Catálogo exposição "Moacyr Scliar - O Centauro do Bom Fim"

O Centauro do Bom Fim

Secretaria de Estado da Cultura, Santander e Santander Cultural apresentam

Patrocínio

Patrocínio

Apoio cultural

Foto de capa: Lisette Guerra

Carlos Stein 8

Produção

Realização

Financiamento

O Centauro do Bom Fim

Curadoria: Carlos Gerbase

Santander Cultural, 17 de setembro a 16 de novembro de 2014

O Santander tem a honra de patrocinar Moacyr Scliar, o Centauro

Por fim, agradecemos a oportunidade de fazer parte da preservação

do Bom Fim, exposição sobre um dos homens mais notáveis do Rio Grande

da memória de um dos principais intelectuais brasileiros, que, em suas

do Sul. Com um ritmo de produção ímpar, o médico, escritor e jornalista

ações, nos mostrou que o saber e a generosidade são características que

gaúcho deixou um legado de obras importantes em todas as áreas em que

devem caminhar juntas. Esperamos que todos desfrutem da história de um

atuou. Com curadoria de Carlos Gerbase, no Santander Cultural o público

homem que interpôs Porto Alegre e o mundo em um mesmo lugar: o Bom

poderá percorrer a mostra e conhecer os mundos de Scliar e ver como ele

Fim.

conseguiu, de forma harmônica e sensível, reuni-los nos seus textos e na

Marcos Madureira

sua vida.

Diretor-Presidente do Santander Cultural

Integrante da Academia Brasileira de Letras, vencedor de três

prêmios Jabuti e de um prêmio Casa de Las Americas, Moacyr Scliar nunca perdeu o contato com os estudantes. Em inúmeras palestras em escolas, ele respondeu pacientemente às dúvidas e curiosidades de crianças e adolescentes. Aqui no Santander Cultural, esses questionamentos voltarão

apresentação

à tona e enriquecerão o trabalho da área da Ação Educativa.

7

apresentação

7

a travessia

18

o Bom Fim

20

a infância

28

o médico

40

o escritor

46

os personagens

66

a sala de projeção

82

a família

84

projeto expográfico

92

apresentação

Moacyr Scliar O Centauro do Bom Fim

Carlos Gerbase Curador.

apresentação

Cineasta, escritor e professor universitário.

10

De tempos em tempos, em todo mundo, por razões muito difíceis

O escritor Scliar, portanto, já seria motivo mais do que suficiente

de explicitar, surge um ser humano com a capacidade de falar com toda

para justificar esta exposição. O homem Scliar, contudo, é bem maior que

a sua espécie através da literatura. Ele pode viver numa pequena vila ou

a sua arte. Formado em medicina, fez da saúde pública uma espécie de

numa grande cidade. Ele pode ter uma formação acadêmica completa ou

segundo diálogo com seus semelhantes. Se, na literatura, falava das dores

ser um autodidata. Sua pele pode ser preta, branca, amarela, ou combinar

dos espíritos, na medicina tratava das mazelas dos corpos. Cabe perguntar:

essas cores de modo pouco usual. Ele pode surgir de uma cultura específica,

como conseguia tempo e energia para alcançar resultados igualmente

fazendo de sua região o seu cenário recorrente, ou pode ser um cidadão do

significativos nessas duas atividades, que exerceu cotidianamente, em

mundo, cosmopolita e transnacional. Nada disso importa. O que importa

paralelo, por mais de 40 anos? Esse é um dos mistérios que esta exposição

é essa rara comunicação estabelecida entre um indivíduo, um ser único

pretende investigar. Talvez uma das respostas seja a sua capacidade de

e particular, e a comunidade planetária. A exposição Moacyr Scliar, o

concentrar-se no que realmente importa: conviver com sua família (sua

Centauro do Bom Fim é um tributo e uma homenagem a um desses seres

esposa Judith e seu filho Roberto), contar histórias divertidas para seus

raros e especiais.

amigos (Luis Fernando Verissimo costuma dizer que ficava feliz quando Scliar estava presente no jantar, porque só precisava abrir a boca para

Nascido em Porto Alegre, em 1937, no bairro Bom Fim, reduto

histórico dos imigrantes judeus, Moacyr Scliar absorveu plenamente o seu

comer) e, é claro, escrever, sem se importar com o local, a temperatura, a pressão, ou o ruído ambiente.

lugar, o seu tempo e a sua circunstância cultural, mas, em seus contos, romances e crônicas, transcendeu todos esses aspectos, transformando-os

em matéria-prima para seu diálogo com o planeta. Traduzido para mais

muito próximo com seus leitores, especialmente jovens e crianças. Ele era

de dez idiomas, adaptado para o teatro e para o cinema, estudado nas

a ficha número um nos pedidos de escolas para palestras. Infelizmente,

universidades e nas escolas fundamentais, vencedor de três prêmios Jabuti

desde o dia 27 de fevereiro de 2011, Scliar não pode mais fazer essas

e de um prêmio Casa de Las Americas, Moacyr Scliar, além de colocar seu

visitas, nem dar autógrafos, nem responder pacientemente às perguntas

bairro e sua cidade no mapa da literatura universal, conseguiu, sem muito

dos estudantes. Seus leitores adultos também estão órfãos de seu papo

alarde, construir uma visão de mundo a ser compartilhada em qualquer

descontraído e de sua figura popular, caminhando pelas ruas dos bairros

bairro, em qualquer cidade, de qualquer país do mundo.

Bom Fim e Santa Cecília. Esta exposição pretende devolver um pouco de Moacyr Scliar para todos nós e, ao mesmo tempo, repensar sua obra com a necessária atenção, acompanhada de uma inevitável emoção.

apresentação

A modéstia e o espírito comunitário o levavam a um contato

11

Moacyr Scliar Escritor de Porto Alegre

Regina Zilberman Consultora literária.

apresentação

Escritora e professora universitária.

12

O primeiro romance de Moacyr Scliar, “A Guerra no Bom Fim”,

foi editado em 1982. Não é seu primeiro livro, pois, antes, tinha lançado as

livros, Moacyr adianta ao leitor como quer ser lido. Como gaúcho e alinhado à melhor tradição do romance sulino.

narrativas de “O Carnaval dos Animais”, publicado contos em parceira com Carlos Stein e participado de antologias, acompanhado de outros escritores

do Rio Grande do Sul.

reconhecemos no livro, não apenas por fazer parte desse grupo étnico, mas

principalmente por nos apontar o modo como nós, judeus, pertencemos a

Por último, o Bom Fim é o nosso bairro judeu. É como tal que nós

“A Guerra no Bom Fim”, contudo, ocupa lugar especial, porque lida

esse segmento minoritário, à cidade de Porto Alegre e à cultura do Rio

com Porto Alegre. Não apenas a ação se passa na cidade, falando de seus

Grande do Sul, representada no romance pela adesão de Moacyr à tradição

bairros, morros, parques: a vida porto-alegrense anima a ação da narrativa,

literária de Erico Verissimo. Mais que outro escritor, Scliar evidenciou nossa

motiva o comportamento das personagens, estabelece os parâmetros de

identidade, no melting pot de nossa metrópole, sem renegar as origens, de

comportamento e afeto. Nossa capital está ali, de corpo inteiro, seduzindo

um lado; de outro, sem abrir mão da integração ao universo gaúcho.

os homens que a habitam e explicando a razão de ser de suas existências.

A trajetória do romancista, inaugurada com esse “A Guerra

Por sua vez, “A Guerra no Bom Fim” não é o único texto em que

no Bom Fim”, nunca perdeu de vista esse começo. O escritor foi longe:

Porto Alegre reside nas páginas dos livros de Scliar: “O Exército de um

produziu vários romances, vários livros de contos, ensaios sobre medicina e

Homem Só”, “Os Deuses de Raquel”, “O Ciclo das Águas”, “Os Voluntários”,

literatura, narrativas infantojuvenis; foi objeto de coletâneas que selecionam

“O Centauro no Jardim” — eis criações dos anos 1970-80 que escolhem a

os melhores entre os muitos bons; está publicado em Portugal e traduzido

cidade como cenário dos acontecimentos. Cenário que extravasa as funções

nos Estados Unidos, França, Holanda, Alemanha, para citar alguns dos

costumeiramente atribuídas a ele: bairros podem traduzir a personalidade

países do Hemisfério Norte em que sua obra foi acolhida favoravelmente.

das pessoas, como o paradoxal bairro Partenon em “Os Deuses de Raquel”; ruas são sintomas de sonhos, como a bastante conhecida Voluntários da

Pátria em “Os Voluntários”.

Norte e na Europa, participou de programas de incentivo à leitura no interior

do Estado e por todos os cantos do país. Ministrou cursos de literatura para

Além disso, foi chamado para fazer conferências na América do

Moacyr Scliar é o intérprete de nossa cidade, e em seus livros nos

estudantes universitários nos Estados Unidos e foi regularmente convidado

reconhecemos não apenas como habitantes de nossa curiosa pólis, feita

para debater e compor painéis com intelectuais e artistas de renome do

de concreto, asfalto e paisagens idílicas. Reconhecemo-nos também como

meio acadêmico e artístico.

indivíduos, sujeitos que encontram no espaço circundante seu eu refletido, imagem e reprodução mais nítida e compreensível que o original.

O escritor foi longe; mas continuou sempre próximo, não apenas

por permanecer entre nós, lealmente porto-alegrense. Mas também por nos Continuo a destacar “A Guerra no Bom Fim”. Porque esse livro,

entregar nossa cidade à leitura e ao entendimento, leitura que é compreensão

estreia de Scliar no romance, ultrapassa a representação da cidade e da

de nosso mundo e de nós mesmos. Nada melhor para iluminar nossas vidas,

interpretação de seus moradores. Homenageando Erico Verissimo, de

mesmo após ter partido daqui para sempre.

refaz a trajetória de nossa literatura e escolhe seus pares. Com efeito, se o Bom Fim de Moacyr Scliar é o de sua (nossa) infância, povoado por uma mitologia própria, muito peculiar ao bairro, ele é também o Bom Fim que se encontra nos livros de Erico Verissimo, como “Um Lugar ao Sol”, por exemplo. Ao se reapropriar do Bom Fim de Erico e reintroduzi-lo em seus

apresentação

quem extrai a visão literária do Bom Fim apresentada no texto, o escritor

13

História viva ao pé do ouvido Gabriel Oliven Idealizador da exposição.

apresentação

Jornalista.

