E&M_Edição 03_Junho 2018 • O mercado da "Rodada"

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carvão vale já é a maior exportadora nacional Ilha de moçambIque a febre do imobiliário chegou à ilha do sonho avIação cIvIl primeiro vôo da ethiopian airlines é em julho lá fora angola, o défice, a dívida e... outra vez o défice

JunhO 2018 • ano 01 • nO 03 Preço 200 MZn
mercado
valem vinhos, cervejas e espirituosas para a economia
o
da ‘rodada’ Quanto
moçambique

6 Observação

Mundial da Rússia 2018 Uma imagem que assinala um momento socio-económico com impacto local e global 8 Radar

Panorama economia, banca, Finanças, Infraestruturas, Investimento, País, agenda 14 Macro

ENQUADRAMENTO

14 Vale o carvão ultrapassou o alumínio e, é já hoje, a principal exportação nacional

18 Imobiliário depois de anos de declínio, o sector começa a dar sinais de recuperação 26 Nação

bEbIDAs

26 O mercado da ‘rodada’ Quanto valem afinal as bebidas alcoólicas para a economia de todos nós 34 Na voz de... Hugo Gomes, administrador da cervejas de Moçambique 38 ProvÍncIa

Ilha de Moçambique, Nampula como o sector imobiliário está a provocar mudanças no modo de vida da Ilha 42 Mercado e FInanças

Aviação civil o que vem aí, com a entrada em cena da ethiopian airlines no mercado 46 EMPresas

PME

PHC Uma antiga no mercado, mas com o espírito de uma startup

MeGaFone

Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

65 ócio

O lodge Nascer do sol é um refúgio criado há quase vinte anos. Mas que é muito mais do que isso

IGUra do MÊs Turismo noor Momade, Pca da cotur é hoje, um dos rostos do turismo nacional

Empreendedorismo como uma multinacional quer promover um conjunto de ideias para mudar o mundo

Á Fora Angola com a crise da dívida pública, e o crescimento do défice estrutural, para onde vai a economia?

Junho 2018 3
Sumário
48
50 f
58 l
66
68
69
Escape
Gourmet chez Fred, um pouco de europa em Maputo
Adega como o gin se tornou moda 70 Agenda Música, livros e filmes 71 Arte dois documentários bem perto de todos nós 72 Ao volante O inovador vision Mercedes Maybach Ultimate 52 socIedade

Oportunidades e desafios para a aviação civil

estimado leitor, esta edição da Economia & Mercado dedica especial atenção à previsão da entrada da Ethiopian Airlines no mercado moçambicano de avia ção civil. É mais uma companhia aérea a operar nas rotas domésticas, ligando todas as capitais provinciais do país.

Este operador, que conta com 72 anos de actividade, pretende tornar-se até 2025 na companhia aérea mais competitiva e líder na aviação civil em África. O reforço da liberalização do transporte aéreo doméstico, regional e interna cional anunciado em Abril de 2017 pela Autoridade de Aviação Civil de Moçam bique - IACM vai modificar significativamente a configuração do mercado de aviação civil e o posicionamento dos operadores, o que vai implicar, certamen te, alterações das opções estratégicas das companhias que tradicionalmente operam em Moçambique, sob o risco de verem a continuidade das suas opera ções comprometida.

Os riscos associados à insuficiência de liquidez previsível de algumas concor rentes de fraca capacidade financeira requerem a implementação de medidas de reestruturação profundas, ousadas e corajosas para lhes dar melhor per formance económica, financeira, técnico-operacional e comercial.

Tudo medidas que, outrossim, pedem a adopção de postura criativa, inteligente e de sabedoria para tirar vantagens no relacionamento com gigantes que ope ram com economias de escala e vantagens competitivas na vertente de frota, manutenção, operação, formação, financeira e dos serviços comerciais. O acordo de Yamoussoukrou, assinado em 1990, pressupõe a liberalização do sector de aviação com o intuito de potenciar oportunidades de negócio de um continente que vai ter um aumento exponencial dos seus principais indicado res, da sua população à criação de riqueza, melhoria da qualidade de vida ou expansão da classe média. Nesta região de África, são ainda menos de 0,5 os passageiros per capita, muito longe da média europeia que se situa em 1,4 pas sageiros per capita.

Naturalmente colocam-se ao sector nacional os desafios associados à baixa so fisticação e qualidade das infra-estruturas aeroportuárias, à frota envelheci da, às insuficiências nos serviços de manutenção de frota, na formação aliada à fraca qualificação do capital humano.

A abordagem integrada destas duas vertentes (oportunidades e mitigação de desafios) é que irá permitir o crescimento harmonioso do sector de aviação em toda a África e especialmente aqui mesmo, em Moçambique.

E é perspectivando o futuro que a E&M, disponibiliza informação relevante aos estimados leitores, todos os meses, como um instrumento de tomada de decisão pois ‘quem lê, sabe mais’.

JunhO 2018 • nº 03

PROPRIEDADE Executive Moçambique

DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

COnsElhO EDITORIAl

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo

DIRECTORA EDITORIAl

GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro

EDITOR EXECUTIVO Pedro Cativelos JORnAlIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire Elmano Madaíl; Rui Trindade PAGInAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio PRODUÇÃO Iona - Comunicação e Marketing, Lda (Grupo Executive)

PUBlICIDADE DEPARTAmEnTO COmERCIAl Ana Antunes (Moçambique) ana.antunes@executive-mozambique. com; iona@iona.pt/contacto@iona.pt (Portugal)

ADmInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBlICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com DElEGAÇÃO Em lIsBOA Rua Filipe Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; Fax: +351 213 813 569; iona@iona.pt ImPREssÃO E ACABAmEnTO Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEm 4 500 exemplares númERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018

Junho 2018 4 4 Editorial
Iacumba Ali Aiuba Director da revista Economia & Mercado

observação

Moscovo, Rússia Mundial de futebol de 2018: o grande capital da rússia

Junho é, de quatro em quatro anos, mês de Mundial de futebol. E nos dias que correm, este é o jogo que está no centro de toda uma indústria que movimenta biliões de dólares e vale, por exemplo, 3% do PIB de toda a zona euro. É ali que estão concentrados os campeonatos mais valiosos do mundo, como a Premier League. Mas, Mundial é Mundial, um mundo (negócio) à parte. E que negócio! Realiza-se na Rússia, de 14 de Junho a 14 de Julho, e foi considerado pelo próprio Vladimir Putin “um trunfo para revitalizar a economia russa”, esperando que os 10,3 mil milhões de dólares investidos (do processo de candidatura até ao custo de obras nos 12 estádios, infra-estruturas e logística operacional de toda a competição) tenham um impacto “enorme na revitalização da economia”. E de facto assim será, já que se estima uma receita total de 13,7 mil milhões de dólares (praticamente o PIB anual de Moçambique, mas alcançado em apenas um mês), para além dos ganhos indirectos gerados pela criação de 220 mil postos de trabalho, e pelos cerca de 560 mil turistas que irão visitar o país.

Se no relvado as hipóteses de sucesso da selecção da casa não parecem substanciais, no “banco” a Rússia já é a grande vencedora da competição.

Junho 2018 6
fotogRafia D.R.
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eNerGia

Exploração de gás. A produção de LNG na Área 4 da Bacia do Rovuma, em Cabo Delga do, poderá começar um ano antes do que o inicialmente previsto, em 2022, de acordo com o anúncio do minis tro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, que fa lava na Assembleia da Repú blica, em Maio. O governante revelou que em Março des te ano, “deu-se o corte da pri meira chapa de aço para a construção do sistema de an coragem da plataforma flu tuante de liquefação de gás no campo Coral Sul da Área 4”, explorado pelo consórcio liderado pela italiana ENI e a norte-americana Exxon Mo bil. A conclusão da construção da plataforma flutuante está prevista para finais de 2021, prevendo-se que chegue às águas moçambicanas no fi nal do primeiro trimestre de 2022. O consórcio vai investir oito mil milhões de dólares.

que o projecto irá contrinuir sobremaneira para reter par te da produção em território nacional, bem como para fa zer baixar a factura energéti ca do país”.

O PCA da ENH revelou ainda que, “enquanto se espera pelo início da exploração de gás na bacia do Rovuma “ir-se-à con ceber um projecto de impor tação da matéria-prima para ser refinada no país e conse quentemente escoar o produto para os países do hinterland (sem contacto com o mar).”

foram investidos cerca de 38 milhões de dólares, dos quais 31 milhões financiados pelo Banco de Exportação e Impor tação da Índia.

A Anadarko Petroleum (con cessionária da Área 1 do Rovuma) está nos merca dos em busca de 18,3 mil mi lhões de dólares, (em ban cos e agências de crédito), um valor recorde para a indústria do LNG mundial.

A demanda crescente do mercado chinês devolveu o “apetite” aos principais in vestidores internacionais, sendo previsível que o FID do projecto seja apresentado “dentro de um ano”, dizia re centemente o CEO da Mitsui (10% da joint venture da ex ploração) Tatsuo Yasunaga.

Refinaria de Gás. Era algo de que já se vinha falando há al gum tempo, mas agora é a ENH quem o confirma. Moçam bique irá dispor de uma re finaria de gás nos próximos anos. “O projecto está em fase de estudo de viabilidade eco nómica, de acordo com in formações avançadas pelo PCA da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), Omar Mithá.

Segundo ele, o concurso públi co para a construção da refi naria foi lançado em Abril des te ano e “não deixa dúvidas

Gás Doméstico. O Porto da Bei ra já dispõe de um terminal oceânico de gás doméstico, um empreendimento cuja fi nalidade é, “melhorar a ofer ta de gás doméstico para as regiões Centro e Norte do país”, disse, na cerimónia de inauguração da infra-estru tura, em Maio passado, o Pre sidente Filipe Nyusi.

O terminal terá capacidade para armazenar três mil to neladas métricas de gás e terá capacidade para encher 5 mil botijas de gás doméstico e abastecer 12 camiões-tan que diariamente. Para a ins talação do terminal de gás

Negócios. A CTA e a companhia petrolífera sul-africana SASOL anunciaram, em Maio passado, a formalização de uma parce ria para a facilitação da parti cipação de entidades nacionais em oportunidades de negócio nos projectos de hidrocarbone tos operados pela multinacio nal em território nacional. À luz do memorando, a SA SOL deverá então passar a “informar a CTA sobre os pla nos e necessidades de procu rement que os seus projectos impliquem,” permitindo, por sua vez, que a CTA “partilhe tal informação com os seus membros de modo a facilitar a capacitação de empresas locais para participação nos concursos abertos, desde que sejam cumpridos os critérios determinados”.

Para já, a multinacional anun ciou que dispõe de um bud get de 100 milhões de dólares anuais para a contratação de serviços e compra de bens a empresas moçambicanas.

Combustíveis. Os preços da ga solina e do gasóleo foram, uma vez mais, agravados em Maio. Quanto ao gás doméstico, ele ficou mais barato, no quadro da revisão mensal dos preços dos combustíveis.

O custo da gasolina subiu assim 1,6%, (de 65,01 para 66,03 meticais por litro), en quanto o preço do gasóleo foi agravado em 3%, (de 61,16 para 62,92 meticais por litro). Quanto ao gás doméstico, passa de 65,18 para 60,94 me ticais, denotando uma queda de 6,5%, face ao preço até aqui em curso.

O Governo continua a subsi diar o gasóleo para utiliza ção agrícola, pesca artesanal e produção de energia em pontos distantes da rede pú blica de abastecimento. de combustíveis

RADAR 8 Junho 2018
18,3 mil milhões precisam-se

Electricidade. O preço da ener gia eléctrica poderá, ao que a E&M apurou, voltar a aumen tar nas próximas semanas. As negociações para o efeito já estão em curso entre a em presa pública Electricidade de Moçambique (EDM) e o Go verno. O esforço visa cobrir “os crescentes custos opera cionais”, anuncia a EDM.

ecONOmia

Diversificação económica. Mo çambique poderá dispor, nos próximos anos, “de um in cremento de fundos de insti tuições internacionais para projectos de diversificação económica”, de acordo com o mais recente relatório sobre a economia nacional, elaborado pelas consultoras Africa Mo nitor Intelligence e Eupportu nity. Sem estimar o valor, o relatório aponta que as con tribuições virão maioritaria mente da UE, Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvi mento (BAD), e serão canaliza das para “o desenvolvimento rural, florestal e o crescimen to do sector agrícola.”

Dívida externa. A renegociação da dívida pública externa pelo Governo é um processo em curso. Recentemente, o ministro da Economia e Finan ças, Adriano Maleiane, assu miu que o Governo “não está a pagar a dívida comercial garantida pelo Estado”, (ava liada em 1 859 milhões de dó lares), mas “continua a lutar pela sua reestruturação.“

Segundo o governante, a con clusão das negociações com os credores “é um passo funda mental para melhorar a clas sificação da dívida e os seus rácios de sustentabilidade.”

Ainda assim, anuncia que o país “tem estado a pagar regu larmente o serviço da dívida externa multilateral e bilate ral”, bem como a interna, ten do desembolsado 217 milhões de dólares em 2017, ano em

que o total da dívida pública externa foi apurado em 10,6 mil milhões de dólares.

Ambiente de negócios. Reduziu para metade o tempo de es pera para a instalação de energia nas empresas, (de 68 para 30 dias), “o que será mais um incentivo para encorajar o surgimento e criação de no vos investimentos no país”, revelou em Maio o director comercial da EDM, Benjamim Fernando, durante um encon tro com o conselho directivo da Confederação das Associa ções Económicas de Moçambi que (CTA).

Para o efeito, a empresa fez entrar em funcionamento uma nova plataforma infor mática de registo de pedidos dedicada a empresas, que permite gerir todo o processo e garantir que em 30 dias te nham os contadores instalado. O acesso à rede eléctrica é um dos constrangimentos identifi cados no relatório ‘Doing Busi ness’, através do qual o Banco Mundial classifica a facilidade de fazer negócios em cerca de 190 países.

cOmpra De prODUTOs aGrÍcOlas

A BOLSA DE MERCADORIAS DE MOÇAMBIQUE (BMM) informa a todas entidades públicas e privadas, camponeses e comerciantes individuais, associações de camponeses e o público em geral que possui uma lista de parceiros interessados em adquirir os seguintes produtos agrícolas:

Milho

SoJA

GERGEliM

FEiJÃo MANTEiGA

A formação foi coordenada pela Erasmus Centre for Entre preneurship da Holanda, à luz de um protocolo firmado com a instituição privada moçambi cana de ensino superior. Espera-se que o curso, (com duração de duas semanas), con tribua para o estabelecimento de uma disciplina dedicada ao

FEiJÃo CATARiNo

FEiJÃo BoER

Neste contexto, todos aqueles que tiverem os produtos acima descritos em quantidades iguais ou superiores a 50 TONELADAS, que pretendam vender, poderão entrar em contacto com a BMM através dos seguintes contactos:

Telefone: +258 84 4405665 ou pelo +258 84 617424 - Direcção de Negócios, Estudos e Estatística. email geral: nmanjate@bmm.co.mz | cmassingue@bmm.co.mz | bmmcompras@gmail.com

Junho 2018
Empreendedorismo. A Incuba dora Tecnológica e de Empresas (ITE) da Universidade Politéc nica formou um total de 18 estu dantes em empreendedorismo.

empreendedorismo, nos cursos leccionados pela Universidade Politécnica.

O Instituto Superior de Ciên cias e Tecnologias de Moçambi que (ISCTEM) e a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) tam bém têm projectos de coopera ção similares com a instituição holandesa.

izyshop. A plataforma digital de ligação entre consumido res, produtores e retalhistas, assinou um memorandum de entendimento com a DHD Holding, empresa detentora do grupo SOICO e de outras empresas, para aquisição de uma participação no Izyshop. O acordo foi anunciado duran te a última edição da MozTe ch pelo PCA do grupo – Daniel David. O PCA da Izyshop, Titos Munhequete, afirmou que se trata de “uma parceria es tratégica que irá permitir ao Izyshop aumentar a ofer ta de produtos e serviços na plataforma online com vista à expansão pan-africana da Izyshop.”

paÍs

Agricultura. Associações de produtores de Gaza recebe ram apoio do empresaria do local (da CTA) para a re gularização e apoio jurídico, passo importante na criação de condições para facilitar o acesso a diferentes iniciati vas de capacitação, linhas de financiamento, mecanização e tecnologias, O empresariado local, oficial mente representado pela nú cleo regional da CTA prestou assistência a um conjunto de associações de agricultores nos distritos de Chongoene, Manjacaze, Chibuto e Chókwè, onde levou a cabo accões de esclarecimento sobre os ser viços prestados pelo Gabi nete de Apoio Empresarial, incluindo os pacotes de finan ciamento disponíveis.

Produção alimentar. “A China desembolsou cerca de 10 mi lhões de dólares para apoiar a presente campanha agrícola em Moçambique”. O anúncio foi feito pela voz do embaixa dor chinês em Moçambique, Su Jian, que apontou a agricul tura e segurança alimentar como “sectores prioritários” do investimento chinês no país: “Escolhemos a agricultura como o sector em que se deve investir mais nos próximos tempos em Moçambique”, as sinalou, acrescentando que “cinco das maiores empresas chinesas estão a operar” em Moçambique, precisamente nesses sectores, para além da área das infra-estruturas e vias de acesso.

investigação agrária. O gover no da Índia anunciou os resul tados do programa de apoio ao sector da agricultura através da formação profissional. Assim, cerca de 13 mil pessoas, entre produtores agrícolas, extensionistas e estudantes do ramo de agronomia, rece beram acções de formação em técnicas de investigação e transferência de tecnologia para aumento de produtivida de do arroz, milho e trigo à es cala nacional.

A acção (ainda em curso), in sere-se no projecto de Investi gação e Transferência de Tec nologias desenvolvido pela organização indiana Angeli que International.

Segurança alimentar. Mais de 250 técnicos agrários moçam bicanos irão receber forma ção na identificação e gestão integrada da praga denomi nada Lagarta do Funil do Mi

lho, considerada uma ameaça à segurança alimentar e nu tricional no país.

A acção será ministrada pela Organização das Nações Uni das para Alimentação e Agri cultura (FAO), e deverá ser replicada depois para cerca de 6 000 agregados familia res, através das escolas da ‘Machamba do Camponês’. Estima-se que, até ao final do projecto que visa melhorar a capacidade de resposta e contenção da praga, previsto para Março de 2019, sejam abrangidas de forma indirec ta cerca de 75 000 famílias.

Desnutrição crónica. Mais e 570 mil crianças menores de dois anos, nas províncias da Zam bézia, Centro do país, e Nampula vão beneficiar de um pacote de apoio avaliado em 25 milhões de dólares, prestado pela UE e UNICEF. O representante do UNICEF em Moçambique, Mar coluigi Corsi, assinalou que o apoio “visa ajudar a prover nu trição básica para crianças e mulheres grávidas e lactantes.” Na Zambézia, a taxa de desnu trição crónica é de 41%.

algodão. A produção de algo dão está em alta e com boas perspectivas. De acordo com os números apresentados pelo Instituto de Algodão de Mo çambique (IAM), em Maio, a ex pectativa é de que a presente campanha agrícola produza 100 mil toneladas de algodão na província de Nampula face aos cerca de 36 mil registados na campanha anterior. O cres cimento é atribuído ao aumen to do número de agricultores de 170 mil na época 2016/2017 para 227 mil na presente épo ca (2017/2018), bem como da área de cultivo, de 114 mil para 187 mil hectares no mesmo período.

Madeira. As receitas do com bate ao contrabando de to ros de madeira fez aumentar 10 mil vezes a receita anual de exploração deste recurso em apenas três anos, de 500 mil meticais para 5 000 mi lhões de meticais, declarou em Maio, o ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimen to Rural, Celso Correia, duran te uma sessão parlamentar. A campanha que possibilitou a redução do contrabando da madeira é conhecida por “Ope ração Tronco”.

Transportes. Mais 200 autocar ros foram disponibilizados (em Maio) pelo Governo para o transporte público em todo o país. Segundo o ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, o sistema de transportes públicos urbanos de Maputo (para onde se des tinaram a maior parte dos autocarros), passa a ter capa cidade para responder a 72% da procura diária estimada em 600 mil passageiros. Cálculos do Governo apontam que até final deste semestre sejam entregues mais 70 uni dades, elevando a cobertura para 92%.

china. O projecto denominado Acesso à TV por Satélite para 10 mil Aldeias Africanas, co meçou já a ser implementado em cerca de 25 países afri canos. No distrito de Marra cuene, as primeiras de cerca de 500 famílias rurais já dis põem de TV por satélite desde o passado mês de Maio.

RADAR Junho 2018 10

MCNET, uMa solução iNovadora

Como e quando a MCNet surge no mer cado nacional?

