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ENTRE VISTA

RL: O que eu conheço melhor e vi mais vezes foi o Laurence Olivier. Mas admito que tenha um ar meio antigo. O do Kenneth Branagh é muito bom, mas nunca foi meu preferido. Atualmente, o que gosto mais é o do diretor russo Grigory Kozintsev, de 1964.

GCC: Shakespeare é um universo longínquo histórica, geográfica e culturalmente. Nesse sentido, é útil ter mediação, seja um curso ou livro introdutório? Qual leitura sobre Shakespeare o ajudou?

FM: Shakespeare não é nada longínquo, mas a mediação ajuda muito, sim! A linguagem, de alta densidade poética, ganha muito com os comentários, as notas explicativas, a leitura coletiva e conversada. Além disso, a contextualização histórica sempre ajuda, pois Shakespeare, embora atemporal, foi um homem do seu tempo, educado em uma Grammar School elisabetana, aluno de latim, homem de classe média, vindo da província. Muitas leituras sobre Shakespeare me ajudaram, e temos um bom material em língua portuguesa. O livro organizado por Liana Leão e Marlene Soares dos Santos, por exemplo, Shakespeare, sua época, sua obra, é um ótimo livro de apoio; e o livro que organizei com Liana, O que você precisa saber sobre Shakespeare antes que o mundo acabe também cumpre bem essa função de apresentar o universo shakespeariano a partir de muitas perspectivas. Felizmente, temos excelentes tradutores no Brasil, que colaboram imensamente para a divulgação de Shakespeare sem perda de poeticidade: além da tarefa hercúlea de Barbara Heliodora na tradução da obra completa, temos as contribuições maravilhosas de Lawrence Flores Pereira, José Roberto O'Shea e Geraldo Carneiro, entre outros.

RL: Eu dei sorte ao ter a oportunidade de frequentar o grupo de estudos da Barbara Heliodora, a grande tradutora e crítica de teatro. Para mim, foi crucial, pois me ajudou a entender as linhas mestras do teatro elisabetano e da obra de Shakespeare em particular. Mas nada teria sido possível sem as edições inglesas anotadas, que permitem que você abra caminho pelo inglês arcaico. Acho que são uma ótima mediação para quem está chegando na "festa".

GCC: O que você precisa saber sobre Shakespeare antes que o mundo acabe?

FM: Precisamos saber de bastante coisa, mas destaco dois pontos: primeiro, que além do Shakespeare "básico" que circula no planeta, como eu mencionei acima, há muitos outros Shakespeares ocultados por esse do mainstream, como o Shakespeare de Péricles, Bom é o que acaba bem, Troilo e Créssida, peças super ricas e pouco comentadas. Em segundo lugar, precisamos conhecer as personagens femininas de Shakespeare, sua galeria completa, de 155 figuras de mulher: em sua maioria fortes, inteligentes, super razoáveis e lúcidas. Há um elogio implícito à inteligência feminina na obra de Shakespeare, que fica muito evidente quando nos colocamos diante da obra completa.

RL: Precisamos saber que ele é um mestre na arte de colocar grandes questões humanas e filosóficas no palco, concebendo as tramas e situações mais adequadas para expressar cada uma dessas questões. E que, como se não bastasse, é um maravilhoso poeta.

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