moçambique ‘Smart
Como As nossAs CAsAs estão CAdA vez mAis inteligentes dívidaS ocultaS ApesAr de tudo, os sinAis mACroeConómiCos são positivos eNtreviSta
bim caNNabiS um
MARÇO 2019 • Ano 02 nO 12 • Preço 200 MZn como Formar o Futuro? A formAção de quAdros é um temA estruturAnte dA eConomiA e do pAís
houSeS’
José reino dA CostA , pCe do millennium
novo megA merCAdo globAl em AsCensão
6
Observação
Celebração
Uma das imagens do ano acontece na Índia, a 21 de Março, no Holi, a festividade da Primavera 8 Radar
Panorama economia, banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, Lá Fora 12 Macro
ENQUADRAMENTO
12 Dívida como a economia está a reagir bem ao escândalo judicial que se arrasta 16 Smart houses o segmento da habitação inteligente tem vindo a crescer, em Moçambique 26 Nação
FORMAçãO DE QUADROS
26 Como formar o futuro como Moçambique está, ou não, a formar as novas gerações para os grandes desafios económicos que se avizinham 34 Conteúdo Local... o bom e mau exemplo de angola, ao nível do oil & gas 38 Na voz de... Narciso Matos, reitor da Universidade Politécnica 42 ProvÍNcIa
Tete
Na Província do carvão teme-se, agora, a descida anunciada dos preços do mineral nos mercados 46 Mercado e FINaNças
Millennium bim José reino da costa, Pce do banco, fala do presente e do futuro da instituição financeira
PME
Arco Investimentos Uma empresa cotada em bolsa, com o foco no turismo nacional 52 MegaFoNe
Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas, em Moçambique e lá por fora
67 ócio
68 Escape a magia das Quirimbas 70 Gourmet Uma escapada ao espaço criativo ‘deal’ 71 Adega a história única dos vinhos verdes 72 Agenda Música, livros, filmes 73 Arte a inauguração do maior museu das civilizações negras 74 Ao volante o que tem o novo Porsche 911
54 FIgUra do MÊs
CIP
Fátima Mimbire, investigadora do centro de Integridade Pública fala sobre as dívidas ocultas
56 SocIedade
Erva o mercado da cannabis é um novo nicho multimilionário para as grandes marcas
60 LÁ Fora
Brasil como bolsonaro vê o brasil na cPLP, com quem sempre teve uma relação fria? eis a questão
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 3 Sumário
50 EMPresas
Mega projectos vs formação de quadros
moçambique está empolgado, há mais de uma década, com o desenvolvimento de projectos ligados aos hidrocarbonetos, mas sem um alinhamento claro com um plano prospectivo de formação de quadros para responder às necessida des previsíveis dos grandes empreendimentos em curso em particular, e para o desenvolvimento do país, em geral, num contexto de contribuição relevante dos recursos naturais na conta geral do Estado. O primeiro Governo de Moçambique, consciente das limitações de recursos humanos qualificados para as necessidades de então e futuras do país, e peran te limitações financeiras da época, foi capaz de se organizar e, de forma estru turada, preparar quadros para diversas áreas, dentro e fora do país, contando, certamente, com apoios de países amigos. Esta experiência que correspondeu à visão estratégica dos dirigentes da época, como medida de antecipação ao seu tempo, poderia ser seguida pelos decisores de hoje. Há, no mundo, experiências bem-sucedidas de países sem muitos recursos na turais, mas que, com base na visão holística dos seus dirigentes, definiram o desafio da educação e formação de talentos em diversas áreas como motor impulsionador do desenvolvimento económico e social. O Governo é que deve lide rar o processo em parceria com outros actores do sector de dentro e do exterior. Nesta edição, publicamos em exclusivo a entrevista com o Professor Narci so Matos, Reitor da Universidade Politécnica e membro do Conselho Editorial desta revista, onde, mais uma vez, chama a atenção para a necessidade de se levar a sério a formação de quadros, alertando para o risco de ficarmos cada vez mais atrasados se não apostarmos também na formação de moçambica nos no exterior. Faz algumas revelações da sua rica experiência nesta maté ria e apresenta a sua visão para as diversas vertentes, versus, oportunidades, que poderá, quiçá, ajudar a mudar o paradigma da eduçação e formação de talentos em Mocambique.
A E&M fornece este tipo de informação para que o estimado leitor possa es tar informado da realidade moçambicana e pretende também contribuir pa ra a tomada de decisões de quem de direito, com impacto positivo na esfera económica, política e social do país, pois ‘quem lê sabe mais’.
Março 2019 • Nº 12
PROPRIEDADE Executive Moçambique DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos COnsElhO EDITORIAl
Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo JORnAlIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade; PAGInAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio REVIsÃO Manuela Rodrigues dos Santos
PRODUÇÃO Executive Moçambique
PUBlICIDADE Ana Antunes (Gestora Comercial - Moçambique) ana.antunes@ executive-mozambique.com; iona@iona. pt/contacto@iona.pt (Portugal)
ADMInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO
E PUBlICIDADE Executive Moçambique; Av. Salvador Allende, nº 1039, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com
DElEGAÇÃO EM lIsBOA Telheiras, Rua Poeta Bocage, Nº 2 – 1º Escritório D • 1600233 Lisboa • Portugal; Tel. +351 21 381 3566; iona@iona.pt
IMPREssÃO E ACABAMEnTO
Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEM 4 500 exemplares núMERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018
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Iacumba Ali Aiuba
Editorial
Director da revista Economia & Mercado
observação
Índia, MarçO de 2019
A festA dAs cores
Realiza-se, anualmente, na Índia, uma das mais peculiares e majestosas celebrações de que há registo, em todo o mundo. Durante o Holi, festividade que marca a chegada da Primavera, homenageia-se Krishna e celebra-se o triunfo do bem sobre o mal. Através de uma majestosa alegoria, pelo número de pessoas envovidas por todo o mundo hindu, durante 24 horas, todas as castas e classes sociais são, por um dia, unificadas ao som da música e da dança. submersas em cores pintadas pelos pós que inundam a atmosfera e fazem deste um retrato único de unicidade social.
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FID Da anaDarko entre abrIl e MaIo
Juros. O Banco de Moçam bique, através do Comité de Política Monetária, decidiu manter a taxa de juro MIMO em 14,25%. Mantêm-se tam bém as taxas da Facilidade Permanente de Depósitos (FPC) em 11,25% e de Facilida de Permanente da Cedência em 17,25%. Segundo o BM, a decisão “assenta na possibili dade de a inflação situar-se na ordem de um dígito até Dezembro.”
Investimento. O acordo de compra e venda de gás natural liquefeito (LNG na sigla em inglês) entre a Anadarko e a empresa in diana Bharat Petroleum Corparation, de 1 milhão de toneladas anuais, duran te os próximos 15 anos, dá à Anadarko uma garan tia de venda anual de 8,5 mtpa (unidade de medição de GNL) em compromissos de offtake entretanto já as sinados. A fasquia mínima para a decisão final de in vestimento (FID) do projecto de 25 mil milhões de dóla res avançar finalmente. A capacidade do terminal de dois trens é de 12,88 mtpa.
econoMIa
Crescimento. De acordo com o relatório de execução do OE de 2018, avaliado pelo CIP, o crescimento da economia mo çambicana abaixo da meta inicialmente prevista (ape nas 3,5%, menos 1,8% do que a previsão do governo de 5,3%) teve impacto em todas as va riáveis fiscais, “sobretudo nas receitas do Estado”, bem como “ao nível da redução do volu me de investimento interno.“ No mesmo documento, o CIP reiterou ainda “preocupação”
De acordo com o que a E&M apurou, alcançada a meta, a Decisão Final de Investi mento do projecto da Área 1 deverá ser anunciada ainda neste primeiro se mestre do ano, provavel mente em Abril ou Maio. De resto, e de acordo com o relatório anual da com panhia petrolífera, ainda este ano vão ser investidos 176 milhões de dólares, um investimento que “inclui a parte do custo da Anadarko associado com a prepara ção em curso no local “para a instalação da central de transformação de gás onshore”, pode ler-se no re ferido documento.
pelo facto de o volume total do serviço da dívida pública, em percentagem dos recur sos próprios do Estado, ter aumentado de 20,2% nos três primeiros trimestres do ano para 25,1% face ao período homólogo de 2017.
As expectativas residem na redução do preço dos com bustíveis nos principais mer cados internacionais e na estabilidade de preços nos principais parceiros comer ciais de Moçambique.
Receita. De acordo com os da dos do balanço de execução orçamental do ano passado o Estado angariou, em conces sões, 3 483,3 milhões de meti cais, ou seja, 1,6% da receita total da colectada em 2018. Estes números representam um crescimento de 74,3% em termos nominais, face ao pe ríodo homólogo, justificado pelo aumento do volume de negócios das Empresas Ma puto Port Development Com pany (MPDC) e do Corredor do Desenvolvimento do Norte (CDN). Do total das receitas de concessões, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) é, ainda assim, a maior contribuinte, com mais de mil mil milhões de meticais, seguida pela Vo dacom, com 24,3% (cerca de 847 milhões de meticais). O Corredor Logístico Integra do de Nacala (CLIN) fecha este pódio com o equivalente a 22,7%, que representa cerca de 791,4 milhões de meticais.
Moody´s. De acordo com a agência norte-americana de notação financeira numa nota emitida a 16 de Feve reiro as Perspectivas de Evo lução, de Moçambique pas saram de “negativas” para “estáveis” (Caa3). Ainda assim, a economia nacional continua em default.
Importações. O controlo e re dução dos benefícios fiscais e a evolução do volume de im portações contribuíram para uma maior arrecadação na cobrança interna e exter na do IVA. O Imposto sobre o Valor Acrescentado bruto chegou a 65 mil milhões de meticais, com reembolso de 10,7 mil milhões, o que resul tou no IVA líquido de 54,3 mil milhões de meticais. Nas Ope rações Internas situou-se nos 29,1 mil milhões de meticais (115,6% de realizações e 12,1% de crescimento nominal face a 2017) e nas Operações Exter nas arrecadaram-se 35,9 mil milhões de meticais (99,9% de realizações e 24,6% de cres cimento nominal face a 2017).
Logística. A empresa Cami nhos de Ferro de Moçambi que (CFM) anunciou um in vestimento de 37,5 milhões de dólares para reforçar o ma terial circulante com a aqui sição de cinco locomotivas no vas e 300 vagões-plataforma. De acordo com uma fonte ci tada pela agência de notícias AIM, as locomotivas têm ca pacidade para rebocar va gões contendo 2 700 toneladas, face às 1 800 toneladas de ca pacidade dos equipamentos actuais. As novas máquinas foram adquiridas aos Estados Unidos da América, enquanto os vagões provêm da Áfri ca do Sul, esperando-se que cheguem a Moçambique nas próximas semanas.
Emprego. O Subcomité Ma croeconómico do Comité dos Governadores dos Bancos Centrais da Comunidade para o Desenvolvimento da África
RADAR www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 8
Austral (CCGB) debateu o es tágio da convergência macro económica e “a necessidade de fortalecimento dos meca nismos e instrumentos de coo peração dos países-membros, para acelerar a integração comercial da região”.
Na abertura da reunião, o ad ministrador do pelouro de Es tabilidade Monetária do Ban co de Moçambique, Felisberto Navalha, falou das condições “favoráveis a uma maior es tabilidade macroeconómica” e acrescentou que “as projec ções de curto e médio prazo relativas à inflação indicam que esta vai manter-se baixa e estável, nos níveis compatí veis com o critério de conver gência de 6% estabelecido pela SADC, embora se espere que o PIB continue a crescer abaixo do seu pleno potencial de desenvolvimento.
enerGIa
Combustíveis. O CIP estima que, entre 2014 e 2018, dos 262,8 mil milhões de meticais destinados à compra de gasó leo, gasolina e gás de cozinha, quase metade (118,6 mil mi lhões) irão ser destinados a despesas de importação e dis tribuição. Entre 2014 e 2017, relata o CIP, “devido à corrup ção e má gestão, a energia consumida custou à EDM 21 mil milhões de meticais, che gando a ser três ou quatro vezes mais cara do que a da HCB”, diz o relatório.
rar cerca de três anos, para a primeira fase de desenvolvi mento. Para isso, a Anadarko lançou já um concurso para a entrega de propostas para o fornecimento de equipamen tos e serviços de abertura dos poços, e ainda fornecimento de uma Unidade Móvel para Perfuração Offshore á pro fundidade de 1 200 metros.
aGrIcUltUra
Agricultura. Com cerca da 40% de terra arável do mundo “África ainda não explora todo seu potencial agrícola”. No entanto, ao nível do conti nente “a performance de Mo çambique é boa”, e até está à frente dos outros PALOP, se gundo a comissária para Eco nomia Rural e Agricultura da União Africana, Josefa Sacko que diz ainda “que se perde 40% da produção global devi do à falta de infra-estruturas, ao escoamento da produção e à contaminação dos solos”. O grande desafio do continente continua a ser “a produção para o consumo interno”, diz.
Gás natural. A abertura de poços, desde a construção à conclusão, na Área 1, vai du
Crédito. O ICM e a Gapi anun ciaram, em Fevereiro, a cria ção de uma linha de crédito para comercialização agríco la (LCCA) que já disponibilizou cerca de 10,5 milhões de me ticais a empresas produto ras de grãos de milho e seus derivados em Tete, Nampula, e Niassa. Este financiamento irá beneficiar mais de 10 mil famílias, residentes em comu nidades como Cachere, Mara, Michone, Sabgomba, Manori za, Missocossa e Thapo.
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Globalização, Zonas Económicas Especiais e a China: Podem as ZEE ser alavancas do desenvolvimento económico?
Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique a globalização é um fenómeno multifacetado que pode ser entendido como uma inter-penetração, à escala global, de fac tores económico-financeiros, em especial o capital, produção de bens e serviços e de elementos político-culturais através do intercâmbio de ideias e valores da cultura dominante. A volatilidade dos fluxos de capital, bens, mão-de-obra e infor mação ditada, em primeira análise, por grupos empresariais transnacionais, cuja acção se baseia em princípios de vanta gem comparativa e maximização de dividendos, é uma das características do processo de globalização. Ao longo das duas últimas décadas foi possível constatar a existência de factores que têm facilitado esse processo. O mais significativo, segun do José Manuel Plascencia (2009), baseado no documento “La Creación de Zonas Económicas Especiales en China: Impactos positivos y negativos en su implementación”, parece ser o sur preendente desenvolvimento tecnológico comprovado pelo constante redobrar de capacidades ao nível das telecomu nicações, robótica e tecnologia de informação. Tal realidade implica o reconhecimento de um novo paradigma tecno-eco nómico criador de uma nova geografia espacial, em particu lar, de uma geografia do espaço electrónico onde a distância é gradualmente reduzida. Na verdade, a tecnologia revelou-se a principal impulsionadora de produtividade ao mesmo tem po que a competitividade se assume como uma poderosa de terminante da inovação tecnológica.
Nos finais da década de 1970, Deng Xiaoping, Presidente da Re pública Popular da China entre 1978 e 1989, introduziu uma sé rie de reformas económicas que permitiram a abertura para o capital internacional, criando facilidades para as empresas estrangeiras se implementarem na China, consolidando uma política de modernização que, durante mais de três décadas, permitiu alcançar taxas de crescimento superiores a 8%. Essas políticas foram posteriormente chamadas de “po lítica de portas abertas”, cuja ideia central é “não inte ressa a cor do gato, o que interessa é que ele cace o rato”. Na óptica de Marcelo José Nonnenberg (2010), no seu artigo
“China: Estabilidade e Crescimento Económico”, os factores res ponsáveis pelo sucesso económico da China foram: (i) processo de liberalização do sistema de formação de preços; (ii) libera lização do comércio exterior; (iii) criação das ZEE´s, no litoral sul, em zonas próximas de Hong Kong; (iv) existência de mão -de-obra rural com produtividade baixa, que possibilitou o seu deslocamento para as cidades, mantendo baixos os salários; (v) ausência de protecção à propriedade intelectual; (vi) números da população que favoreceram a existência de economias de escala, com impactos sobre o custo de produção; (vii) crescimen to do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) que, entre 1981 e 2007, passou de 265 milhões de dólares para 138 mil milhões, e; (viii) políticas de incentivo à inovação e a tecnologia. Conceptualmente, as ZEE´s são áreas geográficas bem delimi tadas, cujas regras económicas são liberais em comparação com as vigentes noutras zonas do país, nas quais as empresas estrangeiras e também nacionais podem investir e negociar sem estarem sujeitas ao controlo e regulamentação de outras regiões, sendo áreas que têm como objectivo estimular o in vestimento estrangeiro e acelerar o crescimento económico. Shenzhen, no litoral sul da China, perto da fronteira com Hong Kong, foi o primeiro local a ter o estatuto de ZEE, esta que há pouco mais de 50 anos era uma pobre aldeia de pescadores, hoje transformou-se num centro de comércio em expansão, e num pólo de inovação tecnológica, sendo uma das maiores cidades do país. As outras três primeiras ZEE´s situam-se tam bém no sul da China, em Guangdong (Shantou e Zhuhai, a últi ma na fronteira de Macau) e Fujian em Xiamen. A implementação das ZEE surge em decorrência das reformas económicas estruturais procurando dar resposta à inserção da China no processo de globalização, mas de forma cuidadosa, ba seada no trinómio: experimentação, gradualismo, adaptação. Isto por forma a impulsionar o desenvolvimento de regiões carentes de infra-estruturas, ambiente de negócios adequado e desenvolvimento tecnológico. Nelas há uma legislação mais flexível para atrair capitais, tecnologias e experiências mais
Nos finais da década de 1970, Deng Xiaoping introduziu uma série de reformas económicas que permitiram a abertura da China ao capital internacional criando facilidades ao investimento
OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 10
avançadas, além de que 70% da produção dessas zonas vai para o mercado externo. Em suma, desenvolve-se uma políti ca de integração internacional, em detrimento do isolacionis mo predominante nas décadas anteriores. Entre os impactos positivos da implementação do modelo de ZEE´s na China, segundo Hongbin Coi & Daniel Treisman (2006) no seu livro “Did Government Descentralization Cause China`s Economic Miracle”, pode-se referir que foi o motor fundamen tal para a modernização económica do país, expandiu o foco de intervenção das PME e a geração significativa de empregos na indústria e serviços registou-se uma atracção significativa de capitais provenientes de Hong Kong, Macau, Taiwan e ou tras comunidades na diáspora, permitiu a criação de “clusters industriais” com “spillovers positivos”. As ZEE comparticipa ram no crescimento sustentável da China, contribuindo para o incremento da competitividade, do espírito empreendedor e para a geração de remessas que os trabalhadores passaram a enviar para as suas zonas de origem.
Importa reconhecer que a introdução de reformas económi cas estruturais e a adopção do modelo de ZEE´s é um claro exemplo de que políticas públicas de índole regional podem contribuir para o progresso das regiões e do país.
O actual Presidente Chinês, Xi Jinping, está empenhado em prosseguir com a abertura económica, promover firmemen te as reformas e acelerar a transformação do modelo de desenvolvimento, através de um melhor ambiente de negó cios e condições mais favoráveis às empresas estrangeiras. Apesar de a economia mundial continuar marcada por in certezas e instabilidade, ele advoga uma aposta estratégica na industrialização, informatização, urbanização e moderni zação agrícola. No seu livro “A Governança da China” (2014), o Presidente Xi insiste na economia de mercado socialista,
reafirma que “a China não vai fechar as portas já abertas ao exterior” e enfatiza que está comprometida em manter um ambiente de negócios mais aberto, padronizado e previsível. Em virtude deste exemplo positivo, Moçambique decidiu im plantar o modelo e criou o Gabinete das Zonas Económicas de Desenvolvimento Acelerado (GAZEDA), em 2007, tendo criado a primeira ZEE de Moçambique, em Nacala em 2007 (Nampula), e mais tarde a ZEE de Manga-Mungassa em 2012 (Beira, Sofala), Crusse & Jamali, no turismo, em 2013 (Nampula) e de Mocuba em 2014 (Zambézia), hoje sob a gestão da Agência para a Promoção de Investimento e Exportações (APIEX). Esse modelo de desen volvimento económico funciona, mas requer uma autoridade forte da instituição gestora, nas componentes de gestão e atri buição da terra, implantação de infra-estruturas essenciais para facilitar negócios (energia, água, estradas, porto, aeropor to, linha férrea), desburocratização, simplificação de procedi mentos para atrair empresas estrangeiras, incentivos fiscais e ter um foco orientado para a inovação, desenvolvimento tecnológico e as exportações.
Não temos a capacidade financeira, técnica e gerencial, insti tucional e organizacional para acolher investidores estran geiros em muitos pontos do país, bem como para promover o desenvolvimento económico inclusivo e acelerado em todo o território nacional. Concentrando em certas zonas pré-defini das, podemos fazer com que as políticas públicas de natureza económica tenham um impacto mais significativo no desenvol vimento regional e local, possam contrariar alguns dos efeitos negativos da globalização e incrementem a produtividade, a competitividade, promovam as exportações e permitam ge rar emprego. É quando a roda da economia passar a girar em Nacala, Beira, Mocuba e outros pontos de Moçambique, que o progresso e a prosperidade se vão multiplicar.
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ZEE comparticiparam no crescimento sustentável da China e serão, também, fundamentais para desenvoler a economia nacional, atraindo investimento externo
InvestIgação às dívIdas ocultas aInda sem Impacto na economIa
Apesar dos desenvolvimentos judiciais do caso, os principais indicadores económicos do país continuam a demonstrar estabilidade, um facto a que as agências de rating e os analistas económicos têm sublinhado
a economia moçambicana tem estado imune às revelações da justiça norte -americana sobre as dívidas ocultas, segundo a avaliação do Banco de Moçam bique (BM). “O Banco tem estado a fazer a devida monitoria da situação, através dos nossos indicadores, e o que nós nota mos é que não há alterações de relevo”, referia Silvina de Abreu, nova directo ra de comunicação da instituição, no final de Janeiro. Os números garantem tran quilidade relativamente à estabilidade cambial, redução da inflação e das taxas de juro. “Continuaremos atentos”, acres centou, ressalvando que o banco central
1Milhão
É o número de páginas que constam da acusação anunciou a procuradoria, abrangendo transcrições e históricos bancários
“não vai hesitar e tomará as medidas que estiverem ao seu alcance para garantir a manutenção da estabilidade macroe conómica”, tal como já aconteceu em 2016. A economia pode estar imune, mas as revelações vão causar impacto. Resta saber de que forma. O primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do Rosá rio, já admitiu, por diversas vezes, que as revelações “trazem novos elementos para o diálogo com os credores” dos 2,2 mil milhões de dólares das dívidas ocul tas, esperando “soluções no interesse dos moçambicanos”. O ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, refere
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macro
também que as revelações levam a acreditar que os credores “também vão ter de pensar”.
o que dizem os analistas
As perspectivas do Governo pare cem, desta forma, alinhar-se com as de vários analistas internacionais. A con sultora Focus Economics considera que a acusação judicial norte-americana abre novos caminhos a Moçambique. “O caso é significativo porque pode abrir a possibilidade de obter condições mais favoráveis nas negociações para a rees truturação da dívida”, lê-se na análise às economias da África subsaariana, de tal forma que Darias Jonker, director para a África subsariana da consulto ra Eurásia, considera agora “altamente improvável” que a reestruturação dos tí tulos de dívida siga ao ritmo anunciado. Em Novembro, o Ministério das Finan ças anunciou um acordo preliminar com a maioria dos detentores de ‘eurobon ds’ (que representam 40% das dívidas ocultas), segundo o qual retomaria os pa gamentos já em Março deste ano. Jonker diz que estes títulos “são menos suscep tíveis de serem declarados nulos ou odiosos”, do que os empréstimos do Cre dit Suisse e banco VTB à Proindicus e à Mozambique Asset Management (cer ca de 60% do total), porque são títulos no mercado, em vez de operações sindica das. Seja como for, depois de revelada a acusação, com os riscos políticos que esta implica, o Governo deverá “focar-se mais nas eleições gerais” de 15 de outubro do que na “credibilidade do país perante os credores”, conclui.
