E&M_Edição 89_Outubro 2025 • Mozal - Há Luz na Fundição?
JANUÁRIO VALENTE JÚNIOR
“O NOSSO DESAFIO É IMPULSIONAR A ECONOMIA REAL DE MOÇAMBIQUE”
MERCADO DE CARBONO
PROJECTO MOZBLUE CRIA 1250 EMPREGOS E QUER RESTAURAR 30 MIL HECTARES DE MANGAL ATÉ 2030
CEO SURVEY
GESTORES FINANCEIROS MOÇAMBICANOS VÊEM
GEOPOLÍTICA COMO UM DOS PRINCIPAIS RISCOS
DÍVIDA SOBERANA
ÁFRICA ENFRENTA DÍVIDA DE 1,1 BILIÃO DE EUROS
QUE TRAVA INVESTIMENTO E SUFOCA AS ECONOMIAS
LUZ NA FUNDIÇÃO?
O Governo quer que a maior fábrica do País passe a dar o devido retorno à economia nacional, mas o grupo australiano South32 ameaça sair de Moçambique. A E&M conta-lhe a história completa de uma disputa negocial que pode por em causa a Mozal, centenas MPME nacionais e milhares de empregos HÁ
24 O Futuro da Mozal. Negociações tensas entre Governo e o grupo australiano South32 ameaçam o destino da maior indústria do País, com riscos para o mercado de emprego e pequenas empresas fornecedoras
32 Negociação. Analistas defendem soluções de compromisso que preservem a Mozal, sem fragilizar a HCB, exigindo transparência, contrapartidas justas e sustentabilidade energética
36 Valor do alumínio. Da raridade ao uso quotidiano, o alumínio foise tornando num pilar invisível da sociedade moderna e numa aposta central para vários sectores
14 ESG
Sustentabilidade. A Blue Forest, sediada no Dubai, está a transformar mangais de Moçambique em créditos de carbono para promover rendimento, empregos e protecção das comunidades costeiras
18 CONTEÚDO LOCAL
Cooperação económica. Moçambique quer estreitar relações com a Argélia para atrair mais investimento em gás, energia e indústria, reforçando o comércio intra-africano e a cooperação continental
RADAR ÁFRICA
Cimeira do G20. A África do Sul acolhe o evento, já em Novembro, para afirmar a voz do continente africano na reforma económica global, mas teme-se que tensões diplomáticas possam ensombrar as discussões
46
SHAPERS
Inovação como motor da Economia. Joseph Schumpeter mostra como a inovação, ciência, tecnologia e empreendedorismo podem ser alavancas estratégicas de desenvolvimento inclusivo
38
MACRO
Dívida africana. África continua a lutar contra encargos elevados da dívida, num cenário em que Moçambique tenta reduzir custos e aliviar pressões fiscais. Quais as perspectivas?
MERCADO & FINANÇAS
Ajustamento financeiro. Negociações para um novo programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI) dependem da consolidação fiscal, estabilidade macroeconómica e apoio a grupos vulneráveis
54
CEO TALKS
Januário da Costa Valente. O novo administrador do banco Millennium bim revela as apostas estratégicas na digitalização, ESG e apoio às empresas para impulsionar a economia real em Moçambique
62 MOCAMBIQUE DIGITAL
62 Criptomoedas. Quatro programadores moçambicanos testam a Medx, uma moeda digital que nasceu no ISUTC, de olhos postos na expansão e integração com sistemas móveis
OPINIÃO
12 Arlindo Chemane Júnior, Banco BIG Moçambique
16 Glayds Gande, EY Senior Manager
POWERED BY 22 Absa
SECÇÕES
3 Sumário
4 Editorial
6 Observação
8 Radar
10 Números em Conta
42 Radar África
64 Panorama
ÓCIO
68 Escape Tanzânia e Zanzibar oferecem, num só itinerário, vida selvagem e mar turquesa 70 Ao Volante Xiaomi lança o YU7, SUV coupé eléctrico que promete desafiar a Tesla 71 Adega Descubra o Malbec de Mendoza, ícone argentino que conquista iniciantes e experts 74 Fecho de contas Web Summit Lisboa 2025 destaca IA, ética e ligações crescentes com África
Celso Chambisso Editor Executivo da Economia & Mercado
Lucros em Disputa, Soberania em Jogo
Ofuturo da Mozal coloca Moçambique diante de um delicado jogo de equilíbrio, onde os interesses de uma multinacional, de uma empresa estatal e do próprio Estado parecem antagónicos. A South32, maior accionista da fundição, defende tarifas competitivas para manter o lucro, enquanto a HCB e o Governo procuram assegurar que os preços da energia não se tornam subsídios disfarçados à Mozal, corroendo (ainda mais) a sustentabilidade das contas estatais.
A tensão surge no quadro da ameaça de encerramento da Mozal, a partir de Março de 2026 (cujo dossiê preenche esta edição da E&M), e que estará já a ser preparada, segundo queixas de empresários locais, fornecedores e pequenas empresas que já estão a perder negócios.
Actualmente, é a eléctrica sul-africana Eskom que fornece electricidade à Mozal, tornando a relação energética da fundição directamente dependente da África do Sul. Mas o Governo já anunciou que, a partir de 2030, limitará o fornecimento externo (a Hidroeléctrica de Cahora Bassa fornece a Eskom), visando proteger a soberania energética e maximizar os benefícios nacionais. As negociações em curso envolvem, portanto, não apenas a South32 e a HCB, mas também a Eskom e os órgãos governamentais, exigindo um equilíbrio delicado entre tarifas, segurança do fornecimento, retorno fiscal e sustentabilidade do sector energético. O Presidente da República tem acompanhado o processo e mostrou que quer um desfecho favorável para o País, até
porque é o Governo moçambicano que está no centro da equação. Qualquer solução que preserve empregos e divisas, mas comprometa a sustentabilidade do sector energético, será insuficiente. Inversamente, proteger a HCB à custa de toda a cadeia produtiva e arrecadação fiscal seria igualmente problemático. Encontrar um modelo que combine transição contratual estruturada, partilha de lucros, responsabilidade social e desenvolvimento tecnológico é, portanto, o desafio estratégico do momento.
Analistas como Egas Daniel e Edson Cortez apontam para caminhos de compromisso, mas destacam a necessidade de previsibilidade e transparência: contratos claros, revisão periódica e escrutínio público são essenciais para evitar precedentes que possam enfraquecer a autoridade do Estado.
O desfecho deve equilibrar empregos, receitas e soberania energética
Outro elemento deste cenário — o mercado global do alumínio — adiciona uma oportunidade: o metal, cuja produção exige intensa energia, é cada vez mais valioso nos mercados internacionais. Esta tendência, se for bem explorada, pode reforçar receitas e estimular a inovação tecnológica, transformando desafios energéticos em oportunidades económicas estratégicas para Moçambique. Mas capitalizar esta vantagem exige firmeza do Governo na negociação, no sentido de assegurar que os lucros gerados no País permaneçam sob controlo nacional.
O prazo é curto — até Março de 2026 — e o cenário evidencia que, embora haja múltiplas vias de compromisso, nenhuma é trivial. Nesta E&M, colocamos o tema no centro da discussão.
Cheias devastadoras no Paquistão e na Índia, incêndios que consomem vastas áreas florestais e de mato na Grécia, Itália e Espanha, e secas severas que assolam o Corno de África revelam um planeta cada vez mais vulnerável a fenómenos climáticos extremos. As imagens dos últimos meses mostram tragédias humanas e incapacidade das nações em travar um ciclo que ameaça a estabilidade económica, alimentar e social numa escala global.
Este cenário servirá de pano de fundo da COP30 – Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que se realizará em Belém, Brasil, de 10 a 21 de Novembro. O encontro reúne quase 200 países com o objectivo de negociar compromissos concretos para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e financiar a adaptação das nações mais vulneráveis. Mais do que um fórum de discursos, a COP30 terá de ser um momento de viragem: ou o mundo assume uma agenda climática mais corajosa e acções enérgicas, ou continuará a contabilizar perdas cada vez mais irreversíveis.
Desenvolvimento
Governo Avança com Consultas sobre Banco de Desenvolvimento
O Governo intensificou as consultas públicas para a criação do Banco de Desenvolvimento de Moçambique, instituição que pretende financiar sectores estratégicos como infra-estruturas, energia, indústria e logística, para impulsionar uma transformação económica inclusiva.
Integrado na Estratégia Nacional de Desenvolvimento 2025-44, o banco foi idealizado para colmatar falhas sistemáticas no acesso a crédito, sobretudo em regiões pouco servidas pela banca comercial, mobilizando capital nacional e internacional para investimentos de longo prazo e criação de emprego.
As auscultações já abrangeram as províncias de Sofala, Tete e Zambézia, envolvendo o Estado, empresários e sociedade civil, e vão estender-se a outras províncias. Paralelamente, canais digitais permitem o envio de contributos, numa abordagem apontada como uma “boa prática” de governação.
O Executivo sublinha que o sucesso do banco dependerá de “um quadro legal robusto e de gestão profissional, inspirado em experiências como a do BNDES (Brasil) e DBSA (África do Sul).” Investidores internacionais acompanham o processo como sinal de modernização do sistema financeiro.
Entretanto, vários analistas têm questionado o papel do Banco de Desenvolvimento de Moçambique por se confundir com os fundamentos da criação do Banco Nacional de Investimentos (BNI), o que traz o receio de que haverá sobreposição de agendas. Outros analistas interpretam a iniciativa como um reconhecimento do fracasso do BNI.
Aviação
LAM Renova Contrato com Dane Kondic em Regime de Exclusividade
A empresa estatal Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) renovou por mais quatro anos o contrato com Dane Kondic, presidente da comissão de gestão da companhia, que passará a trabalhar em regime de exclusividade.
O anúncio foi feito, em Maputo, por Agostinho Langa, presidente do Conselho de Administração da empresa Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM) e membro não executivo do Conselho de Administração da LAM, que explicou que a negociação incluiu a rescisão de vínculos de Dane Kondic com a Air Botsuana e compromissos na Austrália. A nomeação de Dane Kondic, em Maio, gerou polémica,
Inclusão financeira
após ser indicado para liderar a transportadora tsuana. Com dupla nacionalidade, sérvia e australiana, Kondic tem experiência internacional no sector, incluindo na portuguesa Euroatlantic Airways.
A LAM atravessa uma profunda reestruturação, após anos de dificuldades que reduziram a frota e suspenderam voos internacionais. O Presidente da República, Daniel Chapo, denunciou recentemente casos de corrupção na empresa. Para recuperar operações, a LAM prepara a compra de cinco aviões Boeing 737-700 e o aluguer de outras cinco aeronaves, transportando em média 915 passageiros por dia.
Banco Central Autoriza 11 “Fintechs” a Testar
Soluções Inovadoras
O Banco de Moçambique autorizou 11 “fintechs” (empresas financeiras tecnológicas) a iniciarem testes na 6.ª edição do Sandbox Regulatório, reforçando o compromisso com a modernização do sistema financeiro e a inclusão bancária. As empresas foram seleccionadas entre 19 candidaturas, com 33 soluções submetidas, abrangendo pagamentos digitais, microcrédito, identificação electrónica, seguros e educação financeira, visando beneficiar populações fora do sistema formal.
O Sandbox cria um ambiente controlado para testar inovações, reduzindo riscos e assegurando a estabilidade finan-
Clima
ceira. A iniciativa procura estimular a competitividade, reduzir custos de transacção e fortalecer a confiança nos serviços digitais. Estima-se que milhares passem a ter acesso a novos produtos e que a medida movimente centenas de milhões de meticais nos próximos anos.
Estratégia Aprovada para Mobilizar 37 Mil Milhões de Dólares em Financiamento
O Governo aprovou a Estratégia Nacional de Financiamento Climático 20252034, orçada em 37,2 mil milhões de dólares (2,3 biliões de meticais), para promover uma economia de baixo carbono e reforçar a resiliência climática do capital humano, físico e natural do País, até 2030.
Segundo o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa, citado pela Agência de Informação de Moçambique (AIM), será necessário mobilizar recursos internos e externos, fortalecer instituições e criar mecanismos eficazes de financiamento sustentável. A estratégia pretende posicionar o País como “re-
ferência na mobilização de investimentos para a acção climática”, garantindo transparência e inclusão, com atenção especial para mulheres, jovens e grupos vulneráveis.
Entre as metas estão o acesso a mercados de carbono, instrumentos-piloto de financiamento misto e iniciativas de troca de dívida por acção climática. Na mesma sessão, o Executivo aprovou o Plano de Recuperação e Crescimento Económico, avaliado em 176,4 mil milhões de meticais (2,8 mil milhões de dólares), para estimular a economia e impulsionar o crescimento do PIB até 6,3% no fim do período.
Quantos Países Cabem em África?
A Verdadeira Dimensão do Continente
O continente africano cobre 30,4 milhões de quilómetros quadrados, o que corresponde aproximadamente ao tamanho junto de alguns dos maiores países do mundo, como os EUA, com 8,1 milhões de quilómetros quadrados, a China, com 9,6 milhões de quilómetros quadrados, e a Índia, com 3,3 milhões de quilómetros quadrados. No entanto, nos mapas, África não parece tão grande. Porquê? A culpa é da projecção cartográfica mais co-
mum, a projecção de Mercator. Esta forma de “aplanar” a curvatura da terra nos mapas faz com que África pareça mais pequena do que realmente é. A União Africana tem apelado aos governos para deixarem de a utilizar. África é, de facto, o segundo maior continente, tanto em dimensão, como em população, com cerca de 1,6 mil milhões de pessoas.
A sua vastidão é tal que a escala real é difícil de compreender observando
apenas a maioria dos mapas. Para resolver este problema, um exercício visual combina a área de vários países, mostrando que o continente é equivalente à soma dos Estados Unidos, China, Índia e de grande parte da Europa Ocidental. Os dados utilizados para esta comparação provêm da Divisão de Estatística das Nações Unidas. Com 30,4 milhões de quilómetros quadrados, África é apenas ultrapassada pela Ásia em termos de extensão territorial.
Arlindo Chemane Júnior • Global Markets Trader, Banco BIG Moçambique
Nos últimos anos, houve mudanças aceleradas na forma como utilizamos o dinheiro. Dependíamos quase exclusivamente de notas e moedas físicas, mas, hoje, os pagamentos digitais, as transferências instantâneas e até as criptomoedas tornaram-se relevantes nas nossas vidas.
Esta transformação trouxe novos desafios aos bancos centrais, que precisam de encontrar um equilíbrio entre acompanhar a inovação e manter a estabilidade dos sistemas financeiros. É neste contexto que surgem as moedas digitais emitidas pelos bancos centrais (CBDC, do inglês Central Bank Digital Currencies).
Ao contrário das criptomoedas, como, por exemplo, a bitcoin, que funcionam de forma descentralizada e sem um emissor oficial, as CBDC representam a versão digital de uma moeda nacional, com garantia e suporte do próprio banco central. Alguns países já deram passos importantes neste campo: a Nigéria foi pioneira, em África, ao lançar o e-Naira, em Outubro de 2021.
A China é um dos países que mais avanços fizeram, com a introdução do yuan digital, também conhecido como e-CNY. Desde 2014, o país tem investido em investigação e desenvolvimento, e o e-CNY está disponível em 29 cidades: serve para pagar transportes públicos, distribuir salários de funcionários públicos e para uso em eventos internacionais, como os Jogos Olímpicos de Inverno.
A União Europeia está também em fase de testes para o lançamento do euro digital, com um projecto iniciado em Novembro de 2023 e com lançamento previsto para 2026. A terceira fase do relatório de progresso, publicada em Julho, mostra avanços na criação de um manual de regras para harmonizar os pagamentos digitais em toda a Zona Euro. O Banco Central Europeu (BCE) tem realizado testes com vários participantes, bem como inquéritos junto de vários grupos de con-
CBDC e Cripto Activos: O Futuro da Moeda na Era Digital
sumidores, incluindo grupos mais vulneráveis e pequenos comerciantes, para garantir que o euro digital seja inclusivo, respondendo a preocupações de toda a população.
Com a crescente digitalização do dinheiro, torna-se imprescindível que os bancos centrais acompanhem a evolução. Estas moedas digitais oficiais prometem inclusão financeira, custos de transacção mais baixos, maior eficiência no sistema de pagamentos e até melhor rastreabilidade para combater o branqueamento de capitais e o financiamento ilícito. Contudo, ao mesmo tempo, levantam dúvidas importantes, nomeadamente quanto ao nível de confiança dos cidadãos em sistemas totalmente digitais e controlados pelo Estado. Até que ponto
“As CBDC têm garantia e suporte do próprio banco central”
é que isso poderá concentrar ainda mais poder nas mãos dos bancos centrais, limitando a privacidade dos cidadãos?
Por outro lado, enquanto os bancos centrais desenvolvem as suas moedas digitais, milhões de pessoas em todo o mundo recorrem às criptomoedas e às “stablecoins” como alternativa de reserva de valor. Em países com inflação crónica e moedas frágeis, como a Argentina ou a Turquia, o uso de cripto activos para preservar o poder de compra já se tornou uma prática comum. A bitcoin passou a ser comparada ao “ouro digital”, e “stablecoins” indexadas ao dólar, como o USDT, funcionam como refúgio contra a desvalorização cambial. Assim, o debate não é apenas tecnológico: envolve confiança, soberania monetária e até o direito de es-
colher onde guardar determinado valor. Quando olhamos para Moçambique, esta discussão ganha contornos ainda mais interessantes. O País tem enfrentado uma forte dependência de importações e desafios de inclusão financeira. Grande parte da população ainda não tem acesso a serviços bancários tradicionais, mas utiliza carteiras móveis para transacções diárias, um passo importante rumo à digitalização. Neste cenário, uma eventual implementação de uma CBDC pelo Banco de Moçambique poderia ampliar o acesso a serviços financeiros formais, reduzir custos de transacção e até trazer mais transparência ao sistema.
No entanto, também existem riscos. Uma CBDC exige uma infra-estrutura tecnológica robusta, confiança na estabilidade institucional e níveis adequados de literacia financeira. Além disso, em momentos de instabilidade cambial, muitos moçambicanos poderão procurar refúgio em activos indexados a moedas fortes ou mesmo em criptomoedas, percebendo-os como formas de protecção contra a perda de poder de compra. Isto poderá revelar que, mesmo com a chegada de uma moeda digital oficial, a disputa entre estabilidade centralizada (CBDC) e liberdade descentralizada (cripto activos) pode intensificar-se.
A tendência aponta para um cenário de coexistência entre diferentes formas de moeda. As CBDC têm potencial para transformar a forma como pagamos, poupamos e interagimos com o Estado, reforçando o papel dos bancos centrais na era digital. Paralelamente, os cripto activos continuarão a desempenhar um papel importante como reserva de valor em economias marcadas pela volatilidade e pela desconfiança institucional. No caso de Moçambique, o desafio será duplo: garantir que a inovação sirva para promover inclusão e estabilidade e, ao mesmo tempo, criar políticas que ofereçam confiança suficiente para que a própria moeda nacional — digital ou física — continue a ser vista como um porto seguro.
Mangal Avança Para Moçambique Ganhar Créditos de Carbono
O projecto Mozblue começou a replantar mangal e já cobriu 1300 hectares. Os créditos serão repartidos em três partes iguais entre a empresa promotora, parceiros governamentais e comunidades locais
Texto Redacção • Fotografia D.R.
Aempresa Blue Forest, sediada no Dubai, anunciou um marco importante no projecto MozBlue: dez milhões de pés de mangal já foram plantados pelas comunidades locais ao longo da costa da província da Zambézia, desde Novembro de 2024. “A campanha já restaurou 1300 hectares de costa degradada e atingirá os 30 000 hectares quando estiver totalmente implementada em 2030”, indica a empresa de desenvolvimento de projectos de carbono azul, que apresenta o trabalho em Moçambique como a sua principal aposta global.
A abordagem “coloca as comunidades locais no centro da restauração de ecossistemas em grande escala.” São apresentadas no relatório da empresa como “guardiãs do projecto”. A Blue Forest iniciou contactos com as autoridades e comunidades locais em 2021. Trabalhou em conjunto com 300 comunidades costeiras e 20 parceiros para garantir o que se designa como Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI), estabelecer a certificação de terras, criar associações e assinar acordos juridicamente validados por um prazo de 60 anos, estabelecendo “um novo marco para a restauração participativa e a gestão a longo prazo.” Este é o recurso vital para todos os envolvidos, um ecossistema para fixar carbono, transaccionável na forma de créditos, para ajudar os investidores, empresas e entidades emissoras de gases com efeito de estufa em qualquer parte do mundo a mitigar o seu impacto no planeta e a cumprirem os seus objectivos de sustentabilidade (ver caixa).
Mais biodiversidade e mais resiliência
Além de entrar no mercado internacional de créditos de carbono, estima-se que
o esforço “traga da volta a vida a habitats de mangais degradados, impulsione a biodiversidade e fortaleça a resiliência costeira contra tempestades e a subida do nível do mar”, argumenta a Blue Forest, com base nos ensinamentos da natureza onde estes ecossistemas são preservados. A costa nas regiões da Zambézia e Sofala é um ponto natural de embate de ciclones na rota meteorológica anual (entre Dezembro e Abril). Conseguir ter plantas que fixem os solos e ajudem a drenar inundações de forma natural é um mecanismo que pode salvar vidas.
