COPA 2012 E CO2

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ANAIS SUSTENTABILIDADE E A COPA DO MUNDO DE 2014: DESAFIOS E OPORTUNIDADES NA GESTÃO DAS EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA

MARIO PRESTES MONZONI NETO ( mario.monzoni@fgv.br ) FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS BARBARA DA COSTA PINTO OLIVEIRA ( barbara.oliveira@fgv.br ) FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (EAESP), CENTRO DE ESTUDOS EM SUSTENTABILIDADE BEATRIZ CRISTINA KOSZKA KISS ( beatriz.kiss@fgv.br ) FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (EAESP), CENTRO DE ESTUDOS EM SUSTENTABILIDADE

Resumo Agindo em consonância com o princípio da sustentabilidade nas atividades econômicas e motivado pela sua inclusão nas edições recentes de Copas do Mundo, o Brasil se propõe a realizar uma “Copa Verde” em 2014. Focando nas emissões de gases de efeito estufa, este artigo analisa as experiências nas Copas de 2006-2010 e as compara com as propostas para a Copa de 2014, descrevendo desafios e oportunidades presentes na consecução de uma “Copa Sustentável” no Brasil. A análise evidencia a imprescindibilidade de planejamento, a fim de garantir recursos financeiros e humanos suficientes para alcançar as metas “verdes” da próxima Copa. Palavras-chave Copa do Mundo, Sustentabilidade, Gases de Efeito Estufa, Carbono Neutro, Green Goal.

1. Introdução Em julho de 2010, durante a última Copa do Mundo organizada pela Fédération Internationale de Football Association (FIFA) e realizada na África do Sul, o Brasil abriu oficialmente a “Jornada para a Copa de 2014”. Na data do evento, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou em seu discurso sobre a prioridade de realizar-se uma “Copa Verde” e mostrar ao mundo a responsabilidade do Brasil no que tange à sustentabilidade ambiental. Essa iniciativa do governo brasileiro traz consigo desafios e oportunidades para o país-anfitrião. Alcançar-se um bom desempenho na promoção do desenvolvimento sustentável através desse tipo de competição global significa ter que contribuir para a redução de custos sociais e ambientais, ineficiências e desperdícios, além de colaborar para maior integração entre os vários atores da sociedade e o desenvolvimento contínuo das pessoas, das comunidades e dos relacionamentos entre a sociedade e o meio ambiente (ERNST & YOUNG, FGV PROJETOS, 2010). Para lidar com este desafio, foi criada em maio de 2010 uma Câmara Temática Nacional de Meio Ambiente e Sustentabilidade (CTMAS) sob a coordenação dos Ministérios do Esporte e do Meio Ambiente. As diretrizes para a Copa do Mundo FIFA 2014, atualmente em construção, deverão existir em consonância com as demais diretrizes e políticas de sustentabilidade em vigor no país. A seguir é apresentada a proposta preliminar de diretrizes a serem adotadas pelo Brasil (LANGONE, sem ano): • neutralizar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) e cooperar com o combate ao aquecimento global; • promover a sustentabilidade ambiental com inclusão social; 1/16


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incentivar e alavancar negócios verdes; eficiência energética; valorizar e ajudar a promover e proteger a biodiversidade brasileira; construir estádios com sustentabilidade; utilizar a água de maneira racional; incentivar a mobilidade e circulação sustentáveis; incentivar o consumo de produtos orgânicos e/ou sustentáveis; e promover o ecoturismo nos biomas brasileiros.

Sob a égide da CTMAS, está em andamento o trabalho do Núcleo de Mudanças Climáticas (ME, 2010), ressaltando que para a Copa do Mundo de 2014 ser tida como um evento verde e, portanto, sustentável, será necessária a efetiva gestão das emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera das atividades e processos relacionados a tal empreendimento. A preocupação com a sustentabilidade ambiental e a redução e compensação das emissões de GEE tem se tornado uma tendência em eventos de grande escala. Nos últimos anos, São Paulo tem sido palco de eventos carbono neutro, também conhecidos pelo nome em inglês “carbon free”, nos quais os impactos climáticos gerados pela sua realização são compensados. São inclusos normalmente no cálculo dos inventários de emissões decorrentes dos eventos aquelas provenientes do consumo de energia elétrica, das atividades logísticas, do transporte de convidados e equipe, do resíduo gerado, além de outras emissões associadas. Porém, fica a critério da organização determinar quais serão os limites do inventário realizado e também da neutralização das emissões. Alguns exemplos de eventos carbon free são: o SWU Music & Arts Festival 2010, o evento Planeta no Parque 2011, e o São Paulo Fashion Week. A opção de realizar-se um evento sustentável se explica tanto na oportunidade de minimizar impactos negativos causados ao meio ambiente quanto à sensibilização da sociedade sobre ao tema das mudanças climáticas. Também existe a possibilidade de redução de custos e a maximização dos ganhos de imagem, advindos do reconhecimento de uma postura corporativa responsável pelo público. Em relação à organização de grandes eventos, o Brasil se prepara para uma década de oportunidades e desafios, iniciando-se pela Cúpula das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável a ser realizada em 2012 no Rio de Janeiro (Rio+20), e passando pelas Copas das Confederações em 2013, do Mundo de Futebol em 2014 e, por fim, pelas Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016. No âmbito político-ambiental, esta década deverá ser palco de decisões importantes em relação a um novo regime global de mudanças climáticas, com o estabelecimento de diretrizes e metas de redução de emissões de GEE (BRASIL, 2005) em um novo regime climático global ou no segundo período de compromissos do Protocolo de Quioto, dependendo do que vier a ser estabelecido no foro internacional nos próximos dois anos (ONU, 2005). A postura cada vez mais incisiva do Brasil nas questões ambientais é exemplificada pelo estabelecimento de uma meta de redução das emissões nacionais de GEE entre 36,1% e 38,9% até 2020, em relação a um cenário de crescimento de referência, conforme estabelecido no artigo 12º. da Política Nacional sobre Mudança do Clima, de 29 de dezembro de 2009; e pelo reconhecimento internacional no uso difundido de bicombustíveis. Deste modo, ao exigir-se coerência, demanda-se ao Brasil que realize a Copa do Mundo de 2014 de forma sustentável. Para tanto, deverá ser tomada como base a iniciativa Green Goal (do inglês, “gol verde”) da FIFA, inicialmente empreendida na Copa do Mundo da Alemanha de 2006, que objetiva a 2/16


