livro selecção

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Selecção Fantástica Volume 6

Escola Secundária João de Deus Março de 2010


Selecção Fantástica Propriedade: Escola Secundária João de Deus Textos, ilustrações e fotografias da autoria dos alunos da Escola Capa: Rachaela Oliveira Tiragem: 250 exemplares Impressão da capa e acabamento: Ferro, Gonçalves & Cardoso Lda. Data de impressão: Março de 2010


Imaginação, fantasia e talento dos jovens irreverentes e generosos onde a Amizade floresce.

AmĂ­lcar Quaresma



Prefácio

U

ma nova edição da colectânea “ Selecção Fantástica” está nas mãos dos nossos leitores, nela os nossos jovens dão largas à sua imaginação criativa. Esta obra constitui uma homenagem ao grande obreiro deste projecto, o saudoso Prof. Amílcar Quaresma “ alma mater” de tantas e tantas actividades na nossa Escola. As edições da “Selecção Fantástica” são mais um legado seu, que em boa hora resolvemos prosseguir. Cumprir este desiderato é fundamental. O Prof. Amílcar Quaresma sempre esteve confiante que o faríamos, a dado passo, no seu último prefácio escreveu, “ Resta-nos esperar que esta “Selecção Fantástica” produza frutos no futuro, que vem já aí, e novos livros, novas imagens surjam, quem sabe……?”

Onde quer que se encontre, estou certo, olhará com alegria e saudade os que valorizaram o seu legado e perpetuam a sua memória.



Sem título

ilustração

de Pascal Minder

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Matilde e Michel

A Matilde era a mais bela de todas as gatas da rua das Tulipas, que fica na cidade de Cristina. Na casa onde vivia, viviam também os seus donos, o senhor da casa, a esposa e a filha Clara. Esta última, quando apanhava a Matilde, agarrava-a e puxava o seu pêlo com tanta força, talvez por ser demasiado pequenina e não ter a noção do que fazia. Eram essas as únicas alturas em que Matilde se enervava e tinha de fugir. Matilde já a tentava evitar a todo o custo, mas viviam na mesma casa, e ela era sua dona, era inevitável encontrarem-se muitas vezes por dia. De resto, Matilde dava-se bem com toda a gente. Na rua, tinha muitos amigos. Quem é que não podia ser amigo de um anjo daqueles?! Matilde era uma jovem gata toda branquinha, peluda e muito fofinha, querida, responsável,

prosa

de Denise Grelha

simpática e boa amiga. Mas sobre ela existia um grande mistério, pois para além de ocupar as suas tardes com as suas amigas gatas, frente à pastelaria que havia na sua rua, a conversar, ou simplesmente em casa a dormitar, todos os dias, duas horas antes de anoitecer, ia ao jardim da cidade e por lá passeava sozinha sem nunca falar com ninguém. Olhava para o belo das flores, para o deslumbrante das árvores. Passo a passo, como que numa cadência definida, percorria todo o jardim. Passeava com uma cara misteriosa, que misturava um tanto de fascínio e alegria com um tanto de tristeza.

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prosa

Desde que fora viver para aquela rua com os seus donos, que todos os dias fazia a mesma coisa. Ao final da tarde lá estava ela no jardim. As suas amigas, por muitas vezes, já tinham tentado perceber por que é que Matilde o fazia, questionando-a, mas de todas as vezes tinha sido em vão. Ela, ou não respondia, ou dizia apenas que a fazia sentir-se bem. Mas era mais do que isso, sabiam elas. Os anos passaram e tudo continuava igual para Matilde, menos a sua idade, que se tornava cada vez mais avançada e a deixava mais perto da morte. Já tinha visto partir muitos amigos e consciencializava-se de que o seu dia chegaria também e de que não tardaria muito... Mas havia os seus passeios pelo jardim, que ainda eram a única coisa que a mantinha jovem e meio alegre. Houve um dia em que apareceu no jardim um gato, novo na cidade de Cristina, mas de idade avançada, um tal de Michel. Diziam ter vindo com uma família para uma casa a dois quarteirões da rua das Tulipas. Desde que ali chegara que ia todos os dias ao jardim da cidade, assim como Matilde, mas não à mesma hora. Ele ia a meio da tarde. Já há muito tempo que ninguém insistia com Matilde sobre as suas idas ao jardim, mas com o aparecimento deste novo gato, o Michel, a curiosidade começou a despertar nos gatos e gatas da cidade. Mesmo assim, ninguém se atrevia a perguntar ou comentar alguma coisa sobre isso. Afinal de contas, eram esses passeios que mantinham Matilde viva.

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prosa

Os passeios continuaram tanto para um como para outro, sem nunca se verem, pois eram a horas distintas. Certo dia, Michel teve a tarde toda dificuldade em atravessar a rua de um lado ao outro, o trânsito era interminável e não havia pessoas para atravessar nas passadeiras. O tempo ia passando e ele já estava a perder a esperança de ir ao jardim naquele dia, até que o trânsito acalmou e um grupo de jovens decidiu atravessar a passadeira e ele aproveitou. Já era tarde quando, finalmente, conseguiu chegar ao jardim. Ia a entrar pelo portão principal e ficou estupefacto com o que via, era como se o mundo parasse naquele instante, a sua vista já só vislumbrava uma tal gata. Matilde, continuava linda como um floco de neve, pensou ele. Matilde parou também, (mal sabia ela que depois de tantos anos iria reencontrar o seu primeiro, único e grande amor), não queria acreditar que depois de tantos anos de solidão o seu amor tinha voltado. Seria o destino? Correram um para o outro e beijaram-se como se fosse a última vez. Matilde e Michel foram para o jardim e passearam juntos como faziam na juventude. Apreciaram as flores e a imensidão da copa das árvores, sentaram-se na relva e encantaram-se a descobrir o que tinha sido feito de cada um na distância do outro. Já era noite cerrada e as palavras nunca acabavam. A conversa demorou até à manhã seguinte, até que Matilde e Michel fecharam os olhos, abraçados, para não voltarem a acordar mais desse sonho. Assim, ninguém mais os separaria.

