Ano 1 Nº 6 de 11 à 17 de Março de 2013

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GUARDIÃO NOTÍCIAS

BRASÍLIA, 11 À 17 DE MARÇO DE 2013

ESPECIAL MULHER

Cresce número de assassinatos de mulheres por ex-companheiros no Distrito Federal  Violência contra mulheres tem se tornado rotina, no início de março, dois assassinatos comoveram a cidade  Crislene Santos redacao@guardiaonoticias.com.br

A

violência contra a mulher no Distrito Federal está cada dia mais presente no cotidiano das pessoas. Na primeira semana de março, Fernanda Grasielly, 25 anos, foi assassinada dentro de um Shopping na Octogonal, pelo ex companheiro. Na outra semana, Benilde Rosa, 41, enforcada com um fio de telefone pelo ex-marido. Tudo aconteceu no mesmo período do julgamento do Caso Eliza Samudio, morta em 2010, a mando ex-goleiro

Bruno Fernandes de Sousa. Quatro entre cada dez mulheres brasileiras sofrem ou já sofreram violência doméstica, e não diferente disso está a situação da mulher na capital da República. Em menos de uma semana, duas mulheres foram assassinadas por seus ex-companheiros no DF. Uma morta a facadas dentro de um shopping na Octogonal e a outra, morta enforcada por um fio de telefone, no Gama. Nessa matéria especial, o Guardião mostrará casos de mulheres que foram mortas por seus companheiros, como denunciar e como buscar proteção judicial em casos de ameças. Enquanto a morte da vendedora Fernanda Grasielly Almeida Alves, 25 anos, configurou-se como uma tragédia premeditada, o assassinato de Benilde pegaram amigos e parentes de surpresa, embora continuasse dividindo o mesmo teto após a separação.

Ambos reforçam os índices elevados de um estudo sobre violência contra a mulher no DF, onde, constata a cada hora, duas ocorrências, em média, são registradas nas delegacias locais relacionadas a crimes enquadrados na Lei Maria da Penha. O estudo encomendado

PELO MENOS CINCO MULHERES SÃO MORTAS POR MÊS NO DISTRITO FEDERAL MOTIVADAS POR VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, ASSALTOS, BRIGAS E DÍVIDAS COM DROGAS. pelo Ministério da Justiça prova que uma em cada quatro mulheres assassinadas no Distrito Federal, e tiveram como assassino ou mandante o atual ou o ex-companheiro. Para cometer os homicídios, mais de 40% dos acusados usaram armas brancas. Os

 COMO DENUNCIAR A vítima pode ligar no 180, Central de Atendimento à Mulher, ou procurar delegacias e outros órgãos especializados em atendimento à mulher. Não é preciso se identificar e o serviço funciona 24h.  LEI MARIA DA PENHA Para endurecer a punição contra crimes de violência feminina e aumentar a proteção às mulheres, foi sancionada, em 2006, a Lei Maria da Penha, que prevê medidas que vão desde a saída do agressor do domicílio até a proibição de sua aproximação da mulher agredida e dos filhos. A lei alterou o Código Penal Brasileiro e possibilitou que agressores de mulheres no âmbito doméstico ou familiar sejam presos em flagrante e tenham sua prisão preventiva decretada pela justiça.  CASOS DE MULHERES ASSASSINADAS JOSIENE AZEVEDO DE CARVALHO – Morta, em 2008, pelo cabo do Corpo de Bombeiros Antônio Glauber Evaristo Melo, com tiro na cabeça, após recusa de conciliação do casal pela professora. Ela morreu na hora.

números na capital do país fazem parte da pesquisa inédita que avaliou os laudos necroscópicos de todas as mulheres mortas, de forma violenta, de 2006 a 2011. O laudo apontou que a maioria tinha entre 18 e 24 anos, e morreram em regiões afastadas do Plano Piloto. O título do documento “O impacto dos laudos periciais no julgamento de homicídio de mulheres em contexto de violência doméstica ou familiar no Distrito Federal”, já demonstra a situação da capital. O documento identificou 337 assassinatos. Desses, foi possível ter certeza que 81 aconteceram no contexto da violência doméstica — ou 25% do total. A cada quatro mulheres que morreram de forma violenta no DF, pelo menos uma foi pelas mãos do atual ou ex-companheiro. As vítimas da crueldade doméstica são, na maioria, jovens e negras. Mais encorajado a denunciar. Desde 2006, por conta da Lei Maria da Penha, o número de inquéritos policiais pulou de 66, no primeiro ano de vigência, para 3.086, até julho de 2011. Nas unidades policiais do DF, os registros passaram de 5.294, em 2010, para 6.069 em 2011, com aumento de 775 casos.

