E&M_Edição 81_Fevereiro 2025 • Mercado de Trabalho - Criar Emprego Para Salvar o País
JOSÉ CORREIA MENDES “VODACOM BUSINESS É FUNDAMENTAL NO DIGITAL PARA AS EMPRESAS DO PAÍS”
SUSTENTABILIDADE REPROGRAMAR A ECONOMIA: AS DEZ ETAPAS PARA UM CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL E JUSTIÇA SOCIAL
REFORMAS ECONÓMICAS
PRIVATIZAÇÕES, BANCO DE DESENVOLVIMENTO E TRANSPARÊNCIA: AS PROMESSAS DO NOVO GOVERNO
CONTEÚDO LOCAL
SUCESSO DO +EMPREGO EM CABO DELGADO IMPULSIONA EXPANSÃO PARA NAMPULA
CRISE PÓS-ELEITORAL PREJUÍZOS MILIONÁRIOS TORNAM INCERTA A RECUPERAÇÃO DO SECTOR DO TURISMO
MERCADO DE TRABALHO
CRIAR EMPREGO PARA SALVAR O PAÍS
Após décadas de discursos sem execução, o desemprego inflamou meses de protestos em Moçambique. Quais os passos essenciais para criar oportunidades? E como adoptar políticas eficazes? Eis um desafio que o País não pode evitar
Celso Chambisso Editor Executivo da Economia & Mercado
Emprego Sustentável: O Caminho para o Futuro
Omercado de trabalho em Moçambique enfrenta um momento decisivo. A crise económica, agravada pelos efeitos da instabilidade política e tensões pós-eleitorais, expôs de forma contundente as fragilidades estruturais de um sistema que há anos carece de reformas profundas. A fraca empregabilidade, a elevada informalidade e a desconexão entre a formação de capital humano e as exigências do mercado são sintomas de um problema que vai além da conjuntura actual: a falta de políticas consistentes que promovam a criação de empregos formais e de qualidade.
Programas de incentivo ao empreendedorismo são muitas vezes incapazes de responder aos desafios do emprego
A realidade é preocupante. Evidências e dados (embora inconsistentes) con rmam que a maior parte da força de trabalho moçambicana está empregada no sector informal, onde os níveis de protecção social são inexistentes e as condições de trabalho frequentemente precárias. Jovens recém-formados enfrentam uma dura batalha para ingressar no mercado formal, muitas vezes por falta de competências alinhadas às exigências do sector produtivo.
Outro entrave signi cativo é a ausência de políticas públicas e cazes para estimular o mercado de trabalho. Programas de incentivo ao empreendedorismo e à formação pro ssional são muitas vezes fragmentados, de curto prazo e incapazes de responder aos desa os do sector. Como habitual nestas ocasiões, há
palavras de mudança com a entrada do novo Governo liderado pelo Presidente Daniel Chapo — e que também são tema abordado nesta edição da E&M. Numa das primeiras promessas, o Governo anunciou um plano de contenção de despesas públicas, incluindo a redução do número de ministérios e de regalias dos governantes. A iniciativa, além de poder representar um corte nos gastos desnecessários, sinaliza um compromisso com uma gestão mais e ciente e responsável. Recursos economizados podem (e devem) ser direccionados para áreas prioritárias, como a educação e a capacitação pro ssional, que são cruciais para alinhar o sistema de ensino às exigências do mercado. Mas para resolver os desa os do mercado de trabalho, o Governo precisa de ir além de medidas de austeridade. É essencial formular políticas que estimulem a transição da informalidade para o sector formal, promovam a diversi cação económica e atraiam investimentos em sectores estratégicos. Incentivar parcerias público-privadas para nanciar programas de formação técnica e pro ssionalizante pode ser um caminho promissor. Em suma, o futuro depende de uma visão de longo prazo. A gestão de Daniel Chapo tem a oportunidade de rede nir o curso do País, mas isso exigirá compromisso com reformas estruturais e a promoção de um ambiente favorável à inclusão económica. Resta saber se o Governo estará à altura desta missão.
FEVEREIRO 2025 • N.º 81
DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos
EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso
JORNALISTAS Ana Mangana, Jaime Fidalgo, João Tamura, Luís Patraquim, Nário Sixpene PAGINAÇÃO José Mundundo
FOTOGRAFIA Mariano Silva
REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos
DEPARTAMENTO COMERCIAL comercial@media4development.com
CONSELHO CONSULTIVO
Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Media4Development Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com IMPRESSÃO E ACABAMENTO RPO Produção Grá ca TIRAGEM 4 500 exemplares EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL EM MOÇAMBIQUE Media4Development NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFODEPC/2018
22 Mercado do Emprego. Altos níveis de desemprego, de informalidade e falta de quali cação pro ssional destacam-se entre os desa os do mercado de trabalho em Moçambique. Que soluções?
32 O contexto africano. Como é que o continente lida com o desa o de alinhar educação e mercado de trabalho, de investir na digitalização e de criar empregos adaptados às necessidades locais?
34 Opinião. “Contagem Decrescente: é Urgente Criar Emprego na África Subsaariana”, Athene Laws, Faten Saliba, Can Sever e Luc Tucker, do Fundo Monetário Internacional
36 Entrevista. Jorge Ferrão, Reitor da UP-Maputo, alerta que as universidades terão de superar di culdades e adaptar os currículos às necessidades do sector privado e das tecnologias emergentes
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18 ESG
Crescimento sustentável. As dez acções transversais e essenciais propostas pelo relatório ‘Rewiring the Economy’ e sugeridas pela consultora Patrícia Bettencourt rumo a uma economia sustentável
NOVO GOVERNO
Reformas económicas. Conheça a essência das medidas anunciadas pelo novo Presidente da República, Daniel Chapo, para a modernização do Estado e promoção do desenvolvimento sustentável
CONTEÚDO LOCAL
+Emprego. Primeira fase do programa trouxe resultados animadores em Cabo Delgado e a segunda deve expandir para Nampula
DESASTRES NATURAIS
Meteorologia. Novos modelos de Inteligência Arti cial estão a revolucionar a previsão de ciclones, com maior precisão, especialmente úteis a Moçambique. Saiba quais são e como funcionam 44
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SHAPERS
Ben Bernanke. As valiosas lições sobre crises nanceiras que podem inspirar Moçambique na procura por modelos de resposta para a instabilidade económica e social pós-eleitoral
POWERED BY
20 CTJ
46 FNB
50 Mazars
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OPINIÃO
10 Wilson Tomás, analista, Banco BIG Moçambique
40 Francisca Neves & Eduardo Caldas, EY Partner Assurance
56 João Gomes, João Gomes @ BlueBiz Consultoria
60 Susana Cravo, Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Re orestar.org
65 MOCAMBIQUE DIGITAL
66 Vodacom Business Como a empresa está a construir os alicerces do apoio à evolução digital e dos negócios das empresas moçambicanas
SECÇÕES
3 Sumário
4 Editorial
6 Observação
7 Radar
9 Números em Conta
42 Radar África
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ÓCIO
76 Escape Uma aventura pelos destinos mais românticos de África para celebrar o mês do amor 78 Gourmet As sugestões de ‘chefs’ especialistas em pratos para uma mesa ‘a dois’
79 Adega As opções de vinhos que inspiram o romance 80 Agenda Tudo o que não pode perder neste mês de Fevereiro 82 Ao volante do novo Mercedes-Bens G 580
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MERCADO & FINANÇAS
Crise pós-eleitoral. Em que medida as manifestações violentas e limitações à circulação de pessoas e bens abalaram a con ança internacional e prejudicaram o desempenho do sector do turismo?
Economias Emergentes 2025
BRICS Mais Fortes: Que Sinal Para o Mundo?
O grupo dos BRICS, acrónimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi inicialmente criado para destacar economias emergentes com potencial significativo de crescimento e influência global. Desde a formação em 2006, o grupo tem-se expandido, incorporando novos países e fortalecendo a sua posição como contrapeso às instituições dominadas pelo Ocidente, como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.
A recente entrada da Nigéria como membro do BRICS marca um novo capítulo na ascensão do bloco como força geopolítica e económica global. Com mais de 220 milhões de habitantes e uma das maiores economias de África, a Nigéria fortalece a relevância do grupo no cenário internacional.
Com os seus países-membros e parceiros, o grupo representa mais de 40% da população mundial e cerca de 30% do PIB global. Esta in-
fluência é ainda mais evidente com a recente inclusão da Indonésia, Egipto e outros países. Mais do que números, o bloco apresenta uma visão de governação que desafia as estruturas tradicionais dominadas pelo Ocidente.
Além disso, a entrada de novos países reflecte um movimento estratégico de alinhamento entre as nações do Sul Global, promovendo a defesa de interesses comuns, como a reforma do Conselho de Segurança da ONU, a desdolarização das transacções internacionais e a procura por maior autonomia nas decisões económicas e políticas globais.
A expansão do BRICS envia uma mensagem clara ao mundo: a procura por maior equidade nas relações económicas e políticas internacionais está em marcha. A era das economias emergentes como coadjuvantes pode estar a terminar, dando lugar a uma nova fase, mais inclusiva e interdependente.
Macroeconomia
BdM adopta medidas para aumentar liquidez em tempos de crise
O Banco de Moçambique anunciou uma redução do coeficiente de reservas obrigatórias de 39% para 29%, tanto em moeda nacional quanto estrangeira, para aumentar a liquidez e apoiar empresas afetadas pela tensão pós-eleitoral. Esta medida visa permitir que os bancos comerciais disponibilizem mais recursos para financiar a economia, que há meses se vem ressentido da falta de divisas, dificultando as operacoes de empresas importadoras, com forte stress sobre o sector da aviação – muitas companhias chegaram a ameaçar o fim das operações no País.
O Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique também reduziu a taxa de juro de política monetária (taxa MIMO) de 12,75% para 12,25%, em resultado da manutenção das perspectivas de inflação em um dígito no médio prazo.
O governador do Banco Central, Rogério Zandamela, alertou ainda para um crescimento económico modesto em 2025, com previsão de crescimento zero ou negativo no primeiro trimestre. Além disso, mencionou a possibilidade de revisão em baixa das perspectivas de crescimento devido à crise e desafios estruturais, como corrupção e baixos investimentos.
Dívida pública Ministra das Finanças alerta para urgência de eestruturação da dívida pública
A nova ministra das Finanças, Carla Alexandra Louveira, destacou a urgência de reestruturar a dívida pública de Moçambique, apontando que o País perdeu mais de 658 milhões de dólares em 2024, em parte, devido às manifestações pós-eleitorais. Louveira enfatizou que a gestão da dívida será um desafio crucial para assegurar o pagamento das obrigações e atender às necessidades do Orçamento do Estado. Além disso, a governante alertou que a
reestruturação da dívida pública será fundamental para garantir o equilíbrio fiscal e evitar que o País entre num ciclo de endividamento insustentável.
A ministra mencionou que, além das perdas directas em receitas, o clima de incerteza política e social tem dificultado a atracção de Investimento Directo Estrangeiro que já estava debilitado por outras causas, como a corrupção endémica, raptos de empresários, entre outros aspectos.
Eni reitera expansão das operações no Rovuma
Os planos de expansão da petrolífera italiana Eni na bacia do Rovuma são públicos há vários anos e o objectivo foi reiterado em carta dirigida ao recém-empossado Presidente Daniel Chapo pelo CEO da petrolífera. Claudio Descalzi destacou o compromisso com o desenvolvimento local e a transição energética, incluindo o projecto da segunda plataforma de extracção e processamento Coral Norte FLNG.
Cooperação
A Eni finalizou o plano de desenvolvimento da segunda plataforma, em discussão com parceiros e Governo, e avança com estudos de impacto ambiental e aquisição de equipamentos. Estudos indicam que Moçambique pode tornar-se num dos dez maiores produtores de GNL globalmente, com receitas potenciais de 100 mil milhões de dólares até 2040 — mas, com o passar dos anos, a realidade tem mostrado que muitas das previsões não passam disso mesmo.
Por seu lado, Daniel Chapo anunciou a criação de um banco de desenvolvimento, financiado por receitas do gás, para revitalizar a economia. Três grandes projectos na bacia do Rovuma foram anunciados na última década pela TotalEnergies, ExxonMobil e Eni, mas só o mais pequeno avançou: a plataforma Coral Sul FLNG, em operação desde 2022.
Suspensão da ajuda dos EUA põe em risco projectos estruturantes em Moçambique
A suspensão temporária da ajuda externa dos EUA, decretada por Donald Trump, coloca em risco diversos projectos essenciais em Moçambique, especialmente no sector da saúde. A medida, válida por 90 dias, paralisa o financiamento da USAID, que investe mais de 1 bilião de dólares anualmente em áreas como saúde, edu-
cação, saneamento e agricultura. Programas críticos, como o combate ao HIV/SIDA, que recebem 400 milhões de dólares anuais, podem sofrer interrupções graves, ameaçando os avanços obtidos contra a doença que ainda afecta mais de um milhão de moçambicanos.
Além disso, a suspensão afecta projetos como o Compacto II do Millennium Challenge Corporation, avaliado em 537 milhões de dólares, com foco na infra-estrutura da Zambézia, incluindo a construçãodeumapontenorioLicungoeumacircularnaprovíncia.Outrasiniciativas,como o apetrechamento de laboratórios e a renovação de unidades sanitárias, também podem ser limitados, agravando a fragilidade dos serviços de saúde pública e dificultando a resposta a crises humanitárias .
Extractivas
IA: Qual a Melhor a Evitar “Alucinações”?
À medida que as ferramentas e aplicações alimentadas por Inteligência Artificial (IA) se tornam cada vez mais integradas no nosso dia-a-dia, é importante lembrar que os modelos podem, por vezes, gerar informações incorrectas. Este fenómeno, conhecido como “alucinação”, é descrito pela IBM: ocorre quando um modelo de linguagem (LLM, a sigla em inglês para Large Language Models, a base de dados que permite à IA con-
versar connosco), num chatbot generativo de IA ou noutra ferramenta de visão computacional, detecta padrões ou objectos que não existem ou que são imperceptíveis para os humanos, levando à ocorrência de resultados imprecisos ou sem sentido.
A taxa de alucinação é a frequência com que um LLM gera informações falsas ou sem suporte na sua base de dados. Os números são provenientes da Vectara
e estão actualizados até 11 de Dezembro de 2024. As taxas de alucinação foram calculadas através do resumo de mil documentos curtos através de cada LLM.
Que Modelos de IA Têm as Menores Taxas de Alucinação? Apresentamos os 15 principais modelos de IA com as menores taxas de alucinação, juntamente com as respectivas empresas e países de origem.
‘Taxa de Alucinação’
A frequência com que estes LLM geram informação falsa ou inventada.
Wilson Tomás • Analista, Banco BIG Moçambique
Javier Milei: Salvador ou Destruidor da Argentina?
Em Dezembro de 2023, Javier Milei venceu as eleições na Argentina, após um período eleitoral de elevada polarização política, e que na segunda volta opôs Sergio Massa, candidato da coligação União por la Pátria, e Javier Milei, candidato da coligação La Libertad Avanza. Milei, um economista libertário de direita, foi eleito com base num programa eleitoral centrado em reformas económicas drásticas, destacando-se ainda pelas suas críticas ao modelo económico tradicional.
O seu projecto de governação, baseado em princípios de liberalismo económico (incluindo a dolarização da economia) e na redução da dimensão do Estado, visa transformar profundamente a economia da Argentina e resolver problemas crónicos como uma inflação elevada, uma dívida pública crescente e um défice orçamental recorrente.
É importante recordar que a Argentina, desde a sua independência em 1816, já entrou em incumprimento por nove vezes, constituindo-se assim o país no mundo que mais vezes entrou em bancarrota. Há vários anos que a Argentina enfrentava uma série de desafios económicos, políticos e sociais, tanto a nível doméstico como internacional.
sões sociais, culminando numa crescente desconfiança da população nas instituições do Estado, reflectida na ocorrência de protestos crescentes contra a corrupção, no aumento da burocracia e no papel do Estado. No contexto internacional, o país encontrava-se isolado em termos de investimento externo devido à instabilidade económica e à falta de confiança no Governo. As relações comerciais estavam concentradas em poucos parceiros, como a China e o Brasil, mas sem grandes avanços em acordos estratégicos.
Desde a tomada de posse de Milei como Presidente da Argentina, o país atravessou mudanças económicas significativas. A adopção de políticas de austeridade centradas na redução da despesa pública permitiu registar o primeiro excedente orçamental em 14 anos. Por outro lado, a inflação anual desacelerou de 211,4% para 117,8% entre Dezembro de 2023 e Dezembro de 2024, após atingir um máximo de 292,2% em Abril.
A balança comercial da Argentina acumulou excedentes em todos os meses de 2024, e a dívida pública tem vindo a diminuir, passando de 155,4% do PIB em Dezembro de 2023 para 111,7% do PIB em Dezembro de 2024, resultado da valorização do peso, que tem impacto sobre a dívida externa.
Embora as reformas económicas sejam vistas como um passo necessário para a estabilização macroeconómica, o impacto das políticas de austeridade tem agravado a crise social
No âmbito económico, o país enfrentava uma das taxas de inflação mais elevadas no mundo, dificuldades para honrar os seus compromissos com credores internacionais, incluindo o Fundo Monetário Internacional (FMI), desvalorizações constantes da sua moeda (o Peso Argentino) — levando a um aumento no uso de dólares no mercado informal — e o desemprego era um problema significativo, especialmente entre os jovens.
No âmbito político-social, o Governo anterior enfrentou dificuldades para implementar políticas eficazes e resolver os problemas económicos, enquanto as divisões políticas — entre os defensores de modelos de intervenção estatal e os de políticas liberais — geravam ten-
A percepção de risco do país também melhorou significativamente, com a redução da inflação e a implementação de políticas de austeridade, bem como com a retoma das negociações com o FMI e as discussões em torno da dolarização da economia. Estas negociações, que têm como objectivo a obtenção de apoio financeiro, têm sinalizado ao mercado que o Governo está empenhado em fortalecer as reservas internacionais e evitar uma crise cambial.
Apesar de ainda ser controversa e não plenamente implementada, a promessa de dolarizar a economia argentina — uma das principais propostas de Milei — tem atraído a atenção positiva de investidores, que encaram es-
Javier Milei impôs mudanças económicas signi cativas na Argentina
ta medida como uma possibilidade de maior estabilidade monetária no futuro. O índice de risco da dívida soberana do país tem diminuído consistentemente à medida que diminuem os receios de incumprimento. A valorização das Obrigações do Tesouro da Argentina com vencimento a 9 de Julho de 2035, com um cupão de 4,125%, é reflexo desta recuperação. Esta emissão, considerada a mais representativa com uma maturidade a 10 anos, quase triplicou de valor desde Outubro de 2023, passando de cerca de 24 cêntimos de dólar para cerca de 64 cêntimos de dólar em Novembro de 2024. Contudo, nem todas as notícias são positivas. Segundo dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (INDEC), o PIB contraiu ao longo de 2024, registando uma redução de 2,1% em termos homólogos no terceiro trimestre de 2024, agravando o ritmo de quedafaceàreduçãode1,7%notrimestre anterior. Este foi o sexto trimestre consecutivo de contracção, impulsionado por um abrandamento acentuado no sector agrícola (-13,2% contra 80,2% no segundo trimestre), à medida que os efeitos da recuperação de uma seca histórica começaram a desaparecer. Em contrapartida, as quedas na produção industrial (-
5,9% vs. -17,4%), na construção (-14,9% vs. -22,2%), no comércio grossista e retalhista e reparações (-6,1% vs. -15,7%) e na intermediação financeira (-1,8% vs. -9,8%) abrandaram. Actualmente, estima-se que cerca de 40% da população argentina vive abaixo do limiar da pobreza, sendo este um dos efeitos mais negativos da implementação das políticas de austeridade.
Embora as reformas económicas sejam vistas como um passo necessário para a estabilização macroeconómica, o impacto das políticas de austeridade tem agravado a crise social. No entanto, o Governo e os analistas antecipam uma recuperação gradual do PIB a partir de 2025, impulsionada por uma maior estabilidade político-económica, um ambiente mais favorável ao investimento estrangeiro e a continuidade de implementação de reformas no sector público.
Sectores como o agro-negócio, a energia — especialmente Vaca Muerta, uma das maiores reservas de petróleo e gás de xisto do mundo — e as exportações poderão liderar a retoma do crescimento económico na Argentina. O FMI estima que o país terá uma contracção económica de 3,5% em 2024, seguida de recuperações de 5,0% e
4,5% em 2025 e 2026, respectivamente. É possível fazer alguns paralelismos com Moçambique, que atravessou recentemente a maior crise política e social desde o fim da guerra civil. Para além de um problema de endividamento público crescente e um orçamento deficitário, o país apresenta problemas associados aos elevados níveis de corrupção, desigualdade social e desemprego e insegurança.
O Presidente Chapo, no seu discurso inaugural a 15 de Janeiro, prometeu realizar mudanças estruturais de modo a resolver alguns destes problemas, nomeadamente a redução da dimensão do Governo, a limitação das despesas públicas supérfluas, como deslocações e viagens, a revisão das regalias dos funcionários públicos e a possibilidade de privatização de empresas e bens.
Estas medidas mostram uma intenção clara de reduzir a despesa pública, tendo em vista melhorar a saúde financeira das contas do Estado e alcançar a confiança dos credores e parceiros internacionais. Contudo, a adopção de medidas de austeridade mais severas poderá enfrentar contestação social, num país que apresenta dos mais altos níveis de pobreza no mundo.
Patrícia Bettencourt • Sustainability Consultant
Reprogramar a Economia: Uma Rota Para o Crescimento Sustentável
Nos últimos meses de 2024, estive dedicada a aprofundar a minha formação na área da sustentabilidade. Das centenas de artigos, relatórios e vídeos que analisei, um relatório em particular serviu-me como base de todo o resto do caminho. Este artigo de opinião baseia-se nesse relatório“Rewiring the Economy” - publicado pelo Instituto de Liderança em Sustentabilidade da Universidade de Cambridge (CISL). Quero frisar que todos os direitos de propriedade intelectual referentes a este artigo pertencem ao CISL e o mesmo pode ser encontrado na Internet. Neste relatório (que traduzi para “Reprogramar a Economia” por achar que reprogramar é exactamente do que precisamos neste contexto ) é proposto um plano a dez anos para construir as bases de uma economia verdadeiramente sustentável. São delineadas dez etapas distribuídas por três grupos-chave: governos, instituições financeiras e sector privado. A integração dos papéis é crítica; nenhuma entidade pode alcançar a sustentabilidade sozinha.
única medida de sucesso económico é crucial. São necessárias novas métricas que integrem o progresso social e ambiental para fornecer uma compreensão mais holística do verdadeiro bem-estar económico. Metas ambiciosas com “benchmarks” claros impulsionarão acções eficazes.
2. Alinhar incentivos para apoiar melhores resultados: Os governos devem alavancar a regulamentação e a política fiscal para incentivar práticas sustentáveis. Isso pode envolver a eliminação gradual de subsídios para actividades insustentáveis e a introdução de impostos ou taxas que reflictam os verdadeiros custos ambientais e sociais.
3. Impulsionar a inovação socialmente útil: Os governos podem actuar como catalisadores de inovação, criando incentivos para o desenvolvimento e adopção de tecnologias e modelos de negócios sustentáveis. A aquisição pública pode priorizar produtos e serviços sustentáveis: é o importante papel dos governos como consumidores responsáveis.
Os governos podem influenciar o horizonte de investimento, promulgando regulamentos e políticas que promovam a criação de valor de longo prazo
Não se trata simplesmente de reduzir o impacto ambiental; trata-se de remodelar na essência como medimos o sucesso económico (considerando alternativas à consideração exclusiva do PIB que tem como base o consumo) e alinhamos os incentivos financeiros com o bem-estar social e ambiental. Tento, neste artigo de opinião, analisar as dez acções-chave do relatório, oferecendo uma perspectiva sobre a sua viabilidade e importância.