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Amor iludido de Ivana Zinchuk Sei que és um sonho,

poesia

Mas meus olhos estão a esperar-te Sei que és um forte desejo, Mas não paro de pensar. Imagino os teus olhos, O teu rosto junto ao meu. Eu faria tudo Só para ter um beijo teu. Tento esquecer aquela loucura, Tento fugir daquela doce ilusão, Mas a minha alma está presa Naquela forte imaginação. Fico perdida nos pensamentos E não consigo mais suportar. Peço a Deus com forte desejo, Para um dia te abraçar. Passa um dia e mais uma noite, Passou um ano e já fiz os dezoito. De tudo aquilo que eu tanto esperava, Do amor e carinho, de que necessitava, Eu percebi com tanta clareza, Que me tomei uma dramática princesa. Enfim, apaguei-te da minha memória, Fechei as portas da iludida vitória.

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Ria Formosa

fotografia

de Tiago Dias

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Gosto de ...

Gosto dos teus braços enrolados ao meu pescoço, como se me libertasses de quem sou e me desses o que quero ser. Gosto da forma como desenroscas os sorrisos quando chegas, e dizes um olá desde lá do fundo, como se o suspiro em que escondes a chegada fosse também e ao mesmo tempo o querer ficar para sempre.

poesia

de Andreia Filipa Diogo de Jesus

Outras vezes, gosto só da forma como chegas e te ficas. Gosto dos teus olhos à noite, que são verdes, que são castanhos, que são das cores todas que a lua quiser. Gosto das palavras que dizes mesmo quando somente os nossos olhos falam. Gosto da maneira como me beijas e me deixas a respirar. Gosto quando me mordes a disfarçar uma carícia, e num gesto sem fim me deixas viver outra vez.

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poesia

Gosto mais de ti hoje do que gostava ontem, mas quero que o amanhã chegue rápido para gostar mais ainda. Gosto de como te deixas ficar mesmo que a vontade seja ir. Gosto de ver-te aqui e ali e em todo o lado em que estás. Gosto dos teus dedos entrelaçados nos meus, e das tuas palavras que me abraçam o desejo. Gosto de ti assim. Gosto de ti como quiseres estar. Gosto de ti quando partes e me deixas ficar... E eu fico, assim a gostar... mesmo quando não estás! Amamo-nos, e amamos a maneira como nos amamos.

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Janela

fotografia

de Nelson Hobday

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Escrevo-te da janela do meu quarto de Xavier Inácio Escrevo-te da janela do meu quarto, do sítio onde medram as raízes do meu pensamento. É daqui que banho os meus olhos nas manhãs claras. Porque parece caber tudo nesta janela. O social e o natural, o esotérico... e é por este sítio ser tão umbilical e cósmico, que acaba por se tornar no meu retiro íntimo, no meu próprio baluarte místico e acolhedor. Aqui sinto que posso estar à vontade, vou recenseando os meus desejos, abandono o curso natural do dia... penso sobre o que é mais importante para mim. Penso em ti. Talvez por se-

rem seres tão cosmopolitas, por serem viajantes. Também tu viajas na minha consciência, num bater de asas intenso, soltando pétalas de jasmim. Pareces uma bailarina e adoro

prosa

Hoje olhava as borboletas - pensei em ti.

sentir essa brisa de bolas de sabão carmim. Uma silhueta perfeita, parábolas escarlate, uma camélia melada, delicada, busto florado, pingado de mel… frágil e pintalgada de cristal. Corpo completo, torneado de desejo, molhado, denso. De alto a baixo, exótica, perfeita. Transmites um sentimento selvagem. Os teus lábios ... cachos de amoras. Silvestres, criminosas. É como se pedissem para ser colhidas, colhidas por outros lábios. Pecado. Ferro derretido, uma brasa que queima. Só chama e deixa em chama e nunca se apaga. Fatal, violino que nos arrepia, a tua voz. Um suave veneno... quer-se mais. Ouvi-la, sentir a sua presença. As-

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sim partilhamos o mesmo leito, momentos que correm como riachos, por estar contigo. Palavras ou tardes solarengas, melodias arrítmicas. Anjos e jogos de apanhada e no meu peito, tu, deitada. Tens um Olhar de manteiga, cremoso, salgado. Por isso, sabe bem olhar-te. Olho-te e no instante a seguir, colado aos teus lábios, sinto a respiração... é como a chuva a bater na calçada, mas bate-me no coração ... chuva de pedra ... intensa, e percorre-me o corpo com uma vontade de leão. Se nos olhos tens lume, da tua pele solta-se um místico perfume, um cheiro a rosas celestes, rosas brancas puras finas ... suaves, delicadas, bonitas, ofereces-me flores cristalinas. O toque quei-

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ma, parece que nos vamos fundir, por tão pouco ... com o toque, acelera tudo, baunilha na consciência, fogo nos dedos, esvoaçamos sem nos mexermos, tudo treme, por fim, subimos e logo descemos ... vindos do nada ... tudo branco... e violeta ... iogurte de framboesa ... Admiro-te muito... muito. A simples acção de descrever-te dá-me a ideia de que não estou a ser sincero. Não me preocupei com a forma, preocupei-me em chegar a ti. Escrevo estas palavras para te mostrar que realmente há alguém que te admira muito. E quis ser sincero, total, completo em tudo o que disse. Isto é complicado pois já sinto o coração bambo, a trotear-me o peito... e cada vez que parece que estou a ser melhor, mais verdadeiro, é aí que ele parece revoltar-se, como que a recriminar-me, como se eu não estivesse a cumprir correctamente o meu dever, como se houvesse muito mais para dizer, como se fosse impossível fazer

