2 minute read

Reflectindo - Pág

reflectindo

FINANCIAMENTO E AS OSC

Advertisement

Ter algum financiamento ainda que externo e trabalhar ou não ter nada e não desenvolver? Esta é a situação de muitas Organizações da Sociedade Civil (OSC), criticadas e olhadas com desconfiança, sobretudo pela classe governativa que pensa que por via dos financiamentos cedidos por entidades estrangeiras, as OSC cumprem uma agenda e interesses escusos, congeminam influências e interferências nos países em que operam.

Mas será diferente quando é o Estado Angolano a receber esses financiamentos?

Se há coisa que mudou muito nos últimos anos, é a notoriedade crescente que algumas OSC Angolanas alcançaram junto dos financiadores estrangeiros, por conta da transparência, prestação de contas, mostrar trabalho feito e resultados irrepreensíveis.

Há bons exemplos, mas também há maus. Não nos podemos esquecer que quando o assunto é dinheiro, persiste ainda uma mentalidade mercenária no que concerne à gestão que está mais próxima do bolso próprio do que da boa governança, lisura, rigor… E é preciso reconhecer que há quem se sinta mais tentado pelo valor monetário e muito menos motivado pelo impacto dos projectos nas comunidades. E quando assim é, sabemos que os projectos são uma fachada para alimentar pseudo-activistas ou pseudo-defensores dos direitos humanos e dos povos.

Por outro lado, não podemos ser ingénuos e pensar que os financiadores estrangeiros não têm agenda própria. Recorrendo aos ensinos do educador Paulo Freire, é necessário aprender a linguagem imperialista, saber dialogar e desenhar um caminho próprio e, se possível, livre. Neste sentido, as OSC sem outros meios, dependem dos financiadores estrangeiros sim, mas aprendendo a linguagem, alcançam uma gestão transparente e assim, conseguem dialogar e exigir a implementação de projectos próprios que fazem sentido.

Fotografia:©freepik

Há muito trabalho a fazer, desde logo a costumização dos índices, dos modelos de governança e dos indicadores. Não se trata de mudar as regras e nivelar por baixo, mas antes de encontrar caminhos, meios e objectivos que fazem sentido, contextualizados. Creio que o grande desafio das OSC Angolanas e Africanas é o da emancipação. Lá onde já chegam, à boleia dos financiadores, conquistar o lugar de voz própria e postura firme e autónoma para construir as nações que sonhamos. Às OSC de hoje é exigida uma nova visão, primeiro auto-crítica que redesenha o seu papel no país e reposiciona a sua pegada no mundo. Deste modo, copiar modelos, seguir metas e agendas que mantêm a desigualdade entre os hemisférios, há muito deixou de ser opção…

Texto: Mandele Rocha

This article is from: