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NAÇÃO

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50 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Os robôs estão a ocupar cada vez mais espaço no mercado de trabalho,

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e o seu domínio deve impor grandes mudanças na maneira de produzir das organizações. Quais?

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FINTECHMZ

Associação das Fintech de Moçambique Fala dos Desafios e Oportunidades do Mercado Nacional

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PANORAMA

As Notícias da Inovação em Moçambique, África e no Mundo

Artificial vs Orgânico: Falamos de Inteligência e Sim, Vamos Perder a Batalha (e o Emprego)

A Inteligência Artificial é o maior disruptor do mercado de trabalho e, porventura, a grande mudança social e económica que irá marcar as próximas décadas. Fala-se pouco dela e dos seus efeitos, nomeadamente ao nível do trabalho e de como se está a preparar um futuro onde empregos altamente qualificados serão desempenhados... por computadores

TEXTO Pedro Cativelos • FOTOGRAFIA Istock Photo, D.R

Há poucas semanas, tornou-se notícia que o próximo craque do clube de futebol brasileiro, o Atlético Mineiro, vai ser escolhido por um robô, porque este clube que actualmente é campeão do Brasil quer que, a partir de agora, seja a Inteligência Artificial (IA) a prever qual será o futuro craque da equipa e não o tradicional ‘olheiro’, que os clubes utilizam para descobrir jovens talentos com base na experiência e feeling humanos.

No último ano, um jovem da formação do Atlético Mineiro realizou o im-

O robô é treinado para reconhecer os gestos, a linguagem e forma de se expressar dos atletas, através de teorias e pesquisas sobre psicologia...

possível: saiu do grupo de atletas que seriam dispensados e tornou-se no goleador que levou a equipa à vitória no campeonato sub-15. Parece a trajectória de um herói de cinema, mas foi um dos resultados de sucesso da implementação de uma ferramenta de inteligência artificial na formação dos jogadores entre 14 e 20 anos, a tecnologia do Watson da IBM.

O CEO do Atlético Mineiro, Plínio Signorini, traz para o clube uma visão de gestor que quer garantir que seu investimento nos talentos trará o melhor retorno. Como outros líderes modernos, ele decidiu que o uso de dados era o caminho do futuro. E antes mesmo de assumir a liderança do clube, já pesquisava soluções de inteligência artificial. “Fazemos um investimento elevado, principalmente nos atletas da formação. Se conseguirmos uma análise mais abrangente, diminui o risco de perda e traz eficiência para o investimento. Você usa melhor seus recursos no mais importante para o público: o futebol”, diz.

Agora, três anos após começarem os testes iniciais da IA, eles concordam que é um sucesso. A inteligência artificial transforma em ciência o que os melho-

res olheiros e técnicos conseguem fazer: perceber um potencial escondido nos jovens. A tecnologia consegue, depois, fazer isso em grande escala.

O robô é treinado para reconhecer os gestos, a linguagem e forma de se expressar dos atletas. Essa aprendizagem da máquina é feita com uso de teorias e pesquisas sobre psicologia e linguística.

Como os bons resultados no ramo de inteligência artificial dependem da boa qualidade de dados oferecidos, o Speck Champs (sistema utilizado tendo por base o Watson) também foi alimentado com informações sobre os perfis dos atletas

mais cobiçados do mundo, grandes nomes como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. A máquina encontra características relevantes nos atletas que vão determinar o seu desempenho na carreira.

No futuro, o objectivo é ter uma base de dados com parâmetros concretos para a selecção de novos profissionais, com a possibilidade de construir a sua curva de crescimento desde o início.

Não é só no desporto

Com o impacto da automação e novas tecnologias no mercado, o Fórum Económico Mundial prevê que 50% da força de trabalho global vá precisar de algum nível de requalificação nas próximas décadas e a inteligência artificial será a solução para ajudar na formação da mão de obra. Para lá do desporto, as profissões mais vulneráveis à inteligência artificial podem ser as relacionadas com marketing, consultoria financeira ou a programação informática, de acordo com um estudo da Brookings. Ou seja, todos os profissionais que estejam em áreas de trabalho em que a análise e interpretação de dados seja um factor crucial, e que agora são desempenhadas por humanos, passarão a ter na IA uma ameaça séria ao seu posto de trabalho.

