E&M_Edição 26_Junho 2020• COVID, Uma cura cara

moçambique

OIL & GAS Galp garante continuidade dos investimentos no país Economia Como as Empresas e a banca estão a apoiar a retoma ZEE a (in)eficiência das Zonas Económicas Especiais TV digital Um processo demasiado longo com fim à vista?

Covid-19

uma cura cara

Enquanto não se descobre a vacina, o tratamento é feito em dólares. Mas só o dinheiro não bastará sem uma estratégia funcional. Como estamos a este respeito? junhO 2020 • ano 03 no 26 • 15/06 - 15/07 Versão ePaper

Sumário 6

Observação

O regresso do futebol A imagem de um jogo de futebol sem público, mas que sinaliza o gradual retorno à normalidade

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Radar

Panorama Economia, Banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País

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71 ócio 72 Escape Uma visita à Reserva Especial de Maputo 74 Gourmet O Vietname no prato, em Maputo 75 Adega A arte refinada da bolha portuguesa 77 Artes “Green Swans: The Coming Boom in Regenerative Capitalism”, uma mudança rumo à sustentabilidade 78 Ao volante O luxo do Lexus Ux

oil & gas

LNG A Galp Energia assegura que o covid-19 não vai paralisar os seus investimentos no país

26 nação covid-19: uma cura cara!

26 Economia A E&M analisa o contributo do Governo e dos parceiros no apoio à economia 32 Sector privado Agostinho Vuma fala das dificuldades das empresas em lidar com a crise 36 A crise lá fora Um overview sobre os caminhos da retoma nas potências mundiais 42 Banca Os instrumentos que o sector financeiro está a usar para ajudar as empresas

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mercado e FinanÇas

Zonas Económicas Especiais A E&M analisa os factores críticos para a transformação das ZEE em pólos de crescimento

58 empresas BACELAPP A história de um negócio que se especializou na vantagem concorrencial através dos descontos

60 Megafone Marketing O que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

62 Sociedade MIGRAÇÃO DIGITAL Um olhar ao longo percurso que o país está a traçar para concretizar o processo de digitalização da TV

66 lÁ fora Angola As armas que o país está a utilizar para ajudar a economia a reerguer-se dos efeitos do covid-19

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Editorial

De volta ao ponto de partida. Outra vez!

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Celso Chambisso •Editor da Economia & Mercado

e há cinco anos a esta parte, uma sequência de eventos inesperados vem interrompendo, de forma repetida, o ritmo de crescimento económico que se tinha consolidado ao longo de mais de duas décadas. Primeiro, a longa ‘ressaca’ das dívidas que não tinham sido declaradas, descobertas em 2015, fazia prever que 2018 seria o ano em que, definitivamente, haveria condições para “recomeçar tudo do zero”. Depois, quando em 2019 vieram os ciclones, a retoma voltou a ser adiada para o presente ano. E já no instante em que, finalmente, parecia que o anseio de voltar a crescer se iria cumprir, o novo Coronavírus parou tudo. Mais uma vez, o país regressa ao ponto de partida. Que não é mais do que o retomar da luta pela estabilidade. Uma luta que, desta vez, tem a particularidade de ser muito mais dura do que as que os moçambicanos estão habituados a travar. Não só pelo seu carácter global, que leva a que os países mais desenvolvidos olhem para as próprias necessidades e reduzam o foco no auxílio aos mais pobres como Moçambique, mas também porque nem tudo voltará a ser como antes da pandemia.

Prezado leitor, é olhando para o elevado grau de complexidade dos desafios que se nos colocam à frente como país, que a E&M leva até si o essencial dos passos que todos os intervenientes do mercado estão a dar neste novo ponto de partida. Fazemo-lo através de vários artigos alinhados, por forma a permitir-lhe que forme uma ideia concisa sobre o que se está a pensar, o que se está a fazer, os consensos e os pontos de discórdia entre os intervenientes, que vão desde o Governo até ao sector privado, passando pela banca e pelos estudiosos em matérias de economia.

Para proporcionar instrumentos adicionais de análise, a E&M também viajou para o exterior, de onde traz as diferentes perspectivas que estão a ser assumidas por diversos países nesta nova realidade.

Pela terceira vez consecutiva, a E&M sai apenas em formato digital, por meio das nossas plataformas que incluem o portal de economia e negócios “Diário Económico” e a App que disponibilizamos gratuitamente, bem como através da newsletter enviada mensalmente a toda a nossa base de leitores, assinantes e parceiros comerciais e institucionais da Media4Development.

A presente edição também inaugura uma nova secção: a de “Oil & Gas”, onde serão veiculados conteúdos sobre um sector que desponta e que assume, claramente, cada vez maior relevância para a sociedade, da qual o nosso prezado leitor é integrante.

JUNHO Nº 26 MÊS ano2020 • Nº•01 EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso propriedade Emídio Executive Mocambique JORNALISTAS Massacola, Cristina Liquatis nienis Madaíl, doluptae et magnis Freire, Elmano Ruivelit Trindade enis necatin nam Henet exceatem PAGINAÇÃO Joséfuga.

Mundundo seque cus, sumMariano nis namSilva iu Qui te nullant FOTOGRAFIA adis destiosse iusciRodrigues re in prae dos volesSantos REVISÃO Manuela sant laborendae nihilib uscius sinusam conselho CONSULTIVO rehentius eos resti dolumqui dolorep Alda Salomão, Andreia Narigão, António repremBernardo vendipidAparício, que ea etDenise eumque non Souto; Branco, nonsent qui officiasi Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico lorem ipsumAli Executive Mocambique Silva, Iacumba Aiuba, João Gomes, Liquatis nienis doluptae velitSamo et magnis Paula Duarte Rocha, Rogério Gudo, enis necatin Henet exceatem Salim Criptonnam Valá,fuga.

Victor Manuel Perez seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos adis destiosse iusci re in prae voles pedro.cativelos@media4development.com sant laborendae nihilib uscius sinusam Direcção Comercial Ana Esteves rehentius eos resti dolumqui dolorep ana.esteves@media4development.com reprem vendipid que ea et eumque ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO non nonsent qui officiasi E PUBLICIDADE Media4Development lorem ipsumAzarias Liquatis nienis doluptae Rua Ângelo Chichava nº 311 A — velit et magnis enis necatin nam fuga.

Sommerschield, Maputo – Moçambique; Henet exceatem seque cus, sum nis nam marketing@media4development.com iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in IMPRESSÃO E ACABAMENTO prae voles sant laborendae nihilib uscius Minerva Print - Maputo - Moçambique sinusam rehentius eos resti dolumqui Tiragem 4 500 exemplares dolorep reprem vendipid que Propriedade dO Registoea et eumque non nonsent qui officiasi Executive Moçambique lorem ipsum Liquatis nienis doluptae Número de Registo velit et magnis enis necatin nam fuga.

01/GABINFO-DEPC/2018 Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi lorem ipsum Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga.

Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi

assinatura digitalizada

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www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019

observação Dortmund, Alemanha

Rola a bola e siga a dança. O futebol regressou É a confirmação de que “não há mal que dure para sempre”. Neste mês retomaram quatro das principais ligas de futebol da Europa, coincidentemente dos países mais assolados pelo novo Coronavírus. É a extensão da ousada decisão da Federação Alemã de Futebol, que em meados de Maio deu o pontapé de saída contra todos os receios que, obviamente, ainda se manifestam.

Neste mês, o primeiro torneio a retomar foi o português, a Liga Nos, no dia 03.

Seguiu-se o campeonato espanhol, a La Liga, no dia 11, depois a Premier League de Inglaterra no dia 17 e no dia 20 regressa a liga italiana, Serie A. Dos grandes campeonatos, apenas o francês foi dado como terminado, com o título a ser entregue ao Paris Saint-Germain.

Os amantes da modalidade estarão, naturalmente, felizes, mas têm, numa primeira fase, de se conformar com a falta de espectáculo: não há música, as equipas entram em campo separadas, não há saudações entre jogadores nem a característica adrenalina a cada drible ou acção de perigo. Faltam ingredientes vitais, é verdade. Mas não é menos real que o retorno destes torneios amplia a janela de esperança por dias melhores. fotografia D.R

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www.economiaemercado.co.mz | Junho 2019

www.economiaemercado.co.mz | Junho 2019

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RADAR CTA alerta que a aviação está em risco de colapso

ECONOMIA

Dívida pública. A agência de notação financeira Fitch Ratings estimou, no presente mês de Junho, que a dívida pública de Moçambique vai subir para 112,8% este ano, devido ao Covid-19, que abrandará o crescimento económico para 1%.

De acordo com o relatório da Fitch, a dívida pública do país sobe de 99,2% em 2019 para 112,8% este ano e depois baixa para 108,9% em 2021, essencialmente devido à evolução da pandemia causada pelo novo coronavírus, que reduz o crescimento económico de 2,2% em 2019 para 1% este ano e 3,5% no próximo. “O rating de Moçambique reflecte o aperto nas condições de liquidez, altos níveis de dívida e questões pendentes sobre as empresas públicas

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que podem afectar o perfil de crédito”, refere a agência.

PIB. A economia moçambicana cresceu 1,68% no primeiro trimestre de 2020, muito longe do registo de 3,7% de igual período do ano passado. Segundo o INE, o desempenho da actividade económica entre Janeiro e Março deste ano é atribuído, em primeiro lugar, “ao sector secundário que cresceu 3,16%, com maior destaque para o ramo da electricidade, gás e água com cerca de 6,5%, seguido pelo ramo da indústria transformadora com 2,46%. Em segundo lugar, está o sector terciário com um crescimento de 1,29%, contra um crescimento negativo de 0,31% do sector primário.

Importa lembrar que, para este ano, o Governo prevê um crescimento económico na ordem de 2,2%.

Auditoria. O Governo vai apresentar, até ao final do próximo mês de Julho, a auditoria aos apoios para enfrentar as consequências dos ciclones Idai e Kenneth em 2019, disse Francisco Pereira, director do Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones. A apresentação dos resultados da auditoria estava

O sector da aviação civil poderá entrar em colapso caso a suspensão de voos e o encerramento das fronteiras terrestres se prolongue por muito tempo. O alerta é de Brian Holmes, vice-presidente do Pelouro de Transporte Aéreo na Confederação das Associações Económicas de Moçambique – a CTA, que estima em 87% a perda do seu volume de negócios que no sector.

Segundo o responsável, é

apenas uma questão de tempo para que a aviação civil moçambicana entre em colapso, caso a situação do encerramento de fronteiras e a suspensão de voos prevaleça. “Estamos a pedir ao Governo para considerar a reabertura das fronteiras, pois, assim, haverá uma oportunidade para os operadores de grande escala tentarem ver se nós podemos fazer esses voos”, apelou.

planeada para este mês, mas a sua complexidade levou ao adiamento, explicou Pereira.

No último mês, lembre-se, o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, João Machatine, tinha prometido, no Parlamento, que a divulgação dos resultados da auditoria deveria acontecer entre Maio e Junho.

mesmo dia em que foi lançado outro apelo para apoio a deslocados pela violência armada em Cabo Delgado, no valor em 35,5 milhões de dólares, totalizando 103,6 milhões de dólares de pedidos a favor de Moçambique.

Emergência. As Nações Unidas lançaram recentemente um apelo aos parceiros internacionais para angariação de 68 milhões de dólares destinados a um apoio urgente a Moçambique para o combate à covid-19, anunciou a organização.

“O apelo urgente em resposta à covid-19 concentra-se nas necessidades imediatas e críticas daqueles que já estão a enfrentar condições humanitárias severas”, referiu a ONU em comunicado.

O plano foi apresentado no

Cooperação. A visita de trabalho a Moçambique do ministro da Indústria e Comércio da Rússia, Denis Manturov, foi adiada para data ainda por definir devido à pandemia da Covid-19, anunciou o embaixador russo em Maputo, realçando que o interesse se mantém em vários projectos. “Infelizmente, devido à pandemia, foram adiadas as reuniões da Comissão Inter-Governamental Mista de Cooperação Económica e Técnico-Científica”, afirmou Alexander Surikov, embaixador russo, que revelou, igualmente, que o seu país está disponível para desenvolver infra-estruturas portuárias e do sector agrário.

Agro-negócios. O Governo aprovou recentemente o decreto que cria o Instituto do Algodão e Oleaginosas, uma entidade que visa ajudar o país a estruturar a produção nestas áreas. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

“Queremos, com esta decisão, criar especialidade e orientação estratégica para que, nos próximos dois anos, Moçambique volte a produzir de forma estruturada”, declarou o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia.

Além do algodão, o instituto criado vai ser responsável por dinamizar uma “produção estruturada” de soja, gergelim e girassol, com o objectivo também de fortalecer a produção de óleo no país.

Caju. A província de Nampula prevê produzir, no presente ano, 73 mil toneladas de castanha de caju.

De acordo com o Instituto de Fomento do Caju, neste momento, Nampula conta com 1 600 provedores, que serão inseridos na campanha de pulverização da cultura, com cerca de duas mil máquinas.

O delegado do Instituto de Fomento do Caju em Nampula, Júlio Langa, disse recentemente que, no ano passado, os factores climáticos contribuíram para a má qualidade da castanha, o que afectou o alcance das metas.

Arroz. Daqui a dois anos, Moçambique poderá deixar de importar arroz e, por essa via, poupar cerca de 200 milhões de dólares anuais, graças a uma nova abordagem que o Governo está a implementar no Vale do Limpopo. O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, encontrou-se, recentemente, www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

com os diferentes intervenientes da cadeia produtiva.

EXTRACTIVAS Exploração mineira. A afluência aos balcões para o licenciamento mineiro baixou nos primeiros três meses de 2020, comparativamente ao primeiro trimestre do ano anterior, devido aos efeitos da pandemia da covid-19.

O número de pedidos situou-se nos 134 entre Janeiro e Março deste ano, contra 177 no período homólogo de 2019.

Dos pedidos que deram entrada nos primeiros três meses do corrente ano, 77 foram autorizados, dos quais 45 em benefício de nacionais, segundo Adriano Sênvano, director-geral do Instituto Nacional de Minas (INAMI).

Auditoria. O Governo moçambicano arrancou com a auditoria às contas das petrolíferas que exploram gás e petróleo no Sul e Norte do país, após suspeitas de que os custos estariam a ser inflacionados. De facto, em relação à auditoria aos custos recuperáveis da petroquímica sul-africana Sasol, nos blocos Pande e Temane, na província de Inhambane, segundo a Conta Geral do Estado de 2019, os resultados preliminares apuraram que para 2017, dos 148,7 milhões de dólares reportados pela empresa como recuperáveis, cerca de 50,5 milhões de dólares não são elegíveis à recuperação. E para 2018, dos 114,4 milhões de dólares, o Governo não reconhece cerca de 49,3 milhões de dólares, totalizando 99,8 milhões de dólares que Executivo considera a mais. O custo recuperável é deduzido em impostos que as petrolíferas pagam ao Estado. Assim, quando as empresas o inflacionam reduzem o encaixe de receitas para os cofres públicos.

OPINIÃO

Paradoxos da Globalização, Economia Deprimida ou Crise Paradigmática?

Releitura Crítica sobre um Futuro de Incertezas

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Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique ontexto actual conturbado, instável e gelatinoso. O elemento inspirador para a elaboração deste artigo de reflexão foi a leitura do livro intitulado “O Fim das Certezas”, de Ilya Prigogine (1996), químico russo naturalizado belga, vencedor do Prémio Nobel de Química de 1977, pelos seus estudos em termodinâmica de processos irreversíveis, com a formulação da teoria das estruturas dissipativas. Na sua obra, tratou do conceito “tempo” no âmbito da ciência contemporânea e refere-se a uma ciência dos processos irreversíveis que está apenas a começar, ciência capaz de pensar fenómenos como a idade do universo e mesmo a “morte térmica”, que seria o elemento indutor da origem do universo.

Apesar dos alertas de Prigogine, não nos preparámos adequadamente para compreender e analisar os processos instáveis e de não equilíbrio a que está associada uma flecha do tempo, ou seja, negar a possibilidade de simetria entre passado e futuro. Ele defende o fim da concepção determinista da natureza, com as suas leis estáveis, em proveito da explicação probabilística, que evidencia a instabilidade, o caos e o dinamismo dos processos físicos. O sucesso da aplicação dessas ideias a processos físicos e químicos tornou possível a sua extensão para outras áreas como a Biologia, a Sociologia e a Economia. Para o autor, estamos hoje no ponto de partida de uma nova racionalidade, que não mais identifica ciência e certeza, probabilidade e ignorância. A vida só é possível num universo longe do equilíbrio, portanto as leis da natureza exprimem possibilidades em vez de certezas. E é sobre instabilidade, incertezas e múltiplas possibilidades que este documento trata.

A globalização é um fenómeno multifacetado que pode ser

entendido como uma interpenetração, à escala global, de factores económico-financeiros, em especial capital, produção de bens e serviços, e de elementos político-culturais através do intercâmbio de ideias, tecnologias e valores da cultura dominante. Não é por acaso que o dólar norte-americano é a moeda forte, o inglês é a língua franca da globalização, Nova York é a praça financeira de eleição, Silicon Valley é a “Meca da Tecnologia”, Hollywood é o apogeu da cinematografia. Os modelos de democracia liberal do Ocidente, a economia de mercado e a promoção dos direitos humanos são os principais valores do paradigma dominante a ser massificado cuja forma de operacionalização são as instituições de “Bretton Woods” (FMI, Banco Mundial), OMC, TPI, a sociedade civil planetária, os media independentes, bem como as corporações transnacionais que se baseiam em princípios de vantagem comparativa e maximização de dividendos.

A porosidade das fronteiras perante os fluxos de capitais, as cadeias de suprimentos de bens e serviços, mão-de-obra, tecnologias de informação e comunicação são algumas das características principais do processo de globalização, numa conjuntura marcada pela volatilidade dos mercados, pela impotência dos Estados em tratar de assuntos financeiros, pela erosão parcial do conceito de Nação num contexto económico e social impregnado de riscos, incertezas e instabilidade.

O contexto das duas primeiras décadas do século XXI está a assistir a duas grandes alterações na lógica do poder: uma relacionada com a transição de poder entre Estados; a outra, uma difusão de poder que se afasta de todos os Estados para as mãos de intervenientes não estatais. No xadrez da economia global, a

No xadrez da economia global, a balança tem estado a pender para o lado da Ásia, “uma grande mudança de rumo em direcção ao Oriente”, com o crescimento estrondoso da China

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Donald Trump e XiJinping ¯ um ódio de estimação que não tem nada de pessoal, pelo contrário. A luta aqui é pelo primeiro lugar das maiores economias mundiais

balança tem estado a pender para o lado da Ásia, “uma grande mudança de rumo em direcção ao Oriente”, com o crescimento estrondoso da China (The Economist, 2013), que é um dos maiores beneficiários da globalização, tendo tido acesso aos mercados mundiais, a competências profissionais, a tecnologias, a investimentos e a novas ideias.

A Ásia está apostada em recuperar a sua posição como maior pólo económico global, como já controlava em 1820, potenciando as relações comerciais e económicas, estabelecendo alianças estratégicas com os seus parceiros, evitando entrar em confrontos e guerras dispendiosas e projectando o seu “poder suave”1 (Nye Jr., 2012), assente na diplomacia, apoio económico, tecnologias e investimentos estratégicos.

A expansão do terrorismo, o efeito das alterações climáticas, as crises financeiras globais e o branqueamento de capitais, o dinamismo económico dos países emergentes, o desafio energético, as crises epidemiológicas e o ritmo estonteante das disrupções tecnológicas continuam a impulsionar a globalização e a injectar uma nova adrenalina no contexto do século XXI. Novos problemas vieram adensar os já existentes, como a fome, miséria, pobreza, desigualdades sociais e desemprego, em muitos países que insistimos em denominar, eufemisticamente, de “em vias de desenvolvimento”.

Precisamos de entender melhor a relação entre poder militar, poder económico, influência diplomática e as relações transnacionais, estas últimas envolvendo grandes corporações multinacionais, ONG´s influentes, banqueiros poderosos, terroristas impiedosos, piratas informáticos, “media intrusiva e evasiva”, entre outros actores, que se encontram fora do controlo dos governos. A ascensão de outros países e actores económicos e sociais, que estão a conquistar poder político e económico onde até recentewww.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

mente os EUA eram a potência incontestável, está a gerar turbulência e movimento intenso nas placas tectónicas.

1. Crises afectam a correlação de forças ao nível global À medida que a economia americana ficou abalada e a China continuou a crescer depois da recessão de 2008-09, foram muitos os analistas a defender que o domínio económico americano será reduzido em 2025, ao ponto do prestigiado Goldman Sachs projectar que, em 2050, o PIB da China ultrapassará os 70 biliões de USD, ou seja, será 80% superior ao dos EUA, e que as estimativas indicam que os EUA serão o único membro do actual G7 que ainda se qualificará como uma das sete maiores economias mundiais, em que as outras serão a China, Índia, Brasil, Rússia, Indonésia e México (The Economist, 2013).

Como muito bem reconhece Nye Jr. (2012), a mudança do equilíbrio global de poder não depende apenas do crescimento do PIB dos países, mas também de outros factores como, por exemplo, o poderio militar, influência geopolítica, fortes alianças políticas e/ou económicas regionais ou globais, e capacidade de influenciar decisões nas organizações multilaterais (como ONU, BIRD, FMI, OMC, OCDE, NATO).

Não é por acaso que os EUA têm criticado a crescente influência da China sobre a OMS, um debate que se tornou ruidoso no âmbito da expansão da pandemia de Covid-19.

Na nova era digital, as inovações, tecnologias e novas relações estão a redefinir o poder no século XXI, tendo, não apenas de incluir o poder militar, mas também de contar com o contributo de intervenientes não governamentais, em que a era da cibernética criou uma nova fronteira de poder entre os Estados e deles com outros actores.

No início do século XXI, os EUA detinham cerca de 25% da

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OPINIÃO riqueza mundial, 5% da população e eram a mais poderosa nação do mundo. Todavia, a riqueza e influência de outros país têm vindo a aumentar, com destaque para a China, Índia, Brasil e Rússia, o que mostra que apesar de ser ainda um país poderoso, os EUA não possuem actualmente a hegemonia que tinham no passado, e que há limites ao seu poder que devem ser compreendidos e reconhecidos.

A globalização económica, a consistência e resiliência do modelo de desenvolvimento económico asiático, os novos contornos da revolução tecnológica, a crise económica e financeira global e os efeitos negativos da COVID-19 estão a fazer com que o domínio económico e cultural dos EUA esteja, hoje, significativamente reduzido.