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jus a este sentimento. Não esperes, pois, que estas palavras te digam tudo aquilo que sinto. Há muito mais, sim... só não consigo escrevê-lo. Mas acredita, ao leres este texto, algo de especial está a acontecer. Aqui, ofereço-te um ramo de amores-perfeitos para procurares a flor do meu coração!! Ao leres estas palavras, estamos sozinhos, é como se te lesse eu próprio tudo isto, porque este texto é teu e dessa forma, mais do que a minha marca, que fui quem o escreveu, este texto só se reconhece em ti. Só tu saberás lê-lo e apreciar a minha flor e ele só saberá ler-te a ti. Porque o seu sentimento é intemporal, a melodia que corre nestas linhas é eterna..., então sente cada tom, cada acorde... e cada vez que precisares de mim, ao lê-lo, reconhecerás mais que paabraçar ... para sempre ...

prosa

lavras simbólicas, sentirás a única maneira que arranjei de te

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Num rasgo de loucura e amor

poesia

de Ana Margarida Vieira Mendes

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Num rasgo de loucura e amor, vou onde o coração me leva, sem pensar na razão. Não sei se deva, se não deva, mas aprendi que viver sem seguirmos o que (realmente) sentimos e queremos, não nos mata, mas também não nos torna mais fortes. Se for necessário mudança, muda-se. Se for necessário rir, ri-se. Se for necessário chorar, chora-se. Se for necessário o Mundo por alguém ... pelo “o tal” ... que o seja. Quem corre por gosto não cansa, e por amor ... também NÃO. Façamos o que nos faz felizes a nós e não aos outros que não são nada mais que espectadores fiéis da nossa vida, enquanto ela passa e repassa. “Sê tudo aquilo que és, em tudo aquilo que fazes” já dissera Ricardo Reis. Pois bem ... eu direi então ... “ Sente tudo aquilo que és, em tudo aquilo que fazes ( e não fazes, e depois arrependes- te)” . A loucura e o amor sempre viveram de mãos dadas, nem sempre felizes, mas sempre e para sempre JUNTOS.


Portas fechadas

fotografia

de Pedro Reis

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O farol do amor

És o farol do amor a nascer, és o sol do nosso amanhecer, és a Luz que me guia, de noite e de dia. Sair de casa hoje e encontrar um amor perdê-lo pelo caminho sem provar o seu sabor.

poesia

de Ricardo Daniel Moreira dos Santos

Por favor não vás, não te posso deixar ir quero-te tocar, quero-te sentir. Esta chama não se apaga quando te vejo chegar tenho um desejo enorme em que só me apetece beijar-te. Por amar-te assim esta é a minha fortuna, este é o meu castigo será que tanto amor também é proibido? Acabaram-se as palavras que saíam de mim estejam onde estejam Eu sentia-te em mim.

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É frequente ... de Andreia Filipa Diogo de Jesus É frequente agora perguntar: “O que é estar apaixonado?” Ao que é frequente responder se: “É gostar um do outro”. Uma pergunta tão ampla, para uma resposta tão vaga... Algumas pessoas parecem que tratam a paixão como um mero capricho, de que podem usufruir quando quiserem. Enganam-se. Enganam-se e muito. Para conseguirmos ter somente uma noção daquilo que é

prosa

PAIXÃO, é preciso sentir na pele o poder que ela exerce sobre nós. Paixão é muito mais do que “gostarmos um do outro”. É cumplicidade. É caminharmos juntos no mesmo caminho. É carinho. É atenção. E, acima de tudo, uma amizade pura. É olhar um para o outro, e ver no outro o reflexo de nós mesmos. É abraçar. É beijar. É tocar. É sentir. É respeitar, cuidar, confiar. É saber ouvir, aconselhar. É consentir. É perdoar. É saber dar valor às coisas mais simples: um olhar, um gesto, um beijo solto no ar. É andar de mãos dadas pela praia. É ver o pôr-do-sol a dois. É não ter medo de mostrar ao mundo o quão apaixonados estamos. É viver. É respirar. É sonhar. É suspirar. É chorar. É sorrir. É sofrer. É pular. É gritar. É ficar horas e horas a pensar naquela pessoa especial, ficar a olhar a estrelas e lua. É temer. É querer. É fazer surpresas ines-

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peradas. É enviar uma mensagem a meio da noite só para dizer umas palavras carinhosas. Paixão, é TUDO! Sei que (se calhar) não sou a pessoa indicada para falar disto a toda a gente, mas pelo menos a uma pessoa sou. Porque essa pessoa é quem me roubou o coração. És tu. És o meu mundo. Só tu. Só nós sabemos... Tudo o que escrevi. Tudo o que pensei, foi para ti.

prosa

Mais uma vez, única e exclusivamente para ti.

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Amor de Andreia Filipa Diogo de Jesus

Amor,

poesia

Sentimento tão forte, incompreensível e inexplicável. Sentimento que traz alegria, prazer e desejo. Sentimento que nos prende a alguém acelerando-nos o coração, fazendo-nos tremer e transpirar as mãos. Sentimento que nos tornam vulneráveis, frágeis e inseguros. Sentimento esse que nos vende a alma e nos toma unos. Sentimento esse de loucura, entrega e intensidade. Amar alguém é isto. Uma mistura de sentimentos que nos atrofiam a mente, que nos tomam fracos e que nos levam aos limites enquanto seres. A entrega de duas almas que se fundem numa só, tomando perfeito o imperfeito. A busca no outro do que falta em nós. A cumplicidade de dois seres que se misturam entrelaçando os corpos que se encaixam na perfeição, buscando o prazer fisico transpondo tudo o que vai na mente. A segurança de ter alguém que nos acolhe, que nos espera, que nos compreende, que nos preenche. Alguém que com gestos simples diz que nos ama. Que nos beija a palma das mãos e que nos conta um

seg-

redo selando o momento com um beijo atrás da orelha. O cheiro da pele que nos confunde os sentidos. O toque dos lábios que nos arrepia a pele. O olhar em silêncio de total entrega e confiança. Os dedos que

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correm e se perdem nos cabelos. As mãos que subtilmente correm o corpo procurando um porto seguro. O respirar ofegante que nos diz que já não há volta a dar. O balançar da cintura em total sintonia que te faz pensar “EnO desejo do tempo parar e ficarmos unidos como um só, porque nada mais importa. O terminar com um beijo longo e sentido, envolvermo-nos nos braços e adormecermos olhando para a pessoa que nos fez

poesia

louqueci”.

sentir o melhor sentimento do mundo.