A empresa promete “impactos económicos transformadores: o projecto criou 1250 postos de trabalho locais até à data, e apoia meios de subsistência sustentáveis” através de aquacultura, produção de sal e acesso a água potável. A expectativa é que os números cresçam à medida que a área coberta avança.
“O MozBlue é uma demonstração clara de que a acção climática e o desenvolvimento comunitário andam de mãos dadas”, destacou Vahid Fotuhi, fundador e CEO da Blue Forest, a propósito da cimeira dos Oceanos, em Nice, França, no mês de Junho. “Não estamos apenas a plantar árvores, estamos a restaurar a resiliência das comunidades costeiras que menos têm contribuído para as alterações climáticas e que, ainda assim, são as que mais sofrem.”
Colaborações com Removall, Sumitomo e UICN
A primeira fase do projecto está a ser desenvolvida em colaboração com a Removall Carbon e a Sumitomo Corporation. Os dois parceiros internacionais vão gerir a venda dos créditos de carbono da “fase 1” para financiar os compromissos comunitários do projecto a longo prazo. Esta fase inicial deverá restaurar 5116 hectares de costa.
Restaurar mangais devolve resiliência às comunidades
Flora
Fauna
A área abrangida pelo MozBlue prevê a restauração de quatro espécies de mangal. Sistemas radiculares densos deverão melhorar o solo e os aquíferos.
Peixes, aves e caranguejos regressam à medida que o habitat se regenera. De uma forma geral, para cada tipo de população, espera-se que as espécies tripliquem.
Aves
As aves são um tipo de “fauna-chave”, por ajudar a monitorizar a saúde do ecossistema. Prevê-se um aumento das actuais duas a três espécies para cerca de 12, em 2030.
O objectivo é ter no terreno
“as melhores práticas sustentáveis para a resolução de problemas climáticos” e promover “justiça social”
Em 2024, a Blue Forest anunciou a licença de operação para aquilo que designa como “um dos maiores projectos de restauração de mangais do mundo”, desde a cidade da Beira, a sul, passando por Chinde –delta do Rio Zambeze – e Zalala, até Pebane, a norte.
A EMPRESA E OS PROJECTOS COMO FUNCIONA O FINANCIAMENTO?
A Blue Forest é uma empresa global de desenvolvimento de projectos de restauração de mangais em grande escala, com sede no Dubai, Emirados Árabes Unidos. Detém actualmente seis projectos em África e na Ásia. O projecto de Moçambique é o único já em fase de implementação, decorrendo o processo de desenvolvimento na Tanzânia, Guiné Bissau, Costa do Marfim e Vietname, enquanto um outro projecto, na Indonésia, está em concepção.
O projecto MozBlue pretende mobilizar financiamento por carbono através da restauração de mangais, prevendo remover mais de 15 milhões de toneladas de CO2 ao longo dos 60 anos de vida da iniciativa.
O trabalho inclui acções de monitorização e verificação que permitem validar “créditos de carbono azul de elevada integridade, em conformidade com as normas internacionais.”
Através de acordos juridicamente vinculativos, um terço das receitas é dirigido às comunidades locais e outra terça parte é entregue aos parceiros governamentais, cabendo o restante à Blue Forest.
Prevê-se que este financiamento climático ajude directamente programas de conservação e programas socioeconómicos sustentáveis de longo prazo, com o objectivo de melhorar a vida das comunidades locais.
A empresa apresenta-se de braço dado com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), “uma parceria para implementar as mais recentes pesquisas e tecnologias em prol de uma economia internacional com emissões líquidas zero” (“net zero”). O objectivo é ter no terreno “as melhores práticas sustentáveis para a resolução de problemas climáticos” e promover “justiça social.”
Os financiadores, investidores e decisores políticos “precisam de ter a certeza de que as soluções baseadas na natureza que apoiam são eficazes e escaláveis.” A empresa reconhece que não é fácil ter o conhecimento especializado para este tipo de projectos ou “os recursos necessários” para os analisar e avaliar. “O Padrão Global da IUCN ajuda a preencher esta lacuna” no MozBlue, explica, a par da colaboração de dezenas de parceiros.
Os mangais são conhecidos pela sua notável capacidade de remover mais dióxido de carbono (CO2) da atmosfera “do que qualquer outra espécie de árvore”, destaca a organização Blue Forest.
Estes ecossistemas costeiros tropicais actuam como sumidouros de carbono extremamente eficientes, armazenando grandes quantidades deste, não só nas suas folhas e raízes, mas também no solo rico em matéria orgânica.
Para além do seu papel crucial na mitigação das alterações climáticas, os mangais oferecem uma defesa natural contra desastres climáticos, como tempestades, cheias e erosão costeira, funcionando como barreiras vivas que absorvem o impacto das ondas e reduzem a vulnerabilidade das comunidades ribeirinhas.
Adicionalmente, são viveiros essenciais para muitas espécies marinhas, contribuindo para a sustentabilidade das pescas e garantindo uma importante fonte de alimento e rendimento para populações locais. A sua preservação é, por isso, fundamental tanto para o equilíbrio ambiental como para o bem-estar humano.
Fonte: Relatório de Impacto 2025 do projecto MozBlube
O Que Falta Para as PME Africanas Crescerem Com Estrutura?
Glayds Gande • EY Senior Manager
Formalizar é palavra que aparece muitas vezes nos discursos políticos, nos planos de desenvolvimento, nas formações. Mas na rua — onde o negócio acontece, onde a banca é arrumada às 6h, onde o cliente decide ali, de pé, na hora —, a palavra “formalizar” ainda soa a custo, a documentação, a maçada, a promessa que não se cumpre. E se olhássemos para isso de forma diferente?
Formalizar não devia ser um fim. Devia ser um começo. Em Moçambique, quase todas as empresas são pequenas. Mais de 98% são micro, pequenas ou médias empresas. Mas a maioria continua na informalidade. E não é por preguiça ou falta de visão! Muitas vezes, é uma questão de sobrevivência, de responder ao que o sistema não oferece. A informalidade, para muitos, é a única forma de existir. O que protege hoje, no entanto, pode estagnar amanhã. O que proponho é que mudemos a pergunta. Em vez de “porque não formalizam”, devemos questionar: “Que estrutura oferecemos para que valha a pena formalizar”?
Algumas coisas que vejo, no terreno, quando trabalho com PME:
• Muitos empresários e empresárias nunca viram um modelo de contrato — e por isso têm dificuldade em apresentar propostas, proteger-se legalmente ou negociar com confiança;
• Pessoas talentosas a gerir pequenos negócios com intuição e esforço diário, mas sem acesso a ferramentas simples como um modelo em Excel, um registo de caixa ou um plano básico de facturação;
plica começar a pagar antes mesmo de começar a facturar — com taxas, licenças e obrigações fiscais que surgem logo no arranque.
Repensar a carga fiscal: um passo crucial para incentivar a formalização Nenhuma microempresa deveria ser travada nos primeiros passos por causa de impostos. Muitos empreendedores dão o passo da formalização com esperança, mas recuam diante de um sistema que começa a cobrar antes de apoiar.
Por isso, uma política de promoção da formalização mais eficaz poderia incluir:
• Isenção fiscal parcial ou total nos primeiros 12 a 24 meses de actividade formal;
• Tributação escalonada, ajustada ao volume real de facturação;
• Apoio técnico inicial à gestão fiscal e obrigações mínimas, com acompanhamento através dos vários postos do Balcão de Atendimento Único (BAU), do IPEME e, onde possível, por contabilistas certificados ou incubadoras.
Incentivar a formalização é mais do que registar empresas — é criar condições para que elas sobrevivam, cresçam e contribuam para a economia real.
Um modelo possível: formalizar para crescer, não para complicar
1. Formalizar com propósito
Incentivar a formalização é mais do que registar empresas; é criar condições para que elas sobrevivam, cresçam e contribuam para a economia real
• Negócios com potencial real, que batem à porta de grandes clientes e voltam para trás porque lhes falta um NUIT activo, capacidade de emitir recibos ou ter uma conta bancária no nome da empresa.
Não falta ambição. Falta estrutura com sentido. Porque mesmo quando tentam formalizar, vem o susto: taxas, impostos mínimos, contribuições obrigatórias, exigências fiscais que nascem antes do primeiro cliente. Na prática, muitas vezes, formalizar em Moçambique im-
Reduzir complexidade nos primeiros passos: simplificar sem infantilizar e comunicar com clareza o que se ganha — não apenas o que se paga. Se não houver oportunidades ligadas à formalização, ninguém se convence. Não falo só de acesso a concursos públicos. Falo de pequenos contratos com empresas maiores, de feiras com critérios e ganhos mínimos, de linhas de financiamento realistas.
2. Ferramentas simples que ajudam a começar
Um modelo simples de orçamentação. Um modelo de contrato básico. Um re-
Moçambique não tem escassez de empreendedores. Tem escassez de sistemas que os levem longe
gisto de vendas no Excel (ou até mesmo à mão). Nada de plataformas que exijam Internet estável ou inglês técnico. Ferramentas que funcionem mesmo onde ainda não há tudo.
3. Crescer juntos: consórcios que fazem sentido
Já vi empresas pequenas que, juntas, conseguiram responder a uma grande oportunidade. Mas, para isso, precisam de modelos legais que permitam gerar confiança, colaborar, partilhar. Seja através de consórcios temporários, parcerias formais ou acordos com apoio técnico. O que importa é garantir que colaborar seja possível — e seguro.
4. Medir o que importa
Não é só contar quantas empresas estão registadas. É saber quantas sobreviveram. Quantas cresceram. Quantas passaram de dois, para cinco, vinte empre-
gados. Quantas conseguiram entrar em cadeias de fornecimento estáveis.
E os grandes projectos?
E o Governo?
Há aqui um ponto sensível — e estratégico. Quando uma grande empresa decide comprar localmente, mas exige requisitos que nenhuma PME formal consegue cumprir, ela está a excluir, antes mesmo de começar. Quando o Governo simplifica o registo, mas não cria incentivos económicos, está apenas a tornar mais fácil algo que continua a não compensar. A formalização só se torna desejável quando dá acesso. Quando abre portas reais. O que precisamos é de parcerias tripartidas com objectivos claros (grandes empresas + PME + entidades facilitadoras) com metas, contratos-piloto, mentoria e assistência técnica efectiva. E, acima de tudo, confiança — construída com transparência. Formalizar para
escalar não é apenas registar uma empresa. Deve ajudar a estruturar o que já existe: negócios com clientes, com procura, com potencial — mas ainda sem base legal, fiscal, contratual ou sem um modelo claro de gestão que sustente o crescimento.
Deve permitir que o esforço individual se traduza em acesso a financiamento, a mercados e a contratos reais. E deve criar caminhos de crescimento com regras claras, contabilidade mínima e apoio prático, em vez de depender apenas do improviso e da boa vontade de quem empreende.
Moçambique não tem escassez de empreendedores. Tem escassez de sistemas que os levem longe. E é aqui — entre a coragem de quem empreende e a responsabilidade de quem decide — que pode nascer uma nova economia. Uma economia com raízes locais e asas estruturada
Moçambique Procura Parcerias Com a Argélia, Exportador de Gás
A Feira de Comércio Intra-Africana procurou dar um novo empurrão à Zona de Comércio Livre Continental, fulcral para as cadeias de valor locais. O Presidente Daniel Chapo participou na abertura do evento, em Argel, durante uma visita em que lançou bases para a cooperação económica entre os dois países
Texto Redacção • Fotografia DR
Poderão Moçambique e Argélia estar a lançar sementes para futura cooperação económica? A distância que separa os dois países africanos e as duas realidades tão distintas — entre o Norte de África e a África Austral — podem alimentar o cepticismo, mas a visita do Presidente moçambicano Daniel Chapo a Argel, no início de Setembro, pode mudar o cenário. Chapo convidou empresários argelinos para investirem na refinação de gás em Moçambique, referindo que o País está a tornar-se num dos “grandes produtores” — sendo que a Argélia está no “top 10” do exportadores mundiais. “Moçambique está a tornar-se um dos grandes produtores de gás natural em África e no mundo. Procuramos parcerias na refinação do gás, petroquímica e aproveitamento do gás para a industrialização”, disse Daniel Chapo, durante um encontro com empresários argelinos. O Presidente moçambicano deslocou-se a Argel no âmbito da 4.ª edição da Feira de Comércio Intra-Africana, organizada pelo Banco Africano de Exportação e Importação (Afreximbank), com o objectivo de “impulsionar o comércio e o investimento em África.” Chapo apelou também à mobilização em torno de “oportunidades concretas de negócio”, convidando empresários a investir em Moçambique, que classificou como uma “porta de entrada” para a África Austral e oceano Índico. Uma posição que tem colocado o País na li-
nha da frente de planos de investimento transnacionais, com potencial para a criação de cadeias de valor que podem beneficiar o conteúdo local.
“O nosso objectivo é construir parcerias empresárias sólidas e mutuamente vantajosas, em linha com a visão africana de integração no quadro da zona de comércio livre continental (…). Estamos abertos a acolher empresários argelinos, nossos irmãos, que queiram investir e crescer connosco em Moçambique”, acrescentou o chefe do Estado.
Atenções centradas no gás, mas não só
O Presidente moçambicano destacou os cinco projectos de exploração de gás natural existentes no País, quatro dos quais em curso na zona norte do país (bacia do Rovuma) e o projecto mais antigo, da Sasol, da província de Inhambane. “Nós gostaríamos de ter estes negócios de prestação de serviços a estes megaprojectos com os nossos irmãos argelinos. Também [eles] já têm conhecimento bastante avançado e isso vai permitir-nos crescermos juntos”, referiu.
Além do sector de hidrocarbonetos, Daniel Chapo convidou também os empresários argelinos a investirem nos sectores de energia e na indústria farmacêutica, referindo que Moçambique tem a Argélia como um “exemplo de referência” no sector. Ao nível dos princípios de governação, a visita serviu para reafirmar “o compromisso de Moçambique com a integração económica conti-
O comércio entre os países do continente representa actualmente 15%, enquanto o comércio entre estes e a Europa ultrapassa os 30%, 20% com a China, e apenas cerca de 5% com os Estados Unidos, de acordo com o Banco Africano de Exportação e Importação
A EXPERIÊNCIA ARGELINA COM GÁS NATURAL
A Argélia é um dos principais exportadores de gás natural (está no “top 10” mundial, entre a sexta e oitava posições, consoante a fonte), sendo a Europa o seu principal cliente. Grande parte dessas exportações faz-se por gasodutos submarinos:
• Medgaz: liga a Argélia (Beni Saf) a Almeria, em Espanha.
• Transmed (via Tunísia e Sicília): não é submarino em todo o trajecto, mas inclui trechos submarinos entre a Tunísia e a Sicília, chegando depois à Itália.
• O Maghreb–Europa (GME), que passava por Marrocos até Espanha, também tinha uma parte submarina no estreito de Gibraltar, mas está actualmente parado, desde 2021, devido a tensões políticas entre a Argélia e Marrocos. Além dos gasodutos, a Argélia exporta gás natural liquefeito (GNL) em navios metaneiros a partir de portos como Arzew e Skikda. Segundo os dados mais recentes disponíveis, em 2024, a Argélia exportou cerca de 48,7 mil milhões de metros cúbicos (BCM) de gás natural, com cerca de 20,29 mil milhões de dólares em exportações.
Presidente Daniel Chapo e o homólogo argelino, Abdelmadjid Tebboune
Argélia manifestou interesse em cooperar com Moçambique na área económica como o gás natural,
A
nossa reunião não é apenas um evento económico, mas [também] para
construir
um continente integrado e
eficaz no seu âmbito
regional e internacional”, declarou o Presidente argelino, Abdelmadjid Tebbounes
nental e com o fortalecimento de parcerias estratégicas no domínio do comércio e do investimento”, acrescentou a Presidência.
Ministro argelino demonstra interesse
As palavras de Daniel Chapo parecem ter merecido a atenção da Argélia, dado que o país manifestou interesse em cooperar com Moçambique na área económica, com enfoque na energia, minas e gás natural, mostrando-se disponível a apoiar o País nos seus projectos de desenvolvimento.
“Estamos muito felizes de ver o Presidente [de Moçambique] aqui na Argélia para fortalecer esta relação, sobretudo, a relação económica. Estamos disponíveis e dispostos a contribuir em vários projectos de grande valor no domínio da energia, das minas, das energias renováveis [e] no desenvolvimento de gás natural”, disse o ministro dos Recursos Minerais e Energia argelino, Mohamed Arkab. Arkab sublinhou que os dois países pretendem colaborar também noutros sectores, no âmbito do reforço das relações bilaterais que podem vir a beneficiar as empresas locais moçambicanas.
Um feira para abrir portas por dentro de África
A quarta edição da Feira de Comércio Intra-Africano (IATF, na sigla em inglês) foi inaugurada pelos Presidentes de Moçambique, da Mauritânia, da Tunísia, da Líbia, do Chade e da Argélia, país que se ofereceu como “passarela” para as transacções entre o continente africano e a Europa, com a assinatura de acordos de milhões de euros. Com o objectivo de impulsionar as relações comerciais e acordos comerciais importantes, a IATF reuniu mais de 2000 expositores de 80 países.
“A nossa reunião não é apenas um evento económico, mas [também] para construir um continente integrado e eficaz no seu âmbito regional e internacional”, declarou o Presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, durante a cerimónia inaugural. Tebboune alertou para a ausência de África no mercado mundial, apesar de terem sido realizadas inúmeras iniciativas nas últimas duas décadas, incluindo uma Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZLECAF, na sigla em francês), em vigor desde 2021.
Este encontro de instituições e empreendedores africanos visa acelerar a activação desta zona para a liberaliza-
ção do comércio de bens e serviços entre os 54 países da ZLECAF, que constituem o maior espaço comum do mundo. A IATF, a maior plataforma de parceiros para o comércio em África, criada em 2018, espera impulsionar “os fluxos comerciais intra-africanos”, “promover investimentos em todos os campos” e “fortalecer a competitividade africana.” O comércio entre os países do continente representa actualmente 15%, enquanto o comércio entre estes e a Europa ultrapassa os 30%, 20% com a China e apenas cerca de 5% com os Estados Unidos, de acordo com a organização, o Banco Africano de Exportação e Importação (Afreximbank).
Um mercado imenso à espera de activação
O mercado africano conta com mais de 1,4 mil milhões de consumidores, pelo que certames com o de Setembro, em Argel, visam expandir o comércio interno africano até 30% em 2030. Olusegun Obasanjo, ex-Presidente da Nigéria e actual líder do Conselho Consultivo da IATF, destacou a necessidade de reforçar a cooperação entre diferentes sectores para construir um mercado continental mais resiliente e competitivo e incentivou a transformação económica de África. O Presidente argelino anunciou, durante este evento, projectos ferroviários com os vizinhos Mali e Níger, países com os quais actualmente mantém um arrefecimento diplomático. A primeira edição da IATF foi realizada no Cairo em 2018, seguida pela de Durban (África do Sul) em 2021, antes de voltar a ser organizada na capital egípcia em 2023. A organização anunciou que o próximo encontro será em Lagos, capital da Nigéria, em 2027.
Regulação e Prevenção de Ilícitos: o Papel do Absa Moçambique
Nos últimos anos, Moçambique intensificou os esforços para reforçar o combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento do terrorismo. Instituições como o Banco de Moçambique (BdM) e o Instituto de Supervisão de Seguros de Moçambique (ISSM) firmaram acordos para optimizar a supervisão financeira, conforme previsto na Lei n.º 11/2022, de 7 de Julho.
A aprovação da Lei n.º 20/2020, pela Assembleia da República (AR), e o seu regulamento de 2022 estabelecem os regimes jurídicos aplicáveis às instituições de crédito, sociedades financeiras e operadores de micro finanças, assinalando significativamente o reforço do sistema regulatório financeiro nos últimos anos.
O País também implementou medidas tecnológicas e estratégicas que contribuíram para avanços significativos no Índice Basel AML 2024, passando de uma pontuação de risco de 7,88 para 7,15, melhorando sua posição global. Este progresso é o resultado de uma maior cooperação multissectorial coordenada por entidades como o Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFIM), além de uma actuação mais robusta dos órgãos reguladores. Como instituição financeira de referên-
cia no sistema financeiro nacional, o Absa Bank Moçambique tem vindo a reforçar a sua conformidade com as exigências legais, através da implementação de políticas internas claras, tais como a Política de Prevenção do Branqueamento de Capitais, Política Anti-Suborno e Anti-Corrupção, Política de Sanções e mecanismos como a Política de Denúncias (Whistleblowing Policy). Dispõe igualmente de uma estrutura dedicada — o Compliance de Crimes Financeiros —, que trabalha em estreita articulação com o regulador, com o objectivo de assegurar a aplicação dessas normas. Foram ainda implementados programas de formação obrigatória dirigidos aos colaboradores, centrados em temas como ética, prevenção da corrupção e branqueamento de capitais, incluindo formação especializada em áreas sensíveis.