A parceria foi estabelecida pelo Estado Moçambicano com vista a eliminar os constrangimentos burocráticos que im pedem o desenvolvimento do comércio externo; reduzir o tempo de processa mento das declarações aduaneiras; au mentar a capacidade das Alfândegas pa ra minimizar o risco sobre a colecta de receitas e fortalecer os mecanismos de controlo de práticas ilegais de comércio.

Quais são as suas áreas de cobertura? Somos a empresa responsável pela im plementação do projecto da Janela Úni ca Electrónica (JUE), uma plataforma que permite a troca de informação entre os vários agentes comerciais através de um ponto único de contacto. A solução

tem como principais objectivos uma me lhor eficiência na arrecadação das recei tas aduaneiras; expansão do comércio; transparência no processo de desemba raço aduaneiro; um movimento mais efi ciente de mercadorias; melhoria do pro cesso de importação através da redução do tempo de desembaraço nos portos, ae roportos e fronteiras. A MCNET tem im plementado outros projetos e tem dispo nível para o mercado diversas soluções, como por exemplo:

E-Evaluator – Determinação do valor aduaneiro que permite assegurar con formidade nas avaliações aduaneiras efectuadas as cargas e combater a exis tência de documentação não verdadeira; OMNIS – Visibilidade Electrónica da Car ga que permite o rastreio de carga trans portadas por estrada, ferrovia ou mar

em tempo real ou tempo real diferido e disponibilizando um conjunto de dados críticos a monitoria e gestão da carga em transporte;

VALITRADE – Fluxo de Informação Interac tivo para a verificação e validação de tran sacções sensíveis e susceptíveis a fraude incluindo a realização de análises e veri ficações com base em critérios de risco. |

LEGALTRACE – Rastreabilidade da Madei ra e Verificação de Legalidade que per mitem monitorar e controlar as activi dades florestais através da cadeira de valor da Madeira no país.

PORT COMMUNITY SYSTEM – Soluções Portuárias que permitem a gestão cen tralizada, electrónica e transparente dos processos e procedimentos de cargas e descargas nos portos e envolvendo os seus mais diversos actores públicos e privados.

Publireportagem Junho 2018 12
Rogério Samo Gudo, PCA da MCNET - Mozambique Community Network, apresenta em entrevista, a mais recente solução inovadora para o mercado moçambicano – o Port Community System

Tendo estado representado na feira de tecnologia Moztech, como avalia a par ticipação da empresa no evento? Participámos na qualidade de Parceiro Estratégico e avaliamos a nossa partici pação como tendo sido bastante positiva. Trouxemos um stand de elevada quali dade, oradores e palestrantes nacionais e internacionais abalizados nas diversas matérias que foram a debate e reflexão; e ainda reconhecemos e premiamos indi víduos que têm contribuído para o con tinuo desenvolvimento da nossa solução JUE. Fizemos networking, disseminámos os nossos serviços, produtos e soluções e estreitamos relações com diversas enti dades públicas e privadas.

Quais são as projecções da MCNet para os próximos anos?

A MCNet apresenta agora uma nova so lução sempre com o objectivo de acelerar procedimentos, reduzir riscos e imprimir transparência – a plataforma especifica para a gestão de portos de seu nome Port Community System. E esperamos concen trar os nossos esforços na introdução deste complemento á Janela Única Electrónica.

Em que consiste essa plataforma? O fluxo de informação dentro e ao redor de cada porto é complexa e apresenta vá rias camadas. O manuseamento das car gas e mercadorias requer a intervenção de um elevado número de intervenien tes que fazem parte da comunidade por tuária e que tornam este processo com plexo. Assim, conscientes que os portos

em Moçambique movimentam volumes significativos de tráfego de importação e exportação e cada vez mais crescentes aliados à sua posição estratégica na re gião, a MCNET apresenta esta solução que pretende endereçar os desafios comple xos colocados pela existência de uma ex tensa rede de agentes portuários, de um elevado volume de informação que deve ser trocada no manuseamento da carga portuária e a quantidade de documenta ção em papel que é consequentemente necessário trocar entre todas as partes.

Que vantagens terá a sua utilização? Através da disponibilização de uma pla taforma electrónica aberta, única e onli ne será agora possível a troca segura de

informação entre organizações públicas e privadas fazendo a comunidade por tuária de Moçambique mais competiti va a nível da região onde está inserida. Esta plataforma irá permitir a comuni cação em tempo real entre a autoridade portuária e os vários agentes da comuni dade portuária não só simplificando ace lerando procedimentos.

Em termos efectivos, que efeitos terá a utilização desta solução para os par ceiros da MCNET?

MCNet - MozaMbique CoMMunity network, S. a .

Fundação

Dezembro de 2009

É uma Parceria Público Privada constituída pelo Estado Moçambicano, Escopil Internacional e a CTAConfederação das Associações Económicas de Moçambique.

Irá permitir a melhoria no rastreio das cargas e mercadorias e reduzindo o tem po de desembaraço. Os agentes poderão apresentar as suas declarações ás auto ridades portuárias e utilizarão um sis tema de cores para comunicar o seu grau de processamento. Outro aspec to que a plataforma possibilita é a ins pecção das cargas e mercadorias mo vimentadas nas plataformas logísticas. A documentação, selos, entre outros as pectos são suportados pela nossa pla taforma. Nos casos em que a carga não passa a inspecção várias alternativas são possíveis – devolução e destruição da carga, ou modificação para outros usos – e a nossa plataforma irá auto matizar todos os procedimentos e docu mentação associados a estes aspectos. Custos de digitalização e sua verificações manuais são também reduzidos pelo re curso a esta plataforma que inclui igual mente uma solução de rastreio das cargas. A plataforma permite ainda endere çar os desafios associados à consolidação de carga em contentores onde uma vez mais um conjunto elevado de actores e num mesmo espaço físico se encontram a operar. Complexos processos adminis trativos e diferentes procedimentos al fandegários estão envolvidos pois cada ti po de carga que é incluída no contentor tem diferentes requisitos que deve cum prir o que dificulta em termos de tempo o processo de aprovação do despacho da carga. A plataforma automatiza o proces so e integra, em tempo real, os despachos e documentação necessários e eliminan do o tempo e erros envolvidos com o tra dicional processamento manual. Traze mos-lhe assim, a Port Community System como um sistema de gestão integrado de informação portuária com o objecti vo de facilitar e simplificar os procedi mentos portuários e com o objectivo de contribuir para a construção de um es paço nacional e regional de circulação de mercadorias cada vez mais eficiente e efectivo.

Junho 2018 13
Agilização de processos aduaneiros é uma das soluções propostas pela MCNET

Carvão alCança reCorde e reanima a eConomia naCional

Pela primeira vez desde 2012, a Vale apresenta resultados positivos da exploração de carvão em Moçambique, com a facturação a bater recordes numa actividade adormecida pelas condições do mercado internacional dos últimos anos. Resta saber se esta tendência se irá manter por muito tempo.

em cinco anos, as actividades de extrac ção e exportação de carvão foram acu mulando prejuízos para a Vale, uma das maiores mineradoras em todo o mundo. Ao mesmo tempo que, no Brasil, a empre sa (através de algumas das suas subsidiá rias) se via envolvida em investigações e num processo de mudança da sua estru tura accionista, em Moçambique (e em muitos mercados em que opera) a renta bilidade das operações, estava longe das expectativas iniciais. Olhando para o mercado nacional, se nos primeiros anos,

a operação da Vale teve menos altos que baixos, o que se justifica pelos avultados investimentos iniciais de suporte ao iní cio das actividades (em Moçambique es se valor andará perto dos 6 500 milhões de dólares), e pelo abrandamento indus trial na China, Japão e Estados Unidos, que levou os preços do carvão no mer cado internacional a bater no fundo. O que complicou, e de que maneira, as contas da Vale e dos restantes operadores do mercado nacional. Recuando no tempo, no auge da crise dos

preços internacionais do carvão de co que, em 2015, as empresas mineiras che garam a despedir mais de 4 000 funcio nários em todo o mundo. Naquele ano, o preço do carvão metalúrgico (aquele que é utilizado na produção de aço, e que re presenta o principal negócio da Vale), chegou a cair para os 80 dólares por to nelada, depois do pico de 291 dólares por tonelada, que se registava em 2011. Mas, em Agosto de 2016, os preços co meçaram a recuperar até atingi rem um valor próximo dos 200 dólares

Junho 2018 14 Macro

por tonelada, em finais do mesmo ano. Actualmente na casa dos 139 dólares, a recuperação do preço do carvão reani mou a extracção de carvão e abre boas perspectivas para a reanimação do sec tor que, de há ano e meio a esta parte, tem finalmente dado sinais de pujança. E é precisamente essa alteração de fun do que os resultados apresentados no re latório e contas da Vale Moçambique re flectem, e que não se fica pelo mercado nacional.

No Brasil, onde fica a sede da empresa, só em Abril deste ano a Vale foi a que mais valorizou no mercado bolsista de São Paulo, cerca de 100 milhões de dóla res em apenas 30 dias.

Em Moçambique, o mercado reergueu-se e os resultados do ano passado já de monstram um impacto significativo do carvão no desempenho da economia no seu todo (1,6 mil milhões de dólares de exportação). Para ter uma noção, só a ex portação de carvão da Vale corresponde a 72% das exportações do sector extrac tivo e 36% do volume global de exporta ções do país, tendo inclusivamente ultra passado a líder crónica nacional, no que a exportações diz respeito, a Mozal. Por outras palavras, se excluirmos o carvão, o país vende muito pouco ao ex terior, mas ainda assim, o carvão ajudou a economia, quando ela mais precisava.

Primeira vez com lucro Segundo o relatório de contas da empresa, que reporta ao exercício económico de 2017, a produção de carvão da mina de Moatize totalizou 11,2 milhões de tonela das, um crescimento de 101% em relação às 5,6 milhões de toneladas produzidas em 2016, um salto que reflecte a opera cionalização da segunda mina da Vale, designada de Moatize II. O EBITDA (resultado antes dos impostos e da depreciação), atingiu pela primeira vez um valor positivo desde a entrada da Vale em operações, em Março de 2012. Um salto de 162% (mais 15 mil milhões de meticais) em relação a 2016.

Já as receitas, aumentaram 122%, algo que a mineradora explica “pela me lhoria do preço do carvão no mercado internacional”, impulsionada pela cres cente fiscalização e restrição da pro dução das minas na China, bem como pela entrada em funcionamento do corredor logístico Moatize-Nacala (que liga a mina em Tete ao porto de Naca la, numa extensão de 912 Km), e que permitiu o escoamento da produção. Outra razão que explica o desempenho

milhões de dólares

É o valor que a mineradora prevê pagar em impostos ao estado atÉ ao final do ano, se os preços no mercado internacional não voltarem a cair

positivo da operação de Moatize é a apre ciação do metical em relação ao dólar. Se em 2016 a moeda norte-americana atingiu a casa dos 80 meticais, no ano passado a moeda nacional recuperou para próximo dos 60 meticais.

Pelas mesmas razões, o resultado líqui do também cresceu consideravelmente, atingindo 66 000 milhões de meticais, de pois de registar avultados prejuízos nos anos anteriores (ver gráfico da página seguinte), que levam a que, em termos acumulados (desde o início das suas ope rações), a empresa continue a apresentar um resultado líquido negativo de 380 000 milhões de meticais.

Outra boa notícia para a Vale, tem a ver com o volume de investimentos que tem vindo a cair. Em 2017, ele caiu para meta de (de 10 000 milhões para 5 000 milhões de meticais) face ao período homólogo, porque em 2016, a empresa concentrou esforços na finalização da mina Moatize II, que duplicaria a capacidade de produ ção, com impacto nos resultados deste ano. E o volume do investimento de 2017 ilus tra bem essa realidade, uma vez que a empresa apenas teve de assegurar a continuidade das operações bem como as acções sociais, o que naturalmente absorveu recursos bastante menores.

optimismo moderado No entanto, se o carvão “aqueceu” a economia nacional quando ela esta va a esfriar, o optimismo não pode ser exagerado.

PReço do caRVão RecuPeRou

Depois do pico de 2012, o preço do carvão de coque no mercado internacional caiu a pique e só começaria a recuperar em Agosto de 2016

em dólar por tonelada

Porquê? Porque existem muitas contas a ajustar enquanto as condições actuais do mercado (interno e internacional) se mantiverem, fruto de anos de produção insuficiente.

Em relação aos impostos a pagar ao Estado e graças à melhoria dos indicadores de desempenho, a Vale prevê canalizar até 30 milhões de dólares (aproximada mente 1.8 mil milhões de meticais) para a Autoridade Tributária. Trata-se de um número muito acima do que foi pago quando a Vale enfrentou prejuízos avul tados em 2016 e teve de pagar apenas 10 milhões de meticais (o câmbio estava muito depreciado e volátil). A este nível, fonte da empresa faz questão de dizer que os principais impostos pagos pela Vale ao Estado são mesmo em royalties (impostos pagos pelo direito de explora ção do carvão).

Aproveitando a onda favorável do mer cado, a Vale está a investir em acções de sondagem, para investigar outras áreas disponíveis na sua concessão de Tete.

Junho 2018 15
fonte Vale
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
30
139

A aposta da Vale, deve-se ao reconheci mento de que o carvão de Tete é de qua lidade, internacionalmente reconhecida de resto, para a indústria metalúrgica, e que a Vale considera “tratar-se de um produto premium” e uma opção forte que tem ganho quota de mercado, num mercado concorrencial dominado pela Austrália, maior competidor externo (e maior produtor mundial), que fornece carvão aos grandes compradores mun diais (Estados Unidos, China e Índia).

No mesmo documento, a Vale garante ainda que Moçambique “apresenta ou tras vantagens” para rivalizar com a Austrália e que justificam a sua aposta neste mercado, apontando a “localização geográfica privilegiada em relação a al guns dos principais mercados mundiais, nomeadamente a Índia e o Brasil”.

Como desvantagem, neste aspecto, apre senta-se o factor-distância em relação

a outros mercados asiáticos como o Ja pão, Coreia, Taiwan ou a Europa (face à Austrália).

Ainda assim, esta desvantagem é, lê-se no relatório e contas, “compensada pela facilidade logística no acesso de navios de grande porte que carregam o carvão a partir do porto de Nacala, o que acres centa valor à competitividade da em presa na operação moçambicana.”

volatilidade de preços e incerteza No entanto, se o presente é de algum optimismo e desafogo (ainda para mais se olharmos à previsão de aumento da produção de 33,9% este ano), a verdade é que no mercado do carvão, o que hoje parece, amanhã pode não ser.

Ao contrário de outras commodities cujos valores de mercado podem ser mais facilmente previsíveis a médio-prazo, o preço do carvão pode apresentar

a exportação de carvão da Vale corresponde a 72% de todas as exportações do sector extractivo e a 36% do volume global de vendas ao exterior. Já ultrapassou o alumínio da Mozal

PRodução seMPRe a auMentaR

O ano de 2017 fechou com um crescimento de produção na ordem de 101% face ao ano anterior, atingindo um recorde de 11,2 milhões de toneladas. Em 2018, prevê-se um crescimento de 33,9%, para os 15 milhões de toneladas

em milhões de toneladas

Junho 2018 16
M
acro
(1) Previsão para 2018 fonte Vale 2016 2017 2018
2015 5
5,6 11,2 15 (1)
Moatize, tete: em 2018 a Vale prevê um crescimento de 33,9% da produção de carvão, para os 15 milhões de toneladas

grandes variações num curto espaço de tempo. Porque a fixação dos preços está dependente de um sem-número de condicionantes. Que vão da ocorrên cia de fenómenos climáticos extremos com impactos na cadeia de produção na Austrália (como aconteceu com o ciclone Debbie, há um ano, gerando uma infla ção imediata de 8% no preço) às políti cas macroeconómicas (nomeadamente industriais) nos principais mercados compradores.

É por estas razões que, de acordo com o que apurámos junto da Vale, não existe segurança plena nesta curva de estabi lidade que se verifica, e principalmente não se arrisca demasiado em previsões optimistas de que ela tenha chegado para permanecer.

Até porque a ‘lição’ de 2015 e 2016, tor nou, de uma forma geral, os operadores de mercado (não só em Moçambique) mais cautelosos na realização das suas contas e nas projecções para o futuro. Temendo que os preços possam voltar a cair, a Vale não está assim em condições de projectar o volume de investimentos que vai realizar nas suas concessões, nem assegurar quanto irá desembolsar em impostos para o Estado nos próximos anos, uma vez que esses, são números que dependerão de condicionantes que têm a ver com o preço de venda do car vão nos mercados internacionais.

Ou seja, os curtos ciclos de variação de preços, deixam a companhia sem capa cidade de planificar o volume de expor tações e de receitas que poderá realizar nos próximos anos, o que deixa algum espaço de preocupação, essencialmente pelo peso que o sector ganhou nos últi mos 16 meses na balança comercial (ao nível das exportações e da entrada de dólares na economia), sendo hoje, efec tivamente essencial no quadro macro -económico nacional.

Um pequeno exemplo disso aconteceu recentemente, quando o Governo admi tiu rever em baixa as previsões de cres cimento económico de 5,3% para cerca de 3%, baseando-se, principalmente, nas projecções da Vale, que reduziu também ela as metas de produção de 2018 de 16 milhões de toneladas para 15 milhões devido às enxurradas que se abateram sobre as províncias de Nampula e Tete, dificultando a actividade produtiva e o transporte.

Ainda assim, será o carvão a princi pal alavanca do crescimento esperado para este ano. Só que é preciso assegu rar o que possa vir por aí de negativo.

Receita: a funcionaR cada Vez MelhoR

Olhando de novo para a conjuntura global, ela parece não estar do lado da evolução positiva do preço do carvão nos mercados, algo que alimenta os receios da Vale.

em milhões de dólares

2015 2016 2017

Resultados: PositiVos Pela PRiMeiRa Vez

Os resultados financeiros foram positivos pela primeira vez, devido ao aumento do volume de produção e à melhoria dos preços do carvão no mercado internacional

E existem várias leituras para esse facto, expressas por analistas de commodities de todo o mundo que olham a chegada de Donald Trump à Casa Branca, com o seu discurso de reactivação da indústria norte-americana, como factor catalisa dor que levou os outros grandes players mundiais, nomeadamente a China, o Ja pão e a Índia a reforçarem a actividade industrial, fomentando a produção inter na de uma matéria-prima entretanto já banida em muitos países, como o Reino Unido). No entanto, isso criou um micro -ciclo de aumento do valor das commo dities (nomeadamente o petróleo que anda há semanas acima dos 75 dólares por barril) o que, por arrasto, pode ser favorável para o carvão.

diversificação “é urgente”

-115 2014 -293 2015 -335 2016 2017

1 001 milhões de dólares

O resultado líquido da Vale em Moçambique em 2017

inVestiMento: cai PaRa Metade

1 001

No entanto, se a quebra do preço do car vão pode, por enquanto, não passar so mente de uma previsão que pode ou não concretizar-se, as incertezas da Vale são interpretadas como factor potenciador de eventuais constrangimentos na acti vidade económica de forma mais global, em Moçambique.

À E&M, o economista Constantino Mar rengula, docente da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), levanta a ve lha questão da necessidade de “diversifi car a economia” para escapar aos efeitos negativos de uma eventual quebra de receitas da venda de carvão, ou de um potencial (e até expectável) abranda mento do sector extractivo.

A redução do volume de investimentos evidencia a finalização da fase de expansão da mina de Moatize II. A partir de 2017, investimentos serão direccionados para a manutenção, acção social e sondagem de novas bolsas de carvão

em milhões de dólares em milhões de dólares

166 83 2016 2017

Reconhecendo que a diversificação eco nómica de que tanto se fala não se con cretiza “num curto espaço de tempo”, o professor considera ainda assim ur gente “desenhar prioridades políticas no sentido de criar uma linha de coor denação entre as instituições públicas, em busca de resultados práticos, que tenham visibilidade e peso na economia, em poucos anos.”

tExtO Celso Chambisso

fOtOgrAfIA D.R.

Junho 2018 17
O crescimento do volume de produção e a recuperação do preço do carvão, foram determinantes para o crescimento expressivo da receita, também empurrado pela redução da dívida com os accionistas graças à recuperação das taxas de câmbio 200 732 1 619 fonte Vale
A economia nacional até pode ter tido um balão de oxigénio com o aumento da receita proveniente das exportações de carvão mas, é preciso fazer o trabalho de casa, para não ficar exclusivamente dependente desta matéria-prima.

macro

ImobIlIárIo cresceu em altura, caIu no preço, e agora parece estabIlIzar

Depois do pico de preços e investimentos de 2013, o sector imobiliário foi acompanhando a evolução da economia, e abrandando até quase parar. Cinco anos depois, o mercado estará no entanto mais realista e, havendo ainda poucos novos investimentos, a verdade é que a oferta melhorou, e até já há novos negócios no horizonte

o mercado imobiliário é, sem dúvida, um grande indicador da saúde de qual quer economia. Recordemos que foi por aí, como sabemos, que começou a grande crise de 2008, com o rebentar da bolha imobiliária nos Estados Unidos, que se viria a alastrar a todo o mundo, com con sequências que foram muito para além de um segmento de mercado basilar e que se estenderam à banca, fizeram cair governos, e obrigaram o mundo mergu lhar numa crise que, ainda hoje deixa

resquícios em economias de todo o mundo. Olhando para Moçambique, com o início do crescimento acima dos 7% do início da década, o sector imobiliário foi dos que mais cresceu.