14

Moacyr não foi apenas um. Foi muitos. Um homem de talentos

Ouvir Scliar era uma aula de humanismo, crítica social e história

múltiplos, que soube traduzir o rico universo de culturas e influências que

viva. Personagens reais e imaginários pareciam se materializar à sua volta.

marcaram sua trajetória de vida. As referências vão da Bessarábia ao Bom

O tom enfático, não raro, era atenuado pelo humor e pela autoironia. Avesso

Fim, de Kafka a Monteiro Lobato, da medicina à literatura.

a formalidades, Scliar sabia rir de si mesmo.

Todas serviram de base para a construção de uma identidade

Uma cena em particular retrata esse traço de sua personalidade.

singular em sua obra. Nela, combinam-se as raízes judaicas e gaúchas,

No dia em que foi empossado na Academia Brasileira de Letras, em 2003,

fábulas, realismo fantástico e uma imaginação das mais férteis, exposta

fui visitá-lo no Hotel Glória, no Rio, onde ele se hospedara. Imaginei que o

em 80 livros e uma infinidade de crônicas, ensaios e resenhas.

encontraria tenso, revisando o discurso de posse. Quando a porta do elevador se abriu, Moacyr irrompeu no corredor trajando a parte de cima do fardão,

A imagem mais marcante que guardo dele é a do contador de

espadim em punho e... cuecas. O novo imortal ria tanto da situação que os

histórias. Nesse quesito, era narrador tomado de paixão e entusiasmo. E

olhos se fechavam, a cabeça era jogada para trás. O desconforto da situação

que belas histórias! Compartilhar ideias e conhecimentos fazia parte de sua

dava lugar à comédia.

missão de vida.

Ao lembrar o fascínio do Moacyr pelas palavras, tive a certeza

A convivência com Moacyr desde guri fez de mim um ouvinte

de que esta mostra seria uma justa e bela homenagem. As histórias com

atento – não importava a ocasião. Uma pescaria no trapiche de Atlântida

as quais nos brindou são a história de todos nós. Tal como Guedali, Max,

era o cenário perfeito para detalhar a Revolução Russa. Um passeio na

Raquel e Mayer Guinzburg, ele nos encantou – e continua encantando toda

Redenção podia desembocar na luta entre chimangos e maragatos. E uma

vez que percorremos as páginas de seus livros.

carona no velho TL servia para destrinchar os recentes avanços da medicina.

apresentação

15

Palavras que criam laços entre as pessoas Judith Scliar Idealizadora da exposição.

apresentação

Professora.

16

Moacyr foi um humanista acima de tudo. Sua trajetória de vida

de casamento. Nossa relação era feita de parceria e cumplicidade, inclusive

revela um olhar aguçado sobre as relações humanas, seus dilemas e suas

nas questões de trabalho. Acompanhei de perto sua evolução como médico

complexidades. Assim como as sementes que o vento espalha, sua obra

e escritor. Na condição de primeira leitora de seus livros, testemunhei

disseminou-se pelo mundo. Em quase 50 anos de carreira, escreveu romances,

momentos de intensa criação e profusão de ideias. De “O Carnaval dos

contos, crônicas, ensaios, literatura infantojuvenil, além de ter publicado

Animais” até “Eu vos Abraço, Milhões”, escrever era para ele sempre uma

em jornais e revistas de grande circulação. Ele via neste ofício um processo

fonte de encantamento, jamais uma obrigação.

contínuo de troca de experiências, de aprendiz e feiticeiro das palavras.

Moacyr também foi um pai carinhoso e dedicado. Beto teve nele

Ainda assim, Moacyr não tinha simpatia pelo rótulo “profissão:

um grande exemplo de vida. Além da admiração e do respeito mútuo,

escritor”. No fundo, gostava de pensar em si mesmo como um contador de

Beto participou intensamente da carreira literária do pai. Como fotógrafo,

histórias. Tinha um talento especial para fisgar o leitor, com texto apurado

documentou momentos importantes na trajetória de Moacyr. Juntos, estamos

e paixão incomum pela narrativa. Seus personagens compunham um

fazendo o melhor que podemos para honrar sua memória. Essa é uma chama

mosaico de tipos fascinantes: Guedali, o centauro, Joel em guerra no Bom

que nunca se apaga.

Fim, Rafael Mendes e sua estranha nação, a mulher que escreveu a Bíblia, Max na traineira com o felino, Raquel e seus deuses, o Capitão Birobidjan

Ao descrever seu ofício, Moacyr tinha uma visão muito clara sobre

e tantos outros. Essas características tornaram sua obra universal, sem

a arte de contar e ouvir histórias: “A história é feita de palavras. Palavras

jamais abandonar as origens judaicas e gaúchas.

são fundamentais para quem escreve, como a madeira, a serra, o martelo, os pregos, para o marceneiro. Contar uma história é estabelecer vínculos

Na convivência pessoal, Moacyr era um homem afável, sagaz e

afetivos entre as pessoas. Para isto servem as palavras, para estabelecer

bem-humorado. Apesar do reconhecimento internacional, dos numerosos

laços entre pessoas – e para criar beleza. Pelo que a elas devemos ser

prêmios e viagens, uma de suas características marcantes era a simplicidade.

eternamente gratos".

Ele nunca deixou de ser o "Mico" do Bom Fim, o homem generoso que

Como gratos somos pela vida, sobretudo ao saborear um texto

sobretudo, um grande incentivador de novos talentos na literatura.

escrito com as batidas do coração. Ler Moacyr Scliar é aprender, de forma inteligente e sensível, o que é viver.

E o marido? Impossível falar dele sem me emocionar. Tive a

felicidade de conviver com Moacyr durante 47 anos, dois de namoro e 45

apresentação

gostava de escutar o próximo, de dividir suas incertezas e inquietudes. E,

17

a travessia “Vinham da Bessarábia, uma região que fazia parte do império czarista e onde os judeus viviam em pequenas e pobres aldeias. Marginalizados, perseguidos, serviam como válvula de escape para a tensão social do império czarista, polarizado entre uns poucos ricos e uma imensa massa miserável. (…) A imigração organizada iniciou-se mesmo com a Jewish Colonization Association, em 1904. Para essas pessoas o Brasil era um paraíso. (…)

Muitas eram as esperanças que os animavam a enfrentar a longa viagem marítima.”

Moacyr Scliar “O Texto, ou: a Vida”, 2007

a travessia

Arquivos de domínio público (c.1900)

19

o Bom Fim “Consideremos o Bom Fim um país – um pequeno país, não um bairro em Porto Alegre. Limita-se, ao norte, com as colinas dos Moinhos de Ventos; a oeste, com o centro da cidade; a leste, com a Colônia Africana e mais adiante Petrópolis e as Três Figueiras; ao sul, com a Várzea, da qual é separado pela Avenida Oswaldo Aranha. Em 1943 a região da Várzea, já saneada, estava transformada num parque – a Redenção. (...)

Quanto à avenida, por ela passavam os bondes: Petrópolis, Gasômetro, Escola, J. Abott. (...) Havia guerra na Europa, mas a hora era de calma no Bom Fim. (...) As gordas avós judias dormiam, os pálidos judeuzinhos dormiam, de boca aberta e respiração ruidosa por causa das adenoides.

As mães judias dormiam seu sono leve e intranquilo. Os pais judeus dormiam; logo acordariam e iriam, bocejando, acender os fogões de lenha, tossindo e lacrimejando quando as achas úmidas começassem a desprender fumaça.”

Moacyr Scliar “A Guerra no Bom Fim”, 1972

21

o Bom Fim

o Bom Fim 22

Escola de Educação e Cultura (Escola Iídiche) Arquivo Instituto Cultural Judaico Marc Chagall

“O Bom Fim dos anos quarenta era (…) uma aldeia da Europa Oriental absurdamente, fantasticamente, transplantada para Porto Alegre.

Um bairro de casinhas pequenas, de porta e janela; aliás, numa das ruas – que atendia pelo nome de Avenida Cauduro –, as casas, dezenas delas, eram todas iguais. E, porque as casas eram pequenas, as pessoas viviam na rua. As senhoras reunidas em grupo falavam animadamente da vida alheia; os meninos jogavam futebol no meio da rua (era raro um automóvel passar por ali), as meninas brincavam de roda. Os homens estavam trabalhando; profissões humildes, as deles, marceneiros, alfaiates, merceeiros, pequenos lojistas, vendedores ambulantes. À noite – numa época em que ainda não existia tevê e em que a diversão era cara – reuniam-se na casa de um ou de outro e ficavam jogando cartas ou contando histórias.

Ah, que grandes contadores de histórias eles eram! Não tenho qualquer dúvida de que tornei-me escritor ali, ouvindo as histórias que meus pais

Moacyr Scliar “Histórias de Porto Alegre”, 2005

o Bom Fim

narravam com tanto prazer e que falavam de seu sonho brasileiro.”

23

Clube de Cultura de Porto Alegre

Sociedade Italiana (fachada) Acervo Instituto Cultural Judaico Marc Chagall

Redenção

Av. Osvaldo Aranha com Rua Felipe Camarão (prédio do antigo bar Fedor)

o Bom Fim

Acervo Clube de Cultura

24

Acervo Museu Joaquim José Felizardo – Fototeca Sioma Breitman

Acervo Museu da UFRGS

Acervo Família Scliar

o Bom Fim

Moacyr Scliar e sua mãe, Sara Scliar, na Sociedade Hebraica

25

“Muito famosos eram os bares e cafés, cada um com seu perfil próprio.

O mais conhecido era o bar do Serafim, um lugar em que uma variada clientela – negociantes, profissionais liberais, marginais – se reunia para tomar café e jogar sinuca. O bar era conhecido como Fedor, porque os mictórios ficavam juntos às mesas de sinuca – os jogadores não podiam perder tempo procurando um lugar para urinar. Ah, sim, e os cinemas.

Dois: o Baltimore e o Rio Branco. Porto Alegre sempre gostou de filmes e assistir, nos domingos, um seriado completo (ou seja, um filme em episódios

o Bom Fim

mostrados de uma só vez) era programa obrigatório.”

26

Moacyr Scliar “Histórias de Porto Alegre”, 2005

José e Moacyr Scliar, pai e filho, no bar João

o Bom Fim

Acervo Família Scliar

Cinema Baltimore (fachada) Acervo Museu da UFRGS

Cinema Baltimore (palco)

Acervo Instituto Cultural Judaico Marc Chagall

27

a infância “Da época de Passo Fundo tenho duas fotos. Uma, convencional, semelhante a essas fotos de documentos. Ali estou, vestindo um grosso casaco, muito bem penteado, mirando a câmera. (…) Na outra contudo, que foi tirada num baile infantil, a minha expressão é de perplexidade. Estou ali fantasiado de cossaco. Por que cossaco?

Por que essa evocação aos tradicionais inimigos dos judeus?

