COOL PEOPLE BEHIND COOL PROJECTS
uma questão de curadoria Josélia Aguiar, curadora da 16ª FLIP, compartilha as conquistas do evento, que este ano homenageia a escritora paulista Hilda Hilst
Desde o ano passado, Josélia Aguiar é o nome por trás da curadoria da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que acontece de 25 a 29 de julho e tem Hilda Hilst como autora homenageada. Depois de 10 anos com o olhar masculino na curadoria, o maior festival literário do país tem em sua 16ª edição a segunda mulher a ocupar a posição de curadora-chefe. A soteropolitana trouxe consigo uma postura mais consciente acerca de questões políticas e sociais históricas, rendendo conquistas importantes ao evento. A jornalista, que cobriu literatura e mercado editorial por mais de sete anos
no jornal “Folha de S.Paulo”, implementou um olhar atento à participação de mulheres e de negros na programação da FLIP. Na história do festival, a presença feminina costumava ser incipiente: a média era de sete mulheres a cada 40 convidados. Sob o comando de Josélia, o evento igualou a proporção de autoras e autores desde a última edição, fazendo jus à rica produção literária feminina brasileira. Este ano, a curaroria contempla 17 escritoras e 16 escritores. A presença de convidados negros também cresceu sob a curadoria da jornalista: “A minha determinação era aumentar o número de autores negros pre-
sentes, e conseguimos um percentual muito novo para a FLIP. A quantidade foi realmente expressiva em comparação com a média dos anos anteriores”, reflete. Esse posicionamento dialoga com a curadoria de 2017, que homenageou pela primeira vez um autor negro, o carioca Lima Barreto. Segundo Josélia, essa proposta curatorial é um desejo verdadeiro por pluralidade: “A gente quer que isso se torne uma regra, que não vire a notícia, que as pessoas realmente sejam reconhecidas pelos seus trabalhos como autores e autoras”, afirma. Não é por acaso que, este ano, a festa
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literária tem a poeta, romancista, cronista e dramaturga Hilda Hilst como homenageada. A escolha tem como foco o “mundo de dentro”, em uma relação estreita com o trabalho da escritora paulista: “Hilda foi uma mulher que investigou o amor, a morte, a transcendência. Uma autora que trabalhou com questões mais íntimas e existenciais. E isso está refletido no programa deste ano”, explica Josélia. A programação, no entanto, não se restringe apenas a temas intimistas. Mesas com conteúdos candentes, como violência, feminicídio e negritude, também estarão presentes. Um dos destaques é o encontro entre a filósofa brasileira Djamila Ribeiro e a ficcionista argentina Selva Almada – ambas discutirão a literatura como um meio de contestar a violência. E é para continuar oferecendo uma programação atenta que a curadoria do evento é constantemente repensada. “A FLIP continuará sempre a se renovar, e a mudança de curadores é salutar também por isso”, conclui Josélia.
TEXTO: FERNANDA BRANCO POLSE | FOTO: GUI MOHALLEM/DIVULGAÇÃO
“QUE AS PESSOAS SEJAM REALMENTE RECONHECIDAS POR SEUS TRABALHOS COMO AUTORAS”