Alex Vines, director para África do Ins tituto Real de Relações Internacionais britânico, considera que não será tanto assim e acredita mesmo que o Gover no continuará a “focar-se no pagamento dos títulos de dívida que estão em nego ciação com os credores (os ‘eurobonds’), deixando para segundo plano os ou tros dois empréstimos sindicados”. Até porque tem sido o princípio de acordo anunciado em Novembro a sustentar perspectivas mais optimistas para o país, como as traçadas pela Capital Economics: “o acordo colocou o país no caminho da recuperação gradual, apesar do fraco crescimento”. É que a questão da dívida não vai desaparecer tão cedo.
A EXX Africa classificou Moçambique como um dos cinco melhores destinos para investir em África, no relatório ‘Africa Investiment Risk Report 2019’, mas ressalvou que a sustentabilidade da
dívida pública continua a ser um desafio. Por fim, também a Moody’s anunciou uma melhoria da perspectiva de evo lução da economia nacional, revelando ainda a intenção de melhorar o rating de Moçambique se, “depois de completar a reestruturação, entrasse num progra ma do FMI que lhe desse credibilidade financeira e aumentasse a probabilidade de reformas que melhorassem a eficácia política e governamental, assim limi tando os riscos para os investidores de um futuro incumprimento financeiro”, diz a Moodys, no relatório que acompa nha a explicação da decisão de manter o ‘rating’ do país em Caa3, ou seja, in cumprimento financeiro (default), mas melhorando a Perspetiva de Evolução da Economia de ‘Negativa’ para ‘Estável’. No entanto, também internamente, as perspectivas sobre a economia nacional já foram mais desanimadoras. Recen temente, o administrador delegado do Standard Bank, Chuma Nwokocha, fa lava sobre isso mesmo, e reforçava o optimismo em relação “ao potencial fan tástico de crescimento económico”.
a agenda do FmI e do Banco mundial Aconteça o que acontecer no plano judicial, uma coisa é certa: “a relação entre Mo çambique e o FMI em 2019 vai continuar a desenrolar-se somente ao abrigo das consultas do Artigo IV”, referiu Ari Aisen, representante do FMI em Moçambique, anunciando a deslocação de quadros do fundo a Maputo durante este primei ro trimestre para assistência técnica. O artigo IV requer consultas do FMI às economias dos países membros, por for ma a exercer a sua monitorização e consequente aconselhamento com vista ao crescimento e estabilidade económi ca e não inclui ajuda financeira. A declaração de Ari Aisen está alinha da com as de Adriano Maleiane, ministro das Finanças, que anunciou que, este ano, ainda não haverá desembolsos do fundo, mas a relação poderá ser mais próxima. Mesmo sem um programa de apoio financeiro ou um programa mo nitorado, Moçambique compromete-se a cumprir metas a que estaria sujeito naquelas modalidades, nomeadamente na área do combate à corrupção e rees truturação do sector público. “Estamos satisfeitos ao escutar que o ministro da Economia e Finanças decidiu, na ausência de um programa monitorado, imple mentar as sugestões do corpo técnico do FMI, apresentadas durante a visita a Maputo, em Novembro passado”, referiu
O que dizem Os AnAlistAs
Ao contrário do que seria de esperar, a maioria das análises até apontam para alguns benefícios macro-económicos na renegociação do pagamento da dívida
“O caso é significativo porque pode abrir a possibilidade de obter condições mais favoráveis nas negociações para a reestruturação da dívida.”
Para esta consultora sediada em Nova Iorque, é “altamente improvável” que a reestruturação dos títulos de dívida siga ao ritmo anunciado nos últimos meses.
Apesar do caso, a consultora classificou Moçambique como um dos cinco melhores destinos para investir em África, no relatório ‘Africa Investiment Risk Report 2019’, mas ressalvou que a sustentabilidade da dívida pública “continua a ser um desafio”.
O Governo continuará a “focar-se no pagamento dos títulos de dívida que estão em negociação com os credores (os ‘eurobonds’), deixando para segundo plano os outros dois empréstimos sindicados”.
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 13
macro
as dívIdas
e as detenções: um resumo
A acusação da justiça norteamericana contém revelações detalhadas sobre o caso das dívidas garantidas pelo Estado moçambicano, entre 2013 e 2014, a favor das empresas públicas Ematum, MAM e Proindicus, de pescas e segurança marítima, concluindo que terão servido para um esquema de corrupção e branqueamento de capitais com vista ao enriquecimento de vários suspeitos. Em 2016, a revelação de que o Estado tinha dado garantias escondidas a empréstimos que ascendiam a 2,2 mil milhões de dólares levou à suspensão de vários apoios internacionais, contribuindo para a degradação das perspectivas económicas do país.
A investigação norte-americana às dívidas ocultas veio a público a 29 de Dezembro, quando o ex-ministro das Finanças, Manuel Chang, foi detido de passagem pela África do Sul, na sequência de um mandado de captura internacional. Na semana seguinte foi a vez de Jean Boustani, intermediário do estaleiro naval Privinvest (interceptado em Nova Iorque) e três ex-banqueiros do Credit Suisse: Andrew Pearse, Surjan Singh e Detelina Subeva (detidos em Londres). Estes três últimos aguardam em liberdade a decisão sobre a extradição para os EUA - que pesa sobre todos -, enquanto Chang e Boustani estão encarcerados e têm visto recusados os pedidos de libertação sob fiança.
Em Nova Iorque, a defesa do empresário Jean Boustani vai recorrer da decisão e a próxima audição do principal suspeito no caso ficou marcada para 28 de Março.
Em Maputo, três anos e meio depois do início das investigações e na sequência das revelações feitas pela justiça dos EUA, surgiram as primeiras detenções: António do Rosário, administrador-delegado das empresas públicas no centro do escândalo, Gregório Leão, ex-director do SISE, Bruno Tandade, operativo do serviço de informações, Inês Moiane, secretária pessoal de Armando Guebuza, e Teófilo Nhangumele, alegado promotor do financiamento.
Ari Aisen. É neste contexto que quadros técnicos dos departamentos legal e fis cal do FMI visitarão Maputo para dar assistência técnica a um diagnóstico dos desafios existentes nas áreas de gover nança e corrupção em Moçambique.
Do lado do Banco Mundial, há um refor ço de investimento em todos os países africanos membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), in cluindo Moçambique, onde há vários projectos em andamento.
Ainda assim, a falta de transparência e os elevados níveis de dívida externa são motivo de preocupação, referiu a econo mista da instituição, Franziska Ohnsorge. Actualmente considerado em situação de sobreendividamento, Moçambique partilha da vulnerabilidade sentida por países de baixo rendimento face às condições dos mercados financeiros.
“O crescimento da dívida foi sustentado pelo aumento dos défices fiscais numa conjuntura de preços mais baixos das matérias-primas e de um crescimen to moderado tendo sido agravado pela inclusão de dívidas anteriormente não divulgadas em 2016”.
Ou seja, mais uma vez, a gestão do dos sier das dívidas ocultas parece ser um tema incontornável, seja qual for o ângulo de abordagem à economia mo çambicana - e às variáveis em jogo,
junta-se agora o processo judicial em curso nos Estados Unidos da América.
presidente pede serenidade
O Presidente Filipe Nyusi manifestou, entretanto “disponibilidade como Gover no para continuar a colaborar com as instituições de justiça para o desfecho do processo“. Ao mesmo tempo, exortou “a todos os moçambicanos para continua rem a aguardar com serenidade pelo desfecho deste processo, respeitando a ordem e tranquilidade públicas e distan ciando-se de actos de agitação e violência capazes de perturbar o desenvolvimen to do país e das próprias investigações”. Nyusi disse ainda que o Governo mo çambicano “continua firme no combate à corrupção”, abrindo espaço para “re tirar qualquer elemento que seja uma obstrução” às investigações das dívidas ocultas. “Notamos grande susto pelo flu xo de casos de corrupção registado nos últimos tempos. Compreendemos. En caremos isto como resultado dos casos acumulados”, declarou o chefe de Estado moçambicano, frisando a necessidade de o país respeitar a separação de poderes.
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 14
Crise das dívidas ocultas parece, por agora, causar mais impactos no plano judicial do que na economia
TExTO Luís Fonseca, SERvIçO ESPECIAL DA AGêNCIA LUSA PARA A
E&M FOTOGRAFIA d.r.
macro
O preçO da inteligência lá em casa
A tecnologia veio proporcionar mais conforto na vida das pessoas, em vários domínios, e tornar mais ‘smart’ tudo o que nos rodeia. Telemóveis, relógios, automóveis e as nossas próprias casas. E, aqui mesmo, em Maputo, a inteligência artificial já é utilizada em habitações, escritórios e negócios, tornando mais simples o dia a dia
em tempos, ligar a televisão, o ar condi cionado, as luzes ou abrir a janela eram actividades que requeriam o toque hu mano. Mas, tal como todos sabemos, e já há alguns anos, nada isso é necessário, bastando para tal um simples toque no telemóvel ou um comando de voz.
Diariamente, chegam-nos notícias que nos falam de casas transformadas em gadgets onde, se estiver a ler o jornal (só para ter algo dos tempos antigos neste artigo) não mais terá de cortar o seu fio de pensamento porque se es queceu de fechar a janela. Porque agora é possível programar a hora de utiliza ção de qualquer acessório e monitorar
o seu funcionamento a partir do smart phone, mesmo se estiver distante de ca sa ou do escritório.
Este é um segmento que já existe há mais ou menos uma década no mundo, pelo menos organizado enquanto mer cado aberto ao consumidor.
A nível global, a indústria de auto mação residencial continua a crescer. Prova disso advém de um estudo da Zion Market Research que prevê que este segmento de mercado chegará a 53,45 mil milhões de dólares até 2022, maioritariamente impulsionado pe la Google Home, o Alexa ou o Amazon Echo e pelos avanços da inteligência
artificial, cada vez mais sofisticada… e customizada às nossas necessidades. Claro que tudo isto já é mais ou menos co nhecido de todos mas, porventura o que não imaginávamos tão claramente, pelo menos, é que isso já existe, e até nem é as sim tão incomum, aqui em Moçambique. Como seria de esperar, por cá, os nú meros (e as inovações) têm uma escala diferente, e este segmento do mercado residencial tecnológico está ainda nu ma fase prematura. Porém, já existem exemplos concretos de pessoas que têm sistemas ‘inteligentes’ de gestão tecnoló gica nas suas residências, indústrias, ou escritórios. E a E&M foi descobri-los.
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 16
pico do mercado já passou... mas voltará Existem, hoje, menos de uma dezena de empresas instaladoras deste tipo de tecnologias no país, essencialmente cons tituídas antes de 2015, época em que o mercado de automação residencial regis tou uma maior procura (entre 2012 a 2015). Claro que não é coincidência o sector imo biliário ter estado em alta nessa altura. Foi aí que surgiu no mercado a FPB –Future Proof Building, uma empresa especializada na montagem de sistemas de automação e segurança electrónica em edifícios e residências. “Nesses anos, o mercado foi muito bom, montámos sis temas inteligentes em várias casas em Maputo e Matola, sobretudo nos bairros Tchumene e Belo Horizonte”, diz Quincar dete Lourenço, director-geral da FPB. No entanto, com o “arrefecimento” da eco nomia, a área do imobiliário ‘parou’, e o mercado de automação também se res sentiu disso, claro, registando-se uma mudança na tendência da procura. “Desde essa altura, o que temos feito é a instalação de segurança electrónica, sistemas de detecção de incêndios, de vídeo-vigilância em grandes superfícies comerciais e em unidades hoteleiras. Ainda recentemente instalámos um sistema de vídeo no Baía Mall, por exem plo”, revela Quincardete.
Ainda assim e apesar do abrandamen to dos últimos anos, para os próximos tempos a expectativa é boa, dizem-nos. “Esperamos que o mercado cresça mui to porque o custo dos equipamentos tem vindo a cair e a área imobiliária, como vemos, está em franca expansão, ago ra que a economia melhorou um pouco. Depois, há a necessidade de criar facto res diferenciais para atrair novos e cada vez mais exigentes clientes”, defende Pe dro Titos, gestor da Smart Living, outra das empresas de instalação de sistemas de automação em residências no país. Alinhando no mesmo diapasão, a CUBE Enterprise também considera que “o fu turo parece ser promissor, uma vez que as pessoas pretendem inovar nas suas residências e querem também acompa nhar a evolução tecnológica que vêem lá por fora. Assim haja poder de compra, porque a capacidade instalada está cá, e podemos dar resposta ao que se preten der” diz à reportagem da E&M.
À semelhança do que acontece em qualquer canto do mundo, este é um mercado caro e, claro, cada vez mais orientado para as necessidades ou capri chos, de cada utente. No país, o número de habitações, escritórios ou infra-estrutu
30mil dólares
É o valor mínimo para se instalar um sistema de automação numa residência, em moçambique, havendo casos em que esse montante pode chegar aos 70 mil dólares, dependo das necessidades do cliente
ras equipadas com sistemas de gestão inteligentes não deve ultrapassar os mil em todo o território, estima a FPB. “É um mercado que ainda está a regis tar uma baixa procura, é um facto, e provavelmente nunca será generalista a esse respeito. Mas o facto é que tem crescido, sobretudo por parte de clien tes expatriados, que vêm de regiões onde este tipo de sistemas já estão em voga há muitos anos, e que têm poder económico necessário para os imple mentar”, assinala Mauro Cuber, gestor da CUBE Enterprise, uma empresa re cém-criada que se dedica à instalação de sistemas de automação residenciais.
Quanto custa a tecnologia Na verdade, o sistema é caro e o pre ço, tal como as valências do serviço, é totalmente customizado. “Para uma pes soa automatizar a sua residência terá de investir no mínimo 30 mil dólares”, aponta Quincardete Lourenço da FPB. Tendo em conta a experiência que a em presa já angariou neste mercado, visto que opera há nove anos, este é apenas um valor de referência para dotar um espaço com “alguma inteligência”. No entanto, complementa, o preço final irá depender “muito do que o utilizador pretenda fazer e do sistema que qui ser implementar”, explica, para depois acrescentar que “há projectos que po dem ir muito acima disto e que podem chegar aos 70 mil dólares. É um merca do de luxo, porque estes investimentos são também feitos em residências que custaram no mínimo 300 mil dólares”, revela o gestor.
Utilidade ainda prevalece sobre o luxo Se o luxo é ainda, muitas vezes, obrigato riamente dispensável, até porque a bolsa não dá para mais, questões mais práticas se levantam. Como as relacionadas com segurança, um dos segmentos em for te crescimento no ramo da automação de infra-estruturas. “A componente de segurança, nomeadamente através da instalação de câmaras de vídeo-vigilân cia que funcionam de forma inteligente que, quando detectam um intruso numa área ou hora críticas, lançam um aler ta por SMS ou uma fotografia do objecto são, hoje, os meios de automação mais requisitados”, releva Quincardete. Pedro Titos, da Smart Living, refor ça essa posição, argumentando que se nota “uma grande preocupação dos clientes com a segurança, mais do que com a luxúria que a automação lhes
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 17
“Hoje em dia, uma lâmpada, tal como todos os utensílios domésticos, funciona quando detecta a presença humana. Mas quando não há ninguém por perto, tudo se desliga”
proporciona”, acrescentando mesmo que, “as pessoas, neste mercado, vêem nas novas tecnologias uma forma de fazer aumentar a segurança nas suas casas ou nos seus negócios, até pelas características do próprio país”. Flávio Libombo será um dos poucos que já instalaram um sistema de automação na sua residência, em Moçambique. À E&M, explica que decidiu investir no sistema depois de ter constatado, numa busca pela internet, que em Moçam bique já existia um sem número de empresas para o efeito. “O kit básico custou-me perto de 33 mil dólares, e decidi apostar nele para poder garan tir a segurança da minha propriedade”, argumenta, para depois acrescentar que desde que instalou o sistema nun ca mais teve problemas com intrusos. Outro dos segmentos que tem recolhido
maior atenção por parte de singulares e empresas tem a ver com a redução da factura energética, algo que é possível com a gestão computorizada de utensí lios domésticos. “Usando um sistema de gestão energética automatizado irá, cer tamente, poupar de forma considerável na factura de energia”, revela a FPB. A Smart Living também afirma, a esse respeito, que “hoje em dia, uma lâmpada, tal como todos os utensílios domésticos, funciona quando detecta a presença humana, mas quando não há ninguém por perto tudo se desliga gerando uma grande poupança ao fim do mês.”
Com isto, Guift Zandamela, um outro entu siasta das ‘smart houses’, já consegue controlar e amenizar os custos de energia na sua residência, localizada no bairro Belo Horizonte, na Matola, conta à E&M. “Desde que instalei o sistema na minha
casa tenho conseguido reduzir consi deravelmente o consumo de energia”, complementa Guift que começa, assim, a amortizar o avultado investimento efec tuado, conta. E não é só em habitações que este sistema tem sido implementado. Segundo a FPB, esta componente de redu ção de custos tem sido uma das razões que tem levado grandes infra-estrutu ras a optarem por sistemas idênticos, como grandes superfícies e edifícios residenciais. “O que fazemos nos shop pings, por exemplo, está precisamente ligado a esta componente de economiza ção de consumos energéticos”, assinala. Podem ainda ser poucos os que vivem em casas inteligentes, que trabalham por nós, zelam pela nossa segurança e que até nos ajudam a poupar ao fim do mês. Mas não há dúvidas de que o mer cado está a crescer e promete mudar o interior das nossas casas, e a maneira como vivemos nelas.
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 18
macro
Sistemas de vídeo-vigilância ‘inteligentes’ predominam no mercado
texto hermenegildo langa fotografia
jay garrido
úmeros em conta
Os númer O s bOns e maus das Pescas
é um dos subsectores económicos no qual se tem registado crescimento ao nível do impacto macro-económico mas, ainda assim, pesa pouco (apenas 3%) nas con tas gerais do país. No entanto, como em tantas outras áreas, se o potencial é tre mendo, ele é quase tão grande quanto as ameaças. Por exemplo, a da pesca ilegal nas águas territoriais de Moçambique, que provoca ao Estado (e ao país) um prejuízo de aproximadamente 60 milhões de dóla res por ano, quase tanto como a produção global do sector (70 milhões de dólares). Grande parte, destinada à exportação, nomeadamente o camarão, que continua a ser o rei das exportações e um dos pro dutos nobres de Moçambique no mundo. Até por isso, o Ministério do Mar, Águas In teriores e Pescas e os grandes armadores se têm mostrado preocupados com a pes caria de crustáceos na costa, sobretudo do camarão de superfície e a gamba. “Há uma sobre-exploração de alguns crustáceos e outros invertebrados marinhos. Neste momento regista-se a sobre-exploração do camarão de profundidade e superfície na zona sul do país e no banco de Sofala. Outro motivo de preocupação são as espé cies de linha, aquelas que estão a ser cap turadas em fundos rochosos”. Para a protecção dos recursos em causa, a pescaria do camarão de superfície e de profundidade está a ser praticada em re gime fechado, ou seja, não há novos licen ciamentos de embarcações para a captura das espécies marinhas.
Produção aumentou desde 2014
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N
(1) Previsão Em milhares de toneladas 2014 2015 2016 2017 2018 2019 (1) 254,3 290,9 303,3 340,2 397,2 402,3 kapenta 7,7 lagosta 6,9 atum 3,3 lagostim 0,9
Em apenas cinco anos, a produção pesqueira nacional aumentou 56,2%
caranguejo 11,6 gamba
Camarão é o rei da exPortação
No global, as exportações cresceram 20%, face a 2017, para 90,4 milhões de dólares. Camarão continua a liderar, destacado. Maiores mercados são a União Europeia, China e Japão. Em milhões de dólares
camarão 32,3 pescado 17,2
370 000 000 de
meticais
Sector pesqueiro superou a média dos últimos anos ao nível da receita para o Estado, triplicando a média anual de 120 milhões de meticais até 2015. Em termos de produção, o Plano Económico e Social aponta para cerca de 400 mil toneladas de pescado. As exportações registaram cerca de 15 mil toneladas.
110 640 977 de meticais
É o volume de multas aplicadas a partir dos 738 processos relativos a infracções no sector das pescas praticadas por operadores artesanais, semi-industriais e industriais, em 2018.
70 000 000 de meticais
É quanto o país exporta de camarão de superfície e gamba anualmente.
60 000 000 de dólares
É o prejuízo com pesca ilegal nas águas territoriais de Moçambique, estimado pelo Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas.
397 262 toneladas
Foi o volume global da produção pesqueira, em Moçambique, ao longo de 2018.
200 000 pescadores
O número de pessoas que o sector envolve, em Moçambique. No entanto, 92% praticam pesca de pequena escala e artesanal.
20% melhor
Foi quanto as exportações de pescado e mariscos cresceram, só em 2018.
3% do PIB
O subsector das pescas contribui ainda de forma reduzida para o PIB naquilo que é a balança de pagamentos em Moçambique.
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A ameaça da 4ª revolução industrial em Moçambique
Jaime Fernandes • Country Director da Ipsos Mozambique
e se descobrisse, amanhã, que no emprego para o qual estu dou e adquiriu experiência durante anos a fio foi substituído por um robot ou software? Poderá pensar que tal apenas acon tecerá num futuro distante ou que será algo fruto de um filme de Hollywood, um livro do Aldous Huxley ou quiçá de Orson Wells. Poderá até pensar que a sua profissão nunca será au tomatizada. Todavia, os mais recentes avanços tecnológicos estão inclusivamente a automatizar profissões na área da jus tiça e no sector financeiro, através de sofisticados algoritmos. As profissões actualmente mais susceptíveis de desaparece rem nos próximos dez anos são: taxistas, pintores, empregados fabris, agricultores, mas também contabilistas ou bancários. No entanto, pode ficar descansado (por agora) se a sua profis são envolver prestar assistência a outras pessoas, altos níveis de criatividade ou competências de liderança. As profissões que requerem interacção e empatia humanas terão, portanto, menores riscos de desaparecer. Incluem-se neste lote: médicos, psicólogos, músicos, artistas ou líderes políticos ou empresariais. Num estudo publicado em 2017 (A Future that Works: Automa tion, Employment, and Productivity), a Mckinsey estima que África será particularmente afectada pela automatização, prevendo que uma percentagem elevada de empregos seja automatizada brevemente (41% na África do Sul, 52% no Qué nia, 46% na Nigéria e 50% na Etiópia). Actualmente, existe uma média de dois robots industriais por cada 100 mil trabalhado res no continente, segundo o World Bank. Mas apesar do ainda reduzido número, será uma questão de tempo até que a 4ª re volução industrial seja sentida. A automação será progressiva e inevitavelmente acontecerá quando for eficaz e o preço e cus to de operar um robot for menor do que contratar uma pessoa. No caso do fabrico de mobiliário, um estudo prevê que, em 2023, nos Estados Unidos, os robots sejam menos dispendiosos do que a respectiva mão-de-obra. No Quénia, por exemplo, prevê-se que o ponto de inflexão aconteça uma década depois. Esse é provavelmente o tempo que temos para nos prepararmos. Os sectores mais visados serão a indústria e a agricultura, sendo este, de resto, quem mais emprega em Moçambique.
