Teoria da Bala Mágica ou Hipodérmica

Teoria da Bala Mágica ou Hipodérmica Por:

Marta Tavares, N.º216331 Teorias da Comunicação Docente Célia Belim Ciências da Comunicação

Universidade de Lisboa

2013/2014

Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

Índice 1.

Resumo do Trabalho ................................................................................................. 3

2.

Introdução ................................................................................................................. 3

3.

Teoria da Bala Mágica ou Hipodérmica .................................................................... 4 3.1.

A superação da Teoria Hipodérmica: o modelo de Lasswell ............................. 6

4.

Reflexão sobre a atualidade da Teoria Hipodérmica ................................................ 7

5.

Conclusão .................................................................................................................. 8

6.

Bibliografia ................................................................................................................ 9

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1. Resumo do Trabalho A Teoria da Bala Mágica ou Hipodérmica surgiu no período entre as duas guerras mundiais e foi o primeiro modelo de Teoria da Comunicação. Baseia-se na suposição de que qualquer estímulo causado por uma mensagem enviada terá uma resposta imediata, sem encontrar resistência do recetor (como o disparo de uma arma de fogo ou uma agulha hipodérmica, que perfuram a pele). Assim, o público-alvo da mensagem é passivo, anónimo e isolado. Esta teoria é tida como limitada por ser um modelo simples, considerando a massa de indivíduos recetores completamente homogénea e excluindo qualquer particularidade social, política, religiosa ou histórica. Nela, todos os indivíduos são idênticos e absorvem as mensagens da mesma forma. Posteriormente, acabaram por surgir outras teorias que significaram uma superação e evolução da teoria hipodérmica, que acabou por ficar desfasada e ultrapassada.

Palavras-chave: hipodérmica; sociedade de massa; mass media; efeitos diretos e imediatos; indivíduo anónimo e isolado;

2. Introdução O presente trabalho, proposto no âmbito da unidade curricular de Teorias da Comunicação, pretende abordar o tema da Teoria da Bala Mágica ou Hipodérmica. É interessante perceber a evolução das teorias relativas á comunicação e dos estudos dos efeitos dos media desde os seus primórdios, visto que esta teoria foi uma das primeiras análises acerca dos efeitos dos media.

Dado que a Teoria da Bala Mágica reflete sobre os efeitos imediatos e diretos dos media sobre as massas, o presente trabalho pretende realizar uma análise relativamente sintética das suas características e críticas, demonstrando se a teoria ainda persiste na atualidade.

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3. Teoria da Bala Mágica ou Hipodérmica É no período das duas guerras mundiais que surge a teoria hipodérmica, sendo Lippman, Tchakhotine, Doobs, Cantril, Lasswell, Rogerson, Herzog, Gallup e Roger alguns dos autores responsáveis pelos primeiros estudos. A posição defendida por esta teoria prende-se sobretudo na ideia de que os mass media1 afetam direta, imediata e poderosamente as audiências (Wolf, 1987, p. 18). Posto isto, os media têm a capacidade de influenciar um grande grupo de pessoas uniformemente, injetando-o com uma determinada informação ou mensagem que se queira transmitir. Os desígnios “hipodérmica” (“os media injetariam a informação que pretendiam difundir, da mesma maneira que um enfermeiro dá uma injeção a um paciente” (Cruz, 2002, p. 2)) ou “bala mágica” referem-se à maneira poderosa e direta como a informação é transmitida do emissor para o recetor, como se perfurasse o cérebro sem oferecer qualquer resistência.

Assim, é expressa a visão de que os media constituem um perigoso meio de transmissão de informações, dado que o recetor ou público-alvo não tem como escapar aos seus efeitos (S.A, s.d.). Este modelo de efeitos diretos foi, portanto, baseado na noção de passividade do público, onde a exposição à informação significava imediatamente a absorção da mesma (Joslyn & Ceccoli, 1996).

A polarização desta teoria foi feita através de um conjunto de fatores, tais como a emergência dos anúncios e da propaganda, a monopolização das massas que Hitler exerceu de modo a controlar e unir a população alemã e, finalmente, devido aos Payne Fund Studies de 1930, que se focaram no impacto que os filmes têm nas crianças. (S.A, s.d.) Estes estudos concluíram que os filmes impactuam significativamente nas crianças em termos de mudanças de atitude, emoções, perturbações no sono e crenças, testando-as com 10 categorias cinematográficas: crime, sexo, romance, suspense, guerra, filmes infantis, história, viagens, comédia e propaganda social (Ash, 1999).