Na última década, quando se argumentava que a IA era uma séria ameaça aos trabalhos de colarinho branco de humanos, isso era desvalorizado e visto como uma impossibilidade, porque às máquinas “falta a criatividade” e a “intuição de um trabalhador humano”, pensámos todos, salvo o exagero que não andará longe da verdade.

Mas nos últimos anos, especialmente durante a pandemia, com a IA a automatizar a economia de uma forma muito mais subtil do que o esperado, as máquinas já não são apenas utilizadas pelas empresas em que o trabalho é manual e começam a usar softwares baseados em IA para a escrita de conteúdos, serviço ao cliente, contabilidade e uma série de outros serviços profissionais.

Por exemplo, a Rytr, uma popular aplicação de copywriting AI com 600 mil utilizadores, está a ajudar as empresas com textos que são indistinguíveis da escrita humana. Ao contrário dos criadores de conteúdos, esta aplicação não tem horários e pode gerar uma quantidade ilimitada de conteúdo diariamente por um custo baixo.

Da mesma forma, o serviço ao cliente alimentado por IA está lentamente a tomar conta do mercado. Nos Estados Unidos, estima-se que 85% da interacção com os clientes já está a ter lugar com ferramentas suportadas por IA. Dado o ritmo acelerado com que tais ferramentas estão a ganhar popularidade, haveria enormes implicações para quase três milhões de trabalhadores do serviço ao cliente empregados nos EUA.

Outro exemplo é o dos robo-tradutores. Um artigo de investigação de 2020, publicado na revista Nature, mostrou como os sistemas de ‘deep learning’ superam os tradutores humanos. Os salários e a procura de tradutores humanos irão certamente diminuir à medida que a tradução de IA se tornar mais comum.

A paisagem mudou claramente. As empresas que não utilizam ferramentas de IA estão em desvantagem. O seu custo de entrada é mais elevado e o seu produto (ou serviços) é provavelmente inferior ao dos seus congéneres que utilizaram tecnologias modernas. Embora as novas áreas apoiadas pela IA sejam uma bênção para nações como o Japão, onde a mão-de-obra está a envelhecer, podem levar a uma enorme perturbação económica e social em países africanos, ou na China e Índia, onde milhões de pessoas entram no mercado de trabalho todos os anos.

As profissões mais vulneráveis à IA podem ser as relacionadas com marketing, consultoria financeira ou a programação informática

Uma ferramenta ou um profissional artificial?

Num novo livro sobre como a tecnologia irá afectar os trabalhadores, os especialistas do MIT explicam como a inteligência artificial está, ainda assim, bastante longe de substituir os seres humanos. A maioria dos sistemas de IA implantados hoje, embora inovadores e impressionantes, ainda se enquadram na categoria do que o membro da task force, pioneiro da IA, e director do Laboratório de Informática e Inteligência Artificial do MIT, Daniela Rus, chama “IA especializada”. Ou seja, são sistemas que podem resolver um número limitado de problemas específicos. Analisam grandes quantidades de dados, extraem padrões e fazem previsões para orientar acções futuras. “Existem soluções de IA para uma vasta gama de problemas específicos”, escreve Rus, professor da Escola MIT SloanThomas Malone, e Robert Laubacher do Centro de Inteligência Colectiva do MIT, “e podem fazer muito para melhorar a eficiência e produtividade dentro do mundo do trabalho”.

Tais sistemas incluem o sistema Watson da IBM (usado no Atlético de Mineiro), ou o programa AlphaGo da Google, que também é o melhor jogador humano no jogo de Go. Os sistemas que exploramos em seguros e cuidados de saúde pertencem todos a esta classe de IA, embora variem em diferentes classes de aprendizagem de máquinas, visão por computador, processamento de linguagem natural, ou outros.

Outros sistemas em utilização também incluem sistemas mais tradicionais de “IA clássica”, que representam e raciocinam sobre o mundo com lógica formalizada. A IA não é uma coisa única, mas sim uma variedade de diferentes IA, no plural, cada uma com características diferentes, que não reproduzem necessariamente a inteligência humana. Este é um problema para quem é seu defensor.