Talvez fosse uma espécie de debochada vingança. (…) Ou seria aquilo um tardio sinal de submissão?”

Moacyr Scliar “O Texto, ou: a Vida”, 2007

a infância

Acervo Família Scliar

29

“Fomos morar no bairro do Bom Fim. Fecho os olhos e, sem muito esforço, lembro de nossa pequena casa na rua Fernandes Vieira. (…)

Era precária – o assoalho cedia ao passo, ratos disputavam corridas no forro –, e minúscula. Havia uma saleta na frente da qual se passava, diretamente –

a infância

a casa não tinha corredor –, para os dois pequenos dormitórios.”

Moacyr Scliar

30

“O Texto, ou: a Vida”, 2007

Aniversário no bairro Bom Fim

a infância

Acervo Família Scliar

31

Sara, Moacyr e José – Formatura no Colégio Rosário

a infância

Acervo Família Scliar

32

“Como outras casas do bairro, carecia de confortos elementares.

Não tínhamos água quente, por exemplo. Para o banho, nem sempre diário (o que admito constrangido, dada a minha condição de homem da saúde pública), minha mãe esquentava água em uma grande lata de azeite Sol Levante. E não a esquentava no fogão a gás ou elétrico;

Moacyr Scliar

a infância

o que tínhamos era um fogão a lenha.”

“O Texto, ou: a Vida”, 2007

33

“No fundo, o pátio, onde o capim vicejava, selvagem: mar.

Neste mar, eu navegava rumo a países distantes a bordo do meu navio (um caixote de madeira). Piratas a bombordo! Monstros a estibordo!

Os perigos, eu os enfrentava galhardamente, mas jamais desembarquei nas míticas regiões que povoavam a minha imaginação; de alguma maneira foi o que fiz com a minha ficção.”

Moacyr Scliar “O Texto, ou: a Vida”, 2007

“De minha mãe adquiri o gosto pela leitura. Éramos pobres, não indigentes. (...) Apesar disso, nunca me faltou dinheiro para livros. Minha mãe me levava à tradicional Livraria do Globo e eu podia escolher à vontade. Desde pequeno estava lendo. De tudo, como até hoje. (...) Monteiro Lobato era meu autor preferido. Mas eu também lia o Thesouro da Juventude, uma enciclopédia

a infância

infantojuvenil em dezoito volumes. Eu lia, lia, lia.”

Moacyr Scliar

34

“O Texto, ou: a Vida”, 2007

“Na rua, brincávamos: jogávamos bolinha de gude, apostávamos figurinhas, disputávamos futebol. Ah, que mau jogador eu era. Mas jogava, mesmo assim. (...) Todas as noites a gente do Bom Fim se reunia para conversar.

Nas quentes noites de verão sentavam em cadeiras nas calçadas; nas noites de inverno na casa de um, na casa de outro. No verão ou no inverno, a distração preferida – numa época em que não havia televisão, em que o cinema era caro e raros os espetáculos teatrais – era contar histórias. (...) Meus pais em especial, eram grandes contadores de histórias, dessas pessoas que encantam os outros com suas narrativas. Acho que, se me tornei

Moacyr Scliar

a infância

escritor, foi em grande parte por identificação com eles.”

“O Texto, ou: a Vida”, 2007

35

“Minha mãe me introduziu à literatura tanto pelos livros que me comprava, como pelos outros, os que ela escondia de mim. Leituras proibidas: as obras de Erico Verissimo, que eu admirava como autor de histórias infantis, e que, na provinciana Porto Alegre de então, eram considerados moralmente reprováveis. Porque falavam em sexo, claro. (...) Minha mãe escondia esses livros no roupeiro, fechados à chave. (...) Mas eu sabia onde ficava a tal chave, e, tão logo minha mãe saía, eu voava para o roupeiro e ficava lendo aquelas

a infância

páginas. Foi uma dupla iniciação, ao sexo e à literatura.”

Moacyr Scliar

36

“O Texto, ou: a Vida”, 2007

37

a inf창ncia

“Meu primeiro texto, pelo menos aquele que lembro como primeiro texto, (...) era para ser uma autobiografia, e eu a escrevi no papel em que vinha enrolado o pão. Uma autobiografia muito curta, porque eu não tinha muito o que contar. (...) Mico era o meu apelido. (...) Esse apelido me marcou, pois os nomes marcam as pessoas. Por causa dele nunca pude me levar inteiramente a sério, o que não é mau: nada mais chato que um sujeito

a infância

que se leva inteiramente a sério.”

38

Moacyr Scliar “O Texto, ou: a Vida”, 2007

a infância

Caderno de anotações de Mocyr Scliar, o “Mico”

39

o médico

“Que motivos me levaram à Faculdade de Medicina? A pergunta é bem mais complexa que parece. (...) Desde criança eu tinha muito medo de doença.

Não tinha medo de ficar doente – disso até gostava, pois assim não precisava ir à escola –, mas, quando meus pais ou meus irmãos adoeciam, eu entrava em pânico. Na tentativa de vencer este pânico, muito cedo comecei a ler livros sobre medicina e doença.”

Moacyr Scliar “O Texto, ou: a Vida”, 2007

Moacyr Scliar e dois colegas médicos

o médico

Acervo Família Scliar

41

o médico 42

Acervo Família Scliar

Trechos do discurso de formatura, escrito por Moacyr Scliar Locução do ator Zé Victor Castiel

Há um dia para subir as escadarias da Faculdade pela primeira vez; e vem o dia para descê-las pela última vez.

Há um dia para ser estudante talvez despreocupado; mas há um dia para ser médico certamente responsável.

Neste dia, cada um dos cento e três doutorandos aqui presentes, volta-se para o passado, antes de encarar o futuro. E então, muitas histórias poderiam ser contadas; alegres umas, tristes outras, mas de qualquer modo histórias que vale a pena recordar.

Eu tentarei aqui, contar uma delas; de quem, não importa. Se houver qualquer semelhança com a realidade, ela se deve, não a uma simples coincidência, mas ao caminho comum que uniu a todos nós, médicos em formação.

Há alguns anos atrás, uma criança nasceu, num grande continente, chamado América Latina, do qual escreveu Ferreira Gullar: “Morrem quatro por minuto nesta América Latina Não conto os que morrem velhos, só os que a fome extermina.

Não conto os que morrem velhos que, na América Latina, esses são poucos; os homens aqui mal passam dos trinta.

Não conto os mortos de faca nem os mortos de polícia; conto os que morrem de febre e os que morrem de tísica.

Conto os que morrem de bouba de tifo, de verminose: conto os que morrem de crupe

de cancro e schistosomose.

Mas todos esses defuntos, morrem de fato é de fome, quer a chamemos de febre ou de qualquer outro nome.

Morrem de fome e miséria quatro homens por minuto embora enriqueçam outros que deles não sabem muito.”

Um mau lugar este, para se receber o primeiro sopro de vida. Pois a vida, neste grande continente, é algo muito problemático para as crianças. A parteira que assistiu ao nascimento poderia ser uma das tantas chamadas curiosas, a quem compete trazer ao mundo os cidadãos de um país deste continente – um colosso chamado Brasil.

Na tesoura com que a parteira corta o cordão umbilical, espreita o germe do tétano.

Suponhamos, nascimento. não teremos precisa ser e indefeso, uma migalha

porém, que a criança escapou, ao Suponhamos; porque, caso contrário, história. E a história desta criança contada. É a odisseia de um ser fraco que precisa lutar a cada instante por de vida.

É uma batalha que exige astúcia e resistência.

Astúcia para não nascerem em lugares como a Casa Amarela, no Recife, onde de cada mil crianças que nascem morrem quinhentas.

No Brasil, morre uma criança a cada 42 segundos, 85 crianças por hora, 2040 por dia. A cada volta do ponteiro, a criança treme: sua vez poderá ter chegado. O R. G. do Sul perde dez mil crianças por ano – a população de uma cidade. É preciso ser forte, para escapar à matança. 20% das crianças que nascem no Brasil estão mortas antes de um ano de idade. É uma árdua tarefa, ser criança no Brasil.

o médico

“Há um dia para começar; há um dia para terminar.

43

E nós sentimos que há em vocês uma pergunta: que espécie de médicos serão estes, que hoje recebem seu diploma? Na verdade, muitas são os caminhos que hoje se abrem diante de nós.

Há o caminho daqueles que, em seus empregos, lutarão para dar às classes menos favorecidas a assistência médica que merecem como seres humanos que são.

Há aqueles que, na carreira universitária, farão uma medicina de torre de marfim, procurando repetir os êxitos de centros mais avançados.

E há aqueles que, imbuídos do verdadeiro espírito científico, procurarão fazer da pesquisa um caminho para a solução dos problemas de saúde do Brasil.

Há aqueles que irão para o interior, e terão de manter uma batalha constante para exercer uma medicina cada vez mais aperfeiçoada, ou então sacrificar sua honestidade profissional às contingências momentâneas. É uma dura opção, entre as tentações de um êxito fácil, e as dificuldades de um caminho de dignidade.

Esta opção, esta possibilidade de poder e glória, está no diploma que hoje vocês todos nos entregam. É uma difícil escolha esta, em que entram nosso próprios problemas, tão diferentes, quanto diferentes são os seres humanos. E o médico é antes de tudo, um ser humano que precisa alimentar e vestir sua família, que luta, como todos, por um lugar ao sol.

o médico

Mas neste momento, há uma vanguarda que abre caminho, o verdadeiro caminho da medicina brasileira.

44

A medicina que só será verdadeira, quando na previdência social deixar de imperar o empreguismo.

A medicina que será verdadeira, quando os cursos de aperfeiçoamento forem acessíveis a todos; quando a formação universitária for dirigida no sentido de uma maior ligação com a realidade brasileira, ao invés de representar um isolamento dos problemas de nosso povo.

A medicina só será verdadeira quando os médicos deixarem de gravitar em torno da reduzida minoria de favorecidos que é constituída pela clínica particular.

O médico tem hoje um lugar definido na luta pela emancipação social e econômica de nosso povo. Seu lugar é ao lado dos operários, dos camponeses, dos estudantes, dos profissionais liberais, dos industrialistas, dos intelectuais, dos comerciantes, de todos os que lutam por um Brasil livre do subdesenvolvimento e da exploração.

E o objetivo desta luta é um só: restabelecer a dignidade do homem brasileiro. Assegurar as suas liberdades: liberdade de comer e de vestir, liberdade de educar-se, liberdade de decidir sobre os caminhos de nossos pais.

