Revista personalizada - Molde a Moda

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Saiba mais sobre esse mercado de trabalho a moda acessível

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Moldes adaptados para cadeirantes

REINVENTANDO Página 27

sobre nós

ágata Yasmim de oliveira21 - ESTILISTA E REDATORA

Com grande interesse por temas sociais, é pesquisadora e responsável pela marca de vestuário Ninho de Mafagafos. Seu interesse por moda surge desde a infância e se desdobra na graduação a partir deste projeto

Dandara Sturmer - 26 - redatora

Militante de movimentos sociais e apaixonada por cinema e livros, sua determinação em dar voz às questões sociais e seu amor pela arte tornam-na uma adição essencial à nossa equipe editorial.

Daniela Polla- professora orientadora do projeto

Identifica-se com as pautas feministas, das pessoas idosas e demais minorias; é Jornalista (UFSM), mestra (UEM) e doutora (UEM) em Letras; gosta de redação jornalística e publicitária, tem uma quedinha pela Comunicação Organizacional

alexia alves - 20 - REDATORA

Leitora desde a infância, Alexia se encontrou na literatura e na luta feminista

Sua paixão por aprender e explorar novos hobbies e seu desejo de se tornar referência no campo do jornalismo agregam um toque especial à nossa revista.

MARIANA GUARNIERI - 21 - design

Com forte interesse pelo cinema e artes visuais, Mariana é uma peça fundamental em nossa equipe Sua experiência e afinidade pelo design e sua paixão pelo mundo do entretenimento traz criatividade ao nosso projeto.

Cássio henrique ceniz- professor orientador do projeto

É graduado em Jornalismo e Letras, com especialização em Assessoria de Imprensa, e está cursando doutorado em Letras Na comunicação, ele gosta de áreas como comunicação organizacional e jornalismo, e na pesquisa, foca no estudo do discurso e relações de poder

edito rial

É com muito orgulho, entusiasmo e dedicação que apresentamos a primeira edição da nossa revista customizada Molde a Moda, na qual mergulhamos fundo no mundo da modelagem, comunicação não-violenta, capacitismo e outros temas, que, à primeira vista, parecem bem difíceis e complexos Porque eles são mesmo.

Pensar a moda para pessoas com deficiência (PCDs) parece um tema tão profundo e cheio de possibilidades que é até difícil acreditar que não existem marcas e empresas que atuam nesse segmento gigantesco do mercado. Dá até vergonha de pensar que, antes desse projeto, nunca havíamos nos questionado sobre a moda inclusiva e sobre como uma pessoa com deficiência encontra roupas adequadas para suas necessidades. Com mais de 7% da população brasileira possuindo algum tipo de deficiência, já passou da hora de falarmos sobre isso Nossos olhares se voltam para Bianca Kelmer Bracht e Naiara Batista, modelos incríveis que compartilham suas experiências pessoais e nos ajudam na adaptação de vestuários para pessoas com deficiência motora. Uma jornada que vai muito além de uma simples roupa, falar sobre a moda inclusiva e dar voz para pessoas portadoras de deficiência é um passo importante para a sociedade Porém, não basta apenas falarmos sobre isso É hora de botar a mão na massa Como realizar uma comunicação nãoviolenta com PCDs? Como fazer uma roupa realmente adaptável e que consiga ser reproduzida?

Como se sentem as pessoas com deficiência? Foram algumas das dúvidas que surgiram durante o processo de montagem da revista e que tentamos responder. Uma tarefa que, pela falta de recursos, acessibilidade e importância nos projetos de governo, se torna cada vez mais difícil.

Em cada costura, em cada entrevista, em cada detalhe, encontramos uma oportunidade de promover a inclusão e a individualidade. Convidamos você a embarcar conosco nessa jornada, explorando as tendências mais recentes que incorporam não apenas o estilo, mas também o comprometimento com a funcionalidade e o respeito aos diferentes corpos que compõem nosso redor Que esta revista inspire novas reflexões sobre a moda inclusiva, o capacitismo e o papel da comunicação, que pode verdadeiramente transformar não apenas guarda-roupas, mas também vidas

Ágata, Alexia, Dandara e Mariana .

