (2004, 1985) e Jaime Pinsky (2013). A Casa de Cultura é também analisada como lugar de memória e, para isso, o estudo recorreu às proposições feitas por Pierre Nora (1993), visto que os lugares de memória agregam os sentidos material, simbólico e funcional, além de que os museus são, em certa medida, expressão da e na cidade. Sobre os desdobramentos e alcances da relação entre História e Memória, os debates realizados por Maurice Halbwachs (2012), Paul Ricoeur (2012) e Jacques Le Goff(2012) foram fulcrais, pois as memórias são marcadas por processos de seleção, em suas nuances entre as lembranças e o esquecimento. Considera-se, em larga medida, que a Casa de Cultura da cidade de Piracuruca é um lugar de memória, cujos redimensionamentos estão manifestos em uma profusão de sensações, afeição e aspectos das experiências vividas. As memórias e as histórias contidas em cada vestígio e artefato são o esforço da memória, na luta das lembranças contra o esquecimento. Assumindo o papel de museu, o lugar é importante espaço de reflexões sobre as temporalidades, nos entroncamentos entre passado, presente e futuro. Assim, o museu não deve ser visto apenas como expressão de uma memória revivida, mas como uma instituição que (re) constrói memórias e atribuindo diferentes perspectivas aos traços culturais que representam. Funcionando como museu, a Casa de Cultura demonstra que os Homens são, antes de mais nada, depositários do repertório e do patrimônio cultural de seus ancestrais, com a possibilidade de transmissão para seus descendentes. Nesse sentido, o museu, em sua estrutura de organização e de arquivamento, demonstra que não é a capacidade de organização, mas, sim, a cultura, que constitui a humanidade em sua pluralidade e singularidade.

Palavras-chave: História Museu Cultura Memória Cidade


Feira do Patrimônio | 57

Capítulo 03. Eixo_

patrimônio + arquitetura


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CONSERVAÇÃO DE JARDINS HISTÓRICOS: um diagnóstico da praça da Costa e Silva, em Teresina – PI Jessica Santiago Correia Rayla Fernanda de Meneses Marques

Em decorrência do crescente desenvolvimento de políticas e ações para preservação patrimonial dos bens da sociedade verificado durante os últimos anos, destaca-se a preocupação com a forma de intervir nos patrimônios a fim de conservá-los, e, ao mesmo tempo, adaptá-los a usos da contemporaneidade, em contextos mais atuais, sem oferecer riscos à garantia dos direitos dos herdeiros dessa cultura a usufruir desses bens que tornam-se ícones de seu espaço e tornam-se representativos não só do tempo, mas do espaço. Memórias que representam história e identidade. A noção de patrimônio cultural não se restringe a bens edificados pelo homem, mas inclui a paisagem, tudo que a circunda e os demais exemplos de interação do homem com a natureza em contínua retroalimentação. Nesse sentido, o presente trabalho discorre sobre a questão do tratamento dos jardins no âmbito patrimonial internacional e nacional, dentro do contexto urbano, concentrando-se nos jardins históricos, versando sobre técnicas de conservação e restauro aplicadas aos mesmos enquanto patrimônio, enquanto paisagem e enquanto conjunto de seres com vida, que têm limitações suscetíveis a todos aqueles que vivem. Será abordado ainda um panorama histórico dos jardins no Brasil, dando ênfase ao paisagista brasileiro de maior destaque, Roberto Burle Marx. Por fim, o trabalho propõe um diagnóstico de um exemplar de jardim histórico em contexto regional, a Praça Da Costa e Silva, considerada único exemplo de espaço público existente na cidade de Teresina (PI) que projetado pelo renomado paisagista brasileiro Roberto Burle Marx e que teve e tem diversas significações dentro do contexto urbano do centro de Teresina e das épocas pelas quais sobreviveu.

Palavras-chave: Paisagem Cultural Patrimônio Cultural Museu do Divino Amarante


Feira do Patrimônio | 59

OS DESAFIOS NA ELABORAÇÃO DE UM PROJETO ARQUITETÔNICO PARTICIPATIVO PARA A CONSTRUÇÃO DA SEDE DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO BAIRRO COQUEIRO, LUÍS CORREIA, PIAUÍ Gardênia Angelim Medeiros de Oliveira Maria de Fátima Pereira Alves Áurea da Paz Pinheiro

Palavras-chave: Arquitetura Museologia e Inovação Social Patrimônio Cultural Piauí

Apresentamos os resultados de estudos e intervenções de natureza participativa, realizados no Bairro Coqueiro, Luís Correia, litoral do Piauí, um dos dez municípios que formam a Área de Proteção Ambiental – APA Delta do Parnaíba. Investigações de pesquisadoras do Programa de Pós-graduação, Mestrado Profissional, em Museologia da Universidade Federal do Piauí – PPGAPM UFPI, no Bairro Coqueiro, desde 2014, nos permitiu a aproximação com dez mulheres, entre 40 a 80 anos, membros da diretoria da Associação de Moradores do Bairro Coqueiro - AMBC, ao longo de um ano, viabilizando, assim, o uso da pesquisa-ação. O contato direto com a comunidade, a relação dialógica estabelecida, facilitou a identificação e problematização de forças, oportunidades, fragilidades e ameaças no Bairro, envolvendo pessoas e instituições, para então delimitarmos a investigação e criarmos produtos e serviços, que atendessem às necessidades de um bairro habitado em sua maioria por famílias de pescadores; construindo de forma coletiva e participativa um trabalho que se afastasse dos conceitos de Museologia e Inovação Social. O desafio e objetivo centraram-se na sensibilização para conhecimento, reconhecimento, preservação e salvaguarda do patrimônio cultural do lugar. O trabalho com a AMBC foi de extrema importância para a aproximação entre a pesquisadora e comunidade, razão pela qual, partindo de nossas habilidades profissionais construirmos os produtos e serviços resultados desta investigação: um Projeto Arquitetônico para a sede da AMBC, desejo acalantado por aquelas mulheres há mais de vinte anos. Ao longo do trabalho, acompanhamos a assessoria jurídica e contábil da AMBC prestada pelo PPGAPM UFPI; participamos de ações para captação de recursos para construção da sede, que deve ser um equipamento sociocultural de base comunitária, capaz de promover a interação entre as pessoas do lugar, empresas públicas, privadas e sociais, considerando sempre o conceito de participação e inclusão social, um exercício sistemático de cidadania, de valorização do patrimônio cultural, de afirmação de identidade e pertencimento.


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PRAÇA RE-COR-TE Nelson Machado Barbosa Filho

O presente resumo, poeticamente intitulado de “Praça re-cor-te”, é fruto da experiência construída no prêmio de criação em artes visuais 2017, com regime de residência artística realizada pela Prefeitura Municipal de Teresina em parceria com a Fundação Cultural Monsenhor Chaves. O prêmio selecionou, através de edital público, cinco artistas que, no período de três meses, desenvolvessem projetos de artes visuais, cada um dentro de suas linhas de pesquisas para findar com uma exposição coletiva na Casa da Cultura. A capital do Estado, Teresina, faz de suas praças lugares de destaque no meio urbano, a começar pela quantidade e áreas destinadas para a formação dessas massas verdes. Além de importância que tiveram para a criação e consolidação espacial da nova capital, as praças surgem como ponto norteador do lazer e espaço para as manifestações culturais da jovem capital mafrense (desde 1852). Hoje, ironicamente, apesar da força e peso que o tema patrimônio material e imaterial vem se projetando na academia e entidades públicas envolvidas na causa, o que se observa nessas grandes áreas de rotas de transeuntes são feridas abertas em sua estrutura e seu esquecimento pela juventude que troca uma boa conversa em um banco de uma praça pela comodidade do celular. Apresentando como campo de vivências poéticas a Praça Pedro II, a “Praça re-cor-te” surge então como um laboratório de observação das práticas urbanas cotidianas, atenta para o hoje sem esquecer da importância do passado. A “Praça re-cor-te” é sobretudo frequentar uma praça, conviver diariamente com seus diversos e ilustres personagens, fitar seus passageiros e tecidos, observar a estética do construído e desconstruído para criar cenas fragmentadas que contam um pouco a história do cotidiano vivo de uma praça.

Palavras-chave: Artes visuais Imaginário urbano Patrimônio Cultura


Feira do Patrimônio | 61

REFLEXÕES SOBRE O PATRIMÔNIO INDUSTRIAL: um olhar para os galpões do Porto das Barcas em Parnaíba, Piauí.

Palavras-chave: Patrimônio Industrial Preservação Parnaíba

Alfredo Diogo da Paz Segundo Lara Citó Lopes

A revolução industrial é um símbolo da história da humanidade, moldou um novo mundo, transformando cidades e pessoas. Novas tecnologias foram implantadas permitindo novos tipos de construções. Neste trabalho apresentamos como objeto de estudo o patrimônio industrial, com destaque para os galpões tombados da Área do Porto das Barcas, em Parnaíba, Piauí. Procuramos entender a criação da cidade, berço da industrialização do Estado, através da produção de charque, compreender o cenário de abandono fruto do desenvolvimento de novas tecnologias e do capitalismo neoliberal, no qual o mercado é comandado pelas empresas privadas. Avaliar a preservação das tipologias que há no porto das barcas, do patrimônio industrial, que refletem a importância de destinar o uso a dessas edificações, seja para o âmbito social, cultural, dentre outros, oferecendo um olhar sobre essa vertente do patrimônio, tendo em vista a pouca visibilidade do patrimônio industrial, quando comparado a outras vertentes que há nas áreas do estudo da preservação patrimonial, evidenciando o mesmo e refletindo sobre os métodos de prevenção. A partir disto, foi realizado um estudo sistemático, com levantamento bibliográfico, através de documentos, cartas e artigos publicados em revistas, ou amostras em congressos, buscando, assim, formas de um melhor entendimento da conservação e proteção dessa tipologia, dando uma importância ao seu uso tanto no sentido arquitetônico, quanto no âmbito social e cultural. Dessa maneira, vislumbramos um novo olhar sobre o patrimônio cultural da cidade de Parnaíba, que conta com diversos exemplares tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 2008, como parte do Conjunto Histórico e Paisagístico de Parnaíba.


62 | Feira do Patrimônio

A VISIBILIDADE FEMININA NA CONSOLIDAÇÃO DA ARQUITETURA E DO URBANISMO TERESINENSE ENTRE AS DÉCADAS DE 1960 E 1990 Luana Brito da Silva Wandérson Nascimento Barbosa Neuza Brito de Arêa Leão Melo

As questões de gênero tomam de forma significativa parte do panorama das discussões na atualidade, o que remete à ideia de uma realidade em transformação em prol de um futuro mais igualitário. Entretanto, para ser possível o entendimento desse contexto, torna-se necessário percorrer a história em busca de fatos que corroborem com esses debates. Dessa forma, este estudo surgiu da necessidade de preencher os hiatos históricos no tocante à produção arquitetônica feminina piauiense, apresentando a mulher não só como coadjuvante na arquitetura e no urbanismo, mas, sobretudo, como protagonista, evidenciando nomes e obras que ajudaram a transformar o cenário da arquitetura. Para isso, delimitamos o recorte temporal do trabalho de 1960 a 1990, período marcado pelo desenvolvimento do Modernismo até a contemporaneidade, quando se verifica a participação feminina com maior ênfase. Objetivamos nesta pesquisa analisar a contribuição das mulheres de forma que sua produção arquitetônica seja evidenciada, apreendendo a importância da inserção feminina nesse contexto da arquitetura teresinense. Elegeremos nomes de arquitetas que contribuem para afirmar este estudo, um conjunto da arquitetura local à época, buscando em suas obras características que respondam aos fatores culturais, socioeconômicos e políticos decorrentes do momento. Para o desenvolvimento deste trabalho utilizamos como fonte primária entrevistas e, ainda, a análise das edificações produzidas pelo gênero feminino na capital piauiense no recorte temporal mencionado, assim como fontes bibliográficas que expõem o papel da mulher arquiteta ao longo da história no contexto internacional, nacional e como fontes de estudo para elaboração do referencial. Apesar de certa evolução das participações femininas nas concepções de planejamento, o destaque da mulher nesse setor é remoto no tempo, assim como no espaço, a invisibilidade do gênero feminino na arquitetura é corriqueira tanto no âmbito mundial, quanto nos cenários locais, ocorrendo ao longo da história devido às culturas patriarcais, que ainda perduram. Desse modo, pretendemos contribuir para retirar as mulheres dessa invisibilidade, evidenciando suas produções e importância como referência regional na Arquitetura, exibindo o trabalho da mulher arquiteta que, por muito tempo, permaneceu esquecida.

