Revista Mundo Contemporâneo | 12ª Temporada | 3ª Edição

MUNDO CONTEMPORÂNEO JANEIRO 2021 | 3ª EDIÇÃO

política a chave da política poderá estar nos jovens? vacinação

desporto diego maradona racismo: O grande vírus do desporto

sociedade Carina d´el monte projeto akredita + e7g

EDITORIAL __________________________________________________ Embora o ano seja novo, algumas problemáticas mantêm-se. Nesta terceira e última edição, na secção Internacional são abordadas temáticas que não deixam de ser preocupantes, como o sequestro de um grupo de estudantes nigerianos, os campos de concentração chineses e a controvérsia ao redor da vitória de Joe Biden. Já na secção de Economia, realça-se os efeitos da pandemia refletidos no desemprego e no turismo em Portugal.

Com as eleições à porta, na secção de Política explanamos o desinteresse pela política por parte dos jovens portugueses e a visão dos partidos referente à vacina da Covid-19. Ainda no contexto da pandemia, na secção Ecologia, evidenciamos as alterações climáticas e como evoluíram neste novo paradigma. Dentro desta categoria, falamos também na reinserção dos linces na natureza.

Na vertente de Cultura, Carolina Deslandes lança “Mulher” para alertar para os casos de violência contra as mulheres, e, nesta onda de sensibilização, expomos o projeto da Refood.

Na área da Saúde, decidimos focar o bem-estar humano, escrutinando temáticas relativas às dietas absurdas, e destacando a boa alimentação e os hábitos de sono.

Na secção de Sociedade, encontram-se detalhes sobre um festival solidário realizado em Quarteira e uma entrevista com a Drag Queen Carina D’el Monte. No seguimento do tópico de subculturas, entrevistámos um membro da comunidade gótica na vertente de Lifestyle. Abordámos, também, as superstições arcaicas para um novo ano.

Já em Desporto, expomos a controvérsia racial nesta área e o perfil do famoso jogador de futebol, Diego Maradona. É com muito orgulho que acabamos esta terceira edição. Foi um caminho trabalhoso, mas bastante gratificante de percorrer que, sem dúvida alguma, ficará na nossa memória. Agradecemos, mais uma vez, à professora Aurízia Anica pela sua colaboração, apoio e oferta de uma oportunidade única; e a todos os envolvidos na pesquisa, escrita e montagem desta revista.

FICHA TÉCNICA __________________________________________________ Diretor: Daniel Jacinto; Subdiretores: Beatriz Almeida e Mariana Rocha Design: Catarina Marreiros, Catarina Pinto, Inês Saleiro, Marta Beja da Costa e Raquel Rebelo Política: Ana Tavares, Andreia Góis, Beatriz Cabral, Miguel Poço e Soraia Lampreia Economia: Ana Margarida Gomes, Bárbara Reguengo, Catarina Cardoso, Inês Ferreira e Luís Coelho Internacional: Ana Dias, Ana Fernandes, Bruna Maia, Denise Almeida e Larissa Ribeiro Sociedade: Beatriz Morais, Joana Candeias, Mariana Bárbara e Tatiana Felício Saúde: Beatriz Roldão, Mário Barbosa, Marta Vicente, Rita Cardeira e Rute Guerreiro Desporto: Francisca Bettencourt, Marco Amaral, Rita Agostinho, Tales Lobo e Tomás Alves Cultura: Cátia Rodrigues, Jéssica Mestre, Laura Mendes, Margarida Freitas e Pedro Anico Ecologia: Claúdia Sucio, Jéssica Sofia, Joana Serafim, Francisca Pugsley e Mariana Guerreiro Lifestyle: Ana Inglês, Ana Moreno, Roberto Pereira, Tamires Siqueira e Teresa Alexandre Fotografia da capa: Canva MUNDO CONTEMPORÂNEO

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MUNDO CONTEMPORÂNEO _________CONTEÚDO __________________________________________________

I II III IV V VI VII VIII IX

INTERNACIONAL

Alunos nigerianos sequestrados voltam para casa Eleições americanas: o drama da vitória de Biden Campos de concentração na China

| 03 | 04 | 06

ECONOMIA

Quebra do turismo Pandemia faz disparar o desemprego jovem

POLÍTICA

A Chave da politica poderá estar nos jovens?

Jovens e Política Vacinação

SOCIEDADE

Carina d’El Monte Projeto Akredita + E7G realiza festival com escolhas de Quarteira

CULTURA

Mulher: Carolina Deslandes Projeto Refood

| 07 | 08

| 11 | 13 | 14

| 17 | 19

| 21 | 23

SAÚDE

10 dietas absurdas que nunca devemos seguir A importância da roda dos alimentos em uma alimentação cuidada Achas que dormes o suficiente?

ECOLOGIA

Covid-19: as alterações ambientais A reintrodução de linces na natureza

LIFESTYLE

A subcultura gótica Ano novo, superstições velhas

| 27 | 29 | 31

| 33 | 35

| 39 | 41

DESPORTO

Diego Maradona Racismo: O grande vírus do desporto

| 43 | 45

I

SÍNTESE

ALUNOS NIGERIANOS SEQUESTRADOS VOLTAM PARA CASA Na semana de 13 de dezembro de 2020, foram libertados 344 estudantes do ensino secundário no norte da Nigéria, após um sequestro que durou seis dias. Os alunos chegaram a casa, em Katsina, sendo posteriormente transferidos para um prédio do governo na cidade e, mais tarde, reunidos com os seus pais. A libertação dos estudantes foi conseguida através de um processo de negociação que as autoridades escolheram não detalhar.

O sequestro ocorreu no dia 11 de dezembro de 2020, quando dezenas de homens em motocicletas e armados com fuzis AK-47 atacaram a Escola Secundária de Ciências do Governo, instituto masculino localizado na cidade de Kankara, no estado de Katsina.

Um dos jovens, que se manteve no anonimato, manifestou à televisão nigeriana Arise o seu testemunho. Afirmou que

FOTOGRAFIA: SUNDAY ALAMBA / AP)

os captores os espancavam regularmente com paus e “só nos davam comida uma vez por dia e água duas vezes", disse o jovem, segundo a Reuters.

As autoridades afirmaram não saber se o grupo terrorista que raptou os alunos, Boko Haram, ainda possui reféns. O grupo assumiu o seu crime por meio de um áudio gravado pelo líder, Abubakar Shekau - «O que aconteceu em Katsina foi para promover o Islã e desencorajar práticas anti-islâmicas como a educação ocidental, que não é o tipo de educação permitido por Alá e o seu profeta [Maomé]».

Segundo a Agência France Press, que cita fontes das forças de segurança, o sequestro foi alegadamente coordenado por um traficante de armas chamado Awwalun Daudawa, acompanhado por outros dois criminosos de renome, Idi Minoriti e Dankarami – líderes de gangues que há anos aterrorizam o noroeste da Nigéria com roubos de gado e raptos violentos. As crianças foram, alegadamente, separadas em grupos diferentes, cada uma controlada por um gangue distinto. De acordo com as mesmas fontes, Daudawa poderia ter algum tipo de aliança com Boko Haram e agir em seu nome.

Boko Haram também foi o grupo terrorista responsável pelo sequestro das 276 meninas de Chibok, em 2014, que possui várias semelhanças com este sequestro mais recente.

Cansados, descalços, com a cara suja de pó, mas felizes; foi assim que os 344 estudantes chegaram à cidade de Katsina. O susto e o medo não os abalaram, talvez a vontade de viver os tenha fortalecido para aguentarem os 6 dias de sequestro.

POR ANA FERNANDES E DENISE ALMDEIDA

MUNDO CONTEMPORÂNEO

3

I

NOTÍCIA

ELEIÇÕES AMERICANAS: O DRAMA DA VITÓRIA DE BIDEN

FOTOGRAFIA: REUTERS

MUNDO CONTEMPORÂNEO

4

Fotografia: Canva

I

SÍNTESE

CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NA CHINA FOTOGRAFIA: KEVIN FRAYER

FOTOGRAFIA: REUTERS

POR BRUNA MAIA E LARISSA RIBEIRO

MUNDO CONTEMPORÂNEO

6

II

SÍNTESE

FOTOGRAFIA: TEMPO.PT

QUEBRA DO TURISMO Turismo e transportes aéreos foram os setores mais afetados pela pandemia de COVID 19. Portugal sofre uma quebra de cerca de 60% das receitas turísticas em 2020. A TAP viu o número de passageiros internacionais cair cerca de 80%.

A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) indica quebras de 60% nas receitas turísticas.

Este setor criou um impacto negativo de 10 mil milhões de euros no saldo das contas externas do país. Considera ainda a CTP que esta quebra colocou em causa “o equilíbrio obtido nos últimos anos com a contribuição decisiva do turismo”.