A enorme difusão das comunicações de massa, aliada aos fatídicos totalitarismos daquela época, desencadeou a primeira reação dos estudiosos sobretudo à seguinte 1

Meios de comunicação amplamente difundidos e influentes. Os mass media têm a capacidade de modificar a nossa apreensão do mundo e a interpretação da existência. (Sorlin, 1997, pp. 1-3)

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interrogação: Numa sociedade de massa, que possíveis efeitos poderão ter os mass media? Assim, é importante referir que a principal componente da teoria hipodérmica é, precisamente, a existência de uma sociedade de massa. Este conceito não só provém de épocas remotas da história como apresenta inúmeras características e correntes (Wolf, 1987, pp. 18-20). A sociedade de massa é uma consequência direta da industrialização e da revolução dos transportes, provocando a perda da exclusividade das elites, que se vêm cada vez mais ligadas às massas. O homem-massa acaba por ser uma figura pouco culta e idêntica a todos os outros indivíduos da sociedade.

Em suma, a massa não possui qualquer estrutura organizativa, sendo constituída por pessoas que nunca se conheceram e que têm poucas probabilidades de se vir a conhecer. É, portanto, um grupo homogéneo de indivíduos essencialmente iguais e indiferenciáveis, provenientes de diversos ambientes e grupos sociais (Wolf, 1987, p.

20). A definição de massa como uma nova forma de organização da sociedade põe em evidência o elemento fundamental da teoria hipodérmica: o indivíduo como ser isolado e anónimo. A capacidade manipuladora dos meios de comunicação provém precisamente do isolamento físico, espacial, cultural e social do indivíduo. O facto de este pertencer á massa faz com que esteja constantemente exposto a informações, mensagens, acontecimentos e conteúdos que podem não coincidir com as suas experiências pessoais ou com as regras e valores do grupo de que faz parte. Exemplos destas ocorrências foram os fenómenos de propaganda dirigidos às massas na época do fascismo e da guerra, manipulando a população e moldando as suas ideias de modo a melhor a poderem controlar. Se as mensagens conseguem atingir os indivíduos que constituem as massas, significa que a propaganda obteve o êxito que previamente se estabelecera, visto que atingiu o alvo da maneira pretendida (Wolf, 1987, pp. 21-22).

O modelo hipodérmico defende uma relação direta entre a exposição às informações ou mensagens e o comportamento dos indivíduos, ou seja, a resposta aos estímulos. Se uma pessoa é “atingida” pela propaganda, pode ser manipulada e levada a agir de uma determinada maneira Esta conceção prende-se claramente com a

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psicologia behaviorista2, baseada num conjunto de estímulos e consequentes respostas.

Assim, os efeitos dos media são inevitáveis e instantâneos e o estímulo, ao relacionarse com o comportamento, é o agente da resposta (Wolf, 1987, p. 23).

Concluindo, atendendo às circunstâncias históricas e sobretudo à maneira como os meios de comunicação eram usados naquela época, é possível compreender que o sentido lato do fenómeno comunicacional não se encontra presente na Teoria Hipodérmica nem no pensamento de grande parte dos autores que contribuíram para a conceção da mesma (Esteves, 2002, p. 16).

3.1.

A superação da Teoria Hipodérmica: o modelo de Lasswell

A superação da teoria hipodérmica coube a Harold Lasswell que, ao criar o seu próprio modelo, constituiu uma sistematização orgânica, uma herança e uma evolução da própria teoria. (Wolf, 1987, p. 24) Lasswell deduz que, de modo a compreender os processos de comunicação de massas, é necessário estudar os estádios do seu modelo:

“Quem Diz o quê Em que canal Com que efeito?”