Palavras-chave: Arquitetura Mulher Teresina


Feira do Patrimônio | 63

TRANSFORMAÇÕES NO CENTRO HISTÓRICO DE PICOS-PI Ilana Maria de Moura Sousa Alexia Marcelle dos Reis Freitas

Palavras-chave: Patrimônio Centro Histórico Transformações

Patrimônio Cultural pode ser conceituado como um conjunto de bens materiais e imateriais que fazem parte da cultura de determinado povo. A construção dessa cultura ocorre por meio do processo de transmissão de geração em gerações de conhecimentos, significados, crenças e modo de viver. As construções são uma forma de materialização cultural, pois mantém vivas a natureza cultural e intelectual de gerações precedentes, tornando-as uma demonstração tangível de períodos passados. Esse patrimônio material expõe a história de determinada comunidade, através das edificações, pela forma arquitetônica em que foram construídas, além da referência ao seu uso; das praças, onde geralmente aconteciam os eventos mais importantes das cidades; das igrejas, que funcionavam como meio de agrupamentos sociais, dentre outros. Portanto, percebemos que esses locais transmitem às gerações futuras referências de um tempo histórico e de um espaço singular. O trabalho que apresentamos busca abordar a importância do patrimônio cultural em dado contexto - o Centro Histórico da Cidade de Picos, PI. Tem como propósito, também, analisar as transformações que vêm sofrendo, mudanças motivadas principalmente pelo crescimento do comércio e especulação imobiliária, que impactam na identidade da cidade e de seus habitantes. Realizaremos uma análise histórica do desenvolvimento da cidade e do seu crescimento comercial. Posteriormente, delimitaremos uma área para estudo, que demarque alguns pontos emblemáticos do centro da cidade, espaços públicos e privados, alvos de transformações, como a Casa dos Italianos, o Cine Spark, o Paredão, a praça Felix Pacheco e o mercado municipal. Em seguida, faremos uma análise das construções sobreviventes às transformações e as consequências recorrentes das demolições de residências e homogeneidade de usos estabelecidos no local, os prejuízos para as histórias e memórias da cidade e entorno. Será utilizado método de pesquisa bibliográfica, além de fotografias, documentos, fontes orais e jornais. Procura-se então com este trabalho, analisar como o crescimento do centro de Picos e a valorização capitalista dessa área da cidade impactam no seu patrimônio material.


64 | Feira do Patrimônio

PATRIMÔNIO COMO MERCADORIA: o caso do Hotel Fortaleza Alexia Marcelle dos Reis Freitas Ilana Maria de Moura Sousa Paula do Monte Figueiredo

O processo de crescimento da cidade de Teresina ocasionou muitas transformações urbanísticas, dentre elas a configuração do seu Centro Histórico. A área, que abrigava principalmente o uso residencial, passa por um processo de descaracterização arquitetônica nas últimas décadas, decorrente especialmente da substituição tipológica das construções, que dá lugar, hoje, ao uso comercial e de serviços. O presente trabalho analisa as transformações ocorridas no atual Hotel Fortaleza, localizado na Rua Coelho Rodrigues, no Centro Norte. A edificação em estudo foi construída na década de 1930, para abrigar, inicialmente, a residência de Odilon Nunes. Em 1992, o imóvel foi adequado com o intuito de receber a função hoteleira, passando, por transformações internas de adequação ao novo programa de necessidades, com o objetivo de obter maior aproveitamento financeiro do edifício e desconsiderando, significativamente, o patrimônio histórico e arquitetônico. Esta prática tem se tornado cada vez mais comum no centro da cidade de Teresina, de maneira que o patrimônio é tratado como uma mercadoria e, consequentemente, a memória histórica e cultural presente nesses edifícios sejam danificadas, desprezando o valor da construção para a coletividade e concepção da identidade local. A metodologia de pesquisa utilizada baseia-se em visitas in loco, aprofundamento bibliográfico para embasamento teórico, entrevistas com funcionários no local, estudo histórico e análise de plantas com objetivo de examinar a situação atual e verificar as modificações ocorridas aos longos dos anos, diagnosticando que apesar das alterações internas serem bem marcantes, a fachada principal preserva muitas características originais e destaca-se a existência de diversas patologias na estrutura física.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Hotel Fortaleza Preservação Teresina


Feira do Patrimônio | 65

ARQUITETURA NEOCOLONIAL EM TERESINA - PI: influências e características Gabriella Viana Amorim Rafael Alencar Matheus Victor Alencar Borges Silvia Maria Santana Andrade Lima

Palavras-chave: Patrimônio Arquitetônico História da Arquitetura Estilo Neocolonial Teresina

O estilo Neocolonial se espalhou pelos países latino-americanos, que buscavam se desligar das tradições europeias. No Brasil, as primeiras manifestações se mostraram num contexto de ressignificação da cultura, porém, por contradição, seus primeiros representantes foram estrangeiros, destacando-se entre os anos de 1910 e 1930, as figuras de Ricardo Severo e Víctor Dubugras. Em seguida, com a nomeação de José Mariano ao cargo de diretor da Escola Nacional de Belas Artes, o número de projetos no estilo Neocolonial aumentou substancialmente, destacando-se o jovem arquiteto Lúcio Costa que, apesar de seu ferrenho apoio inicial, revelou-se mais tarde com grandes ressalvas a esta tendência. Em Teresina, os acervos mais representativos dessa tipologia encontram-se no bairro Centro que, por ser o núcleo inicial da cidade, apresenta uma significativa linha do tempo de sua arquitetura. A maioria desses exemplares ainda preserva suas fachadas com elementos característicos, como telhados aparentes com telhas do tipo capa e canal e acabamento nos cantos em telha “rabo de andorinha”, torreões, reboco com emboçamento decorativo, varandas com aberturas em arco abatido, acabamento decorativo em cornijas com telha cerâmica, e também, platibandas decoradas com curvas e contracurvas. Importantes edificações dessa manifestação regional são o atual Hotel Fortaleza, localizado na Rua Coelho Rodrigues, construído para abrigar a família do dentista Dr. Natan, e a residência de número 567, localizada na Rua Quintino Bocaiúva, encomendada por José Lincoln Corrêa e sua esposa Maria Angélica Vilanova Corrêa, projetada pelo engenheiro Carlos Galvão Castro. Essa análise é de grande relevância, tanto para o conhecimento da obra arquitetônica, estilo e característica local, quanto para outras áreas do conhecimento, como a social e a histórica. Assim, pode-se constatar a importância para a sociedade, expressas na representação das memórias e relações vividas, presentes nas alterações que ocorreram desde sua implantação até os dias atuais, sendo assim, verdadeiros exemplos de patrimônio histórico. A partir do que foi apresentado, torna-se evidente a necessidade desse estudo, que tem como objetivo analisar alguns exemplares do tipo Neocolonial em Teresina, manifestação artística nacional que se destacou como transição entre um ecletismo de caráter histórico e o advento de um racionalismo moderno. A metodologia aplicada conta com levantamento de material bibliográfico, como livros, registros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, revistas e meios eletrônicos sobre o tema, além de levantamento arquitetônico, plantas, sistemas construtivos, elementos decorativos em geral, para análise das características e dos elementos de destaque do estilo, em âmbito local.


66 | Feira do Patrimônio

AS TRANSFORMAÇÕES DO PATRIMÔNIO CULTURAL EM TERESINA: uma análise da Praça Pedro II Thiago Freitas Soares Rafael Alencar O centro da cidade de Teresina possui um número significativo de imóveis e locações públicas com valores patrimoniais que funcionam como porta-retratos da história do povo teresinense. Apesar do baixo incentivo financeiro e das poucas atividades de lazer proporcionadas nesses ambientes, alguns lugares, mesmo com as ações do tempo, do vandalismo e das intervenções urbanas contemporâneas, sobressaem-se tanto como patrimônio material quanto imaterial, sustentando um legado histórico e cultural de um povo. Dentre essas locações, destaca-se a Praça Pedro II, que durante as décadas de 1950 e 1960 teve seu ápice cultural, funcionando como polo de lazer e variados eventos socioculturais para a população teresinense, um verdadeiro chamariz para as pessoas que buscavam algum tipo de entretenimento. A arquitetura do entorno da Praça Pedro II era de essência acolhedora e chamava a atenção pela sua exuberância em relação a outros pontos turísticos da cidade provincial, circundada de atrativos, como o prédio do Cine Rex, da antiga Força Pública (atual Escola de Dança do Estado), do Teatro 4 de Setembro, além de outros, que compõe um importante acervo histórico e arquitetônico da cidade. No entanto, a Praça Pedro II passou por reformas urbanísticas, porém descaracterizadoras, principalmente nos anos 1970. Apesar de posteriores reformas para resgatar sua originalidade, a Praça Pedro II foi adquirindo um novo cenário tanto urbanisticamente quanto socialmente, pois mudou-se o seu traçado original em detrimento de uma funcionalidade que a transformou mais em um ponto de tráfego do que sua função primordial. Além disso, mudou-se também seus usuários, sejam eles apenas como transeuntes ou aqueles que realizam algum tipo de comércio, tanto legais quanto ilegais. Contudo, embora com esse novo paradigma, esse sítio apresenta seu papel sociocultural e histórico ainda hoje, pois como um patrimônio imaterial, imprime sensações, sentimentos, memórias inspirações na música e na literatura que lhe homenageiam e sendo acima de tudo um símbolo de resistência. Essa realidade suscitou o interesse de se pesquisar a seguinte problemática: Quais os aspectos que contribuíram para a subutilização da Praça Pedro II como patrimônio histórico de Teresina? A partir desta questão de estudo, define-se como objetivo geral: Analisar os aspectos que contribuíram para subutilização da Praça Pedro como patrimônio histórico de Teresina e tendo como objetivos específicos: Identificar o momento histórico que consagrou a Praça Pedro II como um patrimônio cultural e ambiente de lazer, compreender as mudanças que alteraram a configuração urbanística da praça e por fim, descrever os fenômenos que favoreceram o processo de mudança de paradigma da Praça Pedro II. Para atingir tais objetivos optou-se por desenvolver uma revisão bibliográfica dos principais teóricos sobre arquitetura e patrimônio. Com os resultados dessa pesquisa, almeja-se contribuir para o reconhecimento da Praça Pedro II como um patrimônio histórico, espaço de lazer e cultura de grande relevância para a sociedade teresinense.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Teresina Praça Pedro II


Feira do Patrimônio | 67

O CONJUNTO HISTÓRICO E PAISAGÍSTICO DE PARNAÍBA-PI: o sobrado de Dona Auta Andrea Nobrega da Cruz

Palavras-chave: Preservação Tombamento Arquitetura Colonial Parnaíba

Parnaíba faz parte das cidades do Piauí testemunhas da ocupação do interior do Brasil no século XVIII. É hoje a segunda maior cidade do Estado e o principal núcleo urbano do norte. O Centro Histórico permaneceu relativamente preservado e a urbe apresenta um conjunto de edifícios, logradouros e espaços livres ilustrativos de sua História iniciada na metade do século XVIII. O tombamento de 2008, incluiu o Centro Histórico, seu entorno e um trecho do Rio Igaraçu como componentes do Conjunto. As características culturais da cidade estão presentes no rio, traçado urbano e arquitetura do período colonial e imperial, ecletismo do século XIX e modernismo do século XX. No tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional está o Sobrado de Dona Auta, edifício colonial de dois pavimentos, com mirante, figurando as cinco edificações emblemáticas construídas na então Vila de São João da Parnaíba, na segunda metade do Século XVIII, a saber: Sobrado Vista Alegre, Casa Grande, Sobrado de Dona Auta, Sobrado do Porto Salgado e Sobrado do Porto das Barcas. O Sobrado Dona Auta, vista à época em que foi construído, teria sido demarcada pelo uso e aplicação de conceitos étnicos. A organização espacial mostra similitudes correntes de Sul a Norte do Brasil. Ao sistema embrionário da casa brasileira, além da implantação ajustada aos limites do lote, o partido retangular, a simetria, a proporcionalidade das partes, os cômodos ladeando o corredor de entrada e a intercomunicação entre os aposentos. Como noutras casas de uso misto, em que os andares superiores foram destinados à parte íntima da família e o térreo ao comércio, se pode associar a hierarquia do uso. O térreo, se diferencia na exclusividade de portas timbrando a função comercial. Indícios de portas internas entre o comércio e corredor central apontam para interdependências entre os mesmos. No segundo pavimento, o conjunto corresponde ao bloco principal delimitado pelas paredes mestras, caracteriza uma exclusividade residencial. De cada lado do vestíbulo doméstico três salas, das quais pelo menos metade teria sido usada como dormitórios. Do vestíbulo se desenvolve outra escada ao terceiro pavimento e se acessa a varanda de refeições, em toda a largura do terreno e também ligada aos cômodos da frente. Dela se desenvolve o bloco lateral composto de quatro cômodos interligados e o correr. No último deles foi adaptado uma precária instalação sanitária sobre o tabuado do piso. O terceiro pavimento corresponde ao típico mirante comumente encontrado na arquitetura costeira, além de um sótão. O tombamento, portanto, também pode ser um instrumento de defesa de uma comunidade contra o excesso de demanda do capital ou das pressões demográficas. Um processo que propicie o acesso público aos bens, que possibilite desenvolvimento sustentável e uma melhor qualidade de vida.