Esta revista é um projeto desenvolvido para as disciplinas de Planejamento e Empreendimento em Comunicação do curso de Comunicação e Multimeios da Universidade Estadual de Maringá orientado pela professora Dra Daniela Polla e pelo professor Me Cássio Henrique Ceniz

Moda acessível e inclusiva ........................... 5 Moldando a moda ............................................ 7 Sobre a comunicação não-violenta .......... 9 Ajustes ................................................................. 11 A moda na prática ........................................... 13 Vestindo quem somos .................................. 15 Reinventando moldes ................................... 23 Tecidos e aviamentos ................................... 29 É sempre hora de falar sobre .................... 35 Garotas capa de revista ............................... 37 Moda, autoestima e empatia ..................... 38 Outros trabalhos ............................................ 39 Nossos agradecimentos .............................. 41 sumário
@dale.arts

Moda Acessível e Inclusiva: Vestindo Diversidade e Empoderamento

A moda é uma forma de expressão, uma maneira de contar histórias sem dizer uma palavra sequer. No entanto, por muito tempo, esse universo encantador esteve fora do alcance de muitas pessoas, especialmente daquelas com deficiências físicas ou corpos que não se encaixam nos padrões tradicionais da indústria.

Mas você sabe o que é moda acessível ou moda inclusiva? Esse movimento defende que todas as pessoas, independentemente de suas habilidades físicas ou características corporais, devem ter acesso ao mundo da moda Trata-se não apenas de criar roupas adaptadas que ofereçam conforto e segurança, mas também de permitir que cada pessoa expresse sua individualidade e seu lado artístico através das vestimentas.

Nas lojas de roupas convencionais, as peças encontradas não são feitas para acomodar corpos com abdomens grandes ou colunas que não sejam retas Botões e fechos em calças e camisas podem ser um desafio para mãos que não possuem mais força nos dedos ou que são tortas. Para quem não possui parte das extremidades do corpo, vestir-se pode ser uma luta constante, resultando em peças que ficam folgadas ou apertadas demais, além de desconforto ao usar calças durante longos períodos sentado em uma cadeira de rodas. As adaptações de roupas para PCD‘s (Pessoas com Deficiência) desempenham um papel crucial nessa missão. Botões de pressão, calças com elástico na cintura, aberturas que facilitam a troca de sondas, camisetas sem costuras nas costas e etiquetas com informações em braille são apenas algumas das soluções que garantem o bem-estar e a autonomia no dia a dia dessas pessoas. No entanto, apesar da evidente necessidade e do potencial desse mercado, a indústria têxtil ainda não reconhece totalmente a moda inclusiva como uma oportunidade próspera

As lingeries são peças difíceis de encontrar para corpos não convencionais, como relata a modelo Naiara Mercado

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Segundo o Censo do IBGE de 2022, no Brasil, existem cerca de 19 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, representando aproximadamente 8,9% da população nacional. Muitas delas enfrentam dificuldades para encontrar roupas adequadas, recorrendo a adaptações caseiras ou limitando suas opções às poucas boutiques especializadas disponíveis no mercado.

Em suma, a moda acessível e inclusiva não é apenas uma questão de vestir-se; é uma questão de empoderamento, representatividade e dignidade É hora de reconhecer que a diversidade é o que torna a moda verdadeiramente bela e que todas as pessoas têm o direito de se sentir confiantes e confortáveis em suas próprias peles, independentemente de suas habilidades físicas ou características corporais.

Entretanto, há quem esteja lutando por essa causa, trabalhando para promover a inclusão e a diversidade na moda. Uma dessas pessoas é Vitória Cuervo (@vitoria.cuervo), uma estilista de moda inclusiva que tem se destacado por seu compromisso em criar roupas que atendam às necessidades e às preferências estéticas de pessoas com deficiências físicas. Sua visão audaciosa e seu talento criativo estão abrindo caminho para um futuro mais inclusivo e igualitário na indústria da moda.

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@vitoria.cuervo

moldando a moda

“Cada corpo é único” essa é uma frase que acompanhamos com frequência em campanhas de moda e publicidades da indústria da beleza Mas, cá entre nós: na hora dessas empresas produzirem as peças essa frase parece ser esquecida.

Como expressar sua identidade através da moda se ela só é pensada para um tipo de corpo e ele não é o seu?

Bianca, uma jovem de 29 anos que ama ir para a balada, sair com os amigos e frequentar cafés, lida com essa questão diariamente por fazer uso de uma cadeira de rodas.

A seguir, acompanhe um bate-papo com ela para entender quais são as dificuldades e as soluções que uma pessoa cadeirante encontra na tentativa de moldar a moda para si mesma.

Molde à Moda (MM): Como você se relaciona com a moda? E qual a importância que ela tem para você?