Depois, viria o abrandamento económico e, de novo, o imobiliário foi o que deu os primeiros sinais desse novo tempo mais austero, que se notou (e ainda nota) no mercado desde 2014, quando se iniciou a queda abrupta dos preços no merca do imobiliário (residencial, escritórios e

retalho), com destaque para as cidades de Maputo, Beira, Nampula e Pemba. E os preços continuam a cair, na exacta me dida em que a oferta continua a subir, numa das mais lógicas leis essenciais da economia real.

É exactamente por isso que um conjunto de especialistas ligados ao ramo imo biliário ouvidos pela E&M descartam qualquer “crise” no mercado mobiliário, e falam sim, “do reajuste de um sector que foi construído numa base especu

Junho 2018 18

lativa”.Luís Coimbra, director-geral da AVANCE, uma empresa especializada em administração de infra-estruturas em Moçambique, considera a crise eco nómica que devasta o país desde 2015, “a causa fundamental para acabar com o nível de especulação que vigorava no mercado imobiliário.”

Mas algo de positivo pode ser construí do mesmo em cima de uma má base. “De facto, sabemos das más consequências para o mercado imobiliário, mas o fe nómeno acabou por trazer algo de bom. É preciso ver que o mercado imobiliá rio nacional foi construído numa base especulativa onde qualquer empreen dimento tinha preços completamente desnivelados face à realidade, indepen dentemente da qualidade, localização ou finalidade da obra. E isso accabou”, justi fica Luís Coimbra.

economia não ajudou

A mesma opinião é perfilhada por Nuno Tavares, director-geral da REC, empresa de consultoria no ramo imobiliário, a tra balhar no mercado moçambicano há cer ca de 18 anos. “A crise acabou por servir um pouco de lição para os investidores do ramo que estavam a seguir um caminho errado, onde apenas se construía para a classe alta e que qualquer coisa valia um milhão de dólares ou mais. Há muito que o país precisava de corrigir o sector imobi liário, porque há um sindrome que impe de uma actuação harmoniosa entre os in vestidores do sector.”

Depois, há o excesso de oferta que se ve rifica um pouco em todos os segmentos (residencial, retalho, e escritórios). “Sim. O mercado imobiliário é de reacção len ta, ou seja, entre a aprovação do investi mento, a construção e a entrada do stock para o mercado, podem passar dois, três anos. E o que aconteceu, foi que o merca do mudou. Os investimentos foram basea dos numa perspectiva e com uma deter minada conjuntura que mudou. E, se no retalho o potencial de crescimento ain da é grande e a maioria da oferta até já está construída (com o Baía Mall e o No vare Matola a ocuparem a grande fatia da área construída), essa realidade nota -se sobremaneira no segmento dos escri tórios em que, face à situação de contrac ção económica há, por um lado, excesso de oferta (que advém da entrada no merca do de muitas novas unidades) e por outro a saída de muitas empresas do mercado de procura. E isso reflecte-se nas taxas de ocupação e nos preços pedidos, onde se ve rificam quebras entre 30 a 40%”, aponta.

rEsiDEnCial: ofErta ainDa vai auMEntar

Quando o stock em construção estiver finalizado representará um aumento de 50% face à oferta actual 1 889 1 429

stock em construção

ra de melhores dias) represnta pratica mernte 50% em relação ao stock já fina lizado. Uma situação que leva Nuno Tava res a demonstrar preocupação pela sa turação da oferta. “Só na cidade de Ma puto, existem cerca de 1 889 unidades va gas ou devolutas de apartamentos con tra 1 429 unidades ainda em construção, e algumas delas, se calhar, já não pode mos chamar de novos, porque estão lá há dois ou quatro anos sem utilização”, revela. Aliás, o excesso do stock em todos os seg mentos, mas especialmente no residen cial é, por esta altura, “preocupante, pois mostra que o mercado é pouco sustentá vel visto que ainda se observa uma baixa taxa de ocupação dos principais empreen dedimentos de Maputo, de cerca de 30%”.

stock existente em mil metros quadrados

EsCritórios E rEtalho: Maioria já EM utilização 237,2 150,4

Grande maioria dos projectos já está em funcionamento, o que se reflecte numa quebra de preços de quase 40%

em mil metros quadrados dólares por m2 dólares por m2 dólares por m2

25,1 1,9

boas consequências Há pouco mais de quatro anos, com a economia a crescer acima dos 7%, e com a previsão de chegada de um cada vez maior número de quadros expa triados e de empresas multinacionais e com a probabilidade que, parecia então mais do que certa, de uma aceleração imparável da economia assente na mas sificação da descobertas de gás, carvão e outros recursos minerais, a procura de apartamentos, escritórios e espaços para compra e arrendamento decorria a uma velocidade estonteante. Os preços, em dólares (na altura com um câmbio muito favorável para o lado do metical) ‘alimentavam’ um mercado com uma oferta reduzida no volume de metros quadrados e nos padrões de qualidade dos imóveis.

Se há três ou quatro anos, no segmento dos escritórios, um metro quadrado era negociado por 40 dólares, agora, a tendên cia é de fechar o contrato a 22 ou 26 dó lares, quase metade do valor, face ao que acontecia há quatro anos”, complementa. Se olharmos ao stock residencial existen te a situação é um pouco diferente, uma vez que o número de unidades em cons trução (muitas delas abrandaram o rit mo de construção, ou chegaram mes mo a parar nos últimos anos, à espe

Tudo isso mudou, já se percebeu. A come çar precisamente por ai. Pela mudança do sistema de pagamento de compras, vendas e arrendamentos, agora feitos em meticais. Para quem nos lê, talvez este tenha sido um dos bons efeitos da crise. Os preços baixaram, e baixaram em me ticais, quando tinham subido em dólares. “É verdade. A ‘meticalização’ do mercado imobiliário é uma realidade incontorná vel, num mercado que funcionava, quase por inteiro, em dólares. E quando com paramos uma renda que pagamos hoje em meticais com a que era praticada há dois ou três anos, também verificamos essas quebras em torno dos 40% a 50%.” E há exemplos concretos dessa realidade. Há quatro anos, um apartamento T3, na zona da Polana Cimento, seria facilmente alugado por um valor a rondar os 2 000 a 2 500 dólares, cerca de 120 a 150 000 meticais ao cambio de actual, mas ago ra, esses apartamentos são arrendados

Junho 2018 19
FONTE REC | Real Estate Consulting
Escritórios Retalho Stock Existente Em Construção 26,3 26,3 17,5

macro

por valores a rondar os 50 000 meticais, o que corresponde a 800 dólares, hoje em dia. É uma verdade incontornável, esta, mas que não se verifica em todos os segmentos. “No segmento escritórios, ainda continua a predominar, sobretudo nas zonas de edifícios de classe “A”, situa dos em zonas prime, preços pedidos em dólares, que depois são convertidos em meticais”, revela Nuno Tavares.

o que vem aí?

A resposta surge ainda hesitante para grande parte dos agentes do sector, mas há já quem anteveja alguns indícios de retoma.

Elsa Santos, da Investe Imóvel é dessa opinião. “Teremos ainda por mais algum tempo uma fase de estabilização em baixa, uma vez que a correção foi muito abrupta no tempo e ao nível da quebra de valores.”

No entanto, um regresso ao passado, àqueles primeiros anos da década, em que o imobiliário (e outros sectores eco nómicos) viveram um período de ebuli ção gastadora no qual tudo parecia re pentinamente demasiado bom para ser verdade, não é de todo expectável. “Sim, isso não voltará a acontecer. Mes mo que não se possa voltar a registar o pico de oferta e procura como o regista do em 2013, o que prevemos que suceda a partir de 2020, é o mercado voltar a me recer destaque na economia nacional. Mas os preços não voltarão a sofrer essa escalada, acima de tudo porque a oferta será mais ampla e comportará de outra forma a procura que se antevê”, afiança.

Quem casa quer casa. só que não pode “Moçambique está num caminho de re toma ainda lenta, mas que começa a no tar-se em alguns indicadores. Continuo a afirmar que fora da cidade de Maputo haverá espaço para erguer novos em preendimentos de habituação e retalho essencialmente para segmentos B e C, e daqui a cinco anos vamos começar a ter um mercado imobiliário mais ma duro, mais diverso e substancialmente mais estável.” O ano de 2020, é assim o ano da retoma, dizem os especialistas. “Os ciclos deste sector são de dez anos e acreditamos que a partir desse momen to, as coisas possam começar a melhorar, e voltaremos a ter um mercado muito competitivo, mas talvez só em 2023 vol taremos a registar uma oferta igual ou superior à procura”, acrescenta. Do lado do investimento, a oportunida de para comprar irá estender-se por

abrandamento da economia colocou travão a fundo nos investimentos do sector imobiliário. no entanto, o mercado reestruturou-se e há novos segmentos a surgirem no mercado

alguns anos. Mas, do lado da procura, o dilema está no facto de a oferta ter sido construída, quase na sua totalidade para um target premium. Que existe, de facto, mas é muito mais volátil do que o target B e C, e que representa a grande maio ria da população nacional que continua a debater-se com sérios problemas para conseguir ter habitação própria. Assim, se por um lado se verifica a es tagnação do sector imobiliário direccio nado para as classes de maiores rendi mentos, por outro, nota-se o surgimento de projectos imobiliários com o foco num outro segmento de mercado: a classe média. “É difícil quantificar, mas exis tem nos últimos dois anos, muitos inves timentos em projectos autónomos, de privados, nas zonas limítrofes do centro de Maputo, como o Alto Maé, Malhan galene ou Amílcar Cabral. É um tipo de investimento que é difícil de quantificar, mas que apresenta alguma dinâmica. E se somarmos tudo isso, a expressão económica é capaz de ser interessan te e elevada”, explica Nuno Tavares.

No fim de contas, para além da baixa de preços de compra e arrendamento, do aumento do volume de construção para quem mais precisa, o solavanco por que passou o sector imobiliário levou ain da ao surgimento de um curioso sub -segmento: o aluguer de curta e média duração através de plataformas como o Airbnb ou o Booking.com, que são hoje utilizadas por alguns agentes imobiliá rios do mercado, que alugam aparta mentos que não foram ainda vendidos (como os do Olimpic Terrace ou os das Torres Rani, entre muitos outros), em mo dalidades que compreendem um conjun to de serviços ‘chave-na-mão’ (Internet, empregados, e contas incluídas) que, por ora, conferem rotação a apartamentos que, de outra forma, não teriam ocupa ção. Caso para dizer que, se entreabrem janelas onde há poucos meses haviam demasiadas portas fechadas.

Junho 2018 20
fotoGrafia d.r.
texto Pedro Cativelos & Hermenegildo langa

Números em conta

Nova poNte. uma obra graNde, em quase tudo

assim é. Especialmente se olhar mos ao números envolvidos em toda a obra da ponte da Katembe: dos milhões do investimento, aos quilómetros de ex tensão, passando pelos metros de altura. Assim, depois de quase uma década de discussão e com mais de um ano de atraso, aquela que é a maior ponte sus pensa de África, e a 53ª a nível mundial, tem inauguração prevista para este mês (dia 25), servindo de ícone de celebração dos 43 anos da independência nacional. O design e a construção ficaram a cargo da China Road and Bridge Corporation (CRBC), a terceira maior empresa de cons trução a nível mundial, com sede em Pe quim, enquanto o controlo de qualidade foi efectuado pela GAUFF Engineering. Mas, foram muitos os intervenientes que

participaram numa obra que promete mudar a própria economia da capital do país. Com um vão principal de 680 me tros sobre a baía de Maputo e uma altura de pilão de 141 metros, a Ponte Maputo -Catembe oferece aos visitantes uma vista imponente, que se foi erguendo na linha do horizonte da cidade.

Após o asfaltamento e outros trabalhos finais, como pinturas e sinalização, não é ainda certo, ao que a E&M apurou, que a obra seja aberta ao tráfego após a cerimó nia de inauguração, dado ainda existirem linhas de transporte de energia por recolo car e comerciantes por transferir na zona onde estão a ser construídos os acesso -norte, mas é certo que, dentro de algu mas semanas, será possível conduzir entre as duas margens de Maputo.

milhões de dólares

É o valor final da obra. a maior ponte suspensa (área de tabuleiro) em toda a áfrica, e representa tambÉm o maior investimento infra-estrutural do país em toda a sua história

metros

É o comprimento total da ponte. com quatro faixas de rodagem, a secção em betão armado pré-esforçado corresponde a 1,1 quilómetros sobre a margem norte e outros 1,2 sobre a margem sul, cabendo 680 metros ao vão central.

3 000

postos de trabalho o número de trabalhadores envolvidos na obra ao longo dos 3 anos é semelhante, por exemplo, aos da construção da ponte 25 de abril, em portugal.

será a extensão dos acessos, (entre os quais outras cinco pontes-viaduto de pequena dimensão), e as estradas para a fronteira da ponta do ouro e a ligação boane-bela vista.

Junho 2018 22
800
3 041
200 quilómetros

60 metros

a colocação dos pilares de betão foi precedida da instalação de 24 estacas com 100 metros de profundidadee 2,2 metros de diâmetro em cada uma da margens, sobre as quais foram posteriormente erguidas as torres.

137 metros de altura

se as fundações das duas torres principais da ponte chegam aos 100 metros de profundidade, a altura do tabuleiro (60 metros) vai permitir o tráfego de navios de grande porte para o porto de maputo.

680 metros

É a área de tabuleiro suspensa (a maior em áfrica) sobre a baía, com pilares numa e noutra extremidade, nomeadamente na zona do porto de maputo e do lado da catembe.

57 blocos

o tabuleiro que vai ligar a capital ao sul do país é como se fosse um jogo de peças de encaixe: 57 blocos de aço gigantes fabricados na china foram transportados num cargueiro pelo mar índico até à capital moçambicana.

130

toNeladas mesmo sendo oco, cada um dos blocos pesa 130 toneladas. foram içados do cargueiro que os transportou desde a china por uma grua especial que os colocou em posição, encaixados uns nos outros.

Localizada no estreito de Akashi, no Japão, é a ponte com o maior vão suspenso do mundo, 1 991 metros.

Inaugurada em 2007, está em Zhoushan, a segunda maior ponte suspensa do mundo com um vão de 1 650 metros.

Liga as ilhas da Zelândia e Fiónia atravessando o Grande Belt. Tem o terceiro maior vão livre do mundo com 1 600 metros.

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as maiores poNtes suspeNsas do muNdo
1 2
Akashi-Kaikyo, Japão Xihoumen, China Great Belt, Dinamarca
3

Nação

Junho 2018 26
bebidas

O mercadO da ‘rOdada’

É uma indústria que movimenta perto de 750 milhões de dólares por ano, em Moçambique. Entre o formal e o informal, o que se bebe em cima da mesa e o que entra por ‘baixo do balcão’, as bebidas alcoólicas serão um dos ramos de actividade mais dinâmicos da economia. A E&M leva-o a beber um copo pelo mercado das cervejas, vinhos e espirituosas

ao copo ou em garrafa, em shot ou long drink, sozinho ou numa roda de amigos. Aprecie-se, ou não, as bebidas com álcool fazem parte das nossas vidas desde tempos imemoriais, seja porque nos ajudam a criar melhores momentos, a celebrar conquistas ou apenas porque é impossível viver no mundo contem porâneo sem dar por elas na TV ou em qualquer grande evento global. Se China (27%), Estados Unidos (12%) e Brasil (5,7%) são os três maiores merca dos consumidores de álcool no mundo, os primeiros países africanos desta tabela só vêm mais lá para baixo. Mas, isso está a mudar. Nos primeiros anos desta década, o consumo de vinho em África aumentava cinco vezes mais rápido do que a média mundial e o mes mo acontecia com todas as outras bebidas alcoólicas, das cervejas às espirituosas, de acordo com um estudo da IWSR, orga nização internacional de análise do mer cado das bebidas, divulgado em 2016. No entanto, e apesar desse crescimento massivo, no mesmo estudo falava-se de problemas relacionados com “impostos, questões alfandegárias e corrupção”,

elementos apontados como os princi pais criadores de gargalos ao mercado. Por outro lado, a IWSR referia também a existência de “múltiplos desafios em termos de infra-estruturas e de distri buição, que muitas vezes levam a que os produtos sejam transportados e acondi cionados a uma temperatura incorrec ta (o que altera a sua qualidade).” Mas os problemas de um mercado que, glo balmente, até tem demonstrado uma quebra nos últimos dois anos, fruto das políticas de consciencialização levadas a cabo em mercados ocidentais (o que acontece também com o tabaco), não têm impedido a sua expansão. Principalmen te no continente asiático e em África, onde conhece um crescimento exponen cial, que se nota até pela forma como os gigantes do sector (ABInBev, Distel, Per nod Ricard, Diageo e outras) se têm po sicionado e investido cada vez mais em mercados emergentes africanos como terrenos de crescimento das suas mar cas e referências.

A esse nível, a África do Sul é o maior mercado do álcool no continente. Com um volume total estimado de 30,9 milhões de

caixas de 9 litros (12 garrafas), represen ta 30% do consumo de todo o continente. Lá bem mais atrás, surge outra economia forte, a Nigéria, com 15,2 milhões. E Ango la fecha o top-3 dos maiores apreciadores de bebidas, com 12,8 milhões de caixas. O poderio económico parece, de resto, associado à sede dos mercados consu midores. Será também por isso que Mo çambique vem um pouco abaixo nesse ranking, com pouco mais de 4,7 milhões. Mas essa ligação entre mais um copo ou garrafa na mão e o dinheiro no bolso tor na-se evidente, quando se percebe que, entre 2010 e 2016, o consumo interno de bebidas cresceu quase 30%, precisamen te na altura em que a economia mais se expandiu, na história do país.

O caso das cervejas

A loira (e as suas outras versões ao nível da cor e do sabor) é a rainha do mercado das bebidas.

Em Moçambique, o mapa das cervejas é quase tão simples de traçar como elas são de beber. Estima-se que a cerveja represente mais de 50% do total do mercado das bebidas, em que a líder

Junho 2018 27

Os sAbOrEs dE uM MErcAdO...

as cervejas são a bebida alcoólica mais consumida em Moçambique, um mercado que cresce, no seu todo, perto dos 4,5% ao ano. No entanto, todos os segmentos apresentam taxas de crescimento assinaláveis

em milhares de caixas de 9 litros / 12 garrafas

... quE É cOMO O bAlãO: sEMprE A subir

Consumo total de bebidas tem aumentado, apesar do abrandamento económico, Tendência de consumo tem seguido padrões de escolha baseados no custo. Gordons, Gilbeys, Johnnie Walker, Jameson, 2M e vinhos sul-africanos são os que mais vendem

em milhares de caixas de 9 litros / 12 garrafas

5,3

Milhões de caixas

Foi a quantidade de álcool consumida em Moçambique ao longo de 2016

incontestável é a Cervejas de Moçam bique (CDM, maioria do capital é detida pela cervejeira líder mundial, a ABIn Bev que produz sete das dez cervejas mais vendidas no mundo), e que com as suas nove referências domina mais de 90% de um mercado que consome 2,8 mi

lhões de hectolitros por ano, sendo que aí, é a 2M quem comanda as preferên cias dos moçambicanos. Depois há a Heineken, a sua maior con corrente. Nesse sentido, e porque a mé dia de consumo nacional ainda apresen ta uma larga margem de crescimento,

a multinacional holandesa (presente em 20 mercados africanos) investiu 100 milhões de dólares numa fábrica que será inaugurada em 2019, na zona de Bobole, no distrito de Marracuene, um empreendimento de 113 hectares que foi apresentado como “um acréscimo de va lor para a economia moçambicana, atra vés da abertura de centenas de postos de trabalho e de utilização de matéria -prima maioritariamente nacional”, pelo director-geral da empresa em Moçam bique, Nuno Simes.

Por fim, temos as importadas, como a Superbock (UNICER) que tem procurado aumentar a sua quota de mercado, mas com uma expressão ainda residual.

as espirituosas e os vinhos

Por Moçambique, o whisky é rei (Johnnie Walker e Jameson, dos portfólios da Dia geo e Pernod Ricard, respectivamente) uma tendência que se repete por quase toda a África.