68 | Feira do Patrimônio

HERANÇAS PÚBLICAS E CONTEXTO SOCIOCULTURAL: a importância das praças de Teresina – Piauí Ana Clara Leal Lopes Victor Luiz Fontenele

A cidade de Teresina, capital do Piauí, é a única do Nordeste que não está localizada no litoral, possui poucos atrativos de lazer. Fundada em 1852, foi a primeira cidade planejada do país, seu crescimento está intrinsecamente ligado ao entorno da antiga praça da constituição, atual Marechal Deodoro da Fonseca, popularmente conhecida como praça da Bandeira, marco zero da cidade, que deu origem ao desenho urbano de Teresina. As praças estão entre os mais importantes espaços públicos, possuem diversas funções, de embelezando a cidade, pontos de encontros para a sociedade, qualidade de vida da população. Os espaços públicos refletem a identidade de um ambiente urbano, contribuindo diretamente para sua vitalidade. Todo e qualquer espaço público possui memórias de fatos passados e vividos, que dizem respeito à socialização das pessoas de uma comunidade ou cidade. O Instituto do Patrimônio Histórico Nacional considera patrimônio cultural toda e qualquer edificação que representa a história de determinada sociedade ou comunidade. Nesse contexto, as praças públicas são heranças que devem ser preservadas como patrimônio material e imaterial, pois além de terem sido construídas por sociedades passadas, com grande importância arquitetônica, também possuem representatividade cultural de uma época, costumes, hábitos, lógicas sociais. Neste trabalho, o nosso objetivo é questionarmos sobre a necessidade de preservação das praças públicas da cidade de Teresina. Como contribuir para a preservação das praças públicas de da Cidade? Qual a importância desses espaços como lazer, cultura, patrimônio cultural da cidade? Quem e por que preserva-las? A sociedade precisa ter o conhecimento sobre a relevância das praças da urbe, pois as mesmas fazem parte da história da cidade e sua memória coletiva.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Praças Públicas Memória Social


Feira do Patrimônio | 69

A CASA ECLÉTICA URBANA EM TERESINA, UM ESTUDO SOBRE OS LADRILHOS HIDRÁULICOS Adriana Melo Barreto Rodrigo dos Santos Correia Clarissa Borges Nonato

Palavras-chave: Educação Patrimônio Cultural Casa Eclética Urbana Ladrilhos

Apresentamos um estudo sobre os ladrilhos hidráulicos da casa eclética urbana de Teresina como prática pedagógica na disciplina de História da Arte e Arquitetura, ministrada no curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Estácio, na mesma cidade, colocando em pauta, na sala de aula, a necessidade de conhecer e preservar o patrimônio arquitetônico local. Os ladrilhos hidráulicos foram amplamente utilizados no início do século XX e o seu uso prolongado, por muitos anos, nas residências da capital. Esse material estava associado ao processo de modernização das edificações urbanas que atendiam ao gosto eclético do período, além do intenso intercâmbio comercial com outras regiões e da instalação de fábricas mecanizadas em Teresina. Desse modo, o ladrilho hidráulico é representativo do contexto histórico produtivo da construção civil local, além de referência da qualidade construtiva do estilo arquitetônico eclético desenvolvido no período, sendo necessário promover seu conhecimento e valorização. Nesse sentido, a pesquisa tem como objetivo a análise dos ladrilhos hidráulicos presentes nas casas urbanas ecléticas da região central de Teresina. Verifica-se que uma parte considerável desses ladrilhos já foi substituída, seguindo a modernização da indústria cerâmica e o surgimento de novos materiais e acabamentos para residências, proporcionando novos padrões estéticos passíveis de registro e análise. A metodologia adotada consiste na revisão de literatura para fundamentação teórica, levantamento in loco das edificações, além de entrevistas e coleta de documentos nas instituições representativas do patrimônio cultural e arquitetônico nas esferas federal, estadual e municipal. Acredita-se que o presente trabalho irá fortalecer o processo de valorização do patrimônio cultural arquitetônico e suas manifestações construtivas, dentro do ensino de arquitetura e urbanismo.


70 | Feira do Patrimônio

CASA ZENON ROCHA: a primeira manifestação modernista da cidade de Teresina, PI Alana Carine Carvalho de Siqueira Ana Elisa Cavalcante Miranda Lorena Eulálio Nunes Neste trabalho apresentamos um estudo sobre a Casa de Zenon Rocha, localizada no entorno da Avenida Frei Serafim, em Teresina, Piauí, considerada o exemplar que inaugurou na cidade, em 1954, os princípios modernistas. A Arquitetura Moderna se difundiu associada ao processo de edificação da Revolução Industrial, surgiu entre os fins do século XVIII e princípio do século XIX, a partir das modificações sociais, técnicas e culturais ocasionadas pós Primeira Guerra Mundial e impulsionadas pelos jovens arquitetos da época que vislumbravam na arquitetura uma possibilidade de transformação da sociedade e das cidades atingidas pelos horrores da guerra. Para tanto acreditaram no racionalismo, promovendo a mecanização, a eficiência, a economia e a funcionalidade dos edifícios. Após a Segunda Guerra Mundial, o monólito do Modernismo e de seu “Estilo Internacional” passou a apresentar pequenas fissuras e assim foi possibilitada a abertura para uma diversidade no campo da arquitetura moderna, admitindo que as obras pudessem se aproximar de uma arquitetura plural, manifestada em associação ao contexto geográfico e vernacular de cada localidade. A Arquitetura Moderna Brasileira surgiu nas décadas de 1920 e 1930 visando a criação de uma identidade nacional, o que a fez promover a adaptação e transformação dos conceitos europeus de arquitetura moderna aos valores antropológicos e regionais deste país. Em Teresina, a chegada do Modernismo ocorreu de forma tardia, mais especificamente, apenas na década de 1950, quando Anísio de Araújo Medeiros arquiteto Teresinense, com formação em arquitetura na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro), projeta e constrói em Teresina, obras como por exemplo a Casa Zenon Rocha em 1954, David Cortellazzi, bem como desenhou Igara Clube e o Iate Clube, em Parnaíba e Teresina respectivamente. A Casa Zenon Rocha possui 660 metros quadrados dividida em dois pavimentos. No térreo têm-se o setor social, ao fundo o setor de serviço, divididos em salas de estar e jantar, varanda, quarto de hóspede, copa, cozinha, despensa, área de serviço, quarto para empregados, três banheiros, duas garagens e dois depósitos no pavimento térreo. O estar íntimo está localizado no pavimento superior e fora dividido em: um ambiente de estar no mezanino, duas varandas, três quartos e um depósito, além de um banheiro reversível e um pequeno cômodo. Por Teresina ser uma cidade que possui clima quente úmido, com grande índice de insolação, o arquiteto buscou soluções como o pátio interno, ajardinado com vegetação tropical frondosa, a orientação solar, as aberturas de panos de esquadrias vazadas em persianas de madeira, pés-direitos altos, integrações espaciais e a circulação de ar nas fachadas através de “buzinotes”. A solução volumétrica chama atenção pelo uso do teto “asa de borboleta”, utilizado inicialmente na casa Errazuriz no Chile (1930) por Le Corbusier e mais tarde aplicado de modo contínuo na linguagem plástica de Oscar Niemeyer, cobertura que soluciona problemas climáticos tropicais, melhorando o conforto ambiental no interior da residência.

Palavras-chave: Arquitetura Moderna Casa Zenon Rocha Teresina Piauí


Feira do Patrimônio | 71

CASA GRANDE DOS DIAS DA SILVA: estudos para reabilitação e implantação do Museu da Cidade de Parnaíba, Piauí Ellaine Martins Oliveira da Rocha Áurea da Paz Pinheiro

Palavras-chave: Reabilitação. Museu da Cidade de Parnaíba. Patrimônio Cultural

A Casa Grande dos Dias da Silva é uma edificação emblemática do ponto de vista arquitetônico e histórico para a cidade de Parnaíba, no litoral do Piauí; em estilo colonial, datada do século XVIII, é considerada uma das edificações emblemáticas da cidade, já presente na cartografia de 1809, com imponência e localização fundamental para o crescimento urbano e afirmação da Av. Getúlio Vargas, estruturador da cidade. Apresentamos Trabalho Final de Mestrado associado ao Projeto Matriz sob o título “PARNAÍBA: PATRIMÔNIO VIVO, CIDADE VIVA”, coordenado pelo Mestrado Profissional, Universidade Federal do Piauí, Parnaíba. O objetivo geral foi elaborar um projeto de reabilitação do imóvel “Casa Grande dos Dias da Silva”, para implantação a médio ou longo prazo, do Museu da Cidade de Parnaíba, Piauí. Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre edificações históricas e estudos de casos de intervenções do tipo reabilitação de espaços em museus, com ênfase nos diálogos entre arquitetura e museologia. Posteriormente, foi realizado uma pesquisa de campo, que permitiu a imersão na cidade e contato com a população residente, com objetivo de conhecer e divulgar o espaço da Casa Grande Simplício Dias, colher junto à população o uso que gostariam que fosse dado à antiga residência dos Dias da Silva. Os dados foram levantados a partir de três etapas: 1. Pesquisa de opinião, com uso da ferramenta do Google via on-line (Google Formulários); 2. Exposição Itinerante, com tema “Casa Grande dos Dias da Silva: Rendilhar o Passado, Construir o Futuro” com ênfase nos temas museu, patrimônio, preservação; momento no qual foi possível colher a opinião dos visitantes sobre o uso da Casa Grande; e 3. Roda de conversa sobre a Casa Grande dos Dias da Silva, para a qual foram convidados, membros de entidades governamentais e não governamentais e cidadãos de Parnaíba para discutir o uso da Casa Grande e projeto de Museu. Observamos opiniões diversas quanto ao uso edificação, porém a que prevaleceu dentre a maioria foi o desejo de que a mesma se transforme em um museu da cidade. Assim, a partir dos resultados observados, discussões realizadas, e análise de campo, apresentamos sugestões práticas e objetivas para a reabilitação do espaço de forma a lhe oferecer uso social, a considerar que se trata de imóvel construído no século XVIII para habitação familiar. Como produto final de Mestrado foi elaborado o projeto de reabilitação, um espaço social e cultural, um equipamento museológico, que contempla uma recepção, café, salas de exposições de curta e longa duração, escritório colaborativo, sala multiuso (para serviços de educação e ação cultural, reuniões, palestras, rodas de conserva, oficinas etc.), um laboratório de conservação preventiva de bens móveis e uma reserva técnica. No contexto daquilo que foi idealizado para o espaço estão exposições sobre a cidade de Parnaíba, com foco na história da própria edificação, e uma sala de exposição para o acervo de Humberto de Campos (1886-1934), que está em uma das salas da Casa Grande, sob a responsabilidade da Superintendência de Cultura do Município de Parnaíba.


72 | Feira do Patrimônio

PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO: um estudo sobre a arquitetura eclética de Teresina Jussara Monique Moura dos Santos Rodrigo dos Santos Correia Thalia Fernandes Batista Clarissa Borges Nonato

Apresentamos estudo da arquitetura eclética de Teresina como prática pedagógica na disciplina de História da Arte e Arquitetura, ministrada no curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Estácio. Discutimos em sala de aula a necessidade de conhecer e preservar o patrimônio arquitetônico local. As manifestações ecléticas em Teresina, em relação às regiões mais desenvolvidas do país, chegaram posteriormente. Somente no início do século XX, em virtude do processo de modernização e urbanização da capital, as edificações passaram a ter uma configuração estética com elementos ornamentais diversificados. A arquitetura eclética é representativa de uma conjuntura histórica que precisa ser conhecida e valorizada. Nesse sentido, a pesquisa tem como objetivo a análise e mapeamento de edificações no estilo eclético presentes no centro histórico da capital, especialmente, no entorno de suas principais praças e vias públicas como Av. Frei Serafim. Verificamos que uma parte considerável desses edifícios estão vinculados, principalmente, às instituições públicas e privadas e que a funcionalidade e preservação estão associadas diretamente a condicionantes econômicos, socioculturais e políticos. Como metodologia recorremos a uma revisão de literatura para fundamentação teórica, levantamento in loco das edificações, além de entrevistas e coleta de documentos nas instituições representativas do patrimônio cultural e arquitetônico nas esferas federal, estadual e municipal. Acreditamos que o presente trabalho irá gerar, como resultados, a publicação digital de um mapa da arquitetura eclética de Teresina, colaborando com a sensibilização para o patrimônio cultural em instituições de ensino locais. Do mesmo modo, fortalecer o processo de valorização do patrimônio cultural arquitetônico como memória coletiva urbana, dentro do ensino de arquitetura e urbanismo.

Palavras-chave: Educação Patrimônio Cultural Arquitetura Eclética Memória


Feira do Patrimônio | 73

ESTUDO DA VIABILIDADE DE UTILIZAÇÃO DE TIJOLOS ECOLÓGICOS NA REABILITAÇÃO DE EDIFICAÇÕES TOMBADAS Tayna Rodrigues Martins Ana Élida Damasceno Saraiva Leal Renan Maycon Mendes Gomes Claudeny Simone Alves Santana

Palavras-chave: Ecologia Patrimônio Cultural Sustentabilidade.

Há uma preocupação com o desenvolvimento sustentável, um dos pilares da sociedade atual, o que tem incentivado diversos pesquisadores a buscarem alternativas para minimizar o impacto ambiental, em particular aquele causado pelas indústrias ceramistas. Dessa forma, atualmente, existe a necessidade de obtenção de novos materiais que apresentem baixo custo e consumo de energia, capazes de satisfazer os anseios da população em geral, especialmente, nos países em desenvolvimento. Os tijolos de solo-cimento são uma alternativa viável de acordo com a as diretrizes do desenvolvimento sustentável, pois esse tipo de produto demanda baixo consumo de energia na extração da matéria-prima, além de dispensarem o processo de queima. Segundo Segantini desde sua concepção o solo-cimento teve grande aceitação no mercado, passando a ser utilizado em uma enorme variedade de construções, como na pavimentação de estradas e pátios industriais, na construção de aeroportos, no revestimento de barragens de terra e canais de irrigação, bem como na fabricação de tijolos, além de diversas outras aplicações. No Brasil, estima-se que a primeira construção a utilizar o solo-cimento foi uma casa de bombas com 42 m quadrados de área para abastecimento das obras do aeroporto em Santarém, no estado do Pará. Em seguida, o produto se espalhou por todo o país com a construção de casas em Petrópolis-RJ, de um hospital em Manaus - AM entre outras obras. Resumidamente, o tijolo de solo-cimento pode ser definido como um tijolo fabricado através da mistura homogênea de solo, cimento e água, em proporções adequadas. Conforme Figueiredo (2005) a utilização do patrimônio pela atividade turística possibilita a implementação de modelos sustentáveis onde há a participação da comunidade local valorizando sua cultura. Nesse sentido, a utilização de tijolo de solo-cimento na restauração de edificações tombadas pode ser uma boa alternativa para fomentar a cultura local, valorizando o aspecto turístico da comunidade no qual o patrimônio está inserido. Entre as vantagens da implantação desse método construtivo destacam-se a agilidade de execução, o baixo custo, a fácil fabricação, a redução do impacto ao meio ambiente, e a sua estética, uma vez que sua tonalidade e textura reproduz os tijolos de barro, normalmente usados em edificações desse tipo.


