E&M_Edição 86_Julho 2025 • FMI em Moçambique - Nova ordem Económica?
BRUNO DIAS
“MAIS DO QUE RECURSOS, MOÇAMBIQUE
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
GOVERNO E PRIVADOS RETOMAM APOSTA NOS BIOCOMBUSTÍVEIS. SERÁ DESTA QUE A IDEIA AVANÇA?
(IN)SEGURANÇA ALIMENTAR
ESTUDO DO BANCO MUNDIAL REVELA COMO AS FRAGILIDADES NA LOGÍSTICA PREJUDICAM ÁFRICA
MOÇAMBIQUE DIGITAL | VODACOM
KAYANET QUER REVOLUCIONAR OFERTA DE SERVIÇOS DE INTERNET DE BANDA LARGA
FMI EM MOÇAMBIQUE
NOVA ORDEM ECONÓMICA?
Num país encurralado entre crises internas e dependência externa, o FMI volta ao centro da equação económica. Olamide Harrison, o novo rosto da instituição, promete diálogo e inclusão. Mas será desta que o Fundo muda com o País ou só adapta o discurso?
24 O regresso do FMI. Na nova fase de cooperação, Olamide Harrison, representante do FMI em Moçambique, defende reformas inclusivas e diálogo constante para impulsionar o desenvolvimento
30 FMI na voz dos críticos. Porque é que alguns analistas entendem que a instituição promove desigualdades e dependência, em vez de ser um verdadeiro agente de crescimento?
36 FMI em África. Entre reformas bem-sucedidas e austeridade sem alívio, a presença do Fundo Monetário Internacional continua a dividir o continente entre estabilidade e desigualdade agravada
14 20 ESG
Transição energética. Moçambique reforça a aposta nos biocombustíveis com novo quadro legal, testes em campo, parcerias público-privadas e incentivos à produção descentralizada
CONTEÚDO LOCAL
Do papel à prática. Após uma longa espera, será que Moçambique aprova a Lei do Conteúdo Local este ano? Inspirando-se na Tanzânia, o desafio maior será a sua aplicação prática
42 RADAR ÁFRICA
Perspectivas económicas. Moçambique deverá crescer 2,7% em 2025 e 3,5% em 2026, impulsionado pela retoma do sector extractivo, prevê o BAD, que alerta para riscos fiscais e agitação social
MERCADO & FINANÇAS
Conectividade em África. A logística deficitária em Moçambique e em África agrava a perda de alimentos e eleva os custos, tornando-os inacessíveis. É um factor de agravamento da insegurança alimentar
SHAPERS
Rosa Luxemburgo. Uma reflexão sobre a luta operária, que continua tão actual, onde a precarização, as desigualdades e a exclusão laboral desafiam um modelo económico mais justo e inclusivo 50
CEO TALKS
Bruno Dias. Novo Office Managing Partner da EY reconhece o potencial económico de Moçambique, mas defende a criação de mais infra-estrutura, confiança institucional e aposta na digitalização
OPINIÃO
12 Yara Soto, Global Markets Analyst, Banco BIG Moçambique
52 João Gomes, João Gomes @ BlueBiz Consultoria
POWERED BY
16 Standard Bank
22 Absa
34 CTJ
48 FNB
54 BCI
62 Hollard Seguros
65 MOCAMBIQUE DIGITAL
66 “KayaNet”. Vodacom lança serviço de internet fixa por fibra óptica para impulsionar a inclusão digital com conectividade rápida, fiável e acessível
70 Hackfest 2025. Equipa moçambicana vence o concurso em Londres com uma solução que promete inovar no atendimento ao cliente
SECÇÕES
3 Sumário
4 Editorial
6 Observação
8 Radar
10 Números em Conta
40 Radar África
72 Panorama
75
ÓCIO
76 Escape Conheça os melhores destinos para nómadas digitais em África 78 Ao Volante do Mercedes AMG 100% eléctrico, com potência brutal, luxo e em estreia histórica 79 Adega Vinhos intensos e encorpados para aquecer os dias de Inverno 80 Moçambicanos na diáspora Vinho luso com alma moçambicana: sonhos engarrafados por Elias Macovela
82 Fecho de contas Japão reforça parceria com África na 9.ª TICAD, com foco na energia, inovação e investimento privado
Celso Chambisso Editor Executivo da Economia & Mercado
Estabilidade a Qualquer Custo?
Numa das suas primeiras entrevistas enquanto representante-residente do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Moçambique, Olamide Harrison soa sereno e bem-intencionado. Fala em reformas prudentes, contenção das despesas, melhor gestão das finanças públicas e reconquista da confiança dos mercados. Mas a serenidade técnica não disfarça a turbulência social que muitas destas medidas podem gerar.
Desde o retorno do FMI ao País, em 2022, no âmbito de um nova Linha de Crédito Alargada, o Governo passou a seguir uma rota de reformas económicas apertadas: corte de subsídios, controlo rígido da massa salarial, revisão de incentivos fiscais e maior exigência na mobilização interna de receitas. Medidas que, no papel, parecem soluções óbvias para um país com crónicos défices orçamentais e vulnerável a choques externos. No entanto, a realidade é mais complexa.
A entrevista de Olamide Harrison, ao reconhecer a importância da “contenção de despesas”, deve ser lida à luz desse dilema. O que se corta, e para quê? Quem paga o preço do reequilíbrio fiscal? Se a resposta continuar a ser o cidadão comum, Moçambique poderá até melhorar os seus indicadores macroeconómicos, mas à custa de um agravamento da desigualdade, da instabilidade social e do descrédito político.
É certo que Moçambique precisa de disciplina orçamental. Mas também precisa de um Estado que funcione para as pessoas
É certo que Moçambique precisa de disciplina orçamental. Mas também precisa de crescimento com equidade. Precisa de um Estado que funcione – mas que funcione para as pessoas. A crítica mais recorrente ao FMI em África é esta: o Fundo exige ajustamentos rápidos e profundos, mas sem oferecer o tempo, a flexibilidade e o apoio social necessários para que esses ajustamentos não se transformem em sofrimento colectivo.
Ao longo de quatro décadas de presença em Moçambique, o FMI foi um actor central nas reformas de liberalização, privatizações e programas de ajustamento estrutural.
Mas os críticos, como Joseph Hanlon e várias organizações da sociedade civil, questionam a eficácia desses programas, apontando para o agravamento da pobreza, fragilidade fiscal crónica e fracos resultados sociais.
Paradoxalmente, noutros contextos africanos, como Ruanda ou Gana, a intervenção do FMI coincidiu com trajectórias de crescimento mais robusto, o que sugere que o êxito depende tanto do modelo proposto, quanto da capacidade dos países de o adaptar às suas realidades.
É fundamental que o debate sobre o papel do FMI no País não se limite à dicotomia entre ajuda e dependência. O que está em jogo é o modelo de desenvolvimento que Moçambique quer (e pode) seguir. Um modelo que não pode abdicar do rigor, mas também não pode abdicar da justiça social.
A escalada da guerra entre Irão e Israel reacende temores de um alastramento regional no Médio Oriente, onde já persistem conflitos como a guerra na Síria, o cerco a Gaza e a crise no Iémen. Para países pobres, como Moçambique, os efeitos são indirectos, mas severos: subida nos custos da energia e alimentos, pressão sobre moedas frágeis e adiamento de investimentos.
Além disso, o foco internacional nas zonas de guerra tende a reduzir a atenção aos desafios estruturais africanos, como a pobreza, a insegurança alimen-
tar e os efeitos das mudanças climáticas, tornando guerras distantes em ameaças silenciosas para o continente. O efeito já se sentiu depois de a Rússia invadir a Ucrânia e os recentes cortes na ajuda externa norte-americana (país que era o maior doador em muitas geografias) só tornaram o cenário mais débil.
África está em alerta e recebe mais um sinal de que não pode continuar a desperdiçar cada oportunidade que tiver para se afirmar, com autonomia, com os seus próprios recursos.
Transparência financeira Moçambique cria autoridade para reforçar combate ao branqueamento de capitais
O Governo aprovou a criação da Autoridade de Supervisão de Seguros e de Fundos de Pensões de Moçambique (ASFPM), numa medida crucial para a saída do País da “lista cinzenta” do Grupo de Acção Financeira Internacional (GAFI).
A proposta, que será submetida à Assembleia da República, prevê a extinção do actual Instituto de Supervisão de Seguros e visa reforçar o controlo sobre o sector segurador e de pensões, alinhando-o com os padrões internacionais e respondendo a recomendações do GAFI.
Segundo o Executivo, esta decisão também integra o Pacote de Aceleração Económica (PAE) e procura melhorar a imagem de Moçambique no exterior, restaurando a confiança dos investidores.
O coordenador nacional para a saída do País da “lista cinzenta”, Luís Cezerilo, assegura que todos os indicadores técnicos já foram cumpridos e que faltam apenas procedimentos protocolares, sendo que a decisão final deverá ser anunciada em Setembro, em Maputo.
Moçambique foi incluído na “lista cinzenta” em Outubro de 2022 devido a falhas no combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.
Um dos últimos pontos críticos envolvia a supervisão de organizações não-governamentais com grandes movimentações financeiras, especialmente em zonas sensíveis como Cabo Delgado.
Serviços Financeiros Em Moçambique, reduz-se o número de caixas ATM e aumenta a quantidade de soluções digitais
O número de caixas automáticas (ATM) em Moçambique voltou a cair no primeiro trimestre de 2025, passando de 7,4 para 7,2 por cada 100 mil adultos, uma redução de 2,7%, segundo o Banco de Moçambique. Em termos absolutos, o total de ATM baixou de 1413 para 1395, acentuando a tendência registada nos últimos cinco anos, desde a cobertura de 11 máquinas por 100 mil adultos em 2019. Também os terminais de pagamento (POS) registaram uma quebra, com o rácio por 100 mil adultos a cair de 190 para 181,5. O Banco de Moçambique associa esta retracção ao crescimento dos pagamentos digitais via telemóvel,
Extractivas
cada vez mais usados nas zonas urbanas. As ATM e POS são instrumentos do sistema financeiro do País, que inclui 15 bancos comerciais, 12 micro-bancos, cooperativas de crédito e grupos rotativos de poupança e empréstimo.
Projecto de terras raras em Tete atrai investidores internacionais
A empresa britânica Altona Rare Earths, cotada na Bolsa de Londres, assinou um acordo de confidencialidade com um grupo internacional da indústria de metais críticos para um possível investimento no projecto Monte Muambe, na província de Tete, Centro de Moçambique.
Energia
Está em vista a exploração de terras raras e gálio, elementos-chave para a transição energética e tecnologias avançadas. O estudo está em fase de revisão técnica, com amostras já submetidas a avaliação independente pelo potencial parceiro. Além das terras raras, a Altona está a avaliar a exploração de fluorite na mesma região, o que também despertou o interesse de operadores europeus. A empresa está próxima de assinar um segundo acordo, visando colaborações na extracção e financiamento. O contexto geopolítico global, marcado por incerteza e “guerras” tarifárias, tem impulsionado o valor estratégico de Monte Muambe, colocando Moçambique no mapa global das matérias-primas críticas.
BAD financia linha para escoar energia eólica com 43,6 milhões USD
O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), através do fundo concessional, aprovou um financiamento de 43,6 milhões de dólares para a construção de uma nova linha de transmissão eléctrica, em Moçambique, essencial para escoar a energia da futura central eólica de Namaacha, com capacidade prevista de 120 megawatts (MW). A linha, de 43 quilómetros, poderá transmitir até 332 gigawatts-hora por ano, beneficiando milhares de famílias e empresas em Moçambique e nos países vizinhos. O projecto contará com apoio do Governo moçambicano e será implementado
pela empresa pública Electricidade de Moçambique (EDM), em parceria com a Central Eléctrica da Namaacha (CEN). Além de promover o acesso a energia limpa e acessível, o projecto deverá eliminar mais de 71 mil toneladas de CO₂ por ano, contribuindo para os compromissos climáticos de Moçambique. A iniciativa fortalece também a integração regional no Southern African Power Pool (SAPP), estando alinhada com a estratégia “Iluminar e Electrificar África” e com a Missão 300 do BAD, que visam alargar o acesso à electricidade no continente até 2030.
450 ‘Bis’ é o Preço da Quebra Provocada Pelas Tarifas de Trump
No dia 12 de Maio de 2025, a administração Trump anunciou uma nova vaga de tarifas sobre grande parte do mundo, e o impacto no comércio global poderá ser massivo nos anos vindouros. Este gráfico, criado em parceria com a Fundação Hinrich, mostra o valor, em dólares, da destruição comercial prevista em cada país (ou bloco comercial, no caso da União Europeia). Utiliza dados do modelo TINA (Trade Intelligence and Negotiation Adviser) das Nações Unidas.
Desde que tomou posse, no final de Janeiro, Trump tem dado prioridade à perturbação do comércio global para apoiar
Quebra de 450,1 mil milhões de dólares no Comércio Mundial devido às Tarifas dos EUA
Destruição Comercial por Economia
A destruição comercial é definida como a quantidade de comércio perdida em resultado das tarifas.
As Tarifas Trump 2.0 Estima-se que as tarifas da era Trump 2.0 reduzam o PIB real dos EUA em 0,8%, na próxima década, segundo a Tax Foundation (taxfoundation.org).
as indústrias domésticas nos Estados Unidos. Embora os detalhes das tarifas mudem frequentemente, a mensagem é clara: a globalização está sob ameaça.
Até agora, a maioria dos países enfrenta uma tarifa adicional de 10%. Os EUA decidiram atingir parceiros comerciais chave — como a China, o Canadá e o México — e sectores como os lacticínios e a madeira, com penalizações ainda mais severas.
Para medir o impacto de longo prazo das tarifas, as Nações Unidas estimaram a destruição comercial — também conhecida em termos econométricos como “cria-
Desagregação por país/região (valores em mil milhões USD):
ção negativa de comércio” — por economia nacional. As estimativas baseiam-se nas alterações esperadas na procura de importações, tendo em conta as taxas tarifárias, os volumes iniciais de importação e as elasticidades da oferta e da procura.
A perda total de comércio prevista ascende a uns impressionantes 450 mil milhões de dólares. Os maiores impactos são esperados na China (-156,6 mil milhões), na União Europeia (-92,6 mil milhões) e no Japão (-27,7 mil milhões). O Canadá e o México, alvos de um conjunto anterior de tarifas, foram excluídos deste conjunto de dados das Nações Unidas.
As Nações Unidas calcularam os efeitos das tarifas anunciadas por Trump, a 12 de Maio, utilizando o novo simulador TINA (Trade Intelligence and Negotiation Adviser). Que economias estão a preparar-se para os maiores impactos?
,1mil milhõ es d e d ó l a r se
Ásia Europa América Outros
Yara Soto • Global Markets Analyst
Banco
BIG Moçambique
Câmbios em Perspectiva: Mercados Livres vs. Moedas Atreladas ao Dólar
Num contexto de crescente globalização, a forma como um país gere o seu regime cambial influencia directamente a sua competitividade externa, os níveis de inflação, a atractividade do investimento e a confiança dos agentes económicos.
Dois modelos opostos coexistem no panorama internacional: o regime de câmbio flutuante, no qual o valor da moeda é determinado pelas forças do mercado, e o regime de câmbio fixo ou atrelado a uma moeda de referência, como o dólar norte-americano, que procura manter uma paridade estável, gerida pelas autoridades monetárias. Ambos apresentam vantagens e vulnerabilidades, sendo a escolha determinada por prioridades económicas, por características estruturais e pelo grau de maturidade institucional de cada país.
Nos regimes de câmbio flutuante, como é, por exemplo, o caso do Reino Unido, a taxa de câmbio é definida pelas dinâmicas da oferta e da procura no mercado internacional. Esta abordagem permite uma maior capacidade de absorção de choques externos, funcionando como uma válvula de escape que evita pressões directas sobre as contas públicas. O Reino Unido adoptou formalmente este regime na década de 1970, após o colapso do sistema de Bretton Woods.
crescimento e do emprego sem a necessidade de manter uma taxa de câmbio pré-estabelecida.
Esta autonomia revelou-se fundamental em episódios recentes como a crise financeira de 2008, o período pós-referendo do Brexit e a resposta à pandemia de covid-19. Contudo, o regime flutuante está sujeito a maior volatilidade. A significativa desvalorização da libra após o referendo de 2016 ilustra como factores políticos e de confiança podem afectar abruptamente o valor da moeda, com repercussões nos preços, no comércio e no investimento.
Em contrapartida, os regimes de câmbio atrelado ao dólar procuram garantir previsibilidade e estabilidade monetária. Nestes casos, o valor da moeda local é fixado ou mantido dentro de uma banda em relação ao dólar, geralmente através de intervenções do banco central.
Um exemplo consolidado é o de Hong Kong, onde, desde 1983, a taxa de câmbio se mantém rigidamente ancorada ao dólar dos Estados Unidos, com base num regime de currency board, sustentado por elevadas reservas internacionais. Este sistema facilita o comércio externo, aumenta a confiança dos investidores e serve como âncora nominal no combate à inflação, sobretudo em economias com históricos de instabilidade.
Embora o mercado cambial seja relativamente liberalizado, em Moçambique, o banco central continua a intervir de forma activa, sobretudo em contextos de choques externos ou pressões inflacionárias.
Um episódio paradigmático foi a “Quarta-feira Negra” , em 1992, quando o país foi forçado a abandonar o Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio (ERM), devido à pressão dos mercados e à incapacidade de manter a paridade da libra esterlina com o marco alemão. Desde então, a moeda passou a flutuar livremente, conferindo maior autonomia à política monetária nacional.
Uma das principais vantagens deste modelo reside na independência da política monetária. O Banco de Inglaterra pode definir as taxas de juro em função da conjuntura económica interna, nomeadamente os níveis de inflação, do
Todavia, esta estabilidade implica perda de soberania monetária. Países que adoptam este regime ficam condicionados à política monetária da Reserva Federal dos EUA, mesmo que as suas necessidades internas sejam divergentes. Além disso, ficam mais expostos a choques externos e a ataques especulativos. A experiência da Argentina na década de 1990 é ilustrativa: ao adoptar a convertibilidade do peso em relação ao dólar na proporção de 1:1, o país conseguiu controlar a inflação, mas perdeu capacidade de ajustamento às crises subsequentes. A rigidez do sistema contribuiu para o colapso económico de 2001, com graves consequências sociais.
O regime de flutuação administrada oferece uma combinação equilibrada entre flexibilidade e controlo
Moçambique, por sua vez, adopta um regime de câmbio flutuante administrado, no qual a taxa de câmbio do metical é determinada pelas forças do mercado, mas sujeita a intervenções pontuais do Banco de Moçambique. Estas intervenções visam mitigar flutuações excessivas, conter pressões especulativas e preservar a estabilidade macroeconómica. Este regime, introduzido no contexto das reformas económicas dos anos de 1990, permite alguma flexibilidade cambial, ajustando-se às vulnerabilidades externas da economia moçambicana.
Embora o mercado cambial seja relativamente liberalizado, em Moçambique, o banco central continua a intervir de forma activa, sobretudo em contextos de choques externos ou pressões inflacionárias. A eficácia deste regime depende da manutenção de reservas in-
ternacionais suficientes, essenciais para sustentar a credibilidade das intervenções. Dada a elevada exposição externa da economia moçambicana com forte dependência de exportações de recursos naturais e de importações, o regime de flutuação administrada oferece uma combinação equilibrada entre flexibilidade e controlo, adequada às especificidades estruturais do País.
Estes exemplos evidenciam que a escolha entre câmbio flutuante e fixo não deve ser encarada como uma decisão exclusivamente técnica, mas como parte integrante de uma estratégia económica abrangente. Factores como a dimensão da economia, o grau de abertura comercial, a robustez das instituições e a disciplina fiscal desempenham um papel determinante na eficácia do regime adoptado. Países com economias mais desenvolvidas e merca-
dos financeiros profundos, como o Reino Unido, tendem a beneficiar da flexibilidade de um regime flutuante. Por outro lado, economias mais vulneráveis ou com antecedentes de instabilidade monetária, como Moçambique, poderão optar por regimes fixos para reforçar a credibilidade e atrair capitais, desde que consigam manter reservas adequadas e políticas orçamentais prudentes.
Mais relevante do que o tipo de regime cambial é a coerência e a credibilidade da política económica no seu conjunto. Um regime fixo não substitui a necessidade de boa governação fiscal, tal como um regime flutuante não garante estabilidade sem uma gestão monetária competente. A confiança na moeda, seja ela flutuante ou indexada, depende da qualidade das instituições e da consistência das decisões de política económica.
Governo e Privados: Novo Impulso Para os Biocombustíveis
Alguns projectos já estão a testar produção em campo - com jatrofa, coco e mandioca. A transição energética trará a oportunidade para projectos de etanol e biodiesel em Moçambique?
Texto Nário Sixpene • Fotografia D.R.
Aprodução de etanol (que se mistura com gasolina) e biodiesel (junta com gasóleo) tem sido apontada, a nível mundial, como uma necessidade urgente para concretizar a transição para fontes de energia mais limpas e sustentáveis. Países como o Brasil e os Estados Unidos continuam a liderar a produção global de etanol, utilizando sobretudo cana-de-açúcar e milho, respectivamente. Na Europa, há um crescente interesse na utilização de resíduos agrícolas e oleaginosas como fontes de biodiesel, especialmente em resposta às metas do Acordo de Paris para travar o aquecimento global, e face aos compromissos com a neutralidade carbónica, até meados do século. Em Moçambique, país que está entre os que maiores riscos en-
frentam por causa das alterações climáticas, a tendência também parece consolidar-se com o advento de novas iniciativas e a intenção do Governo em regulamentar o sector. A nação tem potencial nesta área uma vez que dispõe de matérias-primas viáveis para a produção de biodiesel e etanol. A vantagem competitiva do País reside na disponibilidade de terras aráveis, condições atmosféricas favoráveis e mão-de-obra rural abundante.
Solução local para um problema global
Durante um encontro ocorrido em Maio, entre o Instituto Nacional de Normalização e Qualidade (INNOOQ), o Ministério dos Recursos Minerais e Energia e entidades privadas, Boris Atanassov, director da Greenlight — uma das empresas activas no sector das energias renováveis no
O QUE SÃO AS MISTURAS OBRIGATÓRIAS?
As misturas obrigatórias de biodiesel (ou bioetanol) em combustíveis fósseis referem-se, a nível mundial, à quantidade mínima de biocombustíveis definida por lei em cada país, que deve ser incorporada nos combustíveis tradicionais, como o gasóleo (diesel) e a gasolina, antes de serem comercializados.
Esta substituição parcial de combustíveis fósseis por biocombustíveis é identificada nos postos de abastecimento:
• Um gasóleo B3 contém 3% de biodiesel e 97% de gasóleo de origem fóssil e é geralmente regulamentado pelos países nas fases iniciais de introdução de biocombustíveis. À
Vários produtos naturais podem gerar biocombustível nas vastas terras aráveis de Moçambique
medida que o processo avança, a percentagem tende a aumentar.
• Uma gasolina E10 contém 10% de bioetanol e 90% de gasolina tradicional.
Estas misturas são uma medida de política energética e ambiental com vários objectivos:
• Reduzir as emissões de gases com efeito de estufa;
• Diminuir a dependência de combustíveis fósseis importados;
• Promover o uso de fontes renováveis;
• Estimular o sector agrícola e de resíduos, ao aproveitar óleos vegetais, gorduras usadas ou cereais não alimentares.
País — detalhou o envolvimento da organização no desenvolvimento de projectos de biocombustíveis. A empresa actua em várias frentes: desde a concepção e pesquisa até à realização de estudos financeiros e de viabilidade técnica.
A Greenlight participa ainda na implementação directa de projectos de produção de biodiesel e prepara-se para avançar com a produção de bioetanol numa escala nacional.
“Os biocombustíveis representam uma solução local para um problema global. Podem ser utilizados em viaturas, aviões, embarcações e até em cozinhas domésticas, substituindo o carvão e a lenha, que são prejudiciais à saúde e ao ambiente”, explicou Atanassov.
De acordo com o responsável, o bioetanol moçambicano pode ser produzido a partir de cana-de-açúcar, mandioca —
AS “BIO” PERCENTAGENS DE MOÇAMBIQUE
Ao implementar as misturas obrigatórias, o Governo espera alcançar uma redução significativa nas importações de combustíveis. A poupança anual pode chegar a cerca de 50 mil metros cúbicos de gasolina e 45 mil metros cúbicos de gasóleo por ano. Eis as misturas previstas na lei.
etanol 3% biodiesel FONTE Governo de Moçambique
esta última com grande potencial em várias províncias — e outras culturas. Já o biodiesel pode ser obtido a partir de coco, jatrofa e outras oleaginosas.
“Estamos a trabalhar em três horizontes temporais: no curto prazo, focamo-nos nos regulamentos e estudos, em parceria com o Gabinete de Promoção da Aceleração Económica (PAE); no médio prazo, vamos construir fábricas e introduzir culturas agrícolas; e no longo prazo, vamos implementar misturas obrigatórias, previstas na legislação nacional”, afirmou o director da Greenlight.
Investimento e parcerias são fundamentais
Segundo o responsável, os investimentos variam consoante a escala: microprojectos podem custar menos de 1 milhão de dólares (64 milhões de meticais), enquanto projectos industriais podem ultrapassar os 20 milhões de dólares (1,28 mil milhões de meticais).