ANAIS inclusão definitiva da sustentabilidade nos eventos desportivos através de ações em diversas frentes, incentivando inclusive a neutralização das emissões de GEE geradas na organização e realização da Copa. Além destas ações, o Green Goal propõe-se a gerar um legado em sustentabilidade para as Copas do Mundo subseqüentes e para o país-sede da competição. Tais objetivos vêm imbuídos de possibilidades, tais como oportunidades de investimento em novas tecnologias, materiais e instalações de ponta, como edificações idealizadas com alto rigor ambiental nos estádios e em outras instalações, e ampliação da infra-estrutura de mobilidade e energia de forma planejada e sustentável. Por serem estes investimentos de longo prazo, podem significar passos decisivos rumo a uma economia verde no país que recebe o investimento. Além da infra-estrutura de grande porte, existem oportunidades de promoção de produtos sustentáveis brasileiros; de sensibilização e educação da população; de atração dos visitantes pelo ecoturismo e conhecimento dos biomas brasileiros; entre outros. De acordo com o relatório “Brasil sustentável – Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo 2014” (ERNST & YOUNG; FGV PROJETOS, 2010), estima-se que os impactos socioeconômicos da Copa do Mundo de 2014 serão entre 22,46 e 24,8 bilhões de reais (ME, 2010) com gastos para garantir a infra-estrutura e organização, e de 112,79 bilhões de reais injetados na economia brasileira derivados de efeitos indiretos. No total, o País movimentará R$ 142,39 bilhões adicionais no período 2010-2014, gerando 3,63 milhões de empregos-ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população (ERNST & YOUNG; FGV PROJETOS, 2010).O documento ainda afirma que “o retorno financeiro proporcionado pela Copa do Mundo para organizadores, governos e empresas dos vários setores da economia será, sem dúvida, expressivo. Porém, especialmente no caso do país, das cidades-sede e de quem organiza, o ganho em imagem proporcionado por um evento bem-sucedido pode ser ainda mais importante que qualquer receita. A auto-estima da sociedade em geral será positivamente afetada. O sucesso da Copa posicionará o Brasil em um degrau superior em termos de imagem internacional”. A Copa do Mundo de 2014 acontece dois anos após os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Londres, estes programados para serem os maiores eventos desportivos verdes já realizado até o momento e cujos investimentos estão na casa dos 9 bilhões de libras (cerca de 24 bilhões de reais). Tendo em vista a complexidade de organizar-se eventos desportivos de grande porte de cunho sustentável e a responsabilidade do Brasil em sediar a Copa do Mundo de 2014, este artigo tem como objetivo apresentar os principais desafios a serem enfrentados e as oportunidades emergentes no que tange às questões climáticas, em relação às emissões diretas e indiretas de GEE das atividades relacionadas ao evento e sua gestão. 2. Metodologia De acordo com o objeto principal do presente trabalho, fez-se, primeiramente, um levantamento bibliográfico detalhado de fontes primárias e secundárias de: (i) critérios, normas e certificações já existentes relacionados à sustentabilidade e emissões de gases de efeito estufa (GEE) em eventos; (ii) diretrizes, relatórios e documentos relacionados às Copas da Alemanha em 2006 e da África do Sul em 2010 e suas demandas por sustentabilidade; e, por fim, (iii) diretrizes, relatórios e documentos sobre o planejamento da Copa de 2014 em relação ao tema de gestão de emissões de GEE. Como fontes primárias têm-se os documentos oficiais da FIFA e das entidades do governos do Brasil e da África do Sul. Como fontes secundárias, o artigo traz estudos e análises feitas por organizações internacionais (como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, PNUMA), outros governos (Governo Norueguês) e autores acadêmicos. Tais documentos foram analisados sob o enfoque de gestão de emissões de GEE e obtevese como resultado um levantamento das ações e aprendizados das duas últimas Copas do 3/16