“O Absa Bank Moçambique tem estado na vanguarda da transformação digital do sector bancário no País. Enquanto instituição, assumimos o compromisso com a integridade e a estabilidade financeira e, nesse sentido, temos vindo a desenvolver continuamente processos que garantem a conformidade regulatória. A segurança e a conformidade em toda a nossa cadeia de operações são prioridades inegociáveis, pelo que o investimento nestas áreas continuará a estar no topo da nos-
O Absa Moçambique posiciona-se na vanguarda do combate a crimes financeiros como a lavagem de capitais
sa agenda”, disse Iuri Khan, Director de Compliance do Absa Bank Moçambique. No domínio da prevenção de crimes financeiros, Moçambique tem enfrentado desafios no combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo. Actualmente, o País está em processo de saída da “lista cinzenta” do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI), após implementar reformas institucionais com realce para o reforço da supervisão pelo Banco de Moçambique, criação de sistemas de rastreabilidade e comunicação de transacções suspeitas, bem como a aprovação de leis específicas para combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.
No quadro das acções destinadas à consolidação de um ambiente seguro e transparente, o Absa Moçambique tem apostado continuamente no reforço da cultura de integridade dentro do Banco, implementando políticas que promovem a cooperação multissectorial como parte activa da luta nacional contra o crime financeiro, assegurando a conformidade regulatória e actuando como ponte entre as autoridades, o sector privado e os bancos comerciais.
O Banco reconhece que a implementação de uma supervisão mais rigorosa constitui uma etapa natural da maturação institucional, evidenciando que as práticas financeiras exigem vigilância constante e ajustamentos contínuos.
Para o Absa Bank Moçambique, a conjugação de reformas legais, uma supervisão altamente eficaz e de iniciativas de educação financeira está a criar as bases para um sector bancário mais seguro, inclusivo e preparado para os desafios do futuro.
“Moçambique tem registado avanços significativos no fortalecimento da legislação e dos mecanismos de prevenção de crimes financeiros. Neste contexto, o Absa continuará a adoptar uma postura pró-activa, estruturada e cooperativa, integrando políticas internas rigorosas, formação contínua, articulação com o regulador e a participação em iniciativas nacionais e internacionais, que contribuem positivamente para a prevenção efectiva de crimes financeiros em Moçambique”, afirmou Iuri Khan.
Moçambique à Prova na Negociação Com a Maior Indústria do País
O Governo quer que a maior fábrica do País seja cliente da eléctrica estatal, mas o grupo australiano South32, que detém a Mozal, ameaça sair. O Presidente da República diz não poder aceitar uma proposta de valores que pode levar ao “colapso” da “galinha dos ovos de ouro” que é a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB). Como vai acabar esta negociação? Os empresários moçambicanos já fizeram soar o alarme: além de ameaçar parar em Março de 2026, o accionista maioritário já começou a rescindir contratos. A E&M conta-lhe a história com vários convidados a analisar uma disputa que põe Moçambique à prova face a investidores e parceiros estrangeiros
Qual seria o impacto para Moçambique se houvesse alterações ao funcionamento da fábrica de processamento de alumínio Mozal?
Inaugurada em 2000, foi um dos primeiros grandes investimentos privados no País após a independência. A unidade simboliza o sonho de industrialização de Moçambique e está interligado – por via de tributações, postos de trabalho, contratos com fornecedores e exportações – com inúmeros aspectos da economia nacional.
As condições de fornecimento de electricidade, em termos de potência e preço, são uma preocupação, tal como tem sido relatado pelo Diário Económico. Um dos relatórios financeiros do grupo australiano South32 (accionista maioritário da Mozal, com 63,7%) já a referia no final de 2024: “O grupo considera razoável assumir que será alcançado um acordo para prolongar o fornecimento de energia da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) à Mozal além de Março de 2026”, lia-se no documento. Mas, de lá para cá, a perspectiva da empresa ficou mais pessimista e o cenário agravou-se. O que se passou e quais os intervenientes?
Em Fevereiro, e no seguimento do que já havia sido expresso pelo Executivo anterior, o Governo moçambicano anunciou a intenção de “repatriar”, para uso doméstico, a partir de 2030, a electricidade que exporta da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) para a África do Sul. A posição está expressa na Estratégia para a Transição Energética em Moçambique, até 2050, aprovada pelo Governo, e na altura divulgada pela agência Lusa. “Desde o início das operações, em 1979, a HCB exportou a maior parte da sua produção de electricidade para a estatal sul-africana Eskom, com uma parte menor fornecida à [empresa estatal] Electricidade de Moçambique (EDM)”, lia-se no documento. Segundo os últimos dados, a Eskom comprou 66% do total de energia da HCB, em 2024. Mas, “em 2030, o contrato de aquisição de energia entre a HCB e a Eskom chegará ao fim, e decisões importantes terão de ser tomadas relativamente à comercialização e destino final de energia limpa da HCB”, acrescentava-se.
Nos arredores de Maputo, Sul do País, funciona a fábrica de alumínio da Mozal, alimentada por electricidade fornecida pela Eskom — contrato de fornecimento que, por sua vez, termina em 2026. A Mozal é uma das maiores consumidoras de electricidade do País, com
A negociação implica a energia produzida na Hidroeléctrica de
necessidades de 900 MW, a que a rede eléctrica moçambicana não consegue responder com fiabilidade. Por isso, com a África do Sul a cerca de 50 quilómetros (em linha recta), a empresa decidiu estabelecer um contrato de energia com a Eskom.
Governo quer mudanças na gestão da energia da HCB
O Presidente da República (PR) moçambicano, Daniel Chapo, confirmou, a 23 de Junho, que vai avançar, em 2030, com o processo de reversão energética, com o fim do contrato de fornecimento de electricidade produzida em Moçambique à sul-africana Eskom, em vigor desde 1979.
“Neste ano de 2025, além de implementar projectos de reabilitação, a HCB, olhando para a reversão energética prevista para 2030 — Moçambique passa a controlar a fonte de energia com o fim do contrato com a Eskom —, deve consolidar o seu papel no desenvolvimento energético do País”, disse o chefe do Estado, empossado em Janeiro, confirmando assim a intenção já sinalizada pelo Governo anterior.
Em Julho, o Governo moçambicano clarificou a sua intenção de o fornecimento de energia à fábrica de alumínio passar a ser garantido pela EDM. “O que se pretende é introduzir o ‘player’ [interveniente] EDM, que é a entidade responsável pela comercialização da ener-
Cahora Bassa (HCB)
“Neste
ano de 2025, além de implementar projectos de reabilitação, a HCB, olhando para a reversão energética prevista para 2030, deve consolidar o seu papel no desenvolvimento energético de Moçambique”, PR Daniel Chapo
gia produzida pela nossa hidroeléctrica [de Cahora Bassa - HCB]. E há aqui elementos que têm de ser fechados para o efeito”, disse o porta-voz do Conselho de Ministros, Inocêncio Impissa. “Com certeza que a Mozal não vai ficar sem energia, porque é uma indústria” que interessa “sobretudo” aos moçambicanos, acrescentou.
South32 anuncia fim da produção em Março de 2026
A resposta da Mozal causou uma onda de choque: a meio de Agosto, o grupo South32 referiu, numa informação aos mercados, que vai cortar no investimento e dispensar empreiteiros e fornecedores, uma vez que só tem energia certa
PRODUÇÃO RECUPEROU
Apesar das dúvidas que ensombram o futuro, a produção de alumínio na Mozal já aumentou 13% este ano, recuperando totalmente da instabilidade pós-eleitoral de Outubro de 2024. De acordo com uma informação aos mercados da australiana South32, a produção de alumínio para venda aumentou para 355 mil toneladas no primeiro semestre e as vendas cresceram 8% para 351 mil toneladas.
“A fundição concluiu o plano de recuperação operacional e operou próximo da capacidade nominal no trimestre terminado em Junho de 2025, tendo administrado com sucesso os impactos da agitação civil [pós-eleitoral] em Moçambique”, anunciou.
ALUMÍNIO: INÚMERAS APLICAÇÕES
O alumínio é um metal importante com uma vasta gama de aplicações e é uma parte essencial do negócio global da South32. “Actuamos em todas as fases da produção de alumínio e somos um importante produtor deste metal amplamente utilizado, com operações na América do Sul, Austrália e África Austral”, destaca a empresa no seu portal na Internet.
A South32 possui operações de mineração de bauxite e refinação de “alumina” na Austrália e no Brasil, bem como fundições de alumínio na África do Sul, Moçambique e Brasil. O grupo australiano assumiu um compromisso de aumentar a exposição a “alumínio de baixo carbono.”
OS NÚMEROS DA MOZAL
A segunda maior fundição de alumínio de África fica na Matola, arredores de Maputo, e os números falam por si
50% da energia
A Mozal compra quase metade da energia produzida em Moçambique
3% do PIB
Peso estimado da Mozal no Produto Interno Bruto (PIB)
5000 trabalhadores
Total de trabalhadores da Mozal
para manter a operação até Março de 2026, altura em que termina o contrato de abastecimento de electricidade. O grupo alegou que não tem garantias de continuidade dali em diante.
A empresa fez saber que tem dialogado com o Governo moçambicano, com a HCB e com a Eskom — que compra a electricidade da HCB e a vende à Mozal — “para garantir o fornecimento de electricidade suficiente e acessível”, no sentido de “permitir operar quando o actual contrato [de fornecimento de energia] expirar.” Contudo, os compromissos até agora assumidos “não dão à Mozal” a “garantia de ter electricidade suficiente e acessível além de Março de 2026. Como resultado, limitaremos o investimento na Mozal”, dispensando “empreiteiros associados a partir deste mês [de Agosto]”, re-
“Limitaremos o investimento na Mozal”, dispensando “empreiteiros associados a partir deste mês [de Agosto]”, anunciou a empresa, antevendo que a fábrica seja colocada em regime de “manutenção” em Março de 2026
feriu-se na informação, antevendo que a fábrica seja colocada em regime de “manutenção” no final do actual contrato.
A informação acrescentou que a produção da Mozal, no ano fiscal de 2026, deverá ser de aproximadamente 240 mil toneladas, “reflectindo o menor número de cubas [de fundição] em funcionamento”, face à interrupção imediata do processo de revestimento das mesmas, porque “as operações apenas se prolongarão até Março.”
O documento assumiu “como o cenário mais provável” que a Mozal “opere até ao final do actual contrato de fornecimento de electricidade e seja colocada em manutenção.” O grupo reconhecia já “uma perda por imparidade” de 372 milhões de dólares (318,3 milhões de euros) para sustentar o anúncio.
O negócio da Mozal está interligado com diversas empresas locais
HCB, a “galinha dos ovos de ouro” em risco
Poucos dias depois, o Presidente moçambicano afirmava que o que estava em causa era uma negociação de tarifas, acrescentando que os valores propostos pela Mozal levariam ao colapso da HCB. “Estamos a defender o interesse nacional e os interesses do povo moçambicano. Não podemos aceitar tarifas que vão levar a HCB a subsidiar a Mozal e colapsarmos a HCB, que é a nossa galinha dos ovos de ouro”, afirmou Daniel Chapo. “Tanto a República de Moçambique como a HCB não têm contrato com a Mozal. Este é o primeiro aspecto. Moçambique, através da HCB, tem contrato com a Eskom, que é sul-africana (…). A ser debatido, este assunto, em princípio, deveria ser com a Eskom, ao nível
da África do Sul”, acrescentou. “Estamos, neste momento, a discutir este aspecto, e neste debate sobre as tarifas, de certeza absoluta que um dia se chegará a um consenso”, afiançou.
HCB pode fornecer uma pequena parte; à Eskom caberá o resto Entretanto, o porta-voz do Conselho de Ministros esclareceu estarem em negociação 350 Megawatts de energia a comprar à HCB. Ou seja, Cahora Bassa só pode fornecer à Mozal até 350 Megawatts dos 950 que necessita a partir de 2026, justificando-se com baixos níveis de armazenamento de água na albufeira, devido à seca que assola a região, prejudicando a produção de energia. “Os remanescentes 600 Megawatts poderão ser fornecidos pela Eskom, da África do Sul,
competindo à Mozal encetar diligências para o efeito.”
Inocêncio Impissa reiterou o ponto relativo aos valores em discussão, já apontado pelo PR: “Vendendo a energia à Mozal, na base proposta”, Moçambique iria incorrer num prejuízo, “pois estaria [a fornecer] muito abaixo dos custos de produção e de transporte”, disse. “Moçambique garante fornecimento de 350 Megawatts da HCB à Mozal”, a partir de Março, “ao mínimo preço que permita a cobertura dos custos, incluindo o ajustamento previsto para o ano 2028”, acrescentou.
Noutro aspecto, o porta-voz do Conselho de Ministros considerou “extremamente baixa” a contribuição fiscal da Mozal, acrescentando ao debate em curso o interesse em rever as obrigações
neste domínio. “Embora contribua com cerca de 3,2% do PIB, representa menos de 0,2% das receitas fiscais do Estado”, referiu, apontando para uma “necessidade de reavaliar os termos do pacote fiscal aplicado, bem como outros benefícios para Moçambique.”
Empresários prejudicados com fim de contratos com a Mozal Nesta negociação entre Governo e Mozal, um dos capítulos mais dramáticos surgiu pela voz da Confederação das Associações Económicas (CTA), anunciando que a Mozal, maior indústria de Moçambique, rescindiu contratos, de forma “súbita”, com cerca de 20 empresas, deixando pelo menos mil desempregados. Uma desvinculação que surge depois do anúncio da travagem nos investimentos e constituição de imparidades, antecipando o fim de produção em Março de 2026. A associação dos patrões moçambicanos considerou “inadmissível que uma empresa que tanto beneficiou do ambiente fiscal, institucional e económico nacional adopte uma postura que deses-
“Não podemos aceitar tarifas que vão levar a HCB a subsidiar a Mozal e colapsarmos a HCB, que é a nossa galinha dos ovos de ouro”, afirmou Daniel Chapo
tabiliza o tecido empresarial nacional e fragiliza a confiança dos investidores”, referiu Álvaro Massingue.
No entanto, para evitar o encerramento das actividades desta indústria, a CTA “entende que o Governo pode considerar concessões na tarifa de energia, mas apenas com contrapartidas claras e estruturantes para a economia nacional. Esta crise pode e deve marcar um ponto de viragem. Não é o momento de abandonar a Mozal”, afirmou. Por exemplo, o Governo pode reavaliar o pedido da em-
O QUE DIZ A ESTRATÉGIA PARA A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA?
A Estratégia para a Transição Energética em Moçambique, até 2050, prevê um aumento da capacidade hidroeléctrica, com a nova barragem de Mphanda Nkuwa, no rio Zambeze, a par da construção da estação norte da HCB, na província de Tete, Centro de Moçambique. “Os recursos hidroeléctricos únicos de Moçambique formarão a espinha dorsal estratégica para a produção de energia de baixo carbono e as ambições de industrialização verde do País, que é uma prioridade nacional”, indica o documento. Contas feitas, antecipase que, “ao longo da próxima década, cerca de 3,5GW de nova capacidade hidroeléctrica estarão disponíveis” para uso doméstico em Moçambique, desde logo pelo “termo, em 2029, do acordo de exportação existente” da HCB com a África do Sul, mas também pela entrada em funcionamento, em 2031, do novo projecto hidroeléctrico de Mphanda Nkuwa, de 1,5GW.
“Estes factores constituem uma oportunidade única para gerar energia limpa e estável para o desenvolvimento económico e a industrialização verde.”
presa, mas pelo menos 40% da produção deve ser destinada a empresas baseadas em Moçambique, para transformar o alumínio localmente em produtos semi-manufacturados e acabados, dinamizando a industrialização. A CTA quer também que o novo acordo aumente o número de empresas locais a prestar serviços a Mozal para beneficiar cada vez mais as pequenas e médias empresas, defendendo que “as decisões sobre o futuro da Mozal devem reflectir os interesses do País e do seu sector produtivo.”
Haverá luz ao fundo do túnel? Na última declaração sobre o assunto, no final de Agosto, o porta-voz do Governo disse que as negociações continuavam num “ambiente de conversa muito mais amigável” com todas as partes envolvidas — Mozal, HCB e Eskom —, visando que os interesses de todos estejam “legalmente protegidos. O Governo moçambicano vai continuar a acarinhar a Mozal, melhorar os termos de negociação e garantir que se mantenha a produzir em Moçambique, com todas as facilidades necessárias, sem prejuízo para qualquer das partes.”
Jogo de Equilíbrio: Negociar Com Firmeza e Inteligência
Analistas indicam que há vias de compromisso possíveis para acolher os objectivos da South32, HCB e do País (trabalhadores, fornecedores e cofres estatais) nas negociações em curso sobre o futuro da Mozal. A E&M explora alguns dos caminhos para ultrapassar diferendos e fragilidades
Texto Felisberto Ruco • Fotografia D.R.
Anegociação em curso tem suscitado a atenção de vários analistas — defendendo a necessidade de haver mais informação pública sobre o dossiê —, que apontam para a delicadeza das negociações. Há muitas variáveis em jogo (mais do que parece à primeira vista), e encontrar o equilíbrio vai exigir muita competência. O economista Egas Daniel disse à E&M que o diferendo “vai muito além de uma simples disputa sobre tarifas: expõe fragilidades estruturais da economia e pode ter consequências profundas no plano social e económico.”
O analista sublinhou o dilema central: “A Mozal consome quase metade da energia da HCB. Para a empresa, tarifas mais altas ameaçam a competitividade; para o Estado, subsidiar fragiliza a HCB. Ceder enfraquece a HCB; endurecer em excesso enfraquece a economia nacional.” Daí a proposta de “negociar com firmeza e inteligência”, impondo contrapartidas claras: manutenção de empregos, integração de fornecedores locais, transformação parcial da produção no País e maior contribuição fiscal justa. O economista defende ainda uma via
de compromisso: “Em vez de se insistir apenas em tarifas elevadas no início, o Governo pode aceitar tarifas iniciais mais baixas em troca de participação directa nos lucros futuros — dividendos, royalties progressivos ou percentagem sobre exportações líquidas. Alivia-se a pressão no curto prazo e garante-se que Moçambique não abdica de receitas, apenas as transforma em ganhos sustentáveis quando a operação estiver mais lucrativa.”
“Governar é também comunicar”
A Mozal responde por cerca de 3% do PIB e por 1,1 mil milhões de dólares em exportações anuais, com forte peso na entrada de divisas. Porém, estudos independentes e organizações da sociedade civil chamam a atenção para o descompasso entre escala e retorno fiscal. O Centro de Integridade Pública (CIP) tem sublinhado que a contribuição directa da Mozal para as receitas do Estado tem sido muito baixa — nalguns exercícios menos de 0,2% do total e, em 2021, 0,07%.
Para Edson Cortez, director executivo do CIP, o debate não é apenas sobre o preço da energia; é também sobre a equidade de benefícios: “Não podemos,
A síntese dos especialistas é clara: o desafio não é escolher entre Mozal e HCB, é desenhar um modelo que assegure produção industrial sem sacrificar a sustentabilidade energética
25 anos depois, subsidiar uma empresa que pouco ou quase nada deu ao País.” O analista e investigador critica ainda a escassez de informação oficial sobre o andamento das conversações: “Governar é também comunicar. A sociedade tem o direito de saber que contrapartidas estão em cima da mesa.”
Emprego e fornecedores sob pressão
A Confederação das Associações Económicas (CTA) denunciou a rescisão súbita de contratos com cerca de 20 empresas, com pelo menos mil trabalhadores já sem emprego. No conjunto, a Mozal sustenta 5000 postos directos e mais de 27 000 indirectos, entre prestadores de serviços, logística, manutenção e fornecimentos industriais. Moisés Siúta, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), alerta para efeitos imediatos.
“Qualquer paragem ou redução de produção repercute-se, não apenas sobre
Negociações definem futuro da indústria
EGAS DANIEL Economista
“Em vez de se insistir apenas em tarifas elevadas no início, o Governo pode aceitar tarifas iniciais mais baixas em troca de participação directa nos lucros futuros. Nenhuma economia pode depender de forma desproporcionada de um único projecto ou de uma só fonte de energia.”
os trabalhadores directamente contratados, como também sobre as pequenas e médias empresas que prestam serviços à Mozal.” Para o investigador, o momento é também “uma oportunidade para renegociar condições estruturais que permitam ao País extrair melhores benefícios de um projecto desta dimensão.”
Transparência, contratos e previsibilidade regulatória
Edson Cortez considera que a situação revela falhas de comunicação pública e a necessidade de somar previsibilidade contratual a escrutínio parlamentar: “Contratos com multinacionais devem ser claros, equilibrados e previsíveis, com cláusulas de revisão periódica e mecanismos automáticos de ajustamento. Quanto maior o escrutínio, melhor a qualidade dos acordos.” O dirigente alerta para o risco de efeito de arrasto: “Ceder num caso pode abrir espaço para exigências semelhantes de outras empresas.”