Vamos lutar com nossas forças e nossas fraquezas, com a consciência de não sermos donos de verdades eternas, mas com vontade férrea de aprender com nossos erros. Vamos lutar juntos, sabendo que poderemos divergir muitas vezes, mas confiando em que o tempo e a experiência mostrarão a rota segura.

Todas estas esperanças conduzem a um objetivo: um regime em que o trabalho de todos reverta em benefício de cada um, em que todo o ser humano obtenha da sociedade aquilo que necessidade para ser feliz.

Nós temos confiança. Uma confiança ilimitada nos novos tempos em que vivemos, em que o mundo desperta, em que a América Latina desperta, em que o Brasil desperta.

Prossigamos juntos, colegas, Hoje, dia da formatura, quando o Brasil nos chama para o caminho da medicina honesta realizadora, nós podemos responder, como tantas vezes o fizemos no curso médico: - Estamos presentes” 23 de dezembro de 1962.

Salão de Atos da Reitoria da UFRGS. Porto Alegre.

o médico

Acervo Família Scliar e foto de Adriana Franciosi - Agência RBS (Moacyr Scliar na biblioteca)

45

o escritor

“Logo estava também colocando no papel as minhas primeiras historinhas, que eram lidas com admiração por meus pais e que passavam de mão em mão no bairro: todos diziam que eu era o “escritorzinho do Bom Fim”. E a verdade é que nunca pretendi ser mais do que isto. Tudo o que veio depois, os livros publicados, traduzidos, até mesmo premiados, e finalmente a indicação para a Academia Brasileira de Letras representou uma inesperada gratificação. E foi também o resultado de inestimável auxílio. Das pessoas que leram meus primeiros textos, que me ajudaram e aconselharam: professores, amigos, pessoas como o pintor Carlos Scliar e Erico Verissimo. Meus editores, os primeiros dos quais arriscaram num autor desconhecido e de potencial incerto. E os leitores, e aqueles que trabalharam em minha obra – tanta gente, que um grosso volume seria pequeno

para listar os nomes.

47

o escritor

Para mim, está claro que aqui estou representando a literatura gaúcha. Sou apenas um dos numerosos nomes que integram a extensa lista daqueles que fazem do Estado do Rio Grande do Sul o cenário e a motivação para sua literatura.

Enfim, este é um momento de celebração. Entristecido pela ausência daqueles que não estão aqui, celebrando comigo: meus pais, José e Sara, emigrantes que lutaram duramente e que me ensinaram a lutar também, e a acreditar.

Como um dia acreditou na literatura aquele gurizinho do bairro do Bom Fim que, de algum lugar do tempo, me olha com seus grandes olhos, um olhar de admiração e de espanto – espanto e admiração à qual junto, neste momento, a

o escritor

gratidão de toda a minha vida.”

48

Moacyr Scliar Trechos do discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, em 22 de outubro de 2003

o escritor Moacyr Scliar na posse na ABL Adriana Franciosi - AgĂŞncia RBS

49

Moacyr Scliar com os colegas da ABL

o escritor

Adriana Franciosi - AgĂŞncia RBS

50

o escritor Charge de Moacyr Scliar por Paulo Caruso

51

o escritor 52

Datiloscrito de “A Guerra no Bom Fim” Acervo Delfos-PUCRS

Acervo Delfos-PUCRS

o escritor

Manuscrito de “A Estranha Nação de Rafael Mendes”

53

Contos

1972

A Guerra no Bom Fim

1962

Histórias de um Médico em Formação

1973

O Exército de um Homem Só

1964

Tempo de Espera

1975

O Ciclo das Águas

1968

O Carnaval dos Animais

1975

Os Deuses de Raquel

1975

Mistérios de Porto Alegre

1977

Mês de Cães Danados

1976

A Balada do Falso Messias

1978

Doutor Miragem

1977

Histórias da Terra Trêmula

1980

O Centauro no Jardim

1978

Pega pra Kaputt!

1980

Os Voluntários

1979

O Anão no Televisor

1981

Max e os Felinos

1984

10 Contos Escolhidos

1983

A Estranha Nação de Rafael Mendes

1984

Melhores Contos de Moacyr Scliar

1991

Cenas da Vida Minúscula

1986

O Olho Enigmático

1992

Sonhos Tropicais

1989

A Orelha de Van Gogh

1997

A Majestade do Xingu

1995

Contos Reunidos

1999

A Mulher que Escreveu a Bíblia

1997

O Amante de Madonna & Outras Histórias

2000

Os Leopardos de Kafka

1997

Os Contistas

2004

Uma História Farroupilha

1998

Histórias para (quase) Todos os Gostos

2005

Na Noite do Ventre, o Diamante

2000

Porto de Histórias

2006

Os Vendilhões do Templo

2002

Pai e Filho, Filho e Pai

2008

Manual da Paixão Solitária

2007

Do Jeito que Nós Vivemos

2010

Eu Vos Abraço, Milhões

o escritor

Romances

55

Edições Estrangeiras Alemão

Francês

1985

Der Zentaur Im Garten

1985

Le Centaure dans le Jardin

1987

Die Ein-Mann-Armee

1986

L’Etrange Naissance de Rafael Mendes

1989

Das Seltsame Volk des Rafael Mendes

1987

Le Carnaval des Animaux

2013

Kafkas Leoparden

1991

Max et les Chats

2013

Die Götter der Raquel

1992

L’Oreille de Van Gogh

2013

Die Krieg in Bom Fim

1994

Oswaldo Cruz le Magnifique

1998

Sa Majesté des Indiens

Catalão

2003

Max et les Félins

Els Lleopards de Kafka

2003

La Femme qui Ecrivit la Bible

2009

L’Oeil Enigmatique

Dinamarquês

2010

La Guerre de Bom Fim

Kafkas Leoparder

2012

Le Manuel de la Passion Solitaire

2012

2012

o escritor

Espanhol

56

1985

El Centauro en el Jardín

1987

El Ejercito de un Solo Hombre

1988

La Extraña Nación de Rafael Mendes

1989

La Oreja de Van Gogh

1996

Las Plagas y Otros Relatos

2001

La Mujer que Escribió la Biblia

2006

Max y los Felinos

2012

Los Leopardos de Kafka

Hebraico 1988

Hakentaur ba Gan

Holandês 1994

De Centaur in de Tuin

Inglês

Português

1985

The Centaur in the Garden

1986

O Centauro no Jardim

1986

The Gods of Raquel

1994

A Orelha de Van Gogh

1986

The Carnival of the Animals

2000

A Majestade do Xingu

1987

The Ballad of the False Messiah

2002

Os Leopardos de Kafka

1988

The Strange Nation of Rafael Mendes

2002

O Exército de um Homem Só

1988

The Volunteers

2009

A Mulher que Escreveu a Bíblia

1989

The Enigmatic Eye

1990

Max and the Cats

1999

The Collected Stories of Moacyr Scliar

2011

Războiul din Bom Fim

2011

Kafka’s Leopards

2014

Max si Felinele

2014

Ciudatul popor al lui Rafael Mendes

2014

Centaurul din grădină

2000

L’Orecchio di Van Gogh

2002

Il Centauro nel Giardino

2004

La Donna che Scrisse la Biblia

2004

Piccola Guida per Naufraghi

Russo 2002

con Giaguaro e Senza Sestante 2006

I Leopardi di Kafka

The Centaur in the Garden

Sueco 1988

Kentauren i trädgården

2011

Van Goghs öra

2012

Diamanten i den inre natten

Tcheco 2002

Leopardi Franze Kafky

o escritor

Italiano

Romeno

57

Crônicas

Ensaios

1984

A Massagista Japonesa

1985

A Condição Judaica

1989

Um País Chamado Infância

1987

Do Mágico ao Social

1995

Dicionário do Viajante Insólito

1987

Cenas Médicas

1996

Minha Mãe Não Dorme

1990

Do Éden ao Divã: Humor Judaico

enquanto Eu Não Chegar

1990

Caminhos da Esperança

A Língua de Três Pontas: Crônicas

1993

Se Eu Fosse Rothschild

e Citações sobre a Arte de Falar Mal

1994

Judaísmo: Dispersão e Unidade

2001

O Imaginário Cotidiano

1996

A Paixão Transformada

2004

As Melhores Crônicas de Moacyr Scliar

1996

Oswaldo Cruz

2004

Histórias de Porto Alegre

2000

Porto de Histórias: Mistérios

2005

O Olhar Médico

2009

Histórias que os Jornais Não Contam

2000

Meu Filho, o Doutor

2012

A Poesia das Coisas Simples

2000

Entre Moisés e Macunaíma

2013

Território da Emoção

2001

A Face Oculta

2014

A Banda na Garagem

2002

A Linguagem Médica

2002

Oswaldo Cruz & Carlos Chagas

2003

Judaísmo

2003

Ilha Deserta

2003

Saturno nos Trópicos

2003

Um Olhar sobre a Saúde Pública

2007

Enigmas da Culpa

2007

O Texto, ou: a Vida

2008

Amor em Texto, Amor em Contexto:

e Crepúsculos de Porto Alegre

2011

um Diálogo entre Escritores

o escritor

2001

Rubem Alves e Moacyr Scliar

59

Conversam Sobre o Corpo e a Alma

1987

Do Mágico ao Social

1992

Sonhos Tropicais

1996

A Paixão Transformada

1996

Oswaldo Cruz: entre Micróbios e Barricadas

1997

A Majestade do Xingu

2000

A Face Oculta

2000

O Livro da Medicina

2001

Meu Filho, o Doutor

2002

A Linguagem Médica

2002

Cenas Médicas

2002

Oswaldo Cruz & Carlos Chagas

2003

Aprendendo a Amar – e a Curar

2003

Saturno nos Trópicos

2003

Um Olhar sobre a Saúde Pública

2005

O Olhar Médico

2005

Respirando a Liberdade

2008

A Saúde Pública no Rio de Dom João

2009

Série Essencial: Oswaldo Cruz

2011

Rubem Alves e Moacyr Scliar Conversam Sobre o Corpo e a Alma

2013

Território da Emoção

o escritor

Literatura Médica

61

1981

Cavalos e Obeliscos

2002

O Irmão que Veio de Longe

1982

A Festa no Castelo

2002

O Sertão Vai Virar Mar

1984

Memórias de um Aprendiz de Escritor

2003

Aprendendo a Amar – e a Curar

1988

No Caminho dos Sonhos

2003

Navio das Cores

1988

O Tio que Flutuava

2003

Nem uma Coisa, nem Outra

1988

Introdução à Prática Amorosa

2004

Histórias de Aprendiz

1989

Os Cavalos da República

2004

Um Menino Chamado Moisés

1991

Pra Você Eu Conto

2005

Gota d’Água

1993

O Rio Grande Farroupilha

2005

O Amigo de Castro Alves

1994

Uma História Só pra Mim

2005

Respirando a Liberdade

1995

Um Sonho no Caroço do Abacate

2006

Ciumento de Carteirinha

1998

Câmera na Mão, o Guarani no Coração

2007

A Palavra Mágica

1999

A Colina dos Suspiros

2007

ABC do Mundo Judaico

2000

O Livro da Medicina

2007

O Menino e o Bruxo

2000

O Mistério da Casa Verde

2008

A Voz do Poste

2001

Ataque do Comando P.Q.