A CTP confere que, em 2020, as receitas turísticas tenham sido de 8 mil milhões de euros, traduzindo um decréscimo de 57% comparado ao ano anterior. Os valores estimados traduzem diretamente as consequências da pandemia de Covid-19, atentando que grande parte da receita

Francisco Calheiros, presidente da CTP, afirma que “apesar do plano de vacinação já estar a decorrer em Portugal e nos principais mercados da União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos,

ainda

teremos

de

viver

com

o

coronavírus em 2021, pelo menos”, assinalando ainda que “é crucial manter a oferta turística para poder captar a maior quota possível da retoma do Turismo Internacional. O mais importante é criar condições para acelerar o início da retorna do Turismo e da Economia, por meio

do

estabelecimento

de

padrões

internacionais e de viagens em conjunto com medidas de proteção/segurança, que devolve de

turística advém dos transportes aéreos.

novo uma maior confiança aos turistas.”

No caso da TAP, a pandemia provocou uma

Segundo a dados divulgados pela CTP em

quebra de 70% no número de passageiros o que levou a companhia aérea a um prejuízo de mais de 700 milhões de euros, nos primeiros nove meses

de

2020.

A

presença

de

turistas

estrangeiros foi quase inexistente, e gerou grandes danos económicos ao setor. Segundo a CTP, o saldo da balança turística deve-se situar nos 6 mil milhões de euros, o que representa

comparação ao ano de 2019, notou-se em Portugal uma queda entre 65% a 70% nos alojamentos locais, nas dormidas de hotel, nos espaços rurais, entre outros, registando uma queda de três mil milhões de euros. A circulação de pessoas nos aeroportos nacionais teve uma queda similar aos passageiros de cruzeiros, que resultaram numa queda superior a 80%. As rent-

menos 62% do que em 2019.

a-car de ligeiros também se referido à queda do

POR ANA MARGARIDA GOMES E INÊS BRAVO

salientando que na parte turística a queda

número de passageiros na ordem dos 65% a 70%, andará à roda dos 80%.

MUNDO CONTEMPORÂNEO

7

II

SÍNTESE

PANDEMIA FAZ DISPARAR O DESEMPREGO JOVEM

A taxa de desemprego sofreu um grande aumento nos últimos meses devido à situação de pandemia, mais de 88% dos desempregados são jovens com idades até aos 25 anos.

Viviam-se tempos de mudança em Portugal. Depois de uma descida recorde da taxa de desemprego, o aumento de oportunidades de emprego em Portugal tornava-se numa realidade. Contudo, a economia portuguesa foi abalada, e, graças à pandemia da Covid-19, o Governo Português viu-se obrigado a adaptar-se a esta nova realidade que penetrava em território nacional. Ainda assim, o Governo não conseguiu travar uma realidade temida por muitos: o aumento da taxa de desemprego.

FOTOGRAFIA: CAPMAG

Mesmo com medidas para ajudar empresas e famílias, como os complementos, as moratórias e outros tipos de apoios sociais, o Governo tem tentado amortecer o impacto do desemprego nas famílias portuguesas. Porém, mesmo com estas medidas em vigor, muitos postos de trabalho foram forçados a encerrar e medidas como o regime sucessivo de lay-off simplificado roubaram o

Em outubro, por exemplo, cerca de 109.900 postos de trabalho foram criados desde o primeiro período de estado de emergência.. Não obstante, muitos jovens

não

encontraram

oportunidades

de

embarcar no mundo do trabalho e aqueles que tinham perdido os seus empregos não tiveram oportunidade de reaver os seus postos de trabalho.

Em cinco meses, a recuperação de empregos não

emprego a muitos cidadãos.

ultrapassa os 2700 postos de trabalho para menores

No final de 2020 a taxa de desemprego estava nos

repetiu-se, contrariamente às restantes faixas

7,2%,

segundo

o

Banco

de 25 anos. No mês seguinte, o mesmo cenário de

Portugal

(BdP),

estimando-se que esta suba para os 8,8% em 2021.

De entre estes, os jovens são alguns dos que mais sofrem com esta nova leva de despedimentos, uma vez que, mais de 88% dos desempregados registados nos centros de emprego são jovens com idades até aos 25 anos. Em outubro, por exemplo, cerca de 109.900 postos de trabalho foram criados desde o primeiro

período

de

estado

de

emergência

desempregados registados nos centros de emprego são jovens com idades até aos 25 anos.

etárias, de acordo com os dados do INE. Apenas 246,4 mil jovens estavam empregados neste mês, menos 4800 que no mês anterior. Ou seja, um em cada quatro jovens (25,6%) da população ativa entre os 15 e os 24 anos está desempregado.

Por regiões, a área mais afetada foi o Algarve no mês de agosto, apresentando uma subida de 117,8% face ao mesmo mês de 2019. A região menos afetada foi a região autónoma dos Açores que viu o desemprego a aumentar 1,3%.

Enquanto jovens, prestes a entrar no mercado de trabalho, consideramos preocupante a percentagem de jovens desempregados e a falta de oportunidades para os mesmos. O Banco do Portugal estima uma subida na taxa de desemprego, já o governo prevê melhorias para o próximo ano, contudo, não há dúvidas de que os jovens têm vindo a ficar para trás e que é necessário tomar medidas que obstem a esta situação.

POR CATARINA CARDOSO E LUÍS COELHO

MUNDO CONTEMPORÂNEO

8

“A urna é sempre a solução, o voto é sempre o melhor meio, a abstenção não é protesto e o vírus não pode restringir a democracia.”

Anónimo (via Twitter)

Fotografia: Canva

OPINIÃO

A CHAVE DA POLÍTICA PODERÁ ESTAR NOS JOVENS? São os jovens o motor da mudança em todos e mais alguns aspetos da vida no quotidiano. São eles o sangue fresco, o palpitar das novas ideias, a energia que se contrapõe à distensão das gerações mais velhas. É por isto que, sem dúvida alguma, a chave do futuro está sempre nos jovens.

FOTOGRAFIA: RÁDIO AMÉRICA

O problema surge quando essa chave danificada é a única que pode levar à mudança, a chave está danificada a praticamente 70% (que foi, segundo o atual Ministro da Educação, a taxa de abstenção dos jovens nas últimas eleições europeias). As ideias estão cá, os motivos existem, a força de vontade mostra-se. Basta ter como exemplo os atuais movimentos e causas em que mais vemos os jovens a participar, como é o caso da Greve Climática Estudantil ou, num contexto mais internacional, o movimento do “Black Lives Matter” que atirou a geração mais nova para as ruas em plena pandemia, mostrando assim a consciência de que mesmo havendo um surto de um vírus fatal a decorrer, os direitos, liberdades e garantias sobrepõem-se a tudo isso. Vemos aqui jovens realmente interessados na mudança e a tomar medidas e ações, lutando pelo que acreditam com as suas espadas de papel e cartão com frases de revolução.

Parece que estamos perante um problema antitético e com perguntas abertas à espera da resposta que as feche.

MUNDO CONTEMPORÂNEO

Vemos jovens a não querer saber de política, mas ao mesmo tempo com o poder de mudança. A realidade é que temos neste momento movimentos extremistas a crescer, não só em Portugal, mas um pouco por todo o mundo. No contexto nacional, há fatores a ter em conta, como é o caso do envelhecimento da nossa população, população essa que é mais vulnerável aos ataques manipuladores e demagogos constantes dos partidos radicais, levando a que essa mesma camada populacional (que é complementarmente a camada menos instruída) seja o alvo principal da política nacional neste momento. A política não está a ser feita para os jovens, muito menos a ser feita para os captar e cativar para esse mundo. Não está a ser incutida a consciência que política não é um simples hobbie ou uma atividade extracurricular pela qual algumas pessoas têm interesse. A política é na verdade a linha definidora da nossa vida e que afeta todos os aspetos dela. De nada vale falar sem agir. De nada vale opinar e ficar inerte. De nada vale manifestar-se e não votar.

FOTOGRAFIA: NEW INTERNATIONALIST

11

III Não vemos partidos políticos a elucidar e a criar métodos de chegar aos jovens e aos seus problemas FOTOGRAFIA: UCMMAT

Desta forma, qualquer jovem consegue encontrar significativas lutas por objetivos que valoriza, pontos com os quais concorda ou discorda e pelos quais vale a pena lutar. São esses objetivos que têm de fazer com que nos movamos, da mesma forma que, quando algo nos dói, corremos a eliminar essa dor. Será que há um estado de inércia dos jovens porque vivemos num estado de direito democrático desde que nascemos e não há grandes batalhas para enfrentar? Discordamos em absoluto!

não está a haver um esforço para chegar a eles.