A visão de Nye Jr. (2012) é que não se está perante uma narrativa de declínio americano, considerando pouco provável que os EUA venham a cair ou a ser ultrapassados por outros Estados, incluindo pela China. O que o autor acredita é que a nação americana terá de encontrar uma nova estratégia para lidar com a ascensão de outros actores, entre eles a China e intervenientes não estatais, por via da adopção de um poder inteligente, que resulta da combinação de um poder suave (influência cultural, valores políticos e política externa) e poder duro (intervencionista, militar, com penalizações e sanções).

A perspectiva exposta por Nye Jr. é corroborada por Marshall (2017), que reconhece que, pelo menos há três décadas, é frequente prever-se o declínio iminente ou em curso dos EUA, que está prestes a tornar-se auto-suficiente em energia, continua a ser a potência económica dominante e gasta mais em investigação e desenvolvimento para o exército que os orçamentos militares de todos os países da NATO juntos. A sua população não está a envelhecer como a da Europa e a do Japão, são o país que consegue atrair muitos emigrantes com competências para promover o desenvolvimento económico e no seu território acolhem algumas das melhores universidades do mundo. Portanto, a visão que advoga o declínio do poderio americano deve aguardar até que a evidência empírica o confirme de forma incontroversa.

Mas, afinal, porque razão, quer Nye Jr., quer Marshall são relutantes em atribuir à China a hegemonia futura no mundo, e não aos EUA? Por que é que os dois autores insistem muito em reconhecer que, não obstante o facto da influência americana estar a reduzir significativamente, os EUA vão continuar a ser a potência dominante? Quem procura explicar isso é Acemoglu & Robinson (2013), recorrendo ao caso da Ex. URSS. Os autores referem que, entre 1920 e 1960, o rendimento nacional do país aumentou 6% ao ano, provavelmente o mais rápido surto de crescimento económico da História, até à data. Só que esse crescimento não foi gerado por mudanças tecnológicas, mas pela reafectação da mão-de-obra e por acumulação de capital, através da criação de novas ferramentas e fábricas.

Até Paul Samuelson, laureado com o Nobel de Economia, vaticinava que o rendimento nacional soviético ultrapassaria o dos EUA, ou em 1984 ou, o mais tardar, em 1987, o que não veio a suceder. Pelo contrário, a queda do “Muro de Berlim” precipitou a derrocada do império soviético. Apesar de a ex-URSS ter conhecido um ritmo de crescimento espectacular e impressionante, Acemoglu & Robinson defendem que o crescimento económico num contexto de instituições extractivas é muito improvável que resulte num crescimento sustentável, se não forem realizadas transforma-

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Pelo menos há três décadas que se prevê o declínio iminente ou em curso dos EUA que terão de se reinventar para não serem ultrapassados. Especialmente em África ções políticas fundamentais e profundas, que propiciam o ambiente fértil para a inovação e o empreendedorismo.

Eles estabelecem paralelismos entre o caso da ex-URSS, entre as décadas 1920 e 1960, e o da China actualmente, só que não explicam que o modelo económico adoptado pela China é baseado na economia de mercado com predomínio do Estado (Socialismo Com Características Chinesas), enquanto na ex-URSS era de planificação centralizada.

2. Perda relativa de influência americana não é sinónimo da sua queda A partir do final da 2ª Guerra Mundial, segundo Noam Chomsky (2016), os EUA afirmaram-se como a potência hegemónica global, mesmo tendo de conviver, até ao início da década 1990, com o facto de a URSS ser a outra potência militar e com uma ideologia política e económica distinta. Foi sob a sua liderança que foi erguida a actual ordem económica internacional, mas esse poder dos EUA tem vindo a decrescer relativamente. Chomsky advoga que desde 11 de Setembro de 2001, com a destruiçãodas Torres Gêmeas de “World Trade Center”, em Nova York, pela Al Qaeda de Osama Bin Laden, o balanço de www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

gerar novos empregos de qualidade e baixo crescimento, em vez de excessivo “deficit” orçamental, e a China está a procurar construir uma versão modernizada da antiga “Rota da Seda”, projectando o seu poder e influência até ao Golfo Pérsico, através de um sistema energético e comercial asiático integrado, com portos estratégicos, oleodutos e extensas linhas ferroviárias de alta velocidade. Neste novo xadrez, quem efectivamente tem o potencial de ameaçar a hegemonia americana é a China.

forças vem pendendo por vários lados, incluindo os EUA, a China, os países islâmicos e a Europa Oriental, que são jogadores activos na disputa pelo controlo do mundo, e cada um desses eixos vem exercendo alguma influência.

No entanto, a hipótese de que o poder vai mudar de mãos para a China e Índia é bastante improvável, pois são países ainda com muita pobreza e com grandes problemas internos, sendo de realçar, na China, a questão das liberdades, direitos humanos e democracia, e na Índia os conflitos étnicos, religiosos e instabilidade fronteiriça.

Não obstante existirem focos de poder a deslocar-se para o Leste, oriente, China e Índia, é preciso relativizar essa tendência e colocar em perspectiva o facto de em 1950 os EUA e a Europa Ocidental terem assumido a liderança económica, representando conjuntamente 60% do PIB mundial, quadro que prevaleceu até ao final dos anos 1970, quando os EUA desceram um pouco (quedando-se em 25%), e o Japão teve o seu “boom” da industrialização, liderado pela inovação tecnológica1. Na verdade, o mundo industrial estava a tornar-se tripolar, com os principais centros nos EUA, Europa e Ásia, à época com o Japão como o líder asiático.

Apesar do declínio norte-americano ser uma realidade, este país continua a ser, por larga margem, o maior poder do mundo e a potência ainda dominante e, exceptuando a China, não há competidores à vista nas frentes geoestratégica, militar e económica. Lawrence Summers, reputado economista de Harvard, entende que o problema principal dos EUA é muito mais a fraca capacidade de www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

3. Prenúncio do declínio do Ocidente ou crise do paradigma dominante?

Dambisa Moyo (2012) mostra como as nações economicamente mais poderosas do mundo viram a sua posição política, poder militar e influência económica declinar ao longo do tempo, devido a três razões principais, a saber: (i) as suas escolhas políticas e militares ilusórias e limitadas (sobretudo os EUA), ignorando as economias emergentes com as quais hoje concorre; (ii) o “achatamento” do mundo (na acepção defendida por Thomas Friedman, 2005), que resultou na redução dos custos de transporte e comunicações, facilitando sobremaneira o processo de transferência de tecnologia e permitindo a emergência de “novos actores económicos globais”, e; (iii) nos últimos 50 anos os países desenvolvidos adoptaram políticas económicas erráticas e falhadas, que reduziram o seu prestígio, a sua influência geo-política e a sua prosperidade económica, ao ponto de despontarem e se afirmarem a China, Índia, Rússia ou alguns outros países do Médio Oriente, da Europa do Leste ou do Sudeste Asiático. Para Moyo, a crise financeira de 2008 não foi um episódio isolado e fortuito, mas a consequência inevitável de falhas e mudanças na geografia e economia do poder, marcando uma nova etapa na transição de um poder económico para outro, ou seja, do Ocidente para os Emergentes.

Tendo como elemento central de análise a pandemia do novo coronavírus, Boaventura de Sousa Santos (2020) vai mais longe e busca uma interpretação da sociedade e economia em que vivemos. Ele defende que o Covid-19 não é uma situação de crise claramente contraposta a uma situação de normalidade, tendo em conta que desde a década de 1980, e à medida que o neoliberalismo se foi impondo como a visão dominante do capitalismo e este se foi sujeitando à lógica do sector financeiro, o mundo tem vivido em permanente estado de crise. A crise financeira permanente é utilizada para explicar os cortes nas políticas sociais (saúde, educação, previdência social) ou a redução dos salários, com a finalidade última de legitimar a escandalosa concentração de riqueza e boicotar medidas eficazes para impedir a eminente catástrofe ecológica.

Por opção ideológica, foram deliberadamente fragilizados os serviços públicos e políticas sociais – acusando o Estado de ser predador, ineficiente e corrupto – ditados pelas políticas de ajustamento estrutural e austeridade sob pretexto da crise financeira do Estado, incluindo a privatização dos serviços públicos e o sub-financiamento dos que restavam por não interessar ao capital. Em muitos países, os serviços públicos de saúde estavam mais bem preparados para enfrentar a pandemia há 20 anos do que estão hoje, em que os Estados estão sem capacidade efectiva para responder a problemas como os ditados pelo novo coronavírus.

Segunda parte deste artigo continua na próxima edição da E&M

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OPINIÃO

A Pandemia Covid-19 como acelerador da transformação do gás natural

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Victor Manuel Perez • EY Global Gas Leader & Mediterranean Energy Sector Leader pandemia covid-19 forçou vários governos a implementar “lockdowns”, regras de distanciamento social e outras medidas relacionadas para conter a propagação do vírus. Isto provocou um abrandamento global sem precedentes na actividade industrial, no comércio, no consumo e no fluxo de pessoas, levando a uma redução significativa do consumo global de energia, que diminuiu 3,8% no primeiro trimestre de 2020 quando comparado a 2019.

A crise sanitária e económica gerada pelo Covid-19 afectou a procura global de LNG, provocou disputas contratuais, perturbou os fluxos comerciais e influenciou os planos de investimento dos projectos. À medida que os preços atingem mínimos recorde, os mercados globais de LNG vêem os cortes e as limitações nas instalações de produção como as únicas formas de ajudar a reequilibrar a procura e a oferta.

O primeiro trimestre registou reduções significativas na procura global de LNG. A procura de gás natural diminuiu cerca de 2% no 1º trimestre face ao período homólogo, sendo a China, a Europa e os EUA os mais afectados. A procura de gás natural na Europa e nos EUA diminuiu 2,6% e 4,5% no primeiro trimestre relativamente ao mesmo período do ano passado. As importações chinesas de LNG, por seu turno, caíram 3% a 4% em termos homólogos em Janeiro e Fevereiro. Esta redução da procura está a levar a cancelamentos dos contratos de fornecimento de LNG de longo prazo e aos adiamentos de carga por parte dos países importadores, que invocam cláusulas de força maior. Além disso, o excedente da oferta, associado à redução da procura, está a resultar numa forte queda dos preços do LNG. No Norte da Ásia, por exemplo, estão no mínimo recorde abaixo dos $2/MMBtu, caindo 63,5% desde o início do ano. Da mesma forma, o preço europeu do TTF tem estado na média mais baixa do 1º trimestre desde a sua criação em 2003 (3,10 $/MMBtu), enquanto o Us Henry Hub tem registado a sua média de 1º trimestre mais baixa desde 1999 (1,90 $/MMBtu).

A diminuição da procura de gás e dos preços está também a afectar o financiamento de novos projetos de liquefacção que são por definição intensivos em capital.

As empresas estão a reduzir as suas despesas para 2020 e a rever ou a atrasar os seus planos de projecto de LNG. A ExxonMobil e a Royal Dutch Shell anunciaram cortes no seu capex de 30% e 20%, respectivamente, para 2020.

Da mesma forma, a BP adiou, por um ano, o cronograma do projecto Tortue FLNG, enquanto a Qatar Petroleum adiou o desenvolvimento do terminal de LNG de Ras Laffan North Field para 2025. Além disso, alguns fornecedores foram forçados a reduzir a produção face ao excesso de oferta de LNG. No curto prazo, a fraca procura e os preços spot deprimidos poderiam dar aos compradores de LNG mais poder de negociação e acelerar a transição para um mercado baseado em modelos de hub, caracterizado pela volatilidade dos preços spot e pelo aumento do papel dos traders no futuro próximo. Estes factos aceleram a tendência para transformar os modelos operacionais para o novo contexto. Por outro lado, preços baixos prolongados do LNG poderão incentivar vários países importadores de gás a mudar de carvão e petróleo para gás, contribuindo potencialmente para o crescimento do mercado de LNG no futuro. Considerando estes vários factores, a procura de LNG deverá ainda mostrar uma resiliência impressionante em 2020, em comparação com outros mercados de matérias-primas.

“Esperamos que o mercado de LNG cresça cerca de 19 bcm este ano, o que equivale a um crescimento de 4%.

Comparativamente ao ano passado, quando a procura cresceu 47,5 bcm face ao ano anterior, a uma taxa de 11%”, estima a S&P Global Platts Analytics.

De facto, a procura de LNG tem dado bons sinais, à medida que a China reabre a sua economia e a Europa reaviva a sua indústria. Estes são sinais positivos de calma após a tempestade, numa indústria onde as situações de excesso de oferta têm sido absorvidas em menos tempo do que o esperado. Os próximos meses prometem ser cruciais quanto à duração e seriedade do cenário actual, mas uma coisa é certa: esta crise está a agravar o excesso de oferta já existente, e irá possivelmente forçar mudanças mais rápidas do que o esperado no equilíbrio global da oferta/procura de gás, na formação de preços e na dinâmica competitiva.

Preços baixos prolongados do LNG poderão incentivar países importadores de gás a mudar de carvão e petróleo para gás, contribuindo potencialmente para o crescimento do mercado de LNG

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oil & Gas “Relevância do gás mantém-se intacta para a Galp e para o mundo” Paulo Varela PCA da Galp Energia

Para já, nem os ataques terroristas e muito menos a pandemia põem em causa o avanço dos projectos de gás de que a Galp faz parte na bacia do Rovuma

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Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R om a pandemia a invadir a península de Afungi, onde têm lugar os projectos de gás natural, chegaram as dúvidas sobre o futuro destes empreendimentos.

Em finais de Maio, um estudo da CTA – entidade que representa oficialmente o empresariado nacional –, sobre o impacto do novo Coronavírus na actividade de exploração de gás, revelou que o projecto da plataforma flutuante Coral Sul, por exemplo, de que a Galp faz parte, poderá atrasar dois a três meses, embora se mantenham as perspectivas de início da exploração para 2022. A Exxon Mobil, que já tinha adiado a Decisão Final de Investimento do projecto do complexo Mamba na Área 4 (que estava prevista para Abril passado), projecta um corte de 30% nos custos, devido à queda do preço do petróleo e do gás nos mercados internacionais.

Olhando à indústria extractiva no seu todo, o estudo da CTA apurou que cerca de 160 Pequenas e Médias Empresas subcontratadas pelos grandes operadores do sector estão a registar perdas significativas de facturação, estimadas, para já, em 12,6 milhões de dólares até ao momento.

Por outro lado, os custos das empresas aumentaram entre 30% e 50% devido à implementação dos planos de prevenção do covid-19 e gestão de pessoal.

Para a mitigação dos efeitos da pandemia na indústria extractiva, a CTA propõe um conjunto de medidas que incluem a criação de uma

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unidade de diálogo entre as empresas que exploram recursos minerais e as instituições públicas que tutelam o sector, nomeadamente o Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) e o Instituto Nacional de Petróleos (INP). Estas medidas servirão para avaliar as condições particulares que o país tem para enfrentar o problema de ‘economicidade’ dos projectos; a flexibilidade do Governo em relação aos vistos no sector de hidrocarbonetos, considerando a natureza da rotatividade e o controlo rigoroso dos seus colaboradores nas empresas; e o alívio da carga salarial das empresas destes sectores, por via do INSS, por um período de 6 meses, sujeito a prorrogação, dependendo da evolução da pandemia nos próximos meses.

Mas não é só com o novo Coronavírus que a indústria extractiva, particularmente a exploração de gás, se debate. Há que registar também os ataques armados que se assistem desde 2017 em Cabo Delgado, nos distritos bem próximos dos campos de exploração de gás. Agora mais intensos, os ataques levaram, inclusive, os analistas da Economist Intelligence Unit a traçarem cenários que desacreditam o avanço dos projectos, pelo menos nos timings previstos. Em relação a ataques, o presidente executivo da Galp Energia, Carlos Gomes da Silva, já havia manifestado, em meados de Fevereiro passado, confiança na capacidade das autoridades moçambicanas em resolver a questão, ainda que sem desvalorizar o seu efeito destrutivo.

64

Postos de abastecimento de combustível da Galp Energia distribuídos pelo país, onde a empresa está presente desde 1957

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ENERGIA

Esta confiança em persistir volta agora a ser manifestada, mas já em relação ao impacto da pandemia. O PCA da Galp Moçambique, Paulo Varela, na entrevista que concedeu à E&M, afirma que não irá alterar os planos de produção da empresa, mesmo reconhecendo o seu efeito devastador.

Que mudanças, na postura empresarial, a pandemia trouxe nas operações da Galp em Moçambique, sobretudo na Bacia do Rovuma?

Estamos a viver uma situação inédita na História moderna, com impactos ao nível global, na sociedade e na economia, aos quais Moçambique não está imune. Contudo, a pandemia do covid-19 em nada alterou o nosso foco em continuar a crescer no país. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Mantemos, como eixos centrais de crescimento da Galp Energia nas próximas décadas, os projectos de gás natural da Bacia do Rovuma, que são determinantes para a transformação do perfil de produção da Galp em harmonia com a transição global para um modelo energético mais sustentável. Os trabalhos preparatórios destes projectos prosseguem na província de Cabo Delgado, apesar da necessidade de poderem ser reajustados alguns dos seus pressupostos face à nova realidade que estamos a viver.

Todos estes projectos mantêm intacta a sua relevância para Moçambique, para a Galp e para o próprio sistema energético mundial. O gás natural é imprescindível na transição para um modelo energético mais

sustentável e estamos convictos que os méritos destes projectos são mais do que suficientes para assegurar que eles se tornarão uma realidade.

Então, pode-se ainda esperar que a agenda de investimentos previstos para este ano nos diferentes projectos de exploração prossiga? O que vai acontecer?

Apesar desta situação complicada para todos, o potencial de Moçambique no âmbito dos recursos minerais, hídricos, energéticos, agrícolas, turísticos, entre outros, permanece inalterado. O início da produção offshore de gás natural liquefeito, já em 2022, também vai impulsionar o crescimento económico assim como os investimentos já em curso (e os que se perspectivam) para a produção

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Macro A Galp no Rovuma Multinacional portuguesa concentra, na Área 4, grande parte dos seus interesses em Moçambique Coral Sul ENH

Kogas

70%

10%

10%

10%

ENI

Galp

2023

Entrega do navio flutuante de produção de GNL Mamba Kogas

10%

“O gás natural é imprescindível na transição para um modelo energético mais sustentável e estamos convictos que os méritos destes projectos são mais do que suficientes para assegurar que eles se tornarão uma realidade onshore, em Cabo Delgado. Vamos também continuar a poder tirar partido da localização privilegiada dos nossos portos, linhas férreas, rodovias e instalações logísticas para continuar a servir os países vizinhos, potenciando muitos investimentos que têm sido feitos nestas áreas, inclusive pela própria Galp.

Estamos confiantes na capacidade de adaptação e superação de que o povo moçambicano já deu provas. Nós cá estaremos para fazer a nossa parte.

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E como é que está a reagir o negócio do abastecimento do mercado em combustíveis?

Importa referir que, não obstante as dificuldades e desafios resultantes das muitas restrições e limitações decorrentes desta mesma pandemia, todas as nossas operações logísticas e comerciais mantiveram um nível de prontidão e eficiência assinalável, garantindo o fornecimento ininterrupto em todos os nossos postos de

Galp

enh

10%

10%

20%

25%

25%

CNODC

Exxon Mobil

Eni

2025

Ano de início de funcionamento das duas unidades terrestres de liquefacção de gás fonte Galp

abastecimento de combustíveis e a todos os clientes ao longo do país, Qual é o impacto ao nível da facturação?

A imposição de restrições à mobilidade e circulação de pessoas, bem como o fomento do trabalho remoto, têm impacto na redução do trânsito e um efeito directo no consumo de combustíveis. Nesta altura ainda é cedo para fazer balanços. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Números em conta 52%

Quando volta a vida ao normal? das batalhas da medicina na linha da frente ao distanciamento social da família, amigos e colegas de trabalho, o covid-19 causou, como sabemos, ondas de choque massivas na vida quotidiana. Do simples facto de passarmos a pensar duas vezes antes de abraçar os nossos entes queridos até ao adiamento de viagens, há todo um universo de novas questões que se colocam com um grande ponto de interrogação que todos já colocámos, pelo menos uma vez, no pensamento: será que alguma vez voltaremos ao normal?

A resposta não é clara, nem definitiva.

O jornal New York Times entrevistou 511 epidemiologistas e especialistas em doenças infecciosas dos EUA e do Canadá, e as suas opiniões sobre quando se poderá esperar retomar uma série de actividades típicas são surpreendentes. Ou nem por isso, se atendermos ao que vamos ouvindo e lendo no dia-a-dia.

Especificamente, foi perguntado a este grupo de epidemiologistas quando poderiam recomeçar pessoalmente a realizar 20 actividades diárias comuns.

As respostas, baseadas nos últimos dados disponíveis publicamente com fundo científico, variaram com base em hipóteses em torno dos planos locais de resposta a uma pandemia. Os peritos observaram também que as suas respostas mudariam em função dos tratamentos potenciais e dos resultados dos testes nas suas áreas locais.

O desejo de estar ao ar livre é bastante claro, com 56% dos inquiridos na esperança de fazer uma viagem de carro nos próximos três meses. Entretanto, 31% sentem que já podem fazer caminhadas ou ‘aventurar-se’ num piquenique com os amigos, citando a necessidade de “ar fresco, sol, socialização e uma actividade saudável” para ajudar a manter a saúde física e mental durante este período.

Os transportes públicos e as viagens são um aspecto que tem sido colocado em espera, quer seja de avião, comboio ou automóvel. E muitos dos epidemiologistas inquiridos lamentaram também a tensão que a pandemia tem gerado nas relações.

Por outro lado, há actividades que consideram demasiado arriscadas, como a participação em casamentos ou concertos. No entanto, a descoberta mais surpreendente é a de que 6% dos epidemiologistas não esperam jamais abraçar ou apertar a mão como saudação.

22

43%

42% 43% 42% 42% 39% 41%

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Nunca mais

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FONTE Visual Capitalist; New York Times

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OPINIÃO

A Sobrevivência das PME no Contexto da Covid-19

O

Virginia Cardoso • Head of Small and Medium Enterprises mundo está a assistir a uma calamidade de saúde pública, causada pela pandemia Covid-19, que traz consigo um impacto económico sem precedentes. Mudanças nos hábitos e padrões de consumo, alterações nos modelos de trabalho e incremento do uso de tecnologias de informação e comunicação são alguns dos factores que têm impactado quase todas as economias – desenvolvidas e em desenvolvimento.

Estas alterações repentinas e dramáticas têm afectado em especial as PME, que correspondem a quase 90% do tecido empresarial mundial. Com a diminuição da procura e com sérias limitações ao seu normal funcionamento, estas vêem as suas vendas reduzidas a níveis de entre 50% a 100%, nomeadamente no caso de negócios relacionados com Turismo, Hotelaria, Restauração, Entretenimento, entre outros.

Moçambique não se encontra alheio a esta realidade e a questão relevante que se coloca é a da sobrevivência – O que é que as PME podem fazer para se manterem operacionais e superar mais esta crise?