As profissões que desaparecerão relacionam-se, pois, com tra balhos não especializados, que também ocupam a maioria da população. Como tal, os salários poderão baixar e o desempre go tenderá a aumentar para além dos actuais 27%. E até o sec tor informal poderá igualmente ser afectado (pelo ‘e-commer ce’, por exemplo), através de um serviço mais rápido, cómodo e oferecendo preços mais competitivos. Tudo pode acontecer. Que consequências sociais resultarão, futuramente, num país crescentemente populoso que corre o risco de ficar maiorita riamente desempregado? E o que fará a população maiorita riamente jovem e desocupada? Alguns utópicos, diria, argumentam que, no futuro, o trabalho deverá deixar de existir e que o Homem viverá numa socie dade onde atingirá a felicidade plena, similar à descrita por Aristóteles, onde prevalecerá a “auto-suficiência, o lazer e a ausência de fadiga”. Mas, para tal acontecer, os donos dos ro bots teriam de devolver à sociedade o fruto dos seus lucros. Considerando a remota probabilidade de tal acontecer, é pro vável que surjam convulsões sociais resultantes da eterna luta de classes que Karl Marx amplamente descreveu durante a 2ª revolução industrial. A história repete-se, como diria Hegel. Há quem defenda que os Governos deveriam pagar um salá rio básico a toda a população que lhes permitisse viver acima do limiar da pobreza para, justamente, distribuir os benefícios tecnológicos e manter a paz social. Bill Gates e Warren Buffet defendem, inclusivamente, que os Governos deveriam cobrar impostos de automatização às empresas, para financiar tais benefícios sociais. Aqui relativamente perto, o Quénia tem da dos passos decisivos para digitalizar a economia, reconhecen do o papel estratégico das novas tecnologias plasmado na ‘Vi são Governativa 2030’, estabelecendo planos para a expansão da banda larga, assegurar a segurança cibernética e apoiar hubs tecnológicos. Numa época em que muito se fala dos efei tos da exploração dos recursos naturais e das dívidas ocultas, deixo aqui o desafio: durante a próxima década, Moçambique terá a oportunidade de se adaptar antes que a 4ª revolução industrial surja em pleno. O que deverá, até então, ser feito?
Bill Gates e Warren Buffet defendem, inclusivamente, que os Governos deveriam cobrar impostos de automatização às empresas, para financiar tais benefícios sociais
OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 22
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 26
Nação formação
Desenvolver (sem) competências, pura sorte ou mera ilusão?
Se as evidências já provaram a relação directa entre desenvolvimento socioeconómico e a disponibilidade de Recursos Humanos competentes, porque é que há quem acredite que Moçambique está a caminhar rumo à prosperidade, mesmo sem preencher este requisito? A única resposta que parece conferir algum sentido à contradição é que o tema da qualidade da força de trabalho, embora seja conhecido de todos, está a ser, na prática, negligenciado
um estudo recentemente publicado no Fórum de Davos revela que Moçam bique é “o 3º pior país do mundo ao nível da capacidade de produzir, atrair e re ter força de trabalho qualificada.”
Assim, de forma pura, dura e a seco. É verdade que o ranking considera ape nas 125 países, e analisa menos de metade dos países africanos (24), mas os resulta dos não deixam de suscitar preocupação em relação ao futuro, e uma análise mais aprofundada de uma realidade que, qua se todos os que vivem e trabalham no país, já perceberam: “É muito difícil encontrar técnicos qualificados em Moçambique”. É esta a conclusão essencial da pesquisa. O que não é propriamente novidade, mas é preocupante o suficiente para suscitar uma reflexão de fundo.
Moçambique mora, então, no 122º (ter ceiro pior) lugar no ranking global e fica também na cauda (22º posto) no ranking regional da África subsaariana. Motivos mais do que suficientes que le
vam a E&M a ouvir os entendidas em matéria de formação de capital humano, a actuarem no país. Narciso Matos, Reitor da Universidade Politécnica, é um deles, e o tom que usa é tão crítico quanto conciso: “Moçambique não está preparado pa ra ter capital humano a trabalhar nas áreas técnicas dos projectos de gás que já arrancaram na Bacia do Rovuma”, de fendendo que a “mudança deve começar pela definição de prioridades a todos os níveis de formação, com a criação de es colas-modelo com elevado padrão de qualidade, que sirvam para orientar e massificar a formação de ‘cérebros’”.
Igor Felice, representante da Organi zação Internacional do Trabalho (OIT), enaltece “os esforços na promoção do conhecimento através da formação profissional”, mas não está convenci do que isso seja o “suficiente”. E propõe a introdução da tecnologia na educa ção, desde o nível primário, “para dotar os recursos humanos de habilidades em
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 27
35mil alunos é o número de jovens moçambicanos nas Universidades públicas de todo o país
Nação formação
o Que É o ÍnDice
De competitiviDaDe GloBal De talentos?
Produzido desde 2013 pela INSEaD, uma das mais importantes escolas de administração do mundo, em parceria com o Grupo adecco e Human Capital Leadership Institute da Singapura (HCLI), o índice mede como os países capacitam, atraem e retêm talentos, fornecendo um recurso importante para a tomada de decisões de modo a entender o quadro global de competitividade do capital humano e a desenvolver estratégias para aumentar a sua competitividade.
o relatório analisa seis grandes indicadores, nomeadamente habilitar, atrair, crescer, reter, habilidades profissionais e técnicas e habilidades globais de conhecimento.
Estes desdobram-se em subindicadores que totalizam 68 variáveis analisadas.
Ranking Mundial de Moçambique: 122º lugar (entre 125 países) Pontuação: 20,32
Variação: (2018 - 2019): -5 lugares, -2,53 pontos, +6 países
Ranking África Subsaariana: 22º lugar (entre 24 países)
Melhor da África
Subsaariana: maurícias (47.º)
Pior da África Subsaariana: r.D. Congo (124.º)
Melhor indicador: atrair (85.º lugar com 39,65 pontos)
Pior indicador: Habilidades globais de conhecimento (116.º lugar com 7,80 pontos)
*A pontuação varia de 0 a 100 (quanto maior, melhor o desempenho). A Suíça, com 81,82 pontos, é a economia mais bem classificada no ranking global e o Yémen a pior, com 11,97 pontos.
Atrair 2
O QUE MEDE
o quão aberto um país é para atrair e reter talentos externos (pessoas ou empresas), e de origens desfavorecidas sobretudo mulheres e pessoas idosas.
Pontuação: 39,65 (-0,36)
Ranking mundial: 85.º (-12)
Ranking África Subsaariana: 15.º
O melhor da região: Namíbia
O pior da região: Zimbabwe
Habilitar 1
O QUE MEDE
o ambiente regulatório do mercado empresarial e de trabalho e se estes ajudam ou não a atrair pessoas para o mercado laboral a nível interno.
Pontuação: 29,49 (-2,31)
Ranking mundial: 120.º (-9)
Ranking África Subsaariana: 21.º
O melhor da região: Maurícias
O pior da região: R.D. Congo
Crescer 3
O QUE MEDE
Como um país desenvolve o seu povo, por exemplo, através de um bom sistema de educação que ofereça aprendizagem ao longo da vida.
Pontuação: 14,86 (-3,82)
Ranking mundial: 124.º (-7)
Ranking África Subsaariana: 24.º
O melhor da região: África do Sul
O pior da região: Moçambique
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 28
Reter 4
O QUE MEDE
a qualidade de vida num determinado mercado. É uma das principais componentes da retenção de talentos.
Pontuação: 21,39 (+2.78)
Ranking mundial: 117.º (+1)
Ranking África Subsaariana: 17.º
O melhor da região: Maurícias
O pior da região: R.D. Congo
5Habilidades profissionais e técnicas
O QUE MEDE
a disponibilidade de trabalhadores com habilidades vocacionais e técnicas que confiram competitividade ao país. a educação é, por isso, um dos principais requisitos.
Pontuação: 8,71 (-9,53)
Ranking mundial: 125.º (-7)
Ranking África Subsaariana: 24.º
O melhor da região: Maurícias
O pior da região: Moçambique
6
Habilidades globais de conhecimento
O QUE MEDE
a disponibilidade de trabalhadores em cargos profissionais, gerenciais ou de liderança. ou seja, a capacidade de produzir e manter novos líderes.
Pontuação: 7,16 (-1,96)
Ranking mundial: 116.º (-9)
Ranking África Subsaariana: 18.º
O melhor da região: África do Sul
O pior da região: Burundi
saber fazer”, diz. Mais um alerta preocupante para Moçambique foi lan çado por Felipe Monteiro, professor associado da instituição responsável pela pesquisa (Insead), ao revelar, numa entrevista recente à Rádio France Inter nacional que “quando todos percebermos realmente os efeitos da transformação digital, das novas tecnologias, e das econo mias integradas por novos eco-sistemas e plataformas, maior vai ser a exigência para os talentos disponíveis. Por outro lado, mais competitiva será a dinâmica global, porque os países que têm econo mias mais desenvolvidas vão estar a competir pelos mesmos talentos”.
capacitar o capital
Ou seja, é esta a única arma de que as economias, principalmente as menos de senvolvidas, como a moçambicana, dis põem por forma a não sucumbirem pe rante a globalização: Formar qualidade. Internamente, e pela experiência que têm, as empresas de recrutamento ou vidas pela E&M entendem que a maior deficiência que o país apresenta é a pre paração em áreas técnicas. Já lá vamos. Comecemos pelo princípio, pela escola.
Ao nível dos números, observamos que existem claros progressos no Ensino Primário, onde a participação de alunos cresceu exponencialmente ao longo dos últimos anos, o número de escolas que lecciona o Ensino Secundário quase tri plicou e a taxa bruta de escolarização re gistada anda em torno dos 50%, contra os 39% de 2008 e os 24,6% de 2005.
Resulta assim da leitura da posição de Moçambique no relatório, que a questão é mais qualitativa (qualidade do que se ensina logo na base escolar) do que quantitativa (número de alunos que têm acesso à escola). “As taxas de apro veitamento registaram uma quebra a partir de 2008 em quase todos os níveis de Ensino Geral. Existe ainda a percepção de que um número considerável de crian ças termina o primeiro ciclo sem as com petências de leitura e escrita, facto que interfere negativamente na aprendiza gem nos ciclos e níveis de ensino subse quentes.” A conclusão é do estudo de 2016 sobre o Ensino Básico em Moçambique, elaborado pelas investigadoras Stela Mithá Anrade e Hildizina Norberto Dias. Torna-se assim difícil deixar de lado a apreensão, com a possibilidade real de grande parte das oportunidades que, se prevê, advenham dos gran des projectos, e que criarão milhares de novos postos de trabalho, poderem
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 29
Nação formação
(De)mÉritos Da lei De traBalho
mesmo reconhecendo a fraca capacidade técnica de muitos profissionais, a legislação procura proteger o cidadão nacional, limitando a contratação de estrangeiros. o resultado mais visível disso é a ineficiência e a fraca remuneração dos trabalhadores nacionais, pouco competitivos, visto que para contratar quadros competentes, as empresas têm de preencher determinadas quotas de trabalhadores nacionais.
Segundo a Lei do Trabalho em vigor (Lei nº 23/2007, de 01 de agosto), nas disposições combinadas do nº 5 do artigo 31 com o nº 1 do artigo 34, fixa as seguintes quotas para as empresas admitirem trabalhadores estrangeiros: 5% da totalidade dos trabalhadores, nas empresas que empregam mais de 100 trabalhadores; 8% nas empresas que empregam entre 11 e 100 trabalhadores; e 10% nas empresas que empregam até 10 trabalhadores.
passar ao lado de toda uma geração. Mergulhando nos resultados do Índice de Competitividade Global de Talentos, este reproduz a análise a 68 variáveis (agregadas em seis categorias princi pais), muitas delas interdependentes, dando uma medida exacta da realidade do país a este respeito, e fornecendo as ferramentas para uma correcção das preocupações constatadas. A começar pelo ambiente regulatório, avaliado no indicador “Habilitar”, que aponta a corrupção como “a principal mancha do mercado”, e a razão que provoca um “mau funcionamento das entidades responsáveis pela produção, atracção e retenção de talentos”, lê-se. Um destaque ainda para a insuficiência de infra-estruturas do sector das Tec nologias de Informação e Comunicação (10,81 pontos, e o 115º lugar a nível mun dial), que influencia negativamente a evolução de competências.
Quando não se tem bom ambiente ge ral, obviamente não se consegue atrair os melhores profissionais. Ainda que se trate do indicador em que Moçam bique tem o desempenho menos mau, o “Atrair” apresenta dados sobre os quais vale a pena lançar um olhar mais atento. Em relação à abertura ao exterior, o
leneDeSOuSa
M a R
Directora-executiva da atittude
“o grau académico já não é, em si, suficiente. É preciso usar as competências vocacionais como factor diferenciador. Para ser um verdadeiro talento, a pessoa tem de identificar, primeiro, o que mais gosta de fazer”.
estudo destaca a fraca capacidade de atracção de Investimento Directo Estran geiro (que caiu acentuadamente nos últi mos quatro anos), com efeitos na redução do pessoal qualificado nacional ou es trangeiro nesses empreendimentos. Outro obstáculo está relacionado com a dificuldade em compensar a qualidade do capital humano melhorando a sua quali dade de vida, por exemplo, através de sa lários competitivos ou outros incentivos. A grande e inconveniente realidade é que os moçambicanos têm menos hipóte ses de desenvolver competências profis sionais ao longo da vida, revela o estudo no indicador “Crescer” (14,86 pontos, 124º lugar, e penúltimo do ranking), apontan do como ponto crítico “a fraca qualidade da educação ao nível escolar, e a quase total ausência de instituições ou iniciati vas que explorem a orientação vocacio nal das pessoas.”
O relatório faz, ainda, menção à fraca qualidade das escolas de formação de quadros (3,12 pontos na 124º posição, e no vamente penúltima do ranking), e à débil capacidade de treinamento de recursos pelas empresas empregadoras (424,67 pontos, 70º lugar). Para agravar, “o país não tem um ambiente capaz de reter os “cérebros” que consegue produzir, ou
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Número de moçambicanos nas principais indústrias tem crescido, mas ainda é insuficiente
os que vêm de fora”. E aqui, a responsa bilidade é, de acordo com o estudo, de “problemas relacionados com falta de se gurança a vários níveis, nomeadamente o facto de os recursos humanos estarem sujeitos a programas de protecção social relativamente frágeis e ineficientes.” Aliado a isso, as condições de saneamen to e o acesso à saúde “são deficitários”, a avaliar pelo rácio de médico por habi tante (estimado pela ONU em um profis sional para 25 mil pessoas). Todos estes factores concorrem para que os recursos humanos mais competentes (nacionais ou estrangeiros) sejam atraídos por mer cados que oferecem melhores condições de vida para si e para as suas famílias.
Baixa produtividade Uma avaliação detalhada do indicador “Habilidades Profissionais e Técnicas”, no qual Moçambique é o último classificado do ranking (125º lugar com 8,71 pontos), revela uma realidade já conhecida de muitos empresários, mas que nem por isso é menos preocupante: Mo çambique é o país onde é mais difícil encontrar funcionários qualificados, apresentando um enorme défice de com petências ao nível médio de formação, incluindo os jovens formados em escolas técnico-profissionais (que têm sido apos ta do Governo através dos Centros de Formação espalhados por todo o país).
Com um comprovado défice de profissio nais em áreas técnicas como as engenha rias ou a ciência, (engenheiros, médicos ou gestores), “o país explora muito pouco a ciência ao serviço do desenvolvimento.”
Como atesta o indicador “Habilidades Glo bais de Conhecimento” (116º lugar com 7,80 pontos), que incide sobre a formação (ou falta dela) ao nível do ensino superior, concluindo que “a inovação no processo produtivo é quase inexistente”.
A par dos problemas estruturais, há questões de pormenor que determinam a performance técnica e intelectual do trabalhador moçambicano. São aspectos aparentemente pequenos, que só quem trabalha em sectores que lidam com recursos humanos pode ajudar a enten der… e a resolver.
Qualidades pessoais: a outra dimensão da competência Marlene de Sousa, directora-executiva da Atittude, empresa de recrutamento baseada em Maputo, entende que o pro blema começa... precisamente na atitude, e no facto de muitos jovens, mesmo com boas qualificações, “não saberem vender
as qualidades que têm e que podem be neficiar a empresa em que pretendem trabalhar”. E refere-se, entre outras, “a valências básicas, como elaborar um cur riculum ou o comportamento apropria do durante uma entrevista de emprego.” Fabíola Vaz, directora da área de recru tamento da Heading Moçambique, ou tra empresa da área de RH, olha o mer cado desde a base: “temos notado nos processos de recrutamento de gran des multinacionais que o foco é, primei ramente, procurar competências pes soais (mesmo sem deixar de lado as técnicas), daí que a forma de promover o talento devesse passar por aí, numa fase inicial do processo de ensino”, de fende. Sem esquecer as qualidades, “essenciais para além da inteligência, como a criatividade, a análise crítica e a capacidade de adaptação, atributos que serão cada vez mais decisivos no futuro do mercado de trabalho”, sublinha.
sem noção de competitividade Existem hoje cerca de 35 mil jovens ins critos no ensino superior público e, tal como na base da pirâmide, a questão co loca-se mais ao nível da exigência e fia bilidade dos conteúdos do que na oferta. E a percepção das próprias empresas de recrutamento em relação à postura de quem procura emprego confirma essa preocupação. Até por isso, Paulo Santos, director-geral da Heading, nota uma evolução a esse nível, assumindo que “co meça a existir alguma preocupação em adquirir competências pessoais e tecno lógicas por mote próprio. E, normalmen te, estas pessoas são mais bem-sucedidas porque as suas qualidades ainda são um bem muito escasso e o mercado está ávi do de pessoas assim”, assinala.
priorizar a vocação
Com um sistema de ensino limitado ao nível da transmissão de competências, a solução (ou um princípio para lá che gar) pode passar por cultivar a vocação. Para o representante da OIT em Moçam bique, Igor Felice, este caminho “está a ser bem perseguido pelo Governo”, atra vés da aposta na formação profissional mas, assegura, “tem pecado por não es tar a ser acompanhado pela evolução tecnológica, sendo de notar a falta de equi pamentos ajustados às necessidades de formação de quadros técnicos”, comple menta. Outra grande preocupação é a in terferênciadospaisnasescolhasdosfilhos. Um estudo da Atittude revela que mais de 70% dos candidatos de trabalho que lhe
NeM tudo vAi MAl
Apesar das dificuldades em capacitar, atrair e reter força de trabalho competente há alguns indicadores menos maus. Vale a pena lançar um breve olhar sobre eles
Boas relações público-privadas
o relatório destaca as “boas relações entre o sector privado e o Governo”, aspecto em que o país ocupa o 58º lugar, com 60,04 pontos, resultado da acção da CTa , “determinante” na melhoria do ambiente de negócios.
igualdade de oportunidades
moçambique é o 6º no ranking, com 82,32 pontos, ao nível da redução da diferença de oportunidades entre homens e mulheres, uma das variáveis avaliadas pelo indicador “atrair”.
Menor custo de formação
menos mal posicionado está, também, o país em relação ao custo (relativamente baixo) da educação terciária (nível superior), ocupando o 62º lugar com 20,26 pontos.
exportações de elevado valor
No indicador em que moçambique apresenta pior performance (“Habilidades Globais de Conhecimento”), chama a atenção a variável que diz respeito ao impacto do talento na economia, mais precisamente o facto de haver “Exportações de elevado valor” associadas ao talento na actividade empresarial (41º lugar e 21,07 pontos).
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Nação formação
chegam formaram-se em áreas que fo ram sugeridas pelos pais ou outros fami liares, o que mostra, na sua opinião, “que muitos destes jovens não pensaram bem nas suas próprias competências e gostos pessoais e profissionais.”
pouco crédito no oil & gas Narciso Matos afirma categoricamente que “já não vamos a tempo de colocar quadros em sectores-chave, como as in dústrias de gás que já se desenvolvem na bacia do Rovuma pelas grandes petrolí feras, já que nem sequer há informação disponível sobre quantos foram forma dos, onde, e em que estágio de evolução estão os quadros nacionais desse sector.” A Narciso Matos junta-se Paulo Santos, da Heading, que avança que os projectos do oil & gas “deveriam encontrar recur sos humanos com capacitação de base para que, quando as empresas começa rem a desenvolver os seus trabalhos e a partilharem as suas experiências, sejam capazes de absorver esse know how. Há uma franja de pessoas que já está apta para o fazer, mas há ainda muitos que não vão ser capazes de acompa nhar o ritmo e acabarão por perder esta oportunidade”, lamenta.
Resultados bons poderão, de acordo com Paulo Santos, advir da cooperação entre empresas, sejam privadas ou do Estado, no sentido de definir as competências técnicas de que necessitam, e colocando os institutos e universidades a formarem de acordo com o plano estrategicamente traçado para permitir que, em pouco tempo, “possa haver mais gente forma da para áreas técnicas.” De resto, até ao nível privado, parcerias do género têm sido estabelecidas. A Heading é, de res to, um desses casos, tendo firmado uma parceria com a Orion Group, uma multi nacional especializada no recrutamento de quadros para a indústria extractiva, que recentemente adquiriu uma fatia do capital desta empresa de RH moçam bicana, dotando-a assim de capacidade para incorporar os grandes concursos de recrutamento que se esperam para os próximos anos. “A verdade é que este mercado está a mexer e empresas como a nossa estão a posicionar-se”, dizem-nos. Mas, se o mercado está a dimencionar-se, porque é que permanece a ideia que a formação de quadros não está a acom panhar esta tendência?
A E&M conversou com o director da mais importante instituição de formação pro fissional do país, o Instituto de Formação Profissional e Estudos Laborais Alberto
íOlaVaz
aF B
Directora de recrutamento da Heading
“É preciso explorar mais a componente turística cultural e das artes, porque as pessoas mais competentes e talentosas procuram ambientes que tenham estes ingredientes. Elas escolhem os países onde querem morar e vão procurar emprego nessas geografias”.
Cassimo (IFPELAC), Adelino Novais, que começa por explicar que os problemas levantados na pesquisa “estão há muito identificados” havendo um conjunto de medidas em acção desde 2006, quando o Governo decidiu rever o quadro legal da formação profissional.