Mas o whisky é seguido de perto pelo crescimento do gin, uma tendência glo bal sendo que, nos últimos anos, a Gor dons tem ganho cada vez maior peso no mercado interno, algo que se explica pelo factor-preço, num segmento (bebidas es pirituosas) onde a Distel, a HJS e a Cicoti também marcam presença enquanto dis tribuidores e representantes de algumas outras marcas.

Quanto aos vinhos (principais represen tantes são a Mercury, Socimpex, Moza mvini, DIstel, Tropigália e Mega) é também o custo que está a ditar as regras do mer cado. Em 2014, cerca de 646 mil caixas (12 garrafas) de vinhos portugueses entra ram em Moçambique. Mais do dobro, face à oferta sul-africana desse ano (299 mil). Mas dois anos depois, esse é um chão que já deu uvas para os portugueses e os sul -africanos tomaram a dianteira, fruto da depreciação do metical face ao euro, mas também devido ao custo reduzido de im portação de vinhos da África do Sul (fac tor proximidade), com 605 mil caixas, face às 397 mil oriundas de Portugal.

O peso do álcool na economia

No total, e se nesta conta agregarmos tudo o que conta no universo das bebi das, do formal que se comercializa no retalho, passando pelo informal que se passa fora dele, pelo informal ilícito que até é a maior fatia do mercado, e a ele somarmos todos os que de uma forma ou de outra trabalham neste ramo de activida de, acrescentarmos os custos de transporte e adicionarmos os valores da logística

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bebidas
2013
2015
2015
2017
Nação
2011 2011 2011 2011 1 750 519 1 300 105 2012 2012 2012 2012
2013 2013 2013 2014 2014 2014 2014
2015
2015
2016 2016 2016 2 000 608 1 447 130 2 150 667 1 147 135 2 300 721 116 2 400 691 1 251 174 2 800 760 1 290 201 Cerveja Espirituosas Vinhos Mixed Drinks
fonte IWSR 2016 e euromonitor
2010 2011 2012 2013 2014 2015 3 355 3 751 4 196 4 114 4 366 4 568 2016 1 199

utilizada, não esquecendo os impostos, os eventos, a publicidade... em suma, toda a ac tividade económica que, de forma directa ou indirecta tem algo a ver com bebidas, rapidamente percebemos que elas repre sentarão hoje na economia nacional, um valor a rondar os 750 milhoes de dólares. No entanto, de acordo com um estudo do Euromonitor sobre o mercado moçambi cano, publicado em 2016, apenas 34% de todas as bebidas que se consomem em Moçambique são lícitas, sendo que as cer vejas são as menos penalizadas por este fenómeno (22%), os vinhos são afectados em 67%, e as espirituosas, estão um pou co acima dos 80%.

Ou seja, em cada dez bebidas que pedimos, seis têm a probabilidade de terem sido, ou falsificadas (60%), ou contrabandeadas. E chegamos à tal média que o estudo aponta de 66% de bebidas alcoólicas que nos são servidas sem passar pelo crivo da Autoridade Tributária ou de qualquer inspecção sanitária. Já para não falar dos riscos de saúde que isso implica. São estes, de resto, os maiores problemas do mercado das bebidas: a falsificação e o contrabando,HelenaDionísio,country-ma nager da Pernod Ricard em Moçambique, uma gigante mundial do ramo das es

35,6

milhões de litros é o volume de bebidas vendidas em moçambique, provenientes do mercado informal ilícito, 66% do total do mercado das bebidas no país, de acordo com um estudo da euromonitor

pirituosas, explica isso mesmo à E&M. “Apostamos seriamente neste mercado e há um movimento para termos cada vez mais e melhores bebidas, mais seguras e cada vez de melhor qualidade. Claro que o aumento da renda média e o investi mento na região por parte de empresas multinacionais do sector impulsionam o crescimento. Mas há questões para re solver, porque os desafios do mercado são ainda considerávels”, diz.

E esses desafios são diversos e já estão es tudados. São aliás elencados no relatório da IWSR sobre o mercado nacional de be bidas, de 2016. “As espirituosas são quem mais sofre com a distorção do mercado”. Helena concorda: “há de facto um gigan tesco mercado informal ilegal de bebidas que entram a partir da África do Sul e nós, enquanto representantes oficiais, te mos de tentar ser competitivos ao nível do preço, mas é complicado.”

A questão é pertinente. No mercado Es trela, nos arredores de Maputo, funciona um verdadeiro mercado abastecedor do país, ao nível das bebidas, especialmente espirituosas e vinhos. Sendo tudo considerado informal, par te do que ali se vende já é adquirido nas representações oficiais das grandes

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Helena dionísio, country manager da pernod ricard: “Mercado tem potencial, mas há ainda muitas questões por resolver”

cerveja a rainha dO mercadO vinhOs sul-africanOs na frente espirituOsas a luta cOntinua

Cervejas de Moçambique continuam a dominar largamente o segmento mas a Heineken quer crescer

Vinhos sul-africanos roubaram quota no mercado aos portugueses e cresceram 50% em dois anos

em milhares de caixas de 9 litros / 12 garrafas em milhares de caixas de 9 litros / 12 garrafas 28 12,4

milhões de litros milhões de litros milhões de litros

a selagem

Num sector de actividade que mexe com tantos milhões, a tributação desses valo res começou, há já alguns anos a chamar a atenção do Estado. E foi por isso que, há pouco mais de dois anos, foi aprovada a legislação que impunha a selagem de bebidas (e também de tabaco).

Por essa altura, em que o mercado pa recia caminhar para se estruturar, os desafios que se anteviam pareciam jus tificar a criação de uma associação que representasse os interesses dos players do sector. Foi por isso criada a APIBA, em

2017, “da vontade e desejo de vários pro dutores e importadores, que se conhece ram nas reuniões promovidas em 2015 pela Autoridade Tributária, (AT) Alfânde gas e Ministério da Indústria e Comércio, nos debates de preparação para a legis lação da selagem de bebidas alcoólicas”. A APIBA tem assim o intuito de, “promo ver a cooperação entre produtores e importadores de bebidas alcoólicas e as autoridades para formalizar o sector.” Adolfo Correia, administrador da Tropi gália (distribuição de alimentos e bebi das) e presidente da APIBA, começa pela grande questão que apoquenta o sector actualmente, a selagem das bebidas. A 14 de Setembro de 2016, era aprovado o diploma ministerial 59/2016 que esta belecia a obrigatoriedade da selagem de bebidas alcoólicas para efeitos de con trolo fiscal. Os dados da APIBA estimam que os tais 66% de bebidas alcoólicas ile gais introduzidas em Moçambique ori ginem uma perda fiscal anual de perto de 320 milhões de dólares (o valor inclui também a produção local de bebidas ar tesanais e as falsificações).

fonte IWSR 2016 e euromonitor

A maior parte de espirituosas e vinhos contrabandeados entram em Moçambi que oriundos da África do Sul, ou atra vés da Suazilândia, por via da região de Namaacha. “A fronteira entre a Sua zilândia e Moçambique é mais difícil de inspecionar devido à falta de infra -estruturas de vigilância. De Namaacha, os produtos são transferidos para um veículo diferente. Os contrabandistas também usam rotas e veículos turísticos para evitar a detenção. De Ressano Gar cia (o principal ponto de entrada para a cerveja contrabandeada), usam veículos ou camiões para transportar os produ tos, uma caixa de cada vez, ao invés de grandes quantidades, que são mais fa cilmente detetados”, pode ler-se numa apresentação da APIBA, que deixa no en tanto, um “elogio crescebte do esforço do Executivo para resolver esta questão”. No entanto, revela o mesmo documento, “os operadores ilícitos estão a adoptar estratégias cada vez mais sofisticadas, como a compra de produtos confiscados em leilões locais. E assim recuperam os bens confiscados, com perdas muito re duzidas.” E sem pagar imposto. Voltando ao selo: assim, em 2016 quando foi anunciado, era aplaudido pelos dois lados: o Estado que via nesta medida uma forma de recuperar a receita fiscal que não arrecada quando a mercadoria

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bebidas
OutrOs
cHilEnOs
Nação
OutrAs MArcAs 5,5 OutrOs 20
(tEquilA, ruM, licOrEs) 112 94,5 cdM
203 605 sul-AfricAnOs 397 pOrtuguEsEs 352 WHisky 289 gin
aqui, a luta é travada entre whiskys e gin que dominam 85% do consumo total das chamadas bebidas brancas em % de mercado
6,7
distribuidoras que têm tentado ser com petitivas entrando nesses mercados. “Sim, sem dúvida. Temos de ter uma polí tica agressiva de preços, por vezes com margens mínimas, para sermos competi tivos com o que chega de fora sem pagar impostos. No entanto, mantemos a nossa aposta no país, e pretendemos reforçar cada vez mais o nosso papel de colabora ção com as autoridades fiscais em prol da melhoria de todo o sector”, assume a re presentante da Pernod.
Os cerca de 66% de bebidas alcoólicas ilegais introduzidas em Moçambique causam anualmente uma perda fiscal de mais de 320 milhões de dólares

é contrabandeada, e os importadores formais que podiam começar a traba lhar num mercado regulado, em que as bebidas deixam de ser vendidas no mercado informal 40% abaixo do preço de mercado legal. À época, Adolfo Correia, numa entrevis ta ao jornal O País, dizia que a chegada da medida “só pecava por tardia.” Mas, logo de início, o processo não correu como o esperado por parte da APIBA.

pressão do mercado

Num período transitório, os selos come çaram a ser colocados no mercado e foi concedido um período excepcional para todos os operadores poderem adaptar -se às novas regras. Até que a AT ema nava, em meados do ano passado, a ´ordem de serviço 31’ em que fixava um conjunto de ajustamentos ao processo de entrega dos selos (nacionais e interna cionais), colocando o valor dos nacionais em 12,5 meticais por garrafa (a maioria importadas), enquanto os internacionais (na maioria formais) tinham de pagar

A ApibA estima que não existam registos do número de série na plataforma estabelecida para rastrear milhões de selos que se prevê que ainda estejam no sector informal prontos a serem utilizados

175 meticais, “o que representa que as empresas formais pagavam por gar rafa, o que o sector informal pagou por uma caixa de seis unidades”.

Contactada pela E&M, fonte da AT justi ficava a medida como “fórmula tempo rária encontrada”, para fazer acabar os stocks ainda existentes de bebidas ad quiridas ilegalmente.

Depois, a questão da atribuição dos selos também é, de resto, criticada pela APIBA. A começar pelo seu processo de aquisi ção em que, inicialmente se registaram centenas de empresas. Por isso, a APIBA estima que existam milhões de selos no mercado, tendo mostrado à nossa reportagem casos de bebidas importa das com selo de produção nacional (pa gam muito menos, face aos importados). Quase dois anos depois, a opinião de Adolfo Correia não mudou. Mas, em nome dos interesses da associação, pede algumas mudanças ao procedimento da selagem. “Estamos a dialogar com a AT. Há uma série de questões. que vão do excesso de selos no mercado até ao facto de po

Nação

320 milhões de dólares

estimativa anual do valor que o estado perde em impostos sobre bebidas

“não há registo de número de série na plataforma para rastrear mais de 1,2 milhões de selos que se estima que ainda estejam no sector informal. E o scan do selo não reconhece a origem”

derem ser reutilizados que nos levam à empresa que os fabrica e que não tinha quaisquer referências nesta área para algo desta dimensão.” De forma ainda mais directa, a APIBA aponta esses pro blemas: “não há registo de número de série na plataforma Insight (Opsec) para rastrear mais de 1,2 milhões de selos que se estima que ainda estejam no sector informal, ao abrigo do período de sela gem extraordinária concedido no ano passado e o scan do selo não permite re conhecer a origem ou o produto ao qual foi associado”. Ao mesmo tempo, dizem, “as empresas formais fizeram investi mentos avultados para cumprir o regu lamento dentro do período estipulado, o que resultou num aumento de custos na ordem de 30% (os selos têm de ser colo

cados nos países de origem das bebidas).” Helena Dionísio, representante do seg mento das espirituosas, as mais afecta das por esta questão, concorda. “Estamos totalmente a favor do processo de se lagem de bebidas, porque é a melhor forma de defender os interesses do Es tado e também dos operadores do mer cado. É preciso dizer, e temo-lo feito junto das autoridades que têm estado muito dialogantes com a APIBA, que só em im postos, estamos a falar de centenas de milhões de dólares que se perdem em receita fiscal.”

Hugo Gomes, administrador da CDM, é da mesma opinião: “A empresa que faz os selos não tem experiência global de selagem. Eles estão a usar-nos como co baias e a AT já não tem dúvidas disso. O

engraçado é que eles ainda conseguiram dizer-nos que a experiência que têm de selagem é de bicicletas e produtos nutri cionais. O Estado é soberano e saberá to mar as decisões que achar melhores para o país, mas como moçambicano fere-me ouvir isto. Para as cervejas, a selagem causa perdas de produtividade brutais.” O que é facto é que a desregulação do mercado nacional levou a que a multi nacional Diageo (que tem marcas como o Johnnie Walker, a Smirnoff ou a Gui ness) saísse de Moçambique, e passasse a operar a partir da África do Sul. E que até a CDM, que chegou a apostar numa unidade de distribuição de espirituosas, também desistisse desse mercado. Resta saber como selar o assunto do selo, e tirar a rolha ao problema. Até lá, be ber ou não beber pode ser sempre uma questão. Um brinde a isso.

Junho 2018 32
bebidas
lícitO
18,1
divide-se em duas partes: lícito (retalho e informal), e o contrabando
lícitO 35,6
356$
ilícitO 320$ ilícitO em milhões de litros cOMO funciOnA O MErcAdO
TexTo Pedro Cativelos FoToGraFia Jay Garrido ApibA: principais players da indústria de produção e exportação de bebidas pedem mercado mais regulado em milhões de dólares 66% ilegal fonte IWSR 2016 e euromonitor

Na voz de...

Junho 2018 34
bebidas

“Queremos acrescentar valor à economia nacional”

é a empresa de maior notoriedade no mercado nacional das bebidas. pela relevância que marcas como a 2m, ou a laurentina conquistaram no dia-a-dia de milhões de moçambicanos, ou pela di mensão dos números que envolvem tudo o que tenha a ver com as cervejas de moçambique (cdm). com um lucro líquido que mais do que duplicou quando comparado com igual período do ano anterior (receita global de mais de 16 mil milhões de meticais) e com as marcas de baixo custo a regis tarem o maior crescimento de sempre, a cdm é um gigante (talvez o único) da indústria de consumo nacional. e o tempo passou à velocidade de um trago fresco numa tarde de verão. da então denominada companhia de refrigerantes macmahon, ainda nos anos 50 do século passado, à compra da maioria do capital pela sab miller na década de 90. até que em outubro de 2016, quando a multinacional mudou de dono, por via da fusão com a abinbev., também a cdm passou a fazer parte do portfolio da maior cervejeira do mundo. mas nem estando integrada num gru po que lídera o mercado a nível global

Já exportamos actualmente para a áfrica do sul, portugal, inglaterra, e estamos a estudar a possibilidade de o começar a fazer para a austrália. não é ainda um caminho com potencial comercial, mas esperamos que um dia, venha a ser

(emprega cerca de 200 mil funcioná rios e está presente em mais de uma centena de mercados) faz a cdm “es quecer a sua identidade”. num rigoroso exclusivo à e&m, hugo gomes, adminis trador da cervejas de moçambique, revela os próximos passos da estratégia de crescimento de uma empresa, com sabor verdadeiramente nacional

Sendo uma das maiores indústrias do país, o que mudou com a entrada no capital da empresa de um gigante mundial como a ABInBev? temos estado a evoluir como empresa nesta nova roupagem, uma vez que, a partir de outubro de 2016, a empresa entrou numa grande família global. se olharmos ao potencial do mercado afri cano não tenho dúvidas de que será um mercado sustentável para os próximos 100 anos. e queremos continuar a cres cer aqui mesmo. actualmente, enquanto grupo, estamos em 12 países no continen te, mas os nossos planos de crescimento passam por crescer cada vez mais. de resto, o que mudou, foram os padrões de actuação, quer sob o ponto de vista de produção, de venda ou distribuição,

Junho 2018 35

Como conseguem agregar várias marcas numa única empresa, ten do em conta até que, no passado, algumas dessas marcas eram até concorrentes?

temos hoje nove marcas, desde as mais premium, como a stella artois que intro duzimos no ano passado, ou a budweiser, mas também outras como castle lite, flying fish, laurentina, manica, impala e a 2m, claro. devo destacar que a im pala é feita com base na mandioca, e recentemente, em dezembro, lançámos uma outra impala feita com milho local. Havendo uma lógica mais global en quanto grupo, mantém-se essa aposta nas cervejas feitas a partir de maté ria-prima nacional îniciada em 2011? Sem dúvida. Uma das filosofias da abinbev é que, qualquer seja o mer cado que operamos, tentemos acres centar valor à economia local, não única e exclusivamente a partir dos impostos elevadíssimas que pagamos, mas também procurando ser parte in tegrante da cadeia de valores locais.

Falou no pagamento de impostos, o que me leva a perguntar-lhe sobre a questão da selagem de bebidas, que tanta polémica tem gerado nos prin cipais operadores do mercado. Em que ponto está esse processo? actualmente empregamos cerca de 1 000 trabalhadores de forma directa, e 150 000 indirecta. depois, a nossa contribuição fiscal é, em média, de 1,2 milhões de dó lares por semana, cerca de 4,8 milhões de dólares em impostos (ice e iva). em 12 meses, e contando com outras taxas, a cifra é bem maior. até temos uma dele gação permanente da autoridade tribu tária nas nossas unidades de produção. posso dizer que somos um dos maiores contribuintes fiscais do Estado, e digo-o com orgulho porque queremos cumprir o nosso papel. indo à selagem, é preciso dizer que o objectivo primário é mitigar a problemática da evasão fiscal, algo como que a cdm está completamente de acordo. só que, enquanto nos vinhos e espirituosas, a taxa de evasão fiscal (de acordo com um estudo do euromo nitor, ver tema nação) está nos 66%, nas

cervejas está nos 5%. e depois, há a questão da diferença que há entre a produção de cervejas, em muito maior quantidade...

Que torna o processo moroso, é isso? Sem dúvida. Até fizemos um estudo para perceber que, se formos incluir a sela gem no processo de produção de cerveja podemos registar uma quebra de pro dução que varia entre os 20% e os 40%.

Por fim, há ainda a questão da despro porcionalidade, pois é preciso olhar para aquilo que é o custo para a introdução da selagem face ao benefício que a mesma trará. com a quebra de produtividade, em linhas de enchimento que, por hora, produzem entre 40 mil e 60 mil garra fas, se perdemos uma tão grande per centagem de capacidade de produção, iremos vender menos, gerar menos re ceita, e isso reflectir-se-á no volume de impostos que pagamos.

Porque foi então incluída a obrigato riedade de selo nas cervejas? acredito que terá sido uma precipitação.

Na voz de... Junho 2018 36 bebidas
por dia, cerca de 50 milhões de pessoas de todo o mundo consomem pelo menos uma das marcas do portefólio global da abinbev

Então, uma medida para fazer au mentar a receita pode, na prática, fa zer com que ela diminua... É isso mesmo. Porque a receita fiscal le gislada foi aplicada para os três segmen tos das bebidas de forma igual, quando o das cervejas é claramente diferenciado, e isso está comprovado pelos números do que já pagamos em impostos. estamos e continuamos a fazer de tudo no sentido de elucidar quem de direito para que se reveja este posicionamento. na verda de, inicialmente quando foi aprovada a primeira legislação sobre esta matéria de selagem, as cervejas, pelo menos as localmente manufacturadas, estavam isentas do processo. o mais importante neste momento é que, de forma unâni me, aquilo que é indústria cervejeira, nós e os nossos concorrentes, estamos unidos na apiba e pensamos que não é razoável a introdução da selagem neste sector. e devo dizer também que, a nível mundial, existe selagem de bebidas em 80 países, mas só em cinco é que se aplica às cervejas.

Mas quando fala em quebras de pro dução na casa dos 30%, é algo preo cupante para uma empresa desta dimensão… naturalmente que sim, e acabamos por perder todos. o estado perde, a cervejas

de moçambique perdem e as 150 mil pes soas que estão na nossa cadeia de produ ção e distribuição também perdem.

Quem é que afinal ganha com tudo isto? quem ganha com a selagem? (sorri) é uma questão que deixo no ar.

No passado, a CDM chegou a entrar noutros segmentos, como as espiri tuosas, mas abandonou esse caminho. Sendo África um continente com po tencial ao nível das soft drinks, por exemplo, não planeiam alargar o le que de produtos disponibilizados? o nosso core business é a manufactura e comercialização de cervejas. é isso que nos distingue. mas, naturalmente, se

4,8

milhões de dólares

É a factura de impostos que a cdm paga mensalmente à autoridade tributária

surgirem as oportunidades certas pode ser que abracemos outras áreas. depen de muito do mercado, do timing… dou -lhe um exemplo curioso: recentemente, com a escassez de água na áfrica do sul suspendemos a produção de cerveja e apostámos no fornecimento de água às comunidades. Esse acontecimento reflec te a visão do grupo, de estar integrado na comunidade.

