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Ação Social e Comunidade
#37
O MEU CORPO ENVELHECIDO AMA-ME INCONDICIONALMENTE
A sociedade ocidental dos nossos dias divide o ser humano em corpo-mente, campo de alguma controvérsia resultante de diferentes perspetivas e da área de ação. Não podemos ignorar que na nossa cultura, tão obcecada pela juventude, o espectro da senescência “tem” de ser evitada a todo o custo. Mas, na verdade, envelhecer não “é andar no parque”, é, em vez disso, uma aprendizagem diária quando se trata de negociar o amor a este querido e velho corpo e estar constantemente em contato com o seu amor-próprio, ainda que a alma esteja distante e a saúde também. E, portanto, amar o corpo envelhecido não é uma utopia, é uma questão de preparação do corpo e também da mente para esta fase da vida. Não é nenhum segredo que quanto mais velhos estamos, mais pressão o mundo exterior exerce sobre nós para procurar todos os meios possíveis de nos fazer sentir, olhar e agir o mais jovem possível, e a pressão tem sido bem-sucedida se olharmos para o medo de envelhecer que atinge a maioria de nós, mas se optássemos por ver o envelhecer com um olhar de amor incondicional, logo perceberíamos que precisamos de assumir uma visão integradora - corpo e mente – uma (re)inserção do corpo físico envelhecido e as experiências vividas, envolta de um só modo de viver esta fase da vida. Ao olharmos para o envelhecimento nesta perspetiva deparámo-nos com duas grandes tarefas: (1) a perceção pessoal sobre o nosso envelhecimento e (2) agir no tratamento do corpo que, a cada dia que passa, envelhece um pouco mais.
Não podemos ignorar a existência das ideias distorcidas que a nossa sociedade tem sobre a senescência e cabe a cada um de nós ir contrariando esses estereótipos. A boa notícia é que podemos, de alguma forma, desafiar a ilusão que criamos à volta do envelhecer e desafiar estes pensamentos é uma das chaves para lidar com as perdas e ganhos próprios desta etapa da vida pois é dentro, e através de nossos corpos e mente, que experimentamos mais de imediato as realidades sociais e físicas do envelhecer. Seja com o surgimento das primeiras rugas, cabelos grisalhos ou manchas da idade, o aparecimento de constrangimentos na saúde, ou ainda a picada do envelhecimento nas nossas interações sociais, que todas as nossas experiências de envelhecimento são invariavelmente incorporadas. Apesar da centralidade da corporalidade para a vida quotidiana, não devemos recear a vitalidade na senescência ou seja, devemos temer tanto a velhice como tememos a juventude ou a idade adulta. Quando se fala de amor incondicional pelo nosso belo corpo envelhecido, fala-se em negociar mudanças, aprender a adaptar-se e aceitar o corpo, considerando-o como um lar incrível, especialmente, quanto se ultrapassa a marca dos 80 anos de idade, e se vai percebendo o quanto é surpreendente a nossa maquinaria. No livro “Envelhecer sem ficar velho” de Maria José Costa Félix, encontramos logo no início da obra o seguinte: “a velhice é a última oportunidade que a vida nos oferece para terminarmos a tarefa de encontrar «a palavra