E&M_Edição 84_Maio 2025 • Fazer Negócios em Moçambique

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MOZUP

QUE MUDANÇAS REAIS TRAZ A FORMAÇÃO PROMOVIDA

PELA MOZAMBIQUE LNG EM CABO DELGADO?

NEGÓCIOS

CEO ALERTAM: REINVENÇÃO, IA E SUSTENTABILIDADE DITARÃO QUEM PROSPERA OU DESAPARECE

M-PESA BUSINESS

UMA RESPOSTA DIGITAL PARA MELHORAR PRODUTIVIDADE REAL DAS EMPRESAS NACIONAIS

FAZER NEGÓCIOS EM MOÇAMBIQUE

Os problemas do ambiente de negócios em Moçambique são velhos conhecidos e ecoam em todas as esferas: política, regulatória, social e económica.

Reformas e soluções estão sobre a mesa, mas falta muito para que se transformem em realidade

NAÇÃO

22 Ambiente de negócios. Consultoras e economistas apontam que o ambiente de negócios em Moçambique padece de três males crónicos: burocracia, insegurança jurídica e má infra-estrutura

32 A voz do sector privado. Associações empresariais destacam a fragilidade institucional do Estado e queixam-se da morosidade na implementação de políticas eficazes, como o combate aos raptos

36 Falta capital humano. Diplomas não bastam. Empresas precisam de formar os próprios quadros, diante de jovens sem prática nem competências que o mercado exige. Faltam parcerias e escala

38 Entrevista. Apesar do arranque difícil de 2025, o economista

Fáusio Mussá aponta sinais de recuperação com a retoma dos projectos de gás na bacia do Rovuma, reformas e redução das taxas de juro

40 Bons exemplos africanos. Reformas legais e administrativas estão a transformar o clima de negócios, tornando países como Ruanda, Gana, Maurícias e África do Sul mais atractivos para investidores

14

CONTEÚDO LOCAL

Formação local. Os números revelam o compromisso do consórcio Mozambique LNG com as comunidades onde se insere: em Cabo Delgado, o projecto já apoiou formação a cerca de 1000 jovens

18 Cadeias de fornecimento. Mais de 350 empresários e representantes institucionais participaram nos fóruns organizados pelo MozUp, reforçando o compromisso da Área 4 com o conteúdo local

Burkina Faso. O popular, jovem e controverso Presidente Ibrahim Traoré governa entre promessas patrióticas, medidas arrojadas e crescentes alertas sobre autoritarismo. Que futuro para o país?

OPINIÃO

12 Wilson Tomás, analista do banco BIG Moçambique

16 EY, Lúcio Guente | EY Senior Manager, Assurance

20 ESG, Marcos Bardagi, professor da Fundação Dom Cabral, Brasil

POWERED BY

46 FNB

63 MOÇAMBIQUE DIGITAL

64 Cibersegurança. Estudo da Deloitte alerta: País reconhece riscos, mas investe pouco. Cibersegurança deve integrar a transformação digital para ser eficaz.

68 M-Pesa Business. Com API aberta e Mini Apps, o M-Pesa Business lidera a inovação nos pagamentos digitais, transformando a gestão financeira das empresas moçambicanas.

SECÇÕES

3 Sumário

4 Editorial

6 Observação

8 Radar

10 Números em Conta

42 Radar África Breves

72 Panorama

75

ÓCIO

Entrevista. Tatiana Pereira e Sara Fakir revisitam os 15 anos da ideiaLab, hoje uma referência firme no empreendedorismo jovem moçambicano e com impacto inclusivo e inovador

52 ACTUALIDADE

Mercado global. O que significa para Moçambique a tempestade mundial provocada pelas tarifas comerciais anunciadas por Trump?

MERCADO & FINANÇAS

Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Aos 50 anos, a HCB mostra-se como produtora de energia e motor de crescimento, inclusão, integração regional e sustentabilidade para Moçambique 54

56 IDEALAB

CEO TALKS

PwC Survey. Apesar da incerteza global, CEO mostram optimismo. Inteligência Artificial, sustentabilidade e reinvenção definem o futuro, mas exigem mudanças profundas e visão de longo prazo.

76 Escape Uma visita a Seul, cidade vibrante, e moderna 78 Carros Honda Civic lidera ranking de carros mais fiáveis 79 Adega O segredo da aliança entre tradição e inovação nos vinhos sul-africanos 80 Agenda Tudo o que não pode perder em Maio 82 Fecho de Contas Salih Fendoglu & Mahvash S. Qureshi & Felix Suntheim, Fundo Monetário Internacional

Travão nos Negócios?

Oambiente de negócios em Moçambique continua a enfrentar obstáculos que travam o crescimento económico e o surgimento de um tecido empresarial mais robusto e competitivo. Para a presente edição da Economia & Mercado, ouvimos diversos actores –economistas, consultoras e empregadores – e todos, de formas distintas, convergem num ponto essencial: é urgente desburocratizar o sistema, tornar os processos mais transparentes e céleres, colocando a tecnologia ao serviço da economia.

Apesar das inúmeras reformas anunciadas ao longo dos anos, as queixas persistem e, muitas vezes, agravam-se. Há quem diga que o maior problema para o ambiente de negócios em Moçambique não é a ausência de ideias ou estratégias, mas a fraca execução e a lentidão com que se operam mudanças estruturais. O custo de fazer negócio permanece alto, alimentado por exigências administrativas desnecessárias, demoras na tramitação de processos, pouca clareza regulatória e obstáculos legais que desencorajam o investimento privado, nacional e estrangeiro.

articulação entre a academia e o sector produtivo agrava a fragilidade do ecossistema empresarial. As empresas são obrigadas, muitas vezes, a formar os quadros recém-saídos das universidades, já que estes chegam ao mercado sem as competências técnicas e comportamentais necessárias. Esta lacuna representa um custo adicional para o sector privado e compromete a competitividade do País.

As fragilidades não se limitam à dimensão técnico-administrativa. Os desafios financeiros – com destaque para o acesso limitado ao crédito, taxas de juro elevadas e instabilidade cambial – dificultam o planeamento de investimentos de médio e longo prazo. Acrescem-se as incertezas políticas e sociais, incluindo tensões eleitorais, conflitos localizados e insegurança jurídica, que contribuem para o adiamento ou abandono de projectos económicos estruturantes.

Moçambique não pode continuar refém de processos lentos, normas contraditórias e soluções desarticuladas

Neste cenário, a digitalização dos serviços públicos aparece como uma ferramenta indispensável. Não se trata apenas de modernizar o Estado, mas de criar um ambiente mais confiável, ágil e menos vulnerável à corrupção. O papel da tecnologia, em particular na redução da burocracia e na melhoria da prestação de serviços, é incontornável para melhorar o clima de negócios e atrair capital produtivo. Do lado do capital humano, a falta de

Ainda assim, há sinais de esperança. Algumas reformas recentes apontam para uma maior abertura e envolvimento crescente do sector privado em soluções práticas – como parcerias com instituições de ensino, adopção de tecnologias e programas de formação internos –, revelando um sector empresarial disposto a liderar parte da transformação que se impõe. O caminho, no entanto, é longo. E exige coragem política, consistência nas decisões, maior envolvimento das instituições públicas e, sobretudo, uma visão comum para o futuro. O desenvolvimento de Moçambique não pode continuar refém de processos lentos, normas contraditórias e soluções desarticuladas. É tempo de desbloquear o potencial do País. É tempo de soltar o travão.

MAIO 2025 • N.º 84

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso

JORNALISTAS Ana Mangana, Felisberto Ruco, Florença Nhabinde, Germano Ndlovo, Jaime Fidalgo, Luís Patraquim, Nário Sixpene

PAGINAÇÃO José Mundundo

FOTOGRAFIA Mariano Silva

REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos

DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com

CONSELHO CONSULTIVO

Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini

ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Media4Development

Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

RPO Produção Gráfica

TIRAGEM 4 500 exemplares

EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE Media4Development NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFO-DEPC/2018

comercial EUA-China

Gigantes em Conflito, Mundo em Suspenso

A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China intensificou-se em Abril, com o Presidente Donald Trump a elevar as tarifas de importação de produtos chineses para 145%. Inicialmente apresentada como uma medida para corrigir desequilíbrios globais no comércio, a ofensiva americana acabou por se acentuar em relação à China, acusada de práticas desleais como subsídios estatais e roubo de propriedade intelectual. Em resposta, Pequim retaliou, anunciou tarifas de 125% às importações dos EUA e o Presidente Xi Jinping alertou: “Guerras comerciais e tecnológicas não terão vencedores.”

Se o conflito persistir, as consequências poderão ser devastadoras. A Fitch reduziu a previsão de crescimento global para 2,3%, em 2025, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que esta guerra pode custar até 7% do PIB mundial (cerca de 6,7 triliões de dólares). As incertezas geradas mantêm a economia global num estado de tensão, com impactos visíveis no presente e no futuro. Em África e em Moçambique, a redução do comércio global e a instabilidade nos mercados de matérias-primas poderão afectar negativamente os investimentos e o desenvolvimento económico local.

Guerra

ENDE 2025-2044

Moçambique volta a debater desenvolvimento no longo prazo. Quais as linhas gerais?

Moçambique prepara-se para levar ao Parlamento a nova Estratégia Nacional de Desenvolvimento (ENDE) 2025–2044, um documento que pretende nortear o crescimento do País nas próximas duas décadas. A proposta assenta em pilares como a transformação estrutural da economia, desenvolvimento humano, sustentabilidade ambiental e boa governação. Mas à semelhança do que aconteceu com a anterior estratégia (2015–2035), o sucesso dependerá menos das metas no papel e mais do compromisso político e institucional com a sua implementação.

A avaliação da ENDE 2015–2035 mostra avanços tímidos e metas por cumprir. A industrialização, por exemplo, continua longe de ser realidade; a diversificação económica pouco avançou; e os indicadores de pobreza, desigualdade e acesso à educação e saúde mantêm-se em níveis preocupantes. Parte dos fracassos pode ser atribuída à instabilidade macroeconómica, aos choques externos e às calamidades naturais. No entanto, a falta de continuidade entre mandatos governamentais, o fraco alinhamento entre políticas sectoriais e a ausência de mecanismos de responsabilização são elementos estruturais que travam qualquer agenda de longo prazo.

Há ainda uma tendência recorrente de as estratégias nacionais serem tratadas como meros rituais de planeamento, sem ligação efectiva com os orçamentos, planos anuais e ciclos de governação. A nova ENDE arrisca-se a seguir o mesmo caminho se não for acompanhada por um pacto nacional que transcenda governos e promova metas de consenso, claras, mensuráveis e com acompanhamento independente. Esperemos para ver!

Extractivas
Coral Norte pode render 23 mil milhões de dólares

a Moçambique em 30 anos

O Governo moçambicano estima arrecadar 23 mil milhões de dólares em receitas fiscais e outras contribuições durante os próximos 30 anos, graças ao projecto Coral Norte, a nova plataforma flutuante de gás natural liquefeito (GNL) da petrolífera italiana Eni, na Área 4 da bacia do Rovuma.

Recentemente aprovado, o plano de desenvolvimento prevê o início das operações em 2028, com uma produção anual de 3,5 milhões de toneladas. O projecto prevê ainda a disponibilização de 25% do gás ao mercado interno e 100% do condensado para uso nacional, reforçando a

Aviação

autonomia energética de Moçambique. Com um investimento de 7,2 mil milhões de dólares, a nova unidade criará 1400 empregos directos para moçambicanos e inclui um plano de formação de quadros nacionais no sector de petróleo e gás.

O Coral Norte junta-se à unidade FLNG já em operação no Coral Sul desde 2022, fortalecendo a posição de Moçambique como um dos futuros grandes produtores globais de gás. Segundo a Deloitte, o País poderá arrecadar até 100 mil milhões de dólares em receitas com GNL até 2040 e representar 20% da produção africana.

Governo anuncia nova tentativa de estabilizar a Linhas Aéreas de Moçambique, desta vez em três anos

O Governo moçambicano espera estabilizar a Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) num prazo de três anos, após vender 91% das suas acções às empresas públicas EMOSE, CFM e HCB. A operação deverá render cerca de 130 milhões de dólares, destinados à compra de oito novas aeronaves e à reestruturação da companhia. No entanto, esta tentativa surge num contexto marcado por décadas de má gestão, elevada dívida, frota reduzida e deficiente manutenção, que colocaram a companhia aérea nacional numa crise persistente. Apesar de várias promessas

Energia

de recuperação feitas ao longo dos anos, incluindo intervenções pontuais e mudanças na liderança, os resultados têm sido limitados.

Entre 2021 e 2024, a LAM acumulou prejuízos superiores a 120 milhões de dólares. Em 2023, a gestão transitória da Fly Modern Ark (FMA), empresa sul-africana contratada para reestruturar a LAM, identificou esquemas de corrupção e desvio de receitas em bilheteiras, com prejuízos de mais de 3 milhões de dólares. O Gabinete Central de Combate à Corrupção investiga actualmente essas denúncias.

Apesar de o ministro dos Transportes, João Matlombe, assegurar que há condições para alcançar a estabilidade financeira com “investimentos adequados e reestruturação firme”, a escolha por manter a companhia sob controlo público levanta dúvidas.

Com a nova injecção de capital e a aposta nas empresas estatais como accionistas, o Executivo reacende a esperança de revitalizar a transportadora.

Banco Mundial confirma apoio a Mphanda Nkuwa

O Banco Mundial confirmou, recentemente, o seu apoio técnico e institucional ao projecto hidroeléctrico de Mphanda Nkuwa, no rio Zambeze, um dos mais ambiciosos da África Austral. Com capacidade prevista de 1500 megawatts, o empreendimento poderá aumentar em mais de 50% a produção de energia eléctrica de Moçambique, reforçando a segurança energética nacional e regional. Além da barragem, será construída uma linha de transporte de alta tensão de 1300 km, ligando Mphanda Nkuwa a Maputo, o que permitirá distri-

buir energia para o Sul do País e países vizinhos no âmbito da rede regional da SADC. O projecto é desenvolvido por um consórcio liderado pela Électricité de France (EDF), TotalEnergies e Sumitomo Corporation, com 70% do capital assegurado pelo sector privado. Os restantes 30% pertencem à estatal moçambicana Electricidade de Moçambique (EDM) e à HCB, reflectindo um modelo de Parceria Público-Privada (PPP). Estão previstas ainda a criação de milhares de empregos e benefícios para comunidades locais.

‘Top’ da Felicidade Pode Ser Discutível, Mas Moçambique Está Nos 10 Primeiros

África continua a ser a região mais infeliz do mundo, com uma pontuação média de felicidade de apenas 4,4. Embora vários países tenham registado progressos económicos significativos nos últimos anos, muitas zonas ainda enfrentam elevados índices de pobreza, conflitos persistentes, instabilidade política e infra-estruturas frágeis, factores que prejudicam os níveis gerais de felicidade.

Moçambique tem uma pontuação de 5,2, o que o coloca acima da média africana, figurando entre os países mais felizes do continente.

Esta pontuação posiciona Moçambique à frente de países como o Egipto (3,8),

Felicidade em África

em 2025

Marrocos 4,6

Burquina Fasso 4,4

Senegal 4,9

Gâmbia 4,4

Guiné 4,9

Serra Leoa 3,0

Libéria 4,3

Costa do Marfim 5,1

Gana 4,3

Togo 4,3

Mais Infeliz em África:

Serra Leoa

Etiópia (3,9), Zâmbia (3,9), Madagáscar (4,2), Quénia (4,3), Nigéria (4,9), Angola e Camarões (5,0) e a par da África do Sul (5,2) e Botsuana (5,2). E está apenas atrás das Maurícias (5,8), Líbia (5,8), Argélia (5,6), Costa do Marfim (5,1) e alguns países da África Ocidental e do Norte.

O estudo sugere que, apesar dos desafios económicos e sociais, Moçambique tem vindo a registar melhorias na percepção do bem-estar e na avaliação da qualidade de vida, posicionando-se entre os 10 países africanos mais felizes em 2025, segundo os dados do World Happiness Report.

As métricas usadas por esta avaliação são motivo de debate na Internet. Um dos

pontos de discórdia diz respeito aos critérios utilizados, porque não se pode medir a felicidade de forma igual em todos os pontos do planeta. No entanto, os dados ganharam notoriedade em todo o mundo e o mapa centra atenções, a cada edição.

Este mapa apresenta os resultados relativos aos países africanos no Relatório Mundial da Felicidade 2025. Apoios sociais, direitos, liberdades, PIB per capita e outros indicadores de bem-estar estão entre os critérios utilizados.

Abaixo, apresentamos as pontuações de felicidade dos países africanos segundo o Relatório Mundial da Felicidade 2025.

Os Países Mais Felizes e Menos Felizes do Mundo

Cada país recebe uma pontuação de 0 a 10 com base em medidas auto-relatadas de bem-estar e felicidade.

Mais Feliz em África: Maurícias

As Maurícias ultrapassaram a Líbia como o país mais feliz de África em 2025.

(Brazzaville)

Benim 4,4 Namíbia

A Serra Leoa tem a segunda pontuação de felicidade mais baixa do mundo e enfrenta uma pobreza generalizada e corrupção governamental.

mais feliz de África em 2025)

Mais alto Mais baixo

Fonte: World Happiess Report 2025 Os países a cinzento não têm dados disponíveis.

Nota: As pontuações baseiam-se nas avaliações que os próprios indivíduos fazem das suas vidas, em particular nas suas respostas à pergunta única de avaliação da vida da escada de Cantril

Maurícias
Marrocos

As Novas Tarifas dos EUA: Impactos no Comércio Internacional

Arecente implementação de uma nova política comercial pelos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, marcou uma inflexão significativa nas dinâmicas do comércio internacional. A introdução de tarifas de importação, com o objectivo declarado de proteger a economia doméstica e de reforçar a segurança nacional, ascendeu ao centro das relações económicas globais, reverberando tanto nos parceiros comerciais dos EUA quanto nos seus próprios consumidores.

A 2 de Abril de 2025, o anúncio do “Liberation Day” (Dia da Libertação) por Trump formalizou a instauração de um novo regime de tarifas recíprocas, visando salvaguardar a indústria norte-americana e corrigir desequilíbrios comerciais preexistentes. Esta medida estabeleceu uma tarifa-base de 10% sobre todas as importações, com excepção do Canadá e do México, que já estavam sujeitos a tarifas de 25%. Adicionalmente, foram impostas tarifas suplementares a cerca de 60 países, moduladas, segundo a administração Trump, em função das barreiras comerciais que estes impõem aos produtos norte-americanos, políticas de manipulação cambial e outros motivos. As tarifas propostas incluíram um aumento para 34% (acima dos 20% já em vigor) sobre a China, 30% sobre as importações da África do Sul, 20% sobre todas as importações provenientes da União Europeia e 16% sobre as importações de Moçambique, entre outros países com taxas a variarem entre 10% e 50%.

cos. Embora a medida vise estimular a produção nacional e diminuir a dependência de produtos estrangeiros, a consequência imediata é o aumento dos preços para os consumidores americanos, que agora enfrentam um custo mais elevado para adquirir bens importados. Estimativas da Bloomberg indicam que as famílias americanas poderão arcar com um custo médio adicional de até USD 2000 por ano.

A reacção dos mercados financeiros globais ao anúncio e implementação das tarifas americanas foi inequivocamente negativa. As bolsas de valores mundiais registaram quedas acentuadas, acompanhadas pela depreciação dos preços das matérias-primas. No dia 3 de Abril, o índice Dow Jones Industrial Average (DJIA) sofreu uma perda de 1679 pontos (3,98%), o S&P 500 recuou 6,65% e o Nasdaq Composite perdeu 1600 pontos, representando o pior desempenho desde o início da pandemia de covid-19. No dia seguinte, a 4 de Abril, a China anunciou tarifas retaliatórias de 34% sobre produtos americanos, o que levou a uma nova queda do Dow Jones em 2231 pontos (5,5%), totalizando uma perda superior a 4000 pontos em apenas dois dias. Esta queda abrupta representou uma perda de mais de USD 6,6 triliões em valor de mercado, configurando a maior perda de dois dias na história do índice.

“Não obstante a sua posição periférica face ao epicentro do conflito tarifário, as novas políticas comerciais dos EUA têm potencial para afectar a economia moçambicana através de mecanismos indirectos”

Com a implementação destas políticas, os Estados Unidos atingiram o nível médio de tarifas mais elevado nos últimos 80 anos. Apesar da intenção explícita de proteger a indústria nacional e reduzir o défice comercial, os efeitos secundários destas medidas incluem um agravamento de tensões diplomáticas e a eclosão de retaliações comerciais. A União Europeia, por exemplo, respondeu prontamente com a imposição de tarifas sobre produtos como o aço e o alumínio, desencadeando um ciclo de conflitos comerciais com implicações significativas para consumidores e exportadores de ambos os lados do Atlântico. O aumento das tarifas teve um impacto directo em diversos sectores da economia, abrangendo a indústria tecnológica, os bens de consumo e os electrodomésti-

Perante a turbulência nos mercados de equity e um sell-off da dívida norte-americana e consequente subida das taxas de juro, Trump anunciou uma suspensão temporária das tarifas anteriormente anunciadas, fixando-as em 10% por um período de 90 dias, excepto para a China, que, na sequência de um escalar das tensões, lida com tarifas que ascendem agora a 145%.

No que concerne a Moçambique, um país cuja pauta de exportações para os EUA é predominantemente composta por produtos agrícolas, o impacto directo das novas tarifas parece, à primeira vista, limitado. O aumento da tarifa de 10% para 16%, aliado ao facto de o País não ser um exportador significativo para os EUA (em comparação com outros destinos) e à tendência decrescente desse volume 124,3 milhões de dólares em 2022, 113,9 milhões de dólares em 2023 e 96,5 milhões de dólares em 2024), sugere um impacto imediato atenuado. No entanto, o aumento tarifário pode exacerbar ainda

Exportações de Bens para EUA (USD milhões)

Visão de Trump sobre as tarifas internacionais tem gerado convulsões nos mercados

mais esta tendência de declínio ou mesmo inviabilizar as exportações moçambicanas para os Estados Unidos.

Não obstante a sua posição periférica face ao epicentro do conflito tarifário, as novas políticas comerciais dos EUA têm potencial para afectar a economia moçambicana através de mecanismos indirectos, nomeadamente no âmbito do comércio global, dos fluxos de investimento e das cadeias de abastecimento internacionais. A vulnerabilidade da economia moçambicana a choques externos torna crucial um acompanhamento atento da evolução das políticas comerciais globais. É imperativo que o País se prepare para mitigar potenciais impactos negativos, ao mesmo tempo que procura identificar e capitalizar quaisquer oportunidades emergentes neste novo cenário económico internacional.

Mozambique LNG Consolida Aposta na Formação Local

Os números revelam o compromisso do consórcio Mozambique LNG com as comunidades onde se insere: em Cabo Delgado, o projecto já apoiou formação a cerca de 1000 jovens.

Texto M4D • Fotografia D.R

Apesar da suspensão temporária das obras de construção do projecto de liquefacção de gás natural em Afungi, no distrito de Palma, província de Cabo Delgado — após a declaração de “força maior”, provocada pelos ataques armados em 2021 —, o projecto Mozambique LNG, operado pela TotalEnergies, manteve o compromisso com o desenvolvimento socioeconómico das comunidades locais. Em 2024, o foco manteve-se na formação profissional de jovens moçambicanos e na capacitação de pequenas e médias empresas (PME), pilares centrais da sua estratégia de conteúdo local.

A informação foi avançada por Edna Simbine, gestora de Conteúdo Local da TotalEnergies, numa entrevista concedida ao programa “Baía das Oportunidades”, emitido pela Rádio Moçambique. A responsável destacou que, apesar do contexto adverso, o último ano foi marcado por avanços significativos em diversas frentes da agenda de desenvolvimento local.

Uma resposta para a juventude

Entre os principais marcos de 2024 sobressai a graduação de 180 jovens na delegação de Pemba do Instituto de Formação Profissional e Estudos Laborais Al-

berto Cassimo (IFPELAC), em áreas técnicas com forte procura no mercado de trabalho, tais como soldadura industrial, canalização, carpintaria e electricidade. Paralelamente, teve início um novo ciclo de formação em Quitunda, no distrito de Palma, beneficiando inicialmente 40 jovens — metade dos 80 previstos — em cursos de culinária e carpintaria ministrados através de unidades móveis de formação.

Desde o arranque da parceria com o IFPELAC, em 2022, o projecto Mozambique LNG já proporcionou formação a um total de 669 jovens. “Estamos convictos de que a juventude moçambicana é um activo estratégico para o futuro do País. A sua energia, resiliência e vontade de aprender são o motor deste investimento contínuo”, afirmou Edna Simbine.

Preparar PME para oportunidades No domínio do empreendedorismo e fortalecimento institucional, o ano de 2024 registou a participação de 50 empresas no Programa de Desenvolvimento Empresarial promovido pela TotalEnergies. Trata-se de uma iniciativa orientada para a profissionalização da gestão, elevação dos padrões operacionais e preparação para responder às exigências do sector do petróleo e gás, bem como de outras áreas da economia nacional.

“A promoção da igualdade de género nas iniciativas de formação é um eixo fundamental da estratégia de conteúdo local do projecto da TotalEnergies”

A estes esforços juntaram-se ainda dois bootcamps empresariais — um em Maputo e outro em Pemba —, que capacitaram 126 jovens empreendedores, com idades entre os 18 e os 35 anos, em matérias como gestão financeira, elaboração de planos de negócio e digitalização.