Bianca: Ela é bem importante para a minha autoestima, porque no começo eu só achava vestidos para mim e eu não me achava bonita com shorts ou calça, mas hoje em dia tenho achado umas roupas mais acessíveis. Mas sempre foi bem importante pra minha autoestima, ela foi evoluindo ao longo do tempo, mas agora tá bem…certa. Antigamente eu não tinha um estilo específico, eu usava mais as peças que davam.

MM: Quais são as maiores dificuldades que você encontra para achar peças?

Bianca: É mais a calça e shorts mesmo, porque como eu tenho a coluna rodada, dai pra passar na coxa e na cintura é bem complicado Tênis também, não acho tênis do meu tamanho A blusa tem que ser bem mais larga, por causa da coluna inclusive. Eu tenho a coluna e a costela bem ressaltadas.

MM: Você já teve experiências positivas com alguma marca específica?

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Bianca: Não, eu não visto marca, a maioria eu mando fazer, mas quando vou nas lojinhas mais simples é o que eu acho, tipo em brechó. Inclusive eu moro na Dig For Fashion, graças a deus, lá é onde acho muita roupa pra mim.

MM: Quais adaptações você gostaria de encontrar nas peças para que elas se tornem mais acessíveis?

Bianca: Eu sempre opto por blusas maiores por causa do meu ombro que é mais largo e para passar nas costas e calças que passem na coxa. Sempre busco peças maiores e com elastano por causa da minha coxa. Calcinha e sutiã também, sutiã inclusive eu preciso sempre do adaptador para deixar maior porque minhas costas são mais largas Calcinhas eu sempre compro aquelas de vó porque outras não dá.

MM: Como você lida com a falta de opções do mercado atual? Tem alguém com quem você faça peças sob encomenda?

Bianca: Além dos brechós eu também achei uma costureira boa, que é uma amiga da minha tia e vou com ela sempre Porque a costureira é bem difícil de achar também, e é só com ela que eu tenho ido.

MM: Nessa busca por costureiras você já passou por alguma situação de capacitismo?

Bianca: Não, graças a deus, as duas que eu passei foram bem solícitas e acertavam. Só a última que eu tive que parar porque ela foi embora daí eu achei essa outra Mas enquanto eu não achava era só brechó

MM: Você sente que essas costureiras têm algum preparo ao adaptar suas peças?

Bianca: Não, não tem, mas as duas que eu encontrei elas acertaram, teve uma outra que não deu muito certo e fazia umas roupas que não dava de jeito nenhum.

A costura ficava toda torta, porque não conseguia medir direito em mim, mas como é da família a costureira que eu vou daí ela acerta direitinho

MM: Tem alguma peça que você sempre quis usar e não conseguiu?

Bianca: Calça jeans

MM: Você acredita que existem estigmas associados à moda para pessoas com deficiência motora? Qual sua opinião sobre?

Bianca: O que todo mundo acha é que cadeirante vai usar roupas evangélicas, mais largas, que não pode usar roupa curta, e não né, a gente usa do mesmo jeito, só tem que achar

MM: Você acha que existe conscientização suficiente sobre moda inclusiva para pessoas com deficiência motora na sociedade?

Bianca: Não, porque cada corpo é um corpo e ainda mais de cadeirante né, coluna torta, coluna reta, pra frente, pra trás. Cada um precisa de uma adaptação e as pessoas têm essa abertura de cuidar e de ir atrás Tem gente que nem tênis consegue achar, eu por exemplo, tem uma amiga minha que manda fazer, eu não mando, mas tem que correr bastante nessas lojinhas de centro para achar.

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sobre a comunicação não-violenta

A moda vai muito além de simplesmente roupas, acessórios e moldes Ela tem identidade, personalidade e deve ser tratada com dedicação e cuidado, especialmente no caso da adaptação de peças para pessoas com deficiência. Uma situação que dificulta o processo da inclusão é a própria comunicação e o diálogo com essas pessoas. Como conversar adequadamente com uma possível cliente PCD? Como ter uma conversa não capacitista?

Para abordar essas e outras questões, entrevistamos Jade Martins Arantes, líder do Instituto de Comunicação Não-Violenta (CNV) Brasil e exploramos os diversos aspectos da CNV, discutimos sua aplicação no contexto do capacitismo e refletimos sobre como podemos integrar esses princípios em nosso dia a dia. Se liga:

Capacitismo: forma de preconceito que coloca pessoas com deficiência em uma posição de inferioridade

MM: Do que se trata o Instituto?

Jade: O Instituto teve sua origem em um encontro de mentes curiosas envolvidas com a Comunicação Não Violenta (CNV). Inicialmente, começou como um grupo de estudos com diversas iniciativas em andamento, mas foi crescendo e ganhando forma até virar se organizar como uma empresa mesmo, com a missão de transformar o mundo, uma conversa de cada vez.