O papel dos governos: preparar o cenário para a mudança
Os governos desempenham um papel fundamental na criação de um ambiente propício para o desenvolvimento sustentável. O relatório identifica quatro acções cruciais para os governos: 1. Medir as coisas certas, definir as metas certas: Ir além do PIB como a
4.Garantirqueocapitalactuealongo prazo: Os governos podem influenciar o horizonte de investimento, promulgando regulamentos e políticas que promovam a criação de valor de longo prazo em detrimento de lucros rápidos.
O papel das instituições financeiras: direccionando o capital para a sustentabilidade
As instituições financeiras têm um poder imenso para direccionar os fluxos de capital. O relatório destaca duas tarefas essenciais:
5. Definir o preço do capital de acordo com os verdadeiros custos das actividades comerciais: O custo do capital deve reflectir os verdadeiros custos sociais e ambientais das actividades comerciais. Isso exige uma avaliação
A protecção ambiental é uma das prioridades a não perder de vista
O papel do sector privado: abraçando modelos de negócio sustentáveis O sector privado está no cerne da transição para uma economia sustentável. O relatório sugere as seguintes acções para as empresas:
7. Alinhar o propósito organizacional, a estratégia e os modelos de negócios: As empresas devem redefinir o seu propósito, alinhando-o com as metas de sustentabilidade e integrando-a nas suas estratégias e operações essenciais.
8. Definir metas baseadas em provas, medir e ser transparente: As empresas devem definir metas claras, mensuráveis e ambiciosas para o seu desempenho de sustentabilidade e devem escrutinar o seu progresso de forma transparente e comunicando as suas conquistas e desafios às partes interessadas.
9. Integrar a sustentabilidade nas práticas e decisões: A sustentabilidade deve ser incorporada em todos os aspectos das operações da empresa, desde a gestão da cadeia de abastecimento até ao design de produtos e marketing. Isso exige uma mudança fundamental de mentalidade, em particular da liderança, e um compromisso com a melhoria contínua.
Assegurarqueocapital actuaalongoprazo
Valorizar os verdadeiros custos dasemactividades presariais
abrangente dos riscos ambientais e sociais, garantindo que os mesmos sejam incorporados nos modelos de cálculo.
6. Inovar nas estruturas financeiras para responder melhor às necessidades dos negócios sustentáveis: As instituições financeiras precisam de desenvolver novos instrumen-
tos e estruturas financeiras que respondam melhor às necessidades das empresas sustentáveis. Isso pode envolver a criação de “títulos verdes”, mecanismos de investimento de impacto e outros modelos de financiamento adaptados às necessidades específicas das empresas sustentáveis.
10. Envolver-se, colaborar e defender a mudança: As empresas devem envolver-se activamente com as partes interessadas, incluindo governos, comunidades e outras empresas para promover colectivamente o desenvolvimento sustentável. A parceria e a colaboração são vitais para o sucesso.
Conclusão:
O relatório “Rewiring the Economy” oferece uma visão convincente para um futuro mais sustentável. As dez acções delineadas representam uma mudança significativa em como abordamos o desenvolvimento económico, exigindo colaboração entre governos, instituições financeiras e empresas. Embora ambicioso, alcançar uma economia sustentável não é apenas desejável, mas essencial para a prosperidade económica de longo prazo e o bem-estar social. A implementação bem-sucedida das dez acções representaria uma mudança de paradigma que alinha a economia global com os imperativos urgentes de protecção ambiental e justiça social. É urgente esta reprogramação!
Daniel Chapo Anuncia Reformas Económicas. Ver Para Crer
A investidura de Daniel Chapo incluiu o anúncio de um ambicioso plano de reformas. É ver para crer, num país em que as promessas de desenvolvimento estão adiadas, há décadas
Texto Felisberto Ruco • Fotografia D.R.
Modernizar o Estado, promover o desenvolvimento sustentável, aumentar a transparência na gestão dos recursos naturais, combater a corrupção e introduzir mecanismos de modernização do sistema judicial. Estas foram as prioridades definidas por Daniel Chapo. Para medir a distância entre a ambição e o que será plausível, a E&M ouviu a economista Naima Nurein e o analista Moisés Nhanombe.
Privatização de empresas do Estado
A privatização de empresas públicas não estratégicas é uma das promessas mais debatidas do pacote de reformas apresentado por Daniel Chapo. Para Naima Nurein, esta decisão pode aliviar a pressão financeira sobre o Estado, permitindo redireccionar recursos para sectores prioritários, como a saúde, educação e infra-estruturas.
A privatização pode servir para “melhorar a eficiência administrativa e preparar as empresas para competir num mercado mais aberto”, refere a economista. No entanto, Nurein alerta para os riscos da alienação de activos que podem ser estratégicos para o desenvolvimento económico a longo prazo. “É fundamental que o processo seja criterioso, para ga-
rantir que o País não se prive de recursos essenciais”, sublinha. Por sua vez, Moisés Nhanombe acrescenta que o sucesso das privatizações dependerá de uma regulação robusta e transparente. “Sem um quadro regulatório adequado, corremos o risco de criar monopólios ou negligenciar a prestação de serviços essenciais”, observa o analista. Nhanombe aponta também para a importância de estruturar concessões de forma clara, com o objectivo de atrair investidores confiáveis e garantir benefícios para a sociedade.
Criação de um Banco de Desenvolvimento
Outra promessa é a criação de um banco de desenvolvimento, concebido para apoiar pequenas e médias empresas (PME) e financiar projectos estratégicos. Para Nhanombe, esta instituição pode desempenhar um papel fundamental na diversificação da economia. “As PME são a espinha dorsal de qualquer economia dinâmica. Um banco dedicado pode ser o catalisador de sectores como a agricultura, o turismo e a indústria manufactureira”, afirma. No entanto, o analista adverte que normas de ética e governação serão cruciais para afastar riscos de má gestão e corrupção. Nurein acrescenta que um banco como este precisará de políticas fiscais atractivas e menos burocracia para facilitar o acesso a financiamento e criar um ambiente competitivo.
“A privatização de empresas públicas não estratégicas pode aliviar a pressão financeira sobre o Estado, permitindo que recursos sejam redireccionados para sectores prioritários”
Gestão rigorosa dos recursos naturais
As reformas anunciadas também abordaram a gestão dos recursos naturais, propondo uma abordagem mais transparente e equitativa – tal como tem sido prometida há décadas, mas sem grande aplicação dos discursos à realidade. Nurein destaca a importância de redistribuir as ‘royalties’ (direitos de exploração) provenientes da exploração de gás e petróleo em benefício das comunidades locais – algo óbvio, mas por cumprir. A ideia de criar um fórum da transparência no sector petrolífero, destina-
Composição do novo Governo, na altura ainda com sete ministros por indicar
do a escrutinar contratos e receitas, foi elogiada por Moisés Nhanombe. “Um fórum poderá melhorar a confiança pública e atrair investidores fiáveis, mas será crucial assegurar autonomia e capacitação técnica dos seus membros”, afirma o analista. Salienta, igualmente, que para que esta medida tenha impacto real, é preciso implementar mecanismos eficazes de fiscalização.
Combate à corrupção e promoção da transperência
No combate à corrupção, o plano inclui a criação de uma central de aquisições
do Estado, que visa aumentar a transparência nas compras públicas. Segundo Nurein, este mecanismo pode reduzir desperdícios e optimizar a gestão dos recursos. Mas “o sucesso desta iniciativa dependerá da fiscalização rigorosa e de um compromisso político firme para enfrentar os interesses instalados”, defende.
Ambos os especialistas concordam que a transparência será fundamental para garantir a confiança pública e o apoio da sociedade. “A criação de um plano de acção com metas definidas e prazos realistas é indispensável
para escrutinar o progresso e corrigir desvios ao longo do percurso”, defende Nhanombe.
Nurein complementa, sublinhando a importância de envolver a sociedade civil no processo de reformas. “Um diálogo aberto com diferentes sectores pode legitimar as mudanças e assegurar que estas atendam às necessidades reais do País”, conclui.
As reformas impulsionadas por Daniel Chapo são ambiciosas. Resta saber se a sua visão resistirá às turbulências políticas, ou se será apenas mais um capítulo de promessas reformistas.
QUEM SÃO OS NOVOS MINISTROS DO GOVERNO DE DANIEL CHAPO?
Depois de empossado, o Presidente da República nomeou os novos membros do Governo de Moçambique. Saiba quem é quem, entre caras novas e outras que transitam do último mandato de Filipe Nyusi. Até ao fecho desta edição, faltava indicar quem vai car com a pasta da Justiça.
BENVINDA LEVI
Primeira-ministra
Antiga presidente do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, já foi directora do Centro de Formação Jurídica e Judiciária e ministra da Justiça no governo de Guebuza.
INOCÊNCIO IMPISSA
Administração Estatal e Função Pública Foi director nacional adjunto de desenvolvimento da Administração Pública e vice-ministro. Publicou quatro obras ligadas à administração pública.
AMÉRICO MUCHANGA
Comunicacões e Transformação Digital Dirigiu as Linhas Aéreas de Moçambique (LAM). Já esteve à frente dos Aeroportos de Moçambique e da Autoridade Reguladora das Comunicações (INCM).
IVETE ÂNGELA ALANE
Trabalho, Género e Acção
Social Carrega um vasto currículo na função pública. No último mandato foi secretária permanente da Secretaria de Estado da Juventude e Emprego.
CRISTÓVÃO CHUME
Defesa
Foi director nacional de política de Defesa, líder da Academia Militar Samora Machel, comandante do ramo do Exército e ministro da Defesa do último governo de Filipe Nyusi.
ROBERTO MITO ALBINO
Agricultura, Ambiente e Pescas
Foi director do Centro de Promoção Agrícola, voltado para o agronegócio. Foi também director-geral da Agência de Desenvolvimento do Vale do Zambeze.
JOÃO MATLOMBE
Transportes e Logística
Destacou-se como vereador com o pelouro dos transportes e trânsito no Conselho Municipal de Maputo. Já esteve à frente de alguns projectos de mobilidade urbana.
CAIFADINE MANASSE
Juventude e Desportos
Passou pela Assembleia da República como deputado e pelo Secretariado do Comité Central da Frelimo, onde foi secretário para Mobilização, Organização e Propaganda do partido.
PAULO CHACHINE
Interior
Exerceu as funções de comandante do ramo de Ordem e Segurança da polícia, em que se destacou por exigir uma formação de um mês para agentes de trânsito.
SALIM VALÁ
Plani cação e Desenvolvimento
Vem da Bolsa de Valores de Mocambique, onde era presidente do conselho de administração. É mestre em Desenvolvimento Agrário e especialista em Economia.
USSENE ISSE
Saúde
Cirurgião, ocupou funções de direcção e che a como director nacional de Assistência Médica e foi director de várias unidades de saúde, incluindo o Hospital Geral de Mavalane.
FERNANDO RAFAEL
Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos
Tem um mestrado em contabilidade e, nos últimos 15 anos, ocupou as funções de director- nanceiro da Companhia Industrial da Matola.
MARIA DOS SANTOS LUCAS
Negócios Estrangeiros e Cooperação
Diplomata de carreira, foi embaixadora na Bélgica e Países Baixos. Antes passou pelas representações de na Etiópia, Brasil e Cidade do Cabo (África do Sul).
ESTEVÃO PALE
Recursos Minerais e Energia
Entre outros cargos, foi director nacional de Minas no Ministério de Recursos Minerais e Energia e director executivo da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos.
NYELETI MONDLANE
Combatentes
Filha do arquitecto da unidade nacional, Eduardo Mondlane, foi ministra do Género, da Criança e da Assistência Social. Antes disso, foi Ministra da Juventude e Desportos.
RICARDO SENGO
Presidência para os Assuntos da Casa Civil É co-fundador e presidente executivo da Mozambique Electronic Tracking Services (MECTS). Trabalhou no Banco ABC Moçambique e no Standard Bank Angola.
CARLA LOVEIRA Finanças
Foi vice-ministra da Economia e Finanças no último mandato de Nyusi. Tinha trabalhado no Banco de Moçambique como directora do escritório de Inclusão Financeira.
BASÍLIO MUHATE
Economia
Economista e político, foi presidente da organização juvenil da Frelimo, partido a cujo comité central pertence, e é membro da Associação Moçambicana de Economistas - AMECON.
SAMARIA TOVELA
Educação e Cultura É formada na área didáctica e de línguas. Foi técnica pedagógica, instrutora e coordenadora de currículo local no Instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação.
MATEUS SAIZE
Justiça, Assuntos
Constitucionais e Religiosos
Vinha ocupando o cargo de juiz conselheiro do Conselho Constitucional desde 2014. É Doutor em Direito pela Universidade Eduardo Mondlane desde 2016.
Sucesso em Cabo Delgado Impulsiona Alargamento Para Nampula
A melhoria de rendimentos de mais de 50% dos bene ciários e a criação de oportunidades de emprego para centenas de jovens de Cabo Delgado são indicadores de sucesso para a próxima fase
Texto Pedro Cativelos & Nário Sixpene •Fotogra a Mariano Silva
No início de Dezembro de 2024, realizou-se a conferência nal da primeira fase do projecto +Emprego Para os Jovens de Cabo Delgado. Lançada em 2020, a primeira fase arrancou no mesmo ano e contou com o co-nanciamento da União Europeia e do Camões IP em cerca de 4,2 milhões de euros. A sua execução foi materializada pelo Governo português, através do Instituto Camões, com o apoio de uma dezena de parceiros nacionais e internacionais, nos diversos programas também lançados ao longo da primeira fase.
E se, habitualmente, não é comum em projectos semelhantes a garantia ou a clareza dos resultados, no caso do +Emprego notam-se as diferenças. Durante os quatro anos do programa, os resultados são claros e animadores: 1553 bene ciários de Cabo Delgado foram directamente bene ciados pelas centenas de iniciativas que promoveram a quali cação pro ssio-
nal a vários níveis, o empreendedorismo e a criação de oportunidades de emprego dignoparajovensdaprovíncia,comespecial enfoque nas mulheres da região.
Na sessão de encerramento da primeira fase, a coordenadora-geral do projecto, Cristina Paulo, detalhou algumas das metas alcançadas. “Além da criação de emprego e do número de jovens alcançados, que cresceu substancialmente face ao inicialmente estipulado, que era de 800, alcançámos 36 micro, pequenas e médias empresas (MPME) da província com uma série de iniciativas que fortaleceram a estrutura e competitividade. A formação de formadores foi também fundamental, tendo sido quali cados orientadores vocacionais e pro ssionais, tutores de estágio e técnicos de emprego, capacitando-os para atender às necessidades do mercado”, explica, destacando ainda a atribuiçãode‘kits’deauto-empregoeressalvou um dos pontos altos da iniciativa, fazendo jus à designação da mesma: cer-
ca de 50% dos bene ciários garantiu colocação no mercado formal ou viu concretizadas as próprias iniciativas empreendedoras. “Neste caso, tínhamos uma meta de criar 400 empregos directos ou indirectos, mas conseguimos mais de 500”, disse. Desa os? Houve muitos. Com uma já longa carreira em projectos de cooperação e desenvolvimento em diversas geogra as, Cristina Paulo relevou, por diversas vezes, o papel essencial das parcerias nacionais e internacionais para os bons indicadores de desempenho da primeira fase do +Emprego. “Contámos com uma rede de parceiros locais públicos e privados, a começar pelo SEJE, o INEP, o IFPELAC, a Agha Khan ou a CTA, entre outros, e os parceiros internacionais, como o Ins-
OS PRINCIPAIS OBJECTIVOS E METAS DO PROJECTO +EMPREGO
Lançado em 2020, o +EMPREGO resulta da parceria entre a UE e o Camões IP e tem por objectivo aumentar as oportunidades económicas da população de Cabo Delgado, em particular da sua população mais jovem, contribuindo para a melhoria do acesso ao trabalho decente.
ACESSO FACILITADO A EMPREGO DIGNO
Contribuindo com estágios pro ssionais associados a incentivos e à criação de auto-emprego que melhorem a inserção pro ssional de jovens quali cados.
PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS
Estimuladas para o reforço da empregabilidade dos jovens, capacitação das MPME para satisfazer os pré-requisitos da respectiva certi cação, entre outras vantagens.
MAIS E MELHORES QUALIFICAÇÕES
Promovendo a quali cação e a aquisição de competências estratégicas e facilitando as condições para mais e melhor emprego da população jovem.
Primeira fase do +Emprego concluiu no nal de 2024
tituto de Soldadura e Qualidade, a Mota-Engil ou o Centro de Formação Pro ssional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica. E tudo, claro, ancorado no trabalho que estabelecemos de forma conjunta entre o Camões IP e a União Europeia, com o objectivo concreto de criar condições de empregabilidade digna. Tudo para dar uma luz de esperança a milhares de jovens de uma região que, como sabemos, têm grandes problemas e muitos desa os pela frente”.
“Face aos resultados, aos comentários dos parceiros e aos testemunhos dos nossos bene ciários, creio que alcançámos o objectivo e que demos o nosso contributo”, a rmou. Outro dos factores essenciais é a inclusão das jovens mulheres no mercado de trabalho. A meta inicial de 25% foi superada: 44% dos bene ciários foram jovens mulheres da região, o que re ecte, segundo a gestora do +Emprego, “o compromisso com a igualdade de oportunidades numa região com desa os especí cos relacionados com a questão de género.”
Continuidade garantida
Durante a conferência, o embaixador de Portugal em Moçambique, António Costa Moura, anunciou a segunda fase do programa, com um orçamento de 601,4 milhões de meticais (9 milhões de euros). Esta etapa vai dar continuidade ao
trabalho realizado em Cabo Delgado ao ampliar a área de actuação para incluir a província de Nampula, a mais populosa do País.
“Estamos empenhados em continuar este exercício, duplicando os recursosnanceiros e alargando o impacto geográco. A segunda fase do +Emprego representa uma oportunidade de consolidar os avanços alcançados e expandir as iniciativas para outras regiões com grande potencial”, a rmou Costa Moura, ao destacar o sucesso da primeira fase, orçada em 280,6 milhões de meticais (4,2 milhões de euros).
“Portugal estará sempre presente numa área tão crucial como esta, de proporcionar aos jovens condições mínimas de desempenho de uma pro ssão, de aprender o ‘saber fazer’“, assinalou o embaixador. Já o embaixador da União Europeia em Moçambique, Antonino Maggiore, enfatizou a relevância do projecto num país com muitas di culdades. “A abordagem passa por continuar a trabalhar em conjunto com o Governo, instituições e sociedade civil para alcançar resultados concretos. Cabo Delgado é uma província-chave para a UE, que combina ajuda humanitária e apoio à segurança com iniciativas de desenvolvimento”, a rmou. Maggiore destacou também que o +Emprego “foi essencial para mitigar os efeitos da crise económica e do con ito na
OS NÚMEROS DA PRIMEIRA FASE
bene ciários abrangidos pelos diversos programas. são mulheres.
receberam acções de formação técnica.
postos de trabalho directo e indirecto criados no projecto.
formadores e orientadores formados.
estágios atribuídos.
dos jovens abrangidos melhoraram os seus rendimento graças à intervenção do projecto.
FONTE Relatório Final de Execução do Projecto 1553 44% 900 +500 318 304 50%
província, criando mecanismos sustentáveis para a criação de rendimento e o fortalecimento do tecido empresarial local. Projectos como este são fundamentais para construir um futuro mais inclusivo e próspero para Moçambique.”
Colaboração internacional
O secretário de Estado da Juventude e Emprego, Oswaldo Petersburgo, destacou a cooperação entre a União Europeia e Portugal por via do Instituto Camões como “um exemplo de parceria bem-sucedida, num projecto que demonstra o compromisso com a juventude de Cabo Delgado. É uma iniciativa que mostra como é possível gerar impacto positivo através de alianças estratégicas”, a rmou.
O ex-governante também salientou a importância da continuidade do programa, a rmando que os avanços alcançados representam apenas o começo de um longo processo de transformação económica e social. “Com o apoio de todos os parceiros, temos condições de ampliar ainda mais o alcance e a e cácia das acções futuras”, concluiu.
Com duração de quatro anos (20202024), o projecto +Emprego é uma referência de intervenção em regiões vulneráveis, promovendo oportunidades económicas e trabalho digno para milhares de jovens de Cabo Delgado.
Emprego em Moçambique: Um Pilar Para o Futuro Económico
Marcelo Tertuliano & Bruno
Chicalia • Founding Partners, CTJ Consultoria
www.ctjconsultoria.com
Em Novembro, quando escrevemos o nosso último artigo, dissemos que o exercício de prever o futuro se tornava cada vez mais complexo, dado o contexto que o País atravessava. Desde então, a situação agravou-se, alimentada pela fase “Turbo V8” e pelo estado de desordem que ainda persiste. Relatos diários de vias bloqueadas, propriedades invadidas e estâncias turísticas vandalizadas revelam o tamanho do desafio.
O emprego em Moçambique é mais do que um objectivo económico: é um pilar fundamental para assegurar um crescimento sustentável. Num contexto em que a população continua a crescer a um ritmo acelerado, torna-se vital pensar estrategicamente sobre como traduzir esse desafio demográfico em oportunidades. Exploraremos, neste artigo, como a criação de empregos de qualidade pode não só impulsionar a economia, mas também prevenir instabilidades futuras e promover um horizonte mais promissor.
O contexto actual: crescimento populacional e instabilidade económica
A criação de empregos de qualidade terá um impacto transformador em Moçambique. Vai reduzir a pobreza, contribuir para a estabilidade social e impulsionar o crescimento económico
Moçambique enfrenta uma pressão demográfica significativa, com a população projectada para atingir cerca de 46 milhões de habitantes até 2034. Este crescimento implica desafios críticos: todos os anos, há mais um milhão de moçambicanos a precisar de educação, saúde e, sobretudo, oportunidades de emprego. A falta de perspectivas para esta juventude tem repercussões que vão além da economia; a instabilidade social e política é uma ameaça real que, se não for contida, pode comprometer a segurança e o desenvolvimento do País. Os últimos meses agravaram ainda mais esta situação. A instabilidade política e económica não só desincentiva investimentos, como também alimenta a fuga de capitais. Adicionalmente, os adiamentos de projectos estratégicos e a possibilidade da desvalorização do metical ilustram um cenário que requer intervenção urgente e coordenada.
A relação entre emprego e estabilidade O emprego não é apenas uma fonte de rendimento; é uma âncora social e um
catalisador de estabilidade em tempos de incerteza. Para um país como Moçambique, que possui sectores estratégicos com um elevado potencial para gerar empregos — como a agricultura, energia, infra-estruturas e turismo —, o desafio reside em transformar esse potencial em realidade.
A ausência de previsibilidade económica e política tem sido um factor dissuasor para o Investimento Directo Estrangeiro. Países vizinhos, como o Botsuana e a Namíbia, têm beneficiado deste vácuo, atraindo capital que poderia estar a impulsionar a economia moçambicana. Este é um alerta claro: sem criar um ambiente favorável ao emprego e ao investimento, a competitividade do País continuará a deteriorar-se.
Sectores com Potencial de Criação de Emprego
1. Agricultura e Agro-indústria
Com uma base agrícola robusta, Moçambique terá a oportunidade de agregar valor por meio da industrialização do sector. O desenvolvimento de cadeias de valor na agro-indústria pode gerar empregos formais e informais, ao mesmo tempo em que melhora a segurança alimentar e as exportações.
2. Energia e Mineração
Os projectos de gás natural na região Norte são exemplos de como os recursos naturais podem impulsionar o emprego e a receita. Contudo, é essencial que incluam uma participação local mais activa, capacitação e transferência de tecnologia para maximizar o impacto e, a longo prazo, reduzir a dependência do Investimento Directo Estrangeiro.