Já no sector logístico, 97 jovens de Palma concluíram um curso de condução de veículos pesados, uma resposta directa às necessidades do mercado e uma via efectiva para a empregabilidade local. “Alguns destes jovens estão já integrados em empresas da região, o que demonstra o impacto prático das nossas acções de formação”, acrescentou.

Incluir mulheres em áreas técnicas

A promoção da igualdade de género nas iniciativas de formação é um eixo fundamental da estratégia de Conteúdo Local do projecto. Em 2024, 42% dos formandos no âmbito da parceria com o IFPELAC eram mulheres — um progresso assinalável face aos padrões históricos de sub-representação feminina em áreas técnicas.

As actividades apostam na formação prática em áreas com grande procura no mercado local

“Queremos ir mais longe. A nossa meta não é apenas formar mais mulheres, mas também promover modelos de referência que possam inspirar outras a seguirem este caminho”, declarou Edna Simbine. “Trata-se de romper com estigmas e criar um ambiente mais inclusivo e equitativo.”

Metas ambiciosas e alianças estratégicas

Para o ano em curso, o projecto Mozambique LNG estabeleceu metas claras e ambiciosas. A TotalEnergies propõe-se formar, em colaboração com o IFPELAC, pelo menos 2500 jovens até 2027, alargando simultaneamente as áreas de formação a novos sectores emergentes.

Na vertente empresarial, prevê-se o apoio a mais 50 PME, e espera-se que parte destas empresas possam beneficiar de certificações internacionais como a ISO 9001, essenciais para o aumento da competitividade e sustentabilidade das empresas moçambicanas. Um outro eixo de intervenção será o re-

forço de parcerias, tanto entre empresas moçambicanas como entre entidades nacionais e internacionais, com vista à partilha de tecnologia, conhecimento e boas práticas.

“O que pretendemos é maximizar o impacto do conteúdo local, promovendo uma economia mais robusta, com maior absorção de mão-de-obra qualificada e capacidade de gerar valor interno”, sublinhou Edna.

Sustentabilidade a longo prazo

Segundo a mesma responsável, a sustentabilidade das iniciativas assenta numa lógica de estreita cooperação com instituições locais, nacionais e internacionais. O memorando de entendimento assinado com o Governo moçambicano e o IFPELAC, em 2022, reflecte esse compromisso de longo prazo.

“Estamos a construir, com os nossos parceiros, as bases para um futuro em que os moçambicanos sejam protagonistas activos do desenvolvimento económico do País, dentro e fora do sector do gás”, concluiu Edna Simbine.

OS NÚMEROS DO CONTEÚDO LOCAL DO PROJECTO MOZAMBIQUE LNG

jovens a formar. Meta estabelecida para o triénio 2025–2027.

jovens capacitados em parceria com o IFPELAC desde 2022. Cerca de 42% são mulheres.

jovens graduados em Pemba nas áreas de soldadura, canalização, carpintaria e electricidade.

jovens empreendedores capacitados em Maputo e Pemba, participantes nos treinos de gestão financeira, negócios e digitalização.

jovens formados em condução de veículos pesados, num curso ministrado no distrito de Palma

PME integradas no Programa de Desenvolvimento Empresarial com apoio à profissionalização e aumento da competitividade

2500 669 180 126 97 50 40

jovens já em formação em Quitunda/Palma, em cursos móveis de culinária e carpintaria (meta: 80 formandos)

FONTE Relatório Final de Execução do Projecto

Oconceito de “continuidade de operações”, referido habitualmente como “going concern”, é fundamental para a sustentabilidade das organizações da sociedade civil (OSC) e não só, que dependem de financiamento externo para operar. Ele reflecte a capacidade de estas trabalharem de forma sustentável e contínua. A consideração refere-se à suposição de que uma entidade continuará as suas operações no futuro previsível, sem a intenção ou a necessidade de liquidar ou reduzir significativamente as suas actividades.

Este termo desenvolveu-se ao longo do tempo com a evolução da contabilidade e das práticas financeiras. No entanto, ele tornou-se formalmente reconhecido no início do século XX, especialmente com a publicação de normas contabilísticas e de relato financeiro, que enfatizavam a importância da continuidade de operações de uma entidade. O termo e sua aplicação foram amplamente discutidos em textos contabilísticos e regulatórios, como os princípios contabilísticos geralmente aceites (GAAP) e as normas internacionais de contabilidade (IFRS), que abordam a continuidade das operações como um dos princípios fundamentais na elaboração de demonstrações financeiras.

No caso das OSC, a manifestação do conceito dá-se através de práticas de gestão financeira sólida, diversificação de fontes de financiamento, planificação de longo prazo, transparência e adaptação às mudanças. As considerações de “Continuidade de Operações” são essenciais para garantir que as OSC possam continuar a cumprir as suas missões e atender às necessidades das comunidades em que estão inseridas.

A retirada de doadores afecta directamente as OSC que dependiam do seu apoio, mas também levanta preocupações sobre a possibilidade de um efeito cascata sobre outros doadores, podendo agravar ainda mais a situação financeira dessas organizações. Veja-se o caso recente da Agência de Cooperação dos Estados Unidos da América, a USAID. Este artigo analisa, sem grandes pretensões filosóficas ou deontológicas de qualquer na-

Organizações da Sociedade Civil: Alternativas de Financiamento

tureza, os desafios e riscos associados, resultantes dessa dinâmica, bem como as implicações para a continuidade das operações das OSC, trazendo algumas estratégias para mitigar riscos.

A relevância dos doadores para as OSC

Os doadores têm sido um pilar de apoio para a maior parte, senão todas as OSC, a operar em Moçambique, fornecendo recursos financeiros e técnicos para a implementação de projectos em diversas áreas críticas como saúde, educação, direitos humanos

A saída de doadores de programas de cooperação ou de apoio às OSC representa uma perda significativa em termos de financiamento e da sua continuidade

e desenvolvimento económico. A saída de doadores de programas de cooperação ou de apoio às OSC representa uma perda significativa, não apenas em termos de financiamento, mas também em termos de continuidade das actividades ou da existência dessas entidades, em virtude da inexistência de fontes internas para gerar meios financeiros para as sustentem.

Diversas consequências derivam dessa cessação de apoios, tais como:

1. Perda de recursos financeiros: A saída de doadores pode resultar em cortes drásticos no financiamento, levando muitas OSC a reavaliarem as suas operações ou eventualmente a encerrarem as suas actividades.

2. Efeito cascata nos doadores: A saída de doadores pode desencadear um efeito cascata, em que outros doadores, preocupados com a estabilidade e a continuidade dos projetos, também reconsideram o seu apoio, especialmente quando a ajuda principal vier da entidade que deixa de apoiar, temendo que as suas contribuições não sejam suficientes. Este efeito cascata pode ser exacerbado por factores como:

• Percepções de risco: A percepção de que as OSC estão em dificuldades financeiras pode levar doadores a reconsiderar seu apoio, criando um ciclo de desconfiança.

• Mudanças nas prioridades de financiamento: A saída de um doador pode sinalizar mudanças nas prioridades de financiamento, levando outros a reavaliar as suas próprias estratégias de investimento.

• Fragilidade do ecossistema de doadores: A interdependência entre doadores e OSC significa que a saída de um grande financiador pode desestabilizar todo o ecossistema, afectando não apenas as OSC diretamente afectadas, mas também aquelas que dependem de um ambiente de financiamento saudável.

3. Desconfiança e incerteza: A saída de um doador de grande peso, por exemplo, pode gerar desconfiança entre outros financiadores. As OSC podem enfrentar dificuldades em justificar as suas necessidades financeiras e em demonstrar a eficácia dos seus programas, especialmente se a percepção for de que a sustentabilidade é incerta.

4. Aumento da competição por recursos: Com a diminuição do financiamento, as OSC podem entrar numa competição acirrada por recursos limitados dos doadores ainda com disposição de continuar com os programas de apoio. Isso pode levar a uma fragmentação de esforços, em que organizações que antes colaboravam podem tornar-se concorrentes, prejudicando a eficácia geral das iniciativas de desenvolvimento.

Com a implementação de abordagens adequadas, as OSC podem adaptar-se

Com que estratégias podem as OSC mitigar o risco?

1. Diversificação de Fontes de Financiamento: As OSC devem procurar diversificar as fontes de financiamento, reduzindo a dependência de doadores únicos. Algumas iniciativas:

• Recurso a financiamento público: As OSC podem procurar parcerias com o governo, solicitando subsídios ou financiamentos para projetos específicos que estejam alinhados com as políticas públicas.

• Doações privadas: Estabelecer relações com indivíduos e empresas que possam contribuir financeiramente. Isso pode incluir campanhas de angariação de fundos e eventos solidários.

• Fundos de Fundações: Muitas fundações oferecem financiamento para projectos sociais. As OSC podem identificar fundações que compartilhem objectivos semelhantes e submeter propostas para financiamento.

• Actividades geradoras de receita: As OSC podem desenvolver actividades que gerem receita, como a venda de produtos ou serviços relacionados com a sua missão. Isso pode incluir a realização de cursos, workshops ou consultorias.

• “Crowdfunding”: Utilizar plataformas de financiamento colectivo para mobilizar recursos de um grande número de pessoas, como o Mpesa, Facebook, etc. Essa abordagem pode ser eficaz para projectos específicos.

• Parcerias com o sector privado: Estabelecer parcerias com empresas que desejam apoiar causas sociais, seja através de patrocínios, doações ou programas de responsabilidade social corporativa.

• Programas de membros: Criar um programa de associação onde os mem-

bros pagam uma taxa para se juntar à organização e receber benefícios, como acesso a eventos exclusivos ou informações.

• Investimentos de Impacto: Procurar investidores que estejam interessados em financiar projectos que tenham um impacto social positivo, em troca de um retorno financeiro.

• Apoio Internacional: Explorar oportunidades de financiamento de organizações internacionais, agências de desenvolvimento e OSC que actuam em Moçambique.

• Programas de capacitação e formação: Oferecer programas de capacitação e formação para outras OSC, comunidades ou para empresas, cobrando uma taxa pela participação.

2. Fortalecimento da capacidade organizacional: Investir no fortalecimento da capacidade organizacional é crucial. É um pilar fundamental para a sustentabilidade das OSC em Moçambique. Investir nesse fortalecimento envolve diversas áreas críticas que podem influenciar diretamente a eficácia e a resiliência das OSC. Primeiro, a formação em captação de recursos é essencial. Isso capacita as OSC a identificar e aumentar a possibilidade de acesso a novas fontes de financiamento, mas também a desenvolver propostas mais competitivas e alinhadas com as expectativas dos financiadores. A capacitação em gestão financeira é igualmente importante, pois permite que as organizações administrem os seus recursos de maneira eficiente, promovendo a transparência e a prestação de contas, o que é vital para manter a confiança dos doadores e parceiros.

Além disso, a formação em seguimento e avaliação de projectos é crucial para que as OSC possam medir o impacto de suas iniciativas. Ajuda na melhoria contínua dos pro-

gramas e também fornece dados concretos que podem ser utilizados para atrair novos financiadores, demonstrando a eficácia e a relevância do trabalho realizado.

Outro aspecto importante do fortalecimento da capacidade organizacional é a promoção de uma cultura de aprendizagem contínua dentro da organização. Isso pode incluir a realização de workshops, seminários e intercâmbios de experiências com outras OSC, permitindo que as equipes compartilhem boas práticas e aprendam com os desafios enfrentados por outras organizações.

Além disso, o fortalecimento da capacidade organizacional deve abranger a melhoria das competências de liderança e gestão, assegurando que os líderes das OSC sejam capazes de inspirar e motivar as suas equipas, bem como navegar em ambientes complexos e em constante mudança.

Por fim, a construção de redes e parcerias com outras OSC, sector privado e instituições governamentais pode ampliar o alcance e a eficácia das iniciativas, permitindo a troca de recursos e conhecimentos. Ao investir no fortalecimento da capacidade organizacional, as OSC tornam-se mais resilientes e mais capazes de atender às necessidades das comunidades que servem de maneira eficaz e sustentável.

3. Construção de redes e colaborações: As OSC podem procurar trabalhar em rede, formando colaborações e parcerias que possam aumentar sua visibilidade e atractividade para potenciais doadores. A união de esforços pode resultar em propostas mais robustas e numa maior capacidade de resposta às necessidades da comunidade.

4. Transparência e prestação de contas: Manter altos padrões de transparência e prestação de contas é fundamental para ganhar a confiança de doadores. As OSC devem demonstrar claramente o impacto de seus projetos e a utilização responsável dos recursos.

Em jeito de conclusão, a saída de doadores pode representar um desafio significativo para as organizações da sociedade civil, colocando em risco a continuidade das suas operações. A possibilidade de um efeito cascata, que leve à saída de outros doadores, agrava ainda mais a situação e torna a necessidade de estratégias de mitigação desse risco ainda mais urgente. Mas com a implementação de abordagens adequadas, as OSC podem sobreviver, adaptar-se e prosperar num ambiente de financiamento em constante mudança, garantindo que continuem a desempenhar um papel vital no desenvolvimento social e económico e a aumentar o impacto social e económico dos projetos que realizam e monitorizam.

Rovuma LNG Reforça Aposta no Conteúdo Local

Mais de 350 empresários e representantes institucionais participaram nos fóruns organizados pelo MozUp, em Maputo e Pemba, reforçando o compromisso dos parceiros da Área 4 com o desenvolvimento do conteúdo local

Texto M4D • Fotografia D.R

Num claro sinal de reforço da estratégia de inclusão económica e valorização da cadeia de fornecimento nacional, o MozUp – Centro de Desenvolvimento Empresarial financiado pela ExxonMobil Moçambique e os parceiros da Área 4 – organizou, no início de Março, dois fóruns para promover o “networking” entre fornecedores, em Maputo e Pemba.

Os eventos, que reuniram mais de 350 participantes entre empresários locais e internacionais, autoridades públicas e representantes de organismos multilaterais, constituíram uma oportunidade estratégica para os operadores económicos obterem informações detalhadas sobre o projecto Rovuma LNG e prepararem-se para os processos de contratação em curso e futuros.

Realizados nos dias 4 e 6 de Março, na capital moçambicana e na cidade portuária de Pemba, os fóruns foram palco de discussões sobre as exigências do projecto, os critérios de conformidade, os desafios na certificação e pagamento e a necessidade de parcerias estratégicas que potenciem a inserção das pequenas e médias empresas (PME) locais nas cadeias de valor associadas ao gás natural liquefeito.

“Os parceiros da Área 4 organizaram estas sessões para rever as actividades de ‘early works’ [trabalhos iniciais] e oferecer, às empresas, informação e oportunidades que lhes permitam posicionar-se e competir. Trata-se de um compromisso assumido com o desenvolvimento do conteúdo local em Moçambique”, sublinhou Arne Gibbs, da ExxonMobil.

Expectativas que geram oportunidades

O fórum de Maputo, realizado no Radisson Hotel, reuniu mais de 250 participantes. Durante o encontro, a ExxonMobil e parceiros apresentaram o ponto de situação do projecto Rovuma LNG e identificaram áreas prioritárias para contratação de fornecedores, com destaque para a construção civil, logística e prestação de serviços.

“Tivemos a oportunidade de perceber com mais clareza o estado em que se encontra o projecto e é extremamente positivo que se criem estes espaços de diálogo”, assinalou Presley Moreira, da Dyna Segmen Moçambique.

Já no fórum de Pemba, que decorreu no Avani Pemba Beach Hotel, reuniram-se cerca de 150 participantes das províncias de Cabo Delgado, Nampula e Niassa. Além de reiterar as mensagens centrais partilhadas em Maputo, a sessão a norte abordou preocupações específicas da região, nomeadamente os custos de certificação, a transparência nos processos de aquisição e os prazos de pagamento.

Em resposta, a ExxonMobil reforçou o compromisso com o desenvolvimento empresarial inclusivo, destacando o papel do MozUp na facilitação do registo no Portal de Gestão de Fornecedores (SRMP), que conta já com mais de 4 mil perfis activos.

Foco na competitividade

Uma das principais mensagens deixadas pelos organizadores foi a importância das chamadas “Smart Partnerships”, ou seja, parcerias inteligentes – ligações entre empresas moçambicanas e internacionais (ou entre empresas locais) com vista ao reforço das competências técni-

Os fóruns foram palco de discussões sobre as exigências do projecto, os critérios de conformidade, os desafios na certificação, entre outros

A ExxonMobil e parceiros apresentaram o ponto de situação do projecto Rovuma LNG

cas e da capacidade de resposta a exigências contratuais complexas.

Este modelo tem permitido, segundo os promotores, o desenvolvimento de conhecimento local, a adopção de padrões internacionais de qualidade e a consolidação de trajectórias de excelência.

Durante os fóruns, o MozUp destacou ainda os recursos disponíveis para apoiar os fornecedores locais a cumprirem os requisitos de segurança, saúde, higiene e ambiente (SSHE), essenciais para participação nas cadeias de fornecimento do projecto.

“Sugiro que cresçamos juntos, construindo esta infra-estrutura, colocando-a em operação e assegurando a sua sustentabilidade. Esse é o propósito do MozUp”, frisou Kirsten Danielson, da ExxonMobil.

Os testemunhos colhidos nos dois encontros revelam um ambiente de crescente maturidade empresarial e vontade de capitalizar as oportunidades criadas pelo investimento no sector energético. “Quando nos dizem, com antecedência, que uma empresa de ‘catering’ moçambicana deverá estar preparada,

SOBRE O MOZUP

O programa MozUp, que tem o apoio da ExxonMobil, da italiana Eni, da chinesa CNPC, da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) e da Kogas, iniciou as operações, em 2019, com o principal objectivo de contribuir para o desenvolvimento da economia nacional através da capacitação das micro, pequenas e médias moçambicanas no acesso às oportunidades da indústria de petróleo e gás e do sector de energia em geral.

Lançado, primeiro, em Maputo, em 2019, o MozUp EDC já permitiu a participação virtual em todo o País de 955 empresas e de 2151 pessoas nas 149 acções de formação ministradas em áreas-chave identificadas como desafios para as empresas moçambicanas. Seis delas foram orientadas para a conformidade e certificação em normas da Organização Internacional de Normalização (ISO).

Outros serviços prestados pelo MozUp EDC incluem a implementação de avaliações empresariais e planos de reforço empresarial, aconselhamento sobre o acesso a capital e serviços financeiros e actividades para promover parcerias entre empresas para o crescimento.

daqui a um ano, para fornecer cinco mil refeições por dia, isso dá-nos tempo para planear e cumprir. Esta é, sem dúvida, a melhor forma de promover o conteúdo local”, complementou Assif Osman, do Grupo Osman Yacob.

Com presença em Maputo e Pemba, o MozUp posiciona-se como elo fundamental entre o sector privado moçambicano e os grandes operadores do projecto Rovuma LNG, assumindo-se como catalisador de uma nova geração de fornecedores preparados para competir num mercado globalizado.

Marcos Bardagi • Professor da Fundação Dom Cabral, Brasil

A Agenda ESG Ainda Vale a Pena?

Nestes dias conturbados, onde parece que estamos a assistir ao nascimento de uma nova ordem económica mundial, é natural que surjam dúvidas a respeito das nossas crenças mais profundas.

Entre elas, inclui-se a crença de que a adopção de uma agenda abrangente ambiental, social e de governança (ESG, sigla inglesa) possa representar uma vantagem competitiva para qualquer país. Será esta, ainda, uma alternativa crucial para impulsionar o desenvolvimento sustentável e o crescimento económico em Moçambique?

Inicialmente, importa reflectirmos sobre a pertinência absoluta deste tema, num país ainda a procurar superar tremendas dificuldades relativas à pobreza, desemprego, insegurança energética e alimentar, baixa conectividade e falta de infra-estrutura. A agenda ESG não trará custos desnecessários diante dos desafios reais do País? Pois, acredito que a temática ESG pode propiciar o “salto quântico” para um futuro melhor, justamente por incluir formas inovadoras de transformar rotinas.

segurando simultaneamente o desenvolvimento económico. E não custa lembrar Mia Couto, que nas suas obras deixa claro que “a natureza é algo vivo para este nosso povo, que a escuta, que a respeita, que vê na terra uma entidade materna e base sólida para o Homem.”

Quanto ao pilar Social, um programa público focado nas ideias de ESG dará prioridade ao desenvolvimento de infra-estruturas, garantindo que os benefícios da exploração de recursos naturais contribuam directamente para melhorar os padrões de vida. Tal poderia incluir requisitos obrigatórios de investimento social para as indústrias extractivas, programas estruturados de envolvimento comunitário e mecanismos transparentes de partilha de receitas com as comunidades locais.

Evidências de outras nações de África

sugerem que a adopção adiantada dos princípios ESG pode criar vantagens competitivas de longo prazo e ajudar a evitar conflitos

ambientais e sociais dispendiosos

Do ponto de vista ambiental, a localização única de Moçambique torna a implementação da agenda ESG particularmente relevante. A costa de 2500 quilómetros de extensão enfrenta ameaças crescentes das mudanças climáticas, incluindo o aumento do nível do mar e a intensificação de ciclones tropicais. Ciclones devastadores recentes, como o Idai e o Kenneth (2019), demonstraram a necessidade urgente de reforçar estratégias de resiliência climática.

Ao adoptar princípios ESG, Moçambique pode proteger melhor as comunidades costeiras, enquanto desenvolve o sector emergente de gás natural de uma forma ambientalmente responsável. Esta abordagem equilibrada ajudará a preservar a rica biodiversidade do País, as-

Em termos de Governança, a implementação da uma agenda ESG fortaleceria o quadro institucional de Moçambique, particularmente na gestão da riqueza em recursos naturais. O reforço da transparência e de medidas de responsabilização contribuiria para um combate efectivo contra a corrupção. Estruturas de governança fortes também podem atrair investidores internacionais responsáveis que dão cada vez mais prioridade a normas de conformidade ESG nas decisões de investimento.

Apesar dos recentes reveses nos Estados Unidos da América, ainda temos na Europa uma guardiã das práticas de governança mais estritas e correctas. Isto tende a permanecer como a visão vitoriosa neste embate.

E à medida que os mercados globais enfatizam cada vez mais a sustentabilidade e práticas empresariais responsáveis, o compromisso de Moçambique com os princípios ESG aumentará a sua competitividade na atracção de investimento directo estrangeiro e na conquista de financiamento verde e de fundos climáticos. Os críticos podem argumentar que a implementação de nor-

mas ESG pode criar encargos burocráticos adicionais. No entanto, evidências de outras nações de África sugerem que a adopção adiantada dos princípios ESG pode criar vantagens competitivas de longo prazo e ajudar a evitar conflitos ambientais e sociais dispendiosos, como os que muitas vezes afligem países ricos em recursos. Vejamos algumas iniciativas notáveis:

No Egipto, anfitrião recente da COP 27, em 2022, tivemos claras demonstrações do compromisso com a sustentabilidade. O sector bancário, por exemplo, está a integrar cada vez mais análises de risco ESG nas decisões de crédito e visa reduzir a pegada de carbono em todas as carteiras.

Em Marrocos, temos um uso pioneiro de energias renováveis, em que projectos solares e eólicos aumentaram muita da capacidade. No Ruanda, há melhorias significativas na avaliação dos

critérios ESG devido a iniciativas como o plantio de 43 milhões de árvores e graças à revisão da estratégia de crescimento verde com o objectivo de reduzir as emissões em 38% até 2030. O Ruanda, juntamente com o Benin, foram também os primeiros países a emitir títulos financeiros ligados à sustentabilidade, em África, o que vincula os pagamentos de juros ao desempenho dos princípios ESG.

Na Namíbia, há um investimento significativo em energia (Hyphen) que visa produzir hidrogénio verde para reduzir substancialmente as emissões de CO2 – uma entre inúmeras iniciativas da The African Green Hydrogen Alliance, uma aliança que inclui Egipto, Quénia, Mauritânia, Marrocos, Namíbia e África do Sul.

No Quénia, em colaboração com o Banco Mundial, desenvolvem-se títulos vinculados à sustentabilidade visan-

A temática ESG pode propiciar o “salto quântico” para um futuro melhor

do a electrificação rural e metas sociais. Estes são avanços claros e louváveis nesta agenda, muito embora ainda só existam oito países africanos com as suas metas “net zero” acordadas.

Moçambique já tem seu plano “net zero” proposto, mas, infelizmente, com um grau de detalhe muito pequeno. Não estão especificados, por exemplo, como se fará o seguimento destas metas, não se quantificam as emissões de CO2, nem se estabelece a responsabilização formal sobre os tópicos (*).

Oportunidades de melhoria começam com compromissos claros. Moçambique deve fazer-se presente com mais intensidade nesta temática e aproveitar a oportunidade para se juntar aos pioneiros.

(*) Segundo as informações constantes em https://zerotracker.net/countries/mozambique-cou-0078.

Investir ou Desistir?

Abrir ou manter um negócio em Moçambique é um teste diário à resiliência. A burocracia engole tempo e energias, os regulamentos mudam (quase) ao sabor do vento, as taxas de juro asfixiam ambições de crescimento e a corrupção transforma processos simples em labirintos com portagens. Some-se a tudo isto uma escassez de capital humano qualificado, fraca cultura de boas práticas empresariais e lentidão na justiça. Eis um ambiente de negócios que parece feito para desencorajar quem tenta gerar riqueza e empregos. Parece haver sinais de melhoria, mas para que empreender deixe de ser um acto de teimosia e passe a ser uma escolha viável (e preferível à desistência), ainda há muito por mudar

Texto Celso Chambisso • Fotografia Istockphoto

Não é por falta de ideias ou de coragem que fazer negócios em Moçambique continua a ser um exercício de resistência, mas por causa de um ambiente que, muitas vezes, em vez de promover o crescimento, sufoca-o. Os empresários (dos grandes industriais aos jovens empreendedores) têm sido claros: há demasiadas pedras no caminho.

