Leitura e Produção de Texto - Unidade04

UNIDADE

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TEXTO, SENTIDO E SITUAÇÃO DE COMUNICAÇÃO LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS

EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

TEXTO, SENTIDO E SITUAÇÃO DE COMUNICAÇÃO

Como vimos nas unidades anteriores, a linguagem é todo o sistema organizado de sinais que serve como meio de comunicação entre os indivíduos. Ela está presente, de maneira geral, em toda nossa vida, assim nos constituímos como sujeitos na linguagem e pela linguagem.

Nesse sentido, pode-se definir a linguagem como a forma de representação utilizada nas situações de interação social. Assim, confere-se que a linguagem é vista como processo de interação, a língua é usada não apenas para a comunicação, mas, também, para estabelecer a interação social (agir sobre, agir entre).

No momento em que falamos em texto ou linguagem, na maioria das vezes, vem o pensamento de texto e linguagem verbais, ou seja, naquela capacidade humana ligada ao pensamento que se concretiza em uma determinada língua e se manifesta por palavras.

Você já se perguntou o que é, de fato, um texto? Normalmente, vemos o texto como um conjunto de frases, algo que foi feito para ser lido, mas a definição de texto não é tão simples quanto parece.

Para entendermos mais esse conceito, imagine que você está lendo um livro e, de repente, encontra um papel no meio das páginas do livro escrito a palavra “fogo”. Você ficará desconfiado, mas não dará importância a isso. Agora, imagine que você está em um acampamento no meio de uma mata e acorda com gritos de “fogo”. Qual seria, então, seu entendimento? Se você pretende não se queimar, certamente, você sairá correndo, porque a situação em que se encontra levou-o a interpretar o grito de “fogo” como um sinal de alerta.

Com esses exemplos simples podemos tirar algumas conclusões importantes: 1.

os textos não são apenas escritos, eles também podem ser orais;

2. os textos não são simples amontoados de palavras ou frases, ou seja, eles precisam fazer sentido.

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Na segunda situação, uma única palavra foi capaz de transmitir uma mensagem de sentido completo, por isso, ela pode ser considerada um texto. Mas o que leva um texto a fazer sentido? Isso depende de alguns fatores, como o contexto e o conhecimento de mundo.

Para a construção de um texto é necessária a junção de vários fatores que dizem respeito tanto aos aspectos formais como as relações sintático-semânticas, quanto às relações entre o texto e os elementos que o circundam: falante, ouvinte e situação. Confere-se que esses elementos reunidos constituirão o contexto que será entendido a partir do conhecimento de mundo do leitor. Mas, afinal, o que é texto? No latim, a palavra textum significa “entrelaçamento”, “tecido”, “tessitura”. Partindo desse conceito, o texto nos leva à ideia de algo que é produto de entrelaçamento de partes, resultado de uma ação trabalhosa e meticulosa.

Desta forma, podemos definir texto como um conjunto de palavras e frases encadeadas que permitem interpretação e transmite uma mensagem. Sendo assim, o texto é uma unidade linguística de extensão superior à frase.

INTERAÇÃO AUTOR/TEXTO/LEITOR

Todos os textos, orais ou escritos, são produzidos levando em consideração a interação autor/texto/leitor.

Essa interação é uma concepção interacional da língua, os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que se constroem e são construídos no texto, isto é, o sentido do texto é construído na interação texto-sujeitos.

Desse modo, ao enfocar a interação, é válido ressaltar que o leitor é um construtor de sentido e, para tanto, se faz necessário o uso de estratégias, tais como seleção, antecipação, inferência e verificação.

Por meio de estratégias de leitura (esse assunto será tratado na unidade 12) espera-se que o leitor, processe, critique, contradiga ou concorde com o que está sendo lido e, assim, dê sentido e significado ao que se lê.

Contudo, quando se refere às estratégias de leitura, faz-se ne-

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cessário levar em consideração que para a interação autor/texto/leitor, os conhecimentos do leitor, a atividade de leitura, o lugar social, as vivências, relações com o outro, valores da comunidade e conhecimentos textuais são fundamentais. Desta forma, é correto expor que não existe unicamente uma leitura e um sentido para o texto, mas há uma pluralidade de leituras e de sentidos.

Assim, o texto é a ferramenta do autor, utilizada para esculpir o sentido no leitor, das informações nele contido, bem como o espaço de concretização do discurso. Trata-se sempre de uma manifestação individual, do modo como o sujeito escolhe organizar os elementos de expressão de que dispõe para veicular o discurso do grupo a que pertence.

