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N e g r o e G a y ? S i m , e d o u t o r !

O Prof. Dr. Felipe Fontana conta sua história

"Eu sou formado em Ciências Sociais (UEM), bacharel e licenciatura , Mestre em Ciências Sociais (UEM) e Doutor em Ciência Política (UFSCAR) Também sou historiador pela UEM, Tecnólogo em Gestão Pública pela Unioeste, Pedagogo pela Unicesumar e estou fazendo Serviço Social na Unicesumar Eu sou também Pós-doutor em Ensino de Ciências e Matemática pela UEM Atualmente, estou ministrando aulas de História e de Sociologia em locais diversos como o IFPR Goioerê, UEM (onde trabalho com humanidades) e na UP em Goioerê Sou consultor de políticas públicas de promoção da igualdade racial pela ONU desde do meio do ano de 2022 E agora as coisas estão um pouco mais lentas, por conta da transição governamental, mas em média duas vezes por mês, eu viajo para realizar essas consultorias em nome da ONU com a parceria agora do Ministério da Igualdade Racial "

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"Nasci em Maringá onde permaneci até 22 anos, fui para São Carlos (SP), onde eu fiz doutorado, e retornei pra Maringá, e atualmente estou em Goioerê faz 6 anos Durante a minha trajetória profissional eu já trabalhei como promotor de políticas públicas, já participei de alguns projetos vinculados a UEM, trabalhei também com a promoção de treinamento e capacitação para assistentes sociais Sempre trabalhei nessa intersecção, entre professor e docente, pesquisador da universidade e também na área de políticas públicas vinculadas a promoção da igualdade racial, questões urbanas, planos diretores e tudo mais Gosto muito de trabalhar nessas duas áreas, mas eu tenho uma preferência pela docência e pela pesquisa Considerando os tempos agora, que são bastante complexos para quem se forma nas ciências humanas, garantir uma renda qualificada e um currículo legal, requer que trabalhemos em diferentes níveis e abracemos diferentes oportunidades, que são poucas, para atingir uma remuneração de qualidade "

""Crescendo em Maringá eu estudei, até a 5ª série do ensino fundamental, em escola pública, no Colégio

Estadual Presidente Kennedy Depois continuei até o 3º ano do ensino médio em uma das escolas particulares mais conhecidas de Maringá: Regina Mundi, onde eu só pude estudar porque eu consegui bolsa de estudos porque jogava basquete Estudar nesse colégio me ajudou bastante a passar nos vestibulares Já no ensino superior e na pósgraduação, toda a minha trajetória foi na rede pública, menos nos cursos de pedagogia e serviço social que eu fiz na Unicesumar

"Minha família tinha uma convivência familiar mais ampla, com mais frequência com o meu lado paterno Então, meus avós paternos ajudaram a nos criar e convivíamos muito com as tias e primos da parte do meu pai Dividíamos o mesmo quintal, então a gente percebia logo tudo isso de diferenças raciais Minha família se dá super bem, meu pai certamente é um homem que congrega vários traços racistas, mas tem bastante afeto envolvido que consegue de alguma forma suportar algumas dificuldades, já minha mãe é uma mulher negra com bastante consciência do seu pertencimento racial Minha família é muito católica, então também agrega vários valores do catolicismo "

F a m í l i a P r e c o n c e i t o

"Em termos de composição familiar, a minha família e multi-racial,, meu pai é filho de austríaco com italianos, meus avós paternos são brancos, vindos da Itália

Minha mãe é uma mulher negra, filha de mulher negra retinta e de um homem branco Meus pais se casaram e tiveram 3 filhos, os dois mais velhos são negros retintos e meu irmão mais novo é branco Minha família é muito católica, de classe média baixa, que se sustenta com bastante esforço e dedicação, tivemos uma vida financeira estável nunca nos faltou

"Vou ser bem sincero, eu sofri muito mais preconceito por conta da minha questão racial ser mais latente, do que talvez as minhas características enquanto homossexual (pelo estereótipo definido pela sociedade do que é homossexual) Com relação a minha sexualidade eu tive sempre uma maior passibilidade, do que com relação a minha raça, então eu sofri muito mais preconceito com relação a minha cor Porque o Brasil estruturalmente é um país racista em vários níveis, e esse racismo ficou expresso. Em relação a minha sexualidade, eu sofri o preconceito a partir do momento que eu abri pra sociedade que eu era homossexual e isso foi aos dezoito anos".

Vou contar uma história pra vocês, eu conversava com um amigo meu, com dezoito anos, um amigo de infância que foi pra Londres Eu estava no primeiro ano da faculdade e eu conversava via Messenger, na época MSN, nós tínhamos muitas conversas e ele estava aqui se descobrindo homossexual e Queer em Londres, e ele me mandava muitas fotos dele se montando, se vestindo e tudo mais, e eu salvava essas fotos no computador. Um dia meu irmão descobriu e perguntou por telefone: você e ele já tiveram alguma coisa? Você é gay?