A resposta é estender ao máximo possível a liquidez disponível. Várias são as opiniões, mas todas convergem no ponto de liquidez suficiente para manter as operações mínimas.

Como fazê-lo? Numa economia como a de Moçambique, com forte dependência externa, a implementação de programas de apoio no âmbito do covid-19 ainda pode levar algum tempo. Contudo, as PME precisam de apoio agora. É preciso pensar em soluções imediatas, enquanto se espera que tais programas sejam definidos e implementados.

A primeira proposta de solução passa por renegociar custos – rendas, fornecimentos, financiamentos e, sim, salários.

Os programas de moratória que alguns bancos estão a oferecer permitem estender os prazos de pagamento e preservar a liquidez no imediato. O mesmo se aplica à renegociação de rendas a pagar, alongamento de prazos de pagamento a fornecedores e também o redimensionamento da força laboral. A utilização máxima das linhas de financiamento existentes também permi-

te que o capital próprio destas empresas seja utilizado como liquidez adicional. Um factor importante a ressaltar é a utilização de capitais de terceiros, não apenas em momentos de crise, mas como uma prática habitual.

Se considerarmos empresas que nunca obtiveram financiamento, dificilmente o conseguirão nesta altura, pois os critérios estão mais acautelados e, portanto, um bom histórico de financiamento ajuda claramente na decisão.

Os activos da empresa devem trabalhar a seu favor na geração de receitas. Tem um imóvel ou activo que possa utilizar como garantia para um financiamento? Ou, por outra, tem um imóvel que não pode utilizar agora? Arrende-o.

Tem um transporte escolar? Redireccione-o para outra actividade. Utilize os activos da empresa ao máximo!

Não se pode deixar de considerar os programas de suporte às PME, fundamentais para a extensão da liquidez.

Actualmente, o Governo implementou algumas medidas de apoio, entre as quais a linha de 500 milhões de dólares para os importadores e uma linha de financiamento para o Agronegócio, com o modelo operacional ainda por definir.

No entanto, a pandemia não traz consigo apenas desafios, mas também um conjunto de oportunidades. É altura de olhar à volta e repensar modelos de negócios mais eficientes e inovadores, novas formas de interagir com os clientes e, quem sabe, novos mercados por explorar.

O negócio de restauração passou a considerar a componente de entregas ao domicílio, que antes era feita quase apenas por pequenos restaurantes com o modelo de “comprar e levar”. O negócio retalhista passou a considerar o modelo de vendas online. E porque não criar uma empresa de entregas para servir a este novo modelo? Há oportunidades que podem sair desta situação.

Uma coisa é certa: todos os negócios devem repensar o seu modelo digital e expandir a sua presença na social media – é aí onde os negócios hoje estão a ser e serão feitos.

Com a pandemia, ficou claro que temos de ser capazes de chegar aos nossos clientes por via digital, uma realidade que agora se tornou imperativa.

Numa economia como a de Moçambique, com forte dependência externa, a implementação de programas de apoio ao covid-19 ainda pode levar algum tempo.

Contudo, as PME precisam de apoio agora. É preciso pensar em soluções imediatas

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Nação

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apoio À economia

Quanto custa o resgate à Economia?

Governo, sector privado, banca e parceiros internacionais de cooperação já accionaram alguns instrumentos para limitar ao máximo as perdas que o novo Coronavírus ainda vai impor nas contas do país. Até agora, o debate em torno das prioridades não tem números exactos, mas há três que já escrevem a história deste percurso: os 700 milhões de dólares que o Governo, muito cedo, anunciou serem necessários; os 1,5 mil milhões que o empresariado estima que lhe podem aliviar a pressão e os 1 189,6 milhões que já entraram, de várias fontes, na economia nacional

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Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.

oucos dias após a sua aprovação pelo Parlamento, o Orçamento do Estado de 2020 viria a ser chumbado, não oficialmente, mas pela confirmação do primeiro caso de infecção pelo Covid-19 em Moçambique, que veio deitar abaixo o cabimento orçamental de 345,4 mil milhões de meticais em despesas do Estado inicialmente projectadas. Subitamente, eram necessários mais recursos para enfrentar uma pandemia que apanhou o mundo desprevenido.

Ciente disso, o Executivo lançou, para muitos demasiadamente cedo, as estimativas do valor que seria desejável mobilizar para enfrentar a pandemia: 700 milhões de dólares.

Hoje, com o amadurecer do debate sobre o que fazer para devolver estabilidade à economia, fica claro que as necessidades globais estão acima das inicialmente estimadas, até porque ainda não há qualquer sinal de recuo da pandemia, condição que poderia permitir uma retoma em pleno da actividade produtiva.

Garantidos quase 8% do PIB em apoios

Tem-se tornado consensual que a prioridade imediata já não passa apenas pela erradicação do covid-19, mas sim pela busca de mecanismos que não deixem a economia parar por completo e que alavanquem a sua recuperação.

Em Moçambique, além das isenções e descontos de tarifas de electricidade e água, o Governo anunciou até agora www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

1,6 mil milhões de meticais de apoios à economia ¯ 1000 milhões de meticais em dinheiro e 600 milhões em facilidades através do INSS, equivalentes a 22,6 milhões de dólares ao câmbio actual¯, aos quais acrescem várias outras fontes de apoio já asseguradas (algumas das quais ainda por disponibilizar), e em várias moedas, totalizando, pelos cálculos feitos pela E&M, 1 189,6 milhões de dólares (ver infografia da página seguinte).

Sem falar nas já conhecidas facilidades concedidas pela banca através de moratórias ao pagamento das prestações de dívidas e isenções ou descontos nas taxas sobre as transacções financeiras, os 1 189,6 milhões de dólares representam quase 8% do PIB projectado para este ano, avaliado em cerca de 14,5 mil milhões de dólares ao câmbio actual (pouco mais de um bilião de meticais) segundo o Plano Económico e Social para 2020. Apesar de permitir a entrada de montantes expressivos, a natureza da ajuda já anunciada, tanto interna quanto externa, ainda está longe de satisfazer a demanda das empresas. Porquê?

Pouco para os anseios das empresas

Enquanto a CTA fala de um conjunto de necessidades avaliadas em 1,5 mil milhões de dólares, apenas para assistir as empresas, os apoios a serem canalizados pelos parceiros internacionais, que no seu conjunto perfazem 667 milhões de dólares, destinam-se, também, a outros contextos do

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Nação

Em termos práticos, só os 500 milhões de dólares do Banco de Moçambique bem como os 22,6 milhões do Governo e os 14 milhões de dólares de Portugal é que beneficiarão directamente as empresas funcionamento da máquina económica.

Por exemplo, do valor global dos 667 milhões de dólares que chegarão dos parceiros externos – FMI (309 milhões), União Europeia (123 milhões), Suécia (15 milhões), Portugal (14 milhões) e outros 206 milhões de dólares que estão dentro do pacote da ajuda prometida –, só a contribuição portuguesa servirá, garantidamente, para o apoio directo às empresas. A ajuda do FMI destina-se a suprir as necessidades urgentes da balança de pagamentos. A da UE está ainda por definir, enquanto que a da Suécia será destinada à protecção social. Ou seja, os apoios têm, neste momento, várias prioridades, o que dificulta a plena canalização para as empresas.

Em termos práticos, só os 500 milhões de dólares do Banco de Moçambique, cujas condições de acesso são contestadas pelo empresariado, bem como os 22,6 milhões de dólares do Governo e os 14 milhões de dólares de Portugal é que beneficiarão as empresas, o correspondente a um terço das necessidades referidas pelo universo empresarial.

Lá de fora vem mais ajuda

É a boa nova que chega da parte do Governo, que começa por assumir que “é preciso ter em conta que os parceiros internacionais também foram afectados pela pandemia.

Têm problemas que precisam de resolver e, provavelmente, não poderão responder com a celeridade com que gostaríamos que o fizessem”. De acordo com a coordenadora das acções de apoio ao sector privado ao nível do

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Ministério da Indústria e Comércio (MIC), Cerina Mussá, o Governo tem estado a fazer contactos com parceiros bilaterais e multilaterais no sentido de conseguir mais apoios, tendo já negociado e interagido com o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento, ao nível multilateral, e com o Reino Unido, entre outros parceiros ao nível bilateral, que já demonstraram a vontade de assistir Moçambique. “Nos próximos dias deverá chegar a resposta sobre as áreas que vão merecer a atenção dos parceiros e como o farão”, assegura a responsável.

Os recursos escasseiam, outros vão chegando, mas continua a faltar o fundamental. É certo. No entanto, embora já exista algo de visível no apoio às empresas, as medidas tomadas têm merecido alguns protestos por parte do sector privado, que as considera “insuficientes”, o que, desde já, denuncia a dimensão gigantesca dos danos à economia.

O empresariado, através do presidente da CTA, Agostinho Vuma, defende a necessidade de elaboração de planos de longo prazo e mais estruturados, além da criação de um fundo que ajude as empresas a acederem ao financiamento com relativa facilidade. A contradição levou a E&M a questionar a agenda do Governo e o foco para lá da intervenção de emergência, uma prática que também está a ser seguida noutras geografias.

Vários planos sectoriais… nenhum de nível central

A verdade é que não existe um plano único de resposta. O Ministério da Indústria e Comércio (MIC) é o ponto focal na facilitação da interacção entre o Governo e o sector privado, e também da auscultação e sistematização de toda a informação relacionada com o covid-19 e às medidas a serem tomadas para mitigar os seus efeitos. É dentro do MIC que funciona uma comissão ad-hoc que assume a dianteira de todo o processo, da qual é coordenadora a economista Cerina Mussá. “Ao contrário de um plano único de intervenção www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

apoio À economia O dinheiro que o vírus já Movimentou Até meados de Junho foram anunciados mais de mil milhões de dólares (em diferentes moedas e de diferentes origens), para apoiar a economia nacional, representando dois terços do que o empresariado considera necessário para aguentar a pressão sobre as empresas. Mas espera-se mais Em milhões de dólares)

Governo Moçambicano

Banco de Moçambique

22,6$

500$ Total:

Portugal

1189,6$

14$

União Europeia

123$

15$

Outros Parceiros

206$

de médio ou longo prazo ao nível central, a estratégia do Governo, até agora, assenta em vários planos ministeriais específicos”. Ou seja, cada ministério definiu prioridades próprias para dar resposta sectorial aos desafios que se colocam. Sobre a existência ou não de um plano de nível central a fonte disse não estar autorizada a pronunciar-se.

Verdade é que, a existir, o plano global não é perceptível aos olhos da CTA ou de outras entidades que acompanham de perto o mercado. A antiga Primeira-Ministra, Luísa Diogo, defendeu, num programa veiculado na imprensa, ser “necessário que o Governo tenha um plano de resgate das empresas que enfrentam dificuldades”.

Para a antiga governante, agora PCA do Absa Bank Moçambique, “é preciso encontrar formas, dentro do OE, de se suspenderem algumas coisas”. E questiona: “será que a construção de uma sala de aulas, nos próximos dois meses, é tão www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Suécia

FMI

309$

prioritária como o resgate de uma micro-empresa?”. A seguir deixa antever ser este um momento em que “é preciso tomar decisões ousadas, reestruturando algumas áreas”.

Deficiências na interacção?

Existem sinais de que, ao nível da interacção entre as partes, haja aspectos por acertar. Ora vejamos: na entrevista com o Presidente da CTA, Agostinho Vuma, a E&M ficou a saber que o empresariado “desconhecia” a existência de alguns instrumentos aprovados pelo Governo para estimular a economia por via do sector empresarial.

Um exemplo concreto, a este respeito, são os contornos do plano de resgate à economia que o sector privado afirma que o Governo diz ter, e os 1000 milhões de meticais a que já nos referimos, dos quais não se sabe ainda pormenores de como serão disponibilizados às empresas, ou

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Nação

“É preciso olhar para a correlação entre as questões sociais e económicas, sem esquecer que os problemas económicos também têm repercussão na parte social” como estas se podem candidatar a receber estes fundos.

Para não falar do timing (ou da falta dele) em que tudo isto será operacionalizado. Ainda assim, as falhas de comunicação são rebatidas pelo Governo. “O mecanismo de diálogo é diário, através dos diversos meios (telefone, cartas, presencial, etc.). Há uma constante interacção. Há uma estreita comunicação entre as partes. Já apresentaram problemas que foram analisados e, dentro das capacidades do país, tenta-se responder às preocupações do sector privado”, revela a representante do MIC. Entretanto, argumenta que pode haver alguma interpretação equivocada sobre a interacção entre as partes, já que “é preciso notar que, neste processo todo, a tarefa do Governo é bastante complexa.

Também tem de olhar para o impacto social da pandemia, e não reservar total foco em questões económicas.

Por exemplo, há prioridades na Saúde, e é preciso olhar para a correlação entre as questões sociais e económicas, sem esquecer que os problemas económicos também têm repercussão na parte social, como quando as famílias perdem fontes de rendimento”.

Apesar de já serem do conhecimento de todos, vale a pena, neste espaço, lançar um breve olhar às intervenções do Executivo, muitas das quais em resposta à solicitação do sector privado. Também valerá analisar em que medida o sector privado acolhe ou desacredita a intervenção do Governo e que posição sugere que este assuma para minorar o impacto da pandemia na sua actividade.

Além dos 1000 milhões de meticais, cujas condições de

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acesso e toda a burocracia associada estão em preparação pelo Banco Nacional de Investimento (BNI), há o apoio canalizado por meio do INSS através de perdão das dívidas e juros para aliviar os encargos das empresas em cerca de 600 milhões de dólares. Também houve a redução dos custos de electricidade em 50% para os consumidores de categoria social, e em 10% mais o diferimento do pagamento da factura por seis meses, a partir de 01 de Junho corrente, para as PME da categoria dos grandes consumidores de baixa e média tensão, que tenham sofrido uma redução da facturação superior a 30% por causa da pandemia. O Governo também isentou todos os consumidores do serviço público e privado do abastecimento de água durante o Estado de Emergência.

Posição e sugestões do empresariado

Claro que a referência para o que Moçambique terá de injectar na economia não podem ser os mega-pacotes de biliões de dólares anunciados pela UE, os EUA ou China (ler artigo da página 36). E também não há o conforto das contas públicas para igualar o que foi feito na África do Sul com um pacote de estímulo económico de 26 mil milhões de dólares. O que é certo é que com as empresas a funcionar a 25% do seu potencial, a CTA considera que as medidas até agora apresentadas pelo Executivo são “insuficientes, sugerindo medidas que incluem o diferimento do pagamento de impostos; uma redução da factura de energia, visto que a redução em 10%, apesar de bem-vinda, é insuficiente, considerando ideal uma redução de 50%, e a isenção do pagamento da taxa fixa e de potência na factura, ficando esta a basear-se, apenas, no consumo, durante este período de emergência; redução do preço dos combustíveis para aliviar custos operacionais. Sobre a Segurança Social, a proposta da CTA defende a criação de um fundo para cobrir salários dos seus contribuintes. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Nação “Não paremos a economia por causa da pandemia. Coabitemos com ela” Agostinho Vuma Presidente da CTA

O empresariado defende a elaboração de planos de apoio com horizonte no pós-Covid, mas, curiosamente, não está informado sobre a agenda do Governo a esse respeito, embora tenha um plano detalhado do caminho a seguir para se reerguer após a crise

s

Texto de Celso Chambisso • Fotografia D:R: ó uma parte dos instrumentos que o Governo vem anunciando como pacote de estímulo às empresas afectadas pela pandemia é do domínio do sector privado.

Trata-se dos 700 milhões de dólares já anunciados e dos 600 milhões de meticais que serão alocados através do INSS. No entanto, não tem conhecimento dos detalhes sobre como estes instrumentos vão ser operacionalizados a favor das empresas. E também não há qualquer conhecimento sobre os mil milhões de meticais do pacote de ajuda anunciado pelo Ministério da Economia e Finanças, o que prenunciará uma eventual deficiência na coordenação de prioridades entre as partes. Na entrevista com o presidente da CTA, Agostinho Vuma, fica clara a visão que o empresariado tem do caminho para a saída e do seu custo, avaliado em 1,5 mil milhões de dólares.

Com o Covid-19 veio a queda da procura, da facturação das empresas e as falências quase que se generalizam. Muito rapidamente mobilizaram-se medidas de mitigação da crise envolvendo vários actores, sobretudo o Governo e o sector financeiro, mas de longe parecem medidas muito pontuais e não à luz de

um plano de recuperação consistente. Qual é a visão da CTA? Não há dúvida de que é necessário um plano concreto de apoio às empesas por parte do Governo. O Governo diz que tem um plano que está estimado em 700 milhões de dólares, mas nós, o sector privado, não temos detalhes sobre o conteúdo desse plano, embora tenhamos a visão do que deveria estar lá contemplado. Primeiro, é preciso olhar a questão do covid-19 em duas perspectivas. Uma é a mitigação dos efeitos e a outra é o pós-Coronavírus, sem que signifique, necessariamente, o fim da pandemia, mas que as empresas tenham de se adaptar e continuar a operar dentro deste ambiente que não se sabe quando termina, para evitar o colapso da economia. Assim, ao mesmo tempo que as empresas operam com o mínimo de condições possível, através de intervenções de emergência, poder-se-ia preparar o plano pós-Covid para a continuidade, assegurando o funcionamento normal da economia. Na parte da mitigação, as empresas precisam de apoio directo para aliviar a pressão na tesouraria, já que perderam a capacidade de gerar receitas num cenário em que as obrigações como salários, impostos e outros custos fixos se mantiveram.

Mas, logo a seguir, devem ser toma-

“Ainda não foram tomadas medidas profundas que façam as empresas sentirem que o status quo antes e pós-Covid possa sofrer alterações substanciais… de ponto de vista do fundamental, que são as obrigações que as empresas têm para com o sistema, ainda não há resultados visíveis”

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das as acções que visam o restabelecimento da economia.

Como se explica que haja um plano de resgate de empresas do qual o próprio empresariado só ouve falar? E quais os aspectos que o empresariado conhece que estão contemplados no mesmo?

Nesta altura, o Governo diz ter um plano, mas nós não o conhecemos. Sabemos de algumas acções muito concretas que quer implementar, como, por exemplo, a digitalização de todos os processos envolvidos na actividade das empresas, medida que é também defendida pela CTA para o período pós-pandemia, visto que esta será uma nova ordem no funcionamento das empresas. Ao mesmo tempo que as empresas migrarem para a digitalização, o Executivo também deve digitalizar os serviços públicos relevantes para os negócios, o que acaba, também, por contribuir para a melhoria do ambiente de negócios. Neste processo, sim, há alguma comunhão de ideias entre as partes, cientes de que nada mais voltará a ser como antes.

Mas estava a falar dos ‘ingredientes’ que os empresários consideram importantes no eventual plano do Governo para com as empresas…

Um dos aspectos que deveriam ser indispensáveis é a criação de um fundo de garantias que ajude a mitigar o risco de mercado, cuja percepção aumentou com a pandemia. Ou seja, os bancos ficaram mais receosos em emprestar dinheiro às empresas devido www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

sector privado

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Nação à incerteza na evolução da procura no futuro, que, por sua vez, gera incerteza quanto à facturação. Além disso, há focos de aumento de crédito mal-parado e de depreciação cambial, que tornam as condições de endividamento ainda mais apertadas. Para continuar a produzir e fazer com que a economia ande, mesmo com a Covid-19, precisamos de criar instrumentos para lidar com os riscos. E a criação de um fundo de garantias é um dos caminhos apropriados, até mesmo porque a banca, neste momento, tem dinheiro. Ou seja, os níveis de transformação de depósitos em créditos estão em mínimos históricos, significando que há acumulação de liquidez. O Banco Central reduziu a taxa de reservas obrigatórias e libertou liquidez, que também está a ser acumulada pelos bancos comerciais. O que é feito dessa liquidez? Nada. Então, para fazer com que essa liquidez flua em benefício da economia é preciso que se crie um mecanismo necessário ¯ neste caso, o fundo de garantias ¯, que funcionaria para reduzir o custo de financiamento bancário através da partilha de riscos.

Alternativamente, poder-se-ia criar um fundo de financiamento direccionado para as empresas, o que significa que tem de ter níveis de maturidade mais dilatados, entre dois e cinco anos, conforme o tipo de actividade a assistir, e um prazo de deferimento (período de graça) também considerável, com um mínimo de seis meses, para evitar que as empresas comecem a amortizar os empréstimos antes que possam ter retornos dos investimentos (o sobreendividamento).

Pelas contas que se fazem nesta altura, em quanto deve ser fixado o valor dos fundos de resgate que a CTA propõe? Ou seja, quanto dinheiro é necessário para aliviar as dificuldades das empresas?

Somando todas as necessidades de tesouraria do sector empresarial privado e olhando para as obrigações fiscais, para a componente laboral (salários, etc.), custos fixos (electricidade, água, etc.), protecção da renda dos pequenos produtores do sector de exportação (algodão, castanha de caju, feijão bóer, etc.), o valor pode chegar a 1,5 mil milhões de dólares num cenário mais optimista. Mas olhando apenas para as necessidades de alguns sectores que mais sofreram como a hotelaria

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“Já vimos outras crises que ensinaram ao mundo outras formas de viver: os ataques terroristas em aviões mudaram a segurança aérea, a crise financeira mudou a forma de estar das empresas e governos. Com a covid-19 não é diferente. É disso exemplo o teletrabalho e toda a componente de digitalização que tem de ser regulamentada” e restauração, indústria, agricultura e transportes, a factura pode descer para cerca de 800 milhões de dólares.

Então, se os 700 milhões de dólares do pacote governamental da ajuda chegarem podem fazer toda a diferença…

Atenção que aqueles valores podem até contemplar as necessidades empresariais, mas quero acreditar que há muitas questões ligadas à área social e outros aspectos que não estão directamente associados à actividade produtiva das empresas, o que acabaria por diluir o seu impacto. Importa referir que os valores do apoio não

têm, necessariamente, de serem alocados a partir do Orçamento do Estado.

Por exemplo, na área laboral, há valores que poderiam provir do INSS, porque tirar 800 milhões de um Orçamento do Estado já deficitário não seria racional.

Há um mês, o Governo anunciou, no Parlamento, um pacote de apoio às empresas avaliado em mil milhões de dólares, cujos aspectos burocráticos para a sua alocação estão sob a responsabilidade do Banco Nacional de Investimento (BNI). Como tem sido a coordenação com o Executivo sobre as prioridades a serem www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

sector privado que as condições de acesso não são das mais apropriadas, são pouco claras.

Também houve debate sobre as moratórias, em que os bancos comerciais defenderam que não podiam fazer mais do que fizeram, porque afectariam o seu negócio. É aí onde as instituições do Estado, incluindo o Banco Central, devem ter uma palavra a dizer no sentido de partilha de risco.