A maior parte da investigação sobre a comunicação de massas seguiu este modelo. Uma mudança num desses elementos mudará, da maneira adequada, o efeito final. (Fiske, 1995, pp. 49-50). Assim, a superação da teoria hipodérmica pelo modelo de Lasswell pode ser compreendida através do seguinte exemplo: No caso de um indivíduo ser submetido a um estímulo de uma propaganda, a teoria hipodérmica pressupõe que este podia apenas responder sem oferecer resistência; Já o modelo de Lasswell refere que o indivíduo é capaz de oferecer resistência e de se opor de diversas

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O behaviorismo é uma área da psicologia que estuda o comportamento. Iniciado por John Watson em 1993, aquando do seu artigo “Psicologia: como os behavioristas a veem”, o behaviorismo ou comportamentismo refere que o estudo do meio que envolve um indivíduo possibilita a previsão e o controle do comportamento humano. (Santana, s.d.)

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maneiras. A inversão da Teoria da Bala Mágica foi executada segundo três diretrizes sobrepostas e interligadas: “a primeira estuda os fenómenos psicológicos individuais que constituem a relação comunicativa; a segunda explicita os fatores de mediação existentes entre o indivíduo e o meio de comunicação; a terceira elabora hipóteses sobre as relações entre o indivíduo, a sociedade e os meios de comunicação” (Wolf, 1987, pp. 27-28).

4. Reflexão sobre a atualidade da Teoria Hipodérmica A 30 de Outubro de 1938, Orson Welles encenou, na rádio CBS, a narrativa de ficção científica “A Guerra dos Mundos”, na qual a terra era invadida por extraterrestres. O fenómeno aterrorizou milhares de americanos que acreditaram piamente na invasão alienígena, apesar de ser referido no início da transmissão que esta se tratava de pura ficção (Mattelart & Mattelart, 1997). Tal ocorrência pode ser vista como um exemplo bastante ilustrativo do poder e dos efeitos dos media. No entanto, a Teoria Hipodérmica é tida como limitada por ser um modelo demasiado simples e por considerar o públicoalvo como sendo completamente homogéneo, excluindo qualquer particularidade social, política, religiosa ou histórica. Como já referido, a teoria deduz que todos os indivíduos absorvem as mensagens da mesma forma, não tratando com devida importância as especificidades socioculturais dos sujeitos (Porto, s.d.). A verdade é que, atualmente, uma situação como a encenação de “A Guerra dos Mundos” não teria o mesmo efeito sobre o público, que deduziria instantaneamente que esta não se tratava da realidade. Com o passar do tempo, as pessoas tornaram-se cada vez mais desconfiadas e céticas em relação à veracidade das informações transmitidas pelos media e, por isso, os seus efeitos tornaram-se muito mais limitados. A hipótese hipodérmica foi contestada por quase todas as teorias da comunicação, dado que as evidências demonstram que os indivíduos não são tão atomizados quanto a teoria refere.

Assim, é possível concluir que esta teoria acabou por ser ultrapassada por outras mais completas, não sendo, portanto, uma teoria que persiste na atualidade.

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5. Conclusão A sociedade e a própria comunicação estão em constante mutação. A Teoria Hipodérmica foi o passo inicial para o desenvolvimento dos estudos comunicacionais de massa, que permitem o atual fluxo de informações ininterrupto. No entanto, a teoria demonstrou-se simples de mais para permanecer em “vigor” durante muito tempo. Ao criar o seu modelo, Lasswell observou que a teoria hipodérmica ignorava até então o contexto no qual ocorria a comunicação. Com o passar do tempo e a difusão das ideias a respeito dos mass media, os estudiosos abandonaram a teoria hipodérmica, considerando-a retrógrada. Porém, esta continuou a ser usada como base para a construção de novas teorias, chegando-se ao consenso de que os media não detêm a capacidade de obter a mesma resposta de todos os recetores, mas apenas de prever alguns tipos de respostas e comportamentos.

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6. Bibliografia Ash, R. L. (3 de Agosto de 1999). The Payne Fund Studies. Obtido de http://www.angelfire.com/journal/worldtour99/paynefund.html Cruz, J. C. (2002). Introdução ao estudo da Comunicação: Imprensa, Rádio, Televisão, Redes Electrónicas. Lisboa: Edições I.S.C.S.P. Esteves, J. P. (2002). Comunicação e Sociedade. Lisboa: Livros Horizonte.

Fiske, J. (1995). Introdução ao Estudo da Comunicação. Porto: Edições ASA. Joslyn, M. R., & Ceccoli, S. (1996). Attentiveness to television news and opinion change in

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http://www.infoescola.com/psicologia/behaviorismo/ Sorlin, P. (1997). Mass Media. Oeiras: Celta Editora.

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