Nossa atuação abrange diversas áreas, colaboramos com organizações tanto do setor privado quanto público. Há dois anos, estendemos nosso alcance ao estabelecer uma associação dedicada a apoiar defensoras de direitos humanos e ativistas socioambientais Estamos presentes em todos os lugares onde encontramos oportunidades para multiplicar essa visão de mundo e promover uma nova forma de se relacionar.

MM: Quais seriam os principais obstáculos que uma pessoa pode enfrentar ao tentar praticar a comunicação violenta dentro do contexto do capacitismo?

Jade: É importante lembrar que não sou uma pessoa com deficiência e ainda tenho muito a aprender sobre o assunto para discuti-lo com propriedade. No entanto, na CNV, encontro um aspecto prático e, ao mesmo tempo, um convite ao desenvolvimento de uma nova consciência no contexto do capacitismo O capacitismo é enraizado em um paradigma cultural de dominação, em que as crenças se reforçam e acabam dividindo nossa sociedade entre “certo” e “errado”, “ recompensas ” e “punições”

O capacitismo, a meu ver, surge dessa falta de reconhecimento inicial de nossa humanidade partilhada, das diferenças e dos diversos pontos de partida. Superar esse desafio envolve também mudar nosso olhar, requer compreensão e ação para superar as barreiras enfrentadas por muitas pessoas com deficiência, desde o acesso à educação, trabalho, moda até o reconhecimento de suas necessidades

MM: Quais são os passos ou estratégias que você recomendaria para que a comunidade possa integrar a comunicação não violenta na luta contra o capacitismo e na promoção de uma sociedade mais inclusiva?

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Jade: Acredito que há um ponto importante a ser destacado, que é o reconhecimento de que todas as nossas conversas e experiências são moldadas por uma estrutura. O autoconhecimento nessa dimensão coletiva é essencial Reconhecer que minha perspectiva, como mulher lésbica branca, também influencia minhas palavras e escuta e, embora se colocar no lugar do outro tenha potencial, também pode ser perigoso, pois às vezes levo minha experiência para interpretar a do outro O caminho principal é praticar a curiosidade e uma escuta ativa para compreender outras perspectivas, especialmente daqueles historicamente marginalizados e privados de direitos básicos e acessos Quando exploramos essas diferentes lentes, conseguimos ampliar nosso entendimento e empatia, uma prática crucial, principalmente ao abordar grupos como pessoas com deficiência, entre 7,5% a 8% da população brasileira

Jade: Em todos os lugares que frequento e ocupo, seja no cinema ou restaurante, questiono a ausência dessas pessoas. Onde estão e por que não estão aqui? Então, acredito que é necessário praticar a escuta e a curiosidade para conhecer de fato a realidade, obstáculos e desafios enfrentados pelas Pessoas com Deficiência, reconhecendo a diversidade de experiências nesse grupo

Ao compreender, posso me tornar um agente de transformação, uma aliada que busca, nos

lugares onde tenho acesso e influência, garantir o acesso a esses direitos Assim, é importante ter conversas que promovam o acesso a direitos e desestigmatize o grupo

Nesse papo tão importante com Jade, mergulhamos na essência da CNV e como ela se encaixa na questão do capacitismo e consequentemente influencia a moda. A comunicação não-violenta, como visto, é muito mais que uma técnica, é um princípio que transforma nossa visão de mundo como um todo!

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Na moda, a criatividade vai muito além de criar do zero. Às vezes, é só uma questão de ajustar, e pronto!

a jus teS

Para quem tem deficiência, esses ajustes simples podem ser a chave para um dia a dia mais fácil e estiloso.

Vem com a gente conferir algumas dicas de adaptações que podem fazer toda a diferença:

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Aberturasquefacilitam

Sabe aquela peça que você ama, mas sempre dá um nó na hora de vestir? Uma saída é acrescentar aberturas estratégicas É só encontrar um tecido parecido e costurar zíperes, botões ou até mesmo velcro, dependendo das necessidades.

Elastano é vida

Na hora de ajustar as roupas para o cliente, prefira elásticos em vez de pences. Por exemplo, colocar um elástico na parte de trás de uma calça garante que ela ainda sirva mesmo com pequenas mudanças de tamanho

Conforto em primeiro lugar

Se seu cliente usa cadeira de rodas, aqui vai uma dica: franzir levemente as calças no joelho Assim, o tecido não atrapalha a circulação, mesmo depois de horas sentado. Conforto em primeiro lugar!