CONTRIBUTO FISCAL: O QUE DIZ O CIP
• Peso muito baixo nas receitas do Estado; nalguns anos <0,2%;
• Em 2021, contributo de 0,07% da receita total;
• Rever regimes fiscais e alinhar incentivos com contrapartidas verificáveis (emprego, fornecedores locais, transformação industrial, reporte transparente).
CRONOLOGIA DA CRISE ENERGÉTICA (2024-2026)
2024
Governo reafirma reversão energética para 2030 (fim do contrato HCB-Eskom)
JUNHO 2025
PR confirma que a HCB não pode subsidiar a Mozal
AGOSTO 2025
South32 anuncia travagem de investimento, imparidade e rescisão de contratos com empreiteiros
MARÇO 2026
Termina o contrato de energia que actualmente sustenta a operação
OUTROS CASOS SENSÍVEIS DE NEGOCIAÇÃO COM MULTINACIONAIS
• Sasol — Matriz energética e partilha de benefícios em gás natural (Temane/Inhambane);
• Vale — Transição e saída de Moatize, custos sociais e reconfiguração regional;
• Anadarko/Total — LNG em Cabo Delgado, interrupções e reentrada faseada pós-crise de segurança;
• Kenmare — Mineração de titânio, impactos locais e exigências de conteúdo nacional.
Empregos e fornecedores sob pressão
Na mesma linha, Egas Daniel enfatiza a criação de instâncias permanentes de diálogo e arbitragem para antecipar divergências, e a urgência da diversificação produtiva e energética: “Nenhuma economia pode depender de forma desproporcionada de um único projecto ou de uma só fonte de energia.”
Modernização tecnológica e metas climáticas como parte da solução
Nas entrevistas recolhidas pela E&M, ganha corpo a ideia de ligar a negociação energética a compromissos tecnológicos e ambientais. Moisés Siúta e outros analistas apontam a modernização da fundição para eficiência energética e redução da intensidade de consumo como alavanca de competitividade, sem carregar a factura sobre a HCB.
Do lado da empresa, constam metas de redução para metade das emissões operacionais até 2035 (face a FY21) e neutralidade carbónica em 2050, com integração de electricidade de baixo carbono e investimento em inovação. Articular tarifas, conteúdo local e investimento em eficiência pode, segundo os especialistas, mitigar pressões sobre o
Edson Cortez, director executivo do Centro de Integridade Pública (CIP), alerta para o risco de um efeito de arrasto: “Ceder num caso pode abrir espaço para exigências semelhantes de outras empresas”
EDSON CORTEZ Director-executivo do Centro de Integridade Pública (CIP)
“Governar é também comunicar.
A sociedade tem o direito de saber que contrapartidas estão em cima da mesa.”
“Contratos com multinacionais devem ser claros, equilibrados e previsíveis, com cláusulas de revisão periódica e mecanismos automáticos de ajustamento.”
MOISÉS SIÚTA Investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE)
“É uma oportunidade para renegociar condições estruturais que permitam ao País extrair melhores benefícios de um projecto desta dimensão.”
Moisés Siúta e outros analistas apontam para a modernização da fundição com vista a conquistar mais eficiência energética.
sistema eléctrico e amarrar benefícios para a economia real.
Cenários e calendário
No curtíssimo prazo, o País precisa de previsibilidade contratual, antes de Março de 2026. Egas Daniel admite que a continuidade da Mozal é “desejável pelos empregos, divisas e efeito multiplicador”, mas “não a qualquer preço: se a HCB for obrigada a praticar preços abaixo do custo de oportunidade, perde capacidade de investimento e manutenção, fragilizando todo o sector energético. A continuidade da Mozal tornar-se-ia insustentável e dependente de subsídios ocultos.”
A síntese dos especialistas é clara: o desafio não é escolher entre Mozal e HCB; é desenhar um modelo que assegure produção industrial sem sacrificar a sustentabilidade energética, com acordos de transição bem estruturados, partilha de lucros e responsabilidade social vinculativa.
Enquanto isso, Edson Cortez insiste: “Se a Mozal ficar, o País tem de saber quais foram as contrapartidas; se sair, é porque não houve acordo. Em qualquer cenário, o Governo deve prestar contas aos cidadãos.”
Um Pilar Invisível da Sociedade Moderna
No século XIX, o alumínio era mais precioso do que o ouro. Hoje, marca presença em quase todos os aspectos da vida moderna, e a reciclagem é uma das características mais destacadas. A investigação mostra um futuro com aplicações promissoras
Texto Redacção • Fotografia D.R.
Oalumínio é hoje um dos pilares invisíveis da sociedade moderna. Das embalagens alimentares à aviação, da construção civil à electrónica, poucas áreas escapam ao seu uso. A sua abundância relativa à superfície terrestre contrasta com outros recursos naturais. O petróleo ou gás, por exemplo, estão encurralados no subsolo. Quer isto dizer que é mais fácil pegar no alumínio e processá-lo? Nem por isso. A complexidade do processo torna a história deste metal num percurso singular, onde ciência, indústria e inovação têm caminhado de mãos dadas.
A complexidade da extracção e processamento
O alumínio é o metal mais abundante da crosta terrestre, representando cerca de 8% da sua composição (se olharmos além dos metais, é o terceiro elemento mais abundante da crosta, depois do oxigénio e do silício). No entanto, o alumínio não se encontra em estado metálico livre: surge combinado em minerais, sobretudo a bauxite, principal fonte de produção mundial. E é por causa desta mistura que é complexa a sua obtenção para processos industriais. A extracção inicia-se com a mineração da bauxite, abundante em países como a Austrália, a Guiné-Conacri, o Brasil e a Indonésia – daí vermos várias referências a bauxite na documentação da South32, accionista maioritária da Mozal.
Após a extracção, a bauxite é refinada através do processo Bayer, no qual é transformada em alumina (óxido de alumínio). Posteriormente, a alumina é submetida à electrólise Hall-Héroult, um processo intensivo em energia, que separa o alumínio metálico. Esta necessidade energética explica a loca-
lização de várias fundições junto de fontes hidroeléctricas ou de gás natural, onde a produção de electricidade pode ser facilitada.
O mercado global do alumínio
Em termos geográficos, a China domina amplamente a produção de alumínio primário, com mais de metade do total mundial, seguida pela Índia, Rússia, Canadá e Emirados Árabes Unidos. Do lado da procura, os maiores consumidores são igualmente a China, os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão.
Os sectores de aplicação revelam a versatilidade do alumínio. A indústria dos transportes absorve uma fatia substancial, especialmente no fabrico automóvel e aeronáutico, onde a leveza do metal contribui para a eficiência energética e redução das emissões. A construção civil é outro destino central, com janelas, fachadas e estruturas metálicas. A embalagem, seja em latas de bebidas ou em folhas de alumínio, constitui um uso quotidiano e de alto volume. Acrescem ainda sectores como a electrónica, a energia (cabos e linhas eléctricas) e até a medicina, com aplicações em próteses e dispositivos.
Investigação, desenvolvimento e o futuro do alumínio
O futuro do alumínio está intrinsecamente ligado à inovação tecnológica. Uma das linhas de investigação mais promissoras é a redução do impacto ambiental do processo Hall-Héroult. Vários projectos de investigação e desenvolvimento procuram electrólises sem emissões de carbono, substituindo os ânodos consumíveis de carbono por ânodos inertes. Um exemplo é a iniciativa Elysis, desenvolvida no Canadá, que ambiciona eliminar por completo as emissões directas de CO₂ na fundição.
Na construção sustentável, novos métodos permitem utilizar alumínio reciclado de alta qualidade em estruturas complexas
No campo dos materiais avançados, o alumínio encontra-se no centro da corrida para ligas de alto desempenho. Novas combinações com magnésio, lítio ou escândio permitem criar ligas ultra-resistentes e leves, algumas das quais já em ensaios para aeronáutica, espaço e veículos eléctricos. A leveza e durabilidade posicionam o alumínio como concorrente directo de materiais compósitos e até de fibras de carbono em alguns contextos.
Na construção sustentável, novos métodos permitem utilizar alumínio reciclado de alta qualidade em estruturas
complexas, reforçando o papel do metal numa economia de baixo carbono. A digitalização industrial (Indústria 4.0) acelera também a eficiência, com sensores e inteligência artificial a optimizarem processos de fundição e reciclagem.
Assim, o alumínio permanece no centro do debate sobre inovação, energia limpa e materiais estratégicos.
História: da raridade à ubiquidade
Apesar da sua abundância natural, o alumínio foi, durante séculos, inacessível à humanidade. A sua história começa no início do século XIX. O químico dinamarquês Hans Christian Ørsted produziu, em 1825, pequenas quantidades de alumínio impuro. Poucos anos depois, o alemão Friedrich Wöhler aperfeiçoou o método, obtendo alumínio metálico em pó.
No entanto, o grande salto deu-se em 1854, com Henri Sainte-Claire Deville, que conseguiu produzi-lo em quantidades maiores, embora a custos elevados. Nessa época, o alumínio era mais precioso do que o ouro. As barras de alumí-
Das embalagens de “take away” a perfis para arquitectura, a aplicação do alumínio é muito diversificada
nio exibidas na Exposição Universal de Paris de 1855 tornaram-se símbolos de raridade. Napoleão III mandou fabricar talheres de alumínio para convidados especiais, enquanto os restantes usavam utensílios de prata.
Universalização e primeiras aplicações
A verdadeira democratização do metal ocorreu em 1886, quando Charles Martin Hall, nos Estados Unidos, e Paul Héroult, em França, descobriram simultaneamente o processo electrolítico de extracção. Esta revolução tecnológica fez do alumínio um metal acessível e útil.
As primeiras aplicações surgiram na indústria eléctrica, graças à sua excelente condutividade, e na arquitectura, em coberturas e estruturas metálicas. O século XX viu a sua expansão para a aviação, com a Primeira Guerra Mundial a impulsionar a utilização em aeronaves. Mais tarde, o alumínio entraria em automóveis, embalagens, electrodomésticos e, finalmente, em quase todos os aspectos do quotidiano.
QUEM PRODUZ, QUEM CONSOME?
A China lidera, de longe, a produção de alumínio primário, com mais de metade do total mundial, seguida pela Índia, Rússia, Canadá e Emirados Árabes Unidos.
Do outro lado da balança, os maiores consumidores são igualmente a China, os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão.
UM MATERIAL RECICLÁVEL
A reciclagem é uma das características mais notáveis do alumínio: quase 75% de todo o alumínio já produzido continua em circulação. O reaproveitamento exige apenas cerca de 5% da energia necessária para produzir alumínio primário, o que o torna central na transição energética e na economia circular.
BATERIAS DE ALUMÍNIO EM TESTE
Uma área em desenvolvimento é a aplicação do alumínio na armazenagem de energia. Investigadores testam baterias de alumínio-íon, que prometem maior segurança, custos mais baixos e reciclagem facilitada em comparação com as actuais baterias de lítio. Embora ainda em fase experimental, esta aplicação pode revolucionar a mobilidade eléctrica e o armazenamento de energias renováveis.
Instabilidade Geopolítica Ameaça Negócios em Moçambique
Gestores financeiros das maiores empresas do País lançam um sinal de alerta: conflitos internacionais, cortes no apoio externo e volatilidade nos mercados globais aumentam a pressão sobre decisões estratégicas e operacionais. Paradoxalmente, mantêm-se optimistas quanto ao futuro próximo
Os chief financial officers (CFO) das maiores empresas moçambicanas estão preocupados com a prevalência de elevados riscos geopolíticos e referem que o fenómeno representa uma das maiores ameaças à rentabilidade e sustentabilidade dos negócios nos próximos 12 meses. Cerca 86% dos CFO inquiridos pela consultora Deloitte classificaram os riscos geopolíticos como preocupação altamente significativa para as empresas.
Num mundo marcado por conflitos internacionais, como a guerra provocada pela Rússia ao invadir a Ucrânia e a escalada de tensão no Médio Oriente, Moçambique sofre com a volatilidade dos preços da energia, as perturbações nas cadeias globais de valor e a crescente incerteza sobre fluxos de financiamento. A situação é agravada pelos cortes no apoio externo, sobretudo por parte dos Estados Unidos, com impacto directo em áreas essenciais, como a saúde.
Estas são as conclusões do CFO Survey, uma iniciativa global da Deloitte que procura dar voz a executivos financeiros seniores, em todo o mundo.
Em Moçambique, o inquérito foi conduzido entre 23 de Abril e 14 de Maio de 2025, através de convites enviados por e-mail aos CFO das maiores empresas nacionais, abrangendo sectores como consumo, serviços financeiros, energia, construção civil, indústria, transporte e
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
logística. O objectivo do estudo é fornecer uma visão abrangente das opiniões sobre condições económicas e financeiras, as prioridades estratégicas e os factores de risco considerados vitais para o futuro das empresas.
Maior parte das empresas já sofreu
De acordo com a publicação, o peso dos riscos geopolíticos é tal que 57% dos CFO reconhecem ter visto os seus objectivos estratégicos prejudicados “em grande medida” ou “em certo ponto”. Estas empresas apontam as vendas e as cadeias de abastecimento entre as áreas mais afectadas. Do universo que confirma ter sido afectado, 54% dos CFO referem que os riscos geopolíticos causaram perturbações significativas. Em contrapartida, 46% (vendas) e 39% (cadeia de abastecimento) assinalam efeitos limitados, enquanto 4% dizem não ter sofrido impacto algum nas cadeias de fornecimento.
Por outro lado, 21% das empresas relatam um impacto limitado e outra parcela de 21% afirma não ter registado quaisquer impactos geopolíticos para o alcance dos seus objectivos nos últimos 12 meses. Estas empresas caracterizam-se, na generalidade, por fornecerem produtos ou serviços com menor dependência do mercado externo e, por isso, mais dependentes da dinâmica interna do País do que de factores externos.
Apesar de o metical se manter estável há vários anos, os gestores financeiros temem momentos de volatilidade face a moedas de referência (como o dólar e o euro)
Como lidar com os riscos?
Face ao ambiente de incerteza, os CFO dividem-se quanto à forma de agir. Uma minoria (14%) prefere esperar por melhor ambiente antes de tomar decisões.
A maioria, porém (86%), tem adoptado uma “postura mais preventiva e proactiva”, apostando em medidas como:
• análise de cenários e avaliações de impacto;
• testes de resiliência interna;
• reavaliação ou realocação de locais de produção;
• expansão de departamentos especializados em geopolítica.
A pesquisa não detalha como estas iniciativas estão a ser implementadas, mas é possível compreender a sua lógica prática. Análises de cenários, por exemplo, podem envolver a criação de diferentes projecções de evolução do mercado cambial ou dos preços da energia, simulando o impacto nos custos e margens.
Os testes de resiliência interna podem ser concretizados através de exercícios que avaliem a capacidade da empresa em manter operações no caso de ruptura nas cadeias de abastecimento.
Já a realocação de locais de produção pode significar transferir parte da actividade para geografias menos expostas a choques externos, enquanto a expansão de departamentos especializados se traduz em contratar ou formar equipas internas capazes de monitorizar, de forma contínua, os riscos internacionais e transformá-los em informação útil para a tomada de decisão. Estas estratégias, ainda que descritas de forma geral, revelam uma tentativa clara de antecipar cenários adversos, reduzir dependências e fortalecer a capacidade de resposta. O reforço do conhecimento organizacional sobre factores geopolíticos permite também decisões mais informadas e assertivas, aumentando a resiliência das empresas perante choques externos.
Conflitos globais na Ucrânia e Médio Oriente criam imprevisibilidade no ambiente de investimentos
Pressões financeiras e cambiais
Além dos riscos de ordem geopolítica, os CFO em Moçambique mostram forte preocupação com os riscos financeiros e cambiais. Estes são vistos como factores que ameaçam directamente as operações e a rentabilidade. Apesar de o metical se manter estável há vários anos, os gestores financeiros temem que uma volatilidade face a moedas de referência (como o dólar e o euro) cause problemas na gestão de tesouraria, no planeamento de investimentos e na manutenção de margens competitivas.
De acordo com o inquérito, 54% dos CFO moçambicanos identificam o risco cambial como uma das principais ameaças aos seus negócios, contrastando com apenas 27% dos gestores financeiros em Portugal e uma média de 22% entre os países da Europa Ocidental. A diferença explica-se pelo facto de estes países pertencerem à Zona Euro, que
garante maior estabilidade cambial e mecanismos de mitigação mais sólidos. Nos países europeus, a percepção do risco financeiro está mais ligada ao aumento das taxas de juro e à inflação (apontada por cerca de 41% dos CFO).
Inflação e retracção do apetite pelo risco
A inflação é também um dos factores que mais condicionam as decisões financeiras das empresas em Moçambique. Segundo o inquérito, 47% dos CFO moçambicanos apontam a subida persistente dos preços como um risco elevado para a rentabilidade, valor que se aproxima da média europeia (49%) e de Portugal (46%). Embora a magnitude seja semelhante, o impacto relativo é distinto: nas economias mais desenvolvidas, os CFO podem recorrer a instrumentos de protecção e planeamento sofisticados.
A pressão inflacionária soma-se a percepções já identificadas, nomeadamente cambiais e geopolíticas, agudizando uma ideia de incerteza. Neste contexto, a maioria dos gestores financeiros prefere adoptar uma postura defensiva. O estudo indica que 61% dos CFO em Moçambique consideram que este não é um bom momento para assumir riscos adicionais nos negócios, uma percentagem significativamente acima da registada em Portugal (42%) e na média europeia (39%).
Esta diferença reflecte uma economia mais exposta a choques externos e com menor capacidade de absorção de riscos. Em consequência, o investimento tende a ser mais selectivo, privilegiando áreas que reforçam a resiliência operacional e a sustentabilidade de médio prazo, em detrimento de apostas mais ousadas em inovação ou expansão acelerada.
MAIORIA
DOS CFO TEME RISCOS GEOPOLÍTICOS
Quando questionados sobre a dimensão em que os riscos geopolíticos teriam prejudicado a capacidade das empresas atingir metas
A SOLUÇÃO SERÁ O CONTROLO DE CUSTOS
Num claro sinal de aversão ao risco, a maioria dos gestores financeiros prefere conter gastos e poucos pensam em expandir os negócios
BOAS PERSPECTIVAS FINANCEIRAS
Paradoxalmente, os gestores têm boas expectativas em relação ao desempenho financeiro das empresas nos próximos 12 meses
Boas perspectivas, apesar dos riscos
Mesmo num cenário marcado por uma percepção de riscos e cautelas, os CFO em Moçambique mantêm uma visão optimista quanto ao futuro. O inquérito mostra que 71% dos gestores financeiros prevê um crescimento das receitas nos próximos 12 meses, uma expectativa que supera a média europeia (58%) e de Portugal (62%).
No que diz respeito às margens operacionais, 63% dos CFO no País acreditam que estas vão melhorar, contrastando com apenas 46% em Portugal e 44% na média europeia. Este dado sugere que, apesar das vulnerabilidades cambiais e inflacionárias, existe confiança de que a procura e a adaptação das estratégias de negócio permitirão sustentar margens mais robustas.
As perspectivas de investimento também acompanham este optimismo: 52% dos CFO moçambicanos planeiam aumentar as despesas de capital, em comparação com 37% em Portugal e 33% na Europa. O mesmo se observa nas despesas com o pessoal: 48% em Moçambique pretendem reforçar a contratação ou os salários, contra 34% em Portugal e 31% na média europeia. Esta postura sugere que, mesmo num ambiente adverso, a confiança nas oportunidades supera o receio de retracção, abrindo espaço para estratégias de crescimento sustentado.
Financiamento, investimento e aposta na eficiência
Para financiar os investimentos, os CFO em Moçambique mostram preferência pela utilização de fundos próprios da Em % dos inquiridos
PREVALECE MUITA INCERTEZA FINANCEIRA
Em Moçambique, a sensação de elevada incerteza económica e financeira é mais acentuada do que noutras partes do mundo Em
dos inquiridos
O inquérito revela muitas cautelas na hora de contratar novos talentos
QUAL A PERCEPÇÃO DA INFLAÇÃO?
Qual será a taxa de inflação em Moçambique nos próximos 12 meses? É mais um indicador que, a par dos níveis de incerteza, vai condicionar as decisões das empresas em Moçambique
empresa em vez de recorrer a empréstimos bancários ou a mercados de capitais internacionais. O inquérito indica que 57% dos CFO consideram esta a opção mais atractiva para suportar despesas de investimento, enquanto apenas 32% vêem os empréstimos bancários como viáveis.
A aversão a financiamento externo explica-se num contexto de taxas de juro elevadas, apesar da redução da Taxa MIMO pelo Banco de Moçambique, que caiu de Janeiro de 2024 a Julho de 2025, de forma acumulada, em cerca de 7 pontos percentuais, fixando-se actualmente em 10,25%. A ‘prime rate’, por sua vez, sofreu uma redução inferior de 6,1 pontos para 17,4%, mantendo o crédito relativamente caro.