As alterações visavam então, explica, “uma reforma do ensino profissional cuja primeira novidade foi a transição do mo delo centrado no conteúdo teórico para um modelo que toma como prioridade a transmissão de competências.”
Resultado desta nova abordagem, con tinua, “é que o IFPELAC formou quadros para quase todas as grandes indústrias
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Cerca de 3 mil moçambicanos já passaram pela fábrica da Mozal
que se instalaram no país, ao longo dos últimos anos. Dou o exemplo da Mozal, por onde passaram mais de 3 mil traba lhadores que participaram na fase de construção e, ainda hoje, na manutenção de equipamentos, muitos deles com ex periências no Qatar, como profissionais de qualidade”, reitera.
Nessa sequência, em 2010, recorda, “o IFPELAC celebrou um memorando de entendimento com a Sasol para passar a formar os seus quadros. Com esta me dida, a petrolífera deixou de enviar o seu pessoal para a África do Sul, onde os cursos eram mais onerosos e demora dos. Outro exemplo é o dos primeiros 300
trabalhadores da Vale, formados inter namente, em Tete”, revela. E o IFPELAC também já formou técnicos para a Jindal (carvão de Tete), a Kenmare Resources (mineradora a operar em Cabo Delgado), bem como, noutro sector, para a Coca -Cola Moçambique, empresa em que os moçambicanos representam cerca de 95% do pessoal da área técnica.
“O novo modelo de formação teve, e tem, uma preocupação com as necessidades do mercado, no sentido de criar exac tamente as competências que as indús trias estão à procura. Ou seja, os diferen tes provedores de formação tiveram de apostar nos cursos que eram estratégi
cos para a actividade efectiva das em presas que temos em território nacional.”
“... mas não somos sustentáveis” Apesar de algum optimismo, Adelino Novais não deixa de lançar um olhar desafiante sobre o futuro, nomeadamen te sobre a sustentabilidade dos prove dores do ensino técnico e profissional, “exigente e, por isso mesmo, oneroso.” E sustenta: “Para formar um soldador, por exemplo, é preciso ter uma linha de solda dura que seja a réplica da que aquele jo vem irá encontrar quando se tornar pro fissional numa indústria. E na academia, os custos podem ainda ser maiores, por que a máquina de soldar serve a várias turmas e deve estar ligada durante todo o dia. Depois, há o custo dos equipamentos e dos materiais, adquiridos a preços de mercado, geralmente muito caros, para assegurar que os formandos saiam com domínio das técnicas mais precisas de tra balho. E agora pergunto, que jovem está em condições de arcar com os custos des sa formação?”, questiona Novais, que esti ma em 100 mil meticais o custo real de um curso de soldadura que assegure a sus tentabilidade da instituição de formação. Mas, actualmente, os formandos pagam 3,5% desse valor (precisamente 3,5 mil meticais) o que coloca IFPELAC numa po sição de insustentabilidade financeira, e com uma acção de resposta limitada, face às necessidades formativas de que dispõe. Em Moçambique ainda não há uma saí da óbvia para este e outros problemas. “Este é um debate que se tem arrastado e precisamos de encontrar a tal solução milagrosa. Mas o que me parece mais viável e equilibrado será a partilha de responsabilidades entre o Estado, o sector produtivo que deve, de alguma forma ter de contribuir para a formação de qua dros locais que irá utilizar no seu pró prio funcionamento, e o próprio centro de formação.”
Por agora, enquanto não encontra a sus tentabilidade, a formação vai sobrevi vendo do patrocínio de indústrias inte ressadas em formar pessoal qualificado e da boa vontade de alguns parceiros de cooperação.
De forma ainda desarticulada para o crescimento anunciado, o que nos faz pensar como irá ser aproveitado pelo meio milhão de jovens que todos os anos entram no mercado de trabalho.
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TExTo Celso Chambisso
foToGrafIa Jay Garrido, istoCk Photo
Nação
Em angola, ContEúdo loCal para os pEtrólEos prECisa dE invEstimEnto
As empresas angolanas participam com uma quota de apenas 10% no volume global de investimentos na indústria de exploração de petróleo e gás, uma cifra que tem vindo a cair desde 2013, antes da quebra de receitas do sector
No período de 2013 a 2014, as empresas angolanas tiveram grande participação no sector em termos de Conteúdo Local, por conta do elevado nível de facturação registado e também de know-how, o que representou cerca de 3,5 mil milhões de dólares de volume de negócios, informou Pedro Godinho, o CEO da Prodiaman, uma das empresas de prestação de serviços do sector. Entretanto, lamentou que, “des de então, os projectos foram engavetados”. Mesmo sendo o sector forte da econo mia angolana, como sabemos, (represen ta cerca de 35% do PIB e mais de 90% das exportações), depara-se com desa fios que impedem o seu crescimento, mui to por conta da crise iniciada em 2014.
35%
Sector doS petróleoS é reSponSável por maiS de um terço de toda a actividade económica em angola, maS a participação de empreSaS angolanaS fica-Se peloS 10%
Associada a ela, a falta de uma legislação que se ajuste aos novos contextos do mer cado, questões de ordem geopolítica, téc nica e financeira, que contribuem para o decréscimo do Conteúdo Local em Angola, segundo fontes contactadas pela E&M. Paulo Cardoso, CEO da All Brokerage So lutions (ABS), empresa 100% angolana, de fende ser necessária uma “renovação” das políticas como primeiro passo “pa ra criar emprego localmente e parar de depender em demasia do petróleo e dos seus derivados do ponto de vista das re ceitas. Ainda estamos na fase de desenvol vimento e por isso não podemos compa rar as políticas proteccionistas de outros países, porque precisamos da sua tecnolo
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Conteúdo loCal
gia e know-how”, disse, defendendo uma protecção ao investidor nacional, “mas que não afugente os estrangeiros mais experientes e que podem ajudar a dina mizar o sector.”
Pedro Godinho, CEO da Prodiaman, acredita que a criação de leis, por si só, não é su ficiente e considera mesmo que a Sonan gol (petrolífera estatal) deve acelerar a aprovação dos projectos de exploração para que haja avanços no sector. “As le gislações não dizem nada quando não são cumpridas”, afirmou, salientando que “não basta criar leis, mas é preciso fazer cum pri-las na íntegra.” Para o gestor, a ausên cia de financiamentos no sector petrolí fero seria minimizada caso se criassem “parcerias genuínas” entre as operadoras de petróleo e a concessionária nacional, que “deve começar a aprovar mais pro jectos de forma a sustentar a economia, criar mais emprego e gerar maiores con tribuições fiscais e sustento às famílias”.
Estado deve intervir Já a jurista Lurdes Caposso Fernandes, que dissertou na II Conferência Africana Sobre Conteúdo Local, também defendeu a cria ção de leis para salvaguardar o interesse das empresas angolanas que investem no sector. Para a especialista, é necessá rio que as empresas estrangeiras que não dão oportunidades às nacionais sejam penalizadas. “As empresas angolanas de conteúdo local estão a fechar e a despe dir trabalhadores, porque as operadoras não estão a dar oportunidades, devido à inexistência de fiscalização e leis que as segurem a actividade das nacionais”, afirmou, apelando ao Governo que tra balhe junto das empresas locais que prestam serviços à indústria de petróleo e gás, para “avaliar o seu estado e a cria ção de soluções.”
Contudo, o ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Fre derico Cardoso, afirmou, ao intervir na abertura na II Conferência Africana Sobre Conteúdo Local na Indústria de Petróleo e Gás, que o Executivo vai aprovar uma lei para regular o sector e a “institucionaliza ção de procedimentos claros, exequíveis e pouco burocráticos”. Segundo o respon sável, o objectivo é tornar cada vez maior “a participação da indústria nacional na exploração de petróleo”, até porque, pros seguiu, “se torna imperioso acabar com a dispersão normativa sobre a matéria de Conteúdo Local em Angola, distribuída em nove leis diferentes”, repudiou, as segurando que a adopção do novo plano legislativo “vai permitir que haja segu
Início da actividade de prospecção e pesquisa de Hidrocarbonetos. nesse ano, foi concedida à companhia Canha & Formigal uma área de 114 000 km2 no offshore nas bacias do Congo e do Kwanza.
1962 1976
Foi efectuado o primeiro levantamento sísmico do offshore de Cabinda, pela Cabinda Gulf oil Company (CaBGoC), e em Setembro desse ano surgiu a primeira descoberta.
o petróleo tornou-se a principal matéria de exportação. em 1974, a produção chegou aos 172 000 barris por dia, o máximo do período colonial.
a produção total rondava os 100 000 barris por dia e era proveniente de três áreas: offshore de Cabinda, onshore do Kwanza e onshore do Congo.
1910 1973 1991
Início da exploração em águas profundas com a adjudicação do Bloco 16, a que se seguiram os Blocos 14, 15, 17, 18 e 20. desde 1990, foram perfurados em angola mais de 200 poços.
1999
entrada em funcionamento da primeira plataforma do modelo FPSo (Flutuante de Produção, armazenagem e escoamento) no projecto Kuito, do Bloco 14. desde 2003 a maior plataforma do mundo é usada no Kizomba a no Bloco 15.
rança e certeza jurídica aos operadores empresariais” e gerar “oportunidades de crescimento técnico, tecnológico, em prego e do domínio da qualificação dos recursos humanos e proporcionar o desenvolvimento das indústrias de pe tróleo e gás no país”.
Frederico Cardoso disse, por outro lado, que a crise provocada pela queda do preço do barril petróleo no mercado internacional “inviabilizou muitos projectos petrolíferos” e provocou “uma redução substancial na actividade de muitas empresas fornece doras de serviços à indústria petrolífera”. Entretanto, continua, “a meta é começar a participar na produção local de bens para as indústrias de petróleos e gás, competir e alcançar a aceitação dos produtos e ser viços para outras regiões do mundo”.
O ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República recorda que “a situação de crise provocou despedimentos massivos de trabalhadores, num sector fundamental da economia”. Porém, para contrapor a esses dados, informou, o Exe cutivo aprovou um conjunto de medidas de carácter macroeconómico e outras especí ficas, de modo a corrigir os procedimentos, eliminar constrangimentos, melhorar o ambiente de negócios e o reajustamento para manter a rentabilidade da activi dade do sector petrolífero em Angola. Por fim, Frederico Cardoso garante que “a criação e aprovação de uma legislação sobre o Conteúdo Local na indústria de petróleo e gás vai evitar a dispersão nos conceitos e princípios que a actividade requer e a competitividade em termos de preços”.
a experiência de angola
O país goza de hegemonia no sector do Conteúdo Local em África, fruto da expe riência que acumulou com investimen tos feitos na produção de bens e serviços internos com a instalação de bases de apoio à produção petrolífera.
Nesse sentido, a Organização de Produto res de Petróleo Africano (APPO), através do Conselho de Ministro dos Países Afri canos Produtores de Petróleo, realizou no país, pelo segundo ano, a Conferência Africana Sobre Conteúdo Local na Indús tria de Petróleo e Gás, que decorreu em Luanda, no final do ano passado.
Para a jurista Lurdes Caposso Fernandes, os valores avultados que o sector petro lífero gera podem fazer com que empre sas nacionais ganhem mais participação no sector e aumentem a empregabili dade no país. Já Sérgio Silva, director de Marketing da Ametrade, assegurou
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A evolução de um sector nAcionAl... mAs pouco
Nação
conteúdo local vai tornar os projectos mais acessíveis com a cooperação regional, porque desta forma as indústrias locais passarão a fornecer bens e serviços acessíveis às empresas petrolíferas, que verão reduzidos os custos de produção
que a experiência de Angola “pode ser usada para melhorar o Conteúdo Local e a cooperação regional em África, de modo a proporcionar uma política eficaz que consiga satisfazer as necessidades da indústria petrolífera dos países.” O responsável advoga, também, que o Con teúdo Local pode ajudar “a gerar uma indústria forte” em Angola que vai im pulsionar as exportações para outros países da região Austral, em particular. “Não há conflito entre as iniciativas do Governo angolano sobre a diversificação da economia e as perspectivas de desen volvimento do Conteúdo Local do sector petrolífero”, frisou, defendendo, antes, uma “harmonização das medidas”.
Entretanto, na visão de Paulo Cardoso, CEO da All Brokerage Solutions (ABS), ainda existem poucas empresas nacio nais a investirem no sector de Conteúdo Local, sendo que estas “têm grande de pendência” de gestão estrangeira.
Por sua vez, o CEO da Prodiaman, Pedro Godinho, lembrava que o ano de 2018 “foi sofrível”, tendo resultado no encer ramento de quatro empresas do grupo que dirige, levando para o desemprego cerca de 200 jovens. O empresário acha
que mais investimentos com a dimensão do projecto Kaombo (o maior empreen dimento offshore profundo em Angola, aprovado em 2013 e que está a ser ge rido pela Total Angola) ajudariam a re dinamizar o sector. “O último projecto aprovado gerou cerca de 16 mil milhões de dólares. Se um quarto deste valor fosse investido em Conteúdo Local, tería mos mais capital a circular na economia nacional, o que ajudaria a fortalecer as empresas e a sustentar muitas famílias”, defendeu, tendo lamentado ainda que “muitas multinacionais continuem a im portar bens e serviços e, no final, expa triem os dividendos.”
Para Pedro Godinho, as empresas nacio nais de Conteúdo Local que se dedicam ao fabrico de estruturas de apoio a pla taformas de produção petrolífera “de vem crescer e posicionar-se ao mesmo nível das empresas sul-coreanas, ameri canas e de outros países.”
Uma alternativa à industrialização de África Na África Subsariana, Nigéria e Angola detêm as rédeas do “jogo”, não por se rem, apenas, os principais produtores, mas sim no que a casos de sucesso rela
tivos ao Conteúdo Local dizem respeito. A Nigéria destaca-se com uma repre sentação na economia local de cerca de 26% de investimentos, enquanto Angola tem cerca de 10% de participação de in vestimentos nacionais num sector que, em termos gerais, se debate com desa fios de ordem técnica, jurídica, financei ra, geopolítica e de falta de informação. No que diz respeito à informação, a APPO está a realizar conferências internacio nais com vista a recolher opiniões e ex periências, entre os players do sector a nível local e não só, das quais resultaram duas plenárias (2016 e 2018), ambas reali zadas em Angola, sendo que a primeira analisou formas de alcançar uma taxa média de 30% de Conteúdo Local nas di versas actividades do sector de petróleo e gás, em países produtores de petróleo até 2030. Ali estiveram mais de 250 parti cipantes, desde países membro da APPO a empresas petrolíferas internacionais. De acordo com Sérgio Silva, da Ametra de, destes fóruns resultará a compilação de relatórios que vão apresentar o pa norama dos países membros da orga nização e incluirão o estatuto de cada um deles em termos do Conteúdo Local. Depois da sua publicação, “cada mem bro vai preparar as suas próprias re comendações sobre o assunto”, anunciou, salientando que se pretende criar um ambiente de debate e de transparência na indústria local.
Na visão de Sérgio Silva, esse “não será um trabalho fácil”, porque os distintos contextos em que se insere cada merca do podem consituir-se como os grandes desafios a ultrapassar. “Este objectivo parece ser pouco ambicioso, mas não nos devemos esquecer que ainda existe muito trabalho pela frente e acredita mos que precisamos de definir objecti vos mais ambiciosos, mas que sejam, ao mesmo tempo, realistas”, destacou.
De resto, o director de marketing da Ametrade reconheceu que, entre os vá rios obstáculos, está a fraca cooperação regional, que resulta na ausência de harmonização de políticas. “O importan te é criar uma política que funcione não só para incentivar a criação de empre sas a nível nacional, mas também para criar uma estrutura que permita que as empresas privadas estrangeiras invis tam no continente, para se desenvolver uma indústria regional forte”, assinala.
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texto Cláudio Gomes FotoGraFIa isidoro suka e d.r.
conferência da opep, em viena, Áustria
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“Temos de formar mais moçambicanos no exTerior”
maTos Reitor da Universidade Polítécnica e membro do Conselho Editorial da E&M
há experiências bem sucedidas que de veriam inspirar os decisores de hoje a solucionarem as insuficiências de sem pre, em número e em qualidade, de ta lentos ou falta deles, em Moçambique. Quando, para estimular o desenvolvi mento de novos quadros, o Governo de Samora Machel decidiu enviar para Cuba milhares de jovens para serem for mados nas mais diversas áreas profissio nais, ter-se-á antecipado ao seu tempo. Fazia uma leitura correcta que, even tualmente, deveria ter sido continuada nos anos que se seguiram, por forma a melhor aproveitar as oportunidades na indústria do petróleo e gás, do carvão, do alumínio, areias pesadas e de todas os sectores cuja força de trabalho é, ainda hoje, maioritariamente assegurada por expatriados. Em exclusivo à E&M, Narci so Matos, reitor da Universidade Politéc nica, explica que é tudo uma questão “de vontade e não de inventar a roda.”
A competitividade económica depen de, cada vez mais, da forma como os países enfrentam o desafio da for mação de quadros. Olhando para Mo çambique, acredita ser possível que os grandes empreendimentos de que se fala, há quase uma década, encon trem os quadros necessários para po derem funcionar de acordo com pa drões de exigência internacionais? Para esta questão são possíveis duas respostas válidas: a primeira é que, em algumas áreas, temos capacidade de for
CorrEMoS o riSCo dE FiCar Cada vEz MaiS atraSadoS. Não tEMoS CoMo dar o Salto SoziNhoS. É iMPoSSívEl! tEMoS dE ir àS MElhorES ESColaS do MUNdo Para aPrENdEr E dEPoiS aPliCar ESSE ENSiNaMENto EM MoçaMbiQUE
mar profissionais para qualquer sector da economia. Ou seja, têm as bases para se adaptarem às exigências específicas do ramo em que vão trabalhar, embo ra seja difícil encontrar pessoas que, ao sair das universidades, estejam prontas para trabalhar em determinadas em presas que têm de ser, elas próprias, a formar estas competências muito direc cionadas às suas exigências. A segunda é que existem áreas onde não temos capa cidade e, pior, não estamos a fazer o que deveríamos para mudar esta realida de, porque não sabemos tomar decisões. há dez anos, dizíamos que Moçambique iria precisar de 4 mil técnicos da área de geologia. agora pergunto: qual foi o plano seguido para esse efeito? Mesmo agora, falamos em carvão e gás mais no sentido dos acordos que estão a ser ru bricados do que no capital humano que está a ser (ou já foi) formado para daqui a cinco anos poder responder às exigên cias. isto é desperdício de oportunidade.
Então, é válido concluir que não acre dita que estejamos preparados para as novas oportunidades, é assim? Pre vê que os moçambicanos venham a ser meros espectadores do processo de produção de gás, por falta de mão -de-obra qualificada?
Se não tivermos juízo, é possível, e até provável, que o gás se transforme numa maldição em vez de uma bênção. Agora fala-se de carvão e gás como se estes pu dessem empregar toda a gente ou como se
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narciso
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o capital proveniente destes recursos fosse depois distribuído pelas pessoas. acho que temos de ter cuidado. E infe lizmente não estamos a ter. tivemos momentos de euforia, em que vivíamos como se fossemos ricos. depois entrámos na fase em que deixámos de ser ricos e, agora, estamos naquela em que dizemos que em 2023 vai haver gás outra vez. Esta não é estratégia de coisa nenhu ma. Cerca de 80% da população vive da agricultura e isto leva-me a questionar: qual é a ligação entre o gás e a agricul tura? Para lhe responder, digo-lhe que não estou optimista em relação ao gás e ao carvão porque não estou a ver planos de que vamos utilizar bem o dinheiro destes recursos.
Falou em áreas de actividade em que há menor pressão em obter compe tências, quais são elas? Nas embaixadas e escritórios de repre sentações diplomáticas e de cooperação em Moçambique, notamos que a maior parte das pessoas que lá trabalham são moçambicanas, formadas em Mo çambique, e que têm capacidade. É um exemplo que se estende à área de me dicina e a outras. Mas não aproveita mos todas as pessoas dotadas de talento que formamos no país. há muitos jovens que têm vocação e vontade de fazer e que acabam por se perder em sectores que não estimulam a sua criatividade, entram em burocracias em que é mais importante obedecer a normas antigas ou a chefias do que em serem criativos e usarem as suas aptidões.
É consensual, e o Índice de Competitivi dade Global de Talentos divulgado no fórum de Davos também o diz, que Mo çambique apresenta grande desfasa mento entre a formação académica e a transferência de conhecimento. Na sua óptica, que acções devem ser adop tadas para mudar esta realidade? a educação e a formação de talentos necessários para o desenvolvimento do país é tarefa do Governo. Sem querer dizer que deva fazê-lo sozinho, deve ser este a liderar e investir nessa formação. Já o fez no passado, por exemplo, com a geração que, há cerca de 30 anos, foi estudar em Cuba onde chegámos a ter 5 mil ou mais moçambicanos, que lá fica ram cinco ou dez anos, tendo regressado como técnicos competentes em diversas áreas. Só que nunca mais fizemos isso. Por exemplo, em 1990, fui convidado a visitar universidades americanas para
ver como estão organizadas. algumas, estavam cheias de chineses, numa al tura em que a China nem era uma po tência económica. Eles levaram 30 ou 40 anos a investir e hoje são uma “ameaça” até para as potências mais avançadas. Com isto quero dizer que é responsabi lidade do Governo investir em formação.
É também fora onde podemos resol ver a questão do (não) “saber fazer”? há exemplos muito concretos disso. a maior parte das pessoas que conheço, que saem de Moçambique para fazer mestrados e doutoramentos, brilham. E quando se pergunta qual foi a maior dificuldade que tiveram respondem que foi o ‘mexer com as mãos’, ou seja, se for engenheiro, a dificuldade foi ter a capa cidade de perceber os mecanismos de funcionamento das máquinas, na práti ca, em laboratórios modernos. Não é por falta de inteligência, mas porque o nos so país não tem esses meios. duvido que tenhamos, hoje, uma escola de mecânica automóvel ou industrial em que possa mos encontrar um laboratório do século xxi. Então pergunto: como podemos “sa ber fazer” se não há investimento nisso?
Como fazer num país em que o Orça mento do Estado é “curto” para as inú meras prioridades? defendo sempre que nós, como país, te mos de decidir se queremos ter, pelo me nos, uma ou duas universidades de refe rência; duas ou três escolas secundárias de qualidade; duas ou três escolas indus triais de relevo que sirvam de exemplo e até de centros de formação para as de mais. dou-lhe exemplos: porque não in vestir a sério para ter a melhor escola de engenharia do país na UEM, a melhor de medicina da Unilúrio? Parece que a nos sa opção, como país, é dividir o bocadinho por todos. E aí ficamos todos medíocres.
A tecnologia é uma exigência a ter em conta no novo paradigma do de senvolvimento. Que opções há, para lá desse investimento de que fala, para dar a volta a esta, já conhecida, fragilidade nacional?