Não vemos partidos políticos a elucidar e a criar métodos de chegar aos jovens e aos seus problemas (e a fazê-lo sem caírem em populismos baratos e rascas). É necessário que os partidos compreendam melhor não só os problemas dos jovens, mas quais os meios mais eficazes para os resolver - e falo aqui, como é obvio, do papel fulcral das redes sociais. Cairemos sempre no problema do envelhecimento populacional e de isso ser talvez o maior fator para os jovens

Todo e qualquer estado democrático atravessa as suas crises, e estamos a atravessar não uma, não duas, mas sim várias crises no momento, sejam elas a pandemia, a crise ambiental ou a afronta da direita radical que se levanta com cada vez mais força. Com isto, deve ter-se em conta que não podemos simplesmente atirar toda a culpa para cima dos jovens, porque, pegando no ponto anterior,

ficarem para segundo plano na estratégia política dos partidos portugueses. Não se pode deixar de referir que as últimas legislativas tiveram uma abstenção de 51.43%. Mais de metade dos portugueses não votou. Mais de metade de Portugal não se fez representada neste momento.

E

as

sondagens

agravamento

apontam

desta

situação

no

sentido

nas

do

próximas

eleições presidenciais.

Os jovens ficam para segundo plano na estratégia política dos partidos portugueses

POR ANA TAVARES

MUNDO CONTEMPORÂNEO

12

III

OPINIÃO

JOVENS E POLÍTICA

A pouca participação dos jovens na política

Nos dias de hoje, a maioria dos jovens portugueses envolve-se pouco nas atividades políticas, tem pouco ou nenhum interesse pelo que acontece na esfera política, não pertencem a associações, e não se sentem minimamente próximos de um partido.

Várias são as razões que podemos enumerar para explicar esta pouca manifestação por parte dos jovens na política. Uma destas razões direciona-se para os estabelecimentos de ensino onde os mesmos podem e devem fomentar o envolvimento político indiretamente, através do ambiente escolar, mas também diretamente, por meio de disciplinas ou módulos curriculares em que se transmite e debate informação relevante sobre o sistema político. Neste molde, a escola poderia servir de ponte para ligar mais os jovens à política.

Ainda no que se refere aos estabelecimentos de ensino, algumas escolas não possuem associações de estudantes, quando seria importante que existisse sempre um núcleo de estudantes com intervenção nas escolas, pois esta intervenção também é intervenção política.

Nos últimos anos, tem-se verificado um considerável afastamento e perda de interesse dos portugueses em relação à política. Afastamento esse que é notório pela taxa de abstenção nas eleições. É compreensível, porque cada vez mais os políticos mostram que nem sempre merecem a confiança da população portuguesa. Todos ouvimos diariamente uma série de promessas políticas, nos diferentes meios de comunicação social, que não chegam sequer a ser cumpridas. Esta desacreditação obviamente contagia os jovens, no entanto, precisamos de garantir que os jovens têm esperança e acreditam que se forem uma parte ativa na sociedade serão uma verdadeira esperança para Portugal. Seria por isso importante ver os partidos políticos e o governo criarem mais programas para incentivar a difusão do trabalho político e despertar mais o interesse dos jovens nessa área.

Nestas circunstâncias, é de concluir que se torna indispensável a modernização do ensino em Portugal e a inserção dos jovens na política, para um maior envolvimento dos mesmos nesta esfera.

Também nos

parece necessário que os políticos no ativo adotem um estilo mais contido, com menos promessas e mais concretizações.

POR ANDREIA GÓIS E SORAIA LAMPREIA

MUNDO CONTEMPORÂNEO

13

III

NOTÍCIA

VACINAÇÃO Covid -19: O que dizem os partidos da vacinação em Portugal?

A vacinação em território Português iniciou no dia 27 de dezembro e levou os principais partidos nacionais a deixaram bem clara a sua posição face a este processo.

A primeira dose da vacina contra o vírus (SARS-

a idosos residentes em lares ilegais “Está a ser

Cov2) foi administrada no domingo, dia 27 de

violado o princípio do acesso universal à vacina,

dezembro de 2020. O primeiro lote é composto

está a ser discriminado, mais uma vez, este

por certa de 20 mil doses destinadas aos

conjunto de pessoas, por inação do governo. O

trabalhadores da área da saúde mais expostos ao

que não é inaceitável e põe em risco a vida

vírus. Na primeira fase do plano de vacinação,

destas pessoas e o projeto de imunidade de

cerca de 950 mil pessoas serão imunizadas,

grupo do país”; e a vacinação de bombeiros que

nomeadamente profissionais e residentes em

transportam diariamente doentes urgentes e

lares, profissionais da saúde, das forças armadas

não urgentes.

e das forças de segurança, entre outros.

Já mais à direita, Francisco Rodrigues dos Começando à esquerda, o representante do PCP,

Santos, Presidente do CDS-PP, condena aquilo

João Frazão, sublinha a importância da chegada

que

da vacina ao nosso país e do início do processo

mediático” em torno do primeiro lote de vacinas

de vacinação naquilo que toca à recuperação,

nomeadamente por parte da Ministra da Saúde,

após um ano de “combate, dor e resistência”,

classificando o envio do aviso por telemóvel a

mas não deixa de fazer referência à falta de

todos os portugueses como “irresponsável e

funcionários no Serviço Nacional de Saúde (SNS)

induz uma sensação triunfal que é falsa”, uma

para completar o caminho que tem sido feito,

vez que a maioria só será vacinada daqui a

assim como ao reconhecimento das carreiras

alguns meses.

o

mesmo

considera

de

“espetáculo

dos mesmos.

André Ventura, deputado na AR pelo Partido Os representantes do PSD chegam mais longe,

CHEGA, quando perguntado se defenderia a

fazendo menções a emigrantes em crise "Torna-

obrigatoriedade

se fundamental que os portugueses que possam

respondeu negativamente, afirmando que não

estar a passar por situações de maior dificuldade

estamos

no estrangeiro possam também ter acesso às

obrigatoriedade, mas admitiu, no entanto, que

vacinas de forma a estarem mais protegidos

podem existir exceções.

num

de

vacinação

ponto

que

em

Portugal

exija

essa

perante este surto viral”;

POR BEATRIZ CABRAL E MIGUEL POÇO

MUNDO CONTEMPORÂNEO

14

“We all came into this world naked, the rest is all drag.�

RuPaul

Fotografia: Canva

ENTREVISTA

Hugo Paixão, hairstylist, atua desde 2017 como Drag Queen. Deu-nos, em entrevista, a oportunidade de conhecer um pouco mais do seu dia-a-dia e da sua “personagem” Carina D’el Monte. Com o objetivo de transmitir uma mensagem de amor e de respeito, Hugo fala abertamente sobre o preconceito e responde a questões relacionadas com o Universo Drag.

Como te chamas e onde nasceste?

O meu nome é Hugo José da Silva Floro, mais conhecido por Hugo Paixão, nome artístico adaptado já desde 2004 e este é sempre o nome que uso. Sou de Faro, sou farense, nasci em Faro e toda a vida morei na Praia de Faro.

Sabemos que és hairstylist e gostaríamos de saber onde é que surgiu esse teu gosto pelos cabelos?

Pois bem, eu fiz a escola normal e entretanto tirei um curso de fotografia, tenho pessoas na família que também têm salões de cabeleireiro e o gosto veio desde pequenino. Sempre penteei as minhas irmãs e a minha mãe, e então sempre tive este gosto pelos cabelos. Entretanto, em 2013 tive uma grande oportunidade de finalmente poder trabalhar a 100% com os cabelos. E desde então nunca mais fiz nada que não fossem cabelos.

Entretanto, tive outros trabalhos e part-times, e até há três anos trabalhava também à noite em restauração.

Fotografia: Prestige - Dance Club via Facebook

O que é para ti ser Drag Queen?

"

Nas minhas condições e nas condições que eu proporcionei sempre à minha Drag Queen, ou seja, à personagem que eu interpreto, para mim ser Drag Queen é poderes extravasar, seres tu, seres o que tu quiseres, poderes subir ao topo do mundo e dar-lhe a volta, brincares com as pessoas sem te levarem a mal, brincares com situações cómicas ou sérias, e levares a vida e um estilo durante o espetáculo sempre muito animado. Por isso, ser Drag Queen é como ser uma personagem, e poder voar, permitindo que as outras

"

pessoas se divirtam contigo e com a maneira como tu trabalhas.

Que artistas Drag te inspiram?

Eu inspiro-me muito na Samantha Rox que é uma artista do Finalmente, inspiro-me muito também na Linda Xennon, que é a minha madrinha, e na Melanie Nova. Enquanto Drag Queen são essas as minhas inspirações. Existem ainda pessoas como a Claudia Fux, que também me inspiram milhões, gosto muito de outras mais, mas estas são as que de todo me enchem as medidas.

MUNDO CONTEMPORÂNEO

17

IV

Nas tuas características pessoais, o que achas que a Carina tem do Hugo e vice-versa?

