6 minute read

OPINIÃO

Saiba Onde Investir em 2022

Alberto Pitoro • Director de Tesouraria do Absa Bank Moçambique

Advertisement

Depósitos bancários, geralmente disponíveis para maturidades até 1 ano, não têm acompanhado da mesma forma os aumentos da taxa de política

Volvidos mais de dois anos de convivência com a pandemia da COVID-19, e perante sinais de recuperação da economia global, da remoção progressiva das anteriores restrições à mobilidade de pessoas e bens e o consequente aumento do apetite pelo risco, mostra-se oportuno reflectir sobre as oportunidades e factores a considerar nas decisões de investimento.

Em 2020, devido aos impactos da COVID-19, a economia global sofreu uma recessão de 3,1%. O apetite pelo risco entre os investidores baixou. Os esforços dos bancos centrais para estimular o crescimento económico, através de medidas de política e injecções monetárias, conduziram, de forma generalizada, à queda das taxas de juro. Na mesma onda, o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO) baixou a taxa de política (MIMO) em 150 pontos base em Abril, e em 100 pontos base em Junho. Mesmo assim, a economia moçambicana registou uma recessão de 1,3%.

No ano passado, a vacinação massiva, sobretudo nos países desenvolvidos, e o consequente alívio das restrições contribuíram para a recuperação da economia global, que cresceu em 5,9%. Para 2022, o FMI (World Economic Outlook, Janeiro de 2022) espera que o crescimento da economia global abrande para 4,4%, acompanhado de taxas de inflação elevadas devido às interrupções na cadeia de suprimentos e aos altos preços de energia e combustíveis. Para o mesmo período, a economia Moçambicana poderá crescer em 3,9%, com uma inflação de 8,5% (Absa Research), após um crescimento de 1,9% e uma inflação de 6,74% em 2021.

Em Janeiro de 2021, face às pressões inflacionárias que se anteviam, o Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique aumentou a MIMO em 300 pontos base para os actuais 13,25%. Com efeito, desde Abril de 2021, as taxas de juro dos Bilhetes do Tesouro rendem, em média, cerca de 13,35%. Desta forma, os investimentos nestes instrumentos têm oferecido taxas de juro reais positivas e atractivas (6,5%) comparativamente a outras economias – África do Sul (-1,9%), Estados Unidos da América (-6,75%), Zona Euro (5%). Esses retornos são acompanhados por uma taxa de câmbio estável entre MZN63,00 e MZN64,00/USD desde o segundo semestre.

Em Janeiro último, a inflação anual foi de 7,8% contra 6,7% no mês anterior. Assim, espera-se que o CPMO aumente a taxa MIMO em 50 pontos base para 13,75% em Março próximo (Absa Research), o que, com uma inflação de 8,5%, continuará a proporcionar retornos reais atractivos.

Entretanto, os depósitos bancários, geralmente disponíveis para maturidades até 1 ano, não têm acompanhado da mesma forma os aumentos da taxa de política. Em 2021, situaram-se em torno dos 7% a 8% ao ano, para depósitos a prazo de um ano, resultando assim em taxas de retorno reais baixas, comparativamente aos Bilhetes do Tesouro.

No Mercado de Capitais, as Obrigações do Tesouro têm oferecido retornos entre 15% a 16%. Em 2022, o Governo pretende emitir cerca de MZN53 mil milhões em Obrigações do Tesouro. Para os investidores existe ainda a possibilidade de investimento através do mercado secundário (prazos de 2, 3, 4, 5 e 6 anos).

As principais acções transaccionadas na Bolsa de Valores de Moçambique registaram desempenhos mistos des-

No Mercado de Capitais, as Obrigações do Tesouro têm oferecido retornos entre 15% e 16%. Em 2022, o Governo pretende emitir MZN53 mil milhões em OTs

de a eclosão da pandemia. As acções da Cervejas de Moçambique (CDM) e da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) caíram quase 50%, entre Dezembro de 2019 e Fevereiro de 2022, enquanto as acções da Emose e da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH) subiram 76% e 52%, respectivamente. Ao nível global, o desempenho foi positivo e estudos revelam que, a longo prazo, o desempenho das acções supera consideravelmente o dos depósitos e títulos governamentais.