Ressalta-se que o termo discurso, refere-se ao uso da língua em um contexto específico, ou seja, a relação entre os usos da língua e os fatores extralinguísticos presentes no momento que esse uso ocorre.

Por isso, o discurso é o espaço de materialização das formações ideológicas, sendo por elas determinado. Assim, é por meio da linguagem que explicitamos nossa visão de mundo. No uso que fazemos da linguagem encontramos as pistas da formação ideológica. Para cada formação ideológica há uma formação discursiva específica, cujas marcas podem ser identificadas nos textos. A formação discursiva é um conjunto de temas e de termos que concretizam uma visão de mundo específica.

Mikhail Bakhtin (1895-1975) foi um dos estudiosos que apresentou essa concepção de linguagem chamada por ele de enunciativo-discursiva, que considera o discurso uma prática social e uma forma de interação. A relação interpessoal, o contexto de produção dos textos, as diferentes situações de comunicação, os gêneros, a interpretação e a intenção de quem o produz passaram a ser peças-chave.

Outra questão levantada sobre interação autor/texto/leitor é a grande diversidade de assuntos e temas abordados nos textos com os quais convivemos diariamente. É frequente que os leitores façam a seleção do que será lido em função de seus interesses pessoais. Isso não significa, porém, que os textos escolhidos por alguns leitores, e não por outros, tenham sido elaborados para interlocutores com um perfil particular. Eles podem ser textos voltados para o interlocutor universal, ou seja, para um interlocutor genérico, quando não é possível identificar um perfil de leitor específico que justifique determinadas escolhas feitas no texto. Normalmente, os textos de divulgação científica de jornais e revistas são exemplo disso.

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A LINGUAGEM VERBAL E A LINGUAGEM NÃO-VERBAL

Fig.01

O artista gráfico polonês Pawla Kuczynskiego nasceu em 1976 e recebeu diversos prêmios por suas ilustrações. O objetivo dessa imagem, com o uso da linguagem não verbal, é provocar uma reflexão sobre a realidade do trabalho infantil, que submete crianças pobres a uma dura rotina. Enquanto algumas trabalham, outras, mais protegidas, brincam.

Para se expressar e se comunicar, o homem utiliza vários recursos de linguagem. Esses recursos podem utilizar sinais de diferentes naturezas. Esses sinais admitem a seguinte classificação: verbal e não-verbal. Como seres humanos, recorremos à linguagem (verbal e não-verbal) para expressar nossos sentimentos, opiniões, desejos etc. É por meio dela que interpretamos a realidade que nos cerca. Essa interpretação não é totalmente livre. Ela é historicamente construída a partir de uma série de filtros ideológicos. Esses filtros constituem um conjunto de valores e crenças a partir dos quais julgamos a realidade na qual estamos inseridos e que farão parte de nossos discursos.

A linguagem verbal utiliza a palavra falada ou escrita e a linguagem não-verbal não utiliza a palavra. A linguagem verbal é linear, os signos e os sons que a constituem não se sobrepõem, mas se sucedem um depois do outro no tempo da fala ou no espaço da linha escrita.

Assim, a linguagem verbal se utiliza de palavras quando se fala

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ou quando se escreve. Já, a linguagem não-verbal, ao contrário da verbal, não se utiliza das palavras para se comunicar. O objetivo não é o de expor verbalmente o que se quer dizer, mas explicitar com outros meios comunicativos, como: placas, figuras, gestos, objetos, cores, ou seja, os signos visuais.

Um texto narrativo, uma carta, uma entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou falado, um bilhete, são exemplos de linguagem verbal. O semáforo, o apito do juiz, o bocejo, a identificação de “feminino” e “masculino” por meio de figuras na porta do banheiro, as placas de trânsito, são exemplos de linguagem não-verbal. A linguagem pode ser verbal e não-verbal ao mesmo tempo, ou seja, mista, como as charges, cartoons e anúncios publicitários.

Outro aspecto relevante sobre o texto é que todo texto, verbal ou não verbal, dirige-se a um interlocutor com características específicas. O termo interlocutor designa cada um dos participantes de um diálogo. Os interlocutores de um texto, portanto, são os leitores/ ouvintes em quem o autor pensa no momento de elaborá-lo. A participação dos leitores nesse “diálogo” é sempre indireta, porque, embora não possam interagir diretamente com o autor, é com base na imagem que faz deles que o autor escreve seu texto.