No plano do investimento corporativo, os CFO moçambicanos têm priorizado áreas estratégicas que reforcem a eficiência e a resiliência. O inquérito destaca que:
• 82% mantiveram ou aumentaram investimentos na eficiência operacional;
• 82% na resiliência organizacional;
• 75% na transformação digital;
• 75% no desenvolvimento de pessoal e talento;
• 68% na sustentabilidade nas suas três dimensões (social, ambiental e governança).
Em contraste, a investigação e desenvolvimento (I&D) não é prioridade para a maioria: 61% dos CFO indicam que esta área não se aplica significativamente às suas operações e apenas 32% mantêm investimentos nesta dimensão.
Em % dos inquiridos
Cabo Verde
Um
plano
estratégico para mobilização de apoio climático
O Governo cabo-verdiano lançou o Plano Estratégico de Mobilização de Apoio Climático (PEMAC), que visa reforçar o financiamento e os recursos tecnológicos e institucionais para enfrentar as alterações globais e apoiar o desenvolvimento sustentável.
“Este não é apenas um documento, é uma visão clara, um compromisso firme para o nosso país, funcionando como uma bússola que orientará as acções em matéria de acção climática”, afirmou o vice-primeiro-ministro, Olavo Correia. O plano vai identificar projectos priori-
tários, definir necessidades de financiamento e criar oportunidades para novas parcerias estratégicas, articulando-se com instrumentos-chave como a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), o Plano Nacional de Adaptação (NAP) e a Estratégia de Desenvolvimento a Longo Prazo com Baixas Emissões até 2050.
“Cabo Verde é um dos primeiros países africanos a integrar a questão climática no orçamento, garantindo transparência e responsabilidade na sua gestão”, concluiu.
Costa do Marfim
O Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, vai enfrentar quatro rivais nas eleições do próximo mês, mas vários analistas apostam na sua vitória eleitoral, depois de os principais líderes da oposição terem sido impedidos de concorrer.
Os candidatos finais foram seleccionados de uma lista de 60, mas os nomes
dos principais adversários estão de fora. O ex-CEO do Credit Suisse, Tidjane Thiam, e o ex-Presidente Laurent Gbagbo fazem parte da lista de excluídos, depois da decisão do Conselho Constitucional marfinense, anunciada no mês de Setembro — juntando-se assim ao ex-primeiro-ministro Guillaume Soro e Ble Goudé, ex-ministro da Juventude.
Angola
O maior aumento de funcionários públicos dos últimos anos
O número de funcionários públicos angolanos cresceu 4,5% em 2024, para perto de 427 mil pessoas, o maior aumento dos últimos anos, decorrente da regularização dos vínculos contratuais. Segundo o secretário de Estado da Administração Pública, Domingos Filipe, a passagem para o quadro de efectivos “não representa despesa adicional.”
Fora deste número, que representa cerca de 3,4% do total da população angolana empregada, ficam os funcionários integrados nos órgãos de defesa e segurança (militares e paramilitares) que rondam as 500 mil pessoas.
Etiópia A Grande Barragem da discórdia no rio Nilo
A Etiópia concluiu a construção da sua maior central hidroeléctrica, a Grande Barragem do Renascimento, e inaugurou-a oficialmente no dia 9 de Setembro, após 14 anos de trabalho. O problema é que os vizinhos não estão muito contentes com a nova infra-estrutura, construída sem acordo entre todos os que partilham o rio Nilo.
A barragem dá corpo a 5150 Megawatts de produção eléctrica e é motivo de grande orgulho para a segunda nação mais populosa do continente. O Governo vê o projecto (que custou mais de 4,5 mil milhões de dólares) como um antídoto para a escassez crónica de energia, um impulso para a industrialização e para as receitas externas: o excedente
Quénia
de electricidade vai ser vendido ao Quénia, Djibuti e Tanzânia.
Mas o Sudão e o Egipto, que se encontram a jusante da nova barreira de betão, opõem-se à perspectiva de a Etiópia controlar o caudal do Nilo, de que também dependem. Os ministros da irrigação reuniram-se no Cairo, em Setembro, e apelaram a medidas de gestão adequadas.
As autoridades dos três países realizaram inúmeras rondas de negociações para tentar resolver as divergências, a última das quais em 2023, mas não conseguiram chegar a acordo. Em causa, está a velocidade com que a barragem será preenchida e garantias de abastecimento ao Egipto e Sudão.
Nações Unidas modernizam instalações em Nairóbi
As Nações Unidas estão a modernizar as instalações do seu secretariado, no Quénia, um dos principais centros da ONU e a única sede (“headquarter”) da organização em solo africano.
Novos edifícios de escritórios serão construídos e os actuais vão ser renova-
Zâmbia
Zimbabué
Vagas de empregos no Estado vão ser congeladas em 2026
O Zimbabué vai congelar o recrutamento na maioria dos seus departamentos de Estado no próximo ano, para conter a folha de pagamentos, de acordo com o Ministério das Finanças.
O Governo do país vizinho emprega 330 000 pessoas, cujos salários representam quase 60% do Orçamento do Estado.
O Executivo já tinha proposto o congelamento da folha de pessoal anteriormente, incluindo no orçamento do ano passado, mas a medida nunca foi implementada. Será desta? Em causa, está o equilíbrio das contas públicas.
dos, num investimento estimado em 62 milhões de dólares.
A renovação permitirá ao complexo de Nairóbi acomodar mais 20% de pessoal, com várias agências, fundos e programas a transferirem as suas operações para o país.
FMI aceita prolongar programa de apoio
O Fundo Monetário Internacional (FMI) concordou em prolongar o programa em curso na Zâmbia para permitir ao país concluir uma revisão final e preparar-se para uma possível extensão. O prazo de 38 meses expiraria neste mês de Outubro. O Governo do país rico em cobre indicou,
RD Congo
A ameaça de um surto crescente
em Agosto, que planeia solicitar a continuação do programa durante um ano, uma medida que poderá garantir 145 milhões de dólares em financiamento adicional. O programa é considerado crucial para estabilizar a economia zambiana, face a elevados níveis de dívida.
de ébola
A República Democrática do Congo está a lutar contra um surto crescente de ébola, uma vez que a sobrecarga dos serviços de saúde aumenta a ameaça de propagação da doença para além das suas fronteiras. O número de casos suspeitos mais do que duplicou em Setembro, depois de a RDC ter declarado o surto — na altura, havia quatro destas pessoas em estado crítico e 16 mortos confirmados, números suficientes para gerar alertas face a uma doença tão viral. Angola está particularmente em risco, de acordo com os centros africanos de Controlo e Prevenção de Doenças.
G20: África no Centro da Agenda Global?
Antes de a presidência rotativa do G20 passar para os EUA, a África do Sul vai tentar alcançar, em Novembro, uma Declaração de Líderes para promoção do desenvolvimento do Sul global - apesar das tensões entre Pretória e Washington
Texto Redacção • Fotografia D.R.
Acimeira do G20, agendada para os dias 22 e 23 de Novembro, em Joanesburgo, África do Sul, é aguardada como um momento decisivo para a inserção africana nos grandes debates económicos e políticos mundiais. Pela primeira vez, a África do Sul acolhe a reunião de chefes de Estado e de Governo deste grupo de países desenvolvidos e emergentes, coincidindo com a presidência rotativa de Pretória.
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, definiu como principal objectivo da sua liderança a aprovação de uma ambiciosa Declaração de Líderes, orientada para a promoção da agenda de desenvolvimento do Sul Global e, em particular, do continente africano. A iniciativa, explicou recentemente perante o Parlamento sul-africano, deverá reflectir a urgência de reformar a arquitectura financeira internacional e o sistema multilateral de comércio, com especial atenção para o reforço dos bancos multilaterais de desenvolvimento.
Apesar de reconhecer a existência de divergências naturais num fórum que reúne economias tão distintas, Ramaphosa destacou o “forte apoio” que as prioridades africanas têm encontrado entre os membros do G20. As reuniões preparatórias já realizadas permitiram discutir “alguns dos desafios mais urgentes e importantes” da comunidade internacional, sinal de que a presidência sul-africana está empenhada em encontrar “soluções sustentáveis e inovadoras” através do diálogo e da cooperação.
Trump ausente, JD Vance presente A participação norte-americana tem gerado atenção mediática, face às recentes tensões. O Presidente Donald Trump
confirmou que não estará presente em Joanesburgo, delegando a representação no seu vice-presidente, J.D. Vance. A decisão ocorre num contexto de relações tensas entre Washington e Pretória, marcado pela imposição de tarifas de 30% sobre produtos sul-africanos e pela suspensão da ajuda económica dos Estados Unidos, decretada em Fevereiro. Estas medidas foram justificadas pela Casa Branca com críticas à política agrária do Governo sul-africano e à sua posição crítica em relação a Israel perante a Corte Internacional de Justiça.
Ainda assim, o ministro das Relações Internacionais, Ronald Lamola, acolheu com pragmatismo a nomeação de Vance, sublinhando que o essencial é assegurar que os Estados Unidos estejam representados e disponíveis para o diálogo. Para Pretória, a ausência de Trump não impedirá a obtenção de resultados “ambiciosos” na cimeira.
África e a negociação dos minerais críticos
Outro dos grandes eixos da presidência sul-africana será a questão dos minerais críticos, tema de importância estratégica para o futuro da economia global e da transição digital. Estima-se que 30% das reservas mundiais destes recursos se localizem em África.
Cobre, cobalto, coltan (mistura de columbita e tantalita), lítio e platina são matérias indispensáveis para baterias de veículos eléctricos, sistemas de inteligência artificial, componentes electrónicos e ecrãs de alta definição. A África do Sul detém, sozinha, 80% das reservas globais de platina.
Perante este panorama, Ramaphosa tem defendido que a exploração mineral não pode limitar-se a uma lógica extractiva, devendo traduzir-se em valor acrescentado local através da instalação de
cadeias produtivas e de processamento em território africano. Em Davos, no início do ano, sintetizou essa visão como a construção de uma relação “aditiva, e não meramente extractiva.”
Atenção à corrida ao novo petróleo
Especialistas africanos têm alertado para os riscos de uma verdadeira “corriMesmo reconhecendo divergências naturais entre economias tão distintas, Ramaphosa destacou o “forte apoio” que as prioridades africanas têm encontrado entre os membros do G20
A cimeira do G20 está agendada para os dias 22 e 23 de Novembro, em Joanesburgo
da aos minerais críticos”, em que a dependência tecnológica do continente face a grandes potências e multinacionais poderá fragilizar a sua posição negocial. A investigadora Noelle van der Waag-Cowling advertiu para a necessidade de África dispor de maior capacidade diplomática e técnica para garantir retornos justos das suas riquezas, propondo que os acordos de exploração sejam acompanhados de investimentos em infra-estruturas digitais e centros de dados.
A questão da cibersegurança também surge como prioridade. A digitalização da indústria mineira expõe cadeias de fornecimento a potenciais ataques informáticos, como recordou Gilbert Nyandeje, líder do Africa Cyber Defense Forum. Para ele, as grandes empresas tecnológicas têm não só a responsabilidade de assegurar a integridade dessas cadeias, mas também de se comprometer com uma relação mais equitativa com África.
No plano diplomático, cresce a ideia de que os países africanos devem apos-
tar na formação de “embaixadores tecnológicos”, à semelhança do que já fazem países como a Dinamarca ou a França, para defender os seus interesses junto de empresas que, pela sua dimensão e influência, se equiparam hoje a actores estatais.
EUA vão receber presidência rotativa
A reunião de Joanesburgo, que antecede a presidência norte-americana em 2026 – já anunciada por Donald Trump para Miami, na Florida –, será, portanto, um palco decisivo. Não apenas para discutir a reforma do sistema económico global e a resposta às crises internacionais, mas também para afirmar a centralidade de África no futuro da economia digital e da transição energética.
Entre expectativas elevadas e tensões diplomáticas, a presidência sul-africana pretende deixar uma marca clara: a de um continente que não se limita a fornecer recursos, mas que exige ser parceiro activo e beneficiário directo da nova ordem tecnológica e económica em construção.
O CAMINHO ATÉ À REUNIÃO DE JOANESBURGO
O G20 é um fórum internacional criado em 1999 e que reúne 19 das maiores economias do mundo mais a União Europeia (UE). Representa cerca de 85% do PIB global e dois terços da população. Discute coordenação económica, comércio, estabilidade financeira, desenvolvimento sustentável e desafios globais: clima, saúde, energia e segurança alimentar. Embora não tenha carácter vinculativo, influencia fortemente as políticas económicas e financeiras internacionais.
África do Sul assume presidência rotativa do G20.
Fórum de Davos: Ramaphosa defende relação “aditiva” no uso de minerais críticos.
Trump suspende ajuda económica a Pretória; acusa Governo sul-africano de “confiscar terras” e critica posição sobre resposta desproporcional de Israel na Faixa de Gaza.
Conferência ITWeb Security Summit (Joanesburgo): especialistas alertam para corrida global aos minerais críticos e dependência tecnológica africana.
Ministro Ronald Lamola confirma presença de J.D. Vance como representante dos EUA na cimeira.
Cimeira do G20 em Joanesburgo.
Fim da presidência sul-africana do G20.
Presidência passa para os EUA; cimeira prevista para Miami, num resort de propriedade de Donald Trump (primeira vez em 20 anos que os EUA acolhem a reunião).
Em que Medida a Inovação Pode Transformar a Economia?
Uma das vozes mais influentes da teoria económica moderna destacou-se pela defesa da inovação como motor de desenvolvimento. Em Moçambique, os desafios estruturais reflectem, em grande medida, os dilemas que Schumpeter antecipou
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R
Joseph Alois Schumpeter (1883–1950) destacou-se como um dos grandes pensadores da economia ao propor que o motor de desenvolvimento não era apenas a acumulação de capital ou a estabilidade macroeconómica, mas sim a inovação. Para o economista, o progresso económico resulta da capacidade dos empreendedores de introduzirem novos produtos, processos e métodos de organização que, inevitavelmente, substituem estruturas existentes. Este processo, que designou por “destruição criativa”, redefiniria continuamente o funcionamento das economias.
Ao contrário da visão clássica, que colocava o equilíbrio dos indicadores económicos (por exemplo, entre a procura, oferta e preços) como objectivo final, Schumpeter via a instabilidade como força geradora de dinamismo. O capitalismo, segundo a sua leitura, vive de ciclos de ruptura e recomposição, em que a ciência e a tecnologia desempenham papéis centrais.
Joseph Schumpeter defendia, igualmente, que não bastava melhorar o que já existia: era preciso quebrar paradigmas. Para ele, a ciência e a inovação de-
veriam ser entendidas como instrumentos de progresso técnico e motores capazes de remodelar sociedades inteiras.
Na sua perspectiva, cada grande avanço científico (da máquina a vapor à electricidade, e da informática à biotecnologia) desencadeava uma onda de mudanças económicas e sociais, e estas não se limitavam à produção de novos bens, mas incluíam também novos mercados, novas formas de organização do trabalho e novos estilos de vida.
Críticas às teorias de Schumpeter
Muitos consideram Schumpeter um visionário, mas sem escapar a críticas. Uma das mais recorrentes é a de que a sua ênfase no empreendedor como agente central do progresso subestima a importância das estruturas colectivas e institucionais. Muitos economistas defendem que inovação e desenvolvimento dependem, sobretudo, de políticas públicas robustas, de investimento em educação e de sistemas de regulação adequados.
Outros críticos apontam que a “destruição criativa”, embora eficaz em explicar o dinamismo do capitalismo, tende a ignorar os impactos sociais negati-
Joseph Schumpeter defendia que não basta melhorar: é preciso quebrar paradigmas.
A ciência e a inovação deveriam ser entendidas como instrumentos de progresso
Joseph Alois Schumpeter (1883–1950) foi um dos economistas mais influentes do século XX, nascido na actual República Checa e formado na Áustria. Leccionou em universidades como as de Viena, Bonn e Harvard, destacando-se pelo pensamento inovador e pela análise do desenvolvimento económico. Reconhecido pelo seu papel na modernização da teoria económica, Schumpeter influenciou gerações de economistas e decisores. Morreu em 1950, deixando um legado intelectual que permanece central no debate sobre crescimento, inovação e transformação económica.
vos, como o desemprego em massa provocado por novas tecnologias, ou o aumento da desigualdade. De facto, a inovação pode ser motor de riqueza, mas também pode excluir comunidades inteiras se não for acompanhada de políticas de inclusão.
No caso de Moçambique, esta crítica é particularmente pertinente: a digitalização, por exemplo, pode acelerar a exclusão de populações sem acesso à Internet ou à educação básica. O desafio está em criar regras que façam da inovação uma alavanca de inclusão, e não um factor de segmentação social.
OBRAS MARCANTES
Entre as obras mais influentes de Joseph Schumpeter destaca-se "The Theory of Economic Development" ("A Teoria do Desenvolvimento Económico"), de 1911, onde apresentou a figura do empreendedor como agente de transformação económica, responsável por introduzir inovações que rompem com o status quo.
Mais tarde, em "Capitalism, Socialism and Democracy" (1942), Schumpeter
aprofundou a ideia de “destruição criativa” e analisou as dinâmicas de longo prazo do capitalismo, chegando a prever a possibilidade do seu declínio diante da crescente burocratização e do fortalecimento de estruturas colectivas. Estes trabalhos não só moldaram a teoria económica do século XX, como continuam a servir de referência para compreender a importância da inovação científica e tecnológica nos dias de hoje.
Moçambique entre fragilidades e oportunidades
A realidade moçambicana revela uma dupla condição. Por um lado, há uma carência estrutural: o investimento em investigação científica é reduzido, as universidades ainda enfrentam obstáculos em criar pontes eficazes com o sector produtivo e as políticas públicas raramente priorizam a inovação como eixo de desenvolvimento. Esta debilidade faz com que o País continue vulnerável a choques externos e dependente de importação de conhecimento e tecnologia.
Por outro lado, existem potencialidades evidentes. A crescente digitalização, acelerada pela penetração da Internet móvel, abre espaço para startups e iniciativas empreendedoras. A juventude, que representa a maioria da população, demonstra apetência para integrar novas tecnologias, desde o uso de plataformas digitais para negócios ao aproveitamento de soluções inovadoras em agricultura e comércio. Além disso, a posição estratégica de Moçambique em África e os investimentos em energia (particularmente o gás natural, mas também a energia solar e hidroeléctrica) podem ser catalisadores de transformação se associados à inovação local.
Aqui, a visão de Schumpeter serve de guia: é necessário criar um ambiente em que empreendedores possam actuar como motores da “destruição criativa”, substituindo práticas obsoletas por modelos mais eficientes e inclusivos.
Lições de Joseph Schumpeter para Moçambique
O pensamento de Schumpeter sugere que Moçambique deve repensar a sua estratégia de desenvolvimento. Apostar apenas na exploração de gás ou carvão é uma visão de curto prazo. Defende que a verdadeira transformação virá quando a ciência, a tecnologia e o empreendedorismo se tornarem parte integrante da economia nacional, o que passa por:
1. Reforçar a investigação científica nas universidades e institutos técnicos;
2. Incentivar startups e incubadoras de negócios que tragam soluções locais para problemas locais;
3. Criar políticas públicas consistentes que liguem inovação, indústria e desenvolvimento social;
4. Fomentar parcerias internacionais para a transferência de conhecimento e tecnologia.
Se Moçambique conseguir mobilizar estes eixos, poderá transformar as suas fragilidades em forças, aproximando-se da visão de progresso disruptivo defendida por Joseph Schumpeter.
Novo Programa de Ajustamento Financeiro? Discussões prosseguem
Uma equipa do Fundo Monetário Internacional (FMI) esteve em Moçambique, sem prazo para fechar novo acordo com o Governo: as discussões vão continuar “nos próximos meses.” Apesar de haver algum optimismo no horizonte, os pedidos de “consolidação orçamental imediata” mantêm-se
Texto Redacção • Fotografia D.R.
Uma equipa do Fundo Monetário Internacional (FMI) visitou Moçambique, em Agosto, para tentar descobrir o caminho para um novo programa de crédito alargado (ECF, sigla em inglês), mas parecem persistir alguns dos problemas que contribuíram para o fim antecipado do anterior — quando tinham sido feitos quatro dos seis desembolsos de um total de 456 milhões de dólares, acordados em 2022. A equipa que agora visitou o País defendeu uma “consolidação orçamental imediata” para garantir a estabilidade macroeconómica e disse que as discussões sobre um novo programa de ajustamento financeiro vão continuar “nos próximos meses.”
“É necessária uma consolidação orçamental imediata para restaurar a sustentabilidade orçamental, reduzir as necessidades de financiamento e colocar a dívida numa trajectória clara de redução, para diminuir as vulnerabilidades — ao mesmo tempo que se cria espaço orçamental para apoiar o desenvolvimento e proteger os mais vulneráveis”, lê-se no comunicado de imprensa do FMI. Em linhas gerais, confirmou-se o que o novo representante residente do fundo em Moçambique, Olamide Harrison, tinha dito, em Julho, em entrevista à E&M, depois de chegar a Maputo: “A mensagem-chave é que o desafio principal de Moçambique, no curto prazo, é colocar a posição fiscal numa trajectória mais forte e reduzir as vulnerabilidades de dívida.”