Não temos escolha, se quisermos avan çar. É triste que não possamos, hoje, di zer que há, por exemplo, milhares de moçambicanos fora do país, enviados pelo Governo para se formarem em en genharias. ainda que regressassem só alguns, os que ficam lá continuam a ser moçambicanos e, directa ou indirecta mente, estão ligados ao país. Por isso,
Na
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voz de...
formação
“ExiStEM árEaS oNdE Não tEMoS CaPaCidadE E, Pior, Não EStaMoS a FazEr o QUE dEvEríaMoS FazEr Para MUdar ESta rEalidadE, PorQUE Não SabEMoS toMar dECiSõES”
O futuro começa aqui, na escola. Os problemas, também
corremos o risco de ficar cada vez mais atrasados. Não temos como dar o salto sozinhos. É impossível! temos de ir às melhores escolas do mundo para apren der e depois aplicar esse ensinamento em Moçambique. Penso que é assim que deve funcionar também em relação à evolução tecnológica, tal como fizeram os chineses. E veja-se o resultado.
Parece indiscutível que é o Governo que deve assumir a dianteira neste processo, mas há que olhar também para a postura de quem procura tra balho. Sente que no seio dos jovens há sentido de busca pela excelência profissional?
a educação não se dá às pessoas. tendo oportunidades, elas têm de se esforçar também. Se é responsabilidade do Go verno criar boas escolas, a obrigação de quem tem acesso é fazer o máximo. o que o sistema faz é seleccionar os melhores para ir para essas escolas.
Por exemplo: o acesso às bolsas para o exterior deve ser por mérito. E nes se processo a família desempenha um papel crucial. o estímulo muitas vezes começa na família. Falei do Governo por que este é que monta a matriz que per mite a formação. Mas não é o único com responsabilidades em tudo isto.
A pesquisa também faz referência à fraca capacidade de atrair e reter “cé rebros”. Muitas vezes porque noutros mercados há disponibilidade de infra -estruturas e melhor remuneração. Há como evitar esta desvantagem? Não podemos pensar em reter as pes soas em Moçambique por via do apelo ao patriotismo. houve épocas em que o apoio militante, por assim dizer, podia conduzir a esse tipo de resultado. hoje, nada é igual. acho que a base do proble ma é esta: será que, como país, queremos criar condições para que os que manda mos para se formarem fora regressem
e trabalhem cá? ou estamos à espera que, ao acabarem a formação, voltem à palhota de onde saíram para estu dar, andando a pé ou de “chapa”? Sem querer apresentar fórmulas acabadas, acho que devemos começar por questio nar qual é o mínimo que temos de fazer para que as pessoas que têm capacida de e até oportunidades lá fora decidam voltar. houve épocas em que se fez isso. Logo a seguir à independência, o Gover no decidiu que médicos e professores universitários tinham um complemento salarial que não tinha nada a ver com o quadro salarial típico da função pública. ou seja, além do salário que era quase igual para a tabela do sector público, ha via um quantitativo, pago em dólares, porque se reconhecia a importância e a vontade pública de reter esses pro fissionais qualificados. Até porque as necessidades de uma pessoa com este grau de formação são diferentes das de uma pessoa mais modesta (sem querer dizer que há quem seja menos humano), mas porque aquele grupo já tem ou tros padrões de consumo. isto já foi feito em 1975 numa altura em que o país era muito mais pobre sem perspectivas de petróleo ou de gás.
Além do salário, que outras saídas se colocam para tentar reter talentos? Insisto na pergunta, sobretudo, por que as economias estão cada vez mais preocupadas com a competitividade... Logo a seguir à independência, trabalhei na Universidade Eduardo Mondlane e, nessa altura, com apoio do fundo da anti ga rda, construiu-se o bairro residencial Universitário, ao qual os professores ti nham acesso directo ao nível da habitação. Criou-se um privilégio para este grupo de pessoas porque se compreendeu que, como professores universitários, tinham de ter condições diferenciadas. Se há 40 anos já se pensava assim, será que é im possível criar fórmulas adequadas agora? Não estou a dizer que tem de ser a mes ma coisa que se fez antes, longe disso. Mas é preciso interrogarmo-nos se há sectores-chave em que queremos ter mo çambicanos qualificados e como podemos reter essas pessoas. Um exemplo é o do aparelho do Estado, onde há muitas pes soas que saíram para o privado porque, com aqueles salários e condições, não con seguiam alimentar as suas famílias.
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texto Celso Chambisso fotografia Jay Garrido
província
à beira de um novo arrefecimento?
Um facto e uma previsão ocasionam o temor de um novo abrandamento da dinâmica económica numa das províncias potencialmente mais ricas do país, gerando o suspense alimentado por memórias de um duro passado recente
subitamente, a rápida ascensão da acti vidade económica que a província de Tete conheceu, com o surgimento de novos empreendimentos nas áreas do turismo, imobiliária e de serviços, deu lugar a um abrandamento que retirou à província o estatuto de El Dorado. Estávamos em 2014, o preço do carvão no mercado in ternacional caía a pique, e por via dis so, arrefeciam os grandes investimentos das mineradoras e, com eles, as activida des que o carvão tinha, para ali, atraído. Esse cenário permaneceria deprimi do, como esta descrição, durante os três anos que se seguiram, até 2017, alavan cado pela valorização do preço do carvão no mercado internacional, que trouxe a estabilidade de volta. E o carvão passou, então, a ser a principal commodity ex portada (ultrapassando o alumínio) e uma das maiores fontes de receita do Estado. No entanto, no início do ano, o seu preço voltou a constituir um sinal de preocupa ção, porque se prevê uma nova redução, em 12%, seguindo uma tendência do ano passado em que essa quebra, ainda que ligeira, já se fazia sentir.
Ao mesmo tempo, a Vale, empresa com maior peso na produção e exportação do carvão (também classificada como a maior empresa de Moçambique na últi ma actualização do concurso da KPMG), está a enfrentar vários processos que podem afectar negativamente os seus negócios, na sequência do rompimen to de uma barragem em Brumadinho, Brasil, cujos danos são considerados ‘cri minais’ pelas autoridades daquele país (centenas de mortos e desaparecidos, além de danos ambientais).
A E&M procurou ouvir a Vale, na quali dade de empresa com maior peso na ex ploração de carvão (apesar de haver ou tros operadores com destaque para a ja ponesa Mitsui e as indianas Jindal e ICVL), mas a assessoria de imprensa da em presa avisou que “é cedo para a mine radora se expressar, sobretudo em tor no do impacto da tragédia de Brumadi nho nos seus negócios em Moçambique”, uma vez que a grande prioridade pas sa, agora, “por prestar apoio às vítimas.”
província tete
capital Cidade de tete área 101 000 km² população 2,8 milhões região Centro-norte
No entanto, “os riscos de haver uma limi tação dos investimentos para mobiliza rem recursos em resposta àquele pro blema são reais e podem ter resultados negativos na nossa província”, diz Carlos Cardoso, presidente do Conselho Empre sarial de Tete, que teme nova redução do fluxo de investimentos na província, sobretudo nos sectores do turismo, imo biliário e serviços, com impacto assinalá vel ao nível das PME.
E, sabe-se, há o perigo de, caso a reestruturação da Vale se torne uma realidade no Brasil, os gestores da em presa reavaliem os activos que não são considerados cruciais para a em presa. Não será o caso de Moçambique, pela dimensão da operação, mas o que
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TeTe
é certo é que algumas sombras se le vantam a este respeito, nesta altura. Para a economista e pesquisadora do Centro de Integridade Pública (CIP) com foco na indústria extractiva, Inocência Mapisse, “empresas da dimensão da Vale têm uma estrutura organizacional que permite lidar com eventos inespe rados (através dos seguros) para evitar desinvestimentos”, daí que não antevê, a possibilidade de Tete ser “muito afecta da” por esta situação.
incertezas do sector privado Carlos Cardoso descreve como “anima dora” a retoma do crescimento do sector imobiliário, do turismo e dos serviços, que havia adormecido com a redução de in vestimentos há mais de quatro anos, re tirando emprego a centenas de pessoas. Mesmo assim, mostra “preocupação” com a crescente queda do carvão no mercado internacional, que “coloca o empresário sem saber se deve ou não continuar a in vestir, visto que o cenário pode mudar a qualquer momento e voltar a trazer pre juízos”, assume.
Apesar da incerteza, não acredita que a redução prevista de 12% no preço do car vão possa ser tão severa como o fenóme no de 2014, em que o preço caiu para me nos de metade, factor que foi agravado pelos ataques que obrigaram ao encer ramento de muitos empreendimentos. Posição similar é assumida pela econo mista Inocência Mapisse. “É possível que a Vale e outros operadores do mercado abrandem as suas operações, mas não tomarão esta decisão com tanta flexibi lidade. Terão de estudar cenários futu ros antes de decidir, mesmo porque uma redução de 12% ainda é comportável e pode ser que a recuperação do preço aconteça também num curto espaço de tempo”, argumentou a economista, para quem Tete “não deverá assistir à sus pensão de investimentos em sectores de apoio às extractivas, e que têm im pacto no crescimento económico local”, adverte.
Em sentido inverso, também o economis ta e docente universitário Constantino Marrengula não demonstra optimismo quanto aos efeitos da prevista redução dos preços do carvão. “Agora estamos diante de uma previsão que faz temer o cenário de 2015. O efeito directo des te fenómeno é a redução da produção para evitar maiores perdas de re ceitas”, avançou o economista. Mesmo admitindo a hipótese de a quebra do preço no mercado internacional fazer
RiqUezas de TeTe
Mais do que apenas o carvão, a província dispõe de uma extensa variedade de recursos minerais. Com mais investimentos, Tete seria sem dúvidas um El Dorado nacional
Recursos minerais
É conhecida pelas reservas de carvão mineral de dimensão mundial, tendo como grande concorrente a austrália, mas tem reservas de pedras preciosas, de ornamentação e semipreciosas, ouro, grafites, urânio, ferro, cobre, granito-negro, calcário, vanádio e fluorite.
aumentar a procura e, por via disso, incentivar a uma maior produção e ven das (podendo, assim, contrabalançar o efeito do preço), o economista não acre dita que as empresas optem por manter níveis elevados de produção de carvão, porque, analisa, “elas são geralmente con servadoras a este respeito, procurando sempre evitar riscos de perda de lucros.
E a forma mais evidente de o fazer é bai xando o nível da produção ou diminuindo alguns custos, particularmente os da mão-de-obra”, explicou o economista que, além da redução da força de trabalho, antevê ainda a redução das compras que as multinacionais fazem localmente, lembrando que “só a Vale gastou cerca de 800 milhões de dólares na contratação de Pequenas e Médias Empresas que pres tam diversos tipos de serviços o que, com menor previsão de lucro, deverá deixar de acontecer, pelo menos a essa escala.”
energia agricultura
Também é ali que está uma das maiores barragens hidroeléctricas de África, a HCB, a 18º mais importante do mundo, com uma capacidade de produção máxima anual de 18 mil gWh, e que abastece o país e vizinhos como a África do Sul, Malawi, Zâmbia.
Conhecida pela vasta extensão de terras férteis, Tete produz principalmente o tabaco, algodão, a batata reno e doce, e uma grande variedade de cereais (feijão, milho, amendoim, soja entre outros). Tem ainda a maior mancha florestal do país.
Turismo
a província tem um potencial assinalável para o turismo de interior. Na albufeira de Cahora Bassa, a actividade está em franco desenvolvimento. ainda há a destacar as águas termais de Boroma, as fontes de água da angónia, Macanga, Chiúta e Zumbu, e outros locais de interesse turístico, incluindo atractivos paisagísticos, com destaque para o Vale do Zambeze.
tete não carbonífero… e as vias de acesso Tete confunde-se com carvão… e é justo, e mais do que compreensível que assim seja. É a matéria-prima que mobiliza a economia local (e nacional). Mas há tam bém uma série de outros recursos que merecem especial atenção.
Por exemplo, é uma das províncias com mais minérios (ver caixa das potencia lidades), muitos deles ainda não devida mente explorados, apesar de já existirem projectos nesse sentido. Depois, é uma das regiões do país com maior potencial agrícola. No entanto, há um claro défice na rede de estradas, um dos maiores cla mores do empresariado local, de há anos a esta parte.
Ao nível do investimento, é também ali que vai nascer a maior siderúrgica na cional, um empreendimento com poten cial “para ser o pilar da indústria de aço nacional e regional nos próximos 100 anos, dando retornos robustos aos investidores e benefícios sócio-económicos ao país”; dizia o ministro Max Tonela, aquando da assinatura do contrato com a australia na Capitol Resources, num investimento de 770 milhões de dólares. Segundo o go vernador local, a implantação da fábrica dará origem a outras actividade, como a produção de cimento, betão reforçado, cabos metálicos e, sobretudo, gerará mais postos de emprego e ocasionará o cresci mento de novas PME, de que a província (e o país) tanto necessitam.
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foTografia D.R.
TexTo Celso Chambisso
Nómadas digitais
Cristina Simón • Professora de RH da IE Business School e directora do MBA IE-BROWN
como tem vindo a acontecer nos últimos anos, as possibilida des que abre a tecnologia permitem uma nova concepção do trabalho: as comunidades dos chamados nómadas digitais. São basicamente profissionais da geração millenial que decidem prescindir dos laços espaço-temporais marcados pelas formas de relação laboral tradicionais e trabalham enquanto viajam. Iniciativas como a Selina.com organizam espaços físicos em destinos de interesse turístico para que estes jovens nómadas digitais disponham de conexão e lugares adequados para de senvolver a sua actividade. Obviamente esta opção não é para toda a gente, nem para todos os postos de trabalho. Aquelas actividades que reque rem atenção próxima ao cliente ou presença física (indústria ou determinados serviços) não são susceptíveis de noma dismo em geral. Contudo, é interessante analisar o que esta forma de trabalho representa. Uma vez superado o “onde vamos parar” inicial - uma primeira análise a estas comu nidades de nómadas digitais gera a sensação de qualquer coisa menos produtividade ao estilo clássico –, o certo é que há muitos trabalhos que, ao não requererem presença física, podem realmente ser desempenhados a partir de qualquer sítio. E inclusive podemos pensar em muitos que requerem inspiração e renovação (como o desenho ou as tarefas cria tivas), para os quais sair da rotina diária pode ser um estí mulo importante para a eficácia pessoal. E devemos espe rar que este tipo de trabalhos venha a aumentar no futuro, visto que a robotização absorve as tarefas mais rotineiras, físicas e que requerem presença num posto de trabalho. O fenómeno do nomadismo digital permite-nos também fazer
uma leitura histórica do mundo do trabalho tal como o conhe cemos no mundo ocidental actual. Ainda seguimos o modelo gerado durante a Revolução Industrial do século XIX e deve mos recordar o choque que representou em seu momento. Os operários suicidavam-se por não poderem passar a cada dia um número de horas fixas dentro de um edifício com luz ar tificial quando a sua forma de vida, essencialmente agrícola, tinha estado vinculada ao movimento do sol e ao ritmo do cli ma e das estações. A nossa forma de trabalho não é tão antiga nem inerente à nossa espécie. Não quero dizer com isso que tenhamos de voltar ao campo ou que devamos tornar-nos lu ditas, senão simplesmente que não é a primeira vez que acon tecem mudanças na concepção que temos do trabalho e que não deveríamos escandalizar-nos por isso. Sim, é certo que estes nómadas digitais nos recordam estes tempos anteriores, onde não existiam as amarras que actualmente marcam o nosso sistema produtivo. Como em tantos fenómenos socio-económicos gerados pela tecnologia, ainda está por ver a extensão deste nomadismo digital e se irá além de ser outra moda efémera. Cada vez são mais os jovens que decidem romper com o sistema durante uma temporada e viajar sem amarras, com trabalhos pre cários mas que lhes permitem ter experiências diferentes e aprender com outras culturas, o que pode ser também uma valiosa fonte de talento para as organizações. Esperemos que os departamentos de selecção se adaptem também a esta nova visão do mundo e saibam ver nos cur rículos dos nativos digitais o maior valor que podem trazer às novas gerações.
O certo é que há muitos trabalhos que, ao não requererem presença física, podem realmente ser desempenhados a partir de qualquer sítio. E inclusive podemos pensar em muitos que requerem inspiração e renovação como o desenho ou as tarefas criativas
OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 44
ercado e finanças
“SomoS o banco maiS capitalizado e robuSto em moçambique”
Ao longo dos últimos três anos, os mais conturbados da década a nível económico, o Millennium bim apresentou sempre resultados que apontam num único sentido: solidez. Em entrevista à E&M, José Reino da Costa, o PCE da instituição, fala das “dificuldades” de 2018, lançando os grandes desafios deste e dos próximos anos
a actuação do Millennium bim pode definir-se em poucas palavras: consis tência, sobriedade e crescimento.
E há resultados palpáveis dessa rea lidade ao nível da base de clientes (1,8 milhões), da expansão da utilização de canais remotos (Millennium IZI, Inter net Banking e redes de ATM e TPA), ou por ser o primeiro banco a estar presen te em todos os distritos do país, chegando aos 193 balcões.
Ainda sem o relatório de contas referen te ao ano de 2018, José Reino da Costa fala, em exclusivo à E&M, de um crescimen to de 10% ao nível do número de clientes e dos depósitos, sendo que os valores fi nais apontam, por essa via, para um
crescimento do resultado líquido da ins tituição, com um rácio de capital acima dos 30% (bem para lá dos 9% mandató rios por parte do Banco de Moçambique). No entanto, ao nível do crédito malpa rado, que se terá agravado nos últimos anos, a situação ainda é delicada, mas, assinala, “prosseguem os esforços de aperfeiçoamento dos mecanismos de monitorização de risco e de uma políti ca de provisionamento prudente, com vista à eficiência e robustez do balan ço”, assume o gestor, para quem a saúde financeira do bim é hoje “assinalável”. O que provoca reflexos na “grande ca pacidade de concessão de crédito... assim que a economia puxe por nós”, assume.
Como é que podemos olhar para o ano de 2018 do Millennium bim?
Continuou a ser um ano em que hou ve evolução de crédito, fruto, ainda, obviamente de um crescimento da eco nomia fraco e do nível de taxa de juro que, apesar de já ter descido significa tivamente, ainda foi bastante elevado. Portanto, o mercado como um todo ain da decresceu a sua carteira de crédito. Nós decrescemos mais do que o merca do, simplesmente, porque houve dois ou três clientes que tiveram liquidez e aproveitaram para liquidar crédito pa ra reduzir os seus encargos financeiros, e isso afectou a nossa carteira ain da de uma forma mais significativa.
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m
Depois, foi um ano com muitos desafios. Já começámos a decrescer o nível de crédito malparado, e, portanto, tivemos um ano em que a nossa estratégia se fo cou na eficiência e na robustez do balanço.
Há uma noção clara já sobre os prin cipais resultados operacionais do banco no ano passado?
Os números finais apontam para um crescimento do resultado líquido, face ao anterior, para uma forte liquidez do balanço, que tem muito que ver com o facto de termos crescido nos depósitos. Temos neste momento uma taxa de transformação (relação entre os depósi tos e o crédito) abaixo dos 50%, o que dá uma grande liquidez ao balanço e tam bém posiciona o bim como um banco com grande capacidade de dar crédito no fu turo... assim que a economia puxe por nós. Mas o aspecto mais importante é, claramente, termos fechado o ano com um rácio bastante acima dos 30%. Por tanto, com este rácio de capital, que é aquilo que nos define em termos de ban co, somos o mais capitalizado e robusto em Moçambique.
Ainda assim, foi um ano de cresci mento modesto?
Foi um ano de crescimento modesto, lim peza de balanço, e robustecimento de todos os indicadores fundamentais para aquilo que deve ser um banco líder de mercado.
Ao nível do número de clientes, houve um crescimento dentro dos patama res dos últimos anos?
Crescemos perto dos 10% ao nível dos clientes, temos 193 balcões e somos o úni co banco presente em todos os distritos do país, não só através dos balcões, mas também da nossa rede de agentes. Este processo de ‘bancarização’ e de inclusão financeira faz parte da nossa estratégia.
Há praticamente uma década que se antevê o tal boom económico com o crescimento a regressar aos 7% anuais, impelido pela exploração de gás natural. De que forma é que o sec tor financeiro, e um dos bancos que lidera o mercado nacional, se está a preparar para esta mudança? Prevemos que 2020 seja o ano em que po deremos ter um crescimento expressivo. Acreditamos que o crédito vai ter cres cimento em 2019 e já nos últimos meses de 2018 tivemos sinais de que, de facto, já está a crescer (no crédito ao consumo
O que se passou (blackout da rede SIMO) foi muito mau para o sistema financeiro.
Toda a gente perdeu. Os bancos e fundamentalmente os clientes, particulares, mas também empresas, que não conseguiram fazer as transacções de que necessitavam. No final do dia, acho que perdeu também a credibilidade de Moçambique
retorno de mais mão-de-obra estrangei ra que virá, necessariamente, apoiar o desenvolvimento destes projectos o que vai criar as condições para que, a partir de 2020, comecemos a sentir que o Inves timento Directo Estrangeiro (IDE) comece a aumentar e que, no fundo, a economia cresça perto dos valores que todos dese jamos, que serão à volta desses 7% ou 8%, sendo que só a partir de 2022 é que te remos então crescimento a dois dígitos. É por tudo isto que eu digo que 2019 pode rá ser o ano de viragem.
a particulares). Obviamente isto tem que ver com a descida das taxas de juros, e, portanto, a capacidade financeira dos clientes voltou aos níveis normais. Mas, como digo, e aliás, as perspectivas do FMI também apontam nesse sentido, 2019 se rá um ano em que o crescimento andará ainda entre os 4% e 5%. Acho que ainda há um salto que é preciso dar, o que só irá acontecer quando os projectos do gás se materializarem. Mas, como a economia funciona muito com base em expecta tivas, parece-me que este será um ano de mudanças porque se esperam duas decisões muito importantes. Tivemos a primeira decisão de investimentos em 2017 (Área 4 do Rovuma, concessionada pela ENI), e que foi importante, mas estas duas decisões de investimento (nas áreas 1 e 4) para os dois projectos onshore, com investimentos acima dos 20 mil milhões de dólares cada um, irão, definitiva mente, dissipar quaisquer dúvidas que ainda eventualmente existissem. E isso irá alterar as expectativas de todos os players, nomeadamente da banca.
O que irá mudar, de forma mais evi dente, em sua opinião?
Vamos assistir ao retorno do apetite in ternacional em alguns investimentos, ao
Esta dimensão ao nível dos investi mentos não passa pela banca nacional mas por sindicatos bancários inter nacionais. Pergunto-lhe então, de que forma a banca nacional entra nesses grandes investimentos, ou colhe os frutos dos mega projectos? É bom que se diga isto: o sistema finan ceiro nacional todo junto, ao nível dos activos, representa 6 mil milhões de dó lares. E só o primeiro projecto de gás aprovado em 2017, e que até é o mais pequeno dos três, já era superior a isso. Estamos a falar de mais de 20 mil milhões de dólares de investimento em cada um, e isto dá, por si só, a dimensão de que, de facto, nem que se juntassem todos os bancos nacionais, não conseguiriam fi nanciar estes projectos. Aquilo que é importante para nós é o facto de esses projectos poderem ser o motor de trans formação da economia moçambicana. Porque não é só esta acção do gás que vai trazer royalties e impostos para Moçambique, mas vai-se gerar um de senvolvimento do famoso ‘Conteúdo Local’. Por isso, as cadeias de valor vão gi rar em torno destes projectos em áreas como a formação, recrutamento, advoca cia, logística, catering, transporte, para não falarmos de outras indústrias um pouco mais ‘hards’, como as mecânicas. Há um conjunto de actividades que ne cessariamente vão ter de ser feitas cá, que vão desenvolver a economia e, naturalmente, o sistema financeiro. Havendo crescimento económico, há mais depósitos, mais crédito ao consumo e às empresas. É nisto que acreditamos, e é por isso que apostámos numa lógica de manter o banco bem capitalizado, com liquidez, o que nos posiciona de for ma preferencial agora para podermos servir de apoio a todo esse desenvol vimento que todos esperamos para os próximos anos. E contamos que tudo isto aconteça também com uma incorpora ção nacional significativa.