ANAIS Mundo: Alemanha (2006) e África do Sul (2010). Estas puderam ser comparadas aos planos do governo brasileiro, ainda em desenvolvimento, para tornar a Copa do Mundo de 2014 um evento verde e carbono neutro. A metodologia utilizada é a de análise comparada de casos, ou método comparativo. Vale ressaltar que, ainda que os três países tenham realidades sociais diferentes, quando o assunto é a contabilização de emissões de GEE, metodologias de aplicação mundial são válidas, ainda que adaptadas às realidades nacionais (como fatores de emissão do grid elétrico diferenciadas em função da matriz elétrica dos três países que são diferentes). Desta forma, é possível comparar o impacto climático das Copas do Mundo recentes e as ações necessárias para minimizá-lo de maneira relativamente objetiva, tendo como ponto de referência benchmarks ou boas práticas para a gestão de emissões de GEE de eventos e empreendimentos em geral. Finalmente, para fins deste artigo, os seguintes termos são utilizados com tais acepções: (a) desenvolvimento sustentável: em consonância com o documento Our Common Future: Brundtland Report (ONU, 1987) é “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. (b) sustentabilidade: segundo Barbieri (2007, p.98-99), organização sustentável é a que simultaneamente procura ser eficiente em termos econômicos, respeitar a capacidade de suporte do meio ambiente e ser instrumento de justiça social, promovendo a inclusão social, a proteção às minorias e grupos vulneráveis, o equilíbrio entre os gêneros etc. (BARBIERI, 2007, p. 98-99). No âmbito deste artigo, eventos sustentáveis são aqueles que atingem seu objetivo de maneira financeiramente viável, causando o menor impacto possível ao meio ambiente e propiciam melhorias na distribuição de oportunidades e geração de riqueza para a população local. (c) emissões de gases de efeito estufa (GEE): emissões atmosféricas antrópicas de gases considerados de efeito estufa conforme definido pelo Protocolo de Quioto, que inclui os seguintes gases: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), perfluorocarbonos (PFCs), Hidroclorofluorcarbonos (HFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6). As emissões de GEE são medidas na unidade de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e); (d) metodologia de cálculo de emissões: conjunto de ferramentas para auxiliar na contabilização das emissões de GEE e sua conversão para a unidade de tCO2e conforme padrões internacionais; (e) gestão de GEE: conjunto de ações que visam a redução e/ou neutralização das emissões de GEE para redução dos impactos climáticos relativos à sua emissão na atmosfera. 3. O que são eventos sustentáveis? Os três maiores temas que permeiam o desafio da sustentabilidade e, portanto, a idealização e realização de um evento sustentável, são os que compõem o “triple bottom line” ou tripé da sustentabilidade: economia, sociedade e meio-ambientei. Nesse caso, para ser sustentável, um evento deve gerenciar seus riscos de forma a impedir a degradação ambiental, gerar a distribuição de riqueza entre as diversas camadas e setores da sociedade afetados, incluindo-se aí o próprio empreendedor; evitar o empobrecimento das futuras gerações; além de atender necessidades individuais. Algumas das ações práticas a serem tomadas em consonância com a descrição acima são: proteger, reciclar, reutilizar e usar de maneira responsável os recursos naturais disponíveis; agregar valor à economia local e educar os participantes do evento sobre os benefícios da sustentabilidade, deixando um legado futuro que ultrapasse o tempo em que o evento durar. (MUSGRAVE, 2009) Há diversas soluções e ferramentas disponíveis no mercado para balizar a realização de um evento sustentável, dentre as quais existem os padrões e processos internacionalmente aceitos e reconhecidos, certificações e melhores práticas. Cada uma das ferramentas

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ANAIS apresentadas a seguir gerencia os impactos ao meio ambiente e à sociedade por meio de seus critérios próprios. Para a infra-estrutura de um evento, por exemplo, uma solução é empregar madeira certificada com o selo FSC (Forest Stewardship Council – Conselho de Manejo Florestal)ii, que busca garantir que o produto adquirido seja proveniente de atividades com bom manejo das florestas conciliando salvaguardas ecológicas, benefícios sociais e a viabilidade econômica. Em casos que envolvam construção civil, uma opção é o uso do selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design – Liderança em energia e design ambiental)iii concedido às edificações que atendem a determinados critérios de construção, garantindo melhor aproveitamento dos recursos naturais (tanto na etapa de construção como de vida útil do edifício). A norma inglesa BS 8901iv é um exemplo mais específico do setor de eventos, pois certifica o sistema de gestão desenhado para ajudar organizações a ter melhorias contínuas na sustentabilidade das atividades, produtos e serviços relacionados a eventos. Esta norma surgiu, principalmente, para certificar os Jogos Olímpicos de Londres de 2012v. Outra forma atualmente difundida de mensuração da sustentabilidade de um evento é a quantificação das suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a sua possível compensação, dando ao evento o status de carbono neutro ou “carbon free”. O parâmetro utilizado para inventariar as emissões do evento é a quantidade de dióxido de carbono equivalente (CO2 e) emitida em todas as atividades relacionadas à organização e realização o evento (como transporte, eletricidade, logística, etc.). Após calcularem-se as emissões de GEE, estas podem ser compensadas ou neutralizadas através do plantio de árvores ou da compra de créditos de carbono, tornando o evento neutro em suas emissões de GEEvi. Tais medidas, além de cumprirem um papel ambiental, promovem grande impacto positivo do ponto de vista de marketing do evento. Uma das formas de compensar emissões é através da compra de “créditos de carbono”. Projetos como eficiência energética, troca de combustível, mudanças de processos industriais, entre outros, podem diminuir o volume de emissões anteriormente geradas (cenário de referência), gerando assim, certificados de redução de emissões que podem ser negociados. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), estabelecido pelo Protocolo de Quioto (2005) em seu capítulo 12, é uma das alternativas mais conhecidas tendo como produto a geração de créditos. À luz da Copa do Mundo da Alemanha, foi apresentado pela FIFA o programa Green Goal, iniciativa criada para viabilizar a sustentabilidade ambiental do evento e servir de exemplo para as Copas do Mundo subseqüentes. As diretrizes do Green Goal fazem parte do caderno de encargos da FIFA e se situam entre requisitos de construção, segurança e hospitalidade. Estes requisitos devem ser atendidos pelo comitê organizador do país-anfitrião para receber a autorização que assegura a aptidão do país candidato para realizar uma Copa do Mundo em seu território. O Green Goal descreve quatro áreas temáticas: água, resíduos, energia e transporte sobre as quais devem ser estabelecidas metas mensuráveis para neutralizar os impactos no clima global. (FIFA, 2003) O Green Goal colocou, pela primeira vez, o meio ambiente na pauta das Copas do Mundo. Esta iniciativa inovadora e ambiciosa foi realizada com sucesso na Copa da Alemanha e deixou o legado da sustentabilidade para os próximos grandes eventos de esporte, conforme Green Goal Legacy Report da Copa da Alemanha (2006). Desde então, cada Copa do Mundo cria seus próprios objetivos e projetos adaptados para a realidade e contexto local, conforme descrito a seguir. 4. Copas Sustentáveis