74 | Feira do Patrimônio

PATRIMÔNIO CULTURAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: MÉTODOS E AÇÕES André Felipe Sousa Cardoso A utilização do patrimônio cultural por meio de usos que garantam sua sustentabilidade é uma questão necessária nos dias atuais, uma vez que existe uma grande necessidade de reintegrar e gerar novos usos aos monumentos, edificações e parques históricos ao âmbito social. Dentro desses parâmetros, a educação patrimonial apresenta-se, por meio de processos educativos formais e não formais, como instrumento de sustentabilidade, por meio de ações que colaboram para o reconhecimento, valorização e preservação do patrimônio a partir de uma grande variedade de ações e projetos com concepções, métodos, práticas e objetivos pedagógicos distintos, a partir propostas educativas inseridas na dinâmica social, através da articulação entre agentes culturais e sociais, na construção do conhecimento de forma coletiva e democrática nos processos educativos. A importância da educação patrimonial se dá a partir da construção coletiva do conhecimento, pelo qual a comunidade se identifica como produtora de saberes e reconhece suas referências culturais inseridas em contextos de significados associados à memória social do local. Nos centros urbanos, o patrimônio cultural edificado é composto por uma série de elementos que retratam os cenários históricos vivenciados no cotidiano das cidades, que representam características do passado inseridas em um novo contexto, que, por diversas vezes, são marcadas por transformações e intervenções que modificam suas dinâmicas. Partindo dessa ideia, a preservação do patrimônio contribui para a preservação da memória coletiva. Assim como inúmeras outras cidades, a capital do estado do Piauí, Teresina, apresenta diversos locais que podem contribuir com a educação patrimonial, como é o caso da Praça Marechal Deodoro da Fonseca. Esta se trata do local escolhido para a implantação da capital, sendo tal região delimitada pelo primeiro plano urbanístico da capital. Por conta disso, seu entorno é composto por diversas edificações históricas que caracterizam a arquitetura do início da cidade. Desenvolviam-se ali relações pessoais e econômicas estando vinculada à identidade da mesma, bem como ao processo de desenvolvimento social e econômico da cidade durante seu surgimento. Contudo, devido ao processo de desenvolvimento do município, a praça passou por transformações que modificaram sua dinâmica e suas relações sociais, passando a ser conhecida como um local de periculosidade e marginalidade. Diante disso, ações de desenvolvimento local de preservação do patrimônio que despertem a consciência da sociedade sobre a preservação do patrimônio cultural apresentam-se como soluções, por meio de atividades educacionais desenvolvidas dentro dos espaços urbanos na linha da educação não-formal. A troca de experiências e de informações possibilitam, no campo do saber, construir um processo de conhecimento com benefícios para a sociedade. Dessa forma, a educação patrimonial apresenta-se como necessária para a preservação e manutenção do patrimônio cultural de forma ampla, levando em consideração a criação de vínculos entre sociedade-patrimônio com o objetivo de reintegrar esses espaços às demandas sociais, utilizando a educação patrimonial para a manutenção da memória coletiva.

Palavras-chave: Patrimônio cultural Desenvolvimento local Sustentabilidade Educação patrimonial


Feira do Patrimônio | 75

USO DA FIBRA DA CANA DE AÇÚCAR COMO AGREGADO NA TAIPA DE SOPAPO Thalia Fernandes Batista Danilo Sérvio Araújo

Palavras-chave: Arquitetura vernacular Patrimônio Cultural Piauí

No Piauí, comumente, são encontradas nas proximidades dos rios e em regiões mais afastadas, casas feitas em terra crua, nas quais se utilizam materiais locais para sua estrutura como a madeira da carnaúba e telhas artesanais ou palhas no seu entelhamento. Existem várias técnicas que utilizam a terra crua, porém uma das mais empregadas no estado é a Sopapo de Taipa. O uso do barro se deve à disponibilidade na região e baixo custo em obras que procuram maior aperfeiçoamento da técnica, o material é utilizado porque dissipa o calor através da aeração e possui baixo dispêndio de energia tornando esse tipo de construção mais viável para o clima local. Com o intuito de avançar nesse campo de estudos, surgiu o Grupo Terra Sustentável sediado na Faculdade Estácio de Teresina e organizado pelo professor Danilo Sérvio, que tem o objetivo de investigar esse arquétipo de arquitetura vernacular, patrimônio intangível, resguardando, assim, a identidade cultural local. Este estudo também é de grande valia ao propormos no ensino superior o uso de técnicas tradicionais e suas qualidades. Ademais, otimizar a técnica com a inserção de novos materiais também orgânicos presentes no meio. Para isso foram feitas pesquisas de campo e bibliográficas além da construção de um protótipo de pequenas dimensões. A fibra vegetal mais aplicada nessas construções é a palha de arroz ou a de babaçu, entretanto visando o aprimoramento da técnica é que se propôs o uso da fibra moída da cana-de-açúcar. A escolha desse aglomerante orgânico se deu devido a sua alta disponibilidade no estado, tornando-o mais viável, e por ser considerado sustentável já que possui a capacidade, mesmo depois de uma possível demolição, retornar ao meio ambiente sem agredi-lo, não gerando resíduos, este é um dos grandes problemas da construção civil na atualidade. Outrossim, esse material também fortalece a agregação do barro estabilizando e diminuindo a sua retração devido a sua função coesiva evitando o aparecimento de fissuras ou rachaduras. O que propomos é uma possível solução para as fissuras encontradas nessas edificações de terra crua que aparecem mesmo no início da sua construção principalmente no período de cura. Em suma, o processo produtivo é o mesmo com a formação de uma trama que é preenchida com bolas de barro que são “socadas” de cada lado o diferencial é o uso de um alicerce que impede o contato das paredes com o solo que devido a sua capilaridade de umidificar as paredes em contato, acrescido de fibra que foi posta para secar por 30 dias para retirar toda a sua umidade além de ser moída através do uso de uma forrageira para a obtenção de menores dimensões. O estudo mostra que apesar de ser arquitetura iletrada ela não deixa de ser destituída de técnicas e que o erudito e o vernarcular? apesar de serem antagônicos não são excludentes


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APROPRIAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO SÍTIO TOMBADO DE PARNAÍBA - PIAUÍ: uma proposta de gestão compartilhada Elane Coutinho Diva Maria Freire Figueiredo

O edifício é história; a cidade é documento. Os que ali habitam, possuem a discricionariedade de transubstanciar coisas e relações em fato museológico. Assim, entendemos o modo como se processa o ambiente construído, a memória, o valor atribuído ao bem cultural, e o papel do indivíduo no Sítio Histórico e Paisagístico de Parnaíba, espaço urbano que completa em 2018 dez anos de tombamento pautado em valores históricos, paisagísticos, arqueológicos e etnográficos. O sítio de Parnaíba, no que se refere às ações de preservação dos bens culturais, acomodou-se em políticas de salvaguarda que não atendem à heterogeneidade do bem cultural, uma vez que não contribuem na minimização e prevenção de conflitos de apropriação de um mesmo patrimônio sob a perspectiva de narrativas diversas. Instrumentos técnicos e jurídicos, produtos da figura do tombamento, confrontam-se entre o uso do bem cultural enquanto elemento arquitetônico e o desempenho da função social da propriedade por um lado, e item mercadológico que pretende satisfazer as necessidades de maneira rentável a partir do ponto de vista econômico, por outro. Para além da aplicação de instrumentos técnicos, a arquitetura pode ser estudada por diversos ângulos, em seus aspectos de matéria, monumento, documento, arte e espaço, e em todos os casos percebemos uma intrínseca relação entre arquitetura, meio e homem. Trataremos a arquitetura, nesta proposta de pesquisa, como acervo museológico, reconhecendo o ambiente construído como patrimônio constituído. Uma pesquisa-ação que tem como ponto fundamental a investigação de conflitos de apropriação do patrimônio no sítio tombado de Parnaíba pelo viés da Museologia Social e da Conservação Integrada, e a partir disto propor ações que visem diminuir estes conflitos.

Palavras-chave: Piauí Parnaíba Patrimônio Cultural Apropriação Museologia Social Conservação Integrada


Feira do Patrimônio | 77

EDIFÍCIO MIRANDA OSÓRIO: Primeiro Grupo Escolar do Piauí Rosa Karina Carvalho Cavalcante Áurea da Paz Pinheiro

Palavras-chave: Miranda Osório Grupo Escolar Primeira República Parnaíba-PI

Este trabalho trata do Edifício Miranda Osório, em Parnaíba, PI, cuja importância como patrimônio edificado já está estabelecida e marcou a formação de toda uma geração parnaibana. Nosso trabalho, porém, visa estabelece-lo como representante do primeiro grupo escolar do Estado do Piauí e demonstrar sua relação com os outros grupos escolares brasileiros, parte da política do início da Nova República que, seguindo as bandeiras do liberalismo e do positivismo, viam a educação, ou a falta dela, como a chave dos problemas fundamentais do país, importante para aquele momento de transformações na política e organização social. A cidade de Parnaíba na época da implantação da República, em 1889, apresentava certa estagnação econômica, contrastando com o antigo crescimento e progresso ao estar conectada com as outras regiões do país, e até do mundo, através do comércio de produtos de extrativismo vegetal para exportação; o que era espelhado também no setor educacional. De acordo com Mendes (2007), as atividades de ensino em Parnaíba durante a Primeira República, até a construção do Grupo Escolar Miranda Osório (1922), foram todas elas desenvolvidas nas residências dos 80 professores, sejam eles professores públicos, custeados pelo Estado, ou particulares, mantidos pelas mensalidades dos alunos. Tal situação muda quando, em 1921, assume a intendência de Parnaíba, o comerciante José Narcísio da Rocha Filho, e passa a se preocupar com a questão da educação, e cuja intermediação junto ao governo estadual possibilitou a criação do Grupo Escolar Miranda Osório, uma escola primária mista, valendo-se da Lei n. 527 de 06/07/1909, solicitou e conseguiu através do decreto n.784 de 17 de março de 1922, do governador João Luís Ferreira. Verifica-se, ainda de acordo com Mendes (2007), dois pontos que mostram a importância da criação do Grupo Escolar Miranda Osório, uma de caráter mais político, pois foi a primeira iniciativa conjunta dos governos estaduais e municipais em Parnaíba, com a fusão de escolas mantidas por esses governos; e outra de caráter arquitetônico, por ter sido o primeiro prédio escolar construído pelo poder público no Piauí, com instalação apropriada, diferentes das adaptações ou improvisações das residências dos professores. De acordo com nossos estudos sobre a história dos grupos escolares da Nova República no país, podemos também relacionar o projeto do edifício Miranda Osório com muitas características dos edifícios escolares paulistas que serviram de base para os projetos de outros Estados, nos permitindo afirmar que na cidade de Parnaíba efervescia o diálogo com as políticas públicas do restante do país, assim como com os modelos arquitetônicos apresentados. A metodologia utilizada foi a da pesquisa bibliográfica e a da análise arquitetônica dos projetos analisados. Como discussão buscou-se aprofundar a pesquisa histórica do edifício, ressaltando ainda mais sua importância como representante histórico e cultural parnaibano e piauiense. Concluindo, constatou-se que a história do edifício Miranda Osório vai além de sua simples classificação de um exemplar da arquitetura eclética com traços da arquitetura ferroviária, mas que traz outras histórias ocultas, de importância política e cultural, que precisam ser reveladas e documentadas.


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A IMPORTÂNCIA DA FAZENDA BARREIRAS NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE VALENÇA Ohana Carvalho Serra Tiago Marques Samuel Bacelar Viana Vitoria Cristina Mello Sady Amanda Moreira O processo de ocupação do território piauiense ocorreu por volta do século XVII, principalmente por meio da atividade pecuária e do desenvolvimento de assentamentos responsáveis pela manutenção e suporte da atividade. Com o desbravamento através de uma pecuária extensiva, surgiram grandes fazendas de criação de gado que funcionavam como instrumento de concentração populacional, uma vez que em torno das sedes das fazendas se adensavam os viajantes, vaqueiros e comerciantes, o que corroborou com o surgimento das primeiras povoações no sertão. No final do século XVII, Portugal opta por um modelo de elevação das povoações já existentes para categorias de Vila. Logo, a Vila da Mocha é elevada a categoria de cidade e ganha o nome de Oeiras. Outras sete povoações foram elevadas a condição de vila na mesma época, dentre elas a cidade de Valença do Piauí. Situada na porção central do Estado, cerca de 210 km ao sul de Teresina, Valença era antes habitada por uma população indígena denominada de Aruaques, que se concentravam nas redondezas Rio Caatinguinha, por volta de 1730 recebeu incursões jesuítas, que visavam catequizar os índios e preparar o território para receber o título de Vila. As fazendas eram as edificações mais recorrentes na região no processo de formação da cidade, porém nem todos os seus exemplares resistiram aos processos ocorridos até os dias atuais. Tendo em vista a importância das sedes das fazendas para os diversos agrupamentos e povoações que ocorreram no interior do sertão, o artigo visa considerar o valor histórico e cultural da Sede da Fazenda Barreiras para a cidade de Valença, destacando a sua importância para o processo de formação da cidade e fazendo uma análise do atual estado de conservação da edificação. O casarão construído em 1760 utilizou sistemas e técnicas construtivas recorrentes a época, e resistiu as alterações decorrentes do desenvolvimento da cidade, bem como as mudanças ocorridas nos hábitos da população. Atualmente, a edificação é ocupada por um dos sucessores da família de Raimundo Inácio de Sousa Martins, figura importante da atividade pecuária de Valença, responsável pela criação da fazenda. Barreiras preserva características arquitetônicas típicas das casas de fazenda como quartos interligados, alpendre, implantação articulada com o território, presença do terreiro no entorno e arcos românicos nos Palavras-chave: vãos. O presente artigo tem como objetivo compreender o processo de formação de Valença do Piauí, destacando a contribuição Patrimônio Cultural, Preservada sede da fazenda Barreiras na formação social e cultural do município. Para o desenvolvimento do trabalho foram utilizados ção, Valença, Piauí livros, revistas, artigos, e entrevistas que decorram sobre o tema. Além disso, realizou-se um levantamento e coleta de dados da edificação para analisar as características da fazenda, bem como o seu estado de conservação.