“A Greenlight faz parte de um consórcio de empresas que irá liderar tanto a produção agrícola, como a instalação de unidades de processamento. No entanto, sozinhos não iremos longe. São necessárias parcerias públicas e privadas para o sucesso sustentável destes projectos”, acrescentou Atanassov.
deia de valor. A produção descentralizada e local de biocombustíveis poderá impulsionar o desenvolvimento rural e reduzir a pressão sobre o meio ambiente. Muhai explicou que o País pretende aproveitar subprodutos já existentes — como o melaço, caldo espesso e escuro, resultante do processamento da cana-de-açúcar — e culturas adaptadas a diferentes zonas agro-ecológicas. O Governo, em articulação com empresas privadas, está a realizar estudos em regiões como Inhambane e Zambézia, onde se avalia a viabilidade da produção de óleo de coco e jatrofa.
Lições do passado e nova abordagem
Os primeiros projectos moçambicanos de biocombustíveis remontam a 2008, quando os preços do petróleo atingiram máximos históricos, com o barril a rondar os 150 dólares (9600 meticais à taxa actual). Contudo, muitos destes projectos não se concretizaram por falta de experiência e maturidade institucional.
“Foi a primeira vez que o País embarcou numa aventura desta natureza. Agora, estamos mais preparados. A indústria está alinhada, a legislação foi ajustada e os actores estão motivados”, disse José Muhai.
“Os biocombustíveis representam uma solução local para um problema global. Podem ser utilizados em viaturas, aviões, embarcações e até em cozinhas domésticas”
Governo actualiza legislação e reestrutura indústria
José Muhai, director nacional adjunto de Hidrocarbonetos e Combustíveis, no Ministério dos Recursos Minerais e Energia, informou que o Governo actualizou a legislação e a estratégia de biocombustíveis em 2023, adaptando-as aos mais recentes padrões, com enfoque na segurança energética.
“Pretendemos começar com as misturas obrigatórias: 10% de etanol na gasolina e 3% de biodiesel com o gasóleo. Esta medida permitirá uma redução significativa nas importações — cerca de 50 mil metros cúbicos de gasolina e 45 mil metros cúbicos de gasóleo por ano”, afirmou.
A medida visa ainda a valorização da produção agrícola, permitindo aos pequenos agricultores integrarem-se na ca-
Diversos projectos estão em fase de estudo de viabilidade. Alguns já estão a testar a produção em campo, nomeadamente com jatrofa, coco e mandioca. Em vez de haver uma aposta exclusiva numa só cultura, privilegia-se a adaptação ao potencial de cada região, tendo em conta factores agronómicos, sociais e económicos.
Espera-se que a expansão dos biocombustíveis tenha um impacto positivo a vários níveis. Além de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, os projectos fomentam o empreendedorismo rural, criam empregos e promovem a transição para fontes de energia mais limpas. A utilização doméstica do bioetanol, por exemplo, pode reduzir a dependência da lenha e do carvão, combatendo o desmatamento e melhorando a saúde pública.
Das MPME Nacionais
Oacesso ao financiamento para Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) continua a ser um dos temas fundamentais do desenvolvimento económico de Moçambique. Em 2024, o crédito à economia nacional registou um crescimento de 3,5%, atingindo um valor recorde de 286,4 mil milhões de meticais (cerca de 4,1 mil milhões de dólares), de acordo com dados do Banco de Moçambique, um aumento favorecido, em parte, por sucessivas reduções da taxa de juro de referência (prime rate) que, já neste ano, prosseguiu a sua trajectória descendente para 17,40% em Junho de 2025, criando um ambiente mais favorável ao crédito para empresas e particulares. E isto porque o financiamento constitui um dos principais motores de crescimento e sustentabilidade das MPME e a obtenção de crédito permite às empresas investir em tecnologia, capital humano e expansão das suas operações — factores determinantes para o aumento da produtividade, criação de emprego e reforço do tecido económico nacional. Mas apesar dos avanços, persistem desafios estruturais num contexto, como se sabe, desafiador, com exigências de garantias, taxas de juro ainda relativamente elevadas e procedimentos administrativos complexos para muitas das organizações, especialmente as de menor dimensão.
Mas nem tudo são barreiras ao potencial de crescimento das MPME, (98% do tecido empresarial nacional), que representam uma fatia significativa da criação de emprego e detêm um po-
Como o Standard Bank Aposta em Alternativas de Financiamento Para Transformar o Panorama
Num contexto marcado por taxas de juro relativamente elevadas e restrições de liquidez, o Standard Bank Moçambique reafirma a sua aposta no desenvolvimento das MPME, através da criação de alternativas de financiamento e programas de capacitação adaptados à realidade nacional
Texto e Fotografia • M4D
tencial transformador da estrutura produtiva. Existe, portanto, um problema antigo bem identificado, mas há soluções no mercado para permitir o acesso aos recursos necessários que podem servir de alavanca para este salto na actividade de milhares de empresas de todo o País. E é neste contexto que, em entrevista à E&M, Márcia Karim, directora da Banca Comercial e de Negócios do Standard Bank Moçambique, partilha as soluções do banco para facilitar o acesso ao crédito, apoiar a formalização dos pequenos negócios e contribuir para um crescimento económico mais inclusivo e sustentável.
Como caracteriza, actualmente, o acesso ao crédito bancário em Moçambique para as PME?
De um modo geral, em Moçambique, o acesso ao crédito para PME está associa-
“O Banco está a reintegrar o desconto de facturas, o que permite às empresas antecipar receitas e reforçar, assim, a sua liquidez sem recorrer ao crédito tradicional, respondendo eficientemente aos seus desafios de tesouraria”
do ao nível de organização das mesmas, sobretudo para aquelas que operam informalmente ou sem contabilidade organizada. A elegibilidade continua dependente da apresentação de demonstrações financeiras fiáveis e garantias, mas o Standard Bank é flexível com clientes que apresentam uma boa conduta e que fazem parte de um ecossistema robusto.
Face às actuais taxas de juro e restrições de liquidez, o que está o Standard Bank a fazer para tornar o financiamento mais acessível?
O Standard Bank tem recorrido a instrumentos, como linhas de financiamento com cobertura de risco e estruturação de operações em moeda local, para amortecer o impacto das actuais taxas de juro e restrições de liquidez nos clientes. Temos bons exemplos disso, que incluem a utilização de facilidades de trade finance com prazos médios mais alargados e spreads mais competitivos, e a renegociação de prazos para clientes com boa performance de crédito. Além disso, há um esforço de segmentação para garantir que os sectores produtivos tenham acesso a soluções adaptadas às necessidades de tesouraria e investimento.
Que soluções ou produtos financeiros alternativos ao crédito convencional têm sido desenvolvidos pelo banco?
O Banco tem vindo a desenvolver soluções específicas para PME como, por exemplo, o crédito flexível, que permitia acesso a financiamento de curto prazo até 1,5 milhão de meticais, com análise simplificada para clientes
MÁRCIA KARIM
Directora da Banca
Comercial e de Negócios do Standard Bank Moçambique
com bom histórico. Esta solução foi implementada durante os últimos sete anos. Neste momento, o Banco está a reintegrar o desconto de facturas, permitindo às empresas antecipar valores a receber, reforçando, assim, a sua liquidez sem recorrer a crédito tradicional, e respondendo de forma mais eficiente a desafios de tesouraria no curto prazo. E desenvolvemos e subscrevemos linhas de financiamento específicas para o apoio às PME. Em 2021, o Standard Bank disponibilizou 18 milhões de meticais para apoiar PME impactadas pela covid-19 (através da iniciativa “Acelere o seu negócio”) e recentemente subscreveu a linha de recuperação económica no âmbito da recente instabilidade no País, como forma de garantir a robustez financeira das PME para mitigar os efeitos das perdas causadas. Temos também explorado soluções, não necessariamente financeiras, mas que ajudam a alavancar estes negócios introduzindo mercados alternativos para importação e exportação através de plataformas como a Africa China Trade Solutions.
Pode partilhar quais os programas que têm implementado para apoiar as PME?
No âmbito do seu compromisso com o desenvolvimento económico inclusivo, o Banco tem promovido diversas iniciativas voltadas para a inclusão de empresários informais e pequenos negócios.
Um dos principais instrumentos dessa actuação é a Incubadora de Negócios do Standard Bank, fundada em Agosto de 2017. A Incubadora de Negócios tem promovido vários programas para fortalecer as PME, entre eles, programas de Ideação, Incubação e Aceleração, com o apoio de parceiros estratégicos, focando-se na inovação e desenvolvimento de negócios. Dentre estes, o programa Lionesses of Africa que promove o empreendedorismo feminino através de capacitação e networking.Igualmente, destacam-se as masterclasses para PME, com temas de capacitação financeira (para não financeiros).Ademais, temos promovido Briefings Económicos para dotar as empresas e os seus representantes de insights sobre o ambien-
te económico nacional e internacional. Como parte da nossa estratégia de apoio aos clientes através dos ecossistemas, criámos o espaço de networking para garantir oportunidades mútuas.
De que forma o Banco tem trabalhado com parceiros multilaterais ou instrumentos como o Compacto Lusófono, Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento ou os fundos da IFC para alavancar o financiamento privado?
O Banco tem estado a analisar parcerias viáveis que se ajustem à realidade do nosso mercado e respondam aos desafios de acesso ao financiamento a custos mais baixos. É o caso da linha African Guarantee Fund (AGF) que está em análise, não só a nível local mas também em alguns países do Grupo nos quais operamos com o mesmo propósito Em paralelo, estamos a explorar a possibilidade de recorrer à linha de financiamento disponibilizada pelo BdM, em parceria com a KfW, que visa apoiar o sector do agro-negócio, com
“O Standard Bank Moçambique tem um compromisso firme com o fortalecimento do ecossistema empresarial nacional, promovendo um modelo de financiamento sustentável e inclusivo”
o propósito de responder aos desafios actualmente enfrentados neste sector. O Banco considera, de resto, as agências de desenvolvimento e cooperação como impulsionadores da criação de oportunidades de financiamento privado e, mais concretamente, da possibilidade de partilha de riscos em estruturas específicas e direccionadas.As sinergias têm sido alvo de discussão para identificar projectos de impacto social e económico em áreas estratégicas de desenvolvimento. Temos acompanhado de perto os projectos das entidades mencionadas, agindo também como parceiro directo, conselheiros e partilhando experiências, de modo a elucidar ainda mais para os riscos de mercado, de negócio e até acerca de capacidade financeira, que são os maiores desafios das PME, tomando em consideração a participação em concursos e crescimento sustentável das mesmas. Temos também desenvolvido workshops direccionados para as PME, para ajudarmos a criar uma cultura de reporte exaustivo (educação financeira) que lhes permitirá aceder aos fundos dos parceiros multilaterais.
Que sectores estratégicos consideram prioritários?
O Banco tem como prioridade sectores com forte impacto multiplicador, nomeadamente a agricultura comercial, com destaque para agro-indústrias e cadeias de valor locais; a indústria de energia, particularmente energias renováveis descentralizadas; a logística e infra-estruturas, incluindo projectos que facilitem o escoamento de produção nacional, com impacto directo na criação de postos de trabalho e na geração de divisas para o País e respectiva balança de pagamentos.
Qual é a visão do Banco sobre o futuro do financiamento no País?
O Standard Bank demonstra um compromisso firme com o fortalecimento do ecossistema empresarial nacional, promovendo um modelo de financiamento mais sustentável, inclusivo e orientado para o desenvolvimento de longo prazo.
Através da sua visão estratégica, o Banco procura posicionar-se como um agente catalisador do crescimento económico, apoiando tanto grandes empresas como pequenas e mé-
O Banco tem promovido briefings económicos, por forma a dotar as empresas de informação relevante
dias iniciativas, incluindo startups preparadas em incubadoras próprias.
A nossa instituição tem vindo a alinhar-se com os princípios ESG (Ambiental, Social e de Governança), priorizando o financiamento de projectos que promovam a inclusão financeira, o empreendedorismo, a infra-estrutura, a educação, a saúde e a mitigação das alterações climáticas
Para fomentar um ambiente económico mais dinâmico e inclusivo, o Standard Bank tem colaborado activamente na promoção de reformas estruturais que visam melhorar o acesso ao financiamento e fortalecer o tecido empresarial.
Entre as prioridades estão a melhoria do ambiente regulatório, assegurando maior previsibilidade e transparência para atrair investimento privado; o fortalecimento das instituições financeiras locais, com aposta na digitalização e na inclusão bancária em zonas rurais; e a criação de incentivos fiscais e linhas de crédito específicas para PME e startups inovadoras.
O Banco defende ainda o estímulo a parcerias público-privadas para acelerar a implementação de infra-estruturas críticas, e destaca o papel da educação financeira e da capacitação empresarial, com especial enfoque em jovens e mulheres empreendedoras-
Através destas medidas, o Standard Bank acredita ser possível construir um sistema financeiro mais resiliente, acessível e alinhado com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável de Moçambique.
Governo Quer Avançar e Seguir Exemplo da Tanzânia
Será desta? Após anos de discussão, mas sem decisões, o Governo diz agora que pretende submeter a lei do Conteúdo Local à Assembleia da República ainda este ano. O sucesso dependerá menos do seu texto final e mais da sua aplicação
Texto Nário Sixpene • Fotografia D.R
Odebate sobre a necessidade de uma lei de conteúdo local no País tem-se intensificado nos últimos danos, impulsionado pela esperança de crescimento dos megaprojectos de gás, petróleo e mineração. Em relação aos que já existem, há uma percepção generalizada de que os benefícios não estão a ser suficientemente partilhados com as empresas nacionais.
A criação de uma legislação específica é considerada essencial para garantir que as firmas moçambicanas — sobretudo as pequenas e médias empresas (PME) — sejam escolhidas como fornecedoras nas cadeias de valor dos grandes projectos. Entre os principais benefícios esperados estão a criação de empregos locais, o aumento da capacidade produtiva nacional, a transferência de tecnologia e a redução da dependência externa, promovendo uma economia mais diversificada e inclusiva.
Na 1.ª Conferência de Conteúdo Local e Aquisições (“procurement”), em Maputo, no final de Maio, o secretário permanente do Ministério dos Recursos Minerais e Energia, António Manda, informou que o Governo já tem quase pronta uma proposta de Lei do Conteúdo Local. Será desta? Há propostas a circular entre gabinetes há, pelo menos, seis anos – além do período de debate que as antecedeu.
“Quem tem riqueza no subsolo não pode ser pobre. A nova governação quer uma lei de conteúdo local que funcione, com impacto e que crie oportunidades reais para os moçambicanos”, afirmou António Manda, sublinhando que está também prevista a criação de uma
agência que terá como missão fiscalizar e garantir a implementação futura lei.
Debate público e modelo inclusivo Segundo Manda, antes de ser submetida ao Parlamento, a proposta de lei será partilhada com a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) e a Câmara de Minas, entre outras organizações, com o objectivo de incorporar contribuições diversas. Está ainda prevista uma conferência aberta a toda a sociedade, para conferir legitimidade e transparência ao processo legislativo.
“Muitas das nossas leis foram redigidas com forte influência de consultores estrangeiros, que nem sempre tinham os interesses nacionais em mente. Precisamos de seguir o exemplo da Tanzânia, que reformou, com sucesso, a legislação de minas, com enfoque local”, defendeu António Manda.
Legislação actual é insuficiente
Os representantes do Instituto Nacional de Minas (INAMI) e do Instituto Nacional do Petróleo (INP) reconheceram que, apesar de haver directrizes políticas sobre conteúdo local, a ausência de instrumentos legais vinculativos tem dificultado a inclusão de empresas moçambicanas nos grandes projectos. “Há princípios na Lei dos Petróleos, de 2014, que apontam para parcerias entre empresas estrangeiras e nacionais. No entanto, faltam mecanismos que assegurem a sua execução, especialmente face à fraca capacitação das nossas PME”, apontou Reinaldo Almeida, do INP.
A solução, segundo Almeida, passa pela formação técnica contínua, pela implementação de quotas obrigatórias de contratação nacional e pela criação
“Muitas das nossas leis foram redigidas com forte influência de consultores estrangeiros, que nem sempre tinham os interesses nacionais em mente. Precisamos de seguir o exemplo da Tanzânia”, António Manda, MIREME
de contratos mais previsíveis e transparentes no sector extractivo.
PME continuam a ser marginalizadas
Um dos momentos mais marcantes do evento foi a intervenção de Inocêncio Paulino, presidente da mesa da assembleia-geral da Associação das Pequenas e Médias Empresas de Moçambique (APME), que criticou duramente a forma como o tema do conteúdo local tem sido conduzido. “Conteúdo local deve ser sinónimo de conteúdo nacional. O que vemos é a exclusão sistemática das nossas empresas nos megaprojectos. Muitas delas perdem oportunidades por falta de informação, formação ou porque simplesmente, não conseguem competir com empresas estrangeiras registadas localmente, mas que não são genuinamente moçambicanas”, afirmou.
Paulino fez um apelo para que contratos de menor complexidade técnica, como jardinagem, transporte ou monta-
Algumas tarefas requerem especialização, mas as empresas locais dizem-se prontas para outras operações que já estão no terreno
gem de estaleiros, sejam reservados para empresas nacionais, sem exigências desproporcionais que inviabilizem a sua participação.
Especialistas alertam para exclusão estrutural
Durante os painéis técnicos da conferência, alguns especialistas foram unânimes em considerar que a exclusão das PME nacionais dos grandes contratos públicos e privados constitui um obstáculo estrutural ao desenvolvimento do País. “Os concursos são desenhados para excluir. Os critérios não são claros, e muitos processos são decididos à porta fechada”, denunciou Vicente Sitoe, da consultora SDO Moçambique, apelando a reformas sérias no sistema de aquisições (“procurement”).
Vicente Sitoe sublinhou também que o conceito de conteúdo local não se estar limitado ao sector do petróleo e gás, devendo ser estendido à banca, transportes, telecomunicações, aviação e outros sectores estratégicos.
Falta planeamento industrial de longo prazo
O economista Bruno Chicalia, com mais de duas décadas de experiência em grandes projectos como o empreendimento da Vale (que explorou carvão, em Tete), considerou que o País ainda não desenvolveu uma visão industrial clara de longo prazo. Segundo o responsável, continuam a ser criadas empresas para responder a contratos pontuais, sem uma estratégia que vise a industrialização do País. “Continuamos a criar empresas para prestar serviços pontuais, mas não temos uma visão clara sobre onde queremos chegar em 20 ou 30 anos. Não se desenvolve capacidade industrial real em Moçambique”, disse.
Outro aspecto central do evento foi a transformação digital das PME, considerada essencial para a sua inclusão nas cadeias de valor. Almunir Abdulmalique, especialista em tecnologias aplicadas à indústria, alertou para a falta de Internet, literacia digital e certificações em muitas empresas, impedindo-as de aceder a oportunidades nos grandes projectos.
“Precisamos de garantir conectividade em zonas como Topuito”, exemplo de um local remoto onde o sinal de Internet deve estar acessível. “E temos de preparar as empresas, hoje, com certificações ISO, para que amanhã estejam aptas a concorrer”, explicou.
Almunir defendeu também a criação de legislação sobre certificação digital, que reconheça legalmente ferramentas de assinaturas informáticas, facilitando o reconhecimento de contratos, por exemplo.
Um novo começo?
Uma nova proposta de lei do conteúdo local poderá representar um ponto de viragem na política de desenvolvimento económico do País? Como alertaram diversos intervenientes, o sucesso da legislação dependerá menos do seu texto final e mais da sua aplicação. “Falar bonito, já não chega. As comunidades querem resultados. E esses resultados só surgirão se houver vontade política, fiscalização rigorosa e capacitação real das nossas empresas”, concluiu Vicente Sitoe.
Com a promessa de debate público, articulação intersectorial e foco no desenvolvimento local, o Governo parece determinado a corrigir um dos principais desequilíbrios estruturais da economia moçambicana. Resta, agora, saber se a Assembleia da República transformará esta proposta ambiciosa em legislação — e, mais importante, se essa lei sairá do papel.
Iuri Khan • Chief Compliance Officer, Absa Bank Moçambique
Num mercado financeiro onde a confiança é o activo mais valioso, a integridade deixou de ser um valor abstracto para se tornar num diferencial competitivo. A ética, transparência e prestação de contas são os fios condutores para o sucesso de qualquer organização. Estes valores configuram os princípios basilares para a consolidação e reafirmação das empresas num mercado cada vez mais competitivo, no qual, a cada segundo, nascem novos actores. Só uma cultura de transparência, fundada na clareza de processos, permite um crescimento robusto e sustentável.
Ao adoptar estes princípios, as instituições fortalecem a sua reputação, conquistam a confiança dos stakeholders e contribuem para um ambiente de negócios mais justo e transparente, rumo ao desenvolvimento económico e comunitário. Enquanto a regulação estabelece as obrigações mínimas, a integridade orienta comportamentos e decisões. Instituições com cultura ética consolidada registam, em média, 30% menos casos de fraude interna e beneficiam de 25% de maior fidelização de clientes. Esses indicadores demonstram que valores corporativos fortes se traduzem em ganhos operacionais e reputacionais.
Nesta linha orientadora está o Absa Bank Moçambique que, desde a sua génese, estabeleceu uma conduta ética exemplar que coloca o Banco entre as instituições mais respeitadas no sistema financeiro nacional e não só.
Com uma vasta experiência no sector bancário, Iuri Khan, Director de Compliance do Absa Bank Moçambique, define os princípios éticos como a chave para guiar a acção humana e construir bases necessárias para inculcar valores morais e moldar o comportamento das pessoas na esfera social e profissional. Por isso, sublinha Iuri, o Absa guia-se por estes valores para gerar mudanças posi-
Para Além da Regulação: Integridade Como Diferencial Competitivo Nos Bancos?
tivas na instituição. “O sucesso do Absa Bank é, naturalmente, fundado no facto de fazermos o negócio com ética, transparência e sempre com os olhos postos na prestação de contas. Aliás, somos defensores acérrimos da ideia de que todas as instituições devem fazer da transparência uma regra, a qual não se deve dissociar da forma de fazer negócio.”
“A ética fortalece e consolida as empresas, é a razão central e o garante da existência de qualquer grupo empresarial. Hoje, figuramos entre as cinco instituições financeiras com importância sistémica na banca nacional, realidade suportada pela forma diligente e criteriosa como fazemos o negócio. Somos um parceiro estratégico na matriz empresarial nacional, com contributo assinalável para o crescimento da economia do País. O nosso contributo é espelhado em cada Colaborador, bem como na criação de condições para os grupos que precisam de protecção social assistida”, destaca Iuri Khan sobre a importância da integração da ética, transparência e prestação de contas na matriz do negócio bancário.
Além de defender o respeito escrupuloso pelas leis vigentes na banca no País, o Absa Bank estabeleceu nos seus esta-
“A ausência de ética na comunicação pode gerar consequências graves: perda de confiança, boicotes, danos reputacionais. Por isso, investir numa comunicação ética é investir na sustentabilidade do negócio.”
tutos o sentido de rigor e respeito pelas normas instituídas, onde pontificam a honestidade, a integridade e a transparência. Para o Banco, estes princípios não são levados à mesa de negociações, pois norteiam a sua actuação em toda a cadeia. “Somos um grupo aberto, onde as nossas acções são sempre sujeitas ao escrutínio interno e/ou externo. Escolhemos adoptar este modelo de gestão porque nos guiamos pelos altos padrões de excelência e clareza na nossa forma de actuação. A prestação frequente de informação ao público, aos accionistas e aos stakeholders é uma regra primária”, diz o Director de Compliance, sobre o modelo de trabalho adoptado pelo Absa Bank no mercado.
Relativamente à política de prestação de contas, o Absa Bank Moçambique entende que uma empresa que não abraça este princípio está longe de alcançar a eficiência e de se tornar um actor relevante no mercado. A prestação de contas e o tratamento justo, independentemente do nível que cada Colaborador ocupa na organização, é indispensável e demonstra que a empresa está comprometida com a transparência e a responsabilidade, construindo confiança e credibilidade para a marca, Clientes e economia.
Iuri sublinha ainda que a comunicação, tanto interna quanto externa, deve ser sempre guiada por princípios éticos. “A ausência de ética na comunicação pode gerar consequências graves: perda de confiança, boicotes, danos reputacionais. Por isso, investir numa comunicação ética é investir na sustentabilidade do negócio.”
No actual contexto bancário, integridade não é apenas uma exigência regulatória – é uma escolha estratégica. E quem a adopta com consistência posiciona-se não só como cumpridor da lei, mas como líder de confiança, credibilidade e crescimento competitivo no mercado.
Vem aí Uma Nova Arquitectura
Económica?
Com o País a enfrentar os efeitos combinados da instabilidade pós-eleitoral, pressões fiscais internas e constrangimentos de financiamento externos, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prepara-se para redefinir a sua estratégia de apoio a Moçambique. O novo representante residente, Olamide Harrison, apresenta uma abordagem centrada no crescimento inclusivo, no equilíbrio fiscal e no reforço da resiliência económica, através de um diálogo contínuo com o Governo e soluções adaptadas à realidade nacional
Moçambique atravessa um momento crítico no seu percurso económico.
A conjuntura pós-eleitoral de 2024 trouxe uma instabilidade social e política que agravou incertezas internas e travou parte do ímpeto necessário ao crescimento. A pressão sobre as finanças públicas, exacerbada pelos efeitos da reforma salarial de 2022 e pela redução do espaço de manobra externa, exige, agora, uma reorientação estratégica que garanta estabilidade macroeconómica, sem negligenciar as urgências sociais e o imperativo de inclusão. É neste cenário que o novo representante residente do FMI em Moçambique, Olamide Harrison, inicia a sua missão, com uma visão que procura associar o realismo técnico a uma preocupação com o bem-estar das populações. O economista defende uma nova fase de relacionamento com o País, marcada pelo diálogo permanente com as autoridades, uma abordagem fiscal equilibrada e medidas estruturais para diversificar a economia. A renegociação de um novo programa de apoio financeiro, com arranque formal de discussões previsto para Agosto, poderá definir os contornos da presença do FMI num Moçambique em busca de estabilidade, credibilidade e crescimento sustentável.