O sector mineral tem grande potencial de geração de emprego, através da estruturação profissional da exploração mineira e da correcta aplicação dos contratos de concessões, podendo ainda impulsionar a industrialização e a criação de valor agregado através do processamento local dos recursos minerais extraídos.
3. Infra-estruturas
A construção de estradas, pontes e habitações não apenas melhora a conectividade e qualidade de vida, mas tam-
Boas políticas de emprego vão exigir reformas em todos os sectores
bém cria empregos directos no sector de construção e indirectos em serviços associados. A interconexão dos caminhos-de-ferro amplia o abastecimento nacional e maximiza os transportes modais, além de possibilitar conexões com países vizinhos que podem importar/exportar os seus produtos através dos portos moçambicanos.
4. Turismo
Apesar dos danos recentes à reputação do sector, o turismo é uma área com grande potencial para criar empregos, especialmente para os jovens. A promoção de destinos locais e o investimento em segurança podem revitalizar esta indústria.
Moçambique detém um dos litorais mais exuberantes para mergulho, praias com águas cristalinas e paradisíacas, uma história rica, uma cultura vibrante e um povo naturalmente hospitaleiro — recursos inestimáveis que, se promovidos adequadamente, podem impulsionar a indústria de forma contínua e sustentável.
Políticas Necessárias Para Estímulo ao Emprego
Para que o emprego se torne o motor do desenvolvimento económico, algumas políticas essenciais devem ser priorizadas:
• Reformas na educação: A lacuna entre as competências oferecidas pelo sistema educacional e a procura do mercado de trabalho precisa de ser preenchida. Programas de treino técnico e profissional podem preparar a juventude com as ferramentas necessárias para competir numa economia moderna.
• Incentivos ao investimento: Facilitar o ambiente de negócios através de incentivos fiscais, políticas claras e estabilidade jurídica pode atrair investimentos que criem empregos.
• Foco no empreendedorismo: Apoiar pequenas e médias empresas com acesso ao crédito a taxas diferenciadas e atractivas, infra-estrutura e capacitação é essencial para gerar empregos sustentáveis.
• Reformas no sector da justiça: Os últimos meses testemunharam uma completa degradação da ordem pública
que resultou em danos materiais e humanos ainda por apurar na totalidade. Alguns irreparáveis, e outros que, para além de capital, vão exigir um grande grau de confiança na segurança pública e na protecção dos direitos individuais e de propriedade.
O Impacto Económico
A criação de empregos de qualidade terá um impacto transformador em Moçambique. Primeiro, para reduzir a pobreza, ao proporcionar rendimento e segurança. Segundo, por contribuir para a estabilidade social, ao mitigar tensões que degeneram em conflitos. Por último, para impulsionar o crescimento económico ao estimular o consumo interno e a receita fiscal.
No nosso artigo anterior, apresentámos o conceito de “década perdida” como uma ameaça real caso o País não consiga alinhar políticas de crescimento populacional e económico. Para evitar esse cenário, é imperativo alinhar as políticas económicas com as necessidades da população crescente. Não há como ignorar que, sem mudanças estruturais, milhões de moçambicanos (e consequentemente o País) continuarão a enfrentar um futuro de incerteza.
Reflexão Final: Um Roteiro Para a Prosperidade
Moçambique está num ponto de inflexão. Com uma população jovem e crescente, o País tem a oportunidade única de transformar este recurso humano num motor de crescimento e inovação. Contudo, essa oportunidade só será aproveitada se houver uma visão clara, apoiada por políticas pragmáticas e esforços colaborativos entre o Governo, sector privado e sociedade civil.
O desafio não é apenas criar empregos, mas empregos dignos e de qualidade que promovam estabilidade e inclusão. O sucesso dessa empreitada será um momento decisivo, determinando se Moçambique emergirá como um exemplo de resiliência e crescimento sustentável ou se enfrentará uma década marcada por instabilidade e oportunidades perdidas.
O tempo de agir é agora. Tal como uma casa edificada sobre a rocha resiste às tempestades, assim também Moçambique pode construir um futuro sólido, baseado na resiliência do seu povo e na visão de líderes empenhados. Nunca tivemos tanta informação sobre o que deve ser feito e as condições para o fazer estão diante de nós. A acção é o único caminho para transformar este potencial em realidade – para que todos os moçambicanos tenham a oportunidade de prosperar.
Que Futuro Haverá Sem Empregos?
O mercado de trabalho em Moçambique enfrenta problemas estruturais, uma das razões que levaram a população para as ruas, nas manifestações póseleitorais. Não há postos de trabalho para tantas pessoas e a informalidade domina o cenário. Não há políticas de estímulo ao emprego, salvo excepções que se contam pelos dedos das mãos. O ensino e a formação pro ssional necessitam de uma refundação. Milhões de moçambicanos lutam pela inclusão económica e pela sobrevivência sem saber como trabalhar para obter rendimento
Joana Almeida, Carlos Sambo e Salimo Issufo têm em comum mais do que o desemprego recente: as suas histórias re ectem cicatrizes deixadas pela crise pós-eleitoral em Moçambique. Joana trabalhava num posto de combustível na cidade da Matola que foi incendiado durante os protestos. Carlos perdeu o emprego num armazém de produtos alimentares do mercado grossista do Zimpeto, em Maputo, saqueado e destruído pelos manifestantes. Salimo era vendedor numa loja de electrodomésticos da capital, forçada a fechar depois de ter sido vandalizada e saqueada. Muitos moçambicanos perderam as fontes de sustento. O protesto contra a pobreza, falta de emprego e em defesa de liberdades e direitos essenciais, como a justiça eleitoral, tem um custo económico. O impacto também atinge empresários que, diante da instabilidade política e económica, começam a questionar a viabilidade dos investimentos no País. Há quem pense em voltar aos países de origem, como alguns já zeram — também por causa dos recorrentes raptos de empresários. Outros admitem redireccionar recursos para mercados mais seguros e promissores. Como já aconteceu noutras ocasiões, com desastres naturais ou ataques armados, em Cabo Delgado, as crises ampliam a precariedade, minam a con ança no ambiente de negócios e aprofundam o ciclo de vulnerabilidade e incerteza económica.
Em Moçambique, estima-se que 500 mil jovens por ano engrossem as leiras do exército de desempregados. Qual o conjunto de problemas que caracterizam o mercado de trabalho em Moçambique, o que os determina e que saídas se impõem?
Falta quanti car o desemprego. Quem são os desempregados?
A taxa de desemprego o cial em Moçambique é de 18,4%, mas as de nições que a enquadram tornam o número irreal, segundo o Inquérito ao Orçamento Familiar (IOF-2022) do Instituto Nacional de Estatística (INE). É que a maior parte dos restantes cerca de 80% depende de um trabalho precário, incapaz de a arrancar da pobreza ou de ter qualquer in uência no crescimento económico. Mas contam como empregados. Moçambique precisa de quanti car o desemprego. Por outro lado, os programas que têm sido anunciados pelo Governo não mostram resultados visíveis ou dados que possam ser veri cados — terminando, habitualmente, com cerimónias onde são apresentados números o ciais que cam por explicar.
500
Pressão anual sobre o mercado de trabalho, algo incomportável para uma economia incapaz de gerar mais de 400 mil empregos por ano mil jovens
Muitos programas e planos, mas só no papel
Mesmo quando a economia cresce a ritmos elevados, como entre os anos 2000 a 2015, o País não consegue desenvolver-se nem gerar empregos de qualidade su cientes para um crescimento inclusivo. O diagnóstico foi feito pelo programa
Apoio à Transformação Económica (título original: “Supporting Economic Transformation”), apoiado pelo Reino Unido e Austrália. Um exemplo: em 2021, o Governo apresentou um plano ambicioso –o Plano de Acção da Política do Emprego (PAPE) – que tinha como meta criar três milhões de postos de trabalho até 2024. Com esta iniciativa seriam absorvidos mais do que os 500 mil moçambicanos que, anualmente, chegam à idade acti-
va, garantindo assim um impacto signicativo na redução do desemprego a nível nacional. Mas faltam dados áveis (muito menos informação auditada) que permitam medir o que aconteceu.
De acordo com Michael Sambo, investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o plano apostava em sectores com maior potencial de crescimento — agricultura, indústria, turismo e tecnologia — por meio de investimentos públicos e privados e na expansão de programas de formação técnico-pro ssional. Era também acompanhado pela habitual lista de medidas associadas a programas de combate à pobreza: fomento ao empreendedorismo, apoio técnico e nanceiro, acesso ao crédito e desburocratização de pro-
Moçambique precisa de quantificar o desemprego. Por outro lado, os programas que têm sido anunciados pelo Governo não mostram resultados visíveis ou dados que possam ser verificados
EMPREGO ‘SOB PRESSÃO’
A populacão cresce a um ritmo superior a 2,5% médio ao ano, o que também se re ecte na pressão contínua sobre o mercado de trabalho, incapaz de absorver este exército de ‘desempregados’
O acesso e a qualidade do ensino escolar são factores de base que in uenciam o mercado de emprego, e que já são conhecidos como os pontos fracos da economia moçambicana
Em %
50,33939,938,3
ONDE ESTÁ O EMPREGO?
Os dados comprovam o que já é sabido: o sector extractivo, tido como o ‘motor’ da economia, tem pouco potencial de empregabilidade. Um dado a ter em conta para criar linhas de mudança
Emprego por sector de actividade, em %
EMPREGO DIMINUI
Para além de desactualizados, uma vez que o relatório mais recente data de Dezembro de 2023, os dados do MITESS não são claros sobre como é que se chega aos números de empregos criados
Em milhares de empregos
cessos para a formalização de negócios. O Governo a rma ter criado 1,3 milhão de empregos, apenas 43% do proposto, mas, mesmo esses, sem mostrar onde e como. É mais um número contestado. A sociedade civil, representada pelo Centro de Integridade Pública (CIP), alega que “não há sinais de que algum sector tenha absorvido tanta mão-de-obra entre 2021 e 2024”. Michael Sambo explica que o fracasso parcial do PAPE se deveu, sobretudo, à falta de dinheiro. Ou seja, o Governo criou o programa no papel, mas não lhe atribuiu verbas para ser executado — algo que, depois, o Executivo explica com a habitual lista de diculdades internas (ciclones e terrorismo) e externas (guerras e oscilação de preços de matérias-primas).
Moçambique deve ter planos a médio e longo prazo
Para Michael Sambo, o PAPE precisa de mais tempo para ser implementado e deve incluir mecanismos de auditoria, além do óbvio: parcerias público-privadas, envolver parceiros internacionais e incluir inovação tecnológica. “O plano inicial mostrou-se promissor, mas a realidade revelou a complexidade de transformar desa os estruturais em soluções sustentáveis num curto espaço de tempo”, observou o economista.
Os (de)méritos do programa “Meu Kit, Meu Emprego”
O programa "Meu Kit, Meu Emprego" foi outra iniciativa lançada pelo Governo, voltada para o autoemprego. Sob
FONTE Instituto Nacional de Estatística
FONTE Inquérito ao Orçamento Familiar 2022
FONTE Instituto Nacional de Estatística
FONTE Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social
a coordenação do Ministério do Trabalho e Segurança Social, foram distribuídos ‘kits’ de ferramentas e equipamentos em diversas áreas, como alfaiataria, mecânica, carpintaria, electricidade, entre outras, capacitando jovens para iniciarem pequenos negócios. No ano passado, a antiga primeira-dama indicou que o programa havia bene ciado, desde 2020 até ao primeiro semestre de 2024, mais de 19 mil jovens. Mas é um número sem veri cação e que não se livrou de críticas. A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) levantou o problema da “escalabilidade limitada”. Ou seja, vê a distribuição de ‘kits’ como uma solução paliativa e de cur-
Vicente Sitoe critica a ausência de estágios obrigatórios em muitas instituições de ensino e defende "uma maior integração entre centros de formação e empregadores."
to prazo, que não ataca as causas estruturais do desemprego, como a falta de políticas de investimento e de reforço da educação técnica.
O Observatório do Desenvolvimento Sustentável destacou que muitos jovens bene ciários abandonaram os ‘kits’ devido à falta de acompanhamento técnico, di culdades em aceder aos mercados e ausência de capital adicional para expandir os negócios.
Recordar o diagnóstico, apostar em estágios
Vicente Sitoe, director executivo da SDO, consultora de recursos humanos, recorda o diagnóstico que o poder político tem nas
O recentes protestos acabaram por exacerbar o aumento do desemprego
mãos: é preciso investir em competências digitais e, em relação ao mercado regional, desenvolver competências técnico-pro ssionais em mecânica, serralharia, carpintaria, electricidade e engenharias.
Os sectores da agricultura e do turismo são áreas que carecem de mão-de-obra quali cada e, se os projec tos esperados há duas décadas avançarem, as áreas de energia, petróleo e gás também vão precisar de pessoal quali cado.
Apostas no emprego requerem um olhar atento à nova lei de trabalho e às obrigações a cumprir, referiu, como a extensão da licença de maternidade. Além disso, diz Vicente Sitoe, acordos que permitem a contratação de mão-de-obra
SEIS CAMINHOS QUE POTENCIAM A CRIAÇÃO DE EMPREGO
Promover a empregabilidade na economia moçambicana exige reformas estruturais e a todos os níveis: político, económico e social. As transformações mais relevantes incluem educação de qualidade alinhada com as necessidades do mercado, igual acesso às oportunidades e coordenação activa entre privados, Governo e parceiros internacionais. Como chegar a este estado?
CONTEXTO ECONÓMICO E POLÍTICO
1 2 3 4 5 6
• Fortalecer a estabilidade política e implementar reformas que melhorem o ambiente de negócios;
• Oferecer incentivos scais para atrair investidores estrangeiros e estimular o sector privado local;
• Reduzir a dependência de sectores como os de recursos naturais, promovendo outros como o turismo, manufactura e tecnologia.
DEMOGRAFIA E URBANIZAÇÃO
• Aproveitamento do bónus demográ co, que implica capacitar a juventude em sectores como tecnologia e energias renováveis;
• Atenção à criação de postos de trabalho em sectores que incluem a construção civil, transporte e serviços públicos;
• Planeamento urbano, que consiste em investir em infra-estrutura sustentável para acomodar o rápido crescimento da população.
EDUCAÇÃO E QUALIFICAÇÃO
• Reformar currículos na educação para incluir competências técnicas e digitais pedidas pelos empregadores;
• Incentivar as empresas a criar programas de estágio e treino vocacional através das Parcerias Público-Privadas;
• Ampliar o alcance dos centros de formação pro ssional para áreas rurais e sectores emergentes, como o da tecnologia.
ECONOMIA INFORMAL
• Criar incentivos scais e regulatórios que facilitem a transição de negócios informais para o mercado formal;
• Oferecer microcrédito, assistência técnica e capacitação para pequenos empresários;
• Implementar programas de seguro social que cubram trabalhadores informais.
CONTEÚDO LOCAL
• Estabelecer a obrigação de os megaprojectos oferecerem treino técnico para trabalhadores locais;
• Garantir que uma percentagem signi cativa dos empregos nos grandes projectos seja reservada para moçambicanos;
• Apoiar fornecedores locais para se tornarem parte das cadeias de valor desses projectos.
TENDÊNCIAS GLOBAIS
• Promover competências que permitam aos moçambicanos integrarem o mercado global, como aprender inglês e competências digitais;
• Antecipar mudanças no mercado, como a automação, oferecendo requali cação contínua;
• Facilitar programas de mobilidade para trabalhadores moçambicanos trazerem novas experiências para o País.
FONTES Banco de Moçambique, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Internacional do Trabalho
expatriada têm reduzido as oportunidades para trabalhadores nacionais.
Quanto à falta de ensino e formação pro ssional, o consultor em recursos humanos critica a ausência de estágios obrigatórios em muitas instituições de ensino e defende uma maior integração entre centros de formação e empregadores.
Para o especialista em emprego, a revisão da legislação e a ampliação de incentivos aos empregadores podem ser soluções efectivas.
Para um nicho especializado, recomenda que se procurem parcerias com a Google e Microsoft, para promover alguns talentos moçambicanos.
As quatro sugestões do Banco Mundial
Há três anos, o Banco Mundial efectuou um diagnóstico ao mercado de emprego para um projecto piloto chamado “Vamos Trabalhar Moçambique” (título original: “Let's Work Mozambique”). Embora não seja tão actual, o estudo traz aspectos sobre os quais vale a pena re ectir. Nos últimos 20 anos, por exemplo, o padrão de crescimento tornou-se menos inclusivo. “Se o País continuar com o mesmo padrão de desenvolvimento, é pouco provável que a retoma do crescimento se traduza numa redução signi cativamente mais rápida da pobreza”, observava o Banco Mundial. Assim, o desa o é garantir que o processo de crescimento crie bons empregos e su cientes, com vista a absorver os 500 mil novos trabalhadores na força a cada ano. Como? As medidas não diferem muito das que as autoridades moçambicanas já tinham previsto no PAPE.
• Fortalecer a gestão macroeconómica e scal
Reforçar a capacidade de gestão de recursos públicos para garantir a sustentabilidade scal e prevenir crises. Este é o alicerce para viabilizar outras acções voltadas para a criação de empregos.
• Criar empregos formais, sem precariedade
Promover o crescimento do sector privado e a criação de empregos nos sectores formais, como os serviços, para acelerar a transformação económica e reduzir a pobreza. As medidas devem incluir incentivos às empresas, reformas no mercado de trabalho e estímulos à procura por mão-de-obra.
• Melhorar empregos nos sectores tradicionais
Dado que a maioria dos trabalhadores continuará em empregos informais ou na agricultura familiar, é essencial au-
mentar a produtividade nesses sectores. Tal requer melhor acesso ao nanciamento, tecnologias, fornecimentos agrícolas e infra-estrutura pública.
• Investir em capital humano e igualdade de género
Moçambique precisa de capacitar a força de trabalho e emancipar as mulheres, especialmente no meio rural.
A inclusão feminina e a redução das disparidades regionais são cruciais para maximizar o dividendo demográ co e garantir um futuro económico sustentável.
O que fazer, em concreto, para promover o emprego?
Em teoria, há muito que é conhecida a fórmula para resolver o problema do de-
“Se
o País continuar com o mesmo padrão de desenvolvimento, é pouco provável que a retoma do crescimento se traduza numa redução mais rápida da pobreza”, Banco Mundial
A informalidade é uma das alternativas de peso para "fugir" ao desemprego
semprego. Mas do ponto de vista prático, há muitas pontas soltas a precisarem de ser esclarecidas. Como lá chegamos?
Rogério Samo Gudo, presidente da Associação Industrial de Mocambique (AIMO) defende ser urgente abrir cursos práticos e especializados em áreas com grande potencial para expansão da produção e geração de emprego, como a agro-indústria, energias renováveis, construção, Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e mecânica. “A criação de centros de formação vocacional que estejam alinhados com as necessidades do mercado e com os requisitos das indústrias locais pode ajudar a preparar melhor a força de trabalho para os desa os do mercado. Estes cursos devem ser elaborados em colaboração com as empresas e sectores produti-
OS TRÊS DESAFIOS DO EMPREGO EM MOÇAMBIQUE
Existem três desa os principais na criação de um número su ciente de empregos de qualidade, mas os decisores de políticas dispõem das ferramentas necessárias para fazer a diferença.
PRECARIEDADE
Transformar o emprego informal, considerado uma armadilha, numa rampa de lançamento. Para tal, são necessárias políticas direcionadas que visam, entre outras coisas, o aumento da produtividade no setor informal através de ações de formação adequadas, de um melhor acesso a serviços nanceiros e de políticas que incentivem a transição para o emprego formal. É importante criar programas direcionados para o mercado de trabalho que ajudem os jovens, especialmente as mulheres que enfrentam obstáculos adicionais, a entrar no mercado de trabalho, garantindo que dispõem das ferramentas necessárias para serem bem-sucedidos.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Criar condições propícias ao crescimento do emprego em setores de elevada produtividade, como a indústria transformadora e os serviços modernos. Dada a limitação das nanças públicas, os governos podem dar prioridade a medidas que bene ciem vários setores, como a melhoria da concorrência no mercado e a realização de investimentos e cientes em infraestruturas. As autoridades devem ser cautelosas com as políticas industriais que visam setores especí cos, uma vez que podem gerar custos elevados, distorções e riscos de corrupção.
AMBIENTE DE NEGÓCIOS
Eliminar os obstáculos ao crescimento das empresas privadas. Dar prioridade a infra-estruturas essenciais como a energia, a Internet, as estradas e transportes públicos acessíveis pode facilitar o uxo de bens e serviços. A redução da burocracia e o combate à corrupção também ajudarão as empresas a crescer. O aumento do Investimento Directo Estrangeiro e a promoção do desenvolvimento dos mercados de capital locais podem melhorar a disponibilidade de nanciamento. E o reforço da integração regional e do comércio regional pode contribuir para a expansão dos mercados.
vos, garantindo que os alunos adquiram competências práticas que sejam directamente aplicáveis nas funções que vão desempenhar”, sugeriu.
O professor Jorge Ferrão, Reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, acrescenta que a qualidade da educação e formação oferecida precisa de ser aprimorada. “Muitos sistemas educacionais ainda carecem de professores quali cados e currículos actualizados, capazes de oferecer um ensino alinhado com as tendências globais e as exigências do mercado de trabalho. Lidar com este problema exige investimento em programas de formação contínua para professores”, defendeu. Para o académico, a capacitação de docentes deve ser uma prioridade, não apenas no nível universitário, mas também
no ensino técnico e pro ssional. O uso de metodologias inovadoras, como o ensino híbrido, e a parceria com instituições internacionais podem contribuir para a consecução deste objectivo. Adicionalmente, os currículos precisam de ser revistos para garantir que se desenvolvam habilidades práticas e competências técnicas, além do conhecimento teórico. “Isso permitirá que os formados estejam mais bem preparados para lidar com os desa os do mercado de trabalho”, enfatizou.
Já o director-executivo do Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortez, considerou que o foco deve ser nas oportunidades da área extractiva. “Um dos pontos cruciais para aumentar a criação de empregos em Moçambique é a gestão e ciente dos recursos natu-
Uma das saídas para o desemprego está no estímulo ao empreendedorismo
Nas últimas décadas, a Coreia do Sul tem investido intensivamente na inovação tecnológica e na formação de uma força de trabalho altamente qualificada. Um bom exemplo para Moçambique
rais e o uso inteligente do Fundo Soberano. Moçambique possui vastos recursos naturais, sobretudo gás natural e minerais, e a receita gerada a partir desses recursos deve nanciar iniciativas privadas capazes de gerar cadeias de valor em áreas com uma grande cadeia de valor, como o agro-negócio, indústria têxtil e turismo. “Parte desta receita pode ser direccionada para a formação de capital humano quali cado, para a criação de Pequenas e Médias Empresas (PME) e para o fomento da inovação tecnológica, que também têm grande potencial de geração de emprego”, sugeriu.
Indústria transformadora entre as grandes prioridades
Rogério Samo Gudo lembrou que o País tem grande potencial para expandir a sua capacidade de processamen-
to de recursos naturais e agro-industriais, mas enfrenta desa os como a falta de infra-estrutura, acesso limitado a nanciamento e baixos níveis de produtividade. Para superar essas di culdades, considera ser essencial que o Governo implemente políticas públicas de incentivo à indústria local, oferecendo condições favoráveis para a criação de PME, como a redução de impostos e acesso facilitado ao crédito. Explicou ainda que a implementação de zonas industriais com infra-estrutura adequada e incentivos scais pode impulsionar o crescimento de sectores-chave como o têxtil, a metalomecânica e a transformação de alimentos. Além disso, parcerias público-privadas podem ser essenciais para fomentar a inovação e o aumento da produtividade nas indústrias locais.