Os sistemas especializados de IA, através da sua dependência de dados largamente gerados pelo homem, primam pela produção de comportamentos que imitam o comportamento humano em tarefas bem conhecidas. E incorporam também os preconceitos humanos. Continuam a ter problemas de robustez, capacidade de executar consistentemente em circunstâncias variáveis (incluindo o ruído intencionalmente introduzido nos dados), e confiança, a crença humana de que uma tarefa atribuída será executada correctamente de cada vez, exacerbada pelo problema da explicabilidade, uma vez que os actuais sistemas especializados de IA não são capazes de revelar aos humanos como chegam às suas decisões.

E a capacidade de adaptação a situações inteiramente novas continua a ser um enorme desafio para a IA e para a robótica e uma razão chave para as empresas continuarem a depender de trabalhadores humanos para uma variedade de tarefas, sendo que os humanos ainda se destacam na interacção social, capacidades físicas imprevisíveis, senso comum e, claro, inteligência geral.

De uma perspectiva de trabalho, os sistemas especializados de IA tendem a ser orientados para tarefas. Por exemplo, a leitura de radiografias é uma parte fundamental dos trabalhos dos radiologistas, mas apenas uma das dezenas de tarefas que executam.

A IA, neste caso, pode permitir aos médicos dedicar mais tempo a outras tarefas, tais como a realização de exames físicos ou o desenvolvimento de planos de tratamento personalizados. Na aviação, os humanos há muito que confiam nos pilotos automáticos para aumentar o seu controlo manual do avião, mas os sistemas de IA ainda não foram certificados para pilotar aeronaves comerciais.

A inteligência geral artificial, a ideia de um cérebro verdadeiramente artificial semelhante ao humano, continua a ser um tema de profundo interesse de investigação, mas um objectivo que os especialistas concordam estar ainda bastante distante. O que nos dá tempo para a enquadrar no nosso mundo, em vez de a deixarmos moldá-lo.

Estando mais ou menos próximo a verdade é que o presente da IA tem, e muito, que ver com o futuro do trabalho. Estamos preparados?

FINTECH A Vez das FinTech Ganharem Voz

A realização da Semana das FinTech, já na sua terceira edição, traz os bastidores de uma área que já conquistou o mercado, mas que ainda tem muito por crescer e se impor. O presidente da Associação das FinTech de Moçambique, João Gaspar, fala do caminho a percorrer para lá chegar

TEXTO Celso Chambisso • FOTOGRAFIA Marino Silva

A3ª edição da Semana das FinTech, entre os dias 21 e 24 de Fevereiro deste ano, é a clara manifestação da intenção de ampliar o âmbito de um mercado que já provou a sua importância no mercado financeiro, que tem potencial para crescer e impulsionar a economia, mas que clama por mais espaço e enfrenta barreiras de ordem financeira. Como mudar esta realidade?

O próprio contexto da realização da Semana das FinTech explica parte do problema, a começar pela definição dos seus stakeholders. A ideia, de acordo com o presidente da Associação das FinTech de Moçambique, João Gaspar, é mobilizar quatro targets desta nova etapa do desenvolvimento tecnológico do sector financeiro, nomeadamente incentivar as empresas ou startups de jovens inovadores que saem das universidades para que comecem a pensar em ideias para lançar negócios com soluções tecnológicas na vertente dos serviços financeiros.

O outro alvo são os reguladores cuja importância está no facto de se tratar de um sector novo, num contexto em que a Lei que regulamenta os novos de serviços de pagamento saiu em 2020 e só a partir daí as empresas começaram a legalizar-se ou a submeter os seus processos de licenciamento, que demoram tempo, sendo por isso que a Associação trabalha com o Banco Central e outros reguladores para serem mais ágeis na legalização e supervisão dos novos players do mercado. O terceiro são os investidores, visto que esta é uma área nova, que requer investimentos, mas que no início não são rentáveis. Ou seja, há muito poucas FinTech no mundo que têm cinco anos de existência, e pouquíssimas ainda conseguem ser rentáveis, pelo que vivem mais com base no apoio de investidores e de subsídios. E é neste “atraso muito grande no lançamento e no desenvolvimento das FinTech” que entra o quarto alvo da iniciativa: o Estado. “Temos vários exemplos de iniciativas que começaram com protótipos em 2018 e 2019, mas que ainda não estão no mercado por razões de ordem regulatória e, principalmente, económica. Muitos destes empreendedores acabam por abraçar outras áreas de negócio.

Também assistimos à vinda de empresas estrangeiras para o mercado moçambicano. Se isso for bom por ampliar a oferta de serviços financeiros, torna-se mau porque condiciona o desenvolvimento das empresas e soluções nacionais, já que os estrangeiros têm melhor capacidade financeira e conquistam facilmente o mercado”, observou o responsável. Por isso, lança um apelo ao Estado para que crie incentivos financeiros de acesso a capitais para ajudar as empresas moçambicanas a desenvolverem soluções, que permitam que entrem para o mercado em igualdade de oportunidades com os grandes players internacionais.

Quanto à necessidade de assegurar maior abrangência às FinTech nacionais, a Associação fala de uma evolução assinalável no acesso a ideias e ao que de melhor se faz neste mercado.

Ao longo dos quatro dias do evento, em que cada um terá quatro painéis, os temas versam sobre pagamentos digitais de e para o Governo (por exemplo, subsídios às pessoas ou comissões ao Estado), assinatura de protocolos de cooperação com uma associação congénere portuguesa para uma troca de experiências e acordos com a Visa internacional. Também são tratados temas relacionados com o desenvolvimento dos microbancos, carteiras móveis, seguros digitais, green finance, green bonds e muitos outros temas que incluem as redes de pagamentos que envolvem a SIMO e as redes similares de Maláui, Angola e Nigéria.

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ENTIDADE

Associação das FinTech de Moçambique

FUNDAÇÃO 2016

ASSOCIADOS 22 Empresas

PRESIDENTE

João Gaspar

Ciências biológicas

Governo capacita mulheres em matérias de Biotecnologia e Biociência

Trata-se de uma acção organizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) através do Centro Nacional de Biotecnologia e Biociências (CNBB), com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que têm como grupo-alvo mulheres que actuam na área da Saúde, Nutrição, Agricultura, Cosmética e Reciclagem de Resíduos. A ideia é criar condições para que o País disponha de capital humano especializado para a implantação de infra-estruturas dotadas de capacidades para buscarem soluções científicas baseadas na Biotecnologia.

O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Daniel Nivagara, sublinhou que a capacitação vai permitir a promoção do desenvolvimento de produtos, serviços e/ou modelos de negócios inclusivos e inovadores. Nesse contexto, orientou o CNBB a planificar e empreender todos os esforços ao seu alcance por forma a que estas formações se expandam à escala nacional e beneficiem mais mulheres de todo o País, com vista à dotação de capacidades para o desenvolvimento da pesquisa, da inovação e de soluções científicas baseadas na Biotecnologia.

A Biotecnologia e as Biociências são importantes para a melhoria dos cuidados de saúde, para o desenvolvimento da Indústria, para a sustentabilidade ambiental e para os desafios do desenvolvimento nos sectores da Agricultura, Saúde, Pescas, Recursos Marinhos e Florestais e do Ambiente.

Transportes

Opibus Lança o Primeiro Autocarro Eléctrico Projectado e Desenvolvido em África

A Opibus, empresa de tecnologia sueco-queniana que está a revolucionar o mercado dos veículos eléctricos em África, acaba de lançar o primeiro autocarro eléctrico projectado e desenvolvido no continente, em Nairobi, no Quénia.

O autocarro é produzido localmente e, em comparação com o seu homólogo a diesel, tem um melhor desempenho e requer menos 80% de custos em manutenção e menos 50% de despesas operacionais, segundo a marca. Assim, torna-se uma alternativa mais sustentável, económica e que potencia o desenvolvimento da economia local.

De acordo com Dennis Wakaba, coordenador do projecto, o primeiro autocarro eléctrico deve ser lançado comercialmente em meados deste ano. Depois, a plataforma será testada em escala através da implantação comercial de dez autocarros no segundo semestre de 2022. “Assim, garantimos uma recolha de feedback valioso para continuarmos o desenvolvimento do produto e fazermos um ajuste optimizado ao mercado.” Referiu.

Aviação

Rolls-Royce anuncia aviões comerciais eléctricos entre 2025 e 2027

De acordo com o presidente da Rolls-Royce Holdings, Rob Watson, o primeiro avião eléctrico da fabricante terá uma potência de cerca de 600 kw, levará entre oito e 18 passageiros, percorrerá trajectos de 150 km, e poderá começar a voar já em 2025. Além disso, os avanços tecnológicos posteriores que melhorarão as baterias, bem como o desenvolvimento de todos os sistemas electrónicos e de segurança, permitirão aumentar o alcance para 400 km, em 2030.

A Rolls-Royce duvida que seja possível electrificar aviões que operem viagens de longo curso com centenas de passageiros. Todavia, para voos regionais, a fabricante acredita que os aviões eléctricos poderão ser a solução, representando um importante papel na descarbonização da indústria da aviação, que é um dos sectores que mais emissões representa.

“Estamos confiantes na tecnologia. Agora precisamos de a aumentar de modo a que possa ter um impacto económico significativo. Penso que é aí que se verá a mobilidade aérea urbana e a mobilidade aérea regional com aeronaves até 18 lugares tornar-se uma possibilidade real nos próximos três a cinco anos.’’Disse Rob Watson.

Comunicações

Google anuncia mudanças no Android para proteger a privacidade dos utilizadores

Ao longo dos próximos anos, a empresa vai alterar a ferramenta de identificação de utilizadores do seu sistema operativo móvel Android para uma maior protecção da privacidade nos dados partilhados com empresas para a publicidade. A empresa adianta que ainda está a desenvolver tecnologias, que reduzam o risco de haver aplicações que recolham dados dos utilizadores de forma encoberta e garante que o objectivo é melhorar a privacidade dos utilizadores “sem colocar em risco o acesso a conteúdos e serviços gratuitos”, já que o preço que os internautas pagam, em muitos casos, para aceder a esses serviços é precisamente a cedência consciente ou inconsciente dos seus dados pessoais. Especificamente, procura-se limitar o uso partilhado de dados dos utilizadores com terceiros.

Líria Nhavotso • Directora de Tesouraria e Mercados

Em 2022, aliada à perspectiva da subida das taxas de juros, recomendase aumentar a exposição à dívida pública em moeda local no mercado primário em obrigações de taxa variável que conferem maior protecção

Como e Onde Investir em 2022

Nos últimos dois anos, em que a economia global esteve imersa na pandemia do Covid-19, o mundo enfrentou vários desafios de ordem social, económica e sanitária. As restrições como forma de contenção da pandemia levaram a um abrandamento da actividade económica global, os baixos níveis de consumo registados traduziram-se num ambiente deflacionário, assistindo-se a uma queda nos preços ao longo de toda a cadeia de valor.

Com a reabertura das economias e a recuperação dos níveis de consumo e o emprego, num ambiente em que as empresas se deparavam ainda com uma capacidade produtiva limitada e um forte aumento da procura, a segunda metade de 2021 foi marcada pelo regresso da inflação na economia global, levando os bancos centrais a adoptar medidas monetárias restritivas, com o FED a indicar que seguirá as mesmas medidas em 2022.

Desempenho dos mercados 2021

Para o mercado de dívida, notou-se uma tendência de aumento das yields das Obrigações ao longo de 2021 nos mercados desenvolvidos. As taxas de juros soberanas incrementaram como resultado do aumento da inflação e da recuperação económica, factores que levaram o mercado a antecipar uma contracção do estímulo monetário.

Ao nível do mercado doméstico, as taxas dos Bilhetes do Tesouro (BT’s), bem como as yields das obrigações do tesouro, aumentaram significativamente com o movimento das taxas de referência. O mercado de dívida teve um forte crescimento em 2021, quer em emissões no mercado primário, quer no mercado secundário onde o volume transaccionado foi 2,3x superior que o do ano de 2020.

Os principais mercados accionistas internacionais apresentaram uma forte valorização dada a melhoria nos resultados das empresas cotadas nas principais bolsas. O mercado de acções de Moçambique representou apenas 0,3% do volume total transaccionado em Bolsa no mercado secundário. Em 2021, assistiu-se a uma desvalorização generalizada do preço das acções cotadas na BVM, sendo a CMH a única empresa cujos preços tiveram uma valorização positiva. O mercado accionista tem-se mostrado muito volátil nos últimos meses, registando spreads de bid e offer cada vez maiores para as acções mais líquidas.

Posicionamento para 2022: Inflação e Crescimento Económico

Com as melhorias no cenário económico actual, em particular no que concerne aos desenvolvimentos relacionados com a pandemia, espera-se que haja uma recuperação ao nível da actividade económica, abrindo espaço para maiores taxas de crescimento económico quando comparadas com o ano anterior, tanto ao nível mundial como doméstico.

Ao nível internacional, espera-se que as pressões inflacionárias persistam no curto prazo, podendo abrandar na segunda parte de 2022. Internamente, as pressões para a subida de preços mantêm-se, tendo em conta o contínuo aumento de preços das principais commodities energéticas (por exemplo, combustível, gás e carvão) e as alimentares.

Mercado obrigacionista doméstico

Após aumentos constantes das taxas de juros em 2021 é expectável a manutenção desta tendência durante 2022. Com a materialização das expectativas de inflação para o curto prazo, as obrigações de taxa variável e as indexadas à inflação deverão apresentar um melhor desempenho neste horizonte temporal. No entanto, a monitoria de todos os indicadores e a gestão activa da carteira é fundamental para a actuação oportuna face à evolução destes factores.

As obrigações de taxa fixa poderão ocupar uma menor proporção do portefólio dos investidores e servir de elemento de diversificação e fonte de maior duração para um cenário de menor da inflação e taxas de retorno.

Mercado accionista

Depois da desvalorização do mercado accionista em 2021, as acções da CDM encerraram o ano com uma indicação de valorização. No primeiro mês de 2022, a sua volatilidade aumentou, tendo chegado a valorizar mais de 30%. A

Para uma melhor decisão de investimentos é necessária uma observação rigorosa dos indicadores de conjuntura internos e externos

CMH deve continuar a sua tendência de valorização com o avançar dos projectos de gás no norte do País.

Recomendações

As taxas dos BT’s subiram em 6 pontos percentuais no início do ano passado, o que os torna um investimento alternativo aos depósitos a prazo, apresentando rentabilidades mais atractivas e relativa liquidez.

Em 2022, aliada à perspectiva da subida das taxas de juros, recomenda-se aumentar a exposição à dívida pública em moeda local no mercado primário em obrigações de taxa variável que conferem maior protecção, uma vez que, na eventualidade das taxas de juros subirem, as obrigações com taxa de cupão variável terão um melhor desempenho que as obrigações com taxa de juro fixa, visto que o cupão a ser pago ajusta consoante a evolução de uma taxa benchmark/indexante. Existem, no mercado, títulos emitidos pelo Tesouro nos últimos anos para diversas maturidades indexadas aos BT’s que permitem esta exposição a uma taxa variável.

No mercado secundário estão disponíveis também títulos indexados à inflação, que poderão ser incluídos na carteira uma vez que a sua rentabilidade estará em linha com a inflação e poderá servir de mecanismo de cobertura da carteira para o risco inflacionário.

As actuais tendências macroeconómicas acatam um elevado nível de incerteza, sendo necessário uma estratégia que seja adequada para diferentes cenários. Num cenário em que a inflação acabe por arrefecer de forma natural a curto ou médio prazo, e para que o investidor não saia prejudicado, é importante que o mesmo não altere a totalidade da composição da sua carteira como resposta a um potencial cenário inflacionário. Assim, a longo prazo, títulos de taxa fixa com yields interessantes podem fazer sentido como parte da exposição do portefólio. Há uma visão positiva sobre a Dívida Corporativa considerando o alargamento do spread em relação à Dívida Pública, apesar da limitada oferta nesta classe de activos.

A longo prazo, as acções são a classe de activos que apresenta uma rentabilidade mais atractiva, apesar da sua volatilidade, pelo que serão um componente essencial de uma carteira de investimento com objectivos a longo prazo. Abaixo o quadro resumo das nossas recomendações de alocação dos investimentos:

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