SUENIA FARIAS - 24 anos, estudante de direito, foi morta pelo ex-namorado, professor de direito, Rendrik Rodrigues, em 2011. O motivo do assassinato seria o término do relacionamento. CRISTIANE MIKI - 41 anos, servidora do Senado, foi morta pelo ex-marido depois de uma discussão dentro do carro na BR-040, em 2012. O ex-marido, Romeu Costa Ribeiro de 55 anos, disse à polícia que se descontrolou durante uma briga e atacou a mulher com facadas no pescoço. ANA CLÉA DE SOUSA NASCIMENTO - 23 anos, comerciária, foi assassinada a tiros dentro de

uma lanchonete no centro de Taguatinga. O acusado do crime é o ex-companheiro Cláudio Rodrigues Mourão, 32. TATIANA JACAÚNA - 28 anos. A polícia encontrou o corpo dela carbonizado, em uma matagal, no Recanto das Emas. Segundo a polícia, o marido, Célio Gledson Rufino de Oliveira, 29, a matou a marretadas após uma discussão em casa. À noite, colocou o corpo da mulher no porta-malas do veículo e o enterrou próximo a uma fazenda.  ESTATÍSTICAS DE DENÚNCIAS As estatísticas mostram, no entanto, que as mulheres têm se

 VÍTIMAS DESENCORAJADAS Números do Anuário das Mulheres Brasileiras 2011, divulgado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres e pelo Dieese, mostram que quatro entre cada dez mulheres brasileiras já foram vítimas de violência doméstica. Porém o número pode ser muito maior do que isso, muitas mulheres tem medo de denunciar por achar que o sistema de proteção é falho. Dados da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) revelam aumento da formalização das denúncias. Os atendimentos da central subiram de 43.423 em 2006 para 734.000 em 2010, quase dezesseis vezes mais.  PLANO DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER A cidadã brasileira conta também com o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, desenvolvido pela Secretaria de

de 40% foram assassinadas a facadas, pauladas e outros tipos de arma branca. Em pelo menos 11% dos casos, ficou comprovado o uso de meio cruel. Os dados do Departamento de Estatística e Planejamento Operacional (Depo) da Polícia Civil divulgou que em 2011, Recanto das Emas, Planaltina, Ceilândia, Samambaia e Taguatinga registraram, 21 assassinatos de pessoas do sexo feminino — 38% dos 54 registrados pela Polícia Civil entre janeiro e outubro. Em 2010, dos 62 crimes, 34 (54%) tiveram como autores os próprios companheiros. De acordo com a polícia, pelo menos 50% das ocorrências registradas na Delegacia da Mulher são motivadas por lesão corporal. Na maioria dos casos, os agressores são presos em flagrante, negam que tenham cometido o crime e afirmam que a vítima mereceu ser agredida. Políticas para as Mulheres, da Presidência da República. Lançado em 2005, o plano traduz em ações o compromisso do Estado de enfrentar a violência contra a mulher e as desigualdades entre gêneros. Uma dessas ações práticas é o Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher. A iniciativa conta com investimentos de R$ 1 bilhão em projetos de educação, trabalho, saúde, segurança pública e assistência social destinados a mulheres em situação de vulnerabilidade social.  ENTRE ESSES PROJETOS DO PACTO ESTÃO: • Construir, reformar ou equipar 764 serviços da Rede de Atendimento à Mulher; • Capacitar cerca de 200 mil profissionais nas áreas de educação, assistência social, segurança, saúde e justiça; • Capacitar três mil Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centros Especializados de Assistência Social (CREAS) para atendimento adequado às mulheres em situação de violência; • Ampliar o atendimento da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), dentre outras ações desenvolvidas.


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