De que forma?

Por exemplo, ao colocar os 500 milhões de dólares em forma de linha ao invés de estarem à venda, o Banco Central não quer assumir o risco. Passa-o à banca, que vende de acordo com o risco do mercado que, como dissemos, é elevado.

Há sinais bons que vêm de fora. Referimo-nos às linhas de financiamento que têm sendo prometidas por parceiros internacionais. Qual é o ponto de situação nesta altura?

As únicas linhas de financiamento que vêm de fora, até ao presente momento, são dos parceiros de cooperação. Há linhas já anunciadas como a do Fundo Empresarial de Cooperação Portuguesa (FECOP), avaliada em 12 milhões de euros, e outras que deverão ser canalizadas pela Alemanha, União Europeia, etc. Umas já anunciadas e outras não, mas que poderão estar disponíveis. acauteladas à luz destes recursos?

Não temos qualquer informação a respeito. Além do pacote dos 700 milhões a que já me referi, temos também a informação do apoio que nos deve chegar através do fundo do INSS, avaliado em cerca de 600 milhões de dólares, ainda na mesa das discussões, esperando vir a ter detalhes em breve, porque as empresas estão empenhadas em procurar saber como é que esse processo está. E esta linha do INSS vai na perspectiva de protecção dos postos de trabalho. Ou seja, é para ajudar as empresas que estão em dificuldade devido à covid-19 e não as que já faliram por outras razões.

Relativamente à intervenção de emergência, houve uma série de medidas tomadas pelo sector financeiro, através de moratórias e corte das despesas em determinadas transacções, pelo Governo, através de cortes na factura de www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

electricidade e água, alguns impostos e alívio das dívidas com o INSS. Como avalia o seu impacto hoje?

As medidas que já foram tomadas são paliativas. Superficiais. Ainda não foram tomadas medidas profundas que façam as empresas sentirem que o status quo antes e pós-Covid possa sofrer alterações substanciais. É verdade que se sentem alguns resultados de medidas tomadas, como a isenção de taxas sobre as transacções electrónicas, mas do ponto de vista do fundamental, que são as obrigações que as empresas têm para com o sistema, ainda não há resultados visíveis.

Mesmo os 500 milhões de dólares disponibilizados pelo Banco Central, não foram concebidos de forma adequada para o que era necessário. Porquê?

Havia falta de moeda estrangeira e o Banco de Moçambique criou esta linha que não veio mudar nada por-

Mesmo a fechar, voltamos ao início. Como é que a CTA tem estado a abordar o Governo sobre a necessidade de um plano de longo prazo de apoio às empresas no pós-Covid?

Nós estamos a organizar as nossas ideias através da consulta ao sector privado, e a actualizar o estudo de impacto para, com base nesses instrumentos, projectarmos como se poderá prover o chamado Plano de Continuidade dos Negócios. O que vai acontecer é que as empresas terão de aprender a lidar com a pandemia, e é aí que também colocamos a importância desse plano. Isto porque acabámos por suspender tudo quanto a pandemia nos surpreendeu despreparados, e este plano pode ajudar-nos a lidar melhor com a pandemia. Significa que não temos de parar a economia por causa do covid-19, mas vamos coabitar com ela e tomar medidas de prevenção que coloquem a vida humana em primeiro lugar, e permitem a continuação das actividades.

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Nação

Como os Países Estão a Responder à Crise Económica?

A pandemia está a fazer abrandar o comércio global, mas muitas das maiores economias mundiais estão a tomar medidas extraordinárias para as impulsionar através da crise

O

Texto de Jonathan Masters, Council of Foreign Affairs • Fotografia D.R.

coronavírus está a fazer desmoronar a economia mundial. Em poucas semanas, a doença pôs o mundo à beira de uma recessão mais grave do que a crise financeira de 2008. A sua profundidade e duração dependerão de muitos factores, incluindo o comportamento do próprio vírus, as respostas de saúde pública e as intervenções económicas. Dada a natureza espe-

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cial da crise provocada pela pandemia, os decisores políticos fiscais e monetários têm vindo a trabalhar sem um livro de regras. Muitos, no entanto, estão a avançar com financiamentos extraordinários que, colectivamente, poderão ascender a dez biliões de dólares.

Quão grave vai ser a recessão?

As análises de Abril e Maio sugeriam que a economia ao nível mundial esta-

va a entrar numa situação de crise colossal. “Prevemos as piores consequências económicas desde a Grande Depressão”, disse Kristalina Georgieva, directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI). Entretanto, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) disse que os seus indicadores produziram o aviso mais forte, de que a maioria das grandes economias tinha entrado numa “acentuada retracção”. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

mundo te a recuperar após o fim da pandemia.

A rapidez com que os países devem abrir as suas economias é um tema de debate. Alguns governos da Ásia e da Europa, que já sentem a sensação de terem contido o vírus, começaram a relançar lentamente as suas economias. Do mesmo modo, quase todos os Estados norte-americanos estão a abrandar as medidas de restrição e o Presidente Trump não renovou as orientações federais em matéria de distanciamento social. Mas os novos surtos já levaram alguns países a reintroduzir as restrições.

Por enquanto, alguns economistas esperam uma forte recuperação ao nível mundial no terceiro trimestre, reflectindo as recuperações na Ásia após o surto da Síndrome Respiratória Aguda (SARS, em inglês) de 2003. No entanto, outros advertem que a pandemia pode ser muito mais destrutiva do ponto de vista económico do que qualquer surto anterior e avisam que uma recuperação pode prolongar-se por muito mais tempo.

Entretanto, resumimos o que as principais potências mundiais estão a fazer para apoiar as suas economias durante a recessão provocada pelo coronavírus.

A Organização Mundial do Comércio, por seu lado, prevê que quase todas as regiões do mundo venham a sofrer, este ano, quedas de dois dígitos no comércio, sendo os exportadores norte-americanos e asiáticos os mais afectados.

Muitos Governos suspenderam efectivamente a actividade social e económica, na totalidade ou em parte, nos seus países, por forma a conter o surto, fechando as portas a empresas não essenciais e ordenando aos residentes que permanessecem em casa durante várias semanas ou meses. Em todo o mundo, milhares de milhões de pessoas permanecem sob algum tipo de restrição. As grandes indústrias, especialmente as companhias aéreas e outros sectores relacionados com as viagens, estão à beira da falência. A esperança é que as economias possam abrandar sem causar perturbações radicais, tais como a falência generalizada das empresas ou o desemprego, e voltar rapidamenwww.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

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Biliões de DólareS Dada a natureza especial da crise provocada pela pandemia, os decisores políticos fiscais e monetários têm vindo a trabalhar sem um livro de regras.

Muitos, no entanto, estão a avançar com financiamentos extraordinários que, colectivamente, poderão ascender a dez biliões de dólares

China A segunda maior economia do mundo voltou à vida em Abril, após ter sofrido um surto do coronavírus, que teve origem na cidade de Wuhan, na província de Hubei, no final de 2019. Várias semanas de bloqueios impostos pelo Governo a dezenas de cidades conduziram a declínios acentuados na produção das fábricas, nas vendas a retalho, na construção e em outras actividades económicas. De uma forma geral, o Produto Interno Bruto (PIB) baixou quase 7% no primeiro trimestre, a primeira contracção económica da China em mais de 40 anos.

A liderança da China parece, desta vez, menos inclinada a impulsionar uma recuperação económica mundial do que na sequência da crise financeira de 2008, quando gastou abertamente um pacote de estímulo de mais de meio trilião de dólares. Nos anos que se seguiram, a China duplicou a sua dívida pública - para cerca de 60% do PIB e muitos analistas consideram que não se pode dar ao luxo de voltar a gastar de um modo igualmente agressivo.

Até agora, o banco central tomou medidas relativamente modestas, reduzindo as reservas obrigatórias para os bancos, o que lhes permitirá emprestar mais 80 mil milhões de dólares a em-

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Nação presas em dificuldades, e indicando que irá reduzir as taxas de juro nos próximos meses. “A política monetária normal deve ser mantida o mais tempo possível”, escreveu o dirigente do banco central, Yi Gang, no final de Abril. “O impacto da pandemia é temporário. A economia chinesa tem uma forte resistência e um grande potencial, enquanto os fundamentos para um desenvolvimento de elevada qualidade não se alteram”.

Os analistas dizem que um sinal importante a observar será o anúncio feito por Pequim do seu objectivo de crescimento anual, que foi adiado de Março para Maio por causa do vírus. Um objectivo ambicioso de cerca de 6% poderia indicar que está a chegar um pacote de incentivos pesado, enquanto um número mais modesto, mais próximo dos 3%, significaria, provavelmente, uma continuação do status quo.

Existe também a possibilidade de a China renunciar à fixação de uma meta para este ano. Para atingir o seu objectivo de longa data, de duplicar o PIB entre 2010 e 2020, a China teria de crescer pelo menos 5,6% este ano, um ritmo que poucos economistas pensam ser possível.

Alemanha Espera-se que a economia alemã diminua, pela primeira vez desde 2009, de 3% a 10% este ano. O próprio Estado previa uma contracção de pouco mais de 6%, o que seria o pior desempenho da economia em décadas. Em Março, quase meio milhão de empresas alemãs candidataram-se para que os seus empregados aderissem a um programa de trabalho a curto prazo do Governo, destinado a evitar despedimentos em massa.

Para contrariar as consequências económicas do coronavírus, Berlim está a tomar medidas arrojadas, abandonando o seu compromisso permanente com orçamentos equilibrados, conhecidos como Schwarze Null ou “Zero Negro”. Está a atribuir pelo menos 350 mil milhões de euros - ou cerca de 10% do seu PIB - para apoiar a maior economia da zona euro. Serão gastos fundos para salvar empresas em dificuldades, nomeadamente através da concessão de empréstimos ilimitados e da eventual tomada de participações de capital.

“Estamos a fazer o que é necessário”, afirmou a Chanceler Angela Merkel, que também conduziu o país durante a crise de 2008. “E não vamos perguntar todos os dias o que isso significa para o nosso défice”. Os funcionários observam que a Alemanha está prestes a investir acti-

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Para atingir o seu objectivo de duplicar o PIB entre 2010 e 2020, a China teria de crescer pelo menos 5,6% este ano, um ritmo que poucos economistas pensam ser possível vamente porque o Governo tem mantido as suas finanças sob controlo nos últimos anos, reduzindo o seu rácio da dívida em relação ao PIB de mais de 80% em 2010 para menos de 60% actualmente.

Depois de se ter movido com celeridade para controlar o surto dentro das suas fronteiras, a Alemanha anunciou, em meados de Abril, que reabriria lentamente a sua economia. No entanto, Merkel advertiu os dirigentes estatais ¯ a Alemanha tem um sistema federal ¯ para levantar as restrições com muito cuidado.

Japão Os economistas prevêem que a economia japonesa, orientada para a exportação, irá contrair-se em cerca de 3% este ano, o que seria o seu pior desempenho desde 2008. O impacto profundo da pandemia vem na esteira de um abrandamento económico resultante de um aumento dos impostos sobre as vendas. O vírus também obrigou o Governo a adiar os Jogos

Olímpicos de Verão para o próximo ano.

Tal como alguns dos seus pares no Ocidente, o Governo japonês respondeu com um pacote de ajuda maciça, no valor de quase mil milhões de dólares, para ajudar o país a atravessar um dos períodos mais difíceis da sua memória recente.

O número de títulos é igual a cerca de 20% do PIB do Japão, mas os analistas dizem que o impacto real das despesas será muito menor.

“Não é exagero dizer que a economia do Japão e a economia mundial enfrentam, neste momento, a maior crise desde a Segunda Guerra Mundial. Vamos proteger o emprego e a vida a todo o custo”, disse o primeiro-ministro Shinzo Abe. As medidas de salvamento incluem pagamentos em dinheiro aos cidadãos e às pequenas e médias empresas, empréstimos sem juros, pagamentos atrasados de impostos e cheques de viagem e turismo.

O Banco Central do Japão anunciou, no final de Abril, que estava disposto a comprar um montante ilimitado de díviwww.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

mundo desemprego; estabeleceu um programa de empréstimos para pequenas e médias empresas; e forneceu ajuda de emergência a instituições de caridade.

O Banco de Inglaterra baixou a sua taxa de juro de referência para 0,5%, um mínimo histórico, e aliviou os requisitos de capital dos bancos. Num movimento extraordinário no início de Abril, o banco central concordou em financiar directamente as despesas do Governo durante a crise, libertando-o de ter de emitir dívida no mercado obrigacionista. No seu conjunto, os esforços de salvamento poderiam ver o Reino Unido gastar mais de 400 mil milhões de libras, ou seja, cerca de 15% do PIB.

da pública e a duplicar as suas compras de dívida empresarial. No entanto, alguns críticos afirmam que o Banco do Japão tem opções limitadas depois de ter mantido as taxas de juro próximas de zero durante anos.

Reino Unido A pandemia está a paralisar a economia britânica, tal como os seus líderes estão a negociar uma relação pós-Brexit com a União Europeia. Antes do surto, já existiam preocupações quanto a uma recessão por parte de um chamado Brexit duro.

Os economistas afirmam que a pandemia do coronavírus poderá retirar uma quota de 5% a 10% da economia em 2020.

O Governo está disposto a fazer intervenções “sem precedentes na História do Estado britânico” para apoiar a economia, afirmou o ministro das Finanças, Rishi Sunak, no início de Março. Entre as medidas de emergência, o Tesouro comprometeu-se a pagar 80% dos salários dos trabalhadores durante vários meses para evitar que as empresas recorressem a demissões colectivas; ofereceu-se para reembolsar os trabalhadores independentes pelos salários perdidos; adiou o pagamento de impostos; aumentou os subsídios de www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Estados Unidos da América Como sinal do aumento da taxa de incidência do vírus na economia americana, mais de 30 milhões de americanos ¯ cerca de um em cada seis trabalhadores norte-americanos ¯ estão desempregados desde meados de Março. Antes desta crise, o maior número de pedidos de subsídios de desemprego, numa única semana, era de 695 mil, em 1982. A produção económica baixou quase 5% nos primeiros três meses de 2020, o declínio mais acentuado desde 2008. A maioria dos analistas espera que os danos sejam muito piores no segundo trimestre, com alguns a sugerir que a taxa de desemprego possa atingir os 40%, significativamente superior ao seu pico de 25% durante a Grande Depressão.

Embora Washington tenha sido criticada por gerir mal a resposta de saúde pública à pandemia, também tem sido atribuída a importância decisiva de estabilizar os mercados financeiros.

Em Março, a Reserva Federal indicou que fará tudo o que estiver ao seu alcance para apoiar a economia e fornecer liquidez. Entre as acções históricas da Reserva Federal estão: reduzir as taxas de juro para valores próximos de zero, reduzir as reservas bancárias para zero, comprar rapidamente quase dois mil milhões de dólares em obrigações do Tesouro e títulos garantidos por hipotecas, comprar dívida corporativa e municipal, e estender o crédito de emergência a instituições não bancárias.

Entretanto, do lado orçamental, os legisladores aprovaram em Março um pacote de estímulo de dois biliões de dólares que alguns analistas têm caracterizado como um empréstimo-ponte para fazer a economia dos EUA atravessar a crise. Inclui pagamentos

directos até 1 200 dólares a indivíduos, centenas de milhares de milhões de dólares em empréstimos e subvenções a empresas, aumentos dos subsídios de desemprego e apoio a hospitais e prestadores de cuidados de saúde.

“Com efeito, este é um nível de investimento em tempo de guerra na nossa nação”, disse o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell. Um mês mais tarde, o Congresso assinou um segundo pacote de ajuda de emergência, que ascende a cerca de 500 milhões de dólares, e se destina a prestar ajuda às pequenas empresas e mais ajuda aos hospitais.

União Europeia A União Europeia propôs, no final de Maio, um fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros para ajudar os países membros a enfrentar a recessão desencadeada pela pandemia e superar divisões sobre as condições que devem ser impostas no acesso ao dinheiro.

“Este é o momento da Europa. A nossa vontade de agir deve corresponder aos desafios que encaramos”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao apresentar o pacote aos legisladores da UE. Ela disse que o fundo, apelidado de Next Generation EU, é uma resposta “ambiciosa”.

Dois terços do dinheiro assumiriam a forma de subsídios, enquanto o resto seria constituído por mais empréstimos, baseados em condições, aos quais os países-membros poderiam se candidatar.

Itália e Espanha seriam elegíveis para receber cerca de 80 mil milhões de euros em subsídios. França e Polónia teriam acesso a cerca de 38 mil milhões.

Fundo Monetário Internacional O FMI reservou cem mil milhões de dólares para emprestar aos países membros que enfrentam crises financeiras agudas devido ao coronavírus, com preferência para as economias emergentes.

No início de Abril, mais de 90 países tinham solicitado resgates.

Grupo do Banco Mundial O Presidente David Malpass afirmou que o banco estava a comprometer mais de 150 mil milhões de dólares para combater os efeitos da pandemia. Mais de duas dúzias de pedidos de empréstimo relacionados com o vírus foram acelerados, estando muitos mais na fila de espera. Até agora, a Índia recebeu o maior empréstimo, no valor de mil milhões de dólares.

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OPINIÃO

Apressado(a) come cru!

s

João Gomes • Partner @ JASON Moçambique ob o título “Trabalho remoto, negociação remota”, aqui publicado na edição de Maio de 2020, escrevemos: “Antecipamos nós, se por um lado a velocidade da tecnologia irá permitir diminuir o tempo da negociação (leadtime), por outro, sendo a “pressa inimiga da perfeição”, tal poderá levar as Partes a celebrarem acordos sub-óptimos, a focarem-se essencialmente no preço e a deixarem valor na mesa da negociação.”

Para além da tecnologia, existem outras razões explicativas que estão na base da proliferação, particularmente em Moçambique, de acordos comerciais nos quais não é possível as partes melhorarem e obterem ganhos adicionais conjuntos (i.e., atingirem a chamada “Fronteira de Pareto”), satisfazendo-se apenas com acordos sub-óptimos.

E é sobre o tema que trataremos no presente artigo, observando-o nas diferentes fases do processo negocial, respectivamente: na fase da preparação, do face-a-face negocial, do fecho negocial e e do pós-acordo.

1. Na fase pré-negocial (Preparação): com muita frequência, temos observado as partes a correrem para iniciar a negociação, desde logo saltando a fase de preparação.

Raramente recolhem informação sobre o objecto do negócio; sobre as motivações e traços de personalidades da contraparte; não definem claramente os objectivos. Em resumo, constata-se a total ausência de um plano de negociação.

2. Na fase do face-a-face negocial: é comum observar as partes a correrem em direcção ao fecho da negociação, desde logo, desconfiando e sem fazer perguntas e revelar algo à parte contrária; sem procurarem explorar opções (i.e., pelo menos 3 a 5) para expansão do “bolo negocial”; sem uma estratégia negocial claramente estabelecida, e totalmente focada apenas nos seus próprios interesses e em “dividir o bolo”, adoptando uma orientação negocial do tipo ganha-perde (win-lose). Em resumo, mais preocupadas em assumir uma atitude de “satisfazer” do que “optimizar”.

3. Na fase do fecho das negociações: é frequente observar as partes correrem em direcção ao preço, desconsiderando outros itens negociais ou negociando-os de forma independente (e não em pacote); e receosas, aceitando a proposta inicial com medo que o cliente “fuja”. Em resumo, sem a preocupação de “afinar” o acordo e deixando

muita margem de ambiguidade para o futuro, potenciando assim o respectivo incumprimento contratual.

4. Na fase do pós-acordo negocial: não temos observado as partes a correrem nesta direcção. O mesmo é dizer, a procurarem cimentar o negócio, e a prepararem o terreno para futuros relacionamentos. Pelo contrário, o que temos visto é uma atitude de “disparar” e esquecer (“fire & forget”); e não menos vezes temos ouvido vangloriarem-se da “bolada” que conseguiram, provocando, deste modo, a má vontade na contraparte. Em resumo, fechando a porta a acordos futuros mutuamente vantajosos.

Em conclusão: - Acordos sub-óptimos são, por definição, aqueles nos quais as partes negociais não conseguem melhorar e obter ganhos adicionais conjuntamente (i.e., deixam “valor” em cima da mesa das negociações).

- Em todas as fases do processo negocial podemos observar razões que explicam a enorme proliferação de acordos sub-óptimos, particularmente em Moçambique.

- Observamos, a partir da nossa experiência, a tendência que as partes têm de correr para iniciar a negociação saltando, assim, a fase preparatória, com as consequências daí resultantes em termos de mau planeamento da negociação.

- Observamos, igualmente, a tendência que as partes, fruto de uma cultura que privilegia a competição, ao invés da cooperação, têm de correr para o fecho da negociação pulando, assim, a fase do face-a-face e limitando, deste modo, a possibilidade de “aumentarem o bolo” através do desenvolvimento de opções para proveito mútuo.

- Observamos, também, a tendência que as partes têm de correr em direcção ao item preço, limitando, deste modo, a possibilidade de criarem valor através de combinações mais “inteligentes” das respectivas ofertas negociais.

- Finalmente, não observamos a prática dos pós-acordos negociais. Pelo contrário, assistimos a práticas antagónicas do reforço da confiança entre as partes.

E é neste contexto que podemos também adicionar, fruto da actual pandemia, o peso da tecnologia como mais uma causa aceleradora da geração dos acordos sub-óptimos, particularmente em Moçambique. E com toda esta pressa e velocidade em pular, e tal como diz o ditado, corremos o risco de sermos o (a) “Apressado (a) que come cru”.

Acordos sub-óptimos são, por definição, aqueles nos quais as partes negociais não conseguem melhorar e obter ganhos adicionais conjuntamente

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Nação “Vamos continuar a apoiar a economia” Rui Barros Administrador-delegado do Absa Bank Moçambique

O Absa Bank reconhece ser “difícil e arriscado”, nesta altura, assumir certezas absolutas quanto ao que se pode esperar até ao fim do ano, mas garante “prontidão” em dar o seu contributo para fazer reerguer a economia nacional

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Texto de Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva e D.R.

um momento ímpar da História, com ondas de impacto sociais, económicas e, por maioria de razão, em todo o sistema financeiro, o administrador-delegado do Absa em Moçambique, Rui Barros, olha, em detalhe, para a profusão dos impactos do novo Coronavírus no sector financeiro e esboça o papel que uma instituição financeira que se pretende assumir enquanto líder deve apresentar, num contexto especial e único. E que acontece apenas oito meses após uma das maiores operações de mudança de identidade e de abordagem ao mercado alguma vez levada a cabo na banca moçambicana.

Perante a crise económica que se instalou com a redução da actividade a todos os níveis, o sector financeiro nacional tomou, há cerca de três meses, uma série de medidas de apoio à economia. Como avalia, hoje, a eficácia dessas medidas?