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Não percebes? de Ana Margarida Vieira Mendes

Não percebes? Para melhor, muda-se sempre. Por ti, por mim, por ele ou ela... seja por quem for, se é para melhor, muda-se SEMPRE. O mal reside no facto de quando é por amor, as coisas se tornarem um pouco mais intensas, e nem sempre seguirem bem o caminho que queríamos para elas. Cabe-nos a nós trocar a volta às evidências, matar as diferenças e seguir o coração... esse estúpido, velho e frágil co-

prosa

ração. Quando se gosta de alguém, tem-se sempre tempo para essa pessoa, seja ela o que for, como for. Quando se gosta de alguém, até no mais fraco dos defeitos notamos uma réstia de piada. Quando se gosta de alguém, não se consegue explicar o como e o porquê, até porque em muitas das vezes, nós próprios não vemos como tal sentimento se tomou possível. A essência reside no amar tanto as semelhanças, como as DIFERENÇAS. Essas diferenças que tanto nos matam, como nos tomam mais fortes. Já pensaste como é bonito ver alguém mudar a teu lado? Orgulhares e ficares orgulhoso. O amor não se explica. Sente-se. Será essa a razão para tanta desgraça, como felicidade? Infelizmente não é algo que possamos pedir a alguém, mas o maior dos desperdícios é

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quando se desiste. Eu não vou desistir. Posso ser uma sensível, chorona, mas desistir é para os fracos. E eu não sou tão fraca assim. Gosto de dar luta, lutar e vencer. Desistir não combina com a minha pessoa. Quero estar do lado dos vencedores no fim da guerra... no fim, nesse fim em que só hão-de restar os fortes e o AMOR. Mas quem é que não vive por amor? Deixa-te ir na onda. Nessa onda de que tu tanto gostas. Não tenhas medo, meu bem. Nem num mar em dia de tempestade te deixaria. Tornarme-ia na surfista dos teus sonhos, iria para o mar tempestuoso, sem pensar no antes ou depois... Tudo e só, para pessoa feliz. Mereces melhor, bem sei, mas não esqueças... quando o último raio de sol iluminar essa tua praia, e a maré se tomar calma e sem ondulação, a tempestade terá passa-

prosa

que não te sintas sozinho. A solidão é tão triste. E tu, és uma

do, e eu continuarei lá, onde sempre estive.... A TEU LADO.

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A Essência da Amizade

poesia

de Sara Mestre

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Palavra que transporta sentimento Sentimento forte e verdadeiro Sem ele difícil é viver, Sem ele o Mundo vai sofrer, Sofrendo está o Mundo INTEIRO. Falta amor, falta amizade Neste Mundo soberbo e frio Só traição, egoísmo e mal Desejo de um mal fatal, É a franca realidade. Infelizmente é com saudade Que soletro AMIZADE Que em vez de recordação, Devia ser a palavra, Mais presente no coração. Coração de um mundo frio Calculista, guerreiro, perdido, Perdido devido ao Homem Que tanto mal tem feito, Ao seu próximo tão igual Para parar tudo isto Não precisa muito, afinal Basta abrirmos o peito Acabar com a saudade E deixar o coração sentir A Palavra AMIZADE!


Abandono

fotografia

de JosĂŠ Gamero

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o (meu) (teu) (nosso) Amor de Diana Sofia Nascimento Cadete

o dia estava cego até àquele (meu) (teu) (nosso) momento. Não existiam cores na nebulosidade das nossas palavras. O vento deixara de ser transparente: víamo-lo e sempre que o sentíamos ficávamos cada vez mais pequenos, mais e mais, e só depois, sem sabermos, deixámos de existir. As horas, no (meu) (teu) (nosso) relógio sem tempo não passavam. Os sabores dissipavam-se no precipício da tua boca. dos nossos corações. Tudo, tudo naquele vazio de vida, se tornara, aos poucos e poucos, contemporâneo e nisso, dei por mim, perdida na matéria

prosa

A água dos teus olhos, fina, inquebrável, respirava o brilho

estranha que eras, e que (ainda) és. Não conseguia abrir o teu cadeado, eram muitos números e poucos os segundos. E sim, estava difícil de (conseguir) distinguir qualquer tipo de sensação - tu não deixavas. Mas depois, quando o conversor do tempo tomou o nosso segundo em minuto, fealizei-te, consegui-te, e ali, na utopia do nosso amor, a (tua) chave tornara-se, inacreditavelmente, minha! O tempo sem tempo havia terminado. O lugar sem lugar havia desaparecido. E agora? Agora restávamos só nós, no mundo. Sem tempo. Sem lugar. Sem sentido.

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Foi aí, no mundo que agora era nosso, que senti a textura da tua voz, o calor dos teus olhos e o toque do teu sorriso. E ali, tentei mostrar-te que o amor, era só uma página diferente no (meu) (teu) (nosso) livro, uma daquelas que lemos e relemos, porque por muito que a vivamos, haverá sempre hoje, amanhã ou depois um momento diferente; uma palavra nova, uma vírgula, um parágrafo; uma boa ou má conclusão. Mas é assim. Eu sou assim. Tu és assim. Nós somos

prosa

assim ... uma definição sem definição, tal como o Amor.

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Solid達o

fotografia

de Liliana Sequeira

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Há quem diga...