Kekobad Patel, empresário veterano e um dos nomes mais respeitados do sector privado moçambicano, não poupa nas palavras: “O Estado precisa de decidir se quer o sector privado como parceiro ou como suspeito." Especialista em comércio internacional, já viu projectos atrasarem-se meses por causa de questões burocráticas “absurdas”, com licenças que “circulam como num carrossel, entre departamentos, enquanto os custos operacionais explodem."

Mas não é só nas altas esferas que tal acontece. Um pequeno produtor de castanha de caju, em Nampula, relata ter perdido uma exportação inteira porque os serviços alfandegários demoraram mais do que o produto podia aguentar. Em vez de uma solução, recebeu uma vaga promessa de que tudo se iria resolver... “da próxima vez."

A instabilidade fiscal, as mudanças constantes das taxas e regulamentos, a morosidade dos tribunais e a escassez de financiamento compõem um cenário onde empreender é quase um acto de desobediência civil. Apesar disso, há empresários que continuam a tentar. E talvez aí esteja a maior força do País: não nas políticas que vêm do topo, mas na resiliência de quem insiste em erguer fábricas, abrir lojas e exportar produtos, mesmo quando o sistema parece empenhado em fazer o contrário.

As opiniões que a E&M escutou coincidem num ponto: chegou a hora de mudar o tom. Ou se ouve os que constroem riqueza e empregos, todos os dias, ou o País continuará a perder o mais valioso dos seus recursos: a esperança.

Um problema institucional

James Robinson, Prémio Nobel de Economia em 2024, apontou as instituições como factor que faz a diferença no desempenho das nações. Egas Daniel, economista moçambicano da consultora Oxford Economics, pegou nos pressupostos daquele laureado e criou uma base de análise voltada para o País. “Porque é que o nosso ambiente de negócios não é competitivo? Porque é que a nossa produção atrai poucos empresários

nacionais para o investimento”, questiona, concluindo: “O grande problema está na burocracia! Significa que o primeiro grande problema que Moçambique tem de resolver é institucional”, reflectido nessa burocracia, que, por sua vez, origina outros problemas e faz florescer a corrupção – um efeito cascata (ver gráfico).

Elevada informalidade

A informalidade é outro obstáculo institucional ao ambiente de negócios, cuja prevalência é viabilizada pela burocracia, aponta Egas Daniel. Ou seja, “quando uma empresa pensa em formalizar um negócio, avalia todos os aspectos burocráticos que tem de enfrentar, adiciona a ‘perseguição’ institucional e a corrupção a que vai estar exposta depois de se registar e conclui que o seu negócio é mais próspero enquanto informal." Neste caso, mais uma vez, “negócios eficientes, como os de algumas ‘startups’, que poderiam expandir o seu capital, ganhar mercados e aumentar a empregabilidade se transitassem para o sector formal, acabam por perder essa oportunidade." Sem incentivos para se formalizarem, a análise de viabi-

“O

primeiro grande problema de Moçambique no ambiente empresarial é institucional, reflectido na burocracia, que, por sua vez, origina outros problemas”, Egas Daniel

A burocracia continua a ser apontada como uma adversidade de peso

lidade implícita que estas empresas fazem impede outras aventuras “que podiam trazer grandes resultados para os seus negócios."

Alta dependência dos megaprojectos Egas Daniel entende que boa parte da prosperidade económica de Moçambique depende dos chamados “megaprojectos”, ou seja, investimento directo estrangeiro (IDE), actualmente centrado nos minérios e gás, mas “sem muitos moçambicanos representados e sem empregar muitas pessoas."

Além disso, a dependência destes grandes projectos expõe Moçambique a imposições externas ou flutuações de preços de matérias-primas. “Muitas vezes, temos de nos submeter a cenários em que temos baixo poder de negociação”, por haver uma relação de dependência e faltar “um sector doméstico vibrante."

“Por exemplo, quando nos sentamos com a TotalEnergies, sabemos que tudo ou quase tudo o que formos negociar” depende daquela petrolífera, criticou, indicando que tal não aconteceria se o País tivesse pequenas e médias empresas vibrantes com potencial de crescimento e de se integrarem na economia.

O EFEITO CASCATA DA BUROCRACIA À CORRUPÇÃO

Quando há muita burocracia, como acontece nas instituições moçambicanas, gera-se um ambiente favorável à corrupção, aponta Egas Daniel, economista moçambicano da consultora Oxford Economics

AS FACILITAÇÕES

Há “facilitações fora da componente legal dos processos e lubrificam-se todas as condições para que a corrupção prospere. Do ponto de vista prático, a corrupção inibe o surgimento de negócios que têm potencial de crescimento, de impacto estrutural e de escalonamento mundial."

SEM INOVAÇÃO

Reinando a burocracia, a corrupção e várias barreiras legais e institucionais, nada filtra os bons e os maus negócios. Aqueles que têm potencial para transformar a economia de forma visível nos próximos anos “acabam por ser ofuscados”, por quem quer afastar a concorrência.

Classificação de crédito em queda

A degradação da classificação de crédito de Moçambique é um problema. A agência de notação financeira Moody's desceu, já este ano, o “rating” da dívida interna (para o nível Caa3, três níveis antes do incumprimento financeiro ou 'default'), devido a atrasos nos pagamentos e a uma troca de dívida. A Fitch Ratings baixou a classificação de crédito soberano (para CCC) e a avaliação da Standard & Poor's (S&P) também caiu (para o nível CCC-).

Estas descidas reflectem preocupações com a situação económica de Moçambique, como o agravamento do défice orçamental, a quebra da receita fiscal, o aumento da despesa com segurança e o crescimento económico mais fraco.

“Quando um investidor externo se depara com um ‘rating’ nacional desfavorável, a tendência natural é de retracção, pois esse indicador reflecte a capacidade do país em honrar os seus compromissos financeiros externos. O ‘rating’ é, por isso, um sinal vital da credibilidade económica da nação e tem um impacto significativo na atracção de investimento estrangeiro”, refere Bruno

SEM CONCORRÊNCIA

Ao enfrentarem a corrupção, as empresas inovadoras ficam retraídas, em detrimento das que controlam o sistema: cria-se um cenário em que a inovação não é estimulada e limita-se o surgimento de concorrência.

O RESULTADO

Egas Daniel aponta para os números: Moçambique mantémse na 146.ª posição na lista de 180 países que constam do índice de percepção global de corrupção. Com 25 pontos, é o terceiro país mais corrupto ao nível da África Austral.

Dias, que lidera os serviços de consultoria (“consulting leader”) na Ernst & Young Moçambique.

No topo dos critérios de análise de risco, alguém que quer investir ou fazer crescer os negócios em Moçambique procura estabilidade política e social, o que acabou por ser alcançado nos últimos meses, com o acalmar da tensão pós-eleitoral (que ocorreu após Outubro de 2024). “Será importante que assim se mantenha”, disse Bruno Dias.

Empresas têm responsabilidades

Para Bruno Dias, o fortalecimento do ambiente de negócios em Moçambique exige responsabilidade partilhada entre todos os intervenientes, incluindo as empresas, o sistema financeiro e demais participantes. “Quando se trata, por exemplo, de financiamento para um projecto ou de uma operação mais complexa como um ‘project finance’, é fundamental que o dossiê esteja bem instruído”.

Ainda de acordo com o responsável, do lado das empresas, é essencial garantir que os modelos financeiros estejam bem construídos, que as análises de crescimento sejam sólidas e que

exista uma boa estrutura de garantias. “A empresa tem de estar bem colateralizada. Isso é muito importante”, sublinha.

Do lado do sistema financeiro, há mecanismos próprios de controlo de qualidade. Os “checks and balances” da banca estão desenhados para assegurar a viabilidade das operações. “Todos os empréstimos têm de passar por um comité de crédito, que só o aprova se tudo estiver devidamente instruído e se fizer sentido em termos de viabilidade”, explica Dias.

Apesar dos desafios, o especialista destaca que, pelo que conhece da banca e de quem lá trabalha, “há muito interesse em colocar crédito no mercado. Mas, para isso, é preciso haver bons projectos e bem apresentados."

A avaliação de crédito de Moçambique degradou-se e “quando um investidor externo se depara com um ‘rating’ nacional desfavorável, retraise, porque reflecte a capacidade do País em honrar os compromissos financeiros externos”, Bruno Dias

“Algumas coisas bem pensadas” Apesar do cenário geral de carência ao nível das infra-estruturas, Bruno Dias considera que “há algumas coisas bem pensadas, como o financiamento através do Millennium Challenge, organismo do Governo dos Estados Unidos que apoia países em desenvolvimento, incluindo Moçambique, desde que se comprometam a melhorar a governação, a liberdade financeira e a investir na população. Em Moçambique, prevê-se o investimento na construção de um troço de estrada muito importante na província Zambézia. Noutra área, o porto de Maputo tem um plano de expansão “muito interessante”, com investimentos previstos para o fortalecimento do transporte ferroviário. No contexto do acesso ao financiamen-

A infra-estrutura do porto de Maputo é um dos (poucos) exemplos do que de bom se faz para atrair investimentos

to, segundo o consultor, também têm sido dados passos importantes nos últimos tempos, como a criação de um fundo de garantia mutuária, que vai ajudar a colateralizar empréstimos para as pequenas e médias empresas (PME), mas que ainda não foi operacionalizado. Outra medida a que Bruno Dias faz menção é o Fundo de Recuperação Económica, lançado em Fevereiro pelo Presidente da República, Daniel Chapo, como parte dos esforços para reerguer os empreendimentos afectados pela violência no contexto das manifestações pós-eleitorais.

Bruno Dias aponta ainda para melhorias ao nível da regulamentação, nos últimos anos. “Por exemplo, estivemos [a EY] a suportar o Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comu-

E OS DESAFIOS ESTRUTURAIS E DE MÉDIO PRAZO …

“Não podemos basear o nosso desenvolvimento apenas no ‘oil&gas’. Estes recursos devem servir como alavanca para dinamizar o resto da economia e impulsionar o crescimento de uma classe média emergente, que é fundamental para o aumento sustentado do Produto Interno Bruto”, diz Bruno Dias, “consulting leader” da E&Y Moçambique.

DIFICULDADES DE FINANCIAMENTO

É um velho problema da economia moçambicana: continua a existir dificuldade de financiamento, com taxas de juro muito elevadas - apesar dos cortes nas taxas directoras. Faltam também ferramentas financeiras acessíveis.

FALTA DE INFRAESTRUTURAS

Dito de forma simples: “Não há infra-estruturas”, refere Bruno Dias. O “consulting leader” da E&Y refere-se à logística e ao transporte (ferroviário e cabotagem, que considera fundamentais para fazer crescer a economia).

DEPENDÊNCIA EXTRACTIVA

Segundo Bruno Dias, a dependência excessiva do sector extractivo coloca o País em risco de contrair a "doença holandesa", enfraquecendo outros sectores ao valorizar a moeda e atrair recursos desproporcionais para a indústria extractiva.

FRACA DIVERSIFICAÇÃO

A concentração no sector extractivo desencoraja a diversificação, limita a inovação e torna a economia vulnerável à volatilidade dos preços de matérias-primas. “É imperativo não esquecer a importância da diversificação”, alerta Bruno Dias.

… CAMINHOS PARA UM MELHOR AMBIENTE DE NEGÓCIOS

Sugestões de empresários, académicos e especialistas ouvidos pela E&M apontam o que é necessário para transformar o ambiente de negócios em Moçambique, em todas as áreas-chave como financiamento, legislação, capital humano, infra-estruturas e ambiente institucional

Capital humano

Formação técnico-profissional em massa e orientada para o mercado; Parcerias entre empresas e instituições de formação para estágios; Criação de centros de excelência para formação de empreendedores; Mentorização e capacitação contínua para gestores e empreendedores

Finanças

Criação de linhas de crédito bonificadas específicas para as PME; Acesso ao financiamento através de garantias parciais do Estado; Estímulo à banca a apostar em projectos produtivos e inovadores; Incentivos fiscais a investidores que apoiem startups locais

Infra-estruturas e logística

Quadro legal e regulação

Redução da burocracia para registo e licenciamento de empresas; Estabilidade e clareza das leis e regras para investimentos; Reforma dos tribunais comerciais para maior confiança jurídica; Reforço dos mecanismos de combate à corrupção

Tecnologia e inovação

Estímulo a soluções digitais no comércio e serviços; Apoio à incubação de startups tecnológicas em todas as províncias; Programas de financiamento e aceleração de ideias inovadoras; Parcerias entre universidades e sector privado para pesquisa aplicada

Ambiente institucional e político Melhoria das estradas, energia e telecomunicações; Modernização dos portos e sistemas aduaneiros; Parques industriais com serviços partilhados e custos reduzidos; Incentivos à logística integrada e uso de tecnologia no transporte

Fortalecimento do diálogo público-privado com decisões vinculativas; Previsibilidade das decisões políticas; Promoção da descentralização com a emancipação local; Valorização da meritocracia na administração pública

nicação (INTIC) em dois regulamentos: um para serviços na ‘cloud’ e outro de licenciamento de ‘data centers’. São regulamentos importantíssimos para fazer crescer as tecnologias de informação no País”, explica.

“Todos estes passos indicam que Moçambique está ciente do que é preciso e está no bom caminho, mas é preciso que os diversos projectos saiam da gaveta”, destaca.

Moçambique precisa de uma abordagem estrutural e pragmática para inverter o actual panorama

Condições para o sucesso

Para Egas Daniel, há vontade política para mudar o panorama (muitas políticas para melhorar o ambiente de negócios já foram aprovadas, diz). Mas a cultura instalada de burocracia, corrupção e informalidade não vai desaparecer facilmente. “É um desafio acabar com um sistema que se foi instalando e consolidando por muito tempo”, conclui. Por seu lado, Bruno Dias entende que o País

Os projectos de gás continuam a alimentar expectativas

tem todas as condições para se tornar num exemplo extraordinário em termos de desenvolvimento económico: tem recursos naturais abundantes, uma população jovem e um posicionamento geoestratégico favorável. Segundo Bruno Dias, “se houver estabilidade política e não se registarem recuos, como os verificados nos últimos anos — desde a pandemia de covid-19 até aos desastres naturais —, o País pode estar à por-

ta de uma nova era." Além disso, “o gás pode ser o balão de oxigénio necessário para dinamizar o resto da economia."

No entanto, adverte que, no caso específico do turismo, será impossível criar valor sem investimentos sérios em infra-estruturas básicas. “Sem aeroportos funcionais, uma forte companhia aérea de bandeira, estradas que permitam o acesso a destinos turísticos, entre outras condições logísticas, o sector não con-

COM QUE EXEMPLOS DEVEMOS APRENDER?

Moçambique tem tudo para se consolidar como um líder regional, nos próximos 5 a 10 anos, e a iniciativa privada tem um papel fundamental, refere Marcelo Tertuliano, associado da CTJ. Para gerar mudança, não é preciso “inventar a roda”, acrescenta, indicando que países podem servir de inspiração:

2. Digitalização de processos: digitalizou serviços públicos, agilizando a economia. Moçambique, seguindo este exemplo, pode expandir a digitalização para simplificar ainda mais o ambiente de negócios; SINGAPURA

1. Transparência e governança: criou uma agência anticorrupção independente, inspirando confiança. O Governo moçambicano, que já avança neste sentido, deve fortalecer a transparência para atrair mais investimentos;

3. Diversificação económica: diversificou a economia, estabilizando a moeda. Moçambique pode seguir este caminho usando receitas do fundo soberano que amortizem choques económicos;

4. Segurança e inclusão: reduziu a violência com um plano específico (Plano Colômbia). O Governo moçambicano está a tentar pacificar a região de Cabo Delgado, o que pode abrir novas oportunidades para investimentos em infra-estrutura e indústria.

seguirá crescer nem atrair investimento sustentável."

Reformas estruturantes para uma mudança real

Para Joel Almeida, associado da consultora Mazars, Moçambique precisa de uma abordagem estrutural e pragmática para inverter o actual panorama. Alinhando na necessidade de observar e replicar exemplos concretos de paí-

O sector privado tem tentado concertar ideias com o Banco Central, mas com poucos avanços

ses que superaram contextos adversos, aposta na digitalização e na e-Governance como alicerces para uma administração pública mais eficiente, transparente e inclusiva.

Joel Almeida defende ainda reformas políticas e económicas consistentes que garantam estabilidade e tornem o País mais atractivo ao investimento, nomeadamente nos sectores da tecnologia e inovação.

Alerta, igualmente, para a necessidade de políticas cambiais favoráveis, acesso à moeda estrangeira e diversificação económica, como meios de reduzir a dependência de matérias-primas e atrair mais capital externo. “Sem estas reformas, será difícil transformar o potencial em progresso concreto”, advertiu.

Cinco dimensões de mudança

As linhas de orientação vêm da consultora Deloitte, na voz de Inácio Neves, associate Partner, Risk, Regulatory & Forensic, e Katia Buzi, Associate Partner, Tax da consultora Deloitte. Ambos convergem na necessidade de um

São necessárias políticas cambiais favoráveis, acesso à moeda estrangeira e diversificação económica para reduzir a dependência de matérias-primas e atrair mais capital externo

AINDA ASSIM, ALGUNS AVANÇOS

A respeito da burocracia, embora reconheça que, “hoje em dia, há muitas queixas de quem precisa de várias licenças” para fazer negócios, Bruno Dias centra-se no que considera serem “boas notícias”. Explica que o Banco Mundial, por exemplo, já tem linhas de financiamento “interessantes” para a digitalização dos serviços do Estado.

São iniciativas de 129 milhões de dólares em 2021, 200 milhões de dólares em 2022 e mais 150 milhões de dólares para o Projecto de Economia Digital e Governo Electrónico em 2023. O consultor recorda, também, que está em implementação uma plataforma de aquisições, recentemente lançada, para credibilizar as compras públicas, além de um recém-lançado concurso de interoperabilidade, para criar uma plataforma em que as várias entidades governamentais se interliguem.

esforço coordenado e sustentado para criar um ambiente de negócios mais estável, competitivo e inclusivo no médio e longo prazo. As perspectivas traçadas abrangem cinco dimensões:

Política, com ênfase na continuidade das reformas, promoção da transparência e criação de um plano de governação inclusivo;

Económica, com foco na diversificação da economia e melhoria da infra-estrutura logística;

Social, através do investimento no capital humano para aumentar a produtividade;

Financeira, com maior inclusão e inovação no setor financeiro;

Tecnológica, onde a transformação digital é vista como imperativo estratégico.

Os responsáveis da Deloitte consideram que o sucesso destas transformações exigirá liderança comprometida, diálogo entre sectores e implementação efectiva de políticas. A estabilidade institucional e a confiança dos investidores serão consequências naturais de reformas bem conduzidas.

Empresários Queixam-se de Trabalhar em Terreno Minado

Raptos, protestos e políticas instáveis travam o crescimento das PME. Mesmo com as promessas do novo Governo, o ambiente de negócio continua refém de novas e antigas ameaças

As pequenas e médias empresas (PME) enfrentam um ambiente hostil e estão longe de sentir uma retoma económica em Moçambique. Os riscos para o ambiente de negócio persistem e ameaçam travar qualquer impulso de crescimento sustentável.

O presidente do Conselho de Administração da Associação Moçambicana das Pequenas e Médias Empresas (APME), Inocêncio Paulino, lembra que o ambiente empresarial tem vivido uma sucessão de factores desfavoráveis desde a eclosão da covid-19, em 2020. Lamenta, igualmente, o modesto desempenho da economia durante estes anos, sem permitir que as empresas revertam os efeitos da crise pandémica. O Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 recuou (-1,2%), depois cresceu 2,9% em 2021, 4,4% em 2022 e 5,4% em 2023. E quando se esperava que a tendência se mantivesse crescente, a economia desacelerou para um crescimento de 1,85% no ano passado, testemunhando o mau ambiente para a actividade empresarial.

Degradação da estabilidade social

As manifestações pós-eleitorais, entre Outubro de 2024 e Janeiro deste ano, terão sido o ponto mais alto de uma instabilidade empresarial que se arrasta há

vários anos, com impactos severos sobre o desempenho da economia. A instabilidade perturbou a dinâmica do consumo, retraiu a procura e limitou a capacidade de oferta. Inocêncio Paulino relata que o fenómeno prejudicou, de forma directa, mais de 955 empresas, cerca de metade das quais (51%) sofreu vandalizações totais ou saques de mercadorias.

“As manifestações custaram à economia cerca de 32,2 mil milhões de dólares e tiraram emprego a mais de 17 mil pessoas”. Estes números foram apurados pelo conjunto das organizações empresariais, que, além da própria APME inclui a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA). A APME refere ter realizado um levantamento detalhado sobre os danos nas províncias de Maputo, Gaza e na cidade de Maputo. Possui “imagens devidamente documentadas com situações dramáticas das empresas e que testemunham perdas materiais e de postos de trabalho.”

Nos últimos meses, entretanto, há um aparente retorno ao normal. Mas, recentemente, a consultora Oxford Economics alertou para a prevalência de um “risco moderado” de conflitos e indicou que a incerteza vai continuar a afectar a confiança dos empresários, podendo prejudicar o investimento estrangeiro. “Ainda há um risco moderado de os protestos poderem recomeçar no segundo tri-

As manifestações pós-eleitorais, entre Outubro de 2024 e Janeiro deste ano, terão sido o ponto mais alto de uma instabilidade empresarial que se arrasta há vários anos.

mestre, se o candidato presidencial Venâncio Mondlane juntar apoiantes para combater a exclusão do diálogo nacional sobre reformas eleitorais e de governação”, escrevem os analistas do departamento africano da consultora britânica, citados pela agência Lusa.

À espera de bons ventos

A crise resultante das manifestações pode ter os dias contados, na óptica do Governo moçambicano. O Executivo anunciou a intenção de apoiar as empresas afectadas por vandalismo e saques. Numa demonstração de vontade em mudar o cenário, o Presidente da República, Daniel Chapo, revelou que estão em estudo medidas como a reestruturação de dívidas e a criação de linhas de crédito mais favoráveis (com taxas de juro anuais estimadas

Moçambique é um país que continua associado a uma imagem de instabilidade

INOCÊNCIO

PAULINO

Presidente da AMPE

“Sem um ambiente estável e políticas fiscais ajustadas, as PME continuarão a afundar-se num ciclo de crise e retracção”

SETE MEDIDAS EM MARCHA, EXPECTATIVAS EM ALTA

O Governo aprovou 20 reformas no âmbito do Pacote de Medidas de Aceleração Económica PAE, sete focadas no ambiente de negócio. Apesar dos avanços, os empresários querem mais

REDUÇÃO DA TAXA DO IVA DE 17% PARA 16%

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Por outro lado, encontramos o Sudão do Sul ou o Chade, onde a instabilidade política e a falta de infra-estrutura dificultam qualquer avanço no campo digital. Infelizmente, e apesar da franca evolução nos últimos tempos, Moçambique também continua neste grupo de países.

ISENÇÃO DO IVA NA IMPORTAÇÃO DE FACTORES DE PRODUÇÃO

É uma medida bem acolhida, sobretudo pela indústria e agricultura, por reduzir os custos de produção. No entanto, há preocupações com a morosidade na implementação e clareza nos critérios de isenção.

BAIXA DA TAXA DO IRPC NA AGRICULTURA E AQUACULTURA

O sector produtivo considera ser um estímulo relevante ao investimento rural e à formalização. Ainda assim, espera uma maior divulgação e automatização para facilitar o acesso às isenções.

INCENTIVOS FISCAIS PARA NOVOS INVESTIMENTOS EM PRODUÇÃO

Há reconhecimento do esforço, mas os empresários criticam a falta de previsibilidade e confiança no sistema fiscal. Apontam a burocracia e instabilidade normativa como entraves à sua eficácia.

SIMPLIFICAÇÃO DO REPATRIAMENTO DE CAPITAIS

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A iniciativa é vista como crucial para atrair Investimento Directo Estrangeiro, mas persiste o controlo cambial excessivo. Empresários pedem transparência e garantias jurídicas claras sobre o fluxo de capitais.

COMPETITIVIDADE DOS AEROPORTOS E CORREDORES LOGÍSTICOS

A medida é bem recebida, sobretudo para os sectores de exportação, mas os ganhos ainda são limitados e lentos. Defende-se maior investimento na digitalização e redução de custos logísticos.

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ACELERAÇÃO DE PROJECTOS DE INFRA-ESTRUTURA ESTRATÉGICA

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Há consenso sobre a importância desta medida para impulsionar o sector privado e gerar empregos. Contudo, os empresários alertam para a falta de financiamento e execução ineficiente.

em 15%), para impulsionar a recuperação das unidades empresariais afectadas.

O Governo português também está a estudar mecanismos para apoiar empresas lusas, que formam boa parte do tecido económico moçambicano e que também sofreram vandalizações. “Estivemos a analisar cada situação para ver se há formas de ajudar, porque não é fácil: estamos a falar de empresas moçambicanas, embora de propriedade portuguesa. Os nossos consulados vão estar atentos”, garantiu o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário.