Na prática, começou a actividade em Moçambique em Setembro de
2024, e logo depois verificaram-se as manifestações pós-eleitorais.
O que lhe ocorreu na altura?
Foi uma altura muito difícil para Moçambique, por isso, estou muito ansioso por contribuir, fornecer conselhos e ser útil na consolidação da prosperidade. Este é um país maravilhoso, com muitas oportunidades. Temos todos de envidar esforços para atingir metas de desenvolvimento que permitam aos cidadãos moçambicanos dispor de melhores padrões de vida. Isso é o mais importante.
Qual foi a sua primeira impressão de Moçambique e qual é a percepção actual?
Já conhecia Moçambique desde 2018 –na altura, de férias, na praia da Barra, em Inhambane. Talvez devesse começar por um grande agradecimento ao povo moçambicano pela calorosa recepção. As pessoas são muito acolhedoras e eu sinto-me em casa. Por isso, a primeira impressão foi a de um acolhimento muito próximo. Também achei, logo desde o início, que o potencial e as oportunidades económicas são bastante óbvias. Infelizmente, por várias razões, ainda não tive o privilégio de visitar todo o País, que é enorme, mas gostaria de conhecer outras províncias, e estou já a tentar programar essas visitas. Em suma, as duas coisas que me marcaram à chegada a Moçambique foram a beleza da cultura moçambicana, marcada pela simpatia, e as oportunidades.
Raramente acontece uma interrupção num programa de apoio financeiro, como aconteceu com o último ECF (Linha de Crédito Alargada) em Moçambique, avaliada em 450 milhões de dólares. O que falhou? Só para dar o contexto, o antigo programa (ECF) foi aprovado pelo Conselho Executivo do FMI em Maio de 2022. Era um programa de três anos, que expirava em Maio de 2025. Como já se sabe, conseguimos chegar à quarta avaliação ligada a desembolsos de parcelas do valor programado. Com a transição para o novo Governo, o plano era avançarmos com a quinta e sexta avaliações, este ano. Em Fevereiro, realizámos uma missão a Moçambique, com a equipa de Washington, que trouxe discussões produtivas. Continuámos, nas semanas seguintes, à procura de um acordo sobre medidas que poderiam ter sustentado a quinta e sexta avaliações, mas juntamente com o governo, chegámos à conclusão de que, em vez de continuarmos com este programa, seria melhor começarmos a negociar uma nova proposta. A vantagem desta abordagem é conseguirmos um programa melhor alinhado às prioridades de política e aos desafios do novo Governo.
Mas a negociação ainda não começou...
Ainda não começou, mas prevemos que uma equipa do FMI visite o País, em
Agosto, para começarmos as discussões. Os detalhes ainda não foram definidos: montante, natureza do ajustamento e composição do novo programa. Estamos a falar todos os dias com as nossas contrapartes no Ministério das Finanças, no Ministério da Planificação e Desenvolvimento e no Banco Central para definir os detalhes. Estamos empenhados e esperamos que qualquer arranjo que alcancemos sirva para ajudar a situação económica de Moçambique. O objectivo deste programa é assegurar a estabilidade macroeconómica e galvanizar o crescimento económico inclusivo.
Prevêem-se mudanças relativamente ao programa de 2022 ou não, tomando em consideração que alguns desafios do País, como a dívida pública, estão diferentes?
Creio que a mensagem-chave e que foi repetida no nosso relatório do “Artigo 4.º”, no ano passado, é que o desafio principal de Moçambique, no curto prazo, é colocar a posição fiscal numa trajectória mais forte e reduzir as vulnerabilidades de dívida. Do nosso ponto de vista, uma abordagem equilibrada, tanto do lado das despesas, como das receitas, seria a ideal. O ritmo de ajustamento e todos esses detalhes serão discutidos nos próximos meses. Como é que podemos fazer isto, ao mesmo tempo que protegemos as classes mais vulneráveis? Propomos despesas voltadas para os grupos com maiores necessidades de desenvolvimento social. Mas é preciso criar espaço fiscal para fazer face a estes desafios, o que também ajudaria a assegurar a estabilidade macroeconómica. Achamos que medidas correctivas e atempadas são necessárias, e continuaremos a discutir os detalhes com as autoridades.
Grande parte das receitas do Estado serve para pagar salários. Como é que o Estado pode aumentar a receita e a eficiência na cobrança de impostos e, ao mesmo tempo, maximizar a sua actuação, sem pôr em causa o bem-estar social?
Uma das vantagens do FMI reside no facto de trazer um ponto de vista internacional. Parte do trabalho que fazemos serve para tentar comparar a situação, não só ao longo do tempo, dentro de um país, mas também com outros países. Voltando ao tema da arrecadação de receitas e das despesas, por exemplo, nós entendemos que há necessidade de reduzir isenções fiscais, porque represen-
“O desafio principal de Moçambique, no curto prazo, é colocar a posição fiscal numa trajectória mais forte e reduzir as vulnerabilidades da dívida”
tam custos elevados, são receitas perdidas e não têm contribuído para o desenvolvimento industrial como se podia esperar. Além disso, são difíceis de administrar, o que pode favorecer oportunidades de fraude. Quando comparamos Moçambique com países homólogos, notamos que as receitas em percentagem do PIB estão num nível confortável, isto é, são maiores do que noutros países. Mas quando olhamos para as despesas, nomeadamente para a massa salarial, vemos que estão comparativamente acima. Entendemos que isso pode reflectir uma escolha social. O nível, em comparação com outros países, não é o detalhe mais relevante. O importante é que depois da reforma da Tabela Salarial Única (TSU), em 2022, houve aumentos significativos na massa salarial, quando comparamos com o volume de receitas e o tamanho da economia. Olhando, então, ao longo do tempo, e comparando com outros países, para mim fica claro que a pressão fiscal vem das despesas.
OLAMIDE HARRISON
Representante Residente do FMI em Moçambique
Haverá condições, quer internas, quer externas, para mudar esta situação a partir deste ano ou será necessário mais tempo para ser corrigida?
Sim, há espaço para aumentar as receitas, aumentar a eficiência da administração tributária, fechar lacunas, aumentar a conformidade, entre outros aspectos. A pressão da despesa fez com que surgisse mais pressão em termos de financiamento, já que a subida da massa salarial coincidiu com uma série de constrangimentos externos, depois da covid-19, com subida da inflação e das taxas de juros mundiais. E já com uma grande necessidade de financiar o Orçamento do Estado, o País voltou-se para o sector financeiro doméstico, que tem maior custo directo e indirecto, já que afecta também o preço do financiamento para o sector privado. Quanto ao apoio financeiro do FMI há vários passos por dar e ainda temos processos internos para completar. Vamos iniciar as discussões em Agosto, e pode ser que pre-
OLAMIDE HARRISON
É nigeriano, inscreveu-se e ingressou no FMI em 2015, como economista. Começou como economista fiscal na Guiné-Bissau, onde decidiu aprender português. Depois, foi trabalhar para o Departamento Europeu, tendo passado por vários países: Finlândia, República Checa, Croácia, Dinamarca, entre outros. Mais tarde, foi trabalhar para o Departamento de Mercados Monetários e de Capitais, lidando com questões relacionadas com quadros de política monetária, ajudando na assistência técnica a países da África Austral. Foi ao executar esta função que acabou por ser seleccionado como representanteresidente do FMI para Moçambique, cargo que começou a exercer em Setembro de 2024. Mas, logo a seguir, vieram as manifestações pós-eleitorais, numa altura que coincidiu com o seu retorno aos EUA, onde permaneceu alguns meses, a aguardar pelo nascimento da sua filha.
cisemos de mais tempo e mais missões para continuarmos com as discussões até chegarmos a um entendimento.
Mas como funciona a interacção entre o FMI e o Governo? É o Governo que apresenta uma primeira ideia de intervenção ou é o FMI? E o que vem a seguir? Normalmente, o diálogo nunca pára. Já temos uma noção dos desejos dos governos, e estes já têm uma noção das nossas orientações. Logo, é uma conversa contínua. Temos encontros virtuais frequentes, nos quais discutimos temas diversos. Depois da troca contínua de ideias, chega uma equipa do FMI, de Washington, com um pacote de medidas baseadas nos dados disponíveis sobre o Orçamento do Estado e outros indicadores. Por exemplo, no caso de Moçambique, não ficamos alheios ao Plano Quinquenal do Governo e à Estratégia Nacional de Desenvolvimento (ENDE). Este é o processo normal de execução dos programas. Servimos como uma espécie de Global Credit Union (União de Crédito Global), para onde os países-membros podem recorrer quando precisarem de ajuda para reduzir os desequilíbrios macroeconómicos. Os países membros têm acesso a um financiamento no montante correspondente às suas quotas de participação. No caso deste pedido do Governo de Moçambique, o volume de recursos faz parte das negociações que ainda vamos ter. Geralmente, o volume de apoios depende dos esforços de reforma, das necessidades do ajustamento e vice-versa, assim como depende do apoio de outros parceiros e da situação económica, que, mais uma vez, depende de outros apoios... é uma situação muito complexa.
Há também outros apoios que sem a assistência do FMI não aparecem...
É verdade... mais do que a assistência financeira que o FMI fornece aos paises, também joga um papel catalítico para mobilizar financiamento adicional porque muitos parceiros olham para os programas do FMI como um forte sinal de que o país recipiente está a implementar reformas económicas e ajustamentos de política credíveis para assegurar a estabilidade macroeconomica. Isso acaba aumentando a confiânca dos parceiros, outras instituições financeiras internacionais, e investidores do sector privado. É por isso que uma parte importante das tarefas do Fundo é colaborar com outras agências financeiras internacionais, como o Banco Mundial, o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) e doadores bilaterais, para contribuir para o desenvol-
vimento do País.
A prosperidade de Moçambique é, muitas vezes, associada à exploração de gás. Mas estes projectos já mostraram que podem demorar. Que lugar é que o gás ocupa nas prioridades e estratégia do FMI?
Nós incluímos, na nossa baseline [cenário-base], a exploração e produção, e actualizamos as nossas previsões à medida que os projectos avançam, com base na informação que recebemos. Para já, prevemos a produção de gás, mais ou menos, a partir de 2029, dependendo do projecto. Nas nossas previsões, andamos com a expectativa de começo da produção de gás e isso influencia a nossa avaliação de crescimento a médio prazo, que é muito importante para vários indicadores, incluindo, por exemplo, a avaliação da qualidade da dívida. Não temos, na nossa baseline, qualquer informação que indique a possibilidade de não avançarmos com os projectos de gás. Mas é importante reter que nós incluímos sempre, nas nossas recomendações, a necessidade de criar condições para um crescimento inclusivo, e parte deste esforço deve servir para diversificar a economia. É muito importante avançar com reformas que estimulem a actividade do sector privado em vários sectores.
Diversificar a economia de que forma e em que sectores?
É muito difícil para qualquer país eleger os sectores prioritários para a diversificação da economia, porque estamos a viver uma época de grandes mudanças em termos da natureza da produção. Mas a indústria é um sector consensual. Do nosso ponto de vista, seria importante criar uma combinação de reformas para dinamizar o mercado de capitais, desde que o sector privado escolha os sectores elegíveis. Creio que seria uma abordagem razoável, desde que acompanhada de políticas ágeis para responder aos diversos tipos de choques internos e externos.
Trata-se então de uma mudança de paradigma, de ajuda para cooperação económica?
Exactamente. Procuramos desenvolvimento sustentável e isso exige envolvimento do sector privado. O comércio e o investimento são motores fundamentais do crescimento económico. A orientação do Governo moçambicano para um modelo liderado pelo sector privado está em sintonia com esta visão.
Mas existe uma preocupação relacionada com a melhoria do ambiente de negócios, porque, tal
DÍVIDA PÚBLICA CONTINUA ELEVADA
Esta é outra das grandes preocupações que o FMI tem em carteira: um cenário que quer ajudar o Estado moçambicano a reverter, nos próximos tempos.
do Stock Total da Dívida do Governo Central (em milhões USD)
como está, por vezes ainda afasta investidores. Esta questão está entre as vossas preocupações?
Sim. o Governo publicou aquele relatório de diagnóstico da governação, de 2019, que servia para identificar oportunida-
des para melhorias. Houve grandes progressos nalgumas áreas: a lei de propriedade pública, o decreto de beneficiários efectivos e outros instrumentos, que aumentam a transparência. Isso é bom, para reduzir riscos fiscais e para ajudar a es-
Evolução
O FMI actualiza regularmente as suas projecções para refletir os desenvolvimentos na exploração de gás na bacia do Rovuma, assegurando que estas se mantenham realistas
tabelecer o Estado de Direito e os tribunais, para a melhoria dos processos que garantem a independência das instituições. Todos estes avanços são importantes e não têm custos. Acho que, numa altura de grandes desafios e em que o financiamento é limitado, é muito bom avançarmos com reformas institucionais e de governação que não têm custos económicos.
Por vezes associa-se o FMI a fenómenos negativos, em Moçambique e fora, principalmente por defender austeridade. É também acusado de defender políticas que dificultam o desenvolvimento, perpetuando a dependência. Como comenta?
“Temos todos de envidar esforços para atingir metas de desenvolvimento que permitam aos cidadãos moçambicanos dispor de melhores padrões de vida”
OS NÚMEROS DO DESEQUILÍBRIO FISCAL
Em 2024, tal como em toda a história do País, as despesas continuaram muito além das receitas.
Em milhares de milhões de meticais | % do PIB
Despesa do Estado
ELEVADAS DESPESAS COM O PESSOAL
O FMI defende a reorientação de recursos para despesas de investimento capazes de contribuir para o desenvolvimento económico
Em % da despesa total
Despesas de Funcionamento 68,5
Normalmente, um país não se aproxima do Fundo para financiamento sem que tenha alguma preocupação, por causa das condicionalidades incluídas nos nossos programas. Para mim, isso já é uma resposta à pergunta. Outra coisa importante é o exemplo de Portugal. Nós notámos, ao longo dos anos, que os programas mais bem-sucedidos são aqueles em que os governos assumem a liderança do processo de ajustamento macroeconómico e o FMI só entra porque o seu financiamento ajuda a alavancar outras fontes de apoio. Temos visto vários países no mundo a regressarem ao FMI para pedir apoio. Por isso, acreditamos que o mais importante é que os Estados tomem medidas corajosas e adequadas para chegar ao ajustamento das suas economias. E o Fundo está aqui apenas para ajudar.
FMI em Moçambique: Ajuda ou Dependência?
Presente em Moçambique desde a década de 1980, o FMI tem sido peça central nas reformas do País, da liberalização aos programas de estabilização. Hoje, volta a influenciar o rumo das finanças públicas, mas permanece a dúvida: o FMI apoia o crescimento ou impõe sacrifícios sem resultados visíveis?
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
Ao analisar o histórico das quatro décadas de cooperação entre Moçambique e o Fundo Monetário Internacional (FMI), vale a pena revisitar uma frase do novo representante-residente da instituição, Olamide Harrison, na entrevista a esta edição: “Um país não vem ao Fundo pedir financiamento sem ter alguma preocupação.” Estas palavras poderiam sentenciar a discussão sobre se Moçambique ganha ou perde com o apoio desta organização. Mas a história mais emblemática da alegada desvantagem em acolher o FMI é a suposta “sabotagem” à promissora indústria do caju, na década de 1980. Vamos por partes.
Como estaríamos se o apoio resultasse em pleno?
Se Moçambique alcançasse plenamente os objectivos delineados nos programas apoiados pelo FMI, poderíamos imaginar o seguinte cenário: o País experimentaria uma reconfiguração profunda da sua paisagem económica, social e produtiva, que se traduziria num ciclo de crescimento sustentável, estabilidade macroeconómica robusta e ganhos reais no bem-estar da população. Este contexto pressupõe o cumprimento rigoroso dos objectivos tradicionalmente promovidos pelo FMI e que orientam as metas negociadas com cada Governo: controlo da inflação, equilíbrio fiscal, aumento da receita interna, eficiência da despesa pública, gestão prudente da dívida, reformas estruturais e melhoria do ambiente de negócios.
Numa economia disciplinada pelos princípios da estabilidade macroeconómica, a inflação manter-se-ia dentro de um intervalo baixo, ancorando as expectativas dos investidores e consumidores, e promovendo um clima de previsibilidade económica. As contas públicas re-
flectiriam equilíbrio entre receitas e despesas, permitindo que o Estado deixasse de depender de doadores para financiar serviços essenciais. Com uma gestão rigorosa, o serviço da dívida deixaria de absorver uma fatia tão significativa do Orçamento do Estado, libertando recursos para investimento em sectores sociais e económicos prioritários.
Na agricultura, a nova ordem económica permitiria investimentos consistentes em infra-estruturas rurais, acesso ao crédito e tecnologias modernas, criando um sector mais produtivo e resiliente às mudanças climáticas, com cadeias de valor mais fortes. O agro-negócio floresceria, tornando-se num verdadeiro motor de emprego e desenvolvimento rural.
A indústria transformadora, historicamente marginal, conheceria um impulso decisivo com políticas que favorecessem a competitividade, a capacitação técnica e a integração local de fornecimentos. O País deixaria de ser apenas exportador de matérias-primas e começaria a produzir bens de maior valor acrescentado, reduzindo a dependência de importações.
Na indústria extractiva, a aplicação de uma política fiscal eficiente e transparente garantiria que os recursos do gás e dos minerais servissem de alavanca para o desenvolvimento sustentável. As receitas geradas seriam geridas com visão de longo prazo, alimentando o Fundo Soberano, infra-estruturas e capital humano. O turismo, impulsionado por um ambiente mais seguro e acolhedor, por me-
lhores ligações e por uma imagem internacional positiva, converter-se-ia numa fonte significativa de divisas e emprego. Nos sectores sociais, o efeito combinado de um orçamento mais robusto e eficiente resultaria em melhorias significativas na saúde e na educação.
A taxa de pobreza, sob este cenário de crescimento inclusivo, registaria uma trajectória descendente acentuada. Imaginando um cenário como este, o FMI parece um parceiro para reforçar a luta pela estabilidade, através de empréstimos financeiros e de pacotes de apoio às políticas de estabilização macroeconómica.
A contradição entre a intenção e a realidade
Várias vozes discordam da “boa vontade” do FMI. É que, apesar de a parceria durar há 41 anos, não foi capaz de influenciar grandes avanços, pelo que os níveis de pobreza continuam elevados e vários sectores da economia continuam subaproveitados. Para os vários críticos, o FMI funciona mais como fiscal do equilíbrio macroeconómico do que como agente de transformação real. As reformas exigidas priorizam contas públicas, mas negligenciam o impacto social e a dinamização produtiva do País.
Reformas ou enraizamento da desigualdade?
No seu artigo “Como o FMI Criou os Oligarcas Moçambicanos que Causaram a Guerra e a Maldição dos Recursos de Ca-
“Embora estas metas do FMI visem restaurar a estabilidade macroeconómica e credibilidade internacional, a sua execução poderá intensificar o fardo fiscal sobre a população”, CIP
Estudiosos afirmam que o FMI foi incapaz de apoiar a redução da pobreza ao longo dos anos
bo Delgado”, publicado no livro “Desafios para Moçambique: 2023–2024” pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o jornalista britânico Joseph Hanlon refere que “a presença do FMI em Moçambique é um dos factores estruturais centrais que moldaram negativamente a trajectória económica e social do País.” Hanlon, estudioso da história económica, social e política da nação, argumenta que o Fundo promoveu reformas neoliberais agressivas e incentivou um modelo de acumulação de riqueza que favoreceu elites políticas, resultando na formação de uma classe de oligarcas ligada ao partido no poder. Aponta como exemplo as privatizações em massa de empresas públicas, promovidas sob orientação do FMI e do Banco Mundial, entregues a uma minoria bem relacionada, criando uma eco-
nomia política baseada em clientelismo. O papel do FMI, segundo Hanlon, não foi apenas económico, mas político, ao legitimar este processo em nome da estabilidade macroeconómica. As reformas favorecidas pelo Fundo criaram um ambiente em que os recursos do Estado foram transferidos para mãos privadas, de forma não transparente, sem garantir um mercado competitivo ou uma economia inclusiva.
A liberalização promovida pelo FMI, aliada à retirada do Estado de sectores-chave da economia, aprofundou as desigualdades regionais e sociais, sobretudo nas zonas mais marginalizadas como Cabo Delgado. Enquanto Maputo florescia com novos ricos, o Norte permanecia numa condição de abandono e exclusão, criando um ambiente propício para revoltas sociais e um conflito armado co-
mo o que assola a província há quase oito anos. Esta disparidade territorial e socioeconómica é apontada por Hanlon como um dos principais factores que explicam a vulnerabilidade das comunidades locais às investidas de recrutamento por grupos armados.
Terreno fértil para a maldição dos recursos
O autor estabelece uma ligação directa entre a chamada “maldição dos recursos” em Cabo Delgado e o modelo económico defendido pelas instituições financeiras internacionais. Hanlon acusa o FMI de pressionar o País para manter uma estrutura fiscal favorável aos grandes investidores internacionais, sobretudo nas indústrias extractivas, deixando poucos benefícios tangíveis para as comunidades locais. As isenções
QUATRO DÉCADAS DE COOPERAÇÃO: CRISES E REFORMAS
Desde 1984, o caminho de Moçambique com o FMI tem sido marcado por reformas estruturais profundas, recomeços e rupturas. A história desta relação espelha os altos e baixos da economia nacional e os desafios da governação
Adesão ao FMI
Moçambique adere ao FMI a 24 de Setembro de 1984, em plena crise económica e guerra civil. O País busca apoio externo para superar o colapso do modelo socialista centralizado, adoptado no pós-independência.
Início do Programa de Ajustamento
Estrutural (PAE)
Inicia-se o Programa de Reabilitação Económica (PRE) com apoio do FMI e Banco Mundial. Começam as reformas de liberalização económica, como a desvalorização da moeda e redução dos subsídios.
Boom dos recursos naturais
Com políticas de contenção fiscal, Moçambique mantém a estabilidade e atrai interesse com a descoberta de gás natural. O FMI mantém vigilância técnica, mesmo sem apoio financeiro contínuo.
Consolidação das reformas e apoio financeiro
Moçambique recebe apoio através de programas focados na estabilização macroeconómica. Avançam as reformas fiscais e as primeiras grandes privatizações. O País é apontado como “casomodelo” do FMI.
Crise das dívidas ocultas e ruptura
A revelação de dívidas ocultas superiores a 2 mil milhões de dólares leva à suspensão de apoios a Moçambique. Instala-se uma crise de confiança e instabilidade macroeconómica, afastando o FMI e parceiros.
Monitorização técnica e recuperação lenta
O FMI permanece envolvido apenas tecnicamente, orientando políticas de austeridade e reformas fiscais. Moçambique implementa leis para uma maior transparência, controlo da dívida e recuperação da confiança internacional. Beneficia de apoios após os ciclones Idai e Keneth (2019) e também para fazer face à covid-19 (2020).
Alívio da dívida e crescimento sustentado Moçambique qualifica-se para a iniciativa HIPC (sigla em inglês para “Países Pobres Altamente Endividados”) e garante um alívio significativo da dívida externa. O Mecanismo de Redução da Pobreza e Crescimento (PRGF) apoia o crescimento inclusivo.
Alinhamento com a reforma fiscal Moçambique procura equilibrar estabilidade, atracção de investimentos e redução da pobreza. O FMI mantém-se envolvido, com foco na governação, na dívida pública e no uso sustentável dos recursos naturais.
Retoma do apoio financeiro
Após seis anos, o FMI aprova um novo programa de crédito de 456 milhões de dólares. O foco está em reformas estruturais, boa governação e protecção social. Era a tão ansiada retoma das relações bilaterais.
Consolidação, crescimento e transparência O programa ECF (Extended Credit Facility, em português Linha de Crédito Alargada) continua condicionado ao cumprimento de metas. Reformas na gestão pública, digitalização fiscal e uso transparente das receitas do gás ganham
Especialistas defendem que o Governo deve recusar fórmulas impostas que não promovem desenvolvimento
Para os vários críticos, o FMI funciona mais como fiscal do equilíbrio macroeconómico, impondo regras, do que como agente de transformação real rumo ao desenvolvimento”
fiscais, os contratos opacos e a ausência de mecanismos robustos de redistribuição resultaram, segundo o autor, num modelo extractivista predatório, que enriquece poucos e marginaliza muitos.
FMI, uma espécie de...
“governador invisível”?
João Mosca, outro crítico à presença e actuação do FMI, questiona: Qual é o papel desta instituição em tempos de crise e guerra no Norte? Até que ponto serve os interesses do País? O economista responde a estas questões num artigo provocador, intitulado “Sim, Senhor Fundo Monetário”, no qual defende que a relação entre o Governo moçambicano e o FMI é marcada por dependência, subordinação e interesses selectivos.
Mosca afirma que, desde a introdução do Programa de Reabilitação Económica, em 1987, o FMI tornou-se actor central na formulação da política económica em Moçambique. As suas exigências, que antes eram negociadas discretamente, hoje são impostas de forma mais pública e acelerada. O Governo, fragilizado por escândalos financeiros, crises de dívida e pressões orçamentais, tende a aceitar prontamente estas con-
dições, especialmente quando envolvem acesso a financiamentos externos.