Há quem diga que é para sempre Outros, só por alguns dias Eu acho que é irreverente É mais do que ter muitas companhias São tantos os momentos Que nem os sei descrever Adoro todos os nossos contratempos E disso nunca me vou esquecer A E É É

poesia

de Telma Palma

nossa cumplicidade é mútua quero que fique sempre presente como uma pele “nua” isso que nos faz ser diferente

Os verdadeiros amigos Não andam por todo o lado Pode ser qualquer um dos nossos parceiros Pode até ser mesmo o mais desgraçado Tudo neles é importante É isso que os toma especiais Por vezes toma-se irritante Mas, não é isso que os torna irracionais Admiro-os pela confiança Não só, muito mais Claro que não faço disso uma cobrança Faço deles os mais especiais!

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“É graças a TI”

poesia

de Inelma Coje As palavras que te não disse, amor ... O abraço que te não dei ... Espero recompensar-te, Por todo este tempo que te perdi! Não mais irei lamentar, Apenas quero relembrar, Que te tenho no coração Como um tesouro no fundo do mar, Para que ninguém, jamais Te possa roubar. .. Oh amor! É graças a ti que aqui estou, A desfrutar de novas vivências ... É graças a ti que sou Mulher! Tudo evacua meu ser ... Esta Mulher que em mim nasceu, É livre, capaz de fazer sem aparecer, E isto, face ao carinho e dedicação especial De outro igual.. . És aquele que, Por mais que possa estar longe Desejo ter por perto, Para inundar minha alma inquieta ... Minha boca anseia fugazmente

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Eram outros tempos, Sim! Tempos passados, não tanto! Quatro anos, apenas ... Esquece! Sonha! Vive a vida ...

.

poesia

Por um beijo teu, Que là muito ficou silenciada, esquecida, Quando estivera caída nos braços teus O teu corpo molhado junto ao meu . Corpos, unos pelo amor proibido, Carnal e objectivo, De duas almas perdidas Que se encontraram, Para nunca mais se desenlaçarem ...

Nós sofremos pela saudade Desta ausência necessária, Teremos que viver, Deus assim o quis. Mas como tu murmuraste ao meu ouvido “Temos que dar tempo ao tempo”.

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Dizem que é cego

poesia

de Telma Palma

Dizem que é cego Eu acho que é ardente Às vezes é intenso Das outras permanente Mostra o Lado positivo Os medos e desejos Tudo se toma um verdadeiro perigo Em luta pelos primeiros beijos “Picas”, “linguados”… Que transmitem emoções Tanto sentimento Que traz desilusões Não existe definição Nem qualquer explicação Torna-se uma complicação Mas também grande inspiração O coração bate mais forte Sem saber o motivo Por vezes leva à morte É um verdadeiro fugitivo.

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Cidade velha

fotografia

de Roberto Prazeres

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Sem ti não vivo

Sem ti não vivo Sem ti não sinto És tudo p´ra mim Sem ti sou nada És tu que fazes bater o meu coração A cada momento A cada instante Tudo pára E se alguém sentisse o quanto te amo Era a pessoa mais feliz do mundo Nada importa quando estou a teu lado Porque és tudo o que quero E nada mais desejo.

poesia

de Sérgio Sousa

Agora sei Sei o que é o amor Aquele dos contos Que toda gente diz não existir Mas agora, Agora sei que ele existe Certezas não tenho Nem receita Mas que te amo Não tenho dúvidas Mas certezas sim.

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Por muito já passei... de Ana Rita Ribeiro e Sousa

Por muito já passei, momentos bons e momentos maus, diversas experiências já vivi. Experiências que me rechearam a alma e conseguem ainda vibrar o ser dentro de mim. Aqui, confesso uma pequena coisa: esqueci-me que existias, esqueci o quanto és importante, coloquei tudo o que não devia à tua frente. Enxotei-te como se de uma pedra que empatava o meu caminho se tratasse, quase te deitei fora. Sabes? Não te dei a devida importância. Sim, és tu, Amor! És tu que consegues encher este mundo com as mais diversas

prosa

sensações e emoções! É sabendo que existes e que te posso transmitir às outras pessoas que dás sentido a tudo isto que me rodeia. Eu sabia que te tinha dentro de mim, mas não sabia que eras tão poderoso. Não sabia que ao mostrar amor e afecto pelos outros, me faria sentir tão bem! Livre, orgulhosa, feliz! Sentindo-me, sim, uma verdadeira pessoa, uma pessoa completa! Dentro de cada um de nós há um mundo no qual criamos, inventamos, destruímos ou estruturamos. Cada um ao seu tempo, cada um à sua maneira. Tu, Amor, és como pontes essenciais neste mundo sem fronteiras. Tu fazes com que cada um de nós se sinta vivo, no sentido literal da palavra. Estabeleces ligações poderosas na vida: temos amor por nós, pelas pessoas que nos rodeiam, amor àquilo que observamos a cada dia, a cada instante. És essencial e, neste

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meu percurso, culpo-me de te ter afastado de mim. Eu sei que todos nós crescemos, vamos aprendendo a viver à medida que o tempo passa, mas és algo básico em cada um de nós, básico no sentido de um sentimento que não poderá ser ignorado. Ignorei-te por considerar que não eras importante, que nunca me poderias fazer feliz. Então, e essa felicidade que procuravas? Perguntas tu. Vou sentindo-a agora aos poucos, a partir do momento que descobri a magia que provocas. É o sentir paixão por qualquer coisa, amor e carinho por todas as pessoas que simplesmente me esboçam um tímido e puro sorriso ou um grande “Bom Dia”. Sentir que à minha volta se reúnem pessoas magníficas, que gostam de mim de observar, nem que seja por breves momentos, uma pior cara, aquela face que não esboça a alegria habitual mas sim, uma outra, mais abatida, “em baixo”. É sentir-me assim,

prosa

como verdadeiramente sou, pessoas que não se importam

cheia, a transbordar, recheada de amor que tenho necessidade de também te transmitir. E é aqui a melhor parte, quando sais do meu ser com o teu jeito cuidadoso e carinhoso, que anseia por se espalhar nesta imensidão de espaço, devagarinho como as águas de uma ribeira que corre sem pressa para chegar ao seu destino. Aí, sinto-me bem, sintome capaz de ultrapassar tudo, porque sinto que dei aquilo que durante muito tempo me deram e eu não fui capaz de retribuir. Promete-me agora que não me abandonas, por muitos sentimentos que se apoderem de mim, não saias do meu cora-