Conversa é tudo

Por último, mas não menos importante, tenha uma conversa sincera com seu cliente. Pergunte sobre suas experiências ao se vestir e quais são suas dificuldades diárias com roupas. Essa é uma oportunidade incrível de praticar sua comunicação não violenta e ouvir a perspectiva de outra pessoa.

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a moda na prática

A moda vai muito além de simplesmente vestir corpos. Ela é uma expressão da individualidade e, mais do que isso, uma ferramenta inclusiva e de aceitação. Por isso, adaptar peças para um público específico é uma tarefa que deve unir o conforto, a funcionalidade e a inclusão Nesta entrevista exclusiva, adentramos o universo da moda inclusiva, um campo desafiador e apaixonante, com as professoras do curso de Técnico do Vestuário no Instituto de Educação de Maringá: Maria Helena Ribeiro de Carvalho, Geórgia Kessami Kimura Noda e Patrícia Bedin Alves Pereira.

Sobre o universo da moda inclusiva, campo desafiador e apaixonante, conversamos com as professoras do curso……Prepare-se para desvendar o mundo das texturas, sensações e movimentos diversos que guiam a criação de peças únicas para indivíduos com diferentes necessidades.

ENTREVISTA COM A PROFESSORA MARIA HELENA

Maria Helena Ribeiro de Carvalho, 55, trabalha com moda desde os 13 anos A professora de modelagem, vestuário e costura no curso de Técnico de Vestuário do Instituto de Educação de Maringá, já encarou o desafio da adaptação do vestuário algumas vezes nos seus mais de 40 anos de experiência, por isso, sabe como é uma tarefa difícil e que exige muito trabalho de pesquisa e estudo para a produção de peças eficientes.

Ao ser questionada sobre como ela acredita que os profissionais encaram o segmento de moda inclusiva, responde:

“São poucas pessoas que se interessam por esse nicho de mercado Então você vai achar poucas marcas que trabalham com ele. Por quê? Porque é algo muito específico. As deficiências são muito diversas para você fazer em série aquele produto Por esse motivo, existem poucas empresas, infelizmente ”

Mas então, o que fazer? Para Maria Helena, existem alguns elementos em comum que podem ser utilizados ao se pensar em um vestuário inclusivo Um desses aspectos, é o da ergonomia.

Como uma roupa vai se encaixar no corpo de uma pessoa com deficiência motora? Observe seu corpo

mariahelenadecarvalho

A ergonomia na moda promove a adaptação do produto ao corpo através da modelagem, garantindo conforto, praticidade e segurança no vestuário, promovendo o bem-estar

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“Suas articulações, como se movimenta Veja como ele tem texturas, sensações, movimentos diversos”. Ou seja, a ergonomia, para ela, precisa estar presente no processo da modelagem para que a peça proporcione conforto, funcionalidade e segurança, visando o bem-estar do indivíduo em todos os seus aspectos.

ENTREVISTA COM AS PROFESSORAS

GEORGIA E PATRÍCIA

Bom, leitor, já entendemos o quanto a moda inclusiva não é simples ou fácil de ser produzida. Quem também fala sobre isso é Patrícia Bedin Alves Pereira, professora de Desenho e Materiais Têxteis com 15 anos de experiência, que fala sobre como “é um processo minucioso e lento, que envolve a escolha de tecidos, acessórios e várias técnicas, como elastano, abotoamento por ímã, zíperes, velcro e respirabilidade, além de várias outras coisas que vão tentar garantir maior conforto térmico e tátil, mas é realmente bem difícil”.

Por isso, o que ela percebe é que a moda vai muito além de simples peças de roupas e transforma-se em uma grande área social que deve ajudar os indivíduos com suas necessidades

Além disso, segundo a profissional, acontece uma grande carência na educação e conscientização sobre o design inclusivo na moda, especialmente para os novos profissionais interessados nesse campo Preocupante, não é mesmo?