Oportunidades continuam a ser “sequestradas”

O presidente da CTA, Agostinho Vuma, tem manifestado profunda preocupação com a onda de raptos a empresários em

Moçambique, que se arrasta desde 2011. Vuma destaca que poucos casos foram esclarecidos e que não há registos públicos de detenção ou condução à justiça dos mandantes. A situação tem levado ao abandono do País por parte de alguns empresários, prejudicando o ambiente de negócios, resultando na fuga de capitais e retracção de investimentos. Para enfrentar esta situação, a CTA já propôs várias medidas, incluindo a revisão do estatuto orgânico do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) e a criação de uma força específica para combater os raptos, com o apoio de tecnologias avançadas como a inteligência artificial. Além disso, Vuma sugeriu a revisão da moldura penal relacionada com estes crimes e o impedimento do pagamento de caução para os

FONTE CTA

O parque de Beluluane é um bom exemplo de polo de atracção de investimento

No campo das políticas económicas e fiscais, Inocêncio Paulino aponta um caminho: “O País precisa de definir, com firmeza, as suas

prioridades e a política de investimentos

envolvidos, visando fortalecer o sistema judicial no combate aos sequestros. A CTA também tem promovido acções de aconselhamento, junto do Governo, reunindo associações empresariais para desenvolver propostas que possam erradicar os raptos. Mas, na prática, e apesar do compromisso manifestado pelas autoridades, não se verificam avanços.

Redefinir prioridades e corrigir políticas fiscais

No campo das políticas económicas e fiscais, Inocêncio Paulino aponta um caminho: “O País precisa de definir, com firmeza, as suas prioridades e a política de investimentos, sendo que a agricultura, a industrialização e o turismo devem ser as maiores apostas”, não apenas no papel, como tem acontecido até agora, mas na prática.

No que diz respeito à indústria extractiva, adverte que não é possível continuar “a brincar com a oportunidade de arrecadação de receitas provenientes

“Os raptos estão a sequestrar o investimento e a confiança no País. É urgente uma resposta firme e tecnológica”

das mais-valias, da exploração e da tributação. O conteúdo local deve ser real e não letra morta.” Ou seja, é preciso que os contratos com os megaprojectos assegurem benefícios que tragam bem-estar efectivo, o que não se tem observado, segundo o responsável.

Defende ainda um novo modelo de redistribuição da riqueza, que dê “protagonismo às PME moçambicanas”, privilegiando regiões com maior concentração populacional e com indicadores sociais deploráveis, como acontece nas províncias da Zambézia, Nampula, Gaza e Maputo”.

Por fim, o presidente da APME apresenta um conjunto de propostas fiscais para tornar o ambiente mais favorável às empresas. “Julgo ser importante e urgente a redução do IVA para 14% [actualmente situa-se nos 16%], a isenção de taxas e impostos para a importação de equipamentos e matérias-primas essenciais para as indústrias, a revisão da pauta aduaneira”, privilegiar bens produzidos localmente e acabar com a concentração de “taxas e taxinhas, evitando a duplicação da tributação entre as entidades municipais, provinciais e centrais.”

Os próximos tempos são promissores

Apesar do cenário, Inocêncio Paulino está optimista em relação a um futuro próximo. “O novo Governo já tomou posse e já está a trabalhar. A nível político, os líderes de partidos estão a dialogar pelo estabelecimento da paz e estabilidade do País. O Programa Quinquenal e o Plano Económico e Social para 2025 já foram depositados na Assembleia da República, as instituições voltaram todas a funcionar num regime normal”, indicou.

Além disso, assinalou que “o metical continua estável, o sector privado continua a dialogar com o Governo, o Banco Central começa a ficar sensível ao grito dos empresários e há uma tendência de redução das taxas de juro no mercado financeiro. Algumas linhas de financiamento começam a ser testadas para a recuperação económica, e começam a ser ensaiadas estratégias de médio e longo prazo.”

Contudo, deixa um alerta: “A minha expectativa é positiva, porém, julgo ser determinante a massificação de postos de emprego e a injecção da moeda na economia, por forma a contribuir para o aumento do consumo e da produtividade. Só assim poderemos conquistar a estabilidade económica, social e política.”

Apesar dos sinais de normalização institucional, os empresários continuam a operar num clima de incerteza.

Formados, Mas Inaptos!

A maioria das empresas em Moçambique enfrenta um velho dilema: os candidatos até têm diplomas, mas carecem de competências essenciais. A solução? Parcerias, estágios e formação interna, apostas para melhorar o ambiente de negócios

Vicente Sitoe, director-executivo da SDO Moçambique – empresa de consultoria voltada para a oferta de serviços em áreas de gestão do capital humano, recrutamento, entre outros –, confirma o que é dito e sabido: as empresas têm dificuldade em conseguir trabalhadores qualificados. “Muitas vezes, há uma lacuna entre o conhecimento teórico e a aplicação prática no ambiente de trabalho.” Além disso, faltam competências essenciais tais como comunicação eficaz, pensamento crítico, capacidade de resolver problemas e domínio de línguas estrangeiras, principalmente o inglês. Estas são, “frequentemente, as maiores deficiências dos candidatos a um emprego.” Outra questão relevante é a falta de experiência prática, uma vez que “os estágios e programas de aprendizagem nas empresas ainda não são amplamente adoptados”, indicou.

Os investidores europeus sentem, no terreno, este défice. “As nossas empresas lamentam, claramente, a [falta de] capacidade por parte das entidades de formação” de Moçambique, diz Simone Santi, presidente da Associação dos Empresários Europeus em Moçambique (Eurocam), reconhecendo haver melhorias proporcionadas pelo aumento de institutos técnico-profissionais à escala nacional. Ainda assim, “a procura é muito maior que a capacidade de formação”, ou

seja, “as empresas europeias precisam de muito mais.”

Vicente Sitoe esclarece que, apesar das reformas curriculares realizadas pelas diversas universidades e institutos técnicos, ainda há um descompasso entre a formação académica e as exigências do mercado. “Em muitos casos, os currículos não acompanham as transformações do sector produtivo e a formação continua muito teórica, com pouca ênfase em competências práticas. Além disso, a interacção entre empresas e instituições de ensino ainda é limitada”, assinalou. Por isso, o responsável sugere a criação de programas de estágio, aprendizagem e parcerias para o desenvolvimento de currículos adaptados às necessidades reais das empresas.

O que devem fazer as empresas?

Diante deste cenário, as empresas, grosso modo, são obrigadas a formar o pessoal que vão empregar. Vicente Sitoe explica que muitas empresas em Moçambique estão a fazer isso mesmo: a adoptar soluções internas para mitigar o problema da falta de qualificação. Algumas das principais iniciativas incluem:

• Programas de treino e estágio estruturados – São levados a cabo por grandes empresas, que investem em programas de integração de jovens talentos, proporcionando uma transição mais eficiente da academia para o mercado de trabalho. Mas estas

“Em muitos casos, os currículos não acompanham as transformações do sector produtivo e a formação continua muito teórica, com pouca ênfase em competências práticas”

ofertas ainda são insuficientes para a quantidade de jovens que são formados, numa base anual;

• Formações internas e academias corporativas – Algumas organizações criaram programas próprios de capacitação para desenvolver competências técnicas e comportamentais;

• Parcerias com universidades e institutos técnicos – Há empresas que estão a colaborar directamente com instituições de ensino para moldar currículos, alinhando-os às suas necessidades;

• Aposta na formação digital – Com a ascensão do ensino online, várias empresas têm incentivado os colaboradores a adquirir certificações através de plataformas de e-learning.

Os estágios deveriam tornar-se num hábito complementar à formação académica

VICENTE SITOE

SDO Moçambique

“Não me recordo de alguma universidade que tenha feito uma pesquisa ou inquérito para recolher as exigências dos empregadores para ajustar os currículos”

“Estes investimentos mostram que o sector privado já compreendeu que, para crescer, precisa de investir directamente na capacitação da força de trabalho, o que pode ser um caminho estratégico para o desenvolvimento económico e sustentável do País”, constatou o especialista em recursos humanos.

Os europeus seguem por este caminho

Simone Santi fala de acordos firmados com universidades e centros de formação técnico-profissional para assegurar a qualidade dos formandos. “Por exemplo, o Instituto Técnico-Profissional Dom Bosco beneficiou de apoio da empresa francesa Schneider Electric, com equipamentos diversos.” Outro exemplo acontece em Pemba, capital na província de Cabo Delgado, onde a Baker Hughes, uma empresa global de tecnologias do sector de energia, de origem americana, está a equipar o laboratório da Universidade Unilúrio. O Grupo Leonardo – empresa italiana de serviço a empresas (assessoria jurídica, turismo e imobiliário, agro-negócio e energia) – também está a equipar o laboratório de interpretação de dados da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).

As multinacionais TotAlEnergies (França) e Eni (Itália) estão a equipar o Instituto de Formação Profissional e Estudos Laborais Alberto Cassimo (IFPELAC) para dotá-lo de capacidade na formação de formadores e profissionais mais bem preparados para as exigências do mercado.

O perfil técnico-profissional é o que mais falta faz aos investidores europeus, segundo o presidente da Eurocam, que se referiu a áreas como a soldadura, mecânica, canalização, electricidade e pintura, entre outras.

Faltam engenheiros e gestores seniores

“Perde-se muito tempo, a ir e voltar, para tratar de um expediente que poderia ser resolvido com brevidade, na Internet, de forma automática, como já acontece noutras partes do mundo”

A experiência mostra também que as áreas de energias e mineração exigem profissionais altamente especializados. Mas estes, muitas vezes, têm de ser recrutados fora do País. Vicente Sitoe refere que, na área das tecnologias de informação e comunicação (TIC), e apesar do crescimento da digitalização, há uma grande procura por programadores, especialistas em cibersegurança e analistas de dados, mas a oferta local ainda não acompanha o crescimento da procura, ficando, por isso, uma grande oportunidade por explorar. Entende que para corrigir estes défices e tornar o País mais competitivo e atractivo, é essencial um esforço coordenado entre o sector público, empresas e instituições de ensino.

“O Ano Começou Difícil, Mas há Sinais de Recuperação”

O economista Fáusio Mussá indica que o projecto de gás da TotalEnergies pode ter uma influência positiva no ambiente de negócios, face a obstáculos como a escassez interna de divisas e a necessidade de reformas estruturais

Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank Moçambique, é uma das vozes de referência na análise desta área especializada em Moçambique. Em entrevista à E&M, exploramos os factores externos e internos que moldam o ambiente de negócios em Moçambique e tentamos descobrir as perspectivas para os próximos meses.

Vamos falar um pouco sobre as conclusões que foram apresentadas durante o último Standard Bank “Economic Briefing” (Informação Económica). Basicamente, dão a entender que não há nada de muito animador, mas que também podia ser pior. É mesmo isto?

O que nós podemos dizer é que há muita incerteza em relação à economia internacional. Fica cada vez mais claro que existe uma intenção dos Estados Unidos de utilizarem as tarifas como um instrumento de negociação. Um instrumento para atingir objectivos comerciais estratégicos, essencialmente para conseguir melhorar a receita, reduzir o défice fiscal e o défice da conta corrente da balança de pagamentos. No fim, o que a administração Trump pretende com estas tarifas é manter uma posição de liderança no comércio internacional. Eles querem incentivar as empresas americanas a produzir nos Estados Unidos da América, porque, nos últimos anos, a tendência tem sido sempre

para produzirem fora - sobretudo para aproveitar o desenvolvimento de cadeias de valor e mão-de-obra muito mais baratas. Por isso é que muitas empresas se fixaram na China, entre outros países. Penso que a administração Trump, reflectindo também uma promessa eleitoral, quer que haja maior investimento no seu país e que isso resulte em criação de emprego no sector privado.

O facto mais relevante, nos próximos tempos, a nível externo, é a questão tarifária desencadeada pelos EUA?

Sim, o que provoca volatilidade nos mercados internacionais, como temos estado a ver desde o início do ano. É provável que reduza o crescimento da economia mundial, sobretudo se isso levar a China a crescer a um ritmo mais lento, tendo em conta o seu grande peso na procura mundial.

Mas a China já estava a cair em termos de crescimento…

Sim, estava a crescer a um ritmo mais lento. Este ano as autoridades chinesas mantêm um objectivo de crescimento de 5% e têm promovido um conjunto de intervenções para incentivar a economia. Mas as tarifas são um grande ponto de interrogação.

Qual o impacto desta conjuntura global para Moçambique?

A China é um grande mercado de exportação de “commodities” (matérias-pri-

“A nossa previsão é que, na segunda metade do ano, o projecto de gás natural da TotalEnergies seja reactivado – considerando a aprovação recente, pelo Exim Bank dos Estados Unidos, da linha de financiamento para o projecto

mas) africanas. Se houver uma forte desaceleração da procura, isso pode traduzir-se numa redução do preço das matérias-primas, com impacto sobre Moçambique, resultando numa menor receita de exportação.

Os conflitos a nível global deixaram de ter impacto no ambiente de negócios?

Desde o início do ano tem havido movimentações para que se alcance algum progresso para uma solução mais pacífica [nos casos da Ucrânia e Médio Oriente]. Há uma redução do risco de perturbação da economia mundial por causa de conflitos. Ainda assim, o risco mantém-se.

Considera haver muitas questões novas este ano, que não eram preocupação em 2024, como o corte da ajuda global dos EUA, por exemplo?

A mudança da política de ajuda externa dos EUA tem impacto em várias economias africanas. A USAID [agência de ajuda dos EUA] tem sido responsável por uma grande fatia de programas de saúde e educação, incluindo em Moçambique. Isto pode ter um impacto económico e social, porque vai ser preciso substituir a ajuda por fluxos internos - sobretudo nos casos da educação e saúde, que são sectores prioritários para a maior parte dos países. Não havendo ajuda, pode ser que haja pressão nos orçamentos do Estado para acudir a essa brusca mudança nos fluxos.

Em Moçambique, os desafios globais juntam-se a preocupações que já existiam, como a escassez de divisas. Quais são as perspectivas de curto prazo?

Moçambique enfrenta um ano difícil em 2025. É um início de ano muito complicado, sobretudo porque ainda se caminha para voltar ao normal, a tentar solucionar a tensão política e social que o País viveu desde as últimas eleições [Outubro de

FÁUSIO MUSSÁ

Economista-chefe do Standard Bank Moçambique

2024]. O cenário de incerteza dos últimos meses vai, sem dúvida, causar impactos, porque muitas empresas foram afectadas por vandalizações e vai levar tempo até que consigam voltar a abrir e funcionar em pleno, apesar de um conjunto de iniciativas de financiamento a taxas de juro bonificadas. Por isso é que consideramos que, neste primeiro trimestre de 2025, vai haver uma contracção do PIB.

Há perspectivas mais animadoras para os meses seguintes? Há alguns elementos encorajadores. Pode haver uma influência positiva com o arranque do projecto de gás natural da TotalEnergies. A nossa previsão é que, na segunda metade do ano, seja reactivado - considerando a aprovação recente, pelo Exim Bank dos Estados Unidos, da linha de financiamento para o projecto. Podemos ter um impacto positivo, pelo menos do ponto de vista do sentimento, porque isto também aumenta a expectativa em relação aos outros projectos, como o da Exxon Mobil que, em princípio, anuncia a decisão final de investimento no próximo ano. Se o projecto da TotalEnergies regressa este ano, isso cria um bom momento para a Exxon avançar. Isto sem falarmos na segunda plataforma do projecto Coral [Eni], que ainda está a ser avaliada. Provavelmente, havendo aprovação, também arranca.

Notamos, igualmente, a queda das taxas de juro nos últimos tempos.

Isso vai ajudar, de alguma forma, a estimular investimentos?

Sim, sem dúvida. A queda das taxas de juro desde Janeiro de 2024 torna o financiamento mais acessível. Mas há outro elemento que inibe o crescimento do crédito, que é a oferta insuficiente de moeda externa. Muitas empresas iriam contrair financiamento se pudessem importar equipamento ou matérias-primas nas quantidades que pretendem. Este também é um factor que resulta num crescimento mais lento do crédito à economia.

Como se explica que, apesar de o banco central ter reduzido as reservas obrigatórias em moeda estrangeira (de 39,5% para 29,5%), a escassez de divisas prevaleça?

A redução das reservas obrigatórias liberta liquidez para os bancos comerciais. Mas, por uma questão prudencial, estes não convertem essa liquidez em moeda nacional, porque, se por algum motivo, os clientes quiserem os seus depósitos de volta, não existe nenhuma garantia de que os bancos consigam convertê-los de volta para moeda externa para os devolver aos clientes. E até para cumprir com certos limites prudenciais a que os bancos comerciais estão sujeitos, não se observa a conversão dos depósitos em moeda externa para moeda nacional.

Como corrigir este problema?

Haveria dois factores principais para o corrigir. O primeiro seria que o banco central retomasse as vendas de moeda externa para apoiar a importação de combustíveis. Mas isto teria impacto nas reservas internacionais. No entanto, o caminho sustentável passa por, rapidamente, alcançarmos um nível de retoma da actividade económica e dos investimentos que ajudem a gerar receitas de exportação e entrada de Investimento Directo Estrangeiro.

Também se fala muito da necessidade de reformas para a facilitação de investimento. Sem dúvida. Existem barreiras ao investimento, eu diria que algumas delas, regulamentadas. Portanto, é necessário todo um ambiente legal que resulte numa maior protecção aos investidores e menos burocracia. Mas também existem barreiras que reflectem um grande défice de infra-estruturas em Moçambique, e que, por exemplo, limitam a contribuição da agricultura nas exportações do País. Isso também tem de ser resolvido. Existe toda uma questão de segurança em várias partes do País que precisa de melhorar para que o ambiente de negócios se traduza num melhor desempenho da economia. Enfim, nós temos de prosseguir com as reformas estruturais a um ritmo muito acelerado.

Quais são as reformas estruturais mais urgentes?

Em primeiro lugar, é preciso garantir que haja segurança para os investidores, nacionais ou estrangeiros. Segundo, o mundo está a adoptar muito rapidamente um conjunto de tecnologias ligadas à inteligência artificial. É preciso que todo o nosso ambiente económico esteja ajustado às mudanças que se operam no mundo para facilitar o comércio e os investimentos. É preciso, igualmente, um conjunto de incentivos e reformas que tragam confiança para os investidores. Uma mensagem forte que passámos no “Economic Briefing” foi que, de facto, existe uma relação entre a robustez das instituições (públicas e privadas) e o crescimento económico. E todas as reformas que se pretende que avancem devem visar a robustez dessas instituições - que podem traduzir-se num crescimento económico mais robusto e inclusivo. Em último lugar, é preciso mobilizar recursos para definir prioridades do ponto de vista de investimento público. Sabemos que o Estado tem recursos muito limitados, mas é preciso definir prioridades.

Reformas Que Mudaram o Ambiente de Negócios em África

Abrir empresas, registar propriedades online, resolver litígios em tempo útil: tudo é possível graças a reformas que permitiram a alguns países reescreverem as regras e conquistarem a confiança de investidores de todo o mundo

Durante décadas, o ambiente de negócios em África foi muito associado à instabilidade das regras, burocracia excessiva e imprevisibilidade. Mas esta realidade tem vindo a mudar. Vários países adoptaram reformas legais e administrativas que permitiram reforçar a confiança dos investidores, melhorando os indicadores de competitividade. Estas mudanças estruturais, embora nem sempre visíveis de imediato, têm contribuído para a criação de ecossistemas empresariais mais dinâmicos, eficientes e sustentáveis. Países como Ruanda, Ilhas Maurícias, Gana, Marrocos e África do Sul tornaram-se casos de estudo sobre decisões políticas bem orientadas, capazes de transformar economias emergentes em destinos atractivos para o investimento.

Ruanda apresenta resultados, apesar das críticas

Após o genocídio de 1994, o Ruanda iniciou um caminho de reconstrução institucional com medidas de eficiência administrativa. Apesar de, a nível político e de direitos humanos, o país ser criticado pela perseguição a opositores ao regime de Paul Kagame, a nível de reformas administrativas, o Ruanda tem conquistado aplausos. Uma das medidas estruturais consistiu em criar uma agência responsável por acelerar o desenvolvimento económico, entidade que centraliza todos os serviços ligados ao investimento. Segundo o Banco Mundial, o Ruanda conseguiu reduzir drasticamente o tempo necessário para abrir uma empresa, de 43 dias em 2005 para menos de seis actualmente. A digitalização de processos como o registo predial e o licenciamento têm servido de exemplo.

Maurícias, estabilidade institucional e clima fiscal favorável

As Ilhas Maurícias lideram classificações de competitividade económica em África. O país implementou reformas judiciais, modernizou o registo de propriedades e criou um ambiente fiscal atractivo.

O sistema de registo de propriedades passou a ser administrado de forma centralizada, com procedimentos uniformizados em todo o país. Houve, igualmente, a introdução de um sistema electrónico de registo de propriedades, que permitiu a consulta de títulos e documentos legais online, bem como a redução do uso de papel e maior celeridade na tramitação. Na área fiscal, introduziu-se a taxa única de 15% de imposto sobre o rendimento pessoal e corporativo. De acordo com o Índice de Liberdade Económica da Heritage Foundation, o país apresenta uma das economias mais livres de África, destacando-se pela eficácia administrativa e independência judicial.

Gana: segurança jurídica e estímulo ao empreendedorismo

O país reforçou o seu sistema jurídico com tribunais comerciais e plataformas digitais para registo empresarial. O Ghana Investment Promotion Centre (GIPC) atrai capital estrangeiro com incentivos focados em energia, agro-indústria e infra-estrutura. Por exemplo, atribui isenções fiscais para produtores independentes de energia, principalmente renováveis, e estabelece acordos de compra de energia garantidos pelo Estado para dar segurança jurídica aos investidores. Também facilita a obtenção de licenças para operadores através de parcerias com o Ministério da Energia e outros organismos.

Vários países adoptaram reformas legais e administrativas e reforçaram a confiança dos investidores, melhorando os indicadores de competitividade

Marrocos é um dos melhores exemplos de facilitação da tributação do comércio externo

Na agro-indústria, o Gana reduziu tarifas aduaneiras, eliminou impostos sobre importação de maquinaria agrícola e apoia a criação de zonas industriais agro-alimentares com infra-estrutura básica garantida pelo Governo.

Segundo o Banco Africano de Desenvolvimento, os programas de apoio às PME também têm sido essenciais para dinamizar o ecossistema empresarial.

Marrocos: zonas económicas e acesso ao crédito

Marrocos apostou na criação de Zonas Económicas Especiais e na simplificação de processos de construção e crédito. Os incentivos fiscais, considerados atractivos, incluem a isenção total de impostos sobre lucros por cinco anos, taxa reduzida de 15% após esse período, isenção de IVA (em certas importações) e de direitos aduanei-

ros sobre bens de capital e matérias-primas. É a Agência Marroquina de Desenvolvimento de Investimentos que promove o país como pólo de investimento. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) destaca Marrocos como referência no Norte de África.

África do Sul, reformas estruturais e mercado sofisticado

Apesar de enfrentar desafios internos, como falta de centrais para produção de energia eléctrica, a África do Sul continua a ser uma das economias mais industrializadas e diversificadas do continente. As mais recentes reformas visam atrair investimento através da liberalização do sector energético, melhorias na governação de empresas públicas e desburocratização de procedimentos aduaneiros. O InvestSA, uma plataforma de facili-

tação de investimento, tem procurado integrar, digitalmente, serviços para investidores, promovendo maior transparência e previsibilidade.

Desafios persistem, mas as lições são claras

Apesar dos progressos, muitos países africanos continuam a enfrentar problemas, muitos dos quais semelhantes aos de Moçambique, como corrupção, instabilidade política e capacidade institucional limitada. Ainda assim, há exemplos suficientes para demonstrar que reformas bem concebidas e sustentadas geram efeitos transformadores. São reformas que constroem relações de confiança, reforçam o conceito de Estado de Direito, criam condições reais para o crescimento sustentável e podem servir de lição para o início da transformação que se pretende em Moçambique.

Cabo Verde

Estado anuncia compra de navio para transporte entre ilhas

O Governo de Cabo Verde anunciou um concurso público internacional para a construção de um navio destinado a reforçar o transporte interilhas, com financiamento do Banco Mundial de cerca de 26 milhões de dólares.

Os ministérios das Finanças, do Mar e do Turismo e Transportes serão os responsáveis pela adjudicação, enquanto a Empresa Nacional de Administração dos Portos (Enapor) conduzirá o procedimento.

Guiné Bissau

A Guiné-Bissau concedeu licença para a operadora de serviços de Internet por satélite Starlink receber subscrições no país. A operadora gerida pela SpaceX, empresa de Elon Musk, bilionário sul-africano e conselheiro do Presidente norte-americano, Donald Trump, recebeu, em Dezembro passado, uma licença provisória e apenas aguarda pela conclusão de procedimentos burocráticos para “operar em pleno” na Guiné-Bissau. Apesar de os satéli-

África

tes não terem fronteiras geográficas, as licenças por país permitem operar sem taxas de “roaming”.

Actualmente, a Internet ainda não chega a várias zonas da Guiné-Bissau. O mercado guineense conta com as operadoras Orange, uma empresa senegalesa, subsidiária da companhia francesa com o mesmo nome, e Telecel, que adquiriu recentemente a sul-africana MTN, cujo sinal de Internet é proveniente da Guiné-Conacri.

Cassava Technologies e Nvidia apostam na IA

A Cassava Technologies (Tecnologias Mandioca), fundada pelo bilionário das telecomunicações do Zimbabué, Strive Masiyiwa, contratou a Nvidia para construir centros de dados de inteligência artificial na África do Sul (até Junho), Egipto, Quénia, Marrocos e Nigéria. É mais um sinal da corrida pela IA, também em

África. Várias empresas, incluindo a Microsoft e a G42, a principal empresa de IA dos Emirados Árabes Unidos, manifestaram interesse, no ano passado, em construir um centro de dados com energia geotérmica no Quénia, como parte de um plano plurianual para aumentar a capacidade na África Oriental.