Os (bons) exemplos de políticas de emprego pelo mundo
“A China tem investido de forma consistente em educação técnica e na modernização das suas indústrias, o que permitiu transformar-se numa potência industrial e gerar milhões de postos de trabalho. Além disso, a implementação de zonas económicas especiais, como a zona de Shenzhen, tem contribuído para a atracção de investimentos estrangeiros e para o desenvolvimento de um sector industrial dinâmico”, exempli cou.
Outro exemplo de sucesso é o da Coreia do Sul, que nas últimas décadas tem investido intensivamente na inovação tecnológica e na formação de uma força de trabalho altamente quali cada. “Estes exemplos mostram que é possível combinar educação de qualidade, políticas industriais e cazes e investimento em infra-estrutura para criar uma economia mais robusta e com mais oportunidades de emprego”, concluiu.
Já o professor Jorge Ferrão recomenda que “as lições de outros países podem servir de guia, mas a adaptação às realidades locais e o envolvimento de todos os actores da sociedade são fundamentais para alcançar o sucesso”.
África: Tanta População,
Tão Pouco Emprego
Com uma população em rápido crescimento, África precisa de oferecer mais educação e trabalho adaptados às necessidades locais, e investir na informatização. Um caminho longo a percorrer
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
As tendências demográcas revelam que a população africana de 1,4 mil milhão de habitantes deve aumentar para 2,5 mil milhões até 2050, o que representará cerca de um quarto da população mundial. Com 60% dos africanos com menos de 25 anos, o continente deverá consolidar-se como o mais jovem do mundo. A informação consta de um relatório divulgado em 2024 pela Organização Internacional de Empregadores (OIE), criada em 1920 e com sede em Genebra, Suíça. A OIE traça um per l misto para África: por um lado, uma projecção populacional que acarreta o desa o de criar milhões de novos empregos, e, por outro, a oportunidade de transformar a energia jovem num activo para o desenvolvimento económico e social. Vamos por partes.
Os desa os do emprego juvenil Não é propriamente uma novidade que os jovens africanos enfrentam inúmeras di culdades para garantir emprego decente. A pesquisa feita pela OIE destaca que tal se deve, principalmente, a factores que incluem a falta de ligação entre as competências ensinadas nas instituições de formação académica e as exigidas pelo mercado de trabalho. Outra barreira signi cativa é o acesso limitado a nanciamento para jovens empreendedores. Estes obstáculos levam a que cerca de 90% dos jovens africanos tenham actividades precárias, “um cenário que oferece pouca segurança ou estabilidade”, constata a OIE.
Mais: a fraca coordenação entre políticas e programas de promoção do emprego também é um entrave, com muitas iniciativas desajustadas das necessidades locais e implementadas de forma ine ciente. Estes factores agravam a vulnerabilidade dos jovens. “A análise reve-
lou de ciências signi cativas nas políticas nacionais. Entre os principais problemas identi cados, destacam-se a falta de programas focados no emprego juvenil, especialmente em áreas rurais, e falta de condições rigorosas para acesso a bolsas e empréstimos. Além disso, observa-se uma carência de conhecimento sobre intervenções existentes e ausência de mecanismos e cazes de implementação, agravando os desa os enfrentados pelos jovens no mercado de trabalho”, sublinha a organização.
Estas constatações resultaram de pesquisas realizadas em dez países que representam cada uma das cinco regiões de África: Lesoto e África do Sul (África Austral), Uganda e Quénia (África Oriental), República Democrática do Congo e Camarões (África Central), Senegal e Nigéria (África Ocidental) e Marrocos e Egipto (África do Norte).
Perspectivas para o futuro
Apesar dos desa os, o futuro do trabalho em África apresenta perspectivas promissoras”, refere a OIE. Os empregadores argumentam que a expansão e modernização do sector agrícola tem potencial para gerar empregos e oportunidades de empreendedorismo, enquanto a digitalização da economia abre caminho para a inclusão económica e inovação.
Mas a OIE recomenda que haja investimento na educação técnico-pro ssional como um “passo essencial para preparar os jovens para carreiras de futuro, alinhando as competências à procura de mercado e promovendo uma transição sustentável para formas mais estruturadas de emprego.”
Além disso, “a promoção da digitalização de serviços económicos e administrativos pode expandir as oportunidades para jovens empreendedores, enquanto parcerias e cazes entre governos, sector privado e organizações inter-
22,2%
jovens africanos
ressentem-se da falta de emprego, educação e formação, segundo a Organização Internacional do Trabalho
Na África
Subsaariana, um terço dos empregados são classificados como trabalhadores extremamente pobres, muito acima da média global de 6,9%
de
nacionais podem melhorar a coordenação e a implementação de políticas públicas”, conclui.
Trabalho muito mal pago
A publicação World Employment and Social Outlook 2024, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), assinala outro problema que deve merecer atenção. A precariedade e baixa remuneração é preocupante: 148 milhões de trabalhadores africanos vivem com menos de 2,15 dólares por dia e tem havido um agravamento.
Na África Subsaariana, um terço dos empregados são classi cados como trabalhadores extremamente pobres, muito acima da média global de 6,9%. Enquanto isso, regiões como Europa e
América do Norte não registaram trabalhadores nessa categoria. Globalmente, o número de trabalhadores extremamente pobres subiu cerca de um milhão em 2023 e o aumento ocorreu principalmente em África.
A desigualdade no mercado de trabalho também se re ecte no sector informal, que abarca 86,5% dos trabalhadores africanos, contra uma média global de 58%.
O relatório da OIT destaca ainda o impacto sobre os jovens: cerca de 63 milhões de africanos (o que equivale a quase o dobro da população moçambicana), com idades entre 14 e 24 anos, não têm emprego, educação ou formação, representando um quinto da juventude do continente.
OS DESAFIOS DO EMPREGO PARA JOVENS...
Eis os factores que agravam a vulnerabilidade dos jovens e di cultam o acesso a oportunidades económicas sustentáveis:
Desajuste educacional: As competências ensinadas não estão associadas às exigências do mercado de trabalho.
Falta de acesso a nanciamento: Jovens empreendedores têm di culdade em aceder a crédito para lançar negócios.
Predominância do emprego informal: Cerca de 90% dos jovens trabalhadores estão na precariedade, sem segurança ou estabilidade.
Fraca coordenação: Políticas e programas estão, muitas vezes, desajustados das necessidades locais e são implementados de forma ine ciente.
... E AS OPORTUNIDADES E PERSPECTIVAS
Apesar dos problemas, o futuro do trabalho em África apresenta oportunidades:
Expansão do sector
agrícola: A modernização e digitalização das actividades rurais podem gerar empregos e oportunidades de empreendedorismo.
Digitalização da economia: Tecnologias da informação e comunicação (TIC) oferecem caminhos para a inclusão económica e inovação.
Educação técnicopro ssional: Investir em formação voltada para o mercado de trabalho é essencial para preparar os jovens para carreiras de futuro.
FONTE Organização Internacional de Empregadores (OIE)
Emprego? A África Subsaariana
Precisa de 15 Milhões Por Ano
Enquanto o resto do mundo enfrenta o desa o do envelhecimento, África enfrenta uma questão bem diferente: a população está a crescer. Até 2030, metade de todos os novos candidatos à força de trabalho mundial serão provenientes da África Subsaariana, o que exigirá até 15 milhões de novos empregos, anualmente.
Como mostramos nos grá cos deste artigo, este desa o é particularmente grave em economias frágeis, afectadas por con itos e de baixo rendimento. Este grupo representa quase 80% das necessidades anuais de criação de emprego da região, mas, até à data, estas nações são as que mais lutam para criar oportunidades.
Quais são as suas características?
Estas economias têm taxas de fertilidade elevadas e a população jovem ainda não atingiu o seu pico. Por exemplo, o Níger tem uma população de 26 milhões de pessoas e uma percentagem de população jovem que não deverá atingir o pico antes de 2058 – o país terá de criar 650 000 novos empregos anualmente durante os próximos 30 anos. Em contraste, muitos países de rendimento médio, como o Botsuana, o Gana, a Namíbia e as Maurícias, já viram a sua percentagem de jovens na população atingir o pico e enfrentarão pressões menos severas para criação de emprego.
A fórmula para o sucesso
Aproveitar o potencial de crescimento populacional de África exige a criação de um grande número de empregos produtivos e de qualidade que proporcionem rendimentos acima do nível de subsistência, quer em empregos formais, quer no trabalho por conta própria. Há três grandes desa os a en-
frentar para criar bons empregos e em quantidade su ciente, mas os decisores políticos têm as ferramentas à sua disposição para fazer a diferença:
1
Empregosinformais: em vez de uma armadilha, transformá-los num trampolim. Neste ponto, as políticas especí cas incluem o aumento da produtividade no sector informal, através de formação em competências adequadas, melhor acesso a nanciamento e políticas que incentivem a transição de emprego formal. É importante criar programas de mercado de trabalho que ajudem os jovens (especialmente as mulheres, que enfrentam barreiras adicionais) a nele entrarem, garantindo que dispõem das ferramentas para terem sucesso.
2
Aumentar oportunidades: criar condições que conduzam ao crescimento do emprego em sectores de elevada produtividade, como os serviços modernos e a indústria transformadora. Dadas as nanças públicas limitadas, os governos podem dar prioridade a medidas que bene ciem múltiplos sectores, tais como a melhoria da concorrência no mercado e a realização de investimentos em infra-estruturas com uma boa relação qualidade/ preço. Devem ser cautelosos com as políticas industriais que visam sectores especí cos, pois podem ser dispendiosas, distorcidas e representar riscos de corrupção.
3
Quebrar barreiras: o crescimento da iniciativa privada de base deve estar livre de obstáculos. Ou se-
O crescimento robusto do emprego não só é bom para os países e para as populações da região, como também proporcionará um motor de crescimento, consumo e investimento para a economia global
Do Fundo Monetário Internacional (FMI)
Athene Laws
Faten Saliba
Can Sever
Luc Tucker
Aumentar o potencial de produção da economia informal pode promover o crescimento
Número estimado de empregos adicionais líquidos necessários por ano, 2020–2100
em milhões
Resto da África Subsaariana
Estados frágeis e afectados por con itos e países de baixa renda
Fonte: Projecções de população mundial; estimativa de participação na força de trabalho da OIT; cálculos da equipe do FMI.
ja, é preciso dar prioridade a infra-estruturas importantes, como a electricidade, a Internet, as estradas e os transportes públicos acessíveis, para facilitar o uxo de bens e serviços. A redução da burocracia e da corrupção também ajudarão as empresas a crescer. Atrair mais investimento directo estrangeiro e desenvolver os mercados de capitais locais pode disponibilizar mais nanciamento. E o reforço da in-
Diferença na criação de empregos impulsionada pelo crescimento do PIB, 1992–2022
diferença em percentagem
-66% África Subsaariana
-78% Estados frágeis e afectados por con itos
-83% Países de baixo rendimentos
-89% Países de recursos intensivos
Fonte: Banco Mundial; OIT; Cálculos e estimativas da equipa do FMI.
Nota: O grá co destaca as diferenças entre os países da África Subsaariana e outras economias emergentes e em desenvolvimento (EMDE, sigla inglesa) na correlação entre o crescimento do PIB per capita e as taxas de emprego. Após calcular a correlação entre o crescimento real do PIB per capita e a mudança na relação de emprego com a população (idades 15+, total) durante o período de 19922022 para cada país, são utilizados os valores medianos dessas correlações em cada sub-amostra, com a sub-amostra das EMDE (excluindo a África Subsaariana) normalizada para 100.
tegração regional e do comércio pode alargar os mercados.
O papel da comunidade internacional
A comunidade internacional tem muito a ganhar com o emprego próspero na África Subsaariana. O crescimento robusto do emprego não só é bom para os países e para as populações da região, como também proporcionará um motor de crescimento, consumo e in-
Proporção de emprego criado na África Subsaariana por tipo de trabalho
percentagem de emprego não agrícola
Fonte: Danquah e outros; IZA Journal of Development and Migration (2021) 12:15; e cálculos da equipe do FMI. Nota: O grá co mostra a distribuição de trabalhadores no emprego não agrícola e é baseado em estatísticas médias que cobrem Gana, Tanzânia e Uganda. Os empregos de nível inferior são aqueles com baixos salários e condições, enquanto os empregos de nível superior oferecem melhores salários e formação.
vestimento para a economia global. O fracasso poderá exacerbar a pobreza, alimentar a instabilidade e impulsionar a migração, enquanto o sucesso pode desbloquear a prosperidade tanto para África como para o mundo. Os decisores políticos devem esforçar-se por mudanças signi cativas que criarão um caminho para milhões de pessoas rumo a um futuro pro ssional mais risonho.
“A Academia Deve Antecipar as Necessidades do Mercado de Trabalho”
O ensino superior tem de se alinhar com as empresas, enfrentar limitações de recursos, estruturas obsoletas e um mercado de trabalho em rápida transformação. Jorge Ferrão, Reitor da UP-Maputo, alerta: não há volta a dar, senão vencer estes obstáculos
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
Ainovação e a adaptação da formação académica às necessidades do mercado de trabalho são cada vez mais urgentes, diz, em entrevista, à E&M, o antigo ministro da Educação e actual Reitor da Universidade Pedagógica de Maputo (UP-Maputo), Jorge Ferrão. A ligação entre o mercado e as salas de formação deve ser contínua, mas a realidade acarreta obstáculos que só se conseguem enfrentar com parcerias e estratégias bem planeadas.
Como é que a Universidade Pedagógica de Maputo alinha os currículos às necessidades do mercado de trabalho em Moçambique?
A UP-Maputo ajusta continuamente os currículos às exigências do mercado de trabalho através de estudos periódicos e parcerias com outras universidades e entidades do sector privado, no que podemos considerar uma espécie de consulta aos empregadores.
As universidades têm a tarefa de preparar os estudantes para as exigências do mercado de trabalho. Como avalia o cumprimento deste papel?
As universidades têm de estar um passo à frente na formação para o mercado de
“A
trabalho e têm adoptado algumas medidas. Têm introduzido programas que privilegiam competências práticas e têm reforçado parcerias com o sector privado. Contudo, é essencial avaliar continuamente se essas medidas estão a responder de maneira eficaz às necessidades. Por exemplo, incluir estágios e projectos práticos num currículo é positivo, mas precisamos de avaliar se essas experiências são relevantes e se estão estruturadas de acordo com as exigências dos empregadores. Além disso, iniciativas como a revisão curricular e a introdução de novas tecnologias devem ser feitas de forma planeada, com base em estudos de mercado que identifiquem áreas emergentes e lacunas de competências. É fundamental que as medidas implementadas estejam alinhadas a uma visão estratégica que dê prioridade ao aumento das competências em áreas como tecnologia, empreendedorismo e inovação, assegurando que os alunos atendam às exigências actuais, assim como aos desafios futuros do mercado de trabalho.
Como é que a precariedade do mercado de trabalho influencia a formação académica?
A informalidade reduz a capacidade de absorção de alunos formados e, muitas vezes, desvaloriza as qualificações académicas, enquanto apresenta desafios para se aplicar o conhecimento técni-
informalidade reduz a capacidade de absorção de alunos formados, muitas vezes desvaloriza as qualificações académicas e apresenta desafios para se aplicar o conhecimento técnico”
co de forma estruturada. Para enfrentar este cenário, a UP-Maputo tem incorporado competências empreendedoras nos seus programas, incentivando os estudantes a criarem os seus próprios negócios, inclusive em contextos informais. No entanto, reconhecemos que é necessário dar prioridade a parcerias com o sector informal para adaptar a formação às suas dinâmicas e para introdução de programas específicos que integrem estudantes no desenvolvimento de soluções inovadoras para mercados pouco estruturados. Damos atenção permanente às tecnologias de informação e comunicação (TIC) e à automação, mas precisamos de nos expandir para incluir ferramentas práticas, garantindo que os alunos formados sejam agentes de transformação, tanto no sector formal quanto no informal.
De que forma é que as universidades promovem o empreendedorismo num cenário de baixos orçamentos, limitações técnicas e tecnológicas?
Primeiro, é essencial fomentar uma cultura de inovação, incentivando os estudantes a pensar de forma criativa e a identificar soluções para problemas locais. Isso pode ser feito ligando profissionais e empreendedores aos estudantes, orientando-os para a gestão dos seus próprios negócios, mesmo sem grandes recursos, criando espaços de ‘coworking’ e incubadoras. Mesmo com limitações tecnológicas, é possível aproveitar o uso de plataformas digitais acessíveis para promover o empreendedorismo. As universidades podem utilizar ferramentas de baixo custo para capacitar os alunos em áreas como marketing digital, gestão de negócios e desenvolvimento de produtos. A chave está em criar um ecos-
JORGE FERRÃO
Jorge Ferrão, Reitor da Universidade Pedagógica de Maputo
sistema de apoio ao empreendedorismo que, mesmo com restrições, forneça aos estudantes as ferramentas e o conhecimento necessário para se lançarem no mercado e terem sucesso.
Que iniciativas ou programas da UP-Maputo têm contribuído para melhorar a empregabilidade dos alunos?
Temos adoptado uma série de iniciativas focadas em melhorar a empregabilidade dos nossos diplomados. Uma das principais é o programa de estágios, que permite que os alunos adquiram experiência prática, ligando-os directamente ao mercado ainda durante a formação.
Além disso, as bolsas de estudo, especialmente voltadas para atletas, têm sido uma ferramenta importante para ga-
rantir que estudantes com alto desempenho académico e desportivo possam concluir os estudos sem as barreiras financeiras que, muitas vezes, limitam a continuidade da formação. Outro pilar essencial da nossa abordagem é o foco nas TIC e automação. Estes campos são fundamentais para a formação de profissionais preparados para os desafios num mercado de trabalho em constante evolução, particularmente num cenário de informatização crescente.
Quais são as áreas da formação académica mais afastadas das necessidades do mercado? Apesar dos avanços, ainda enfrentamos problemas na adaptação de alguns cursos às exigências, especialmente nas áreas de gestão de negócios e das TIC.
São áreas essenciais para o desenvolvimento económico e necessitam de uma abordagem mais prática e alinhada com asexigências.AUP-Maputotem-sededicado a fortalecer estas áreas com investimentos signi cativos. Também estamos a desenvolver o Campus de Lhanguene II, no Chamanculo, um espaço moderno que contará com infra-estrutura de última geração para garantir uma formação mais dinâmica e voltada para a inovação. Além disso, temos contado com o apoio da banca comercial moçambicana, da Gigawatt, entre outras, que colaboram connosco no apoio à implementação de programas focados em desenvolver competências práticas, que preparam melhor os estudantes para os desa os do mercado de trabalho. Estes investimentos são apenas o começo.
A formação de capital humano terá de ser adaptada às necessidades do sector produtivo
“A transição para um modelo de formação mais adaptado às necessidades de desenvolvimento de Moçambique exigirá tempo e esforço coordenado entre todas as partes envolvidas”
Continuaremos a priorizar a melhoria dos nossos programas académicos para alinhar ainda mais a formação com as necessidades reais do mercado.
Pode partilhar algum exemplo concreto sobre o impacto positivo de um programa ou curso da Universidade Pedagógica no mercado de trabalho?
Um exemplo claro é o curso de formação de professores para o ensino secundário, que tem contribuído directamente para a redução do dé ce de docentes nas zonas rurais, onde a escassez de pro ssionais quali cados sem-
pre foi um problema. Estes diplomados têm-se destacado ao aplicar conhecimentos em áreas emergentes como a automação industrial e o desenvolvimento de soluções tecnológicas para empresas locais, contribuindo directamente para a modernização do mercado de trabalho. Outro exemplo importante é o desenvolvimento de projectos focados nos sectores de energia e sustentabilidade ambiental. Os alunos formados têm-se envolvido em projectos de energias renováveis, como a instalação de sistemas solares nas comunidades rurais e a implementação de programas de e ciência energética em empresas.
Em que medida é que a academia tem dialogado com o Governo, parceiros internacionais e sector privado para o ajustamento dos desafios que se impõem?
A UP-Maputo tem mantido um diálogo contínuo e construtivo sobre a adaptação dos currículos académicos às necessidades emergentes do mercado. Entendemos, no entanto, que as mudanças necessárias para alinhar a formação académica com as exigências são um processo complexo e gradual. A transição para um modelo mais adaptado às necessidades do desenvolvimento socioeconómico de Moçambique exigirá tempo e esforço coordenado entre todas as partes envolvidas. Não se trata de uma mudança imediata, pois envolve reestruturações no sistema de ensino, actualização de metodologias e criação de novas parcerias estratégicas que, embora estejam em andamento, requerem um planeamento cuidadoso e a implementação de soluções sustentáveis. Temos de nos engajar nesta luta.
Impacto das Mudanças Geopolíticas, Macroeconómicas e Sociopolíticas no Fecho de Contas
Francisca Neves & Eduardo Caldas • EY Partner Assurance
Num cenário global cada vez mais complexo e volátil, as mudanças geopolíticas, macroeconómicas e sociopolíticas podem ter um impacto muito relevante no fecho de contas das empresas. A incorporação adequada dos impactos decorrentes de situações inesperadas é essencial para garantir a transparência e a integridade das demonstrações financeiras. Neste artigo, abordaremos alguns dos principais impactos (não exaustivos) que devem ser considerados no processo do fecho de contas do exercício económico de 2024, nomeadamente tendo em conta o contexto actual que se vive em Moçambique.
Imparidade
É fundamental que o processo de fecho de contas e de preparação das demonstrações financeiras e respectivas notas seja efectuado de forma atempada, e que sejam reforçadas as análises aos eventos inesperados e respectivos impactos, antes do fecho de contas
No contexto actual, poderá mostrar-se necessária a realização de testes de imparidade aos vários activos, nomeadamente aos activos fixos tangíveis (por possível perda de valor decorrente de actos de vandalismo ou por fenómenos climáticos), às contas a receber (pelo risco de aumento de problemas de liquidez em clientes que possam ter visto as suas operações afectadas pelos acontecimentos recentes), aos inventários (por actos de vandalismo ou roubos), ao “goodwill” (por perda de valor dos negócios) e aos activos por impostos diferidos (pela diminuição da capacidade da empresa em gerar resultados fiscais futuros que permitam a recuperabilidade dos mesmos).
Adicionalmente, é necessário ter em atenção os pressupostos usados nas análises de imparidade (como as taxas de desconto e as taxas de inflação), que, tendencialmente, terão uma deterioração, bem como as bases das projecções (como as taxas de crescimento e as margens) em que, tipicamente, são usadas projecções a partir de dados históricos, os quais podem não ser adequados, aumentando a incerteza decorrente de um menor grau de previsibilidade sobre os comportamentos do mercado.
No caso específico do sector bancário, dada a especificidade concreta dos
seus activos financeiros e da sua relevância nos respectivos balanços, nomeadamente no que respeita às rubricas de crédito a clientes e de activos financeiros ao custo amortizado, o processo de revisão das perdas por imparidade associadas àqueles activos oferece um nível de complexidade ainda maior em resultado de as instituições financeiras se encontrarem a reportar de acordo com as Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS).
No contexto actual, será expectável que os modelos utilizados pelos bancos para reconhecimento das imparidades sobre aqueles activos venham a ser afectados, com revisões em alta das respectivas imparidades acumuladas, em resultado das alterações ao nível das principais variáveis de “forward looking” incorporadas nos respectivos modelos, tais como, Produto Interno Bruto, taxas de inflação, taxas de juro, etc., bem como o aumento do risco associado às respectivas carteiras de crédito e de títulos — estes últimos também afectados pelo “rating” da Republica de Moçambique estabelecido pelas principais agências de notação internacionais (algumas já a perspectivar revisões em baixa).