Já Geórgia, professora de História da Moda e Design há mais de 10 anos, comenta sobre a falta de um material didático mais aprofundado sobre o tema da moda inclusiva, já que, ela mesma, profissional experiente, nunca lidou com essa situação e diz que não teria conhecimento suficiente para atender um cliente com necessidades específicas, por exemplo

Para ela, é muito importante considerar a individualidade da pessoa com deficiência no momento da criação da roupa para ele. A professora também destaca a importância da pesquisa de mercado, do contato direto com os clientes e da ética profissional para que a moda não apenas celebre a individualidade de cada um, mas também se adapte e abrace a diversidade de corpos presentes em nossa sociedade

Ok, com tudo isso em mente, como fazer uma peça inclusiva, afinal? Para Maria Helena, Patrícia e Geórgia, a solução é apostar em uma produção em menor escala, com um atendimento mais personalizado e humanizado para que todas as necessidades e complexidades do vestuário para pessoas com deficiência sejam atendidas Uma jornada lenta, porém essencial, que visa quebrar barreiras e garantir que a moda abrace a diversidade em toda a sua amplitude.

g e o r g i a n o d a P a t r í c i a p e r e i r a
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vestindo quem somos

A fim de colocar os conceitos e aprendizados sobre moda acessível em prática, foi realizado um ensaio de apresentação de peças confeccionadas por Ágata Yasmin de Oliveira e adaptadas para o público PCD

Antes de realizar este ensaio, as peças utilizadas pelas modelos foram decididas em conjunto com elas e projetadas sob medida. Durante todo o processo, foram vários encontros que nos permitiram conhecer mais sobre as "garotas da capa " desta revista.

Bianca Kelmer Bracht, 30 anos, é apaixonada por animais, café e ir à praia. Dona de uma energia que contagia todos à sua volta, seus looks refletem a alegria e leveza de sua personalidade.

Naiara Mercado, 31 anos, a última romântica do mundo, ama ler livros young adults e se emociona facilmente com eles, assim como tudo à sua volta. A sensibilidade de Naiara reflete de forma genuína em suas roupas.

Com este ensaio, esperamos demonstrar que o melhor look é aquele que nos permite mostrar quem somos, e é nessa moda que acreditamos e lutamos para construir

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Modelo: Naiara Mercado Foto: Mariana Guarnieri

Modelo: Bianca Kelmer Bracht

Foto: Mariana Guarnieri

A modelo veste blusa ciganinha e saia envelope feitas por Ágata Yasmin de Oliveira Modelo: Naiara Mercado Foto: Mariana Guarnieri

A modelo veste blusa decote V e saia com elástico feitas por Ágata Yasmin de Oliveira

Modelo: Bianca Kelmer Bracht Foto: Mariana Guarnieri A modelo veste blusa evasê com decote V e calça jeans feitas por Ágata Yasmin de Oliveira Modelo: Naiara Mercado Foto: Mariana Guarnieri A modelo veste lingerie adaptada feita por Ágata Yasmin de Oliveira

Foto: Mariana Guarnieri

Modelos: Bianca Kelmer Bracht e Naiara Mercado

Reinventando Moldes: Moda para Todos os Corpos

Quando se trata de criar moldes, é comum recorrer a tabelas de medidas padrão, mas vamos ser realistas, nem todos os corpos se encaixam nessas proporções. Para tornar a moda mais inclusiva, precisamos pensar fora da caixa e levar em consideração todos os tamanhos possíveis.

Conversar com nossos clientes é essencial para entender suas necessidades ao procurar por roupas. Juntos, podemos pensar em soluções que vão além das tabelas de medidas. É por isso que nos inspiramos nas opções da renomada modelista Marlene Mukai, cujos moldes são reconhecidos no mundo da moda por sua grande variedade.

A seguir confira algumas das adaptações que realizamos nas peças apresentadas no ensaio de fotos:

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Calça jeans

Problema: Ajustar a parte de trás do quadril e as pernas da calça para que sua ergonomia funcione.

Solução: Adaptamos o gancho da calça, ajustando as medidas da parte frontal e traseira, e apertamos as pernas de acordo com as preferências da modelo.

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*Para a bagrilha corte um revéu de cada lado a partir do fim da curva do cós

Blusa evasê decote V

Problema: Encontrar uma blusa que se ajustasse perfeitamente ao corpo da modelo, sem apertar.

Solução: Desenvolvemos uma blusa evasê seguindo as medidas da modelo e adicionamos botões para facilitar o vestir.

Blusa ciganinha

Problema: Encontrar uma blusa que se adaptasse às proporções únicas de nossa modelo.

Solução: Criamos uma blusa evasê com uma parte inferior mais ampla, especialmente desenhada para suas medidas.

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Saia de elástico

Problema: Nossa modelo precisava de uma saia que fosse confortável ao sentar-se em sua cadeira de rodas, sem prender nas rodas.

Solução: Introduzimos velcro para garantir que a saia permanecesse fechada e ajustamos a circunferência da barra para evitar engates nas rodas.

