Terras de Antuã - Histórias e Memórias do Concelho de Estarreja

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TERRAS DE ANTUÃ | HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO CONCELHO DE ESTARREJA

Resta referir duas honras, bem identificadas nas Inquirições de 1284 (sentença). Num caso a Quintã de Canelas, de Afonso Nunes Doutiz, que trazia-la por honra com toda a aldeia de Canelas e Fermelã (11 casais seus mais 1 do Mosteiro de Grijó). Noutro caso Fernão Gonçalves e João de Tooz traziam por honra a aldeia do Roxico, onde existiam 5 casais do Mosteiro de Grijó e 2 de Santa Cruz de Coimbra. 3.3. JULGADO DE PARDELHAS Num documento sucedâneo das Inquirições de 1220 informa-se possuir o Mosteiro de Vila Cova 9 casais na Vila Marinha de Salgueiro, cuja localização tem sido atribuída à Saldida/Pardelhas. Nenhum outro documento do século XIII dá nota deste ou outros proprietários em Pardelhas até ao final do século XIII. Mas esta é a única localidade na região onde consta mais tarde ter tido propriedades este Mosteiro, sendo aliás o principal proprietário local. O Mosteiro do Salvador de Vila Cova de Sandim, ou das Donas (c. Vila Nova de Gaia), cuja existência está documentada desde 1081, era constituído por monjas beneditinas56 e pertenciam-lhe escassos bens. Em 1518 iniciou-se no Porto a construção do Mosteiro de S. Bento da Ave Maria (no local da actual estação dos caminhos-de-ferro), destinado a acolher as religiosas de quatro mosteiros da região (Rio Tinto, Tuías, Vila Cova das Donas e Tarouquela), que deram entrada na nova instituição em 153557. Por este motivo o Mosteiro de Vila Cova, e depois o de S. Bento, possuíam as terras de Pardelhas. 3.4. JULGADO DE ANTUÃ Dos tributos devidos ao Rei pelos homens de Antuã dão conta as Inquirições de 1220, onde há notícia de pagar-se a quarta do pão e do linho e a quinta do vinho, somando-se a renda acessória, ou direitura, constituída de vários bens de quantitativo certo. A Rainha D. Mafalda incluiu no seu testamento, datado de 1256, todas as éguas que possuía em Antuã, que é a mais antiga referência à criação de gado cavalar na região, talvez destinado à máquina de guerra do reino. No ano seguinte (1257) as terras de Antuã e Avanca foram coutadas por D.Afonso III e entregues ao Mosteiro de Arouca, que nas décadas posteriores fomentou a sua valorização, designadamente através de aforamentos colectivos. A fronteira do couto tinha a sua artificialidade, uma vez que na sua própria doação se refere haver herdades em Santiais de homens de Antuã e herdades em Antuã de homens de Santiais, do que cada qual ficou pagando de cada terra ao senhor respectivo. Por outro lado, embora fora dos limites do couto, eram devidos tributos ao Mosteiro de Arouca em Salreu e Canelas, que logo em 1284 seriam contestados58. As terras que hoje conhecemos como de alta produtividade agrícola e baixa altitude, próximas da Ria de Aveiro e principal repositório da sua biodiversidade, já estavam suficientemente emersas no século XIII para serem as mais valorizadas. Na verdade realizaram-se nesse século

56 - MATTOSO, José – “Documentos Beneditinos da Torre do Tombo”, Lusitânia Sacra, Tomo VIII (1967/1969), ed. 1970, p. 267; SOUSA, Bernardo Vasconcelos e (Dir.), PINA, Isabel Castro, ANDRADE, Maria Filomena, SANTOS, Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva – Ordens Religiosas em Portugal: Das origens a Trento – Guia Histórico, Livros Horizonte, 2005, p. 80. 57 - SOUSA, Bernardo Vasconcelos e (Dir.), cit., p. 87; MATTOSO, José, cit., pp. 261-264. 58 - Disso damos conta mais pormenorizadamente no capítulo respeitante ao julgado de Figueiredo.

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