2008

Deu no Jornal

2002

Aquele Estranho Colega, o Meu Pai

2009

Leituras de Escritor

2002

As Pernas Curtas da Mentira

2011

Contos e Crônicas para Ler na Escola

2002

Éden-Brasil o escritor

Literatura Infantojuvenil

63

Publicações Póstumas (em ordem cronológica) 2011

Contos e Crônicas para Ler na Escola

2011

Rubem Alves e Moacyr Scliar

2012

A Poesia das Coisas Simples

2013

O Imortal Moacyr Scliar

2013

Território da Emoção

2014

A Banda na Garagem

o escritor

Conversam Sobre o Corpo e a Alma

65

os personagens

Raquel

Miguel

(Fernanda Carvalho Leite)

(Roberto de Oliveira)

Os Deuses de Raquel Raquel dá dois passos, e para, devido ao grito que ouve atrás de si.

RAQUEL – Tu viste? Mas tu...

MIGUEL – Eu. Eu sempre te vi.

MIGUEL – Raquel!

RAQUEL – Sempre?

RAQUEL – Que foi?

MIGUEL – Sempre. Sempre.

Miguel chega bem perto.

Os dois ficam se olhando.

MIGUEL – Tu não deverias ter feito aquilo, Raquel.

RAQUEL – Aquilo o quê, Miguel?

MIGUEL – Aquilo, da fechadura.

RAQUEL – Que fechadura?

Não sei do que estás falando.

MIGUEL – Sabes, sim. A fechadura que estavas olhando na loja.

RAQUEL – (para a câmera) Então era ele.

O olho que me espiava entrando no Colégio era ele; e no auditório, era ele; e na casa de Teresópolis, era ele; no restaurante da praia, era ele. E o vento que abria a janela de meu quarto era ele. E o incêndio no Colégio?

Miguel. Sempre o Miguel. O homem cujo rosto agora resplandece. Miguel – com sua cabeleira branca e sua barba, seus grandes olhos, sua pele delicada, seu sorriso – é bonito.

RAQUEL – (para Miguel) Miguel.

RAQUEL – Ah, até que enfim notaste alguma coisa na loja. (ri) Muito bem. E qual é o problema então, Miguel?

MIGUEL – Tu roubaste a fechadura, Raquel.

Miguel coloca os dedos nos lábios dela.

MIGUEL – Não sou Miguel. Sou aquele cujo nome não pode ser pronunciado. (sorri) Chama-me Jeová.

RAQUEL – (surpresa) Eu? MIGUEL – Tu, tu mesma.

MIGUEL – (sem raiva; sorrindo docemente) Para depois me acusar e me botar pra fora.

RAQUEL – E como é que tu sabes?

MIGUEL – Eu vi.

os personagens

RAQUEL – E para que eu roubaria uma fechadura, Miguel? Uma fechadura da minha loja?

67

os personagens 68

Joaquim

Valdo

(Artur JosĂŠ Pinto)

(Phillipe Philippsen)

Eu Vos Abraço, Milhões JOAQUIM – (cara amarrada) Primeiro dia de trabalho, e você já chega tarde? Nós aqui exigimos pontualidade, meu caro. Você vai ser descontado. Eu não tinha falado para você vir com roupa de trabalho?

Essa sua roupinha de frajola não dá para o serviço.

VALDO – (confuso) Eu não tive tempo para providenciar, mas vou fazer isso logo.

que desaprovou o projeto. Os batistas diziam que se tratava de idolatria. E os esquerdistas eram contra, claro, os anarquistas, os comunistas... Aliás, você sabia que o Cristo seria de bronze? Mas essa ideia foi abandonada. Sabe por quê?

VALDO – (suando) Não. Não sei.

Valdo olha para onde Joaquim apontou, confuso.

JOAQUIM – Por causa dos bolcheviques.

Quando tomaram o poder na Rússia, confiscaram as estátuas dos santos e derreteram-nas para aproveitar o bronze. Claro, isso dificilmente aconteceria no Brasil, mas por via das dúvidas os responsáveis pelo projeto resolveram mudar o material. Com os comunas nunca se sabe. Numa dessas, chegam ao governo e aí, adeus Cristo Redentor. Esses caras têm pacto com o Diabo, você não acha?

VALDO – E como é que eu levo isso?

VALDO – (balançando a cabeça) Acho.

Joaquim dá uma risada.

JOAQUIM – Preciso ir no escritório.

Leva todos os sacos. Até amanhã.

JOAQUIM – Está bem. Vamos ao que interessa. (aponta para alguma coisa fora de quadro) Pega esses sacos de cimento e leva para onde estão aqueles operários.

JOAQUIM – Como é que eu levo isso? Nas costas, meu caro! Nas costas! A menos que você tenha alguém que carregue os sacos para você.

Valdo pega o primeiro saco e quase cai com o peso.

Depois consegue colocá-lo nas costas e carrega.

Vai pegando outros sacos e transportando, enquanto Joaquim fala com ele.

JOAQUIM – A ideia original foi de um padre francês, em meados do século dezenove. Isso aqui se chamava Pináculo da Tentação, aquele lugar que o demônio tentou Jesus. O padre achou que nesse lugar tinha que ter um monumento à fé. E o povo apoiou. Você sabe quantas pessoas subscreveram o abaixo-assinado pedindo a construção do Cristo? Vinte mil. Vinte mil, já pensou?

Ah, e organizaram também uma campanha pra arrecadar dinheiro. Todo mundo contribuiu. Claro, teve gente

a revolução: enquanto fizesse o trajeto do ponto A para o ponto B, repetiriapara mim próprio passagens do Manifesto. (recitando) “A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos contrários, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.” (para de recitar) Seria como salmodiar preces, mas preces progressistas, preces revolucionárias.

Nada de religião. Nada de ópio do povo.

Joaquim sai de quadro.

VALDO – (para a câmera) Tudo aquilo, o empreendimento, a propaganda, tinha um único objetivo: enganar as massas. Marx estava absolutamente certo: a religião era o ópio do povo. Mas, pensando bem, aquele Cristo Redentor tinha um enorme apelo emocional.

Disso minha mãe era um exemplo típico. Se um crucifixo relativamente pequeno despertava nela, pessoa simples, uma fé ardente, o que dizer de uma estátua monumental de Cristo, a maior do Brasil, talvez do mundo?

Valdo coloca um saco no chão, saindo de quadro.

Quando se levanta, sua roupa é diferente, de operário.

VALDO – (para a câmera) No dia seguinte tive uma ideia para transformar aquela atividade em algo mais útil para

os personagens

Valdo chega para trabalhar, apressado.

69

os personagens 70

Guedali/Centauro

Domadora

(Mauro Schames)

(Nora Prado)

O Centauro no Jardim Guedali e Domadora conversam em frente à jaula do tigre.

GUEDALI – Não, não é nada com a polícia.

Ele não quer aparecer; só isso.

(Guedali aperta a mão dela; as duas mãos ficam juntas por um bom tempo) Acho que vamos nos entender bem.

GUEDALI – Sou o novo número.

DOMADORA – E o que vocês fazem?

Domadora olha seu relógio (grande, de homem).

DOMADORA – (desconfiada) Mas que diabo é isso?

GUEDALI – Corremos em torno da pista, saltamos obstáculos; e eu, posso declamar poesias, contar histórias, tocar violino, mas não acho que seja preciso: o público morre de rir quando entramos no picadeiro.

DOMADORA - Representa o quê?

GUEDALI – Um centauro, um ser mitológico, metade homem, metade cavalo.

DOMADORA – Ah, sim. Já ouvi falar disso.

Dá uma volta.

Guedali dá uma volta sobre si mesmo. Ouvimos o som dos cascos. Domadora tira os óculos.

DOMADORA - Bem feitinha, a fantasia. É couro?

GUEDALI – Couro de cavalo legítimo.

DOMADORA – E quem está aí dentro?

GUEDALI – Meu irmão. Ele não gosta de aparecer. É surdo-mudo, e ainda por cima tem a cara toda queimada, uma mulher jogou ácido nele.

DOMADORA – Não é nada com a polícia?

Olha, eu não quero encrencas.

DOMADORA – Não é para menos. A fantasia é mesmo engraçada. (tira do bolso um maço de cigarros) Fuma?

Guedali aceita. Domadora acende os dois cigarros.

Guedali sufoca e tosse na primeira tragada.

GUEDALI – Cigarro não é para centauro.

DOMADORA – Está tudo bem. Mas tem um problema.

Um problema sério. Não sei o que o antigo dono tratou contigo. Só sei que o circo está quebrado e não tenho como te pagar.

GUEDALI – Não faz mal. Posso trabalhar por comida, ao menos por uns tempos. Depois a gente se acerta.

DOMADORA – Bom, se é assim, vocês podem começar hoje mesmo. Como é o teu nome mesmo?

GUEDALI – Silva. Tanto eu como o meu irmão atendemos por esse nome.

Domadora estende a mão para Guedali.

DOMADORA - Você é simpático, Silva. os personagens

GUEDALI – (inseguro) Sou o novo número.

Represento um centauro.

DOMADORA – Agora tenho que ver como estão as coisas por aí. Estreamos hoje de noite.

Teu número é o segundo.

71

os personagens 72

Max

Velho Judeu

(Eduardo Mendonça)

(ZĂŠ Victor Castiel)

Max e os Felinos Velho examina cuidadosamente algumas joias.

Olha para Max.

VELHO – O triplo. Está bem bem? O triplo. (pausa) Está satisfeito? (pausa) Está satisfeito?

VELHO – Vinte.

MAX – (murmurando) Estou.

MAX – (brabo, com a cara vermelha de raiva) Eu deveria saber que não se pode esperar outra coisa de um judeu.

VELHO – Mais alto, por favor.

MAX – (gritando) Sim! Estou satisfeito!

Max levanta-se e sai de quadro.

O Velho conta o dinheiro e entrega para Max. VELHO – (na direção de Max) Um momento, herr Max. Ainda não terminamos o negócio.

Velho acompanha a volta de Max com os olhos.

Max entra em quadro e senta-se.