A Carina precisa de mim enquanto corpo, enquanto ser humano para se poder expressar. Então, só somos parecidos na maneira de falar e na voz, o corpo não tem nada a ver, as fotografias não têm nada a ver, fica uma caracterização completamente diferente. O que é que ela tem de mim? É a bondade e se calhar no fundo, ser tão extrovertida e tão maravilhosa.

Na tua opinião o que é que a cultura Drag precisa para se continuar a afirmar?

Para ser sincero, na minha opinião, acho que a comunidade tem que aceitar mais, tem que deixar as pessoas se expressarem da forma que

Fotografia: Associação Xis via Instagram

elas quiserem. Eu acho que a cultura Drag não precisa de mais nada para se afirmar nem estar presente, as pessoas associam muito que ser Drag é fazer shows à noite, nas discotecas, mas há quem o faça durante o dia, há contadoras de histórias que se vestem de Drag Queen, há pessoas que fazem da sua vida de espetáculo também o seu dia a dia, e isso quer dizer que ser Drag Queen não é só um trabalho noturno. Assim, acho que a cultura Drag não precisa de mais nada para se continuar a afirmar, tem de continuar sim a manter a qualidade.

Sabemos que uma Drag Queen pode ter qualquer orientação sexual, no entanto a sociedade tende a achar que para tal ser homossexual é uma condição quase obrigatória. Qual é a tua opinião acerca desta ideia tão generalizada?

A minha opinião é completamente distorcida, isso é um estigma que acontece sempre. As pessoas acham que para se ser Drag Queen, ou para um homem se vestir de mulher, ou mesmo na Drag King, que são as mulheres que se vestem de homens e que fazem espetáculos assim, é necessário ser homossexual. Eu acho que é uma opinião muito fora do contexto, porque não é preciso ser-se gay, ser-se homossexual ou ser-se lésbica para se ser uma Drag Queen. Tu podes ser o que tu quiseres. Se pensarmos que ser Drag Queen é como ser um artista que faz teatro, fora dos teatros também não quer dizer que tenham que ser gays, lésbicas e então sim, é uma opinião generalizada, completamente distorcida da realidade.

Sentes ou já sentiste algum tipo de preconceito quando saíste à rua em modo Drag?

Sim, já senti muito preconceito da parte de algumas pessoas, mas como eu sou da cidade e faço aqui alguns trabalhos, muitas vezes as pessoas não veem a Carina, veem sim o Paixão por trás daquela personagem e claro respeitam-me e aceitam-me. Amor gera amor, que é o que costumo dizer, e respeito também gera respeito, mas sim, já sofri muito preconceito por parte de alguns rapazes homofóbicos e até de mulheres homofóbicas, mas é saber lidar e continuar a nossa história, a nossa essência e o resto é só o resto.

A mensagem que eu deixaria às pessoas seria que o amor gera amor e que o respeito gera respeito. Sejam mais Para

terminar,

se

liberais, sejam mais assertivas e permitam-se conhecer o

pudesses deixar uma

outro, ouvir o outro, dediquem-se mais ao outro, não se

mensagem às pessoas

fechem dentro de casulos e não se isolem da comunidade

que

as

nem se isolem das pessoas porque por trás de um

diferenças e as escolhas

homossexual está uma pessoa e então a única mensagem

dos outros, o que dirias?

que eu quero deixar é uma mensagem de amor.

não

aceitam

MUNDO CONTEMPORÂNEO

POR BEATRIZ MORAIS, JOANA CANDEIAS, MARIANA BÁRBARA E TATIANA FELÍCIO

18

IV

NOTÍCIA

PROJETO AKREDITA + E7G REALIZA FESTIVAL COM ESCOLHAS DE QUARTEIRA O Projeto Akredita + E7G, desenvolvido pela Associação Akredita em Ti, realizou no dia 19 de dezembro de 2020, pelas 16h, no Auditório do Centro Autárquico de Quarteira, o Festival com Escolhas de Quarteira transmitido via Zoom.

O Festival com Escolhas de Quarteira, realizado no âmbito do Projeto Akredita + E7G, procurou salientar o trabalho realizado ao longo dos últimos dois anos, nos Bairros da Abelheira e da Amendoeira, localizados em Quarteira.

O Projeto Akredita + E7G desempenha um papel primordial tanto na vida de muitas crianças e jovens, como na das respetivas famílias. Visa promover a inclusão e o desenvolvimento escolar dos mais novos, bem como alargar a participação destas comunidades na Cartaz: Projeto Akredita + via Facebook

sociedade.

Este Festival teve em vista apresentar ao público que todos têm a capacidade de realizar os seus objetivos, independentemente das suas origens, demais características ou dificuldades. A Akredita transmite a mensagem de que todos devem ter as mesmas oportunidades, sendo que é fundamental lutar por aquilo que se ambiciona e não desistir.

Com transmissão via Zoom, o Festival com Escolhas de Quarteira procurou contornar desta forma as restrições e limitações impostas pelo Governo Português, nomeadamente a lotação do espaço do Auditório do Centro Autárquico de Quarteira, onde o mesmo se realizou. Contou com a presença de vários convidados, entre os quais o Presidente da Junta de Freguesia de Quarteira Telmo Pinto, a Coordenadora do Projeto Akredita + E7G Sónia Luz, Cátia Montes, Marília Monteiro e Catarina Correia, e ainda a participação musical de Baby Creezy e Skinnydav3. A apresentação ficou a cargo de Mariana Bárbara, estudante do Curso de Licenciatura em Ciências da Comunicação, da Universidade do Algarve.

MUNDO CONTEMPORÂNEO

POR BEATRIZ MORAIS, JOANA CANDEIAS, MARIANA BÁRBARA E TATIANA FELÍCIO

19

“A pandemia mais perigosa de todos os tempos chama-se: ignorância, manipulação e medo.

E a vacina mais eficaz chama-se: cultura, transparência e pensamento crítico.”

Andrew Amaurick

Imagem: Revista Galileu via Globo.com

NOTÍCIA

MULHER: CAROLINA DESLANDES Carolina Deslandes apresentou, no dia 25 de novembro, Dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra As Mulheres, o seu novo projeto “Mulher”. Neste projeto integra um EP com 6 novas canções e uma curta metragem que mostra a realidade de muitas mulheres que são vítimas de violência doméstica.

O projeto é uma junção de dois mundos artísticos: o cinema e a música, o qual representa diversas gerações de mulheres vítimas de violência doméstica, que teve como realizador Filipe Correia Dos Santos, Pedro Caldeirão como produtor, a presença de alguns autores como: Maria Manuela, Davis Saraiva, Paloma Rodhner, entre muitos outros. Por fim, contou com o apoio da MEO para o lançamento.

Carolina faz referência a alguns problemas que existem como a desigualdade e o preconceito, querendo dar destaque às mulheres vítimas de violência doméstica que se encontram fechadas em casa em tempos de pandemia com os agressores, abordando também a questão do que é ser mulher na sociedade e do que tem de ser mudado e restruturado na mesma.

Diz ainda à Radio Comercial numa entrevista que “esta urgência em querer ter um mundo melhor e mais justo, é porque eu também quero “arrumar” a casa para que eles (filhos) cresçam em segurança e para

que

homens

eles

cresçam

dignos

e

como

homens

respeitadores, bons cidadãos e boas pessoas e quero muito deixá-los orgulhosos e acabo sempre por ir buscar a minha gasolina aí, e aos milhares de mensagens que recebo de tantas mulheres todos os dias que me agradecem por lhes dar voz, que

desabafam

comigo,

que

procuram a minha ajuda”. Estas foram as razões que deram início a Fotografia: Divulgação via Espalha-Factos

MUNDO CONTEMPORÂNEO

“Mulher”.

21

V

Este projeto esteve a ser realizado ao longo de um ano, e tem como principal objetivo, sensibilizar a sociedade sobre este tema, dar voz às mulheres para que estas não se sintam sozinhas dentro da sua dor, mostrando que é um problema que tem solução, que tem fuga e que é possível ter uma vida depois da violência.

A cantora conta numa entrevista à RecordTV, que este projeto exigiu muito dela e que tem muito dela: “tem noites sem dormir, tem dias longe dos meus filhos, tem dias a questionar-me sobre se será que estou no caminho certo, será que isto chega, tem as minhas dúvidas, tem a minha dor também, tem o meu ânimo, o meu desanimo, a minha força, o meu medo, tem tudo de mim”.

“Enquanto mulher o meu único receio é que os receios sejam mais fortes que a coragem”, afirma a cantora à Radio Comercial.

Imagem: Sons em Trânsito via Youtube

Link Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=iW8Poisj--A

POR CÁTIA RODRIGUES, JÉSSICA MESTRE, LAURA MENDES, MARGARIDA FREITAS E PEDRO ANICO

MUNDO CONTEMPORÂNEO

22

NOTÍCIA

PROJETO REFOOD O projeto Re-food teve início a 9 de março de 2011 lançado por Hunter Halder, o qual tem como objetivo resgatar as sobras alimentares dos estabelecimentos de restauração dentro da sua localidade e do seu alcance e, desta forma, poder evitar a fome de quem mais precisa.