Contagens Físicas
No caso em que as empresas não tenham conseguido efectuar o seu habitual procedimento de contagens físicas, por falta de técnicos disponíveis ou por dificuldade ou impossibilidade de acesso às instalações, deverão ser identificados os procedimentos alternativos a realizar subsequentemente, por forma a conseguir concluir a verificação das existências e dos inventários à data de fecho e realizar qualquer ajustamento que se mostre necessário.
Eventos Seguráveis
No caso de a empresa ter perdas em activos que estejam cobertos por eventos seguráveis, será necessário garantir que as indemnizações são exigíveis, tendo em atenção que os actos de vandalismo ou roubo podem não estar cobertos. Desta forma, é necessário que a empresa obtenha provas para exigir in-
A informação nanceira é importante para a con ança na economia
demnizações, nomeadamente através de confirmação escrita por parte da seguradora.
No caso concreto das companhias de seguros, o processo de fecho de contas relativo ao exercício de 2024 oferecerá uma complexidade ainda maior no que respeita à determinação dos custos com sinistros associados a todos os eventos ocorridos (cobertos pelas respectivas apólices) até ao final do ano, considerando a dimensão dos eventos ocorridos perto da data do fecho de contas, para determinação do custo com sinistros incorridos, mas não reportados à companhia (IBNR).
Neste contexto, as companhias de seguros deverão fazer uma análise antecipada, junto dos clientes que incorporem estas coberturas, no sentido de reunir a melhor informação disponível para determinação e reconhecimento
de eventuais estimativas adicionais de custos com sinistros.
Divulgações
As divulgações também terão diversos impactos, alguns apenas de melhoria, enquanto outros exigirão publicações adicionais.
Algumas das melhorias poderão ser:
• melhoria da descrição dos racionais para as alterações dos pressupostos nas estimativas, bem como sobre quaisquer contingências e/ou provisões registadas;
• detalhe das indemnizações registadas ou divulgação do racional para os activos contingentes que possam resultar de potenciais indemnizações.
Algumas divulgações adicionais serão:
• descrição da situação e dos impac-
tos na continuidade das operações da empresa, sendo necessário que sejam abordados os eventos que afectaram directamente a actividade, mas também o seu ambiente (nomeadamente sobre os clientes e fornecedores e a sua capacidade de continuarem a operar, sobre o acesso a crédito externo ou apoio dos accionistas, entre outros). Estas divulgações terão de estar suportadas por análises prévias com projecções operacionais e de tesouraria que permitam corroborá-las.
• nos eventos após a data de balanço, será necessário criar uma nota específica a descrever os impactos que a empresa possa ter sofrido subsequentemente (muito em linha com o que já ocorreu durante a covid-19). Será necessária uma avaliação prévia sobre se serão eventos ajustáveis ou apenas divulgáveis;
• divulgação de qualquer outro evento não usual como algum ataque cibernético, fraude ou outros, dependendo da especificidade de cada empresa — de realçar que as empresas deverão melhorar os seus mecanismos de análise subsequente sobre estes potenciais eventos, cuja probabilidade aumenta em cenários como os verificados em Moçambique desde Outubro de 2024.
Conclusão
Em suma, e não pretendendo o artigo abordar de forma exaustiva todos os possíveis impactos que poderão advir do actual contexto, é fundamental que o processo de fecho de contas e de preparação das demonstrações financeiras e respectivas notas seja efectuado de forma atempada. É importante que seja reforçada a análise aos eventos inesperados e respectivos efeitos, antes do fecho de contas, para identificar e obter informação necessária sobre todos os impactos que têm de ser registados ou divulgados.
É essencial que esse trabalho seja efectuado com rigor, envolvendo as equipas locais, accionistas e respectivos grupos, quando aplicável, por forma a garantir a integridade da informação financeira. Este processo tem uma enorme relevância não apenas para os “shareholders” e para os “stakeholders” específicos de cada empresa, mas de uma forma mais abrangente, tendo em vista a importância da robustez da informação financeira para a confiança na economia do País e nos mercados como um todo.
A gigante mineira Barrick Gold suspendeu temporariamente a exploração no complexo Loulo-Gounkoto, no Mali, devido a um impasse com a junta militar no poder. Desde Novembro, a empresa está impedida de exportar ouro, enquanto as autoridades locais apreendem
as reservas acumuladas. As tensões entre governos militares e investidores estrangeiros num país onde o ouro é um recurso estratégico têm assumido contornos preocupantes. Em paralelo, foi emitido um mandado de detenção contra o CEO, Mark Bristow.
A República Democrática do Congo abriu uma queixa judicial contra a Apple, em França e na Bélgica, por alegadamente utilizar minerais saqueados do país nos seus produtos. Os advogados congoleses a rmam que a cadeia de abastecimento da gigante tecnológica está contaminada com “minerais de sangue.”
A região oriental do Congo, rica em recursos como o ‘coltan’, utilizado na produção de dispositivos electrónicos, é palco de con itos há décadas. Com os minerais exportados ilegalmente para países vizinhos, as receitas nanciam grupos armados, prolongando a instabilidade.
Burkina Faso Vista Group Holding expande-se para França
O Vista Group está a expandir-se para França com o objectivo de aproveitar as oportunidades comerciais entre África e Europa.
A instituição bancária, que adquiriu as unidades africanas do Société Générale e do BNP Paribas, é propriedade da Lilium, com sede em Washington. A abertura em França está prevista para o segundo semestre do ano.
As autoridades sanitárias da República Democrática do Congo investigaram um surto que já afectou mais de 500 pessoas, maioritariamente crianças com menos de 5 anos. A doença, inicialmente apelidada de “Doença X”, resulta de formas severas de patologias comuns, como malária ou infecções virais, agravadas por desnutrição crónica.
Os menores, enfraquecidos pela fome, têm sido as principais vítimas deste quadro clínico alarmante, que desa a os serviços de saúde locais desde Outubro do ano passado.
O surto serve de alerta para a fragilidade de populações vulneráveis em regiões afectadas pela pobreza extrema, como acontece em várias regiões daquele país da África Central.
África do Sul Operação contra mineiros ilegais acaba em tragédia
Uma tentativa das autoridades sul-africanas para conter a mineração ilegal em Bu elsfontein, a sudoeste de Joanesburgo, teve resultados desastrosos. A polícia selou os poços de uma mina abandonada, cortando o acesso a água, alimentos e mantimentos essenciais. Contudo, os mineiros ilegais continuaram a operar em condições precárias, desa ando a acção das forças de segurança. Estima-se que mais de 100 morreram por fome ou desidratação, antes de as autoridades começarem a retirar corpos. Muitas organizações criticaram as autoridades sul-africanas. O impasse evidenciou os perigos de uma economia informal e da falta de alternativas económicas para comunidades marginalizadas.
Etiópia Bolsa de valores reabre após 50 anos de paralisação
Ruanda
Após cinco décadas sem mercado de capitais, a Etiópia prepara o lançamento da nova bolsa de valores. O Governo está a vender participações da Ethio Telecom, avaliadas em até 234 milhões de dólares, como parte do plano para atrair investidores estrangeiros.
Segundo Tilahun Kassahun, responsável pela Ethiopian Securities Exchange, a entrada de empresas estatais no mercado marcará o início desta nova etapa económica. Contudo, a estabilidade regional permanece um desa o para o sucesso da iniciativa.
EUA exigem m das interferências no sinal GPS
O Departamento de Estado dos EUA exigiu que o Ruanda deixe de usar equipamentos que provocam interferências no sinal de GPS no leste da República Democrática do Congo, onde milhões de deslocados pelo con ito necessitam urgentemente de ajuda. As interferências e sinais falsos estão a impedir os voos de
manutenção de paz e de assistência das Nações Unidas na região. Segundo os EUA, milhares de soldados ruandeses estão a apoiar a rebelião do grupo M23 no Congo, corroborando as conclusões deumgrupodeperitosdaONU.ORuanda nega a presença das suas tropas no país rico em minerais.
Namíbia Cooperação com a China em energia nuclear
A Namíbia, importante produtora de urânio, pretende estreitar laços com a China para fomentar o uso de energia nuclear como alternativa limpa. Durante a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, o Presidente
Nangolo Mbumba enfatizou a importância da cooperação. A China também anunciou planos para iniciar a produção de lítio na República Democrática do Congo, consolidando a sua posição na transição energética global.
Como a IA Pode Ajudar a Lidar com Ciclones?
Os ciclones que se abatem sobre Moçambique no início de cada ano fazem parte das causas naturais de prejuízos sociais e económicos. Mas novos modelos de previsão estão a fazer a diferença
Texto Redacção • Fotografia D.R.
Ociclone Chido, que atingiu Moçambique a 15 de Dezembro de 2024, foi o mais recente a entrar na longa lista de depressões atmosféricas que anualmente, entre Dezembro e Maio, fustigam o País, com mortes, feridos e muitos prejuízos. O funcionamento da atmosfera terrestre faz com que o território moçambicano seja sempre um dos pontos de chegada de ciclones do oceano Índico.
Nos últimos anos, os cientistas têm alertado para sinais de que estes fenómenos naturais estão a intensi car-se devido às alterações climáticas. No caso do ciclone Chido, os números falam por si: pelo menos 120 pessoas morreram e outras 868 caram feridas durante a passagem da tempestade pelo Norte e Centro de Moçambique (Cabo Delgado, Niassa e Nampula, no Norte, e Tete e Sofala, no Centro). Inúmeras infra-estruturas e empresas foram atingidas. O impacto na economia é severo. Mas as novas tecnologias estão a revelar novas formas de ajudar a mitigar o sofrimento humano e os prejuízos para a economia. A Inteligência Articial (IA) está na linha da frente.
Google DeepMind lança GenCast No nal de 2024, cientistas da Google DeepMind desenvolveram um modelo meteorológico que supera os sistemas mais precisos do mundo: a nova forma de previsão consegue abranger um número maior de condições iniciais diferentes. Os investigadores anunciaram que o modelo GenCast melhorou a capacidade de os computadores anteciparem eventos extremos (como ciclones intensos) que estejam fora dos limites dos dados com que foram treinados. Ou seja, vai ser possível prever, com precisão, eventos sem precedentes, mas que as alterações climá-
ticas tornam mais prováveis e graves. Testes mostraram que o modelo tem maior capacidade do que o conjunto extremamente ável executado pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF) em 97,2% das 1320 métricas avaliadas – incluindo a previsão de eventos climáticos extremos, trajectórias de ciclones tropicais e produção de energia eólica.
A abordagem de aprendizagem automática da GenCast utilizou dados meteorológicos de 1979 a 2018. Como a capacidade de processamento dos computadores continua a aumentar, as melhorias nas previsões, nos últimos anos, têm sido iterativas (em termos de quantidade), em vez de revolucionárias. A nova geração de modelos meteorológicos de IA que estão a ser lançados pelas empresas tecnológicas é treinada com base em dados meteorológicos anteriores e depende de técnicas de aprendizagem automática. Podem ser executados em sistemas de processamento remotos (na ‘cloud’) em apenas alguns minutos.
Nvidia mostra StormCast
No meio dos picos da última temporada de furacões no Atlântico, a Nvidia anunciou um novo modelo generativo de IA, denominado StormCast, para simular dinâmicas atmosféricas com alta precisão. Ou seja, o modelo faz previsões meteorológicas mais áveis à mesoescala — uma escala maior que as tempestades, mas menor que os ciclones —, o que é fundamental para o planeamento e mitigação de desastres.
Integrado na plataforma Earth-2 da Nvidia, que combina IA, simulações físicas e grá cos computacionais, o StormCast oferece previsões horárias autoregressivas, antecipando eventos futuros com base em dados passados. Complementando o CorrDi , outro modelo de IA da Nvidia, o StormCast melhora as
previsões regionais de alta resolução, essenciais para identi car riscos físicos relacionados com o clima e o tempo. A empresa indicou que o CorrDi já demonstrou ser mil vezes mais e ciente que métodos tradicionais, com um consumo de energia milhares de vezes inferior. Por exemplo, o Centro Nacional de Ciência e Tecnologia para a Redução de Desastres de Taiwan planeia utilizar o CorrDi na previsão da rota de tufões, “trabalho que anteriormente custava quase três milhões de dólares em CPU, mas que agora pode ser realizado por cerca de 60 000 dólares num único sistema com uma Nvidia H100 Tensor Core GPU.” Ou seja, além da capacidade do ‘software’ de previsão meteorológica, a empresa puxa também pelos galões da sua produção de chips de silício.
Aparelhos modernos de IA estão a revolucionar as previsões meteorológicas
No caso de Moçambique, a ambição de criar uma rede de alerta precoce pode passar pelo investimento em sistemas de nova geração, mas a recolha de dados precisos continua a ser um problema
No nal, vale a validação humana
Apesar dos avanços, a validação nal das previsões meteorológicas continuará a ser feita por humanos e é pouco provável que os novos modelos, como o GenCast ou o StormCast, substituam todos os que são usados actualmente. O mais plausível é que sejam utilizados como mais uma ferramenta de previsão na caixa de ferramentas dos meteorologistas. A experiência em observar resultados e previsões diariamente dá-lhes vantagem: sabem quando há bons e maus prognósticos e podem usá-los a seu favor para fazer previsões mais precisas, apontam especialistas do sector.
Estes sistemas são ferramentas importantes porque utilizam equações matemáticas que descrevem o funcionamento da atmosfera, com cálculos para tudo, desde a forma como a humidade é transportada até
IMPACTO DO CICLONE CHIDO
As cinco províncias afectadas pelo ciclone em Dezembro de 2024 foram Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Tete e Sofala
120 mortos
868 feridos
5 províncias
AVANÇOS TECNOLÓGICOS
97,2%
O modelo GenCast da Google superou o modelo europeu (ECMWF) nesta magnitude, em 1320 métricas avaliadas
1000
O modelo da Nvidia promete resultados 1000 vezes mais e cientes que os modelos tradicionais de previsão meteorológica melhor modelo vezes mais e ciente
à forma como os ventos da corrente superior (“jetstream”) podem alimentar e orientar os sistemas de tempestades. Uma enorme quantidade de observações é inserida nestes modelos para produzir projecções para as próximas horas ou dias.
No caso de Moçambique, a ambição de criar uma rede de alerta precoce pode passar pelo investimento neste tipo de sistemas de nova geração, mas a recolha de dados precisos e detalhados continua a ser um problema. Em Setembro de 2023, o País anunciou que tinha estações meteorológicas em funcionamento em metade dos distritos do País (88), mas sem informação detalhada sobre o estado de operação.
Com apenas um radar meteorológico instalado no centro, concretamente na cidade da Beira, o País precisa de outros seis para a cobertura plena do território.
Investir No Futuro: Como os Jovens Talentos Impulsionam o Crescimento Empresarial
Melba Jorge • Directora de Capital Humano, FNB Moçambique
Omundo empresarial atravessa uma fase de transformação acelerada, onde as soluções do passado já não são suficientes para enfrentar os desafios do presente. As empresas precisam de ir além das boas práticas de gestão tradicionais; precisam de inspiração, inovação e da capacidade de se reinventar constantemente.
E é aqui que os talentos jovens desempenham um papel fundamental, trazendo consigo novas perspectivas, ideias criativas e a energia necessária para impulsionar a evolução e o crescimento sustentável das empresas.
A nova geração de profissionais tem características únicas que a tornam uma força transformadora. Embora faltem anos de experiência, é precisa-
Antes, os clientes deslocavam-se aos balcões para realizar transferências, pagamentos ou consultar saldos. Hoje, muitos destes processos são completados de forma mais rápida através de uma aplicação bancária
O talento é incontornável para o sucesso empresarial
mente essa inexperiência que se torna um valor estratégico.
O espírito jovem que entra no mercado de trabalho traz consigo um olhar desafiador sobre os processos tradicionais e uma abordagem aberta à adaptação das empresas às exigências constantes, com uma visão fresca e uma disposição natural para questionar o status quo, propondo soluções mais inovadoras e ajustadas à realidade actual.
O que funcionava há cinco ou dez anos já não é realista. Um exemplo disso é a digitalização das operações bancárias: antes, os clientes deslocavam-se aos balcões para realizar transferências, fazer pagamentos ou consultar saldos. Hoje, muitos desses processos são completados de forma mais simples e rápida através de uma aplicação bancária ou Internet Banking, sem necessidade de aguardar em filas ou deslocar-se fisicamente.
Este tipo de inovação, muitas vezes impulsionada por jovens profissionais, tem permitido que os bancos ofereçam soluções mais ágeis, eficazes e adaptadas às necessidades dos clientes, enquanto tornam os processos internos mais eficientes e transparentes.
O FNB Young Talent Development Program, do FNB Moçambique, é uma referência clara de como as empresas podem moldar as futuras gerações de líderes inovadores. Destinado a graduados moçambicanos entre os 20 e os 25 anos, o programa oferece aos participantes formação no Grupo FirstRand, na África do Sul.
Os jovens seleccionados terão a oportunidade de trabalhar nas áreas-chave do banco, como Retalho, Banca Corporativa e Departamento Financeiro, adquirindo uma experiência prática e internacional que os prepara para os desafios do mercado financeiro global. Investir em jovens talentos recém-formados é uma escolha estratégica e uma verdadeira aposta no futuro das empresas. Estes jovens profissionais são a chave para a adaptação contínua das empresas à realidade cada vez mais desafiadora e em constante evolução.
O Legado de um Analista de Crises
Num momento em que Moçambique enfrenta incertezas económicas e sociais decorrentes da tensão pós-eleitoral, o pensamento de Ben Bernanke (Nobel de Economia em 2022) poderia emergir como uma lente crucial para compreender as crises nanceiras
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R
Ahistória económica moderna não estaria completa sem a contribuição de Ben Bernanke, cujas pesquisas académicas e actuação política ajudaram a moldar a compreensão das crises nanceiras. Desde a Grande Depressão da década de 1930 até à crise nanceira global de 2008, o seu trabalho oferece um quadro teórico robusto e prático para lidar com choques económicos. Para países como Moçambique, que enfrentam problemas scais e de con ança, as ideias de Bernanke fornecem lições valiosas.
O economista e a crise: uma perspectiva histórica
Ben Bernanke ganhou notoriedade no mundo académico pelos seus estudos sobre a Grande Depressão da década de 1930. Em 1983, o economista argumentou que o colapso do sistema bancário teve consequências monetárias, mas também estruturais para a economia real, ampliando os efeitos da depressão.
Esta linha de pensamento foi um pilar central da sua liderança da Reserva Federal norte-americana (Fed), entre 2006 e 2014. Quando enfrentou a crise de 2008, por exemplo, implementou políticas monetárias não convencionais, como a exibilização quantitativa. Na prática, consistiu na compra de títulos de longo prazo, no mercado aberto, ou
até mesmo de títulos comerciais, a m de aumentar a oferta de moeda e, assim, incentivar empréstimos e investimentos. A compra dos títulos acrescenta dinheiro “novo” para a economia e serve para baixar as taxas de juro. Foi assim que a Fed, liderada por Bernanke, ajudou a estabilizar os mercados nanceiros e impulsionou a recuperação económica.
Impacto nas políticas governamentais e empresariais
A abordagem de Ben Bernanke não se limitou ao contexto norte-americano. As suas ideias in uenciaram respostas globais a crises na Zona Euro e em economias emergentes. A base das suas propostas era clara: em tempos de crise, é fundamental garantir liquidez e restaurar a con ança no sistema nanceiro para evitar um colapso mais amplo.
As empresas também encontraram nas ideias de Bernanke um guião para navegar em tempos de incerteza. Por exemplo, ao destacar a importância de redes de crédito resilientes, o Nobel ajudou gestores a redesenharem estratégias de risco e resiliência corporativa.
Livros de Bernanke: pontes entre academia e prática Entre as publicações mais destacadas do economista constam “Essays on the Great Depression” (Ensaios sobre a Grande Depressão), do ano 2000, uma
Economistas pelo mundo continuam a debater as ideias de Bernanke, adaptando-as a contextos locais. No caso de Moçambique, podem ajudar a construir um caminho sólido para o crescimento
Nasceu a 13 de Dezembro de 1953 em Augusta, Geórgia, EUA, e foi presidente da Reserva Federal (Fed), banco central norteamericano, entre 2006 e 2014. Foi nomeado pelo Presidente George W. Bush e reconduzido no cargo pelo sucessor, Barack Obama. Bernanke teve de enfrentar a crise dos ‘subprime’, em 2007-2008, a mais grave do sistema nanceiro desde a Grande Depressão de 1929. Depois de deixar a Fed, Bernanke tornou-se investigador residente do programa de Estudos Económicos da Brookings Institution, em Washington.
compilação de estudos que examina as causas e consequências da Grande Depressão, e “ e Courage to Act” (A Coragem de Agir), de 2015, uma memória da sua liderança na Reserva Federal, que detalha as respostas à crise nanceira de 2008. Estas obras servem tanto para especialistas quanto para leigos interessados em compreender os meandros das crises económicas e as medidas necessárias para mitigá-las.
Outro livro menos conhecido, “In ation Targeting”, de 1999, escrito em co-autoria com outros economistas, discute a relevância das metas de in ação como instrumento para estabilizar economias em tempos de turbulência. Esta obra foi especialmente in uente na denição de políticas monetárias nos mercados emergentes.
Visão de Bernanke como fonte de inspiração
Como Nobel de Economia em 2022, Bernanke rea rmou a sua posição como -
BENJAMIN SHALOM BERNANKE
gura central no debate económico global. O seu trabalho continua a inspirar novos estudos. A pandemia da covid-19, por exemplo, trouxe novos problemas relacionados com questões levantadas por Bernanke nos estudos sobre liquidez e estabilidade nanceira.
Economistas em todo o mundo continuam a debater as ideias de Bernanke, adaptando as suas lições a contextos locais. No caso de Moçambique, as ideias podem ajudar a construir um caminho mais sólido em direcção ao desenvolvimento económico sustentável.
Críticas ao pensamento e medidas de Ben Bernanke
Apesar dos seus contributos, Ben Bernanke também é alvo de críticas. Alguns economistas argumentam que a sua resposta à crise de 2008 bene ciou desproporcionalmente grandes bancos em detrimento das famílias e das pequenas empresas. Além disso, entendem que a política de taxas de juro baixas pro-
LIÇÕES PARA MOÇAMBIQUE
Perante o cenário pós-eleitoral que o País vive desde Outubro do ano passado (manifestações com paralisação da actividade económica), o pensamento de Bernanke oferece lições importantes. Em situações semelhantes, sugere que as autoridades garantam a estabilidade nanceira, promovam a conança dos investidores e implementem políticas scais e monetárias e cazes, para evitar o agravamento da crise. Além disso, um dos legados de Bernanke é a importância de redes de crédito resilientes e da transparência nas relações entre o Governo e o sector privado. Para Moçambique, isso signi caria abordar problemas como o endividamento excessivo.
longadas contribuiu para novas bolhas especulativas.
Outra crítica comum relaciona-se com a falta de soluções estruturais para problemas como a desigualdade económica. Embora as suas políticas tenham estabilizado mercados, muitos questionam se poderiam ser e cazes em economias mais frágeis ou menos desenvolvidas, como a de Moçambique.
Porquê Nobel da Economia em 2022?
Ben Bernanke partilhou a distinção com outros dois economistas: Douglas Diamond e Philip Dybvig. Os três vencedores do Prémio Nobel de Economia de 2022 notabilizaram-se pelos estudos sobre bancos e crises nanceiras.
O reconhecimento a Bernanke deveu-se ao seu artigo de 1983, em que demonstrou que corridas bancárias levaram a falências no sector e que este foi o mecanismo que transformou uma recessão comum na Grande Depressão.
Joel Almeida • Founding Partner, of Forvis Mazars joel.almeida@forvismazars.com
Sem a segurança necessária, os investidores hesitam em colocar o seu capital em Moçambique, o que pode levar a uma desaceleração económica e limitar as oportunidades de crescimento para as empresas locais
Desa os e Oportunidades Para as Empresas em Moçambique em 2025
Moçambique, um país rico em recursos naturais e com um potencial económico significativo, enfrenta desafios consideráveis devido à instabilidade política. As empresas que operam no País devem estar preparadas para navegar neste ambiente volátil. Esta análise aborda os principais pontos de atenção para as empresas, identificando tanto os desafios quanto as oportunidades que podem surgir.