Aquilo que vimos até agora foi uma redução muito significativa da actividade económica que se traduz, em primeira instância, em problemas de liquidez que têm vindo a merecer a atenção e intervenção do Banco Central, do próprio Governo e dos bancos comerciais, que passam, essencialmente, pela redução de muitos custos transaccionais. Por outro lado, os prazos de moratória (que em muitos bancos, incluindo o Absa, é de seis meses a contar a partir de Abril passado) para

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que as prestações que os indivíduos e empresas tinham com os bancos deixem de ser uma preocupação das empresas em cumprir com as suas responsabilidades perante terceiros, começando pela manutenção dos postos de emprego e pagamento de salários.

Não tendo de assumir, nesta fase, o pagamento das prestações que deviam ser pagas aos bancos, e que são uma parte importante das suas responsabilidades financeiras mensais, há condições para salvar empregos e manter alguma actividade.

Esta moratória está dependente da prorrogação, ou não, do Estado de Emergência?

Não só a moratória. Por exemplo, a isenção de determinadas tarifas foi inicialmente definida por um prazo temporal ou com base na estimativa que nós, o Governo e o regulador tínhamos do tempo que iria demorar esta situação. Não temos dúvidas que será revisto da parte dos bancos comerciais e, certamente, da parte do Absa, julgamos que iremos ter de estender estas medidas por mais tempo e, naturalmente, estamos preparados para isso.

Um dos primeiros exercícios que fizemos foi uma análise profunda, com vários cenários, sobre a liquidez e a disposição do capital do banco para termos certeza de que iríamos ter todos os recursos necessários para apoiar os nossos clientes e a sociedade o máximo de tempo possível.

Portanto, estamos preparados para isso e julgamos que vai ser necessário. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

banca

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Nação Prevê que venha a surgir ou não um segundo pacote de medidas de ajuda através do Banco de Moçambique como o que se viu no início da pandemia?

Não posso comentar relativamente àquilo que o regulador e o Governo possam vir a decidir. É importante notar que houve um conjunto de medidas que até foram anunciadas em diferentes momentos do tempo, muito próximas umas das outras, e que desde sempre aquilo que nos foi informado, a nós, operadores do mercado, mas também ao público em geral, é que o banco está atento, é capaz e irá intervir sempre que necessário. Como tal, julgo que devemos depreender que assim que seja necessário haverá novas medidas a serem tomadas para ajustar a economia e sustentar o sistema financeiro também.

De qualquer forma não temos conhecimento de um plano nesse sentido.

Mas deixe-me dizer que julgamos que, tendo em conta a situação actual do país, uma linha de financiamento será mais importante no momento de recuperação do que no momento de gestão de crise. Ou seja, assim que começa a abrir o mercado, algumas empresas poderão necessitar de reinvestir, por exemplo para comprar mais stock e começarem a reabilitar um mercado que está a ressurgir. Aí sim, poderá haver necessidade de financiamento para o crescimento que hoje não existe.

Então, as empresas estão, neste momento, à procura de liquidez só através de crédito…

Naturalmente que sim. A grande componente em que o sistema bancário como um todo tem vindo a ajudar a liquidez das empresas e das famílias é através desse sistema de moratórias porque, efectivamente, são valores significativos que deixam de ser pagos aos bancos e que podem ser direccionados para outros fins.

Por exemplo, as empresas têm à disposição muitas linhas que têm limites autorizados e, portanto, nesta fase podem usar esses instrumentos que não estavam a ser utilizados, e isso tem acontecido. Acima de tudo, temos visto também uma consciência muito clara, por parte dos nossos clientes empresários, quanto ao que está pela frente e pelo tempo que ainda poderá vir a durar.

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Qual é a dimensão do impacto da ‘paragem’ da economia no sector financeiro em Moçambique, devido ao Covid-19?

O sistema financeiro é altamente correlacionado com a movimentação da economia. Quando uma economia cresce, tipicamente o sistema financeiro também cresce e quando é impactado negativamente também o é.

Contudo, há dois aspectos que considero importantes notar. Primeiro, estamos no início, temos de ter noção que há dois meses ninguém acreditava na maior parte das coisas que acredita hoje. Até já sabíamos do Covid-19, mas não tínhamos noção. Aliás, a regulamentação em vigor foi pensada mais ou menos nessa altura e a maior parte dela previa um período de três meses para resolver a situação. Hoje, quase toda a gente fala de entre 18 e 24 meses para ultrapassar as dificuldades de uma forma mais cabal. Portanto, o impacto que o Covid-19 possa vir a ter ainda não se desvendou por completo. Por outro lado, é importante também termos em conta que, devido a um conjunto de medidas que foram introduzidas de imediato no sistema financeiro, será mais difícil perceber o impacto da pandemia na economia e na banca em particular.

Refere-se, naturalmente, aos resultados das moratórias perante a incerteza na duração da pandemia…

Em parte, sim. Por exemplo, embora estejamos a considerar que todos os clientes precisam da moratória para não pagarem as prestações nos próximos meses, não podemos aferir, nesta fase, quantas situações de falência de empresas irão acontecer.

Ou seja, não estamos em condições de distinguir as empresas que vão ou não sobreviver. Eu diria que é uma situação que só pode ser ultrapassada utilizando modelos de análise de cenários, tal como temos vindo a trabalhar nos últimos tempos, e estamos preparados para o pior ainda que queiramos o melhor.

Os anos 2020 e 2021 serão marcados pela forma como, a pouco e pouco, poderemos ir percebendo quais as partes da economia, dos sectores etc., que estão a sofrer mais e o que é que isso realmente vai significar para o sistema bancário.

Que possíveis cenários se colocam no futuro da banca?

Julgo ser justo e aceitável assumir que todos os bancos terão resultados bem piores do que tiveram no ano passado.

Efectivamente, os bancos estão sujeitos www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

banca contacto, muitas vezes, com o Banco de Moçambique e com o Governo, exprimindo aquilo que são as necessidades ou as expectativas que o sistema todo vai sentindo. Como tal, eu diria que esta situação não trouxe alterações na forma de trabalhar.

Naturalmente, cada um dos bancos tem o seu próprio posicionamento e distanciamento concorrencial, mas os valores mais importantes que são os de conservação das vidas, da qualidade de vida e da saúde financeira das pessoas são comuns a todos nós. A Associação Moçambicana de Bancos, em particular, tem vindo a trabalhar muito com o Banco Central e com o Governo e, felizmente havia já um histórico nesse sentido que serviu de base para todo este trabalho.

Recentemente, o Absa foi reconhecido com quatro prémios pela Global Banking and Finance Review, onde foram premiadas as melhores instituições financeiras ao nível mundial. Que significado têm estas distinções?

Na história do banco, já recebemos muitos prémios que reconhecem o nosso trabalho em diferentes áreas, mas o ano de 2019 foi um marco muito importante para o Absa porque, efectivamente, apesar de todos os desafios de índole macroeconómica que todos os participantes neste mercado enfrentaram, sem falar dos desastres naturais que afectaram o país de uma forma muito profunda, conseguimos concretizar um grande plano, que era a mudança de marca,

“Uma linha de financiamento às empresas será mais importante no momento de recuperação do que no momento de gestão da crise, porque assim que começa a abrir o mercado, algumas empresas vão precisar de reinvestir para o crescimento que hoje não existe” a algumas variáveis, mas há duas que são essenciais. Uma é o factor preço.

Sabemos que os bancos abdicaram de uma boa parte das suas receitas para tornar gratuita uma série de transacções, e as taxas de juro também estão a descer, e nessa medida também estão a cobrar menos. Portanto, é o factor preço que desde logo dá essa indicação. Nestas condições, onde é que esperamos ter respostas quanto à dimensão do impacto no futuro? É no factor volume.

Contudo, o desacelerar da economia vai provocar também menos transacção e menos actividade dos bancos. Aí sim, a pergunta é bem mais difícil de responder. Mas sabemos que todos estes factores têm apenas uma direcção que é negativa e, portanto, todos os bancos terão resultados bem piores.

Como é que tem sido a interacção interbancária durante esta fase da pandemia?

Felizmente o sistema financeiro e a banca em particular, em Moçambique, sempre tiveram uma relação bastante saudável entre todos os agentes, tipicamente através da Associação Moçambicana de Bancos que congrega, enquanto associados, todos os bancos, e que depois serve como elemento de www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Nesta altura, qual é a maior preocupação do Absa?

Eu julgo que é importante dividir essas preocupações por diferentes entidades dentro da empresa.

Nós temos de garantir a gestão do dia-a-dia, o bem-estar dos nossos colegas, dos nossos clientes entre outras entidades, e há áreas operacionais muito focadas nisso.

Eu próprio participo em algumas das reuniões diárias para saber como é que está a componente operacional.

Mas a verdade é que há outras partes do banco em que eu, em particular, e todo o Conselho de Administração, temos de ser mais estratégicos, daí que uma das nossas principais ocupações, neste momento, é repensar o futuro.

Não há dúvida que nada voltará a ser igual ao que era antes, e também será difícil ter a certeza do que quer que seja, mas criar cenários e pensar no que o banco possa vir a ser é importante para estarmos preparados e para continuarmos a nossa estratégia, até porque julgamos que esta economia continua com condições de crescer como antes num horizonte de dois ou três anos, e nós também temos a ambição de continuar a crescer com ela.

que não se limitasse apenas à identidade corporativa e à forma como o mercado nos via, mas também a mudanças ao nível interno com a introdução de novos sistemas e toda uma reestruturação da plataforma tecnológica que, aliás, foi reconhecida nesse prémio que recebemos. Sentimo-nos muito honrados.

A sua distinção, em particular, com o prémio “Melhor administrador-executivo para o Sector Bancário em Moçambique no ano 2020”, em que se traduz?

Um líder é tão bom quanto a equipa que o rodeia. Obviamente que quem for mau líder pode não vingar mesmo que tenha uma boa equipa à sua volta.

Mas acho que o importante num reconhecimento destes é percebermos a forma integrada como funcionou toda a equipa do banco, composta por aproximadamente mil colaboradores, entre os permanentes e alguns temporários.

Muitos parceiros também se uniram ao nosso projecto, por isso, eu vejo o reconhecimento como a identificar o trabalho que todos os intervenientes fizeram. Ficámos, obviamente, muito satisfeitos e eu também pessoalmente.

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Nação “VÊM AÍ TEMPOS DIFÍCEIS, MAS ESTAREMOS CÁ PARA APOIAR AS PME” Elsa Graça PCE interina do Banco Único

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Texto de Pedro Cativelos • Fotografia de Mariano Silva:

om uma carreira ligada à banca (BIC e Santander Totta) a sucessora de António Correia, que deixou o Banco Único em Março passado fala pela primeira vez na qualidade de PCE do banco fundado em 2011, aborda os desafios que o Covid-19 traz à economia nacional e à banca, em particular, comenta os principais indicadores do Relatório e Contas recentemente divulgado e estabelece os parâmetros de actuação do banco no mercado, para os próximos meses. E claro, não deixa de ser assunto o facto de se tratar da única mulher a ocupar o cargo, em toda a banca moçambicana.

Como é que o Banco se está a adaptar às condições impostas pelo covid-19?

Creio que ninguém esperaria uma coisa como esta. Não havia previsão que as coisas tivessem o impacto que estão a ter a todos os níveis, sociais, económicos, políticos e psicológicos, até... No entanto, qualquer empresa tem de estar preparada quando as coisas correm menos bem seja por que motivo for.

E uma das coisas que o Banco Único tem tido ao longo dos tempos, principalmente, nos últimos anos, é um cuidado extremo com a sustentabilidade do seu balanço, ou seja, trabalhar e conseguir ter rácios de liquidez acima até dos que são exigidos pelas regras e, acima de tudo, uma redução do crédito em incumprimento que este ano é de apenas 7%, um indício óptimo nestes mercados. Acho que o melhor que qualquer empresa, não só a banca, pode

fazer para estar preparada é ter balanços saudáveis, transparentes e ter as suas estratégias. Dar passos seguros.

O que lhe parecem as medidas do banco Central sobre o Covid-19?

Não só a moratória, como um conjunto de outras medidas. Por exemplo, a isenção de determinadas tarifas foi inicialmente definida por um prazo temporal ou com base na estimativa que nós (bancos comerciais), o Governo e o regulador (Banco Central) tínhamos do tempo que iria demorar esta situação. Não temos dúvidas que será revisto da parte dos bancos comerciais e, certamente, da parte do Absa, julgamos que iremos ter de estender estas medidas por mais tempo e, naturalmente, estamos preparados para isso. Um dos primeiros exercícios que fizemos foi uma análise profunda, com vários cenários sobre a liquidez e a disposição do capital do banco para termos certeza de que iriamos ter todos os recursos necessários para apoiar os nossos clientes e a sociedade o máximo de tempo possível.

Portanto, estamos preparados para isso e julgamos que vai ser necessário.

Prevê que venha surgir ou não um segundo pacote de medidas de ajuda através do Banco de Moçambique como o que se viu no início da pandemia?

Gostaria de realçar e louvar o modo como o Banco de Moçambique e outras áreas do Estado têm procurado obter e integrar o parecer e opinião da Banca na adopção de medidas. Aliás, uma das recomendações

Esta é a altura de apostarmos no empresariado nacional, com especial enfoque nas PME, para que este segmento, ao invés de sair desta crise fragilizado, saia mais resiliente, robusto e preparado para as adversidades

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das grandes consultoras para que África consiga ultrapassar esta crise é a existência de um trabalho próximo entre o Governo, sector privado e instituições de apoio ao desenvolvimento, e Moçambique tem seguido essa recomendação de forma activa.

Para além disso, a AMB (Associação Moçambicana de Bancos) também tem sido uma instituição relevante e aglutinadora das preocupações da banca, quer em termos de impactos económico-financeiros, quer em termos da gestão operacional das instituições de crédito nesta conjuntura.

As medidas tomadas que permitem a reestruturação das dívidas, facilitando carências de capital e alargamento de prazos sem ter de constituir provisões ou passar a crédito vencido, ajudarão, sem dúvida, as empresas e os particulares mais afectados por esta crise, e que até agora estavam a cumprir as suas obrigações.

Também destaco a redução da taxa MIMO em 150 pontos base, como sendo outra medida que aliviará a carga financeira das empresas e dos particulares. Como também a não obrigatoriedade de constituir provisões sobre os novos financiamentos em moeda estrangeira, uma outra medida bastante positiva.

E a redução das reservas obrigatórias em moeda estrangeira, para 34,5%, para apoiar as empresas, embora aqui pensemos que seria provavelmente necessário baixar mais um pouco, o que propiciaria mais liquidez no mercado (apesar das taxas de câmbio actuais, nomeadamente do dólar, não serem as melhores).

Apresentaram, recentemente, no relatório e contas um conjunto de resultados positivos em que se nota uma preocupação que vem dos www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

banca

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Nação

últimos anos, relacionada com a solidez do balanço e em que sobressaem o crescimento dos resultados líquidos, assentes, em parte, no aumento do número de clientes e transacções e na redução do crédito em incumprimento. É para manter essa estratégia ou, face à época que vivemos, chegou a altura de abrir os ‘cordões à bolsa’?

A manutenção de uma sólida cobertura de crédito vencido, com um rácio de crédito em incumprimento inferior a 7%, coloca-nos entre as entidades que atingiram uma maior redução do rácio, alinhando-nos com os padrões de mais elevada cobertura, na ordem dos 94,2%. Depois, a estrutura de capital solvente, bastante eficiente, com níveis de 16,70%, muito acima dos mínimos regulamentares, que se situam em 11% irão permitir ao Banco Único financiar organicamente o crescimento do seu balanço e dar o seu contributo ao desenvolvimento do país.

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“Estamos a antecipar o contacto com os clientes, principalmente nos sectores mais atingidos, para que consigamos construir soluções antes que coisas piores possam acontecer”

Há ainda o crescimento do resultado líquido em 16%, nesta conjuntura, e uma melhoria da rentabilidade sobre capital de 13,4% consolidando a nossa posição como uma referência bancária no país. Todos estes resultados validam a estratégia de crescimento rentável que temos seguido e que tem permitido ao Único estar muito bem preparado para enfrentar uma conjuntura de tanta incerteza, como a actual.

Para responder à sua pergunta, sabemos que vamos ter tempos difíceis e estamos a adaptar-nos do ponto de vista dos nossos clientes que estão nos sectores mais afectados. Podemos ter grandes empresas que vão precisar de ajuda, mas não nos podemos esquecer das Pequenas e Médias Empresas que são logo atingidas por este género de crises. Estaremos cá para as apoiar.

O banco tem vindo a crescer, mas por vezes parece um banco de retalho, corporativo, de investimento... www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

banca Tentamos ser únicos para lá do nome, também na perspectiva de que cada cliente tem as suas características especiais. Não se resolve o problema do cliente no imediato para que possam existir problemas no futuro, até porque defendo que o bom negócio só é bom quando ambas as partes ganham com ele.

Estamos a antecipar o contacto com os clientes, principalmente nos sectores mais atingidos, para que consigamos construir soluções antes que coisas piores possam acontecer.

Já houve algumas dezenas de clientes que se aproximaram, até porque normalmente quem se aproxima nessas circunstâncias são pessoas que antecipam, que não estão ainda com problemas, daí a importância de termos respostas e soluções criativas.

Temos um corporate muito forte que está a fazer um trabalho excelente junto das empresas. Já encontrámos algumas soluções e vamos ter algumas surpresas em termos digitais, provavelmente nas próximas semanas e alterar um pouco a relação do banco com os clientes.

Nunca me senti uma mulher a trabalhar. Desde que comecei a minha carreira, nunca fui tratada de forma diferente. Pessoalmente nunca vivi nenhuma situação que me desse a entender que o género é importante no meu trabalho e também nunca fui educada para pensar dessa forma.

Para acabarmos pelo tema que está e estará na ordem do dia nos próximos tempos, pedia-lhe um exercício de análise ao que será a economia moçambicana no pós-covid, se é que nesta altura já é possível olharmos um pouco mais além e antever o que aí vem.

Há muitas incógnitas de quais serão as repercussões na Economia Moçambicana. Em geral as estimativas são bastante díspares, mas certamente o crescimento do PIB será negativo..Aqueda nos mercados internacionais dos preços do petróleo e do carvão são péssimas notícias para o país e este panorama irá adiar alguns investimentos no país no curto prazo, deixando sobre pressão o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) que tem contraído nos

“Esta pode ser uma excelente oportunidade de crescimento para o sector agrícola, que representa uma boa parte da mão-de-obra da população activa em Moçambique, com maior contributo no PIB” O Banco Único não é um banco grande e também não o quer ser. Não é essa, de todo, a nossa estratégia, mas sim continuar a ser um banco de pequena dimensão, com grande estatura em termos de qualidade.

O Único é um banco para clientes de empresas, clientes particulares, que estejam dispostos a ter uma relação muito próxima, muito ‘íntima’ com o seu banco. Queremos fazer diferente, com qualidade, proximidade e soluções à medida. Isso pode-se fazer com pessoas de classes diferentes, com pequenas e médias empresas como também se pode fazer com os clientes corporate. A aposta, e eu acho que aqui isto tem de ficar claro para todos, é na qualidade do serviço e a adaptação ao cliente que são o nosso diferenciador.

Quando fala em soluções à medida das necessidades dos clientes, a que tipo de soluções se refere? www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Como é que tem sido esta ainda breve experiência a liderar os destinos de um banco moçambicano?

Temos uma administração eclética, todos nós trazemos experiências muito diferentes uns dos outros e eu acho que isso está a ser muito positivo.

Viemos de experiências completamente diferentes, mas as pessoas estão super-motivadas e focadas em encontrar soluções diferentes.

Sabe que, em todas as reuniões incluindo as digitais, a cadeira do cliente está lá, fisicamente, para termos a sua ‘voz’. Nós normalmente opinamos com as nossas experiências e não devemos fazê-lo porque somos bancários, o que devemos fazer é pormo-nos nos sapatos dos clientes porque é esse, e deve ser sempre, o nosso foco.

Tenho de lhe fazer esta pergunta, embora gostasse de não ter de a fazer. Como é ser a única mulher CEO na banca moçambicana?

últimos anos e que se esperava uma retoma no corrente ano.

Outro sector bastante afectado será o do turismo e restauração, que traduz uma fatia importante do PIB de Moçambique e que se prevê algumas dificuldades para o presente ano e seguintes.

Por outro lado, esta pode ser uma excelente oportunidade de crescimento para o sector agrícola, que representa uma boa parte da mão-de-obra da população activa em Moçambique, sendo esse também, o sector que maior contributo traz ao PIB nacional, mas que necessita de reformas e apoios por forma a modernizar-se para poder competir com bens e produtos estrangeiros e, assim, diminuir a dependência externa e inclusivamente, aumentar as exportações.

Esta pode ser uma oportunidade de o país consolidar o ajustamento estrutural do aparelho do Estado, como tem sido feito nos últimos anos.

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OPINIÃO

Zonas Económicas Especiais e Zonas Francas Industriais: Aspectos a Realçar

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Paula Duarte Rocha • Sócia fundadora da HRA Advogados

par das iniciativas que o governo poderá vir a tomar com vista à recuperação da economia moçambicana no pós-Covid 19, parece-nos relevante e interessante realçar a relevância de dois importantes catalisadores para o investimento em qualquer economia: as Zonas Económicas Especiais (“ZEE”) e as Zonas Francas Industriais (“ZFI”).

Com o respectivo regime jurídico aplicável estabelecido em 1993, tendo em vista a criação de plataformas de produção, consumo e exportação de bens e mercadorias, as ZEE’s e as ZFI’s podem vir a desempenhar um papel fundamental na recuperação da economia moçambicana, como importantes entrepostos comerciais ao nível regional.

Onde investir, ZEE ou ZFI? A legislação sobre investimentos – em particular, a Lei de Investimentos – define a ZEE como “uma área de actividade em geral, geograficamente delimitada e regida por um regime aduaneiro especial com base no qual as mercadorias que aí entrem se encontrem, circulem, se transformem industrialmente ou saiam para fora do território nacional estão totalmente isentas de quaisquer imposições aduaneiras, fiscais e para-fiscais.”

Por seu turno, a ZFI é definida como “uma área ou unidade ou série de unidades de actividade industrial, geograficamente delimitada e regulada por um regime aduaneiro específico na base do qual as mercadorias que aí se encontrem ou circulem, destinadas exclusivamente à produção de artigos de exportação, bem como os próprios artigos de exportação daí resultantes, estão isentos de todas as imposições aduaneiras, fiscais e para-fiscais correlacionadas, beneficiando, complementarmente, de

regimes cambial, fiscal e laboral especialmente instituídos.”