Sendo um esforço eco humanitário, 100% voluntário e efetuado para e pelos cidadãos, ao nível microlocal, pretende acabar com o desperdício dos alimentos preparados e a fome nos bairros urbanos, reforçando os laços comunitários locais, acabando por espalhar o conceito e os valores em questão por muitos outros locais urbanos do planeta.

Desde o seu início, o projeto tem revelado ser uma força unificadora que envolve todos os elementos da comunidade numa ação partilhada e conduzida pela boa vontade de cada um. Assim sendo, desde o lançamento do projeto, o número de voluntários tem vindo a aumentar, mas também o dos parceiros da restauração e o das pessoas alimentadas diariamente pelo projeto.

O primeiro núcleo foi criado a 7 de janeiro de 2013, quando a equipa

da

Refood

Telheiras

entrou em pleno funcionamento.

Meses

depois,

tendo

sido

realizadas as primeiras ações designadas como “sementeiras”, foram criadas dezenas de novas equipas que trabalharam para implementar o projeto nos seus bairros. Até ao final do mesmo ano,

entraram

funcionamento

novos

em três

núcleos situados no Lumiar, Estrela

e

São

Sebastião

da

Imagem: Região Sul - Diário Online

No início de 2014, tiveram início mais 5 núcleos situados em Belém, São Francisco Xavier, Carnide, Olivais e Parque das Nações. Pelo final do mesmo ano, mais 17 novos núcleos encontravam-se a servir os seus bairros, cumprindo, assim, os objetivos

de

replicação

e

tornando Lisboa na primeira cidade

do

desperdício

mundo de

preparados, contribuíam

sem

alimentos enquanto

para

reduzir

a

fome.

Pedreira.

Conforme o avanço do tempo iam aparecendo cada vez mais voluntários e criando mais núcleos, contando neste momento com 51 núcleos a nível nacional.

Perante a situação da Covid-19, muitas são as pessoas que estiveram em lay off e perderam parte do ordenado ou foram mesmo despedidas. De facto, tendo em conta os tempos difíceis que atravessamos, é natural que algumas famílias este ano não pudessem dar um presente aos seus filhos. Por isso, a Refood decidiu criar um projeto para proporcionar um Natal mais luminoso a essas mesmas famílias.

A iniciativa da Refood permite que os meninos e meninas apoiados pela instituição de Faro escrevam cartas ao Pai Natal, indicando o que desejam receber, depois as cartas são colocadas na árvore de Natal montada na sede e, posteriormente, a ideia é que um padrinho as vá buscar e que tente satisfazer o desejo que a criança manifestou. Os pedidos das crianças recolhidos pela Refood foram desejos de felicidade, cabazes de comida para a consoada, brinquedos como um carro telecomandado, uma guitarra, um computador ou um telemóvel em segunda mão.

MUNDO CONTEMPORÂNEO

23

V Para ajudar neste projeto bastava ir à Refood, em Faro, escolher uma carta e tentar satisfazer o sonho de uma criança. A instituição mantém o contacto com quem leva a carta e assim que obtém as prendas elas são armazenadas e entregues mais tarde a todas as crianças.

Colocámos quatro perguntas a Paula Matias, a coordenadora da Reefood, que explicou em que se baseia este projeto e de que forma as crianças e a comunidade estão a beneficiar deste.

Como é que surgiu este projeto?

"O seguinte projeto surgiu com o Hanter, que ia jantar a um restaurante com a filha todos os dias, e esta começou a questioná-lo para onde é que ia toda a comida que sobrava no fim do dia, tendo sido esta simples questão que se originou a Reefood. Como nos disse Paula Matias, “soubemos que a comida ia fora, comida que estava em perfeitas condições. Então começou com um voluntário, o Hanter, um beneficiário e um parceiro, e em pouco tempo já eram 30 parceiros, 30 voluntários e mais famílias, foi daí que surgiu a ideia.”

Que impacto é que este projeto tem nas crianças?

"O impacto que este projeto tem nas crianças é essencialmente levar a comida à mesa. Paula Matias reformulou a questão, afirmando que a Reefood tem mais influência na vida das pessoas e não tanto na vida das crianças, ou seja, tem mais efeito nos agregados familiares em si. Nesta altura de pandemia, tem tido então um grande impacto, tem sido uma grande resposta social às dificuldades que estas famílias atravessam, pois “para pagarem despesas, muitas vezes falta para a alimentação”.

Houve algum pedido das crianças que lhe tenha tocado mais?

"Tantos! Vou dar o exemplo de um que me tocou imenso. Estamos a falar de uma jovem com quinze anos que escreveu uma cartinha bem estruturada e que dizia que vivia com a mãe, era a sua rainha, e com um irmão de seis anos. Dizia também que a primeira coisa ou o primeiro plano que mais queria era um cabaz para não faltar comida, e para segundo plano queria uma mala de maquilhagem profissional, pois está a tirar um curso profissional e vai precisar desse recurso futuramente, sendo que a mãe não está em condições de o comprar. Outra carta que me tocou foi de uma criança com dez anos que disse que não está habituado a pedir, nunca pediu, e o que queria era felicidade e saúde para todos."

Qual a importância da Reefood nos dias de hoje para as pessoas?

"Tem um impacto fundamental na vida das pessoas nesta situação agora de pandemia. Nós temos duas realidades: temos as crianças que nunca tiveram, uma realidade má, mas que estão habituadas a não ter, depois temos, neste momento, crianças que sempre tiveram e de um momento para o outro deixaram de ter, pois esta pandemia trouxe muito desemprego na vida das pessoas e então foi necessário fazer muitos cortes. É lamentável na alimentação haver cortes também, é uma coisa que não pode existir.

Portanto, eu dizia que era uma ajuda fundamental. Temos uma comunidade muito unida, somos todos 100% voluntários. Eu sou coordenadora, mas também sou voluntária. Há uma grande união tanto nos voluntários como nas famílias, vão se conhecendo uns aos outros, ganham experiência e vão falando em comunidade. Nós lançamos agora umas prendinhas para satisfazer um desejo de uma criança, teve um impacto nacional, não só no nosso concelho. Vamos satisfazer três desejos para cada criança. A nível alimentar para os cabazes, teve uma adesão muito grande."

POR CÁTIA RODRIGUES, JÉSSICA MESTRE, LAURA MENDES, MARGARIDA FREITAS E PEDRO ANICO

MUNDO CONTEMPORÂNEO

24

Fotografia: cANVA

www.olioex.com

Fotografia: cANVA

SÍNTESE

1 1 1

30ILOTRABAIHPOS :AIFARGOTOF

2 2 2

4 4 4

3 3 3

MUNDO CONTEMPORÂNEO

5 5 5

27

VI 6 6 6

7 7 7

8 8 8

FOTOGRAFIA: LUIZ CARLOS MARQUES CARDOSO (BILL)

9 9 9

MUNDO CONTEMPORÂNEO

10 10 10

POR MARTA VICENTE

28

VI

A IMPORTÂNCIA ALIMENTOS CUIDADA

DA

NUMA

RODA

DOS

ALIMENTAÇÃO

FOTOGRAFIA: JASMINE

FOTOGRAFIA: JASMINE

POR BEATRIZ ROLDÃO E RITA CARDEIRA

MUNDO CONTEMPORÂNEO

29

Rebecca Kapaira

Fotografia: WFP/Claire Nevill

SONDAGEM

ACHAS QUE DORMES O SUFICIENTE?