Contextualização da instabilidade
A instabilidade política em Moçambique tem as suas raízes numa combinação de factores, incluindo tensões políticas internas e crises económicas. Estes elementos criam um ambiente de incerteza, que afecta directamente a confiança dos investidores e a operação das empresas.
Causas da instabilidade
Entre as causas principais da instabilidade política em Moçambique estão as tensões políticas entre diferentes grupos, os conflitos armados (frequentemente motivados por rivalidades) e a luta por recursos naturais escassos, como água e minerais. Estes factores aumentam a imprevisibilidade nas políticas governamentais e dificultam a criação de um ambiente estável para os negócios.
Impacto nos investimentos
A instabilidade política resulta numa redução significativa da confiança dos investidores, afectando negativamente o fluxo de investimento estrangeiro no País. Sem a segurança necessária, os investidores hesitam em colocar o seu capital em Moçambique, o que pode levar a uma desaceleração económica e limitar as oportunidades de crescimento para as empresas locais.
Consequências para as empresas
As empresas em Moçambique enfrentam vários desafios operacionais devi-
do à instabilidade política, incluindo riscos de segurança, dificuldades em planear a longo prazo e obstáculos na obtenção de financiamento. Esta incerteza pode levar a despedimentos e à extinção de postos de trabalho, exacerbando os problemas de desemprego e descontentamento social.
Cenário económico para 2025
A instabilidade política em Moçambique é uma preocupação crescente que pode afectar significativamente as condições económicas e de investimento no País até 2025. É essencial que as empresas compreendam as projecções económicas para se prepararem adequadamente para o futuro.
Crescimento do PIB
As projecções para o PIB em 2025 sugerem um crescimento moderado, reflectindo uma recuperação económica gradual. No entanto, a instabilidade política representa riscos significativos para estas projecções, podendo afectar a confiança dos investidores e, consequentemente, o crescimento económico.
Taxa de inflação
A taxa de inflação prevista para 2025 será um indicador crucial das condições económicas e do poder de compra da população moçambicana. A inflação é uma preocupação crescente, pois a instabilidade política pode provocar aumentos nos preços, reduzindo o poder de compra dos consumidores e afectando a procura do mercado.
Taxa de desemprego
A instabilidade política pode levar a um aumento significativo na taxa de desemprego, afectando negativamente a economia. As empresas enfrentam dificuldades operacionais em tempos de instabilidade, resultando em despedimentos e perdas de postos de trabalho. Isto pode gerar um ciclo vicioso de insegurança económica e descontentamento social.
Análise da Instabilidade Política e seus Impactos Económicos
Sectores em risco
Alguns sectores da economia moçambicana são mais vulneráveis à instabilidade política do que outros. Identificar quais os sectores que podem enfrentar os maiores desafios e quais os que podem beneficiar, mesmo em tempos de incerteza, é essencial para as empresas que operam no País.
Sectores vulneráveis
Sectores como o do turismo, da agricultura e da manufactura enfrentam, frequentemente, instabilidade devido a factores políticos. O turismo pode sofrer com a insegurança e a percepção negativa do País, enquanto a agricultura e a manufactura podem enfrentar desafios logísticos e de produção. Estas vulnerabilidades podem resultar em perdas significativas.
Sectores beneficiados
Alguns sectores, como o da tecnologia e segurança, podem prosperar durante períodos de incerteza política. Empresas de tecnologia, que oferecem so-
luções para gestão de crises e segurança, podem encontrar oportunidades de crescimento à medida que a procura por esses serviços aumenta. Além disso, o sector de segurança pode expandir-se devido à necessidade crescente de protecção num ambiente instável.
Sector da energia
O sector da energia é fundamental para o desenvolvimento económico de Moçambique, influenciando diversas indústrias e a qualidade de vida. No entanto, a instabilidade política pode causar atrasos em projectos de energia e gerar incertezas em investimentos, afectando o sector significativamente. A segurança das operações do sector da energia é uma preocupação crítica, especialmente em ambientes instáveis e desafiadores.
Sector da agricultura
A agricultura é vital para a economia moçambicana, fornecendo alimentos e empregos para muitos. A instabilidade política pode prejudicar a produção
agrícola e a distribuição de alimentos, afectando o abastecimento e a segurança alimentar. As empresas agrícolas precisam de ser flexíveis e adaptar as suas estratégias para enfrentar as mudanças e garantir a continuidade da produção.
Conclusão
Em resumo, as empresas em Moçambique devem estar cientes da instabilidade política e das suas possíveis repercussões em 2025. A preparação e adaptação são essenciais para a sobrevivência das empresas num ambiente incerto. Analisar as projecções económicas e os sectores em risco pode ajudar as empresas a desenvolverem estratégias eficazes para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades que surgirem. Para prosperar neste contexto de incerteza, as empresas devem investir em planeamento estratégico, diversificação de riscos e inovação. Com uma abordagem proactiva, é possível transformar desafios em oportunidades e garantir um futuro mais estável e próspero para os negócios em Moçambique. Nenhum sector ca isento de se reinventar perante a crise
Turismo, Um Sector Sob Pressão e Incerteza
Persistente
As notícias de confrontos violentos circulam rapidamente e prejudicam a imagem do País como destino turístico. Os empresários fazem estimativas de perdas elevadas, num cenário de incerteza
Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R.
“
s episódios recentesdeinstabilidade deixam uma marca difícil de apagar. Tornam desaador persuadir os turistas de que Moçambique é um destino seguro”, começou por lamentar o presidente do pelouro de Turismo, Hotelaria eRestauraçãodaConfederaçãodasAssociações Económicas (CTA), Muhammad Abdullah.
A imagem de Moçambique enquanto destino paradisíaco cou manchada. Desde as praias até às reservas naturais, o País tem referências de nível mundial. No entanto, as manifestações pós-eleitoraistêmprojectadoumaimagemagravada de insegurança além-fronteiras. Para um país que ambiciona fazer do turismo um dos sectores vitais (o turismo representa 4% do PIB e emprega 77 mil pessoas), o impacto é profundo. Enquanto os prejuízos causados pela pandemia da covid-19faziampartedeumcenárioglobal, estes ferem directamente a reputação internacional do País.
Cancelamentos e prejuízos
Estimativas apresentadas à E&M apontam para cerca de 10 mil reservas canceladas só na zona de Maputo, entre Outubro e Janeiro, antecipando-se perdas da ordem dos 200 milhões de meticais, de acordo com o director provincial da Cul-
tura e Turismo de Maputo, Lugero Gemo. Em Inhambane, o director provincial de Turismo, Emídio Nhantumbo, mencionou centenas de reservas canceladas desde o nal do ano passado, informando que nem todos os empreendimentos reportaram as suas situações, o que signica que os números são, provavelmente, maiores. Apesar disso, Yassin Amuji, presidentedaAssociaçãodeTurismodaprovíncia, havia declarado à DW não se terem veri cado variações signi cativas no uxo turístico, especialmente em destinos como Vilanculos.
Crise nas companhias aéreas
A aviação comercial, um pilar essencial para o turismo, também está a sofrer um forte impacto. Até ao fecho desta edição da E&M, a Ethiopian Airlines não tinha disponibilizado informação sobre a dimensão do prejuízo. A situação levou à suspensão, pelo menos temporariamente, de voos desta e de outras companhias como a Turkish Airlines, TAAG, Qatar Airways e Airlink. Estas suspensões, embora justi cadas pelas manifestações e instabilidade política, acontecem logo a seguir a meses de falta de divisas no País. Ao di cultar o repatriamento dos lucros, a situação pressionou algumas companhias aéreas estrangeiras como a Ethiopian Airlines e a Qatar, ao ponto de equacionarem, já na altura, a suspensão das suas
“A imagem de Moçambique enquanto destino paradisíaco ficou manchada. As manifestações pós-eleitorais têm projectado além-fronteiras uma imagem agravada de insegurança”
Estimativa de receita perdida pelo sector do turismo, de Outubro até meados de Dezembro de 2024, na zona de Maputo milhões de meticais
“CANCELAMENTOS E INCERTEZA DESAFIARAM-NOS, MAS REINVENTÁMOS O NEGÓCIO”
A dimensão da instabilidade na hotelaria é retratada pelo director de operações do grupo VIP em Moçambique, Gulamhussen
Como é que as manifestações póseleitorais afectaram o desempenho das operações?
As manifestações pós-eleitorais em Moçambique afectaram signi cativamente o desempenho do Grupo VIP, sobretudo nos sectores de eventos e alojamento. Houve uma redução notável na ocupação dos hotéis e um aumento considerável nos cancelamentos de contratos e eventos corporativos. Além disso, registouse uma diminuição na facturação durante este período, causada pela incerteza política e pela limitação da mobilidade, que afectaram directamente a procura por serviços de hotelaria e eventos.
Quais foram as principais estratégias para mitigar os prejuízos?
Para mitigar os impactos da crise, o Grupo VIP reduziu custos operacionais, ajustou despesas, sem comprometer a qualidade do serviço. Fizemos promoções dirigidas ao mercado interno, fortalecemos parcerias com empresas locais, ONG e agências de viagens. Melhorámos as plataformas de reservas e atendimento online e criámos novas ofertas, como espaços para
GULAMHUSSEN
Director de operações do grupo VIP em Moçambique
‘coworking’ e opções gastronómicas voltadas para as comunidades locais. Também reestruturámos o plano de recuperação a médio prazo.
Comparando a crise actual com a pandemia da covid-19, que lições foram aplicadas?
A agilidade nas decisões: durante a pandemia, desenvolvemos uma maior capacidade de adaptação a situações imprevistas, o que foi essencial na resposta à crise actual. Também a diversi cação de receitas, pois aprendemos a reduzir a dependência de um único segmento, criando novos produtos para melhor atracção. Embora os prejuízos com as manifestações sejam mais localizados e menos prolongados do que os da pandemia, a crise actual apresentou problemas únicos, como o impacto directo no mercado corporativo e na con ança dos clientes internacionais. No entanto, a recuperação tem sido mais rápida, dependendo, contudo, da estabilização política.
Quais são as expectativas do Grupo VIP para 2025?
O ano de 2025 apresenta-se como uma oportunidade para impulsionar o crescimento sustentável e reforçar o contributo do sector privado no desenvolvimento económico e social do nosso país. Estamos con antes de que 2025 será um ano de consolidação e de crescimento sustentável.
A paralisação de actividades prejudicou os serviços ligados à aviação
operações no País. Outras ainda, como a francesa Air France, reavaliaram a intenção de voar para Moçambique. “A combinação de instabilidade política e problemas económicos cria um cenário difícil para o transporte aéreo e, consequentemente, para o turismo”, constatou Muhammad Abdullah.
Incerteza e difícil recuperação
Em Inhambane, Yassin Amuji, presidente da Associação de Turismo, tenta projectar optimismo, destacando os voos directos para Vilanculos, que permitemqueturistascheguemàspraias sem passar pelas zonas de protestos. Contudo, mesmo este pequeno alívio, enfrenta problemas de um mercado global cada vez mais competitivo.
Se as manifestações continuarem a ser convocadas e a tensão política persistir, o futuro do turismo em Moçambique permanecerá incerto. A percepção de que novos protestos podem eclodirdesincentivainvestimentoseviagens. O turismo, vital para a economia, depende da estabilidade para se reerguer, mas enfrenta um cenário onde a recuperação plena parece distante. “Moçambique, com o seu enorme potencial turístico,
“Se as manifestações continuarem a ser convocadas, o futuro do turismo permanecerá incerto. A percepção de que novos protestos podem eclodir desincentiva as viagens”
precisa urgentemente de acções concretas para restaurar a con ança e recuperar a posição como destino de excelência”, defende Muhammad Abdullah Apesar do cenário, há esperança de recuperação. O presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma, acredita que o sector “pode superar a crise”, desde que haja estabilidade política e segurança. Por seu turno, o director provincial da Cultura e Turismo de Maputo, Lugero Gemo, também manifestou optimismo, a rmando que, nos dias que correm, o movimento habitual tende a regressar, o que também se poderá traduzir na recuperação do sector.
Para recuperar o turismo, o País precisa de reforçar a segurança, investir em infra-estruturas e promover a sua imagem internacionalmente. O diálogo entre o Governo e o sector privado será essencial para restaurar a con ança dos visitantes e transformar desa os em oportunidades. Incentivar o turismo interno e diversi car as ofertas também serão passos decisivos. O sucesso dependerá da capacidade de adaptação e inovação do sector.
João Gomes • Partner @BlueBiz joaogomes@bluebizconsultoria. co.mz
Como demonstra o momento actual em Moçambique, os conflitos são inevitáveis em qualquer ambiente onde interagem pessoas com perspectivas, objectivos e necessidades distintas.
Seja num país, numa comunidade, numa organização empresarial ou até mesmo em relações interpessoais, o desafio não é apenas resolver conflitos, mas fazê-lo de forma construtiva e duradoura: todas as partes saem a ganhar e todas ficam a ganhar.
Neste artigo, convido os meus leitores/as a responderem à seguinte questão: Será que é possível alcançar acordos em que TODOS saiam a ganhar e fiquem a ganhar?
Para complementar esta reflexão sugiro a leitura de dois artigos que escrevi nesta coluna:
- “Porque é (Muito) Difícil Negociar em Moçambique?”1 .
- “Vai negociar sem um “Plano B?”2
1. O Conceito de Ganhar-Ganhar?
Na minha opinião Ganhar-Ganhar (GG) é: - Uma forma de resolução de conflitos, pela via negocial, - diferente das abordagens competitivas (Ganhar-Perder), - diferente dos compromissos que muitas vezes resultam em soluções insatisfatórias para todos (Perder-Perder).
- Através do GG, as partes buscam soluções para o conflito, de forma colaborativa, - e criativa, - visando a maximização do valor compartilhado (i.e., “aumentar o bolo”), - permitindo que todos alcancem os seus objectivos principais, - sendo que, para isso, é necessário que todas as partes cedam (i.e., “dividir o bolo”), - mas sem abrir mão das suas maiores prioridades.
Con itos Sem Perdedores: O Poder da Abordagem “Ganhar-Ganhar”
2. Características Fundamentais do Ganhar-Ganhar Como criar as condições para que um acordo GG funcione na prática?
Mentalidade de Abundância: Para adoptar o GG, é fundamental acreditar que é possível criar soluções que beneficiem todos. Esta mentalidade contrasta com o pensamento de escassez, onde um ganho para um é sempre visto como uma perda para o outro.
Foco nos Interesses e Não nas Posições: Muitas vezes, os conflitos surgem porque as partes ficam presas às suas posições — o que desejam — em vez de explorar os interesses subjacentes — porque desejam. Identificar esses
As partes envolvidas num acordo GG devem sentir que todas as suas prioridades foram atendidas
interesses permite desenvolver soluções criativas (de aumentar o bolo) que atendam às necessidades de todos.
Criatividade nas Soluções: Encontrar uma solução GG exige, muitas vezes, criatividade. As partes devem estar dispostas a explorar opções, alternativas e sair da zona de conforto para encontrar um caminho que satisfaça todos.
Comunicação Clara e Assertiva: Uma comunicação eficaz é essencial para criar um ambiente de confiança e compreensão. Isso inclui ouvir activamente, validar os sentimentos das partes e articular os próprios interesses de forma respeitosa.
Confiança e Cooperação: Conflitos são resolvidos mais rapidamente e de
forma mais eficaz quando há confiança entre as partes. Esta confiança é fortalecida por um histórico de cooperação e soluções bem-sucedidas no passado (i.e. anteriores negociações do tipo GG).
3. Critérios para Definir um Acordo Ganha-Ganha Como saber se um acordo é GG e beneficia, realmente, todas as partes?
Satisfação das Necessidades: Todas as partes envolvidas sentem que as suas prioridades foram atendidas. Isso não significa que todos tenham obtido tudo o que desejavam, mas sim que os pontos mais importantes para cada um foram considerados e, na medida do possível, atendidos. As soluções encontradas são relevantes e significativas para cada parte: as partes saem a ganhar.
Equilíbrio de Benefícios: Os benefícios obtidos por cada parte são proporcionais aos seus investimentos e contribuições. Não precisa de ser uma divisão perfeitamente igualitária, mas deve haver uma percepção de justiça e equidade. Os benefícios a longo prazo são considerados. É importante avaliar não apenas os ganhos imediatos, mas também as implicações futuras do acordo.
Relação de Confiança: O acordo fortalece a relação entre as partes. A confiança mútua é essencial para a manutenção de um acordo a longo prazo. As partes envolvidas sentem-se respeitadas e valorizadas.
Impacto Positivo: O acordo gera um impacto positivo para todas as partes envolvidas e para a comunidade em geral.
Sustentabilidade: O acordo é viável a longo prazo. As soluções encontradas são sustentáveis e não geram novos problemas ou conflitos no futuro. Os recursos utilizados são geridos de forma responsável: as partes ficam a ganhar.
4. Exemplos de Ganhar-Ganhar Parceria Angola-Namíbia na Gestão de RecursosHídricos: Um exemplo notável ocorreu entre Angola e Namíbia na ges-
tão compartilhada do rio Cunene, essencial para ambos os países. Após anos de disputa pelo uso dos recursos hídricos, as nações firmaram um acordo de cooperação para a construção de barragens e sistemas de distribuição de água. Esta parceria assegurou que comunidades de ambos os lados tivessem acesso equitativo à água, promovendo a segurança hídrica e evitando conflitos futuros.
Desenvolvimento Conjunto no Delta doNíger: NoDeltadoNíger,Nigéria,conflitos entre empresas petrolíferas e comunidades locais eram comuns devido à exploração de recursos naturais. Através de negociações baseadas no GG, algumas empresas implementaram programas de responsabilidade social corporativa, investindo em infra-estrutura e educação nas comunidades. Isso reduziu tensões e trouxe benefícios mútuos: as comunidades desenvolveram-se e as empresas garantiram operações mais estáveis.
Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA): A criação da ZCLCA envolveu negociações complexas entre os países africanos para harmonizar tarifas e regulamentos comerciais. Ao adoptar uma abordagem GG, os Estados-membros concordaram em abrir os seus mercados de forma gradual, permitindo benefícios económicos compartilhados enquanto protegiam sectores vulneráveis. Esse acordo fortalece a integração regional e cria oportunidades de desenvolvimento para todos os países envolvidos.
5. Estratégias de Implementação do Ganha-Ganha Crie um Espaço Seguro: Comece por criar um ambiente onde as partes se sintam confortáveis para compartilhar os seus interesses e preocupações.
Pratique a Escuta Activa: Demonstre interesse genuíno pelas necessidades e perspectivas dos outros. Isso fortalece a confiança e ajuda a identificar soluções criativas.
Foque-se nos Objectivos Comuns: Identifique as metas que as partes compartilham e use-as como base para construir uma solução conjunta.
Use Ferramentas de Mediação: Em situações complexas, um mediador/negociador profissional pode ajudar a facilitar o diálogo e garantir que o processo permaneça produtivo.
Mantenha a Flexibilidade: Esteja disposto a ajustar as suas posições e considerar alternativas (Plano “B”2) que atendam aos interesses de todos.
6. Conclusão
A abordagem Ganhar-Ganhar (GG) reflecte um princípio essencial de colaboração e maximização de benefícios compartilhados (“aumentar o bolo, antes de dividi-lo”). Ela destaca-se como uma alternativa construtiva e eficiente às abordagens tradicionais de resolução de conflitos (Ganhar-Perder; Perder-Perder), promovendo soluções sustentáveis e relações duradouras.
As características fundamentais da abordagemGanhar-Ganhar,comomentalidade de abundância, foco nos interesses, criatividade nas soluções, comunicação clara e assertiva demonstram que é possível alcançar resultados que respeitem os interesses principais de todas as partes. Estas qualidades não apenas reforçam a eficácia do modelo, mas também criam um ambiente propício à cooperação e ao entendimento mútuo futuros.
Os critérios para identificar um acordo mutuamente benéfico, apresenta-
Um acordo “Ganhar-Ganhar” será bem implementado se as partes compartilharem interesses
dos no artigo, oferecem uma base prática para avaliar a eficácia da solução proposta. Eles ajudam a garantir que os acordos não apenas atendam às necessidades imediatas, mas também sustentem relações positivas e impactos sociais duradouros.
Os exemplospráticos, especialmente no contexto africano, evidenciam que o GG pode ser aplicado em situações diversas, desde conflitos territoriais, relações comerciais ou relações interpessoais. Estes casos mostram que, quando bem implementado, o modelo pode gerar benefícios substanciais para todas as partes envolvidas.
As estratégias práticas de implementação, como a criação de espaços seguros, a escuta activa, foco nos objectivos comuns, a flexibilidade e o uso de ferramentas de mediação fornecem um guia claro para transformar o GG em realidade. Elas demonstram que com planeamento e comprometimento é possível alcançar acordos genuinamente colaborativos.
Em suma, o Ganhar-Ganhar não é apenas uma técnica de negociação e de resolução de conflitos: é uma filosofia que promove a confiança, a empatia, a colaboração, a criatividade para “aumentar o tamanho do bolo negocial, antes de dividi-lo” e, bem assim, reafirma que o verdadeiro sucesso está em alcançar acordos moldando um futuro mais colaborativo e mais justo.
Susana Cravo • Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Re orestar.org
Guardiões do Futuro: Capacitação Para um Mundo Regenerativo
ANo próximo ano lectivo, o “Círculo da Paz” chegará às escolas e pontos focais da comunidade, gerando uma reflexão colectiva sobre como construir
uma Paz positiva no quotidiano
Kutsaca ONGD, Organização com sede em Moçambique e Portugal há dez anos, é um dos parceiros escolhidos pela TechID By ISEL – Instituto Superior de Engenharia de Lisboa e UNU – Universidade das Nações Unidas, para, através do Clube dos Embaixadores, capacitar a comunidade local, especialmente os jovens e as mulheres, com conhecimentos e competências em práticas sustentáveis para melhorar as condições de vida e promover o desenvolvimento regenerativo.
Este Programa, dirigido a Activistas Locais e Rurais, pretende inspirar e capacitar Guardiões do Lugar, a pensar, cuidar e desenvolver (o)s seu(s) Lugares a partir de um paradigma regenerativo, que vai muito além da sustentabilidade e que se foca, sobretudo, na essência e potencial local. Para isso, contarão com uma equipa de Especialistas e Mentores, verdadeiramente apaixonados pelo Planeta e com vasta experiência, local e internacional. Através de uma pedagogia colaborativa e experiencial, sempre implementada em
Comunidades cocriadoras da regeneração dos seus lugares
parceria com pontos focais da comunidade, e com o apoio de tecnologia de ponta, o Programa passará também a abranger novos temas e públicos.
O BCI é patrocinador oficial do Clube dos Embaixadores
Em 2024, esta iniciativa – centralizada na Aldeia de Mahungo, Vila da Praia do Bilene, Província de Gaza, contou com dez Embaixadores (Jovens) dos quais duas Delegadas. Ao longo do ano lectivo, foram implementadas um total de oito Acções e 31 Sessões, que envolveram cinco escolas locais, acções de sensibilização comunitárias – na missa, no mercado, na praia, nas reuniões comunitárias e em parceria com as Autoridades locais, a Direcção das escolas e outros importantes pontos focais da comunidade, abrangendo e impactando um total de 420 pessoas da comunidade.
Sustentabilidade,DesenvolvimentoRegenerativo, Alterações Climáticas, Direitos Humanos, Justiça de Género e Paz Positiva foram os temas co-aprendidos numa reflexão conjunta e trazidos pelos Próprios, na sua linguagem, com os seus exemplos práticos, juntos dos seus Pares e comunidade.