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ANAIS 4.1. Alemanha 2006: pioneirismo e exemplo de boas práticas A Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, foi a primeira a implementar o Green Goal como base de suas atividades, assumindo metas ambiciosas nas áreas de mudanças climáticas, mobilidade, energia e resíduos. Para cada uma das quatro áreas temáticas foram implementadas metas e critérios para o desenvolvimento de projetos, assim como cronograma e estimativa de custos. Graças ao planejamento antecipado e ao envolvimento de uma equipe específica para coordenar as atividades, a Copa de 2006 atingiu suas principais metas, transformando-se em um caso de sucesso e exemplo para as Copas seguintes, conforme se segue. Com o auxílio da consultoria ambiental independente, Öko-Institut, o Comitê Organizador (Organizing Committee - OC) atuou de forma integrada com as cidades-sede na implantação de projetos do Green Goal. A mais desafiadora das metas estabelecidas para a Copa da Alemanha foi a de realizar um evento neutro em emissões de gases de efeito estufa (GEE), na qual a totalidade das emissões seria voluntariamente compensada. As emissões do evento totalizaram 92.000 toneladas de CO2e. Este resultado foi inferior do estimado préCopa (100.000 tCO2e) por conta do sucesso dos projetos na área de mobilidade e incentivo ao uso de transporte público durante o evento, o que permitiu reduzir as emissões deste setor em 19% (HOCHFELD, STAHL e SCHMIED, 2006). A Figura 1 representa o total de emissões da Copa 2006 separado por setores, a partir da qual fica evidente que o setor de transportes foi o maior contribuinte das emissões desta Copa: 73.000 toneladas de CO2e emitidas, que representam 79% do total do evento (foram consideradas apenas as emissões de transporte terrestre dos espectadores dentro do território alemão, sendo desconsideradas as emissões internacionais de viagens de e para a Alemanha). Este alto nível de emissões é decorrente do deslocamento dos cerca de 3,4 milhões de espectadores e também da grande logística envolvida na organização do evento. Os 21% restantes são distribuídos entre estada do público (13%), construção de infra-estrutura (5%), e consumo de energia (3%) e calor (1%). Figura 1: Participação das diferentes fontes de emissões de GEE da Copa do Mundo Alemanha 2006. Emissões de GEE da Copa do Mundo da Alemanha (2006) 3% 5% Transporte 13% Estada do público

Construção (infra-estrutura)

Eletricidade 78%

Calor

Fonte: adaptado de HOCHFELD, STAHL e SCHMIED, 2006

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ANAIS Para concretizar o projeto da primeira Copa do Mundo neutra em carbono, a estratégia adotada pelos organizadores alemães foi compensar as emissões do evento através de projetos inseridos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e do selo Gold Standardvii. Segundo o Green Goal Legacy Report (HOCHFELD, STAHL e SCHMIED, 2006), para cumprir um papel ambiental e também social, foram escolhidos três projetos diferentes na Índia e na África do Sul, localizados em regiões carentes e que irão neutralizar 100.000 toneladas de CO2e ao longo dos próximos anos. Estima-se que o 1,2 milhão de euros necessários para implementar os projetos de carbono contribuirá diretamente na melhoria de vida das populações envolvidas, financiado conjuntamente pela FIFA, Federação Alemã de Futebol e patrocinadores da iniciativa Green Goal. 4.2. África do Sul 2010: tentativas, acertos e erros Movida pelo sucesso do programa Green Goal implementado em 2006 na Copa da Alemanha, a competição de 2010 na África do Sul embarcou no movimento dos eventos sustentáveis. Para esta Copa, foi lançado em outubro de 2008 o documento 2010 FIFA World Cup™ , Host City Cape Town - Green Goal Action Plan - um plano de ação com 41 projetos em 9 áreas temáticas diferentes, que englobam, entre outros assuntos, energia e mudanças climáticas, conservação da água, manejo de resíduos, transportes, mobilidade e acesso, paisagem e biodiversidade, prédios verdes e vida sustentável. Diferentemente da Copa da Alemanha, a África do Sul não contou com o envolvimento de entidades especializadas. O desenvolvimento dos projetos verdes na Copa de 2010 foram liderados pelo Comitê Organizador Local (no âmbito das cidades-sede da Copa) em conjunto com o Governo Sul-Africano e o Departamento de Assuntos Ambientais. Somente a Cidade do Cabo (cidade-sede) alocou mais de 6 milhões de Rand (equivalente a 1,4 milhão de reais) em financiamento direto para a implantação dos Plano de Ação do Green Goal. Cerca de 85 milhões de Rand para financiar os outros projetos dependeram de doações externas (GERRANS, sem ano). Um dos objetivos do Green Goal da Copa de 2010 era torná-la neutra em carbono como o evento anterior realizado em 2006 na Alemanha. Porém, as emissões da Copa da África do Sul foram estimadas em 896.000 toneladas de CO2, quantidade que equivalia a mais de oito vezes as emissões estimadas para a Copa da Alemanha, sem incluir as emissões de transporte internacional, que somariam mais 1.856.000 tCO2e. No relatório parcial do Green Goal para a Copa de 2010, o custo para neutralizar estas emissões foi estimado entre 6,8 e 12 milhões de dólares, sendo, portanto, inviável pela falta de disponibilidade de financiamento. A solução foi, portanto, focar em tornar a Copa da África do Sul um evento de baixo carbono, ao invés de um evento carbono neutro, reduzindo-se assim os impactos climáticos do evento através da mitigação de suas emissões (GERRANS, 2009). A Tabela 1 mostra as emissões comparativas de GEE das copas da Alemanha e da África do Sul por setor emissor, a partir da qual ficam claras as diferenças na intensidade de CO2 emitidos, observando-se um aumento significativo na Copa de 2010. Não se deve, porém, fazer uma análise das emissões das referidas Copas de maneira isolada. A grande quantidade de emissões estimadas para a Copa de 2010 deve-se, principalmente, a fatores característicos do país-sede. Primeiramente, a economia sul-africana é mais intensiva em carbono que a maioria dos países europeus e sua matriz energética é composta predominantemente por fontes fósseis não renováveis de energia como o carvão, que contribuem de forma significativa para o aumento nas emissões de GEE. Outro fator relevante é em relação ao transporte dos espectadores, pois a ausência de transportes ferroviários de alta velocidade na África do Sul e sua extensão territorial de mais de 1,2 milhão de km2 levou a um maior uso de transportes aéreos e rodoviários para deslocamentos 7/16