A cerveja é um dos poucos produtos verdadeiramente ‘made in’ Moçambique. Sendo que a CDM já detém uma fatia de mercado claramente predominante no mercado nacional, com uma quota acima dos 90%, é viá vel apostar no aumento da exporta ção que hoje é residual se compara da com a produção para o mercado interno?

temos orgulho em sermos das poucas indústrias nacionais em larga escala. embora as cervejas utilizem matérias -primas que são produzidas fora do país, como a cevada, temos tentado criar solu ções para incorporar cada vez mais ma téria-prima local, como a mandioca ou o milho de que falava, precisamente para fazer decrescer o peso da importação na produção, contribuindo para a pro dução interna. e depois, há a lógica da exportação. somos uma empresa global e em 25% dos mercados em que opera mos temos uma fábrica que o abastece. no entanto, já exportamos actualmente para a áfrica do sul, portugal, inglater ra, e estamos a estudar a possibilidade de o fazer para a austrália. não ne cessariamente numa lógica comercial porque nem teríamos capacidade pro dutiva para tal. mas a médio ou longo prazo pensamos em “voar alto” para os mercados internacionais com as marcas nacionais.

Em praticamente todos os mercados existem habitualmente dois ou mais grande concorrentes no segmento das cervejas. Em Moçambique e com a Heineken a prometer crescer, como é que a CDM olha para a concorrência? o mercado interno tem potencial de crescimento, porque o consumo médio de cerveja ainda está abaixo da média regional. e é por isso que, desde que as regras do jogo sejam iguais para todos a concorrência é sempre bem-vinda,

Junho 2018 37
texto PEdro CativElos fotografia Jay Garrido Muita cerveja: as cinco linhas de enchimento produzem até 60 mil garrafas por hora

Febre imobiliária toma conta da ilha de moçambique

Uma azáfama inusitada tem perturbado a dolência contemplativa da Ilha de Moçambique, em Nampula. Os insulares da província dos Macua preparam, com afinco, a celebração dos 200 anos de elevação a cidade da primeira capital do país que lhe tomou o nome. E querem-na, em Setembro, com o esplendor de outrora

ilha de moçambique. Situada a nor deste, prenhe de ruínas majestosas si nalizando tempos de fulgor mercantil –quando se trocava ouro, marfim, tecidos, especiarias e homens feitos escravos –, é nesse burgo que decorrem bastos traba lhos, embora de pequena escala, visando a recuperação dos grossos edifícios. Não se trata apenas da vaidade natural dos ilhéus, ilustrada pela máscara alva de mussiro – creme natural que nutre e suaviza a pele – recobrindo o rosto das mulheres da Ilha, mas da urgência em manter o título de Património da Huma

nidade (atribuído pela UNESCO em 1991) e receber condignamente os convidados para a festa do aniversário. Com a efeméride, também se procura relançar o turismo, que tanta falta faz à economia local, demasiado depen dente dos humores do mar e do peixe que ele decide parir.

E, como resultado imediato desse esforço há agora um novo mercado instalado na Ilha – o do imobiliário. Nada barato e que poderá revelar-se perverso, levando à gentrificação daquela língua de coral on de vivem pouco mais de 65 mil pessoas.

província NaMpula

Lugar Ilha de MoçaMbIque área 184 km2 popuLação 65 700 região NoRTe

Junho 2018 38
província
Nampula

O processo de restauro do edificado na chamada Cidade de Pedra e Cal, e prin cipalmente no Bairro do Museu, onde se encontram os grandes prédios cuja cons trução remonta ao século XVII, embora já viesse ocorrendo desde o alvor des te milénio, conheceu novo fulgor quan do arrancou a organização das come morações do bicentenário da cidade. “Segundo o levantamento feito em 2016, identificámos 421 ruínas de risco”, diz Agostinho Mabote, da Protecção Arqui tectónica, Histórica e Arqueológica do Gabinete de Conservação da Ilha de Mo çambique (GACIM). Excepto por alguns edifícios institucionais e meia dúzia nas mãos de particulares, tudo o resto indi ciava o colapso iminente.

Face ao diagnóstico alarmante, o Conse lho Municipal tentou evitar a catástrofe com pedagogia impositiva. “O Município consciencializou as pessoas para a ne cessidade de reabilitação. Se não fosse a casa toda, pelo menos as fachadas. E, em 2016, avisou que, quem não reabilitasse as casas, corria o risco de perdê-las”, re corda Mabote.

A ameaça surtiu efeito, mas talvez não o esperado: “Provocou um fenómeno – os titulares dos imóveis acabavam por ce dê-los a estrangeiros e mudarem-se pa ra a zona de Macuti”, na outra metade da Ilha, divida entre a Cidade de Pedra e Cal e a Cidade de Macuti, com a fronteira virtual riscada pela Igreja Nossa Senho ra da Saúde, construída pelos Padres Ca puchinhos no século XVII.

estratificação social na cidade dividida A Cidade de Macuti encontra-se no lado Sudoeste da Ilha de Moçambique e foi, desde sempre, o aglomerado mais pobre, de construção precária e algo desorde nada. As casas dos bairros anárquicos de Litine, Macaripe e Esteu nasceram na depressão legada pela pedreira que, nos séculos XVIII e XIX, serviu para fornecer o material que levantou as opulentas ca sas setecentistas do Bairro do Museu. É por isso que, conforme se vê hoje, aque le casario de vielas estreitas e arenosas, cheias de lixo e crianças à solta, tem as coberturas ao nível da estrada, o que re dunda em alagamentos inevitáveis na época das chuvas.

É para lá, para a Macuti – assim chama da devido à cobertura do casario, feita de folhas de coqueiro, entretanto ren didas pela chapa zincada – que, agora como dantes, rumam os menos abonados. Gerando um outro mercado, dedicado ao aluguer de casas para gente de baixa

A diferença de preços entre a Macuti, em que um T2 custa 600 mil meticais, e a Pedra e Cal, em que a mesma tipologia pode pode valer 2,5 milhões de meticais é brutal. E tende a aumentar

renda e impulsionado pela instalação da Universidade Lúrio em 2017. A academia trouxe à Ilha, entre professores e alunos, cerca de 240 novos residentes no tempo lectivo, e uma benesse para muitos, como confessa Anrane Omar Anrane.

O guia turístico de 29 anos encontrou, na massa estudantil, complemento para a escassa verba que a actividade prin cipal lhe proporciona: “Há muita procu ra de quartos pelos estudantes. Como não têm dinheiro para viver na Cida de de Pedra e Cal, vão para a Macuti. E lá alugo-lhes quartos por mil meticais ao mês, que já conseguem pagar”, afirma Anrane. Porém, mais do que estudantes ou funcionários públicos, os novos inqui linos da Macuti são, afinal, os velhos resi dentes da Ilha.

A troca de residência engendrou nova profissão local, exercida na informali dade habitual – o mediador imobiliário. Encontramo-lo no terraço do bar Flor de Rosa, fruindo da brisa vespertina tem perada pelo Índico: “O meu contacto já está nas mãos das pessoas e, se apare ce um cooperante ou alguém a precisar de casa, a primeira sugestão é o Fifty!”, apresenta-se. Fifty, baptizado Braimo

Fumo há 31 anos, quando nasceu na Cidade de Pedra e Cal, é um veterano no negócio e, por conhecer tão bem o mercado, traz nele uma mágoa antiga: “Uma coisa que me põe doente é alguém ser natural da Ilha e vender a casa por 150 mil meticais, quando hoje podia ven dê-la por 150 mil dólares”, rumina, em velada censura aos próprios pais, hoje residentes em Macuti.

Segundo Fifty, a diferença de preços en tre a Macuti e a Pedra e Cal é abissal: “Uma casa T2 ou T3 pode custar entre 600 a 700 mil eticais na Macuti; no Bairro do Museu (núcleo da Pedra e Cal), é sem pre a partir dos 2,5 milhões de meticais. E em mau estado”, garante. Dos clientes que lhe solicitam os serviços, “a maioria é gente de fora, que tem condições de comprar uma ruína e vir de férias. Há mesmo muito estrangeiro!”, realça Fifty.

regras apertadas oneram recuperação Uma fartura de forasteiros na inver sa proporção dos locais, empurrados para fora da Cidade de Pedra e Cal pela miragem do dinheiro fácil ofer tado pelos investidores, expatriados quase todos, com capacidade para res

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Preços dispararam: stock imobiliário cada vez mais dividido entre ricos e remodelados, e pobres e abandonados

ponder às imposições regulamentares. Em 2007, eram 11 mil as casas da Ilha. Hoje, serão cerca de 15,5 mil habitações, de acordo com os dados do último censo do INE, de 2017. “Pelo custo de reabilitação, percebeu-se que são os estrangeiros que estão por detrás dos pedidos de licencia mento de obras”, refere Mabote. E o custo não é pequeno, bem pelo contrário. Desde logo, devido às condicionantes do Decreto 27/ 2006, de 13 de Julho, o qual determina, no Art. 6.º do Capítulo II, que “a conserva ção, restauro, reabilitação e manutenção do património edificado da Ilha de Mo çambique devem ser feitos com estrito respeito às características (terraços e fachadas) e ao material original utiliza do nas construções (pedra, cal e macuti)”.

mudança à vista Esse é um dos problemas quotidianos de Ricardo Otero enquanto director da obra do balcão do BCI na Ilha, a cargo da cons trutora Mozago. “O custo directo do ma terial que se encontra cá – calcário co ralino, a cal e as madeiras –, até é rela tivamente barato”, calcula, “mas a quan tidade necessária aumenta muito o custo global das obras”. Por um lado, o fabrico da cal, para argamassa do reboco e caia mento, é moroso; e, por outro, há mate riais que rareiam. “O acesso à madeira mecrusse, espécie local de uso tradicio nal, é cada vez mais difícil, porque, em bora ainda se possa usar, está protegida devido à exploração ilícita”. Acresce o custo da insularidade. “Muitos dos materiais incorporam ainda os cus tos de transporte mais as margens dos intermediários. No fundo, a logística é o que pesa mais. As distâncias e os tempos encarecem tudo”, contabiliza o jovem en genheiro civil, português de Braga. No que ao tempo respeita, avulta o peso da mão-de-obra. Os homens da Mozago que labutam na esquina fronteira à Igreja da Misericórdia destacam-se dos pequenos estaleiros espalhados pela ci dade de Pedra e Cal pelo laranja do far damento rigoroso, conforme às normas da higiene e segurança no trabalho, e disciplina exemplar.

Mas, sendo humanos, há factores im possíveis de controlar: “Os operários locais sabem que, concluída a obra, acaba a fonte de rendimento. Assim, para cumprir prazos, em vez de se contratar ao mês, que seria mais ba rato, tem de ser por empreitada”, indica Otero. “Outra dificuldade é o facto de a maioria da população (95%) ser muçul mana, pelo que, no Ramadão, a produti

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Nampula
rovíncia
A Ilha vista do céu: pequena em dimensão, é um dos territórios com mais história em Moçambique

vidade baixa drasticamente”, lamenta. E, face a tais custos, nem todos respei tam com o escrúpulo da Mozago as re gras construtivas. Gabriele Mellazi, mi lanês radicado na Ilha há 18 anos, já as sinou ali mais de 40 intervenções desde que projectou a recuperação do Escondi dinho, na Praça das Amoreiras. Assistiu ao devir mercantil e admite, pesaroso, a elusão do normativo por al guns empreiteiros visando mitigar cus tos. “Sou um dos quatro arquitectos ‘ofi ciais’ da Ilha e, até pelos princípios éticos que recebemos na faculdade, tentamos fazer respeitar as recomendações da UNESCO. Infelizmente, nem sempre com êxito”, admite. O emprego de cimento, por exemplo, é visível a olho nú em muitas das obras em curso na Ilha de Moçambique. Os técnicos do GACIM, a quem cabe ze lar pelo respeito regulamentar e licen ciar obras, têm noção das prevaricações. E actuam, não raro de forma preven tiva, embora a estatística possa transpa recer outra realidade: “Em 2016, o GACIM deu cerca de 22 pareceres favoráveis a obras de reabilitação, no ano seguinte, em 2017, passou 27 e, este ano, vamos já em 14 – estamos mesmo a andar!”, exulta Agostinho Mabote. Para logo referir que, ainda assim, os pedidos vão muito para além destes números. “O problema é que as pessoas, ao perceberem que as ruí nas valiam dinheiro, começaram a rei vindicá-las. Temos mais pedidos de via bilidade mas, como se não consegue sa ber quem são os legítimos proprietários, fica difícil”, assinala.

mil habitações

Em apEnas uma década, o númEro dE habitaçõEs da ilha, crEscEu cErca dE 30%. dEpois, a crEscEntE procura turística fEz com quE o património imobiliário dEtido por naturais da ilha, mudassE dE mãos, dando lugar a novos nEgócios

Garimpo nas ruínas de ninguém

É usual viverem, dentro das ruínas cujas paredes alcançam um metro de espessura, famílias prolíferas e transge racionais, sem documentação que ateste a propriedade excepto a longevidade da ocupação. Negociar nessas circunstân cias, de múltiplas reivindicações àvidas de dinheiro instantâneo, é um tormento. Que o diga Jorge Ferraz. A gerir o res taurante Karibu, um dos melhores da cidade, chegou à Ilha disposto a recu

15perar o vasto edifício onde agora fica o Feitoria Boutique Hotel, na Rua Amílcar Cabral, e dar continuidade à experiência hoteleira contraída em Joanesburgo, na África do Sul. “Viviam na ruína cerca de 14 famílias. Foi preciso muito tempo para chegar a acordo com elas, e tivémos de contar com a ajuda das autoridades religiosas locais ao longo de todo este processo. Foi oneroso e muito, mas mes mo muito desgastante”, afirma. De tal modo que, surgida a oportunidade, des fez-se do imóvel.

Outros, porém, levam a termo os objec tivos – converter o velho burgo colonial num vasto parque hoteleiro. Mabote não tem dúvidas: “Fora os edifícios institu cionais, todas as reabilitações são para exploração comercial”.

A verdade, torna-se incontestada. E a estatística confirma a natureza da com pra, venda e troca de imóveis na Ilha – em 2005, havia 89 camas para visitan tes; hoje, segundo o GACIM, são já 428 para receber os 11 000 forasteiros (7 000 deles estrangeiros) que demandam à Ilha to dos os anos.

No futuro que se avizinha, a Cidade de Pedra e Cal, com a desejável inflação do afluxo turístico e correlativa conversão de imóveis, ficará repleta de residentes ocasionais e vazia dos seus habitantes... habituais. E assim tornar-se-á na colónia, de férias, de um grupo de estrangeiros afortunados.

Mabote, sempre optimista, vê nesse ho rizonte o desenvolvimento económico que sempre tardou em chegar por es tas bandas: “No fundo, isto acaba por ser bom porque cria emprego durante a rea bilitação e, depois, emprego permanente – a hospedagem garante logo, no mínimo, três ou quatro postos de trabalho”. Entre consequências imediatas, e a mais longo prazo, a verdade é que há mudan ças que se tornarão incomportáveis para os próprios ilhéus. Senão o serão já – se gundo Mabote, “uma ruína Tipo 3, sem tecto nem janelas, custa aqui (Cidade de Pedra e Cal) 1,5 milhões de meticais, tran quilamente; em Nampula, uma casa igual, novinha, pronta a habitar, andará peos 1,2 milhões – já com muro e gradeamen tos...”. A troca até poderia compensar – se Nampula não ficasse a 200 quilómetros deste paraíso tropical, e acima de tudo, se a Ilha, não fosse de facto a casa que todos querem comprar, arrendar, e tornar sua.

Reabilitação: construções antigas estão a entrar no mercado de reabilitação com fim turístico

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texto Elmano madail fotografia Jay Garrido

mercado e finanças

Ethiopian airlinEs comEça Em Julho a sobrEvoar moçambiquE

A companhia não promete passagens baratas, mas assegura que vai praticar tarifas que possibilitem a “um cada vez maior número de moçambicanos o privilégio de voar”. A crescente concorrência no sector da aviação civil anima o empresariado nacional, que prevê o alívio dos custos de fazer negócios pelo país

a entrada da gigante africana ethiopian airlines (por diversas ve zes eleita a melhor companhia aérea de África e uma das que tem regista do maior ritmo de crescimento ao nível operacional) no mercado interno, marca o início de uma nova era da aviação co mercial em Moçambique. A da abertu ra ao mundo do espaço aéreo moçambi cano que, ao longo dos 42 anos da inde pendência foi dominado pelas Linhas Aé reas de Moçambique, a companhia de bandeira nacional. O primeiro vôo está marcado, oficialmen te, para 1 de Julho próximo, confirmando

o início da exploração das 108 rotas atri buídas à Ethiopian Airlines no ano passa do pelo regulador do mercado, o Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM). Tratou-se então, de uma medida histó rica, por criar espaço para que, pela primeira vez, uma companhia estran geira explorasse as rotas do mercado doméstico.

Em entrevista à E&M, o director-geral da companhia em Moçambique, Daniel Tsige, “assume os esforços feitos no sen tido de que comecemos em Julho de 2018. Garanto que estamos cada vez mais pró ximos de começar as nossas operações

em Moçambique. E a meta é, claro, come çarmos na data planeada”, insistiu. Nesse sentido, a Ethiopian Airlines admi te haver “alguns pequenos detalhes por acomodar,” principalmente no que diz respeito à contratação de pessoal para completar o quadro de funcionários já posicionados nos diferentes sectores que compõem a operação em território na cional: “creio que tudo o que ainda fal ta fazer estará resolvido antes da data do início efectivo das operações”, disse o responsável pela companhia.

Daniel Tsige não deixa de elogiar “o cli ma de cooperação saudável com o re

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gulador moçambicano (o IACM) e com as autoridades aeroportuárias (a em presa Aeroportos de Moçambique), si nónimo de que a Ethiopian Airlines está (obviamente) à altura das exigências destas entidades a diversos níveis, so bretudo no que diz respeito à segurança.” E prossegue: “Já progredimos muito rela tivamente aos procedimentos para ex plorarmos o mercado moçambicano. Es tamos na última fase de preparação e a mais importante é a que se segue: o iní cio das operações”, assegura Tsige. O IACM não conseguiu, em tempo útil, fornecer à E&M os dados actualizados so bre o processo de abertura do espaço aé reo e a entrada de novos operadores, in cluindo a Ethiopian Airlines. Mas em Se tembro do ano passado, aquando da atri buição da licença à companhia etíope, o Presidente do Conselho de Administra ção da instituição, o comandante João de Abreu manifestava uma natural “satis fação com este grande avanço”, que con siderava “essencial para o sector, bem como para toda a economia nacional.”

Ethiopian não será low cost Pode, para muita gente, ser uma desilu são. Mas, a verdade, é que ao contrário do que tem sido veiculado desde o anún cio da entrada da Ethiopian no merca do, dando conta de que as passagens se riam de baixo custo, a Ethiopian Airlines revela à E&M que efectivamente “não será assim”. O que a companhia admi te, é que “as tarifas serão competitivas”, dentro dos valores que o mercado prati ca actualmente. “Não iremos aplicar ta rifas baixas, mas também não vamos fazer os preços que são praticados pe las operadoras nacionais, quer na clas se económica quer na executiva. Quere mos praticar preços acessíveis ao poder de compra da maior parte dos moçam bicanos e criar condições para que mais pessoas tenham a possibilidade de via jar de avião”, explicou o director-geral da companhia. Outra promessa para os consumidores é a aposta da companhia na oferta de “serviços premium com um standard de qualidade de acordo com o que a Ethio pian Airlines tem oferecido em todos os destinos e mercados em que opera.”