Uganda Discriminação LGBTQ sai cara

A crescente discriminação das pessoas LGBTQ está a custar às economias da África Oriental até 5 mil milhões de dólares por ano, segundo um novo estudo, que coloca o Uganda no topo da tabela. Além de violar direitos humanos e ter impactos sociais, a discriminação sai cara.

O Quénia, o Ruanda, a Tanzânia e o Uganda já estão a gastar até 3,1 mil milhões de dólares em cuidados de saúde, devido à marginalização de cidadãos, e a utilizar fundos adicionais para policiar as suas actividades, de acordo com a organização Open for Business. O Uganda pagou o preço mais alto pela sua postura, depois de aprovar legislação que prescreve a pena de morte para o que considera serem crimes, em 2023.

Angola Filha do Presidente lidera bolsa de valores

A bolsa de Angola confirmou Cristina Dias Lourenço como a nova presidente executiva. A filha do Presidente do país foi nomeada para um mandato de quatro anos. Esta medida surge enquanto o Governo se prepara para vender participações na maior empresa de telecomunicações, a Unitel, através de uma oferta pública inicial e de dois credores, nos próximos meses. Há também planos para vender acções da empresa petrolífera estatal Sonangol e da empresa de diamantes Endiama.

África do Sul

Empresas assumem ajuda que os EUA abandonaram

Semanas depois de o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, ter destruído programas de ajuda, cancelando milhares de milhões de dólares de financiamento utilizado para combater o HIV/ sida, as empresas mineiras sul-africanas estão a intervir para colmatar a lacuna. O departamento de saúde instou as empresas a considerarem ajudar a distribuir medicamentos e a envolverem-se mais nos serviços de extensão comunitária, de acordo com o Minerals Council, um grupo do sector. A Discovery, o maior fornecedor de seguros médicos do país, ofereceu suporte técnico e outras firmas estão a assumir as despesas vitais que ficaram sem suporte.

Mali, Níger e Burquina Fasso

Rússia fornece armamento e treina força militar

Camarões

A Rússia aceitou fornecer armamento e treino militar a uma força conjunta recém-formada entre o Mali, o Níger e o Burquina Fasso, recorrendo a instrutores já presentes nos três países da África Ocidental.

Moscovo utilizou a instabilidade no Sahel provocada pelos golpes militares e pelas insurgências islâmicas para alargar a sua influência na região, ao mesmo tempo que capitalizou o descontentamento popular face à alegada intromissão ocidental e da antiga potência colonial, a França.

Soldados desertam para a Ucrânia e deixam país indefeso

Os Camarões enfrentam uma série de ameaças à segurança ao mesmo tempo que são afectados por uma onda de deserções de soldados para combater na Ucrânia. A situação enfraquece a capacidade operacional do exército.

Uma minoria de desertores são “voluntários estrangeiros” que lutam pela Ucrâ-

nia, enquanto a maioria são “Tirailleurs de [Vladimir] Putin” (fuzileiros) que se alistaram na Rússia. Embora não existam estatísticas oficiais sobre as taxas de deserção, a situação é preocupante para um país que enfrenta ameaças do Boko Haram no Norte, dos rebeldes da República Centro-Africana no Leste e da pirataria marítima ao longo da costa.

Maurícias

Novos incentivos para promover um paraíso fiscal

As Maurícias estão a planear incentivos para atrair investidores ricos e canalizar mais capital estrangeiro para o sector de serviços financeiros. O objectivo é impulsionar o crescimento económico e estabilizar as finanças públicas. Os indivíduos com elevado património líquido

que procuram tirar partido da ausência de tributação sobre mais-valias e heranças têm alimentado um crescimento na compra de imóveis de luxo nas ilhas mais conhecidas pelas suas longas extensões de praias de areia branca, além de lagoas e recifes de coral.

Qual Será o Legado do Capitão Ibrahim Traoré?

Medidas sonantes e reformulação de alianças catapultaram o líder do golpe de 2022, no Burquina Fasso, para a popularidade. Entre esperança e alertas, só o tempo mostrará os resultados

Com 36 anos, o capitão Ibrahim Traoré, Presidente da Transição do Burquina Fasso, é o chefe de Estado mais jovem do mundo, desde que assumiu o cargo em Setembro de 2022, após um golpe de Estado que derrubou o tenente-coronel Paul-Henri Damiba - que, por sua vez, tinha afastado o Governo do Presidente Roch Kaboré, nove meses antes. A popularidade de que goza junto da população emergiu numa altura que o país deseja libertar-se da ameaça radical islâmica.

Na última década, o Burquina Fasso, rico em recursos minerais, caiu numa espiral de violência jihadista que já matou mais de 26 mil civis e militares, segundo a organização não-governamental Acled, que regista vítimas do conflito. Os ataques terro-

MALI, NÍGER E BURKINA FASO SEPARARAM-SE DA CEDEAO

ristas (levados a cabo por grupos ligados tanto à Al-Qaida como ao Estado Islâmico) ameaçam cerca de 40% do território nacional. A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) estima que mais de 2 milhões de pessoas estejam deslocadas internamente, e que haja grandes necessidades de assistência humanitária.

Tolerância ao regime militar Neste contexto, um inquérito do Afrobarometer concluiu que quase dois terços dos burquinenses acreditam que as forças armadas devam intervir quando os líderes abusam do seu poder e aceitam o regime militar. “O facto de a sondagem ter sido realizada numa altura em que o país já se encontrava sob um regime militar retrata uma aceitação geral, se não mesmo legitimidade, do regime”, refere Enoch Randy

Aliança de Estados do Sahel

Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)

Suspenso após golpe

Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)

Aikins, investigador do Institute for Security Studies (ISS) e da iniciativa African Futures and Innovation (AFI), numa análise publicada, em Março, pela organização. Quando tomou posse, Ibrahim Traoré apelou à “mobilização patriótica e popular” e prometeu pôr fim à insegurança do terrorismo, uma das razões com que justificou o golpe de Estado que o levou ao poder. “O nosso objectivo não é outro senão a reconquista do território do Burquina ocupado por terroristas e para devolver a esperança ao povo”, disse, avisando que “a própria existência da nação está em perigo.”

Rejeitar o FMI e o Banco Mundial

O capitão Ibrahim Traoré não é o primeiro líder carismático e emergir em África (mas com sucessos difíceis de medir), e só tempo dirá qual será o seu legado. A nível económico, rejeitou a assistência financeira do FMI e do Banco Mundial, um gesto que

Ibrahim Traoré, Presidente do Burquina Fasso

APROXIMAÇÃO À RÚSSIA

O ministro da Defesa russo, Andrei Belousov, e o primeiro-ministro burquinês, Apollinaire Tambela, discutiram, há seis meses, em Moscovo, a expansão dos laços militares. O Burquina Fasso recebeu contingentes da força mercenária Wagner, escreveu a Associated Press (AP), e, em Junho de 2024, a Rússia disse que estava a enviar material militar e instrutores adicionais para o Burquina Fasso, para aumentar a sua capacidade de defesa e combater o terrorismo. “As relações entre a Rússia e o Burquina Fasso baseiam-se nos princípios do respeito mútuo, da consideração dos interesses de cada um e adquiriram uma dinâmica positiva nos últimos anos”, afirmou Belousov.

DOIS ANOS E MEIO NO PODER

O calendário de Outubro de 2022 previa um regresso à ordem constitucional até 1 de Julho de 2024, mas o jovem capitão Traoré pretende ficar no poder até 2029, alegando precisar de mais tempo para reformar o país.

OUTUBRO DE 2022

Ibrahim Traoré foi nomeado Presidente transitório por cerca de 300 delegados (representantes políticos, militares, religiosos e da sociedade civil) das 13 regiões do Burquina Fasso, que se reuniram para chegar a acordo sobre um guião para o regresso à ordem constitucional.

JULHO DE 2024

Ibrahim Traoré declarou à nação que pretende liderar o país por mais cinco anos, para reforçar o exército na luta contra o terrorismo e fazer reformas. Prometeu uma mudança no modelo de justiça para “limpar” o sistema judicial de “corruptos e delinquentes.”

JANEIRO DE 2024

Burquina Fasso, Mali e Níger, todos governados por regimes militares hostis à França, notificaram formalmente a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) da sua vontade de se retirarem da organização, que reúne outros 12 países, e que consideram ter sido manipulada pela antiga potência colonial.

JANEIRO DE 2025

A Comissão da CEDEAO anunciou formalmente a saída do Mali, do Níger e do Burquina Fasso, que formaram entre si a Aliança dos Estados do Sahel (AES). A CEDEAO anunciou, contudo, manter “as portas abertas.” Os cidadãos daqueles três países continuam a “usufruir do direito de livre circulação, residência e estabelecimento com isenção de visto.”

MARÇO DE 2025

Burquina Fasso, Níger e Mali anunciaram a retirada da Organização Internacional da Francofonia (OIF). Os três países encontravam-se entre o grupo de fundadores da OIF.

não foi apenas “uma decisão financeira”, mas também “a determinação de romper com as amarras das instituições de Bretton Woods, que foram muitas vezes criticadas por imporem medidas de austeridade que enfraqueceram muitas economias africanas”, assinalou Aikins. Para alguns, “é a demonstração de que o homem negro é capaz de cuidar dos seus próprios negócios, como disse Nkrumah”, antigo Presidente do Gana, entre 1960 e 1966, um dos fundadores do Pan-Africanismo. “Para a geração mais jovem, o regime de Traoré é uma oportunidade para mostrar à geração mais velha o que os jovens podem fazer, se tiverem oportunidade”, acrescentou.

Medidas económicas sonantes

O investigador do ISS realça que o jovem Traoré reverteu um aumento salarial para os funcionários do Governo, acordado pelo seu antecessor, nacionalizou duas minas de ouro e deixou de exportar ouro não refinado para a Europa - “em vez disso, inaugurou uma refinaria nacional de ouro que deverá processar 150 toneladas anualmente.” A criação do Centro Nacional de Apoio ao Processamento Artesanal de Algodão, a construção de um novo aeroporto (Ouagadougou-Donsin) e investimentos agrícolas consideráveis compõem o conjunto de medidas sonantes, na tentativa de industrializar o Burquina Fasso.

O Banco Mundial prevê que, se houver melhorias na segurança, condições meteorológicas favoráveis e um ambiente político estável, o crescimento do Burquina Fasso atinja 5% até 2027. “A produção mineira deverá aumentar, enquanto o crescimento nos sectores da agricultura e dos serviços deverá manter-se forte”, a par de um empenho do Governo “numa estratégia de consolidação orçamental, embora as necessidades de despesa continuem a ser elevadas”, lê-se na última análise do BM ao país.

As perspectivas económicas “estão sujeitas a riscos significativos, incluindo o agravamento da situação de segurança, choques climáticos, desafios de refinanciamento da dívida, vulnerabilidades no sector financeiro e fragmentação regional.”

Indicadores estão no “vermelho”

A população pede melhores condições de vida, e os índices globais continuam a mostrar um Burquina Fasso muito vulnerável. O país ficou em 185.º lugar entre os 193 que compõem o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), segundo o relatório 2023-2024. Está também na cauda no cumprimento dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e o Índice de Pobreza Multidimensional indica que 64,5% da população é afectada por várias formas de privação e baixo rendimento (desnutrição, mortalidade infantil, educação, entre outros).

Do Networking às Parcerias: O Caminho Para Novos Negócios

SOs clientes confiam nos bancos para a gestão do seu dinheiro e do seu futuro financeiro. Quando os bancos demonstram interesse genuíno, cria-se uma base sólida

abia que um penhor sobre as participações sociais nas sociedades comerciais pode ser usado como garantia de crédito? Esta modalidade tem grande relevância económica, especialmente no contexto do financiamento. As participações sociais, tais como as acções, são activos de alto valor no património de uma entidade empresarial e são especialmente adequadas para servir como garantia, desde que possuam um valor económico significativo.

No actual contexto económico, construir relações comerciais duradouras vai além da simples troca de serviços. O sucesso empresarial depende maioritariamente e cada vez mais da capacidade de criar e manter relações sólidas com os clientes, baseadas na confiança, comunicação aberta e compreensão mútua, com recurso a uma ferramenta poderosa: o networking.

A verdadeira força do networking reside no diálogo que se inicia durante essas interacções. Em ambientes semi-for-

Networking promove consolidação de relações

mais, longe das pressões típicas das discussões comerciais, a comunicação flui de forma mais leve e sincera, permitindo uma compreensão aprofundada das necessidades e reais desafios enfrentados pelos empresários. É mais um passo para a construção de uma base sólida de confiança entre os envolvidos.

A confiança é essencial em todas as relações e ainda mais quando falamos do sector bancário: os clientes confiam nos bancos para a gestão do seu dinheiro e do seu futuro financeiro. Quando os bancos demonstram interesse genuíno em compreender as necessidades individuais dos seus clientes, cria-se uma base sólida para negociações mais abertas e produtivas. A transparência, a comunicação clara e a capacidade de oferecer soluções personalizadas reforçam essa confiança, criando condições para a fidelização a médio-longo prazo.

Eventos como o EU Business Network, organizado pela Associação de Empresários Europeus em Moçambique (EuroCam), são exemplos de plataformas de networking que promovem conversas e a consolidação de relações comerciais. Este evento contou com a presença de líderes empresariais, representantes das principais câmaras de comércio europeias e parceiros estratégicos, proporcionando um ambiente propício para a troca de ideias e estabelecimento de parcerias. O FNB esteve representado pelos seus segmentos Corporativo e Comercial e teve oportunidade de reforçar o seu compromisso de agregar valor e oferecer soluções à medida das necessidades dos seus clientes.

A celebração de parcerias sólidas passa pela construção de relações baseadas na confiança, compreensão e interesses comuns, aproveitando as plataformas de networking para entender melhor as necessidades do mercado e construir uma rede estratégica de contactos que sustentem o sucesso a longo prazo.

Nasser Meggi • Director de Retalho, FNB Moçambique

15 Anos de Ideias Com Impacto Real

Muito antes de o empreendedorismo ser um conceito em voga, já a ideialab desafiava o status quo. Em 2025, celebra 15 anos a transformar a ambição de milhares de jovens moçambicanos em acções transformadoras para o País

Quinze anos depois de desafiar o status quo e apostar num conceito ainda pouco conhecido em Moçambique, a ideialab tornou-se uma referência incontornável no ecossistema empreendedor do País. Nesta entrevista, Tatiana Pereira e Sara Fakir, fundadoras da ideialab, revisitam os marcos, as conquistas e os desafios que moldaram o percurso desta empresa pioneira — e espreitamos o futuro que ainda ambicionam construir.

Quais foram os principais marcos e conquistas da ideialab desde a sua fundação, em 2010?

Se pensarmos que, em 2010, empreendedorismo não era um conceito comum no nosso vocabulário, se vivia um grande preconceito sobre o potencial dos jovens e das mulheres para empreender e que todos nos chamavam "loucas" por querermos deixar carreiras estáveis para apostar numa área que poucos compreendiam, para operar num ambiente de negócio complexo como o nosso, para atravessar uma pandemia... a maior conquista é ainda estarmos aqui, termos contribuído para pôr o empreendedorismo no mapa do nosso país, sermos o exemplo de uma micro empresa fundada por duas mulheres, que hoje é uma referência, está a crescer e continua focada no seu sonho de tornar Moçambique num lugar de empreendedorismo.

Como definiriam actualmente a ideialab e como evoluiu nestes 15 anos?

A ideialab é uma organização de apoio ao empreendedorismo. Acreditamos que tem o poder de transformar o mundo e que todos podem tornar-se empreendedores. Capacitamos pessoas, aceleramos a aprendizagem e o crescimento de empresas e contribuímos para o fortalecimento de ecossistemas, sociedades e economias

mais resilientes, sustentáveis e inclusivas. Além disso, na ideialab colaboramos e partilhamos informações, conhecimento e metodologias com diferentes partes interessadas no ecossistema, co-criando soluções locais, inovadoras e escaláveis.

As actividades da empresa são realizadas por uma equipa multidisciplinar de quase 26 colaboradores e são apoiadas por fortes políticas e procedimentos em Monitoria, Avaliação e Aprendizagem (MEL), Administração e Finanças,

AS METAS ALCANÇADAS

Marketing e Comunicação e uma estrutura de gestão de projectos e qualidade. Ao longo dos anos a ideialab foi sendo reconhecida por diferentes instituições nacionais e internacionais: ganhou o "Prémio de Excelência e Impacto Organizacional 2020" pela Rede de Desenvolvimento Organizacional, o "Melhor Lugar para Trabalhar 2019" em Moçambique, e foi nomeada como um dos 50 principais Heróis Empresariais Africanos pela Fundação Jack Ma e AliBaba em 2020.

Entre 2022 e 2023, foram colectados dados de 245 participantes de 14 programas de referência de activação e aceleração, procurando entender o que está a acontecer meses depois de passarem pela ideialab. Os resultados mostram que:

dos negócios activos continuam a operar e 60% dos que começaram apenas com uma ideia já realizaram as suas primeiras vendas, mostrando a eficácia dos programas nos negócios reais.

dos participantes reconhecem que essas habilidades fortaleceram os seus negócios e 93% continuaram a usar esses recursos após um ano, o que garante sustentabilidade e crescimento.

dos participantes sentem-se inspirados e confiantes um ano após o programa, e 84% adoptaram novas práticas de gestão, evidenciando o impacto do trabalho da ideialab no fortalecimento dos negócios.

dos participantes sentem apoio dos pares e 76% estão integrados numa rede colaborativa que fomenta inovação e resiliência.

dos empreendedores criaram empregos.

TATIANA PEREIRA

Fundadora da ideialab

Além disso, em 2024, a organização recebeu o prémio Navigators Award (ANDE), um reconhecimento do impacto no desenvolvimento do ecossistema e que reforça a nossa contribuição para a criação de empregos, fortalecimento de negócios e crescimento económico sustentável em Moçambique.

Hoje é credenciada internacionalmente pela Youth Business International (uma organização internacional que apoia o desenvolvimento do empreendedorismo em 60 países) e é membro da ANDE (Aspen Network of Development Entrepreneurs). A ideialab é uma empresa certificada pela ISO 9001:2015 e auditada por empresas de referência no mercado.

O nosso portefólio de clientes inclui o Governo de Moçambique, organizações multilaterais de desenvolvimento, como

o Banco Mundial, União Europeia, Banco Africano de Desenvolvimento, organizações bilaterais de desenvolvimento e embaixadas (RVO, GIZ, USAID) e empresas do sector privado (Standard Bank, Vodacom e outras), ONG nacionais e internacionais.

Quando fundaram a empresa, alguma vez imaginaram que chegariam a este ponto?

Nunca pensámos... aprendemos que os sonhos se constroem a caminhar, temos de nos manter focados no sonho, ser bastante resilientes (as adversidades do caminho são muitas) e estar sempre a aprender e inovar.

Temos imenso orgulho da ideialab, do nosso trabalho, da nossa equipa, da rede de pessoas, organizações e parcei-

Fundadora da ideialab

ros que construímos, do impacto que temos na vida das pessoas. Ao mesmo tempo, olhando para os desafios que temos vivido no País, temos cada vez mais certeza da pertinência do nosso trabalho e da urgência de se contribuir cada vez mais para termos uma nação mais empreendedora.

Há (penso ser indiscutível) uma impressão digital da ideialab no fortalecimento do ecossistema empreendedor moçambicano ao longo da última década e meia. Como é que se chega a isso?

Sim, temos uma história de impacto para o mostrar. Os programas da ideialab têm desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento de startups, PME e jovens empreendedores,

promovendo uma transformação significativa no ecossistema empreendedor do País. Desde 2010, a ideialab tem sido um catalisador de mudança, oferecendo uma vasta gama de programas que acompanham os empreendedores em todas as fases da sua jornada, desde a geração de ideias até à expansão e sustentabilidade dos negócios.

Estes programas são cada vez mais diversificados, permitindo alcançar diferentes públicos-alvo, como mulheres e jovens, e sectores variados, incluindo o criativo, o verde e a agricultura. Entre 2023 e 2024, passaram pela ideialab mais de 11 000 pessoas, sendo 70% jovens e 48% mulheres, e 57% de fora de Maputo.

Destes, 4176 empreendedores foram capacitados nos programas de referência de Aceleração e Activação.

Assistimos a uma crescente diversificação dos sectores destes negócios, o mosaico é cada vez mais diversificado e colorido, tornando o ecossistema mais rico e dinâmico.

No último relatório, destacamos sectores como o empreendedorismo social, saúde, educação e tecnologia, com exemplos de sucesso como a Associação Chapateca, a Naturalle Beauty Clinic e o Tivane Game Studio, que ilustram a diversidade e inovação impulsionadas pelos programas.

Quais foram os maiores desafios enfrentados nestes 15 anos e que lições foram extraídas ao longo deste percurso?

Foram muitos! Começando por ter de validar que o espírito empreendedor pode ser estimulado, treinado, apoiado; educar o ecossistema (mercado, sociedade) sobre o empreendedorismo; desconstruir mitos e demonstrar o seu valor como um caminho de empregabilidade e para o desenvolvimento económico; e demonstrar que existe uma massa crítica de pessoas (jovens e mulheres) interessadas no empreendedorismo e, assim, validar que temos mercado.

Tudo isto para, depois, começar a construir um modelo de negócio sustentável e que tem as bases para poder crescer, nomeadamente manter sempre a visão e um propósito claro, construir uma metodologia que tem impacto, desenvolver uma equipa jovem, construir um "pequeno-grande" negócio. Estar sempre a apostar em aprendizagem e manter a inovação como uma parte do nosso ADN.

Os projectos que temos em carteira levaram, em média, cerca de 12 meses a serem vendidos. Logo, manter uma carteira de clientes e parcei-

"É importante não ter uma visão romântica sobre a vida de empreender - requer muitos desafios pessoais e temos várias vezes vontade de desistir. São escolhas"

ros continua a ser um desafio constante. A burocracia continua a ser um entrave para a gestão do negócio. É importante não ter uma visão romântica sobre a vida de empreender - requer muitos desafios pessoais e temos várias vezes vontade de desistir. São escolhas! Por exemplo, só conseguimos ter férias dez anos depois. O peso e o tamanho da responsabilidade são cada vez maiores. Há ainda que motivar uma maior partilha entre pares.

De que forma esses desafios moldaram a forma como a ideialab actua hoje?

Somos uma organização com uma gestão ágil, que rapidamente aprende e se ajusta aos desafios do mercado.

Damos sempre o primeiro passo e aprendemos com as nossas falhas, mas nunca paramos de fazer, aprender e inovar. Temos uma metodologia centrada nas necessidades do empreendedor e do ecossistema.

A conversa é de empreendedor para empreendedor. Costumamos dizer que abraçamos os parceiros, não damos ape-

nas apertos de mão. Para nós, pessoas, aprendizagem e impacto importam.

Quais são as prioridades da empresa nos próximos anos?

Entre 2021 e 2024, houve um notável aumento de 45% nas candidaturas, com 3933 candidatos a disputar apenas 1027 vagas disponíveis. O aumento das candidaturas aos nossos programas destaca a necessidade urgente de expandir as iniciativas dentro do ecossistema. Vamos continuar a focar-nos em jovens e mulheres, expandindo uma oferta diversificada, quer para startups, quer para empresas mais maduras. Continuaremos a apostar no digital, em negócios verdes e sustentabilidade, na indústria cultural e criativa e no desenvolvimento de conteúdo local.

Como pretende a ideialab continuar a inovar e a ampliar o seu impacto, tanto em Moçambique como a nível regional ou continental?

Temos três grandes objectivos para os próximos anos: apostar na melhoria contínua e inovação em tudo o que fazemos,

focarmo-nos em aumentar a rentabilidade e produtividade, e criar conexões. Pretendemos intencionalmente ampliar o nosso foco para ter um maior impacto a nível de ecossistema, o que envolverá trabalhar em áreas como pesquisa, produção de conhecimento e advocacia, acesso a financiamento, replicar o nosso modelo em diferentes geografias e esferas de actuação. A inovação é alimentada pela nossa cultura interna e é vivida de formas diferentes, mas a base para isso vem de uma aposta grande em aprendizagem, na criação de parcerias e na criação de um ambiente onde todos podem.

Daqui a mais 15 anos, o que se pode hoje imaginar que será a ideialab ou, de outra forma, para onde gostariam que evoluísse?

A ideialab é uma organização muito dinâmica e vai, certamente, evoluir. Considerando a experiência e conhecimento que desenvolvemos nos últimos 15 anos, mais do que nos centrarmos nas necessidades dos empreendedores, queremos progredir e sermos mais activos e relevantes na dinamização do ecossistema.

Só assim conseguiremos ampliar o impacto e tornarmo-nos uma referência internacionalmente, como um hub de ecossistema – um conector de pessoas, conhecimento e recursos, que catalisa mercados e comunidades prósperas onde todos participam e beneficiam activamente. Vamos expandir o nosso alcance geográfico e áreas de actuação.

CINCO PROGRAMAS QUE SE DESTACAM

A ideialab destaca-se por vários programas inovadores e de impacto no ecossistema empreendedor, especialmente com foco em jovens e mulheres. Entre os principais destacam-se:

ORANGE CORNERS MOÇAMBIQUE (OCM)

Financiado pelo Reino dos Países Baixos, Heineken, Van Oord, Mpesa, Grindrod e OCM visa capacitar jovens com iniciativas em fase inicial para criar negócios sustentáveis.

• Mais de 5000 jovens envolvidos nos Momentos de Inspiração.

