OSAL #31

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Balances

O Brasil e a crise

desemprego e de queda do poder aquisitivo, a sedução do consumo via crédito popular, dimensões subjetivas, vinculadas às religiões, crença de que a melhoria relativa no padrão de vida é um processo consistente e irreversível, são importantes. Mas, examinando as lutas dos trabalhadores desde o inicio dos anos oitenta é forçoso reconhecer que as transformações nas entidades que reúnem os trabalhadores são relevantes. As principais entidades sindicais (Central Única dos Trabalhadores –CUT–, Força Sindical –FS–, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil –CTB–) e o partido que serviu de referencia para as lutas nos anos 1980 e 1990 (PT), abandonaram (e mais do que isso, trabalharam contra) as lutas antissistêmicas. O lugar ocupado por tais organizações no bloco de poder explica em parte essa mudança de horizonte político. Considerando o ciclo expansivo de grande parte da ultima década, a eficácia conjuntural desse “sindicalismo de resultados” possibilitou tal inflexão sem grandes dissidências e contestações na base sindical. Desde 2006, a percentagem de acordos acompanhados pelo DIEESE que tiveram aumento acima da inflação se mantém em torno de 80% (Caliari, 2011). Cabe lembrar que este quadro do campo político-sindical não é novo, estando presente desde 2003. Entretanto, o que é crucial, o que foi alterado, em 2011, diz respeito ao aprofundamento da incapacidade da esquerda socialista em forjar um polo organizado e unificado de luta contra o bloco de poder. De fato, essa situação se expressou na escassa capacidade de reação e de lutas de alcance mais universal, atestando o reduzido poder de convocação das organizações dos trabalhadores reunidos na Central Sindical e Popular - Coordenação Nacional de Lutas (CSP-Conlutas) e nas duas principais tendências da Intersindical. Como salientado no balanço anual anterior, o Congresso da Classe Trabalhadora (CONCLAT), realizado em meados de 2010 para unificar os sindicatos que romperam pela esquerda com a CUT, organizados no Instrumento de Luta e Organização da Classe (INTERSINDICAL) e na Conlutas, e movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), fracassou. No congresso, a Conlutas foi renomeada como Central Sindical e Popular (CSP-Conlutas), mantendo a supremacia do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), com a participação de setores do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e independentes. Entretanto, a nova entidade não chegou a se expandir: grosso modo, seguiu com poucos sindicatos de grande porte filiados. Enquanto a CUT possui aproximadamente 2,1 mil sindicatos (33% dos trabalhadores sindicalizados no país), a Força Sindical 1,1 mil sindicatos (28% dos sindicalizados), a CSP-Conlutas possui menos de 100 sindicatos. De outra parte, a INTERSINDICAL, entidade que originalmente não possui caráter de central, iniciativa que reúne sindicatos dissidentes da CUT, cujas lideranças pertencem às diversas tendências do PSOL e que, historicamente, vinha mantendo relação mais estreita com setores do MST, não logrou unidade para se fundir com a Conlutas. Ao contrário, a entidade, por divergências com o PSTU, acabou se retirando do CONCLAT. Em 2011, as cisões internas da INTERSINDICAL se aprofundaram, delineando duas correntes, uma mais aberta à reunificação das organizações e movimentos sociais em um polo classista, dialogando, portanto, com a CSP-Conlutas (diálogo que passa pelo nome da nova central, pela sua democracia e pela definição mais precisa de seu caráter sindical) e outra, menor, buscando se constituir, ela mesma, a INTERSINDICAL, como uma organização


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