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mercado e finanças
O panorama na banca mudou bas tante nos últimos dois ou três anos, devido ao impulso regenerador do Banco Central. Em que medida essas mudanças foram benéficas para o sis tema financeiro nacional?
Sem dúvida. Para ser completamen te claro, estamos alinhados e achamos que esse é o caminho que tem de ser feito. O Banco de Moçambique (BdM), ob viamente, é o regulador e supervisor, e portanto, merece todo o respeito. Temos uma relação de enorme proximidade, e de trabalho permanente com o BdM. Todas as medidas que tenham como ob jectivo trazer mais robustez ao sistema financeiro são positivas. As situações pe las quais passámos nos últimos anos, em que dois bancos foram à falência, ob viamente não agradam a ninguém e deveremos evitar que se repitam.
Que medidas destaca, a este nível?
O BdM tem implementado um ritmo de mudança importante, com a introdução das ‘Prime Rates’ para o sistema finan ceiro, que reforçam a transparência perante os clientes e permitem com parar as ofertas de uma forma muito mais clara. Depois, a alteração do capital dos bancos, ou o rácio de liquidez, tam bém para garantir que estes tenham níveis adequados e demonstrem saúde financeira.
Como viveu aqueles dias do ‘apagão’ da rede SIMO, sendo que o bim até foi o único banco que, por não ter ainda concluído a migração, acabou por ser, acredito, o menos lesado?
De facto, mas para nós foi uma desa gradável surpresa. O que se passou foi muito mau para o sistema financeiro. Toda a gente perdeu. Os bancos, e funda mentalmente os clientes, particulares, mas também empresas, que não con seguiram fazer as transacções de que necessitavam. No final do dia, acho que perdeu também a credibilidade de Moçambique. Já tínhamos inicia do o processo de migração, ao nível do investimento que já tinha sido feito e muitas máquinas nossas até já tinham migrado. Investimos dinheiro e tempo que, no fundo, foram desperdiçados.
Essa migração vai ser concluída, ou foi abandonada de vez? Não será retomada. O processo parou! E neste momento voltámos ao processo anterior e estamos a trabalhar de uma forma independente.
Não é muito comum isto acontecer... Não, nunca tinha assistido a algo parecido.
A banca tradicional vai ter de mudar nos próximos anos por via do digital, e isso provocará uma alteração ra dical na forma de ‘consumirmos’ produtos bancários. Em que medida? Mas a banca já está a mudar. O tema do mobile já tem muitos anos. No bim já tra balhamos nisto há, pelo menos, seis anos. Em Dezembro deste ano batemos, mais uma vez, o recorde de transacções men sais através do IZI (mais de 10 milhões).
E aquilo que referiu naquele momento do ‘blackout’ serviu também para mos trar o potencial destas plataformas. A
transformação digital está a atingir uma velocidade gigantesca e a nossa estraté gia, e a da maior parte dos bancos, é justo dizer, assenta fundamentalmente no mo bile. Depois, há a inter-operabilidade, e nesse sentido, fizemos uma parceria com a Vodacom (detém o M-Pesa), que foi um sucesso imediato.
Prevê alguma mudança de para digma no que concerne ao crédito à habitação?
Esse é um tema vasto e que não passa só pelas taxas de juro. Começa, em primei ro lugar, pelo nível salarial da população moçambicana. A capacidade de financia mento das pessoas é muito baixa, e por
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Millennium bim foi o primeiro banco a estar presente em todos os distritos do país
“Os empresários perceberam o perigo que é dependerem demasiado do crédito bancário, porque as taxas de juro podem estar baixas num período e depois, de repente, sobem”
isso é que, muitas vezes, se financiam através de crédito ao consumo pa ra comprar materiais de construção e fazer a sua própria casa. Há uma per centagem muito reduzida da população com salários formais que permitam en dividar-se para comprar uma casa e pagar 100 ou 150 mil dólares. O segundo problema tem que ver com os custos de contexto, como a construção, a que acres cem os efeitos da depreciação cambial. Se, em cima disto, pusermos as taxas de juro, que também são bastante elevadas, temos uma equação difícil de resolver. Se olharmos para países que passaram por fases semelhantes, a dinamização do crédito à habitação passou sempre por apoios do Estado, crédito jovem com bo nificações que, parece-me, mais cedo ou mais tarde vão ter de surgir aqui.
Com o nível galopante do crédito mal parado, o sistema de recuperação
dessas dívidas está bem desenvolvi do no mercado financeiro?
Temos de dividir isso em duas componen tes: empresas e particulares, porque o sistema é completamente diferente. Nas empresas normalmente resolve-se bem e tem fundamentalmente a ver com a capacidade do sistema judicial executar as garantias existentes. Relativamen te aos particulares, a situação já é mais complexa. Nos mercados mais desenvol vidos existem empresas de recuperação de crédito que fazem a compra de car teira e, cá em Moçambique, já há alguns embriões desse processo. Mas há ainda dificuldades estruturais como a dimen são do país, a falta de morada das pessoas, a dificuldade de contacto mesmo através do telemóvel e, por isso, é que o nível de crédito malparado está acima daquilo que é desejável. Claro que isto também tem efeitos sobre as taxas de juro, por que há o custo dos riscos.
Acha que há uma percepção dife rente da forma de fazer negócio por parte dos empresários, consideran do que o financiamento às empresas caiu bastante nos últimos anos? Eu penso que os empresários perce beram o perigo que é dependerem demasiado do crédito bancário, porque as taxas de juro podem estar baixas num período e depois, de repente, sobem e um negócio que era rentável deixa de o ser. Os empresários têm de perceber, claramente, que o principal gerador de crescimento tem de ser orgânico: as em presas têm de dar lucro porque isso é o que permite reforçar o capital, pagar me lhores salários, impostos e fazer crescer a economia. O principal financiamen to tem de ser interno, e estes períodos de crise criam um pensamento mais adequado relativamente à forma co mo as empresas se devem desenvolver. O tema do empreendedorismo é um de les. Há um conjunto de mecanismos que se também se devem desenvolver, como os capitais de risco e os fundos de inves timento que apoiam o nascimento de novas empresas.
O que pensa sobre a crítica ao facto de a banca moçambicana ser, pratica mente, toda ela estrangeira?
Não é uma discussão de aqui, apenas. Em Portugal também acontece isto (a banca está praticamente nas mãos de bancos espanhóis) e, quando trabalhei na Romé nia, a banca também era praticamente toda estrangeira.
E lá também havia essa discussão? Sim, mas não muito…. Eu penso que o fundamental dos bancos que estão no mercado é que sirvam a economia local. Hoje em dia o capital é muito mais lato. Se um país quer ser e estar aberto ao mun do não creio que seja esse o principal problema, sinceramente. Nós não esta mos aqui para outra coisa que não seja para servir a economia local, e não finan ciamos projectos fora de Moçambique. Acho que a questão fundamental é mais complexa, se quiser, e é se deve ou não haver um banco robusto de ca pital público para ser o instrumento do Governo (como acontece com a Caixa Ge ral de Depósitos, em Portugal) que apoie a economia com uma estratégia alinha da com a do Executivo. A banca privada deve ter uma estratégia forte, senão não é privada. Eu acho que a discussão deveria ir mais por aí. Agora, a outra questão é: porque é que isto é assim em Moçambique? Mais uma vez voltamos à questão dos capitais. A culpa é dos ban cos estrangeiros? O tema passa por uma questão de capital, fundamentalmente. Havendo capital, havendo investidores moçambicanos com capacidade suficien te, seguramente que haverá mais bancos moçambicanos fortes com mais capital moçambicano. Insisto. Eu acho é que o que é fundamental é garantir que os bancos que estão em Moçambique estão ao serviço do país. E nós estamos cá ao serviço do país.
Acha que a questão das dívidas ocul tas e de alguma instabilidade política pode meter-se no caminho do cres cimento? Quais é que podem ser os obstáculos à possível mudança da economia do país?
Como dizia, o comboio está em andamento e não vai parar. Estas coisas têm sem pre altos e baixos, por razões que não conseguimos prever mas, os grandes projectos estão a andar, e não irão parar.
Qual é, hoje, o seu principal desafio?
A minha missão, enquanto PCE do Millen nium bim, é um enorme desafio pessoal e profissional. É com muito gosto e orgu lho que faço este lugar, com a humildade de, todos os dias, aprender alguma coisa. A parte mais importante para mim é ga rantir que o bim continuará a ser o melhor banco em Moçambique por muitos anos.
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texto Pedro Cativelos fotografia Jay Garrido
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empresas
“Queremos relançar o turismo nacional”
Recentemente cotada na Bolsa de Valores de Moçambique, a Arco Investimentos desenvolve projectos na área do turismo por todo o país
num futuro breve , Moçambique terá mais cinco destinos turísticos de refe rência, “desenhados com o mais elevado padrão de qualidade para proporcionar opções de lazer de alto nível”.
A ideia nasce da identificação das (já co nhecidas) oportunidades que o sector oferece, para uma maior (e melhor) ex ploração do que o país tem de melhor, e é incorporada pela Arco Investimentos, que nasceu em 2014, por via da constituição de uma Sociedade Anónima composta por cerca de 50 accionistas e com investimen tos também em Cabo Verde.Para o PCA da empresa, Cardoso Muendane, cada uma das estâncias turísticas de Moçambique será composta por uma cadeia de hotéis, residências e campos de golfe em espaços próximos da praia. Para o efeito, a empresa já adquiriu e legalizou projectos na Ponta do Ouro (Província de Maputo), em Inham bane (distrito da Massinga), na província de Nampula (cidades de Nampula e Nacala). Com capital social de 30 milhões de me ticais em 2014 (na altura equivalentes a perto de um milhão de dólares), a Ar co Investimentos não chegou a conseguir grandes resultados na angariação dos recursos para os projectos, porque “nos anos subsequentes, a economia começou a entrar em crise, e a falta de recursos sus pendeu o sonho dos fundadores”, justifica. Mas hoje, com a ainda ténue recuperação macro-económica e com uma crescente tendência que coloca o turismo nas prio ridades do país, os empreendimentos deverão conhecer novos avanços. Tudo, neste como noutros casos, passa por financiamento. Nesse sentido, recente mente, a Arco dispersou o seu capital em bolsa. “De facto, através da nossa entrada na Bolsa de Valores esperamos obter bons resultados porque há muitas empresas interessadas em comprar acções. Desta forma procuramos aumentar o número de investidores e o volume de capital”,
investirnoturismo
explica. Além da área imobiliária, a empresa tem lançado um conjunto de in vestimentos no sector dos seguros. Assim, vai utilizar alguns dos fundos recolhidos por via da dispersão de capital em bolsa na Arco Seguros (de que é detentora) e na Companhia de Seguros de Moçambique, da qual acaba de adquirir 30% do capital so cial. Paralelamente, a Arco Investimentos tem estado a “vender” o projecto integra do de turismo e campos de golfe tendo, nesse sentido, firmado parcerias com in vestidores sul-africanos para trazer grandes competições a Moçambique, uma vez que, explica, “o golfe é uma mo dalidade com grande potencial turístico”. O grupo considera, ainda, que o primeiro projecto a avançar poderá ser o de Zi tundo, na Ponta do Ouro, num espaço de 470 hectares, uma vez que ali já existem vias de acesso melhoradas, para além do próprio projecto de arquitectura e do es tudo de viabilidade estarem, nesta altura, finalizados. “Já temos o DUAT e parceiros para desenvolver o projecto. Agora a es tratégia passa por começar com a zona dos apartamentos e do campo de golfe”, garan tiu Muendane, para depois acrescentar que “estamos a conversar com um grupo de italianos e sul-africanos que irão entrar como investidores.”
Enquanto isso, os restantes projectos en contram-se a aguardar financiamento para entrarem na fase inicial. Devido à natureza dos empreendimen tos, “ainda é cedo para dizer quando a construção poderá arrancar, mas toda a receptividade que temos tido por parte do mercado nos diz que vamos chegar lá e poderemos contribuir para que o mercado nacional entre na rota mundial do turismo de alto padrão”, anuncia.
Bempresa arco investimentos
pCa cardoso muendane Fundação do grupo 2014 Capital soCial 30 milhões de meticais proJeCtos
5
em Zitundo, na Ponta do ouro, em inhambane, no distrito da massinga, dois na cidade de nampula e um em nacala
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fotografia Jay garrido
texto Hermenegildo langa
“Promover a bancarização e a inclusão financeira”. Este é o objectivo do memorando rubri cado entre o Millennium bim e o Ministério da Terra, Ambien te e Desenvolvimento Rural (MITADER) no qual se pretende, a breve trecho, instalar agências bancárias em 12 novos distritos do país. Inserido no âmbito do programa “Um Distrito, um ban co”, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável (FNDS), as duas instituições pre tendem “acelerar o processo de inclusão financeira nas zonas ru rais”, dotando todos os distritos com pelo menos um balcão até ao final deste ano.
sTAnDARD
chinês
Com vista a incrementar os la ços empresariais entre Mo çambique e a China, o Stan dard Bank apresentou, num workshop alusivo às celebra ções do novo ano chinês, um conjunto de soluções financeiras para facilitar a realização de in vestimentos e negócios no país. Trata-se assim de um mecanis mo através do qual o banco pre tende trazer “novas soluções para facilitar as remessas pes soais entre Moçambique e a Chi na”, permitindo, desta forma, a facilitação de pagamentos in ternacionais online directos en tre particulares e empresas, re duzindo os custos e aumentando a eficiência para os clientes pes soais e empresariais.
proceder à venda, assistência pós-venda de viaturas da marca Hyundai e “melhorar a qualidade de prestação de ser viços ao cliente” é o propósito da instalação da nova sede da Hyundai em Maputo. Representada em Moçambique pela Ronil, um dos principais e mais antigos grupos de automóvel no país, o investimento na nova sede, localizada na avenida das FPLM, está avaliado em mais de 2,5 milhões de dólares. Trata-se de um empreendimento que, numa fase inicial, irá garantir 40 postos de trabalho, dos quais 97% serão desti nados a moçambicanos. Segundo Henrique Bettencourt, ge rente da Hyundai, o empreendimento foi feito “a pensar na qualidade de serviços a oferecer ao cliente”, e com a ambi ção de tornar a marca “numa das principais referências” do mercado. “Inovámos ao nível de qualidade e competitivida de nos principais segmentos e surgimos também como uma oferta única de garantia de cinco anos em todas as viaturas por nós comercializadas”, acrescentou.
funDAção gAlp e A helpo ofeReceM bolsAs De esTuDo
Inserido no âmbito do projecto “Educar para o Futuro”, a fun dação Galp, em parceria com associação Helpo, ofereceu re centemente bolsas de estudo (material escolar e bicicletas) a 103 crianças carenciadas da escola de Natoa, no norte da província de Nampula.
As referidas bolsas foram atri buídas às crianças que, pela primeira vez, vão ingressar na 8ª classe. De acordo com as duas entidades, a oferta de bicicle tas a estes jovens “pode fazer a diferença entre continuar os estudos ou abandonar a esco la”, visto que devido à dispersão dos estabelecimentos de ensino, muitos alunos têm de percorrer, diariamente, grandes distâncias para chegarem às aulas.
Hyundai
O Grupo Hyundai, representado em Moçambique pela Ronil, é actualmente o quinto maior fabricante mundial, tendo no ano passado ultrapassado a marca das 7,5 milhões de vendas nos cerca de 193 mercados onde está representada.
buReAu De cRéDiTo chegA Ao MeRcADo
“Acrescentar transparência e confiança para ajudar a ban ca comercial e as instituições de microcrédito a reduzir os riscos do crédito e melhorar o acesso ao financiamento”. É desta for ma que a Compuscan, a primeira agência privada de sistemas de informação de crédito no país (bureau de crédito) se apresen ta, com a missão de “contribuir para facilitar o acesso ao crédi to a particulares e empresas”. De acordo com Lara Cangi, res ponsável em Moçambique, “a empresa pretende contribuir pa ra uma maior transparência e confiança através de informa ção fiável e de qualidade.”
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MillenniuM biM e MiTADeR AliAM-se pelA inclusão finAnceiRA
bAnk pReTenDe fAciliTAR invesTiMenTo
Representante
da marca investiu 2,5 milhões de dólares nas novas instalações
Ronil inAuguRou A novA seDe DA hyunDAi no pAís
Se queremoS conStruir eSte paíS, temoS de Ser SérioS
Fátima mimbire Pesquisadora do CIP
poucos conseguem dar a ca ra em assuntos polémicos, me nos ainda para protestar. Fáti ma Mimbire, pesquisadora do Centro de Integridade Pública (CIP), é uma destas figuras, ten do sido um dos rostos da pro moção da mais famosa frase dos últimos meses “Eu não pa go as dívidas ocultas”.
O que motivou o CIP para criar a campanha? É preciso dizer que a ideia da produção das camisetas foi do Edson Cortez que era nosso colega na altura e ainda não era director do CIP quando as dívidas ocultas foram re veladas. Esta campanha foi o culminar da confirmação de que, definitivamente, como moçambicanos, não devemos pagar essa dívida. E a ideia é dar voz ao povo, dizer-lhes que se podem pronunciar em relação a essas dívidas, não aceitando que sejam pagas porque não passaram pela Assembleia da República (AR). Estamos a ampliar o espaço para os cidadãos se expres sarem e também a fortalecer a ideia de que os moçambica nos não devem aceitar pagar essas dívidas porque há ra zões mais do que suficientes para que o Estado não assu ma o seu pagamento.
Há vozes que dizem que não é o papel do CIP criar este tipo de campanhas. Co mo é que vê essa posição? Bom, é uma crítica. Mas, na
verdade, não estamos a fa zer nada ilegal. A ideia do lan çamento desta campanha foi dos colaboradores do CIP on de também me enquadro. Te mos um plano estratégico que nos guia, e dentro dele elaboramos os nossos planos anuais. Temos, no nosso plano de acção, estabelecido a cin co anos, a vertente da monito ria e acompanhamento rela tivamente às dívidas ocultas e esta campanha enquadra -se nesta actividade. Depois, a nossa Constituição da Repúbli ca é muito clara sobre a ques tão das manifestações, e quan do distribuímos as camisetas é para que as pessoas as vistam e se expressem por via delas. Isso é permitido constitucio nalmente. O CIP tem estatu tos que foram aprovados pe lo Governo, portanto, sabe-se que o nosso objectivo é trazer a consciência pública e moni torizar a governação. Por via desta campanha, estamos a consciencializar os cidadãos de que não vamos aceitar pa gar uma dívida que é ilegal.
Quando a campanha foi lançada a Polícia procurou impedir a operação. Como é que lidaram com isso? Simplesmente continuámos a fazer a distribuição e re comendámos às pessoas que resistissem. Houve algumas que o fizeram mas, infeliz mente, outros obedeceram às ordens da polícia uma vez que, no nosso país, a cultura
cvcurriculum vitae
fátima Mimbire trabalhou como jornalista na agência de informação de Moçambique (aiM) e foi professora assistente na escola Superior de Jornalismo. actualmente é pesquisadora do CiP em processos ligados à indústria extractiva.
CIP
plesmente as têm e só as usam em casa. Infelizmente, temos um pouco esta cultura do medo, mas também é pre ciso lembrar que temos uma geração pós 90 que não está amarrada a ele e consegue expor e expressar as suas opiniões e fazer-se ouvir. É ainda preciso mudar essa ló gica e permitir que as pes soas se pronunciem à vonta de sem nenhum receio.
Como é que está a ser aco lhida esta campanha nas províncias?
Há muito interesse e já nem estamos a conseguir respon der à demanda das pessoas. O que estamos a fazer é dis ponibilizar aos cidadãos os desenhos da camiseta para as pessoas poderem, de for ma independente, estampar a sua própria t-shirt. A cam panha tem tido uma enorme aceitação nas ruas e nas re des sociais, o que demonstra que há uma insatisfação po pular evidente.
Qual será o posicionamen to do CIP caso o Governo mantenha a opinião sobre a legalidade das dívidas contraídas?
de obediência às autoridades é muito grande, tanto que as pessoas até acabam por aca tar ordens ilegais. No entan to, continuamos com a campa nha de distribuição nas pro víncias. E ela vai continuar até os moçambicanos esta rem satisfeitos com a deci são da AR. Penso que se que remos construir este país, te mos de fazer as coisas com seriedade.
Sente que as pessoas que têm a t-shirt a vestem, ou temem represálias das autoridades?
É difícil aferir isso, mas te mos visto gente nas ruas com elas vestidas. Há pes soas que vestem, mas tam bém há outras que sim
Sabemos que existe promis cuidade entre o sistema judi cial e o poder executivo, mas acreditamos que o bom senso pode reinar no final do dia. Te mos uma pequena esperança de que isso pode acontecer. Podíamos recorrer a outros mecanismos como o Tribu nal Africano mas, infelizmen te, não podemos fazê-lo por que o governo ainda não per mitiu que os moçambicanos pudessem aceder a ele. Aí, poderíamos processar o go verno por violação dos direi tos humanos porque é com provadamente visível que estas dívidas vão comprome ter os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
figura
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do mês
texto Hermenegildo langa fotografia Jay garrido
consciencializar “Estamos a ampliar o espaço dos cidadãos para se expressarem”
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Como a Cannabis está a fazer sorrir um novo merCado global
Se fosse necessário destacar apenas um indicador do interesse e das expectativas que hoje recaem sobre a nova indústria da cannabis, bastaria referir as duas sessões que lhe foram dedicadas no recente World Economic Forum que se realizou em Davos, na Suíça
no ponto de encontro anual da elite política, económica e financeira global, o Forum de Davos acolheu, numa das suas sessões, personalidades tão diversas co mo Ehud Barak (antigo primeiro-minis tro de Israel, país que é um dos maiores produtores de cannabis para fins me dicinais) e Bruce Linton, CEO da Canopy Growth, a maior produtora canadiana de cannabis, para falarem da situação actual do mercado e das tendências de evolução para os próximos anos. Na outra sessão, patrocinada pela Cana dian Securities Exchange e o OTC Ma rkets Group Inc., os participantes analisa ram as perspectivas financeiras e de co tação em bolsa das empresas que já ho je se movimentam neste novo mercado. No entanto, o que passou em Davos re flecte apenas uma nova realidade. De acordo com dois relatórios recentes (The State of Legal Marijuana Markets e The Road Map to a $57 Billion Worldwide Ma rket) produzidos pela empresa Arcview Market Research, em parceria com a BDS Analytics, com a progressiva legalização
57mil milhões de dólares é a estimativa de valor do mercado da cannabis até 2027 ao nível da comercialização e consumo, tanto para fins medicinais como recreativos
da produção, comercialização e consumo da cannabis, tanto para fins medicinais como recreativos, a expectativa é que este mercado represente, em 2027, a ní vel global, um valor que poderá atingir os 57 mil milhões de dólares.
novos segmentos do mercado da ‘erva’ De acordo com os relatórios, a fatia de mercado mais significativa será a da cannabis para fins recreativos (67%) sen do os restantes 33% para a cannabis pa ra fins medicinais. O maior crescimento em número de consumidores irá verifi car-se na América do Norte (EUA e Cana dá) o que, em termos de volume de negó cio, representará uma evolução dos ac tuais 9,2 mil milhões de dólares para os 47,3 mil milhões em 2027. Porém, o maior crescimento de mercado, em termos absolutos, (isto é, não apenas relativo à componente de consumo) irá ocorrer fo ra da América do Norte (os relatórios prevêem que se deverá passar dos ac tuais 52 milhões de dólares (números de 2017) para 2,5 mil milhões, em 2027).