• 358 negócios incubados ao longo de 13 edições.

• Mais de 4000 pessoas participaram nas masterclasses.

• Mais de 900 empreendedores capacitados na pré-incubação.

• Programa inclui pré-incubação (#Descola), incubação (#Biz), masterclasses e apoio a alumni (#OCIF).

CULTIV’ARTE

Financiado pela União Europeia e implementado pela Expertise France, visa fortalecer o sector cultural e criativo em Moçambique, com ênfase em jovens e mulheres.

• 179 empreendedores criativos treinados em 2024, com 40% sendo mulheres.

• 24 organizações culturais completaram com sucesso o programa de aceleração da ideialab.

• 22 mulheres participaram numa edição especial do programa de aceleração FEMTECH para negócios culturais.

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Financiada pela UE e em parceria com a Nova SBE, oferece formação digital em competências de gestão e liderança, com foco no talento e crescimento de gestores, empreendedores e equipas em Moçambique.

• 201 inscritos, com 132 mulheres e 53 homens, sendo a maioria (124) abaixo dos 35 anos.

• O curso de "Gestão de Negócio" é o mais procurado pelos jovens candidatos.

• 70 participantes já completaram os cursos e receberam certificação executiva internacional.

FEMTECH

É um programa de aceleração orentado para micro e pequenos negócios liderados por mulheres com mais de 25 anos e pelo menos dois anos de actividade.

• 75% das participantes relataram aumento nas vendas.

• 73% contrataram novos colaboradores.

• 97,5% das participantes relataram melhorias nas práticas de negócio.

• As mulheres entram na rede Femmies, onde continuam a receber apoio e oportunidades de networking nos primeiros anos das suas vidas de empreendedoras.

CLIMATE LAUNCHPAD (CLP)

É a maior competição global de negócios verdes e tem sido essencial para dinamizar o sector verde no País.

• 355 ideias submetidas desde 2019, com 121 startups seleccionadas.

• Casos de sucesso: Karingana, Mentes Sustentáveis, Green Soil, Xiphefu e Xangamira, que geraram impacto ambiental e social positivo.

• O programa tem sido essencial para dinamizar o sector verde em Moçambique, apoiando mulheres empreendedoras e contribuindo para a transição sustentável.

ACADEMIA BOOST
Academia Boost é um dos projectos âncora da IdeiaLab

O Que Ganha e Perde Moçambique Com as Tarifas de Trump?

A guerra comercial entre EUA, China e UE está a alterar o mapa do comércio global. Para países como Moçambique, na periferia do conflito, mas dentro de cadeias de valor, os efeitos já ai estão

Aimposição de tarifas recorde — que nos EUA podem atingir 245% sobre produtos chineses — está a provocar uma desaceleração do crescimento mundial e a reduzir a procura por matérias-primas. Moçambique, cuja economia depende fortemente da exportação de recursos naturais como carvão, gás, alumínio e grafite, enfrenta uma queda nas receitas externas e uma pressão crescente sobre a balança comercial.

A incerteza geopolítica e comercial pode levar algumas das multinacionais que ponderam investimentos no País a reverem os seus planos, especialmente em sectores como a mineração, energia e agricultura industrial. Em Moçambique, onde o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) é crucial para o crescimento económico, esta tendência pode ser uma séria ameaça para iniciativas estratégicas e obras de infra-estrutura essenciais.

Além disso, a maior presença de produtos excedentários no mercado africano, fruto do redireccionamento das exportações asiáticas, pode colocar em risco a competitividade da indústria local, exigindo medidas de protecção e uma resposta coordenada ao nível da política industrial.

Grafite no epicentro da turbulência

Em entrevista à E&M, a Câmara Moçambicana das Minas alerta para os impactos directos da guerra comercial no mercado da grafite, um dos minerais no cabaz de exportações estratégicas do País. De acordo com o director-geral da instituição, António Manhiça, os últimos anos têm sido marcados por uma redução acentuada nos volu-

mes e valores exportados, devido a factores externos como a prática de “dumping” por parte da China, colocando no mercado grafite a preços abaixo do custo de produção. “Esta realidade afecta directamente a competitividade das nossas operações”, afirma Manhiça, sublinhando ainda as dificuldades logísticas, interrupções operacionais em zonas instáveis como Cabo Delgado e a exposição a eventos climáticos extremos, que agravam a instabilidade do sector mineiro.

A grafite extraída em Balama, pela australiana Syrah Resources, é usada no fabrico de baterias para veículos eléctricos, incluindo os modelos da Lucid Motors (uma das grandes rivais da Tesla no mercado norte-amerciano de veículos eléctricos), que comprará 7 mil toneladas anuais de material a partir de 2026. Contudo, apesar do crescimento da produção — que poderá ultrapassar 329 mil toneladas em 2024, um aumento de 180% face ao ano anterior — Moçambique depende quase exclusivamente do processamento intermédio feito na China. Esta dependência reduz a capacidade do País de capturar valor local e de aceder directamente a mercados como os EUA ou a União Europeia. “Sem capacidade local de beneficiamento, o País permanece vulnerável a distorções externas e perde previsibilidade nas receitas de exportação”, alerta Manhiça.

Um problema que traz oportunidades

Em relação a uma perspectiva mais abrangente sobre o impacto das tarifas da administração Trump, economistas ouvidos pela E&M alertam para os riscos de curto e médio prazo, mas sublinham que a actual conjuntura também

EUA e China: um reequilíbrio global em marcha

pode representar uma oportunidade para Moçambique repensar o seu modelo económico. A diversificação de mercados, a aposta em cadeias de valor locais e o incentivo ao processamento interno dos recursos são estratégias apontadas como cruciais.

“Estamos perante um equilíbrio delicado. Aquilo que se poupa com a importação de combustíveis, pode perder-se com a queda nas receitas das nossas exportações”, nota o economista Egas Daniel.

Já Clésio Foia alerta para a entrada crescente de produtos a preços reduzidos no mercado africano, resultado da sobreprodução internacional: “As cadeias de valor globais estão interligadas. Qualquer disfunção num extremo pode desestabilizar mercados periféricos. Moçambique não está imune.” Ambos os especialistas sublinham

Economistas ouvidos pela E&M alertam para os riscos de curto e médio prazo, mas sublinham que a actual conjuntura também pode representar uma oportunidade para Moçambique repensar o seu modelo económico

a necessidade de o País reforçar a resiliência económica, apostando em cadeias de valor locais, diversificação de mercados e melhoria das condições para atracção de Investimento Directo Estrangeiro (IDE).

A actual guerra comercial, embora desencadeada por interesses geopolíticos entre grandes potências, é também um teste à capacidade dos países periféricos de se adaptarem a um novo paradigma económico. Para Moçambique, o desafio será transformar os riscos em oportunidades — fortalecendo a sua estrutura produtiva, incentivando o processamento local e reposicionando-se nas cadeias de valor globais.

“Se não actuarmos agora, continuaremos a exportar riqueza bruta e a importar pobreza industrializada”, conclui Manhiça.

COMO AS TARIFAS DE TRUMP AFECTAM MOÇAMBIQUE?

As tarifas impostas pelos EUA à China (e vice-versa) podem reduzir o crescimento económico global, o que leva a uma menor procura por matérias-primas

EXPORTAÇÕES

As vendas de carvão, gás e alumínio moçambicanos serão afectadas se a China ou outros grandes consumidores reduzirem a procura, com consequente diminuição das receitas de exportação.

Multinacionais que operam em Moçambique podem rever os seus investimentos devido à incerteza gerada pela guerra comercial. Projectos podem sofrer atrasos ou cortes.

Um ambiente global mais proteccionista pode levar a cortes nos orçamentos de ajuda ao desenvolvimento ou a mudanças nas prioridades geopolíticas como aconteceu com a USAID.

Um aumento dos preços de bens importados (por via de tarifas sobre maquinaria e fertilizantes, por exemplo), pode agravar o défice da balança comercial.

Se certos mercados se fecharem, países como a China podem procurar novos parceiros comerciais em África. Isso pode abrir uma janela de oportunidade para Moçambique.

FONTE Economistas ouvidos pela E&M

Do Zambeze ao Tesouro Nacional

Com meio século de história, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), um dos pilares da economia moçambicana, prepara-se para enfrentar o futuro com foco na transição energética, integração regional e inclusão de todos no progresso

Em Chioco, posto administrativo do distrito de Changara, província de Tete, a energia eléctrica chegou em Dezembro de 2023. Até então, as noites eram iluminadas por candeeiros a petróleo e o comércio local limitava-se ao essencial. Um ano e meio depois da ligação à rede nacional, apoiada pela HCB com 141 milhões de meticais, a comunidade já dá sinais visíveis de transformação: surgiram mercearias com congeladores, salões de cabeleireiro com equipamento eléctrico, jovens empreendem com pequenos centros de impressão e carregamento de telefones. Estes são apenas alguns entre vários exemplos que demonstram o alcance estratégico da HCB no desenvolvimento do País.

Assim sempre foi e continuará a ser. Desde a sua criação, em 1975, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa tem desempenhado um papel fundamental na expansão do acesso à energia em Moçambique, com impacto directo no progresso social e económico das comunidades. Os investimentos estruturantes actualmente em curso confirmam este compromisso com o futuro. Ao reforçar a sua capacidade técnica e operacional, a HCB posiciona-se como pilar incontornável rumo à tão almejada auto-suficiência energética nacional. Com uma capacidade instalada de 2075 Megawatts (MW), a hidroeléctrica representa o coração do sistema eléctrico do País, com um peso de 80% de to-

da a produção eléctrica nacional e uma âncora de receitas para o Estado moçambicano, que detém 85% do seu capital.

Importante fonte de divisas, hoje e no futuro

O Banco Mundial estima que nos próximos dez anos a procura vai aumentar 40% ao nível da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), e o Instituto de Estudos de Segurança (ISS Africa) fala de um aumento de 26% até 2050, reflectindo o impacto do crescimento económico e populacional na região. Estes dados realçam a importância da HCB em atender à crescente procura. Será, na verdade, a continuidade do que acontece ainda hoje na região.

Para ter ideia da relevância da HCB como centro energético regional, basta recordar que, em Fevereiro de 2024, quando o Governo moçambicano anunciou o plano de terminar o acordo de fornecimento de energia à África do Sul, para a redireccionar para uso doméstico, a Eskom, empresa energética do Estado sul-africano, afirmou (segundo o portal Energy News Africa Plus) que vai tentar garantir uma relação estável e mutuamente benéfica com a HCB, para contraiar esta decisão e garantir fornecimento contínuo àquele país vizinho.

Em 2023, a HCB alcançou uma produção recorde de 16 057,5 GWh, a maior dos últimos oito anos. Desta produção, 9595,38 GWh foram exportados, principalmente para a Eskom (África do

Desde a sua criação, em 1975, a HCB tem desempenhado um papel fundamental na expansão do acesso à energia, com impacto no progresso socio económico das comunidades

“CAHORA BASSA É NOSSA!”

A HCB conta com cerca de 17 mil accionistas individuais, detentores de 4% do capital da hidroeléctrica disperso em bolsa

Valores em percentagem

85 %

Estado moçambicano

Redes Energéticas Nacionais (Portugal)

Cidadãos, empresas e instituições moçambicanos

Hidroeléctrica de Cahora Bassa

Vista aérea da barragem de Cahora Bassa que celebra, agora, 50 anos
“INVESTI NA HCB POR ACREDITAR

NO SEU POTENCIAL E NO FUTURO DE MOÇAMBIQUE“

Em 2019, quando a HCB abriu o capital ao público, moçambicanos como Silvino Sambo viram mais do que uma oportunidade de investimento: pela primeira vez, um empreendimento estratégico passava a ser, de facto, património dos cidadãos

O que o motivou a investir na Hidroeléctrica de Cahora Bassa e como vê essa decisão no contexto do desenvolvimento económico de Moçambique?

Sempre vi o mercado de acções pela televisão, principalmente em filmes, como algo muito próspero, embora parecesse coisa de ficção. Mas antes de arriscar, decidi conversar com um amigo economista, que me deu dicas, e juntos fomos analisando opções que, a longo prazo, pudessem dar bons frutos. Foi assim que cheguei à HCB. Sempre ouvi falar da sua importância para o País e depois de ler um pouco mais, percebi que era muito mais do que uma simples empresa — é um símbolo do que Moçambique pode fazer com os seus próprios recursos. Para mim, investir aqui fez sentido, não só pelo possível retorno financeiro, mas também por estar a apoiar uma estrutura que, literalmente, move o País. Como avalia o processo de aquisição das acções em termos de transparência, retornos e apoio ao pequeno investidor?

Não tenho muito a dizer sobre o processo de aquisição das acções, porque, para ser honesto, entrei nisto meio ‘às cegas’. Nunca fui convidado para uma reunião, encontro ou qualquer tipo de sessão onde se explicasse de forma clara e convincente como tudo funciona.

O que sei é que, uma vez por ano, cai um valor na minha conta — um

valor que, diga-se de passagem, é quase simbólico. Talvez isso se deva à quantia relativamente pequena que investi, não sei ao certo. Mas, no geral, sinto que faltou mais transparência e apoio, principalmente para quem, como eu, não tem grande experiência neste tipo de investimento. Acaba-se por confiar, mas sem realmente entender o que se passa nos bastidores.

Na sua opinião, que impacto a abertura do capital poderá ter sobre a gestão e a sustentabilidade da empresa no longo prazo? Quero acreditar que vai ter um impacto positivo no longo prazo. Para além dos ganhos evidentes para a empresa — como maior acesso a financiamento, mais visibilidade e transparência — também abriu espaço para algo que, para mim, é ainda mais bonito: o moçambicano comum, com alguma vontade e algum dinheiro para investir, finalmente poder realizar o sonho de fazer parte de uma grande empresa como accionista. Isso cria um sentido de pertença, de participação na economia real do País e pode até estimular uma cultura de investimento e de literacia financeira de que tanto precisamos. Claro que tudo vai depender da forma como a empresa for gerida daqui para frente. Mas se houver responsabilidade e visão de longo prazo, pode ser um caminho promissor, tanto para a sustentabilidade da empresa, como para o envolvimento da própria sociedade na sua evolução.

O que diria a outros moçambicanos que hesitam em investir em empresas nacionais como a HCB? Diria que isto é mais do que uma oportunidade de retorno financeiro — é um acto de confiança no nosso próprio potencial. A HCB é uma empresa estratégica, sólida e com histórico comprovado de sustentabilidade e contribuição para o desenvolvimento do País. Ao investir nela, não só estamos a fazer crescer o nosso património, como também a fortalecer a economia nacional e a garantir que os recursos de Moçambique beneficiem, em primeiro lugar, os próprios moçambicanos.

Sul) e para a ZESA (Zimbabué), entre outros clientes que incluem o Botsuana, Zâmbia e Essuatíni. Este volume de exportação representa cerca de 60% da produção total da empresa. As receitas geradas atingiram aproximadamente 34,9 mil milhões de meticais (mais de 500 milhões de dólares), impulsionadas por uma revisão tarifária de 38% nas exportações de energia eléctrica.

Mudanças para uma abordagem ‘verde’

O imperativo global de luta pela descarbonização do planeta até 2050, e que tem grande ênfase na área da energia, não passa ao lado da estratrégia da HCB, que tem reafirmado o seu compromisso com a transição energética sustentável em Moçambique e na região através de investimentos na produção renovável. Um dos principais projectos em desenvolvimento é a construção de uma central solar fotovoltaica com capacidade até 400 Megawatts (MW), em parceria com a Corporação Financeira Internacional (IFC). Este projecto vai contribuir para a meta nacional de gerar 62%

Interior da hidroeléctrica, onde estão instalados os equipamentos de produção

REFORÇOS COMO BASES DO FUTURO

São investimentos superiores a 500 milhões de dólares para garantir que a HCB continue a ser, por muitas décadas, o coração energético do País e da região

CENTRAL SUL – REABSUL

Reabilitação de cinco grupos geradores. É a maior parcela do investimento.

SUBESTAÇÃO DO SONGO

Inclui a substituição de oito pontes conversoras e outros equipamentos com mais de 40 anos.

SUBESTAÇÃO DE MATAMBO

Consiste em modernizar equipamentos de conversão e transporte.

ESTRADAS DO SONGO – FASE 2

Melhoria das vias de acesso para facilitar a logística e manutenção da HCB.

ESTABILIZAÇÃO DOS ENCONTROS DA BARRAGEM

Para evitar o desmoronamentos de rochas que podem afectar o sistema electroprodutor.

FONTE HCB

da energia consumida internamente a partir de fontes renováveis até 2030, conforme o compromisso assumido por Moçambique na COP26. Além do mais, a HCB é já reconhecida como uma empresa limpa, certificada pelas normas ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001, assegurando padrões internacionais de qualidade, segurança e responsabilidade ambiental.

Lucros alimentam esperanças e a confiança dos investidores Além dos planos e projecções de investimentos, o desempenho da HCB vai dando provas de que o futuro é promissor. As autoridades reportaram lucro recorde em 2024, 14,1 mil milhões de meticais, um crescimento de 8,48% em relação a 2023, um desempenho que também reforça a confiança dos investidores Com meio século de história ao serviço de Moçambique, a HCB projecta-se como um dos pilares estratégicos do futuro energético e económico do País nos próximos 50 anos. Os contínuos investimentos e o foco na inovação reafirmam o seu papel na construção de um futuro próspero para Moçambique.

O CEO e a Reinvenção do Mundo Empresarial

O 28.º Global CEO Survey da PwC indica que os próximos anos serão definidos por factores macroeconómicos e avanços tecnológicos, assim como pela capacidade de agir com visão

Apesar do clima global incerto, marcado por conflitos geopolíticos, inflação e volatilidade dos mercados, a maioria dos CEO mostra-se surpreendentemente optimista quanto ao crescimento económico global. Cerca de 60% acreditam que a economia irá expandir-se nos próximos 12 meses — um contraste gritante face a apenas 18% que tinha essa expectativa em 2023. Este optimismo, no entanto, não anula uma inquietação de fundo: 42% dos líderes empresariais admitem que as suas empresas não serão viáveis dentro de uma década caso não realizem mudanças estruturais profundas.

A IA sai do laboratório

Entre os motores de transformação mais relevantes, a inteligência artificial (IA) assume o protagonismo. Entrou no radar dos executivos há pouco tempo, mas já se tornou numa força de disrupção: 56% dos CEO relataram ganhos de eficiência, 34% falam de aumentos de lucros e 32% relatam melhorias nas receitas. Contudo, as expectativas revelaram-se excessivamente optimistas. Enquanto 64% esperavam um aumento da eficiência dos colaboradores, apenas 56% o confirmaram. No caso da rentabilidade, a diferença foi de 46% para 34%, e no crescimento das receitas, de 41% para 32%. Mais preocupante é o desfasamento entre a ambição tecnológica e a

preparação real das organizações. Apenas um terço dos directores executivos tenciona integrar a inteligência artificial nas suas estratégias de formação e qualificação. Soma-se a isso um nível de desconfiança estrutural: apenas 33% afirmam confiar amplamente na IA nos seus processos críticos. Esta falta de confiança está associada à falta de “princípios de IA responsável”, fundamentais para evitar conteúdos enviesados, riscos legais, problemas de propriedade intelectual e impactos negativos sobre a sustentabilidade.

Adicionalmente, o impacto da IA sobre o emprego ainda é ambíguo: 17% das empresas aumentaram as suas equipas com o investimentos em IA, mas 13% fizeram cortes. As empresas que mais beneficiam são as que apostam na sua integração com plataformas tecnológicas, processos operacionais e fluxos de trabalho.

Do ideal à rentabilidade

No campo da sustentabilidade, um terço das empresas que investiram em práticas ecológicas nos últimos cinco anos registou um aumento de receitas. Dois terços reduziram ou estabilizaram custos. A ligação entre sustentabilidade e performance financeira tornou-se inegável. Os CEO com maior percentagem do seu salário indexada a métricas ambientais tendem a obter melhores resultados. As iniciativas mais comuns passam por protecção de infra-estruturas,

“Liderar num mundo em disrupção não exige apenas reacção, mas também capacidade de antecipação disciplinada”— estudo PwC, 28th Annual Global CEO Survey

O estudo revela que os CEO continuam a enfrentar desafios significativos no campo da tomada de decisões estratégicas

requalificação de equipas e planeamento financeiro sensível ao risco climático. Importa sublinhar que 70% dos investidores acreditam que as empresas devem liderar a transição climática, mesmo que isso reduza os lucros a curto prazo. Esta mudança de mentalidade reforça a necessidade de as lideranças empresariais verem a sustentabilidade não como custo, mas como investimento.

Decidir no meio da tempestade

O estudo revela que os CEO continuam a enfrentar desafios significativos no campo da tomada de decisões estratégicas. Apenas 44% atribuem probabilidades explícitas aos cenários em análise e 58% julgam as decisões apenas pelos resultados finais. Práticas como a transparência nos critérios, análise sistémica ou mitigação de vieses cognitivos ainda são pouco aplicadas. Este défice prejudica a capacidade de actuação em contextos de elevada incerteza, onde as heurísticas ou factores emocionais podem distorcer julgamentos.

Acresce que a capacidade de realocação de recursos — essencial à agilidade estratégica — é limitada: 50% dos

Texto

O QUE RESPONDEM OS DIRECTORES EXECUTIVOS (CEO)?

Muitos CEO não utilizam regularmente o conjunto completo de melhores práticas na sua tomada de decisões estratégicas

Combate ao viés de confirmação

Tornar transparentes os critérios para determinar a decisão

Incentivar pontos de vista que sejam contraditórios com os pontos de vista dos líderes seniores

Reservar tempo para considerar se está a perder alguma oportunidade importante

Avaliar internacionalmente se está a procurar as oportunidades erradas

Incluir informação que possa contradizer a hipótese de investimento

Discutir a decisão como parte do portefólio geral de decisão da empresa

Atribuir probabilidades explícitas a resultados possíveis distintos

Confiar principalmente na intuição em relação à análise quantitativa

Análise geral Avaliação pós-decisão

Outro ponto central é a duração do mandato dos CEO. A maioria espera permanecer no cargo por cinco anos ou menos

“A questão já não é se devemos reinventar o negócio, mas sim se o faremos a tempo. O futuro pertence a quem agir antes que a mudança se torne imposição.” — PwC, 28th Annual Global CEO Survey

CEO realocam menos de 10% dos seus recursos de ano para ano. Contudo, empresas com níveis superiores de realocação (acima de 30%) apresentam margens de lucro significativamente mais elevadas e conseguem gerar mais receitas a partir de novos negócios. Isto evidencia uma relação directa entre flexibilidade interna e performance.

Novos territórios, novas regras

A reinvenção já começou, mas os resultados ainda são tímidos. Apenas 7% das receitas dos últimos cinco anos provêm de negócios verdadeiramente novos. Cerca de 38% dos CEO afirmam ter lançado novos produtos, 32% exploraram novos mercados e 40% das empresas actuam agora em sectores diferentes dos seus originais. Esta reconfiguração intersectorial reflecte movimentos como os de empresas tecnológicas a entrarem no sector energético ou bancos a expandirem-se para serviços de consumo digital.

Outro ponto central é a duração do mandato dos CEO. A maioria espera

permanecer no cargo por cinco anos ou menos, o que limita a capacidade de implementar transformações estruturais. O relatório mostra que CEO com mandatos mais longos têm maior propensão para investir em IA, adoptar boas práticas de decisão e liderar processos de reinvenção. Esta "armadilha do mandato curto" impõe um desafio às administrações: como incentivar uma visão de longo prazo num sistema orientado por resultados imediatos?

O futuro decide-se agora

O relatório deixa um aviso inequívoco: o futuro empresarial será definido por decisões tomadas hoje. GenAI, sustentabilidade e reinvenção não são meros projectos — são pilares estratégicos. As empresas que investirem agora nestas frentes, com coragem e inteligência, estarão mais bem posicionadas para prosperar num ambiente de mudança permanente. As que hesitarem arriscam a obsolescência. Como questiona o próprio relatório: se o seu mandato durasse mais dez anos, que decisões tomaria hoje?

AS TENDÊNCIAS

A urgência de agir: sinais de alerta e de oportunidade

42% dos CEO acreditam que as suas empresas não serão viáveis dentro de 10 anos se não fizerem mudanças profundas.

• Apenas 7% das receitas dos últimos cinco anos provêm de negócios realmente novos;

• Empresas que realocam mais de 30% dos seus recursos têm margens de lucro superiores;

• Quase 40% dos CEO dizem que as suas empresas já operam fora do sector de origem.

50% dos CEO realocam menos de 10% dos recursos financeiros e humanos, anualmente.

• 67% movimentam menos de 20%, limitando a adaptação estratégica.

• Empresas que realocam mais de 30% dos seus recursos apresentam margens de lucro superiores.

• A flexibilidade interna está directamente ligada à criação de valor e à inovação.

40% das empresas já operam fora do seu sector de origem.

• Movimentos frequentes entre tecnologia, saúde, energia, banca e consumo.

• 32% dos CEO procuraram novos mercados e clientes nos últimos cinco anos.

• Esta reconfiguração exige novas alianças, modelos de negócio e talentos transversais.

moçambique digital

64 CIBERSEGURANÇA

As empresas moçambicanas estão a acompanhar o reforço global de cibersegurança? Um estudo da Deloitte revela as tendências: 86% das organizações globais está a aumentar a proteção digital

CIBERSEGURANÇA

Moçambique Consciente Dos Riscos, Mas Falta Investir

Um estudo da Deloitte revela que 86% das organizações globais estão a reforçar a cibersegurança. Será que as empresas moçambicanas estão a acompanhar o passo?

