REFLEXÕES SOBRE OS ACONTECIMENTOS CAUSADOS PELA
PANDEMIA DO COVID 19
No Sílvia Matos Ateliê de Criatividade o Grupo Antropoanto realizou a exposição Mínimo Múltiplo Comum entre os dias 29 de Outubro e 26 de Novembro de2022.
Antes da abertura dessa exposição as artistas participantes lançaram o que chamarei de Manifesto da Validade do Mínimo Múltiplo Comum. As primeiras duas frases desse documento, que transcrevemos a seguir, já mostram os objetivos desse grupo.
Podemos tentar contemplar as coisas de cima, de longe, num sobrevoo, uma “satisfação flutuante e onipotente, sentir a poder de dominar tudo, como um albatroz”, afirmava Didi Huberman, em Pensar debruçado.
Mas podemos também nos debruçar sobre as coisas pequenas, prestando atenção nos detalhes, permitir que o objeto suba de sua mão até o seu olho, buscar o desconhecido no conhecido e adivinhar o mistério e a dignidade das coisas mínimas. Apreciar como esses mínimos se encontram, formam enxames e criam máximos. Juntos, querem dizer outras coisas, têm a potência dos cúmulos, como um formigueiro, uma colmeia, um rebanho ou uma multidão.
O manifesto prossegue
Precisamos dos mínimos. Uma ópera é composta de música, gestos, cenários e pode ser pensada a partir de uma maquete que organize tudo isso. Pequenas figuras nos remetem, se olharmos de perto, a espetáculos máximos, trazendo tanto memórias do passado como projetos de futuro.
O manifesto continua com suas reflexões.
Olhar uma biblioteca de livros mínimos, pegá-los, desdobrá-los e apreciar os seres que os povoam. Como letras de um livro escrito pelo seu olhar. Mudá-los de lugar, de prateleiras, fechar, abrir e imaginar o que poderia conter alguns vazios e transparências.
Acatar o convite de uma mesa posta. Olhar de perto. As aparências enganam? Julgamentos feitos com base em diferenças e pré-conceitos… a que nos levam?
Ver de perto o ambiente em que você vive e destacar alguns pequenos objetos para vê-los melhor. Colocá-los lado a lado, combiná-los e (re)combiná-los, separá-los em grupos, deixar que um acrescente algo ao outro.
Em seguida o manifesto traz à tona os acontecimentos recentes da pandemia.
Durante dois anos fomos invadidos por um enxame de vírus extremamente mínimos. Conseguiremos no futuro contá-los nos dedos de uma só mão, mesmo que ainda calçando luvas cirúrgicas e usando máscaras? Venceremos o enxame e o aprisionaremos em laboratórios, assim como nós ficamos enclausurados num espaço separado dos muitos outros?
Finalmente ficam declarados os objetivos da exposição
Trabalhar com a potência dos significados de palavras e imagens mínimas, reafirmando que menos é mais, que o mínimo basta para falar muito e tudo.
As mínimas coisas têm potência máxima e em comum para as integrantes do Grupo Antropoantro. É o que mostramos nesta exposição planejada e discutida on-line neste longo tempo de afastamento e recolhimento causado pela pandemia.