O ouro, uma commodity procurada como reserva de valor, registou uma escalada do preço em 2020, ao passar de cerca $1.500/onça, em Dezembro de 2019, para o pico de $2.000/onça em Julho de 2020. Neste momento, o ouro ronda os $1.800,00/onça, o que representa uma queda em relação ao pico anterior, mantendo, porém, um crescimento de quase 20% relativamente a Dezembro de 2019, e mais de 40% para os últimos cinco anos, constituindo-se, assim, uma alternativa de investimento que deve merecer atenção, sobretudo para investimento de médio e longo prazos.

No sector imobiliário, a pandemia da COVID-19 estimulou, ao nível global, a implementação de modelos de trabalho baseados na tecnologia (o teletrabalho), uma tendência que poderá influenciar a organização do trabalho no futuro, mesmo após a pandemia. Esta dinâmica poderá resultar numa menor demanda por espaços para escritórios, pois as organizações e os seus colaboradores privilegiarão cada vez mais o teletrabalho.

Mesmo assim, de acordo com a Statista (empresa alemã especializada em estudos de mercado), desde o surto da pandemia da COVID-19, os mercados imobiliários em todo o mundo estão a crescer. O corte generalizado das taxas de juro tornou os empréstimos mais acessíveis e, apesar do esperado aumento das taxas de juro para conter a inflação em 2022, espera-se que o sector continue a crescer.

De acordo com a PropertyWheel, o stock de imóveis está num nível historicamente baixo em alguns dos principais mercados e as novas construções estão atrasadas devido à pandemia e às disrupções nas cadeias de distribuição. Outra alternativa de investimento que merece atenção.

O Peso da Dívida Global, por País, Com Moçambique Perto do ‘Top 10’

Desde que a pandemia da Covid-19 começou a sua propagação pelo mundo em 2020, a economia global foi posta à prova com perturbações na cadeia de abastecimento, volatilidade dos preços das mercadorias, desafios no mercado de trabalho e declínio das receitas do turismo. Fruto de tudo isso, o Banco Mundial estima que quase 97 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza extrema como resultado da pandemia.

A fim de se ajustar perante um cenário nunca visto, os governos de todo o mundo tiveram de aumentar as suas despesas para lidar com custos de saúde mais elevados, desemprego, insegurança alimentar e, para ajudar as empresas a sobreviver, assumiram novas dívidas para fornecer apoio financeiro a estas medidas, o que resultou nos níveis de dívida global mais elevados em meio século.

Para analisar a extensão da dívida global, apresentamos os dados da dívida para o PIB por país a partir do mais recente relatório das Perspectivas Económicas Mundiais do FMI. Vejamos os dez principais países em termos de dívida para com o PIB.

O Rácio da Dívida face ao PIB

Os CBDCs a retalho dos Bancos Centrais estão disponíveis para o público em geral enquanto os CBDCs a retalho têm venda restrita a instituições financeiras.

CANADA SINGAPURA

MALDIVAS

CHIPRE

BELGICA BARBADOS

FRANÇA SURINAME SUDÃO

JAPÃO

MOÇAMBIQUE

GRÉCIA

U.S

ERITREIA

PORTUGAL

ARUBA ITÁLIA

CABO VERDE

BUTÃO

BALIZE

ESPANHA BARÉM

Moçambique nos lugares cimeiros

Se o Japão é o país no mundo que tem o maior rácio da dívida face ao PIB, de 257% (já em 2010 ele estava na casa dos 200%), Moçambique era, em 2021, o 11º país no mundo com maior percentagem de dívida, com 134%.

O rácio dívida/PIB é uma métrica simples que compara a dívida pública de um país com a sua produção económica. Ao comparar quanto um país deve e quanto produz num ano, os economistas podem medir a capacidade teórica de um país para pagar a sua dívida.

This article is from: