O que muda no Congresso?

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cn em série Brasília 2015

martina cavalcanti revista@cidadenova.org.br

O que muda no Congresso? NOVO PARLAMENTO Com a diminuição da base governista, a oposição deve ganhar mais força no Congresso Nacional nesta legislatura, tida por analistas políticos como a mais conservadora desde a ditadura militar

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m uma das eleições mais acirradas da recente democracia brasileira, a diferença entre governo e oposição ficou menor não só na corrida presidencial, como também no número de deputados federais e senadores. Os partidos que apoiam a presidente Dilma Rousseff ainda são maioria e controlarão 304 cadeiras do Congresso. No entanto, os governistas perderam 34 vagas em relação à legislatura anterior. Já os partidos que apoiaram Aécio Neves ou Marina Silva conquistaram 30 cadeiras a mais e serão representados por 238 deputados nos próximos quatro anos. Na Câmara, entre os três grandes partidos, apenas o PSDB cresceu, com dez políticos a mais. No Senado, Dilma também man­ terá a maioria na Casa, já que o PMDB continua sendo a principal força, apesar de ter perdido uma cadeira; o PT também perdeu um senador. Os tucanos, por sua vez, têm duas cadeiras a menos. Na contabilização geral da Câmara, foram escolhidos 198 deputados em primeiro mandato e os reeleitos foram 70%. É a maior renovação da Casa desde a redemocratização, mas aponta para uma guinada ao conservadorismo. Quais são os riscos de uma bancada governista menor para a governabilidade de Dilma no próximo mandato? A democracia ganha com o aumento do poder da oposição no Legislativo? Cidade Nova entrevistou analistas e políticos para des-

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Cidade Nova • Janeiro 2015 • nº 1

trinchar essas e outras questões que devem marcar os próximos capítulos da política nacional.

Conservadorismo As bandeiras levantadas por manifestantes durante os protestos de 2013 parecem não ter se refletido no resultado das eleições de outubro. É o que se conclui da composição das bancadas “informais” de lobistas, cuja finalidade é pressionar deputados na Câmara em benefício de determinados setores da sociedade. De acordo com um balanço parcial, realizado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), é grande o número de empresários, ruralistas, evangélicos e parentes de políticos que foram eleitos deputados federais no último pleito. A configuração preocupa Antônio Augusto de Queiroz, diretor de documentação da entidade e analista político, para quem a nova legislatura é a mais conservadora desde a ditadura militar (1964-1985). O levantamento do Diap mostra o empresariado representado por 226 deputados em 2015, formando a maior bancada informal da Casa. “O empresariado atua no sentido de reduzir a carga tributária e vai jogar pesado para passar a flexibilização dos direitos trabalhistas, aproveitando que a bancada sindical decresceu de 83 para 50 parlamentares”, alerta Queiroz. Já os parlamentares ligados ao agronegócio somam 110, em segun-

do lugar na lista. Queiroz explica que “a eleição dessa bancada significará resistência a propostas com vistas a limitar o uso de agrotóxicos e a proteção ao meio ambiente, já que entre as pautas do grupo está a liberdade de produção e o poder de desmatar”. O especialista aponta também que o aumento da bancada evangélica, cujos deputados somam 75, deve trazer ainda mais resistência a temas delicados como a união homoafetiva, a legalização da maconha e a despenalização do aborto. O grupo da segurança, composto por 23 integrantes, entre delegados, policiais e apresentadores de programas televisivos sobre violência, deve fazer pressão para aprovar a redução da maioridade penal e o fim do desarmamento. Os nomes de deputados ligados a outros políticos somam 113 e compõem a bancada dos parentes, numa demonstração clara de que não houve efetiva renovação política na Câmara, na opinião de Queiroz. “As pessoas são escolhidas menos pela identidade com os programas partidários e mais pelo parentesco”, diz. Mais uma vez as personalidades tiveram destaque nesta disputa presidencial, ganhando milhões de votos que levaram uma série de outros membros de seus partidos ao Congresso de maneira indireta. O deputado com mais votos foi o apresentador de TV Celso Russomanno (PRB-SP), com o palhaço Tiririca (PR-SP) em segundo lugar, cada um com mais de um milhão de votos.


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