Oestudo “Global Future of Cyber Survey 2024”

(Inquérito Global sobre o Futuro do Ciberespaço 2024), da Deloitte, indica que 86% das empresas inquiridas estão a implementar acções para melhorar as defesas digitais em grau moderado ou elevado, o que reflecte uma compreensão cada vez maior da importância de programas robustos nessa área. Além disso, 85% dos inquiridos esperam que os investimentos em cibersegurança resultem directamente na obtenção dos objectivos comerciais, evidenciando a crescente correlação entre segurança digital e valor de mercado.

No caso moçambicano, Frederico Macias, porta-voz da Deloitte, recorda o estudo da consultora conduzido em 2022, “Cybersecurity Survey em Moçambique”. Na altura, a maioria das empresas investiam menos de 10% dos custos operacionais em cibersegurança. “O sector bancário era o que mais investia e priorizava a segurança cibernética, tal como é esperado, dada a natureza dos seus activos, predominantemente líquidos e devido a regulação mais apertada”. Desde então, existe uma maior percepção sobre a necessidade de protecção

digital. “As empresas nacionais reconhecem cada vez mais a importância de investir nesta área para proteger os seus activos digitais e manter a integridade operacional. Apesar disso, o investimento ainda é reduzido, muitas vezes relacionado com o baixo nível de sensibilização dos gestores de topo para o risco cibernético”, alerta.

Quais os principais riscos a tomar em consideração?

O País enfrenta um aumento expressivo de ciberameaças e ataques digitais, o que representa um risco acrescido, considerando a vulnerabilidade das organizações e instituições moçambicanas no domínio digital. As ameaças cibernéticas são um fenómeno global, mas os impactos específicos em Moçambique reflectem tendências preocupantes, identificadas no estudo.

Entre os principais riscos, destaca-se a perda de confiança na integridade tecnológica das empresas, que se tornou na principal preocupação em relação à segurança digital (estava na sexta posição, no ano anterior). A fiabilidade, precisão e disponibilidade dos sistemas e dados são factores críticos para a continuidade operacional das organizações e qualquer falha pode ter

“A cooperação com parceiros internacionais é crucial para a partilha de estratégias e informação no combate ao cibercrime”

QUAL A MATURIDADE EM CIBERSEGURANÇA DAS ORGANIZAÇÕES NACIONAIS?

Quanto maior for a maturidade de uma organização em matéria de cibersegurança, maior será a influência positiva para a operação. Para definir o indicador de maturidade no estudo Global Future of Cyber Survey 2024, a Deloitte utilizou quatro conjuntos de práticas para avaliar as organizações: planeamento robusto da cibersegurança, principais actividades, envolvimento eficaz do conselho de administração e implantação de capacidades de Inteligência Artificial. Segundo as conclusões, a cibersegurança é vista cada vez mais como essencial para os resultados empresariais, com as organizações com elevada maturidade a esperarem resultados positivos. Os responsáveis pela cibersegurança estão mais envolvidos em conversas estratégicas sobre capacidades tecnológicas (cloud, IA e outras) e transformação digital. “Este envolvimento ajuda a proteger os investimentos e a alinhar a cibersegurança com os objectivos do negócio. Além disso, estas organizações compreendem melhor os riscos associados à transformação digital e são mais pró-activas na implementação de medidas para mitigar riscos”, refere Macias. A Deloitte sublinha que, em Moçambique, o sector bancário mantém-se como o mais bem preparado em matéria de cibersegurança e resposta a incidentes. “Nos demais sectores, apesar de haver consciência sobre a necessidade de protecção, é necessário mais investimento. A falta de maturidade em cibersegurança pode influenciar a reputação das organizações e resultar em perdas para o negócio, já que alguns padrões importantes de cibersegurança podem ser uma exigência por parte de determinados clientes, em especial, em cadeias de abastecimento”, apontou.

repercussões significativas. Outro impacto relevante diz respeito às perturbações operacionais. A interrupção das cadeias de abastecimento e a disrupção de ecossistemas empresariais interligados continuam a representar um risco substancial para os negócios.

Paralelamente, a perda de reputação é uma das consequências mais temidas, uma vez que danos na imagem corporativa podem afectar directamente a confiança dos clientes e o valor de mercado da empresa. Esta vulnerabilidade pode ainda gerar dificuldades no recrutamento e na retenção de talentos, especialmente num contexto onde a percepção de instabilidade ou insegurança digital pode afastar profissionais qualificados.

Além dos impactos mencionados, as organizações moçambicanas podem sofrer consequências financeiras e regu-

“O investimento deverá reflectir a cibersegurança como um elemento crítico da transformação digital e não apenas como uma despesa isolada”

latórias severas. A perda de receitas decorrente de ataques cibernéticos é uma realidade crescente, assim como o roubo de propriedade intelectual, que compromete a competitividade das empresas no mercado. Em sectores altamente regulamentados, como o financeiro e o de telecomunicações, falhas de cibersegurança podem resultar em multas pesadas, perda de investimentos estratégicos e até mesmo na diminuição do valor das acções.

A posição de Moçambique nos PALOP

“Apesar dos desafios, o País tem feito progressos, implementando estratégias e medidas de cooperação. Embora ainda haja margem para avanços, Moçambique posiciona-se relativamente bem entre os Países Africanos de Língua Ofi-

cial Portuguesa (PALOP) no âmbito da preparação para a cibersegurança, segundo o Global Cybersecurity Index 2024”, explica o porta-voz da consultora. Para fortalecer a resiliência cibernética, o País precisa de continuar a investir em infra-estruturas de segurança digital, implementar medidas legais e técnicas e desenvolver capacitação especializada para os seus recursos humanos. Além disso, a cooperação com parceiros internacionais é crucial para a partilha de estratégias e conhecimentos no combate ao cibercrime. “A evolução da cibersegurança no País será marcada pelo uso de novas tecnologias o que trará novas ameaças: quem ataca vai recorrer a tecnologias mais avançadas”, observa, acrescentando que as necessidades de negócio continuam a redefinir as prioridades das organizações.

TRÊS PONTOS-CHAVE PARA MOÇAMBIQUE

A segurança num mundo cada vez mais digital tem várias implicações. Além da informática, uma estratégia nesta área deve envolver outros departamentos das organizações. Da administração aos recursos humanos, há dossiês de cibersegurança para todos

FALTAM ‘CLOUDISTAS’

“Em Moçambique, os principais desafios que as organizações enfrentam estão relacionados com a falta de mão-de-obra especializada com o uso da ‘cloud’”, e muitas soluções de cibersegurança oferecem serviços apenas na ‘cloud’. Para os sectores que enfrentam restrições sobre o armazenamento de dados fora do País, este pode ser o maior problema, aponta a Deloitte.

A ASCENSÃO DO CISO

A consultora Deloitte destaca que a posição de Chief Information Security Officer (CISO) tem vindo a ganhar um papel cada vez mais estratégico. No entanto, em Moçambique, mais de metade das organizações não dispõem de um CISO ou um Chief Information Officer (CIO). Esta lacuna compromete a capacidade de responder aos ciberataques de forma eficaz.

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TEM MEDO DA IA?

Numa perspectiva global, e pelo que se pode analisar no estudo da Deloitte, as organizações estão a recorrer cada vez mais à Inteligência Artificial (IA) para ajudar a melhorar a resposta às ameaças: 39% dos inquiridos estão a utilizá-la, mas 34% estão muito preocupados quanto a riscos relacionados com a IA como parte da estratégia de cibersegurança. Em Moçambique, de forma indirecta, ao adoptar uma ferramenta de cibersegurança, as organizações estão, nalguns casos, a adoptar uma ferramenta de IA. Ainda assim, o seu uso é muito incipiente. É importante notar que nem todas as ferramentas de cibersegurança utilizam IA. No entanto, a tendência é que esta seja cada vez mais integrada, sobretudo nas áreas de detecção de anomalias, prevenção de ataques e resposta a incidentes. O custo pode variar, dependendo do tamanho da organização.

Cibersegurança “não deve ser uma despesa isolada”

A cibersegurança deve acompanhar o crescimento de uma organização e deve ser envolvida logo no início do desenvolvimento de novos produtos, melhorando a eficácia das medidas.

De acordo com o estudo da Deloitte, um aumento dos orçamentos dedicados à cibersegurança, com investimento contínuo, vai aumentar a resiliência e gerar valor empresarial. É uma realidade que requer adaptação: nos dias que correm, os activos de uma empresa também se adaptaram e é preciso salvaguardar recursos, como a propriedade intelectual. Através de medidas integradas de cibersegurança, as organizações podem proteger as suas inovações e manter uma vantagem competitiva. Medidas como a criação de um novo

Ministério de Comunicações e Transformação Digital podem demonstrar o compromisso do Governo em impulsionar a informatização do País. No entanto, segundo Macias, “os gastos com cibersegurança devem ser integrados em orçamentos mais amplos, como os destinados à transformação digital e a programas de inovação tecnológica. Esse investimento deverá reflectir a cibersegurança como um elemento crítico da transformação digital e não apenas como uma despesa isolada.”

Em suma, Moçambique precisa de investimentos em infra-estrutura digital, regulamentação eficaz e capacitação de profissionais para fortalecer a cibersegurança. É essencial promover a colaboração entre Governo, empresas e sociedade, garantindo a protecção de dados e sistemas.

FONTE Deloitte

Uma Resposta Digital Para Melhorar a Produtividade Real das Empresas Moçambicanas

Com foco na inclusão financeira e na simplificação dos pagamentos empresariais, a plataforma M-Pesa Business quer constituir-se, cada vez mais, como a parceira digital de referência para empresas formais e informais em Moçambique. Erica Varinde, chefe do Departamento do M-Pesa Business e Pagamentos, explica como a plataforma já está a transformar a forma como as empresas operam

Texto & Imagem M4D

Que serviços e funcionalidades traz o M-Pesa ao segmento empresarial?

O M-Pesa Business disponibiliza um leque diversificado de soluções tecnológicas de pagamentos e cobranças, concebidas para facilitar e digitalizar os processos financeiros de empresas, instituições públicas e organizações não-governamentais. Entre estas soluções, destacam-se os Pagamentos em Massa (B2C), que permitem transferências simultâneas para várias contas M-Pesa — ideais para salários e subsídios —, a Colecta de Pagamentos (C2B), que facilita o recebimento de valores por canais digitais e presenciais, e a funcionalidade de Mini Apps, que integra serviços empresariais personalizados directamente na aplicação M-Pesa. A integração via Open API permite automatizar processos financeiros entre os sistemas empresariais e o M-Pesa, com apoio técnico contínuo. A oferta inclui ainda vouchers digitais para promoções ou consumo, pagamento directo de salários com notificações por SMS, e a solução Paga Fácil, destinada a comerciantes e PME para gestão simultânea de pagamentos. Estas funcionalidades visam aumentar a eficiência, reduzir custos administrativos e promover a inclusão financeira em Moçambique.

Qual tem sido a receptividade do mercado a esta oferta?

Tem sido extremamente positiva. Em pouco tempo, conseguimos atingir uma carteira de mais de 20 mil empresas e instituições de vários sectores. São clientes que

utilizam as nossas soluções para diferentes fins: desde o pagamento de salários, subsídios sociais, pagamentos a fornecedores, até à recolha de pagamentos por bens ou serviços prestados. Este crescimento é impulsionado pela simplicidade de adesão ao serviço, pela capilaridade da rede M-Pesa e pelo suporte constante a cada parceiro. Temos ainda notado um interesse crescente por parte de instituições que preten-

“O M-Pesa Business foi desenvolvido para ser uma solução inclusiva, escalável e adaptável a empresas de todas as dimensões, das MPME às grandes corporações”

dem digitalizar os seus fluxos financeiros de forma segura, acessível e com custos operacionais mais baixos. Isto demonstra que estamos a responder a uma necessidade real do mercado.

Que tipo de empresas já estão actualmente a beneficiar das soluções do M-Pesa Business? O sistema foi desenvolvido para ser uma solução inclusiva, escalável e adaptável a

empresas de todas as dimensões — desde microempresas e PME até grandes corporações — desde que cumpram os requisitos de identificação e conformidade (KYC) definidos pelas normas regulatórias em vigor. Independentemente do volume de negócios, as soluções M-Pesa estão preparadas para responder de forma eficaz às necessidades operacionais de empresas que procuram optimizar os seus fluxos de pagamentos, aumentar a eficiência dos processos financeiros e melhorar a experiência dos seus clientes e colaboradores.

A plataforma adapta-se tanto a organizações com estruturas complexas como a pequenos negócios que necessitam de soluções digitais práticas, seguras e de fácil implementação. Actualmente, os sectores com maior adesão às soluções do M-Pesa incluem serviços essenciais como fornecimento de água, energia, televisão por subscrição e internet; administração pública, que utiliza a plataforma para digitalização de cobranças e pagamentos; e organizações não-governamentais (ONG), que recorrem ao serviço para distribuir ajudas humanitárias e subsídios. Destacam-se ainda a agricultura, nomeadamente no pagamento a produtores em zonas rurais, a indústria de petróleo e gás, o sector de bens de consumo de rotação rápida (FMCG), o comércio electrónico, os serviços financeiros e o segmento de apostas e entretenimento, todos beneficiando de soluções digitais de pagamento rápidas, seguras e integradas.

Esta diversidade sectorial comprova a flexibilidade e o valor estratégico do M-Pesa Business como ferramenta de aceleração da transformação digital empresarial em Moçambique.

ERICA VARINDE Chefe do Departamento do M-Pesa Business e Pagamentos

Saiba mais sobre como aceder em: https://developer.mpesa.vm.co.mz/documentation/ ou siga o QR Code no canto direito da página

CASOS DE SUCESSO

A digitalização dos meios de pagamento tem impactos claros na eficiência das empresas parceiras. E há casos de sucesso que comprovam essa lógica de transformação de diversos sectores em Moçambique, promovendo a digitalização, eficiência operacional e inclusão financeira em larga escala.

Em Fevereiro de 2025, a Vodafone M-Pesa e a Yango Moçambique firmaram uma parceria que permite que os motoristas realizem recargas móveis, adquiram pacotes de voz e dados e contratem e renovem seguros automóveis através do M-Pesa.

Parceria entre a Vodafone M-Pesa e a ANAMM permite utilizar os serviços de transacções móveis M-Pesa no pagamento de serviços públicos e taxas municipais directamente na plataforma M-Pesa, melhorando a eficiência e a transparência.

modernização do sector de transporte por aplicativo inclusão financeira no sector agrícola

digitalização dos pagamentos de serviços municipais

Com o objectivo de promover a digitalização dos pagamentos no sector agrícola, a parceria visa integrar mais de 250 comerciantes rurais no sistema de pagamentos móveis e a utilização dos seus fundos electrónicos para adquirir bens e serviços essenciais.

digitalização de pagamentos em estações de serviço

Em Abril de 2025, a Vodafone M-Pesa e a TotalEnergies assinaram um memorando para expandir a aceitação de pagamentos digitais rápidos e seguros via M-Pesa nas estações de serviço da TotalEnergies em todo o território nacional.

Uma das soluções destacadas é a capacidade de receber pagamentos, presencial ou remotamente. Pode explicar-nos como funciona esta integração e quais são os requisitos?

A integração com o M-Pesa Business é feita através da Open API, uma solução tecnológica avançada que permite às empresas conectarem directamente os seus sistemas à plataforma M-Pesa. Esta ferramenta possibilita a automatização de cobranças, pagamentos, reversões de transacções e outras operações financeiras em tempo real, com elevada segurança e fiabilidade. Compatível com plataformas de e-commerce, aplicações móveis e sistemas de gestão (ERP), a API permite criar experiências de pagamento personalizadas, tanto no canal digital como no presencial. As funcionalidades incluem recepção de pagamentos de clientes (C2B), envio automatizado de valores como salários ou subsídios (B2C) e transacções entre contas empresariais (B2B). Entre os principais benefícios estão a redução de

custos operacionais, maior controlo e rastreabilidade, integração transparente com sistemas digitais e uma experiência optimizada para o cliente. Todo o processo conta com o suporte de uma equipa técnica especializada, garantindo uma implementação ajustada às necessidades de cada empresa.

Outra funcionalidade relevante é a possibilidade dos pagamentos em massa. Como funciona esse serviço? O serviço de pagamento em massa (B2C) do M-Pesa permite às empresas efectuarem transferências múltiplas e instantâneas para contas individuais M-Pesa de forma rápida, segura e eficiente, bastando a submissão de um ficheiro digital. É ideal para pagamentos de salários, subsídios, ajudas de custo, apoios humanitários ou fornecedores de pequena escala. Empresas com sistemas mais avançados podem integrar directamente a solução aos seus ERP ou plataformas de RH, automatizando os processos e garantindo maior controlo e eficiência.

A segurança é assegurada por autenticação via portal, validação automática de beneficiários, múltiplos níveis de aprovação e relatórios exportáveis. Em certos regimes comerciais, os beneficiários podem ainda ace-

com documentação acessível, facilitando a entrada de PME no ecossistema digital. Outra aposta será o alargamento da plataforma de Mini Apps, que permitirá a integração de soluções empresariais directamente no ambiente M-Pesa, eliminando a necessidade de apps externas. Com isso, os parceiros poderão oferecer experiências personalizadas, aceder a ferramentas de gestão e fidelização, tudo num ecossistema digital unificado.

Quais são as perspectivas para o futuro do M-Pesa Business?

O nosso compromisso para o futuro do M-Pesa Business em Moçambique é claro e inabalável: liderar a transformação digital do ecossistema empresarial, impulsionando a eficiência, a inovação e a inclusão financeira em todas as províncias do País. Estamos a construir um futuro em que qualquer empresa — independentemente da sua dimensão, sector ou localização — possa operar com simplicidade, segurança e agilidade, integrando os seus processos financeiros numa plataforma digital robusta, escalável e orientada para o crescimento.

O nosso compromisso é continuar a lançar soluções digitais de última geração, adapta-

“O nosso compromisso para o futuro do M-Pesa Business é claro e inabalável: liderar a transformação digital no ecossistema empresarial impulsionando a eficiência”

der a produtos financeiros adicionais como seguros, microcréditos e adiantamentos, ampliando o impacto positivo da solução. Trata-se, assim, de uma ferramenta estratégica para empresas que valorizam eficiência operacional e inclusão financeira.

Em termos de inovação, que novas funcionalidades ou melhorias estão a ser desenvolvidas para 2025? Destacaria a expansão do serviço de pagamento de salários, agora acompanhado por benefícios adicionais para os colaboradores, como seguros (funeral e saúde), pacotes de voz, SMS e dados móveis, gerando valor para empresas e funcionários. Será também lançada uma aplicação móvel dedicada ao pagamento de taxas e serviços públicos, desenvolvida em parceria com entidades governamentais, permitindo transacções digitais rápidas, seguras e sem burocracia. Paralelamente, a API corporativa do M-Pesa será reformulada para permitir integrações mais simples,

das à realidade moçambicana, com foco na interoperabilidade, automação e excelência na experiência do utilizador.

Queremos expandir as nossas parcerias estratégicas, conectando mais sectores da economia à rede M-Pesa — incluindo energia, agricultura, transportes, saúde, educação e serviços públicos — e reforçar o apoio técnico às empresas, assegurando uma jornada digital assistida, personalizada e eficiente. E acelerar a digitalização em zonas rurais e periurbanas, democratizando o acesso aos serviços financeiros e promovendo o desenvolvimento sustentável. Acreditamos que o M-Pesa Business é mais do que uma plataforma de pagamentos: é um motor de progresso económico, um catalisador da transformação digital e um parceiro estratégico para todas as organizações que aspiram crescer, inovar e impactar positivamente a vida dos moçambicanos. O futuro é digital. E com o M-Pesa Business, esse futuro já começou.

FINANÇAS

Governo Lança Projecto de Contratação Pública Electrónica

O Ministério das Finanças lançou um projecto de contratação pública electrónica com o objectivo de resolver os problemas do modelo tradicional, caracterizado por custos elevados e falta de transparência.

O sistema, segundo a ministra das finanças, Carla Louveira, permitirá que as instituições públicas realizem processos de aquisição de forma mais ágil e segura, seguindo padrões internacionais, sendo também um compromisso do novo Governo com a modernização da administração pública e o fortalecimento da governação digital.

Espera-se que esta iniciativa beneficie a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, reforce a confiança das empresas nos serviços e contribua para a sustentabilidade das finanças públicas.

O ministro das Comunicações e Transformação Digital, Américo Muchanga, afirmou que uma das prioridades reside na criação de uma infra-estrutura única de interoperabilidade entre os sistemas da administração pública, assegurando a partilha, reutilização de dados e aplicações de diferentes entidades.

O projecto será conduzido de forma faseada e cada etapa deverá ser acompanhada por uma forte capacitação institucional e pelo desenvolvimento de uma infra-estrutura tecnológica robusta.

INOVAÇÃO

Moçambique investe em drones para reforçar gestão de desastres naturais

O Ministério das Comunicações e Transformação Digital pretende reforçar a gestão de desastres naturais, através da aquisição de “drones” (aeronaves não tripuladas), com um investimento de um milhão de dólares (63,2 milhões de meticais).

Os “drones” produzidos na Coreia do Sul permitirão recolher imagens e dados em tempo real, acelerando decisões por parte de autoridades, como o Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD). As aeronaves têm capacidade de subir até 150 metros e cobrir uma área de dois a três quilómetros. O projecto inclui a aquisição de quatro

TECNOLOGIA

modelos distintos, incluindo um “drone” de comando e treino para actividades de mapeamento, monitorização e investigação. A implementação está prevista para arrancar no mês Maio, após a chegada dos equipamentos ao País.

“Esta é uma solução inovadora que promete transformar a forma como lidamos com os desastres”, afirmou Américo Muchanga, ministro das Comunicações e Transformação Digital.

O projecto inclui igualmente a capacitação de profissionais para a operação dos aparelhos noutras áreas, como a agricultura, o controlo florestal e conservação ambiental.

Firebase Studio, a Ferramenta da Google Que Permite Criar Apps Através da IA

A Google apresentou o Firebase Studio, uma ferramenta que desenvolve e publica protótipos de aplicações, partindo do conceito fornecido pelo utilizador. O componente Studio faz parte da plata-

ÁFRICA

forma mais ampla denominada Firebase: um espaço de desenvolvimento de apps e websites da Google, criado para oferecer um conjunto abrangente de ferramentas aos programadores. Estas incluem sistemas de notificação, bases de dados, serviços de autenticação, entre outras funcionalidades. Dentro deste ecossistema, a Google introduziu o Firebase Studio, uma secção específica, concebida para permitir a criação de aplicações web através de linguagem natural, sem necessidade de escrever código manualmente, por ser intermediada por inteligência artificial. A abordagem é semelhante aos conceitos de “low-code” ou “no-code” (pouca ou nenhuma programação), em que a IA gera o código-base e o utilizador o revê e ajusta.

Samsung Passa a Suportar Línguas Africanas Kiswahili e Amárico

A Samsung anunciou a expansão do seu suporte linguístico para incluir o Kiswahili e o Amárico. O Kiswahili, que é muito usado em toda a África Oriental, e o Amárico, idioma oficial da Etiópia, estão entre as línguas mais faladas no continente. Ao integrá-las nos seus dispositivos, a Samsung está a responder às necessidades linguísticas de milhões de utilizadores, permitindo-lhes interagir com os seus dispositivos nas suas línguas nativas.

Esta iniciativa faz parte da estratégia mais alargada da Samsung para alcançar diversos mercados. À medida que a literacia digital e a adopção de “smartpho-

nes” continuam a aumentar, a incorporação de línguas locais nos dispositivos pretende também demonstrar respeito pela diversidade cultural e assinala o potencial da tecnologia para preservar e promover o património linguístico da humanidade.

Este desenvolvimento também estabelece um precedente para outras empresas de tecnologia que operam em África, enfatizando a importância de satisfazer as necessidades específicas de diferentes mercados e encorajando uma abordagem mais inclusiva ao desenvolvimento de produtos e ao envolvimento dos utilizadores.

Seul é Cool? Fazemos-lhe uma visita guiada

80 76

ESCAPE

Seul Myeongdong, os passeios a pé e outras relíquias da capital sul-coreana

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VOLANTE Duráveis

Afinal, quanto custa ter um carro?

Fomos procurar e eis os mais fiáveis

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ADEGA Austral Um leque de propostas irrecusáveis directamente das vinhas sul-africanas

AGENDA Maio

Todos os eventos nacionais e globais que não pode perder, incluindo as artes

FECHO DE CONTAS

Opinião

Salih Fendoglu & Mahvash S. Qureshi & Felix Suntheim, Fundo Monetário Internacional

CAMINHAR POR SEUL

Percorrer a cidade a pé é quase obrigatório, assim como subir a alguns arranha-céus ou à torre de telecomunicação N Seoul Tower, marco icónico da capital sul-coreana.

Viagem à Ásia: Seul é Cool

ÀS VEZES, o segredo de uma viagem feliz é não ter expectativas. Foi o que aconteceu aquando da aterragem no aeroporto internacional de Seul. A ideia de que esta é uma cidade repleta de vida foi confirmada logo à saída do aeroporto. A hora tardia antecipava alguns desafios até chegar ao hotel. Mas, embora o domínio da língua inglesa esteja longe do consenso, foi fácil encontrar indicações sobre qual o transporte mais fácil de utilizar – o autocarro. Tudo pronto para a aventura?

Mais difícil foi confirmar quanto tempo seria preciso para chegar ao alojamento, por dois motivos: o trânsito permanente da capital e a localização do hotel – a quem for reservar, aconselho, desde já, que seja central.