Para se instalar em Moçambique, a com panhia aérea teve de recrutar técnicos formados fora, sobretudo na Etiópia. Segundo o director-geral da companhia, há um tipo específico de tarefas cujas qualificações ao nível das exigências da Ethiopian Airlines não existem em Mo

ReceitAs A AumentAR…

A receita da empresa tem registado aumentos sucessivos devido ao crescente reinvestimento na aquisição de equipamento e na internacionalização das operações para novos mercados

em milhões de dólares

… pAssAgeiRos

çambique. “Para essas tarefas específicas temos estado a contratar trabalhadores estrangeiros, provindos da Etiópia e de outros países em que temos operações. Mas posso garantir que o nosso principal objectivo era contratar quadros moçam bicanos porque a contratação estrangei ra sai mais cara e queremos efectiva mente poder contar cada vez mais com quadros nacionais”, assume Daniel Tsige, referindo-se principalmente a pilotos e técnicos de manutenção.

tAmbém

O crescimento do número de passageiros (e também do volume de carga) justifica, em grande medida, o crescimento de todos os indicadores de desempenho

2016 2016

2017 2017

em milhões

cRescimento geRou mAis postos de tRAbAlho

2 400 7,5

2 700 8,8

Em resultado do constante investimento, a Ethiopian tem vindo a aumentar o quadro de pessoal. Em dois anos, a companhia contratou cerca de 4 000 profissionais

número de trabalhadores

A Ethiopian Airlines diz ser esta “uma das suas agendas, “a formação de mo çambicanos para gradualmente substi tuir a mão-de-obra estrangeira utiliza da no arranque da operação. Temos essa experiência que já foi levada a cabo com sucesso noutros mercados em que ope ramos como o Malawi, Zâmbia, Togo.” Nesse sentido, prossegue, “iniciaremos a operação com mão-de-obra mais ex periente e com profundo conhecimento técnico que já trabalha connosco há mui to tempo. Por exemplo, queremos pilotos capacitados para operar os modelos de aeronaves que a companhia utiliza mais habitualmente. O mesmo deve-se passar em relação aos técnicos de manutenção. Quanto às outras funções, estamos em penhados em realizar curtas acções de treinamento porque já existe um grau de especialização elevado no mercado interno”, explica Tsige.

Quanto à frota, a companhia irá operar quatro aeronaves, um Boeing 737 e três da marca Bombardier Q400, que enten de serem adequados para a configura ção geográfica de Moçambique, por as segurarem eficiência no transporte de passageiros e de carga para curtas e longas distâncias.

Para já, a licença da Ethiopian para o espaço aéreo nacional concede-lhe o di reito de exploração comercial de 108 rotas que ligam todas as dez províncias nacionais.

destinos internacionais 98 aviões

Companhia etíope voa para mais de uma centena de destinos, nos cinco continentes É a frota anual da companhia etíope que prevê crescer para 140 aeronaves até 2025, por forma responder aos planos de expansão de médio-prazo 16 000 2017

No entanto, a Ethiopian Airlines irá, numa segunda fase, submeter o pedido de au torização para que, a partir de Maputo, possa começar a voar para outros desti nos no exterior, fazendo de Moçambique um hub regional.

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fonte ethiopian Airlines
100
menos custos e maior eficiência nos negócios Há muito que se faz notar a insatisfação de muitos eventuais consumidores (par ticulares e empresários) em relação aos elevados custos de passagens aéreas, bem como pelas limitações impostas pela insuficiência de meios das companhias nacionais para responderem à procura 12 100 2016

mercado e finanças

a levar a cabo para nos robustecermos ainda mais perante a abertura à concor rência”, revelou a fonte da direcção da companhia aérea nacional preferindo não avançar mais detalhes.

Não se conhecendo em detalhe o conjun to de medidas para o fortalecimento da estratégia de acção da LAM no mercado, há dados que permitem avaliar esse po sicionamento. Nomeadamente, na área das rotas de baixo custo.

Foi público, por exemplo, o memorando assumido em Março deste ano com a com panhia aérea Fast Jet, que opera no mer cado doméstico low cost desde Novembro de 2017.

do mercado interno. A concorrência, pela razão óbvia, ajudará a baixar os pre ços das tarifas e a melhorar a quali dade dos serviços prestados, trazendo consigo um maior grau de eficiência. É dos livros de economia esta lógica, e só pode ser boa para tornar o mercado mais competitivo, a todos os níveis.

Por isso não é de admirar a satisfação do empresariado com a entrada da Ethio pian Airlines no mercado, mesmo saben do que esta não irá operar numa lógica de segmento low cost.

Ouvido pela E&M, o vice-presidente da Confederação das Associações Económi cas (CTA), Castigo Nhamane, sublinha este aspecto e entende que haverão van tagens: “a LAM cobra muito alto pelas passagens, aplica muitas taxas, algumas das quais não se sabe para que servem. Creio que até para a própria LAM será benéfica esta competitividade interna.”

lam mais forte

A CTA aponta mesmo o elevado cus to das passagens como uma “barrei ra decisiva para o desenvolvimen to do turismo” e chama atenção para que a LAM se prepare técnica e finan ceiramente para enfrentar a Ethio pian Airlines, pois de contrário irá per der o mercado. “Todos acreditamos que o conseguirá fazer. Para o consu

108rotas domésticas

Foram atribuídas à Ethiopian airlinEs pElo instituto dE aviação Civil dE moçambiquE , E vão pEr mitir ligação a todas as Capitais provinCiais

midor final, será bom, certamente.”

A E&M procurou saber que medidas a LAM está a levar a cabo para enfrentar uma concorrência da dimensão daquela que Ethiopian prometer oferecer. Um dos representantes da instituição assumiu alguma inquietação interna mente e garantiu que a companhia de bandeira nacional “já realiza uma série de acções” para se fortalecer, bem como à sua posição no mercado: “como compa nhia aérea e instituição que opera no negócio da aviação civil consideramos bem-vinda a concorrência. Mas não va mos divulgar a estratégia que estamos

Esse documento prevê uma lógica de cooperação comercial “abrangente e de longo prazo com vista à optimização de sinergias nas operações de vôos para destinos comuns e complementares, bem como a cooperação em outras acti vidades comerciais, carga, engenharia e manutenção”, estando actualmente em avaliação, ao que apurámos, um apro fundamento desta parceria por parte das companhias lideradas por António Pinto (LAM) e Nico Bezuidenhout (Fastjet). A mesma fonte próxima da direcção da LAM, adianta alguns desses caminhos: “por exemplo, o excedente de passagei ros que procuram a LAM pode ser ca nalizado para a nossa parceira, mas os moldes de compensação devem ser de vidamente estudados porque a Fastjet não dispõe de técnicos de manutenção de equipamentos (incluindo aeronaves). O mesmo sucederá em relação aos ser viços de check in partilhados”, adianta. Durante vários anos, a lógica que domi nou o mercado da aviação civil demons trava relutância em relação à concor rência, apesar de Moçambique até ser signatário do tratado de Yamoussoukro (Costa de Marfim) de 1999, que preco niza a abertura do espaço aéreo para promover a cooperação económica. E se os efeitos desse fechar de portas foram de facto prejudiciais ao mercado, também o terão sido para a própria com panhia nacional, que procura recuperar as milhas aéreas entretanto perdidas. Um facto reconhecido pelo próprio Pre sidente Filipe Nyusi, quando visitou a empresa recentemente e admitiu que era preferível “abrir espaço para novos operadores, porque senão, teria de se começar a pensar na sua privatização.”

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tExtO Celso Chambisso fOtOgrAfiA Jay Garrido
daniel tsigue, director-geral da ethiopian: “vamos ser competitivos”

PHC, Uma emPresa antiga, Com alma de startUP

No mercado nacional desde 1998, a PHC é líder no segmento das soluções de software de gestão empresarial. E apesar da conjuntura desafiante, o negócio corre melhor do que nunca

Bempresa PHC Software MoçaMbique FundaÇÃo 1998 FunCionÁrios 100 nÚmero de parCeiros 20 nÚmero de Clientes 500

FaCturaÇÃo

10,8

milhões de euros novos Clientes

1 227

Pelo terceiro ano consecutivo o grupo registou globalmente um crescimento do volume de negócios com valores recorde fruto deste número, a PHC internacional anunciou o crescimento do volume de negócio internacional em mais de 26%

merCados 5

a empresa conta com um total de 182 colaboradores nos seus escritórios de Lisboa, Porto, Madrid, Luanda, Lima e Maputo

fundada em 1989, a PHC Software, é uma empresa multinacional que desenvol ve ferramentas de gestão e que, apesar de ter sido funda da em Portugal, rapidamente escolheu Moçambique como o primeiro mercado para se in ternacionalizar, “pelo poten cial que sempre demonstrou.” Depois, expandiu-se para An gola, Perú e Espanha, mas o mercado nacional é um dos que tem registado um cres cimento assinalável ao longo dos últimos anos, “Sem dú vida. Só nos primeiros qua tro meses de 2018 estamos a crescer 40% face ao período homólogo”, revela João Sam paio, director da unidade internacional da empresa. “A nossa filosofia é a de uma startup, apesar dos nossos quase 30 anos de existência. Estamos constantemente em busca de inovação e reinven ção. Por isso, não só em Mo çambique, continuamos com taxas de crescimento de dois dígitos, um óptimo sinal, espe cialmente numa indústria tão competitiva como a nossa.” Num ecosistema económico que não tem sido favorável, o ramo das soluções de software de gestão, tem estado a ga nhar tracção, alavancado pela necessidade de criação de padrões de clareza das

contas das empresas públi cas e privadas, algo espe cialmente importante numa economia que se relacio na com doadores externos como é o caso da moçam bicana. “Sem dúvida, essa é uma tendência, de todos os mercados onde estamos, e pretendemos fazer par te dessa evolução”, assume. Dos mais de 500 clientes da PHC em Moçambique, des tacam-se algumas grandes empresas nacionais como a Aeroportos de Moçambique, CFM, Águas de Maputo ou o Ministério da Economia e Fi nanças. “Moçambique é um mercado que claramente re conhece a nossa presença e os nossos clientes sabem que es tamos cá para ficar”, garante. Para o responsável pelos mer cados internacionais da PHC a concorrência é “positiva”, diz, até para “o alcance do crescimento deste segmento de mercado”, explica.

Já o factor diferenciador é, na opinião de João Sampaio, “uma plataforma tecnológica adap tável às necessidades do par ceiro, seja ele micro ou uma grande empresa, em qual quer ramo de actividade.”

empresas Junho 2018 46
businessatspeed
texto Hermenegildo langa fotografia Jay garrido
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fastjet auMenta vôos doMésticos

De acordo com a companhia aérea recém-entrada no mer cado aéreo nacional, (em No vembro de 2017 tornou-se a pri meira companhia estrangeira a fazer vôos domésticos em Mo çambique. as ligações domésti cas entre Maputo e a cidade da Beira, assim como a rota Mapu to-Tete, passam a ter mais duas rotas diárias.

Para a Fastjet, o objectivo passa por “responder à demanda pro vocada pelos atrasos e cancela mentos de vôos do outro ope rador do mercado”, assume a companhia, em comunicado.

fidelidade aposta nas start-up

seguradora apresentou programa de incentivo à inovação tecnológica na Moztech

Mastercard e faceBook lançaM sisteMa de pagaMento digital

Para contribuir para a entrada no mundo (e na economia) digital de milhares de pequenas empre sas africanas, a Mastercard in troduziu recentemente um me canismo de pagamento digital em colaboração com o Facebook Messenger.

De acordo com um comunicado da Mastercard, é já possível con figurar contas monetárias digi tais que, com códigos QR, per mitem efectuar e receber paga mentos, com o intuito de “ampli ficar o acesso de pequenas em presas e empresários a novos mercados melhorando os seus meios de subsistência.”

Numa primeira fase, o sistema estará disponível na Nigéria.

standard Bank anuncia produtos e serviços digitais

Fornecer serviços inovadores assentes na segurança, rapidez e simplicidade, é objectivo do lançamento das Terminais de Caixas Automáticas (ATM) de depósitos que permitem depo sitar valores em conta de ter ceiros e dos serviços de auten ticação de utilizador no NetPlus App/mobile banking com recur so à impressão digital. De acor do com o Standard Bank, esta inovação permite também, a abertura de conta num proces so online. A iniciativa surge em resultado de pretender acom panhar a dinâmica do mundo tecnológico para além de asse gurar a qualidade de vida das pessoas e o progresso das na ções. E ainda, o processo inse re-se na facilitação do acesso dos seus serviços aos clientes.

“inovar e apoiar as startup nas áreas de insurtech, fintech e healthetech”. Numa iniciativa designada Pro techting, a Fidelidade-Moçambique anunciou que pretende, desta forma, impulsionar o empreendedorismo local através da criação de facilidades para o apoio à inovação tecnoló gica. De acordo com Carlos Leitão, director-geral da Fideli dade Moçambique, “através do Protechting”, programa de aceleração de startup, a seguradora pretende reforçar a sua posição enquanto empresa “tecnológica, inovadora e pro motora de desenvolvimento de novos projectos que neces sitam de apoio para o seu avanço e inserção no mercado.” Presente no mercado moçambicano desde 2014, e sendo a terceira seguradora mais antiga do mundo a FIdelidade Mo çambique apresenta-se atenta, às tendências sociais, do mercado nacional:“A nossa ideia é reflectir sobre o que não existe ainda e o que podemos trazer, enquanto empresa com um grande passado, para sermos diferenciadores no merca do moçambicano”, sublinha Carlos Leitão, explicando ainda que, “os candidatos do Protechting competem por um pré mio de dez mil euros, e pela participação numa incubadora na China (país em que fica a sede do grupo Fosun, empresa detentora da FIdelidade).”

O Protechting foi anunciado no decorrer da quinta edição da feira tecnológica de Moçambique, (MOZTECH).

A Fidelidade é a terceira seguradora mais antiga do mundo. A sua estratégia de expansão e internacionalização abrange Espanha, França, Luxemburgo, Cabo Verde, Angola, Macau e Moçambique, onde, desde 2014, conta com 46 colaboradores.

Banco central cria incuBadora para serviços financeiros

A configuração de um ambiente propício para a expansão dos serviços financeiros, é um dos objectivos do Banco de Moçam bique (BM). Nesse sentido, foi anunciada em Maio a criação da primeira incubadora de em presas a ser criada dentro do Banco Central, que deverá ser dedicada, de acordo com a co municação do BM, “à inclusão financeira com recurso a tecno logias de informação.”

O projecto será financiado pela Suécia e Reino Unido, e propõ-se a facilitar “o acesso a formas de pagamento, remessas e criação de poupança as empresas.”

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Turismo será força económica decisiva

moçambique tem um enorme potencial turístico para o qual, só recentemente o mundo parece começar a despertar. No entanto, e porque é de via gens que se fala, há pouco mais de duas décadas, uma família moçambicana teve a coragem de se aventurar em território desconhecido, e fez nascer a Cotur, o mais reconhecido operador tu rístico do mercado nacional. Noor Momade, a face visível da empresa, é também PCA da AVITUM, a associação que procura fazer do turismo uma força motriz da economia.

Qual é a sua relação com o turismo: uma paixão, um desafio ou uma missão? É tudo isso. O sector do turis mo, como qualquer outro, tem as suas dificuldades e amea ças, que requerem criativi dade para as solucionar. É tudo uma questão de paixão, na medida em que exerço a minha actividade no sector com um gosto profundo e por amor a algo que nos últimos anos conquistou o estatuto de causa nacional. E é igualmen te uma missão, claro. Um dia

quero olhar para trás e ver que, em conjunto com os meus parceiros, consegui dar uma contribuição para que o tu rismo evoluísse no país.

A Cotur nasceu ainda nos anos 90. Havia já mercado nessa altura?

Era tudo diferente. Alguns po dem ter pensado que éramos uns aventureiros ao criar a Cotur, poucos anos após o fim da guerra civil que tinha des troçado o país em vários as pectos. Não havia nada que pudesse indiciar a prática do turismo. Creio que, ao longo destes anos, a Cotur terá tido a sua modesta contribuição para a construção de uma percepção positiva de um sector cada vez mais impor tante na economia.

Como se pode medir essa contribuição?

Naturalmente que todo o reco nhecimento e prémios inter nacionais que temos recebido por muitas das nossas acções são um incentivo para qual quer pessoa ou instituição empresarial. Não somos, de todo, uma excepção.

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O turismo é assumido como uma das alavancas da eco nomia, mas a contribuição para o PIB ainda é diminuta. Como se altera a situação?

É de saudar que o Presiden te Filipe Nyusi tenha colocado o turismo como um dos pila res da economia. Inspirados no hino nacional, que diz “mi lhões de braços e uma só for ça”, todos, sem excepção, de vemos dar o nosso contributo para construir e materiali zar este desígnio nacional. Devemos orgulhar-nos da marca de identidade do povo moçambicano, a hospitalida de, para que possamos eter nizar o consagrado ditado po pular “Moçambique, quem te conhece, não te esquece”.

Noor Momade, nasceu em Nampula e tem formação em gestão de empresas. o seu percurso profissional conta uma história de mais de duas décadas dedicadas aos turismo. fundador da Cotur, formou com outros colegas a associação das agências de Viagem e operadores turísticos de Moçambique –aVitUM, em 2012, onde é também presidente em exercício, cargo que acumula, desde 2017, com a liderança do pelouro da cooperacão económica e relações exteriores da Confederação das associações económicas de Moçambique, a Cta

Esse é também o objectivo traçado para a Avitum Sem dúvida. Há grandes de safios e é por isso que a asso ciação é parceira do Governo na harmonização das prin cipais questões do sector, li derando os processos nego ciais necessários para fazer do turismo uma força econó mica decisiva no crescimen to do país..

Como se perspectiva o futu ro do turismo nacional? A de um futuro risonho e acre dito que o país será um dos melhores destinos turísticos em África. É algo que está ao nosso alcance, pelo potencial natural e garantida que está a manutenção da paz efecti va uma condição essencial.

Turismo

Contribuição do sector para as contas nacionais é ainda reduzida, mas há cada vez mais investimentos e os agentes contam com o apoio do Governo para melhorar desempenho

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do mês
texto Cristina freire fotografia Jay Garrido
curriculum vitae

turismodemoçambique

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sociedade Junho 2018 52

Problemas antigos, soluções inovadoras

Acabou por se tornar um cliché aos olhos do mundo, a imagem de uma África descalça e com fome. Ela continua a existir claro, mas coabita hoje com realidades impensáveis há uns anos. Como o movimento continental de mudança que se baseia na inovação tecnológica levada a cabo por milhares de startup que atingem expressão mundial a partir de países como o Quénia

chama-se ‘abinbev sustaina bility challenge for africa’s top innovators’ e o objecti vo do projecto é permitir que um conjunto de startup de to do o continente possam criar soluções inovadoras que vão ao encontro dos 17 Objectivos do Desenvolvimento Susten tável (ODS), subscritos em 2015 numa cimeira global da ONU, por mais de 150 países. A Incubadora do Standard Bank, em Maputo acolheu o lançamento de uma iniciati va que promete dar 50 mil dólares às ideias vencedoras, criadas por startup nacionais que conseguirem criar as me lhores soluções para os gran des problemas de África e do Mundo. Numa iniciativa on

de, de acordo com Hugo Go mes, administrador da CDM, “se lança um apelo à juventu de para que assuma a dian teira na produção de soluções inovadoras para questões tão essenciais como a fraca pro dução agrícola, as mudanças climáticas, ou os efeitos nefas tos de muitos dos males cau sados pelo Homem. Queremos dar o nosso contributo para criar um catalisador que pos sa eliminar algumas das bar reiras que frustram as acções dos agentes de desenvolvi mento”, diz.

Muitos destes temas, torna ram-se clichés, de tanto serem repetidos em textos e ima gens. Uma África de miséria. No entanto, o que aqui se

gomes,cdm

H u g o

mudar o mundo “

Esperamos que iniciativas como esta incentivem os jovens de Moçambique e de toda a África a criarem soluções inovadoras para os problemas que nos afectam há já demasiado tempo”

pretende é a fusão de dois mundos. Ou melhor, a sua complementaridade. Por muito que se queira, não se pode fugir aos dilemas que muitas regiões de África en frentam, tão antigos, quan to reconhecidos de todos. Condições meteorológicas ex tremas, recursos naturais em abundância mas com a rique za pouco distribuída pelas vá rias camadas sociais, reduzida produtividade dos recursos -humanos, défice de inovação, altas taxas de custos de insu mos, reduzido acesso à terra e falta de mercados sustentá veis. “São as grandes barrei ras ao alcance de resultados que correspondam às expec tativas da classe produtora

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sociedade

São cinco os desafios de desenvolvimento sus tentável que os jovens empreendedores de todo o continente africano terão de incluir nos seus projectos.

Preconiza a busca de soluções inclusivas de alto impacto que melhoram o acesso dos produtores a recursos, produtos e processos agrícolas.