ANAIS internos dos mais de 3,5 milhões de espectadores dos jogos entre as diversas cidades-sede, aumentando o consumo de combustíveis fósseis e, consequentemente, as emissões de CO2. O terceiro fator relevante é a falta de infra-estrutura prévia, o que levou a altas emissões pela construção de cinco novos estádios para os jogos da Copa de 2010 (ECON PÖYRY AB, 2009). Tabela 1: Comparativo das emissões de CO2 das Copas do Mundo da Alemanha (2006) e África do Sul (2010), por setor. Emissões (toneladas de CO2e) Alemanha 2006 África do Sul 2010 Setores (calculado) (estimativas) Transporte internacional (para deslocamentos de espectadores até o (não calculado) 1.856.589 território do país-sede) Transporte local (para deslocamento dos espectadores dentro do território do país72.680 524.538 sede) Construção 4.600 15.359 Consumo de energia 2.760 16.637 (estádios e infra-estrutura) Estada do público 11.960 340.128 (principalmente consumo de energia) TOTAL 92.000 896.662 (sem transporte internacional) TOTAL (não estimado) 2.753.251 (com transporte internacional) Número estimado de espectadores 3,4 3,5 (milhões) 0,027 0,26 (sem considerar transporte (sem considerar transporte Emissão média por espectador (tCO2e) internacional) internacional) Fonte: compilação própria, adaptado de ECON PÖYRY AB (2009) e HOCHFELD, STAHL, SCHMIED (2004)

Uma análise parcial do Green Goal de 2010 apontou a falta de financiamento e de capacitação dos recursos humanos como alguns dos riscos mais significativos para o sucesso da iniciativa (GERRANS, 2009), ambos tendo efetivamente comprometido o desenvolvimento de projetos e o cumprimento dos planos de ação pré-estabelecidos. Apesar das diversas dificuldades enfrentadas pela organização da Copa do Mundo de 2010, as lições aprendidas poderão ser de grande utilidade para o Comitê Organizador da Copa de 2014 no Brasil e podem ajudar no sucesso da organização e o cumprimento dos objetivos ambientais propostos. A seguir são apresentadas algumas das lições aprendidas na Copa de 2010 no âmbito organizacional e também das mudanças climáticas (GERRANS, 2009): • Planejamento e coordenação antecipadas são essenciais, sendo que o esverdeamento do evento deverá estar completamente integrado no processo com pelo menos dois anos de antecedência; • São necessários investimentos substanciais na capacitação dos envolvidos; • Para maior credibilidade e integridade dos programas de redução ou compensação de emissões, devem ser utilizados padrões aceitos internacionalmente como o MDL, o Gold Standard ou o Voluntary Carbon Standard (VCS); • Os governos nacionais necessitam do apoio da FIFA para financiamento na compensação das emissões de GEE – este processo deve ser iniciado o quanto antes possível. 8/16


ANAIS 5. Copa 2014 no Brasil: planos sustentáveis Embora o Brasil tenha já sediado uma Copa do Mundo (a de 1950), a Copa de 2014 será um desafio muito maior para o país, tendo em vista as diferenças de realidade, escopo e escala das duas experiências. Segundo o Green Goal Progress Report (GERRANS, 2009), cerca de 3,5 milhões de espectadores estiveram nos jogos na África do Sul, e, dada as características semelhantes entre estes e a Copa do Brasil, espera-se aproximadamente o mesmo número de espectadores para 2014, número quase três vezes maior que o 1,04 milhão de espectadores recebidos na Copa de 1950 (ERNST & YOUNG; FGV PROJETOS, 2010). Além do aumento significativo no número de espectadores, a realidade global é hoje mais complexa, derivando daí, portanto, riscos e oportunidades não pensados anteriormente e que envolvem questões que vão da tecnologia de transmissão a critérios socioambientais. A agenda da Sustentabilidade e Meio Ambiente desenvolvida pelo Governo Brasileiro através do Ministério dos Esportes e da Câmara de Meio Ambiente e Sustentabilidade (LANGONE, sem ano) é um passo estratégico e ambicioso para garantir o sucesso da inserção da sustentabilidade na Copa do Mundo de 2014. Dado que o presente artigo dedica-se às questões relacionadas às emissões de gases de efeito estufa (GEE), este capítulo analisa as metas do Governo Brasileiro relacionadas a este tema, sendo estas principalmente: (i) neutralizar as emissões da Copa de 2014 e cooperar com o combate ao aquecimento global; (ii) promover a eficiência energética; (iii) construir estádios com sustentabilidade; e, (iv) incentivar a mobilidade e circulação sustentáveis. 5.1. Emissão e neutralização de GEE A primeira das diretrizes é relacionada à neutralização das emissões de GEE oriundas da Copa de 2014. Enquanto a Copa da Alemanha foi “carbono neutra”, a Copa da África do Sul, embora tenha tido esta ambição inicialmente, não conseguiu atingí-la principalmente pela ausência de recursos financeiros suficientes para os projetos de compensação. O Brasil, por sua vez, tem a neutralização como diretriz bem clara, inclusive em termos de proposta de legislação através do Projeto de Lei PL-7421/2010, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, que visa estabelecer a obrigatoriedade da neutralização das emissões de GEE decorrentes da realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Foram também estruturados no âmbito do Ministério do Esporte (ME) núcleos temáticos de formulação de projetos prioritários, e dentre eles, há um núcleo dedicado à Mudanças Climáticas, responsável por “considerar a contabilização de emissões geradas pelo evento e estratégias para sua neutralização, com um enfoque que envolva um espectro abrangente de ações. Isso envolve desde a recuperação de áreas degradadas com plantios de espécies nativas até a relação com a agenda de mobilidade e circulação” (ME, 2010). No workshop em que os comitês responsáveis pela Copa do Mundo na África do Sul e no Brasil se encontraram para dividir experiências (realizado na Cidade do Cabo, África do Sul em fevereiro de 2010), esclareceram-se questões relacionadas à inviabilidade financeira para tornar a Copa Sul-Africana carbono neutra. Sem o suporte financeiro integral do governo sul africano e dos demais patrocinadores, concluiu-se que as ações direcionar-se-iam sobretudo à redução e neutralização parcial das emissões de GEE e, não obstante, dada a necessidade de altos investimentos na construção e melhoria de infra-estrutura, os recursos restantes para “esverdear” a Copa de 2010 foram bastante reduzidos. Outra dificuldade apontada no workshop diz respeito à grande diferença de capacidade das cidades-sedes de implementar programas verdes que garantissem uma Copa carbono neutra. Além dos problemas financeiros e da capacidade heterogênea, foi apontada a falta de recursos humanos capacitados para tal fim (SUSTAINABLE ENERGY AFRICA, 2010, p.8). No caso brasileiro, 9/16