VELHO – Vamos nos entregar à antiga arte da barganha, ainda desconhecida neste país.

Vejamos: eu lhe ofereci pouco, não é?

VELHO – Confira.

MAX – Não precisa...

VELHO – Confira. Não se deve confiar em ninguém. O senhor já deveria saber isto.

Max conta o dinheiro rapidamente e o coloca no bolso.

VELHO - Pois então diga: “É pouco”.

VELHO – Nenhuma reclamação a respeito da transação?

MAX – É pouco.

MAX – (sombrio) Nenhuma.

VELHO - “Estas joias são de estimação.”

MAX – Estas joias são de estimação...

VELHO – (meio sorriso) E o senhor se importa se eu ganhar algum dinheiro na venda das joias que o senhor estimava tanto?

VELHO - “Quero mais...”

MAX – Não.

MAX – Quero mais. (Max levanta-se) Escute, o senhor pensa...

VELHO – Cem por cento? Não se importa?

Duzentos por cento? Não?

VELHO – (seco) Não penso nada. Ouvi o que o senhor disse: é pouco, as joias são de estimação, quero mais. Bem: ofereço-lhe o dobro.

MAX – Não.

Max olha para o Velho, boquiaberto.

VELHO – Bom, então vá, senhor Max. E cuidado com seu dinheiro.

os personagens

MAX – É.

73

Vendilh達o

os personagens

(Rafael Tombini)

74

Os Vendilhões do Templo Vendilhão atende em sua barraca, especializada em pombos e moedas.

FILHO – (OFF) Ele vem vindo aí.

VENDILHÃO – Não me respondem? Mas afinal, o que está havendo aqui? Todos viram o que aconteceu, e ninguém vai protestar?

Um homem entra aqui, nos chama de ladrões, e ninguém reage?

VENDILHÃO – Ele, quem?

Um homem aproxima-se da banca e olha para o Vendilhão.

FILHO – (OFF, murmurando) É ele. É o mestre!

Vendilhão não entende.

JESUS CRISTO – (de costas, bem alto) Nas Escrituras Sagradas está escrito: “A minha casa é casa de oração”.

Mas vós fizestes dela um covil de ladrões!

Vendilhão olha para o lado, onde está o Filho.

VENDILHÃO – Não vais fazer nada, tu? (aponta para alguém) E tu, que sempre te gabaste de tua valentia, vai ficar aí, sem dizer nada? (pausa) Maldita hora em que me tornei um Vendilhão do Templo. Maldita hora!

Vendilhão olha para o pombo com lágrimas nos olhos.

VENDILHÃO - Quem me indeniza por esse prejuízo? Quem?

O Vendilhão recua um pouco, assustado. Jesus Cristo, num gesto súbito, derruba a mesa, jogando no chão as gaiolas de pombas e as moedas. Depois pega um chicote e começa a dar golpes a torto e a direito.

O Vendilhão se protege como pode. Jesus Cristo vai embora. Vendilhão pega um pombo morto e mostra para os que estão à sua volta.

Nenhuma reação.

os personagens

VENDILHÃO – O que faço com isto? Respondam!

O que faço com isto? Era um pombo, um lindo pombo branco, eu ia vendê-lo por bom dinheiro. Agora está morto. E pode-se sacrificar um pombo morto? Deus não pode aceitar um pombo que não foi imolado de acordo com o ritual. Este pombo, um dos melhores que já tive, agora não vale uma reles moedinha, nem os cães o comeriam. Quem me indeniza por esse prejuízo? Quem?

75

os personagens 76

M達e de Mayer

Mayer

(Mirna Spritzer)

(Matheus Zoltowski)

O Exército de um Homem Só Mayer e Mãe estão sentados à mesa, lado a lado.

MAYER – Todo mundo.

MÃE – Come.

MÃE – Porco?

MAYER – Mas eu não quero, não vê?

MAYER – Porco.

MÃE – (berrando) Come! Come! Come!

FADE-OUT/FADE-IN

Mayer começa a comer as costeletas.

Mãe coloca sobre a mesa uma travessa fumegante, bem perto de Mayer. O Pai não aparece, mas podemos ouvir sua voz.

MÃE – E daqui pra diante vai ser assim pra qualquer coisa: arroz frio, batata cozida, pão, bolacha mofada...

PAI – (OFF) O que é isto?

Mayer olha para a mãe, assustado.

MÃE – Costeletas de porco.

MÃE – Come!

Ouvimos o barulho de um talher caindo e uma cadeira sendo arrastada bruscamente.

E Mayer come.

MÃE – (para Mayer) Queres bolinho?

MAYER – Não.

MÃE – Queres arroz?

MAYER – Não.

MÃE – Queres sopa?

MAYER – Não.

MÃE – Um doce, então.

MAYER – Não.

MÃE – Diz, meu filho, o que tu queres comer.

O que quiseres, a tua mãe traz. Nem que seja preciso viajar até São Paulo, mamãe traz.

MAYER – (depois de uma longa hesitação) Porco.

MÃE – O quê?

MAYER – Quero costeletas de porco.

Todo mundo diz que é muito bom.

PAI – (OFF) Porco! Porco em minha casa.

Na casa de Schil Guinzburg! Porco!

MÃE – Não vês que é só isto que ele quer comer? Este guri magro, fraco, este desgraçado. Se é isso que ele quer, é isto que ele comerá.

Mãe despeja as costeletas no prato de Mayer.

Ouvimos os passos do Pai indo embora e depois a porta da frente se fechando com violência.

MÃE – Todo mundo diz?

MÃE – Come.

MÃE – Come.

MAYER – Não quero. Pode ser que amanhã...

os personagens

MAYER – Não quero. Com este barulho todo, perdi o apetite.

77

os personagens 78

Rei Salom達o

Mulher

(Girley Paes)

(Manoela Wunderlich)

A Mulher que Escreveu a Bíblia Salomão e Mulher conversam na sala do trono.

Mulher escuta com atenção, meio desconfiada.

SALOMÃO - (calmo) Acabei de interceptar tua correspondência.

SALOMÃO - (triste) Mas quem garante que não será destruído? Não quero ser lembrado por ruínas. Quero ser lembrado por algo que dure para sempre. Sabes o quê?

MULHER – (para a câmera) Com o elogio me derreti toda. Deus, talvez fosse impotente, mas que era uma raposa, ah, isso era também. Poderia ter dito, faço o livro para que transes comigo. Mas aquele não era o momento para tal exigência.Se for o caso, posso começar já.

Mulher escuta, assustada.

Salomão faz uma pausa antes de continuar.

SALOMÃO - Conspiração contra o trono.

Assunto grave. Posso condenar-te à morte, sabes?

Salomão levanta e afasta-se do trono, caminhando na direção de um divã. Senta-se e faz um sinal para a mulher, que senta ao seu lado.

SALOMÃO - Um livro. Um livro que conte a história da humanidade, do nosso povo. Claro, o livro, como objeto, também é perecível. Mas o conteúdo do livro, não.

O livro se dissemina como as sementes que o vento leva.

SALOMÃO - (sorrindo) Eu sabia que podia contar contigo.

Amanhã mesmo darás início ao trabalho.

MULHER – (para a câmera) Nesse momento tive certeza de que já não me achava feia, que descobrira em mim uma oculta beleza, a beleza da inteligência, da cultura.

Salomão pega a mão da Mulher.

MULHER – (para a câmera) Claro que eu sabia.

A lei era dura naquele país, muito dura: olho por olho, dente por dente.Que mandasse me matar; estava no seu direito. Mas eu morreria em silêncio, com dignidade.

MULHER – (para a câmera) Tomou-me a mão.

O meu amado tomou-me a mão. Deus, Deus, faz com que ele diga agora que me ama.

SALOMÃO - Está muito bem redigido. (olha fixo para a mulher) Alguém escreveu isto para ti?

SALOMÃO - Quero que escrevas esse livro. Quero que descrevas a trajetória de nossa gente através do tempo.

MULHER - Não. Eu sei ler e escrever há muito tempo.

MULHER - (para a câmera) Um livro? Então era isso o que ele queria de mim? Não queria me levar para a cama, não queria fazer amor comigo. Eu queria que ele me valorizasse como mulher, como amante. De qualquer forma era uma mudança: de rejeitada eu passava à condição de colaboradora.

MULHER - Obrigada.

SALOMÃO - Minha sabedoria vem da meditação, não dos livros. (pausa) Quero te fazer uma proposta.

Conheces o templo que edifiquei? O templo de Jerusalém?

MULHER - Conheço. Por fora, já que entrar é proibido para as mulheres.

SALOMÃO - É a grande realização do meu reinado.

SALOMÃO - Para mim próprio, não quero mais que um capítulo. Basta que fales das minhas obras, de minha paixão, de minha sabedoria.

MULHER - É impossível que um rei tão poderoso não tenha quem lhe escreva esse livro.

SALOMÃO - Há dez anos, seis anciãos estão tentando fazer isso. Eles falam, falam, falam, escrevem, escrevem, escrevem – e não sai nada. Por isso te chamei. Nada tens a ver com eles: és mulher, e mulher inteligente. Escreves muito melhor que eles. Tua carta é uma prova disso. (pausa) Aceitas?

os personagens

SALOMÃO - Maravilhoso! Tu és a primeira mulher letrada que encontro. Além disso, escreves muito bem. Eu não conseguia parar de ler. E olha que eu não sou muito de leitura.

79

os personagens 80

Rafael Mendes

Afonso

(Frederico Vittola)

(Renato Del Camp達o)

A Estranha Nação de Rafael Mendes Rafael está dormindo. Seu rosto e seu corpo têm marcas de tortura. Afonso, igualmente machucado,o acorda com um empurrão.

AFONSO – (sombrio) Tu estavas rindo.

RAFAEL – Rindo? Rindo eu, Afonso?

AFONSO – (berrando) Estavas rindo de novo, Rafael!

De novo! Rindo feliz, como uma criança.

RAFAEL – Para, Afonso. Para com isso.

Já passou dos limites, ouviste?

AFONSO – Tu, tu mesmo.

AFONSO – Passou dos limites?

Tu é que já passaste dos limites.

Quem pensas que és, afinal?

RAFAEL – Mas eu nem posso rir. Dói-me horrivelmente a cara. Tenho os beiços partidos pelas pancadas.

Rafael aproxima-se de Afonso e coloca a mão em seu ombro. Afonso repele a mão.

AFONSO – Mas estavas rindo. Às gargalhadas. Davas barrigadas de risos. Chegaste a me acordar com teu riso.

AFONSO – Tira a mão de mim, traidor!

Afasta-te. Sabujo cristão, porco!