Koch e Elias definem o que é entendido como texto. Para elas, O texto é um lugar de interação de sujeitos sociais, os quais, dialogicamente, nele se constituem e são constituídos; e que, por meio de ações linguísticas e sociocognitivas, constroem objetos – de – discurso e propostas de sentido, ao operarem escolhas significativas entre as múltiplas formas de organização textual e as diversas possibilitadas de seleção lexical que a língua lhes põe à disposição. (KOCH e ELIAS, 2010, p. 7)

Já vimos que o sentido de um texto deve ser observado, levando-se em conta o seu contexto, pois um texto tem sempre algo a dizer a alguém, ele não nasce do nada e parte de seu sentido decorre da relação que ele estabelece com a realidade em que está inserido.

O contexto é unidade maior na qual está inserida a unidade menor.

Por exemplo: a realidade histórica em que se insere um texto é o seu contexto. Saber ler de modo competente significa apreender as relações internas de um texto e perceber a sua realidade histórica, ou seja, o valor de uma parte do texto (unidade menor) deve ser pensado

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segundo sua inserção num todo (unidade maior).

Neste sentido, reafirmamos que não é só a constituição interna de um texto que pode apontar algo sobre seu sentido. Segue, como exemplo, esse trecho da música da Banda Ultraje a Rigor: “A gente não sabemos escolher presidente A gente não sabemos tomar conta da gente A gente não sabemos nem escovar os dentes Tem gringo pensando que nós é indigente Inútil... A gente somos inútil.”

(Ultraje a Rigor, Inútil)

Essa canção é uma crítica aos governantes do país da década de 1980, com a função de chamar a atenção, por meio de erros propositais gramaticais, para uma contestação ao momento político-econômico vivenciado no Brasil. As ideias básicas presentes na letra da música podem ser associadas aos valores, aos princípios e às crenças de um determinado grupo social. No entanto, se apresentada nos dias atuais, talvez não atingisse a mesma intenção, pelo fato de o contexto do país ser diferente.

Diante do exposto, se pretende mostrar que a leitura, o texto e o sentido se inter-relacionam e caminham juntos no que diz respeito à interação do leitor – texto – autor, permanecendo o fato de que o leitor sempre será peça fundamental para que a leitura ocorra e o texto seja objeto de ação e o sentido. Desta forma, não se faz necessário a fusão de ideias do texto e do leitor, mas para que haja a compreensão, elas devem se complementar, tornando vivo o texto pelo sentido obtido.

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Mikhail Mikhailovich Bakhtin foi um filósofo e pensador russo, teórico da cultura europeia e das artes nascido 17 de novembro de 1895, em Orel, na Rússia. Bakhtin foi um verdadeiro pesquisador em diversos assuntos. Seus estudos inspiraram trabalhos de áreas como o marxismo, a semiótica, estruturalismo, a crítica religiosa e em disciplinas como a crítica literária, história, filosofia, antropologia e psicologia. Bakhtin foi pensador ilustre em meio a uma rede de profissionais preocupados com as formas de estudar linguagem, literatura e arte,

Para Mikhail Bakhtin, o discurso em si é uma construção linguística ligada ao contexto social no qual o texto é desenvolvido, ou seja, as ideologias presentes em um discurso são diretamente determinadas pelo contexto político-social em que vive o seu autor. Mais que uma análise textual, a análise do Discurso é uma análise contextual da estrutura discursiva em questão. A Análise do Discurso é uma prática da linguística no campo da Comunicação, que consiste em analisar a estrutura de um texto e a partir disto compreender as construções ideológicas presentes nele.

Mikhail Bakhtin faleceu em 7 de março de1975, em Moscou, na Rússia.

Sugestão de leitura BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.

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LISTA DE IMAGENS Fig.01: http://gazetadopovo.com.br/ GLOSSÁRIO 1. Ideologia: é um sistema de ideias (crenças, tradições, princípios e mitos) interdependentes, sustentadas por um grupo social de qualquer natureza ou dimensão, as quais refletem, racionalizam e defendem os próprios interesses e compromissos institucionais, sejam estes morais, religiosos, políticos ou econômicos.

REFERÊNCIAS KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Ed: Contexto, 2010.

INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS. Dicionário da Língua portuguesa.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 1365.

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