FMI recomenda “medidas decisivas”
O que disse, afinal, a última equipa do FMI a visitar Moçambique? Um comunicado divulgado depois da visita, entre 21 e 29 de Agosto, recomendou que, “face aos desequilíbrios externos e orçamentais”, as autoridades “tomem medidas de-
cisivas para restaurar a estabilidade macroeconómica, melhorar as perspectivas de crescimento da economia, facilitar a criação de empregos e reduzir a pobreza.”
No texto divulgado em Maputo, a equipa disse que discutiu com o Governo “os desafios macroeconómicos, as perspectivas para a balança de pagamentos e as necessidades de financiamento previstas”, acrescentando que “as discussões sobre estes temas e as possíveis opções de apoio do Fundo foram frutíferas e continuarão nos próximos meses.”
Há sinais no horizonte que trazem optimismo O FMI prevê que Moçambique cresça 2,5%, essencialmente assente numa recuperação do sector dos serviços, no segundo semestre, que se seguirá a uma “desaceleração acentuada entre Outubro de 2024 e Março de 2025”, devido à violência que se abateu sobre o País, no seguimento das eleições presidenciais. O Fundo nota ainda que há “sinais emergentes de um aumento do interesse dos investidores estrangeiros numa
ampla gama de sectores” e, por isso, conclui ser “essencial abordar os desequilíbrios macroeconómicos para libertar todo o potencial do investimento directo estrangeiro [IDE] e manter a confiança dos investidores.”
Pressão do lado das despesas: que fazer com a massa salarial?
Em Julho, numa entrevista à E&M, pouco depois de chegar a Moçambique, o novo representante residente do Fundo em Moçambique, Olamide Harrison, alertou para a dimensão das despesas estatais e da massa salarial. “Quando comparamos Moçambique com países homólogos, notamos que as receitas em percentagem do PIB estão num nível confortável, isto é, são maiores do que noutros países. Mas quando olhamos para as despesas, nomeadamente para a massa salarial, vemos que estão comparativamente acima.” O debate é antigo e representa uma opção política, um aspecto sinalizado por Harrison: “Entendemos que isso pode reflectir uma escolha social.” De qualquer maneira, acrescentou, a equação parece
O CONTEXTO DE UM NOVO PROGRAMA
A substituição do programa de crédito alargado do FMI, celebrado com Moçambique, em 2022, por um novo, em negociação, foi anunciada em Abril. “Conseguimos chegar à quarta avaliação [de um total de seis] ligada a desembolsos de parcelas do valor programado”, de 456 milhões de dólares, acordado em 2022, explicou Olamide Harrison, em Julho, à E&M. Com a transição para o novo Governo, “o plano era avançarmos com a quinta e sexta avaliações, este ano.”
“Em Fevereiro, realizámos uma missão a Moçambique, com a equipa
de Washington, que trouxe discussões produtivas. Continuámos, nas semanas seguintes, à procura de um acordo sobre medidas que poderiam ter sustentado a quinta e sexta avaliações, mas, juntamente com o Governo, chegámos à conclusão de que, em vez de continuarmos com este programa, seria melhor começarmos a negociar uma nova proposta. A vantagem desta abordagem é conseguirmos um programa mais ajustado às prioridades de política e aos desafios do novo Governo”, explicou.
carecer de equilíbrio. “Depois da reforma da Tabela Salarial Única (TSU), em 2022, houve aumentos significativos na massa salarial, quando comparamos com o volume de receitas e o tamanho da economia. Olhando, então, ao longo do tempo, e comparando com outros países, para mim fica claro que a pressão fiscal vem das despesas”, disse.
Já na altura, o representante do FMI apelava a uma “abordagem equilibrada, tanto do lado das despesas, como das receitas”, remetendo detalhes como “o ritmo de ajustamento” para meses vindouros. “Como é que podemos fazer isto, ao mesmo tempo que protegemos as classes mais vulneráveis? Propomos despesas voltadas para os grupos com maiores necessidades de desenvolvimento social. Mas é preciso criar espaço fiscal para fazer face a estes desafios, o que também ajudaria a assegurar a estabilidade macroeconómica. Achamos que medidas correctivas e atempadas são necessárias, e continuaremos a discutir os detalhes com as autoridades.” Discussões que, pelos vistos, vão ter ainda mais alguns episódios até haver um desfecho.
PIB recupera, mas continua no vermelho
Para já, os dados macroeconómicos continuam a mostrar timidez. A eco-
ECONOMIA RECUA, MAS ATENUA QUEBRA
Os dados do INE (segundo trimestre deste ano), mostram a economia ainda abaixo dos níveis de 2024, um fosso cavado durante a instabilidade pós-eleitoral
nomia moçambicana recuou 0,94% de Abril a Junho, face ao mesmo período de 2024. Houve uma contracção (em termos homólogos) pelo terceiro trimestre consecutivo, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) de Moçambique. Ainda assim, a quebra foi mais suave do que a registada nos dois trimestres anteriores, em que o País esteve sob efeito das manifestações pós-
A administração do FMI enviou uma equipa a Moçambique, em Agosto, para encetar novos contactos com as autoridades
-eleitorais. Os números evidenciam o choque que prevaleceu, no segundo trimestre deste ano: o ramo de hotéis e restaurantes caiu 11,34%, a indústria manufactureira recuou 9,44%, comércio e serviços de reparação registaram uma quebra de 5,90%, enquanto transportes, armazenagem e actividades auxiliares caíram 3,44%. A construção perdeu 2,21%.
O Governo prevê um crescimento do PIB de 2,9% em 2025, revisto em baixa face à estimativa de 5%, divulgada antes das eleições. Em 2024, segundo dados preliminares anteriores do Executivo, a economia cresceu 1,85%, contra a previsão anterior às eleições de 5,5%.
Quase mil empresas moçambicanas foram afectadas pelas manifestações pós-eleitorais, com um impacto na economia superior a 32,2 mil milhões de meticais e 17 mil desempregados, segundo uma estimativa apresentada em Fevereiro pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA). De acordo com o levantamento feito pelo organismo, foram prejudicadas, de “forma directa” pelas manifestações e agitação social que se seguiram às eleições gerais de Outubro, 955 empresas, das quais 51% “sofreram vandalizações totais e/ou saques de mercadorias.”
Dívida Pública: Será que África Consegue Respirar?
Uma recente manifestação em Acra, capital do Gana, centrou as atenções num problema de que África não se consegue livrar: a espiral de dívida pública teima em consumir os recursos necessários para os países se libertarem... do endividamento
Texto Redacção • Fotografia D.R.
Como é que uma manifestação em Acra, capital do Gana, na costa ocidental de África, pode ter alguma coisa que ver com Moçambique? Quando o tema é a dívida soberana. Aliás, o protesto que juntou centenas de pessoas no final de Agosto diz respeito a Moçambique e a muitos outros países.
De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), os manifestantes vestiam camisolas vermelhas e pretas, mostrando cartazes onde se lia “Não devemos nada, não pagaremos”, “África não consegue respirar” ou “A reforma económica é uma fraude.”
Os manifestantes exigiram o cancelamento da dívida do país, tendo recolhido apoio do ministro das Finanças. O Gana é o maior produtor de ouro e o segundo maior exportador de cacau, mas enfrentou uma crise financeira em 2022 da qual só agora está a recuperar, depois de ter entrado em incumprimento financeiro e registado uma inflação de 50%.
A situação foi de tal forma grave que obrigou o então Presidente, Nana Akufo-Addo, a pedir ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um programa de ajustamento financeiro de mais de 2,5 mil milhões de euros.
Depois de receber uma petição que apelava ao cancelamento da dívida, o ministro das Finanças, Cassiel Ato For-
son, reconheceu a dimensão do problema, que vale 1,1 bilião de euros a nível continental. “Há uma diferença entre não poder pagar e não querer pagar”, disse Forson aos manifestantes.
UNECA alerta para o perpetuar do ciclo de endividamento
No mais recente relatório especificamente sobre África, publicado pela Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), no final de Março, os analistas escreveram que um dos principais problemas da região é o elevado montante de dívida pública, que retira espaço para investimentos nas infra-estruturas que permitem o desenvolvimento das economias.
A dívida pública em África deverá descer de 62,5%, no ano passado, para 62,1% este ano, depois de em 2023 ter chegado dos 67,3%, mas esta queda não chega para eliminar a crise da dívida que muitos países da região enfrentam, diz a ONU.
“Apesar da ligeira queda, os níveis de dívida ainda estão elevados e são comparáveis aos valores registados antes das iniciativas de alívio da dívida em meados dos anos 2000”, lê-se no Relatório Económico sobre África (REA), divulgado na sequência da conferência dos ministros das Finanças africanos, que decorreu em Março na capital da Etiópia, Adis Abeba.
África: Os custos de servir a dívida deverão ter chegado a 163 mil milhões de dólares, mais 12% do que no ano anterior, diz a UNECA
RÁCIO DE DÍVIDA FACE AO PIB
Ministros africanos discutem em Adis Abeba urgência de reformas contra endividamento.
ONU alerta: mesmo com estabilidade orçamental, África enfrentará em 2025 elevados pagamentos de dívida, limitando recursos disponíveis para investimentos sociais e económicos essenciais
No documento, os peritos da ONU escrevem que a política orçamental está a voltar ao normal, mas alertam para “significativos pagamentos de dívida este ano, com os desafios financeiros actuais a obrigarem os países a reduzirem despesas públicas essenciais e a direccionarem recursos para o serviço da dívida”, o que perpetua o ciclo de endividamento.
Quanto custa servir a dívida?
Os custos de servir a dívida deverão ter chegado a 163 mil milhões de dólares, mais 12% do que no ano anterior, diz a UNECA, salientando que, apesar de 2024 dever ter marcado o ano de pagamentos mais altos, “os valores vão
continuar bem acima dos níveis anteriores à pandemia de covid-19 a curto e médio prazo.”
A instituição refere ainda que “as vulnerabilidades permanecem elevadas, demonstradas pelas elevadas taxas de juro, volatilidade das finanças públicas, acumulação de atrasos nos pagamentos e um prolongado impacto dos choques externos.” A região do Norte de África lidera o índice dos maiores rácios de dívida face ao PIB, com 76%, seguida da África Austral, onde está Angola e Moçambique, com 70,7%, sendo a África Oriental a região menos endividada, com uma dívida pública que está nos 39,2% do PIB.
FITCH ACTUALIZA AVALIAÇÃO DA DÍVIDA MOÇAMBICANA
O stock da dívida pública de Moçambique recuou para 91% do PIB, em 2024, graças aos acordos extrajudiciais relacionados com o processo das dívidas ocultas, segundo a agência de notação Fitch. A mais recente avaliação, divulgada a 1 de Agosto, prevê que a dívida pública aumente e estabilize em cerca de 92% do PIB até 2027 e manteve a notação de Fevereiro, de CCC — o último nível antes do “incumprimento financeiro”. A perspectiva de ligeiro aumento do peso do stock da dívida pública é justificada com “défices fiscais e aumento do passivo da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos associados à Área 1 [de produção de gás natural], apenas parcialmente compensados pelo crescimento nominal do PIB.”
O Governo moçambicano anunciou há um ano um novo acordo extrajudicial — depois de outro fechado em 2023 — com mais três bancos.
QUANTO “PESAM” AINDA AS DÍVIDAS OCULTAS?
Há quase quatro meses (24 de Junho), o Conselho de Ministros aprovou o Cenário Fiscal de Médio Prazo (CFMP 2026-2028), prevendo que o pagamento da dívida vai continuar “a exercer pressão sobre as finanças públicas”, mas “com tendência decrescente” até 2028, embora alertando para a existência de riscos. “A redução dos encargos com juros, amortizações de empréstimos junto ao Banco Central e reembolsos das Obrigações de Tesouro contribuirá para o alívio do serviço da dívida interna, uma vez que os maiores compromissos poderão atingir maturidade nesse período.”
O FMI descreveu no relatório final da quarta avaliação ao programa de Facilidade de Crédito Alargado (ECF, na sigla em inglês), concluída em Julho do ano passado, que as dívidas ocultas continuavam a ser uma fonte de pressão das finanças públicas. “O acordo (...) implica um pagamento de 220 milhões de dólares (1% do PIB) em 2024”, indicou.
“Queremos Ser o Banco Que Impulsiona a Economia Real”
Com percurso noutras instituições financeiras, o novo administrador executivo explica como pretende tornar o Millennium bim numa instituição com maior impacto na economia real
Aos 39 anos, Januário da Costa Valente Júnior é um dos mais jovens administradores do Millennium bim e traz consigo uma visão de transformação para um dos maiores bancos do País. Com experiência em em varias instituições financeiras em Moçambique, o gestor aposta na especialização das equipas e no reposicionamento do bim como banco de referência para clientes corporativos.
Determinado a aproximar a instituição financeira às reais necessidades das empresas, defende soluções personalizadas e maior integração tecnológica. Nesta entrevista, fala sobre a sua trajectória, os desafios de liderança e a aposta no talento jovem moçambicano. Um retrato de ambição e inovação que promete inspirar novas gerações no sector financeiro.
Começa agora o seu mandato: em termos estratégicos, qual é a sua visão para os próximos anos?
Estamos numa fase de transformação e queremos apostar fortemente nas pessoas. Queremos ser parte da transformação de Moçambique. O País tem um potencial enorme que não está ainda a ser aproveitado. Temos uma posição geográfica privilegiada, que nos dá vantagens competitivas para o hinterland e abre oportunidades de crescimento. Gostaria de trabalhar próximo do Governo para criar condições que permitam dinamizar a economia. Para tal, é
fundamental potenciar a infra-estrutura e o sector da energia, que são os motores que podem levar a economia a um novo patamar.
O meu primeiro desafio é formar uma equipa alinhada, capaz de partilhar uma visão comum e de a traduzir num apoio concreto à economia real. Queremos apoiar as empresas e toda a cadeia de valor. Muitas multinacionais que operam em Moçambique trazem uma expectativa de trabalhar com grandes players com quem já têm relação noutros países. Mas aqui a realidade é diferente.
Uma das vantagens que o Millennium bim tem é a confiança que conquistou ao longo destes 30 anos junto dos seus clientes, a sua vasta rede de balcões e o capital humano qualificado que possui. Temos capacidade para responder às necessidades de todos os segmentos de clientes, de forma integrada e com valor acrescentado para a economia.
O que é que traz das suas experiências que quer implementar com a nova equipa? Queremos tornar as equipas mais especializadas, pois as oportunidades de negócio são cada vez mais específicas. Para responder a esta realidade, estamos a preparar e a capacitar os colaboradores, segmentando o negócio por áreas estratégicas (infra-estruturas e energia, agricultura, sector público, entre outras) e formando profissionais dedicados a cada uma delas.
“Vamos concentrar-nos em energia, infraestruturas e logística. Acreditamos que estes são os sectores que poderão transformar Moçambique num hub regional e criar valor"
Entrei no bim a 24 de Março, data simbólica para mim por coincidir com o aniversário do meu filho. Esta escolha tem também um lado pessoal: o meu pai trabalhou no banco, pelo que me sinto a dar continuidade a um legado familiar.
Antes da minha entrada, muitos clientes corporativos viam o Millennium bim como um banco universal, mais vocacionado para o retalho. Mudar esta percepção é crucial. Queremos ser reconhecidos como o parceiro estratégico das grandes empresas, capazes de apoiar toda a sua cadeia de valor (fornecedores, colaboradores e operações).
Quando trabalhei noutra instituição financeira, era comum os clientes esperarem o mesmo nível de serviço de mercados internacionais e encontrarem desafios. No bim, conseguimos oferecer soluções consistentes e locais, mantendo padrões internacionais de qualidade. Estamos bem posicionados para sermos o banco de referência para o segmento corporate em Moçambique.
Por onde passará o crescimento?
Vamos concentrar-nos em energia, infra-estruturas e logística. Acreditamos que estes são os sectores que poderão transformar Moçambique num hub regional e criar valor para o desenvolvimento de outras áreas da economia. Sem infra-estrutura e logística, o crescimento não acontece. Sem energia, não há capacidade de produção nem entrada de novos players globais. É crucial que o País consiga transformar recursos como gás, petróleo e minerais em receitas que financiem o desenvolvimento.
Mas, muitas vezes, as próprias empresas não se preparam para a relação com a banca, vendoa apenas como uma fonte de financiamento. Qual deve ser o papel de bancos sistémicos
Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva & D.R.
Administrador executivo do Millennium bim, é responsável pelo segmento Corporate e de Banca de Investimento. Com um mestrado em Administração e Gestão de Empresas pela Universidade Eduardo Mondlane, é licenciado em Gestão e Finanças pela PUC Minas (Brasil), com especialização em Liderança Executiva pela Universidade de Oxford, além de certificações internacionais em Análise de Crédito Comercial pela Moody’s Analytics. A sua experiência passa por algumas instituições financeiras de renome, nas quais geriu uma carteira de mais de 1400 clientes. No bim, tem sido peça-chave numa nova lógica de abordagem do banco ao segmento corporate.
JANUÁRIO DA COSTA VALENTE JÚNIOR
Administrador-executivo do Millennum bim
como o Millennium bim no crescimento real da economia?
O nosso papel central na economia é actuar como parceiros estratégicos das empresas e não apenas como prestadores de serviços. O nosso principal foco é apoiar as empresas na sua organização interna, oferecendo-lhes produtos e soluções adaptadas. O banco não é sócio, mas um parceiro que financia apenas negócios com sustentabilidade própria, ajudando-os a estruturarem-se para um crescimento sólido. O verdadeiro desafio encontra-se nas pequenas e médias empresas, que precisam de apoio para se qualificarem como fornecedoras de grandes projectos. Por esta razão, geralmente começa-
“Precisamos de melhorar o ambiente de negócios, dar garantias aos investidores e transmitir confiança. Recursos existem, o que falta é acelerar a execução e garantir previsibilidade para que o sector privado possa investir”
mos com investimentos adequados que se vão ampliando à medida do desenvolvimento do próprio negócio. Apercebemo-nos que um dos principais desafios das empresas é a boa governação, incluindo uma contabilidade organizada, modelos de gestão transparentes e as certificações necessárias. Estes elementos são cruciais para que o banco tenha confiança nos negócios, uma vez que o dinheiro que emprestamos pertence aos depositantes e aos accionistas e deve ser aplicado com prudência. Nos últimos 15 anos, a banca em Moçambique passou de uma abordagem tradicional para uma abordagem consultiva, exigindo que os profissionais analisem riscos e aconselhem
O Millennuium bim tem a ambição de se tornar parceiro estratégico das grandes empresas
os clientes. O nosso papel pedagógico continua a ser fundamental. Ajudamos as empresas a profissionalizarem-se, oferecendo programas de apoio e pacotes para custear certificações com o objectivo de que possam aceder a financiamentos e integrar cadeias de valor internacionais.
Uma das grandes tendências, a nível global, é a procura por sustentabilidade e a transformação digital. O banco está num processo evolutivo também a este nível. Imagino que não seja directamente a sua área de actuação, mas queria perguntar-lhe: qual é o vosso
posicionamento em matéria de digitalização?
O Millennium bim, no domínio digital, é um dos bancos mais robustos e com grande capacidade de adaptação. Desenvolvemos produtos e soluções sob medida para as necessidades do cliente. Fomos pioneiros a introduzir o Host- toHost, um sistema que integra o banco e as empresas, ajudando na contabilidade, reconciliação bancária, transferências e na monitorização em tempo real das operações. Esta solução foi inicialmente adoptada por multinacionais e, actualmente, é adaptada a vários sectores de actividade. Também nos destacamos no mobile banking. No ano passado ganhámos o prémio para a melhor App do
mercado. Um dos maiores diferenciais é a autonomia para desenvolver soluções locais adaptadas à realidade de cada negócio, o que nos torna muito mais ágeis.
E como está estruturada a agenda ESG (Environmental, Social and Governance) dentro do Banco?
O ESG é, hoje, um tema central em qualquer grande empresa que queira posicionar-se estrategicamente no mercado. Faz parte da cultura organizacional do Millennium bim e está alinhado com os padrões internacionais seguidos pelo Grupo Millennium BCP. Temos um gabinete dedicado à área de governance, enquanto a componente ambiental e social está integrada na área de responsabilidade social e de negócio. Financiamento verde é uma prioridade e queremos servir de referência para que outros players do mercado também se alinhem com as boas práticas internacionais.
Qual considera ser a principal diferença entre o bim e a concorrência?
O bim é um banco muito próximo da realidade moçambicana e esta é a nossa grande força. A cultura de Moçambique é relacional, os clientes gostam de sentir a presença do banco. Nos últimos meses, tive a oportunidade de ouvir os nossos clientes exprimirem como confiam no bim e gostam de trabalhar connosco. O desafio é aumentar a sofisticação dos produtos e capacitar ainda mais os clientes, com mais informação. Em termos de profissionais, temos uma equipa competente e dedicada, que entrega resultados. A proximidade com o cliente é o que nos distingue.
