TAXICULTURA 09

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PAULISTANOS TAXICULTURA:

TAXICULTURA:

Paulo Caruso:

Você acha que a tecnologia vai inibir as pessoas que tem o traço na mão?

Vem o tempo inteiro: todo momento você está sendo seduzido e inspirado, e até a falta de inspiração acaba sendo motivo de inspiração. A minha encomenda é diária, essa coisa de noticiário; mas eu faço freelas, trabalho disso, sobrevivo com isso.

Paulo Caruso: Por um lado sim. Hoje, as crianças com dois anos de idade já estão fazendo isso, inevitavelmente isso vai significar uma destreza em uma direção e uma perda em outra, mas, por outro, irá valorizar mais os originais, que serão minoria. Quando estávamos no processo do virtuosismo, o interessante era o artesanal, até parecia feito por máquinas, pela precisão do traço, o acabamento que passava por um processo de quase desumanização, você olha e acha simplesmente perfeito.

TAXICULTURA: Você já usa o Google maps como alternativa, ao invés de ir a um local que você vai ilustrar?

Paulo Caruso: Nesse trabalho que estou realizando agora, sobre os Paulistanos Ilustres, acabei de fazer o Cásper Líbero e eu tinha certeza que essa avenida era onde hoje é a Senador Feijó e quando eu olhei no Google Maps vi que estava enganado, que é uma transversal que liga a estação da Luz e corta a Senador Feijó. Aí que eu consegui baixar e ao invés de ir lá, imprimi aqui. Mas ainda é muito importante para mim estar no local, porque a noção de espaço muda muito. No livro [de ilustrações] que fiz sobre São Paulo, eu ia pro local pra saber o tamanho da massa, pra ver os detalhes, a escala das pessoas no local, e se você não estiver no local, não consegue ver. No Empurra, Empurra, [Monumento às Bandeiras, no Parque Ibirapuera] do Brecheret, quando eu fui lá, o meu filho ficou fotografando e eu desenhando e vendo os detalhes das figuras, dos pés, das mãos, cada detalhe naquela escala. Fui me aproximando e só chegando perto pude constatar a grande riqueza da obra, que não é uma homenagem aos portugueses, é a mistura de raças, porque tem negro, europeu, um plano que é um europeu segurando uma criança e duas índias. Além disso, o que divide a figura é um prato de farinha. E ele fala disso, por ele ser imigrante, uma daquelas cabeças é dele.

Foto Paulo Garcez

Então, para esse tipo de coisas, se você não for lá e olhar não tem como sentir aquilo.

consigo trabalhar de outra forma, tenho amigos que só trabalham no meio digital, começou a profissão fazendo tudo no artesanato, mas hoje só trabalha no tablet, está tudo digitalizado, não trabalha mais com papel.

Onde você busca a inspiração pro trabalho?

TAXICULTURA: E o trabalho no Roda Viva?

Paulo Caruso: Se dependesse do diretor do programa eu não teria visibilidade nenhuma, e uma coisa que tem ali o tempo inteiro é desenho; a minha função é quebrar aquele clima de pergunta e resposta do programa. Não importa quantos apresentadores e entrevistados tenha, será sempre um programa de pergunta e resposta e eu sempre briguei muito por causa disso, já cheguei até a me afastar, mas depois voltei. Dá visibilidade porque, mesmo com o passar dos anos, tem um cara que sempre está lá, que sou eu.

TAXICULTURA: Como você avalia esse novo jeito de humor do stand up? Por exemplo, a polêmica entre o Rafinha Bastos e a Wanessa Camargo, como você vê toda essa história?

Paulo Caruso: Eu acho que tem essa coisa das novas gerações. Eu, particularmente, acho que os caras estão fazendo suicídio, o stand-up perde um pouco a noção do que é humor, porque no fundo tem uma coisa sadomasoquista, eles fazem o público rir de piadas a respeito deles mesmos, e acham que isso é humor, e, às vezes, é apenas sadismo. O pessoal da minha época, que vem lá da ditadura, tem um comportamento politicamente correto; claro que a gente também luta para que o humor tenha liberdade. Já esses caras tiram o sarro das minorias e acabam criando situações delicadas, como essa. Na mesma época dessa confusão, eu ia fazer uma matéria sobre humor e aconteceu a morte de José de Vasconcelos; e uma reportagem da Folha de S. Paulo fala: “José de Vasconcelos é muito conhecido pela Escolhinha do professor Raimundo”. Veja você, o cara foi fundador do

stand-up no Brasil, é o cara que realmente fazia texto, mas o editor e o repórter, que são jovens, não o conhecem, não têm história e pecam um pouco por essa ignorância. No caso do Rafinha, quando disse que comeria a mulher e o seu filho, ele falou do ponto de vista do choque, no fato de comer, não sexualmente; era uma brincadeira de duplo sentido e foi encarado só como um ato sexual e acho exagero isso.

TAXICULTURA: Como você definiria essa cidade?

Paulo Caruso: Por mais que digam que ela é desumana, é a cidade mais acolhedora que temos no país, pois nele habita gente de todas as raças, credo e conduções. Apesar de falarem que somos mais insanos, nós somos mais cosmopolitas, somos a megalópole, espalhamos um padrão de vida pro resto do país. Nosso modelo de cidade foi importado dos norte-americanos, enquanto as cidades europeias, que historicamente seriam mais a nossa referência, perderam esse espaço. A verticalização, o centro degradado, o crack tomando conta dos centros, foi o que eu vi muito nos Estados Unidos e, infelizmente, adotamos esse modelo, e vamos ter que aprender a andar com isso. Mas São Paulo, nesse aspecto, tem muita informação que pode ajudar na reformulação do modelo.

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