Falsas memórias: por que lembramos de eventos que não ocorreram? Claudia Aparecida Valasek e Paulo Sérgio Boggio
– Sete horas e trinta minutos! Minha nossa! Estou atrasada para a reunião. Onde será que deixei as planilhas que vou mostrar para o cliente? Com certeza eu tinha colocado em minha pasta. Mário, querido, você viu minhas planilhas? – Você nunca sabe onde guarda suas coisas, Sueli. Ontem colocou as planilhas na mesa do escritório. Então, acho que elas estão lá. Suas coisas não ficam sempre no escritório?! – Não, não estão. Preciso achá-las! Estou atrasada e ainda tenho que levar as crianças para a escola. O despertador não havia tocado e já eram sete horas e trinta minutos. Sueli, aflita, corria pela casa, pronunciando sem parar que estava atrasada para sua reunião. Ela estava à procura de suas planilhas, que precisava levar para apresentar a um cliente. Sueli procurava aflita, mas não as encontrava. Tinha certeza que, na noite anterior, havia guardado ali naquela pasta de couro que sempre carregava. Perguntou para Mário se, por acaso, ele as tinha visto. Em tom assertivo, seu marido lhe respondeu que ela nunca sabia onde guardara suas coisas; que, como no dia anterior ela colocara as planilhas na mesa do escritório, deveriam estar lá; e, por fim, que as coisas da esposa sempre ficavam no escritório. 21
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