Agenda desalinhada da realidade do País
João Mosca considera que muitas das medidas propostas pelo FMI – como a contenção da massa salarial, a reestruturação da administração pública ou o controlo de subsídios – têm efeitos sociais profundos e raramente são compensadas com mecanismos de protecção para os mais pobres. Embora reconheça que a presença do FMI transmite confiança aos mercados e investidores, funcionando como um selo de “boa governação”, o economista alerta que este efeito tem beneficiado, sobretudo, grandes grupos económicos e não a economia real. O sector privado nacional, especialmente as micro, pequenas e médias empresas, continua sem acesso a financiamento adequado e sem condições favoráveis de crescimento. Segundo João Mosca, falta ao FMI uma abordagem verdadeiramente inclusiva e adaptada ao contexto moçambicano. As reformas são muitas vezes concebidas em modelos abstractos, que ignoram as desigualdades regionais, a fraca capaci-
dade institucional e o peso da informalidade na economia. Mais ainda, o FMI raramente exige contrapartidas sociais fortes, como o investimento em serviços públicos, educação e saúde, ou mecanismos de fiscalização cidadã.
O economista sugere que Moçambique deve negociar com o FMI com base em quatro pilares: transparência nos acordos e condicionalidades impostas; participação dos cidadãos e do Parlamento na validação dos programas económicos; compromissos sociais vinculativos nos programas de ajustamento; e fomento da economia produtiva e inclusiva, com apoio real à classe empresarial nacional.
Condicionalismos preocupantes em tempo de instabilidade
No seu relatório “Perspectivas de Governação para o Ano 2025: Riscos a Monitorar em Ano de Início de Mandato do Novo Governo”, o Centro de Integridade Pública (CIP), uma das mais importantes organizações da sociedade civil, observa que, após anos de afastamento devido ao escândalo das dívidas ocultas, o FMI voltou a apoiar Moçambique com um programa financeiro que impõe condições rigorosas. Embora estas metas visem restaurar a estabilidade macroeconómica e credibilidade internacional, “a sua execução poderá intensificar o fardo fiscal sobre a população, sobretudo sobre as camadas mais vulneráveis”, alerta. Entre os riscos apontados está a possibilidade de cortes em despesas sociais ou a introdução de medidas fiscais regressivas, como o aumento do IVA, que afectariam o poder de compra dos cidadãos. O CIP considera que as reformas orientadas pelo FMI, se não forem acompanhadas de políticas sociais robustas e mecanismos de compensação, podem agravar desigualdades já existentes e comprometer a coesão social.
Além disso, a organização critica a falta de transparência nos processos de negociação entre o Governo moçambicano e o FMI. Na sua visão, a sociedade civil deve ser envolvida de forma efectiva no debate sobre o conteúdo e os impactos dos acordos com os parceiros internacionais. Esta participação é fundamental para garantir que os compromissos assumidos pelo Estado não colidem com os direitos e prioridades da maioria da população.
Outro ponto levantado pelo CIP é a pressão que o FMI poderá exercer para acelerar privatizações ou reformas no sector empresarial do Estado, o que, à semelhança do que aconteceu nas décadas anteriores, pode favorecer grupos restritos e aprofundar práticas de captura do Estado por interesses privados.
O Regresso do FMI à Economia Nacional: Oportunidades e Desafios do Novo Pacote Económico
Introdução
O regresso do Fundo Monetário Internacional (FMI) à economia moçambicana, com a negociação de um novo pacote económico em 2025, marca um momento crucial para o País. Após anos de desafios macroeconómicos, incluindo a questão das dívidas ocultas, crises climáticas e a pandemia de covid-19, este programa sinaliza uma oportunidade para estabilizar a economia, promover crescimento inclusivo e restaurar a confiança de investidores. Este artigo explora o contexto histórico dos pacotes do FMI, as lições, as potenciais implicações do novo acordo e como o País pode navegar neste cenário com visão estratégica.
Contexto Histórico: Uma Década de Altos e Baixos
Nos últimos 15 anos, a parceria com o FMI foi marcada por sucessos e contratempos. Entre 2010 e 2015, programas como a Linha de Crédito Alargado (ECF) impulsionaram um crescimento médio do PIB de 7% ao ano, estabilizando a economia e atraindo investimentos em sectores como o extractivo (recursos naturais). No entanto, as dívidas ocultas, em 2016, envolvendo 2 mil milhões de dólares em empréstimos, interromperam o apoio programático, abalando a credibilidade internacional e limitando o acesso a mercados financeiros. Durante este período, assistências de emergência do FMI para os ciclones Idai e Kenneth (2019) e a pandemia (2020) foram essenciais para mitigar impactos sociais e económicos.
O reinício do apoio, em 2022, com um ECF de 456 milhões de dólares, influenciou melhorias na transparência, gestão fiscal e recuperação económica, projectando um crescimento de 3%, em 2025. Contudo, desafios como derrapagens orçamentais, dívida pública elevada (acima de 100% do PIB, em 2022) e benefícios limitados ao sector privado persistem. Em Abril de 2025, o Governo e o FMI optaram por não prosseguir com as revisões da ECF, iniciando negociações para um novo programa alinhado com as prioridades do novo Governo, com foco na governação, inclusão social e sustentabilidade.
Financiamento do FMI a Moçambique (2010-2025)
Crescimento do PIB de Moçambique (2010-2025)
“A transparência é essencial, como demonstra o impacto devastador das dívidas ocultas. Além disso, equilibrar a consolidação fiscal com investimentos sociais pode mitigar resistências”.
O Novo Pacote Económico: Objectivos e Expectativas
O novo acordo com o FMI, ainda em negociação, em 2025, visa fortalecer as finanças públicas, melhorar a governação e acelerar reformas estruturais. Os seus objectivos incluem a redução do défice fiscal, aumentar as reservas internacionais e criar um ambiente favorável ao sector privado. Este pacote sucede a um período de recuperação pós-2022, mas também de desafios, como as manifestações de 2024 e pressões fiscais. O Governo vê o programa como uma oportunidade para consolidar a credibilida-
Fontes Estimativas baseadas em relatórios do FMI
Fonte: Estimativas baseadas em relatórios do FMI
de internacional e atrair parceiros, alinhando-se à Estratégia Nacional de Desenvolvimento (ENDE).
Oportunidades para a Economia Nacional
O novo pacote económico oferece oportunidades significativas para Moçambique, especialmente para o sector privado e para a sociedade:
1. Estímulo ao Investimento
A estabilização macroeconómica e a confiança renovada de parceiros internacionais devem facilitar o acesso ao crédito e atrair investimento estrangeiro. Empresas com estratégias claras podem beneficiar de um ambiente de negócios mais previsível, especialmente em sectores ligados à energia, agricultura e turismo.
2. Avanços na Governação
As reformas exigidas pelo FMI, como maior transparência e combate à corrupção, fortalecem a confiança, tanto no sector público como no privado. A aprovação de leis sobre empresas públicas e auditorias regulares, iniciadas em 2017, é um exemplo do progresso que pode ser alargado.
3. Desenvolvimento Inclusivo
O foco em inclusão social, destacado pelo Governo em 2025, pode canalizar recursos para a saúde, educação e protecção social, reduzindo desigualdades e promovendo crescimento sustentável.
Desafios a Ultrapassar
Apesar das oportunidades, o caminho apresenta obstáculos que exigem resiliência e planeamento:
• Gestão Fiscal: Desvios orçamentais, como os identificados em 2024, e a dívida pública elevada requerem disciplina fiscal para não se comprometerem gastos prioritários.
• Resistência a Reformas: Medidas como a redução da massa salarial enfrentam oposição interna, especialmente em contextos de instabilidade social, como as manifestações de 2024.
• Impacto no Sector Privado: A experiência mostra que os benefícios macroeconómicos nem sempre se traduzem em ganhos directos para empresas, exigindo políticas específicas para o sector.
• Liberalização dos Mercados: O objectivo de liberalizar a economia moçambicana e mercados (como o cambial), deve ser acompanhado de incentivos à produção nacional, exportação qualificada e diversificação da economia, por forma a equilibrar forças de procura e oferta, evitando assim desequilíbrios de curto prazo devido a ajustes económicos. Por sua vez, estas medidas geram resiliência a choques externos.
• Riscos Externos: A volatilidade económica global e os impactos climáticos continuam a desafiar a implementação do programa.
Lições dos Últimos 15 Anos
A experiência dos últimos 15 anos oferece lições cruciais para o sucesso do novo pacote. A transparência é essencial, como demonstra o impacto devastador das dívidas ocultas.
Além disso, equilibrar a consolidação fiscal com investimentos sociais pode mitigar resistências e promover inclusão. Por fim, diversificar a economia, reduzindo a dependência de recursos naturais, é fundamental para a sustentabilidade, como sugerido pelo FMI em 2021.
Conclusão
O regresso do FMI à economia moçambicana, em 2025, com um novo pacote económico, é um marco de esperança e responsabilidade. Com base nos sucessos e desafios dos últimos 15 anos, Moçambique tem a oportunidade de consolidar a estabilização económica, fortalecer a governação e promover crescimento inclusivo.
O sucesso dependerá da colaboração entre Governo, sector privado e sociedade, com transparência, resiliência e visão estratégica. Este é um momento para construir uma economia mais forte e sustentável, deixando um legado positivo para as gerações futuras.
Porto de Maputo, um dos corredores onde se poderá reflectir o vigor do novo acordo com o FMI
Fontes Estimativas baseadas em relatórios do FMI
FMI em África. Onde
Falha e Onde Funciona
O FMI tem tido impactos distintos nas economias africanas: nalguns casos facilitou reformas, noutros impôs sacrifícios sem resultados. O que faz a diferença? Estará a chave nas metas dos programas ou no empenho dos países?
As sucessivas crises globais – da pandemia de covid-19 à guerra na Ucrânia – colocaram uma pressão acrescida sobre as economias africanas, fragilizadas por défices estruturais e dependências externas. Nestes contextos, o FMI foi chamado a intervir, oferecendo assistência financeira urgente através de instrumentos como a Linha de Crédito Rápido (RCF, sigla em inglês) e o Instrumento de Coordenação de Políticas (PCI). Embora tenha ajudado a evitar colapsos imediatos, muitos dos programas implicaram medidas de contenção fiscal que se reflectiram em cortes nos subsídios, aumento de impostos e tensões sociais.
Quando o FMI funciona..., de facto Há países africanos onde a presença do FMI foi determinante para restaurar a confiança externa, impulsionar reformas e promover estabilidade macroeconómica. Cabo Verde é um exemplo frequentemente citado. Após sucessivos acordos com o Fundo, o país conseguiu estabilizar a dívida pública, atrair investimentos externos e manter várias programas em paralelo.
Actualmente, além de diversas missões de assistência técnica, o arquipélago beneficia de uma Linha de Crédito Alargada (ECF) e de um Instrumento de Resiliência e Sustentabilidade (RSF) totalizando 100 milhões de dólares. Em Maio, foi anunciada uma extensão do ECF até Dezembro de 2026, reconhecendo “o sucesso contínuo da política económica e a agenda de reformas das autoridades”, detalhou o Fundo.
Já o Ruanda beneficiou de assistência técnica e financeira que permitiu ao país manter uma trajectória de crescimento robusto e uma gestão fiscal prudente.
Em 2021, recebeu cerca de 319 milhões de dólares do FMI para alívio financeiro, o que ajudou a mitigar os efeitos da pandemia de covid-19.
Outro caso ilustrativo é o do Gana. Apesar das dificuldades mais recentes, incluindo a crise da dívida e inflação galopante, este país registou períodos de estabilidade após intervenções do FMI.
A Linha de Crédito Alargada 2015–2018 mobilizou aproximadamente 918 milhões de dólares, contribuindo para restaurar o crescimento económico e o acesso ao financiamento externo.
Nestes contextos, os bons resultados estiveram geralmente associados a uma combinação entre um forte compromisso político interno, reformas estruturais lideradas localmente e consequente flexibilidade na implementação das metas programáticas.
Casos de fracasso: austeridade sem alívio
Em contrapartida, vários programas do FMI em África não conseguem fomentar um crescimento inclusivo, nem reduzir de forma sustentável a pobreza. Um dos exemplos mais emblemáticos é o da Zâmbia que, apesar de ter aderido a sucessivos programas de ajustamento estrutural desde a década de 1990, entrou em incumprimento em 2020, tornando-se no primeiro país africano a fazê-lo durante a pandemia de covid-19.
Em 2022, o país negociou um novo acordo de 1,3 mil milhões de dólares com o FMI, no âmbito de uma Linha de Crédito Alargada de 38 meses, que impunha reformas estruturais, cortes nos subsídios aos combustíveis e controlo severo da despesa pública. Embora a inflação tenha desacelerado, os impactos sociais das medidas foram duros: o desemprego aumentou e a confiança pública deteriorou-se face aos sacrifí-
Os bons resultados estiveram geralmente associados a uma combinação de forte compromisso político interno, reformas estruturais lideradas localmente e flexibilidade na implementação das metas programáticas
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
Reuniões Anuais de Primavera, em Washington, ponto de encontro do FMI
cios exigidos, sem melhorias visíveis no bem-estar da maioria da população.
No Sudão, o FMI foi preponderante no desenho das reformas económicas implementadas após a queda de Omar al-Bashir, em 2019. Em 2021, o país integrou um programa monitorizado como pré-condição para beneficiar da Iniciativa para os Países Pobres Altamente Endividados (HIPC). Como parte das exigências, o Governo sudanês eliminou os subsídios ao combustível e desvalorizou drasticamente a moeda.
Embora as medidas tenham sido vistas como tecnicamente necessárias para restaurar a estabilidade macroeconómica, os efeitos sociais foram catastróficos: os preços dos alimentos e do transporte dispararam, provocando protestos em massa e agravando a instabilidade política. O país mergulhou novamente no caos, interrompendo qualquer progresso económico duradouro.
Moçambique é também exemplo de falhas
Inicialmente apontado como um “modelo de reformas” no pós-guerra civil (terminado em 1992), os resultados mais recentes são desanimadores. Após a suspensão do apoio directo ao Orçamento do Estado, em 2016, na sequência do escândalo das dívidas ocultas, o FMI retomou um programa formal em 2022, com um financiamento de 456 milhões de dólares, até 2025, ao abrigo de uma Linha de Crédito Alargada (ECF). Este programa tinha como principais metas a consolidação fiscal, o aumento de receitas internas e a melhoria da governação das finanças públicas. O objectivo era corrigir problemas que prevaleceram ao longo de anos, nomeadamente a elevada dependência externa. Hoje, cerca de 30% do Orçamento do Estado é ainda financiado por doadores. A arrecadação fiscal continua reduzida, em cerca de 20% do PIB, e abaixo
FORA DE ÁFRICA: QUANDO A FÓRMULA RESULTA
Fora do contexto africano, o FMI também liderou intervenções que são vistas como relativamente bemsucedidas, sobretudo em países com instituições sólidas e maior margem de negociação interna. Em Portugal, após a crise de 2011, o programa de ajustamento de 78 mil milhões de euros incluiu cortes, reformas estruturais e apoio financeiro da Troika (FMI, UE e BCE). O país retomou o crescimento em 2014 e reconquistou a confiança dos mercados, conciliando austeridade (que deixou marcas sociais profundas) com posterior recuperação social.
Na Grécia, apesar de forte contestação social e três resgates que somaram 260 mil milhões de euros, a intervenção evitou o colapso financeiro do país. Após uma década de medidas duras, o país voltou a crescer e saiu do regime de assistência em 2018. Já a Islândia, em 2008, seguiu um modelo alternativo: recebeu 2,1 mil milhões de dólares do FMI, nacionalizou bancos, impôs o controlo de capitais e protegeu a rede social. Em poucos anos, a economia recuperou em força.
da média da África Subsaariana. A capacidade do Estado para investir em sectores sociais estratégicos, como educação, saúde ou infra-estruturas, continua limitada.
A nova linguagem do FMI
Nos últimos anos, o FMI tem renovado a sua imagem pública, procurando distanciar-se de um perfil impopular que assumiu nos anos de 1980 e 1990 como promotor de políticas rígidas de austeridade. O discurso oficial adoptado em relatórios, comunicados e declarações públicas enfatiza, cada vez mais, conceitos como “crescimento inclusivo”, “resiliência climática”, “justiça fiscal” e “protecção social”. Sob a liderança de Kristalina Georgieva, directora-geral desde 2019, o FMI passou a reconhecer, com maior ênfase, que os desafios enfrentados pelos países em desenvolvimento exigem abordagens diferenciadas, com atenção às desigualdades sociais, às mudanças
Kristalina Georgieva, natural da Bulgária, directora-geral do FMI
climáticas e ao impacto das crises globais. Georgieva tem afirmado, repetidamente, que “não pode haver estabilidade sem inclusão”, e que o FMI precisa de apoiar reformas que promovam a equidade e protejam os mais vulneráveis. Em resposta à pandemia de covid-19, por exemplo, o Fundo disponibilizou mais de 100 mil milhões de dólares em financiamento de emergência a mais de 85 países, incluindo Moçambique, com condições flexibilizadas e ênfase na resposta sanitária e económica imediata. O FMI também lançou, em 2022, o Resilience and Sustainability Trust (RSF), um fundo destinado a apoiar países vulneráveis a choques climáticos, com linhas de crédito de longo prazo e juros reduzidos.
Apesar desta evolução, organizações como a Bretton Woods Project e a Eurodad (rede europeia sobre dívida e desenvolvimento) argumentam que, na prática, os programas continuam a impor restrições orçamentais severas, reformas laborais regressivas e privatizações aceleradas, sob pena de suspensão do financiamento. Muitos destes pacotes carecem de consultas públicas transparentes, sendo negociados entre Governos e técnicos do Fundo com limitada supervisão dos Par-
Sob a liderança de Kristalina Georgieva, o FMI passou a reconhecer, com maior ênfase, que os desafios dos países pobres exigem abordagens diferenciadas, com atenção às desigualdades sociais, mudanças climáticas e impacto das crises globais
ÁFRICA ENTRE OS MAIORES DEVEDORES DO FMI
Mais da metade dos dez países com maior dívida junto do FMI são africanos, reflectindo a crescente dependência financeira do continente
Crédito em dólares
FONTE Business Insider Africa
lamentos e da sociedade civil, referem aquelas organizações.
A assimetria de poder dentro do FMI – em que os votos são ponderados pelo volume de capital dos países-membros, com os Estados Unidos a deterem poder de veto – é também, frequentemente, destacada como um entrave à verdadeira reforma da instituição. Acredita-se que essa estrutura reforça o desequilíbrio entre países desenvolvidos e os que para lá caminham, levando a que os programas reflictam mais os interesses dos credores do que as necessidades específicas dos povos beneficiários.
Em suma, a actuação do FMI em África revela uma dualidade persistente: por um lado, pode ser catalisador de estabilidade e reformas quando há compromisso interno, adaptação contextual e metas realistas; por outro, arrisca-se a agravar vulnerabilidades se insiste em soluções padronizadas e condicionalismos rígidos. O futuro do seu papel no continente dependerá da capacidade de ouvir os países, envolver as sociedades e reequilibrar a sua própria governação interna. Só assim poderá deixar de ser visto como um agente de austeridade para tornar-se, de facto, num parceiro de desenvolvimento.
Cabo Verde Arquipélago recebe Cimeira do
Turismo 2027
Cabo Verde foi o país designado pela Comissão Africana da Organização Mundial do Turismo (UN Tourism) como “país anfitrião das comemorações” do dia mundial do sector, em 2027. “A data é celebrada anualmente a 27 de Setembro desde 1980 e é uma das mais importantes efemérides do sector a nível global”, informou o Governo do arquipélago. A Organização Mundial do Tu-
África
Agência africana de “rating” arranca em Setembro
A Agência Africana de Classificação de Crédito, uma iniciativa continental para fornecer avaliações alternativas sobre riscos de reembolso, planeia iniciar as suas operações até ao final de Setembro. A agência publicará o seu primeiro relatório de notação soberana até ao final do ano ou início de 2026, disse Misheck Mutize, especialista líder em empresas de notação de crédito do Mecanismo Africano de Revisão por Pares, uma estrutura da União Africana. As “três grandes” agências de “rating” — a Fitch Ratings, a Moody’s Ratings e a S&P Global Ratings — foram acusadas pelos Governos africanos de parcialidade e falta de transparência.
rismo é uma agência especializada da ONU e a principal organização internacional no campo do turismo, destinada a promovê-lo e desenvolvê-lo. “Em 2027, Cabo Verde será o palco central das celebrações promovidas pela ONU Turismo, colocando o país no centro do debate e da projecção internacional sobre o futuro do turismo”, explicou o Executivo cabo-verdiano.
Mali
Estado assume mina de ouro da Barrick
Um tribunal maliano decidiu que o complexo mineiro de ouro Loulo-Gounkoto, da multinacional canadiana Barrick, deve passar para controlo provisório do Estado durante seis meses, transferindo uma das maiores operações da empresa para uma administração nomeada pelo regime militar. A mina esteve encerrada durante meses devido a uma disputa sobre o pagamento de dividendos, e as autoridades alertaram que assumiriam o controlo a menos que fosse reaberta. Soumana Makadji, contabilista e ex-ministro da Saúde, deverá agora gerir Loulo-Gounkoto.
África
China prepara “tarifas zero”
A China planeia remover as tarifas sobre as importações de países africanos para estreitar relações com o continente, em resposta à subida de tarifas desencadeada pela administração Trump dos EUA. O plano consta de uma carta enviada aos ministros dos Negócios Estrangeiros. Só Essuatíni deverá ficar de fora por ser aliada de Taiwan. Entretanto, Trump proibiu a entrada de pessoas de 12 países, mais de metade de África, restabelecendo uma das medidas mais controversas do seu primeiro mandato.
África do Sul BM viabiliza transição do carvão para electricidade “limpa”
O Climate Investment Fund (CIF), ligado ao Banco Mundial, vai apoiar os planos da África do Sul para reduzir a sua dependência do carvão, com 2,6 mil milhões de dólares de financiamento. O CIF actualizou o plano “Accelerating Coal Transition (ACT)” da África do Sul, autorizando um desembolso inicial de 500 milhões de dólares, o qual, se confirmado, viabiliza até 2,1 mil milhões adicionais de outras instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento. O país vizinho ainda depende da mineração e da produção de carvão para cerca de 80% de sua electricidade.
Argélia Quota estrangeira sobe até 80% em projectos extractivos
O Parlamento argelino aprovou uma legislação, que permite às empresas estrangeiras deter até 80% dos projectos mineiros, uma mudança radical para o país-membro da OPEP, que procura diversificar a sua economia. Antes desta alteração, a participação máxima permitida para investidores estrangeiros era 49 %, com o
Estado a deter a maioria de controlo, de acordo com a lei de 2014. As autoridades afirmam que a nova lei irá atrair investidores e impulsionar as indústrias extractivas. A Argélia é um importante fornecedor de gás natural para a Europa e está a desenvolver descobertas substanciais de fosfato, minério de ferro, chumbo e zinco.
A primeira agência espacial de África foi criada para impulsionar a observação da Terra e a partilha de dados, numa altura em que as relações globais mais hostis estão a limitar a disponibilidade de informação climática e de informação meteorológica. A nova organização, com sede no Cairo e sob a égide da União Africana, irá coordenar os programas nacionais existentes. Antes do mais, o objectivo é melhorar a infra-estrutura.
O Quénia quer fixar metas realistas num novo programa de apoio financeiro com o Fundo Monetário Internacional (FMI), de acordo com um alto funcionário do Governo, após protestos contra os impostos (e as taxas comerciais de Trump). O Governo iniciará negociações com o credor, em breve, e vai, provavelmente, concluir um acordo até Novembro, disse o secretário do primeiro-ministro Musalia Mudavadi. O FMI e o Quénia rescindiram um acordo de quatro anos no mês passado, depois de o Governo não ter atingido os parâmetros, o que significa que o país teve de abdicar de cerca de 850 milhões de dólares em fundos pendentes.
O Banco Mundial aceitou retomar os empréstimos ao Uganda, quase dois anos depois de os ter suspendido, devido a uma severa lei anti-LGBTQ. O banco preparou novos projectos para apoiar a protecção social, a educação e as pessoas afectadas por deslocações forçadas, e irá apresentá-los ao seu conselho para decidir se devem ser financiados. As medidas para prevenir a discriminação foram incorporadas em todas as propostas, fez saber a instituição.
BAD Prevê
“Recuperação do Sector Extractivo”
O impulso à economia deve levar Moçambique a crescer 2,7% (2025) e 3,5% (2026), segundo a análise do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que inclui notas sobre “medidas essenciais”
Texto Redacção • Fotografia D.R.
Há um calendário que segue a mesma cadência anual: depois das habituais previsões dos Encontros de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM), em Abril, em Washington, surgem as perspectivas do Banco Africano de Desenvolvimento, tradicionalmente publicadas durante os seus encontros continentais, em Maio, cada ano numa cidade diferente, e este ano, Abidjan, na Costa do Marfim, foi a capital anfitriã para quase 5000 pessoas. O BAD prevê uma “recuperação do sector extractivo” em Moçambique, que deverá impulsionar um crescimento da economia “para 2,7% em 2025 e 3,5% em 2026”, segundo uma análise à situação do País. “A inflação deverá aumentar para 4,8% em 2025 e crescer para 5,2%, em 2026, devido ao aumento dos preços
AS MEDIDAS “ESSENCIAIS”
Em Moçambique, o BAD considera urgente melhorar a eficiência das despesas públicas, diversificar os mercados de exportação e fomentar o diálogo “entre todos os partidos políticos”.
• Um dos indicadores apontados na análise dizem respeito ao baixo rácio impostos/PIB, a rondar 23%, “situandose abaixo dos padrões regionais, sinalizando um potencial fiscal não realizado.”
• “A mobilização de receitas é limitada pelos fluxos financeiros ilícitos, estimados anualmente em 1,3 mil milhões de dólares (1,15 mil milhões de
dos alimentos locais”, acrescentou a instituição financeira, no capítulo dedicado ao País no relatório de Perspectivas Económicas Africanas (AEO, sigla inglesa) de 2025.
Défice a descer em 2026?
