Janelas Abertas

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Simão Viana Martins

Quem passa juntinho ao portão da minha casa É chamado à atenção aos latidos de dois cães Vira-latas dóceis e agora também se pode ver Um jabuti de casco sujo Velho e se arrastando e solitário Tento apreciar a sua idade Deve ter mais de trinta e oito À sombra da laje nova Vai papai se embalando Há vida numa rede azul Vindo da Amazônia e da Saudade no peito Num canto do céu nem sei se é o horizonte Escondem-se ogivas de prédios em mata verde Antes da fumaça das fábricas progressistas Longe... Lá vem na rota um avião! E as nuvens se mancham de vermelho-ocre Ao pôr-do-sol alguns pardais vêm buscar o abacateiro florido Que não cresce mais por convicções políticas presidenciais Mamãe nem liga para o horário-de-verão Vem jantar meu filho! “Vem comer desta ilusão”

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