Feira do Patrimônio | 79

O CONJUNTO ARQUITETÔNICO DA PRAÇA DOMINGOS MOURÃO FILHO EM PEDRO II, PIAUÍ: estudo das fachadas e suas tipologias Tiago Marques Vitoria Cristina Mello Sady Carlos Felipe da Costa Santos Ohana Carvalho Serra Amanda Moreira

Palavras-chave: Conjunto Arquitetônico Fachadas, Pedro II-PI Arquitetura Tradicional Praça

O artigo trata de um estudo da arquitetura tradicional na cidade de Pedro II, no Piauí, com evidência nas fachadas das edificações que compõem o conjunto arquitetônico da praça Domingos Mourão Filho. Fundada no ano de 1854 e distante 200 km da capital piauiense, a cidade tem a praça em questão como um logradouro de grande valor histórico, social e cultural, além de ser o núcleo urbano inicial da cidade. As tipologias arquitetônicas presentes na praça e a variabilidade dos seus usos garantem um representativo fluxo de pessoas cotidianamente, contribuindo assim para a manutenção e vitalidade do logradouro. As construções que a compõem, revelam fachadas com influência colonial e tendência eclética, estando muitas delas em bom estado de conservação, e nota-se a existência de uma arquitetura sem grande rigor técnico ou emprego de técnicas sofisticadas, mas que mesmo com limitações guardam semelhanças com a arquitetura portuguesa, em elementos como a ordenação dos vãos por exemplo, o que exclui atribuir a improvisação a essas produções. A referida área está contida no perímetro de proteção do estudo de tombamento das edificações históricas da cidade, realizado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Diante disso, nesse artigo é realizado um estudo das fachadas das edificações que circundam a praça, apresentando os estilos predominantes, as características, os usos, os elementos presentes, além das tipologias dos imóveis. Seu objetivo do estudo é o registro, preservação e valorização do patrimônio arquitetônico da cidade, bem como divulgar em nível nacional esses bens, já que Pedro II é tido como importante polo de turismo para o estado e recebe eventos culturais de amplo destaque e relevância para a região.


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VALOR HISTÓRICO DAS EDIFICAÇÕES DO ENTORNO DA PRAÇA PEDRO II PARA O PATRIMONIO CULTURAL DA CIDADE DE TERESINA. Lucas Lima Duarte Anna Marina de Freitas Nunes Souza Shayana Lannara Oliveira Martins Toda cidade ao longo de sua história passa por períodos de grande desenvolvimento urbano, deixando testemunhos históricos em forma de acervo, que contribuem para os registros históricos do lugar, a forma de viver das pessoas, assim como as mudanças no modo de vida da população local. A cidade de Teresina, capital do estado do Piauí, possui valorosos testemunhos históricos em sua arquitetura que é predominantemente dos estilos eclético e neoclássico. No centro da cidade de Teresina, cada edifício, além do detalhe arquitetônico, conta também a história da cidade, cultura, culinária e costumes da população local de cada época. Neste texto faremos um breve recorte de uma parte central da cidade de Teresina, que abrange alguns desses importantes edifícios, envolvendo a Praça Pedro II, o Teatro 4 de setembro, o Cine Rex e o Centro de Artesanato Mestre Dezinho, todas essas edificações citadas localizam-se no entorno imediato da praça Pedro II. O teatro 4 de Setembro é um exemplo do estilo eclético, construído pelo engenheiro Alfredo Modrak, é um edifício que incorpora elementos greco-romanos e da arquitetura portuguesa. O Cine Rex proporcionou para a região um maior fluxo de pessoas, trouxe uma fachada com características únicas do estilo art deco além de reproduzir grandes filmes da época. Em 1995 o proprietário solicitou o tombamento parcial do edifício devido seu valor histórico, arquitetônico e pelo seu significado a cada pessoa que frequentou aquele local. O centro de artesanato mestre Dezinho, foi originalmente o quartel general da Polícia Militar de Teresina e atualmente funciona como um museu onde se encontra diversas obras regionais e nacionais, com espaços também educativos e culturais, na área da música e dança. Todo esse complexo cultural está no entorno da Praça Pedro II, que com o passar do tempo foi perdendo o uso continuo, em que ocorriam eventos culturais e se tornava uma extensão das edificações supracitadas. Nos dias atuais é utilizada mais para passagem dos usuários do centro comercial de Teresina do que para um aproveitamento do espaço. Essa região do espaço cultural traz uma história rica que podem transmitir o conhecimento a respeito da história e desenvolvimento da cidade tornando-se assim um complexo museógrafo. O objetivo deste texto é apresentar o complexo e paisagem arquitetônica do entrono da Praça Pedro II como um lugar vocacionado aos conceitos da nova museologia e Ecomuseu, que apresentam o museu não mais enclausurado dentro das paredes de um edifício, mas a própria paisagem, arquitetura, modo de vida das pessoas, fazendo assim parte de um todo cultural de uma comunidade. A partir de revisão bibliográfica sob o olhar da nova museologia, pretendemos dar visibilidade da importância da preservação e valorização destes espaços como equipamentos de educação, pesquisa, cultura e lazer, que são as funções de um museu.

Palavras-chave: Patrimônio Histórico-Cultural Museologia


Feira do Patrimônio | 81

ARQUITETURA JESUÍTICA NA IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO EM JERUMENHA, PIAUÍ Maria Imaculada Gonzaga Pires Teixeira Ilana Carvalho Italiano Cibele Maria da Silva Pinto Mousinho

Palavras-chave: Arquitetura colonial religiosa Jesuítas no Piauí Jerumenha Igreja Matriz de Santo Antônio

Através da contextualização descritiva da arquitetura jesuítica, este artigo busca apresentar o comportamento e expressão desta no Brasil e no Piauí, por meio da análise arquitetônica e histórica da Igreja Matriz de Santo Antônio, localizada em Jerumenha, no Sul do Piauí. Fundada em 1746, a Igreja preserva até hoje sua singularidade compositiva e representativa, somando um forte significado religioso à população, e este trabalho busca valorizar e homenagear este patrimônio piauiense. Por estar locada em uma praça na região central da cidade, foi feito um levantamento dos usos do seu perímetro imediato, para entender o seu funcionamento como casa de oração e casa de irmãos. O ponto de vista das pessoas que vivenciam a Igreja foi fundamental para o desenvolvimento da pesquisa, uma vez que o legado imaterial da Igreja é repassado como herança cultural por gerações e fortalece a relação entre sociedade e patrimônio. O Frei Eulálio Miranda, responsável pela Paróquia, conduziu a visita ao local e forneceu subsídios para a análise proposta nesse artigo. O acesso a documentos, plantas e jornais antigos trouxe embasamento teórico e técnico, mostrando as modificações e como a Igreja se adapta à evolução da sociedade que a circunda, num vínculo de interdependência. Em síntese, a Igreja Matriz de Santo Antônio preserva seu aspecto rústico e simples, com estrutura feita em pedra, é marcante por suas paredes espessas compondo em planta baixa uma cruz Latina. Sua fachada traz cores terrosas por conta da sua materialidade, além de um frontão triangular com a imagem de Santo Antônio e o menino Jesus. A igreja ainda preserva os traços provenientes da época de sua fundação, além de alterações que ocorram ao decorrer dos anos para se adequar às necessidades dos fiéis. Neste artigo tratamos de analisar as características da Igreja Matriz, bem como as características da arquitetura jesuítica, de modo a definir o estilo a qual ela pertence.


82 | Feira do Patrimônio

A IMPORTÂNCIA DO MERCADO VELHO PARA O PATRIMÔNIO CULTURAL TERESINENSE Ohana Carvalho Serra Carlos Felipe da Costa Santos Tiago Marques Samuel Bacelar Viana Amanda Moreira

O Mercado Municipal de Teresina, conhecido também como Mercado São José ou Mercado Velho, foi umas das primeiras edificações a compor o conjunto arquitetônico da Praça da Constituição no Largo do Amparo, hoje conhecida por Praça Marechal Praça Deodoro da Fonseca, e popularmente por Praça da Bandeira. Sua construção foi iniciada em 1854, e este entrou em funcionamento em 1858, mesmo com sua construção não concluída, regularizando a comercialização de gêneros alimentícios na capital, já que o Código de Postura Municipal não permitia a venda de tais bens à céu aberto. O mercado, que atendia inicialmente às atividades de comércio da cidade, teve sua obra finalizada em 1890 após muitas polêmicas sobre superfaturamento e atrasos. Gradativamente, passou a servir para outras atividades comerciais, mas o espaço começou a ficar subutilizado devido a problemas estruturais como infiltrações e rachaduras, fato que resultou em diversas alterações nas características originais da edificação, que contava com uma série de arcos romanos em sua fachada que foram substituídos por alicerces de pedra e tijolo. Após uma série de adaptações e reformas, em 2015 o Mercado Municipal passou por um processo de reestruturação e reforma visando recuperar o aspecto arquitetônico original que tinha no século XIX, processo que foi concluído em dezembro de 2017. Atualmente, a primeira parte do processo de reestruturação, que compreende à edificação original do mercado, abriga bares e lojas na parte externa e venda de produtos de artesanato na parte interna, e ainda conta com uma galeria de arte além de acessibilidade com rampas e elevadores. Este estudo tem por finalidade realizar um diagnóstico da edificação recém restaurada de forma a ilustrar as potencialidades e pontos a serem melhorados, com o objetivo de valorizar o patrimônio edificado, tendo em vista a importância da construção para a história da cidade, bem como a sua importância como impulsionador do turismo na capital piauiense.

Palavras-chave: Conjunto Arquitetônico Fachadas Pedro II-PI Arquitetura Tradicional Praça


Feira do Patrimônio | 83

FAZENDA CANELA: DOCUMENTAÇÃO E O PERECIMENTO DO PATRIMÔNIO RURAL NO CONTEXTO URBANO DE OEIRAS, PI Camila Soares Figueiredo Ana Clara Carneiro de Melo Amanda Moreira Denise Rodrigues Santiago Lucas Ferreira

Palavras-chave: Patrimônio Documentação Fazenda

Inserido na temática do patrimônio material e da documentação arquitetônica piauiense, este artigo alinha-se ao eixo “Arte, patrimônio e museologia” ao explanar sobre a concepção arquitetônica, bem como sobre o estado de conservação da casa da Fazenda Canela, um importante exemplar da tipologia das fazendas de gado, localizada na zona urbana da cidade de Oeiras, Piauí. Sua construção data de, aproximadamente, 1880, quando essa tipologia se difundia fortemente ao longo do estado, e foi tombada em 2006, sendo um dos poucos exemplares dessa categoria tombados na esfera estadual. Sua concepção arquitetônica segue os princípios básicos das casas de fazenda, como as varandas em alpendre, a varanda de refeições e os quartos ladeando o extenso corredor que liga o setor social e o de serviços. Além disso, os principais materiais utilizados, carnaúba e o adobe, reafirmam a materialização desse imóvel enquanto exemplar da arquitetura vernácula piauiense. Quanto ao estado atual, não conta com o amparo das autoridades, quadro que é agravado pela ausência de uso, tendo como consequência uma intensa deterioração, o que torna, por exemplo, a presença de escoras algo indispensável para sua sustentação. Em virtude desses aspectos, o objetivo desse estudo é analisar o grau de conservação do imóvel, aprofundando-se quanto à documentação de seu estado atual, bem como discorrer sobre sua importância como um exemplar representativo e singular dessa tipologia, uma vez que foi implantada no cenário rural, mas atualmente está inserida no contexto urbano. A metodologia empregada baseou-se em pesquisas em arquivos públicos e outras fontes bibliográficas, bem como através de levantamentos no local e registros fotográficos. A partir dessa análise, que documenta todos os aspectos da construção, dando ênfase nas marcas deixadas pelo tempo principalmente em função do abandono, pretende-se incentivar a preservação desse bem de constatada relevância patrimonial, assim como fomentar a documentação desse tipo de patrimônio, para que a memória que o mesmo agrega possa ser perpetuada.