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ção, não faças desaparecer esta magia dentro de mim, este mundo, esta minha maneira de ser. Promete-me que não me deixas sozinha, que impedes de entrar novamente dentro de mim aquela sensação obscura, fria e gélida de vazio, de ar insuportável para respirar. Promete que me proteges, que ficas comigo. Tu mudaste a cor do meu mundo, da escala cinza para aquela cheia de cores infindáveis, mudaste a maneira como os meu olhos viam. Promete-me que estarás lá nos piores momentos, que não me deixas ir novamente abaixo, que estarás lá para me relembrares o quão bom é a vida para lá do escuro, para lá do nevoeiro. Promete-me, Amor, e perdoa-me o meu antigo esquecimento. Fica comi-

prosa

go! Fazes-me bem, fazes-me sorrir!

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Sem Título

ilustração

de Fábio Mártires

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Ontem quando me vieste beijar

Ontem, quando me vieste beijar Deixaste-me simplesmente louca Nem queria acreditar Parecia uma “taralhoca” O único sentimento que se despertou Foi o desejo de amar Amar quem meu coração amou E os teus pecados perdoar

poesia

de Telma Palma

Meu coração confuso começou a chorar Outrora sorriu por alguém que já o magoou Implora que o seu amado o volte a reconquistar E esqueça todo o sofrimento que já lhe provocou Embora ele queira quem sempre amou Ou simplesmente quer brincar O coração desolado ficou Parou simplesmente de bombear

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És tanto ...

poesia

de Telma Palma És tanto e quase nada És um trunfo num baralho Gosto tanto da nossa dita balada Gosto tanto de ti meu “pirralho” És És És És

tu tu tu tu

que que que que

me me me me

iluminas fazes sorrir “incriminas” fazes desiludir

Quer de noite quer de dia Adoro a tua companhia Tudo o que mais desejo É ver a tua “famosa” alegria Arrependo-me de te ter encontrado Não porque me apaixonei, Mas sim por me teres magoado Não me sinto mal pelo que se passou Neste momento só me quero esquecer Passado é passado E é onde não quero mais pertencer.

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Sem título

fotografia

de João Sousa

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A culpa da desilusão é da ilusão. de Ana Margarida Vieira Mendes

A culpa da desilusão é da ilusão. Não te iludas, para não te desiludires. Quando julgas que tudo vai ser diferente, cais da cama e acordas. Por vezes pergunto-me... de que nos vale sonhar? Não interessa. Nada interessa quando se gosta de alguém. Quando nos apaixonamos por alguém. Mas não há coisa pior do que amar e NÃO SER AMADO. E é aí que consiste a injustiça deste mundo. Acho que só Não seria tudo mais fácil? Não seria tudo menos sem graça também? Sou contraditória, porque o meu próprio coração assim o é.

prosa

nos devíamos apaixonar por quem por nós fosse apaixonado.

No entanto... “Não vou chorar, se quiseres partir... A nossa história não termina agora... Porque essa tempestade um dia vai acabar.” Eu acredito nas voltas que a vida dá. Acredito em tudo aquilo que parece não puder ser possível ou real por uma infinidade de razões... Tantas quanto aquelas que no fim... e só mesmo no fim, nos hão-de juntar e fazer de nós um só. Aquele UM diferente e divergente em muito... mas para sempre UM.

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Amigos há muitos

prosa

de Andreia Filipa Diogo de Jesus

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“Amigos há muitos” Quem diz isso é porque não sabe realmente o que é uma amizade verdadeira, onde a confiança está sempre presente, o carinho, a diversão, as maiores loucuras, os melhores momentos passados. Sim, existe muita gente com a capacidade para ser um amigo verdadeiro, mas eu posso dizer que encontrei essa amizade e nem precisei de procurar, essa amizade foi crescendo em tão pouco tempo com um significado inexplicável. Sem ti não seria metade do que sou hoje, mais que uma irmã, foste em grande parte, suporte nos dias difíceis, companheira de brincadeiras e tolices em inúmeras viagens, deste-me sempre a mão com a qual também limpas as minhas lágrimas. Deste-me força, apoio e sermões, sempre nas alturas certas e é por isso mesmo que te sou grata por seres inigualável. Não vou estar aqui a dizer o que é evidente, porque o que importa não é o que se diz mas o que se sente. Estás acima de tudo e de todos. És (foste e serás sempre) a minha Margarida, o meu anjo da guarda, a minha maior e melhor conselheira e companheira de vida. Peço-te desculpa também por não ser sempre a tal amigamodelo que tem sempre uma palavra adequada para todas as situações, sejam elas quais forem. Só me resta dizer-te o quanto me fazes bem. Tu marcas pela diferença, e marcas-me a mim também.


A ti, meu amor de Ana Margarida Vieira Mendes

Faro, 14 de Fevereiro de 2006 A ti, meu amor: Não me quero tomar chata, nem repetitiva, mas o que sinto, obriga-me a isto. Poderia simplesmente ligar-te e dizer-te tudo aquilo que me vai na alma... tudo aquilo que ficou por dizer ... Contudo, não me sinto suficientemente forte e corajosa para decidi escrever. O nosso amor, nunca foi fácil. Havia até quem o chamasse de “Amor impossível”, uma vez que a distância que nos separa,

prosa

tal, por isso, e não fosse o papel, o melhor amigo do Homem,

torna tudo mais complicado. Admito! Sim, o nosso amor é complicado, mas não impossível. Se ambos lutarmos pelo mesmo, até o fim do mundo se torna alcançável. Tudo vale a pena se a alma não é pequena, e o primeiro passo já está dado: EU ACREDITO. Agora só falta continuar a acreditar, para não deixar que a distância vença aquilo que de mais bonito, sentimos um pelo outro. Tenho de te dizer que tudo em ti é especial: o sorriso, o olhar, o beijo, até mesmo o ciúme que às vezes se apodera de ti.