As previsões para Moçambique sucedem a um crescimento mitigado do PIB de 1,8% em 2024, devido ao “declínio da produção nas indústrias extractivas e na agricultura”, após um crescimento de 5,4% em 2023, nota o BAD – recordando também a descida da inflação: 7% em 2023 e 3,2% em 2024. Agora, o défice orçamental “deverá aumentar para 5,4% do PIB em 2025 e depois diminuir para 4,5% em 2026 devido à consolidação orçamental”.
Riscos: agitação social e incerteza externa
O AEO 2025 foi publicado no final de Maio, durante as reuniões anuais do
O mauritano Sidi Ould Tah, novo presidente do BAD, eleito durante os encontros anuais em Abidjan, Costa do Marfim
euros), e pela fraca administração fiscal”, acrescentou.
• Por outro lado, a “pesada folha de pagamentos” do Estado “equivale a uma média de 90% da receita fiscal (2021-23), e o aumento das obrigações de serviço da dívida limitam significativamente a margem para despesas de desenvolvimento”.
• “Sair da lista cinzenta do Grupo de Acção Financeira (GAFI), combater os fluxos financeiros ilícitos e aplicar regulamentos de parcerias público-privadas serão tarefas essenciais para melhorar o clima de investimento e aumentar a resiliência económica”, concluiu.
BAD cujo tema central foi a mobilização dos recursos do continente, libertando-o de dependência externa – a propósito do fechar da torneira dos EUA e de outras fontes de financiamento para o desenvolvimento e ajuda humanitária. No caso de Moçambique, os principais riscos para o crescimento incluem “as alterações climáticas, a agitação social e os seus efeitos nas actividades económicas, os cortes na ajuda externa e as tensões comerciais” a nível mundial.
O BAD deixou ainda uma série de recados: considera urgente melhorar a eficiência das despesas públicas (um velho alerta dos parceiros de desenvolvimento), combater fluxos financeiros ilícitos e sair da lista cinzenta do GAFI - Grupo de Acção Financeira (ver caixa)
Os números reflectem “uma resiliência forjada por ganhos arduamente conquistados na última década”, Akinwumi Adesina, presidente cessante do BAD
Resiliência prevalece no cenário continental
A nível continental, sem surpresas, o BAD reduziu as estimativas de crescimento económico para este e para o próximo ano, devido à incerteza
global nos mercados. “Por entre choques recorrentes e a incerteza global induzida pelas tarifas [comerciais], a perspectiva de crescimento de África (…) foi reduzida em 0,2 e 0,4 pontos percentuais para 3,9% e 4% em 2025 e 2026, respectivamente”. Ainda assim, prevê-se que 21 países alcancem um crescimento superior a 5% em 2025, e que 13 das 20 economias em maior crescimento no mundo estejam em África.
Os números reflectem “uma resiliência forjada por ganhos arduamente conquistados através de reformas internas eficazes, diversificação e gestão macroeconómica melhorada na última década”, indicou o presidente cessante do BAD, Akinwumi Adesina, numa nota introdutória.
QUEM É O NOVO PRESIDENTE DO BAD?
O BAD elegeu o mauritano Sidi Ould Tah como novo presidente, após votação do Conselho de Governadores dos 81 estados-membros, incluindo Moçambique, no dia 29 de Maio, durante os encontros anuais, em Abidjan. Sidi Ould Tah foi eleito na terceira ronda de votação do Conselho de Governadores do Banco com 72,37% dos votos do continente (54 países) e 76,18% dos votos totais (incluindo os 27 países extra continentais). Na corrida estavam também as candidaturas de Amadou Hott (Senegal), Samuel Maimbo (Zâmbia), Abbas Tolli (Chade) e Bajabulile Tshabalala, a única mulher, (África do Sul).
O BI do novo líder
Sidi Ould Tah, 60 anos, presidiu durante 10 anos, até Abril, a outro banco multilateral, o Banco Árabe para o Desenvolvimento Económico de África (BADEA), sediado em Riade, na Arábia Saudita. Apresenta-se como o responsável pela transformação do Badea, de uma instituição “desconhecida pelas agências de notação de risco” numa das instituições de desenvolvimento mais bem cotadas em África. Foi ministro da Economia da Mauritânia (2008 a 2015) e inclui “proficiência” em língua portuguesa no seu perfil. Na campanha, defendeu “uma profunda reforma interna do BAD”. A nova presidência do organismo, que entrará em funções em Setembro, vai enfrentar cortes à ajuda internacional de que a instituição precisa.
Desafio: mobilizar financiadores
Um dos desafios está aí à porta: a próxima recapitalização do Fundo Africano de Desenvolvimento (FAD), fonte de financiamento a baixo custo para os países mais pobres, que deverá acontecer até final do ano. “Vai ocorrer num momento crítico para África: exorto os parceiros internacionais a comprometerem-se com uma reposição robusta”, referiu Akinwuni Adesina, presidente cessante, num dos mais recentes relatórios de actividades. A última recapitalização, em 2022, foi de 8,9 mil milhões de dólares, e a ambição já expressa apontava agora para 25 mil milhões de dólares.
Quando o Caminho
Encarece
a Comida
Em Moçambique, apenas 20% do solo arável é cultivado, e mais de 3 milhões de pessoas enfrentam fome aguda. Em África, a logística
deficitária é uma barreira que agrava a insegurança alimentar
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
Moçambique guarda um paradoxo inquietante: um vasto território com potencial agrícola, mas uma população que convive diariamente com a insegurança alimentar. Quase metade do solo moçambicano é considerado arável, mas menos de 20% está efectivamente cultivado. As razões para esta subutilização vão além das práticas agrícolas e encontram resposta nas estradas esburacadas, nos portos congestionados e nos longos trajectos que separam os campos férteis dos mercados consumidores.
A conectividade de transportes, frequentemente vista como uma questão logística, é, na verdade, um factor estrutural da segurança alimentar. E é isto que mostra o mais recente estudo do Banco Mundial, “Transport Connectivity for Food Security in Africa (Conectividade dos Transportes para a Segurança Alimentar em África)”, que analisa como as redes de transporte moldam o acesso, o custo e a disponibilidade de alimentos em todo o continente. No caso de Moçambique, o estudo oferece um retrato claro dos problemas, mas também revela avanços importantes e um potencial estratégico inegável.
Estradas como elo entre fome e fartura
De norte a sul, o País enfrenta dificuldades sérias de mobilidade interna.
A principal via terrestre, a Estrada Nacional Número Um (EN1), atravessa todas as regiões, mas, em várias zonas está em estado crítico, especialmente vulnerável a cheias e à erosão. No interior, onde se produz grande parte dos alimentos, as vias secundárias estão muitas vezes intransitáveis durante a estação chuvosa, isolando comunidades inteiras. Este isolamento tem custos profundos: perdas pós-colheita, menor acesso a mercados e preços elevados nos centros urbanos.
Mas há sinais de mudança. Um dos projectos mais ambiciosos em curso é o “Safer Roads for Economic Integration (Estradas Mais Seguras para a Integração Económica)”, financiado pelo Banco Mundial, que procura reabilitar e tornar mais resiliente a N1. As obras incluem drenagem, melhorias estruturais e integração com mercados locais. O impacto pode ser decisivo: encurtar a distância entre a produção e o consumo e reduzir a fome.
Em paralelo, o País avança na requalificação de três corredores estratégicos – Maputo, Beira e Nacala –, com o apoio do Projecto de Conectividade do Comércio na África Austral (SATCP, sigla em inglês). Estes corredores são rotas de sobrevivência que ligam Moçambique a países vizinhos como o Maláui, Zâmbia e África do Sul. Uma batata produzida em Angónia ou uma laranja de Manica pode chegar a outros países, se as estradas forem transitáveis e os portos funcionarem.
Os países africanos produzem 75% dos alimentos que consomem, importando o restante da Europa e da Ásia. Mas o comércio alimentar entre países africanos representa apenas 5% do total
As vias secundárias estão, muitas vezes, intransitáveis durante a estação chuvosa
Quando o progresso chega ao campo
A dimensão regional é apenas parte da equação. No terreno, efeitos visíveis surgem nalgumas zonas rurais. Nos corredores do Zambeze e de Nacala, mais de 200 quilómetros de estradas rurais foram reabilitados. Pequenos produtores, tradicionalmente à margem do mercado, viram a sua produtividade aumentar, em média, 79%, com ganhos também no acesso a água, armazenamento e fornecimentos.
Desafio persistente: muita gente com fome!
Três milhões de moçambicanos vivem em situação de fome aguda. Os custos de uma dieta saudável são proibitivos para a maioria das famílias. E os choques climáticos, cada vez mais frequentes, continuam a afectar tanto a produção como o transporte de alimentos.
Para cada estrada construída, há uma tempestade que ameaça levá-la.
Mas a trajectória em curso mostra que a conectividade, se for bem pensada, pode ser uma poderosa ferramenta de inclusão e resiliência. Os corredores logísticos, as estradas rurais e os sistemas urbanos de transporte não são apenas meios de circulação. São vias que ligam o campo à cidade, o agricultor ao consumidor, a produção ao desenvolvimento. Em Moçambique, caminhar para a segurança alimentar é, literalmente, abrir caminho.
África: os bloqueios que custam refeições
Na verdade, Moçambique é apenas uma pequena amostra de uma realidade mais ampla, vivida nos 49 países da África Subsaariana. O relatório do Banco Mundial indica que, no continente, as causas da insegurança alimentar são
múltiplas e variam entre países, e mesmo dentro das suas regiões. No entanto, há padrões comuns. A produção local continua insuficiente: em média, os países africanos produzem cerca de 75% dos alimentos que consomem, importando o restante, sobretudo da Europa e da Ásia.
Mas o comércio alimentar entre países africanos representa apenas 5% do total, enquanto cerca de 37% do que se produz localmente é perdido após a colheita. Muitas comunidades, sobretudo rurais e periféricas, estão fisicamente isoladas da cadeia de abastecimento. Estes padrões perpetuam a fome e expõem o continente a choques frequentes e graves. A fragmentação logística, a fraca integração regional e a precariedade da infra-estrutura são hoje os principais travões ao desenvolvimento de sistemas alimentares resilientes em África.
A longa viagem da comida em África
As cadeias de abastecimento alimentar são anormalmente longas, porque muitos países dependem da importação de alimentos básicos, como arroz e trigo, de mercados estrangeiros. Em média, os alimentos percorrem cerca de 4000 quilómetros e levam até 23 dias para chegar aos consumidores, tornando o sistema quatro vezes mais longo que o europeu. Esta dependência externa e a infra-estrutura precária aumentam os riscos, os custos e os atrasos. Para encurtar as cadeias, é essencial investir em transportes, logística, armazenamento e promover o comércio intra-regional, aliados a políticas de apoio à produção agrícola local.
Distribuir é a nova prioridade do
continente
A maioria dos países africanos não dispõe de sistemas eficazes para distribuir os alimentos entre regiões excedentárias e zonas com insegurança alimentar. As cadeias de abastecimento nacionais e regionais estão fragmentadas, marcadas por falhas na infra-estrutura de transporte, armazenamento inadequado e entraves nas fronteiras. O resultado é preocupante: em muitos casos, as transferências alimentares dentro do continente, podem levar até dez vezes mais tempo do que nos Estados Unidos, com custos de transporte que chegam a representar 45% do preço de mercado de produtos de baixo valor. Para as famílias que vivem em zonas remotas ou em bairros urbanos de baixos rendimentos, os alimentos tornam-se simplesmente inacessíveis.
Além disso, os agricultores enfrentam outro entrave estrutural: o acesso limitado à informação de mercado, o que dificulta a capacidade de responder à procura, de planear colheitas ou de investir em melhorias. Sem previsibilidade nem apoio logístico, muitos acabam por perder parte significativa da sua produção ou por vendê-la a preços desvantajosos.
O papel dos blocos económicos regionais
Para o Banco Mundial, os blocos económicos regionais devem desempenhar um papel central na promoção de cadeias de abastecimento alimentar mais eficientes em África. Organizações como a Comunidade da África Oriental (EAC), a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a Comunida-
Trechos Rodoviários Críticos
Número: 20 trechos
Países envolvidos (9): Benim, Camarões, RD Congo, Costa do Marfim, Gana, Maláui, Moçambique, Nigéria, Zâmbia
Produção impactada: 102 mil milhões de quilocalorias de alimentos/ano
Impacto:
Corredores regionais são essenciais para a distribuição doméstica e para o comércio regional
Postos Fronteiriços Críticos
Número: 20 postos
Países envolvidos (30): Benim, Burquina Faso, Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Chade, RD Congo, Costa do Marfim, Djibuti, Etiópia, Gâmbia, Guiné, Quénia, Maláui, Mali, Mauritânia, Moçambique, Namíbia, Níger, Nigéria, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Somália, África do Sul, Sudão do Sul, Sudão, Tanzânia, Uganda, Zâmbia, Zimbabué
Impacto:
Postos fronteiriços são portas regionais para o comércio. Melhorias nas infra-estruturas e nos sistemas reduzem atrasos e custos, ampliando a oferta de serviços — especialmente de transporte rodoviário.
aduaneira fazem com que países com acesso regional, como o Quénia, prefiram importar de fora do continente.
Cinco caminhos para mudar o cenário
A partir desta análise, a pesquisa do Banco Mundial destaca cinco desafios críticos que exigem resposta: melhorar a conectividade entre regiões produtivas e mercados consumidores; investir em armazenamento para reduzir perdas pós-colheita; acelerar o trânsito de mercadorias nas fronteiras; tornar o transporte mais acessível e eficiente; e integrar os produtores em sistemas logísticos modernos e informados.
Sem resolver estas fragilidades, a fome continuará a circular mais depressa do que os alimentos.
Mês de África - Histórias de Empreendedorismo Africano Que Inspiram
Asensação de segurança é uma das necessidades mais profundas e antigas do ser humano. Desde que começámos a viver em comunidade, procuramos formas de nos proteger — inicialmente com alianças entre vizinhos, depois com sistemas rudimentares de apoio mútuo, até à criação dos primeiros seguros, na Idade Média, em que mercadores partilhavam os riscos das suas viagens marítimas. Foi aí que nasceu o embrião do conceito moderno de seguros: uma forma prática de gerir o imprevisível.
Maio é o Mês de África. E, mais do que um mês simbólico, é uma oportunidade de olhar para o que realmente nos move enquanto continente: a capacidade de criar, resistir e transformar.
É por isso que, no FNB, decidimos marcar o mês de Maio com algo que vai além da celebração – queríamos provocar reflexão e inspirar acção. Lançámos um podcast especial dedicado ao empreendedorismo africano. E não por acaso.
Acreditamos que empreender em África é uma das formas mais concretas de contribuir para o desenvolvimento económico e social das nossas comunidades. É onde os sonhos encontram a coragem. Onde a escassez alimenta a criati-
vidade. Onde a vontade de fazer é maior do que qualquer obstáculo.
Durante esta conversa, tivemos o privilégio de ouvir as vozes de dois empreendedores moçambicanos cujas histórias são tudo menos convencionais: Tatiana Mata, directora-geral da Elim Serviços e da Mutiana Investimentos, e Mbuto Machili, fundador da Amor Amor Fotografia. Ambos começaram “por acaso”. Tatiana aceitou o desafio de preparar um serviço de catering a pedido de uma amiga — um pedido pontual que acabou por revelar um talento e uma oportunidade que nem ela sabia que existiam. Sem escritório, sem empresa, sem equipa, sem grandes planos, apenas a vontade de fazer tudo muito bem. Com o tempo, Tatiana foi criando outras empresas em áreas diferentes e acabou por seguir o caminho da Market Solutions, com um olhar cada vez mais estratégico sobre as necessida-
Empreender em África é uma das formas mais concretas de contribuir para o desenvolvimento
des do mercado e um forte compromisso com a inovação nos serviços. O que começou como um favor transformou-se numa carreira empreendedora sólida, guiada pela sua capacidade de se reinventar e de identificar oportunidades onde poucos viam potencial.
Mbuto, em parceria com a sua esposa, seguiu um caminho semelhante. Um amigo fotógrafo não pôde fazer a cobertura de um casamento e pediu-lhe para substituí-lo — sem experiência, sem formação e com equipamento emprestado. Mas com um olhar curioso, uma sensibilidade artística natural e, acima de tudo, a ousadia de tentar. Esta primeira experiência abriu caminho para outras e, hoje, a Amor Amor Fotografia é uma referência nacional em eventos, além de ter crescido para outros tipos de serviços.
Ambos representam uma geração de africanos que não esperaram que as condições ideais se alinhassem. Criaram-nas. Transformaram obstáculos em oportunidades. Começaram com pouco — sem meios, sem espaço, sem sequer uma secretária para um computador —, mas com uma visão clara e uma vontade imensa de fazer acontecer.
São negócios tecidos a partir de sonhos, mais do que a partir de planos. E é precisamente isso que, na nossa visão, define o Espírito Africano: resiliência, criatividade e coragem, mesmo quando os recursos são escassos.
Mais do que histórias de sucesso, Tatiana e Mbuto mostram-nos que há um movimento em marcha. Um movimento de pessoas que estão a redefinir o que é possível. Pessoas que olham para África não como um lugar de limitações, mas como um território fértil em ideias, energia e futuro.
No FNB, acreditamos profundamente nesse futuro. Acreditamos que dar palco a estas vozes é parte do nosso compromisso enquanto Banco Africano, empenhado em promover oportunidades, inclusão e a valorização do talento local.
No Mês de África, celebrámos o empreendedorismo como ele é verdadeiramente vivido no nosso continente: não como uma alternativa, mas como um caminho real, transformador e profundamente Africano.
FNB lançou Podcast para ‘dar voz’ ao empreendedorism
O Pensamento Revolucionário Face às Desigualdades
Rosa Luxemburgo foi uma das mais influentes economistas marxistas cujas análises se mantêm relevantes até hoje, numa altura em que as desigualdades sociais se aprofundam
Texto
Celso Chambisso • Fotografia D.R
Rosa Luxemburgo (18711919) foi uma economista, teórica marxista e revolucionária que dedicou a vida à defesa dos direitos da classe trabalhadora. Na sua obra "A Acumulação do Capital (1913)", Rosa Luxemburgo argumenta que o capitalismo, para se expandir, precisa constantemente de explorar novas regiões e populações, o que intensifica a desigualdade e perpetua a exploração da classe operária. Para exemplificar esta teoria, a economista analisou a expansão imperialista europeia em África e na Ásia, onde potências coloniais se apropriaram de recursos e forçaram populações locais a integrar-se numa economia que servia, primordialmente, os interesses do capital estrangeiro. Esta perspectiva dialoga directamente com a história de Moçambique, que, durante a colonização portuguesa, foi fornecedora de mão-de-obra barata e recursos naturais para beneficiar a metrópole.
A economista defendia que apenas uma revolução proletária poderia romper este ciclo e estabelecer uma economia voltada para as necessidades humanas, não para a acumulação de capital. Para Luxemburgo, as lutas operárias deviam ser espontâneas e massivas, não apenas dirigidas por partidos políticos. Esta ideia colocou-a em desacordo com líderes bolcheviques, como Vladimir Lenine, que defendiam uma organização mais cen-
tralizada da revolução. Além da expansão colonial, a sua teoria foi também fundamentada em eventos históricos como a industrialização europeia e a Primeira Guerra Mundial, que demonstravam a tendência do capitalismo de recorrer à guerra e à exploração para sobreviver.
O seu activismo custou-lhe a vida: foi assassinada, em 1919, por forças paramilitares, na Alemanha, após a fracassada Revolução Espartaquista, que tentava instaurar um Governo socialista no país. O seu corpo foi atirado para um canal, em Berlim, um acto brutal que simbolizou a repressão violenta dos ideais revolucionários da época. O seu legado, no entanto, continua vivo, inspirando movimentos sociais e académicos que estudam as contradições do capitalismo.
Limitações do seu pensamento
Embora a sua análise sobre a exploração do proletariado tenha sido amplamente reconhecida, Rosa Luxemburgo foi criticada pela sua visão sobre a acumulação do capital. Alguns economistas marxistas argumentam que o seu modelo simplifica a dinâmica interna do capitalismo e subestima a sua capacidade de adaptação. Ao afirmar que o sistema capitalista necessitava constantemente de novas áreas de exploração para sobreviver, Rosa Luxemburgo não considerou plenamente como o capitalismo poderia reinventar-se através de avanços tecnológi-
A sua teoria foi fundamentada em eventos como a industrialização europeia e a Primeira Guerra Mundial, que demonstraram que o capitalismo vive da guerra e da exploração
ROSA LUXEMBURGO
Rozalia Luksemburg é o seu nome original. Nasceu em 1871, na Polónia, numa família judaica. Desde jovem, destacou-se como activista socialista, ingressou no Partido do Proletariado e organizou greves. Perseguida, fugiu para a Suíça, onde estudou Direito e Economia. Mais tarde, mudou-se para a Alemanha e fundou o Partido Social-Democrata do Reino da Polónia. Durante a Primeira Guerra Mundial, denunciou o imperialismo e foi presa várias vezes. Em 1919, após a Revolução Espartaquista, foi brutalmente assassinada por paramilitares alemães.
cos e transformações na organização do trabalho, como ocorreu com o sistema de produção em massa, criado por Henry Ford, em 1913, e, posteriormente, com o neoliberalismo.
Além disso, a sua defesa da revolução proletária foi contestada por teóricos que acreditavam que mudanças progressivas podiam ser alcançadas através de reformas institucionais. Social-democratas e comunistas divergiram sobre as suas ideias, especialmente em relação à necessidade de uma revolução espontânea. Enquanto líderes como Lenine defendiam uma vanguarda revolucionária forte para dirigir a revolução, Rosa Luxemburgo acreditava que a classe trabalhadora deveria conduzir o processo de forma orgânica.
A relevância para Moçambique
Assim como a economista identificou a relação entre capitalismo e expansão colonial, Moçambique continua a gerir o que muitas correntes de opinião consideram ser um legado da exploração, agora sob a forma de investimentos (liderada tanto por moçambicanos como por estrangeiros), que nem sempre beneficiam a população das regiões onde estão a ser implementados. Por exemplo, os projectos de exploração de gás natural, em Cabo Delgado, e o de carvão, em Tete, continuam a revelar desigualdades, e os trabalhadores locais enfrentam, frequentemente, a precarização.
A luta por melhores condições de trabalho, a sindicalização e a procura por um modelo económico mais inclusivo são questões ligadas às ideias de Luxemburgo. Em Moçambique, os sindicatos enfrentam dificuldades em representar, efectivamente, os interesses dos trabalhadores, umas vezes devido à falta de independência política, outras vezes por receio de represálias. Além disso, o crescimento do sector informal, do qual depende a maioria da população, torna mais complexa a luta pelos direitos laborais, porque não há contratos formais ou protecção social.
O crescimento do sector extractivo, a dependência da economia em relação às exportações e o limitado acesso aos benefícios sociais evidenciam a necessidade de debater alternativas para garantir justiça social e um desenvolvimento sustentável.
Rosa Luxemburgo alertava que o capitalismo sempre procuraria novas formas de exploração, e este alerta é pertinente para países como Moçambique, onde as políticas de desenvolvimento precisam de equilibrar o crescimento económico com a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores.
João Gomes • Partner @BlueBiz joaogomes@bluebizconsultoria.co.mz
1Introdução
Este é o meu 50.º artigo na Revista Economia & Mercado e no Jornal Diário Económico. Vem este artigo a propósito da popularização do uso de Incubadoras de Negócios e Empresas em Moçambique, principalmente ao nível da Administração Pública1, da banca, das instituições de microcrédito e das universidades. E reconhecendo este facto, sem surpresa, o Programa Quinquenal do Governo 2025-2029 de Moçambique acolhe a criação, até 2029, de mais sete incubadoras, focadas em projectos inovadores nas cadeias de valor.
Neste artigo, partilho a minha experiência neste tema e desafio os meus leitores/as a responderem à seguinte questão: o que são, e porque falham as Incubadoras de Negócios e Empresas (INE) em África?
2. O que é uma Incubadora de Negócios e Empresas?
Na minha opinião, uma Incubadora de Negócios e Empresas (INE) caracteriza-se pela presença combinada dos seguintes elementos:
1- São mecanismos de estímulo e de protecção à recuperação e desenvolvimento económico: historicamente as INE nasceram para solucionar problemas em regiões económica e socialmente deprimidas.
2- [Mecanismos] que estão orientados a apoiar empreendedores/as a criar o seu negócio e empresa. Em função dos objectivos específicos pretendidos, as INE podem assumir modalidades distintas, sendo as mais comuns: i) híbridas (virtuais/físicas); ii) temáticas ou transversais; iii) de base tecnológica; iv) de impacto social, etc.
3- Uma categoria de [Empreendedores] merece particular destaque em África: os públicos vulneráveis (v.g. mulheres2 3; jovens; pessoas com deficiência; deslocados de guerra).
4- [Negócios e empresas] esses que estão em estágios iniciais4 do ciclo de
Incubadoras de Negócios e Empresas em África: o Que São, e Porque Falham?
vida: v.g. de i) Concepção; ii) Startup; iii) e Escala.
5- [Empreendedores/as] esses que procuram soluções de alojamento dos seus negócios e empresas que i) não exijam alto investimento inicial em capital fixo; ii) que tenham um baixo custo de operação; iii) e que permitam a rápida instalação e início da operação.
6- [Soluções de alojamento] cujos pré-requisitos passam por uma combinação entre i) Infra-estruturas e ii) Serviços de Apoio.
7- Ao nível das [Infra-estruturas], as INE encontram-se dotadas de um espaço físico, normalmente em instalações devolutas, sendo estas, tam-
9- [Infra-estruturas] essas que se encontram dimensionadas para equipas muito reduzidas 6 7 .