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Procuram-se soluções inovadoras para expandir o acesso a serviços de água e saneamento aos domicílios sem acesso a fontes de água potável.

familiar africana”, sublinha. Mas África não é só isso. As estimativas em relação ao número de novas empre sas startup no continente, não sendo definitivas, mostram -nos que existem já mais de uma centena hubs de inova ção espalhados por todo o con tinente. E se em 2012, havia apenas cerca de 40 milhões de dólares de edge funds investi dos neste tipo de projectos, em 2018, estima-se que esse valor já ascenda aos 600 milhões, o que é demonstrativo de que algo está a mudar. “África é um berço para a inovação e uma importante fonte de so luções para mudar o mundo. Com uma população de 1,2 mil milhões de pessoas, uma clas se média em ascensão e uma impressionante taxa de cres cimento na utilização de tec nologias mobile e acesso à internet (no Quénia, por exem

A busca por uma solução que ofereça suporte a comunidades de baixa renda para se adaptarem e aos desafios das mudanças climáticas.

plo, 99% das assinaturas de in ternet estão associadas a uma operadora de telecomunica ções), África parece ser assim, um dos lugares onde ser em preendedor, pode realmente fazer a diferença.

novas soluções

Para a ABInBev (uma das mui tas multinacionais que, por via das suas políticas de res ponsabilidade social têm, nos últimos anos, apostado nes ta via de premiar ideias ino vadoras de jovens africanos) a inovação pode mesmo ser a solução para mudar a face negativa de muitos dos pro blemas socio-económicos de África e do Mundo, usando as novas tecnologias como fon te de geração de soluções efi cientes para fazer face aos desequilíbrios das socieda des africanas. “Não podemos alcançar nada disto sozinhos

O que fazer com fluxos de resíduos transformando-os em recursos geradores de valor, ajudando a garantir um futuro sem desperdício.

África é mais do que isso. São milhares de startup alinhadas para fazer a mudança acontecer. Das pequenas coisas do dia-a-dia, até aos grandes problemas do continente. E tudo, pela via da tecnologia

A procura de uma solução comercial inovadora que ajude a solucionar o problema do desemprego conjugando todos pontos anteriores numa solução.

e, é por isso que lançamos globalmente os nossos objecti vos de sustentabilidade”.

Para Godfrey Munedzi, do Standard Bank, um dos apoiantes da campanha, os problemas que o continente africano enfrenta “não são de agora, e é por isso que preten demos fazer da iniciativa um motor de soluções que res pondam positivamente aos múltiplos desafios sectoriais, com enfoque para a área agrícola (tecnologia, forma ção e acesso ao financiamen to), hídrica (nomeadamente a escassez e optimização de re cursos), ambiente (utilização cada vez maior de fontes re nováveis, sendo que a agenda de desenvolvimento preconi za que até 2025 sejam corres pondentes a um terço do total da oferta energética existen te), e novas soluções de reci clagem adaptadas à reali

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AS CinCo mEtAS Do DESEnvolvimEnto

dade social de vários países africanos”, diz à E&M.

Sendo a agricultura o sector que serve de base à generali dade das economias africanas (a par das diferentes indús trias extractivas) é por ela, que passa igualmente o futu ro de um continente onde se prevê um enorme salto popu lacional na próxima década. Assim, um vasto grupo de jo vens empreendedores de Mo çambique, Botswana, Gana, Lesoto, Tanzânia, Namíbia, Zâmbia, África do Sul, Nigé ria, Uganda e Suazilândia tem a oportunidade de ela borar projectos inovadores nas cinco áreas indicadas (agricultura inteligente, ges tão eficiente de água, acção climática sustentável, emba lagem circular e empreen dedorismo) que contribuam para o alcance dos ODS. “Es tamos à procura dos verda deiros empreendedores afri canos que nos possam ajudar a encontrar soluções para al guns dos desafios enfrentados pelo continente”, sublinhou.

As melhores ideias, serão premiadas com uma visita de trabalho a Silicon Savannah, em Nairobi.. O Quénia é, de resto, um bom exemplo para Moçambique.

A iHub, do Quénia é um ecos sistema local que começou a formar-se, em 2010, em tor no da tecnologia, com hubs de inovação, fundos de capital de risco e, claro, boas ideias. quando surgiu, tinha 2 mil membros. Hoje, são mais de 18 mil, os jovens empreendedo res que, por ali, procuram in ventar o progresso.

E é ali, que os jovens nacionais que vencerem o desafio pro posto pela ABInBev, poderão ir parar também, Mas o vencedor terá um acompanhamento específico de uma incubadora em Nova Iorque durante dez semanas, e concorrerá com outros pro jectos vencedores dos outros continentes, uma vez que a iniciativa é desenvolvida nos cinco continentes.

Para Hugo Gomes, esta inicia tiva “é uma forma de acção concreta para evitar que os grandes problemas predomi nantes no continente sejam

ultrapassados através de uma utilização sustentável dos recursos naturais e de soluções alternativas às ac tualmente existentes. Regis támos, nos últimos anos, aqui mesmo em Maputo, restri ções de água, algo que não acontecia antes. E isso é um reflexo das mudanças climá ticas. É um problema nosso, e de todos, sejam particulares, ou empresas.”

impacto positivo

Um grupo de jovens em preendedores presentes no lançamento (na incubadora de startup do Standard Bank, em Maputo), observam aten tamente a apresentação. O futuro pode estar já ali. Lídia Gonçalves, jovem empreen dedora na área do fomento agrário, entende que “a ini ciativa pode estimular os jo vens empreendedores a con jugar as diversas percepções em volta daquilo a que cha mamos de economia verde.” Cleiton Marrengula, ao seu lado, assume-se também como empreendedor, ele na área de energias renováveis. “Sem dúvida, é gratificante Moçam bique ser abrangido por ini ciativas assim. Temos de optar pela inovação. Nós, os jovens, temos que aproveitar, para mostrar o nosso potencial para ajudar o mundo.”

Essa noção de empreendedo rismo, um termo tão em voga nos dias que correm, está na mente de todos. E espera-se, que também nas acções. “A questão do acesso ao emprego formal em África é, como sa bemos, uma das grandes fra gilidades das nossas econo mias e este desafio que aqui é feito tem também esse intuito de perceber como podemos, a partir das quatro iniciativas acima referidas, criar mais postos de trabalha.”

Tânia Tomé, embaixadora do “Africa Sustainability Challen ge”, diz mesmo que “oportuni dades como esta dão espaço à vontade, objectivos, e mos tram-nos o caminho longo que há a percorrer se queremos chegar à mudança.”

tExtO Hermenegildo langa fOtOgrAfiA d.r.

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Economia de mercado e gestão da riqueza pública da Nação

tornar os mercados nacionais abertos ao livre comércio e movimentos de bens, serviços, pessoas e capitais é um dos mandamentos sagrados da economia de mercado, que pre valece desde o lançamento da obra-prima de Adam Smith “A Riqueza das Nações”, em que as economias mais fortes são apo logistas da mais rápida, mais extensa e intensiva liberalização do comércio e dos movimentos de capitais, pessoas e serviços. Assegurar que o mercado desempenhe o seu papel nevrálgi co na alocação eficiente de recursos e que o governo melhore a prestação de serviços públicos constituem desafios comple xos e delicados na formulação e implementação de políticas económicas compreensivas. Temperar de forma adequada a “mão invisível do mercado” e a “acção oportuna de um gover no preocupado com o bem-estar do cidadão”, é uma questão de grande alcance prático e estratégico. Uma economia baseada no balanceamento entre o papel do mercado e do governo, estará melhor apetrechada para en frentar uma economia mundial volátil e cheia de incertezas e instabilidade, cuja recuperação plena se mostra como um pro cesso ainda sinuoso e prolongado. Construir essa interacção é uma condição indispensável para a prosperidade das Nações. Os Governos de vários países têm biliões de dólares em ac tivos públicos, como empresas, terras, florestas, edifícios, in fraestruturas, monumentos, recursos hídricos, faunísticos e minerais, sendo em geral mal administrados e, com frequên cia, nem sequer levados em conta. Planificadores, gestores, economistas e estrategas de política pública têm estado mais concentrados em gerir programas de austeridade e administrar a dívida pública desde a crise fi nanceira de 2007-08, negligenciando e subalternizando a ges tão da riqueza pública da Nação. Na maior parte dos países, como muito provavelmente ocorre em Moçambique, a rique za pública é maior do que a dívida pública e administrá-la me lhor poderia ajudar a resolver o problema do endividamento, ao mesmo tempo que forneceria o conteúdo e a substância

para uma futura estratégia para o crescimento económico inclusivo e sustentável. Detter & Folster (2016) apontam que a melhoria da gestão da riqueza pública poderia render re tornos maiores que os investimentos mundiais conjuntos, aju dando a ganhar a guerra contra a corrupção e promovendo a “boa governação”. Os autores realçam que Áustria, Finlândia e Singapura são, de resto, bons exemplos a esse nível. Tendo os governos muito mais riqueza do que têm conheci mento, perante uma situação crítica de elevado endivida mento e uma forte pressão para a adopção de “draconianas medidas de austeridade”, parece ser recomendável avaliar os activos públicos meticulosamente, administrá-los de forma competente e usá-los em prol do bem comum.

A riqueza pública da Nação pode ser uma maldição, se for dei xada como um “pacote de biscoitos aberto”, tentando aqueles que a supervisionam com má gestão, corrupção ou clientelismo. Mesmo em países desenvolvidos, a sua riqueza pública enco raja a corrupção, e pode induzir a enormes falhas.

Uma ideia avançada por alguns países, ousada mas exequível, permitiria aprimorar e blindar os mecanismos de gestão da riqueza pública da Nação, é confiar todos os activos comerciais estatais a um Fundo de Riqueza da Nação (FRN), que pudesse empregar algumas das pessoas mais talentosas do sector pú blico e privado para administrar tais activos de modo mais eficiente possível. Já no passado foi advogada a criação, no contexto da “Agenda 2025: Visão e Estratégias da Nação” (CdC, 2003), de um Fundo Soberano, para a gestão das receitas pro venientes da exploração dos recursos naturais. Autores como Collier (2010) e Stiglitz (2016) referem que essa opção ajuda al guns países a evitar a “maldição dos recursos naturais”. No quadro de uma economia de mercado florescente, a ade quada gestão da riqueza pública da Nação beneficia a econo mia como um todo, e sai fortalecido o cidadão, a sociedade, o mercado e o governo. É um daqueles jogos que, quando bem feito, trás benefícios partilhados para todos os intervenientes.

Parece ser recomendável avaliar os activos públicos meticulosamente, administrá-los de forma competente e usá-los adequadamente em prol do bem de toda a sociedade

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Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique

Os riscOs dO agravamentO da dívida pública angOlana

As finanças públicas angolanas têm passado por um (longo) período de turbulência. Os factores dessa instabilidade têm ecos sociais, políticos e económicos, denominadores comuns de uma crise financeira resultante da queda dos preços do petróleo, responsáveis por mais de metade das receitas fiscais angolanas

a combinação destes factores tem afectado de forma preocupante a sus tentabilidade das finanças públicas, o que se tem traduzido no agravamento do endividamento público para níveis que comprometem o desenvolvimento económico do país.

A dívida pública poderá aumentar ain da mais em 2018. O Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2018 previa, inicialmente, um défice fiscal global de 2,9% do PIB, re sultante das receitas fiscais projectadas cobrirem somente 69% das despesas fis cais esperadas.

Na base destas previsões estava a perspectiva de crescimento económi co na ordem dos 4,9%, muito devido às expectativas iniciais de recuperação do desempenho do sector petrolífero. No entanto, as autoridades angolanas decidiram rever as projecções econó micas para um patamar mais conser vador, tendo reduzido, expressivamen te, a previsão de crescimento da econo mia em 2,5 pontos percentuais, a situar -se em 2,4%. A principal razão desta re visão advém do ajustamento da perfor mance esperada do sector petrolífero a um ritmo inferior.

projecções demasiado optimistas É de realçar que, muitas vezes, o Esta do angolano adopta projecções económi cas mais optimistas tendo como objectivo influenciar as expectativas dos agentes económicos.

Em todo o caso, o recomendável é sem pre adoptar projecções económicas mais conservadoras, de modo a possibilitar a adopção de políticas económicas mais prudentes. No caso de Angola, em par ticular, seria demasiado optimista espe rar que uma economia que passou por um período de estagflação tenha uma forte aceleração logo a seguir. A recupe ração de um ciclo económico recessivo tende a ser gradual, com as devidas ex

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Fora

cepções para uma petro-economia como a angolana. Deste modo, com a revisão das estimativas de crescimento econó mico, o défice fiscal poderá ser maior do que o previsto inicialmente, possivel mente a rondar 3,5% do PIB angolano.

O lado bom da dívida

O défice fiscal por si só não é um pro blema grave, pois é normal que o Esta do tenha, por vezes, despesas superio res às receitas, no sentido de que a dis ponibilização dos bens e serviços públi cos básicos é imperativa por questões de estabilidade social, política e de sobe rania nacional, ou seja, não podem ser condicionados pela limitação de receitas. Daí surge a necessidade de o Estado re correr, muitas vezes, a recursos financei ros adicionais para financiar o funciona mento do aparelho público. O défice fis cal é ainda benéfico quando resulta da necessidade de o Estado financiar as des pesas de capital, aquelas que se tradu zem em investimentos públicos com vis ta a aumentar a capacidade produtiva da economia e, deste modo, gerar cresci mento económico ou promover as expor tações. E justifica-se, por outro lado, que em situações de crise económica o Esta do adopte políticas orçamentais expan sionistas (défices orçamentais) para efei tos de estabilização macroeconómica, promoção do emprego e do crescimento económico.

Porém, quando a economia estiver nu ma fase de crescimento económico sóli do, o Estado deve adoptar políticas orça mentais de carácter mais contracionis ta de modo a gerar superavits orçamen tais. Contudo, a acumulação de défices fis cais sucessivos e a necessidade de o Esta do recorrer à emissão de dívida pública para financiá-los são sinais da existência de sérios problemas nas finanças públi cas dum determinado país.

Conforme acima referido, devido à for te dependência das receitas fiscais pe trolíferas e à queda das mesmas, Angola acumulou, nos últimos três anos, su cessivos défices fiscais que fizeram disparar a dívida pública para ní veis considerados como alarmantes.

As evidências empíricas tendem a apontar rácios a partir de 60%, 75% e 90% do PIB%. Contudo, o indicador

No ano passado, ultrapassou o limiar dos 60%, duplicando o seu valor em apenas quatro anos 5,6 4,5 3,3

Ao que tudo indica, Angola sofreu um processo de enviesamento deficitário da política orçamental, não tanto devido à utilização da política orçamental para efeitos de estabilização macroeconómi ca, mas devido ao processo de ajustamen to das despesas públicas a um ritmo infe rior à queda das receitas fiscais.

sucessão de acumulações perigosas para a economia angolana

6,6

2014 2015 2016 2017

A acumulação sucessiva de défices fis cais tem tido impactos nocivos sobre a economia devido ao aumento das taxas de juro, algo que resulta da necessida de de financiamento do Estado competir com a necessidade de financiamento do sector privado (empresas e famílias). A competição por recursos financeiros es cassos exerce uma pressão sobre as ta xas de juros, levando os credores a co brarem taxas mais elevadas.

não pode ser visto duma forma isola da, sendo que a análise deve ser com plementada por outros indicado res económicos e sociais de cada país. Em 2017, a dívida pública angolana si tuou-se em 62% do PIB (sem considerar a dívida das empresas públicas), sendo composta por cerca de 53% de dívida ex terna, avaliada em 6 422 mil milhões de kwanzas (ao câmbio final de 2017, equiva leria, aproximadamente, a 39 mil milhões de dólares), e a dívida interna representa os restantes 47%, estimados em 5 733 mil milhões de kwanzas (cerca de 35 mil mi lhões de dólares).

Totalizando cerca de 74 mil milhões de dólares, chegamos facilmente à conclu são que Angola tem uma dívida per ca pita de 2 467 USD, ou seja, assumin do uma população estimada de 30 mi lhões de habitantes, cada angolano de ve em média esse valor em dólares. Num país onde cerca de um terço da po pulação vive abaixo da linha da pobreza (com menos de 1,25 dólares por dia), os bai xos salários e o elevado desemprego tor nam-se um fardo enorme para o cumpri mento da dívida pública para a socieda de angolana.

Ao nível social, Angola está mais pobre porque os recursos foram utilizados para a amortização da dívida pública e não para investimentos em educação, saúde ou infra-estruturas básicas

Como o Estado é considerado “infalível”, ou seja, o risco de insolvência é teorica mente nulo, os credores, com vista a mi nimizar o risco e maximizar o retorno, tendem a financiar mais o Estado em de trimento do sector privado.

Esta redução do financiamento ao sector privado pode comprometer o processo de diversificação da economia, que tem como ponto de partida a dinamização das iniciativas empreendedoras do sec tor privado. Uma dívida pública eleva da compromete a capacidade de endivi damento externo do Estado, com impac tos no cumprimento do serviço da dívida em curso devido à deterioração da ava liação do risco (rating) que tende a tradu zir-se no aumento das taxas de juros das obrigações da dívida pública em moeda estrangeira (eurobonds) nos mercados internacionais.

Um outro impacto verifica-se no stock das reservas internacionais líquidas, pois o Estado utilizará parte das reser vas cambiais do país para garantir o cumprimento do serviço da dívida, re duzindo recursos necessários para ga rantir a oferta interna de bens e servi ços através das importações.

Ao nível social, o país torna-se mais po bre porque os recursos que são utiliza dos para a amortização da dívida públi ca poderiam ter sido canalizados para investimentos na educação e saúde ou em infra-estruturas básicas.

Por outras palavras, a redução do investi mento público afecta a capacidade da eco nomia angolana transformar o enorme potencial económico em riqueza efectiva. A dívida pública afecta não só o bem-es

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FONTE Relatório de fundamentação do OGE 2018 Dívida Défice fiscal
DíviDA públicA cresce sem pArAr em % do PIB 28,1 45,2 55,7 62,0 6,6 3,3 4,5 5,6

tar das gerações actuais, mas também das gerações futuras, pois terão de pa gar impostos mais altos para amortizar uma dívida de que não beneficiaram di rectamente. A elevada carga fiscal, que por norma os países com níveis de dívi da elevado tendem a ter, desincentivam o investimento privado.

Elevados défices fiscais e dívida pública têm um efeito de feedback, isto é: défice gera dívida e dívida gera défice, condu zindo a uma trajectória de insustentabili dade da dívida.

défice gera dívida e dívida gera défice E, por fim, a constatação de que a dívi da pública elevada tende a aumentar as desigualdades económicas e sociais, pois as evidências empíricas indicam que as classes sociais mais baixas são as mais afectadas pelo peso do endividamento. Internamente, os principais credores do Estado angolano são os bancos comer ciais, facto que se reflecte na composição da carteira de activos da banca (cerca de um terço é representado pelos títu los de dívida pública). Já externamente,

elevados défices fiscais em conjugação com altos índices de dívida pública têm um efeito de feedback, ou seja: défice gera dívida e dívida gera défice, conduzindo a uma trajectória de insustentabilidade da dívida, com efeitos sucessivos sobre toda a economia

os principais credores são as instituições financeiras, organismos internacionais e outros Estados.

De realçar que o principal credor do Estado angolano é a China, em resulta do, sobretudo, dos acordos feitos na era da reconstrução política e social do país, num período pós-guerra civil, que ape nas terminou em 2002.

Segundo as estimativas do Fundo Mone tário Internacional para 2018, contando a partir de 2014, o rácio médio de dívida pública da África Subsahariana ronda os 53%. Os países mais endividados são, Cabo-Verde, Eritreia, República do Con go, Gâmbia e Moçambique. África do Sul, Namíbia e Nigéria apresentam rácios de endividamento confortáveis (56%, 44% e 23%), mas ainda assim, alvo de preo cupações dos respectivos executivos.

Já Angola, ultrapassou a média regional no ano de 2016, uma consequência direc ta da estagnação económica que tem as solado uma das economias que, em tem pos mais crescia em todo o continente africano. Assim, uma dívida pública só é sustentável quando uma determinada economia é capaz de gerar internamen te rendimentos suficientes para cum prir o serviço da dívida.

Tal pode ser feito através da aplicação dos recursos adicionais obtidos através do endividamento em investimentos que aumentem a capacidade produtiva e ex portadora da economia.

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Fora
Futuro decidido aqui: No ministério das Finanças de Angola, a maior preocupação é o equilíbrio das contas públicas texto NelsoN eduardo, ecoNomista e doceNte uNiversitário fotografia istock

A utopia da mecanização agrícola em Moçambique

como sabemos e sentimos, vivemos num tempo e num contexto adverso da economia moçambicana, quase de ras tos nos últimos anos, devido a um conjunto de factores que co locam o país numa incerteza. Olhemos para um dos sectores que mais tem contribuído para o PIB. No campo governativo impera o discurso da mecaniza ção agrícola, que contrasta com a prática tomada, uma vez que o sector já era marginalizado em termos de Orçamento com essa síndrome da dívida ilegal. E quando tudo levaria a crer que a fasquia dos 10% que o Orçamento de Estado (OE) deveria dedicar ao sector (como acontece em mercados vizinhos), ela não será atingida até que se reanime a economia nacional. O problema, é que a tal reanimação da economia, não pode ser feita sem um peso cada vez maior da agricultura na criação de riqueza nacional.

Como dizer que a agricultura é a base do desenvolvimento, se dos 302,9 mil milhões de meticais do OE para 2018, cerca de 63% do total da despesa pública será alocado a sectores ditos prioritários (saúde, educação, água e saneamento), e apenas 5,7% para a agricultura que, porventura, deveria ser consi derada também ela prioritária tal como aqueles que acima descrevo, e receber mais fundos do Estado.

