Explorações de uma relação particular e de expansão com o piano | Mariana Carvalho

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territórios musicais consolidados que tendem a se enrijecer e a não se misturar, posturas e dispositivos de controle que são impostos ao corpo dia após dia, binarismos de gênero, hierarquias… Talvez assim neste experimento se possa abrigar as singularidades e multiplicidades, buscar corpos em movimento, potentes, presentes e abertos às reverberações de outros corpos. [fronteiras; membranas]

13/11, segunda-feira Ao me debruçar sobre a tarefa de escrever uma monografia, resolvi olhar para a minha trajetória um tanto peculiar para uma aluna de bacharelado em instrumento. De fato, esse curso correu “por muitos lugares diferentes, erodiu e sedimentou-se, fez desvios, encontrou quedas livres e outras caídas suaves”, como escrevi no dia 19 de setembro, dia em que tive a ideia do diário. Com tantas descobertas e atravessamentos, percebi que não fazia sentido procurar um objeto externo para analisar, e que seria necessário elaborar um trabalho que de alguma forma envolvesse as peculiaridades ou particularidades deste percurso. 17

Me refiro ao Coro Profana,

Camerata Profana, NuSom, Sonora (ver dia 05/10) e Orquestra Errante. 18

Discussão presente no NuSom

durante este semestre.

As experiências vividas em grupo durante esse período17 , os momentos de estudo ao piano com ferramentas da eutonia, a improvisação livre e também o contato com textos sobre a pesquisa em artes, a cartografia, as epistemologias do particular18, e os estudos feministas, me fizeram buscar um método que aproximasse prática e reflexão. Resolvi então, ao invés de uma análise objetiva e dissociada do sujeito, apenas escrever sobre essa trajetória, que é particular e estou implicada, porque é um processo do qual faço parte. Por um lado, uma realidade observável e mensurável, por outro lado, múltiplas construções da realidade; por um lado, a distância e neutralidade de quem observa, por outro lado, a impossibilidade de dissociação entre o conhecimento e quem o investiga. Assim, o que está em jogo nessa distinção entre esses dois modelos de pesquisa é de fato uma distinção epistêmica, onde sujeito e objeto - e sua interação - são reposicionados. (BONAFÉ, 2016: 26)

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