10- Ao nível dos [Serviços de Apoio] mais procurados pelos empreendedores/as nas destacam-se: i) Acesso a formação, mentoria, consultoria e coaching; ii) Acesso a financiamento; iii) Acesso a mercados; iv) Acesso a tecnologia; v) e Acesso a networking e parcerias de alto valor, internas (i.e. com as restantes empresas incubadas), e externas (i.e. acesso ao ecossistema empreendedor da região).
3. Porque Falham as Incubadoras de Negócios e Empresas?
O que são, e porque falham as Incubadoras de Negócios e Empresas (INE) em África?
bém, uma forma de recuperação imobiliária e arquitectónica de zonas urbanas e periurbanas deprimidas. Preferencialmente, as INE estão localizadas em “campus” universitários5 ou em parques industriais, ou em centros tecnológicos.
8- [Espaço físico] esse que se encontra convenientemente infra-estruturado: dotado de energia, telecomunicações, Internet, salas partilhadas de trabalho, salas de reunião, todas convenientemente equipadas com mobiliário de escritório e com equipamentos informáticos, laboratórios, anfiteatro, espaços verdes envolventes, parques de estacionamento, entre outras amenidades.
Contudo, apesar do aumento da procura dos serviços de incubação, as INE nem sempre conseguem oferecê-los (i.e. existem falhas no mercado da incubação).
Neste contexto, as falhas mais relevantes apontadas pelos empreendedores/as africanos nas INE são:
- Falta de instrumentos de financiamento para escalar o negócio (70%).
- Dificuldades em identificar e aceder aos mercados (50%).
- Falta de acesso a mentores qualificados (25%).
4. O papel dos Governos no apoio às INE
Tais [Falhas de Mercado] tendem a ser suprimidas pela intervenção directa dos governos fricanos que lançam mão dos seguintes tipos de apoio às INE:
- Formação em empreendedorismo: Formação em empreendedorismo para desenvolver as competências de que os empreendedores/as necessitam para criar e gerir empresas de sucesso.
- Programas de mentoria : Criação de programas de mentoria que conectam jovens empreendedores/as com líderes empresariais e mentores experientes.
- Serviços de consultoria empresarial: Prestação de serviços de consultoria
Jovens empreendedores podem ter sucesso nas novas incubadoras
empresarial, incluindo planeamento financeiro, estudos de mercado e desenvolvimento de estratégias empresariais.
- Acesso aos mercados: Programas de agilização do acesso aos mercados locais e internacionais. Tal inclui a facilitação de missões comerciais e o apoio a campanhas de marketing internacionais.
- Apoio à ligação em rede: de ligação em rede entre empresários, investidores e outras partes interessadas.
- Financiamento de arranque: Apoio às INE, concedendo financiamento de arranque, podendo assumir a forma de subvenções, empréstimos ou subsídios, ou oferecendo garantias de empréstimo.
5. A mãe de todas as limitações: a auto-sustentabilidade
A auto-sustentabilidade financeira surge como a principal limitação das INE Africanas. Neste contexto, e com o propósito de ultrapassar tal limitação, as INE têm lançado mão das seguintes fontes de receita:
- Formação: Oferecer cursos especializados para empreendedores/as e empresas que não necessitam de apoio da INE.
- Consultoria empresarial: Oferecer serviços de consultoria a empreendedores/as ou empresas que não são incubados na INE
- Arrendamento de espaço: arrendamento de espaços (v.g. equipamentos audiovisuais, anfiteatros, laboratórios) para empresas e empreendedores/as que não necessitam de apoio da INE.
- Realização de eventos : Organização de eventos temáticos como forma de gerar receitas adicionais e aumentar a visibilidade da INE
- Comercialização de produtos : A INE pode desenvolver produtos em parceria com empreendedores/as e comercializá-los (v.g. a Loja do Empreendedor/a, em Pemba).
- Subsídios : Procurar subsídios e fundos para o desenvolvimento de projectos e programas.
6. Conclusão
Ao longo deste artigo, explorei a relevância das Incubadoras de Negócios e Empresas (INE) em África, destacando o seu papel enquanto mecanismos de transformação e estímulo ao desenvolvimento económico e social, particularmente em regiões deprimidas. Uma INE caracteriza-se pela sua capacidade de acolher empreendedores em
estágios iniciais do ciclo de vida dos negócios — da concepção à fase de escala. Estes espaços oferecem não apenas infraestruturas preparadas para acolher negócios com baixos custos de operação, mas também serviços de apoio essenciais como formação, mentoria, acesso a mercados, e networking estratégico.
As principais razões para o falhanço das INE em África decorrem da incapacidade de responder adequadamente às necessidades dos empreendedores.
A questão da auto-sustentabilidade financeira é, indiscutivelmente, a “mãe de todas as limitações” enfrentadas pelas INE. A dependência de financiamento externo, sem a criação de fontes de receita sustentáveis, compromete a longevidade destas estruturas. Nesse sentido, é necessário um modelo de negócios que diversifique as fontes de receita.
Os governos africanos têm um papel determinante na superação destas barreiras, oferecendo apoio estruturado às INE através de programas de financiamento, formação e consultoria empresarial, além de facilitar o acesso a mercados nacionais e internacionais. Esta intervenção governamental, quando alinhada a parcerias público-privadas, pode catalisar o desenvolvimento de ecossistemas empreendedores robustos e sustentáveis.
As INE em África são mais do que espaços físicos; são plataformas de transformação social e económica, capazes de impulsionar a criação de empregos e fortalecer a resiliência de comunidades vulneráveis. Acreditar nas incubadoras é acreditar no potencial de África para inovar, criar e prosperar.
1 INEP; INCM; INEGI.
2 Mais de 60% das startups incubadas em África são lideradas por mulheres (AfDB).
3 Em 2020, o número de mulheres empreendedoras em África cresceu 21%, impulsionado por iniciativas de incubadoras de negócios voltadas para a igualdade de género (WEF, 2021).
4 Em 2019, a maioria dos investimentos em startups africanas foi realizada em estágios iniciais (54%) ou de crescimento (33%) (Partech Ventures).
5 Cerca de 70% das incubadoras de negócios em África têm parcerias com universidades, contra 80% no Brasil (VC4A).
6 Um estudo de 2020 sobre as incubadoras de negócio em Moçambique, realizado pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos, mostrou que as empresas incubadas criaram em média 5 empregos cada.
7 Um relatório de 2018 do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) mostrou que as empresas que receberam apoio das suas incubadoras criaram em média 3 empregos cada, contra 2,2 empregos cada no Brasil.
“A Sustentabilidade é um Compromisso Estratégico do BCI”
O BCI deu, recentemente, um passo estratégico ao criar uma Direcção de Sustentabilidade, reafirmando o seu compromisso com uma gestão bancária mais responsável e alinhada com os desafios ambientais, sociais e de governança (ESG)
Texto & Imagem • M4D
Aintegração dos critérios ESG está, nos últimos anos, a transformar profundamente o sector financeiro mundial, impondo mudanças operacionais, regulatórias e estratégicas no qual os bancos deixam de ser apenas instituições financeiras para se tornarem agentes activos da transição sustentável, alinhando as suas operações com metas ambientais e sociais e condicionando o financiamento à adopção de boas práticas.
As exigências regulatórias da UE — como o Pilar 3 e indicadores como o Green Asset Ratio — aceleraram essa transformação, e começam a ser bastante comuns alguns produtos directamente associados à sustentabilidade, como green bonds e empréstimos indexados a metas ESG, entre outros. E ao passo que a banca se torna cada vez mais digital e orientada pela big data, reforça a sua governança com foco na diversidade, integridade e transparência, consolidando o ESG como pilar estratégico irreversível.
E esta é uma tendência que começa, também, a chegar a Moçambique. Numa entrevista à Revista E&M, José Alberto Gamito, que lidera a recém-criada Direcção de Sustentabilidade do BCI, aborda precisamente esta transformação em curso no banco, deixando bem claro que este novo caminho “resulta de uma decisão consciente de uma liderança transformadora.” E coloca o foco na inclusão, na literacia ambiental, na saúde e bem-
-estar dos colaboradores, revelando a forma como o banco pretende integrar os princípios da sustentabilidade em toda a operação, da concessão de crédito à criação de produtos financeiros diferenciados. O objectivo, sublinha, passa por “criar valor partilhado, promover uma cultura de responsabilidade e contribuir para o desenvolvimento sustentável de Moçambique.”
O que motivou o BCI a criar uma Direcção de Sustentabilidade?
A Direcção de Sustentabilidade do BCI não surge por pressão externa nem por qualquer exigência regulatória. Faz parte da estratégia do Banco. A sustentabilidade é uma forma de pormos as pessoas a falar com a instituição e não sobre ela. Percebeu-se, por um lado, que este é o caminho a seguir, mas, sobretudo, entendeu-se, também que utilizar um órgão de estrutura centralizador dos temas da Sustentabilidade e do ESG permitiria construir pontes e não muros. A decisão da criação da Direcção de Sustentabilidade vem ampliar esta visão estratégica e ressignificar a transparência, a forma como se quer comunicar com a sociedade e com as comunidades com que se trabalha em matérias específicas e fortalecer a sua [já robusta] governança em matéria de Risco Climático e Ambiental. Utilizar um ciclo mais longo de Sustentabilidade em detrimento de uma janela mais curta (conceito ESG) foi a solução. Fazer da Sustentabilidade um com-
“Vamos passar a considerar o impacto do clima sobre a produtividade, sobre as cadeias de valor e a previsibilidade do mercado. Ignorar esta nova dimensão pode custar caro em valor de mercado, reputação ou até perenidade do negócio”
promisso colectivo: articulação, coerência e, principalmente, o estreitamento de relações entre as lideranças pública e privada. É sobre mudança cultural, gestão de expectativas e execução da transformação.
Sendo um banco sistémico no panorama financeiro nacional, que importância tem esta aposta na sustentabilidade para o posicionamento do BCI?
A criação desta Direcção representa uma mudança de paradigma na banca nacional. Vamos passar a considerar o impacto do clima sobre a produtividade, sobre as cadeias de valor e a previsibilidade do mercado. Ignorar esta nova dimensão pode custar caro em valor de mercado, reputação ou até perenidade do negócio. Na prática, isto significa olhar tanto para o que é financeiramente relevante quanto para o que é significativo em termos de impacto. Só assim se obtêm resultados: serena e prudentemente, mas com perseverança, consistência e eficácia. O que funcionou até aos tempos actuais foi suficiente até agora. Mas as relações comerciais tendem a mudar e, com elas, os critérios de permanência no mercado. Ver o sector público reconhecer que as matérias de Sustentabilidade e ESG são um vector de transformação social e institucional é um sinal dos tempos. Mais do que isso, é uma resposta à urgência que nos cerca: eventos climáticos extremos, pressão para a inclusão real e exigência de uma gestão pública e privada mais eficiente e transparente. Estes padrões são especialmente relevantes para as entidades que procuram captar financiamento junto das entidades multilaterais. Os novos padrões de financiamento exigirão um compromisso real com o desenvolvimento sustentável, a mitigação de riscos climáticos e ambientais e com a promoção de impactos positivos na sociedade.
Director
JOSÉ ALBERTO
GAMITO
Quais serão as principais áreas de actuação desta nova Direcção?
A sustentabilidade é rotina, é processo e é ajudar as outras direcções ou áreas a melhorar todos os dias. Com este carácter de transversalidade que se lhe atribui, a aposta da Direcção está, assim, centrada na inclusão, na educação, na disseminação da literacia ambiental, na saúde e no bem-estar. Esta vivência prática é o que transformará este conhecimento que o BCI está a acumular. A Sustentabilidade não começa com relatórios, mas com cultura, com governança e coragem para mudar. E vai mudar mesmo. Este modelo de actuação fará uma ligação de forma estruturada da Sustentabilidade à Governança, da Sustentabilidade à Estratégia e da Sustentabilidade à Gestão de Riscos com foco no desempenho global do banco.
Que objectivos concretos foram traçados para o curto prazo? A intervenção do BCI nesta temática estabelece o alinhamento das prioridades com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nos quais a actividade do banco poderá ter um impacto material, nomeadamente em três alavancas principais: Pessoas, Tecnologias e Processos. Uma Estratégia de Sustentabilidade bem-sucedida não apenas mitigará riscos, como também criará oportunidades de inovação, de crescimento e, naturalmente, põe em evidência um dos propósitos centrais da instituição: potenciar o talento e promover novas competências aos colaboradores, medindo o valor e o impacto que esta estratégia traz. Portanto, é uma questão de vocação e de criação de valor. O BCI aprovou, em 2024, a sua Abordagem à Sustentabilidade, integrou no Thematic Review 2023 – 2030 por via da corporativização e desencadeou um vasto conjunto de iniciativas sustentáveis no âmbito dos seus processos centrais de negócio. Reforçou o seu modelo e estrutura de governança e as suas linhas de reporte local. Aprovou as Políticas de Sustentabilidade, de Financiamento Sustentável e de Riscos Climáticos e Ambientais. E, por fim, construiu o seu próprio Modelo de Rating ESG. Lançou conteúdos temáticos e hot topics sobre o ESG e a Sustentabilidade, que disponibilizou a todos os colaboradores, promovendo a formação das áreas comerciais de Norte a Sul do País.
E olhando mais para o médio prazo, qual é a visão de futuro nesta área?
O evoluir da sociedade eleva a nossa interacção e dependência, impactando, de forma directa ou indirecta,
sobre o meio ambiente. É disto que se trata. Todos os modelos económicos têm valor, inegável, no ecossistema empresarial. A principal distinção entre eles reside nas suas métricas de sucesso: a primeira pela maximização do lucro, e a segunda pelo impacto social e ambiental positivo integrando o bem-estar, a ética, a responsabilidade, a integridade e a confiança, fundada ou alicerçada, portanto, em valores humanos. O desiderato desta Direcção é encontrar o justo equilíbrio na estratégia e no modelo de integração: trabalhar em mecanismos de contingência de riscos climáticos e ambientais robustos e preparados para responder aos desafios, dos mais simples aos mais complexos. O BCI não está alheio ao que, de facto, importa: rever a sua grelha de oferta para incluir produtos sustentáveis e repensar a diferenciação de pricing para as operações com marcadores ESG.
Só assim se obtêm resultados: serenamente, mas com consistência e eficácia.
“Os novos padrões de financiamento exigirão um compromisso real com o desenvolvimento sustentável, com a mitigação de riscos climáticos e ambientais e com a promoção de impactos positivos”
Como será feito o envolvimento de clientes, parceiros e colaboradores nesta agenda de sustentabilidade?
O BCI implementará um conjunto de iniciativas para ajudar os seus parceiros e clientes a descarbonizar, disponibilizando, futuramente, o financiamento de transição, e poderá ter de reduzir a sua exposição a clientes com capacidade ou disponibilidade limitada para o fazer. Esta abordagem vai integrar-se na nossa missão de “Mudar para Melhor”, promovendo um equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade e enfatizando a circularidade que permitirá ao banco não só inovar no desenvolvimento de soluções mais sustentáveis, como também diminuir, na medida do possível, o seu próprio impacto ambiental. Esta última abordagem é suportada por três grandes prioridades estratégicas: Simplificar, Maximizar e Recuperar.
Os critérios de sustentabilidade passam, assim, a ter um peso decisivo na política de risco
do banco e a fazer parte das decisões de crédito, investimento e avaliação de projectos, é assim? Globalmente, sim, no âmbito das Taxonomias de riscos do banco e no quadro de governança actual da instituição. O certo é que compreendemos que manter a Sustentabilidade e o ESG separados do risco, do compliance, da auditoria, da logística ou do ecossistema dos fornecimentos não seria apenas ineficiente, como arriscado. O BCI não considera esta associação como uma tendência, mas antes como uma camada crítica e transversal do seu sistema de gestão de riscos. Já é e será cada vez mais uma necessidade. Neste aspecto, o futuro da governança será híbrido: dados, intuição e coragem para fazer o que deve ser feito. No entanto, a verdadeira agregação e integração dos riscos ESG e de Sustentabilidade chegará em pleno e contribuirá para a tomada de decisões de financiamento quando for estabelecida uma linguagem hierárquica e escalas comuns
de classificação de risco climático e ambiental. A regulação e supervisão bancárias desempenharão, neste aspecto, um papel absolutamente central. Por outro lado, o País deve fazer do financiamento sustentável uma prioridade política. Já todos percebemos que na balança, tanto a estabilidade como a sustentabilidade assumem semelhante nível de importância e são incontornáveis para o desenvolvimento do País e para o sector financeiro em particular. Moçambique tem de desenvolver a sua taxonomia sustentável transitória, promover a consulta pública tendo em conta o papel e o benefício das populações locais e comunidades e acelerar o pacote legislativo, sobretudo o incentivo fiscal.
Como é que toda esta nova dinâmica pode beneficiar, não só os clientes do banco, mas também o tecido económico e social do País?
A Direcção executará uma estratégia de suustentabilidade aprovada, quando o for, pelos órgãos de liderança da instituição, adaptada a esta geografia, com o propósito de identificar desafios, captar oportunidades e viabilizar o financiamento de projectos sustentáveis. A execução não é um mero detalhe técnico. É o que fará a diferença entre formulação e acção real. Portanto, fá-lo-á com o brio institucional de continuar a educar pelo exemplo, com rigor e compromisso. Essa tem sido, e continuará a ser, a missão do BCI, e é, nesta fase, a minha missão. Venham os debates, os dados, os projectos e, principalmente, a acção. A vasta biodiversidade moçambicana, incluindo os seus ecossistemas e vida selvagem únicos, são um tesouro que deve ser protegido para as gerações futuras através da colaboração estratégica com entidades com ideias semelhantes nos sectores público, privado e de apoio ao desenvolvimento. Ao apoiarmos o empreendedorismo e a inovação ‘verde’, incentivarmos o envolvimento em parcerias e investimentos estratégicos e a defesa de práticas sustentáveis, estamos a assumirum compromisso público. É fundamental que, de acordo com a sua realidade de negócio, as empresas demonstrem um compromisso público e se proponham cumpri-lo. Este modus faciendi é um sinal demonstrativo para os stakeholders das suas reais intenções para além do impacto.
O verdadeiro diferencial reside na capacidade de traduzir estes impactos em matéria de Sustentabilidade em decisões estratégicas, culturais e de governança adequada.
“Moçambique Tem Talento, Ambição e Potencial Para Surpreender”
Recém-nomeado Office Managing Partner da EY em Moçambique, Bruno Dias partilha uma visão abrangente sobre os desafios e oportunidades do País, da digitalização à melhoria do ambiente de negócios, sem esquecer a necessidade de aumentar o investimento externo para fazer crescer a economia
Texto
Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva
Bruno Dias assume a liderança da EY em Moçambique numa altura crucial para a economia nacional. "Estamos num momento decisivo", reitera. Com seis anos de experiência neste mercado, assume agora a liderança de todas as linhas de serviço da consultora no País.
A prioridade, assinala, passa agora por fortalecer a presença da empresa em áreas estratégicas como a tecnologia e a inovação — com ênfase na digitalização e na IA — bem como pela consolidação dos diversos segmentos em que a EY já detém uma posição relevante no mercado, nomeadamente na auditoria e consultoria.
Com um olhar panorâmico sobre a actualidade económica, aponta à "necessidade" de um maior investimento em áreas fundamentais como as infra-estruturas, agricultura, indústria e turismo, até para fazer face aos riscos da “doença holandesa” no contexto de uma excessiva potencial dependência do gás natural. Sublinha, ainda, a importância de um ambiente de negócios mais transparente, com justiça confiável e incentivos fiscais "claros", para atrair investimento privado e garantir "crescimento sustentável" de Moçambique.
Num momento em que assume a liderança da EY no País, o que vai mudar, a curto e médio prazo?
Anteriormente era responsável pela área de consultoria e, neste momento, sou Office Managing Partner. Nós (EY) estamos organizados no cluster de Portugal, que engloba os países lusófonos. Deixei de ter apenas responsabilidades na consultoria e passei a supervisionar também as outras linhas de serviço, em conjunto com os outros sócios, obviamente. O que muda, essencialmente, é que numa função como esta há que adoptar uma visão mais holística e transversal alinhada com a estratégia global da EY, lançada pela nossa CEO e que assenta em vários pilares.
As principais áreas são a auditoria, fiscalidade e consultoria. A auditoria é um negócio bastante regular, em que o mercado é muito estável ao longo dos anos e tem rotações normais. Logo, aí, não antevemos que o mercado vá crescer muito. Onde realmente se pode criar mercado é nas áreas de consultoria ou nas associadas à fiscalidade, ou seja, fora dos serviços tradicionais. Vamos querer crescer numa área a que chamamos de managed services, que é um outsourcing de serviços, não só o tradicional de contabilidade, mas também na banca, onde suportamos alguns dos processos que esta já tem em outsourcing. Já na consultoria, o grande vector de crescimento é a tecnologia. Há seis anos, quando cheguei, não tínhamos consultoria tecnológica, mas hoje dispomos de uma equipa que cresceu connosco, aqui dentro.
“A tecnologia é um motor real de mudança em Moçambique: há talento local, vontade de inovar e projectos públicos e privados com grande ambição. E estamos no centro disso"
Quando fala em potencial de crescimento, em que áreas está a pensar?
A IA, sem dúvida, e a digitalização das operações. O sector empresarial moçambicano e mesmo alguns clientes mais sofisticados na área financeira têm grandes apostas em curso na transformação digital. O Estado também. Lembre-se que têm sido lançados, agora, bastante concursos de transformação digital, como o Portal do Cidadão ou o da interoperabilidade entre Ministérios, suportado pelo Banco Mundial. Nós queremos estar associados a estes projectos, quer no sector público, quer no sector privado.
Depois, de há alguns anos para cá, tem-se falado em introduzir o SAFT, que é uma tecnologia que foi implementada em vários países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). Portugal foi pioneiro, mas, por exemplo, Angola e Cabo Verde têm o SAFT implementado. Moçambique, neste momento, está a olhar para esta possibilidade que, no fundo, é um intercâmbio digital de facturas entre a Autoridade Tributária e as empresas contribuintes, que vai permitir cruzar dados e fazer um compliance fiscal muito mais aportado. Em todos os países onde foi implementado, teve um efeito grande na receita fiscal. Houve um aumento significativo da receita fiscal, e em Moçambique isso pode também acontecer.
Fomos consultores nesse projecto e é neste tipo de acções que queremos estar, agregando, claro, o know-how que temos a nível interno, agregando a expertise da nossa rede de consultores em vários mercados.
Qual será o papel da tecnologia nos próximos anos da economia?
A tecnologia é fundamental para ultrapassar muitos dos desafios do
BRUNO DIAS
Office Managing Partner da Ernst & Young em Moçambique
desenvolvimento num país como o nosso. É certo que há zonas com menor conectividade, mas, nos projectos que temos feito, mesmo nas províncias e nos distritos, ficamos muito surpreendidos pela utilização massiva de telemóveis, das redes sociais ou das carteiras móveis por parte dos jovens e pela população no geral. Por outro lado, tudo o que tem que ver com a IA e automatização de processos já é uma realidade aplicada em várias empresas moçambicanas. Numa visita recente a um cliente da área da logística, fiquei bastante impressionado com o trabalho interno que têm feito com as suas equipas, em desenvolver apps internamente, com capital humano moçambicano.
O nível dos estudantes de tecnologia que saem das faculdades em Moçambique é animador, e nós trabalhamos com inúmeros jovens formados nessas áreas, que cresceram dentro da EY com a entrada de novos serviços, trabalhando em equipas das várias geografias onde estamos.
Como analisa o panorama actual da economia moçambicana e as perspectivas a médio prazo?
Tanto ao nível de Moçambique como ao nível internacional, eu acho que estes anos são sui generis. Em Moçambique, como é sabido, depois das eleições (no ano passado) há um novo Governo. Houve uma fa-
BRUNO DIAS
Licenciado em Engenharia pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa e com uma pós-graduação em Information Management and Business Intelligence in Healthcare pela Universidade Nova de Lisboa, conta com uma vasta experiência em consultoria, com enfoque em estratégia, transformação digital, risco, compliance e transformação de modelos de negócio nos sectores público, financeiro, energia, saúde e telecomunicações. Trabalhou anteriormente noutras multinacionais e integrou o escritório da EY em Lisboa e o EMEIA Consulting Center. Tem conduzido projectos relevantes em Moçambique, como diagnósticos para o sector bancário, estudos socioeconómicos, iniciativas de cibersegurança, definição de políticas públicas e planos estratégicos em tecnologia e logística. Assume, neste mês de Julho, o cargo de Office Managing Partner da EY no País.
se de instabilidade social, neste momento já amenizada. A nível económico, temos a questão da dívida pública. Tivemos um primeiro trimestre de contracção económica com o PIB a decrescer 3,92%, e vamos ver o que nos dirão os números do segundo trimestre. Há também o contexto da escassez de divisas, que torna difíceis as operações das empresas importadoras. Tudo isto são temas de curto prazo, que têm de ser resolvidos na economia de Moçambique. A médio prazo, são as questões estruturais: o País tem de ser infra-estruturado porque, sem isso, será difícil haver crescimento nos sectores primário (agricultura) e secundário (indústria). É preciso haver uma espinha dorsal de infra-estrutura neste país que é muito grande, com quase 3000 km de Norte a Sul, em que a capital está no Sul e os projectos de gás estão no Norte. Diria que, para além da agricultura e da indústria, o turismo é fundamental e precisa de alguma atenção.
Mas também para isso é preciso investimento. Por onde começar? É preciso investimento externo, mas há que se ser criativo e trabalhar noutras formas de o fazer. Há que pensar em Parcerias Público-Privadas (PPP), em concessões. Existe, com certeza, algum dinheiro que pode ser disponibilizado, mas para o peso das contas públicas, tal como estão
“Os projectos de gás são bons, obviamente, mas não podem ser o foco único que, na nossa opinião, deveria ser orientado para as indústrias que fazem crescer a economia de forma sustentável"
dizer que fico surpreendido com a qualidade de alguns dos jovens que temos recrutado nos últimos tempos. Estou optimista quanto ao futuro, sem dúvida.