Porque, com toda franqueza, não parece fazer sentido conti nuar a proclamar este discurso ilusório, porque não passa de uma mera utopia esta mecanização agrícola enquanto motor principal de desenvolvimento se esta não for uma área consi derada prioritária para o governo.

Será com essa reduzida contribuição que pretendemos lançar uma campanha de mecanização do sector e impulsionar o seu desenvolvimento progressivo? E será assim que conseguire mos atingir o fim do caminho, e o objectivo do desenvolvimento que passa por estancar as inúmeras e dolorosas bolsas de fome e malnutrição que assolam tantos moçambicanos que não têm o que comer por causa da seca já que dependem somente das águas da chuva para produzirem algo nas suas machambas?

Talvez para alguns seja este o caminho certo. Quem sabe? Mas como poderemos querer mecanizar a agricultura e ao mesmo tempo receamos investir nas tecnologias para incre mentar os níveis de produção e a passagem da agricultura de subsistência para a comercial?

A pouca importância que o governo dá a agricultura, apenas vem reforçar a tese segundo a qual a mecanização nada mais é do que um mero discurso que não encontra aplicabilidade quando olhamos para o Orçamento alocado. E para a falta de interesse em tirar maior proveito dos recursos hídricos para incrementar a produtividade.

Tudo leva a crer que estamos perante uma predominância de incapacidade institucional, mas também empresarial, para retirar o melhor proveito da terra fértil e dos recursos hídri cos de que o país dispõe para incrementar os níveis de produ ção de um sector que contribui em quase 25% para o PIB.

Mas qual o porquê entre essa dicotomia discursiva e a reali dade? Serão as políticas agrícolas que se mostram incapazes de captar a realidade moçambicana? Talvez.

É preciso incrementar a produtividade, e dessa forma reduzir a importação de produtos de primeira necessidade, fenóme no que faz de Moçambique um dos maiores importadores do mercado sul-africano, e de outros da região e do mundo.

A tudo isso, alia-se a escassez de investimentos no sector agrí cola que tem vindo a agravar-se com a depreciação do meti cal dos últimos anos, a que se alia a incapacidade financeira do empresariado nacional para potenciar a agricultura e o agronegócio, finalizando no mito bem real da banca comercial que olha para este sector imenso como sendo de elevado risco por não oferecer garantias de retorno do investimento.

Não estará então na hora de reinventar o discurso de que agricultura é a base de desenvolvimento e passar à prática. Creio que todos sentimos que, mais do que palavras, são neces sárias acções fortes que passam por harmonizar o discurso e a realidade.

Há ainda uma incapacidade grande para tirar melhor proveito da terra fértil e dos recursos hídricos de que o país dispõe para incrementar os níveis de produção agrícola

OPINIÃO Junho 2018 62
Hermenegildo Langa • Jornalista da Economia & Mercado

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

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O lodge Nascer do Sol é um refúgio criado há quase vinte anos. Mas que é muito mais do que isso

e

Chez Fred Um pouco de Europa, do lugar aos sabores que por lá moram. E tudo aqui tão perto

Bulldog Um passeio harmonioso, num copo de aromas suaves, delicados, e únicos

g
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Lodge nasCer do soL

Casas que transformam vidas

há histórias que transfor mam locais e modos de vida.

O Nascer do Sol foi inaugu rado há 20 anos, com apenas uma casa e uma enorme von tade de ajudar a comunidade. Decorria o ano de 1998 quan do o casal Peet e Erma Jan sen Van Vuren conheceu as dunas e a praia de Chizava ne, que a par com as gentes locais lhes trouxeram a cer teza de que naquele areal se ria erguida uma nova vida. O que começou por ser uma única casa, cresceu e hoje o complexo tem 14 casas espa lhadas pelas dunas, onde ca suarinas dão sombra e abri go a muitas famílias de pás saros, que garantem um deli cioso acordar.

Cada casa é única e existem de vários tamanhos, com ou

sem piscina. A maior, para 10 pessoas, serve as famí lias grandes ou a quem te nha muitos amigos e os quei ra juntar. A mais pequena é para duas pessoas. Mas há um denominador comum em todas: as mantas, os cortina dos e muitos objectos decora tivos, que foram costurados e esculpidos pela comunidade da pequena aldeia.

Este é, aliás, o propósito do ca sal sul-africano: ajudar a po pulação local. E este porme nor torna o lodge ainda mais acolhedor. Mas há mais. Além das casas com tudo o que é preciso, existem 12 casinhas, onde só cabe um quarto e la

vabo, para campistas, ou seja, é o mesmo que fazer campis mo sem precisar de tenda. Neste lugar, o sol nasce mes mo à nossa frente e com ele vem o relaxar e os banhos na praia a qualquer momento. Na maré vazia forma-se uma piscina natural, ideal para as crianças. Quando chegar a hora das refeições, se não ti ver vontade de cozinhar o restaurante do lodge garan te que comida nunca vai fal tar. Mas se preferir fazer as suas refeições, leve só o ne cessário, isto porque os pesca dores da praia vendem pei xe e alguns mariscos acaba dinhos de sair do mar. Os le gumes podem ser compra dos na machamba da comu nidade e alguns condimentos, temperos e produtos de últi ma hora estão à venda na pe quena loja do Nascer do Sol. O local também permite a rea lização de congressos e casa mentos, mas se já estiver ca sado, pode renovar os votos no imenso areal.

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noites sugeridas: 3 Preço médio: 2500 mzn Praia de Chizavane –Xai Xai +258 28 264 500 nasCer do soL
e

o nasCer do soL foi inaugurado ao púbLiCo há pouCo mais de 20 anos. Contava então Com apenas uma Casa, mas representava mais do que isso... uma enorme vontade de ajudar a Comunidade

roteiro

Como ir São 250 km a partir de Maputo pela Nacional 1 até Chizavane. Depois de entrar na estrada de areia e andar cerca de 10 km, vai encontrar o Lodge Nascer do Sol. aconselhamos um 4x4.

onde Comer aconselhamos o restaurante do lodge, mas se quiser conhecer o que se passa à volta, siga até à praia de xaia xai e procure o Café Pescador. a ementa vai desde os peixes e mariscos, até às carnes suculentas e bem temperadas. E, as sobremesas são inesquecíveis. Preço médio por refeição: 1500 Mzn.

o que Fazer Na praia: quando a maré baixa, pode acompanhar os jovens pescadores de ostras e mexilhão. Se quiser fazer um pouco de exercício, jogue mini-golf no lodge. À noite, se o céu estiver limpo, observe a quantidade de constelações que vivem por cima de si. Se vir uma estrela cadente peça um desejo.

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CheZ fred

a europa aqui tão perto

a atmosfera remete-nos, de imediato, para um salão de chá ou uma brasserie em Pa ris, Bruxelas ou Viena. Mas a verdade é que estamos em plena Av. Julius Nyerere, bem no centro da cidade de Maputo, no “Chez Fred”, um projecto que, embora com apenas um ano de existência, já se tornou conhecido pelo seu carácter único e distintivo. Antes de nos determos nas muitas e variadas iguarias que nos propõe, há que subli nhar, no entanto, o facto de a sua ambiência evocar uma longa e bem estabelecida tradição europeia, fazendo sobresair o toque diferencia dor, pessoal mesmo. O lugar não é uma mera ré plica mas sim uma genuína recriação de um “modelo”, algo que se torna particular mente evidente na atenção e no bom gosto que foi investido nos mais infímos detalhes.

Nada disto seria, no entanto, suficientemente relevante se a degustação proposta não re flectisse a mesma exigência, sofisticação e qualidade que se observa na encenação do espaço. E estas características são inquestionáveis. Dos ‘croissants’, com os seus múltiplos recheios, aos ‘éclai res’, das ‘tarteletes’, ao em blemático ‘chausson aux pom mes’, da extensa variedade das sanduíches ao leque das bebidas propostas (cafés, chás, chocolates) – todos eles de monstrativos desse empenho em proporcionar uma “expe riência” ímpar no contexto lo cal. “O ‘Chez Fred’ surgiu por que se tornou claro para nós que não havia na cidade nada de semelhante” – contam-nos Frederico Gomes e Ingrid La soen – “a oferta em termos de pastelaria era toda muito igual, muito repetitiva.”

Mas o grande desafio que se colocava, era como garantir que a qualidade da oferta estivesse ao mesmo nível da quela que se tem na Europa. “A nossa ambição era ‘ter’ a Europa dentro de Maputo.” E assim aconteceu.

O passo seguinte foi procurar o parceiro certo, a Délifrance, um dos maiores operadores no fornecimento deste tipo de produtos, e de que se tor naram os representantes em Moçambique.

Sem terem qualquer tipo de história ou experiência neste segmento, passar do sonho à sua concretização foi, para Frederico Gomes e Ingrid Lasoen um longo e laborioso processo.

Mas o resultado fala bem por si próprio, e parece confir mar as palavras do poeta An tónio Gedeão quando escreve que “o sonho comanda a vida”.

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tExtO rui trindade FOtOgraFia Jay garrido
nome
basta transpor a porta de entrada para se ter a sensação de que se mudou subitamente de Continente
g

região Reino Unido desCrição um London Dry com leve estágio em barricas de Lillet reCeita 5 cl de gin simples, com gelo e uma rodela de lima

região França desCrição destilado à base de uva, denota-se a flor da videira colhida no momento da floração. É por isso extremamente floral e distinto reCeita 5cl de gin; framboesas e lima; 20 cl tónica 1724

nordés

região Espanha desCrição um gin diferenciado, com ingredientes inusuais como louro, eucalipto, salicórnia, algas e um destilado de Alvarinho reCeita 5 cl de gin; limão e hortelã menta; 20 cl tónica

Fever Tree Mediterranean

País reino Unido região Londres ComPosição zimbro, grãos, mirtilos, amêndoas e baunilha destilação alambiques de cobre aroma Frutas Cítricas Paladar Macio e apimentado teor alCoóliCo 40% sugestão Misture com uma tónica premium (por exemplo uma Fever tree tonic) e lima

buLLd og London drY gin:

suave

úniCo

dizer que o gin é a bebida da moda tornou-se redundante. Porque já o é há alguns anos e na da indica que venha a deixar de o ser nos tempos mais próximos (sobretudo se atendermos aos va lores de mercado que ano após ano o confirmam). Acompanhar as novidades do mercado tornou -se, entretanto, uma tarefa quase impossível. So bretudo no que diz respeito à chamada produ ção artesanal, um dos segmentos mais dinâmi cos e inovadores. E as surpresas chegam de to do o lado. Veja-se, por exemplo, o caso do artesa nal brasileiro “Amázzoni” que conquistou o pré mio de melhor produtor artesanal do ano no re cente World Gin Awards 2018.

O gin tem uma longa história. A primeira recei ta conhecida foi desenvolvida no século XVII, na Holanda, e foi concebida como medicamento devi do às conhecidas propriedades curativas do zim bro. Mais tarde, foram os ingleses que lhe deram a “forma” com que o viemos posteriormente a co nhecer e o tornaram verdadeiramente popular.

A “revolução” que, sobretudo nos últimos 15 anos, recolocou o gin no centro das preferências dos consumidores e alargou as suas formas de consu mo é o fruto de uma complexa conjugação de fac tores, que coindidem na reinvenção da receita tradicional através da adição de uma variedade de novos elementos e na sofisticação dos proces sos de destilação.

Um bom exemplo, entre muitos outros possíveis, é o “Bulldog”. E é a nossa sugestão deste mês. Apesar de ser um “London Dry” – como são designados os “clás sicos” do mundo dos gins - este é um pouco “rebel de”. Não só pelo facto de ser certificado como vegan e kosher (não possui processos que atentam contra a natureza nem utiliza ingredientes de origem ani mal) mas também porque é sujeito a uma quarta destilação na qual são utilizados frutos e botânicos pouco comuns para os gins - mirtilos, amêndoas e baunilha. Desta forma, torna-se macio e quase cre moso. Perfeito para quem acha o gin forte demais ou gostaria de encontrar mais sabores a cada gole.

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buLLdog London drY gin g’vine fLoraison
e deLiCado,
o gin tem uma Longa história e pouCos poderiam imaginar, apenas há aLgumas déCadas, o fenómeno a que hoje assistimos por todo o mundo.
beefeater burrough’s reserve
tExtO rui
trindade

•Em destaque

música filmes livros

17º CICLO DE CINEMA EUROPEU

kWIRI – ROBERtO ChItsONDzO (ED.khUzULA)

eXposiçÕes

ExPOsIçãO MIstA “A sOMBRA DOs sONhOs”

Fundação Fernando Leite Couto Exposição Mista: Desenho, Pintura e Fotografia galeria de Exposições inauguração: 6 de Junho às 18h30 Patente até 30 de Junho Entrada Livre

mi sook Park (Coreia do sul) imane kamal idrissi (marroCos)

ExPOsIçãO COLECtIvA INtERNACIONAL “MystERy OF FOREIgN AFFAIRs”

Camões - Centro Cultural Português em Maputo inauguração: 14 de Junho às 18h Patente até 27 de Julho De segunda a sexta das 11h00 às 18h00 Entrada Livre

Centro Cultural Português da Beira 22 de maio a 6 de Junho

tendo arrancado em Maputo, o 17º Ciclo de Cinema Europeu está agora a decorrer na cida de da Beira.

O tema escolhido este ano é o “Património Cultural”. No mer cado cultural dos nossos dias, que tanto influi e determina as nossas preferências e gostos, falar de “Património Cultural” através do cinema permite -nos contra-arrestar a homo geneização que traz consigo a industrialização da Cultura.

Este ano, 11 filmes vão mos trar em diferentes perspecti vas, a diversidade do patrimó nio cultural nos povos e países da Europa.

Mais uma vez, o Ciclo conta rá com um programa parale lo dirigido a todos os públi cos, com filmes para os mais pequenos.

músiCa

kONgOLOtI sEssIONs COM tRks E CONvIDADOs

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 1 de Junho Hora: 18h

MARRABENtA MáRIO tIMANE 45 ANOs DE MúsICA EM MOçAMBIQUE

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 8 de Junho Hora: 18h

O livro-disco “Kwiri”, editado recentemente, retrata a a vi da e obra do músico e com positor moçambicano rober to Chitsondzo. Com prefácio do escritor Un gulani Ba Ka Khosa, o livro reúne depoimentos e tex tos inéditos que abordam a sua vida e obra. O disco que acompanha o livro tem tam bém a participação de músi cos que quiseram participar nesta homenagem como Yo landa Kakana, Jimmy Dludlu, Moreira Chonguiça e Nelton Miranda.

Os CONtINUADOREs

APREsENtAM

“FILhOs DO MAR” COM tIAgO CORREIA-PAUL E tRkz

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala grande Dia: 8 de Junho Hora: 20h30

sEssõEs DE gARAgEMBANDA M´LAIO

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 15 de Junho Hora: 18h

15º fiti- FEstIvAL INtERNACIONAL tEAtRO DO INvERNO gRUPO tItIRItERO (ARgENtINA) APREsENtA “DE BANFIELD A MéxICO”

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 7 de Junho Hora: 18

15º fiti- FEstIvAL INtERNACIONAL tEAtRO DO INvERNO gRUPO tItIRItERO (ARgENtINA) APREsENtA “DE BANFIELD A MéxICO”

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 13 de Junho Hora: 18

tEAtRO PARA Os MAIs PEQUENOs “As MENtIRAs DO COELhO” gRUPO DE tEAtRO M’BEU

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 23 de Junho Hora: 10h30

teatro Cinema

1ª FEstA DO CINEMA

Centro Cultural Franco-Moçambicano auditório

Dia: 23 de Junho Hora: 10h30 – 20h

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dois retratos doCumentais de maputo da Cena CuLturaL

o primeiro, realizado por Tina Kruger e intitulado “Li ving Art – an aesthetic eth nography”, já teve uma apresentação pública no Cen tro Cultural Franco-Moçam bicano e vai iniciar agora uma ronda por uma série de festivais internacionais.

O segundo, realizado por Au rore Vinot e intitulado “Va gando Maputo”, está ainda em fase final de pós-produ ção e há a expectativa de po der ser estreado em Outubro deste ano durante a 3ª edição do festival Maputo Fast For ward (MFF).

A alemã Tina Kruger vive e trabalha em Moçambique há mais de uma década. A sua obra reflecte a multidiscipli nariedade do seu currículo académico (antropologia vi sual, etnografia, estudos em lusofonia), a variedade dos seus interesses (sociais, cul turais, estéticos) e a diversi dade das suas competências (design gráfico, fotografia, ci nema, video).

“Living Art” é uma etnogra

fia estética das artes con temporâneas em Maputo. Os protagonistas do filme são sete jovens artistas contem porâneos trabalhando nas areas de dança, pintura, es cultura, música, e graffiti. O filme foi seleccionado para inúmeros festivais que irão ter lugar ao longo de 2018, en tre eles o Fine Arts Film Festi val de Venice (Califórnia, EUA). Enquanto se aguarda por no vas projecções em Moçambi que, o trailer está disponível online no You Tube.

Por seu turno, o documentá rio “Vagando Maputo”, de Au rore Vinot resulta também de um longo contacto com Mo çambique. A fotógrafa e rea lizadora francesa percorreu o país, ao longo dos últimos dez anos, e apaixonou-se pela

dinâmica cultural da capital. “Vagando Maputo” é um re trato vivo e emocionado de pessoas e ambientes e onde encontramos protagonistas tão diversos como o escritor Mia Couto, o cineasta Lícinio de Azevedo, o fotógrafo Má rio Macilau e o artista plásti co Gonçalo Mabunda. Mas o que torna este docu mentário verdadeiramente diferente é o destaque que dá a uma nova geração de e cria dores como Ricardo Pinto Jor ge, Nandele & The Mute Band, Trkz ou Teoria do Groove.

‘Living art’ e ‘vagando por maputo’

Centro Cultural FrancoMoçambicano e disponível online

tExtO rui trindade FOtOgraFia Jay garrido

Junho 2018 71
a Cena CuLturaL e Criativa de maputo é retratada de forma vibrante em dois doCumentários reCentes

saLão automóveL

de pequim apresenta protótipos futuristas

o salão automóvel de pequim, que decorreu entre 25 de Abril a 4 de Maio, tornou -se, em anos recentes, uma das grandes “montras”, a ní vel mundial, para as princi pais marcas e para as inú meras startup que estão a in vestir fortemente nos carros eléctricos.

O Salão foi uma ocasião pri vilegiada para conhecer as mais variadas propostas – dos SUV eléctricos aos desporti vos de luxo – mas o que ficou na retina de muitos observa dores e curiosos foram alguns dos concept cars expostos.

Entre os vários protótipos fu turistas que sobressaíram no Salão Automóvel de Pequim um, em particular, mereceu uma atenção especial: o Vision Mercedes Maybach Ultimate Luxury.

Com um visual arrojado, o mo delo tem uma grade frontal grande com faróis LED, maça netas embutidas nas portas e o vidro traseiro é dividido ao meio de forma vertical. O in

terior é super-luxuoso e bas tante espaçoso, especialmen te para os passageiros do ban co de trás que podem desfru tar de assentos individuais e dispõem de uma bandeja onde é inclusivamente possível aquecer um chá ou um café. Apesar de se tratar de um carro eléctrico, é muito poten te (748 cavalos com uma au tonomia de 322 km por car ga de bateria) podendo che gar aos 250 km/h. E é também um carro cujas dimensões im pressionam: 5,26 metros de comprimento, 2,11 m de largu ra, 1,76 m de altura e rodas de 24 polegadas.

Esta verdadeira peça futuris ta não tem ainda valor final definido, tendo sido apresen tado numa versão de cor ver melha com o interior branco

não tendo a marca divulgado se há outras opções de cores previstas.

Revelamos também mode los que chamaram (e de que maneira) as atenções: o iX3 da BMW, o seu primeiro SUV eléctrico, que deverá come çar a ser produzido em 2020 e será fabricado na China; o se dan H500 e o utilitário K350, apresentados pelo estúdio ita liano Pininfarina, famoso por desenhar grande parte dos mais belos Ferraris da histó ria automóvel, ambos usan do um motor eléctrico de 300 kW (408 cv); e o EZ-GO, da Re nault, que já tinha sido exibi do em Genebra (Suíça), e que é, de todas as propostas, a mais “futurista” por se tratar de um “veículo autónomo” idealizado para ser usado na cidade em regime de compartilhamento.

vision merCedes maYbaCh uLtimate LuXurY

SUV eléctrico PotênCia 748 CV Preço ainda não disponível

vJunho 2018 72
uma das grandes “montras”, a níveL mundiaL , para as prinCipais marCas e startup que querem entrar no mundo automóveL
tExtO rui trindade FOtOgraFia d r
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