MUNDO CONTEMPORÂNEO

31

VI

POR MÁRIO BARBOSA E RUTE GUERREIRO

MUNDO CONTEMPORÂNEO

32

SÍNTESE

COVID-19: AS ALTER Na virada do ano 2019 para 2020, foi descoberto na

No

China um novo vírus altamente contagioso e até

permaneceram em casa, o que deu espaço para

mortal, identificado como SARS-COV 2. Este vírus,

que

causador de sintomas semelhantes a uma gripe ou

Assim, por exemplo, houve a aparição excessiva

pneumonia,

de ouriços, que aproveitaram a pouca circulação

depressa

alastrou

pelo

mundo,

infetando milhares de pessoas diariamente, pelo

decorrer alguns

do

confinamento,

animais

as

pessoas

“explorassem

terreno”.

de carros para passear.

que se demonstrou necessário tomar medidas de contenção

da

transmissão,

através

do

Com

o

aparecimento

deste

vírus

mortal,

confinamento obrigatório e do encerramento das

supostamente através de um mercado chinês que

fronteiras.

se baseava na venda de animais vivos, verificouse uma maior atenção sobre o comércio global de

Numa altura em que o todas as atenções estavam

animais, combatendo, assim, o tráfico de animais

viradas para a Covid-19, apresentando-se como

selvagens, muitos à beira da extinção. Em Itália,

título principal em qualquer meio de comunicação,

através

as

um

compartilhamento de fotos, verificou-se que os

problema, nomeadamente as questões de cariz

canais de Veneza se encontravam cada vez mais

ambiental, foram colocadas em segundo plano.

limpos, pois com os cruzeiros ancorados, sucedeu

Neste sentido, ninguém previa que uma pandemia

uma atenuação da poluição sonora nos oceanos, o

pudesse, também, ter impacto no meio ambiente e

que ajuda a reduzir os níveis de stress dos

ser

animais marinhos.

questões

o

previamente

causador

de

consideradas

significativas

mudanças

FOROGRAFIA: GRUPO REDATORIAL DE CULTURA

das

redes

sociais,

com

o

climáticas, alterando, até, o rumo da situação

Todavia, embora a pandemia tenha provocado

ambiental dos últimos anos. Tal se deve ao

vários impactos positivos no meio ambiente, é

confinamento global, como consequência deste

necessário referir que surgiram de igual forma

vírus, que provocou de forma indireta, impactos no

algumas consequências negativas.

meio ambiente, tanto positivos, como negativos.

De facto, este vírus levou a uma elevada Com o aparecimento da pandemia de Covid-19 o

utilização das máscaras respiratórias e ao

mundo paralisou, e com isto surgiram vários

excesso de plásticos descartáveis, como é o

impactos positivos para o Meio Ambiente. Com a

exemplo das luvas. Apesar de serem um material

súbita suspensão das atividades industriais no

para evitar a contaminação contra o vírus, a

mundo, ocorreu uma redução drástica dos níveis

verdade é que muitos não realizam o correto

de poluição do ar. Houve uma queda nos níveis de

descarte desses produtos depois de utilizados, o

dióxido de nitrogénio (N02), o qual consiste num

que acaba por levar à poluição das cidades e dos

gás imitido por motores de carros e fábricas, sendo

oceanos. Cada vez mais é recorrente estarmos a

responsável pela baixa qualidade do ar em certas

passar

cidades. Desta forma, ocorreu, também, uma

espalhadas no chão. Como efeito disto, muitos

diminuição de emissão de dióxido de carbono

destes resíduos acabam por ir parar ao mar,

(C02), acontecimento que apenas sucedeu entre

ameaçando assim a vida marinha.

pela

rua

e

encontrarmos

máscaras

2008 e 2009, durante a crise financeira.

MUNDO CONTEMPORÂNEO

33

VII

AÇÕES AMBIENTAIS Como Christiane Corrêa afirma, uma professora do departamento de Patologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Rio de Janeiro, esta situação está a tornar-se um problema ambiental grave que pode vir a ter consequências mundiais. A mesma refere que: “Inundaram o mercado com um equipamento de proteção individual de baixo custo, leve, de aspeto inofensivo, mas que agora está gerando reflexos na natureza”.

Da mesma forma, por conta do atendimento à saúde na tentativa de combater a pandemia, também têm surgido resíduos hospitalares perigosos. É importante que sejam acondicionados e destinados de maneira segura para evitar os impactos ambientais.

Conta-se que, em média, mais de 20 cidades chineses estão a produzir excesso de resíduos hospitalares, como é o caso de Wuhan, onde o volume do lixo foi 4 vezes mais do que era suposto, ou seja, mais de 200 toneladas por dia.

Outro fator que tem um impacto negativo no meio ambiente devido à pandemia, é o aumento do consumo do gás e da eletricidade. Como a maior parte da população teve que se manter dentro de casa, a demanda por aquecimento e entretenimento doméstico cresceu imenso e com ela o uso destas fontes de energia.

POR CLAÚDIA SUCIO, JÉSSICA SERRA E JOANA SERAFIM

FOTOGRAFIA: PINTEREST

MUNDO CONTEMPORÂNEO

34

FOTOGRAFIA: MISTICISMO NATURAL

SÍNTESE

A REINTRODUÇÃO DE LINCES NA NATUREZA O ano de 2020 foi bastante favorável ao lince ibérico

Acompanhar a reintrodução significa monitorizar

com o nascimento de 46 crias em liberdade e o

os linces por rádio seguimento, foto-armadilhagem,

estabelecimento de territórios ocupados por 13

análises genéticas, acompanhar o estado sanitário

fêmeas reprodutoras. Com estes territórios já

dos animais, as fêmeas em gestação e a abundância

estabilizados, o Vale do Guadiana, tornou-se uma

de coelho-bravo nas áreas de ocorrência. O

das áreas de reintrodução com maior sucesso a

envolvimento de parceiros e potenciar iniciativas

nível ibérico.

nos territórios é parte essencial do sucesso desta

FOROGRAFIA: GRUPO REDATORIAL DE CULTURA

reintrodução.

A Reintrodução A reintrodução de linces em Portugal iniciou-se em

O que é a reintrodução de uma espécie selvagem

2015 na área do Vale do Guadiana, concelho de

na natureza

Mértola. Desde há 20 anos que o ICNF (Instituto da

A reintrodução é a tentativa de estabelecer uma

Conservação

Florestas),

população selvagem viável de uma dada espécie,

juntamente com organizações e associações, tem

numa determinada área geográfica que já foi parte

vindo

de

da sua distribuição histórica, mas onde esta espécie

recuperação da espécie. No concelho de Mértola,

foi extinta. As reintroduções têm sido utilizadas

através da parceria com a ADPM, uma organização

como ferramentas de conservação de espécies

não governamental oriunda desta vila alentejana,

como o lince-ibérico cuja situação na natureza é

foi possível estabelecer acordos com proprietários

muito crítica, recorrendo a animais nascidos em

em áreas com elevada densidade de coelho bravo e

cativeiro.

onde se construiu um cercado de adaptação para os

O sucesso destas ações depende, porém, do

primeiros animais vindos de cativeiro. O lince é

cumprimento de vários requisitos tais como o

uma espécie-chapéu, ou seja, a sua conservação

desaparecimento das causas anteriores de extinção

beneficia muitas outras espécies e os territórios.

da

Entre 2015 e 2017 foram libertados 27 animais no

qualidade do habitat numa área suficiente para

Vale do Guadiana. Desde 2016 que há reprodução na

albergar

natureza e a maioria dos animais apresenta

cativeiro de animais fundadores e adequadamente

território estável.

treinados para sobreviver na natureza.

a

da

Natureza

desenvolver

e

estudos

MUNDO CONTEMPORÂNEO

das e

projetos

espécie

(ex.

uma

furtivismo),

população,

a

a

existência

manutenção

35

de em

VII A reintrodução de uma espécie requer sempre uma abordagem multidisciplinar em que vários aspetos são considerados nomeadamente a aceitação social da espécie na região em causa. Ora, no caso do linceibérico existe uma boa produção de animais em cativeiro foram estabelecidos cientificamente os devidos protocolos para preparar os animais e a forma como são reintroduzidos na natureza.

As primeiras ações foram programadas para a Andaluzia em 2010, onde existia ainda uma população original de linces e se têm realizado importantes ações de gestão do habitat e presas. Em Portugal foi selecionada a área do Vale do Guadiana e poderão vir a ser escolhidas outras áreas de reintrodução. A conservação do lince em Portugal e na Península Ibérica depende, porém, sobretudo da gestão e recuperação do seu habitat. A existência de uma população de linces em cativeiro não é, só por si, a solução para a subsistência da espécie.

Anos depois, como está o Lince Ibérico?

Atualmente, estima-se que existam, na natureza (em Portugal e Espanha), quase 550 linces-ibéricos.

Sendo um número extremamente positivo, visto que em 2002, esta espécie foi considerada criticamente em perigo.

Para este sucesso, contribui o atual programa de conservação e recuperação da distribuição histórica do Lince ibérico – Life+IBERLINCE, cofinanciado pela Comissão Europeia. O programa reúne 22 parceiros, dos quais cinco são portugueses: ICNF, Associação Iberlinx, EDIA, Infraestruturas de Portugal e Câmara Municipal de Moura, assim como os programas de conservação e de reintrodução da espécie, desenvolvidos desde 2009, no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, em Silves (Portugal).

Apesar do sucesso da criação em cativeiro e da sua reintrodução no meio natural, este predador ainda continua ameaçado pela escassez de alimento, a ocupação humana dos seus habitats e a baixa diversidade genética. Ameaças como armadilhas ilegais e atropelamentos são também dificuldades que afetam este projeto. Este felino quase desapareceu do meio natural ao longo das últimas décadas devido “à construção de estradas, o desenvolvimento urbanístico e a exploração agrícola intensiva”, além da perseguição dos caçadores que o consideravam um rival na disputa pelo coelho-bravo.