A 1.ª Edição do curso “Liderança Regenerativa” foi disponibilizada a todos os parceiros ao longo do mês de Julho e Agosto e será realizada novamente em 2025. A última acção sobre Paz Positiva foi realizada em Novembro, na missa, um importante local de reunião da comunidade. No próximo ano lectivo, o “Círculo da Paz” no formato metodológico original chegará às escolas e pontos focais da comunidade, gerando uma reflexão colectiva sobre como construir uma Paz positiva no quotidiano, baseada no diálogo, escuta, pertença, transparência, justiça e solidariedade. Um enorme agradecimento ao BCI, patrocinador oficial do Clube dos Embaixadores, aos novos Parceiros, que apostam na nossa metodologia, que já revela impacto local, e a toda a Equipa e Parceiros envolvidos nas diferentes acções ao longo do ano.
Gonçalo Heleno • IT Infrastructure & Security Director, ASSECO PST
Há pouco mais de uma década, o desenvolvimento de aplicações era dominado pelo chamado paradigma monolítico. Grandes blocos de código concentravam as funcionalidades de um sistema, criando soluções robustas, mas difíceis de se redimensionar, ajustar-se a diferentes escalas. Apesar de e cientes no seu tempo, estas arquitecturas tornaram-se um entrave para organizações que queriam acompanhar a velocidade dos negócios.
Vivemos num mundo onde cada segundo conta. Seja no sector nanceiro, na área de petróleo e gás, indústria ou organizações enfrentam o desa o constante de inovar e crescer. A transição para a ‘hybrid cloud’ foi, assim, uma evolução natural, surgindo como a resposta para quem quer liderar a transformação digital.
Qual é, então, o caminho certo? A solução está em modernizar aplicações existentes e construir soluções inovadoras, aproveitando as vantagens da ‘cloud’ híbrida, que combina os benefícios das ‘clouds’ públicas e privadas, com escalabilidade e ciclos de desenvolvimento mais rápidos.
Muitas empresas ainda dependem de aplicações tradicionais, sólidas, mas limitadas. Tornar estas aplicações ‘cloud ready’ — através da ‘containerização’ — signi ca dar-lhes um impulso, agilidade e capacidade de se redimensionarem, sem comprometer a segurança ou a estabilidade.
Já quando o objectivo é romper barreiras, o modelo ‘cloud native’ é o caminho a seguir. Desenvolver aplicações em microsserviços signi ca criar sistemas mais rápidos, resilientes e independentes, que evoluem ao ritmo do negócio. Cada microsserviço é responsável por uma única funcionalidade e pode ser implementado e dimensionado de forma autónoma.
No entanto, tanto a modernização de aplicações ‘legacy’ como a construção de soluções inovadoras trazem novos desa os. Como garantir a comunicação uída entre múltiplos microsserviços? Como assegurar que os dados permanecem seguros e aces-
Cloud Ready, Cloud Native e Hybrid Cloud
Acelere o Futuro: Modernize, Inove e Dimensione
síveis? E como monitorizar a saúde de sistemas complexos?
O papel da orquestração:
Red Hat OpenShift
Para gerir aplicações modernas, sejam elas baseadas em ‘containers’ ou microsserviços, é essencial uma plataforma que ofereça exibilidade e controlo. O Red Hat OpenShift surge como a base ideal para orquestrar esses ambientes, permitindo escalabilidade e e ciência operacional na ‘hybrid cloud’. Ao adoptar uma abordagem híbrida, o OpenShift garante que as organizações combinam o melhor dos dois mundos: a agilidade e escalabilidade da cloud pública com o controlo e segurança da cloud privada. Esta orquestração simpli ca a gestão de ecossis-
O IBM Storage Fusion é um alicerce para construir um ecossistema resiliente
temas complexos, garantindo que os recursos são utilizados de forma e ciente e alinhados com as necessidades de negócio.
Escrutínio em tempo real: o papel do IBM Instana
A monitorização é hoje um dos maiores desa os em arquitecturas modernas, especialmente em ambientes baseados em microsserviços. Cada componente tem o seu ciclo de vida e interage com muitos outros, pelo que qualquer falha pode desencadear reacções em cadeia.
O IBM Instana surge como uma solução para este desa o, oferecendo escrutínio total e em tempo real sobre aplicações, serviços e infra-estruturas. Com uma plataforma de monitorização abrangente, as organizações podem obter ‘insights’ detalhados sobre o desempenho dos sistemas, detectando proble-
mas antes que afectem os utilizadores. Seja um banco a processar transacções nanceiras ou uma re naria a monitorizar sistemas críticos, o Instana oferece análise interna valiosa que assegura que tudo funciona sem falhas. No contexto da cloud híbrida, o Instana fornece ainda um panorama uni cado de sistemas que operam tanto em ambientes locais quanto em ‘clouds’ públicas, garantindo uma vigilância contínua, e ciente e con ável.
A história da persistência:
IBM Storage Fusion
Imagine agora que cada microsserviço é uma ilha num arquipélago. Para que a informação circule entre as ilhas de forma rápida e segura, é indispensável uma solução de armazenamento distribuído. É aqui que entra o IBM Storage Fusion.
Esta solução fornece armazenamento persistente em ambientes ‘containerizados’, garantindo a integridade e acessibilidade dos dados, mesmo em cenários de falha. Além de ser uma tecnologia avançada, o IBM Storage Fusion é um alicerce para construir um ecossistema resiliente, destacando-se pela capacidade de se redimensionar com o crescimento das organizações.
Em infra-estruturas híbridas, o Storage Fusion assegura que os dados permanecem disponíveis e protegidos, seja para suportar aplicações ‘cloud ready’ ou ‘cloud native’. Esta abilidade torna-o num protagonista em sectores exigentes, como o de petróleo e gás, ou no sector nanceiro, para garantir resposta em factores críticos para o sucesso.
Ao integrar-se perfeitamente em arquitecturas de ‘cloud’ híbrida, o IBM Storage Fusion elimina barreiras entre ambientes locais e de ‘cloud’ pública, criando uma camada de persistência que suporta a transformação digital de forma segura.
O futuro pertence às empresas preparadas para inovar. Modernizar aplicações, adoptar microsserviços e implementar soluções híbridas são os pilares que permitem modernizar, dimensionar e entregar rapidamente, com maior qualidade e menos riscos. Os horizontes digitais são vastos. Cabe-nos, juntos, desbravá-los.
moçambique digital
66 EBUSINESS
Através da conectividade avançada, soluções digitais inovadoras e parcerias estratégicas, a Vodacom Business está a impulsionar o crescimento digital das organizações em Moçambique. Como a digitalização pode tornar os negócios mais competitivos, e cientes e preparados para o Futuro
JOSÉ CORREIA MENDES
“Vodacom Business é a Parceira Fundamental na Evolução Digital e dos Negócios das Empresas Nacionais”
A empresa aposta na expansão do 4G e na futura implementação do 5G para impulsionar as organizações e destaca soluções exíveis, como os pacotes personalizados e o modelo “pay-as-you-go”, que facilitam o acesso à tecnologia
Texto Felisberto Ruco & Pedro Cativelos • Fotogra a Mariano Silva
um mundo cada vez mais digital, as empresas multinacionais que operam em África precisam de soluções de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) robustas, seguras e flexíveis para impulsionar a sua expansão. Com presença em 47 países africanos e suporte operacional local em oito mercados estratégicos, os serviços digitais e as plataformas de conectividade que garantem eficiência e inovação do Vodacom Business são, cada vez mais, um parceiro de crescimento das empresas nacionais
José Correia Mendes, Director-Executivo da Vodacom Business, sublinha o papel da empresa na transformação digital em Moçambique, com enfoque nas Pequenas e Médias Empresas (PME). E destaca as soluções de conectividade fiável, os serviços na “cloud” e a segurança digital, assim como iniciativas de inclusão digital que promovem o acesso às tecnologias em zonas remotas.
Líder nas parcerias estratégicas da Vodacom com grandes nomes do sector tecnológico, como a Microsoft, e os planos futuros de expansão através de tecnologias 5G e Inteligência Artificial (IA), o gestor reforça o compromisso da Vodacom Business em liderar a digitaliza-
“A Vodacom
Business
está
ção e contribuir para o desenvolvimento económico sustentável do País. “Se o objectivo é expandir, inovar e conectar, nós somos o parceiro tecnológico fundamental na evolução digital e dos negócios das empresas nacionais”, diz. Leia a entrevista a seguir.
Se lhe pedirmos uma visão geral sobre a Vodacom Business e o seu papel no apoio à transformação digital das PME e grandes empresas em Moçambique, qual seria?
A Vodacom Business desempenha um papel fundamental no apoio à transformação digital, tanto de Pequenas e Médias Empresas (PME), quanto de grandes corporações em Moçambique. Em linhas gerais, a Vodacom posiciona-se como uma empresa de tecnologias, para além de uma empresa de telecomunicações no País, e detém uma presença significativa em vários países de África. A unidade Vodacom Business é especificamente direccionada para oferecer soluções empresariais, que atendem as necessidades dos negócios modernos, focando-se em tecnologias que impulsionam a eficiência e a sustentabilidade operacional das organizações. Mais do que apresentar uma campanha dirigida às empresas, este mote traduz o
a
desafiar as empresas
a aumentarem os seus níveis de digitalização e, consequentemente, a promoverem a maturidade do mercado nacional”
compromisso da Vodacom Business em promover o crescimento da economia digital no País.
Olhando precisamente para as organizações, qual é o elemento diferenciador da Vodacom Business no mercado moçambicano ao nível das soluções digitais?
A Vodacom posiciona-se como um parceiro tecnológico de eleição. Numa altura em que a transformação digital e a modernização tecnológica das empresas e dos mercados são um caminho de sentido único e obrigatório, a Vodacom Business compromete-se a ajudar as empresas a tirar partido de um universo de novas ferramentas e de tecnologias capazes de transformar os negócios e criar oportunidades inexploradas. “Ligados temos tudobom” — é o nosso lema. E isso aplica-se à operação no dia-a-dia, na forma como a Vodacom Business está a desafiar as empresas a aumentarem os seus níveis de digitalização e, consequentemente, a promoverem a maturidade do mercado nacional, o que terá um impacto significativo na inovação, emprego, crescimento e competitividade do País. Nesta jornada, conta com infra-estrutura sólida, acessível e robusta, que garante acesso a serviços fiáveis, mesmo em áreas remotas, tornando-se na opção para empresas que procuram qualidade na entrega de serviços.
A Vodacom mantém a sustentabilidade sempre em mente, é assim?
Reconhecemos a importância da responsabilidade ambiental e social,
JOSÉ CORREIA MENDES Director-Executivo da Vodacom Business
oferecendo soluções que ajudam as empresas a operar de maneira mais sustentável. Isto inclui a promoção de práticas que reduzem a pegada de carbono e propostas sólidas em questões de responsabilidade corporativa. Com uma presença histórica no tecido empresarial moçambicano, temos uma compreensão profunda das necessidades do mercado e da dinâmica económica local, para oferecer soluções que não apenas atendam a demandas globais, mas que sejam também relevantes e ajustadas ao contexto local. Isto no sentido de investir e aperfeiçoar continuamente a sua arquitectura de rede, tirando o máximo partido dos activos tecnológicos e garantindo a excelência da conectividade móvel e fixa de última geração, com soluções de redundância que garantam grandes larguras de banda e elevada disponibilidade, resiliência e acesso.
A Vodacom tem vindo a lançar vários programas como o Vodacom Smart Solutions e iniciativas de conectividade.
Pode explicar como estes programas ajudam as empresas a crescer?
Temos vários programas nesse sentido, mas aqui destacaria o Vodacom Smart Solutions, entre outras iniciativas de conectividade que desempenham um papel crucial no apoio ao crescimento das empresas em Moçambique. Estes programas oferecem uma série de benefícios, incluindo: acesso à Tecnologia Avançada: tecnologias de ponta para optimizar operações; conectividade Confiável: acesso à Internet de alta velocidade e redes seguras; expansão do mercado: ferramentas digitais para alcançar novos mercados e clientes; soluções personalizadas: tecnologias adaptadas às necessidades específicas de cada empresa; apoio à Transformação Digital: e adopção de novas tecnologias para melhorar a eficiência operacional e a experiência do cliente.
Capacitação e Formação: treino para equipas das empresas para utilizarem novas tecnologias de forma eficaz; fomento à inovação — ambiente propício à inovação para desenvolver novos produtos e serviços; redução de custos operacionais: au-
tomatização de processos; e optimização do uso de recursos para reduzir custos. Monitorização e Análise de Dados: ferramentas para monitorizar operações e desempenho, permitindo tomadas de decisões informadas.
Ao fornecer suporte técnico, conectividade e soluções inovadoras, estes programas capacitam as empresas a crescer e a adaptar-se a um ambiente de negócios em constante mudança.
Soluções Digitais Para as PME Que tipo de soluções e iniciativas específicas a Vodacom Business oferece para melhorar a eficiência operacional das PME moçambicanas?
As PME precisam de se adaptar a esta era da constante mudança para que possam garantir a sua sustentabilidade e continuidade do seu negócio. A Vodacom tem-se ajustado a esta realidade, criando soluções eficientes e robustas à medida, para ajudar na transição e transformação digital. A aposta em soluções que facilitam o trabalho remoto e a colaboração de equipas em ambiente digital, pla-
JOSÉ CORREIA MENDES
Licenciado em Direito e com pós-graduação em Gestão de Empresas pela GIBS/ Universidade de Pretória. Ocupa actualmente o cargo de Director-Executivo da Vodacom Business Moçambique, possui mais de 20 anos de experiência no sector das Telecomunicações, é o principal responsável pelo desenvolvimento estratégico desta área de negócios.
taformas de gestão e facturação, a capacitação e suporte nas ferramentas de digitalização (componente conectividade e aplicacional).
As ofertas da Vodacom são subsidiadas para adequação à realidade local e têm gerado um impacto significativo na redução do custo para este segmento. Temos vindo a desenvolver iniciativas para verticais como a área do turismo, por exemplo, na qual promovemos soluções integradas e desenhadas para acomodar as necessidades específicas.
Inovação e Impacto
A Vodacom tem sido pioneira em inovações como o Vodacom CloudConnect. Como é que estas soluções têm ajudado as PME a modernizarem-se e a tornarem-se mais competitivas?
A Vodacom, com inovações como o Vodacom CloudConnect, tem sido essencial na modernização e competitividade das Pequenas e Médias Empresas (PME) em Moçambique. As soluções em nuvem oferecem vários benefícios, permitindo acesso à Tecnologia de Ponta, facilitando
o uso de soluções de “cloud” computing, que antes eram caras e complexas e, com isso, a redução de custos em infra-estrutura, por exemplo.
Isto leva à escalabilidade, permitindo que as PME alcancem as suas operações conforme necessário, aumentando a eficiência, com ferramentas para colaboração em tempo real e automação de processos, aumentando a produtividade.
Depois, há a melhoria na tomada de decisões, uma vez que providencia acesso a dados e análises em tempo real para decisões mais informadas. Claro que a segurança de dados é fundamental, oferecendo recursos de segurança avançados para proteger informações. De um ponto de vista mais macro, as vantagens de tudo isto são um maior acesso aos mercados, sendo que as PME podem alcançar novos clientes de forma eficiente, através de plataformas digitais, com inovação e agilidade, pois estas soluções permitem que
as soluções da Vodacom, enquanto pacotes empresariais personalizáveis ou modelos baseados em “pay-as-you-go”, ajudam a superar estas barreiras? As soluções da Vodacom, incluindo pacotes empresariais personalizáveis e modelos “pay-as-you-go”, ajudam as Pequenas e Médias Empresas (PME) a superar restrições orçamentais de várias maneiras. Estas soluções oferecem flexibilidade financeira, permitindo que as PME escolham serviços adequados às suas necessidades e orçamento. O modelo “pay-as-you-go” permite pagamentos apenas pelo uso, evitando investimentos altos iniciais e reduzindo custos fixos operacionais. Além disso, garante acesso à tecnologia avançada, melhora o planeamento financeiro com custos mensais previsíveis e oferece escalabilidade para ajustar operações de acordo com o necessário. Esta abordagem reduz riscos financeiros e facilita a inovação,
“As empresas precisam de se adaptar a esta era da constante mudança para que possam garantir a sua sustentabilidade e nós temo-nos ajustado a esta realidade, criando soluções eficientes e robustas à medida das necessidades”
as mesmas experimentem novas ideias e se adaptem rapidamente às mudanças de mercado. Todos estes factores ajudam as PME a modernizarem-se, aumentando a sua competitividade e contribuindo para o crescimento económico em Moçambique. A Vodacom facilita esta transformação digital com soluções acessíveis e eficazes.
Conectividade, Inclusão Digital, Custos e Acessibilidade
A conectividade é essencial para o crescimento das PME. Como é que a expansão da rede 4G e os planos da rede 5G da Vodacom podem beneficiar estas empresas?
A necessidade de estar permanentemente conectado e a mobilidade que caracteriza grande parte do tecido empresarial moçambicano requerem cobertura e capacidade da rede móvel da Vodacom; a nossa rede 4G e 5G garante a possibilidade de estar permanentemente conectado e disponível para o negócio.
As PME enfrentam, frequentemente, restrições orçamentais. Como é que
contribuindo para que as PME sejam mais competitivas e adaptáveis, mesmo em face de limitações financeiras.
Parcerias de Confiança
A Vodacom colabora com organizações locais e internacionais para promover a digitalização das PME? Pode destacar parcerias, como as com a Microsoft Azure ou outras?
A Vodacom tem vindo a desenvolver uma proximidade com organizações relevantes da área tecnológica. Dou aqui o exemplo da colaboração com a Microsoft, parceiro oficial para a promoção no mercado nacional de produtos como o Office 365. Em paralelo, decorrem discussões diversas para cativar as empresas líderes em tecnologia como a AWS, Google e Huawei, para soluções de “cloud”. A nível local estamos em colaboração estreita com todas as iniciativas direccionadas para o segmento PME, designadamente na banca, empresas de tecnologias e sector estatal e ONG para o desenho e financiamento de soluções dimensionadas a realidade do nosso País.
AS SOLUÇÕES DIGITAIS DA VODACOM BUSINESS
No caminho de transformação digital, a Vodacom tem investido, nos últimos anos, em soluções para:
Mas, o que é a Vodacom Business? É uma unidade empresarial da Vodacom, líder em soluções de TIC para empresas multinacionais e organizações em África. Com presença em 47 países do continente africano, a empresa oferece serviços digitais avançados que permitem às empresas operar de forma segura, e ciente e integrada em várias geograas. Através da sua rede híbrida Multiprotocol Label Switching (MPLS) – Virtual Private Network (VPN), a Vodacom Business proporciona conectividade segura para empresas, garantindo uma infra-estrutura robusta para a digitalização dos negócios. Com soluções exíveis e personalizadas, a empresa facilita a implementação de nuvens híbridas (privadas e públicas), colaboração inteligente e Internet das Coisas (IoT), permitindo a optimização de operações e maior competitividade no mercado. O suporte ao cliente é um dos grandes diferenciais da Vodacom Business. A empresa disponibiliza um centro de operações 24/7 com atendimento multilingue, garantindo monitorização constante das operações e uma resposta rápida a qualquer necessidade. Além disso, oferece facturação exível, adaptada às exigências das multinacionais, e um portefólio abrangente de soluções TIC, que inclui conectividade xa e móvel gerida, soluções “multicloud” e ferramentas de comunicação uni cada para um ambiente de trabalho mais produtivo. Com mais de 14 anos de experiência no apoio à internacionalização de empresas africanas, posiciona-se como o parceiro tecnológico ideal para organizações que procuram inovação, segurança e crescimento sustentável no continente.
CONECTIVIDADE FIÁVEL01
Infra-estrutura robusta com Internet rápida e redes móveis, permitindo acesso a ferramentas digitais.
SOLUÇÕES NA CLOUD 02
Serviços de computação em nuvem que facilitam o armazenamento e a colaboração em tempo real.
COMUNICAÇÕES UNIFICADAS03
Ferramentas como VoIP e videoconferência, melhorando a comunicação interna e externa.
IOT E AUTOMAÇÃO04
Soluções que conectam dispositivos e colectam dados em tempo real permitindo que empresas monitorizem e giram activos aumentando a eficiência.
INICIATIVAS DE INCLUSÃO DIGITAL 08
Acesso à tecnologia e à informação a comunidades sub-representadas, promovendo um ambiente mais equitativo.
SUPORTE E FORMAÇÃO07
Consultoria e suporte técnico para implementação de soluções digitais.
ANÁLISE E NEGÓCIOS INTELIGENTES05
Ferramentas de análise de dados que ajudam as empresas a obter insights sobre as suas operações, permitindo decisões que podem resultar em melhorias na eficiência.
SOLUÇÕES DE SEGURANÇA06
Cibernética para proteger dados e informações sensíveis, garantindo a confiança dos clientes e a conformidade com regulamentações.
Arte Digital
Sector Público
INATRO quer criar centros para exames de condução “inteligentes”
Com vista a dinamizar e modernizar o processo de obtenção da carta de condução, o Instituto Nacional dos Transportes Rodoviários (INATRO) pretende criar centros “inteligentes” para exames de condução. Um centro desta natureza utiliza, essencialmente, recursos tecnológicos, como câmaras de vigilância, sensores, Inteligência Artificial (IA) e sistemas de monitorização digital.
Tudo para assegurar que os exames de condução sejam realizados de forma justa, segura e eficiente, propor-
Malangatana: legado imortalizado em centro digital
Malangatana Valente Ngwenya (19362011) foi um dos mais prestigiados artistas plásticos de Moçambique, cujas contribuições para a cultura ultrapassaram fronteiras e marcaram a história das artes visuais no País. Conhecido principalmente pelas suas pinturas vibrantes e repletas de simbolismo, Malangatana também se destacou como escultor, poeta e figura activa na promoção da cultura moçambicana.
Como forma de preservar e promover o seu legado, a família de Malangatana, sob a liderança do filho Mutxini Ngwenya, está a desenvolver um projecto inédito: o Centro de Interpretação Di-
Comunicação
gital Malangatana. Este centro, que será localizado em Matalana, na província de Maputo, irá disponibilizar obras, arquivos e outros materiais do artista em formato digital. A iniciativa visa proporcionar acesso global à rica produção artística, permitindo que cidadãos de qualquer parte do mundo possam conhecer a sua trajectória e contribuições artísticas. O projecto insere-se nas celebrações do 90.º aniversário de Malangatana, em 2026. Além de reunir as suas obras e arquivos, o centro destacará os numerosos prémios recebidos por Malangatana ao longo da sua vida, como a Medalha Nachingwea em 1995.
Investigadores conseguem controlar aplicações com os pés, ao caminhar
Investigadores da Universidade de Waterloo, no Canadá, criaram uma tecnologia que permite controlar aplicações de smartphones com gestos dos pés enquanto se caminha. Inspirado pela necessidade de evitar interrupções, o professor Daniel Vogel liderou uma equipa
que identificou sete gestos de marcha integrados num protótipo de controlo de auriculares.
Os participantes conseguiram tocar músicas, ajustar o volume, pedir um café com leite e aceitar ou recusar chamadas telefónicas enquanto caminhavam.