Tratam-se, essencialmente, de conceitos jurídicos que abarcam áreas geográficas – as ZEE’s e as ZFI’s – de livre comércio de importação e exportação, em regime especial, para as entidades certificadas e estabelecidas com a finalidade de criar exclusão dentro de um território aduaneiro, gozando as mercadorias importadas que se destinem às entidades certificadas para operar nas ZEE ou nas ZFI de suspensão de direitos aduaneiros e demais imposições.

Adicionalmente, gozam estas áreas geográficas de um regime cambial livre e de operações off-shore e de regimes laboral e de migração especificamente instituídos e adequados à entrada rápida e ao eficiente funcionamento dos empreendimentos e investidores que aí pretendam ou se encontrem a operar.

Realça-se que a lei permite, ainda, às empresas em regime de ZFI (“EZFI”) operarem em “Zonas Francas Isoladas”, e beneficiando do mesmo regime, desde que reunidos os requisitos constantes do Regulamento do Regime Aduaneiro das ZFI, e observados um dos seguintes critérios: a) Investimento inicial a realizar nos primeiros dois anos de actividade igual ou superior ao equivalente a MZN 25 000 000, 00Mts; b) Potência instalada ou a instalar igual ou superior a 500 KvA. Que actividades são permitidas?

No geral, são autorizadas nas ZEE´s todas as actividades económicas, incluindo a actividade industrial e/ou a prestação de serviços.

Nas ZFI’s são autorizadas apenas as actividades de natureza industrial – exceptuando-se as actividades de pesquisa

As empresas em regime de ZEE (“EZEE”) que se dediquem à importação de bens e mercadorias para consumo poderão vender o seu produto no mercado local, ficando, neste caso, sujeitas ao pagamento de todas as imposições fiscais devidas

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Zonas Económicas Especiais ainda estão em fase de ‘maturação’ mas constinuem um importante instrumento de diversificação da economia

e extracção de recursos naturais – e desde que, pelo menos, 70% do volume da sua produção anual seja destinado à exportação. Para as ZEE não existe, portanto, quota mínima para exportação.

Principais benefícios?

Nos termos do Regulamento aplicável às ZEE’s e ZFI’s, destacam-se como principais benefícios e incentivos ao estabelecimento e operação das empresas a partir destas áreas geográficas, os seguintes: • Isenção de Direitos Aduaneiros na importação de materiais de construção, máquinas, equipamentos, acessórios, peças sobressalentes, acompanhantes e outros bens destinados à prossecução das respectivas actividades licenciadas; • Isenção do Imposto sobre o Valor Acrescentado (“IVA”), nas transmissões de bens e prestações de serviços que eventualmente possam ser efectuadas na área geográfica das ZEE e ZFI, assim como nas prestações de serviços directamente conexas com tais transmissões, e nas prestações de serviços enquanto permanecerem em tais zonas; • Isenção de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (“IRPC”) nos primeiros dez exercícios fiscais; redução da taxa de IRPC em 50%, do 11º ao 15º exercício fiscal; e redução da taxa de IRPC em 25%, durante a vida do projecto.

Para as empresas em “Zonas Francas Isoladas” foram estabelecidos os seguintes incentivos em sede de IRPC: www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

• Isenção nos primeiros 5 exercícios fiscais; • Redução da taxa em 50%, do 6º ao 10º exercício fiscal e; • Redução da taxa em 25%, durante vida do projecto.

Compra e venda no mercado local As empresas em regime de ZEE (“EZEE”) que se dediquem à importação de bens e mercadorias para consumo poderão vender o seu produto no mercado local, ficando, neste caso, sujeitas ao pagamento de todas as imposições fiscais devidas.

A venda de bens e serviços pelos fornecedores locais para as ZEE considera-se como exportações.

As EZFI estão autorizadas a vender no mercado local até 30% do volume da sua produção, de conformidade com o seu plano anual de produção, devendo para tal pagar todas as imposições fiscais devidas, incluindo os Direitos Aduaneiros, o IVA e o Imposto sobre Consumos Específicos, quando aplicáveis.

Nos casos em que determinados produtos e bens, no âmbito de acordos bilaterais ou regionais, beneficiem de taxas aduaneiras inferiores ou mesmo de isenção total, serão estas últimas taxas consideradas na venda dos bens similares produzidos nas ZFI, para o mercado interno, independentemente dos critérios de origem.

As vendas de bens e serviços pelos fornecedores locais para as ZFI destinadas à prossecução da actividade licenciada de uma Empresa ou Operador de ZFI consideram-se exportações.

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Mercado e finanças

Zonas Económicas Especiais — uma grande aposta que ainda só deu uma pequena recompensa Foram idealizadas há quase 20 anos para transformarem as economias locais. Mas tem faltado quase tudo o que as torne funcionais, passando ao lado das prioridades dos investidores, precisando de ser repensadas Texto de Celso Chambisso • Fotografia Istock

à

semelhança da iniciativa dos “sete milhões”,

criados pelo Governo do antigo Presidente da República, Armando Guebuza, para servirem de ferramenta efectiva para o desenvolvimento da economia rural, e mais tarde urbana, as zonas económicas de desenvolvimento acelerado, nomeadamente as Zonas Económicas Especiais (ZEE) e as Zonas Francas Industriais (ZFI), vão deixando a pálida imagem de que são iniciativas, na sua maioria, candidatas ao fracasso.

As ZEE e ZFI são áreas geograficamente delimitadas e regidas por um regime aduaneiro e fiscal especial (isenções aduaneiras, fiscais, regime cambial livre, entre outros), com o objectivo de atrair investimento público ou privado para dinamizar e tornar competitivos os territórios onde são implantados, aumentando a capacidade de geração de emprego e de oportunidades

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de negócio e transformando, para melhor, o modo de vida nessas regiões.

Moçambique enveredou por este caminho a partir de 2007, quando criou a ZEE de Nacala. E não foi por acaso. Afinal, havia (e ainda há) exemplos bem-sucedidos pelo mundo, e que podem resultar bem no contexto interno. A China é uma das economias que implementaram este modelo de desenvolvimento com sucesso. Num estudo publicado em Outubro de 2018 pelo Observatório do Meio Rural, com o título “Polos de Crescimento e os Efeitos sobre a Pequena Produção: O Caso de Nacala Porto”, enfatiza-se que “uma das razões do crescimento dos países no leste asiático, em particular a China, foi o facto de terem adoptado um mecanismo de industrialização voltado para a exportação através da criação de zonas económicas. Para tal, o Governo desenvolveu uma ampla infra-estrutura nas proximidades de áreas portuárias e urbanas por considerá-

-las pontos estratégicos de concentração de empresas e de mão-de-obra barata”. É isto o que tem faltado em Moçambique onde, ao que parece, se importou o modelo, mas não se tem conseguido seguir o caminho dos países bem-sucedidos, nomeadamente o investimento em infra-estruturas que facilitem a atracção de investidores para as ZEE. Assim, 13 anos após a sua criação, o país tem dez zonas económicas de desenvolvimento acelerado, mas a euforia que no princípio havia em torno desta estratégia foi adormecendo. Não há, sequer, consistência nos dados sobre os postos de trabalho, volume e origem dos investimentos e impacto nas economias locais..

Os problemas concretos A E&M ouviu a Agência para a Promoção de Investimento e Exportações, APIEX, que assume haver dificuldades a vários níveis. De acordo com o director-geral da instituição, Lourenço www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

ZEE

Pontos fortes do modelo das ZEE Estudo do Observatório do Meio Rural faz menção a um conjunto de estudos recentes que referenciam as “economias de aglomeração” para explicar as vantagens para as empresas que se localizem em áreas específicas como as zonas económicas de desenvolvimento acelerado. Ali se refere que, regra geral, as ZEE “localizam-se perto de um porto, já que estão associadas à importação e exportação de bens”. Nestes locais servem como mecanismo para atracção de investimento externo e direccionamse essencialmente ao mercado de exportação, tendo impaco na criação de empregos e proporcionando um aumento do valor agregado da balança de pagamentos. Podem ter, de resto, um papel impulsionador no domínio das novas tecnologias e das práticas mais modernas de gestão, colocando as empresas nacionais em igualdade de condições com os seus concorrentes localizados noutros países que disponham de mecanismos semelhantes. Por fim, têm um outro papel igualmente fundamental: corrigir desequilíbrios regionais.

A primeira zona económica que se conhece foi estabelecida na Irlanda em 1959.

Sambo, das dez principais zonas económicas de desenvolvimento acelerado que há no país (cinco ZEE e cinco ZFI), apenas uma está a funcionar em pleno – a ZEE de Nacala – graças à infra-estrutura ferro-portuária a que está associada, e que é de grande peso estratégico para a economia de todo o país. Das restantes nove zonas, seis não estão a funcionar e as três que estão operacionais não estão livres de limitações impostas pela falta de infra-estruturas que viabilizem novos empreendimentos.

Lourenço Sambo resume em três os tipos de obstáculos ao sucesso deste modelo de desenvolvimento. “O primeiro é o problema da deficiente infra-estruturação, que reduz a competitividade destes pólos, por exigir custos elevados de investimento. Neste capítulo, o responsável aponta a falta de energia eléctrica fiável, deficiência das vias de acesso, indisponibilidade de água potável e para as indústrias, difícil acesso aos porwww.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Treze anos após a sua criação, o país tem dez zonas económicas de desenvolvimento acelerado, mas a euforia que no princípio havia em torno desta estratégia foi adormecendo

tos e aeroportos em muitas destas zonas.

O segundo grande obstáculo é a fraca actividade promocional das zonas económicas de desenvolvimento acelerado e o último a falta ou deficiente infra-estrutura turística, que ajudaria a atrair e manter potenciais investidores”.

Casos de sucesso? Poucos! De insucesso, bastantes. Se a ZEE de Nacala é caso de sucesso, o mesmo não se pode dizer de quase todas as outras. A ZEE de Manga – Mungassa, criada em 2012 na cidade da Beira, funciona a meio-gás.

Sem entrar em detalhes, o director-geral da APIEX revelou que os ataques armados que têm acontecido no Centro do país de há alguns anos a esta parte contribuem muito para a retracção de investimentos naquele local. Assim, aquela ZEE não tem conseguido impor-se como entreposto de ferro e aço vindo do vizinho Zimbabué, objectivo principal para o qual foi criada. Em relação à Zona de Estância de Turismo Integrado de

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Maior parte das zonas de desenvolvimento acelerado está ociosa Das dez zonas de desenvolvimento acelerado em todo o país (Zonas Económicas Especiais e Zonas Francas Industriais), seis não estão a operar. E das que estão em funcionamento, apenas a ZEE de Nacala opera em pleno. As restantes carecem de infraestruturas de apoio que despertem o “apetite” dos investidores. De um modo geral, o efeito da estratégia nas economias locais ainda é diminuto na macro-economia.

ZEE de Ute

ZEE de Nacala

Inoperacional Criada a 27 de Fevereiro 2019, está na província do Niassa, Distrito de Chimbunila, com uma área de 681 hectares. Está na fase de elaboração do Plano de Ordenamento Territorial.

Operacional

C.Delgado

Niassa

Criada a 18 de Dezembro de 2007, está na província de Nampula e cobre os distritos de Nacala Porto e de Nacala-àVelha numa área de 1539 Km². É de gestão pública.

ZEE de Crusse e Jamali (turística) Nampula tete

ZFI de Revúbuè Zambézia

Inoperacional

Criada a 3 de Outubro de 2016, localiza-se na província de Tete, distrito de Moatize e Chiuta, numa área de 4456 hectares.

Também está na fase de mobilização de recursos e do respectivo operador.

Criada a 6 de Junho de 2014, localiza-se na província da Zambézia e cobre os distritos de Mocuba e o Posto Administrativo de Munhamade, com uma área de 10 727 Km². É de gestão pública.

manica ZEE de MangaMungassa Operacional Criada 6 de Junho de 2012, localiza-se na província de Sofala, Cidade da Beira, Bairro de Manga-Mungassa, com uma área de 217 hectares. É de gestão privada.

ZFI de Mocuba

INHAMBANE Gaza

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Inoperacional Criada a 6 de Junho de 2014, está na província da Zambézia, cidade de Mocuba, com 50,8 hectares. Encontra-se na fase de mobilização de recursos e do respectivo operador.

Parque Industrial de Beluluane Operacional

Maputo

Criado a 30 de Agosto de 2013, localiza-se na província de Nampula, distrito de Mossuril, numa extensão de 1750 hectares. Ainda está a mobilizar recursos e operador(es) interessado(s).

ZEE de Mocuba Operacional

sofala

Inoperacional

É uma Zona Franca Industrial criada a 12 de Outubro de 1999, localiza-se na província de Maputo, distito de Boane, com uma área de 700 hectares. É de gestão privada.

ZFI de Locone Inoperacional

Foi criada a 10 de Outubro de 2011, localiza-se na província de Nampula, cidade de Nacala, com uma área de 163 hectares.

Ainda está na fase de mobilização de recursos e do respectivo operador.

ZFI de Minhuene Inoperacional

Criada a 10 de Outubro de 2011, está na província de Nampula, cidade de Nacala, com uma área de 350 hectares.

Encontra-se na fase de mobilização de recursos e do respectivo operador.

FONTE APIEX *ZEE – Zonas Económicas Especiais *ZFI – Zonas Francas Industriais

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A euforia que havia em torno desta estratégia das ZEE foi adormecendo. Hoje não há, sequer, consistência nos dados sobre o seu impacto nas economias locais Crusse e Jamali, na província da Zambézia, também “há necessidade de, mais uma vez, o Governo prover infra-estruturas básicas, como vias de acesso até às Ilhas Crusse e Jamali, e melhorar a qualidade de energia e de água”, explicou Lourenço Sambo.

E será por aqui que se explica que, desde a sua criação há sete anos, tenham sido lançados concursos para encontrar um operador, mas até agora o Instituto Nacional do Turismo (INATUR) em conjunto com a APIEX ainda lutam para encontrar um operador.

Os problemas desta ZEE repetem-se em Ute, na província do Niassa (concebida no ano passado para a instalação de unidades de processamento de matéria-prima agrícola, incluindo a fruta, e florestal, sobretudo a madeira), enquanto a ZFI de Revúboè, província de Tete, ressente-se da falta de projectos que possam impulsionar a economia local, já que nem a esperada fábrica de ferro e aço e seus derivados, que se previa que pudesse dar força à zona, foi materializada.

Em Novembro de 2018, o Banco de Mowww.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

çambique apontou a ZEE de Mocuba como estando a registar baixo crescimento. Segundo um estudo na altura apresentado pela instituição, desde a sua criação, em 2014, Mocuba tinha atraído apenas 36,5 milhões de dólares em investimentos, por apenas sete empresas, quando se esperava muito mais do que isso (não especificado). Quanto aos postos de trabalho a previsão era de 467, mas acabaram sendo criados só 259. A tensão político-militar é apontada como a principal responsável pelo fracasso, ao que se sobrepõe o alto custo de energia.

Medidas precisam-se para já Infelizmente não há muitos detalhes do que se vai fazer para dar a volta por cima. Lourenço Sambo fala do “estabelecimento de um novo quadro organizacional das ZEE e ZFI no contexto da fusão do Centro de Promoção de Investimentos (CPI), Gabinete das Zonas Económicas de Desenvolvimento Acelerado (GAZEDA) e do Instituto para a Promoção de Exportações (IPEX)”, que deram origem à actual APIEX. Sem re-

velar quais, a APIEX garante que vai “operar algumas medidas ao longo do quinquénio 2020-2024”, e que tudo passa por uma intervenção no sentido de assegurar as infra-estruturas que, como já foi referido, fazem falta (energia eléctrica fiável, vias de acesso, água potável e industrial, portos, aeroportos e mão-de-obra abundante e de qualidade).

Apesar das dificuldades em transformar as zonas económicas de desenvolvimento acelerado em verdadeiros pólos de crescimento, Moçambique mantém a aposta neste modelo. Prova disso é o recente anúncio da intenção de criar mais uma ZEE no bairro da antiga indústria têxtil, a Textáfrica, na província de Manica. “Estão a ser realizados estudos com vista a encontrar a melhor localização para esta ZEE. Paralelamente, estão em curso várias acções de promoção para encontrar investidores interessados na revitalização da Textáfrica e para a sua transformação num Parque Industrial”, avança o director-geral da APIEX. Com todos os problemas já identificados a este nível, competirá às autoridades liderar a luta pela remoção das barreiras para facilitar o crescimento e desenvolvimento das economias locais como mola impulsionadora da economia nacional.

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OPINIÃO

Da Globalização para a Localização Frederico Silva • Investidor e Empreendedor na Área das TIC

A

década de 90 ficou marcada por uma série de eventos que acentuaram as relações comerciais entre países, destacando-se os acordos multilaterais promovidos pela WTO, liderados por Peter Sutherland, conhecido como o pai da globalização. Um factor determinante deste mesmo período foi o aparecimento da internet e a evolução das Tecnologias de Informação e Comunicação, que passou a permitir que se inovasse num país, produzisse noutro e distribuísse para o mundo. A intensificação daquela que era a 3ª onda da globalização impulsionou as importações e exportações das empresas e, consequentemente, colocou a logística como uma área determinante para garantir a competitividade, uma vez que condiciona o custo da mercadoria e o período de entrega.

Ainda na mesma época, em Moçambique, o terminar de uma guerra civil e início de um regime democrático acelerou o crescimento económico do país e alimentou as relações comerciais com outros. Contudo, o impacto da globalização em Moçambique, tal como vários outros países africanos, não se pautou pelo quid pro quo. O país recorreu à importação de produtos, para satisfazer a demanda local, e não estimulou a sua capacidade produtiva, o que resultou num baixo nível de exportação, maioritariamente de matéria-prima não processada.

Nesta senda, privilegiaram-se cada vez mais as importações e exportações e não se criaram condições para que o comércio doméstico se desenvolvesse. Com uma extensão de três mil quilómetros (a quarta maior costa do continente), e fragmentado por três regiões, continua a ser mais acessível transportar um contentor de Shangai para Maputo, do que de Maputo para Lichinga. Uma das causas para esta aberração é uma comunicação deficiente entre a oferta e a demanda de produtos. Um exemplo ilustrativo desta situação é evidenciado pela abundância de fruta que existe

na Macia, e o facto de a mesma escassear nas estâncias turísticas de Chizavane, duas regiões separadas por uns meros 100 quilómetros. Sabe-se, no entanto, que existem dezenas de camiões a circular neste troço e o que falta é que a informação seja disponibilizada atempadamente, para que esta carga seja transportada sem um custo proibitivo.

Não ter acesso a esta informação dá lugar à especulação dos custos envolvidos no processo e faz com que progressivamente se perpetue o comércio internacional.

Hoje, o Covid-19 surge-nos como uma ameaça ao futuro da globalização. As cadeias de valor globais, que interligam produtores de vários países, que sustentam a globalização, ficaram altamente condicionadas pelas imposições desta pandemia. Muitos países fecharam as suas fronteiras e limitaram as relações comerciais entre si.

Este acontecimento está a forçar os países a tornarem-se mais autónomos e a demonstrarem resiliência económica.

As cadeias de valor estão a ser repensadas e os países estão a virar-se para o consumo doméstico. É diante deste cenário de crise que a inovação assume um papel preponderante, e que surgem aplicativos, como o Uber Freight, que asseguram a distribuição de medicamentos e outros bens essenciais. Este modelo foi também replicado no continente Africano, mais especificamente na Nigéria e no Quénia, e está a ter um impacto significativo na indústria e na sociedade. Moçambique tem também uma solução à medida, a appload, um mercado online de logística. Esta startup foi lançada recentemente e está focada em fazer a ponte entre a demanda e a procura de transporte de carga, e garantir que rentabiliza as cargas de retorno de forma a reduzir os custos para o cliente final.

A mesma internet e as TIC, que acentuaram a globalização e aproximaram economias outrora, representam hoje o potencial de as tornarem mais autónomas e centradas na optimização dos recursos internos.

Com uma extensão de três mil quilómetros (a quarta maior costa do continente), e fragmentado por três regiões, continua a ser mais acessível transportar um contentor de Shangai para Maputo, do que de Maputo para Lichinga

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empresas Afinal, “dar bacela” faz toda a diferença!

Quem já andou no mercado informal conhece a “bacela” – expressão popular em tsonga para designar um pequeno bónus que o vendedor oferece ao cliente para conquistá-lo. Este conceito inspirou a criação de uma App inovadora

C

Texto de Emídio Massacola • Fotografia de Mariano Silva

hama-se bacelapp e é exemplo de um investimento focado na vantagem concorrencial. Foi criada pela MilliBran Technologies – uma startup do ramo tecnológico criada por jovens moçambicanos — e que consegue realizar o maior sonho de qualquer consumidor: baixar o preço dos produtos durante todo o ano. “É um aplicativo que permite a qualquer usuário ter descontos que variam de 5% e 50%”, garante o director de tecnologias da empresa, Claude Marcello Champier, referindo-se a uma diversificada gama de produtos que se podem encontrar numa qualquer loja de bens e serviços de consumo que esteja afiliada. Depois, o cliente só tem de fazer o scan do código disponível no estabelecimento (Código QR) que o habilita a aceder à lista de produtos com descontos disponíveis. É fácil, é barato e, não poupando milhões, dá muito jeito nos tempos que correm.

O Bacelapp, que já conta com perto de dois mil usuários, começou a ser desenhado em 2018, mas só foi lançado em 2019, um ano em que a MilliBran obteve vários reconhecimentos, destacando-se o segundo lugar na feira de tecnologias MozTech e a participação na conceituada UTI Telecom World 2019.

Com 107 parceiros, a Bacelapp está acessível em empresas de diversos ramos de actividade, desde a gastronomia à mecânica automóvel, sendo as de maior preferência lojas de roupa, restaurantes e supermercados.

Tanto é que, nos últimos três meses (de Março a Maio), as transacções superaram a faixa dos 6 milhões de meticais.

“Apesar de ainda não termos conseguido alcançar 30% do potencial do mercado em Maputo, no final do dia, isto acaba por um clube de descontos porque o que fizemos foi criar uma versão digital de loyalty card para gerar fidelização do cliente de uma forma digital”, refere o director de tecnologias da empresa.

Depois, há uma outra vertente. O core business é a leitura do comportamento dos clientes, em todas as épocas, e fornecer os dados aos comerciantes. “Na verdade, um dos valores acrescentados do serviço que fornecemos aos nossos clientes são estatísticas sobre o comportamento dos consumidores a partir das suas compras”. Para quê?

“A Bacelapp pode ser um importante instrumento, por exemplo, na gestão e venda dos artigos alinhados no aplicativo, e esse é um dado que muitas vezes os nossos clientes (empresas) desconhecem. Há uma grande falta de dados sobre o consumo no país, e nós conseguimos gerar informação útil para redesenhar vários negócios”.