RAFAEL – Estranho. De que estaria eu rindo? De que poderia rir? Não dá para rir nessa situação. Rir de quê?

Rafael olha para Afonso como se este estivesse louco.

AFONSO – Está bem. Digo-te o que vou fazer: se tornares a rir, chamo os guardas. Digo que estás a rir da Inquisição, a zombar das chagas de Cristo. E então, veremos: se estás unido a eles, nada te farão, mas então eu te matarei. E, se não estás do lado deles, te queimarão na fogueira. Portanto, trata de te conter e não rias.

Rafael olha para Afonso, bem sério.

FADE-OUT / FADE-IN

AFONSO – Pois é o que eu te pergunto. (acusador) Rias de quê? Porque eu não vejo motivo para riso.

AFONSO – Aliou-se aos inimigos, este cão.

Estão mancomunados para me pôr de joelhos diante da divindade deles. Mas se pensam que vou me entregar, estão enganados. Lutarei até o fim.

RAFAEL – Talvez fosse um sonho.

Rafael faz um esforço imenso para não dormir, mas acaba dormindo. FUSÃO. Rafael é acordado com um safanão.

Há vários pés de guardas à sua volta.

RAFAEL – (desesperado) Afonso, meu amigo, meu irmão.

O que fizeste? Chamaste os guardas?

AFONSO – Eu avisei.

Rafael é golpeado com um porrete.

GUARDA – (OFF) De que rias, judeu? Fala!

Rafael levanta-se, desesperado.

AFONSO – Sonho? Nunca vi ninguém rir em sonhos, Rafael Mendes. Sei de pessoas que falam dormindo, que andam dormindo – mas que riem dormindo não!

E que sonhos tão alegres tens nesse lugar, podes me dizer?

Eu só tenho pesadelos.

Rafael olha para cima e fica calado.

RAFAEL – Chega! Agora chega. Estás louco, amigo!

Louco varrido! O que estás dizendo é insano.

Sou Rafael Mendes, sou da tua nação, somos irmãos.

Rafael faz um gesto na cintura e aponta para si mesmo.

Afonso olha para Rafael, desconfiado.

FADE-OUT / FADE-IN

RAFAEL – Vês? Tenho estampado na carne o sinal da Aliança Divina, Afonso. Como tu! Te confesso, não sei por que estou rindo. Deve ser uma fraqueza, uma... loucura.

Devemos estar mais unidos que nunca. Por nossa nação, por nosso Deus, o Deus de Abraão, Isaac e Jacob.

Rafael é acordado com um safanão.

Afonso olha para Rafael por mais algum tempo e parece ceder.

os personagens

RAFAEL – Não acontecerá mais, podes ter certeza.

81

a sala de projeção

Duas obras audiovisuais revelam aspectos da obra e da vida de Moacyr Scliar: o curta-metragem “No Amor”, adaptado do conto “O Mistério dos Hippies Desaparecidos”, dirigido por Nelson Nadotti em 1982, e o documentário “Caminhos de Scliar”, dirigido por Cláudia Dreyer em 2014, especialmente produzido para a exposição com depoimentos de amigos e familiares

de Moacyr Scliar.

a sala de projeção

Fotos: Carlos Gerbase

83

a família

Judith e Moacyr Scliar, 1964 Acervo Família Scliar

a família Judith e Moacyr Scliar, 1965 Acervo Família Scliar

85

Judith, Moacyr e Beto Scliar Acervo Família Scliar

Moacyr e Beto Scliar

a família

Acervo Família Scliar

86

Moacyr e Beto Scliar

a família

Acervo Família Scliar

87

Moacyr e Beto Scliar a família

Acervo Família Scliar

88

Moacyr e Beto Scliar

a família

Acervo Família Scliar

89

Wremyr Scliar e Marili Scliar Buchalter, irmãos de Moacyr

a família

Acervo Família Scliar

90

Moacyr Scliar com a família Oliven

a família

Acervo Família Scliar

91

projeto expogrรกfico

93

projeto expogrรกfico

95

projeto expogrรกfico

BANCO SANTANDER (BRASIL)

ANALISTA FINANCEIRO Daniel Cardoso Vitt

PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Celso Clemente Giacometti

ASSISTENTE INSTITUCIONAL Vânia Moreira Lemos

PRESIDENTE

[ Poart Gerenciamento Cultural ]

Jesús Zabalza COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO VICE-PRESIDENTE EXECUTIVO DE COMUNICAÇÃO,

Maria Luisa P. Belan

MARKETING, RELAÇÕES INSTITUCIONAIS E SUSTENTABILIDADE

[ Poart Gerenciamento Cultural ]

Marcos Madureira ASSESSORA DE IMPRENSA SUPERINTENDENTE EXECUTIVA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS,

Mariele Salgado Duran

CULTURA E PATROCÍNIOS

[ Mariele Salgado Duran ME ]

Renata Zaccarelli BIBLIOTECÁRIO

SANTANDER CULTURAL

Rafael Antunes [ Poart Gerenciamento Cultural ]

DIRETORIA COORDENADOR DA AÇÃO EDUCATIVA DIRETOR-PRESIDENTE

Márcio Lima Melnitzki

Marcos Madureira

[ Poart Gerenciamento Cultural ]

DIRETOR VICE-PRESIDENTE

MEDIADORES

Pedro Carlos Araújo Coutinho

Bárbara Lopes Moraes Lara Sosa Dias

DIRETORA-EXECUTIVA

Marlene Nascimento

Renata Zaccarelli

Sheila Prade [ Poart Gerenciamento Cultural ]

DIRETOR-SUPERINTENDENTE Carlos Trevi

COORDENADOR DE OPERAÇÃO Günther Natusch Vieira

CONSELHO CURADOR

[ Poart Gerenciamento Cultural ]

PRESIDENTE

ASSISTENTE DE OPERAÇÃO

Marcos Madureira

Sérgio Wagner Navarro Pimentel [ Poart Gerenciamento Cultural ]

CONSELHEIROS Carlos Trevi

EQUIPE DE ATENDIMENTO

Elly de Vries

Alessandra de Fatima Soares da Costa

Paula Nader

Érica Figueredo Ribeiro Gusmão Joana da Cruz Freitas

CONSELHO FISCAL

Sandy de Fraga Ferreira

Alexandre Argento

[ Poart Gerenciamento Cultural ]

Luciano Decourt Ferrari

a exposição

Mauro Siequeroli

96

EQUIPE TÉCNICA Daniel Faria Villa Verde

EQUIPE EXECUTIVA

Jonas Adriano Dalacorte Marcos Alexandre dos Santos Flores

COORDENADOR-GERAL

[ Poart Gerenciamento Cultural ]

Carlos Trevi COORDENADORES DE SEGURANÇA COORDENADOR INSTITUCIONAL

Gustavo Nery Duzac

Márcia Bertotto

Jeferson da Silva Gonçalves

[ Poart Gerenciamento Cultural ]

[ Gocil Segurança e Serviços ]

EQUIPE DE SEGURANÇA

EXPOSIÇÃO

Anderson Gomes Carlos Alberto Duarth

IDEALIZAÇÃO

Carlos Frederico Trindade

Judith Scliar

Cristiano Gomes Gonçalves Fabiano Alexandre de Oliveira

CURADORIA

Giovani Luis Cardoso Fracassi

Carlos Gerbase

Jaime Eduardo Costa Fontoura Jose Antonio Dos Santos

PRODUÇÃO E COORDENAÇÃO

Ladimir Cesar Mazute

Luciana Tomasi

Marcelo Bastos Dias Mauro Rogerio Martins

CONCEPÇÃO E ROTEIRO ORIGINAL

Michel de Araujo

Gabriel Oliven

Rodrigo Santos de Souza Rubem Antonio Boeira da Silva

PROJETO EXPOGRÁFICO

Sandra Angelita Fredo

Vicente Saldanha

Silvio Mielczarski [ Gocil Segurança e Serviços ]

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO EXPOGRÁFICO Eduardo Saorin

EQUIPE DE BOMBEIROS

[ Urbanauta, Execução e Produção de Projetos Culturais ]

Julio Cesar Rodrigues Mário Lucas da Silva Jr

ASSISTENTE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO EXPOGRÁFICO

Miguel Maciel da Rocha

Paula Osório

Rogerio da Silva Pinto [ Previsão ]

CONSULTORIA Regina Zilberman

EQUIPE DE RECEPÇÃO CORPORATIVA

Marie-Hélène Passos

Fabiana da Silva Pereira Rosana Saucedo Pereira

PRODUÇÃO EXECUTIVA

[ Prosegur ]

Nonô Joris [ Nonô Joris ArteProdutora ]

EQUIPE DE MANUTENÇÃO Amilton da Silva Lima

PROGRAMAÇÃO VISUAL

Amir Luciano Silva da Silveira

André Medeiros

Anita Pressi

[ Estúdio Lume Concepção de Imagens ]

Hermógenes Rech Lucas da Costa Rosa

REGISTRO FOTOGRÁFICO

Milton Paulo Pires Mareth

Fernando Andrade

Oracil Santos Silva Ricardo Costa Maciel

ASSISTÊNCIA DE COORDENAÇÃO

Vinicio Azambuja Rolim

Patricia Barbieri

Vinicius Lucio Pereira

[ Prana Filmes ]

[ Cushman e Wakefield Consultoria Imobiliária ]

Maristela Ribeiro

Andréia Rodrigues

[ Primeiro Corte Produções ]

Celi Francisca de Oliveira Cristiano Malheiros

PRODUÇÃO DE CENÁRIOS

Patrícia Silva

Ana Júlia Fortes

Ronaldo Barros da Silva Saula Santos [ Sul Service Serviços Especializados ]

a exposição

ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA EQUIPE DE LIMPEZA

97

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO DE CENÁRIOS

REGISTRO FOTOGRÁFICO

Maurício Bispo

Marian Starosta

EXECUÇÃO CENOTÉCNICA

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO

Fake Cenografia

Iami Gerbase [ Prana Filmes ]

PROJETO E EXECUÇÃO DE ILUMINAÇÃO André Domingues

LOCUÇÃO DO DISCURSO DE FORMATURA

[ André Domingues – Iluminação ]

Zé Victor Castiel

EQUIPAMENTOS DIGITAIS

COORDENAÇÃO DOS SEMINÁRIOS

Rafael Dutra

Felipe M. Guerra

[ A.S. Ferreira Televisio High Definition ]

[ Prana Filmes ]

PRODUÇÃO DE ÁUDIO

COORDENAÇÃO DAS OFICINAS

Flyaudio

Márcio Melnitzki Livi Gerbase

TRILHAS ORIGINAIS Cláudio Levitan (compositor e arranjador)