84 | Feira do Patrimônio

TÉCNICAS PROJETUAIS DA ARQUITETURA MODERNA EM EDIFÍCIOS ESCOLARES NO PIAUÍ, NAS DÉCADAS DE 1960 E 1970 Wandérson Nascimento Barbosa Juliana Martins de Oliveira Ana Lúcia Ribeiro Camillo da Silveira

O modernismo brasileiro é peculiar comparado a outros países; observamos que para obter essa identidade nacional e reconhecimento não foi necessária a negação das divergências, mas optar por uma arquitetura renovável, adaptando-se às variações climáticas das diversas regiões. Dessa forma, socializamos um estudo sobre edificações modernas escolares, construídas nas décadas de 1960 e 1970 na cidade de Teresina, capital do Piauí, tendo como objetivo registrar as práticas projetuais executadas, sendo as escolhidas: a Unidade Escolar Paulo Ferraz (1966) e o Instituto de Educação Antonino Freire (1973), o que se justifica por suas características singulares como: fachadas sem adornos, pilotis, uso de brises, planta modulada e separação em blocos, uma vez que essas técnicas são relevantes para arquitetura local e eficientes até os dias atuais. Assim, para a elaboração deste trabalho utilizamos como base produções bibliográficas, levantamentos e estudos de caso sobre as edificações, tomando como orientação a história do Modernismo e os métodos de projeto adotados, com o propósito de salientar a preservação dessas obras como patrimônio histórico e memória da sociedade. Diante disso, a finalidade deste trabalho é contribuir para a documentação de importantes elementos arquitetônicos modernos da cidade, além de identificar o legado do Modernismo brasileiro, de modo a analisar sua presença em edificações escolares na capital piauiense, registrando suas particularidades, introduzindo a Arquitetura Moderna nos debates de preservação patrimonial, a fim de proporcionar o direito à memória para as gerações futuras como referência social e cultural, incentivando o reconhecimento e a apropriação dessas instituições como bens culturais do Estado do Piauí.

Palavras-chave: Arquitetura Moderna Escolas Arquitetura Piauiense Preservação Patrimônio Cultural


Feira do Patrimônio | 85

CONSERVAÇÃO DE JARDINS HISTÓRICOS: um diagnóstico da praça da Costa e Silva, em Teresina – PI Jessica Santiago Correia Rayla Fernanda de Meneses Marques

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Jardins Históricos Conservação Restauração.

Em decorrência do crescente desenvolvimento de políticas e ações para preservação patrimonial dos bens da sociedade verificado durante os últimos anos, destaca-se a preocupação com a forma de intervir nos patrimônios a fim de conservá-los, e, ao mesmo tempo, adaptá-los a usos da contemporaneidade, em contextos mais atuais, sem oferecer riscos à garantia dos direitos dos herdeiros dessa cultura a usufruir desses bens que tornam-se ícones de seu espaço e tornam-se representativos não só do tempo, mas do espaço. Memórias que representam história e identidade. A noção de patrimônio cultural não se restringe a bens edificados pelo homem, mas inclui a paisagem, tudo que a circunda e os demais exemplos de interação do homem com a natureza em contínua retroalimentação. Nesse sentido, o presente trabalho discorre sobre a questão do tratamento dos jardins no âmbito patrimonial internacional e nacional, dentro do contexto urbano, concentrando-se nos jardins históricos, versando sobre técnicas de conservação e restauro aplicadas aos mesmos enquanto patrimônio, enquanto paisagem e enquanto conjunto de seres com vida, que têm limitações suscetíveis a todos aqueles que vivem. Será abordado ainda um panorama histórico dos jardins no Brasil, dando ênfase ao paisagista brasileiro de maior destaque, Roberto Burle Marx. Por fim, o trabalho propõe um diagnóstico de um exemplar de jardim histórico em contexto regional, a Praça Da Costa e Silva, considerada único exemplo de espaço público existente na cidade de Teresina (PI) que projetado pelo renomado paisagista brasileiro Roberto Burle Marx e que teve e tem diversas significações dentro do contexto urbano do centro de Teresina e das épocas pelas quais sobreviveu.


86 | Feira do Patrimônio

Capítulo 04. Eixo_

patrimônio + educação


Feira do Patrimônio | 87

O PATRIMÔNIO CULTURAL DO ARQUIVO PÚBLICO DO PIAUÍ E A INTELIGIBILIDADE DAS FONTES PRIMÁRIAS PARA A HISTÓRIA DE PARNAÍBA Síria Borges

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Patrimônio Documental Arquivo Público do Estado do Piauí História de Parnaíba

Ainda que, institucionalmente, o Brasil não possua uma conceituação legal sobre o que venha a ser patrimônio documental, apresenta, através das finalidades e competências do Arquivo Nacional, as especificidades que difere o patrimônio documental de arquivos, associado a uma gestão de recolhimento, tratamento técnico, práticas de preservação, garantia de acesso à informação e incentivo a produção de conhecimento. Neste nexo normativo, os conjuntos de acervos documentais arquivísticos recebem a designação direta de patrimônio documental, muita embora, a alcunha, por si só, não respalde a eficácia absoluta da gestão documental, entrelaçada numa complexa dinâmica de propósitos sócio educacionais e culturais. A legislação aponta as características do patrimônio documental em decorrência da tipologia, mas são as ações patrimonialistas que, na prática, lhe dão movimento em direção a valorização cultural e ao diálogo com a sociedade. No caso do patrimônio documentação de arquivos, as consequências da patrimonialização expõem a qualidade das estratégias de proteção e difusão cultural, que trespassa todo o ciclo vital de sobrevida do acervo documental. Portanto, a patrimonialização, concebida, como um conjunto de mecanismos de atuação contínua, produz particularidades nas expectativas culturais que se desdobram em torno dos documentos na sua acepção de patrimônio. Ao avaliar a patrimonialização do patrimônio documental no Arquivo Público do Estado do Piauí, três interações cíclicas – materialidade do acervo, potência das fontes primárias e inteligibilidade das fontes oficiais para a História do Piauí – marcam a trajetória de avanços e retrocessos na sua gestão documental, de maneira que é possível apontar: a materialidade orgânica do acervo está em boas condições de conservação, embora a gestão esteja limitada pelos escassos recursos humanos e financeiros; a maioria das fontes primárias encontra-se em estado de latência, seja porque não são pesquisas, ou porque não tiveram intervenção arquivística de divulgação dos conteúdos; e, em relação à inteligibilidade das fontes oficias é patente o potencial para a reescrita da História do Piauí. Com ineditismo para a História de Parnaíba, a inteligibilidade das fontes primárias, especialmente, entre os séculos XVII ao XIX, indicam possibilidades de aprofundamentos e revisões historiográficas sobre distintos temas da região, tais como: navegação do Rio Parnaíba; fundação da Vila de Parnaíba; arquitetura religiosa; armamentos bélicos; epidemias; ações de piratas e corsários no litoral; conflitos indígenas, comércio fluvial, e trabalho escravo. Ademais, há argumentos para debater perspectivas de práticas patrimonialistas que interajam com a sociedade, de maneira pedagógica e com os princípios de cidadania, porque os arquivos, guardiões do passado, devem estar voltados para o presente.


88 | Feira do Patrimônio

DIAGNÓSTICO SOCIOCULTURAL: bairro São José, Parnaíba, Piauí Ivanilda Sá Quixaba Ferreira Rita de Cássia Moura Carvalho

Apresentamos estudos e ações realizadas no bairro São José na cidade de Parnaíba no Piauí materializadas em um diagnóstico sociocultural para construirmos pesquisa, documentação e comunicação da história do lugar, uma prática museológica que resultará em uma coleção de histórias e memórias do bairro, que formará o acervo do museu virtual da cidade de Parnaíba, projeto do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia da Universidade Federal do Piauí. Colaboraram com este trabalho inicial alunos do curso de graduação em Economia da referida universidade. Realizamos um levantamento sócio, econômico e cultural do bairro por meio da aplicação de questionários aplicados a 204 habitantes durante os meses de agosto e setembro de 2017. A pesquisa se justifica pela necessidade de construir um perfil dos moradores do bairro São José, emblemático para a história de Parnaíba e que integra uma das seis áreas do Conjunto Histórico e Paisagístico da cidade tombado em 2008, em nível federal, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Usamos as metodologias participativas, pesquisa qualitativa com aplicação de questionários com perguntas fechadas e abertas. Na segunda etapa do trabalho, fizemos a tabulação e interpretação dos dados. O que pretendemos com este diagnóstico é realizar um trabalho de introdução à museologia social, aproximar as comunidades académica e de bairro a partir de estratégias de estudos e intervenções museológicas no território. O desafio do trabalho foi o uso das metodologias participativas, a construção de um trabalho participativo e colaborativo. Dentre os nossos objetivos específicos destacam-se levantar dados sociais, econômicos e culturais sobre e com os residentes do bairro São José, construir um mapa cultural o território, registrar dados em forma de gráficos, para posterior análise e tomada de decisões. O resultado deste trabalho inicial estará disponível para consulta no Repositório Temático da Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, on-line e em suporte físico no Museu da Vila, sede do Mestrado, localizado no Bairro Coqueiro da Praia, litoral norte do Piauí. A prática museológica voltada à valorização das pessoas se justifica por criar expectativas positivas nos colaboradores deste projeto.

Palavras-chave: Parnaíba Patrimônio Cultural Museologia Social


Feira do Patrimônio | 89

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO PARA O PATRIMÔNIO, DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA Isadora dos Santos Paiva Maria de Fátima Pereira Alves

Palavras-chave: Educação Patrimonial Direitos Humanos Cidadania, Direitos Culturais Desenvolvimento Sustentável

Trata-se de um Projeto de Educação Jurídica Emancipatória a ser realizado no Bairro Coqueiro, município de Luís Correia, no Estado do Piauí, Região Meio-Norte do Brasil, situado em uma Área de Proteção Ambiental APA Delta do Parnaíba. A localização única e privilegiada desse território, somada à singular paisagem cultural permitem que as comunidades residentes tenham que lidar com diversas mudanças sociais, culturais e econômicas ocorridas nos últimos vinte anos, seja pela prática acentuada do turismo, que tem grande impacto não só na paisagem, mas também na economia local, nos saberes e fazeres e na vida familiar dos moradores, o que os processos de urbanização, imigração, multiculturalismo e globalização. Esses fatores e mudanças introduzidos pela modernidade não têm apenas trazido benefícios para os moradores, na medida em que os seus modos de vida e os ofícios tradicionais estão sujeitos a flutuações típicas de um território que vive do turismo intensivo, insustentável e que não tem protegido, de igual forma, o patrimônio local, natural e cultural, material e imaterial. Dessa forma, as dificuldades enfrentadas pelos residentes se somam e adensam as vulnerabilidades geográficas, econômicas, sociais e culturais, que se expressam em condições de vida deficitárias, que se refletem nas desigualdades de acesso à saúde e educação e ao exercício ativo da cidadania. Portanto, o intuito deste projeto é fomentar o diálogo e a consciência coletiva, fornecendo ferramentas que permitam à comunidade direcionar suas próprias escolhas e tomar decisões de forma orientada e digna a respeito do seu Patrimônio Cultural. Esse projeto se insere na linha de pesquisa “Patrimônio, Sociedade e Educação Museal” do programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia e busca sugerir, apontar caminhos para fomentar a participação comunitária e o acesso da sociedade às manifestações culturais e ao patrimônio cultural, entendendo a ação educacional como de fundamental importância para o desenvolvimento dos processos museológicos e para o próprio exercício pleno da cidadania. Através de um movimento de escuta à comunidade, de seus anseios, preocupações e principalmente perspectivas e desejos a respeito dos seus direitos culturais e patrimônio cultural, pretendemos que esses registros seja realizados nas oficinas de escuta e produção de materiais e serviços: panfletos, cartilhas, textos, imagens e vídeos, com conteúdos especialmente voltados às necessidades da comunidade do bairro Coqueiro, uma forma de materializar uma educação jurídica emancipatória, envolvendo discussões acerca das relações da comunidade e seu patrimônio com os Direitos Culturais, Direitos Humanos e Cidadania, usando o Direito como instrumento de transformação social. Esses desafios, por sua vez, estão intimamente conectados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas, que buscam alcançar, implementar e acompanhar a nível local e global, o desenvolvimento sustentável em suas três dimensões: social, econômica e ambiental.


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PROJETO GUARDIÕES DO PATRIMÔNIO CULTURAL Francisco dos Santos Moraes Áurea da Paz Pinheiro

Apresentamos o projeto-ação “Guardiões do Patrimônio Cultural”, associado ao Projeto Matriz “Ecomuseu Delta do Parnaíba”, do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, Campus Ministro Reis Veloso da Universidade Federal do Piauí, com sede na cidade de Parnaíba, Meio Norte do Brasil. O espaço e tempo eleitos para estudos e intervenções são o presente e o Bairro Coqueiro, Luís Correia, um dos dez municípios que integram a Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba. O Bairro abriga a sede do Mestrado e um núcleos do Ecomuseu, o Museu da Vila, sob a gestão da Universidade Federal do Piauí e Associação de Moradores. O realizamos é um conjunto de estudos e intervenções no campo da Educação Patrimonial e Museal, com foto na Museologia e Inovação Social, que nos permitem compreender de forma participativa os sentidos e significados da paisagem cultural do lugar, dos sentimentos de pertença - identidade, de uma comunidade de pescadores artesanais. Para este projeto elegemos como públicos a comunidade escolar, 15 alunos do sexto ao nono anos, com faixa etária entre 11 a 16 anos, estudantes da Unidade Escolar Carmosina Martins da Rocha e residentes no próprio Bairro, para a constituição de formação de um grupo de mediadores do Patrimônio Cultural, para atuar como multiplicadores de estudos e ações voltadas à pesquisa, documentação, comunicação, preservação e promoção do patrimônio cultural do lugar que habitam. O objetivo é sensibilizar para uma consciência política e cidadã, permitindo-os ampliar a importância social, econômica e educativa do patrimônio que detém. Como técnicas de pesquisa aplicamos a pesquisa-ação, a história oral e a educação e interpretação patrimonial, com destaque para o Manual de Aplicação dos Inventários Participativos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, associado ao conceito de Tecnologia Social da Memória, sobretudo o estudo publicado pelo Museu da Pessoa, com o apoio da Fundação Banco do Brasil.