Em termos económicos, como vê o panorama actual e as perspectivas para os próximos anos?
Sou optimista em relação ao futuro de Moçambique. O País tem um enorme potencial de crescimento e acredito que a agenda do Governo está focada em concretizar essa transformação neste quinquénio. As reformas em curso, nomeadamente a digitalização de processos públicos, vão trazer mais clareza, eficiência e profissionalismo, reflectindo-se também no sector privado. Temos grandes oportunidades vindas dos megaprojectos de gás natural, que irão atrair investimentos adicionais e criar capacidade para desenvolver o turismo, a agricultura e os serviços. Precisamos de melhorar o ambiente de negócios, dar garantias aos investidores e transmitir confiança. Recursos existem, o que falta é acelerar a execução e garantir previsibilidade para que o sector privado possa investir.
A aposta no capital humano é uma das principais armas do bim para dominar o mercado
"A nomeação de um gestor externo para o Millennium bim foi um acto disruptivo. Acredito que a escolha demonstra a confiança no talento moçambicano"
Tem 39 anos: sente-se jovem para este desafio?
Tenho consciência de que trabalho com executivos com 30 ou 35 anos de experiência no sector. Aprendo com eles todos os dias. Mas acredito no valor que trago, na experiência que acumulei e no que o mercado reconhece em mim.
O que aconteceu agora no bim foi disruptivo e mostra que o banco quis sinalizar ao mercado que está disposto a apostar em talento jovem moçambicano.
Está no Millennium bim, mas o seu pai já trabalhava no banco, como referiu. Serviu de inspiração?
Tenho uma ligação profunda com Millennium bim. O meu pai foi um dos trabalhadores fundadores, em 1995, e reformou-se em 2009. Cresci a vê-lo construir uma carreira brilhante na banca, o que me inspirou a seguir o mesmo caminho. Nos anos 2000, mudei-me para Maputo, terminei o ensino secundário e entrei na Faculdade de Economia, mas obtive logo uma bolsa para estudar
em Belo Horizonte, no Brasil, onde vivi entre 2006 e 2010 e trabalhei no Banco do Brasil, na área de corporate Ao regressar a Moçambique, iniciei a carreira no então Banco Único [actual NedBank], em 2011, e depois passei pelo Standard Bank e pelo Absa, participando em importantes processos de transformação e crescimento destas instituições. Nos últimos dois anos e meio, voltei ao Standard Bank, onde fui director para empresas internacionais, função que me abriu portas para integrar a Comissão Executiva do Millennium bim como sucessor do Moisés Jorge.
Este é um passo diferente na sua carreira, uma mudança significativa. Como vê esta nova etapa?
A nomeação de um gestor externo para o Millennium bim foi um acto disruptivo. Acredito que a escolha demonstra a confiança no talento moçambicano e o desejo de valorizar carreiras sólidas.
A minha vinda para o Millennium bim representa uma mudança. Ter esco-
lhido alguém de fora é um sinal de que o banco pretende evoluir e inovar. Senti que podia trazer uma nova visão, cultura e dinâmica para a instituição. O desafio foi deixar a minha zona de conforto para ter um impacto mais directo na economia. O Millennium bim é um dos maiores empregadores do País e senti que podia fazer a diferença no sector financeiro. O trabalho, embora exigente, é motivador e tem um impacto visível.
Que mensagem deixa aos jovens moçambicanos que ambicionam chegar a cargos de liderança?
Que é possível, mas nada acontece de um dia para o outro. Comecei a trabalhar aos 21 anos e fui construindo a minha carreira passo a passo, sempre a aprender e a preparar-me para quando surgisse a oportunidade certa. É importante respeitar o processo, ser curioso, aprender com tudo e com todos. A oportunidade vai chegar, mas é preciso estar preparado. Quando a minha chegou, estava pronto para assumir o desafio.
E onde se vê no futuro?
Sou jovem e tenho muito pela frente, quero ajudar o banco a tornar-se numa instituição de referência no segmento Corporate em Moçambique, a contribuir para o crescimento da economia e para o desenvolvimento das pessoas. O meu objectivo é que o mercado reconheça o bim como uma instituição que acrescenta valor e que inspira confiança.
Sofia Borges • Directora de Estratégia de Marcas na Spot Comunicação
Há em muitas empresas uma vontade bonita mas perigosa. A vontade de dizer tudo de uma só vez. Parece entusiasmo, parece força, mas depressa se transforma em confusão. Em vez de uma mensagem clara, surge um coro de palavras que se atropelam. Fala-se de tradição e de inovação, de confiança e de preço, de juventude e de experiência. E, no fim, a mensagem perde-se. Quando se quer comunicar tudo, o que fica é nada.
O banquete da comunicação
É como estar num jantar e alguém insistir que prove de tudo ao mesmo tempo. Um pouco de bacalhau, um toque de caril, frango à zambeziana e, por cima, mousse de chocolate. Uma mistura generosa, mas impossível de saborear.
Na comunicação acontece igual. Muitas vezes, as marcas querem pôr tudo na mesa. Querem mostrar todas as qualidades, todos os valores, todas as intenções, como se o consumidor precisasse de um cardápio completo para acreditar. Mas é precisamente o contrário. Quando se tenta dizer tudo, a mensagem deixa de ter sabor. Fica pesada, dispersa, esquecida. No excesso, a essência desaparece.
A coragem de escolher
Comunicar é escolher. E escolher custa. Dizer uma coisa significa deixar muitas outras de fora. É um exercício de coragem. Mas é nesse corte que se constrói uma marca forte.
O consumidor moçambicano sabe reconhecer a diferença entre uma mensagem concreta e uma lista interminável de atributos. A clareza inspira confiança. A confusão gera desconfiança. É por isso que, quando uma marca decide falar apenas de uma ideia simples e verdadeira, essa ideia entra no ouvido e fica. O mercado pode ser competitivo, mas o consumidor
Quando a Marca Quer Dizer Tudo, Não Diz Nada
continua a valorizar quem fala com autenticidade. É isso que cria vínculo. Uma marca não precisa de explicar mil razões. Precisa apenas de uma boa razão.
Barulho não é comunicação
Acredita-se muitas vezes que, se uma marca falar muito e aparecer em todo o lado, alguma coisa vai ficar. É como gritar numa multidão e esperar ser ouvido. Mas quando todos gritam, ninguém ouve. Boa comunicação não é barulho. É música. Tem ritmo, tem pausa e até tem silêncio. Uma marca bem pensada não precisa de se impor pela força. Permanece pela naturalidade. Não precisa de repetir sem parar. Fica porque tem clareza.
“É como estar num jantar e alguém insistir que prove de tudo ao mesmo tempo”
A tentação do barulho é grande, sobretudo quando a concorrência é intensa. Mas estar presente em todo o lado não é sinónimo de ser lembrado. Muitas vezes é justamente o contrário. Quanto mais se grita, mais se afasta.
A clareza como luxo
No meio de tanto ruído, a clareza é hoje o verdadeiro luxo. Uma frase simples pode valer mais do que mil palavras bonitas. Uma promessa cumprida fala mais alto do que um catálogo inteiro de intenções. Uma visão coerente faz mais pela reputação de uma empresa do que dezenas de anúncios brilhantes. Ser simples exige disciplina. Obriga a cortar, a pensar, a decidir. Dá mais trabalho do que somar. Mas é esse esfor-
ço que distingue uma marca que fica de uma marca que passa.
Em Moçambique, onde o preço ainda pesa tanto nas decisões de compra, a clareza é ainda mais decisiva. Porque, quando os preços empatam, é a marca que faz escolher. Uma cerveja pode ser cara, mas se der orgulho a quem a bebe, continua a vender-se.
Um banco pode prometer taxas competitivas, mas, se não inspirar confiança, não conquista ninguém. É a marca que transforma barato em arriscado e caro em seguro.
A marca por dentro
A clareza não serve apenas para fora. Também serve para dentro. É a diferença entre uma equipa que trabalha apenas por salário e uma equipa que trabalha também por orgulho. E não se compra orgulho com dinheiro. Compra-se com marca. Com propósito que se sente e se partilha. Com uma visão que une. Com uma comunicação que não é discurso, mas música.
Quando isso acontece, não é preciso vigiar. É preciso confiar. O propósito deixa de ser uma frase na parede e passa a ser uma energia que se sente no ar.
A pergunta inevitável
Tudo se copia. Produtos, preços, embalagens. Mas tente copiar uma emoção. Tente roubar a lembrança de infância que um sabor desperta. Tente falsificar o arrepio de orgulho de uma marca que confia. Não consegue. É esse o poder da marca. O que não se vê, mas permanece. Por isso, caro empresário, experimente este exercício. Se amanhã tivesse de comunicar apenas uma ideia, qual seria?
Se não houver uma resposta em poucas palavras, o problema não está na comunicação. Está na visão.
Porque comunicar tudo é não comunicar nada.
E só as marcas que sabem escolher é que marcam.
INOVAÇÃO
Moeda Digital Criada no ISUTC Vai Ser Apresentada ao Banco Central
Quatro programadores moçambicanos criaram uma moeda digital para utilização dentro das instalações do Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC). A Medx está em testes desde Março, e os jovens criadores explicam onde querem chegar
Idealizada para ser uma stablecoin (moeda estável) atrelada ao metical, a Medx está a dar os seus primeiros passos no Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC), com a ambição de se tornar num pilar de inovação no mercado moçambicano e global. A ideia surgiu em 2023, fruto da experiência de cinco anos da equipa de desenvolvimento da CryptoNTech, composta por Raimundo Chitava, Chaznil Suleimani, Edilson Jorge Neves e António Costa. Ao identificarem as dificuldades diárias em pagamentos e a crescente necessidade de alternativas financeiras mais eficientes, a equipa decidiu criar uma criptomoeda que fosse mais do que um activo de especulação. “O foco é facilitar o quotidiano, tornando as transacções mais simples, rápidas e seguras”, explicou Raimundo Chitava à E&M.
Os custos de desenvolvimento foram inteiramente suportados pela própria equipa, que acreditou na visão e no potencial do projecto. Esta aposta culminou na entrada da Medx no Sandbox Regulatório do Banco de Moçambique em 2024, um ambiente que oferece o apoio necessário para que a inovação floresça de forma segura e dentro das directrizes legislativas.
Experiência-piloto no ISUTC O primeiro teste da Medx teve início em Março deste ano, com o ISUTC a servir de laboratório. Segundo Chitava, a moeda, juntamente com a sua carteira digital, a EMedx, tem sido utilizada por uma comunidade de aproximadamente 500 utilizadores activos, incluindo estudantes e comerciantes. “A experiência tem sido um sucesso, com transac-
ções fluidas e sem custos”, acrescenta. No entanto, Raimundo revela que a aceitação da tecnologia tem mostrado dois lados. Enquanto alguns utilizadores, já familiarizados com o conceito das criptomoedas, adoptaram a Medx com entusiasmo, um outro grupo encara a
Os custos de desenvolvimento foram inteiramente suportados pela própria equipa, que acreditou na visão e no potencial do projecto
A BASE: TECNOLOGIA BLOCKCHAIN
A Medx é uma das primeiras soluções nacionais de criptomoeda baseada na tecnologia blockchain. Os seus programadores são estudantes do Instituto Superior e de Telecomunicações (ISUTC) e da Universidade Politécnica. A moeda é equivalente ao metical e servirá como porta de entrada para outras criptomoedas, como a Bitcoin e a Ethereum.
inovação com cepticismo, associando-a a fraudes. Para este público, a equipa tem investido em literacia digital e financeira, utilizando palestras e conteúdo nas redes sociais para desmistificar a tecnologia blockchain (que sustenta as criptomoedas) e as finanças descentralizadas.
Segurança e interoperabilidade Raimundo Chitava revela que a segurança é uma prioridade para a Medx. O sistema foi construído sobre uma infra-estrutura robusta, sujeita a auditorias constantes para prevenir falhas e burlas. Além do mais, a cooperação com o Banco de Moçambique no Sandbox Regulatório ajuda a garantir que todas as medidas de segurança, tanto para os utilizadores como para a plataforma, estão a ser seguidas à risca.
“O verdadeiro poder da Medx reside na sua interoperabilidade. A longo prazo, a visão é que a criptomoeda possa não só funcionar de forma independente, mas também integrar-se com sistemas de carteiras móveis como o M-Pesa e o E-Mola. Esta interoperabilidade permitiria aos utilizadores fazerem levantamentos e depósitos de forma fluida, unindo o dinheiro fiduciário ao digital. Outra grande vantagem é a possibilidade de transferências internacionais instantâneas, uma característica que supera as limitações e os custos da intermediação bancária tradicional.”
O futuro além da instituição
A fase de teste-piloto está praticamente concluída. A equipa da CriptonTech está a compilar os dados e relatórios necessários para submeter ao Banco de Moçambique, na esperança de obter a licença que permitirá a ex-
Texto Ana Mangana • Fotografia D.R.
RAIMUNDO CHITAVA
Um dos programadores da CryptoNTech
TUDO DIGITAL: COMO FUNCIONA?
A Medx procura oferecer um sistema de pagamento digital que permite aos utilizadores armazenar, enviar e receber dinheiro através da carteira digital EMedx. A carteira permite aos utilizadores armazenar, enviar e receber Medx, tornando as transacções financeiras acessíveis e fáceis de gerir a partir de um dispositivo móvel.
A solução está em processo de aprovação junto do Banco de Moçambique, como parte da 5.ª edição do Sandbox Regulatório. Uma vez aprovada, Raimundo prevê que a moeda poderá alcançar sustentabilidade através dos serviços que oferecerá aos utilizadores, sendo que a mesma estará indexada ao metical.
JORGE NEVES Programador CryptoNTech
pansão para um público mais vasto. O plano de expansão da Medx é ambicioso e estratégico. Inicialmente, o foco passa por outras instituições de ensino, mas a visão final é alcançar todo o público, incluindo empresários e investidores.
A Medx não se limitará a ser uma ferramenta de pagamento; a equipa planeia usá-la como base para um mercado tokenizado, permitindo a compra e venda de activos, como acções, através de “tokens” digitais.
EDILSON
Inovação
Estudantes Universitários
Apresentam Soluções de Inclusão Financeira
Durante a 3.ª edição do M-Pesa FinTalks, que decorreu no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, em Maputo, foram apresentadas quatro soluções vencedoras da edição M-Pesa Finckathon 2025, que demonstram como a criatividade e a tecnologia podem impulsionar a transformação digital.
Uma das propostas chama-se MGuia, solução apresentada pelos estudantes do Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC), e que torna o M-Pesa mais acessível através da inserção de línguas locais e do uso de voz, garantindo maior inclusão digital.
A outra proposta é o “Procura Já”, concebida por um grupo estudantil da UEM, que permite identificar os agentes M-Pesa com saldo disponível, evitando que os clientes percorram longas distâncias em busca de atendimento.
A UniZambeze apresentou o “M-Loda”, um sistema que promove a cooperação entre agentes, para colmatar a falta de recursos financeiros, permitindo transferências rápidas e garantindo maior fluidez na utilização do M-Pesa.
Por último, o ISCTEM trouxe o “M-Djo”, uma solução inclusiva que, através de um sistema de voz, possibilita a quem não sabe ler nem escrever realizar transacções financeiras de forma autónoma.
Estas soluções demonstram o compromisso do M-Pesa em continuar a promover a inclusão financeira e digital, criando ferramentas que aproximam comunidades, fortalecem pequenos negócios e ampliam o acesso a serviços financeiros em Moçambique.
Inteligência Artificial
YouTube Lança Ferramenta de IA que Transforma Falas em Músicas
O YouTube anunciou uma série de novidades para os criadores de conteúdos, durante o evento Made on YouTube, nos EUA. Um dos destaques diz respeito ao suporte ao Veo 3 no Shorts e uma nova ferramenta para transformar qualquer fala em música.
O modelo de IA Veo 3, responsável por gerar vídeos realistas, ganhou uma variante adaptada para criações no YouTube Shorts. Com maior velocidade para atender aos pedidos, a ferramenta cria clipes curtos na resolução de 480p com áudio e a partir de qualquer pedido feito por texto (o chamado “prompt”).
Startups
Quanto à ferramenta de IA que transforma falas em música, por enquanto, só é possível converter alguns vídeos elegíveis. Após usar a ferramenta, o próprio criador pode escolher o ritmo e ajustar o resultado final. A plataforma anunciou várias novidades para as transmissões ao vivo. Segundo dados internos, 30% dos utilizadores diários do YouTube assistiram a um directo no segundo trimestre deste ano.
Outros dos novos recursos incluem uma opção para ensaiar antes de entrar ao vivo, ideal para quem está a começar, e uma lista de jogos que podem ser partilhados com a audiência.
ThinkLab, uma Nova Incubadora Tecnológica em Moçambique
A Autoridade Reguladora das Comunicações (INCM) inaugurou, recentemente, a sua incubadora para empreendedores nacionais — a “ThinkLab” —, com o propósito de estimular a inovação no País. A inauguração, inserida nas celebrações dos 33 anos da instituição, foi presidida pelo ministro das Comunicações e Transformação Digital, Américo Muchanga, que sublinhou que este espaço constitui um passo alinhado com as necessidades do País na promoção da
Transporte
Como resultado de uma parceria entre o Governo ruandês, a China Road and Bridge Corporation (CRBC) e a empresa de tecnologia de mobilidade aérea urbana Ehang, o país apresentou o primeiro táxi aéreo de África, durante a Cimeira Africana da Aviação, que teve lugar nos dias 4 e 5 de Setembro, em Kigali.
De acordo com o The New Times, o táxi aéreo totalmente eléctrico de dois lugares foi construído na China, vem equipado com tecnologia de navegação autónoma de última geração e, durante a demonstração, dirigida pelo Presidente
“Uma nação sem inovação é uma nação de mentes adormecidas. O ThinkLab traduz-se num laboratório de projecção de soluções digitais para os desafios nacionais mais prementes. É igualmente uma plataforma de colaboração, onde o sector privado, a academia e o Governo, em coordenação, planificam e projectam o futuro que desejamos”, afirmou o governante.
Nesta primeira fase, integrarão o programa de incubação 12 “startups”, abrangendo áreas como Saúde (Farmácia na Mão, Gaarra e Meu Bebé), Educação (Dika Hub), Marketplace (Palichi), Transportes (Moova, Zula e Carga Fácil), Banca (Simulador Bancário), IT/IA (Pay Guru), SIG (Websig) e Tradução (MoHiTEK), com incubação em Maputo, Beira e Lichinga. Todas foram seleccionadas através de um concurso promovido pela instituição.
Ruanda Testa Primeiro Táxi Aéreo Eléctrico e Autónomo de África
do país, Paul Kagame, descolou sem piloto a bordo.
O Ruanda procura projectar-se como centro de tecnologia e inovação. O Governo do país destacou, na ocasião, o uso pioneiro de drones para serviços de entrega de suprimentos médicos.
O director-geral da CRBC no Ruanda, Huang Qilin, saudou a colaboração, apresentando-a como um “compromisso” em soluções de ponta para África. “Estamos disponíveis para trabalhar com o país para explorar o potencial económico”, concluiu. inovação.
Tanzânia: o nosso percurso de Outubro passa por majestosos baobás e termina na praia
Tanzânia de lés-a-lés Safári, praia e relaxamento: o melhor de dois mundos 68
ESCAPE
VOLANTE Xiaomi YU7
Um SUV coupé fabricado ao lado do SU7, em Pequim 70
Malbec de Mendoza Outubro pede um vinho intenso oriundo da Argentina 71
ADEGA
AGENDA Outubro
Um guia para tudo o que não pode perder na agenda cultural (e não só) que aí vem 80
PARQUE NACIONAL DE MAPUTO
Um destino turístico que, desde Julho, faz parte do património mundial da Organização das Nações Unidas
Tanzânia e Zanzibar
NESTA EDIÇÃO DE OUTU-
BRO, propomos um destino em África que consegue reunir, de forma harmoniosa, a intensidade da vida selvagem e o encanto de praias tropicais. Não é Moçambique, mas continuamos perto: desta vez, o nosso escape passa pela Tanzânia e Zanzibar. É um programa de viagem que permite viver, num único itinerário, duas experiências complementares: a emoção dos safáris nos grandes parques africanos e o descanso junto ao Índico, com o mar turquesa a dar o tom ideal a um cenário de tranquilidade.
O repouso em Zanzibar Depois da intensidade da savana, a viagem prossegue para Zanzibar, a cerca de uma hora de voo a partir de Arusha ou Dar es Salaam. Conhecida como a “ilha das especiarias”, este arquipélago é um refúgio perfeito para o descanso. Aqui, o viajante troca o pó da savana pelo branco imaculado das
Safári e Praias num Só Itinerário
praias e pela suavidade das águas quentes do Índico. As praias de Nungwi e Kendwa, no norte da ilha principal, são célebres pela areia fina e pelo ambiente descontraído. A maré baixa descobre bancos de areia e enseadas cristalinas, ideais para longos passeios ou mergulhos ligeiros. Para os amantes de snorkelling e mergulho, Zanzibar é um verdadeiro paraíso: recifes de coral coloridos, cardumes tropicais e a possibilidade de avistar golfinhos ou tartarugas marinhas.