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Custa-me quando penso que tudo isto já não é um conto de fadas. Até o teu olhar perdeu aquele brilho natural. Deixaste de acreditar em mim e em tudo aquilo que sinto... Deixaste de acreditar em nós... Agora? Agora repete comigo: “Eu fui tão patético.” Vá, repete! Afinal também o foste. Não fui só eu que repeti vezes sem conta a palavra “amo-te”. Não fui só eu que prometi, amarte para sempre. Mentiste-me! E porquê? Porque me fizeste acreditar que seria para sempre, se nem tu mesmo acreditavas?

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Entre memórias e saudades, dei por mim a pensar no quanto me és importante. Tens noção? És-me muito... o quanto, não sei dizer. Quero que saibas que apesar de tudo, te adoro e tudo mais, mas não sei até que ponto é que isso ainda me interessa. Afinal de contas, o nosso amor cai e cai, mas ao contrário do que possas pensar, também se magoa. Ainda te lembras de como se escreve “AMOR”? Antes de sentir falta de mim, sinto falta de ti! Falta de nós! Com saudade, a tua para sempre ... LUA.

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Colina de Maria Vaz Palma Moita Gonçalves

O vento batia-lhe levemente na cara, invadia-lhe o cabelo e provocava-lhe um ligeiro arrepio. Parecia um dia normal, ordinário. Mas não era. Voltara a sentir-se daquela forma. Pensara que tal sentimento pertencia ao passado. Enganarase. Voltara. As lágrimas também vieram, e em cima daquela colina, avistava-se o mar, em todo o seu esplendor. Mas ela não o conseguia ver. Toda a água que lhe cobria os olhos impedia-a de ver tal maravilha. a invadiam a uma velocidade alucinante. Sentia-se vazia. Aquilo que lhe parecera tão seguro há momentos atrás, agora parecia mera ilusão. Questionava. Questionava tudo

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Não conseguia afastar-se de todos os pensamentos que

e todos. Questionava momentos e teorias. Questionava as suas origens e toda a validade do seu percurso até aquele instante. Questionava principalmente a sinceridade dos sentimentos de outrem. E era isso que a consumia. Não via nada, nem o extraordinário pôr-do-sol, talvez nem a verdade via claramente. Não sabia como se teria ela deixado levar novamente naquele sentimento, do qual conhecia bem o resultado. Sempre soube que não lhe seria permitido, alguma vez, ver tal sentimento ser correspondido. Aquilo que lhe arrebatara a alma e enchera o coração de esperanças, era agora o que

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a levava a questionar o porquê de tal castigo. Continuava a ansiar por aquele toque. Por aquela pessoa que chegaria, lhe roubaria gentilmente a sua mão e faria dissipar toda a dúvida e incerteza que a cercava desde cedo. Esperava ainda pelo abraço que a envolveria e a faria esquecer da realidade. Não chegara ninguém. E novamente pensou ter encontrado tal pessoa. Que triste engano. De novo a decepção assolou-a. Era simplesmente insuportável. Tudo aquilo era infernal. Mortificava-a não o poder ter, não lhe poder tocar e dizer-lhe o quão especial era. Fora. Deixara-a ali. Encontrava-se sozinha.

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o vento soprou. Ela mergulhou na água morna, diante de um sol quase inexistente. Compreendeu então, tanta dor só pode significar uma coisa, estar viva. Retomou o seu caminho. Já não havia vento, já não havia sol, apenas a claridade que a acompanhou a casa. Agora conseguia ver, conseguia respirar. Pensava claramente. Lembrou-se do seu sorriso, da voz. Agora via que aquele ser que até as imperfeições o tornavam perfeito a seus olhos, nunca poderia ser seu. Ia ficando livre, passo a passo. Saberia que um dia iria acordar e toda a ilusão era não mais que uma memória.

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Pinto quadros por letras

ilustração

de Raquel Afonso

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Entre o último sorriso de Ana Margarida Vieira Mendes

Entre o último sorriso e o último olhar que deixaste, dei por mim a pensar no que me eras, no que (ainda) me és. Magoa-me a todo o instante este teu silêncio. Pior... magoame a todo o instante este teu desprezo, mas aprendi a melhor maneira de lidar com a situação. Não acredito que tudo tenha mudado do dia para noite, acredito sim, que esta seja a tua maneira de te defenderes e enganares o coração. amigo... AQUELE amigo! Tenho muita gente que gosta de mim e sabes que mais? Até eu gosto de outras pessoas quase tanto como gosto de ti.

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Pois bem, força! Estarei aqui para ti, porque afinal és um

Hoje, acordei sem vontade e espírito para nada, mas não venhas sequer tentar fazer-te de causa para esta consequência, porque o meu coração é enorme, e tem espaço para todos aqueles de quem gosto! Pode ser que tudo passe, menos o amor... Menos e essencialmente a amizade. Estou aqui à espera sentada... Pode ser que a luz do dia de um amanhã diferente, te mostre as coisas tal e qual elas são. Engana-te a ti... Não enganes o coração!

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Não há dúvidas de Ana Margarida Vieira Mendes

Não há dúvida possível entre a vontade e a consciência, o amar e o gostar. A meu ver, ganha ontem, hoje, amanhã e sempre... A VONTADE, O AMOR! Depois de amanhã não será fácil. Já hoje não o é. Mas quisemos assim, e acreditem... Não somos só responsáveis pelo que fazemos, mas também pelo que não fazemos. E antes arrependimento do feito do que arrependimento do

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não feito. Melhores dias virão com certeza. Ninguém disse que seria fácil, mas é bom quando se ouve: “É de ti que gosto mesmo apesar das circunstâncias. Seremos os eternos enamorados que vivem vidas paralelas, mas sentem um amor comum. Algo único e especial. Algo difícil de se explicar pela dificuldade de se viver (mas não impossível). Vamos amar-nos eternamente e esperar que o tempo nos ajude a escrever uma história com que sempre sonhámos?!