ANAIS tanto a heterogeneidade da capacidade quanto a falta de recursos específicos e de capital humano especializado nas cidade-sedes podem ser considerados riscos ao atendimento à diretriz proposta, devendo ser levados em conta no momento de planejamento das ações, com a maior antecedência possível. As Copas anteriores ensinam várias lições que, considerando os impactos de um evento desta magnitude em termos de emissão de GEE e na imagem externa do país, implicam na necessidade de planejamento da neutralização das emissões de forma concreta e antecipada. Como primeiro passo, faz-se necessário estabelecer claramente os limites do inventário, elencar as atividades e fontes de emissão e, desta forma, estimar as emissões a serem lançadas na atmosfera por conseqüência do evento. Com este número em mãos, é possível entender onde existem oportunidades de redução, qual a viabilidade de neutralizar as emissões, quais as formas mais apropriadas para alcançar este objetivo e, então, formular uma primeira diretriz ou mesmo lei no que se refere à uma Copa neutra em carbono. Enquanto a neutralização do carbono pode ser uma oportunidade de ganho de imagem para o país, assim como de investimentos mais limpos no caminho de uma economia de baixo carbono, o risco ao se comprometer e não cumprir tal meta deve ser igualmente considerado. Para a estratégia de neutralização, a proposta do Núcleo Temático de Mudanças Climáticas do CTMAS vai ao encontro ao proposto pelo estudo da Ernst & Young e FGV Projetos (2010) que coloca que a aplicação do critério de desenvolvimento de projetos de seqüestro de carbono deve estar integrada às ações e programas que vão além do plantio de árvores. Apesar desta ser uma das alternativas para reduzir as emissões de gás carbônico na atmosfera com maior divulgação atualmente, ela não é a única. Contudo, a compensação pelo plantio de árvores consiste em uma alternativa interessante no contexto brasileiro, uma vez que pode contribui também para atingir as metas nacionais de redução do desmatamento e recuperação de áreas degradadas previstas na Política Nacional de Mudança do Clima (BRASIL, 2009). O investimento em florestas e sua recuperação de forma sustentável também serve à manutenção e exploração responsável da biodiversidade. Outra alternativa disponível é a compensação das emissões por meio de projetos de redução das emissões em diversos setores, utilizando-se os créditos gerados por tal redução para neutralizar as emissões previstas para a Copa de 2014. Existem diversas metodologias para o desenvolvimento destes projetos que permeiam setores como energia renovável e eficiência energética, substituição de combustível, gestão de resíduos, entre outros e englobam, além da questão ambiental, melhorias no âmbito social e econômico, condizentes com o tripé da sustentabilidade. Ambas soluções devem vislumbrar uma visão sistêmica, que permita integrar a redução de emissões (com aplicação de soluções ecoeficientes, uso racional dos recursos naturais, a reavaliação da matriz energética, entre outros) à sua compensação. Uma segunda diretriz relacionada intrinsecamente às estratégias de redução de emissões é a eficiência energética. A transição para um modelo de maior eficiência energética se mostra como a solução mais viável, tanto econômica quanto socioambientalmente para redução de emissões do setor energético e garantia de segurança no fornecimento e disponibilidade de energia. Destaca-se o fato de que, no Brasil, a conservação e o uso mais eficiente dos recursos energéticos apresentam os menores custos em MWh quando comparado aos custos de incorporação de novas fontes geradores na matriz energética nacional (IEDI, 2010 apud FGV, 2010), com custo médio do MW conservado por projetos de eficiência energética na indústria de R$79/MWh (CNI & Eletrobrás, 2009), valor inferior ao custo marginal de expansão previsto no último Plano Decenal de Energia de R$ 113/MWh (EPE, 2010). O investimento em eficiência enérgica é indispensável para uma economia verde, uma vez que posterga grandes investimentos em infra-estrutura de geração de eletricidade e obtenção de combustíveis fósseis, com tempo inferior de payback (retorno financeiro do investimento) e 10/16