Libertação de linces na natureza em 2020 Quinde e Quisquilla, um macho e uma fémea de lince-ibérico, provenientes do Centro de Reprodução em Cativeiro de El Acebuche, em Doñana (Andaluzia), foram libertados a 6 de março de 2020, pelas 10h30, na freguesia de Corte Gafo (Mértola), na área de reintrodução de lince ibérico, do Vale do Guadiana. Os linces foram previamente submetidos a controlo sanitário no Centro de Reprodução onde nasceram, foram-lhes colocadas coleiras emissoras e são diariamente monitorizados pela equipa sediada em Mértola, constituída por Técnicos e Vigilantes da Natureza do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

O ano passado foi bastante favorável ao lince ibérico com o nascimento de 46 crias em liberdade e o estabelecimento de territórios ocupados por 13 fêmeas reprodutoras. Com estes territórios já estabilizados, o Vale do Guadiana, tornou-se uma das áreas de reintrodução com maior sucesso a nível ibérico. No dia 2 de fevereiro de 2020, completaram-se 5 anos sobre o início da reintrodução do lince-ibérico em Portugal, um processo com o objetivo a longo prazo de restabelecer os ecossistemas mediterrânicos e valorizar os territórios, que tem contado com um forte envolvimento multidisciplinar e uma proveitosa cooperação técnica e política entre os dois Estados ibéricos.

Apesar dos esforços, esta espécie ainda está classificada com o estatuto de “em perigo” e as ameaças também persistem durante o processo de reintrodução do lince nos seus antigos habitats.

POR FRANCISCA PUGSLEY E MARIANA GUERREIRO

MUNDO CONTEMPORÂNEO

36

“Ninguém nasce a odiar outra pessoa pela cor da sua pele, origem ou religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar podemos ensiná-las a amar.

O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário.”

Nelson Mandela

Fotografia: cANVA

ENTREVISTA

A SUBCULTU A subcultura gótica teve início em Inglaterra, no princípio da década de 1980, onde parte das suas raízes se misturaram com a explosão da cultura punk. É normalmente definida como um grupo contemporâneo de pessoas que dentro de uma cultura adotam elementos de moda escura. Têm também a tendência de usar cabelos e unhas pintados de preto e um principal foco no rock gótico, como também em muitos outros estilos musicais considerados mais pesados, como o death rock, o dark wave e o ethereal wave. Esta subcultura, por sua vez, está normalmente associada a estilos e géneros musicais que envolvem temáticas como o existencialismo, a melancolia, o niilismo, entre muitos outros. Já as suas tendências culturais indicam influências da literatura gótica do século XIX. Para melhor compreender este estilo de vida, foi entrevistada uma estudante do segundo ano da licenciatura em Ciências da Comunicação, na Universidade do Algarve, que participa ativamente neste estilo de vida.

ENTREVISTA Quando surgiu o teu interesse por fazeres parte desta cultura?

R: Já desde muito nova que sempre me interessei pelo lado mais obscuro das coisas, seja música, filmes ou roupas, mas apenas me juntei à subcultura gótica em 2018.

Achas que as pessoas inseridas na cultura gótica são postas de parte?

R: A subcultura surgiu, em parte, mesmo por isso. Qualquer estilo que pertença ao «alternativo» surgiu por motivos de inserção de pessoas caracterizadas como «fora do normal» e que são postas de parte em relação à sociedade, formando assim uma comunidade. É por isso que esta subcultura e mais outras são, normalmente, muito calorosas e acolhedoras (mesmo que não pareça assim).

MUNDO CONTEMPORÂNEO

39

VIII

URA GÓTICA Que dificuldades enfrentas ao assumir este estilo de vida?

R: Enfrento dificuldades em certa parte, ao relacionar-me com as pessoas. Isto porque as mesmas julgam-me pela aparência e assumem à partida que eu não sou uma pessoa com quem elas possam falar, pois não «pareço simpática». Também tenho de, por vezes, suavizar o meu estilo para o mercado de trabalho.

Quais são as tuas maiores inspirações dentro desta subcultura?

R: Esta subcultura encoraja muito a expressão alternativa dos nossos sentimentos. Músicos como a Siouxsie Sioux ou o Sean Brennan expressavam-se, para além da sua música, através do cabelo e da maquilhagem. Muitos outros músicos me inspiraram a perceber que o ser diferente é ótimo e divertido. Desde aí, sintome muito mais confiante e confortável comigo mesma do que como me sentia antes de me juntar à subcultura.

Sentes que existem estereótipos que dão uma ideia errada a este estilo de vida?

R: Sim, muitos. Dizem que somos «todos satânicos», «malvados», «pesados», que não se devem aproximar de alguém assim, entre muitas outras coisas parecidas. A verdade é que, como todas as culturas alternativas, os góticos têm crenças que tendem muito para a política de esquerda. Muita da música, apesar do romantismo obscuro e da morte, fala sobre a crítica à corrupção política e à religião, tal como guerras causadas pelas mesmas.

Como reagiu a tua família, visto que em 2018 houve essa mudança na tua vida?

R: Mesmo antes de me juntar à subcultura, eu já me vestia toda de preto e já ouvia música alternativa, incluindo vários tipos de rock e metal, isto desde 2014. Aí a minha família achou um pouco estranho e a minha mãe no início não foi fã da mudança, mas acabou por se habituar. Atualmente dão-se bem, porque é como se o estilo tivesse “evoluído”, logo não há outra reação vinda da sua parte.

POR ANA PEDRO E ROBERTO PEREIRA

MUNDO CONTEMPORÂNEO

40

VIII

ARTIGO DE OPINIÃO

Ainda com resquícios de Ano Novo e para a primeira publicação da revista em 2021, não haveria tópico melhor do que as famosas superstições e crendices indispensáveis nas viradas de ano! Todos os anos e, logicamente, dependendo de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, existem costumes e tradições que são passados de geração em geração. Apesar disso, por vezes algumas acabam por se perder ou se alterar ao longo do tempo.

No conjunto dessas tradições associadas à passagem de ano, podemos enumerar algumas que se aplicam em Portugal, embora podendo apresentar variantes, como, por exemplo: utilizar roupa interior de cor azul na noite da passagem de ano, pois o azul é uma cor associada à harmonia e à sorte; é também comum comer 12 passas durante a contagem decrescente para o novo ano, cada passa simbolizando um desejo pedido por quem as come; encontramos também a tradição de assim que o relógio marca a meia noite subir para uma cadeira ou degrau com o pé direito e uma nota na mão para dar sorte e prosperidade financeira à pessoa que o faz.

Além disso, é o momento de definir objetivos e metas para o ano que se inicia, repensar os feitos do ano anterior e entender o que é preciso deixar para trás no novo ano! Há quem siga rigorosamente tais atividades e há quem só as faça para não sair do clima de réveillon. De facto, não deveria existir um dia ou uma ocasião em específico para avaliar a concretização de objetivos, pois não é exclusivamente necessária uma mudança de ano para surgir motivação e ambição de cumprir metas.

Passagem de ano é sinónimo de mudança, de metamorfose e para não acabarmos por cair em rotinas antigas no futuro, é importante entender o poder da autodisciplina. Colocar um ponto de partida pode auxiliar a nossa caminhada, assim como colocar nossas crenças em superstições pode auxiliar a nossa fé no sucesso. Mas ao final do dia, a peça mais importante para que toda a lista de objetivos se concretize, é você mesmo!

TEXTO REDIGIDO EM PORTUGUÊS DO BRASIL

POR ANA INGLÊS, TAMIRES SIQUEIRA E TERESA ALEXANDRE

MUNDO CONTEMPORÂNEO

41

Fotografia: cANVA

PERFIL

Desde muito cedo que manteve uma relação com a bola, aos nove anos de idade o astro argentino iniciou a prática da modalidade na equipa perto de onde residia, Los Cebollitas e com apenas 15 anos já tinha afirmado o seu lugar no futebol profissional, jogando pela camisola da equipa Argentino Junior. Um ano mais tarde ganhou o título de jogador mais jovem a vestir a camisola da seleção do seu país e mais tarde, no Boca Juniors, vence o seu primeiro título nacional.

Ingressou a sua carreira internacional a 1982, quando assinou contrato com o Barcelona, ficando para a história do clube como a transferência mais cara do clube. Em 1984 passou a representar o Nápoles onde desempenhou um papel importantíssimo por ser considerado um dos responsáveis pelos grandiosos títulos que a equipa conquistou. Já no final da sua carreira tornou a Espanha, ao serviço do Sevilha.

Um dos momentos mais marcantes protagonizados por Maradona enquanto futebolista foi batizado por “mano de Díos”. Este aconteceu no jogo contra a seleção de Inglaterra, no Mundial de 1986, quando o jogador marcou um golo com a mão. Da sua brilhante carreira fizeram parte mais de 600 jogos e 345 golos marcados bonitos de se recordar. O jogador disputou também quatro campeonatos mundiais ao serviço da seleção argentina.