Imagem de crescimento económico

Seul é o protótipo do filho curioso e bem comportado. A cidade é cuidada, lim-

Capital atarefada e curiosa

pa e quase sempre previsível. As vias largas e os logótipos de marcas de franchising internacionais repetem-se por quarteirões.

Fica visível o crescimento económico que começou durante a década de 1980, numa ascensão que nunca mais parou; no início do século XX, aquilo que é hoje a Coreia do Sul era uma das regiões mais pobres do mundo, um cenário que se alterou completamente. Actualmente, os sul-coreanos ocupam o quarto lugar na lista das maiores economias asiáticas.

O papel central do trabalho

Ao passear por Seul, com um olhar mais atento sobre os residentes, percebe-se quais pertencem às gerações que transformaram a Coreia do Sul num gigante da indústria, incluindo do sector tecnológico. Nalguns serviços, como os transportes públicos,

Trânsito intenso no portão de Namdaemun em Seul, Coreia do Sul

essa geração que passou por 12 horas diárias de trabalho é claramente mais resistente (e quase impaciente) em relação àquilo que não domina, como a língua inglesa.

Vale a pena sublinhar que, há quarenta anos, a semana de trabalho de um trabalhador sul-coreano era a mais longa do mundo. No livro “Kim Ji Young, nascida em 1982”, de Cho Nam-Joo, pode ler-se um excerto que caracteriza o contexto laboral sul-coreano daquela altura: “Os salários escandalosamente baixos, por cada dia e noite de trabalho, o consumo excessivo de comprimidos de cafeína e a alta probabilidade de contraírem icterícia, compensaram o facto de poderem manter os irmãos rapazes na escola.”

Há, por outro lado, um esforço e empenho genuínos das gerações mais jovens. Isso também é visível: quando não dominam algum tema, investem numa solução.

Acordar cedo e cedo erguer...

A curiosidade e o bom comportamento da capital sul-coreana percebem-se na vida citadina: o metropolitano abre às 5:30 da manhã e, tal como a rede de autocarros, é bastante eficiente - aconselho vivamente a compra de um cartão recarregável que permite circular nos transportes públicos: facilita muito a vida.

A expansão da construção de arranha-céus é visível em qualquer quarteirão. Os últimos dados mostram que, em 2022 e 2023, a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) sul-coreano foi superior aos (quase) vizinhos japoneses. Sinal de bom comportamento aliado a uma vontade desmedida em continuar a crescer.

A multiplicação de cafés e pastelarias Após experimentar Seul durante uma semana, fiquei

com um palpite de que a multiplicação de cafés e pastelarias (nacionais e de franchising) se deve a um consumo elevado de cafeína. Americanos, expressos, “latte”, “iced” ou com baunilha; a lista é infinita, quer seja para aproveitar o conforto de um café com um yakgwa (um bolo em forma de flor feito de mel, óleo de gergelim e farinha de trigo) ou como “takeaway”, a caminho de outro tipo de espaços, dedicados à exposição e demonstração de marcas nacionais que são gigantes globais, como a LG ou a Hyunday.

Há um conceito de restauração que ganha várias formas em Seul: a cafetaria livraria, tão bem retratada na obra de Hwang Bo-Reum, “Bem-vindos à Livraria Hyunam-Dong”. Eis um excerto: “Por fim, quando já não sabia para onde se virar, entre a livraria e os pedidos de café que começavam a amontoar-se, decidiu que estava na altura de procurar ajuda. Afixou vários avisos nas redondezas para recrutar um barista.”

História secular e moderna

Com uma história marcada pela Guerra Fria, os monumentos espalhados pela cidade prendem-se com o passado recente, como o Memorial da Guerra da Coreia do Sul, por entre os templos construídos antes dos anos 1000 e uma pincelada de cultura pop contemporânea. Neste último caso, um dos melhores exemplos é o Dongdaemun History & Culture Park, um espaço multidisciplinar numa estação de metro. Além de ter a imponência de ser assinado pela arquitecta Zaha Hadid, recebe diversos eventos culturais, como exposições, desfiles de moda, lançamento de produtos, fóruns e conferências. A construção começou em 2009 e foi oficialmente

inaugurada a 21 de março de 2014, acompanhando a designação de Seul como Capital Mundial do Design em 2010.

Circular por Seoul

Percorrer a cidade a pé é quase obrigatório, assim como subir a alguns arranha-céus ou à torre de telecomunicação N Seoul Tower, marco icónico da cidade. É um dos locais imperdíveis onde é possível subir quase 600 degraus a pé. Para lá chegar, há um teleférico até ao topo do monte Namsan. Lá do alto percebe-se a extensão da cidade que acolhe 9 milhões de coreanos.

Quem optar por circular por transportes públicos tem à disposição a rede urbana coreana, bastante organizada, com um cartão (T-Money) que custa 5000 wons (cerca de 220 meticais) que dá acesso a todas as ligações. Pode ser comprado online e depois levantado no aeroporto, à chegada. É recarregável em qualquer loja de conveniência.

Viajar pela Coreia do Sul com wons no bolso é importante, já que há vários locais em que a única opção de pagamento é só em numerário. Depois das 17:00, algumas zonas da cidade ganham um encanto: os tons e os cheiros da comida de rua. Guarde alguns wons para uma das melhores zonas da cidade: o bairro Myeongdong. Além de ser o bairro ideal para fazer compras, aqui irá encontrar espetadas de queijo grelhado, churros de Oreo, polvo grelhado e muito mais.

Seul é cool. Não é parecido com Singapura ou Tóquio. Seul é cool porque é igual a si própria, com as suas crenças e a sua vontade de escrever a história, no seu tempo, e com as suas próprias personagens.

Guarde alguns wons para uma das melhores zonas da cidade: o bairro Myeongdong. Além de ser o bairro ideal para fazer compras, aqui irá encontrar espetadas de queijo grelhado, churros de Oreo, polvo grelhado e muito mais.

Mercado noturno de Myeongdong e vendedores de comida de rua em Seul, Coreia do Sul
Pôr-do-sol na cidade de Seul, Coreia do Sul
Texto Eliana Silva Fotografia Istock Photo

SABE

O VERDADEIRO CUSTO DE UM CARRO?

Além do preço de compra, há que ter em conta a fiabilidade de cada modelo. Felizmente, cada vez mais estudos analisam o mercado

Resistíveis e Acessíveis: os Mais Rentáveis em 2025?

OS CONDUTORES PROCURAM, desde sempre, uma longa vida útil do automóvel ao menor preço possível.

A durabilidade e o custo de utilização a longo prazo são critérios usados pelo portal norte-americano iSeeCars, especializado em dados do sector automóvel. Num dos últimos estudos, tendo em vista os modelos disponíveis em 2025, alguns modelos distinguem-se por apresentarem a melhor relação entre preço e longevidade. A tradição mantém-se: os modelos japoneses lideram a lista e continuam a atrair consumidores que procuram fiabilidade a longo prazo.

Honda Civic lidera a classificação

O modelo que surge no topo do ranking é o Honda Civic, com um preço médio de 25 532 euros, equivalente a cerca de 1,7 milhões de meticais (valor calculado a partir dos dados de mercado nos Estados Unidos), e uma

esperança média de vida de 13,7 anos, o que se traduz num custo anual de 1858 euros (126,8 mil meticais).

Segundo o relatório da iSeeCars, esta estimativa baseia-se na análise de milhões de registos de veículos, incluindo históricos de manutenção, quilometragem e anos de circulação até à substituição.

Toyota Corolla e Mazda3 entre os mais fiáveis

Na segunda posição, surge o Toyota Corolla, com um custo anual de 2006 euros (136,9 mil meticais), para um preço de aquisição de 27 294 euros (1,8 milhões de meticais) e uma vida útil estimada de 13,6 anos.

Em terceiro lugar está o Mazda3, com 13,1 anos de durabilidade e um custo por ano de 2093 euros (142,9 mil meticais), com preço médio de 27430 euros (1,8 milhões de meticais). Os três mode-

los têm em comum a origem japonesa, tradição reconhecida internacionalmente pela fiabilidade mecânica e pela longevidade dos motores.

O analista Karl Brauer, da iSeeCars, afirma que os consumidores estão a dar prioridade à eficiência a longo prazo, especialmente em tempos de instabilidade económica.

“Os compradores estão a olhar para o longo prazo e a fazer escolhas que equilibrem fiabilidade, custo inicial e duração de vida útil”, referiu, citado no relatório.

De acordo com o estudo, os carros mais rentáveis são os que conseguem manter-se operacionais por mais de uma década, com custos médios anuais controlados, mesmo quando sujeitos a uso intenso ou urbano.

Texto Ana Mangana Fotografia D.R

“Os compradores estão a olhar para o longo prazo e a fazer escolhas que equilibrem fiabilidade, custo inicial e duração de vida útil”
Há uma diversidade impressionante, influenciada por um clima semelhante ao mediterrânico e pela Corrente de Benguela, que refresca determinados vinhedos

A PRODUÇÃO DE VINHOS

Vitivinicultura Sul-Africana: Os Principais Vinhos do País

NA ÁFRICA DO SUL conta com 370 anos de história. A viticultura teve início em 1655, quando os holandeses levaram as primeiras mudas para o país, sendo o médico Jan van Riebeeck um dos pioneiros no cultivo das videiras. Em 1659, foi produzida a primeira colecção de vinhos sul-africanos.

Um grande impulso ocorreu com a chegada dos protestantes franceses, em 1688, que levaram conhecimento avançado sobre a produção de vinhos e ajudaram a estabelecer a tradição vinícola no país.

Outro grande marco foi a criação do icónico Vin de Constance, um vinho doce, de sobremesa, feito a partir das mesmas uvas (Muscat) usadas em moscatéis franceses.

A viticultura sul-africana cresceu desordenadamente ao longo dos anos, o que levou à criação da KWV (Kooperatiwe Winjnbouwers Vereniging) em 1918, com o objectivo de regulamentar a produção. No entanto, o sistema tornou-se rígido demais, restringindo a criatividade dos produtores.

Além disso, durante o período do Apartheid, os vinhos sul-africanos enfrentaram boicotes comerciais, prejudicando o sector. A retoma aconteceu depois de 1991, com o fim do regime e a privatização da KWV, em 1997, dando maior liberdade aos produtores.

Os Principais Vinhos da África do Sul

A África do Sul possui uma diversidade impressionante de terroirs, influenciados por um clima semelhante ao mediterrânico nalgumas zonas e pela Corrente de Benguela, que refresca determinados vinhedos. O país cultiva uvas tintas e brancas, com destaque para as seguintes variedades:

VINHOS TINTOS

Pinotage – A uva emblemática da África do Sul

A Pinotage é um cruzamento entre Pinot Noir e Cinsault, desenvolvido em 1925 pelo professor Abraham Perold na Universidade de Stellenbosch. Produz vinhos encorpados, com taninos marcantes, notas de frutas negras, especiarias e, às vezes, toques defumados.

Cabernet Sauvignon – A mais plantada

A Cabernet Sauvignon é amplamente cultivada e frequentemente utilizada em cortes (blends) no estilo bordalês, combinada com Merlot. Os vinhos apresentam boa estrutura, acidez equilibrada e notas de cassis, tabaco e cedro.

Syrah (Shiraz) –

Elegância e potência

A Syrah tem-se destacado na África do Sul, produzindo vinhos profundos e complexos, com notas de frutas escuras, pimenta-preta, couro e ervas.

Merlot – Macio e acessível

Os vinhos de Merlot são conhecidos pelos taninos mais macios e aromas de ameixas e chocolate, sendo frequentemente usados para equilibrar cortes com a Cabernet Sauvignon.

VINHOS BRANCOS

Chenin Blanc – A uva branca mais cultivada

A Chenin Blanc, chamada localmente de Steen, é a uva branca dominante na África do Sul. É extremamente versátil, dando origem a vinhos secos e vibrantes, exemplares doces e envelhecidos.

Sauvignon Blanc –Frescura e toque mineral

A Sauvignon Blanc tem ganhado destaque, especialmen-

te nas regiões mais frias. Os vinhos são marcados por alta acidez e notas de maracujá, goiaba, aspargo e minerais.

Chardonnay – Elegância e sofisticação

A Chardonnay é cultivada em áreas mais frescas e dá origem a vinhos refinados, muitas vezes fermentados em barricas de carvalho. Os melhores exemplares exibem aromas de frutas cítricas, baunilha e manteiga.

Muscat de Alexandria –Vinhos de sobremesa

Os vinhos de Muscat de Alexandria (tipo de moscatel) são usados para a produção do célebre Vin de Constance, que combina doçura equilibrada com notas de damasco, pêssego e crême brûlée.

A actividade vinícola da África do Sul passou por altos e baixos ao longo dos séculos, mas hoje destaca-se como uma das mais inovadoras do mundo. Os vinhos sul-africanos continuam a conquistar reconhecimento global, competindo com as melhores regiões vinícolas do mundo.

Texto Ana Mangana Fotografia D.R

A África do Sul tira partido de condições ideais para a actividade vinícola conquistar mercados

A AGENDA DE MAIO

Todos os eventos globais, da sustentabilidade ao desporto, passando pelas artes

O ÚLTIMO DIA DO MÊS traz o

jogo de futebol mais aguardado do ano. É a final da Champions League, com a nata do “desporto rei” a espalhar magia no estádio Allianz Arena, em Munique, na Alemanha.

Em Abidjan, Costa do Marfim, vão decorrer os Encontros Anuais do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). O evento terá como tema “Usar o capital africano para potenciar o seu desenvolvimento”.

Em Cascais, Portugal, irá realizar-se a II Conferência de Energia da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Sob o lema “Impul-

FUTEBOL

Final da Liga dos Campeões

Estádio Allianz Arena (Munique, Alemanha) 31 de maio uefa.com

Quem ganhar pode considerar-se o vencedor de um formato inédito. O ponto alto do calendário europeu de clubes de futebol regressa a Munique pela primeira vez desde 2012. Concluída a 30 de Abril de 2005, a Munich Football Arena foi palco de quatro jogos do EURO 2020 e também recebeu jogos do EURO 2024 (primeiro estádio a acolher jogos em campeonatos consecutivos). Um palco irrepreensível para o jogo do ano!

ECONOMIA

Encontros Anuais do Grupo

Banco Africano de Desenvolvimento (BAD)

Abidjan, Costa do Marfim De 26 a 30 de Maio am.afdb.org

O evento terá como tema “Usar o capital africano para potenciar o seu desenvolvimento” e reunirá líderes políticos, economistas e representantes do sector privado para discutir o futuro económico do continente.

Durante estes encontros, será realizada a 60.ª Reunião Anual do Conselho de Governadores do Banco Africano de Desenvolvimento e a 51.ª Reunião Anual do Conselho de Governadores do Fundo Africano de Desenvolvimento. Espera-se a presença de mais de três mil participantes, incluindo chefes de Estado, ministros das Finanças e governadores de bancos centrais.

O Que Não Pode (Mesmo)

sionando uma Transição Energética Resiliente, Sustentável e Inclusiva para a CPLP”, o evento vai promover o debate sobre energias renováveis e descarbonização, temas essenciais para a sustentabilidade. No sempre fervilhante mundo das séries nas plataformas de “streaming”, destacamos a estreia de “The Better Sister”, na Prime Video, que segue a história de duas irmãs distantes, com vidas totalmente opostas, a serem obrigadas a restabelecer contacto após uma tragédia tomar conta das suas vidas.

SUSTENTABILIDADE

II Conferência de Energia da CPLP

Cascais, Portugal

De 27 a 28 de Maio ambienteportugal.pt

Sob o lema “Impulsionando uma Transição Energética Resiliente, Sustentável e Inclusiva para a CPLP”, o evento vai promover o debate sobre energias renováveis e descarbonização, temas essenciais para a sustentabilidade, reunindo mais de 500 participantes para debater a transição energética e reforçar a cooperação neste sector no espaço da CPLP. A conferência decorrerá à margem da III Reunião de Ministros da Energia.

Perder em Maio

Nos livros, salientamos a nova obra do economista Carlos Lopes, que lança luz sobre as complexidades que governam — na sombra — as parcerias entre África e a Europa. Intitulado “A Armadilha do Auto-engano”, este livro propõe uma visão profunda sobre as correntes que vão moldando estas relações, explicando, sem atribuir culpas, os mecanismos subjacentes que têm perpetuado um ciclo de auto-engano.

Texto Luís Patraquim

STREAMING

The Better Sister / Prime Video 29 de Maio

Duas irmãs distantes são obrigadas a restabelecer contacto após uma tragédia tomar conta das suas vidas. Chloe (Jessica Biel) é uma executiva de sucesso que vive uma vida perfeita e invejável ao lado do seu marido, igualmente bem-sucedido, o advogado Adam (Corey Stoll), e o seu filho adolescente Ethan (Maxwell Acee Donovan). Bem distante da vida luxuosa de Chloe está a irmã Nicky, que luta para sobreviver. As duas têm vidas separadas, mas quando Adam é brutalmente assassinado, elas precisam inesperadamente de se reunir novamente com o objectivo de desvendar uma complicada história de família e descobrir a verdade sobre o crime.

ARTES

Eliane Butelane Leva Poesia Moçambicana ao Mundo, Rumo ao Poetry Slam World Cup 2025

A VOZ JOVEM e poderosa de Eliane Butelane, poetisa de Maputo, vai ecoar no palco internacional do Poetry Slam World Cup 2025, em Paris. No próximo dia 27 de Maio, Moçambique estará representado no campeonato mundial de poesia falada, e será pelas palavras sentidas e performadas desta jovem artista.

Eliane conquistou a cobiçada vaga internacional após vencer, com mérito e emoção, a 6.ª edição do Moz Slam, evento que reuniu talentos emergentes da palavra falada de todo o País. A competição, que se destaca como um espaço de afirmação artística e liberdade criativa, revelou o carisma e a profundidade do trabalho de Butelane, cuja poesia toca temas como identidade, feminilidade, amor, resistência e quotidiano urbano.

Com uma presença de palco marcante e versos que misturam crítica social e lirismo, Eliane tem sido apontada como uma das vozes mais promissoras da nova geração de artistas moçambicanos. A sua vitória no Moz Slam não foi apenas uma conquista individual, mas um símbolo da vitalidade da cena de poesia performativa em Moçambique, que cresce e se afirma ano após ano.

O caminho até Paris

O Poetry Slam World Cup é um dos maiores eventos mundiais dedicados à poesia performativa, reunindo representantes de dezenas de países numa celebração da diversidade linguística e cultural através da arte da palavra. Em Paris, Eliane Butelane terá a oportunidade de partilhar o palco com outros talentos globais, levando consigo não apenas a sua voz, mas também as histórias, os ritmos e os sonhos do povo moçambicano.

“É uma honra imensa representar Moçambique. Mais do que um desafio pessoal, é uma responsabilidade cultural. Levo comigo as vozes de tantas mulheres, jovens e artistas que acreditam no poder transformador da poesia”, afirmou Eliane em declarações após a vitória no Moz Slam.

Poesia como resistência e afirmação

O Slam Poetry — ou Poetry Slam — é um movimento artístico que combina performance, poesia e crítica social. Surgido na década de 1980 em Chicago (EUA), o formato conquistou o mundo e encontrou ressonância especial em países africanos, onde a oralidade tem raízes profundas nas tradições culturais.

LIVROS

A Armadilha do Auto-Engano

Autor: Carlos Lopes • Editora: Tinta da China • Género: Economia

Um livro sobre as narrativas de estigmatização que influenciam as relações económicas entre África e a Europa. De um lado, os actores europeus, muitas vezes conduzidos por intenções benevolentes, perpetuam uma imagem de altruísmo que acentua dinâmicas de poder existentes. Do outro, os dirigentes africanos acabam por competir pelas atenções, tentando maximizar a ajuda e melhorar a sua posição em termos globais. Ambos contribuem, assim, para bloquear a possibilidade de conquistar colaborações justas e duradouras. Neste novo livro, o economista Carlos Lopes lança luz sobre as complexidades que governam — na sombra — as parcerias entre África e a Europa. Trata-se de propor uma visão profunda sobre as correntes que vão moldando estas relações, explicando, sem atribuir culpas, os mecanismos subjacentes que têm perpetuado um ciclo de auto-engano. O objectivo é promover uma plataforma que impulsione um compromisso verdadeiro e desafiar a crença segundo a qual África não pode redefinir o seu futuro.

STREAMING

Outros Lançamentos

Dia 1: The Four Seasons (Netflix)

Dia 2: Insuspeita T2 (Netflix)

Dia 4: The Walking Dead: Dead City T2 (AMC) e Tales of the Underworld (Disney+)

Dia 8: Criminal Minds: Evolution T3 (Paramount+), Forever (Netflix) e Poker Face T2 (Peacock)

Dia 13: Bad Thoughts (Netflix)

Dia 15: Overcompensating (Prime Video), Reservado (Netflix), Duster (Max) e Love, Death & Robots T4 (Netflix)

Dia 16: Murderbot (Apple TV+) e Legado (Netflix)

Dia 20: Motorheads (Prime Video)

Dia 22: Sirens (Netflix) e Nine Perfect Strangers T2 (Prime Video)

Dia 23: Big Mouth T8 (Netflix) e Esqueceste, Mas Eu Não (Netflix)

Dia 26: Rick and Morty T8 (Max)

Dia 28: Adults (FX)

Riscos Geopolíticos Crescentes Pesam Sobre os Preços Dos Activos

Sénior do Sector Financeiro no FMI

Mahvash S. Qureshi • Chefe de Divisão, Mercados Monetários, FMI

Felix Suntheim • Chefe Adjunto, Divisão de Análise da Estabilidade, FMI

Os riscos geopolíticos globais continuam elevados, suscitando preocupações sobre o potencial impacto na estabilidade económica e financeira. Podem prejudicar os preços dos activos, afectar as instituições financeiras e restringir empréstimos, pesando sobre a actividade económica e representando uma ameaça à estabilidade financeira. Estes riscos são difíceis de avaliar para os investidores devido à sua natureza única, ocorrência rara e duração e âmbito incertos. Resultado: podem conduzir a reacções bruscas do mercado quando se materializam choques geopolíticos. Num capítulo do último Relatório de Estabilidade Financeira Global do Fundo Monetário Internacional, os preços das acções tendem a cair significativamente durante grandes eventos de risco geopolítico. A queda média mensal é de cerca de 1 ponto percentual entre países (embora seja muito superior, de 2,5 pontos percentuais, nas economias dos mercados emergentes). Entre os diferentes tipos de grandes eventos de risco geopolítico, os conflitos militares internacionais atingem mais as acções dos mercados emergentes, provavelmente devido a perturbações económicas mais severas. Nestes casos, a queda média mensal de retornos das acções é de uns significativos 5 pontos percentuais, o dobro de todos os outros tipos de eventos. Os maiores riscos geopolíticos podem também afectar o sector público à medida que o crescimento económico abranda e os governos gastam mais. Consequentemente, os prémios de risco soberano aumentam, em média, cerca de 30 pontos base para as economias avançadas e 45 pontos base para as economias dos mercados emergentes. Estas tensões financeiras são especialmente significativas nas economias dos mercados emergentes, onde os prémios aumentam até quatro vezes mais.

Riscos contagiosos

Os eventos de risco geopolítico podem também alastrar a outras economias através de ligações comerciais e financeiras, aumentando o risco de contágio. Num determinado país, as acções caem, em média, cerca de

As instituições financeiras e os seus reguladores devem alocar recursos adequados para identificar, quantificar e gerir os riscos geopolíticos

2,5% após o envolvimento de um dos principais países parceiros comerciais num conflito militar internacional. Da mesma forma, os prémios de risco soberano aumentam quando os parceiros comerciais estão envolvidos em eventos de risco geopolítico, e o efeito é pelo menos duas vezes maior para as economias dos mercados emergentes com elevada dívida pública em relação à produção económica, baixa adequação das reservas internacionais e instituições fracas.

A elevada incerteza é um canal fundamental para as reacções sobre preços dos activos. Uma descida repentina dos preços dos activos poderá pesar sobre as instituições financeiras bancárias e não bancárias, com potenciais repercussões no sistema financeiro mais vasto e na economia real. Por exemplo, os bancos tendem a restringir os empréstimos, e os fundos de investimento enfrentam retornos mais baixos e um elevado risco de resgate quando expostos a eventos de risco geopolítico.

Mitigando riscos

Embora pareça que a economia global e os mercados financeiros são constantemente afectados por acontecimentos imprevisíveis e até mesmo sem precedentes, o sector financeiro e aqueles que estão encarregados de o proteger têm várias tarefas para proteger a estabilidade financeira. As instituições financeiras e os seus reguladores devem alocar recursos adequados para identificar, quantificar e gerir os riscos geopolíticos. Por exemplo, através de testes de stress e outras análises que incorporam a forma como tais riscos são susceptíveis de interagir com os mercados financeiros.

Além disso, as instituições financeiras devem manter capital e liquidez suficientes para as ajudar a suportar potenciais perdas decorrentes de riscos geopolíticos. As economias dos mercados emergentes e em desenvolvimento devem desenvolver e aprofundar ainda mais os mercados financeiros para ajudar os investidores a gerir o risco. Por último, uma vez que os países com reservas mais fracas são particularmente vulneráveis a choques geopolíticos, um espaço de política orçamental suficiente e reservas internacionais adequadas poderão ajudá-los a defenderem-se melhor contra tais perturbações.

Artigo do blogue do FMI (www.imf.org/en/ Blogs) baseado no capítulo 2 do Relatório de Estabilidade Financeira Global de Abril de 2025.

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