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Um dado interessante é que, enquan to na América do Norte predomina rá o consumo da cannabis para fins re creativos, na Europa será a cannabis para fins medicinais que deverá ser o motor do mercado.
Tendo em atenção as diferenças existen tes nos sistemas de saúde de um e do ou tro lado do Atlântico, os relatórios pre vêem que a Europa será, dentro de uma década, o maior mercado mundial de cannabis para fins medicinais. Um exemplo significativo, neste aspecto, é o facto de a Alemanha ter legalizado, em 2017, a venda de cannabis para fins medicinais nas farmácias do país. Aliás, de acordo com os relatórios, a Alemanha está já a posicionar-se para ser líder do mercado europeu de cannabis (com a Itália a destacar-se em segundo lugar). Mas outros países europeus irão tam bém ocupar um lugar de destaque neste novo mercado, nomeadamente Portugal. A empresa canadiana Tilray – que é neste momento a mais valiosa do mun do no sector da cannabis – estima inves tir, até 2020, cerca de 20 milhões de euros em Portugal na produção de cannabis medicinal para abastecer o mercado eu ropeu (a unidade de produção da Tilray situa-se na zona de Coimbra, na região centro do país).
A maioria da produção portuguesa de verá seguir para a Alemanha, um dos sete países para onde a Tilray vende. O valor de mercado da Tilray tem vindo a disparar e a empresa viu as suas acções subirem quase 800% desde que entrou em Bolsa no passado mês de Julho. A confirmar a Europa como um dos prin cipais líderes da nova indústria da can nabis refira-se que, durante 2019, a In ternational Cannabis Business Confe rence, a maior entidade organizadora de eventos sobre o sector, vai organi zar conferências em Barcelona, Berlim e Zurique, lugares onde pode ir se qui ser conhecer mais sobre este mercado.
fast growing... ou smoking markets
Outros dados interessantes contidos nes tes relatórios indicam que a América do Sul (com destaque para o Brasil, a Ar gentina, o Perú e o Uruguai) será um dos mercados onde a cannabis, para fins me dicinais, irá ter um crescimento maior na próxima década. Já a Austrália afirmar -se-à entre os cinco primeiros produtores mundiais, ao passo que Israel continua rá a ter um lugar de grande destaque (devido ao facto de ser, desde há vários anos, pioneiro na produção de medica
mentos fabricados à base de cannabis). Quanto à Ásia, o recente Hong Kong Cannabis Investor Symposium deu in dicações claras de que apesar do atraso dos países do continente em se posicio narem no novo sector, há sinais de que essa situação irá começar a mudar muito rapidamente.
Por exemplo, a empresa CannAcubed –que desenvolve projectos a nível global no domínio da produção, processamento, investigação científica e licenciamen to de cannabis para fins medicinais - anunciou estar em conversações com o governo chinês para o desenvolvimen to de um parque industrial com uma
área superior a 100 mil hectares (o Can nabis Eco-Park) na região de Yunnan. E a Tailândia acabou de aprovar, em Dezembro passado, legislação que vai permitir a produção e comercializa ção de cannabis pra fins medicinais.
em áfrica... Já no que toca ao continente africano, as perspectivas de uma qualquer infle xão legislativa no sentido de permitir a produção e a comercialização de can nabis parecem distantes. Apesar de na África do Sul, sobretudo na região de Cape Town, vários empreendedores se terem manifestado no sentido de uma
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A cerveja Corona anunciou um investimento de 4 mil milhões de dólares na Canopy Growth, uma das maiores produtoras do mundo, para fabricar novas bebidas à base de cannabis
Plantação da Canopy Growth, a maior produtora canadiana de cannabis
mudança legislativa que lhes permitisse responder positivamente ao interesse manifestado, por exemplo, por investido res canadianos, o governo não tem dado sinais de estar disponível para levar a cabo qualquer alteração ao quadro legal actual.
Apenas o Lesotho tem correspondido, em parte, ao interesse de algumas multinacionais havendo, neste momen to, algumas farmacêuticas (Supreme, Rhizo Sciences e Aphria) a operar na quele país. Perante o interesse destas multinacionais em explorar a reconhe cida qualidade da marijuana local, o governo introduziu algumas alterações legais que permitiram ao país capitalizar esse investimento externo.
Tendo em atenção que, de momento, na América do Norte (EUA/Canadá) e, em parte, na América do Sul, a maior fatia de mercado está na cannabis para fins
recreativos, o último ano assinalou a en trada em força neste sector de grandes multinacionais detentoras de marcas poderosas.
multinacionais entram em cena
Em Agosto do ano passado, a Constellation, que detém, entre outras bebidas, a cer veja Corona, anunciou um investimen to de 4 mil milhões de dólares na Cano py Growth, uma das maiores empre sas canadianas produtoras de cannabis. O objectivo deste investimento é ajudar no desenvolvimento, não apenas de be bidas (e não somente cerveja) com infu são de cannabis (nas suas duas opções, isto é, quer contendo apenas a compo nente CBD quer a THC, a componente psicoactiva), mas também de produtos como rebuçados e chocolates. Ainda no sector das bebidas, também a Coca-Cola já deu indicações de se estar a preparar para investir neste mercado. Embora James Quincey, CEO da empre sa, tenha referido que a entrada do Co ca-Cola não irá acontecer no curto pra zo, pelo menos enquanto não houver um quadro legal definido a nível federal nos Estados Unidos (para já apenas existe le gislação estadual), o facto é que no iní cio de 2018, tanto a revista Forbes como a Bloomberg noticiaram que a Coca-Cola estava em conversações com os cana dianos da Aurora Cannabis na perspec tiva de vir a lançar um segmento de be bidas com infusão de cannabis (embora, para já, a Coca-Cola só esteja a conside rar o uso de CBD, a componente não psi coactiva da cannabis).
Como seria de esperar, também as tabaqueiras se têm estado a movimentar. Embora já há muitos anos tenham vindo a surgir, ciclicamente, notícias que indi cavam que a indústria se estava a pre parar para uma situação como aquela que agora se está viver, a Altria (que pro duz os cigarros Marlboro e outras mar cas) anunciou, em Dezembro passado, um investimento de quase 2 mil mi lhões de dólares na empresa canadiana Cronos Group.
Mas enquanto estes “peso-pesados” afi nam as suas estratégias, milhares de pe quenas e médias empresas, dos mais va riados sectores (bebidas, alimentação, cosmética, etc.) estão já no terreno com uma miríade de produtos. Refiram-se, apenas a título de exemplo, os chocola tes da Bhang, os doces e geleias da Gar den Society, as bolachas crocantes con cebidas pela chef Mindy Segal através da sua empresa Mindy’s Edibles, a água
mineral Hi-Fi Hops ou ainda as cervejas artesanais criadas por Keith Villa, fun dador da Blue Moon.
Há que referir, por fim, que a legaliza ção da cannabis criou a necessidade de levar a cabo o rebranding total de um produto que durante décadas foi objecto de uma imagem negativa.
Como se faz o rebranding de um produto que sempre teve má imagem?
Grandes empresas de design (mas tam bém uma nova constelação de pequenas firmas independentes) estão hoje en volvidas nas múltiplas frentes que a criação de uma nova imagem implica.
Este esforço é particularmente visível na área do retalho com o aparecimento de espaços conceptualmente sofisticados (em termos de design) e que podem com binar vertentes muito diversas (loja, bar, livraria, roupa, arte, etc.).
Esta abordagem é evidente tanto em es paços como a Mister Green Life Store (em Los Angeles, EUA) ou a MedMen (em Manhattan, Nova Iorque) – que se posi cionam claramente no segmento do luxo investindo em objectos de design exclusi vos – como em grandes superfícies, sen do a Planet 13, em Las Vegas (EUA), um caso exemplar.
Apesar de se tratar de uma verdadei ra megastore e incluir até um drive-in, a Planet 13 investiu fortemente tanto no design do espaço como no packaging dos diversos produtos que disponibiliza aos consumidores.
Em paralelo, surgiram no mercado, en tre outras, revistas como a Ember (resul tado de uma parceria com o conhecido magazine independente nova-iorquino Paper) e a Broccoli (um projecto de Anja Charbonneau que tem como alvo o seg mento feminino) cuja lógica decorre da percepção que a cannabis (nas suas ver tentes medicinais e recreativas) é, a par tir de agora, um produto mainstream, com milhões de consumidores por todo o mundo, e não mais um “estilo de vida al ternativo e marginal”.
Nesta perspectiva, estas revistas, co mo várias outras publicações entretan to surgidas (para não referir a atenção que os media de referência cada vez mais dedicam ao mercado da cannabis), são um sinal evidente deste rebranding que está a criar uma nova narrativa em torno do consumo da cannabis.
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texto Rui TRindade fotografia d.R.
Lá fora
‘Procura-se País grande Para relacionamento estável’
Sem um envolvimento maior do Brasil, a CPLP dificilmente continuará a afirmar-se externamente. Por enquanto, ainda não é certo o que fará Jair Bolsonaro a este respeito, até porque o Brasil sempre manteve alguma distância
Que afirmação internacional pode ter uma comunidade de países sem o país que representa 75% da população total do blo co e 83% da economia?
A pergunta, incómoda, está na origem da multiplicação de declarações políticas de líderes da CPLP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, desde a eleição em Novembro passado do novo Presidente brasileiro. Em Janeiro, na tomada de posse de Jair Bolsonaro, o Presidente português fez questão de colocar o “empenho” do Bra sil na CPLP como um dos temas prioritários na primeira conversa com Jair Bolsonaro. Pouco tempo antes, questionada pelos me dia sobre se Bolsonaro não iria afastar ain da mais o Brasil da comunidade lusófona, a secretária-geral da CPLP pareceu lacónica.
60%
foi quanto cresceram as trocas comerciais entre o Brasil e outros estados-memBros da cPlP em 2017, somando, aProximadamente, 3,5 mil milhões de dólares
“Temos de dar tempo ao tempo”, disse Ma ria do Carmo Silveira. “Só posso desejar que a colaboração, a participação, o en volvimento do Brasil na CPLP possam sair mais reforçados”, acrescentou. A dificuldade em prever a política exter na de um líder pouco versado na matéria e de comportamento tendencialmente er rático está a ser comprovada com o pre sidente norte-americano Donald Trump – é, por isso, cedo para antever o que poderá ser a conduta de um Brasil com Bolsonaro face à CPLP. Certo é que se o novo presidente não se desviar muito da linha estrutural traçada há vários anos, o Brasil deverá continuar como tem estado: interessado em aprofundar as relações bilaterais com alguns países da CPLP,
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como Moçambique, mas distante do or ganismo multilateral que representa os países de língua portuguesa. “Em quatro anos que estive no Brasil, o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) só fez duas reuniões sobre a CPLP”, exemplifica o diplomata português, aposentado, Fran cisco Seixas da Costa.
Este desinteresse brasileiro pela CPLP, pontuado por alguns momentos de maior envolvimento, faz parte da linha de “gran de continuidade da política externa brasi leira”, explica o ex-embaixador no Brasil entre 2005 e 2009.
A ambição do Brasil é de afirmação à es cala global, feita com base na sua própria posição – por outras palavras, o Brasil pen sa ter escala suficiente para desenvolver relações bilaterais com os países que lhe interessam, em detrimento das multilate rais em que não vê grande valor acres centado (a não ser daquelas que lhe con firam maior prestígio e afirmação, como por exemplo a conquista de um lugar no Conselho de Segurança das Nações Unidas).
os perigos
Se a organização multilateral em causa tiver outro país a disputar o espaço de in fluência dentro dela, como faz Portugal –ou como faz Espanha no quadro da política ibero-americana – o desinteresse cresce.
Se Bolsonaro seguir esta matriz dificil mente o Brasil inverterá a tendência, que teve um interesse maior de Lula da Silva e de José Sarney no passado como pontos de excepção.
Para a CPLP – que ao contrário de outras comunidades, como as que gravitam em torno de França ou da Inglaterra, não tem a ex-potência colonial como país mais im portante – este desinteresse brasileiro é obviamente um problema. Vítor Ramalho, presidente da UCCLA, o fórum das capitais de língua portuguesa, contrapõe que “sem uma ofensiva, no bom sentido, a situação não vai mudar”. Esta “ofensiva” deve ser feita não só no Itamaraty, mas também nos Estados brasileiros, que gozam de grande autonomia. “O objectivo é relevar a importância da nossa afirmação co lectiva e que o Brasil tem tudo a ganhar (com a CPLP)”, explica, lembrando a posi ção geopolítica de Angola, Moçambique, Portugal e Macau.
Mas sobram dúvidas sobre se para o Bra sil o aproveitamento das relações com es tes países não pode ser feito mais numa base bilateral, esvaziando a CPLP.
Por outro lado, se a agenda política de Bolsonaro se concretizar – afastando o país de temas como o desenvolvimento
PoSição do BraSiL na CPLP
4,8 82,8 0,1 0,04 0,7 0,5 10,8 0,02 02
9 75 0 1 0 10 4 0 0
angola brasil cabo verde guiné bissau guiné equatorial moçambique portugual são tomé e príncipe timor leste Peso no PIB (%) Peso na população (%)
100
milhões de dólares
É o ‘peso’ da balança comercial entre Moçambique e Brasil, essencialmente dominado pela exportação de carvão de Moatize, explorada pela mineradora brasileira, Vale.
sustentável e voltando-o para si mes mo – o Brasil também “não será o que a CPLP precisa”, afirma Seixas da Costa. O diplomata diz que por vezes se in terroga sobre se Angola, que estará a reorientar a sua política externa, poderá ter interesse em ganhar protagonismo na comunidade lusófona.
a importância de ser útil Mas não é só daquilo que fará a nova administração brasileira que depende o avanço da CPLP. A força do bloco, defende Ramalho, passa desde logo pela sua afir mação interna, ou seja, por provar aos cidadãos destes países que a CPLP é útil. “As pessoas hoje não sentem vantagens, inclusivamente na obtenção de vistos”, aponta o líder da UCCLA. “Esta dificulda de acontece desde logo em Angola: uma pessoa que queira ir a Portugal por uma razão justificada, como um tratamento de saúde, sente dificuldades por vezes inultrapassáveis (no visto)”, critica. A di minuição gradual de barreiras à circula ção de cidadãos deste bloco e a criação de programas educacionais e culturais que afirmem a CPLP junto dos cidadãos destes países – como o programa Erasmus fez juntos dos jovens cidadãos da União Eu ropeia, exemplifica Ramalho – são exem plos de passos a dar para a tal afirmação intramuros da comunidade.
Certo é que quer este avanço institu cional, quer um envolvimento maior do Brasil serão desafios para ir travando ao longo de vários anos – deles dependerá a projecção externa e interna da CPLP. Entretanto, recorde-se que em meados do ano passado, o Presidente angolano defen deu que os países lusófonos devem definir um “escopo de colaboração realista” no âmbito da CPLP e pediu “uma reflexão fu tura” sobre o rumo da organização. De acordo com João Lourenço, citado pela imprensa, “apesar de os países poderem colaborar com outras organizações, é im portante que a CPLP defina um escopo de colaboração realista, de modo a não alar gar o âmbito da sua acção, devendo sem pre agir no estrito respeito das regras internas de funcionamento dos Estados que a integram”.
O Presidente angolano, que intervinha na abertura da XII conferência de chefes de Estado e de Governo da organização lu sófona, ocorrida em Santa Maria, ilha do Sal, Cabo Verde, afirmou ainda que tem “vindo a registar um crescente interesse por parte de muitos países em aderir à CPLP como membros efectivos ou obser vadores”. “Se por um lado isso traduz o
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Lá fora
reconhecimento da importância e projec ção da nossa organização, por outro leva -nos a fazer uma reflexão profunda sobre o que pretendemos para o seu futuro”.
mobilidade é tema de fundo
Ainda sobre o futuro da organização, um assunto muito debatido é a questão da mobilidade na CPLP. Salimo Abdula, presidente da Confederação Empresa rial da CPLP, reconduzido em finais do ano passado para mais um mandato, tem-no reafirmado, enquanto “modelo ideal de evolução do espaço da comuni dade para os próximos anos”, não só ao nível da mobilidade de cidadãos, mas também de bens e capitais.
Em finais de Dezembro, também o ex-secretário-executivo da Comunida de dos Países de Língua Portuguesa, Domingos Simões Pereira, considera va, em entrevista à agência de notícias portuguesa Lusa, que a mobilidade no espaço lusófono ainda não avançou por “falta de vontade” dos Estados. O político guineense criticava assim o facto de que quando “chega a altura de materializar esse intercâmbio, cada um invoca a sua
Se a agenda política de Bolsonaro se concretizar –afastando o país de temas como o desenvolvimento sustentável e voltando-o para si mesmo – o Brasil também “não será o que a CPLP precisa”, afirma Seixas da Costa.
soberania e responsabilidades que tem junto de organizações terceiras para pôr em causa esse intercâmbio”, afirmou. Portugal e Cabo Verde apresentaram em 2017 uma proposta conjunta de um regime de mobilidade interna que pre vê a criação de um regime de autoriza ções de residência válido para todos os países da CPLP, fundado sob o critério da nacionalidade, mas que pressupõe o re conhecimento recíproco de habilitações académicas e qualificações profissionais e a portabilidade dos direitos sociais. Segundo o chefe da diplomacia portu guesa, Augusto Santos Silva, a mobili dade no espaço lusófono “não é fácil de atingir porque a realidade é bastante complexa”, mas Domingos Simões Perei ra defende que “a vantagem da CPLP” é precisamente o facto de os países es tarem inseridos em diferentes organi zações regionais. Veremos como será o futuro da CPLP, agregado ou se, como até agora, um pouco perdido no tempo.
Bruno Faria Lopes & seBastião VemBa fotografia D.r.
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texto
Tomada de posse do novo presidente teve medidas de segurança nunca vistas no Brasil
Um País sem Pais e vice-versa
Pedro Cativelos • Director Executivo da Economia & Mercado
dizem-nos as notícias que, ao longo do último mês, se agu dizaram os ataques na Província de Cabo Delgado, se propa garam as detenções relacionadas com o caso das dívidas não declaradas, aumentaram as tarifas de electricidade (uma vez mais) e se multiplicaram as chuvas, por todo o País.
O que é que tudo isto tem em comum? Absolutamente nada, ou quase, não fosse o facto de tudo se ter passado… no País. O que me leva a pensar na origem etimológica da palavra. País é pois, mais do que uma mera palavra que, na origem, provém de Patriarcado, que deriva por sua vez, do grego ‘Pa ter’, que se refere a um território ou jurisdição governados por um patriarca. É ele, o Pai na origem da Pátria, a Amada, por onde se começa a cantar o hino nacional moçambicano. Em função das transformações sociais, culturais e familiares ocorridas desde o século XIX, o papel da figura paterna foi -se alterando, o que não quer dizer que tenha evoluído, com as mudanças da sociedade. E isso teve impactos na forma de viver e estar em sociedade. “Historicamente, o Pai desempe nhava essencialmente uma função educadora e disciplinado ra, segundo códigos frequentemente rígidos e repressivos. E, a interacção entre Pai e Filho era reduzida, particularmente nos primeiros anos de vida, bem como a sua participação nos cuidados diários à criança”, pode ler-se num estudo intitula do ‘A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil’. Freud, um outro Pai, neste caso da psicanálise, dizia no trabalho, ‘Leonardo da Vinci e uma lembrança da sua in fância’, que “na maioria dos seres humanos, tanto hoje como nos tempos primitivos, a necessidade de se apoiar numa auto ridade de qualquer espécie é tão imperativa que o seu mundo desmorona se essa autoridade é ameaçada”.
Claro que se o papel do Pai terá sido reescrito com a evolução
social e económica, o dos Países também. E essa mudança de papéis causou que alguns se tenham desligado demasiado do seu propósito e outros se tenham esquecido de o fazer. Uns e outros Pais e Países foram-se desconectando à medida que o mundo de interligava de outras formas, e tornando mais vago o significado maior que lhes deu luz, no princípio. Torna ram-se estranhos um ao outro, a seguir. E de todos nós. Mas porque todos tendemos a sê-lo, em diferentes fases da vida, a responsabilidade também é nossa, de não deixar que um País sem Pais nos ameace tornar em Pais sem País.
Lembro-me de como em países que passaram por guerras civis prolongadas, como Angola e Moçambique, a juventude parece tantas vezes perdida, sem a referência dos passos de um Pai que esteve na guerra do seu País.
E como, por via disso, em inúmeros casos tenha sucedido que a figura maior do Estado acabe por ser respeitada como se de um Pai (da Pátria) se tratasse. Quase como um duplo do cine ma, que até é parecido com o real, mas não é bem aquilo, se olharmos e pensarmos bem.
Não são invulgares os exemplos desta realidade, e eles repe tem-se em demasiadas latitudes do nosso mundo. Na Coreia do Norte, há mais de um século, com a sucessão de Kim’s. Ou, mais atrás no tempo, no pequeno Omã, no Médio Oriente, que é go vernado pela mesma família há mais de 260 anos.
Ali a Pátria é do sultão Qaboos bin Said Al Said, como foi, antes, do seu Pai. Ali, não existe constituição e as leis são as do Islão. Mas há mais exemplos de Pátrias desligadas do seu sentido. Ao contrário do que possamos pensar, existem actualmente 49 países que ainda vivem em regime ditatorial – segundo um estudo da Freedom House, uma ONG norte-americana que monitoriza anualmente as democracias ao redor do mundo.
País, é mais do que uma palavra que provém de Patriarcado e deriva, por sua vez, do grego ‘Pater’, que se refere a um território ou jurisdição governados por um patriarca. É ele, o Pai na origem da Pátria, a Amada, por onde se começa a cantar o hino nacional
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No seu relatório de 2018, esta aponta para uma “crise demo crática” global – uma vez que, pelo 12º ano seguido, “o número de países em regime de ‘autoritarismo’ foi maior do que o de Pátrias que registaram evoluções positivas nos seus modelos democráticos.” A Turquia e a Ucrânia foram citadas como exemplos em que as liberdades democráticas, que começa vam a estabilizar-se, acabaram por ficar novamente deses truturadas. Mas há mais. Muitos em África, como o Egipto, que desde 2013 suspendeu a Constituição, e vive um período de ‘di tadura temporária’, uma espécie de acne dos faraós, que um dia há-de passar.