Após a atuação espetacular no Mundial de 86 com sua “mão de Deus”, Maradona esteve envolvido em questões

relacionadas

com

o

uso

de

drogas,

especialmente a cocaína. Com idas e vindas em reabilitações, Pibe esteve mais de uma vez à beira da morte por conta de overdoses.

Em outro episódio marcante relacionado com o uso de drogas, Maradona saiu de mão dada com uma enfermeira para a realização de um exame antidoping no Mundial de 1994, nos Estados Unidos. Naquele torneio, o camisola 10 da Seleção Argentina foi flagrado pelo uso de um medicamento para emagrecimento e suspenso do campeonato.

O craque pós término à sua carreira aos 37 anos e já estando afastado dos campos chegou a ser cara de um programa televisivo “La noche del diez” e escreveu um livro “Yo soy el Diego”. Foi aos 60 anos que a estrela do futebol faleceu, após sofrer uma paragem cardiorrespiratória.

POR FRANCISCA BETTENCOURT, RITA AGOSTINHO E TALES LOBO

MUNDO CONTEMPORÂNEO

43

IX

Um dos maiores talentos da história do futebol, Diego Armando Maradona, nasceu a 30 de outubro de 1960, em Lanús, Buenos Aires. Conhecido como “el pibe de oro”, que traduzido para português significa “o rapaz de ouro”, foi marcado por uma infância humilde.

MUNDO CONTEMPORÂNEO

44

ARTIGO DE OPINIÃO

RACISMO: O GRANDE VÍRUS NO DESPORTO Com o findar de um ano repleto de desastres e desaires, onde a maior e pior novidade com que muitos tiveram de lidar foi a propagação global do vírus SARSCOV 2, que em muito alterou o nosso dia-a-dia, avança se agora para um novo calendário repleto de desejos e esperanças de que o mundo volte a recuperar o seu anterior esplendor e a pandemia fique para trás. No entanto, 2020 não foi o ano de um só vírus.

O racismo desde há muito tempo que se

camente superior e de que os atletas alemães

estabeleceu como dos piores vírus que infetam a

dominariam a competição. Para seu desagrado,

nossa história, infiltrando-se e corrompendo

quem acabou por brilhar na capital germânica foi

diversos aspetos do nosso mundo como no caso

um negro norte-americano chamado de Jesse

óbvio da política e da cultura. E o desporto não é

Owens, cujas quatro medalhas de ouro e um

exceção. O desporto sempre foi um espelho da

recorde mundial impressionaram a audiência de

sociedade em que se insere. Há muito que várias

Berlim e o solidificaram como um herói olímpico,

modalidades desportivas com especial “carinho”

humilhando Hitler na sua própria casa. Este,

para as mais populares são utilizadas como vias

supostamente, teria recusado apertar a mão de

de promoção ou propagação de determinadas

Owens e de outros participantes não alemães,

ideologias e políticas. As clássicas olimpíadas da

tendo acabado por abandonar o Estádio Olímpico.

Grécia

Em data mais recente, exalta-se casos como o de

antiga,

por

exemplo,

consistiam

principalmente num festival religioso para honrar

Serena

e celebrar Zeus, rei dos deuses do Olimpo. O

tenistas de sempre, e as constantes dificuldades

futebol português foi vítima infame de politização

que continua a sofrer na sua carreira por conta de

por parte de António Salazar como forma de

ser uma mulher negra; ou o caso de Colin

distrair e agradar o “Zé povinho”, a fim de distrair

Kaepernick, jogador da NFL, com o seu famoso

a atenção dos problemas que ocorriam no país. O

ajoelhar, em 2016, durante o hino americano,

racismo não é exceção a esta regra e ainda está

considerado sagrado por muitos estadunidenses,

fortemente presente no paradigma desportivo

em protesto contra a brutalidade policial e a

atual. Felizmente, o combate à discriminação

injustiça “racial” que ainda hoje originam tristes

“racial” também marca a sua presença de maneira

notícias. O mais recente episódio de maior

cada vez mais forte, oferecendo um senso otimista

dimensão teve lugar há meras semanas, num

de que a situação está realmente a pedalar para o

confronto de Liga dos Campeões entre o Paris

bom caminho. Dois dos momentos mais poderosos

Saint-Germain

e icónicos da história dos jogos modernos

polémica surgiu em torno do quarto árbitro da

rondaram precisamente em torno da questão da

partida que se referiu ao treinador adjunto do

“raça”. A edição olímpica de 1936, que decorreu na

emblema turco como “aquele preto”. Os jogadores

cidade de Berlim durante os tempos da liderança

não

nazi, foi visionada por Hitler como a oportunidade

confrontaram-no, com especial destaque a Demba

perfeita para demonstrar, propagar e provar as

Ba. O jogo acabou com ambas as equipas a

suas delusões de que a "raça" ariana era inequivo-

abandonarem o relvado em revolta, suspendendo

MUNDO CONTEMPORÂNEO

Williams,

gostaram

e

do

uma

o

das

mais

Istanbul

palavreado

aclamadas

Basaksehir.

do

árbitro

45

A

e

IX

Imagem: rte

o encontro que viria a ter uma nova equipa de

-as, seja nas bancadas seja nas redes sociais,

arbitragem na sua retoma. É muito triste, e

insistindo cada vez mais em fazer barulho e em

também muito preocupante, ver uma das mais

não deixar a injustiça cair em silêncio. O mundo

prestigiantes e assistidas competições de todo o

do futebol, aplaudiu de casa o gesto das equipas do

desporto a ser palco de um incidente como este,

Basaksehir e do PSG, que não se conformaram e

especialmente com um árbitro que deve servir

viraram as costas ao racismo, abandonando o seu

enquanto exemplo de respeito e autoridade dentro

agente no estádio. Momentos como este fazem-

do campo. Apesar da UEFA apelar à luta contra o

nos acreditar em que este vírus poderá um dia vir

ódio racial, com inúmeras campanhas de “dizer

a desaparecer e que o respeito e a compaixão

não ao racismo”, esta demonstra-se incapaz de

regerão o nosso paradigma, tanto a nível do

controlar a situação pela qual é responsável e

desporto como da sociedade em geral. Ainda

acabam por acontecer incidentes como este.

estamos longe desse futuro, mas a luta por esse

Quando estas polémicas se sucedem, há sempre

sonho está bem viva no presente e pouco a pouco

contestação

ao

pinta-se um mundo colorido onde nenhuma das

mencionado ajoelhar de Kaepernick, em 2016, o

suas cores é desprezada, pois não devem ser só as

ativismo atlético reacendeu a sua chama e cada

semelhanças que nos unem, mas também as

vez mais o racismo encontra resistência por parte

diferenças. O desporto é algo para todos e todos

do mundo do desporto. Se no século XX, campeões

merecem desfrutá-lo, seja a praticar seja a assistir,

olímpicos eram desqualificados por levantarem o

sem

punho em defesa da sua cor, como Tommie Smith

simplesmente serem como são. É precisamente

e John Carlos, nos jogos de 1968, os quais fizeram

por isto que temos de nos mexer e tomar

o gesto do movimento Panteras Negras no pódio,

iniciativa. Não basta ficarmos a ver e gabarmo-nos

após receberem as suas medalhas, tendo-lhes

da nossa inocência. Temos que levantar a voz e

estas sido retiradas de seguida, nos tempos atuais

rejeitar firmemente esta doença que se chama

assistimos a atletas, clubes e instituições a

racismo. O antirracismo é a resposta e esperamos

rejeitar publicamente atos de discriminação e a

que o futuro do desporto esteja repleto dele. Afinal

apoiar de forma pública o ativismo antirracista.

de contas, não é monótono olhar sempre para uma

Também se observa que adeptos e admiradores

mesma cor? Nós queremo-las todas.

em

seguida.

Muito

graças

terem

de

sofrer

discriminações

por

expressam a sua discordância perante atos racisPOR MARCO AMARAL E TOMÁS ALVES

MUNDO CONTEMPORÂNEO

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AVCXYOPRECISAMOSN Q HAGDTUXKÇQUDOAL ADGDEIJT MKL APQRJX KLBZHSTAUIPWXELSG VBYÇVKSGE UFICARYF OARSUBQLÇPHUQVBN AIZOPÇWT EMUMFGSLL ADER WLDPTSCHGKILA FECASAYCSHDAB LUR WNIETGDCALO KEKTDC KDJFCUTPARAEINSKCD LDGONDAEQAXZPLIFG Ç MOWCXASTHJPAÍSJK WTVDLFXMLVBNWIRSR LW ANDARJZ ULPARAJ H D E T B F K S D F SZ C V T R V BWLMPOARNSKFRENTE F C J T K U TQ V S H F H J I U Y E

CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO | 2º ANO