*Cós: Corte uma tira com o tamanho da circunferencia da cintura de largura e 10cm de comprimento

*Elastico: corte uma tira com -20% do tamanho da circunferência da cintura

Saia envelope

Problema: Evitar que a saia enroscasse nas rodas da cadeira de rodas.

Solução: Desenhamos uma saia reta com laterais arredondadas, garantindo uma fenda frontal e um ajuste perfeito ao corpo.

*Cós: Corte uma tira com o tamanho da circunferencia da cintura +50cm de cada lado para as alças

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Lingerie: calcinha e sutiã

Problema: Encontrar um sutiã com bojo adequado e alças que não escorregassem.

Solução: Personalizamos a lingerie conforme as medidas da modelo e cruzamos as alças para maior segurança.

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Problema: Nossa modelo não conseguia encontrar regatas ou blusas com alças que não escorregassem dos ombros devido à sua postura, afetada pela paralisia cerebral.

Solução: Reforçamos as costas com viés para manter as alças no lugar e optamos por tecidos com elastano para facilitar o vestir. O acabamento em viés plano garante que o tecido mantenha sua forma.

*Corte uma tira de tecido para a alça nas costas, conformo indicado no molde das costas

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Blusa decote V

Quando falamos em criar peças adaptadas, não podemos deixar os materiais em segundo plano. A escolha dos tecidos e aviamentos é fundamental para garantir conforto e praticidade no dia a dia.

É hora de ser flexível e pensar em soluções que facilitem a vida de quem veste suas criações.

a base para uma moda acessível tecidos

Começando pelos tecidos, o elastano é o seu melhor aliado. Ele se molda ao corpo, proporcionando liberdade de movimento e conforto. Tecidos respiráveis também são essenciais, especialmente para quem usa dispositivos de locomoção, como cadeiras de rodas, onde o contato constante com o corpo pode gerar atrito.

E não podemos esquecer da praticidade: escolha tecidos que não amassem facilmente e que possam encarar a máquina de lavar sem medo.

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AVIAMENTOS

Quanto aos aviamentos, provavelmente as peças vão precisar de aberturas extras, e aqui trazemos algumas dicas dos principais aviamentos que podem servir de auxílio.

Zíperes suaves e duráveis são indispensáveis para abrir caminho e poder vestir sem incômodos.

Velcros resistentes são uma aposta segura para garantir fixação.

E a cereja do bolo são os botões magnéticos - podem ser difíceis de encontrar nas lojas físicas, mas a internet está cheia de opções.

Mesmo que as dicas sejam mais voltadas para questões técnicas, não se limitem apenas ao conforto das peças. É fundamental lembrar que moda adaptada não deixa de ser moda, e a estética também é um aspecto importante a ser considerado.

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É sempre hora de falar sobre

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O lançamento oficial da revista Molde a Moda foi realizado com evento no colégio Instituto de Educação Estadual de Maringá no dia 23 de fevereiro. A programação contemplou um desfile exclusivo das peças produzidas e a apresentação da versão física da publicação. As roupas customizadas foram exibidas pelas modelos Bianca Kelmer e Naiara Mercado que também estampam a capa da revista

Após o desfile, aconteceu uma roda de conversa sobre moda para pessoas com deficiência e uma fala especial da psicóloga Eduarda Henrique sobre moda e autoestima. Durante a participação, a profissional propôs uma reflexão pertinente que sintetizou bem uma das dúvidas que motivaram a criação deste produto: " se moda é expressão, a quem vem sendo dado o direito de se expressar em nossa sociedade?"

Entre o público de aproximadamente 50 convidados, estiveram no anfiteatro do colégio familiares das realizadoras, figuras públicas da cidade e estudantes do curso técnico de vestuário da instituição

Fotos: Criative Jr

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Garotas capa de revista

A apresentação das roupas customizadas possibilitou que as modelos Bianca e Naiara abordassem diferentes questões sobre representatividade e inclusão. Elas, mesmo sem experiência prévia, demonstraram talento e determinação, desafiaram os estereótipos.

O momento mais marcante do desfile foi o grand finale de Naiara, usando um conjunto de lingerie. Ela, que tem a mobilidade afetada por uma paralisia cerebral, desfilou de joelhos, que é a forma como se locomove no cotidiano em sua casa. Sua atitude corajosa e a mensagem de autoconfiança que expôs emocionaram a plateia e ressaltaram a importância de reconhecer e valorizar a diversidade de corpos e experiências no mundo da moda.