Inteligência Arti cial Ler os pensamentos? Startup norte-americana cria protótipo que o faz
A Omi, uma startup de IA com sede em São Francisco, fundada por Nik Shevchenko, anunciou um dispositivo baptizado com o nome da empresa, que tenta ler os pensamentos. O aparelho conta com duas versões, uma semelhante a um grande botão e outra a um colar. Na prática, é um interface de Inteligência Artificial que, de acordo com a empresa, tenta detectar quando o utilizador quer interagir, eliminando a necessidade de palavras de activação. Daí dizer-se que pode “ler os pensamentos” e completar tarefas em que os utilizadores pensam, mesmo antes de as verbalizarem. No seu site, a Omi descreve-se como uma empresa que torna os humanos mil vezes melhores. O dispositivo também pode “ler” e “ouvir” conversas e transformá-las em relatos de texto para os utilizadores, através de uma ligação aos respectivos smartphones. cionando ao examinado uma ideia de como será a condução no mundo real. Além das salas de aulas e exames, o projecto envolve a construção de pistas e percursos de exame de condução, incorporando condições e cenários de uma estrada de acordo com as melhores práticas internacionais, substituindo a actual prática pelas ruas. Os centros contarão ainda com áreas para examinadores e um centro de observação, plataformas que serão estrategicamente instaladas nos espaços.
ócio
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ESCAPE
África
As melhores opções para um passeio a dois no mês dos namorados
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GOURMET
Ao gosto do amor Conheça as dicas de pratos sugestivos para celebrar a paixão numa mesa dois
ADEGA
Brindar à paixão
Para os apaixonados, o brinde perfeito começa com o vinho certo. Eis as sugestões
Casal de turistas a fazer caminhadas no Monte Kilimanjaro, Tanzânia
AGENDA Fevereiro
Todos os eventos nacionais e globais que não pode perder, incluindo as artes
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VOLANTE Mercedes-Benz G 580 O novo veículo automóvel que une potência, luxo e inovação para qualquer desa o em qualquer lugar
ÁFRICA
Lugares marcantes ajudam a reforçar laços. Eis as melhores sugestões
Os Destinos Mais Românticos
ÁFRICA É UM CONTINEN-
TE repleto de beleza, mistério e diversidade, oferecendo aos casais apaixonados diversos cenários capazes de criar memórias inesquecíveis no Dia dos Namorados, 14 de Fevereiro, ou noutra data qualquer
Do pôr-do-sol dourado nas savanas aos refúgios isolados em praias paradisíacas, estas são propostas para aproveitar o mês dos apaixonados nos lugares mais românticos do continente, que prometem encantar corações e fortalecer laços.
África do Sul
O Blyde River Canyon é uma das grandes maravilhas naturais da África do Sul. O ce-
nário é marcado por paredões de granito, formando desníveis de 800 metros de altura, serpenteado, na base, pelo rio Blyde que tem 24 quilómetros de extensão. Estes estão entre os maiores desfiladeiros e gargantas do mundo depois do Grand Canyon, no Colorado, Estados Unidos, e Fish Eagle Canyon, na Namíbia. A grande diferença está na maior diversidade de vegetação e vida selvagem.
Ilhas Maurícias
Este arquipélago localizado no oceano Índico, a leste de Madagáscar, possui praias de água azul-turquesa. O país tornou-se, ao longo dos anos, numa alternati-
de África em 2025
va mais económica e acessível para quem sonha com as Maldivas, Seicheles ou Polinésia. À distância de um voo de quatro horas, a partir de Joanesburgo, na África do Sul, as ilhas contam com uma cultura diversificada, com influências muçulmanas e europeias, assim como de África e da Índia. Cercadas por recifes de corais coloridos e piscinas naturais transparentes, as Ilhas Maurícias são uma opção para uma viagem romântica.
Ilhas Seicheles
Um total de 115 ilhas no oceano Índico foram as Seicheles, um arquipélago que é o menor país da África, localizado a nordeste da ilha de Madagáscar. A nação insular é uma das mais célebres nas agências de viagens pela riqueza em fauna e flora, entre outras belezas naturais. Algumas ilhas são pequenas o suficiente para não precisar de automóvel, apenas bicicleta, mas com opções bastantes para passar dias a descobrir novos trilhos, miradouros e praias de água transparente.
Marraquexe, Marrocos
Marraquexe, no reino de Marrocos, tem de tudo para uma viagem a dois. É um dos destinos ideais para quem deseja mergulhar no exotismo do mundo árabe e encantar-se com dunas avermelhadas no maior deserto do mundo, o Saara. É uma cidade com mercados a céu aberto, muita história e culinária de fazer crescer água na boca.
Quénia
O Quénia oferece paisagens deslumbrantes e passeios únicos através de safaris, passando por cascatas e florestas. Ao mesmo tempo, é possível mergulhar no oceano Índico, ao lado de corais. O mapa do país inclui diver-
Des ladeiro do rio
Blyde River Canyon, África do Sul
sos locais exóticos que podem mostrar o quão romântico o continente pode ser.
Parque Kruger
A maior reserva natural da África do Sul, o Kruger Park, pode ser um destino romântico. É considerado o maior palco para safaris de aventura do mundo, pois uma das grandes emoções de o visitar é o factor surpresa. A qualquer momento, é possível dar de caras com um animal selvagem, encontrar uma manada de leões a devorar a sua presa ou uma manada de elefantes a atravessar o nosso caminho.
Tanzânia
A Tanzânia é mais um país imenso, onde é possível desfrutar de praias paradisíacas, apreciar fauna e flora, fazer safaris e até ver neve no cimo de algumas montanhas. O mapa está repleto de belezas naturais e oferece diversos passeios românticos e culturais. Há muitas coisas para fazer na Tanzânia, desde safaris a mergulhos nas águas quentes do oceano Índico. Seja explorando os parques nacionais da Tanzânia, as praias de Zanzibar ou subindo o Monte Kilimanjaro, o pico mais alto do continente, sem dúvida que uma viagem à Tanzânia será inesquecível.
Tunísia
Com mais de 1000 quilómetros de litoral mediterrâneo, ruínas romanas, fortificações e dunas do Saara, a Tunísia oferece exotismo próximo da Europa e uma cultura rica, à medida para quem queira aventurar-se. Aqui poderá optar por várias rotas turísticas, seja para conhecer a história ou a gastronomia magrebina, entre outras temáticas, ou apenas para relaxar, com muitas praias à escolha.
Texto Ana Mangana
Os chefs garantem pratos com ingredientes frescos, de origem local e acompanham-nos com um copo de vinho. Lembre-se, a África do Sul é um país de produção vinícola à escala internacional
Refeição a dois, tradição do Dia dos Namorados, com muitos destinos à escolha.
Praia de Anse Source d’Argent, ilha de La Digue, Seicheles,
Um prato bem escolhido é o pretexto perfeito para um clima de amor, capaz de transformar uma refeição simples num momento inesquecível
OPÇÕESPARA MESAADOIS
Sabores que apaixonam, experiências “gourmet” para o mês do amor
FEVEREIRO É O MÊS DO ROMANCE, em que o amor está no ar e a celebração a dois ganha um signi cado especial. Uma das melhores formas de celebrar o amor é através de uma experiência gastronómica memorável. A E&M deixa sugestões de pratos “gourmet” que prometem encantar casais, transformando um simples jantar numa experiência inesquecível, inspiradas numa compilação de dicas de chefs de cozinha prestigiados.
São os casos de Helena Rizzo, chef brasileira cujas receitas e ideias são apresentadas em entrevistas e publicações especializadas, Erick Jacquin, chef francês conhecido pela experiência em alta gastronomia e apresentação de programas culinários, e a revista “Prazeres da Mesa”, uma referência em gastronomia “gourmet” do Brasil.
1. Entradas
Tartare de salmão com abacate
Uma combinação elegante e refrescante. O salmão cru cortado em pequenos cubos é temperado com azeite, sumo de limão, alho e uma pitada de pimenta preta. Servido sobre uma base cremosa de abacate temperado com sal e um toque de pimenta vermelha, é uma entrada leve que desperta os sentidos.
Quando o Amor é o Principal Tempero
Para uma apresentação ainda mais romântica, podem ser usados moldes de coração para dar forma ao prato.
Creme de espargos com crocante de presunto
Este creme aveludado é perfeito para um jantar romântico. Os espargos são cozidos e batidos com creme de leite fresco, enquanto o presunto de Parma (Itália) é assado atécar crocante, proporcionando uma combinação especial de texturas. Servir com torradas temperadas com ervas nas para adicionar um toque extra.
2. Pratos Principais Medalhões de “ let mignon” ao molho de vinho do Porto
Um prato clássico que ganha so sticação com o molho de vinho do Porto. O “ let mignon” é grelhado no ponto preferido do casal e servido com um molho encorpado feito com o vinho, cebolas caramelizadas e ervas frescas. Para acompanhar, puré de batatas trufado e legumes assados com manteiga e alecrim.
Risoto de camarão com limão siciliano e parmesão
Este prato combina a delicadeza do camarão com a
acidez refrescante do limão siciliano.
O arroz arbório é cozido lentamente com vinho branco e caldo de legumes, ganhando uma textura cremosa com parmesão e manteiga, no nal. Terminar com raspas de limão e folhas de manjericão para uma apresentação elegante.
3. Sobremesas “Petit gâteau” com sorvete de baunilha
Um clássico que nunca sai de moda. O bolinho com casca crocante e interior cremoso é servido quente, acompanhado de uma bola de gelado de baunilha, criando um contraste irresistível de temperaturas e sabores. Adicione frutas vermelhas frescas como complemento para um visual romântico.
Torta de frutas com ganache de chocolate branco
As frutas vermelhas, como o morango, framboesa e mirtilo, são combinadas com o sabor doce e suave do chocolate branco numa base crocante de massa sablé.
Decore com folhas de hortelã e polvilhe com açúcar de confeiteiro (com grãos
mais nos do que o re nado) para um toque especial.
4. Extras para tornar a noite mais especial Para quem deseja algo fora do comum, considere incluir pequenos detalhes que farão toda a diferença:
• Cocktails personalizados: crie bebidas exclusivas com os sabores favoritos do casal, como Martini de frutas ou mojitos com infusões.
• Queijos e vinhos: antes do jantar, monte uma tábua com queijos especiais, frutas secas e nozes para iniciar a noite em grande estilo.
5. Finalizar com charme
A apresentação dos pratos também é essencial. Utilize louças so sticadas, guardanapos de tecido e decore o ambiente com velas aromáticas e ores frescas para criar um clima romântico. Coloque música suave de fundo e deixe bilhetes com mensagens na mesa. Detalhes que podem fazer do jantar do mês dos namorados uma verdadeira celebração de amor.
Texto Celso Chambisso
Se
pensarmos de forma genérica, os espumantes são campeões e, além disso, estão associados a ocasiões festivas (a começar pelo disparo da rolha)
Um Brinde ao Amor!
O DIA DOS NAMORADOS é uma ocasião especial que pede momentos inesquecíveis e gestos de carinho. Para a ocasião, nada melhor do que um jantar romântico com uma taça de vinho para tornar a noite ainda mais especial.
Um bom vinho é muito mais do que uma bebida – é uma experiência que combina sabor, emoção e celebração. E com tantas opções disponíveis, escolher o ideal pode parecer uma tarefa difícil. Dicas simples podem ajudar (e muito) na hora de escolher a bebida e deixar o encontro romântico ainda mais especial, sem esquecer a harmonização com a comida que vai ser servida. Mas a escolha deve levar em conta outros factores.
Quando pensamos em ocasiões românticas, como o Dia dos Namorados, o mais importante é criar um clima agradável que favoreça a empatia entre as pessoas envolvidas.
Como escolher o melhor vinho?
No que diz respeito ao vinho, a acidez é um factor a ter em conta: pode ser a acidez a fazer “água na boca”. Já os taninos, que se encontram sobretudo nos vinhos tintos, costumam deixar a sensação de boca seca, que é, em princípio, aquilo que não se quer nesta situação. Mas atenção: cada pessoa tem o seu gosto e pode haver quem pre ra vinhos com características diferentes. Há que conhecer a nossa companhia.
É importante tratar da harmonização com a comida, seja um jantar ou uma mesa de petiscos variados. Atenção à acidez, porque pode trazer versatilidade nas composições e, consoante o vinho, dar a sensação de “limpar o paladar” durante as refeições.
Corpo baixo
Outro ponto a ter em conta é o “corpo” do vinho. Quando mais delicado, mais fácil poderá ser a harmonização com diferentes tipos de comida. Além disso, é interessante obter uma sensação de leveza e uidez, que pode fazer toda a diferença na noite de São Valentim.
Mas quais os vinhos que têm boa acidez e pouco corpo? Se pensarmos de forma genérica, os espumantes são campeões e, além disso, estão associados a ocasiões festivas (a começar pelo “disparo” da rolha). Mas há também os vinhos brancos, rosés ou alguns tintos de corpo mais delicado que podem cumprir bem esta função. As harmonizações devem levar em conta a comida, mas também a ocasião em que o vinho será servido.
Texto Celso Chambisso
Quais as melhores escolhas?
ESPUMANTES
Os mais secos, como o brut, extra brut e nature, vão deixar a acidez mais perceptível
ROSÉS
Os vinhos produzidos em regiões como Provence e Vale do Loire, na França, Navarra, em Espanha, e no norte de Itália costumam ser mais refrescantes
Vinhos apaixonantes: Prepare uma degustação que inspire o amor
BRANCOS
Algumas uvas são conhecidas por produzir vinhos com acidez mais destacada, como Riesling, Sauvignon Blanc, Alvarinho e Torrontés
TINTOS
É importante pensar em tintos delicados e frescos, para não “pesar” em ninguém. Aqui cabem o Pinot Noir, o Gamay e o Barbera, por exemplo.
A AGENDA DE FEVEREIRO
Todos os eventos globais, da sustentabilidade ao desporto, passando pelas artes
MESMO QUE O FUTEBOL
AMERICANO não seja bem a sua praia, e a expressão “touchdown” não o faça saltar da cadeira, saiba que Kendrick Lamar actua no intervalo da nal da NFL, o evento desportivo mais mediático do planeta. É a 9 deste mês, no Caesars Superdome, Nova Orleães, no estado norte-americano de Louisiana. Em Joanesburgo, África do Sul, vai decorrer o Meetings Africa 2025, um dos principais eventos dedicados às oportunidades de negócio existentes em África, reunin-
FUTEBOL AMERICANO
59.º Super Bowl/EUA Caesars Superdome, Nova Orleães (Louisiana) 9 de Fevereiro n .com
A nal do Super Bowl (futebol americano) é o evento desportivo mais mediático do planeta. Além do jogo, uma atracção mesmo para quem não está por dentro das regras, este evento destaca-se também pelo espectáculo de intervalo. Além de as marcas produzirem anúncios especiais que acompanham a transmissão, há 15 minutos atribuídos anualmente a um ou mais artistas para preparar uma exibição épica.
MINERAÇÃO
African Mining
Indaba 2025
Cidade do Cabo África do Sul
De 3 a 6 de Fevereiro miningindaba.com
A capitalização e o desenvolvimento da mineração em África, apoiando o crescimento económico e sustentável de longo prazo em todo o continente, são os temas principais deste evento que se concentrará em sete painéis: industrialização de África, preparação de comunidades para o futuro, estratégias de transição energética justa e “líquida zero [em carbono]”, maximização da dotação de minerais críticos de África, dar voz às gerações futuras, adopção de tecnologias revolucionárias e priorização da saúde e segurança. Criado em 1994, o evento é hoje um dos mais esperados do sector no mundo.
O Que Não Pode (Mesmo)
do empresários do continente e do exterior, promovendo o convívio e troca de ideias. Igualmente na África do Sul, mas na Cidade do Cabo, vai realizar-se o African Mining Indaba 2025, evento sobre capitalização e desenvolvimento da indústria mineira de África. Desde a criação, em 1994, o Mining Indaba evoluiu de uma pequena conferência para um dos eventos mais esperados do sector, recebendo pro ssionais de todo o mundo. No streaming,
NEGÓCIOS
Meetings Africa 2025 Joanesburgo/África do Sul
De 24 a 26 de Fevereiro meetingsafrica.co.za
O Meetings Africa 2025 promove as oportunidades de negócio em África. Reúne empresários do continente e do exterior, lançando o convívio e troca de ideias. Expositores, investidores internacionais e locais, associações africanas e estrategas corporativos vão estar presentes num ambiente que apresenta o melhor de África em tecnologias emergentes e iniciativas de desenvolvimento, ao mesmo tempo que o evento enfatiza práticas sustentáveis.
destaque para a estreia da terceira temporada da aclamada série de Mike White, “ e White Lotus”. Mais um mergulho satírico numa estância balnear paradisíaca, com um elenco renovado. Nos livros, a reedição de um clássico de Dale Carnegie (1888-1955), que dispensa apresentações, entre outras atracções.
Texto Luís Patraquim
STREAMING
e White Lotus (T3)/Max 17 de Fevereiro
A aclamada série de Mike White regressa para uma terceira temporada, num mergulho satírico numa estância balnear paradisíaca, com um elenco renovado. Depois do Havai e da Sicília, a série-fenómeno vai para a Tailândia. Este drama satírico explora as interacções tensas e por vezes absurdas entre hóspedes abastados e empregados de uma estância balnear de luxo. Com base no sucesso das duas primeiras temporadas, galardoadas com um prémio Emmy, esta nova edição promete ser rica em intrigas sociais e retratos nítidos de indivíduos de mundos diferentes.
A primeira temporada, que estreou em Julho de 2021, obteve dez distinções.
Perder em Fevereiro
Daúde Amade conquista 8.º Prémio Literário Imprensa
Nacional/Eugénio Lisboa
O escritor moçambicano Daúde Nossi Amade, sob o pseudónimo Jorge Nyembete, venceu a 8.ª edição do Prémio Literário Imprensa Nacional/Eugénio Lisboa com o romance inédito “Rogilda, ou Breviário de Agonia”.
O júri, composto por Lucílio Manjate (presidente), Sara Jona e Paula Mendes, destacou a actualidade da obra, ambientada no período da pandemia da covid-19, no mundo e em Moçambique. Segundo a apreciação, o romance possui um enfoque psicológico e imersivo, explorando temas como a agonia, a solidão, a arti cialidade das relações humanas e a busca por felicidade e amor num mundo tecnologicamente opressor. A narrativa é marcada pela tensão e suspense contínuos, com um ponto de viragem no acto frustrado de suicídio do protagonista, que conduz a re exões existenciais profundas.
Além disso, a obra combina uma narração uída, técnica de ashback, alternância de perspectivas narrativas e uma linguagem poética e introspectiva. Ela também evoca referências intertextuais da literatura e música moçambicana e universal, criando um romance polifónico e coeso, que re ecte a maturidade literária do autor.
Daúde Amade, nascido em Maputo em 1993, é professor, escritor e ensaísta. Licenciado em Filoso a, com habilitações em História, possui também formação em Literatura Moçambicana. Os seus textos integram colectâneas como “Um Natal experimental e outros contos” (2021 e 2022), “Ubuntu: Literatura e ancestralidade” (2022) e “Crónicas de Yasuke” (2024).
Ojúritambématribuiuumamençãohonrosaaoromance “Na Boca do Hipopótamo”, de Jeremias Macaringue, sob o pseudónimo Changamire Dombo, enaltecendo a crescente aposta na narrativa policial entre os novos escritores moçambicanos.
Criado em 2017 pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda em parceria com o Camões – Centro Cultural Português em Maputo, o Prémio Imprensa Nacional/Eugénio Lisboa visa incentivar a criação literária em língua portuguesa. A distinção inclui 5 mil euros e a publicação da obra vencedora.
LIVROS
Desenvolvimento pessoal: conselhos práticos
Autor: Dale Carnegie • Editora: Objectiva Género: Desenvolvimento pessoal
É comum pensarmos que as pessoas que parecem mais felizes têm motivos para tal: mais dinheiro, menos preocupações, mais amigos ou um emprego com melhores condições. Porém, isso não é necessariamente verdade. Independentemente das circunstâncias de cada um, todos podem atingir a felicidade.
Neste livro, Dale Carnegie, mestre do desenvolvimento pessoal, oferece conselhos práticos e intemporais para enfrentar os desa os do mundo actual com serenidade e conança. Tudo começa em nós: ao cultivar uma relação saudável connosco, desenvolvendo o pensamento positivo, mudaremos por completo o modo como encaramos as diculdades e as inquietações.
STREAMING
Outros Lançamentos
Dia 3: e Hunting Party (NBC)
Dia 5: A muerte (Apple TV+) e Sintonia T5 (Net ix)
Dia 6: Invincible T3 (Prime Video), Cassandra (Net ix), Clean Slate (Prime Video), Sweet Magnolias T4 (Net ix) e Os Homicídios de Åre (Net ix)
Dia 7: Newtopia (Prime Video)
Dia 13: Cobra Kai T6C (Net ix)
Dia 14: Yellowjackets T3 (Paramount+ with Showtime), Valeria T4 (Net ix) e Sou Casada, Mas… (Net ix)
Dia 19: Win or Lose (Disney+) e Good Cop/Bad Cop ( e CW)
Dia 20: Zero Day (Net ix) e Reacher T3 (Prime Video)
Dia 21: Surface T2 (Apple TV+) e A ousand Blows (Disney+)
Dia 23: Grosse Pointe Garden Society (NBC), Suits: L.A. (NBC) e 1923 T2 (Paramount+)
Dia 25: Small Achievable Goals (CBC)
Dia 26: Berlin ER (Apple TV+)
Dia 27: Su Majestad (Prime Video)
MERCEDES-BENZ G580
Tem 587 cavalos de potência, 1164 Nm de binário e bateria de 116 kWh de capacidade
Parece Imbatível?
CHEGOU O NOVO MERCEDES-BENZ CLASSE G 580 (ou G-Wagen 580), todo-o-terreno 100% eléctrico, que combina tecnologia de ponta com um design intemporal, prometendo robustez.
O G 580 mudou de motorização e substituiu grande parte dos componentes mecânicos, como as mudanças redutoras usadas no todo-o-terreno e os diferenciais de bloqueio. O modelo está equipado com uma transmissão de duas velocidades para proporcionar uma velocidade muito baixa e um sistema computorizado que envia tracção instantaneamente para a roda que mais precisa.
Com 587 cavalos (cv) de potência total e 1164 Nm de
É o Mercedes-Benz
binário, o G 580 dispõe de uma tecnologia de bloqueios virtuais do diferencial assegurando tracção ideal em qualquer situação. Basta premir um botão e só temos de nos preocupar com o acelerador e a direcção, o G 580 faz o resto, sabendo quais os pneus que têm aderência e quais os que não estão em contacto com o chão.
Funcionalidades modernas
O automóvel inclui capô transparente, câmara de 360°, câmara frontal, duas câmaras nos espelhos exteriores e uma vista virtual da
O G 580 promete suavidade e silêncio, apesar de estar equipado com o G-ROAR, que replica o som especí co dos motores V8 da marca
G580 Eléctrico
zona por baixo da secção dianteira.
Sem entradas de ar, o G 580 também consegue atravessar água até mais 15 centímetros de profundidade que na versão anterior (atravessa 85 centímetros). Quanto à integridade estrutural da bateria, o invólucro protector de alumínio inexpugnável e bra de carbono é tão robusto que a Mercedes já o incorporou como componente estrutural do chassis.
O G-Wagen 580 tem ainda outras novidades. Escolhendo a função G-Turn e premindo uma das patilhas do volante, quando se acelera executa uma pirueta. A funcionalidade G Steering é mais prática: basta seleccionar a opção e segurar no volante, centrando a direcção, para o sistema travar a roda interior, para que este SUV com mais de 4,5 m de comprimento consiga fazer curvas apertadas tão facilmente como se fosse um pequeno utilitário.
Experiência de condução
O G 580 promete suavidade e silêncio, apesar de estar equipado com o G-ROAR, que replica o som especí co dos V8 da marca. Ao volante, oferece uma entrega imediata de binário, proporcionando uma aceleração instantânea. A bateria tem 116 kWh, o que deveria resultar numa autonomia extraordinária, mas é de apenas 468 quilómetros. Um carregamento de 10% aos 80% pode ser feito em meia-hora.
No interior, o habitáculo exala luxo com materiais de alta qualidade, sistema multimédia MBUX e funcionalidades avançadas de apoio à condução.