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Nublado de Maria Vaz Palma Moita Gonçalves

Restavam apenas alguns momentos para saborear um pouco mais deste amor que avassalara o meu coração. O meu coração completamente despedaçado e ainda assim sedento de mais daquilo que me havia dado. Num leve acordo definimos em que íamos então aproveitar a maldita oportunidade de podermos amarmo-nos por mais algum tempo. A verdade pairava, mas que importava agora se todos os erros que havia para serem cometidos já o tinham sido, que impora cidade brilhava como sempre, não era minha, e sentia-me tão só antes de tudo isto, o que será dela agora? O que será de mim? Chove também no meu coração, e o cinzento

prosa

tava agora que sabíamos que não haveria retomo. Chovia,

espalha-se. As nuvens cobrem o céu, tal como o desgosto da minha alma. Pensar que éramos únicos, sendo eu apenas uma parte, uma mentira, a fantasia, que também era minha, e se não era passou a ser. Quem souber certamente me recriminará, não pelo que aconteceu até aqui, mas pelo que permitirei que aconteça, não será por muito mais, o adeus está próximo. Não tem grande história, apenas uma mentira que não era minha, mas eu estava incluída. Fora envolvida num grande amor, que foi obrigado a ser desfeito. Pensar que o possuía, e afinal sendo éle de outra cidade, não tão radiosa como esta,

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não tão nossa quanto esta, escondia nessa sua cidade outrém, na sua cidade ocultava uma outra vida. Pensar ser eu a sua vida, e era apenas o seu sonho. Eras tu minha vida e agora meu sonho. Ao descobrir, a minha alma se foi e assim com o pouco tempo que nos resta até voltares, arranjarei forças para esquecer e viver o que havia para ser vivido, para te amar pela última vez e depois como amantes caminharmos sobre o chão molhado da cidade que nos acolhia até ao aeroporto que te esperava para me mandar para longe de mim novamente. Desta vez era diferente, não haveria volta. Que Deus cuide de mim, meu futuro incerto, Que Deus olhe e tenha piedade,

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pois seguir-se-ão os dias de agonia, que foram adiados em nome de algo mais forte, de algo que nos unia. É a dor da desunião que nos mata. Como poderia eu não deixar o ódio para um outro dia? Isto é muito mais que eu, ou ele, ou quem mais esteja envolvido. É porque eu sei de dimensão cósmica que nos ultrapassa, é o que tem que ser, como um fastidioso destino talhado pelos antigos, mais antigos que os velhos escritos e que os velhos templos. É porque eu sei, que os chamados erros que cometemos, não foram erros, mas sim passagens pelo que devia e pelo que foi.

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Vista para o mar

fotografia

de Cรกtia Soares

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Lembra-te de tudo de Ana Margarida Vieira Mendes Lembra-te de tudo aquilo que eu te dou e tu não vês, quando não estás. Pior que perder um grande amor, é perder uma GRANDE amizade. E eu, não pretendo perder nem um nem outro. Dizem que não se pode ter tudo, mas isso não cabe aos outros avaliar... Cabe-nos a nós evitar. Não temos tudo para ser felizes (infelizmente), mas temos o essencial para vivermos o que sentimos (mesmo que secretamente). coração que esse, coitado, é o mais fraco de todos nós! SEMPRE O FOI.

prosa

Engana-te a ti, a mim, a quem queiras, mas não enganes o

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Três diferenças com parecenças de Mariana Almeida

prosa

S

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e os nossos olhos transmitem várias emoções sem ser a cor da nossa pele, uma barreira para as próprias emoções, porquê haver discriminação? É o olhar, o sorriso, o tempo, a magia do nosso interior que nos faz ser o que somos. se o mundo é às cores. Todos os dias percebo que são as cores que me enchem a vida. todo o tipo de cores em todo o tipo de coisas. Os seres humanos? Esses também iluminam o meu dis com os mais maravilhosos tons de pele, os mais diversificados sorrisos, os mais carinhosos toques. Tudo isto é vida sem preconceitos. E agora, penso, será que algum dia todos os seres humanos conseguirão parar, reflectir, observar e chegar à conclusão que somos todos iguais? Vou continuar a sonhar com esse dia, pois só assim vamos acabar este caminho e tornarmo-nos num só. Se o chocolate pode ser branco, preto, com leite e até o açucar pode ser amarelo por que é que os seres humanos haveriam dec ser de uma só cor? PS: o mundo está cheio, não há espaço para discriminação!


Na rota dos livros

de Ricardo DionĂ­sio

fotografia

de Pedro Reis

Na rota dos livros antigos

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Índice 7

Prefácio

9

Ilustração de Pascal Minder

11

Matilde e Michel

14

Amor iludido

15

Ria formosa

17

Gosto de ...

19

Janela

21

Escrevo-te da janela do meu quarto

24

Num rasgo de loucura e amor

25

Portas fechadas

27

O farol do amor

28

É frequente ...

30

Amor

32

Não percebes?

34

A essência da Amizade

35

Abandono

37

o (meu) (teu) (nosso) amor

39

Solidão

41

Há quem diga

42

É graças a ti


44

Dizem que é cego

45

Cidade velha

47

sem ti não vivo

48

Por muito já passei

51

Ilustração de Fábio Mártires

53

Ontem quando me vieste beijar

54

És tanto

55

Fotografia de João Sousa

57

A culpa da desilusão é da ilusão

58

Amigos há muitos

59

A ti, meu amor

61

Colina

63

Pinto quadros por letras

65

Entre o último sorriso

66

Não há dúvidas

67

Nublado

69

Vista para o mar

71

Lembra-te de tudo

72

Três diferenças com parecenças

73

Na rota dos livros



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