Palavras-chave: Educação Patrimonial Guardiões do Patrimônio Cultural, Museologia Social.


Feira do Patrimônio | 91

AÇÕES EDUCATIVAS NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DELTA DO PARNAÍBA

Palavras-chave: APA Delta do Parnaíba Museologia Social Conservação Tartarugas Marinhas

Werlanne Mendes de Santana Áurea da Paz Pinheiro Fábio Estefanio Lustosa de Brito Lopes O Instituto Tartarugas do Delta é uma instituição não governamental que promove atividades de educação ambiental há mais de dez anos no litoral piauiense, o menor da costa brasileira (66 km) incluso na Área de Proteção Ambiental APA Delta do Parnaíba, uma Unidade de Conservação, categoria Uso Sustentável, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (LEI 9.985/2000). A APA Delta do Parnaíba é um território protegido por lei, criada em 1996, através de Decreto Federal, com uma área total de 313.809 hectares, o que inclui a área marítima que abrange os municípios de Parnaíba, Luís Correia, Ilha Grande e Cajueiro da Praia, no Piauí; Paulino Neves, Tutóia, Araioses e Água Doce, no Maranhão; Chaval e Barroquinha, no Ceará. A Unidade de Conservação possui um Conselho Consultivo com representantes dos dez municípios e um plano de manejo em processo de elaboração (2018). Trata-se de um território no qual a pesca artesanal e o turismo são principais atividades econômicas. Nesse contexto, podemos listar diversos conflitos de uso do território, o que inclui a prática do kite surf, circulação de veículos na praia, lixo descartado de forma inadequada, pesca predatória, ocupação desordenada da orla etc. As praias do litoral piauiense são áreas de desova de tartarugas marinhas com registro de ocorrência das cinco espécies ameaçadas de extinção, que frequentam a costa brasileira. As ações realizadas pelo Instituto são de monitoramento de praia, proteção de ninhos e atividades socioeducativas, como ciclo de palestras, oficinas, exposições e limpeza de praia, realizadas em parceria com o Serviço Social do Comércio, Piauí e o Programa de Pós-graduação, Mestrado Profissional, em Museologia, que contribuem para o reconhecimento das tartarugas marinhas como patrimônio natural dos municípios de Parnaíba (LEI n° 3.100/2016) e Luís Correia (LEI n° 859/2016) e Lei Estadual (LEI n° 6.884/2016), que Institui o “Dia Estadual da Conservação da Biodiversidade Marinha e Costeira” e declara Patrimônio Natural do Estado do Piauí, o peixe-boi, a tartarugas marinha e o cavalo-marinho. Ao longo do trabalho, confirmamos a importância de promover ações continuadas de sensibilização que permitam o contato entre as pessoas e o ambiente, de forma a facilitar a construção de conceitos sobre sustentabilidade e possibilitar a percepção das dinâmicas humanas e a consequências dos conflitos sociais em prol do desenvolvimento local. Nesse trabalho, a tartaruga marinha é apenas um elemento que simboliza a necessidade de cuidar do ambiente para garantir a saúde ambiental e a qualidade de vida para as pessoas que vivem neste território.


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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: uma realidade nos livros de ensino de jovens e adultos no ensino fundamental Sandro David Bezerra do Nascimento Lourdinan Hévellyn Gomes Barbosa

Trabalhar com a categoria Patrimônio na escola, no processo de ensino-aprendizagem, é reconhecer e valorizar as manifestações culturais dos territórios onde vive a comunidade escolar. A didática de ensino da arte no programa de Educação de Jovens e Adultos, especialmente nos anos finais do ensino fundamental, no permite criar estratégias, atividades para despertar e promover com os estudantes habilidades e competência para conhecer, compreender e encontrar soluções no cotidiano para a proteção do patrimônio cultural, aprender a conhecer, um pilar da educação. Alunos maiores de quatorze anos podem vivenciar conceitos como patrimônio cultural, memória, história, cidadania, sustentabilidade, que permite enfrentar desafios na educação desses públicos. Na disciplina Artes, esses conceitos são contextualizados e ilustrados, adequando a dosagem de acordo com cada etapa do ensino. Dentre os conteúdos abordados tratamos das políticas públicas de proteção do patrimônio cultural, o conceito de patrimônio cultural e suas classificações: material e imaterial. Nos livros didáticos, os autores enfatizam essa classificação, detalhando os motivos das tipologias. Os alunos se surpreendem ao conhecerem a o conceito e exemplos de patrimônio imaterial, ao perceberem que no lugar que vivem há uma infinidade de bens culturais a serem conhecidos e valorizados, e que devem reconhecer a importância da preservação desse patrimônio. Reconhecemos o papel social das políticas públicas de educação patrimonial, do Ministério da Educação de tornar possível a inserção dessa temática no ensino, mas sentimos falta de outras disciplinas abordarem temas e problemas associados ao patrimônio cultural. O livro didático para alunos do Programa de Educação de Jovens e adultos, obra coletiva da Editora Moderna é nossa fonte de pesquisa, assim como o relatório da UNESCO sobre Educação para o Século XXI. Faremos neste trabalho um apanhado da Educação Patrimonial presente nos livros didáticos que tratam do patrimônio cultural.

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Educação Patrimonial Educação de Jovens e Adultos


Feira do Patrimônio | 93

PARTIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA APA DELTA DO PARNAÍBA: achados preliminares em uma pesquisa de iniciação científica júnior

Palavras-chave: Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba Patrimônio Cultural

João Vitor Carneiro Castro Sthefany dos Santos Brazil Ivaldo Freitas Cardozo Márcia Regina Soares de Araújo

Apresentamos resultados preliminares do projeto de Iniciação Científica Júnior (PIBIC Jr), que versa sobre a participação comunitária na Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do Parnaíba. A presente pesquisa, nesse sentido, considera que a participação da comunidade local reforça os valores sociais locais. O percurso metodológico ora apresentado pauta-se em um levantamento bibliográfico e documental, observação direta, registro fotográfico, análise e discussão a partir dos dados obtidos. Na atual fase da pesquisa, foi possível compreender o contexto de criação das Unidades de Conservação no Brasil, em particular da APA Delta do Parnaíba, além de compreender as bases do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. No intuito de aproximar e promover a disseminação de conhecimentos para os discentes do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Campus Parnaíba sobre a temática em tela, foram realizadas palestras com os dirigentes locais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e os alunos bolsistas pesquisadores do projeto. Até o momento, a análise dos documentos dão conta de que as demandas registradas nos relatórios do conselho consultivo da APA, ressaltam os seguintes temas representativos de demandas locais: necessidade de democratização da informação ao cidadão, atividades de ecoturismo, coleta e destino do lixo, sobretudo o hospitalar, efetivação da Educação Ambiental com envolvimento dos professores, desmatamento, pesca predatória, impactos gerados pela usina eólica à população local, caça. Observamos que esses elementos expostos nos relatórios são recorrentes. A partir da realização das análises documentais ressaltamos a importância da participação comunitária como um fio condutor de processos de manejo de recursos naturais e desenvolvimento sustentável. Assim, os atores locais têm a possibilidade legítima de serem chamados a tomar parte no seu lugar de decidir, na condição de agentes no processo de conformação de áreas como a APA Delta do Parnaíba, com o compromisso de proteção dos recursos ambientais, culturais.


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ESCRITÓRIO MODELO: educação patrimonial em prática Mariana Monteiro Scabello | Keila de Araújo Carvalho Clara Gaze Fabris Guerra | Marjorie Brito de Oliveira Marques | Neuza Brito de Arêa Leão Melo No Brasil, o tema do respectivo trabalho, educação patrimonial, passou a fazer parte das discussões teóricas e acadêmicas apenas nas últimas décadas, tornando-se um campo de reflexão relativamente novo, embora, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tenha manifestado desde sua criação, em 1937, a importância da realização de ações educativas como estratégia de proteção e preservação do patrimônio. A educação patrimonial é um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural, que busca levar crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens. Dessa forma, percebendo a importância da educação para a preservação da herança regional e, assim, da identidade de determinado grupo, o Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Camillo Filho, coordenado pelas professoras Luciene Cardoso e Neuza Melo, passou, a partir de 2012, a desenvolver o trabalho envolvendo educação patrimonial, com os docentes da graduação e alunos das escolas públicas e privadas na faixa etária entre 8 e 11 anos, na cidade de Teresina. Na trajetória do Escritório Modelo foram realizadas diversas ações, como intervenções no centro da cidade, atividades educativas dentro das escolas, aulas passeios e produção de jogos pedagógicos afim de contribuir para o reconhecimento, valorização e preservação dos patrimônios locais e regionais. Percebeu-se neste processo a falta de material didático voltado para o patrimônio teresinense que pudesse auxiliar os envolvidos na sensibilização com o tema. Dessa forma, iniciou-se a elaboração de um material próprio, produzido pela turma de graduandos que participaram do Escritório no primeiro semestre de 2017. A estratégia da chamada Cartilha Patrimonial foi baseada em trabalhos já desenvolvidos anteriormente em menor escala. Assim, a intitulada “Os Caminhos de Teresina: conhecendo o patrimônio” reúne todas as regiões da cidade onde ocorreram ações feitas pelas turmas do Escritório: Praça Marechal Deodoro, Praça Saraiva, Praça Pedro II, Avenida Frei Serafim e seus entornos imediatos. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e documental em artigos e livros voltados para o tema que forneceram o suporte teórico para a produção dos textos. O conteúdo foi adaptado para o público infantil através de recursos visuais e didáticos que tornaram o material mais dinâmico e criativo, tornando divertido o processo de aprender. Os personagens Zé Menininho e Teresinha, desenvolvidos no primeiro ano do escritório e abordados com uma nova roupagem neste trabalho foram fundamentais para contar a história da cidade. Na cartilha, eles percorrem o centro de Teresina conhecendo suas praças e os edifícios históricos que as circundam. Os textos referentes a cada edifício ou lugar foram divididos em três tipos de conteúdo - história, características arquitetônicas e existência ou não de proteção - tudo de forma lúdica, adequando-se ao público-alvo. O material didático desenvolvido poderá ser usado nas escolas como suporte dentro de sala de aula no ensino do patrimônio, o que se configura com uma estratégia essencial para a preservação através da identificação e valorização por gerações presentes e futuras.

Palavras-chave: Educação patrimonial Escritório Modelo Cartilha Escolas Públicas e Privadas.


Feira do Patrimônio | 95

INVENTÁRIO PARTICIPATIVO: Os modos de saber-fazer associados ao trançado em palha de carnaúba - Ilha das Canárias Samira Amara Gomes Alves Áurea da Paz Pinheiro

Palavras-chave: Patrimônio Cultural Inventário Participativo Delta do Parnaíba Museu de Comunidade

O objetivo deste trabalho é apresentar pesquisa-ação realizada na comunidade Canárias, um dos cinco povoados que integram a Ilha das Canárias, uma das mais de setenta ilhas localizadas no Delta do Parnaíba, Meio Norte do Brasil. Ao longo de 2015 e 2016 realizamos um Inventário Participativo com artesãos/ãs locais sobre os modos de saber-fazer relativos aos trançados em palha de carnaúba, especificamente de um artefato de pesca artesanal – Uru, um cesto usado para o transporte de peixes. O Inventário pretende contribuir para o conhecimento, reconhecimento, valorização e promoção desse rico patrimônio cultural de natureza imaterial, reconhecido pelas pessoas do lugar, que desejam a sua proteção e promoção. Ao longo do trabalho conseguimos formar um grupo de onze artesãos e artesãs, e dignificar as relações entre a comunidade e o patrimônio cultural remanescente de populações indígenas. A construção do trabalho foi realizada de forma colaborativa e criativa, ancorado na partilha entre a pesquisadora e os/as detentores/as dos saberes; juntos/as propusemos soluções para a proteção e promoção daquele Patrimônio Cultural. Para este estudo-intervenção propusemos o trabalho com um artefato da pesca – o Uru, cuja matéria-prima é a carnaúba, uma palmeira típica do vale do Rio Parnaíba. Tal artefato foi escolhido em virtude de sua expressiva marca cultural, de memória e história associadas ao território; também visto ser produzido com matéria-prima natural desde populações autóctones até os dias atuais, e, ainda, por ser possível encontrar um número, mesmo que limitado, de mestres locais que detém e praticam os saberes associados às artes de trançar e produzir artefatos de uso doméstico e para a pesca.


