Retrato de Família

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“Duda sempre teve a humildade de declarar em público o seu amor. Isto mostra muito claro quão grande foi o seu coração”

ste livro foi escrito quando Duda estava na minha companhia. Por esta razão refiro-me a ele sempre como se estivesse ao meu lado. Nada foi alterado. Duda acalentava dois grandes desejos que manifestava a todos: comemorar as bodas de ouro em maio de 1997 e assistir ao lançamento deste livro, que era motivo de grande orgulho para ele. Portador de uma cardiopatia grave desde os 40 anos, sobreviveu estes anos todos com muito cuidado e zelo, tendo se submetido à cirurgia de ponte de safena (5) e lhe foi colocado marca-passo. Esquecendo o seu estado de saúde, era feliz, alegre e brincalhão, principalmente com os filhos e amigos. Dificilmente reclamava e, muitas vezes, foi internado para controle de rotina, por insistência minha. No final do ano passado, chamou o filho Roberto Eduardo, médico, e lhe disse: - “Sei que meu fim está próximo, mas gostaria de que vocês fizessem tudo que é possível para que eu possa viver mais um pouco e dar duas alegrias para a mãe: comemorar nossas bodas de ouro e assistir ao lançamento do livro da vida dela.” O livro estava praticamente concluído. Estávamos na praia, com quase toda a família. Cada um dos filhos fizera o seu jantar no dia determinado, como é nossa tradição. Duda foi o último. No dia 10 de janeiro fez um carreteiro e convidou seus amigos, muitos dos quais não via há tempos. Estava muito alegre e feliz. Eu havia preparado a lista dos convidados para surpresa dele. No dia 12 de janeiro, sextafeira, após o almoço, contrariando minha vontade, despediu-se de mim com um beijo e foi para a Fazenda Paraíso, providenciar o embarque de bois. De lá ainda me ligou, pedindo que a noite esquentasse a carne que havia sobrado do almoço e, mais uma vez, disse que - 142 -


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