ANAIS com a utilização de tecnologias já disponíveis comercialmente (IEDI, 2010). Raciocínio semelhante se aplica à necessidade de investimentos em eficiência energética nos setores de transporte e de construção civil, para os quais o Brasil ainda apresenta iniciativas um tanto tímidas. Fica evidente que o critério da eficiência no uso de recursos naturais energéticos deve permear todos os setores abarcados pelo planejamento e realização da Copa do Mundo. Olhando mais especificamente para as diretrizes sinalizadas pelo governo, a eficiência energética reduz a pegada de carbono do evento, é elemento essencial dentro da construção sustentável e deve ser aplicada também às estratégias de mobilidade urbana e acessibilidade. A experiência na África do Sul foi bastante positiva com o uso de tecnologias eficientes de iluminação, aquecimento, ventilação e ar condicionado e, em diversos estádios, gerou projetos de mitigação de carbono, contribuindo para neutralizar parte das emissões do evento (GERRANS, 2009). No Brasil, porém, existe um grande desafio associado a projetos de eficiência energética, uma vez que a matriz energética nacional é composta predominantemente por fontes renováveis de energia, o que resulta em emissões reduzidas na geração da energia (e conseqüentemente, na pegada dos processos que utilizam tal energia relativamente mais “limpa”), se comparadas às da África do Sul (predominantemente fóssil) ou mesmo da Alemanha (com parcela renovável significativa), o que gera uma desmotivação para uma economia de energia fundada em raízes ambientais por parte dos usuários. Assim sendo, esforços devem ser alocados paralelamente tanto na produção quando no consumo de energia, no que tange ao desenvolvimento de projetos de eficiência energética. Colocar este tema como diretriz para a Copa é uma grande oportunidade para alcançar a neutralidade em carbono do evento e para promover o mercado de tecnologias de eficiência energética no Brasil, através de geração e escala de demanda, e da promoção de oportunidades de financiamentos facilitados para investimentos em eficiência. 5.2. Construções sustentáveis Em se tratando de construção sustentável, tem-se aqui o alvo de cerca de 5,9 bilhões de reais já investidos, isto é, aproximadamente 24% do investimento previsto pelo Ministério do Esporte para a Copa até setembro de 2010, criando imensas oportunidades de ganhos ambientais e de redução de emissões de GEE, inclusive indiretos. Na Copa de 2010, apenas o Smart Living Center foi construído de acordo com as especificações para certificação de edifícios verdes, e, como legado da Copa, oferece informação e educação em sustentabilidade para seus visitantes. No Brasil, como forma de estimular a construção sustentável, o BNDES abriu uma linha de financiamento para construção e reforma dos estádios e arenas, e condicionou seu acesso à obtenção de certificação ambiental de construção sustentável num nível intermediário, feito por sistema de certificação reconhecido internacionalmente, como o LEED (ME, 2006). Tendo em vista que três das doze cidades-sede estão construindo estádios novos para a Copa no Brasil e outros nove passam ou passarão por reformas para se adequar às exigências da FIFA, tem-se aqui um grande campo de atuação para garantir estádios mais verdes, uma vez que as alterações necessárias podem, por questão de oportunidade, ser associadas aos critérios da construção sustentável. Considerando que os estádios e arenas são parte fundamental da Copa do Mundo e que os investimentos aplicados nestes devem ser parcela significativa dos investimentos totais, a via de financiamento condicionado ao cumprimento de requisitos de sustentabilidade e à certificação das obras como construção sustentável é uma ferramenta muito importante para a redução de emissões de GEE. Embora a certificação não calcule a redução de emissão em si, de acordo com Kats (2003) um edifício verde consome na média 30% a menos de energia e 11/16


ANAIS tem o potencial de gerar “créditos de carbono” por redução de emissão de acordo com as regras do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ou do mercado voluntário de carbono, como um projeto de eficiência energética. 5.3. Mobilidade urbana O setor prioritário para os investimentos federais destinados à realização da Copa será o setor de mobilidade urbana, com um total de 11,6 bilhões de reais, o equivalente à 46,77% do investimento total calculado (ME, 2006). Deste montante destinado, 4,9 bilhões de reais irão para transportes coletivos sobre trilhos enquanto que 5,4 bilhões reais serão destinados a transporte público de ônibus e Bus Rapid Transit (BRT) – sistemas de aumento de eficiência nas linhas de ônibus comum (ME, 2006). O foco deste investimento significativo é fruto da análise das Copas anteriores: enquanto na Copa da Alemanha os turistas tinham a opção de movimentar-se por meio de transporte público, principalmente metrôs e trens, a Copa da África do Sul enfrentou problemas expressivos relacionados ao trânsito de veículos rodoviários, especialmente particulares, e teve de utilizar-se do transporte aéreo de forma intensa (GERRANS, 2009). Considerando a atual estrutura de transporte brasileira, o setor tem característica eminentemente rodoviária e individual, se tornando altamente emissor de carbono por tonelada de carga e passageiro transportado (FGV, 2010, p.53). O transporte urbano de passageiros é hoje responsável por 48% das emissões do setor de transporte brasileiro, e, dentro deste sub-setor, tem-se que o transporte urbano de passageiro está concentrado no uso do automóvel particular (43%) e do ônibus (50%) se considerado o número de passageiros por quilômetros transportados, ficando o transporte por trilhos apenas com 7% conforme Figura 2 (GOUVELLO AT AL, 2010 apud FGV, 2010). Figura 2: Emissões do setor de energia por subsetor (2005)

Fonte: GOUVELLO AT AL (2010) apud FGV (2010).

Algumas sugestões para redução de emissões e melhora nas condições de mobilidade urbana elencadas no trabalho da Ernst & Young e FGV Projetos (2010) são infra-estrutura para pedestres e ciclovias, eco-táxis, transporte coletivos mais eficientes como o metrô, trens, veículos leves sobre os trilhos (VLT) e BRT. Indo além da mobilidade urbana e considerando-se também a acessibilidade dos turistas às diversas cidade-sede da Copa por meio de viagens aéreas, os aeroportos devem estar prontos para receber um fluxo de até 600 mil turistas do exterior e mais de 3 milhões de dentro do País no período dos jogos (ERNST & YOUNG; FGV PROJETOS, 2010). A logística