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Moda, autoestima e empatia

A roda de conversa liderada pela psicóloga Eduarda Henrique sobre moda e autoestima foi o momento de maior troca e participação do público. Eduarda trouxe à tona a questão crucial de quem tem o direito de se expressar na sociedade através da moda. Sua fala ressaltou a necessidade de reconhecermos as limitações do mundo da moda e como elas impactam nossa percepção de beleza e autoestima.

A mensagem central da discussão foi a importância da empatia e do entendimento das diferentes realidades que existem ao nosso redor. Reconhecer a diversidade de corpos, habilidades e estilos é fundamental para induzir a indústria da moda e de outros setores a um ambiente mais inclusivo e representativo.

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outros

Curtiu o tema da nossa revista e deseja saber mais sobre o assunto? Relaxa, a gente te ajuda! Confira outros trabalhos incríveis:

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BRUNA BROGIN

discute sobre o design da experiência com produtos do vestuário a partir da perspectiva do usuário com deficiência motora nesse trabalho super completo publicado pela Revista ETech , com entrevistas, ideias de moldes e dados comprovados sobre a moda inclusiva e como o design pode auxiliar na vida de pessoas com deficiência. Confira:

https://etech.sc.senai.br/revista-cientifica/article/view/558

Daniela Auler

fala, nesse artigo, sobre a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo e a inclusão e melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência através do Projeto Moda Inclusiva. O projeto tem como objetivo sensibilizar alunos e profissionais sobre a importância da acessibilidade e do Desenho Universal, buscando o desenvolvimento de produtos que atendam a toda a diversidade humana

https://dobras emnuvens com br/dobras/article/view/21

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trabalhos

Martins Peixoto, Lins e Barbosa

apresentam nesse artigo você informações sobre a moda inclusiva para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, com depoimentos, moldes exclusivos e dicas para adaptação de diferentes peças

http://revista universo edu br/index php? journal=1reta2&page=article&op=view&path%5B%5D=1058 &path%5B%5D=1061

silvana louro e equal moda inclusiva são especialistas em moda inclusiva que se consolidaram com a criação do primeiro uniforme paralímpico adaptado do mundo. Confira alguns de seus editoriais de moda com vários modelos e várias opções de peças adaptadas:

https://www.silvanalouro.com.br/editoriais

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nossos agradecimentos

Fazer uma revista como essa não seria possível sem a ajuda de algumas pessoas, que nos auxiliaram em todo o processo e possibilitam um projeto tão diverso e complexo como esse. Essas pessoas especiais nos ajudaram desde o momento da escrita, até mesmo com ilustrações, entrevistas e muito mais Quem elas são?

Professor Me. Cássio Ceniz: Como falar de Molde a Moda sem agradecer todas as orientações, correções e bate-papos descontraídos com o professor Cássio? Com tantas referências que vão desde celebridades até conceitos de Santaella, fofocas e textos complexos, aprendemos muito com esse profissional incrível!

Professora Dra. Daniela Polla: Caronas, papos sobre comunicação, cidades, jornalismo, moda e muito mais: todo assunto com a professora Daniela rende muito e sempre traz novas perspectivas para o projeto e para nós como estudantes. Com sua experiência diversa em diferentes áreas, a revista se tornou ainda mais diversa e completa com a ajuda da Dani

Bianca Kelmer Bracht: Essa incrível mulher que se descobriu como uma maravilhosa modelo ao decorrer da revista, nos ajudou a dar voz para pessoas com deficiência motora, nos concedeu entrevistas e se mostrou uma amiga e companheira para todas as horas

Naiara Mercado: Outra mulher maravilhosa que nos auxiliou com o ensaio de fotos, como pessoa portadora de deficiência e que trouxe sua visão de mundo e perspectiva diversa para a Molde a Moda.

Maria Fernanda Dale Vedove Gobeti: Ilustradora super talentosa que conseguiu transmitir a essência de nosso projeto, tão delicado e complexo, em uma ilustração lindíssima!

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Patrícia Pereira, Geórgia Noda, Jade Martins Arantes, Maria Helena de Carvalho: Profissionais qualificadas, com experiência em diversas áreas, que contribuíram para o embasamento teórico desse projeto. Cada entrevista, conversa e auxílio contribuíram para que a revista ficasse ainda mais completa!

Curso de Corte e Costura do Colégio Instituto de Educação de Maringá: Um curso tão diverso e completo que nos ajudou no início do projeto, além de possibilitarem um amplo conhecimento e um espaço de divulgação da revista. Nosso muito obrigada!

Colégio Instituto de Educação de Maringá: Nossos agradecimentos ao colégio Instituto por cederem o espaço do auditório do salão nobre e possibilitarem a realização do evento de lançamento da revista Molde a Moda.

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