Mundo Universitário - Edição 186

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SOCIEDADE. O que os estudantes universitários pensam da situação actual do país

«Eliminava esta classe polít

Afirmam que votam sempre, mas estão desiludidos com o estado do País e acreditam que só uma reforma completa do sistema resolveria os problemas que os p a cultura e o desemprego, os universitários não têm esperança quanto ao futuro, mas ideias não lhes faltam para tirar Portugal da fossa em que se encontra. No r dos estudantes sobre a situação económica e política do momento e as suas expectativas para o que aí vem. Criar um novo sistema político

Texto: Andreia Arenga Fotos: Graziela Costa

Foi à saída do metro da Cidade Universitária que encontrámos o Igor Furão. Ficámos a saber que o Igor tem 27 anos e que vota sempre que há eleições, mas não está satisfeito com o que se passa à sua volta. «Está tudo simplesmente a desmoronar-se. Não estou nada confiante que as coisas possam mudar. Neste momento a solução da democracia parlamentar não está a resultar e teria que haver ou uma reforma ou a implementação de um sistema completamente diferente», diz o estudante de mestrado em Estudos Comparativos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. As questões que mais o preocupam são a educação e a cultura, e acha que é nessas áreas que é preciso investir mais.

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Um pouco mais à frente, junto à Faculdade de Letras, conhecemos o Diogo Cardoso, estudante de Estudos Artísticos e Artes do Espectáculo. Estava a conversar hiperactivamente com duas colegas sobre o alinhamento do festival Optimus Alive!, por isso, com certeza também seria capaz de nos dar a sua opinião sobre a situação do País. «Quem sai da faculdade não tem perspectivas de futuro favoráveis ao curso que tira», diz Diogo, preocupado com o que o espera quando terminar a licenciatura. Além daquilo que o toca pessoalmente, Diogo considera que outro dos problemas graves é a questão da divída pública. «Não cumprindo o défice não saímos da recessão. O FMI já cá esteve e ficámos melhor. Mas sem dúvida que também traz contrapartidas. Tudo depende de como as coisas forem geridas e da aplicação dessas medidas.

As pessoas não se revêem nos ideais deles, os discursos estão gastos, são sempre as mesmas caras e isso desacredita os partidos e as medidas. Diogo Cardoso, estudante na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

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Laurent Duarte 25 anos Estudante de Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa «Para mim, um dos maiores problemas é a corrupção. Quem tem mais consegue sempre mais e quem tem menos nunca tem nada. E cada vez mais existe essa discrepância. Isso acontece porque as pessoas que mandam no País e que têm cargos bastante elevados, em empresas e não só, controlam isto tudo. Faz parte da mentalidade portuguesa. As coisas mudariam se houvesse um partido ou alguma entidade governamental que fosse diferente e que não se regesse pelos mesmos ideais políticos que existem. Tinha que ser uma coisa feita de raiz porque quando uma pessoa entra para a política já está contaminada. Não é por mais PEC ou menos PEC que a economia vai recuperar.»

Claro que a longo prazo isso nos vai custar o pagamento desses empréstimos», diz freneticamente, à medida que gesticula com o resto do corpo. Tal como o Igor, as expectativas do Diogo para o novo Governo são duvidosas. Está desiludido e não sabe o que esperar. Na sua opinião, há questões, como por exemplo as políticas para a saúde, que não ficaram bem esclarecidas em nenhum dos debates. Mas se o Diogo fosse primeiro-ministro começava do zero. «Eliminava esta classe política, toda! Pegava nos partidos, escolhia as

pessoas mais eficientes e o melhor de cada um e formava um governo de coligação. E acabava com esta questão dos ‘presidencialismos’. Não há rotatividade, as pessoas não se revêem nos ideais deles, os discursos estão gastos, são sempre as mesmas caras e isso desacredita os partidos e as medidas. Por isso é que eu não acredito em partidos, acredito em pessoas».

Na escadaria da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Ana Pedro e a Ana Louro esperam pelo amigo

que as vem buscar para irem almoçar. Quando lhes dizemos ao que vimos, torcem o nariz. Parece que falar de política antes do almoço não é propriamente bom para abrir o apetite, mas mesmo assim as bolseiras na área de geografia partiham connosco a sua opinião. «Não estamos nada confiantes. Devemos ser muito pessimistas porque não vemos nenhuma solução», afirmam. Dizem estar sobretudo preocupadas com a situação dos bolseiros como elas e que o facto de estarem sempre dependentes dos apoios na sua área de estudos é bastante complica-

do. «Estamos sempre no meio da confusão em relação aos ordenados.» Quanto a soluções, as duas colegas nunca pensaram no assunto. Concordam que o País precisa do dinheiro do FMI, mas acreditam que os juros são altíssimos e que vai ser difícil recuperar a economia. «Tirando o facto de que o que vamos pagar a mais ser uma enormidade completamente absurda, nós precisávamos do dinheiro. A comparar com os empréstimos dos outros países acho que estamos a ser roubados. Por outro lado o FMI vem trazer algumas regras que poderão ser favoráveis».

Ana Louro e Ana Pedro

Diogo Cardoso

Igor Furão

Soluções ao fundo do túnel?


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