Agora que está a assumir um novo papel na sua carreira, num contexto local e internacional bastante imprevisível, como é que se planeia a médio e longo prazo neste tipo de cenário?
Lembro-me perfeitamente quando cá cheguei (há seis anos), antes da covid-19: aquilo que tinha planeado para os programas seguintes, nada disso se realizou. Como diz, hoje em dia é muito difícil fazer planos a muito longo prazo, evidentemente. E falo de questões mais globais, locais, como o câmbio do dólar, que quando flutua tem impacto na operação, na balança comercial do País, em tudo. E claro, se olharmos para fora, tudo o que tem que ver com a nova administração dos EUA vai ter um impacto muito grande aqui em Moçambique, como teve também, para nós (EY), que tínhamos bastante projectos a nível das agências americanas que viram o seu financiamento congelado pelo DOGE de Elon Musk.
hoje em dia, é preciso capital privado. Há também muito mais temas de project finance, etc., na banca tradicional.
Falando de gás, existe a noção de que os projectos estão perto de retomar. Como vê isso?
O GNL vai ser fundamental para o desenvolvimento económico no curto prazo. Mas muito cuidado com a doença holandesa. Este país não pode crescer alavancado pelo gás ou apenas nos projectos energéticos. Tem de se pensar e estruturar os sectores de maior impacto económico, nomeadamente a agricultura e a indústria. Mais uma vez, para isso acontecer, são precisas boas infraestruturas. Os projectos de gás são bons, obviamente, mas não podem ser o foco único que, na nossa opinião, deveria ser orientado para as indústrias que fazem crescer a economia de forma sustentável.
O desenvolvimento depende também do ambiente de negócios. O que é que deveria mudar nos próximos tempos em relação a este aspecto?
São muito importantes os incentivos e as políticas fiscais para os investimentos irem para o sítio certo. O Estado deve ser ser vis-
to como uma contraparte de confiança nas operações. Como? Por exemplo, fazendo os reembolsos do IVA na altura certa, programas de incentivos fiscais bem estruturados, regulando.
E há algo que é fundamental para qualquer empresa externa, em qualquer país, que é a confiança no sistema de justiça, fundamental para que quem investe saiba que os checks and balances existem e que se pode confiar neles, do sistema de justiça ao governance das empresas públicas. É muito importante o compliance, principalmente para as empresas multinacionais que, antes de investirem numa geografia, olham primordialmente para isto.
Que patamar de desenvolvimento Moçambique é capaz de alcançar? Os primeiros sinais do novo Governo são animadores. Se conseguirmos ir resolvendo estes desafios, não tenho dúvidas de que Moçambique é um País com o tal imenso potencial de que tanto se fala. Está geograficamente muito bem posicionado para a conectividade internacional, tem uma imensa mão-de-obra e um enorme potencial natural. Precisa, obviamente, de formação de qualidade no ensino, quer de base, quer universitário, para a criação do conteúdo local. Mas devo
Aí, de facto, tivemos de nos reinventar, e creio que será essa capacidade adquirida por força das circunstâncias uma das mais-valias de todas estas mudanças. Mas genericamente, quanto a Moçambique, os sinais são bons. O commitment da actual administração é notório, e na nossa opinião está-se a olhar para os sítios certos e para projectos estratégicos que podem ser implementados.
A conjuntura económica tem vários desafios, como dizia, mas acho que resolvendo alguns dos temas de curto prazo de que falámos, podemos depois, todos, sector público e privados, focar-nos no crescimento e no futuro.
E, nesse futuro, qual o vosso papel? Eu gostava que os nossos clientes, dos sectores privado e público, olhassem para a EY como um parceiro no seu caminho de desenvolvimento. A EY, em Moçambique, sempre teve um brand muito reconhecido. Caminhamos nos 'ombros de gigantes' e, hoje, tenho a perfeita noção que começo uma função com muito trabalho já feito atrás de mim, e com uma brand muito sustentada em Moçambique. Obviamente que queremos crescer e ser parceiros de confiança, quer no sector público, que tem enormes desafios nos próximos anos, quer no privado, onde temos vários tipos de expertise internacional providenciada pela nossa rede, e que podemos pôr à disposição dos nossos clientes de uma forma rápida e eficaz.
Seguro Agrícola em Moçambique: Como Torná-lo Funcional Para os Pequenos Agricultores
Aagricultura é a espinha dorsal da economia moçambicana, empregando mais de 70% da população activa, sobretudo nas zonas rurais, onde escasseiam alternativas de rendimento. Em 2023, o sector representava mais de um terço do PIB. Este peso económico e social torna a agricultura central para qualquer estratégia de desenvolvimento inclusivo.
Contudo, o seu potencial é sistematicamente comprometido por vários constrangimentos incluindo falta de tecnologias agrícolas, acesso limitado ao financiamento e, cada vez mais, os impactos imprevisíveis das alterações climáticas.
Neste contexto, o seguro agrícola — sobretudo o de riscos climáticos — deixa de ser um luxo e passa a ser uma necessidade. Mas apesar do seu valor estratégico, continua a ser um instrumento pouco acessível, mal compreendido e raramente utilizado pelos que mais dele precisariam: os pequenos agricultores.
Inovar para incluir: Seguro de Índices Climáticos
Um dos nossos principais marcos foi a introdução do seguro agrícola de índices climáticos, que utiliza indicadores objectivos — como níveis de precipitação ou humidade do solo, medidos por satélite — para acionar compensações automáticas. Este modelo reduz custos operacionais, elimina a subjectividade das avaliações e acelera os pagamentos, permitindo aos agricultores recuperar rapidamente após choques climáticos como secas ou cheias.
Contudo, rapidamente percebemos que inovação técnica não é sinónimo de adopção em massa. Em 2012, com o apoio do Banco Mundial e do Governo de Moçambique, lançámos na Hollard o nosso primeiro produto de seguro de índices climáticos. O piloto foi financeiramente eficaz: as compensações pagas foram quase o triplo do valor dos prémios cobrados. Ainda assim, o mesmo seguro não foi renovado no ano seguinte. Nem mesmo os beneficiários directos mostraram interesse em continuar o seguro no ano seguinte.
O futuro da agricultura moçambicana depende, em larga medida, da sua capacidade de gerir riscos e construir resiliência. E para isso, o seguro de índices climáticos pode ser mais do que uma rede de segurança
O desafio dos modelos convencionais
Mais de 98% dos agricultores em Moçambique são pequenos produtores, frequentemente excluídos das soluções convencionais de seguro baseadas em indemnizações após avaliações de campo. Estes modelos, para além de morosos e dispendiosos, não são tecnicamente adaptados às dinâmicas locais.
Na Hollard Seguros, percebemos cedo que não bastava adaptar os produtos existentes — era necessário repensar por completo o conceito de seguro agrícola. A nossa abordagem partiu de uma ideia simples: o seguro só pode funcionar se estiver plenamente alinhado com as necessidades e realidades dos pequenos produtores.
Um Momento de Viragem:
Oportunidade na Sementeira
Foi numa situação corriqueira — a compra de sementes para a minha própria machamba — que a solução começou a desenhar-se. O vendedor garantiu uma taxa de germinação de 85%, desde que certas condições fossem cumpridas. Esta “garantia condicional” soava, em muitos aspectos, como um contrato de seguro. E surgiu a pergunta: por que não integrar o seguro directamente no produto agrícola que o agricultor já está predisposto a comprar?
Assim nasceu a nossa estratégia de integração do seguro agrícola na cadeia de insumos, especialmente nas sementes híbridas. Esta abordagem demonstrou ser eficaz tanto do ponto de vista
Israel Muchena • Hollard Seguros
Seguro agrícola em Moçambique visa proteger quem alimenta o País
da adopção como da sustentabilidade comercial.
Para além do seguro: Construir ecossistemas de resiliência
É fundamental reconhecer que nem todos os riscos são seguráveis. Como parte dos efeitos das alterações climáticas, em quase todas as campanhas existe quase sempre o risco ligeiro a moderado de secas. O seguro é solução mais custo-efectivo para riscos severos e extremos. A melhor forma de gerir os riscos ligeiros e moderados é o melhoramento da resiliência do agricultor com a aplicação de técnicas melhoradas de agricultura de conservação e o uso da tecnologia como as sementes resilientes. Por isso, o seguro não deve ser visto como solução isolada, mas como parte de um ecossistema agrícola robusto, capaz de gerar valor e mitigar riscos de forma integrada.
Fazer os Mercados Funcionarem Uma das grandes lições que tirámos foi a importância de fortalecer, e não substituir, os mercados formais de fornecimento de insumos. Programas de doação de insumos, embora bem-intencionados, podem ter efeitos perversos sobre o desenvolvimento de mercados formais — desincentivando a produção local, distorcendo preços e afastando investidores privados.
A nossa estratégia foi inversa: trabalhámos com os fornecedores privados de sementes como parceiros estratégicos. Mesmo após o fim do financiamento externo, estes actores mantiveram-se no mercado, sinalizando que é possível construir resiliência com dignidade e sustentabilidade, e não com dependência.
A pergunta certa: Quem deve tomar as decisões?
Muitos fóruns internacionais continuam a perguntar: “Como convencer os pequenos agricultores a comprar seguros?” Mas talvez devêssemos reformular a pergunta: quem tem poder e responsabilidade para fazer o sistema funcionar?
A resposta não está apenas no agricultor. Está em todo o ecossistema — fornecedores de sementes, agregadores, reguladores, instituições financeiras — que deve ser mobilizado e capacitado para criar um mercado funcional e inclusivo. Um exemplo promissor é o nosso modelo de transferência de risco embutido nas sementes, com potencial de escala para atingir milhões de produtores em Moçambique.
Uma nova visão para o seguro agrícola
No fim de contas, o seguro agrícola inclusivo não é apenas uma inovação financeira. É uma estratégia de desenvolvimento. É um mecanismo para prote-
ger meios de vida, aumentar a produtividade e garantir segurança alimentar. Não deve ser visto como um benefício de elite urbana, mas como um direito económico dos produtores rurais. Para isso, é essencial mudar a forma como olhamos para os agricultores: de receptores passivos para co-criadores da sua própria resiliência. Com políticas certas, tecnologia adequada e vontade colectiva, o seguro agrícola pode ser o catalisador de uma nova era na agricultura africana.
O futuro semeia-se hoje
A experiência da Hollard Seguros prova que o fracasso inicial do seguro agrícola não foi do produto, mas da forma como este era apresentado e distribuído. Ao integrá-lo na cadeia de valor — sobretudo das sementes — conseguimos aumentar a relevância, a confiança e a adesão.
O futuro da agricultura moçambicana depende, em larga medida, da sua capacidade de gerir riscos e construir resiliência. E para isso, o seguro de índices climáticos pode ser mais do que uma rede de segurança: pode ser o fertilizante invisível que transforma o risco em oportunidade.
Porque quando se semeia confiança, colhe-se segurança! E nenhum agricultor deveria enfrentar a próxima campanha sem isso.
moçambique digital
Equipa moçambicana venceu a final global do evento, em Londres, com uma solução tecnológica inovadora.
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Num momento em que a digitalização ganha cada vez mais importância no dia-a-dia de famílias e empresas moçambicanas, a Vodacom lança o serviço KayaNet, uma solução de Internet de banda larga fixa assente no potencial da fibra óptica. 66
As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo
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Vodacom Aposta na Banda Larga Fixa Com o Lançamento do KayaNet
Num momento em que a digitalização ganha cada vez mais importância no dia-a-dia de famílias e empresas moçambicanas, a Vodacom lança o serviço KayaNet, uma solução de Internet de banda larga fixa assente na fibra óptica
Oobjectivo é claro: responder à crescente demanda por conectividade fiável, rápida e acessível, tanto para uso residencial como profissional. Em entrevista exclusiva à revista Economia & Mercado, Marcel Steyn, Chefe de Departamento de Banda Larga Fixa da Vodacom Moçambique, explica a visão estratégica por detrás do KayaNet e revela os próximos passos da empresa para expandir a inclusão digital no País.
O que motivou o lançamento do serviço Vodacom KayaNet e como é que este responde à crescente procura por acesso à Internet fixa em Moçambique?
A Vodacom está comprometida em fornecer soluções de banda larga fixa não apenas para grandes empresas, mas também para consumidores e pequenas e médias empresas (PME). O Vodacom KayaNet conectará os nossos clientes ao mundo digital em constante evolução, permitindo que as famílias façam parte da aldeia global, e que as PME expandam as suas operações comerciais digitais. À medida que os nossos clientes adoptam, cada vez mais, um estilo de vida e uma abordagem de negócios digitais, a banda larga fixa de qualidade torna-se crucial para apoiar estas novas exigências de vida e trabalho.
Assim como os serviços de Voz e Dados Móveis revolucionaram a forma como os cidadãos moçambicanos se comunicam, trabalham, se divertem e fazem negócios, a banda larga fixa é fundamental para o próximo passo na evolução da sociedade e da economia de Moçambique. O Vodacom KayaNet é uma proposta projectada para responder a todos estes requisitos, abrindo oportunidades ilimitadas para que os nossos clientes abracem o futuro digital.
O KayaNet usa tecnologia de fibra óptica. Qual é o diferencial desta solução em comparação com outras ofertas de Internet no mercado nacional?
A Vodacom sempre se orgulhou de fornecer a melhor rede de telecomunicações em Moçambique. Aplicámos esta mesma exigência ao desenhar e implementar a nossa solução de fibra para o Vodacom KayaNet. Estamos a usar as mais recentes soluções de tecnologia FTTX (fibra para casa ou empresa), que nos dão a capacidade de escalar facilmente a nossa rede à medida que a base de clientes cresce e a procura por Internet mais rápida aumenta. A Vodacom possui a conectividade internacional mais abrangente em Moçambique. Como parte do Grupo Vodacom, temos acesso a uma vasta capacidade internacional, desde o recentemente lançado 2Africa até ao acesso já existente no
“A conectividade de banda larga permite que os clientes do Vodacom KayaNet se liguem sem interrupções, de forma fiável e rápida, ao seu ambiente de trabalho online”
WACS, SAT3, EASSY e SAFE. Este acesso permite à Vodacom fornecer mais do que largura de banda internacional suficiente para os nossos clientes de banda larga. Como a maior parte do consumo de banda larga dos consumidores corresponde a destinos internacionais, torna-se essencial garantir uma largura de banda internacional suficiente e fiável. Além disso, estamos a usar a nossa infra-estrutura de transmissão de fibra já existente, que conecta a nossa rede central às estações-base móveis, para apoiar a rede KayaNet, garantindo assim que possamos expandi-la de forma rápida e eficiente. Naturalmente, os clientes do Vodacom KayaNet terão a mesma experiência de excelência no atendimento ao cliente que já oferecemos aos clientes móveis, assegurando que os pedidos de serviço sejam tratados de forma célere e eficiente. Temos agentes dedicados ao atendimento dos clientes KayaNet, com processos e infra-estrutura de escalonamento e suporte ajustados para responder com eficácia às solicitações.
Este serviço parece ser muito interessante para trabalhadores remotos e empreendedores. Como é que o KayaNet se posiciona como uma solução de conectividade para quem precisa de fiabilidade na actividade profissional?
A banda larga fixa liga o cliente ao mundo digital do entretenimento e do conteúdo, mas também à oportunidade de trabalho remoto. A conectividade de banda larga permite que os clientes do Vodacom KayaNet se liguem sem interrupções ao seu ambiente de trabalho online, operando com eficiência a partir de casa e garantindo o equilíbrio essencial entre trabalho e vida pes-
Texto M4D • Fotografia Mariano Silva
Chefe de Departamento de Banda Larga Fixa da Vodacom Moçambique
MARCEL STEYN
AS VANTAGENS DA CONECTIVIDADE COM FIBRA
A internet por fibra óptica apresenta vantagens claras e crescentes face a outras tecnologias de acesso, como ADSL, cabo coaxial e até conexões via satélite
KAYANET
VELOCIDADE MUITO SUPERIOR E ESTÁVEL
• A fibra óptica atinge velocidades de 1 Gbps ou mais, superando largamente o ADSL e o cabo coaxial, que raramente ultrapassam os 100 Mbps.
• Oferece velocidade simétrica, com taxas de upload e download iguais — essencial para videoconferências, envio de conteúdos, trabalho remoto e uso de serviços na nuvem.
BAIXA LATÊNCIA
• A latência da fibra óptica pode ser inferior a 10 milissegundos (ms), o que é ideal para aplicações em tempo real, como: o Jogos online; o Videochamadas; o Plataformas interactivas e de ensino à distância.
ESTABILIDADE E CONFIABILIDADE
• Transmite dados por luz, e não por sinais eléctricos, sendo imune a interferências electromagnéticas, variações climáticas e perdas de sinal em longas distâncias.
• Garante uma ligação
PREPARAÇÃO PARA O FUTURO
DIGITAL
• A fibra é a base de suporte para tecnologias emergentes como: o Wi-Fi 7; o Redes 10G; o Inteligência artificial; o Automação residencial e industrial; o Infraestrutura de backhaul para redes móveis 5G e futuras gerações.
EXCELENTE RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
• Com a expansão da infraestrutura e a massificação do serviço, a fibra óptica tornou-se mais acessível.
• Apresenta um custo por desempenho muito superior ao das alternativas, combinando velocidade, estabilidade e longevidade.
SUSTENTABILIDADE
• Consomem até 40% menos energia do que as redes de cobre.
MAIOR DURABILIDADE E MENOR MANUTENÇÃO
• Os cabos de fibra óptica têm uma vida útil superior à dos cabos de cobre ou coaxiais.
• Exigem menos manutenção, reduzindo os custos operacionais para os operadores e minimizando interrupções para os utilizadores.
• A menor necessidade de intervenções técnicas e substituição de infra-estruturas contribui para um menor impacto ambiental.
soal. Famílias e empresas precisam de conectividade — móvel ou fixa — que esteja sempre disponível, seja fiável e de alta qualidade. O serviço Vodacom KayaNet baseia-se no histórico da Vodacom como a Rede Número 1 em Moçambique, reforçando e expandindo as opções de ligação à banda larga. O Vodacom KayaNet oferece aos clientes a tranquilidade de saber que o seu serviço de banda larga fixa estará sempre disponível e responderá às suas necessidades de conectividade.
Existem parcerias com empresas de construção ou promotores imobiliários para integrar o KayaNet em projectos habitacionais em desenvolvimento?
Sim. Já estamos a colaborar com promotores imobiliários para pré-instalar a rede KayaNet durante a construção de edifícios multifamiliares (MDU) ou condomínios. Esta abordagem foi implementada com sucesso pela Vodacom na África do Sul, e pretende-
“Já estamos a colaborar com diversos promotores imobiliários para a pré-instalação, de raiz, da rede KayaNet durante a construção dos edifícios, algo que já foi feito, com sucesso, na África do Sul”
mos aplicar estas aprendizagens em Moçambique. Prevemos novos projectos residenciais a anunciar unidades já equipadas com o serviço Vodacom KayaNet no momento da entrega, oferecendo aos clientes o benefício de acesso imediato à banda larga fixa no dia em que se mudarem. Esta vi-
são reforça o papel da banda larga como um serviço tão essencial para as famílias quanto a electricidade ou a água canalizada.
A Vodacom tem abordado a questão da inclusão digital. Como é que o KayaNet se enquadra numa visão mais ampla de democratização do acesso à Internet em Moçambique?
Um aspecto essencial da inclusão digital é garantir que a banda larga fixa esteja disponível para todas as famílias em Moçambique, independentemente do seu nível socioeconómico. O acesso à banda larga não deve ser limitado a clientes de alto valor — deve ser um recurso universal. Sabemos que as redes de fibra óptica exigem níveis críticos de densidade para serem implantadas de forma sustentável, o que significa que são raramente viáveis em zonas rurais, onde outras soluções tecnológicas se revelam mais apropriadas. A Vodacom está empenhada em desenvolver o KayaNet para conectar clientes em áreas urbanas e suburbanas de Moçambique. Continuamos a explorar novas tecnologias FTTX e modelos de negócio que nos permitam alargar ainda mais o alcance da rede KayaNet a todos os segmentos da população.
Que outras inovações ou melhorias podemos esperar num futuro próximo para melhorar a experiência dos utilizadores do KayaNet?
A Vodacom já implementou activações de instalação no próprio dia, permitindo que novos clientes do KayaNet tenham o serviço instalado no mesmo dia da assinatura. Um dos nossos principais focos a curto prazo será o de melhorar e encurtar ainda mais o processo de adesão e instalação. A cobertura WiFi dentro das residências e empresas continua a ser um desafio, pelo que estamos a desenvolver soluções específicas para garantir que aquela cobertura seja contínua. Em breve, a Vodacom irá disponibilizar soluções de WiFi em malha, bem como o sistema “Fibra-para-o-quarto” (FTTR). O FTTR usa cabos de fibra transparentes para ligar pontos de acesso WiFi adicionais em casa ou no escritório, distribuindo a cobertura de forma eficaz, mas discreta. Finalmente, como parte integrante do ecossistema Vodacom, o KayaNet terá acesso a propostas financeiras e de conteúdos digitais inovadores. Estamos a trabalhar em novos desenvolvimentos entusiasmantes que serão anunciados em breve.
Moçambicanos Vencem em Londres Com Solução de IA
Equipa moçambicana venceu a Final Global do Hackfest 2025, em Londres, com uma solução tecnológica que promete inovar no atendimento ao cliente. O projecto recorre a IA para simplificar processos e libertar os agentes de tarefas repetitivas. A conquista destaca o potencial do talento jovem nacional nesta arena global da inovação digital
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
Na capital britânica, onde se reúnem algumas das mentes mais criativas da era digital, quatro jovens moçambicanos conquistaram o topo do Hackfest 2025, a maior maratona de programação do grupo Vodafone. A solução apresentada pela equipa “Beyond Lungano” não só impressionou pela sua eficácia, como também pelo impacto real que pode ter nos sistemas de apoio ao cliente.
Com uma aplicação prática e disruptiva de inteligência artificial, os jovens propuseram um modelo de atendimento mais directo, automatizado e eficiente.
A equipa vencedora é composta por Adila Mussá, Abel Xavier, Célio Cumba e Idelaine Uaciquete, todos formados pelo Programa de Graduados da Vodacom Moçambique, edição 2024. São jovens, mas com uma maturidade técnica e visão estratégica que surpreendeu até os jurados mais experientes.
Após vencerem a fase nacional, em Moçambique, e a etapa continental realizada na África do Sul, no início de Junho, os quatro avançaram para a final mundial, onde enfrentaram equipas de toda a rede Vodafone — incluindo
Reino Unido, Alemanha, Índia, Egipto, Turquia e outros países com ecossistemas tecnológicos mais robustos.
Uma ideia simples, revolucionária e silenciosa
Num mar de projectos oriundos de diversos continentes, a simplicidade e eficácia da proposta moçambicana captaram a atenção dos jurados internacionais do grupo Vodafone. A solução, premiada na categoria “Simplicidade”, recorre a inteligência artificial para transformar, de forma prática e escalável, o fluxo de apoio ao cliente, eliminando etapas redundantes e libertando os trabalhadores para tarefas de maior valor.
O diferencial da proposta moçambicana está na forma como automatiza e simplifica os processos de atendimento, integrando IA para agir em múltiplas frentes. Em vez de seguir o modelo tradicional, em que um cliente tem de passar por uma sequência demorada de menus, confirmações e transferências, a nova solução interpreta as necessidades do cliente desde o primeiro contacto e resolve, automaticamente, os casos mais comuns.
A IA desenvolvida é treinada para compreender a linguagem natural do cliente, tanto escrita como fala-
Com uma abordagem simples e eficaz, a equipa moçambicana demonstrou como a tecnologia pode resolver problemas reais e tornar o atendimento mais humano e eficiente
da, identificando rapidamente o motivo da solicitação. Por exemplo, se um cliente disser “quero activar um pacote de dados para uma semana”, a IA reconhece automaticamente o tipo de pacote e o prazo, e inicia o processo sem exigir que o cliente percorra menus ou digite códigos.
Nos casos em que a intervenção humana ainda é necessária, o sistema realiza um encaminhamento inteligente, associando o cliente directamente ao agente mais capacitado para aquele tipo de solicitação, como, por exemplo, questões técnicas, problemas de facturação ou renegociação de planos.
Automatização de tarefas
A IA executa também tarefas administrativas que, normalmente, ocupam parte considerável do tempo dos agentes de call center: actualização de dados, envio de comprovativos, validações simples de identidade, entre outras. Com isso, reduz o tempo de atendimento, os erros humanos e o desgaste do cliente. Outra vantagem é o facto de o sistema “aprender” com cada interacção. Com o tempo, torna-se mais eficiente, identifica padrões e adapta as respostas com maior precisão. Isto abre espaço para um atendimento personalizado, mais rápido e mais humano, mesmo quando mediado por tecnologia. “A proposta simplifica substancialmente os fluxos de trabalho, garantindo respostas mais céleres e eficazes aos utilizadores dos nossos serviços”, afirmou Almirante Dimas, coordenador do Programa de Graduados da Vodacom Moçambique, em declarações após o anúncio da vitória.
HACKFEST 2025
Premiados do Hackfest, maratona global de programação, promovida anualmente pelo grupo Vodafone
INOVAÇÃO DIGITAL: O QUE É O HACKFEST?
É uma maratona global de programação promovida anualmente pelo grupo Vodafone. Mais do que um concurso, é um espaço para explorar as fronteiras da inovação digital. Os participantes enfrentam o desafio de resolver problemas reais com soluções tecnológicas viáveis, num ambiente de intensa colaboração. A edição de 2025 contou
com quatro categorias: Cliente, Propósito, Crescimento e Simplicidade. Moçambique teve propostas apuradas em todas, mas foi na última que brilhou com destaque global. A vitória de “Beyond Lungano” mostra que Moçambique já não é apenas receptor de tecnologia, mas produtor de soluções com escala internacional.
A aposta da Vodacom no talento nacional
Nos bastidores desta vitória está um investimento contínuo da Vodacom Moçambique na formação de jovens talentos através do seu Programa de Graduados, que tem revelado talento técnico, pensamento crítico e capacidade de liderança.
Ao proporcionar acesso a tecnologias de ponta, mentoria especializada e desafios concretos, a empresa criou um ambiente fértil para a inovação.
“Mais do que ganhar prémios, a aposta é construir uma nova geração de profissionais capazes de usar os recursos disponíveis e liderar a transformação digital do País.”
A vitória no Hackfest não é apenas um marco, é uma confirmação de que esta estratégia está a dar frutos e de que Moçambique pode ser protagonista da próxima vaga de inovação em África.
Novidade
Xiaomi lança impressora portátil com realidade aumentada e áudio
A Xiaomi anunciou o lançamento da Mijia Pocket Photo Printer Pro, uma impressora fotográfica portátil que promete trazer recursos tecnológicos avançados. Entre eles está a integração de imagens geradas com formas digitais de conteúdo, incluindo fotos e vídeos. Segundo o portal Zap Aeiou, o dispositivo liga-se a smartphones, e é possível seleccionar diferentes modos de operação e ajustar as configurações da imagem a ser impressa.
As novidades incluem o recurso “Foto com Voz”, que permite anexar gravações de voz ou arquivos de áudio a cada foto impressa. Ao fazer um “scan” da imagem, o áudio gravado é reproduzido noutros dispositivos.
Outro destaque é a possibilidade de incluir vídeos em realidade aumentada (AR), com a capacidade de incorporar clipes de até 15 segundos nas fotos impressas. Trata-se de um funcionamento parecido com o recurso de som: basta rastrear a fotografia física e obter o vídeo no ecrã do smartphone.
Além dos atributos inteligentes, a impressora da Xiaomi diferencia-se ainda por funcionar com tecnologia de sublimação térmica, que elimina a necessidade de cartuchos de tinta convencionais. O processo aplica calor em papel fotográfico especializado, com resolução de 313 × 313 dpi (pontos por polegada) e dimensões de 3 polegadas (76 x 50 mm).
Cada imagem inclui até um adesivo, permitindo colar as fotos em diversas superfícies sem usar colas ou fitas adicionais. O recurso é útil para personalização de álbuns ou paredes, por exemplo, aplicando-se a uma diversidade de cenários .
Inovação Agência SPOT cria o primeiro vídeo publicitário a 100% por Inteligência Artificial no País
A agência de publicidade SPOT acaba de lançar o primeiro filme publicitário moçambicano, totalmente desenvolvido através de Inteligência Artificial.
O projecto serviu para promover a colecção de biquínis da marca Praiana, criando imagens, cenários e modelos digitais com movimentos naturais, como se fossem reais.
A campanha celebra o Verão moçambicano com locais icónicos como a Ilha de Moçambique, Inhambane e o litoral de Maputo, todos recriados digital-
JobApp
mente. A SPOT usou IA generativa para construir uma narrativa visual envolvente, integrando a cultura local e a inovação da marca Praiana.
Este projecto, segundo nota da empresa, marca “um novo capítulo” na indústria publicitária nacional, demonstrando como a tecnologia pode ser usada de forma disruptiva para criar campanhas memoráveis.
Shaid Umar, director-geral da SPOT, espera que a campanha seja “um exemplo inspirador.”
Jovem moçambicano cria uma aplicação que ajuda a encontrar oportunidades de emprego
Meteorologia
Santos Enoque, engenheiro informático moçambicano, residente no Japão, apresentou nas redes sociais o AplyCat, uma aplicação que visa simplificar o processo de candidatura a empregos. Com recurso à Inteligência Artificial, o programa consegue melhorar os currículos baseando-se no ‘link’ para a vaga de emprego à qual se quer candidatar, gerando assim um currículo optimizado para o lugar, com a possibilidade adicional de criar uma carta de apresentação.
A aplicação “fornece uma análise realista do currículo do utilizador”, diz o criador, a ponto de alertar para eventuais pontos fracos, secção por secção, indicando o que está incorrecto e o que pode ser melhorado. A aplicação também permite analisar o perfil do utilizador no LinkedIn e, com base na sua estrutura, fornecer sugestões para optimização.
Google cria modelo de IA para prever ciclones
A Google disponibilizou um novo modelo experimental para previsão de ciclones com IA, num “website” interactivo, que permite visualizar os seus modelos meteorológicos, numa parceria com o Centro Nacional de Furacões dos EUA (uma entidade que avalia os riscos nas bacias do Atlântico e do Pacífico Leste).
A gigante tecnológica afirmou ter como missão melhorar as previsões, incrementando a recolha de dados (mesmo os mais sensíveis e difíceis de medir), para aumentar a protecção das comunidades. O modelo experimental para antecipar o movimento de ciclones consegue antecipar a formação, trajectória, intensidade e tamanho de uma tempesta-
de. Além disso, gera até 50 cenários possíveis, com 15 dias de antecedência. A Google diz que, de acordo com os testes internos e avaliações do Instituto Cooperativo de Investigação da Atmosfera, o modelo tem uma capacidade comparável “ou superior” aos melhores modelos operacionais actualmente em uso.
O website, que recebeu o nome de Weather Lab, está em pré-visualização pública, para mostrar previsões de ciclones em tempo real, assim como o histórico de diferentes modelos meteorológicos de IA (WeatherNext Graph, WeatherNext Gen), juntamente com versões baseadas em física do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo.
Zanzibar, na Tanzânia, é um dos locais de eleição na lista de nómadas digitais que procuram uma temporada em África
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ESCAPE
Nómadas Digitais
Quais os destinos mais atractivos em África para profissionais sempre online e com novos interesses?
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VOLANTE Mercedes-AMG
A marca anunciou uma “super berlina” de motorização 100% eléctrica
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ADEGA
Inverno
Com as temperaturas mais baixas, cresce o interesse por vinhos mais encorpados
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DIÁSPORA
Sonho de Enólogo Elias Macovela conta a história do seu vinho português com alma moçambicana
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FECHO DE CONTAS
Japão
Na 9.ª edição da TICAD vão redefinir-se os eixos da cooperação japonesa com África
COMO FUNCIONA?
África oferece uma variedade de destinos para nómadas digitais, desde cidades vibrantes até paraísos tropicais.
Conheça os Melhores Destinos
A VIDA DE NÓMADA DIGI-
TAL tornou-se uma realidade para muitos profissionais. Trabalhar à distância permite conhecer outras paragens, desde que haja conectividade e outras condições para a concentração em diferentes tarefas.
O nosso continente destaca-se cada vez mais como um destino atractivo para estes profissionais (e viajantes), oferecendo uma mistura de custo de vida acessível, infra-estrutura à altura e experiências culturais únicas. O blogger Johnny Africa fez uma lista dos melhores destinos para nómadas digitais com base nos seguintes critérios:
Custo de vida e alojamento A disponibilidade de espaços para alugueres de curta duração é um grande ponto positivo para qualquer cidade, pois oferece mais opções de alojamento para aqueles que desejam adoptar um estilo de vida nómada.
Para Nómadas Digitais em África
Velocidade e infra-estrutura da Internet
Crucial. Sem banda larga fiável, nada feito. Este é um dos critérios mais importantes para um nómada digital e implica outro: o fornecimento de electricidade constante, sem cortes – algo que nalgumas cidades africanas nem sempre acontece.
Atracções
Desde centros médicos a informação turística, parques, praias, restaurantes e muito mais, as distracções para o tempo livre são vitais para um estatuto de cidade amiga dos nómadas digitais, que precisam de equilibrar as tarefas com as diversões em que gostam de se largar sem medir o tempo.
Comunidade
Explorar novas culturas e lugares é óptimo, mas às vezes é solitário. É aí que uma co-
munidade com ideias semelhantes faz toda a diferença.
Fuso horário
Para o trabalhador remoto moderno, a sua localização é tudo. Outra das coisas mais importantes a considerar é o fuso horário, que deve ser, de alguma forma, compatível com a execução do trabalho ou tarefas em curso.
Requisitos de visto
É extremamente importante considerar a sua capacidade de entrar num país e permanecer nele pelo tempo que desejar.
Estilo de vida
Opções entre cidades agitadas e destinos relaxados.
Melhores países para nómadas digitais em África
Dahab, Egipto Dahab tornou-se num des-
Espaço para trabalhar tranquilamente em Daha, Egipto
tino popular para nómadas digitais durante a pandemia.
Localizada na península do Sinai, oferece um estilo de vida descontraído com praias paradisíacas e excelentes condições para mergulho.
• Custo de vida: 1000 a 1300 dólares por mês (63,2 mil a 82,1 mil meticais);
• Velocidade da Internet: 50 Mbps;
• Facilidade de visto: visto de turista por 25 dólares (1580 meticais);
• Destaques: baixo custo de vida, paisagens deslumbrantes;
• Desvantagens: cidade pequena, pode tornar-se monótona a longo prazo.
Marraquexe, Marrocos
Marraquexe é um dos destinos mais vibrantes do Norte de África, com uma mistura de arquitectura histórica e infra-estrutura moderna.
• Custo de vida: acessível em relação a outras cidades do Norte da África;
• Internet: qualidade variável, melhor em espaços de coworking;
• Facilidade de visto: visto online a partir de 5400 meticais;
• Destaques: cultura rica, culinária excelente, mercados tradicionais;
• Desvantagens: pode ser caótica e barulhenta.
Zanzibar, Tanzânia
Um destino propício para quem procura praias deslumbrantes e um ritmo de vida relaxante.
• Custo de vida: moderado, mas mais caro do que outras cidades africanas;
• Internet: boa qualidade em espaços de coworking;
• Facilidade de visto: opções flexíveis para estadias prolongadas;
• Destaques: praias incríveis, comunidade internacional crescente;
• Desvantagens: infra-estru-
tura limitada, poucas opções de vida urbana.
Cidade do Cabo, África do Sul
Um dos destinos mais populares para nómadas digitais em África, com excelente infra-estrutura e belas paisagens.
• Custo de vida: 1500 - 2000 dólares (94,8 mil a 126,4 mil meticais) por mês;
• Internet: ligações rápidas de forma geral e espaços de coworking modernos;
• Facilidade de visto: visto de turista de 90 dias, com opções de extensão;
• Destaques: natureza exuberante, boa gastronomia e cultural vibrante;
• Desvantagens: preocupações com segurança e desigualdade social.
Nairóbi, Quénia
Nairóbi é uma das cidades mais cosmopolitas do continente. Com uma comunidade crescente de nómadas digitais, oferece espaços de coworking modernos e combina vida urbana dinâmica com fácil acesso à natureza, como o Parque Nacional de Nairóbi.
• Custo de vida: moderado, varia conforme o bairro;
• Internet: rápida e confiável;
• Facilidade de visto: acesso fácil para a maioria das nacionalidades;
• Destaques: vida nocturna animada, oportunidades de convívio, parques naturais.
Em resumo, África oferece uma variedade de destinos para nómadas digitais, desde cidades vibrantes até paraísos tropicais. Cada local tem vantagens e desafios, dependendo do estilo de vida desejado e das necessidades profissionais. Para quem procura uma experiência nova, o continente tem excelentes opções.
O nosso continente destaca-se como um destino atractivo para estes profissionais (e viajantes), com custo de vida acessível, infra-estrutura à altura e experiências culturais únicas
O bulício do mercado em Marraquexe, Marrocos
Atracções não faltam na Cidade do Cabo, África do Sul
Texto Ana Mangana Fotografia Istock Photo
RECORDE
Esta será a berlina mais potente de sempre da MercedesAMG
Chegou o Mercedes-AMG
A MERCEDES-AMG está prestes a marcar um novo capítulo na sua história com a apresentação oficial, marcada para Junho, de um modelo totalmente novo: uma “super berlina” de motorização 100% eléctrica que se posiciona como sucessora do AMG GT coupé de quatro portas. É a primeira vez que um AMG é desenvolvido de raiz para ser exclusivamente eléctrico, sem qualquer herança técnica directa dos modelos a combustão.
Uma imagem já divulgada deixa antever uma silhueta elegante e desportiva, com linhas fluidas que fazem lembrar o Porsche Taycan. Visto de perfil, o modelo exibe um visual de coupé alongado, com portas traseiras bem delineadas, sugerindo um veículo de quatro portas. Ainda não está claro se o formato final será o de um liftback, como no actual AMG GT, ou se a marca irá optar por uma berlina de estilo mais tradicional. O capô prolongado e a tra-
Desenvolvido de Raiz Para
seira robusta sugerem, contudo, um modelo de grandes dimensões. Também se destaca a reduzida altura ao solo, elemento que reforça a sua vocação desportiva e aerodinâmica.
Inspirado no Vision AMG Concept de 2022, este novo modelo será o primeiro a utilizar a nova plataforma AMG.EA, especificamente criada para veículos eléctricos de alta performance. A marca já confirmou que está também a desenvolver uma versão SUV sobre a mesma base, com apresentação prevista para 2026.
Sob o capô estarão motores eléctricos de fluxo axial da YASA, uma empresa britânica adquirida pelo grupo Daimler. Estes motores são compactos e leves (24 kg cada), mas extremamente potentes: um só pode debitar até 480 cv e 800 Nm. Haverá configurações com um ou mais motores, sendo que as versões mais potentes ron-
Sob o capô estarão motores eléctricos compactos e leves (24 kg cada), mas extremamente potentes: cada qual pode debitar até 480 cavalos.
Eléctrico
darão os 1000 cv e ultrapassarão os 1355 Nm de binário. Esta será, portanto, a berlina de estrada mais potente alguma vez produzida pela Mercedes-AMG.
Apesar de ter estar focada na potência, a marca também está a dedicar atenção especial à eficiência aerodinâmica e ao peso do veículo — dois factores cruciais para maximizar a autonomia. A expectativa é que este novo modelo ofereça prestações de superdesportivo e um desempenho sustentável, à altura dos tempos modernos. A estreia mundial está agendada para Junho, mês em que a Mercedes-AMG espera deixar clara a sua ambição de liderar a transição eléctrica no segmento das berlinas desportivas de luxo. A nova super berlina terá pela frente concorrentes de peso como o Porsche Taycan Turbo S, o Audi RS ETron GT e o Lucid Air Sapphire. Mas a Mercedes-AMG parece estar pronta para o desafio.
Texto Ana Mangana Fotografia D.R
As temperaturas mais frias permitem-lhe consumir uma bebida mais intensa. Pode optar por vinhos com um teor alcoólico mais elevado, uma vez que o álcool
dá a sensação de que faz aquecer o corpo
Quais São os Vinhos Que
JULHO É SINÓNIMO de noites frias para muitos moçambicanos, momentos de recolhimento, seja em casa, junto à família, ou num encontro entre amigos. É também a altura perfeita para redescobrir o prazer de um bom vinho, aquele que, além de aquecer o corpo, aconchega a alma. Com as temperaturas mais baixas em várias regiões do País, cresce o interesse por vinhos mais encorpados, complexos e com aromas que remetem ao conforto típico da estação. Mas, afinal, quais são os vinhos que realmente combinam melhor com o Inverno? Confira as melhores sugestões para harmonizar esta época fria com sabores intensos e envolventes, ideais para os dias de Julho.
Vinhos com um teor alcoólico mais elevado
De acordo com o portal Reserva85, o vinho que melhor combina com esta estação do ano é aquele que é mais encorpado e mais estruturado. As temperaturas mais frias permitem consumir uma bebida mais intensa. Pode optar por vinhos com um teor alcoólico mais elevado, uma vez que o álcool dá a sensação de que faz aquecer o corpo. Uvas com maior teor de taninos e que produzem vinhos mais robustos são ideais para os dias de Inverno, como a Tannat, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional, Tempranillo, Syrah, Pinotage, Nero d’Avola e Malbec.
Vinhos brancos para o Inverno
Ao contrário do que muitos imaginam, é possível fazer uma degustação confor-
Combinam Com o Inverno?
tável de vinhos brancos e espumantes, mesmo no Inverno. Neste caso, o melhor é optar por uvas brancas que produzem vinhos encorpados, como Chardonnay, Sémillon, Antão Vaz e Viognier. Em geral, prefira rótulos envelhecidos em madeira, pois apresentam notas aromáticas quentes, como tosta e fumo, e vinhos com aromas de pimenta preta e geleia. No caso dos vinhos brancos, devem evidenciar-se referências a frutas secas, amêndoas e pão.
Espumantes ideais para os dias frios Kanonkop foi uma das primeiras companhias a produzir vinhos de alta qualidade a partir da casta Pinotage. Em 1991, o então enólogo Beyers Truter foi nomeado “International Winemaker of the Year” no International Wine and Spirits Competition, graças ao Kanonkop Pinotage 1989.
Texto Ana Mangana Fotografia D.R
Cabernet Sauvignon leva calor a qualquer mesa
O Inverno é a altura perfeita para redescobrir o prazer de um bom vinho, que também aconchega a alma.
Chardonnay, vinho branco ideal para o Inverno
Elias mantém uma forte ligação a Moçambique e sonha levar os seus vinhos para o país natal, realizando degustações e eventos
MOÇAMBICANOS PELO MUNDO
Elias Macovela, enólogo moçambicano, 47 anos, vive em Portugal
ELIAS MACOVELA
Enólogo moçambicano
CHEGAR A PORTUGAL sem nunca ter provado álcool e, anos mais tarde, tornar-se produtor de vinho é, sem dúvida, um percurso pouco convencional. Para Elias Macovela, enólogo moçambicano de 47 anos, esta jornada é uma verdadeira história de curiosidade e paixão, que atravessa continentes e culturas.
Nascido em Maputo, no Sul de Moçambique, Elias deixou o País há mais de uma década. Hoje, dirige a sua própria empresa (com o seu nome) onde cria vinhos que, além de agradarem ao paladar, contam uma história enraizada na sua terra natal. O despertar para o mundo do vinho foi gradual. “Não tinha interesse em bebidas alcoólicas”, conta Macovela. A família não consumia álcool e, até chegar a Portugal, essa realidade permaneceu intacta.
No entanto, o contacto com profissionais do sector, em adegas artesanais, despertou uma curiosidade que rapidamente se transformou
Utopias Engarrafadas O Vinho Português Com Alma
em paixão. “Aos poucos, comecei a participar em provas de vinhos, e o proprietário de uma adega dava-me garrafas para levar para casa. Foi assim que tudo começou”, lembra. A partir daí, o produtor dedicou-se a estudar enologia, coleccionar garrafas e participar em eventos relacionados com o vinho.
A mudança de carreira Apesar de ter formação em Gestão e Estratégia Empresarial, o seu fascínio pelo vinho levou-o a mudar o rumo da sua carreira. Entre 2011 e 2013 criou o blogue O Vinho é Efémero, para partilhar experiências, opiniões e conselhos. “Foi uma plataforma essencial para o meu
crescimento profissional, pois deu-me acesso a muitos produtores e aprofundou os meus conhecimentos”. Em 2014, Elias percebeu que o vinho era mais do que um simples interesse: era uma vocação. Em 2017, matriculou-se em Enologia, após uma pós-graduação em Negócios do Vinho, com o objectivo de dominar, tanto a gestão, como a produção. “Queria liderar um projecto de vinho em todos os sentidos”, explica.
Entre uvas, raízes e sonhos
Actualmente, Elias prepara-se para lançar duas novas marcas: Milorro e Nyele-
Moçambicana
ti — vinhos brancos e tintos, respectivamente, cujos nomes remetem para a língua ronga falada em Maputo (ver caixa). Sustentabilidade é também uma palavra-chave no projecto. A produção segue princípios ecológicos rigorosos, valorizando o trabalho colectivo e a responsabilidade social. “Crescer junto com a equipa, nas vinhas, é fundamental para mim”, enfatiza o enólogo.
O projecto já adopta práticas biológicas, com o objectivo de evoluir para métodos biodinâmicos (integrando elementos espirituais e cósmicos à prática agrícola),
HOMENAGEM À LÍNGUA NATAL
Os nomes das duas novas marcas de Elias Macovela, Milorro e Nyelet, têm um significado na sua língua natal. Remetem para o idioma ronga, falado em Maputo. Milorro significa “sonhos e utopias”, enquanto Nyeleti se traduz como “estrelaxs”. Estes nomes reflectem
a identidade cultural do produtor, bem como a sua filosofia e percurso pessoal. “Trago sempre um pouco da minha cultura, da minha língua e das minhas raízes para o que faço. É uma forma de honrar as minhas origens e, ao mesmo tempo, inovar no mercado”, destaca o produtor.
aproximando-se ainda mais da harmonia com a natureza. A inovação não está apenas na produção, mas também na forma de comunicar e envolver a comunidade.
O lançamento do vinho Milorro está em fase de produção e o lançamento está previsto para o final de 2025.
Projecto em expansão Apesar de viver em Portugal há mais de 20 anos — primeiro em Lisboa, depois no Porto —, Elias mantém uma forte ligação com Moçambique. Sonha em levar os seus vinhos para o seu país natal, realizando degustações e eventos para promover a cultura vinícola.
“Estou à procura de parceiros em Moçambique que possam ajudar na importação e promoção do meu trabalho. Seria uma grande ale-
gria apresentar o meu projecto na terra onde nasci”, confessa. Com um pé em Portugal e outro em Moçambique, Elias aposta nas exportações como estratégia para fortalecer o negócio. Já colabora em projectos na região da Beira Interior, expandindo a sua influência no sector. No que diz respeito aos desafios do empreendedorismo no estrangeiro, refere que Portugal oferece boas condições para o desenvolvimento de projectos, desde que o empreendedor esteja disposto a adaptar-se e a respeitar as regras. No entanto, destaca a necessidade de maior diversidade no sector, com mais jovens negros a entrar nas áreas de agronomia, enologia e turismo.
Texto Germano Ndlovo
O Desenvolvimento Africano Passa Pelo Japão
A 9.ª TICAD deverá ajudar a realinhar a cooperação para o desenvolvimento com África, dossiê em que o Japão tem sido pioneiro. Haverá novas intervenções e um apelo aos privados, em Agosto, num fórum em que Moçambique tem marcado presença
Acidade japonesa de Yokohama vai acolher, de 20 a 22 de Agosto, a 9.ª TICAD, sigla inglesa para a Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento Africano, uma cimeira de que Moçambique, naturalmente, tem feito parte, até porque o Japão é um dos parceiros internacionais presentes no País - sobretudo através da Agência Internacional de Cooperação do Japão (JICA, sigla em inglês). Mas, tal como no resto de África, a aposta recai sobre o envolvimento do sector privado, ou seja, atrair investidores para as oportunidades de negócio emergentes no continente.
No próximo plano de acção plurianual, é de esperar que a 9.ª TICAD dê ênfase à transição energética, rumo à sustentabilidade, à transformação digital e ao desenvolvimento de ecossistemas de ‘startups’ em África. A cidade anfitriã, Yokohama, poderá servir de montra, com as suas próprias iniciativas verdes e experiência na promoção de inovações – com um foco no potencial demográfico dos países africanos.
A presença em Moçambique
Segundo números apresentados, em Fevereiro, pelo embaixador japonês em Ma-
puto, o país do sol nascente já disponibilizou um total de 2 mil milhões de dólares a Moçambique, em meio século de independência. “As áreas prioritárias têm sido saúde, educação e capacitação de recursos humanos”, explicou Hamada Keiji. Agora, a prioridade é o Norte do País, assolado desde 2017 por uma insurgência armada. “Temos dois pilares em Cabo Delgado: dar assistência humanitária e contribuir para estabilidade”, disse o diplomata.
OS PRINCÍPIOS DA TICAD
• A TICAD é um fórum multilateral cujos participantes incluem países africanos e organizações internacionais, países parceiros, empresas privadas e organizações da sociedade civil envolvidas no desenvolvimento.
• A TICAD tem defendido a importância da apropriação africana e da parceria internacional. A filosofia de desenvolvimento baseada nestes dois princípios está na base da Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), um programa que viria a dar origem à Agência de
A reabilitação do porto de Nacala, inaugurada em Outubro de 2023, custou mais de 250 milhões de euros, através de um financiamento da Agência Internacional de Cooperação do Japão (JICA) e é outro dos mais recentes marcos da cooperação. O volume de carga no porto atingiu o recorde de 3,1 milhões de toneladas anuais, em 2023, após a modernização.
Um fórum precursor O Japão apresenta a TICAD como o fórum precursor do relacionamento dos países desenvolvidos com África. Ao longo de mais de 30 anos, desde a TICAD I, em 1993, “o fórum tem um historial de melhoria das condições sociais e económicas em África, principalmente através de subsídios e assistência técnica.” A iniciativa japonesa tem contribuído para a construção e melhoria de escolas primárias e secundárias, instalações médicas e fornecimento de água potável a milhões de pessoas, entre outros projectos.
Símbolo de multilateralismo, trata-se de um fórum global, uma parceria do Governo japonês com as Nações Unidas, com o Banco Mundial e com a União Africana, com o tema central de “Co-criar soluções inovadoras com África”, assente em três pilares: sociedade, paz e economia.
Desenvolvimento da União Africana (AUDA-NEPAD).
• No processo TICAD, o Japão estabeleceu mecanismos de monitorização. Por exemplo, os compromissos são anunciados nas cimeiras, e o estado da sua implementação é seguido nas reuniões ministeriais – como a que aconteceu há um ano, em Tóquio, na qual Moçambique participou para analisar a implementação do plano de acção 2022-2024, resultante da anterior Cimeira (TICAD 8), realizada na Tunísia, em 2022.