Comunicação e gênero - A aventura da pesquisa

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COMUNICAÇÃO E GÊNERO:A aventura da pesquisa

comemorando o fato de estarem sozinhas – e “sem homens” – quando se vêem questionadas (e envergonhadas) sobre sua condição de solteiras. Susan Faludi (2001) discute o ser solteira ao observar como a mídia se portou em relação a estas mulheres nos anos 70 e 80. Segundo a autora, nos anos 70 as mulheres solteiras estavam confiantes, havia todo um movimento na mídia que colocava a solteira feliz como uma tendência, mostrando o quanto sua vida era “respeitável”, “corajosa” e cheia de escolhas (FALUDI, 2001, p. 112). Uma década mais tarde, as mesmas publicações que anunciaram a felicidade das solteiras (como Newsweek e New York Times) estavam enviando uma mensagem totalmente oposta (FALUDI, 2001). O criticismo a respeito das solteiras passou a ser evidenciado: por dar total atenção ao trabalho, elas não tinham um companheiro fixo, eram rígidas demais, tristes e haviam deixado o tempo passar: “Nos anos 80 a imprensa só oferecia escárnio e insincera piedade pelas mulheres que se afastavam do leito conjugal” (FALUDI, 2001, p. 112). Desta forma, a imprensa contribuiu para a imagem das mulheres solteiras (e independentes), e fez com que a liberação feminina e a campanha pelos direitos da mulher fosse considerada a grande culpada por sua infelicidade. O feminismo, neste sentido, foi o responsável pelo afastamento das mulheres de suas reais prioridades (ter um marido, filhos, família). Para as entrevistadas, a questão da “solteirice” não só é um tema controvertido, como também um sinalizador de algumas posições identificadas por Faludi (2001). Enquanto as solteiras sem parceiro fixo dizem que estão “ótimas” sozinhas e que este é um momento para aproveitar as coisas boas que a vida tem a oferecer, as demais colocam em dúvida esta auto-suficiência, dizendo não acreditar que a mulher solteira depois de uma certa idade possa estar totalmente feliz sem um homem. Isto, de certa forma, fica evidente no decorrer da conversa, quando as solteiras sem parceiro fixo admitem momentos de instabilidade e questionam sua própria condição. Muito dessa instabilidade vem da cobrança externa para que elas tenham um parceiro, algo que todas condenam, algumas lutam contra, mas todas estão expostas: Tem horas que parece que elas [as protagonistas de STC] estão atrás de alguém e tem horas que elas estão tri bem sozinhas. E eu acho que o que elas discutem um pouco na série, e é o que eu sinto, é que eu acho que não é o problema delas se

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