Mas Zanzibar não se resume apenas a praias. A capital, Stone Town, é um labirinto de ruelas estreitas, portas entalhadas em madeira e mercados perfumados por cravinho, canela e noz-moscada. Classificada como Património Mundial pela UNESCO, esta cidade histórica revela a herança árabe, persa e indiana que moldou a identidade cultural do arquipélago. Passear pelas ruas ao entardecer,
com o chamamento à oração a ecoar das mesquitas, é mergulhar numa atmosfera única, feita de cruzamentos de culturas e memórias do comércio do Índico.
Um itinerário equilibrado
Um programa “safári + praia e relaxamento” oferece o melhor de dois mundos num programa que África consegue oferecer de forma ímpar a nível mundial . Normalmente, são recomendados cinco a sete dias de safári, distribuídos entre Serengeti, Ngorongoro e eventualmente parques do Sul, seguidos de três a cinco dias em Zanzibar. Esta sequência permite ao viajante absorver a intensidade da vida selvagem e, de seguida, recuperar energias à beira-mar, prolongando a experiência com um ritmo mais lento. A logística é facilitada pela rede de voos internos e oferta diversificada de aloja-
Um pôr-do-sol sobre o Serengeti, com luz suave e atmosfera mágica
mentos, que vão desde tendas de luxo em plena savana até resorts à beira-mar, com spa e gastronomia refinada. Para quem procura exclusividade, existem pequenos hotéis boutique em praias quase desertas; para famílias, resorts completos com actividades náuticas; e, para casais em lua-de-mel, cabanas privadas sobre a areia.
A melhor época Outubro é uma das épocas mais aconselháveis para este itinerário. Na Tanzânia, é o final da estação seca: a vegetação está baixa, os animais concentram-se junto das fontes de água e a observação é facilitada. Em Zanzibar, o clima é seco e soalheiro, com temperaturas amenas que rondam entre os 27 e os a 30 graus. É, portanto, o mês ideal para combinar safári e praia, antes da chegada das primeiras chuvas curtas em Novembro.
Uma viagem transformadora
Viajar pela Tanzânia e por Zanzibar é mais do que uma sucessão de paisagens bonitas: é um contacto profundo com a natureza e com a diversidade cultural da região. Nos safáris, o viajante confronta-se com a escala grandiosa da vida selvagem. Em Zanzibar, encontra um ritmo diferente, em que o tempo parece abrandar ao som das ondas e dos mercados de especiarias.
É esta conjugação de intensidade e serenidade que faz deste programa uma das opções mais memoráveis em África. Ao regressar, o viajante traz não apenas fotografias impressionantes, mas também uma sensação de equilíbrio: a energia da savana e a paz das praias, juntas numa mesma jornada africana.
Texto Ana Mangana
Fotografia Istock
Neste roteiro ideal para Outubro, o viajante sacode o pó da savana por cima do branco imaculado das praias e com mergulhos nas águas quentes e tranquilas do Índico
Zanzibar: um areal paradisíaco com barcos tradicionais e mar turquesa
Photo
Zebras no interior da cratera de Ngorongoro
Mulher de hijab vermelho numa das muitas ruas históricas de Zanzibar
A versão-base do YU7 tem um motor traseiro com 320 cv/235 kW, acelera dos 0-100 km/h em 5,9 segundos e tem uma velocidade
máxima de 240 km/h
Xiaomi Anuncia o Seu
CHAMA-SE YU7 e é o primeiro SUV da empresa chinesa Xiaomi, que pretende desafiar a hegemonia da Tesla. Fabricado juntamente com o SU7 em Pequim, trata-se de um SUV de formato coupé, com elementos que remetem para a Ferrari. De acordo com o portal Auto Drive, a dianteira com faróis em LED tem uma grelha com cortinas activas.
Os puxadores das portas estão integrados no perfil, e o desenho é rematado com um aileron traseiro. Os farolins traseiros são em forma de C, e na zona inferior encontra-se um difusor de grandes dimensões. Além disso, o YU7 tem 19 saídas optimizadas de ar e jantes de 21 polegadas, que lhe permitem anunciar um coeficiente aerodinâmico de 0,245.
Por sua vez, o interior é minimalista, dominado por
Primeiro SUV, o YU7
um ecrã central com 16 polegadas e um tabliê chamado Hyper-Vision Panorama Display, situado junto à base do pára-brisas, que é totalmente personalizável, e que pode funcionar como velocímetro, navegação ou ecrã para o passageiro da frente. Os bancos são revestidos em couro “nappa”, contam com funções exóticas como “gravidade zero”, “massagem em dez zonas”, além de outros mimos, graças a pequenos motores eléctricos embutidos nos assentos. Atrás, os bancos são ajustáveis electricamente, há climatização independente e um sistema de entretenimento.
Realce ainda para o tecto solar com 1,7 m2. A mala pode ir de 678 até 1758 litros de capacidade.
A Xiaomi apostou num SUV de formato coupé, com elementos que remetem para o Ferrari Purosangue
Motorização do YU7
A versão base do YU7 tem um motor traseiro com 320 cv/235 kW, acelera de 0-100 km/h em 5,9 segundos e tem uma velocidade máxima de 240 km/h. A bateria de 96,3 kWh anuncia 835 km de autonomia CLTC. A versão intermédia tem tracção integral, por via de dois motores, um com 300 cv/220 kW e outro com 392 cv/288 kW. O sistema eléctrico de 800V permite cargas ultra-rápidas entre 10 e 80% da bateria em 12 minutos ou o equivalente a 620 km de alcance em 15 minutos de “encosto”. O SUV eléctrico contará com um sistema avançado de assistência à condução com um sistema LiDAR no tejadilho, um radar de ondas milimétricas 4D, 11 câmaras de alta resolução e 12 sensores ultra-sónicos.
Texto Ana Mangana Fotografia D.R
O YU7 vem com um tecto solar de 1,7 m2 e a mala pode ir de 678 até 1758 litros de capacidade
Mendoza está situada a mais de 700 metros de altitude, com vinhas que chegam a ultrapassar os 1200 metros. A amplitude térmica contribui para uvas de maturação equilibrada, que preservam acidez natural e concentração aromática.
Malbec de Mendoza: Um Vinho Sul-americano
OUTUBRO É UM MÊS de transição. No hemisfério sul, o tempo quente aproxima-se, trazendo dias mais longos, noites mais amenas e uma paleta de cores que inspira mesas reconfortantes e de convívio. É também a altura perfeita para redescobrir vinhos que combinam intensidade e corpo e um certo aconchego, entre a estação fresca e o calor. Nas propostas internacionais que ganham destaque nesta época, há uma que merece ser sublinhada: o Malbec de Mendoza, na Argentina.
A alma do Malbec Embora a casta Malbec tenha origem em França, foi na Argentina que encontrou o seu território de eleição. Introduzida no século XIX, adaptou-se de forma extraordinária às condições climáticas de Mendoza, região localizada no sopé da Cordilheira dos Andes. Hoje, este terroir é sinónimo de Malbec de referência mundial, responsável por vinhos robustos, de cor intensa e taninos sedosos.
Os vinhos de Mendoza apresentam aromas característicos de ameixa madura, cereja preta e notas de violeta, frequentemente acompanhadas por nuances de baunilha ou cacau, quando sujeitos a estágio em barrica de carvalho. No paladar, combinam estrutura com suavidade, o que os torna acessíveis, mesmo a quem se inicia no mundo dos tintos encorpados.
O território de Mendoza Mendoza está situada a mais de 700 metros de altitude, com vinhas que chegam a ultrapassar os 1200 metros.
Para Saborear em Outubro
A amplitude térmica — dias quentes e noites frias — contribui para uvas de maturação equilibrada, que preservam acidez natural e concentração aromática. A escassez de chuva, compensada por um sofisticado sistema de irrigação herdado dos tempos coloniais, permite viticultura controlada e sustentável.
É neste cenário que nascem alguns dos vinhos mais aclamados da América do Sul. A paisagem das vinhas, com os Andes como pano de fundo coberto de neve, completa a experiência sensorial, tornando uma visita à região tão memorável quanto a prova dos seus vinhos.
Porquê em Outubro?
Sugerir um Malbec argentino em Outubro não é apenas uma escolha de calendário; é uma proposta de harmonização com o espírito da estação. A intensidade deste vinho acompanha de forma exemplar pratos como carnes grelhadas, ensopados de caça, massas com molhos ricos ou queijos curados. Para refeições mais descontraídas, um Malbec jovem pode acompanhar na perfeição uma tábua de enchidos ou até hambúrgueres artesanais.
Em termos de consumo, a temperatura de serviço recomendada é de 16 a 18 °C. Uma ligeira decantação, mesmo em vinhos jovens, ajuda a abrir os aromas e a suavizar os taninos. Para ocasiões especiais, garrafas de reserva, com estágio pro-
longado em madeira, oferecem camadas adicionais de complexidade.
Um embaixador da Argentina
Mais do que uma bebida, o Malbec tornou-se um símbolo da identidade argentina. Está presente em festivais de música, em jantares familiares e em experiências de enoturismo, que atraem visitantes de todo o mundo. Para quem procura um vinho que combine autenticidade, carácter e reconhecimento internacional, poucos serão tão emblemáticos como um Malbec de Mendoza.
Ao brindar com este vinho, o viajante ou apreciador partilha um pouco da cultura sul-americana e descobre como o terroir pode transformar uma casta em expressão de um país inteiro.
Texto Ana Mangana Fotografia D.R
Vinhos argentinos para quem se inicia nos tintos encorpados
Um Malbec argentino, entre uma vasta colecção ao dispor de quem aprecia bons vinhos
ADEGA
Atenções divididas, da F1 à BlueInvest Africa AGENDA OUTUBRO
PREPARE-SE PARA um fim-de-semana único, em Austin, Texas. O rugir dos bólides da Fórmula 1 volta aos EUA para o fazer estremecer de emoção. É o GP dos Estados Unidos que decorrerá no lendário Circuito das Américas, palco onde velocidade, estratégia e espectáculo se encontram.
Na cidade de Lomé, Togo, irá decorrer o BlueInvest Africa 2025, focado na economia azul sustentável, ligando projectos africanos com investidores europeus. Em Londres, Inglaterra, tudo a postos para
FÓRMULA 1
GP dos Estados Unidos Circuito das Américas / Austin, Texas De 17 a 19 de Outubro formula1.com
O Circuito das Américas é conhecido pelas curvas inspiradas noutros circuitos lendários, como Suzuka e Silverstone, e pela icónica subida até à “curva 1”, que proporciona ultrapassagens espectaculares. Localizado em Austin, Texas, é uma jóia moderna do automobilismo que nasceu com uma missão clara: trazer de volta a Fórmula 1 aos EUA com estilo.
SUSTENTABILIDADE
BlueInvest Africa 2025 Lomé, Togo
De 15 a 16 de Outubro blueinvestafrica.eu
Olhos postos na cidade de Lomé, Togo, com a realização do BlueInvest Africa 2025, que visa juntar projectos, financiamento e parcerias entre a África e Europa. O evento reunirá empreendedores, investidores, políticos e especialistas em economia azul e finanças, proporcionando um espaço para discussões de alto nível sobre financiamento sustentável e encontros com os principais intervenientes do sector. Os projectos abordam soluções concretas em áreas como pesca e aquicultura sustentáveis.
O Que Não Pode (Mesmo)
a FT Africa Summit 2025, cimeira que reunirá chefes de Estado africanos, decisores políticos, presidentes executivos, investidores e empreendedores da nova geração para debater o papel global do continente africano, num cenário marcado pela incerteza geopolítica, pela reestruturação económica e pelas transições tecnológicas, refere uma nota. No streaming, destaque para a estreia da quarta temporada de Mayor of Kings-
town, drama centrado na família McLusky. Nos livros, sugerimos uma obra desafiante de Timothée Parrique. Neste ensaio intitulado “Abrandar ou morrer”, desconstrói-se, passo a passo, um dos grandes mitos contemporâneos: a ideia da necessidade de crescimento económico permanente. Um livro indispensável na sua biblioteca.
Texto Luís Patraquim
CIMEIRA
FT Africa Summit 2025 ● Londres, Reino Unido ● De 21 a 22 de Outubro ● africa.live.ft.com
Organizado pelo Financial Times, este evento reúne chefes de Estado, CEO e especialistas para discutir o papel do continente africano num mundo em transformação. Transição energética e industrial, inovação tecnológica e fintech, reformas políticas e crescimento sustentável serão as temáticas abordadas. Entre os oradores confirmados estão ministros de Angola, África do Sul, Serra Leoa e executivos da TotalEnergies e Infinity Power. Sob o lema “África num mundo em mudança”, será dado ênfase às reformas políticas na Nigéria, Angola e África do Sul, aos avanços na tecnologia financeira, inteligência artificial e infra-estruturas digitais, assim como os países africanos estão a adoptar a inovação e a transformar as economias.
Perder em Outubro
O Único Negócio Rentável?
As Prisões
STREAMING
Mayor of Kingstown (T4) / SkyShowtime ● 30 de Outubro
PROTAGONIZADA POR JEREMY RENNER (Hawkeye) e cocriada por Taylor Sheridan (Yellowstone) e Hugh Dillon, Mayor of Kingstown é um drama centrado na família McLusky, passado numa pequena cidade do Michigan (EUA), onde a única indústria rentável que resta é a das prisões. A família McLusky funciona como uma espécie de mediadora entre a polícia, os criminosos, os reclusos, os guardas prisionais e os políticos. Na quarta temporada, o controlo de Mike (Renner) sobre Kingstown é posto em causa quando novos jogadores tentam ocupar o vazio deixado pelos russos e uma guerra de gangues ameaça engolir a cidade. Enquanto aqueles que ama enfrentam perigos sem precedentes, Mike vê-se também obrigado a lidar com uma determinada nova directora da prisão, ao mesmo tempo que enfrenta os fantasmas do seu passado.
STREAMING
Outros Lançamentos
Dia 1: Shifting Gears T2 (ABC), Abbott Elementary T5 (ABC), Chicago Med T11 (NBC), Chicago Fire T14 (NBC), Chicago P.D. T13 (NBC) e RIV4AIS (Netflix)
Dia 2: Muito Machos (Netflix) e The Game (Netflix)
Dia 3: Animal (Netflix), Génio: Pede um Desejo (Netflix), The Sisters Grimm (Apple TV+), A Nova Força (Netflix), Monster: The Ed Gein Story (Netflix) e Zoomers (Prime Video)
Dia 5: Smiling Friends T3 (Adult Swim) e House of David T2 (Prime Video)
Dia 9: 9-1-1 T9 (ABC), 9-1-1: Nashville (ABC), Grey’s Anatomy T22 (ABC), O Plano de Ressurreição (Netflix) e Boots (Netflix)
Dia 10: The Last Frontier (Apple TV+)
Dia 12: Matlock T2 (CBS) e Elsbeth T3 (CBS)
Dia 13: The Neighborhood T8 (CBS), DMV (CBS), FBI T8 (CBS), Watson T2 (CBS), Solar Opposites T6 (Hulu) e The Chair Company (HBO Max)
Dia 14: NCIS T23 (CBS), NCIS: Origins T2 (CBS) e Splinter Cell: Deathwatch (Netflix)
Dia 15: Loot T3 (Apple TV+)
Dia 16: Devil in Disguise: John Wayne Gacy (Peacock), Georgie and Mandy’s First Marriage T2 (CBS), Ghosts T5 (CBS), Românticos Anónimos (Netflix) e The Diplomat T3 (Netflix)
Dia 17: Sheriff Country (CBS), Fire Country T4 (CBS), Boston Blue (CBS) e Rabo de Peixe T2 (Netflix)
Dia 19: Tracker T3 (CBS) e Haha You Clowns (Adult Swim)
Dia 22: O Monstro de Florença (Netflix) e Lazarus (Prime Video)
Abrandar ou Morrer
Autor: Timothée Parrique • Editora: Livros Zigurate • Género: Economia
Um livro contra ideias feitas, em linguagem acessível, com conceitos complexos que se tornam compreensíveis neste ensaio. Aqui desconstrói-se, passo a passo, um dos grandes mitos contemporâneos: a ideia da necessidade de crescimento económico permanente. Será necessário produzir sempre mais e mais e mais? Não. Não precisamos de continuar presos à armadilha do crescimento económico se o objectivo for erradicar a pobreza, reduzir as desigualdades, criar emprego, financiar os serviços públicos, melhorar a qualidade de vida ou mitigar as alterações climáticas.
“Shifting Gears” avança para a segunda temporada, na ABC
Dia 23: Nobody Wants This T2 (Netflix)
Dia 26: Talamasca: The Secret Order (AMC)
Dia 27: It: Welcome to Derry (HBO Max)
Dia 29: Star Wars: Visions T3 (Disney+), Hazbin Hotel T2 (Prime Video) e Down Cemetery Road (Apple TV+)
Dia 30: Amsterdam Empire (Netflix)
Dia 31: Respira T2 (Netflix) e Tremembé (Prime Video)
LIVROS
Web Summit Lisboa: Inovadores Reunidos
A edição de 2025 acontecerá de 10 a 13 de Novembro. Com a inteligência artificial no centro das atenções, esperam-se debates acesos sobre ética em tecnologia e regulação, entre outros temas
Está a chegar mais uma Web Summit, uma das maiores conferências de tecnologia e inovação do mundo, reunindo empresas tecnológicas, startups, investidores, decisores políticos, media e organizações sociais. Foi fundada em 2009 por Paddy Cosgrave, David Kelly e Daire Hickey, originalmente em Dublin, Irlanda. Em 2016, mudou-se para Lisboa, onde se realiza anualmente desde então.
A edição de 2025 acontecerá de 10 a 13 de Novembro, quatro dias de conferência, com mais de 20 temas fortes, incluindo “fintech”, comércio, inteligência
artificial (IA) e SaaS (software como serviço). Os participantes incluem milhares de startups, expositores, investidores e empresas globais. Diversas marcas globais de tecnologia e inovação estarão presentes, como a Meta, Samsung, Visa, Adobe, entre outras, parceiras e patrocinadoras do evento.
Além de promover encontros, visibilidade e investimento, a conferência serve como plataforma de lançamento de ideias, formação avançada e concursos de startups. Esperam-se ainda debates auspiciosos sobre temas globais: ética em tecnologia, regulação, sustentabilidade e impacto social. A Web Summit é
AFINAL, QUAL É A HISTÓRIA DESTE EVENTO?
Quatro curiosidades sobre a Web Summit desde que se mudou para Portugal:
• Em 2016, na primeira edição em Lisboa, participaram 53 056 pessoas de mais de 150 países. Houve, nessa edição, mais de 1500 startups expositoras.
• A edição de 2022, a sair da pandemia de covid-19, atraiu mais de 70 000 participantes de cerca de 160 países.
• O evento organiza mais de 20 linhas
de conteúdo — com temas que vão de IA, fintech, “startup journey”, ética, sustentabilidade e também exposições paralelas, “masterclasses” e sessões de mentoria.
• A Web Summit firmou com o Estado português um contrato/parceria de longo prazo para que Lisboa mantenha o evento anual até pelo menos 2028.
um caso para estudo noutro aspecto: representa um forte motor económico para Lisboa. Hotelaria, restauração, transportes, turismo, infra-estruturas, visibilidade internacional, tudo mexe, num claro exemplo que como eventos desta natureza atraem receita. Também contribui para afirmar Portugal como hub de inovação tecnológico europeu e porta de entrada para mercados globais.
Ligações com África
Uma parte significativa da estratégia e do conteúdo da Web Summit remete para África. A participação de startups africanas e empresários do continente vai ser visível em sessões dedicadas ao sucesso pan-africano, iniciativas de investimento específico no continente, e “masterclasses” para startups que operam no continente. Por exemplo, em 2024 houve uma sessão chamada “Building a $16M fund and accelerating Pan-African success”, hospedada pela Ferna Technologies. Parcerias com organizações focadas em África — como a Tech Connect Africa, que colabora com a Web Summit Lisboa — têm reforçado o elo com o ecossistema tecnológico africano.
Haverá ainda diálogos sobre tecnologia, diáspora, cultura e liderança, com sessões que cruzam a inovação tecnológica com temas africanos: o papel da diáspora, liderança, cultura, e como essas dimensões ajudam ao desenvolvimento sustentável do continente.
Mais de 70 000 participantes
A Web Summit é uma plataforma global onde se definem tendências e, para a edição deste ano, prevê-se que a fasquia permaneça ao nível de edições anteriores: mais de 70 000 pessoas, numerosas empresas de grande porte, além de startups à procura de um lugar ao sol na cada vez mais concorrida paisagem tecnológica. O elo com África — através de startups, diáspora, investimentos, parcerias institucionais — demonstra que o continente já ocupa um lugar de destaque no pensamento tecnológico global, e a Web Summit contribui para tornar visíveis os empreendedores, os mercados e as soluções africanas.