As empresas que mais têm aderido ao aplicativo não têm ainda uma plataforma online. “Ainda não conseguimos fazer nenhum acordo com uma empresa digital, mas é onde, de facto, pretendemos chegar”, assume Claude, apoiando-se no facto de o país ainda estar a entrar para a era digital, tendo, por isso, à sua frente, “um campo aberto e muito vasto por explorar”.

B Empresa MillBran Technologies Produto/Aplicativo: Bacelapp Colaboradores da App: 4 Usuários: 2 000 Estabelecimentos/ Clientes: 107 Compras: mais de 1 000 Mercado: Cidade de Maputo e Matola Volume de transacções: 6 milhões de meticais entre Março e Maio

TIC 58

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megafone STANDARD BANK CAPACITA PME EM MATÉRIA DE SEGURANÇA Iniciativa do banco surge de uma parceria com a petrolífera Shell

MILLENNIUM BIM OFERECE VISEIRAS A PROFISSIONAIS DE SAÚDE O Millennium bim produziu duas mil viseiras para a Direcção Nacional de Saúde Pública no âmbito do seu programa de Responsabilidade Social. A actividade integra o projecto do Grupo João Ferreira dos Santos (JFS), que inclui voluntários que estão a produzir, manualmente, milhares de unidades do equipamento de protecção hospitalar para a prevenção contra a pandemia do Covid-19.

O PCE do Millennium bim, José Reino da Costa, enalteceu a contribuição dos colaboradores da instituição, frisando tratar-se de uma partilha de “valores de compromisso com o bem-estar dos moçambicanos”.

M-PESA DISPONIBILIZA 30 MIL KITS PARA LAVAGEM DAS MÃOS A Vodacom, no quadro da sua responsabilidade social, através da sua subsidiária – Vodafone M-Pesa SA – doou, recentemente, um total de 30 mil kits sanitários de lavagem das mãos aos agentes M-Pesa, para evitar a propagação do Covid-19 junto dos seus clientes. “Ao fazermos isso, acreditamos que reduzimos substancialmente o risco de passagem deste vírus que circula pelo mundo e aqui no nosso país”, destacou Nuno Quelhas, Presidente do Conselho de Administração da Vodacom, numa visita ao mercado do Xipamanine na cidade de Maputo.

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a incubadora de negócios do standard bank, em parceria com a petrolífera Shell, vai capacitar Pequenas e Médias Empresas (PME) moçambicanas em matérias de saúde e segurança no ambiente de trabalho, de 6 a 10 de Julho próximo.

A formação será ministrada, em ambiente on-line, pela EnergyWorks, uma empresa moçambicana especializada em Sistemas Internacionais de Gestão de Saúde e Segurança no Trabalho, sendo elegíveis a participar proprietários ou gestores de PME, que são incentivados a aprimorar o seu conhecimento e compreensão dos tipos de riscos ocupacionais de trabalho que podem ocorrer no seu dia-a-dia.

Espera-se que, com a formação, as PME possam gerir apropriadamente os riscos inerentes ao trabalho, implementando políticas e procedimentos correctos. Para isso foi concebido um programa educacional de Saúde e Segurança no Trabalho para as PME, que desejam prestar serviços ou fornecer produtos a grandes corporações multinacionais que actuam em diversas áreas, tais como petróleo e gás, infra-estruturas, transporte e logística, confecção de alimentos, mineração, entre outras.

Terminado o curso, um “coaching” adicional será oferecido às cinco PME que demonstrarem melhor desempenho e interesse na implementação do curso.

O Standard Bank Group Ltd. é um dos maiores grupos de serviços financeiros da África do Sul. Actua em cerca de 40 países, dos quais 19 em África, incluindo Moçambique, mercado onde tem um vasto historial (121 anos) e é considerado um dos líderes locais. Historicamente, era uma filial do banco britânico denominado Standard Bank of South Africa.

COTUR APOIA O MISAU COM MATERIAL DE SAÚDE A agência de viagens COTUR doou ao Misau kits de prevenção contra a propagação do novo coronavírus. Entre os materiais destacam-se cinco mil máscaras cirúrgicas, barras de sabão e produtos alimentares direccionados, especialmente, para o Banco de Sangue da maior unidade hospitalar do país.

O PCA da agência, Noor Momade, referiu que “este tipo de acções faz parte da visão e ADN da COTUR”.

O acto foi testemunhado pelo ministro da Saúde, Armindo Tiago, que agradeceu o gesto em nome de todos os profissionais de saúde do país.

SASOL E PARCEIROS ENTREGAM CENTROS DE SAÚDE REABILITADOS EM SOFALA A Sasol e seus parceiros - CTRG (Central Térmica de Ressano Garcia) e ROMPCO (Companhia de Oleodutos da República de Moçambique) – entregaram, a 10 de Junho, três centros de saúde na província de Sofala (um no distrito de Inhamízua e dois no distrito de Dondo), que haviam sido destruídos pelo ciclone Idai, em Março de 2019.

“Esperamos que a nossa contribuição possa trazer alívio às famílias afectadas”, disse Ovídio Rodolfo, director-geral da Sasol em Moçambique. A Sasol e parceiros estão a trabalhar, através da Cruz Vermelha de Moçambique, na reconstrução de salas de aula em Sofala e Inhambane. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

sociedade

DIVóRCIo adiado entre analógico e digital.

As 1001 dúvidas da migração As televisões privadas ainda não sabem quanto terão de pagar para transmitir conteúdos em ambiente digital, nem a sociedade está informada sobre o processo que se arrasta há mais de dez anos. Que rumo a TV está a tomar?

Texto de Celso Chambisso • Fotografia D.R

O

mundo deveria ter deixado de emitir o sinal analógico de televisão a 17 de Junho de 2015.

O acontecimento marcaria o início da era em que as televisões deixariam de ser responsáveis pela transmissão dos conteúdos que produzem, atribuindo essa tarefa a uma entidade que se ocupa em assegurar o sinal digital que, em curtas palavras, representa um salto gigantesco na funcionalidade e qualidade das transmissões. Naquela altura, quando o “apagão” analógico era dado como certo, o prazo foi, felizmente, prorrogado para Dezembro de 2019 ao nível da SADC, já que muitos países, incluindo Moçambique, enfrentavam obstáculos próprios de um processo com elevado nível de complexidade.

Hoje, seis meses para lá do prazo, a transição ainda não foi concluída. Há avanços encorajadores, mas é preocupante a prevalência de questões estruturais ainda por cobrir, numa altura em que parece não haver muito mais tempo para agir.

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O que ainda pesa?

Parte das televisões privadas – com destaque para as que têm melhor capacidade financeira como a STV e a TV Miramar – já opera em ambiente digital, graças aos avultados investimentos que realizaram na substituição de equipamentos analógicos de produção, tratamento e transmissão do sinal. Mas até agora não conhecem os encargos financeiros a suportar em pagamentos de transmissão dos conteúdos à empresa responsável, designada por Transporte, Multiplexação e Transmissão (TMT). O facto constitui um travão a mais no processo de migração digital, já que as empresas de televisão receiam vir a incorrer em custos muito elevados, com impacto na redução da sua facturação. “É natural que as televisões tenham esse receio devido aos elevados custos que o processo de migração digital envolve”, admite o PCA da TMT, Víctor Mbebe, para a seguir prometer que, “em princípio, tudo será feito para que esse custo seja sustentável para todos os operadores”.

Um dado que vem aguçar a preocupação sobre uma possível demora na conclusão da migração digital é o facto de os montantes ainda por definir serem também parte do próprio processo de mudança. “É este valor que vai garantir a manutenção e expansão da actual rede, para permitir que os conteúdos dessas televisões cheguem da melhor forma aos telespectadores, aumentando as audiências e consequentemente as receitas publicitárias das televisões”, revelou o PCA da TMT. O valor a pagar, segundo Víctor Mbebe, será negociado em breve com cada uma das televisões em função das suas necessidades. Mas o objectivo principal é que paguem à TMT pelo menos o que gastam neste momento com a operação e manutenção da sua rede analógica, cientes de que teriam custos bastante mais altos se tivessem de investir numa rede própria de transmissão digital.

Consumidores estão desinformados

Os cidadãos, principais destinatários da migração digital, não estão a par do www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

migração digital à sua criação, em 2012, através da realização de seminários em todas as províncias, distribuição de brochuras, produção e emissão de programas e spots publicitários de TV e rádio.

Mas teve de interromper as actividades para efeitos de reestruturação. Em Novembro de 2018, a TMT havia assegurado que a COMID retomaria a campanha de publicitação da migração ao longo do ano passado, o que até hoje não está a acontecer.

Ainda assim, permanece a esperança de que “agora que o processo de migração já se encontra na fase crítica da sua implementação, a COMID irá assumir as suas responsabilidades no capítulo da divulgação do processo de migração digital, principalmente na actual fase crucial de aproximação do apagão”, garante Víctor Mbebe.

“Em 2020, o apagão será infalível”

que se está a passar. Os poucos que já ouviram falar da migração digital têm algumas dúvidas sobre o que vai mudar. O facto já tinha sido apontado entre os pontos fracos do processo de migração digital no estudo publicado pelo Misa-Moçambique (organização da Sociedade Civil que trata da promoção e defesa da liberdade de expressão, de imprensa e do direito à informação), em Novembro de 2018. Trata-se de um problema que teria sido evitado porque, desde cedo, as autoridades tinham determinado a necessidade de comunicar previamente à sociedade sobre as implicações do processo, sobretudo para preveni-la do “apagão”, preparando-a para a compra de decoders e pacotes de conteúdos. A informação é tarefa que compete à Comissão Técnica para a Implementação da Migração (COMID), composta por quadros de diferentes instituições envolvidas na migração digital (desde os reguladores aos representantes das diferentes televisões).

A COMID até tinha iniciado o processo de divulgação logo a seguir www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

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EMISSORES Infra-estrutura de transmissão já está pronta para assegurar a transmissão de conteúdos das televisões na rede TMT

Se antes foram estabelecidas datas em que o “apagão” teria de acontecer, hoje não se sabe ao certo. Mesmo depois de atrasos sucessivos e com muito ainda por arrumar, o PCA da TMT acredita que o ‘apagão’ será infalível “durante este ano”, mas de uma maneira faseada em razão de os centros emissores digitais também terem sido concluídos de forma faseada.

A data do apagão dependerá de dois factores, nomeadamente a conclusão de todos os 60 centros emissores e o seu pleno funcionamento, e a disponibilidade de decoders (descodificadores do sinal) e a sua aquisição pela maior parte da população. Uma vez preenchidos estes requisitos, o Governo, através da Autoridade Reguladora das Comunicações de Moçambique, ARECOM, irá avaliar e decidir sobre a data do apagão em cada centro emissor.

Sobre a efectivação da transição, “a experiência dos outros países mostra que a população só adere massivamente à Televisão Digital Terrestre quando se aproxima a data do ‘apagão’ decretada pelo Governo. Creio que em Moçambique vai acontecer o mesmo fenómeno”.

O que já está pronto?

Neste momento, foram instalados todos os 60 centros emissores que fazem parte do projecto. Igualmente, já estão disponíveis 300 mil decoders dos 400 mil previstos nesta fase (os restantes

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sociedade PREVALECEM OBSTÁCULOS Estudo do Misa-Moçambique concluiu que, embora as televisões privadas estejam avançadas na substituição de equipamentos analógicos pelos digitais, há aspectos, no próprio ambiente, que desfavorecem a aceleração da migração.

Todos relacionados com a posição da TMT, empresa responsável pela transmissão do sinal digital

Cobertura Fraca adesão dos operadores privados aos serviços de transmissão da TMT dada a reduzida cobertura geográfica do sinal e a oferta competitiva das companhias privadas de transmissão

Custos Fraca adesão dos operadores de televisão aos serviços da TMT também devido ao receio de prováveis preços elevados de transporte e transmissão do sinal da televisão até ao consumidor final

Qualidade Baixa qualidade dos produtos televisivos e consequente falta de competitividade devido à insuficiência de recursos humanos com preparação técnica adequada para produzir em ambiente digital

Concorrência Adesão limitada da população rural aos canais nacionais dos operadores privados das televisões, devido à mobilidade para plataformas pagas dos provedores privados de transporte do sinal

Controlo Aumento de zonas de penumbra e de má qualidade do sinal de televisão devido à ausência de um sistema de monitoria e controlo de qualidade do sinal na TMT

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Actualmente, a TMT tem um potencial de cobertura que pode chegar até 70% da população, contando já com mais de 60 mil aparelhos de televisão conectados à sua rede. No entanto, faltarão, certamente, alguns milhões de lares moçambicanos 100 mil não estão disponíveis devido à interrupção da produção na China com a eclosão do novo Coronavírus).

Embora não haja dados actualizados sobre quantas pessoas ou famílias têm aparelhos de televisão em suas casas, nem as que terão de migrar (tomando em conta que há também as que já estão ligadas à televisão digital), não é difícil concluir que o número de decoders necessário estará abaixo das necessidades. Basta olhar para os agregados familiares, estimados em cerca de cinco milhões de famílias pelo censo

populacional do INE, realizado em 2017.

Além disso, a pesquisa do Misa-Moçambique indica que mais de 90% dos televisores, incluindo os conhecidos plasmas, precisam de decoders para receber emissões digitais.

Actualmente, a TMT tem potencial de cobertura de até 70% da população e já conta com mais de 60 mil aparelhos de televisão conectados à sua rede. “A TMT tem a maior rede de transmissão do sinal digital terrestre e praticamente todos os operadores privados já aderiram aos nossos serviços de www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Migração digital

Televisões prepararam-se As televisões privadas têm investido na digitalização. A STV e a Miramar estão à frente da concorrência % da modernização de equipamentos de produção e transmissão

85,7% 14,3%

85,7% 14,3%

STV

Miramar

71,4% 28,6%

71,4% 28,6%

TIM

Top TV

71,4% 28,6%

57,1% 42,9%

TV Sucesso

Eco TV

Modernizado

Por modernizar FONTE MISA-Moçambique

transmissão. Apenas dois operadores privados é que ainda não estão ligados à plataforma por questões técnicas relacionadas com os próprios operadores, mas dentro em breve estarão resolvidas”, frisou a fonte.

O Misa-Moçambique, diga-se, não acredita que a cobertura da TMT seja efectivamente tão abrangente como dá a entender. O kit completo, que inclui o decoder, antena e cabo, pode ser adquirido em todo o país ao preço único de 1 200 meticais, junto dos agentes autorizados.

Ao adquirir o decoder da TMT, o telespectador deverá ter acesso a todos os canais de televisão nacionais, sem necessidade de pagar qualquer subscrição mensal. Contudo, para o acesso aos canais internacionais, em princípio, deverá ter de ser pago um valor www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

mínimo de acordo com o pacote de programas seleccionado.

Abrangência: arma contra a concorrência

Para o seu PCA, a TMT “constitui uma séria ameaça para os concorrentes (operadores como a GoTV, DSTV, TV Cabo, ZAP entre outros), o que se justifica pelo aumento de campanhas de marketing e redução dos preços dos decoders e dos pacotes de televisão”.

Reconhece, no entanto, que a concorrência se faz sentir mais nas capitais das províncias, mas sublinha que “no resto do país a TMT é a única opção.

Os desafios das televisões

Como accionista da TMT, a televisão pública, TVM, está em posição privilegiada.

Assumiu, desde cedo, a dianteira no processo de digitalização, tendo investido

mais de 40 milhões de dólares para o efeito. As televisões privadas não são abertas a trazer detalhes sobre números, por isso vale recorrer ao estudo do Misa-Moçambique para conhecer o seu espírito em todo este processo.

Segundo a publicação, os desafios das televisões privadas incluem a necessidade de formar recursos humanos à altura do sistema digital; superar a grande dificuldade de distribuição (só cobre alguns grandes centros urbanos, por meio da TV a cabo); e conquistar a audiência.

“As televisões ainda não conseguiram conquistar a atenção dos moçambicanos quanto à qualidade de programação”, conclui o estudo, apontando que este é o factor crítico do sucesso no negócio das televisões na era digital.

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lá Fora

As armas da banca angolana contra o Covid-19 O banco central tem estado a implementar uma série de medidas para libertar o sector financeiro de algumas exigências de capital, criando espaço para que apoie o máximo possível as empresas e famílias já fragilizadas

t

Texto de António Nogueira • Fotografia Carlos Aguiar, JA Imagens

al como está a ocorrer em quase todo o mundo, em Angola, o Governo, nomeadamente as autoridades monetárias, colocaram também a banca na primeira linha de combate aos efeitos da Covid-19, em defesa da economia. Em concreto, o Estado angolano vem anunciando pacotes de milhares de milhões de kwanzas de modo a combater, de forma eficaz, a pandemia, sendo que os pacotes incidem sobretudo em garantias a empréstimos a serem concedidos pela banca comercial. Toda esta operação, que começou a ser implementada

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logo depois de o Governo ter decretado o primeiro Estado de Emergência, a 27 de Março do corrente ano, tem sido orquestrada pelo Banco Nacional de Angola (BNA), que encontrou como uma das estratégias manter as suas taxas de juro inalteradas. Na reunião de política monetária do passado dia 7 de Maio, a instituição optou por manter a taxa básica de juro (taxa BNA) em 15,5%, e seguiu o mesmo procedimento em relação a outras duas importantes políticas, nomeadamente a taxa de juro da facilidade permanente de absorção de liquidez, com maturidade overnight, mantendo-a em 0%, e tam-

bém em relação aos coeficientes de reservas obrigatórias em moeda nacional e estrangeira, que se mantiveram em 22% e 15%, respectivamente.

O BNA decidiu, por outro lado, activar a Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez Overnight em até 100 mil milhões de kwanzas, renováveis trimestralmente, de modo não cumulativo, ao longo do exercício económico de 2020. A Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez é a operação através da qual os bancos comerciais recorrem ao banco central para obter crédito para financiar as suas actividades. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

angola tualizada a legislação sobre a concessão de crédito bonificado à economia real.

Nesta perspectiva, o regulador do sector orientou os bancos comerciais a aumentarem o valor mínimo que deve ser concedido até ao final de 2020, ou seja, de 2% do seu activo líquido para 2,5% para acelerar a diversificação da produção interna. Com a actualização da referida legislação, o financiamento bonificado no âmbito do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI) passa a ser extensivo a 17 novos bens que podem ser produzidos no país, uma medida que, segundo o banco central, é determinante para reduzir a dependência excessiva do país da importação de bens e serviços, bem como para aumentar as fontes de receitas em moeda estrangeira e, dessa forma, assegurar a sustentabilidade das suas contas externas.

De resto, o banco central angolano

são de extractos de conta de clientes.

Em nota distribuída à imprensa, o BNA orientou ainda as instituições a garantirem a aceitação de documentos cujo prazo de validade expire durante o período de vigência do Estado de Emergência, ou nos 30 dias imediatamente anteriores ou posteriores.

O BNA orienta também as instituições a continuarem a garantir o atendimento regular de reclamações, incluindo por via presencial, devendo apenas serem observadas as medidas de segurança, bem como disponibilizar meios alternativos, nomeadamente contactos de telefone, e-mail, homebanking ou outras soluções digitais que garantam o acesso regular às contas e saldos dos seus clientes e à realização remota de operações.

As instituições bancárias devem, por outro lado, garantir o funcionamento pleno e regular das Caixas Automáticas/ATM e terminais de pagamento

O BNA ordenou aos bancos que priorizem a concessão de crédito às PME, estabelecendo o número mínimo de créditos que devem ser contratualizados com estas entidades Na semana de 11 a 15 de Maio do corrente ano, os bancos comerciais recorreram àquele mecanismo na maturidade Overnight, numa média diária de 15,7 mil milhões de kwanzas. De acordo com o banco central, no mesmo período, os bancos comerciais realizaram 54 operações de cedência e tomada de liquidez no mercado interbancário, totalizando 169,4 mil milhões de kwanzas. Ficou igualmente determinado, na última reunião do Comité de Política Monetária do banco central, que as grandes empresas do sector produtivo passem, agora, a ser incluídas na linha do desconto de Títulos Públicos no valor de até 100 mil milhões de kwanzas, procedimento que estava inicialmente destinado apenas às pequenas e médias empresas.

Desaperto na concessão de crédito

Vale assinalar, no entanto, que antes mesmo das mais recentes medidas tomadas pelo BNA, outras já tinham sido accionadas, sempre na perspectiva do combate aos efeitos do novo Coronavírus. Uma dessas medidas incidiu directamente sobre o crédito cedido à economia, tendo sido, para o efeito, acwww.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

considera que os recentes desenvolvimentos na economia ao nível mundial, especificamente a descida significativa do preço do petróleo e a pandemia do Covid-19 “vêm apenas reforçar a importância e urgência de se alcançar o objectivo da auto-suficiência da produção interna de bens e serviços”.

O aviso do BNA também obriga à publicação, por cada banco, no seu site institucional, do valor total acumulado do crédito concedido à economia, actualizado no último dia dos meses de Julho, Outubro e Janeiro de cada ano.

A actualização reflecte, entre outros aspectos, a necessidade de se acelerar o ritmo do processo de diversificação da economia, estimando-se que mais de 500 novos projectos de PME possam ser financiados ao longo do exercício de 2020 em condições mais favoráveis.

BNA exige normalização dos serviços

Logo no início do surto da pandemia, o banco central orientou as instituições financeiras a garantirem a prestação normal dos seus serviços, nomeadamente depósitos e levantamentos de numerário, transferências domésticas e internacionais e emis-

(POS) em toda a rede nacional, além de, em caso de encerramento temporário de algumas agências e dependências, ser obrigatório que as instituições financeiras informem o público qual a agência mais próxima que garantirá a prestação dos serviços.

Já em relação à prestação de serviços de remessas e recepção de valores, as instituições autorizadas para o efeito devem garantir a manutenção dos referidos serviços, podendo, excepcionalmente, aceitar transferências bancárias dos ordenantes, para liquidação das operações, quando observadas as exigências relativas à regulamentação sobre o combate e prevenção aos crimes de branqueamento de capital e financiamento ao terrorismo.

O BNA garante que assegurará o atendimento regular de reclamações, pedidos de esclarecimentos e denúncias mediante os seus canais habituais e continuará a garantir as actividades concernentes às facilidades de liquidez, serviços de depósitos, bem como levantamentos de numerário quer ao nível central, quer ao das delegações regionais.

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NOVOS ÂNGULOS

O fim de uma nova Economia assente em velhos princípios

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Pedro Cativelos • Director-Executivo da Media4Development

izem-nos as notícias que o covid-19 está a abrandar pelo mundo. É um facto. Em África, na verdade, nunca chegou a ser tão evidentemente preocupante como o foi na Europa, na China ou nos Estados Unidos ao nível da mortalidade. Mas as medidas tomadas para que tal não acontecesse seguiram todas a mesma e aparentemente inevitável receita, e logo os resultados humanos do pós-pandemia são economicamente similares.