Eu falei que eu era homossexual, que eu pagava minhas contas, que nunca tive nada com esse meu amigo, mas que era isso mesmo e eu não aguentava mais ficar mentindo pra todo mundo

"No dia em que me assumi para o meu irmão, minha mãe começou subitamente a me ligar Fiquei dormindo em uma república durante uma semana, com receio de voltar para casa. Quando voltei, abri para todos. Esse foi o momento de preconceito mais forte que eu senti, porque apesar de surpreendentemente meu pai ter sido super acolhedor, a minha mãe ficou três meses sem falar comigo"

"A cena mais problemática que eu sofri, foi no cinema: Eu fui assistir um filme, da Marvel, chamado Eternos, eu estava no início do meu namoro e o filme tem cenas de um casal homossexual se beijando, fora uma sociabilidade familiar homossexual acontecendo Estávamos lá assistindo filme em Maringá, e era um dos nossos primeiros encontros e nós nos beijamos. No que a gente se beijou, um senhor da última fileira se levantou e começou a dizer que era para gente respeitar a família dele, que aquilo ali era uma pouca vergonha, que não deveria estar acontecendo, que a gente não tinha vergonha na cara e ameaçou nos agredir.

Ele saiu e foi chamar o segurança, O que dá uma certa esperança, é que todo mundo que estava no cinema era uma comunidade jovem e se ofereceram para fazer o boletim de ocorrência como testemunha,

Esse foi um dos momentos mais difíceis, porque eu sai com medo dali com o telefone ligado, filmando, porque caso acontecesse alguma coisa eu teria gravado "

É importante pensar sempre na diversidade como um elemento condutor da nossa existência Desenvolvemos ao longo da da construção da humanidade, diversos elementos vinculados o convívio com a diferença e a promoção da diversidade Aprendemos com muita dificuldade de correlacionar, conviver entre diferentes religiões, conseguimos lidar com a diversidade econômica e a gente precisa agora também ampliar essa necessidade de convívio entre diferentes orientações sexuais e questões de gênero Pensar na promoção da diversidade, e o estado tem um papel importante nesse processo, na promoção de políticas públicas em prol da diversidade "

"E a escola não é um lugar livre disso (...) eu pedi para uma aluna para ela sentar, ela não sentou(...) e pela terceira vez eu falei, “você pode se retirar então e vai conversar com a coordenação porque não tem como, né? Eu dar aula com você em pé”, e ela virou pra mim e falou assim, “ esse professor veado, fica enchendo o saco da gente”, isso veio de uma aluna de 12 anos de idade (...) ela estava usando esse termo para me ofender, (...) eu achei que eu nunca iria passar por isso na vida, mas passei"

"A homofobia é bastante complicada, eu acho que assim como o racismo, que no Brasil, o racismo de cor, é o que define o racismo, ou seja, quanto mais preto, ( ), o indivíduo é, mais racismo ele vai sofrer, ( ) a mesma coisa acontece com a comunidade LGBT, quanto mais traços marcantes de pertencimento a essa comunidade o indivíduo vai congregar, mais difícil é o processo, maior é a homofobia que eles vão sofrer ( )

Então assim, em alguns níveis eu tive uma certa passabilidade, mas nunca usei disso para esconder Isso que é legal da sigla do LGBTQIA+, apesar de ser uma diversidade muito grande, a galera é do mesmo grupo, você tem gays, lésbicas, transexuais, travestis, queers, pansexuais intersexos de todos os tipos de todas as cores, com todos os trejeitos, com todas as formas, e isso é muito legal "

"Eu acho fundamental Inclusive o trabalho que eu desenvolvo junto a ONU em pensar políticas públicas de promoção da igualdade racial, é justamente pensar em possibilidade de alternativas que levem a população negra aos espaços mais privilegiados da administração pública, ou do serviço público Então, eu já estou falando da população negra demarcando um elemento de diversidade

A questão LGBTQIA+ é super importante de ter representatividade dentro dos espaços do serviço público, por duas dimensões, a primeira dimensão é a econômica, são populações que por conta da sua orientação sexual acabam sofrendo níveis de vulnerabilidade e marginalidade ao longo do seu processo de constituição enquanto indivíduos dentro da sociedade, e um desses marcadores mais importantes é o fato da vulnerabilidade econômica tá diretamente associada com a identidade de gênero e a identidade sexual.

( ) Essa é uma coisa importante e isso fica muito evidente quando a gente fala da população T (trans), mas os outras seguimentos também, por conta da sexualidade ou da identidade de gênero, acabam também sofrendo com problemas vinculados a essas vulnerabilidades socioeconômicas, por exemplo, é extremamente frequente que ao assumirem a sua orientação sexual que os indivíduos da nossa comunidade passem a serem expulsos de determinados espaços de sociabilidade em inserção socioeconômica, como da família, que é o primeiro, ou então, acabam sendo segregados e não conseguem se manter dentro do espaço de formação, como escolas universidades porque garante uma melhor qualificação profissional pro mercado de trabalho Então, você vai congregando déficits, então ter a circulação no serviço público, que é um espaço privilegiado economicamente em termos de segurança, de emprego, é fundamental Por outra perspectiva, além da econômica, nós temos a questão simbólica, representacional, ter indivíduos LGBTQIA+ dentro do serviço público e da administração pública é fundamental para uma questão de representatividade, para saber que esses espaços estão abertos a diversidade, eu por exemplo, nunca tive um professor LGBT, o que é um super problema, porque eu vivi num ambiente extremamente masculino, que era o basquete e um ambiente extremamente religioso que era a própria instituição, Regina Mundi é uma instituição católica, devido a isso eu não tive representatividade nenhuma

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