Traço comum a quase todos estes 49 países (aproximadamen te 20% do mapa mundo) é o facto de terem vivido em perma nente instabilidade ao longo dos anos. Como a Venezuela, Cuba ou a Rússia, por razões doutrinárias, e outros, por motivos re ligiosos, sociais, étnicos ou económicos. Tê-los-ão, esses factos, suscitado a necessidade de um líder impositivo e disciplinador, para substituir os Pais que ficaram esquecidos nas revoltas e rebeldias das suas histórias. Países sem os seus Pais são como casas sem tecto. E que, por isso, não são casas, são só abrigos temporários, onde ninguém é feliz e tem orgulho em estar. Faz sentido pensar assim num mundo globalizado? Eu creio que sim. Porque se o mundo é de todos, a Pátria é de cada um. No entanto, o seu significado ganhou, nas últimas décadas, uma má conotação. E com isso perdemos todos. Tornou-se uma palavra malquista, associada mais à raça que à razão. Na realidade ela, na essência, só quer dizer, em termos latos, o lugar ao qual pertencemos, porque é lá onde temos família, e um Pai. E que lugar melhor para estar no mundo do que esse?
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ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
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Nesta edição, visitamos o Parque nacional das Quirimbas, em Cabo Delgado 70
O Deal, em Maputo congrega arte e gastronomia na mesma mesa
A escolha da Adega, recai na descoberta da essência dos vinhos verdes
g e
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Parque
NacioNal
das quirimbas
Florestas e ilhas troPicais
Parque Nacional das quirimbas de soNho
ea norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado, há um segredo para revelar ao mundo: as ilhas e o Parque Na cional das Quirimbas. Areia branca, água quente crista lina, onde os tons turquesa do mar e o verde esmeralda dos mangais se combinam numa palete de fazer inveja a qualquer impressionista. Bosques e florestas imensas onde vivem inúmeros pássa ros e alguns animais selva gens. Para conhecer tudo vai precisar de pelo menos uma semana. Nós começámos pelo mar. São mais de 30 ilhas, co ralinas, povoadas e deser tas que se deitam no oceano Índico, por mais de 400 qui lómetros entre a cidade de Pemba e a cidade de Palma. A primeira é a mais afastada,
Medjumbe. O êxtase. Perfeita. Só tem um farol e um lodge com várias casas espalhadas pela areia. O resto é paisa gem para encher os senti dos. Depois, Matemo. Ilha de pescadores com tudo de bom que o mar nos traz. A sensa ção é de que somos filhos da terra. Logo a seguir, a mági ca ilha do Ibo, a mais antiga e mais populosa. É História em estado puro. Cada ruína tem uma vida. As ruas falam dos momentos em que havia mercadores e rebuliço com a chegada dos barcos. E de pois, Quilalea, uma ilha onde deixamos o corpo na areia e vivemos só de alma. Pode encontrar, ao passear pela praia, pachorrentas tartaru gas que procuram o silêncio para colocar os ovos. A cerca de 40 milhas náuti cas, ou 75 quilómetros para Leste do Ibo, está o Banco de
São Lázaro, o melhor spot do mundo para mergulho e snorkeling, dizem. Aqui é pos sível contemplar corais de co res únicas que se estendem a mais de 20 metros de profun didade. Há golfinhos, tartaru gas e os protegidos dugongos, e se marcar viagem entre Agosto e Dezembro, vai en contrar na ilha Vamizi as ba leias corcundas que escolhem aquele lugar para terem as suas crias.
A deslocação entre as ilhas pode ser feita de avioneta a partir do hotel Pemba Beach. Ou então embarque na aven tura de navegar num ma chua, pequeno barco à vela típico destas paragens.
bem perto do paraíso O Parque Nacional das Qui rimbas foi declarado em Ju nho de 2002 e abrange uma área de cerca de 750 mil hec
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tares, sendo que perto de 600 mil são terrestres e 150 mil de mar e ilhas. Desde 1971 que toda a área é reconhecida como de ex trema importância para o mundo, tanto pela biodiver sidade como pelo património cultural.
O conservador do Parque Na cional, Baldeú Chande, fala da riqueza que ajuda a preser var, tanto no mar como na flo resta. “Temos muitos animais novos, há elefantes a crescer, leões, leopardos, muitos antí lopes e boi cavalo. Temos flo restas e miombo e muita sa vana. Há também muitas es pécies de aves que nos tra zem outro tipo de turismo”. Logo de seguida deixa um conselho: “A visita à floresta do Parque deve ser acompa nhada por quem conhece os caminhos e há locais onde é possível fazer safaris”. Foi assim que descobrimos, mesmo dentro do Parque Na cional das Quirimbas, a 40 quilómetros de Pemba, uma pequena reserva com 30 mil hectares, em Mareja. Aqui encontra-se um projecto úni co, erguido pela comunidade. O que antes eram ruínas, agora é um local encantador. Tudo reconstruído com mate riais locais e pelas mãos de quem lá vive. É de visita obri gatória, não só pelo que ofere ce como também pela contri buição que podemos dar à vi da de quem lá mora. Tem la gos para pescar e fazer ca noagem. A aldeia ainda con serva o que de mais tradicio nal há no Norte de Moçambi que e a população protege a vida animal e está empenha da na preservação do turis mo. São eles os nossos guias. Pode também encontrar fes ta na aldeia e nesse momento vai vibrar com os sons e com as danças tradicionais. Passar uns dias por estes pa ragens, quer seja nas ilhas ou na floresta, é uma experiên cia de viagem, e uma história para a vida.
o Parque NacioNal das quirimbas Foi declarado em JuNho de 2002 e abraNge uma área de cerca de 750 mil hectares
roteiro
Como ir
Pode viajar de Maputo para Pemba. Entre ilhas, pode escolher entre a avioneta ou o barco. O lodge onde ficar hospedado tratará de toda a logística necessária.
o que fazer
Não deixe de nadar nas águas cristalinas, fazer snorkeling ou mergulho. Pode ainda fazer safaris, canoagem ou, para relaxar, ir à pesca.
onde Comer
Nas ilhas há restaurantes que servem boas refeições. Contudo, recomendamos o Cinco Portas Lodge, na ilha do Ibo.
onde dormir
No Pemba Beach Hotel and Spa. Na parte da floresta, pode pernoitar em Mareja, a duas horas de Pemba. Aqui, poderá hospedar-se no Mareja Lodge, uma casa colonial que a comunidade recuperou e que é, hoje, um aconchegante local para retemperar energias.
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tExtO Cristina freire fOtOgrAfIA d.r.
deal - esPaço criativo
g deal - esPaço criativo
o seu conceito multidiscipli nar, juntando artes plásticas, mobiliário urbano contempo râneo, livros, roupa e acessó rios de moda, confere-lhe, des de logo, características únicas e inovadoras.
No entanto, se tivermos em conta o trajecto individual dos seus fundadores, cujos projec tos se têm distinguido, precisa mente, pela sua criatividade e inovação, compreenderemos melhor porque o DEAL não poderia deixar de ter, inevita velmente, essa “marca” distin tiva e diferenciadora na ofer ta cultural da cidade.
O DEAL é, por assim dizer, o resultado de um “casamento feliz” entre quatro pessoas com percursos marcantes nas áreas acima referidas: Ab Oosterwaal, holandês radica do há vários anos em Moçam bique, é o responsável pela conhecida marca de mobiliá rio urbano “Piratas do Pau”, as irmãs Nelsa e Nelly Guambe têm-se afirmado no domínio das artes plásticas e da moda, tanto em Moçambique como internacionalmente, e Mbate Pedro é não só uma das mais
notáveis figuras emergentes da literatura moçambicana como o fundador da editora “Cavalo do Mar”.
Há que referir, por fim, e não é um detalhe de somenos, que se deu também um outro “ca samento”, igualmente “feliz”, entre o conceito, o espaço es colhido para o materializar e a forma como os diversos ob jectos, produtos e obras artís ticas estão expostos pois estas distribuem-se pelas diversas salas, escadarias e varandas do edifício criando uma envol vência que estimula, de forma incessante, quem vai ao DEAL. Para além de albergar os tra balhos criativos dos seus fun dadores, o DEAL desenvolve também um programa de ex posições temporárias – tendo a mais recente, “The Big Small”, apresentado 200 obras de 15 artistas – e realiza um alarga do conjunto de eventos (musi cais, lançamento de livros, etc.). Uma iniciativa, em particu lar, as “Chill Out Sessions”,
este é mais um exemPlo do diNamismo cultural e criativo que atravessa hoJe a cidade de maPuto
arte & gastroNomia
nas tardes de sábado, tem-se revelado particularmente bem sucedida pelo ambiente de informalidade, boa músi ca (sempre com a presença de Dj’s diferentes) e uma lista generosa de sumos e cocktails inspiradores.
Para lá da dimensão convivial, as “Chill Out Sessions” são sem pre uma excelente ocasião para descobrir ou re-des cobrir as diversas artes em exposição.
Entretanto, desde o início do passado mês de Fevereiro, o DEAL deu mais um passo na concretização de uma ideia antiga ao acrescentar à sua oferta uma componente de restauração.
O espaço, na envolvente exte rior do edifício, foi cuidadosa mente desenhado e os mate riais usados são, eles próprios, uma demonstração das habili dades criativas dos fundado res do DEAL.
Como seria de prever, o menu proposto, embora cur to, está em perfeita sinto nia com o espírito do lugar. É uma ementa descontraída
mas apetecível. Há elementos fixos, com destaque para as entradas e para os diversos hambúrgueres (peixe, vaca, frango). Depois, há propostas diárias que, de forma artística, vão variando de acordo com a inspiração do momento.
O que importa aqui sublinhar, porém, é a qualidade da pro posta gastronómica oferecida naquele espaço.
A expectativa agora é que esta se possa continuar a desen volver, pois as interligações entre a arte e a gastronomia são um campo rico de possibi lidades e uma das áreas onde, em anos recentes, as propos tas criativas se têm multi plicado exponencialmente em toda a parte (e também na cidade de Maputo), a tal ponto que, num livro publicado este ano pelo filósofo Daniel In nerarity, em parceria com o chef Andoni Aduriz, intitulado “Cocinar, Comer, Convivir”, se considera que “a cozinha se vai tornar o grande tema fi losófico” da contemporaneida de pois é “aí que se joga o todo do ser humano”.
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Rua José Mateus 265 Maputo (Fechado aos domingos e segundasfeiras)
Poema - viNho verde doc reserva alvariNho braNco 2014
País: Portugal
região: Região Demarcada dos Vinhos Verdes/ Sub-Região Monção Melgaço Casta: Alvarinho
Cor: amarela ligeiramente dourada aroma: Apresenta notas de frutos tropicais, com nuances fumadas e fruta de polpa branca
Paladar: Apesar da idade, um branco ainda fresco, frutado, de enorme volume e alguma complexidade final:Termina com médio comprimento teor alCoóliCo: 13º
quiNta de saNta cristiNa viNho verde avesso braNco 2017
País: Portugal região: Região Demarcada dos Vinhos Verdes Casta: Avesso
Cor: Amarelo cítrico pálido aroma: Apresenta aromas cítricos, muita frescura, nuances florais e algum pêssego Paladar: Bom equilíbrio de acidez, vinho simples, atractivo, volume ligeiro e suave gás sem estar em excesso final: Termina com médio comprimento teor alCoóliCo: 12,5º
doc viNho verde loureiro braNco 2017
País Portugal região Vinhos Verdes Casta Loureiro Cor Amarelo palha límpida aroma Impacto muito tropical, com nuances florais, notas de manga, papaia, pêssego e camomila Paladar Acidez viva, levíssimo, corpo muito simples, mas de sabor frutado e intenso final termina com média persistência teor alCoóliCo 11,5º
quiNta de saNta cristiNa viNho verde azal braNco 2017
País: Portugal
região: Região Demarcada dos Vinhos Verdes/ sub-região de Basto Casta: Azal
Cor: Amarela cítrica límpida aroma: Tem um bouquet entre notas cítricas, lima, laranja, maçãs verdes, e herbáceos
Paladar: Vinho fresco, acidez viva e evidente, frutado e um ligeiro gás que o torna espirituoso final:Termina com um comprimento curto teor alCoóliCo: 12,5º
existe em diversas variedades e Pode ser braNco, rosado, tiNto ou, até mesmo, esPumaNte
curvos doc viNho verde
loureiro braNco 2017
a verdade é que a origem do vinho verde e da sua designação como tal está sobretudo ligada ao local onde é produzido e não à sua cor. Convém ter presen te que é feito exclusivamente numa região, localiza da no noroeste de Portugal. Ou seja, nenhum outro lugar do mundo é capaz de produzir vinhos verdes. Assim, na opinião de alguns especialistas, este vinho é chamado de “verde” devido à sua alta acidez, o que deriva do perfil das uvas produzidas na região, a que se somam os solos de origem granítica, res ponsáveis pelas características únicas deste tipo de vinho, que se traduzem numa leveza, frescura e elegância inimitáveis.
Apesar da Região Demarcada dos Vinhos Verdes ser, no que respeita à sua delimitação geográfica, relativamente pequena, a verdade é que ela tem tantos microclimas que foi dividida em 9 sub-re giões. Cada uma delas tem diferentes castas e é esta variedade que permite aos vinhos verdes, apesar de uma identidade muito própria e definida, ter um leque de oferta tão estimulante.
De uma forma genérica, os enólogos costumam defi nir os “verdes” como vinhos leves, com uma frescura vibrante e notas frutadas e florais. Pode-se dizer que essas qualidades gustativas e aromáticas marcan tes estão presentes na maioria dos vinhos verdes. Os “verdes” podem ser brancos, de cor citrina ou pa lha, aromas ricos, frutados e florais, dependendo das castas que lhes dão origem. Na boca são harmonio sos, intensos e evidenciam uma grande frescura.
Os vinhos verdes rosados revelam uma cor leve mente rosada ou carregada, aromas jovens, frescos, lembrando frutos vermelhos. O sabor é harmonio so, fresco e persistente. Já os verdes tintos apresen tam cor vermelha intensa e, por vezes, espuma ro sada ou vermelha viva, aroma vinoso, com desta que para os frutos silvestres. Na boca são frescos e intensos, muito gastronómicos. Por fim, o Espuman te de Vinho Verde mantém o perfil, com reforçadas características de frescura aromática, associadas a uma maior complexidade gustativa.
A nossa principal sugestão deste mês vai para o Curvos DOC Vinho Verde Loureiro Branco 2017. Pro duzido a partir da casta Loureiro e exibindo uma cor amarelo citrino, tem uma aroma mineral com notas cítricas muito intensas e evidencia na boca um sabor elegante, equilibrado, com a acidez a ba lancear a doçura, possuindo um final persistente. Combina bem, em termos de harmonização, com frutos do mar, peixes de água salgada e saladas.
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música filmes livros
exPosiçÕes
As MArcAs Que Não DeveM Morrer exposição De piNturA De MArcos p ’fukA
Fundação Fernando Leite Couto galeria
“(Des)MAscArADo” De veNâNcio cAlisto coM lucréciA pAco e ritA couto
Centro Cultural Franco-Moçambicano
• em destaque
The hisTory of Graphic DesiGn Jens Müller / Julius WieDeMann eDiTora Taschen
Dia 27 de Março Hora: 19h “ouvrir lA voix” De AMANDiNe GAy (frANçA , 2017, 129’)
“ the History of graphic Design”, editado pela taschen, é uma obra monumental que retrata a história do design gráfico de 1890 até à actualidade.
Inauguração: 6 de Março Hora: 18h Patente até 1 de Abril
“ trAços DiGitAis
DA MiNHA viDA”
AfroivAN, MAuro Brito, celMA costA , HuGo MeNDes, Hélio JANuário, tAilA cArrilHo, téGui, ABel BAlAte, MAriA cHAle e peDro MAHuMBi
curADoriA: fréDériQue MArtiN
Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de Exposições
Inauguração: 13 de Março Hora: 18h30 Aberta até 30 de Março
Centro Cultural Franco-Moçambicano
Dia 27 de Março Hora: 19h
24 seMANAs” De ANNe zoHrA BerrAcHeD (AleMANHA , 2016, 102’) seGuiDo De coNversA coM Drª DáliA MAtsiNHe (psicóloGA)
Centro Cultural Franco-Moçambicano Auditório Dia 5 de Março Hora: 19h
Da autoria de Jens Müller, designer, curador e professor, e Julius Wiedemann, designer e editor, é uma edição trilingue de grandes dimensões organizada de forma cronológica.
O primeiro volume – “ the History of graphic Design – Book 1: 1890-1959” – apresenta mais de 2 500 exemplos funda mentais à compreensão deste período e destaca ainda o trabalho de 61 designers que são referências históricas.
O segundo volume – the History of graphic Design –Book 2: 1960–today – acabado de sair completa, de for ma exaustiva, a história mais recente.
Embora já tenham sido editadas, ao longo dos anos, mui tas obras com um propósito semelhante, esta edição da taschen é, sem sombra de dúvida, uma das mais rigoro sas, abrangentes e visualmente fascinantes.
os MoNóloGos DAs vAGiNAs Grupo culturAl HANyA Arte
ADAptAção e eNceNAção MAriA clotilDe
Fundação Fernando
Leite Couto
Dia: 12 de Março Hora: 18h
AGorA é A voz DelAs eveNto Alusivo Ao DiA iNterNAcioNAl DA MulHer
Fundação Fernando
Leite Couto
Dia: 28 de Março Hora: 18h
ciclo De ciNeMA frANcófoNo - “A orQuestrA Dos ceGos” De MoHAMeD MouftAkir (MArrocos, 2016, 112’)
Centro Cultural Franco-Moçambicano
Auditório
Dia 11 de Março Hora: 19h
ciNema teatro mÚsica
-”NicolAs Bouvier 22 HospitAl street” (suíçA , 2005, 83’) & “Noces” De stepHAN streker (BélGicA , 2017, 98’)
Centro Cultural Franco-Moçambicano
Auditório
Dia 13 de Março Hora: 18h30 e 20h30
Mr freDDy koNGoloti sessioNs
Fundação Fernando Leite Couto
Dia: 8 de Março Hora: 18h
“QueM Disse Que As MulHeres Não poDeM fAzer uMA sereNAtA?” BANDA kAkANA e coNviDADAs
Centro Cultural Franco-Moçambicano
Dia: 8 de Março Hora: 20h30
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seNegal iNaugura o maior museu muNdial das civilizaçÕes Negras
a ideia do museu nasceu em meados da década de 60 e era um sonho de Léopold Sé dar Senghor, primeiro Presi dente do Senegal. Mas o pro jecto só começou verdadeira mente a ser concretizado em 2011 devido ao apoio financei ro da China que contribuiu com 30 milhões de euros pa ra a sua construção. A gran de exposição de abertura do museu – “Civilizações Africa nas: criação contínua da hu manidade” – constitui uma viagem do Neolitico à actuali dade tendo por objectivo evi denciar as contribuições do continente africano para o co nhecimento científico e técni co contemporâneo. Para além desta exposi ção, é também possível ver uma mostra de arte africana
contemporânea, e “A Carava na e a Caravela”, uma exposi ção sobre o comércio de escra vos através do Oceano Atlân tico e do Deserto do Saara.
O Museu dispõe ainda de um espaço dedicado às mulhe res de ascendência africa na como, por exemplo, a ac tivista norte-americana An gela Davis. A colecção do Mu seu inclui, entre outros, tra balhos de artistas do Ma li, Burkina Faso, Cuba e Haiti.
O director, Hamady Bocoum, referiu na cerimónia de abertura que “este novo espa ço pretende colocar a cultura africana no século XXI”, refe rindo ainda as mais recentes tecnologias de que a infra-es trutura dispõe.
O edifício abrange uma área funcional com mais de 14 000
o museu das civilizaçÕes Negras abriu FiNalmeNte as suas Portas, No Passado dia 6 de dezembro, em dakar, a caPital do seNegal
metros quadrados, com sa las de exposições e de confe rências, um centro multiusos e um auditório.
A abertura do Museu ocorre num momento em que a ques tão da restituição das obras de arte africanas existentes em museus internacionais es tá na ordem do dia. Um rela tório da historiadora francesa Bénédicte Savoy e do econo mista senegalês Felwine Sarr, cujas conclusões foram recen temente divulgadas, propõe que pelo menos 90 000 obras de arte, provenientes de Áfri ca, que fazem parte de colec ções públicas francesas, se jam restituídas aos seus paí ses de origem.
O relatório refere ainda o caso de outros grandes mu seus europeus que também têm colecções africanas - en tre os quais o Museu Real da África Central da Bélgica (180 000 peças), o Museu Britânico (69 000) e o Weltmuseum/Mu seu do Mundo de Viena (37 000) – que deveriam igual mente considerar restituir aos seus países de origem.
tExtO rui trindade fOtOgrfIA d.r.
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Dakar, Senegal
museu das civilizaçÕes Negras
Porsche 911
motor O Carrera S e Carrera 4S (com tracção integral) recebem o motor 3.0 boxer de seis cilindros. Vai de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos Preço médio 140 000 dólares
chegou a 8ª geração do Porsche 911
oficialmente apresentado no Salão de Los Angeles (EUA) no final do ano passado, o novo Porsche 911 já começou a ser comercializado. Como era de prever, o novo modelo não altera substancialmente o estilo daquele que é um dos carros mais icónicos de sem pre da indústria automóvel. Na verdade, quem olhar para o primeiro Porsche 911, lança do em 1963, consegue identi ficar, sem dificuldade, a linha de continuidade que foi mar cando as diferentes gerações. Isto não significa que as alte rações introduzidas no novo Porsche 911 não sejam signi ficativas. Se o design se man tém fiel à história da marca, já em muitos outros aspectos, tal vez os mais substantivos, por que se ligam directamente à
sua performance na estrada, há mudanças importantes. No que diz respeito à carroce ria, as proporções aumenta ram (mais 45mm de largura) e as rodas também ficaram maiores, com 20 polegadas na frente e 21 na traseira. Isto garante maior aderência ao piso para segurar a potên cia de 450 cv gerada pelo mo tor 3.0 de seis cilindros opos tos com turbos gémeos. Também os faróis são novos e o pára-choque ganhou aber turas de ar maiores. Outro elemento novo que reforça a sensação de largura do carro (quando visto de trás) é a bar ra de LED que se estende por
toda a traseira do veículo. Em termos de estrutura im porta referir que o novo mo delo conta agora com uma plataforma com mais alumí nio na secção traseira, o que melhora, claramente, a dis tribuição do peso. No entanto, o que distingue substantiva mente este Porsche 911 é o seu motor Boxer com seis ci lindros opostos na horizontal. Na verdade, estamos perante o mesmo bloco a gasolina que já integrava a geração ante rior, mas foram-lhe introdu zidas modificações no sistema de injecção e nos turbocom pressores por forma a incre mentar a potência.
Deste modo, os 911 Carrera S e o Carrera 4S, passam agora a debitar 450 cv (mais 30 cv do que anteriormente).
O Carrera vai de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos, podendo atin gir 308 km/h de velocidade.
www.economiaemercado.co.mz | Março 2019 74
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