E é isso que os números nos vão mostrando. O que tem acelerado a um ritmo verdadeiramente epidémico são as perspectivas de decrescimento económico que, de forma dramática, vão constatando as centenas de milhares de empresas que fecham portas e os milhões de pessoas que são atiradas para o desemprego. Formal e informal.

O maior legado do covid-19 ainda estará por chegar, e será, na opinião de muitos, onde me incluo, os incontáveis milhões que são depositados na pobreza. Ou lá mantidos, sem prazo certo de, de lá se poderem levantar. Falo de pessoas.

Depois, a ironia de se desenharem novos mundos, feitos de novas normalidades sociais e profissionais que não resolvem, de todo, as antigas anormalidades do velho normal.

Diz o ditado que, “o que nasce torto tarde ou nunca se endireita”. E o novo normal está a começar torto.

Porque começou, desde logo, por nascer de uma reacção espontânea, e pouco pensada, a um presente sobre o qual não se sabe bem ainda até quando se vai prolongar.

Por isso, acredito, que o que estamos a viver seja, apenas e só, o principío de uma evolução que está por chegar.

Mas já lá vamos, à evolução.

Em África, a luta será, como nunca, a mesma de sempre.

Juntar crescimento e desenvolvimento. Só que agora, esta conjugação é tão ou mais urgente. É definitiva.

E o desafio parece ser o maior da História do continente desde a luta de libertação das potências coloniais.

África caminha hoje, perigosamente, permeável às disputas geopolíticas entre China, Estados Unidos e Rússia.

Nunca, como antes, o apetite destas economias será tão voraz como o que se espera que venha a ser nos próximos meses, antevê-se. Porque, depois do reboot da primeira metade de 2020, precisarão de rapidamente colocar as suas grandes máquinas económicas a carburar e não têm muito tempo para o fazer porque também competem entre si.

O mundo esteve completamente parado por quase três meses. E está a caminhar, intermitente, vai para um semestre.

Com os anúncios da OMS e de vários outros especialistas de que, afinal, poderá não haver segunda vaga da pandemia, todas as análises apontam para uma segunda metade de 2020 já a demonstrar sinais de recuperação dos principais indicadores de riqueza dos países. Só que, como sabemos, esses sinais não se vão sentir de imediato nas carteiras do homem comum, ou do pequeno e médio empresário.

O que me leva a uma outra questão. É o PIB, por si só, um indicador suficiente do que é a riqueza de um país, da sua grandeza, da sua dimensão e poder e, acima de tudo, do seu desenvolvimento? Deve o PIB ser uma medida assim tão fundamental quando olhamos para a evolução de uma Nação?

O PIB não mede a sustentabilidade do crescimento, e um país pode atingir um PIB temporariamente alto por explorar excessivamente os recursos naturais ou por uma má alocação do investimento.

Criado em 1930, depois da Grande Depressão, quando a crise mostrava a necessidade de métodos mais abrangentes de análise à economia e para que os presidentes norte-americanos Herbert Hoover e Franklin D. Roosevelt pudessem elaborar políticas com base em dados universais e não apenas em fragmentos, como índices de preços de acções, fretes de transporte de cargas e índices de produção industrial. Não havia, até então, um indicador capaz de lhes mostrar a ‘big picture’ e o PIB deu-lhes respostas agregadas.

É o PIB, por si só, um indicador suficiente do que é a riqueza de um país, da sua grandeza, da sua dimensão e poder e, acima de tudo, do seu desenvolvimento? Deve o crescimento do PIB ser uma medida assim tão fundamental quando olhamos para a evolução de uma Nação?

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Pode parecer desfocado o presente, mas há contornos que nos deixam antever o caminho a seguir Sabendo que há outros indicadores anuais, dos que medem o estado das democracias aos que analisam a liberdade de imprensa, ou níveis de actividade empresarial ou de desenvolvimento humano, o indicador do PIB, e o seu crescimento (ou falta dele) ano após ano, ganham, na maioria das análises, uma dimensão desmesurada e cada vez mais questionável nos dias que correm. E determinam políticas, medidas fiscais, redigem leis e redefinem grandes estratégias de financiamento.

Por isso, parece-me oportuno que, num tempo em que, pela primeira vez, porventura, na História do Homem e dos países como os conhecemos hoje, as maiores economias mundiais veêm cair, em simultâneo, a sua produção de riqueza anual levantar a questão: é o PIB, e esta obsessão com o seu crescimento incessante, ano após ano, a medida que pretendemos ter de crescimento, desenvolvimento e de riqueza da nossa Nação, seja ela qual for, de hoje em diante?

Lembro-me de quando nos referíamos aos países pelo seu nome e não chamando-lhes de “economias”.

E sobre esse tempo não passou assim tanto tempo.

Também recordo algumas lições que a todos nos ensinaram os pais e os avós, e que acabam por ser as que um dia passaremos aos filhos e netos: ter mais dinheiro no banco não significa ser melhor, porque o que nos distingue verdadeiramente, é quem somos e não o que temos.

Na realidade, nenhum ser humano na sua vida pessoal avalia o sucesso ou o insucesso no trabalho, na família ou na amizade, de acordo com a percentagem de crescimento no salário, na soma do número de filhos ou na multiplicação do número de amigos face ao ano anterior, resumindo o que somos e no que nos tornámos ao simples resultado positivo da soma destas percentagens.

Seria insano fazê-o uma só vez. Quanto mais ano após ano. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Todos teremos os nossos próprios parâmetros de análise daquilo que é a nossa vida, do que nos define enquanto pessoa. E muitos deles até são quantitativos e comparativos.

Mas são também qualitativos, objectivos e subjectivos, evolutivos... E tantos mais que aqui não cabem.

Se isso serve ao indivíduo, pergunto-me porque tal lógica não poderia servir às nações, dotadas de uma multiplicidade intrincada que conjuga milhões de pessoas, de formas de ser e pensar, de culturas, instituições públicas e privadas, habitats, infra-estruturas, e tantas outras coisas.

Interessante lembrar a história da medalha do prémio Nobel de Simon Kuznets, o economista que inventou a definição de PIB, vendida em 2015, num leilão em Los Angeles por quase 391 mil dólares. Será a medida do seu mérito?

Entramos, por ora, naquela a que chamam a maior crise desde a tal grande depressão de 1930. Será um bom momento para inovar, como então fizeram.

E poderíamos começar aqui. Percebendo que simplesmente seria pouco inteligente, 90 anos depois, e com tudo o que mudou no mundo desde então, usar uma invenção de 1930 para medir a forma como resolvemos o maior problema das nossas vidas, em 2020.

Por fim, há um outro factor. De cariz mais existencial.

Não há, que eu saiba, qualquer lei natural que dite que tudo cresce sem algum dia parar. Bem pelo contrário.

Tudo o que nasce cresce, decresce e morre. E por isso é que nada se perde e tudo se transforma.

Parecer-me-ia, por isso, bastante mais interessante e adequado ao que vivemos, começarmos todos a reflectir e a mudar a nossa acção. Olhando mais para o que podemos transformar, mudar e melhorar, ano após ano, do que apenas para o quanto podemos crescer. Até porque, só aí, estaremos de facto a Crescer. E não só a aumentar.

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ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

72 Nesta edição, visitamos a Reserva Especial de Maputo

g

e 74 O Pho Viet, leva-nos em sabores até ao Vietname sem sair de Maputo

75 A escolha da Adega recai numa requintada selecção de espumantes portugueses

Reserva Especial de Maputo

e

Reserva Especial de Maputo

O reino dos animais junto ao Índico o verde intenso e perfumado de humidade da floresta e o chilrear de centenas de pássaros faz-nos acreditar que entrámos no reino dos animais. Estamos na Reserva Especial de Maputo, a escassos quilómetros da capital. Os eucaliptos partidos há pouco dizem-nos que há elefantes por perto. O nosso guia, conhecido por “pai dos bichos”, Rodolfo Cumbane, conduz devagar.

“Estão ali, e têm uma cria que deve ter dias”, alerta.

Era uma manada de elefantes, um deles avançou ligeiramente. Ficámos a saber que mostram agressividade quando há crias.

“Se estiverem sozinhos são mais controlados, mas daqui podemos observá-los sem perigo”, recomenda. Também nos confidenciou que estes enormes bichos têm uma mania muito peculiar: coçam as costas nas árvores. E de facto encontrámos algumas sem qualquer vestígio de ramos, até uma altura de mais de dois metros. “É muito engraçado ver um

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animal tão feliz, até ri, estou aqui há 32 anos, já vi muito, mas isto que os elefantes fazem é bem divertido”, conta Rodolfo a rir.

Deixámos os elefantes e entrámos numa planície dourada. Por entre as poucas árvores, e quase camuflada, caminha, em passo majestoso, mais uma família. São girafas. Olham-nos calmamente e decidem avançar um pouco. Ficamos a observá-las, enquanto o nosso guia nos diz: “A Reserva tem cada vez mais animais jovens e isso é bom”. Mais uns quilómetros e mais animais.

Desta vez o Boi-cavalo. São muitos e fazem poeira.

Na continuação da viagem, quase sempre acompanhados por cabritos vermelhos e algumas impalas, encontrámos inúmeras lagoas. As maiores abrigavam centenas de variados pássaros, hipopótamos e crocodilos. À nossa passagem, as aves voam em bando, enquanto os outros continuaram pachorrentos e indiferentes à nossa presença. “Po-

demos avançar a pé e ver mais perto. Há mais crocodilos mas eles são matreiros, ficam quietos, parecem pedras”, explica o “pai dos bichos”.

Depois de tanto verde, descemos uma duna. Chegamos a uma praia onde os nossos olhos não conseguem alcançar o fim. Aqui apetece fazer tudo menos ir embora.

Apetece rebolar na areia fofa até à água azul e ficar na conversa com as ondas.

Também é possível pernoitar na reserva. Em Dezembro, inaugurou o lodge Anvil Bay, em Ponta Chemucane, com várias casinhas espalhadas pela enseada.

O Anvil Bay, que quer dizer “árvore do bem”, é uma parceria entre um privado e a comunidade, até agora o único negócio com estas características no país.

Com a lua no caminho e depois dos animais irem dormir, ficámos a saber que a reserva existe desde 1932 e será para sempre conhecida como a reserva dos elefantes. texto Cristina Freire fotografia Mauro Pinto

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Por entre as poucas árvores, e quase camuflada, caminha, em passo majestoso, mais uma família de girafas

ROTEIRO Como ir

Vindo da fronteira de Ressano Garcia, siga pela EN4 até ao Shoprite, entre à sua direita na EN2 até Boane e depois siga em direcção à Ponta do Ouro.

A partir daí, prepare-se para viver uma aventura emocionante, atravessando a ponte sobre o rio Umbelúzi, junto da linha férrea, de onde se podem avistar as populações a lavar roupa, a nadar ou a cultivar as suas machambas. Vastas áreas de floresta natural e belas paisagens serão uma constante companhia ao longo dos 134 Km de estrada, com uma duração de aproximadamente três horas.

Goze estes momentos ao ritmo da natureza. Da Katembe para a Reserva distam 80 Km, cerca de 50 minutos. A estrada dentro da Reserva inclui troços de terra batida e outros de solo bastante arenoso. Recomenda-se a utilização de veículos 4×4.

Onde dormir

Junto à costa, existem locais de alojamento para acolher visitantes que podem juntar o gosto pela fauna e o mergulho. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

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Não se deixe iludir pela aparência discreta e modesta do espaço.

A experiência vale mesmo a pena

Restaurante Pho Viet

Av. Vladimir Lenine 2052 Aberto de 3ª feira a Domingo (encerra à 2ªfeira) Horário: 7h às 22h

g a crescente diversidade da oferta gastronómica na cidade de Maputo é um facto que tem de ser devidamente realçado. Mas não apenas a diversidade.

Mais importante, como é óbvio, é a sua qualidade. Para quem gosta de “viajar pelos sabores”, a nossa sugestão deste mês é uma visita ao Pho Viet.

O ambiente é acolhedor, a ementa variada e a degustação convida a voltar pois há muito que fica por saborear apenas numa visita. É frequente desconsiderar a culinária vietnamita como sendo similiar à chinesa, um equívoco que resulta do pouco conhecimento que temos sobre ela. É um facto que existe uma forte influência chinesa na culinária vietnamita.

Nem outra coisa seria de esperar se tivermos em conta que os chineses colonizaram o país durante quase 11 séculos. Mas ela distingue-se da chinesa de diversas ma-

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Pho Viet neiras: emprega, por exemplo, bem menos gordura, faz uso intenso de ervas aromáticas e especiarias, e as receitas vietnamitas levam normalmente mais ingredientes crus, quer sejam vegetais ou animais.

Por outro lado, a colonização francesa influenciou também o preparo da comida mas, apesar destas influências, a gastronomia vietnamita soube preservar uma identidade própria que se divide em três culinárias: a do Sul (à base de ervas frescas e pratos tropicais bastante elaborados), a do Centro (com tendência a ser mais condimentada, e em que se utiliza muito o pimentão e a pasta de camarão) e a do Norte, bastante parecida com a cozinha chinesa, com o uso frequente de vegetais em conserva

o Vietname aqui em maputo

em vez de ervas frescas, cogumelos, e pimenta preta em vez de pimentão. Por ter um litoral tão extenso, peixes e frutos do mar são facilmente encontrados por quase todo o país, como também pato, frango, porco e carne vermelha, servidos em combinações exóticas.

A base de uma refeição tradicional vietnamita é o arroz branco, acompanhado de legumes ou carne ou peixe.

Os esparguetes de arroz são também um dos ingredientes principais do pho, prato conhecido e apreciado em todo o Vietname. Trata-se de uma sopa de esparguete de arroz com pedaços de carne de frango ou carne

bovina, enriquecida com ervas (geralmente hortelã e manjericão), limão, vegetais, feijão, cebola e pimenta.

A Xalach Dia (salada de ervas frescas), os vegetais verdes, os rebentos de bambu e os vegetais em vinagre são servidos como acompanhamento em quase todas as refeições.

Os molhos e condimentos vietnamitas são também extremamente variados.

O mais conhecido é o Nuoc Mam ou Nuoc Cham, um molho de peixe salgado diluído em sumo de limão ou vinagre, temperado com alho e pimentões esmagados, com um toque de açúcar, que se pode usar para temperar arroz, crepes, carnes grelhadas, ou ainda para adicionar à sopa.

Caracterizada pelo seu equilibrio de sabores e aromas, a cozinha vietnamita é sofisticada, delicada e subtil. Existem, portanto, motivos de sobra para a experimentar. www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Aplauso Colheita Seleccionada Bairrada Doc Bruto 2012 País Portugal Região Bairrada Castas Maria Gomes, Bical e Baga Cor Ligeiro amarelo com toques de laivos dourados Aroma Frutos de polpa branca, maçãs verdes, algumas notas de tosta com final ligeiramente limonado Paladar Boa estrutura de boca, equilibrado, excelente mousse fina, bolha fina e persistente Final Intenso, longo, cremoso e envolvente Temperatura a que deve ser servido: 6º

Palavrar Vinho Espumante Bruto País Portugal Região Bairrada Castas Maria Gomes e Bical Cor Ligeiro amarelo com laivos dourados, bolha fina e persistente Aroma Frutos de polpa branca (maçãs brancas), algumas citinas e tropicais Paladar Bom volume de boca, equilibrado, com excelente mousse Final Intenso, cremoso e envolvente Temperatura a que deve ser servido: 6º

Aplauso Rosé Bairrada Doc Bruto País Portugal Região Bairrada Castas Baga e Touriga Nacional Cor Rosa Salmão Aroma Muito frutado, lembrando frutos silvestres e morangos frescos Paladar Espumante de bolha muito fina, leve, com bela vivacidade e harmonia. Acidez que lhe confere grande frescura e equilíbrio Final Intenso, cremoso e envolvente Temperatura a que deve ser servido: 6º www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

Apesar da sua pequena dimensão territorial, Portugal está entre os 10 maiores produtores de vinho a nível mundial

A ARTE DA REFINADA

REGATEIRO DOC BAIRRADA BRANCO BRUTO 2013

não se pode mencionar a bairrada sem falar da produção de espumantes, pois ela é a região mais antiga e importante de Portugal na elaboração deste tipo de vinho – os espumante são ali produzidos desde 1890, e pelo método clássico, o que dá muito mais sofisticação e fineza aos vinhos.

Apesar de ser uma das mais pequenas regiões vitivinícolas, a Bairrada representa cerca de 65% da produção oficial de vinhos espumantes em Portugal. Uma das razões que contribuem grandemente para a qualidade diferenciadora que os distingue tem que ver com as características desta região.

A acidez é fundamental e mais do que em qualquer outro lugar pode-se aqui obter vinhos de elevada acidez mesmo com boas maturações. O resultado são espumantes com maior estrutura e envolvência de boca.

A principal uva da Bairrada é a Baga, que corresponde a pelo menos 50% das uvas plantadas na região. Trata-se de uma variedade tinta cujos taninos são muito ricos e presentes, garantindo aos seus vinhos uma longevidade elevada. O Regateiro Doc Bairrada Branco Bruto 2013, elaborado a partir da casta Baga, foi distinguido pela “Revista de Vinhos” (publicação de referência do sector) como um dos melhores de 2015 merecendo-lhe a seguinte apreciação: “Branco feito de uvas tintas, tem uma leve tonalidade rosada e aroma bastante fino, com leves tostados a amparar a fruta fresca. Na boca surgem notas de maçã verde, num conjunto que prima pela harmonia, com final fresco, muito elegante e suave”.

A sua excelente mousse, a bolha fina e persistente e a excelente acidez são alguns dos atributos que fazem dele uma boa escolha para acompanhar, por exemplo, assados no forno.

Portugal

BOLHA PORTUGUESA

País

Região

Bairrada Castas

Baga Cor

Ligeiros reflexos rosa, característicos de um vinho branco feito de uvas tintas Aroma

Frutos vermelhos, complexo Paladar

Excelente mousse, bolha fina e persistente, estruturado, fresco com uma excelente acidez Final

Intenso, longo, cremoso e persistente Temperatura a que deve ser servido:

6º - 8º

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Green swans

“Green Swans: The Coming

Boom in Regenerative Capitalism”, um retrato escrito da Mudança Rumo à Sustentabilidade considerado uma das figuras de referência mundial no que toca às questões da sustentabilidade, com uma obra que tem influenciado, ao longo das últimas três décadas, todo o debate em torno dos problemas ambientais e do futuro do Planeta, John Elkington lançou, em Abril, o seu mais recente livro: “Green Swans: The Coming Boom in Regenerative Capitalism” (“Cisnes Verdes: o novo boom do capitalismo regenerativo”).

O título remete para a obra de Nassim Nicholas Taleb (“A Lógica do Cisne Negro”) na qual o autor considerava que os fenómenos raros e imprevísiveis (“cisnes negros”), que escapam à “lógica simplificadora” dos agentes do mercado, tinham de ser incorporados na teoria económica, que deve incluir a “incerteza”

nos seus modelos já que “o imprevisível, o diferente e o singular” são elementos constitutivos da “complexidade” das sociedades.

Mas, embora sem contestar a existência e a imprevisibilidade dos “cisnes negros”, o que John Elkington pretende evidenciar neste livro é que existem eventos potencialmente disruptivos, de cariz catastrófico, que podem ser antecipados e evitados.

Nesta perspectiva, os “cisnes verdes” a que o título faz referência dizem respeito aos diversos protagonistas que, assumindo uma “nova mentalidade”, estão a apontar o caminho para um novo tipo de capitalismo, mais resiliente e regenerativo, menos intensivo no uso de recursos naturais e nas emissões de carbono.

Baseado em inúmeros estudos de caso, o livro está

o caminho para um novo tipo de capitalismo, mais resiliente e regenerativo Ambiental www.economiaemercado.co.mz | Junho 2020

repleto de exemplos de tecnologias emergentes com potencial para a criação de riqueza económica, social e ambiental. Mas para que isso aconteça é preciso uma mudança de paradigma, que implica as empresas mudarem da lógica do “lucro a qualquer custo” para uma outra em que o “bem-estar colectivo precede o lucro”. Algo já amplamente discutido, por exemplo, no Fórum de Davos este ano.

Criador, há 25 anos, do conceito Triple Bottom Line (TBL) – o chamado “tripé da sustentabilidade” –, que defende a necessidade de interligação das noções de desenvolvimento Social, Económico e Ambiental, John Elkington procede também neste livro a uma revisão e reactualização deste conceito. Esta necessidade surgiu, como explica em texto publicado na Harvard Business Review, do balanço que fez do modo bastante limitado como o mundo empresarial incorporou o TBL nas suas práticas.

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lexus ux

Motorização

UX 250h equipado com um sistema híbrido self-charging, também disponível com tracção Integral

UX 200 disponível com motor gasolina de elevado desempenho Preço

a partir de 45 mil dólares

v

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uma proposta luxuosa depois de um primeiro protótipo ter sido apresentado em 2016, o novo crossover compacto Lexus UX fez a sua estreia Salão Automóvel de Genebra de 2018.

O segmento dos SUV‘s compactos de luxo está recheado de boas propostas, como é caso do BMW X2, do Jaguar E-Pace ou do Volvo XC 40, mas o Lexus UX tem todos os ingredientes para disputar um lugar de destaque neste segmento sempre muito competitivo.

O novo UX, direccionado para “o explorador urbano moderno”, conta com um chassis e suspensão totalmente novos que lhe conferem um baixo centro de gravidade, proporcionam agilidade e uma condução divertida. Estão ainda disponíveis duas opções de motorização: o UX 250h, equipado com um sistema híbrido self-charging, ou o UX 200,

para competir no segmento dos SUV‘s disponível com motor gasolina de elevado desempenho. As tecnologias inovadoras, como o monitor de visão panorâmica e o sistema áudio surround premium Mark Levinson, representam alguns equipamentos que se juntam ao avançado sistema de segurança de série Lexus Safety System+. Este inclui o sistema sistema de pré-colisão com detecção de peões, assistência à demarcação da faixa de rodagem para o ajudar a manter-se no trajecto, e cruise control adaptativo que regula a velocidade do veículo em função da viatura à sua frente. O UX é, ainda, o primeiro Lexus a ser construído sobre a nova pla-

taforma de Arquitectura Global GA-C, a base para o seu desempenho dinâmico, e cujo desenvolvimento teve como prioridade conferir uma resposta ágil e instantânea às solicitações do condutor.

Mesmo sendo um modelo de entrada, a Lexus não faz concessões em termos de qualidade e de requinte.

Um dos objectivos da equipa de desenvolvimento foi procurar a eliminação das fronteiras entre design exterior e interior. Este conceito é mais evidente a partir do banco do condutor, onde a parte superior do quadro de instrumentos parece projectar-se além do pára-brisas.

novo crossover compacto Lexus UX fez a sua estreia no Salão Automóvel de Genebra de 2018

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