96 | Feira do Patrimônio

ESTUDOS E PROPOSTAS PARA A QUALIFICAÇÃO DA AÇÃO EDUCATIVA E CULTURAL DO MUSEU DO PIAUÍ Herica Regina Vieira Santos Ana Rita Antunes

Neste trabalho apresentamos resultados de uma pesquisa-ação desenvolvida no Setor Educativo do Museu do Piauí, Casa de Odilon Nunes, museu estadual, sob a gestão da Secretaria de Estado de Cultura do Piauí, de vocação histórica, localizado no Centro Histórico de Teresina, capital do Piauí, Brasil. O objeto de investigação e ação esteve centrado na Ação Educativa e Cultural do Museu. A partir das investigações realizadas, elaboramos um mapeamento que representa um estudo mais aprofundado sobre esse serviço, em termos de sua estrutura e desenvolvimento, com o intuito de verificar a atual situação da área educativo-cultural da Instituição. Para tanto, estudamos alguns dos elementos-chave do serviço, tais como recursos humanos, materiais e financeiros, concepções teóricas e práticas, abordagem pedagógica, orientação teórico-metodológica de ação e referências, programas e serviços, projetos, ações, atividades e equipes, para compreender sua realidade e particularidades, potencialidades e fragilidades. Com base nesse estudo e nos pressupostos da Museologia, construímos, com o auxílio de educadores do Museu, estratégias para atender algumas das necessidades constatadas a partir das análises; dentre elas, enfatizamos o delineamento ou estruturação de um perfil educacional fundamentado em documentos norteadores e no gerenciamento mais eficiente das ações. A partir, sobretudo, dessa constatação, apresentamos alguns contributos para a qualificação dos trabalhos, dos quais se destacam os subsídios iniciais para o desenvolvimento de uma Política Educativa para o Museu, uma proposta de sistema de gerenciamento, um caderno de apoio pedagógico para professores e apontamentos para a elaboração de um Programa Educativo e Cultural. Este trabalho é resultado do Trabalho Final de Mestrado em Museologia da Universidade Federal do Piauí.

Palavras-chave: Museus Ação Educativa e Cultural Museu do Piauí


Feira do Patrimônio | 97

ESCOLA, PATRMÔNIO CULTURAL E MUSEU Áurea da Paz Pinheiro Adriana Santos Brito

Palavras-chave: Escola Patrimônio Cultural Educação Patrimonial Museu

O projeto-ação teve o objetivo de construir de forma participativa e colaborativa, envolvendo educadores e estudantes da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Piauí, uma intervenção de natureza experimental de educação e didática do patrimônio cultural, como forma de sensibilizá-los para conhecerem e reconhecerem o rico e complexo patrimônio cultural da cidade que habitam - Parnaíba, no litoral norte do Estado do Piauí. A área de estudos e ações foi o Conjunto Porto das Barcas, que integra o Conjunto Histórico e Paisagístico de Parnaíba, tombado em 2008 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Por ser um trabalho de natureza experimental no ensino-aprendizagem, as atividades foram realizadas com uma turma de quinto ano do Ensino Fundamental no turno manhã durante o mês de outubro de 2016. Pelo fato da inexistência de ações de educação patrimonial em uma cidade tombada como Parnaíba, justificamos a realização de um trabalho desta natureza, recomendado pelos órgãos de proteção ao patrimônio cultural do Brasil. Por seu caráter interdisciplinar e multiprofissional deste trabalho, o vinculamos à Linha de Pesquisa patrimônio, sociedade, educação e museus. Como resultado produzimos uma Cartilha de Educação Patrimonial que será entregue nas escolas na rede pública municipal e estadual de ensino fundamental de Parnaíba. Esse trabalho tem como parceiros a Universidade Federal do Piauí por meio do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia. destaca-se a importância do trabalho com o patrimônio cultural nas escolas, de forma que se permita uma interação por meio da conscientização para o conhecimento, reconhecimento, preservação e divulgação dos patrimônios e a cultura local. Uma vez que a união da educação com o patrimônio cultural torna-se um fator diferencial para a formação e ampliação dos conhecimentos a serem adquiridos pelos alunos, por meio de ações educativas, onde percebem-se inúmeras possibilidades de inclusão das questões associadas ao patrimônio cultural na escola referenciando ações educativas, culturais e históricas que perpassam o ambiente da comunidade escolar a partir da transversalidade das disciplinas.


98 | Feira do Patrimônio

MODOS DE SABER-FAZER ASSOCIADO À PESCA ARTESANAL NAS COMUNIDADES DO ESTUÁRIO DOS RIOS TIMONHA E UBATUBA, PI E CE Ana Maria Brandão de Oliveira Cristiana Brandão de Oliveira Najara dos Santos Andrade

Apresentamos atividades de ações de Educação Ambiental no contexto do Projeto Pesca Solidária, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Socioambiental. O objetivo do trabalho é colher e registrar histórias de pescaria, vivências, lendas, artes de pesca utilizadas pelos pescadores da região do estuário dos rios Timonha e Ubatuba. A atividade ocorreu no período de janeiro a junho de 2015, nas seguintes comunidades: Cajueiro da Praia (sede), no Piauí; no Ceará, Barroquinha (Bitupitá e Chapada) e Chaval (sede). Utilizamos formulários de identificação, metodologia participativa e observação direta. Os registros foram feitos com recursos audiovisuais. Entrevistamos pescadores e marisqueiras mais velhos de cada localidade. Foram 66 participantes, sendo 41 homens (62%) e 25 mulheres (38%). Recolhemos 70 histórias, sendo em Cajueiro da Praia – PI, 16 histórias; na comunidade de Bitupitá – CE, 23, em Chaval – CE 22, em Chapada – CE, 9. Os depoentes mencionam a aparição de assombrações em meio as pescarias, assim como relataram conhecimentos dos mais antigos acerca do nome dado às comunidades, como é o caso de Cajueiro da Praia, onde um grupo de pescadores avistaram um enorme Cajueiro na praia; em Bitupitá, os entrevistados ainda relatam que o nome da comunidade tem origem indígena e quer dizer “ pancada de vento em montanha de areia”. Relatam também que o conhecimento acerca das práticas pesqueiras e mariscagem advém dos mais velhos e que os modos de saber-fazer é transmitido de geração a geração oralmente. Quando questionado acerca dos petrechos de pescas foram citados a rede de emalhe para as comunidades de Cajueiro da Praia e Chaval; a linha foi mencionada como a mais citada para a comunidade de Chapada; em Bitupitá a arte de pesca utilizada é curral (símbolo da comunidade pesqueira). Os relatos foram registrados e produzida uma cartilha com todos estes saberes tradicionais das comunidades trabalhadas no estuário dos rios Timonha e Ubatuba, divisa entre Piauí e Ceará, visando subsidiar políticas públicas de conservação local, bem como a importância de se preservar a biodiversidade e a cultura das mesmas, uma vez que estão inseridas em Área de Proteção Ambiental (APA).

Palavras-chave: Etnoconhecimento Vivências Área de Proteção Ambiental


Feira do Patrimônio | 99

“EU BENZO COM A PALHA MINHA FILHA, A PALHA JA NASCEU SANTA” Magda Raiza da Silva Mota

Palavras-chave: Museologia Inovação social Patrimônio Cultural Piauí

As rezadeiras são um grupo de mulheres que surgem a partir do hibridismo católico popular, que se denominam católicas, e que utilizam suas crenças e seus conhecimentos de medicinas tradicionais para doenças que caminham entre a fronteira de males mágicos e sua cura através de determinadas plantas. As rezadeiras adquirem, em sua experiência prática, conhecimentos sobre raízes, ervas e outros elementos da natureza, sabendo combinações específicas para cada necessidade, prescrevendo-as com base em seu próprio saber ou sob a inspiração de entidades mágicas e espirituais que porventura participem dos processos de cura, usos e costumes tradicionais que a comunidade abraça como sagrado e simbólico para alcançar a cura do corpo e espirito. A reza e a benzeção realiza um dos momentos mais importantes da medicina popular, chegando onde a medicina cientifica não chega. Essa tradicional prática de cura é transmitida de geração a geração por pessoas que acreditam terem recebido um dom divino e que se dedicam a ajudar os outros, tratando males do corpo e da alma. São rituais que se utilizam símbolos, palavras, gestos, simpatias com a finalidade do restabelecimento da saúde A etnobotânica utilizada nesse trabalho, buscará entender a interação entre o natural e o cultural. Como essas mulheres utilizam elementos, muitas vezes cultivados em seu quintal, como parte de seus rituais. Desde ramos verdes, palhas, água (benta ou não), entre outros utilizados no ato do benzimento, mas que sincronicamente utiliza a elaboração de chás de ervas, pomadas de banha, óleos caseiros, garrafadas, entre outros, como parte da prática da cura.


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(RE)CONSTRUINDO O TURISMO CULTURAL PIAUIENSE: MAPEAMENTO E ANÁLISE DAS ROTAS ARQUITETÔNICAS, MUSEOLÓGICAS E ARQUEOLÓGICAS DO PIAUÍ Víctor Veríssimo Guimarães Taynan D. F. R. C. Nunes

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito da disciplina Perspectivas Contemporâneas em Arquitetura e Urbanismo do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Estácio de Teresina. Propomos estudos, que avançaram para experiências no campo do turismo arqueológico, arquitetônico e museológico do Estado do Piauí, Brasil. Como primeira compreensão dessa temática, foi realizado um diagnóstico das principais experiências de turismo em sítios arqueológicos e centros históricos do Estado, a partir de levantamento bibliográfico, consulta a páginas na internet, que divulgam lugares como atrativos, conteúdos jornalísticos e arquivos apresentados na rede pelo Centro Nacional de Arqueologia (CNA) sobre projetos de socialização de sítios arqueológicos que envolvem o uso turístico. A presente pesquisa foi desenvolvida tendo como principal objetivo identificar os problemas e experiências positivas associadas ao material gráfico utilizado como turismo do patrimônio cultural piauiense, buscando elementos para subsidiar propostas de políticas de preservação do patrimônio com uso turístico. Mapas temáticos foram frutos do trabalho final, que remontam à especificidade das áreas de estudo, paralelamente com o mapeamento dos edifícios e sítios de maior relevância arquitetônica e histórica com uso de fotografias e análises críticas para fomentar práticas de educação patrimonial. Para atingir os objetivos propostos realizamos, além de levantamento bibliográfico, um estudo de caso sobre o turismo cultural em sítios rupestres e centros históricos com grande valor arquitetônico. Os sítios rupestres, Setes Cidades e Serra da Capivara foram escolhidos como recorte para a pesquisa devido ao potencial que apresentam para a atividade turística, sendo frequentemente divulgados como atrativos. Entre os centros históricos, foram escolhidos o de Teresina, Parnaíba e Oeiras, que apresenta um grande valor arquitetônico.

Palavras-chave: Turismo arqueológico e arquitetônico piauiense Patrimônio cultural piauiense Produção gráfica independente Educação Patrimonial


Feira do Patrimônio | 101

COMUNIDADE, CIDADANIA E MUSEOLOGIA SOCIAL

Flaviana Veras Fátima Alves

Palavras-chave: Museologia Inovação social Patrimônio Cultural Piauí

O presente trabalho surgiu como um dos produtos do projeto–ação COMUNIDADE, CIDADANIA E MUSEOLOGIA SOCIAL que integra o PROJETO MATRIZ | ECOMUSEU DELTA DO PARNAÍBA | MUDE sob a coordenação do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia (PPGAPM), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), CampusMinistro Reis Veloso (CMRV), localizado na cidade de Parnaíba. O território de estudos e intervenções do PPGAPM é a Área de Proteção Ambiental - APA Delta do Parnaíba. A base é o conceito de Ecomuseu, que se forma a partir de uma rede de museus autônomos mas ligados entre si. Dentre os objetivos da intervenção que realizamos esteve a de mobilizar a comunidade para ter direitos a uma gama de serviços e profissionais de diversas áreas das estruturas municipais, estaduais e da rede privada, bem como oferecer à comunidade a possibilidade de participar dos serviços básicos do Município e de outras instituições parceiras. Buscamos a valorização do respeito ao patrimônio cultural local, estimular a participação das famílias e proporcionar aos residentes atividades educativas, culturais. A intervenção social e política no campo da museologia social, nos faz crer na construção de uma rede ligada a equipamentos culturais – os museus, que potencializam a instrução das populações, que lhes permite participar da gestão dos próprios patrimônios, a entenderem e valorizarem o espaço que modificam cotidianamente em suas relações com o meio ambiente e com a paisagem cultural. A importância da ação social se justifica no fato de se configurar como espaço de transformação social e de colaboração para a construção de novas formas de convivência e estabelecimento de relações entre as pessoas, entendida como lugar de exercício da cidadania e da liberdade. Como ação em parceria com a Associação de Moradores do Bairro Coqueiro, Universidade Federal do Piauí (UFPI), através do Programa de Pós-graduação em Artes, Patrimônio e Museologia (PPGAPM) e demais instituições públicas e privadas, revelou o potencial dos diálogos entre empresas públicas, privadas e sociais. Como parte do projeto de revitalização da antiga Unidade Escolar João Pinto, que abriga o Museu da Vila e sede do Mestrado está esta ação social, de natureza público-privada-social, garantimos serviços de museologia e inovação social à comunidade do bairro Coqueiro e entorno. A ação levou à população diversos serviços gratuitos, de promoção em saúde, campanhas preventivas, assistência social, atividades educativas para a difusão de informações sobre o patrimônio cultural, oficinas de arte e artesanato, exposição sobre Artes de Pesca | Mestres do mar, com a colaboração dos Guardiões do Patrimônio, jovens entre 9 a 16 anos que atuam na defesa do patrimônio local. O Bairro Coqueiro está localizado no município de Luís Correia, norte do Estado do Piauí, Meio Norte do Brasil, Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, que se caracteriza por sua biodiversidade. O Bairro surgiu como uma vila de pescadores e abriga uma comunidade com valores, costumes e tradições que se transformam cotidianamente com a modernização da sociedade. Ao elegermos como campo de estudos a Museologia Social, a nossa imersão na comunidade parte da percepção das pessoas, de seus problemas, do desejo de contribuir para o autoconhecimento e inclusão social; desenvolver reflexões sobre as formas garantir a sustentabilidade social, ambiental e econômica, com o envolvimento da comunidade.


102 | Feira do PatrimĂ´nio


Feira do Patrimônio | 103

associação de moradores


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