PROGRAMAÇÃO DA MOSTRA DE CINEMA João Pedro Fleck

COMPOSIÇÃO Cláudio Levitan (bandolim, violão, violino, colher)

ASSISTÊNCIA ADMINISTRATIVA

Carina Levitan (precursão e violinha artesanal)

John Marco Garcia

Michel Dorfman (piano)

[ Prana Filmes ]

MIXAGEM E EDIÇÃO DE SOM

MEDIADORES

Rafael Rhoden

Carla Fernanda Meyer Flávia Scalon Fogliato

GRAVAÇÃO DE TRILHA SONORA E SOUND DESIGN

Jaqueline Santos Sampaio

Julio Neto

Kelly Bernardo Martinez Matheus dos Santos Araújo

MIXAGEM DE TRILHA SONORA Bernardo Waschburger

AROMATIZAÇÃO DE AMBIENTE Airsense

COMPOSIÇÃO MÚSICA PARA AMBIENTE DE LEITURA Hique Gomez

SERVIÇOS GRÁFICOS Krim Bureau Brasil

PROGRAMAÇÃO DE APLICATIVO QUIZ

Ideograf

Eduardo Paradeda

Centhury Artes Gráficas e Editora

[ Viu? Multimídia ]

Signsup Comunicação Visual

PROGRAMAÇÃO DOS TABLETS

VÍDEOS PERSONAGENS

Equipe HP Brasil

a exposição

DIREÇÃO

98

ILUSTRAÇÕES

Carlos Gerbase

Cláuder Marros

[ Prana Filmes ]

Monike Borsoi Helena Jardim

PRODUÇÃO EXECUTIVA

Juli Anna Ruzzarin

Luciana Tomasi

[ Alopra Estúdio ]

[ Prana Filmes ]

REVISÃO DO CATÁLOGO

ROTEIRO

Susana Dantas Guindani

Carlos Gerbase Regina Zilberman

DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA

CHEFIA DE MAQUINARIA

Bruno Polidoro

Chris Spanamberg

DIREÇÃO DE PRODUÇÃO

ASSISTÊNCIA DE ELÉTRICA

Marília Garske

Luis Eugenio Dutra Chaves “Cunta”

ESTÁGIO EM DIREÇÃO

PRODUÇÃO DE SET

Caio Rodrigues

Marcelo Baieski “Tchaca”

1° ASSISTÊNCIA DE FOTOGRAFIA

LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE LUZ

Marcelo Leite

Naymar Porto Alegre

2° ASSISTÊNCIA DE FOTOGRAFIA

DESENHO DE SOM, MIXAGEM E TRILHA SONORA

Arno Schuh

Augusto Stern Fernando Efron

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO EXECUTIVA

[ Bunker Studio ]

Patricia Barbieri [ Prana Filmes ]

ELENCO SELEÇÃO DE ELENCO

Fernanda Carvalho Leite

Luciana Tomasi

[ Raquel em “Os Deuses de Raquel” ]

Contexto Agência de Artistas

Roberto de Oliveira

Única Atores, Elenco e Produções

[ Miguel em “Os Deuses de Raquel” ]

Mauro Schames PRODUÇÃO DE ELENCO

[ Centauro / Guedali em “O Centauro no Jardim” ]

Iami Gerbase

Nora Prado

[ Prana Filmes ]

[ Domadora em “O Centauro no Jardim” ]

Eduardo Mendonça MONTAGEM E FINALIZAÇÃO

[ Max em “Max e os Felinos” ]

Fabio Lobanowsky

Zé Victor Castiel [ Velho Judeu em “Max e os Felinos” ]

EDIÇÃO DE ARTE

Matheus Zoltowski

Alexandre de Freitas

[ Mayer em “O Exército de um Homem Só” ]

Mirna Spritzer SOM DIRETO

[ Mãe de Mayer em “O Exército de um Homem Só” ]

Fernando Efron

Phillipe Philippsen

[ Bunker Studio ]

[ Valdo em “Eu vos Abraço, Milhões” ]

Artur José Pinto FIGURINO

[ Mestre de Obras em “Eu vos Abraço, Milhões” ]

Rôsangela Cortinhas

Rafael Tombini [ Vendilhão em “Os Vendilhões do Templo” ]

MAQUIAGEM E CABELO

Manoela Wunderlich

Britney

[ Mulher em “A Mulher que Escreveu a Bíblia” ]

[ Rei Salomão em “A Mulher que Escreveu a Bíblia” ]

Deby Marques

Frederico Vittola [ Rafael Mendes em “A Estranha Nação de Rafael Mendes” ]

PRODUÇÃO DE OBJETOS

Renato Del Campão

Ana Júlia Fortes

[ Afonso em “A Estranha Nação de Rafael Mendes” ]

CHEFIA DE ELÉTRICA Jô Fontana

a exposição

Girley Paes ASSISTÊNCIA DE MAQUIAGEM

99

DOCUMENTÁRIO CAMINHOS DE SCLIAR

Beto Scliar Cicero Ahrends

DIREÇÃO E ROTEIRO

Cláudia Laitano

Claudia Dreyer

Gabriel Oliven

[ Câmara Clara Filmes ]

Germano Bonow Ivan Pinheiro Machado

PRODUÇÃO EXECUTIVA

Judith Scliar

Luciana Tomasi

Luis Fernando Verissimo

[ Prana Filmes ]

Mauro Knijnik Ruben Oliven

DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA

Wremyr Scliar

Bruno Polidoro

Zilá Bernd

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO

DIVULGAÇÃO

Henrique Lahude ASSESSORIA DE IMPRENSA ASSISTÊNCIA DE CÂMERA E LOGGER

Bruna Paulin

Henrique Schaefer

[ Assessoria de Flor em Flor ]

ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO EXECUTIVA

CRIAÇÃO DAS PEÇAS

Patricia Barbieri

Iuli Gerbase

[ Prana Filmes ]

Luciana Tomasi

SOM DIRETO

EDIÇÃO DAS PEÇAS

Fernando Efron

Rafael Coelho

[ Bunker Studio ]

LOCUÇÃO CHEFIA DE ELÉTRICA

Jader Cardoso

Jô Fontana TRILHA SONORA MONTAGEM E FINALIZAÇÃO

Flyaudio

Rafael Coelho SOUND DESIGN ANIMAÇÕES DE FOTOS

Bunker Studio

Claudia Dreyer [ Câmara Clara Filme ]

PROGRAMAÇÃO VISUAL André Medeiros

LOCUÇÃO

[ Estúdio Lume Concepção de Imagens ]

Marcos Verza AGRADECIMENTOS DESENHO DE SOM, MIXAGEM E TRILHA SONORA

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Augusto Stern

ACADEMIA PASSO-FUNDENSE DE LETRAS

Fernando Efron

ADALBERTO ALMEIDA

[ Bunker Studio ]

ALEXANDRE LEBOUTTE

a exposição

ALICE URBIM

100

COORDENAÇÃO DE ESTÚDIO DE SOM

ANDRÉ NASI

Marília Cadore

ANIK SUZUKI ARQUIVO TVE

LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTOS

ASSOCIAÇÃO CRISTÃ DE MOÇOS DO RIO GRANDE DO SUL

Finish Produtora

CAMILA RIBEIRO

Paulo Verri

CEZAR FREITAS CLÁUDIA LAITANO

DEPOIMENTOS

CLAUDIO LOTTENBERG

Abrahão Finkelstein

COMPLEXO HOSPITALAR SANTA CASA

CRISTINA MOURA

GUANABARA

DENISE VIANA PEREIRA

HORIZONTE

EVA SOPHER

LAROUSSE

FEDERAÇÃO ISRAELITA DO RIO GRANDE DO SUL

LEITURA

GOETHE INSTITUT PORTO ALEGRE

L&PM

HENRY CHMELNITSKY

MERCADO ABERTO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BÁSICAS DA SAÚDE URFGRS

MODERNA

ISADORA FANTIN

MONDRIAN

JARBAS MILITISKY

MOVIMENTO

LIZIANE LUCCHESE

OBJETIVA

LEONARDO CARDOSO

ODYSSEUS

LUCIA RITZEL

PAPIRUS 7 MARES

LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL

PUBLIFOLHA

MARI KVITKO

RECORD

MARIA DO CARMO MIZZETI

RELUME-DUMARÁ

MARIA EMILIA PORTELLA

ROCCO

MARIE-HÉLÈNE PARET PASSOS

SABERES

MARLISE AÚDE

SCIPIONE

MARTA GLEICH

SCRITTA

MAURO KNIJNIK

SENAC RIO

MIDRASH

SENAC SÃO PAULO

MIGUEL ROSSETTO

SHALOM

MUSEU DE CIÊNCIAS NATURAIS DO ANCHIETA NELSON SIROTSKY PAULO GASPAROTTO RABINO NILTON BONDER RENÉE CLAIRE STEIN TÂNIA RÖSING THEATRO SÃO PEDRO TOMMY MCKAY TULIO MILMAN UFCSPA MUSEU DA UFRGS – CENTRO DE CULTURA EDITORAS DOS LIVROS DE SCLIAR AGIR ÁGORA ARTES E OFÍCIOS ARTMED ÁTICA ATUAL EDELBRA BERLENDIS & VÉRTECCHIA BERTRAND BRASIL COMPANHIA DAS LETRAS COMPANHIA DAS LETRINHAS DIFUSÃO DIFUSÃO DE CULTURA EDIÇÕES SM EDIOURO EDITORAS ÁTICA E SCIPIONE GARAMOND GLOBAL GLOBO

a exposição

COMPANHIA EDITORA NACIONAL

101

C397 Moacyr Scliar: o centauro do Bom Fim / curadoria Carlos Gerbase ; apresentação Regina Zilberman, Gabriel Oliven e Judith Scliar. – São Paulo: Santander Cultural, 2014. – 96 p. : il. : 27 cm.

Catálogo da exposição realizada no Santander Cultural, em Porto Alegre-RS, de 17 de setembro a 16 de novembro de 2014.

Curadoria: Carlos Gerbase ISBN: 978-85-65954-05-1

1. Scliar, Moacyr, 1937-2011 2. Biografia – catálogo de exposição 3. Literatura brasileira 4. Escritores - Brasil I. Gerbase, Carlos II. Zilberman, Regina III. Oliven, Gabriel IV. Scliar, Judith V. Título

CDU 929(083.824)

Catalogação elaborada pela Biblioteca Santander Cultural Bibliotecário responsável: Rafael Antunes dos Santos – CRB10/1898

Patrocínio

Patrocínio

Apoio cultural

Carlos Stein 8

Produção

Realização

Financiamento