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ANAIS referente às estruturas aeroportuárias tem previsão de receber, nas doze cidades-sede, um total de 5,5 bilhões de reais de recursos federais (ME, 2006). A experiência vivida na África do Sul e a realidade brasileira de transporte urbano, somadas às dimensões continentais e localização do Brasil, garantem que o grande fluxo de turistas se movimentando para o país e pelas cidades-sede deverão ser os responsáveis pela maior parcela de emissões de GEE geradas pela Copa de 2014. É importante considerar este fato ao destinarem-se investimentos em projetos, mantendo-se um foco triplo em mitigação das emissões de GEE, o conforto dos turistas e a viabilidade financeira da realização da Copa do Mundo. 6. Conclusão Como resultado do ora exposto, fica evidenciada a necessidade fundamental de um processo adequado de planejamento, governança e gestão dos empreendimentos e atividades de preparação para a Copa de 2014. Tal planejamento deve detalhar todos os projetos para a organização e sucesso da Copa, definindo ações, prioridades, prazos, investimentos, custos e responsáveis, além de identificar e mapear riscos e oportunidades. Faz-se de extrema importância o estabelecimento de critérios e indicadores capazes de refletir a efetividade da redução de emissão e neutralização de gases de efeito estufa (GEE), para uma gestão eficaz destas e o melhor planejamento e monitoramento de recursos financeiros destinados a esse fim. Tendo em vista a experiência positiva da Copa da Alemanha em 2006, com a redução e neutralização das emissões, e o fato de que o processo para determinação de comitês responsáveis para a Copa de 2014 ainda encontra-se em fase inicial, sugere-se que seja feito um comitê multistakeholder compreendendo diversos setores da sociedade, entre eles a academia, consultorias especializadas em projetos ambientais, ONGs e os próprios empreendedores, além do Governo, com o objetivo de debater as questões chave para a sustentabilidade compreendidas na Copa de 2014 e dar transparência ao processo. Apesar de não consolidadas, as diretrizes elencadas pelo Governo brasileiro até o momento são ambiciosas, porém pouco palpáveis. Certamente, tais diretrizes deverão vir acompanhadas de critérios e indicadores, tornando as ações em sustentabilidade mensuráveis e monitoráveis. Nas palavras de Couto (2007), “a utilização de indicadores permite ainda a obtenção de informações relevantes, tais como a evolução de projetos ou processos, ou ainda o acompanhamento de problemas de naturezas diversas a partir de determinados parâmetros, fornecendo resposta a temas complexos com certa precisão”. Um ensaio preliminar de indicadores quantitativos foi feito pela Ernest & Young em parceria com a Fundação Getúlio Vargas e está descrito no documento “Brasil Sustentável Impactos socioeconômicos da Copa do Mundo de 2014” de 2010. Neste estudo foram levantados sete passos para a Copa Verde, identificados conforme o padrão preestabelecido de responsabilidade socioambiental dos estados e áreas prioritárias do Green Goal e a realidade particular brasileira. Segundo o documento, os 7 passos para o sucesso da Copa Verde são: conservação de energia e mudanças climáticas; água; gestão integrada de resíduos; transporte, mobilidade e acesso; paisagem e biodiversidade; edifícios verdes e estilos de vida sustentável; e, construção sustentável. É interessante observar que os sete passos estão invariavelmente relacionados com a redução das emissões de GEE, objeto principal deste trabalho. Com o objetivo de seguir as diretrizes verdes estabelecidas para a Copa de 2014, sugere-se que sejam atrelados critérios de redução e neutralização de GEE às contratações de fornecedores e concessão de créditos por parte dos financiadores. Um exemplo é a linha de financiamento do BNDES que exige construções sustentáveis certificadas, citada anteriormente. Nos mesmos moldes, o Governo poderia inserir critérios de sustentabilidade 13/16


ANAIS para as contratações, isto é, priorizar fornecedores que adotam determinados princípios de gestão sustentável em seus serviços e produtos. Embora seja importante considerar critérios de sustentabilidade, deve-se atentar para os elevados custos que podem acarretar o “esverdeamento” de produtos e serviço, para não excluir a acessibilidade à participação de pequenas e médias empresas nos editais referentes às contratações para a Copa. Tendo a viabilidade para micro e pequenas empresas como um dos critérios de sustentabilidade, permite-se estimular a criação de um mercado verde inclusivo, que promova o desenvolvimento do Brasil tanto ambientalmente, quanto socialmente e economicamente, e abrange as empresas, produtos e serviços, os quais devem todos responder a critérios de sustentabilidade. Referências: BARBIERI, José Carlos. Organizações inovadoras sustentáveis. In: BARBIERI, J.C; SIMANTOB, M. Organizações inovadoras sustentáveis: uma reflexão sobre o futuro das organizações. São Paulo, Atlas, 2007. BARROS, Adilson; PIRRHO, Rafael. Na África, Brasil abre a jornada da Copa-2014 convidando o planeta. Joanesburgo, África do Sul, 08/07/2010. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2010/07/na-africa-brasil-abrejornada-da-copa-2014-convidando-o-planeta.html> , Acesso em: 20 fev. 2011 BERMAN, Garvin. Financing the London 2012 Olympic Games. Londres, 27 Jul. 2010. Disponível em: <http://www.parliament.uk/briefingpapers/commons/lib/research/briefings/snsg-03790.pdf> Acesso em: 20/02/2011. BOWDWN, Adrian R. Triple Bottom Line risk management: enhancing profit, environmental performance, and community benefits. Toronto: Wiley,2001. 301 p. BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima PNMC e dá outras providências. Lei no. 12.187 de 29 de dezembro de 2009. Brasília, BRASIL. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei 7421/2010. Brasília, Senado Federal, 2010. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?id=479255> , Acesso em: 20 fev. 2011 BRASIL. CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO. Portal da Transparência - Copa 2014. Disponível em: <http://www.portaltransparencia.gov.br/copa2014/_include/legislacao/> , Acesso em: 20 fev. 2011 BRASIL. Decreto 5.445, de 12 de maio de 2005, que Promulga o Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. D.O.U., 13.05.2005. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA (CNI) & CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S.A. (Eletrobrás). Eficiência energética na indústria: o que foi feito no Brasil, oportunidades de redução de custos e experiência internacional. CNI; Eletrobrás. Brasília, 2009. COUTO, Odir Fernando. Geração de um Índice de Sustentabilidade Ambiental para Bacias Hidrográficas em Áreas Urbanas Através do Emprego de Técnicas Integradas de Geoprocessamento. Porto Alegre, RS: UFRS, 2007. Originalmente apresentado como dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007. ECON PÖYRY AB. Feasibility Study for a Carbon Neutral 2010 FIFA World Cup in South Africa. Norwegian Government (NORAD), Department of Environmental Affairs and 14/16


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